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i PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS DE RESIDENTES EM ÁREAS RURAIS CAMPINAS 2014

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i

PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS

MENTAIS COMUNS DE RESIDENTES EM ÁREAS RURAIS

CAMPINAS

2014

ii

iii

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Médicas

PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS MENTAIS

COMUNS DE RESIDENTES EM ÁREAS RURAIS

Tese apresentada à Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos

para obtenção do título de Doutor em Saúde

Coletiva, na área de concentração

Epidemiologia.

Orientadora: Helenice Bosco de Oliveira

CAMPINAS

2014

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

TESE DEFENDIDA PELO ALUNO PAULO JUNIOR PAZ DE

LIMA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. HELENICE BOSCO

DE OLIVEIRA.

_____ __________________

Assinatura da Orientadora

iv

v

vi

vii

RESUMO

A precariedade do acesso à educação, aos serviços de saúde e de

segurança no trabalho, à moradia, ao saneamento básico e ao

abastecimento de água potável, no contexto rural brasileiro, instiga a

reflexão sobre os impactos de tais condições na saúde física e mental e

na qualidade de vida (QV), além dos efeitos destas condições em relação

à prevalência de transtornos mentais comuns (TMC), em comunidade rural

no Brasil. A discussão sobre qualidade de vida e TMC não é recente. No

entanto, o contexto rural tem ficado fora do debate, principalmente no

contexto nacional, na área da saúde pública. A discussão sobre a

concepção de QV e TMC no contexto do rural é importante. Estes temas

têm assumido um aspecto secundário, dada a urgência cotidiana pela

garantia da própria sobrevivência, da empregabilidade, ainda que em

condições precárias, e de outras demandas mais urgentes no campo.

OBJETIVOS: O presente estudo tem como objetivo principal avaliar a

qualidade de vida e transtornos mentais comuns, bem como avaliar a

qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de saúde de

residentes em áreas rurais, em Atibaia/SP. Também se propõe a

identificar alteração dos domínios da QV entre os residentes da área de

estudo; avaliar os domínios da qualidade de vida em relação à função

desempenhada no campo; identificar diferenças nos domínios da QV em

relação ao sexo; identificar a relação entre sobrecarga (quantidade de

viii

horas) de trabalho semanal e alteração dos domínios da QV e identificar a

prevalência de alcoolismo e de tabagismo entre a população rural .

MÉTODOS: Trata-se de um estudo de caráter transversal, entre abril e

dezembro/2011, com residentes em áreas rurais, em Atibaia/SP, com

idade acima de 18 anos. A amostra foi composta por 355 participantes.

Foram aplicados um questionário sociodemográfico, os instrumentos

WHOQOL-Bref (Word Health Organization Quality of Life Instrument Bref),

SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey),

SRQ-20 (Self Reporting Questionnaire) e CAGE (Screening test for

alcohol dependence). Foram realizadas análises descritivas e regressão

linear múltipla para os instrumentos WHOQOL-Bref e SF-36 e regressão

logística múltipla para o SRQ-20 e as variáveis sociodemográficas. O

ponto de corte adotado como sugestivo de TMC, avaliado pelo SRQ-20,

foi pontuação maior ou igual a sete respostas positivas. Foram utilizados o

programa SAS, versão 9.2, e o SPSS, versão 17.0, para análise dos

dados. O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de

5% (p<0,05), com intervalo de confiança (IC) de 95%. Foram considerados

variáveis dependentes os domínios do WHOQOL-Bref (físico, psicológico,

relação social e meio ambiente) e do SF-36 (capacidade funcional,

aspectos físicos, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental,

dor, estado geral de saúde, vitalidade) e as categorias do SRQ-20

(diminuição da energia, sintomas somáticos, humor depressivo/ansioso,

pensamentos depressivos). Foram consideradas independentes as

variáveis demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil),

ix

socioeconômicas (renda, escolaridade, ocupação, trabalhador rural,

trabalho prévio ou anterior na agricultura, carga horária de trabalho

semanal, tipo de moradia e de posse da propriedade), uso de agrotóxico

no processo de trabalho, contato com agrotóxico, intoxicação por

agrotóxico, ingestão de bebida alcoólica, tabagismo, problema de saúde e

uso de medicamento. Foi utilizado o modelo stepwise forward como

critério para a seleção das variáveis. Foi realizado ajuste das variáveis:

idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda. RESULTADOS: A idade

média dos participantes foi 38,3 anos, a maioria do sexo feminino (64,5%),

de cor/etnia branca (57,5%) e casados/amasiados (70,5%). A escolaridade

média observada foi de 5,8 anos de estudos (DP = 3,6); 55,8% não

concluíram o ensino fundamental e 7,9% eram analfabetos. Entre os

participantes do estudo, 33,5% estavam desempregados e 66,5%

mencionaram empregos com ou sem registros; 30,4% eram trabalhadores

rurais e 72,2% mencionaram ter já trabalhado na agricultura. Ainda, 87,2%

tinham renda mensal de até dois salários mínimos, sendo a média salarial

de R$ 619,20 (DP=483,5). O uso de agrotóxicos no processo de trabalho

foi relatado por 13,5% dos participantes e 12,4% referiram ter sofrido

intoxicação por agrotóxicos. A prevalência de transtorno mental comum

(TMC) entre os residentes foi de 23,4%, de tabagismo, de 20,3% e de

alcoolismo, de 19,1%. Entre os participantes, 40,0% referiram ter algum

problema de saúde e 40,3% revelaram fazer uso de medicamentos. Na

análise de regressão linear múltipla, os resultados apontaram associação

estatística entre os domínios de qualidade de vida (WHOQOL-Bref e SF-

x

36) e as variáveis idade, sexo, estado civil, escolaridade, cor/etnia, renda,

carga horária de trabalho, trabalho rural, trabalho prévio ou anterior na

agricultura, tipo de posse de propriedade, alcoolismo, tabagismo,

problemas de saúde e fazer uso de medicamento. Na análise de

regressão logística, os resultados evidenciaram associação negativa das

variáveis sexo (RC=3,1), problemas de saúde (RC=4,6) e autorreferência

a intoxicação por agrotóxico (RC=2,5), cor/etnia (RC=4,4) e

autorreferência a intoxicação por agrotóxico (RC=5,5), entre os homens,

com o aumento de chances de desenvolver TMC. CONCLUSÃO: Os

resultados do presente estudo apresentam dados sobre a qualidade de

vida, a qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de saúde

física e mental de residentes em comunidades de áreas rurais, em

contexto rural brasileiro. Os achados apontaram as contribuições de

variáveis socioeconômicas e demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado

civil, escolaridade, renda, trabalho rural, carga horária de trabalho

semanal, tipo de moradia e de posse da propriedade), tabagismo,

alcoolismo, intoxicação por agrotóxicos, problemas de saúde e uso de

medicação para melhores desempenhos da qualidade de vida, da

qualidade de vida relacionadas aos aspectos do estado de saúde, bem

como para TMC da população rural. Tais resultados, embora limitados e

relativos a uma localidade específica, podem ser importantes para nortear

novos estudos em áreas rurais.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida, transtorno mental, população

rural, saúde rural.

xi

ABSTRACT

The lack of access to education, health and work safety services,

housing, sanitation and drinkable water supply, in Brazilian rural

context, instigates reflection on the impact said conditions have on

physical and mental health and in the quality of life (QOL), and on the

effects they have on the prevalence of common mental disorders (CMD)

in rural communities in Brazil. The discussion on quality of life and CMD

is not recent. However, the rural context has stayed out of the debate,

especially in a national context, in public health. The discussion about

the definition of QOL and CMD in rural context is important. These

themes have been taking on a secondary role, given the daily urgency in

guaranteeing one's survival, the possibility of work, even if in precarious

conditions, and other more urgent demands in the field. OBJECTIVES:

This study has as its main objective evaluating quality of life and

common mental disorders, as well as evaluating quality of life issues

related to the health status of the population of rural areas in Atibaia,

São Paulo. It also aims at identifying alteration domains of quality of life

among residents of the study area; at assessing quality of life domains

in relation to the function performed in the field; at identifying

differences in quality of life domains in relation to sex; at identifying the

relationship between workload (number of hours worked per week) and

alteration of quality of life domains and at identifying the prevalence of

xii

alcohol and tobacco use among the rural population. METHODOLOGY:

This is a cross-sectional study, taking place from April to December,

2011, with the rural area population of Atibaia, in São Paulo; all

subjects were older than 18. The sample had 355 subjects. Social -

demographic questionnaires, the WHOQOL-Bref (World Health

Organization Quality of Life Instrument Bref), SF-36 (Medical Outcomes

Study 36 – Item Short-Form Health Survey), SRQ-20 (Self Reporting

Questionnaire), and CAGE (Screening test for alcohol dependence)

instruments were used. Descriptive analysis and multiple linear

regression were used for WHOQOL-Bref and SF-36, and multiple

logistic regression was used for SRQ-20 and social-demographic

variables. Cutoff criteria suggestive of CMD, as evaluated by SRQ -20,

were a score of seven or higher positive answers. As for software, SAS

9.2 and SPSS 17.0 were used for data analysis. Adopted significance

level for statistical tests was 5% (p<0.05), with a confidence interval of

95%. Domains from WHOQOL-Bref (physical, psychological, social and

environment) and from SF-36 (vitality, physical functioning, bodily pain,

general health perceptions, physical role functioning, emotional role

functioning, social role functioning, mental health) and SRQ-20

categories (decreased energy, somatic symptoms, depressive mood,

depressive thoughts) were considered dependent variables.

Demographic variables (sex, age, race/ethnicity, marital status),

socioeconomic variables (income, education, occupation, rural worker,

previous work in agriculture, hours worked per week, housing and

xiii

ownership of property), working with pesticides, having had contact with

pesticides, pesticide poisoning while working, alcohol ingestion,

smoking, health problems and regular use of medication were

considered independent variables. Stepwise forward model was used as

variable selection criterion. The following variables were adjusted: age,

sex, marital status, education and income. RESULTS: Subjects had an

average age of 38.3, were mostly female (64.5%), white (57.5%) a nd

married (70.5%). The observed average time spent on education was

5.8 years (SD=3.6), 55.8% did not f inish elementary school and 7.9%

were illiterate. Among study participants, 33.5% were unemployed, and

66.5% reported being employed, some registered and some not; 30.4%

were rural workers, and 72.2% reported having worked in agriculture.

Still, 87.2% had a monthly income of up to two times minimum salaries,

with an average income of R$ 619.20 (SD=483.5). The use of pesticides

in the work process was reported by 13.5% and 12.4% self -report

pesticide poisoning. 23.4% of the population presented with common

mental disorders (CMD), 20.3% were smokers and 19.1% presented with

alcoholism. Amongst the subjects, 40.0% reported having some health

problems and 40.3% reported using medication. In multiple regression

analysis, results reveal statistically significant association between

quality of life domains (WHOQOL-Bref and SF-36) and variables age,

sex, marital status, education, color/ethnicity, income, workload, rural

worker, having worked in agriculture, property ownership, alcoholism,

smoking, health problems and use of medication. Logistic regression

xiv

analysis' results showed a negative association between sex (OR=3.1),

health problems (OR=4.6) and self-reference to pesticide poisoning

(OR=2.5), and color/ethnicity (OR=4.4) and self-reference to pesticide

poisoning (OR=5.5), among men, with increased chances of developing

CMD. CONCLUSION: The results of this study provide data about

quality of life, quality of l ife related to aspects of the physical and

mental health of residents in rural areas, in the Brazilian rural context.

Findings indicated the contributions of socioeconomic and demographic

variables (sex, age, race/ethnicity, marital status, education, income,

rural employment, hours worked per week, type of housing and property

ownership), smoking, alcohol use, intoxication by pesticides, health

problems and use of medication for best performances in quality of life,

quality of life related to aspects of health, as well as to development of

CMD's in rural area communities. Said results, although limited and

restricted to a specific location, may be important to guide further

studies in rural areas.

KEYWORDS: Quality of life, mental disorders, rural populatio n, rural

health.

xv

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA xix

AGRADECIMENTOS xxi

EPÍGRAFE xxv

LISTA DE TABELAS xxvii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xxxi

LISTA DE SÍMBOLOS xxxv

1. INTRODUÇÃO 1

1.1. Conceituando o rural 8

1.2. Qualidade de vida e estado de saúde no contexto rural 13

1.3. Transtorno Mental Comum (TMC) no contexto rural 18

1.4. Alcoolismo 21

1.5. Instrumento de avaliação de qualidade de vida e estado

de saúde

25

1.5.1. WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref 25

1.5.2. Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form

Health Survey (SF-36)

29

1.6. Instrumentos de avaliação de transtornos mentais

comuns (TMC)

33

1.6.1. Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20) 33

1.7. Instrumentos de avaliação do uso abusivo de álcool 37

1.7.1. CAGE – Cut-down; Annoyed; Guilty e Eye-opener 37

xvi

1.8. Justificativas do estudo 38

2. OBJETIVOS 39

2.1. Geral 39

2.2. Específicos 39

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 41

3.1. Desenho da pesquisa 41

3.2. Caracterização da população de estudo 41

3.3. Cálculo amostral 42

3.4. Variáveis de análises 44

3.5. Instrumentos adotados 45

3.6. Coleta de dados 45

3.7. Análise dos dados 48

3.8. Ética na pesquisa 50

4. RESULTADOS 51

4.1. Artigo 1 – Avaliação da qualidade de vida de residentes

em áreas rurais

53

4.2. Artigo 2 – Avaliação de transtornos mentais comuns em

comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil

93

4.3. Artigo 3 – Aspectos de saúde e qualidade de vida de

residentes em comunidades rurais

125

5. DISCUSSÃO 161

6. CONCLUSÃO 173

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 177

xvii

APÊNDICES 203

ANEXOS 219

ANEXO I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

TCLE

221

ANEXO II – Termo de Responsabilidade do Pesquisador 223

ANEXO III – Questionário: Sociodemográfico e condições de

Trabalho

225

ANEXO IV – WHOQOL Abreviado – WHOQOL-Bref 227

ANEXO V – Self Report Questionnaire (SRQ) – SRQ-20 231

ANEXO VI – Questionário CAGE 233

ANEXO VII – Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form

Health Survey (SF-36)

235

xviii

xix

DEDICATÓRIA:

Dedico este trabalho a todos os residentes, trabalhadores e

trabalhadoras rurais.

Aos meus queridos e amados pais: Manoel Paz de Lima e Maria

Paz de Lima. Analfabetos em leitura e escrita, porém, sábios e

intelectuais em saberes da roça. A quem dedico, principalmente,

este trabalho.

Aos meus queridos irmãos: Antônio, Carlos, Marcondes, Gerre,

Marcos e, em especial, ao Neto e à Nádia, dois guerreiros, que estão

travando uma batalha pela vida, onde serão vitoriosos.

Aos meus sobrinhos (as): Júnior, Allan, Vitor Hugo, Jeferson, Maria,

Cristina, Talita e Isabella.

Às memórias das Profa. Dra. Geraldina Porto Witter e Profa.

Dra. Fúlvia Rosemberg.

xx

xxi

AGRADECIMENTOS :

A Deus, companheiro incondicional. Que me acompanha todos os dias e

em todas as jornadas. Por tornar realidade, o que era um sonho

distante. Meu senhor e salvador.

Aos meus queridos e amados pais: Manoel Paz de Lima e Maria

Paz de Lima, pelo amor incondicional, pelo apoio e investimento ético e

moral na minha formação acadêmica.

Aos meus queridos irmãos: Neto, Antônio, Carlos, Marcondes, Nádia,

Gerre e Marcos pela amizade e por me incluir em suas orações.

À Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira, pela orientação e contribuição

para conclusão deste trabalho. Sem isso, este trabalho não seria

possível.

À Profa. Dra. Letícia Marin-Léon pela contribuição e apontamentos na

banca de qualificação e de defesa desta tese.

À Profa. Dra. Maria Luiza Gava Schmidt, por ter aceitado fazer parte da

banca de defesa e por suas contribuições neste trabalho.

À Profa. Dra. Maria da Penha Vasconcellos, pela boa vontade,

disponibilidade e por fazer parte de minha formação acadêmica e

defesa de tese.

À Profa. Dra. Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco, por compor a

banca de defesa, pelos apontamentos e contribuições para finalização

desta tese.

xxii

À Profa. Dra. Maria Regina Alves Cardoso por aceitar o convite para

compor a banca de defesa, mas por problemas de agenda foi

substituída de última hora.

Ao Prof. Dr. Ângelo Zanaga Trapé por participar da banca de

qualificação.

À Profa. Dra. Aparecida Mari Iguti por aceitar fazer parte da banca de

qualificação e defesa (suplente).

Ao Prof. Dr. Alberto Olavo Advincula Reis por aceitar o convite para

compor a banca de defesa (suplente).

Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Facchini, pela atenção e por aceitar compor a

banca de defesa (suplente).

À Profa. Dra. Maria Rita Donalisio Cordeiro e Profa. Dra. Rosana

Tereza Onocko Campos, pelo apoio e por se colocar a disposição

sempre que precisei.

A todos os funcionários da pós-graduação, especialmente, a Paula Léa

e Vera, que me ajudaram sempre nos momentos que as recorri. À

Maisa, pela simpatia, dedicação e disposição em ajudar a todos.

A todos os professores da FCM/UNICAMP que muito me ensinaram.

Aos funcionários do apoio estatístico: Cleide e Helymar pelas análises

estatísticas deste trabalho.

À Ana Carolina Nunes Mafra, Rosemeire Ferraz e Amanda Aparecida

Silva pelas contribuições no cálculo amostral e análises estatísticas.

Ao Alberto Dias, à Meire Blanche e demais co legas que contribuíram

nas traduções (resumos) para o espanhol e inglês.

xxiii

Ao Dr. Luiz Ricardo Gonzalez, pelos inúmeros favores de entrega de

documentos, caronas e pela amizade.

À Ana Cláudia pela amizade que construímos e por ter sempre uma

palavra de conforto.

Aos meus primos (as) queridos (as): Ana, Célia, Vera, Lucimar, Joaquim

(Begue), Jaqueline, Riane, Ruth, Rubens, Nathan (Val e Amanda), Rui,

Josias, Joel, Joaquim, Valcisa, Valdenir e Valdenisa, Marcos, Cláudio,

Adriana, Raiane, Raissa, Ruama, Maria Eduarda e aos demais parentes

(não mencionados para não se estender) pelo carinho e apoio sempre e

também compreenderam minhas ausências nas reuniões familiares. Em

especial à Nilda Coelho, ao Sérgio Paz, à Célia Maciel e à Jucilene

Glades, que acompanharam mais de perto a conclusão deste trabalho.

Aos meus queridos sobrinhos (as): Junior, Allan, Vitor Hugo, Jeferson,

Talita, Maria, Cristina e Isabela, pela alegria e leveza de espírito. Em

especial, ao grande Vitor Hugo, que quase todos os dias me

perguntava, como está indo a tese?

Aos meus queridos tios (as): Tarcisio e Terezinha, Anita e Liliu (in

memory), que me receberam em suas casas e me apoiaram quando

precisei de ajuda para estudar na cidade. Foram meus outros pais e

mães. Suas acolhidas e apoios foram fundamentais em minha formação

acadêmica e moral.

À Secretaria de Saúde do Município de Atibaia e à coordenação do PSF

de Atibaia, por permitir a realização deste trabalho no município.

xxiv

A todos (as) da Equipe do Programa de Saúde da Família de Rio

Abaixo: Alessandra, Andressa, Ana Maria, Emerson, Elisângela, Edjane,

Luciana, Lucineia, Susy, Claudia, Dr. Conceição e Patrícia, pelo apoio,

atenção, carinho e a imensa contribuição para construção deste

trabalho. Principalmente as agentes de saúde, que realizaram o

trabalho de pesquisa de campo. Sua dedicação, disposição e

contribuição tornaram possível a realização da pesquisa de campo.

Agradeço a todos os amigos e colegas que contribuíram de forma

direita e indiretamente, mas que não foram citados aqui, não pe la

importância, mas porque foram muitos e não teria como citar todos.

Agradeço, principalmente, as pessoas mais importantes e fundamentais

para a construção deste trabalho: os residentes, os trabalhadores e as

trabalhadoras rurais dos bairros de Rio Abaixo, Pedreira, Ponte Alta e

Laranjal, que disponibilizaram seu tempo, abriram suas casas e

expuseram suas histórias de vida e de luta no campo para garantir sua

sobrevivência e responsáveis pela produção de alimentos necessária à

humanidade.

À CAPES, pela concessão de bolsa.

xxv

EPÍGRAFE

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

Desde agora, a Coroa da Justiça me está guardada, a qual o

Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim,

mas também a Todos os que amarem a sua vinda .”

(II Timóteo 4:7,8).

xxvi

xxvii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População de estudo por sexo e faixa etária (anos).

Bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em

Atibaia/São Paulo, Brasil, 2012

42

Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rura is

Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas,

condições de trabalho, alcoolismo, tabagismo, problemas de

saúde e uso de medicamento entre residentes dos bairros:

Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –

Brasil, 2011.

72

Tabela 2 – Análise descritiva dos domínios do WHOQOL-Bref

entre os residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte

Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

74

Tabela 3 – Regressão linear múltipla: variáveis que influenciam

na qualidade de vida avaliada pelo WHOQOL-Bref.

76

Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que

influenciam nos aspectos da qualidade de vida avaliada pelo

WHOQOL-Bref, por sexo.

78

Avaliação de transtornos mentais comuns em comunidades

rurais em Atibaia/SP – Brasil

Tabela 1 – Resultados do SRQ-20 segundo variáveis

sociodemográficas e epidemiológicas de residentes rurais dos

120

xxviii

bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em

Atibaia/SP – Brasil, 2011.

Tabela 2 – Modelo de regressão logística múlt ipla para TMC,

avaliado pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros:

Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –

Brasil, 2011.

122

Tabela 3 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC,

avaliado pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros:

Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –

Brasil, 2011, segundo sexo.

123

Tabela 4 – Estatística descritiva de características

demográficas e socioeconômicas dos residentes rurais dos

bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em

Atibaia/SP – Brasil, 2011.

124

Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em

comunidades rurais

Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas e de

condições de saúde dos residentes dos bairros rurais: Laranjal,

Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil,

2011.

154

Tabela 2 – Estatística descritiva de características

demográficas e socioeconômicas dos residentes rurais dos

bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em

156

xxix

Atibaia/SP – Brasil, 2011.

Tabela 3 – Estatística descritiva dos domínios do SF-36 entre

os residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta

e Rio Abaixo, em Atibaia/SP, 2011.

157

Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que

influenciam nos aspectos do estado de saúde e na qualidade de

vida avaliada pelo SF-36

158

Tabela 5 – Regressão linear múltipla de variáveis que

influenciam nos aspectos do estado de saúde e qualidade de

vida avaliada pelo SF-36, por sexo.

159

xxx

xxxi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AE Aspecto Emocional

AF Aspecto Físico

AS Aspecto Social

AUDIT Alcohol Use Disorders Identification Test

C/ comp Com Companheiro

CAGE Screening test for alcohol dependence

CF Capacidade Funcional

CMD Common Mental Disorders

DP Desvio Padrão

EGS Estado Geral de Saúde

EP Erro Padrão

ESF Estratégia de Saúde da Família

EUA Estados Unidos da América

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC Intervalo de Confiança

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ISA 2008 Inquérito de Saúde na Cidade de São Paulo

km2 Quilometro Quadrado

n Tamanho da Amostra

OMS Organização Mundial de Saúde

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

xxxii

PSF Programa de Saúde da Família

QOL Quality of Life

QV Qualidade de Vida

QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde

RC Razão de Chance

R2 1 R2 Parcial

R2 2 R2 Modelo

S/ comp Sem Companheiro

SAS Statistical Analysis System (System for Windows)

SF-36 Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form

Health Survey

SIAB Sistema de Informação de Atenção Básica

SM Salário Mínimo

SM Saúde Mental

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SRQ-20 Self Reporting Questionnaire 20

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TMC Transtorno Mental Comum

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

VI Vitalidade

WHO World Health Organization

WHOQOL World Health Organization Quality of Life

WHOQOL-100 World Health Organization Quality of Life

xxxiii

(WHOQOL-100)

WHOQOL-Bref World Health Organizat ion Quality of Life

(WHOQOL-Bref)

xxxiv

xxxv

LISTA DE SÍMBOLOS

< Menor

> Maior

≤ Menor ou igual

≥ Maior ou igual

p Valor de p

β Beta coeficiente

xxxvi

1

Avaliação da qualidade de vida e transtornos mentais

comuns de residentes em áreas rurais

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com a realidade e vivência de residentes de áreas

rurais no Brasil, muitos deles privados do acesso à educação, ao

saneamento básico, à saúde e à segurança no trabalho, instiga a

reflexão sobre as condições de vida, de moradias e de trabalho a e les

impostas e, consequentemente, sobre os impactos de tais condições na

saúde física e mental e em sua qualidade de vida (QV) .

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2010a; 2010b; 2010c) informam que, até 2009, apenas 5,4% dos

domicílios em áreas rurais no Brasil tinham acesso à rede coletora de

esgotamento sanitário, 48,3% possuíam sistema de esgoto a partir de

fossas rudimentares e 19,0% não possuíam nenhum sistema de coleta

de esgoto sanitário. No que se refere ao sistema de abastecimento de

água, 32,8% tinham acesso ao sistema de abastecimento de água,

55,3% possuíam poços ou nascente e 11,9% possuíam outro tipo.

Vilarta et al. (2010) apontam que a qualidade de vida é determinada

pelas condições de saneamento básico, situação financeira, acesso à

2

saúde e educação, além do acesso aos bens de consumo e a adoção de

um estilo de vida saudável.

Nos últimos anos, a temática qualidade de vida tem despertado o

interesse de pesquisadores sobre vários aspectos de saúde da

população em todo o mundo. No entanto, quando o objeto de

investigação é a população rural, a literatura – principalmente a

brasileira – silencia. Parte expressiva de tais trabalhos tem explorado a

QV em pessoas portadoras de enfermidades ou doenças crônicas ,

transtornos psicoemocionais, portadoras de HIV/Aids, idosos,

alcoolistas, trabalhadores urbanos, entre outras (Fleck, 2008a; Ware Jr

et al., 1998; Bjorner et al. , 1998; Gandek et al., 1998; Bech, 1995;

Bullinger et al., 1993).

Todavia, é possível que parte desse silenciamento, em relação à

temática saúde e qualidade de vida no campo, possa ser atribuída ao

fato de que as preocupações com as condições de moradia, trabalho

precário e insalubre e conflitos no campo tornam-se, quase sempre,

invisíveis diante dos problemas decorrentes do desemprego e das

urgências diárias como conflitos no campo por reforma agrária.

A discussão sobre a temática qualidade de vida não é recente. A

preocupação com temática QV surgiu da necessidade de pensar

políticas públicas, de economia e de bem-estar para as classes menos

favorecidas. Esta preocupação teve início em 1913 e continuou em

1920 e 1960, com um grupo de economistas que, entre outros

3

profissionais, incluindo Pigou (Aslanbeigui, 2009). De início, segundo

Aslanbeigui (2009), a discussão se dava em torno de como o impacto

financeiro de tais políticas públicas poderia interferir sobre o indivíduo e

o Estado. Considerava-se que a transferência de renda dos mais ricos

para os pobres tornava possível o desenvolvimento em si a partir da

educação e da capacidade de adaptação.

A expressão qualidade de vida (QV) teria sido empregada por

Pigou, em 1920, ao discutir políticas públicas de bem-estar para

população mais pobre e o papel do estado e dos mais ricos na

diminuição da desigualdade social. Todavia, a partir da década de 60, a

crítica à desigualdade social deu origem aos movimentos sociais e

iniciativas de políticas públicas com a finalidade de melhorar a vida das

pessoas, no sentido de alcançar o bem-estar para todos (Wood-

Dauphinee, 1999).

O conceito de QV diz respeito às satisfações das necessidades de

uma população, em âmbito econômico, social, psicológico, espiritual e

ambiental. Trata-se de um conceito subjetivo que varia entre indivíduos

e entre sociedades, evoluindo com o progresso científ ico e tecnológico

nos mais variados domínios como saúde, habitação e transportes

(Oliveira, 2006).

O termo qualidade de vida diz respeito, ainda, à percepção do

indivíduo em relação a aspectos de vida, de saúde e de relacionamento

interpessoal, entre outros, a partir do contexto cultural, dos sistemas de

4

valores e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões,

preocupações, subjetividade e multidimensionalidade (Seidl e Zannon,

2004; Fleck et al., 2000a; Fleck, 2000b; WHO, 1997; The WHOQOL

Group, 1995).

O conceito de QV difere entre pessoas, não sendo constante ao

longo da vida. Todavia, há consenso de que há múltiplos fatores que

determinam a QV das pessoas e comunidades. Alguns destes fatores

dizem respeito a fenômenos e situações associadas ao estado de

saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações

familiares, disposição, prazer e espiritualidade. Num sentido mais

amplo, a QV pode ser entendida como uma medida da dignidade

humana, pressupondo o suprimento das necessidades fundamentais do

indivíduo (Fleck, 2008a).

Os termos qualidade de vida e estado de saúde aparecem muitas

vezes na literatura como sinônimos. Contudo, a qualidade de vida

relacionada à saúde engloba dimensões como o funcionamento físico,

social, papel funcional, sexual e saúde mental, não ignorando que a QV

pode ser afetada por mudanças no estado de saúde (Seidl e Zannon,

2004; Cleary et al., 1995; WHO, 1994).

Bech (1995) acrescenta que o conceito QV pode ser entendido

também como uma tentativa de valorizar parâmetros mais amplos que o

controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou aumento da

expectativa de vida. O autor constata que a avaliação da QV foi

5

acrescentada nos ensaios clínicos randomizados como a terceira

dimensão a ser avaliada, além da eficácia, ou seja, modificação da

doença pelo efeito da droga, e da segurança pela reação adversa às

drogas.

A definição de qualidade de vida é mais abrangente que estado

de saúde e capacidade funcional, pois inclui aspectos do meio ambiente

que podem ou não ser afetados pela saúde. As medidas de estado

funcional referem-se a limitações no desempenho de papéis sociais ou

limitação das atividades. As medidas de bem-estar, por sua vez,

referem-se a percepções subjetivas, incluindo sensações desagradáveis

ou agradáveis e avaliações globais de saúde ou de estado subjetivo.

Pessoas com limitações funcionais podem desfrutar de alta qualidade

de vida a partir de suporte do ambiente, da perspectiva de vida e de

suas necessidades e desejos (Fleck, 2008a; Patrick, 2008).

Patrick (2008) destaca que “estado de saúde, estado funcional,

bem-estar, QV e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) são

conceitos que costumam ser usados sem muita exatidão e de forma

alterada”, pois não há consenso amplamente definido para qualidade de

vida, visto que o termo é empregado em contextos diferentes por

pessoas diferentes, sendo a saúde apenas um domínio. Os conceitos de

estado de saúde e de QVRS incluem sintomas (sensações físicas e

psicológicas); estado funcional, percepções (que var iam de

preocupações especificas sobre a saúde ao bem-estar global) e

6

oportunidade (que diz respeito às percepções de estigma ou relatos

negativos por causa da saúde, como habilidade para lidar ou resistir ao

estresse e à doença).

Chatterji e Bickenbach (2008) destacam que estado de saúde é

diferente de categorias diagnósticas usadas para nomear e caracterizar

a condição de saúde subjacente: doença, distúrbio ou lesão. Por ser

este um fenômeno multidimensional, o estado de saúde deve ser um

atributo intrínseco do corpo humano, descrito e medido conforme os

níveis de funcionalidade em diferentes domínios.

Fleck (2008) defende como sendo a melhor definição de qualidade

de vida a preconizada pela Organização Mundial de Saúde, que

incorpora a saúde física, o estado psicológico, o nível de

independência, as relações sociais, as crenças pessoais e a relação QV

como aspectos significativos do meio ambiente. Herculano (2000)

recomenda, ainda, acrescentar aos instrumentos de avaliação e

mensuração o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), somado às

condições econômicas, ambientais, científ ico-culturais e políticas

coletivas pelas quais os indivíduos realizam suas potencialidades.

O IDH foi criado com a intenção de deslocar o foco do debate,

outrora centrado nos progressos econômicos (nível de renda, produto

interno bruto (PIB) e nível de emprego), para aspectos de natureza

social e cultural (Minayo, et al., 2000). Os autores identificam o IDH

como um indicador sintético de QV que, de forma simplificada, reúne a

7

renda (avaliada pelo PIB real per capita), a saúde (avaliada pela

esperança de vida ao nascer) e a educação (avaliada pelas taxas de

alfabetização de adultos e de matrículas nos níveis escolares

combinados). Outra direção importante para a QV, segundo Patrick

(2008), é a abordagem baseada nas necessidades pessoais, que guiam

e motivam os indivíduos. A QV provém da habilidade e da capacidade

do indivíduo de satisfazer suas necessidades (Patrick, 2008).

8

1.1. Conceituando o rural

Há um senso comum por parte de boa parcela da população

urbana ao retratar e pensar o rural como lugar de atraso, parado no

tempo; um espaço tipicamente de atividades agrícolas, de produção de

alimento e bucólico. Por sua vez, o espaço urbano é idealizado como

um lugar de progresso e desenvolvimento. Na contramão deste

pensamento, Correa (2005) descreve o meio rural como um espaço

onde a população desenvolve atividades nas mais diversas áreas, como

agrícola, do artesanato, de pequenas e médias indústrias, do comércio,

de serviços, da pecuária, da pesca, da mineração, da extração de

recursos naturais e do turismo, etc.

Para Correa (2005), o espaço rural transcende a atividade

agrícola e mantém fortes ligações de troca com o espaço urbano,

proporcionando troca não só de alimentos, mas também de bens e

serviços, como o fornecimento de alimento, cuidado de recursos

naturais, espaços para o descanso e manutenção e desenvolvimento da

cultura. Martins (2001), por sua vez, apresenta o mundo rural como um

lugar de criatividade, de inovação e de luta contra modelos econômicos,

políticos e pensamentos acadêmicos distorcidos.

Para Siqueira e Osório (2001), os conceitos sobre o que é rural e

urbano são construídos sobre as mesmas representações, estando

estas em constante troca e mediação. Com o passar do tempo, são

9

agregados novos elementos às representações do rural e do urbano.

Para estes autores, a conceituação de rural depende diretamente da

localidade a que nos referimos. O conceito de rural utilizado pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, é

definido a partir daquilo que o plano diretor do município define como

rural. Portanto, são critérios políticos que definem o que é urbano e o

que é rural (Siqueira e Osório, 2001).

Neste sentido, Marques (2002) afirma que os Estados têm

estabelecido definições oficiais sobre o que é espaço rural e urbano

para fins estatísticos e administrativos, sendo adotados, para isso,

critérios como discriminação populacional, predominância da atividade

agrícola e delimitação político-administrativa.

O IBGE (2010d) conceitua e define domicílios como pertencentes

a áreas rurais levando em conta as seguintes considerações:

aglomerado rural, áreas não urbanizadas de cidade ou vila e povoado.

Define-se como aglomerado rural um conjunto de edificações

adjacentes com 50 metros ou menos de distância entre si. Á reas não

urbanizadas de cidade ou vila são caracterizadas por ocupação

predominantemente rural. Já povoado é definido como aglomerado rural

isolado sem caráter privado ou empresarial, não vinculado a um único

proprietário do solo.

A população rural no Brasil decresceu drasticamente entre o

período de 1950 e 2010, passando de 63,84% a 15,64%, em 2010, e a

10

13,09%, em 2011 (IBGE, 2011; 2010e). Baudel Wanderley (2005)

defende ser o esvaziamento no campo fruto das mudanças ocorridas no

setor rural nas últimas décadas, assim como Martins (2001) e Ferreira

(2002), que também atribuem a modernização da agricultura como um

fator que contribuiu para expulsão do homem do campo.

Ferreira (2002) afirma que o processo de modernização da

agricultura brasileira, adotado a partir da década de 50, ao invés de

resolver a questão agrária no Brasil, acabou aprofundando ainda mais a

concentração fundiária, com quase 60,0% das propriedades rurais

pertencentes a 3,0% dos proprietários. O autor destaca, ainda, que, ao

confundir modernização agrícola com desenvolvimento rural, o Brasil

contribuiu para acentuar ainda mais as desigualdades sociais, além de

colaborar, segundo Baudel Wanderley (2005), para o processo de

esvaziamento do campo.

Santo (2001) afirma que, durante décadas, “as megapropriedades

serviram mais como reserva de valor para afirmação de poder político e

econômico do que para garantir produção e produtividade, não

cumprindo sua função social. ” Com a revolução tecnológ ica, ainda

segundo este autor, a produtividade do trabalho no campo tornou -se

uma variável mais importante, de forma semelhante ao que ocorrera no

meio urbano.

Diante deste novo cenário de transformação do contexto rural,

Ponte (2004) destaca a importância de nova conceituação do rural, em

11

decorrência das mudanças dos territórios rurais, “de modo a

proporcionar um entendimento mais claro e que corresponda a esse

contexto metamorfoseado”. Para este autor, “entender o rural possibilita

ressaltar sua importância para o conjunto da sociedade, bem como um

território residual.”

Siqueira e Osório (2001), assim como Ponte (2004), apontam para

uma reelaboração do conceito de rural. Ponte (2004) defende a

necessidade de considerar o ambiente rural, “como principal fator de

estabelecimento dos tipos de relações econômicas, políticas e sociais

da população do campo com a terra” . Para Ponte (2004), as relações

sociais no campo são marcadas por dimensões simbólicas e culturais

com a terra, além do sentido de coletividade e cooperação.

No contexto das relações políticas, Ponte (2004) considera o

espaço rural a partir das lutas e reivindicações por terra e direitos

enquanto cidadão rural, além das condições econômicas, políticas e

sociais mais dignas no campo. Nas relações econômicas, o rural está

atrelado às atividades agropecuárias, bem como ao uso da terra para

atividades de prestação de serviços, de espaço de moradia e de

ocupações não-agrícolas.

Contribuindo com o debate, Martins (2001) aponta um equívoco

da sociologia rural ao considerar que a modernização econômica no

setor rural seria responsável pela modernização social no campo, assim

como pelo bem-estar da população rural. Para este autor, “a

12

modernização rural é um valor dos sociólogos rurais ” e não da

população rural, tendo em vista esta modernização ter sido responsável

pelo desemprego, o desenraizamento do campo, a desagregação da

família e da comunidade, além de responder pela migração e expulsão

em massa da população rural para as cidades.

Côrtes (2008) alerta que a ideia de vida saudável e bucólica no

campo tropeça nos impactos causados pelas atividades agropecuárias.

Acrescenta, ainda, que as atividades não-agrícolas desenvolvidas no

meio rural contribuem para diminuição da produção agrícola sem que se

atente para impactos sociais. A atividade turística, por exemplo, causa

impactos ambientais, bem como o aumento do despejo de esgoto e lixo

a céu aberto, além do desmatamento para construção de infraestrutura,

alargamento de trilhas etc.

13

1.2. Qualidade de vida e estado de saúde no contexto rural

Ainda são limitados os estudos internacionais e, principalmente,

nacionais sobre a temática qualidade de vida de residentes de áreas

rurais. No cenário internacional, autores como Liu et al. (2010),

Nzeadibe e Ajaero (2010), Mammen et al. (2009), Rėklaitienė et al.

(2008), Fernández et al. (2006), Wallace et al. (2006), Borders et al.

(2004), Patrick et al. (2004), Sabbah et al. (2003), Fuh et al. (2000)

estudaram a QV no contexto rural. Os resultados destes estudos

revelam uma maior prevalência para déficits na QV entre indivíduos que

residem em comunidades rurais.

No contexto rural brasileiro, identificam-se os estudos de Paz de

Lima e Oliveira (2014), Sena et al. (2013), Faker (2009), Martins et al.

(2007), Martins (2001) e Silva (1997). Embora a temática QV ainda seja

pouco abordada, é possível identificar uma relação entre a QV do

trabalhador do campo, o modo de organização e realização do trabalho

(Faker, 2009).

Um problema comum apontado por Scopinho (1996), em relação à

saúde de residentes rurais, é o fato dos trabalhadores do campo não

estarem conscientizados para enfrentar a questão da saúde do ponto de

vista coletivo e preventivo. De modo geral, o trabalhador do campo não

entende a saúde como um direito básico de cidadania. Nesse sentido,

Gemma (2008) sugere a inserção da saúde ocupacional nas políticas e

14

estratégias de desenvolvimento e da QV no meio rural, enfatizando a

prevenção e a proteção ambiental sistêmica, como desafio atual e

futuro.

No panorama internacional, Rėklaitienė et al. (2008) avaliaram a

QV em comunidades rurais na Lituânia. Os resultados sugerem que

variáveis como estilo de vida e os aspectos sociodemográficos podem

explicar parte substancial das diferenças entre QV de homens e de

mulheres. Os autores defendem que fatores como menor nível de

escolaridade, sedentarismo e obesidade são mais prevalentes entre as

mulheres. No mesmo sentido, Mammen et al. (2009) avaliaram a

influência da saúde e do capital humano, social e pessoal em relação à

satisfação com a vida entre mães de baixa renda de áreas rurais nos

EUA.

Ainda nos Estados Unidos, autores como McGranahan e Beale

(2002) destacam os limites da prosperidade econômica na década de 90

quando analisada sob a perspectiva do campo. A pobreza manteve -se

elevada em muitas zonas rurais e os municípios rurais perderam

aproximadamente um quarto da população ao longo da década. Os

autores traçam um paralelo entre as más condições econômicas e os

níveis de QV na população rural sugerindo que o declínio econômico e

o êxodo rural em massa são fatores a serem levados em consideração

ao se analisar QV.

15

Na China, Zhang et al. (2009) denunciam o rápido crescimento

econômico como responsável pelo aumento da disparidade de renda

entre as zonas urbana e rural a um nível his toricamente elevado. Tal

disparidade tem se traduzido em drástico impacto na qualidade de vida

dos habitantes das áreas rurais do país. A disparidade crescente de

renda proporcionou, segundo estes autores, um forte incentivo para os

residentes rurais migrarem para áreas urbanas em busca de uma vida

melhor. Zhang et al. (2009) sugerem, ainda, que as mudanças

demográficas tiveram profundos impactos não apenas no campo, mas

também na QV dos migrantes. Os resultados apontam que a maioria

dos migrantes sofreu algum tipo de discriminação devido ao status de

residência rural, à baixa escolaridade e à baixa renda.

Rėklaitienė et al. (2008) destacam que idade avançada, baixa

escolaridade, ausência de cônjuge e baixa renda devem ter prioridade

na atenção às dificuldades especiais. Os autores apontam, ainda, que

os índices de função física e emocional, saúde geral, funcionamento

social e saúde mental diminuíram significativamente com a idade em

mulheres pós-menopausa. Como as populações rurais femininas

necessitam de cuidados de saúde pública no período pós-menopausa,

as variáveis associadas com as redes sociais e de apoio social foram

menos preditivas de QV quando as medidas econômicas foram

contabilizadas. A privação material, segundo Rėklaitienė et al. (2008),

tem influência direta sobre o estado de saúde e a QV.

16

Baudel Wanderley (2005) e Silva (1997) afirmam que a população

residente de áreas rurais é a principal vítima da pobreza, do isolamento

e da submissão política. Silva (1997) chama a atenção para o fato da

renda e dos padrões de vida dos residentes e trabalhadores rurais

serem iguais ou superiores a dos pobres urbanos. Neste sentido, El -

Osta (2007) considera que políticas públicas voltadas para a população

do campo podem contribuir para a melhoria na QV e, principalmente,

para a permanência do homem no campo.

O debate sobre as concepções de saúde, qualidade de vida e

transtornos mentais no contexto de vivência e de trabalho no campo é

fundamental. Nos trabalhos que relacionam trabalho rural e QV, esta,

segundo Uchoa et al. (2002) e Siqueira et al. (2012), é abordada a

partir da articulação entre condições objetivas (estado de saúde,

serviços disponíveis, bens e redes sociais de apoio) e o universo de

representações objetivas e subjetivas (avaliação do estado de saúde,

satisfação com os serviços, recursos materiais e redes sociais de

apoio).

Siqueira et al. (2012) destacam a pouca expressividade dos

estudos relacionados à QV de trabalhadores rurais. Os autores alertam

que as pesquisas não consideram as questões subjetivas, a percepção

do indivíduo em relação à posição da vida no campo, no contexto da

cultura e sistema de valores e, principalmente, que há ausência de

17

estudos relacionando o uso de agrotóxicos e a QV de trabalhadores

rurais.

18

1.3. Transtorno Mental Comum (TMC) no contexto rural

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) os transtornos

mentais e comportamentais afetam mais de 25% de todas as pessoas

em algum momento durante suas vidas. Os t ranstornos mentais,

neurológicos e por uso de substâncias são responsáveis por 14% da

carga global de doenças, sendo que 75% da carga global de doenças

neuropsiquiátricas advém de países de baixa renda. Estes são os

principais contribuintes para morbidade e mortalidade prematura (WHO,

2008a; 2008b; 2001).

Os transtornos mentais comuns (TMC) são universais, afetando

pessoas de todos os países e sociedades, bem como indivíduos em

todas as idades, mulheres e homens, ricos e pobres, em ambientes

urbanos e rurais. Todavia, as doenças mentais não têm recebido a

mesma importância despendida à saúde física, principalmente quando

se trata dos países em desenvolvimento. Para a OMS, as despesas com

saúde mental são mais de 200 vezes superiores em países de alta

renda per capita em comparação com os países de baixa renda (WHO,

2011a). Os custos gerados indiretamente pela desassistência do

tratamento, pelos pacientes, superam os custos diretos, tendo em vista

o prolongamento dos transtornos e suas incapacitações, além do

impacto sobre a sociedade e sobre a qualidade de vida dos indivíduos e

das famílias (WHO, 2011a, 2001).

19

Ludermir (2008) afirma que os transtornos mentais envolvem as

dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais, expressando -se

diferentemente nas classes sociais e nas relações de gênero. Para a

OMS (WHO, 2001), os transtornos mentais não são problemas apenas

das sociedades industrializadas e ricas; as comunidades rurais também

são vulneráveis.

No contexto brasileiro, os estudos de Costa e Ludermir (2005)

apontaram uma prevalência de TMC de 36% entre a população rural da

Zona da Mata de Pernambuco. Os resultados destes achados, no

cenário rural, não diferem de estudos realizados em Olinda,

Pernambuco, com população urbana, onde a prevalência foi de 35%

(Ludermir e Melo Filho, 2002). Far ia et al. (1999) destacaram uma

prevalência de transtornos psiquiátricos menores de 38% entre

agricultores da Serra Gaúcha, dos municípios de Antônio Prado e Ipê

(RS), em 1996.

Patrick et al. (2004) avaliaram os efeitos do afeto deprimido na

incapacidade funcional entre idosos rurais de West Virginia, entre 1998

e 1999. Para os autores, o afeto deprimido está diretamente associado

à incapacidade funcional. Os pacientes, principalmente rurais, podem

estar relutantes em se autoidentificarem para os serviços de saúde

mental devido a visões estereotipadas sobre o tema (Patrick et al.,

2004).

20

Ainda em relação a distúrbios mentais de comunidade rural,

Nakimuli-Mpungu et al. (2012), apontaram uma prevalência de 24% de

transtorno depressivo entre portadores de HIV positivos em comunidade

rural de Uganda.

21

1.4. Alcoolismo

O uso abusivo de bebida alcoólica é, atualmente, um grave

problema de saúde pública (Marques e Mangia, 2010; Gallassi et al.,

2008; Laranjeira et al., 2007). Esta realidade levou, em 2010, a

Assembleia Nacional de Saúde (WHA) da OMS a aprovar uma resolução

de estratégia global para reduzir o uso nocivo do álcool (WHO, 2011b).

O alcoolismo ou síndrome de dependência do álcool (SDA) é

considerado um transtorno psiquiátrico com consequências de ordem

individual, familiar, social e econômica em todo o mundo, sendo este

responsável por mortes no trânsito, contribuindo, ainda, para aumento

de morbidades e de violência urbana e doméstica (Tran et al., 2012;

WHO, 2011b).

Tran et al. (2012) verif icaram a relação entre abuso de álcool e

violência doméstica entre casais de população rural e de baixa renda,

no Vietnã. Pires et al. (2012), em estudo nacional com população de

Moçambique, em 2005, sendo a maioria mulheres e de área rurais,

indicaram prevalência de 28,9% de consumo de bebida alcoólica entre

mulheres e 57,7% entre os homens. Silva-Matos e Beran (2012), assim

como Padrão et al. (2011) associaram a relação entre uso abusivo de

álcool e fatores como idade mais avançada e menor escolaridade entre

as mulheres e menor renda entre homens de população rural.

22

Inder et al. (2012) também identif icaram uso excessivo de álcool

como um problema significativo entre a população rural, na Austrália.

Para estes autores, a alta prevalência de alcoolismo entre a população

rural está associada a fatores como desvantagens socioeconômicas,

taxas de mudança da população, adversidade do meio ambiente e

afastamento dos serviços de saúde e/ou centros populacionais.

Haan et al. (2009) verif icaram a associação entre desvantagem

econômica e uso de álcool entre jovens de população rural, nos EUA.

No entanto, Haan e Boljevac (2009) atribuem o uso abusivo de álcool

na adolescência a problema de dependência diagnosticado nos pais.

Os estudos de Coomber et al. (2011), por sua vez, abordaram o

impacto do uso de álcool, tabaco e substâncias ilícitas em comunidades

rurais na Austrália e nos Estados Unidos. Para os autores,

adolescentes rurais usam tais substâncias com mais frequência quando

comparados com outros de áreas urbanas, o que coloca os

adolescentes rurais em maior risco.

Gordon et al. (2011) estudaram o uso abusivo de álcool entre

adolescentes de comunidades rurais, na Pensilvânia, EUA, indicando

que o problema do alcoolismo, entre os jovens, poderia ser melhor

abordado a partir de intervenções de prevenção.

Shannon et al. (2011) defendem a importância da intervenção

precoce contra o abuso de substâncias químicas, como álcool e outras

drogas ilícitas, e os esforços para prevenção e tratamento, no

23

Appalachia Kentucky, EUA. Neste sentido, Siriwardhaba et al. (2012)

também destacam a importância de programa de políticas públicas de

educação para prevenção e redução no uso de álcool entre a população

rural do Sri Lanka.

No contexto brasileiro, Araújo et al. (2007) verificaram elevada

prevalência do alcoolismo (60,8%) entre agricultores da microbacia de

São Lourenço, Nova Friburgo, sendo 45,2% deles com consumo

elevado ou acentuado. No Vale do Taquari (RS), em 2005, o consumo

de álcool entre a população rural foi de 54,4% (Souza et al., 2011).

Faria et al. (2000) apontaram 7,0% de trabalhadores rurais da Serra

Gaúcha, Rio Grande do Sul, com problemas de bebidas alcoólicas,

avaliados a partir do teste CAGE positivo.

Estudos também indicam distinção em relação à prevalência de

uso abusivo de bebida alcoólica entre população urbana e rural e entre

os Estados Brasileiros (OPAS, 2008; Laranjeira et al., 2007). Laranjeira

et al. (2007) apontaram 52,0% dos brasileiros, maiores de 18 anos de

idade, classificados como bebedores leves (pelo menos uma vez ao

ano) e 12,0% da população brasileira com algum problema com o uso

de álcool. O relatório da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas,

em 2005, identif icou uma prevalência de 12,3% de dependência de uso

de álcool entre a população de 108 cidades com ma is de 200 habitantes

(Duarte et al., 2009).

24

O uso abusivo de bebida alcoólica, segundo Marín -León et al.

(2007a), sinaliza um problema de saúde pública. Em 2012, o Ministério

da Saúde (Brasil, 2013) apontou que “27,9% dos homens e 10,3 das

mulheres, da população brasileira adulta, havia feito uso abusivo de

bebidas alcoólicas, nos últimos 30 dias. ” As consequências da

dependência alcoólica, no Brasil, segundo dados do Ministério da

Saúde (Brasil, 2008), entre 2000 e 2006, foram responsáveis por 3,2%

dos óbitos entre os homens e 0,5% entre as mulheres.

25

1.5. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida e

estado de saúde

1.5.1. WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF

Nas últimas décadas, tem havido o surgimento de instrumentos de

avaliação de qualidade de vida, sendo a maioria desenvolvida nos

Estados Unidos, com interesse em traduzi -los para aplicação em outras

culturas (Fleck et al. 1999a; Bullinger et al., 1993). No entanto, Fox -

Rushby et al. (1995) alertam para os riscos da aplicação direta de tais

instrumentos de avaliação de QV sem levar em conta as especificidades

de cada cultura, uma vez que as ferramentas estão impregnadas com a

cultura de origem e refletem crenças e valores dos pesquisadores

participantes de sua construção. Estes autores destacam, ainda, que,

apesar do bem-estar – proporcionado por equilíbrio psicológico, físico e

social – ser considerado um benefício estendível a todos os humanos, o

conceito de qualidade de vida não poderá ser entendido como categoria

universal.

O desenvolvimento de instrumentos de medidas genéricas de

qualidade de vida teve início nos anos 1970, no intuito de avaliar a QV

de pacientes com doenças crônicas específicas. Nas décadas de 80 e

90, registrou-se um aumento no rigor metodológico e mais ênfase nas

abordagens analíticas, na interpretação dos escores da escala, nas

26

questões culturais e linguísticas, bem como sobre no desenvolvimento

de medidas mais curtas (Wood-Dauphinee, 1999).

Para Fleck (2008), a partir da década de 70, seis vertentes

convergiram para o conceito de QV: (1) os estudos de base

epidemiológica sobre a felicidade e o bem-estar, visto que, nos países

desenvolvidos, a eliminação da miséria passou a ser insuficiente diante

das demandas de sociedades cada vez mais ricas e com objetivos mais

amplos; (2) a busca de indicadores soc iais, como a renda per capita e o

índice de morbidade infantil e, recentemente, o índice de

desenvolvimento humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento, que inclui aspectos de natureza social

e cultural; (3) a insuficiência das medidas objetivas de desfecho em

saúde, uma vez que as medidas tradicionais baseadas em exames

laboratoriais e na avaliação clínica avaliam muito mais a doença do que

o doente; (4) a psicologia positiva, que considera aspectos positivos da

experiência humana, como resiliência, esperança, sabedoria,

criatividade e espiritualidade; (5) a satisfação do cliente, grau de

satisfação do usuário com os serviços de saúde oferecidos; (6) o

movimento de humanização da medicina, visando à reumanização do

atendimento, com a preocupação de resgatar a relação médico -paciente

como responsável pelo sucesso das intervenções na área da saúde.

A busca por um instrumento que avaliasse a QV sob uma

perspectiva internacional levou a OMS a desenvolver um projeto

27

multicêntrico que resultou no Grupo de Qualidade de Vida (The

WHOQOL Group). O WHOQOL Group agregou vários cientistas do

mundo todo para estruturar um protocolo internacional abordando a

avaliação dos parâmetros da QV e desenvolveu dois instrumentos, o

WHOQOL-100 (Word Health Organization Quality of Life Instrument

100) e o WHOQOL-Bref (Word Health Organization Quality of Life

Instrument Bref) (Fleck, 2000b; WHO, 1997; The WHOQOL Group,

1995).

O grupo WHOQOL aponta três aspectos fundamentais para o

constructo qualidade de vida: (1) a subjetividade, estando relacionada à

perspectiva do indivíduo sobre o que está em questão; (2) a

multidimensionalidade, composta por dimensões avaliadas por meio de

escores dos domínios físicos, mental, social e meio ambiente e (3) a

bipolaridade, que inclui a presença de elementos de dimensões

positivas (mobilidade) e ausências de dimensões negativas (dor),

necessárias para qualidade de vida (Fleck, 2008a).

O WHOQOL-100 e o WHOQOL-Bref são instrumentos usados em

extensa literatura internacional avaliando QV em pacientes portadores

de doenças crônicas (distúrbios psiquiátricos, neurológicos, portadores

de HIV/Aids, hipertensos) (Fleck, 2008a; WHO, 1997).

O WHOQOL-100 é composto por 100 itens, subdivididos em seis

domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais,

28

meio-ambiente e espiritualidade/crenças pessoais (Fleck, 2000b; Fleck

et al., 1999a; Fleck et al., 1999b).

O WHOQOL-Bref, por sua vez, é uma versão abreviada do

WHOQOL-100. O instrumento abreviado consta de 26 questões, sendo

duas questões gerais de qualidade de vida. As demais representam as

24 facetas constituintes do instrumento original, que é composto por

quatro domínios: físico (7 facetas), psicológico (6 facetas), relações

sociais (3 facetas) e meio ambiente (8 facetas) (Fleck et al., 2000a;

WHO, 1996; The WHOQOL Group, 1995).

O WHOQOL-Bref apresenta um escore que varia de 0 a 100,

sendo que quanto maior for o valor nos domínios, melhor é a qualidade

de vida avaliada. As questões são formuladas para escala L ikert, com

quatro tipos de escala de respostas: intensidade (nada, muito pouco,

mais ou menos, bastante e extremamente), capacidade (nada, muito

pouco, médio, muito e completamente), frequência (nunca, algumas

vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre) e avaliação

(muito insatisfeito, insatisfeito, nem satisfeito nem insatisfeito, satisfeito

e muito satisfeito; muito ruim, ruim, nem ruim nem bom, bom e muito

bom). As palavras âncoras (nada e extremamente; nada e

completamente; nunca e sempre; muito insatisfeito e muito satisfeito e

muito ruim e muito bom) são pontuadas de um a cinco, sendo que, nas

questões de número 3, 4 e 26, os escores são invertidos (Fleck et al.,

2000a; Fleck, 1998; WHO, 1996).

29

1.5.2. Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health

Survey (SF-36)

Outro instrumento genérico que tem sido frequentemente utilizado

para a avaliação da qualidade de vida é o Item Short-Form Health

Survey (SF-36). O SF-36 foi desenvolvido por Ware e Sherbourne

(1992) para medir a saúde funcional em médias e grandes populações,

sendo utilizado em serviços de saúde, testes clínicos, condições

crônicas da população em geral e tratamentos clínicos de varias

condições de saúde, abordando aspectos físicos e mentais da

qualidade de vida do indivíduo (Walters, 2004; Ciconelli et al., 1999;

Ciconelli, 1997; Ware e Sherbourne, 1992).

Apesar do SF-36 avaliar qualidade de vida relacionada à saúde,

este instrumento tem sido cada vez mais selecionado para avaliar

resultados de serviços de atendimentos. O instrumento vem sendo

traduzido e adaptado cultural e psicometricamente por vários países,

incluindo o Brasil (Suzukamo et al., 2011; Morimoto et al., 2006; Fuh et

al., 2000; Ciconelli et al., 1999; Bjorner et al., 1998; Pierre et al., 1998;

Ware Jr et al., 1998; Achat et al., 1998; Raczek et al., 1998; Gandek et

al., 1998; Ciconelli, 1997; Jenksone et al. 1993).

O questionário do SF-36 é composto de 36 itens, distribuídos em

oito escalas ou domínios (aspecto físico, aspecto emocional, aspecto

30

social, capacidade funcional, dor, estado de saúde geral, saúde mental

e vitalidade), sendo quatro escalas associadas à saúde física (funções

físicas, postura de vida, dor corporal e saúde geral) e quatro à saúde

mental (vitalidade, funções sociais, postura emocional e saúde mental) .

O SF-36 apresenta um escore final de 0 a 100, sendo 0 o pior escore de

estado geral de saúde e 100, o melhor (Ciconelli et al., 1999; Ciconelli,

1997).

O domínio de capacidade funcional (10 itens) avalia o impacto das

limitações físicas (dificuldade para tomar banho sozinho, vestir-se,

praticar esportes ou atividades físicas, carregar sacos de compras,

ajoelhar-se, andar ou caminhar determinada distância) na qualidade de

vida. Os domínios referentes aos aspectos físicos (4 itens) e

emocionais (3 itens) avaliam os impactos e limitações na saúde devido

a problemas físicos e emocionais, além de detectar se tais problemas

interferem no tipo e na quantidade de trabalho realizado. O domínio de

aspecto social (2 itens) avalia a quantidade e a qualidade das

atividades sociais e o impacto dos problemas físicos e emocionais

nestas atividades. O domínio de dor (2 itens) avalia a intensidade e

desconforto causados pela dor e o modo como esta interfere no

trabalho. O domínio de estado de saúde geral (5 itens) avalia a

percepção geral do indivíduo sobre sua saúde atual, a resistência a

doenças e o aspecto saudável. O domínio de saúde mental (5 itens)

inclui os conceitos de ansiedade, depressão, perda de controle

31

comportamental ou emocional e de bem-estar psicológico. O domínio de

vitalidade (4 itens) mede os níveis de energia e de fadiga (Ware Jr,

2012; Ciconelli et al., 1999; Ciconelli, 1997).

Zanei (2006) e Ciconelli et al. (1999) afirmam ser o SF-36 o

instrumento mais utilizado para avaliar qualidade de vida em pacientes

crônicos. Por ser um instrumento de avaliação de qualidade de vida

relacionada à saúde (QVRS), considera-se que seja mais adequado

para ser aplicado a qualquer tipo de paciente internado em unidade de

tratamento intensivo (UTI), permitindo descrever o pe rfil de saúde do

paciente, apreender melhor o impacto da doença aguda e da internação

na UTI em diferentes aspectos da vida. Entretanto, o SF-36 não inclui

questões relacionadas à vida sexual e ao sono, fatores que podem

influenciar na QV dos pacientes após a alta (Zanei, 2006; Ciconelli et

al., 1999).

Huang et al. (2006) afirmam ser complexo mensurar a QV. Os

profissionais de saúde e pesquisadores devem ser criteriosos na

seleção do instrumento a ser utilizado em sua pesquisa. Os autores

destacam, ainda, que, embora o SF-36 (instrumento genérico que avalia

qualidade de vida relacionada à saúde) e o WHOQOL-Bref sejam

utilizados como sinônimos para medir QV, estes parecem avaliar a QV

em diferentes constructos. Enquanto o SF-36 avalia a qualidade de vida

relacionada à saúde (QVRS) o WHOQOL-Bref avalia a QV global.

32

Liu et al. (2010) apontam que a maioria dos estudos existentes

sobre QV são baseados em ambientes urbanos. Os autores

investigaram a validade do uso de um questionário de saúde urbana e

do estilo de vida baseado em indivíduos com um estilo de vida rural

tradicional a partir da utilização do SF-36. Estes autores defendem que

instrumentos de avaliação de QV com base no regime urbano de vida

não podem ser confiavelmente utilizados em indivíduos que vivem em

ambientes rurais.

33

1.6. Instrumentos de avaliação de transtornos mentais

comuns (TMC)

1.6.1. Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20)

Em relação às questões relacionadas à saúde mental, um

instrumento que tem sido bastante utilizado para avaliar transtornos

mentais comuns (TMC) é o Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20).

O SRQ-20 é um instrumento proposto pela OMS para detectar

morbidade psiquiátrica na população geral. Foi desenvolvido por

Harding et al. (1980) e validado no Brasil por Mari e Williams (1986a)

com uma sensibilidade de 83% e especificidade de 80% para

rastreamento de transtorno psicoemocional, sendo os melhores pontos

de cortes entre 5 e 6 para os homens e de 7 e 8 para as mulheres (Mari

e Williams, 1986a; WHO, 1994a).

O SRQ-20 é composto de 20 questões com respostas sim/não. O

SRQ-20 tem sido bastante utilizado no Brasil para avaliar TMC em

comunidades urbanas e rurais e em portadores de enfermidades. Alguns

autores têm adotado pontos de corte menores e distintos para sexo

masculino e feminino e para população de estudo específica (Ulhôa et

al., 2010; Faker, 2009; Marín-León et al. 2007b; Silva et al., 2006; Mari

e Williams, 1986a).

34

Costa e Ludermir (2005) consideraram com suspeitas de TMC os

indivíduos que apresentaram seis ou mais respostas afirmativas. Os

estudos de Giang et al. (2010; 2006) adotaram ponto de corte de 7, em

comunidade rural no Vietnã, e Nakimuli -Mpungu et al. (2012), em

Uganda, adotaram ponto ≥ 6 (maior ou igual).

Nos estudos de Faker (2009), com população rural de Mato

Grosso do Sul, e da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (ISA

2008) (São Paulo, 2011), com população urbana de São Paulo, foi

adotado ponto ≥ 8 para ambos os sexos.

Os estudos de Faria et al. (1999), com população rural na Serra

Gaúcha (RS), definiram ponto de corte ≥ 6 para homens e ≥ 8 para

mulheres. Os autores esclarecem que, devido à ausência de validação

específica do SRQ-20, no Brasil, para população rural, optou-se por

realizar comparação com resultados de outro estudo em população

urbana.

Carlotto et al. (2011), estudando trabalhadores urbanos em Porto

Alegre, adotaram como sugestivos de TCM ponto ≥ 7 para ambos os

sexos. Santos et al. (2010), em área urbana de Feira de Santana (BA),

afirmaram que pontos de corte de 6 ou 7 apresentaram melhor

desempenho, sendo 7 o melhor ponto de corte entre as mulheres e 5,

entre os homens.

Scazufca et al. (2009), por sua vez, definiram ponto ≥ 4/5 para

detectar TMC entre a população adulta de São Paulo. Para Tavares et

35

al. (2011) o ponto de corte do SRQ-20 é apenas sugestivo de

sofrimento psíquico ou de distúrbios psíquicos menores.

A distinção em relação ao ponto de corte do SRQ-20 se deve a

fatores socioeconômicos e demográficos, com menor ponto de corte

para homens, devido a sua maior dificuldade em expressar questões

emocionais e problema de saúde etc. (Santa Helena et al., 2010;

Santos et al., 2010; Mari e Williams, 1986a, 1986b).

Quando o instrumento avalia o evento de interesse em

uma escala contínua, é necessário o estabelecimento de

um ponto de corte, abaixo e acima do qual seja possível

definir-se ausência ou presença de um dado desfecho...

A análise do desempenho de um instrumento deve,

portanto, levar em consideração um conjunto de

indicadores, analisando-se a sua capacidade de

discriminar caso/ não caso, a definição do melhor ponto

de corte, bem como fatores que podem interferir no seu

desempenho em contextos específ icos (Santos et al.,

2010).

Os estudos de Lee et al. (2006) e Faria et al. (1999) referem à

necessidade de validação de instrumentos para avaliação de

transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural, em países em

desenvolvimento e não ocidentais, bem como a limitação de estudos de

saúde mental direcionados à população rural. Apontam, também, para a

36

necessidade de estudos específicos de saúde mental direcionada a

população que reside e trabalha em área rural.

37

1.7. Instrumentos de avaliação do uso abusivo de álcool

Em relação ao rastreamento e identif icação de pessoas com

problemas relacionados ao uso abusivo de bebida alcoólica, destacam -

se dois instrumentos que têm sido bastante utilizados para esta

finalidade: o AUDIT (Alcohol Use Disorder Identification Test) e o CAGE

(Screening test for alcohol dependence) – Cut-down; Annoyed; Guilty e

Eye-opener. Ambos os instrumentos já foram validados para população

brasileira (Méndez, 1999; Mansur e Monteiro, 1983).

1.7.1. CAGE – Cut-down; Annoyed; Guilty e Eye-opener

O CAGE (Screening test for alcohol dependence) – instrumento

adotado neste projeto de pesquisa – é composto de quatro questões,

com respostas sim/não. Uma resposta afirmativa indica ser um sinal de

abuso de álcool, enquanto que duas respostas afirmativas indicam

abuso de álcool. Este instrumento foi criado por Mayfield et al. (1974) e

validado no Brasil por Mansur e Monteiro (1983).

38

1.8. JUSTIFICATIVAS DO ESTUDO

A limitação de estudos brasileiros sobre as temáticas qualidade

de vida, qualidade de vida relacionada à saúde, transtorno mental

comum (TMC), tabagismo, alcool ismo e aspectos de saúde da

população rural no Brasil, além da hipótese de maior prevalência de

TMC entre a população de comunidades rurais, em decorrências da

exposição e intoxicação por agrotóxico e das condições de trabalho no

campo, instigaram a realização deste estudo.

39

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

A pesquisa tem como objetivo geral avaliar a qualidade de vida

(QV) e transtornos mentais comuns (TMC) de residentes em áreas

rurais, bem como avaliar a qualidade de vida relacionada aos aspectos

do estado de saúde nesta população de estudo.

2.2. Específicos

2.2.1. Identificar alteração dos domínios da QV entre os

residentes da área de estudo;

2.2.2. Avaliar os domínios da qualidade de vida em relação à

função desempenhada no campo;

2.2.3. Identificar diferenças nos domínios da QV em relação ao

sexo;

2.2.4. Identificar a relação entre sobrecarga (quantidade de

horas) de trabalho semanal e alteração dos domínios da

QV;

2.2.5. Identificar a prevalência de alcoolismo e de tabagismo

entre a população rural estudada.

40

41

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Desenho da pesquisa

Trata-se de um estudo de caráter epidemiológico transversal, para

avaliar a qualidade de vida, a qualidade de vida relacionada à saúde e

transtornos mentais comuns de residentes de áreas rurais, com idade

acima de 18 anos, dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, no município de Atibaia, Estado de São Paulo.

3.2. Caracterização da população de estudo

As áreas de estudo compreendem os bairros de Laranjal,

Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, município de Atibaia, SP. Atibaia

possui, segundo o IBGE (2010f), uma população de 126.603 habitantes

(62.211 homens e 64.392 mulheres), assim distribuída: população

urbana – 115.229 habitantes (56.235 homens e 58.994 mulheres);

população rural – 11.374 (5.976 homens e 5.398 mulheres). A mesma

fonte informa que o território de Atibaia corresponde a 478,448 km2; a

densidade demográfica é de 264,61 habitantes/km 2 e o Produto Interno

Bruto (PIB), R$ 3.062.680,00, em 2010.

42

Segundo dados do Sistema de Informações de Atenção Básica

(SIAB), do Ministério da Saúde e informações da Secretaria Municipal

de Atibaia, os bairros específicos deste estudo possuem uma população

de 2.699 habitantes, conforme se observa na Tabela 1. O número de

habitantes na faixa etária de idade de interesse desta pesquisa

(maiores de 18 anos) somam aproximadamente 2.100 habitantes

(Brasil, 2012).

Tabela 1 – População de estudo por sexo e faixa etária (anos). Bairros:

Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/São Paulo,

Brasil, 2012.

SEXO

FAIXA ETÁRIA (Anos)

< 1 1 a 4 5 a 6 7 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 39 40 a 49 50 a 59 > 60 TOTAL

Masculino 3 61 39 59 129 146 527 185 117 130 1396

Feminino 4 64 32 55 123 133 486 181 111 114 1303

TOTAL 7 125 71 114 252 279 1013 366 228 244 2699

Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Atenção Básica

(SIAB). Dados atualizados fornecidos (em 11/12/2012) pela Secretaria

Municipal de Saúde de Atibaia para o ano de 2012 (Brasil, 2012).

3.3. Cálculo amostral

Considerando o objetivo geral de (1) avaliar a qualidade de vida

de residentes em área rural e dada a escolha do instrumento WHOQOL-

43

Bref, o cálculo do tamanho da amostra se baseou nas medidas de

média de variância deste instrumento para uma população normal,

preconizadas por Fleck (2000a).

A definição do tamanho amostral para o WHOQOL-Bref teve como

intuito observar uma diferença de pelo menos 0,5 entre a escala média

dos residentes rurais e a média da população normal em pelo menos

um dos quatro domínios deste instrumento, para um poder de teste de

80%, com um erro alfa de 5%, considerando uma possível perda de

20% das informações da amostra (Elashoff e Lemeshow, 2006).

Para os demais objetivos, (2) avaliar transtornos mentais comuns,

a partir do SRQ-20 e (3) avaliar a qualidade de vida relacionada à

saúde, a partir do SF-36, de residentes em áreas rurais, o cálculo da

amostra se baseou nas medidas de média de variância para uma

população normal. Considerou-se um poder de teste de 80%, com um

erro alfa de 5% e uma possível perda de informação em 20% dos

indivíduos amostrados (Berni, 2002).

Considerando a possibilidade de perda de 20%, o tamanho da

amostra determinada, a partir do projeto piloto, para os instrumentos

WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20 seriam de, no mínimo, 300

participantes. Ao final, a amostra foi composta de 355 residentes das

áreas de estudo. Houve uma perda de seis participantes (questionários)

que foram excluídos da pesquisa. Os questionários foram considerados

inválidos pelos seguintes motivos: incompletos, duplicidade no

44

preenchimento devido à mudança de endereço do partic ipante durante a

coleta de dados e devido à desistência do participante em continuar a

pesquisa.

3.4. Variáveis de análises

Nas análises, foram consideradas como variáveis dependentes os

domínios do WHOQOL-Bref (físico, psicológico, relação social e meio

ambiente), os domínios do SF-36 (capacidade funcional, aspectos

físicos, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental, dor,

estado geral de saúde, vitalidade) e as categorias (fatores) do SRQ -20,

segundo critérios de classificação proposto por Iacoponi e Mari (1989):

diminuição da energia, sintomas somáticos, humor depressivo/ansioso,

pensamentos depressivos.

Como independentes, foram consideradas as variáveis

demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil), socioeconômicas

(renda, escolaridade, ocupação, ser trabalhador rural, ter trabalhado na

agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e de

posse da propriedade), uso de agrotóxico no processo de trabalho,

contato com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão de bebida

alcoólica, tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento.

45

3.5. Instrumentos adotados

3.5.1. Aplicação de questionário sociodemográfico (semiestruturado),

em residentes das áreas de estudo, com idade acima de 18

anos.

3.5.2. Aplicação do WHOQOL-Bref para avaliação de qual idade de

vida.

3.5.3. Aplicação do SF-36 – The Medical Outcomes Study 36 – Item

Short-Form Health Survey (SF-36).

3.5.4. Aplicação do Self Reporting Questionnaire – SRQ-20.

3.5.5. Aplicação do questionário CAGE (Screening test for alcohol

dependence).

3.6. Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os

participantes foram selecionados por conveniência e de acordo com o

interesse dos residentes em participar, voluntariamente, da pesquisa.

Foi realizado um projeto piloto com 17 residentes dos quatro

bairros de estudo: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo. O

objetivo do projeto piloto foi testar a aplicabilidade dos instrumentos.

46

Os participantes do projeto piloto não foram incluídos nas análises

finais do projeto de pesquisa.

As entrevistas foram realizadas por agentes e ex-agentes de

saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural de

Rio Abaixo), atual programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF)

(Brasil, 2011a), após receberem treinamentos para aplicação dos

questionários.

Durante o período de coleta de dados (abril a dezembro de 2011),

houve mudança na equipe do Programa de Saúde da Família (PSF rural

de Rio Abaixo) em Atibaia. No final de abril de 2011, outra enfermeira

assumiu a coordenação de equipe do PSF de Rio Abaixo. Alguns meses

depois, a médica do serviço também foi substituída. A maioria dos

funcionários que compunha a equipe de PSF estava no programa há

mais de cinco anos. Estas mudanças trouxeram insegurança e

instabilidade, principalmente por parte das agentes de saúde, que

tiveram que se adaptar às mudanças propostas pela nova

coordenadora.

A coleta dos dados foi realizada, inicialmente, por oito

entrevistadores (agentes de saúde). Ao final do trabalho de campo,

apenas quatro dos entrevistadores(as) permaneciam no projeto de

pesquisa desde o início da coleta. Com isso, o número reduzido de

entrevistadores(as) contribuiu para um prolongamento do processo de

coleta de dados. Outro fato que também influenciou para ampliação da

47

pesquisa de campo foi o período de chuva no decorrer do

desenvolvimento da mesma. Durante os dias chuvosos, os agentes

eram impossibilitadas de sair a campo, em estradas de “barro” que

impediam a locomoção e deslocamentos.

A substituição da coordenadora de equipe do PSF, muito

provavelmente, fez com que alguns agentes desistissem de continuar

fazendo a coleta de dados para a pesquisa, mesmo que as entrevistas

fossem realizadas fora do horário de trabalho. As justificativas dadas

pelas agentes de saúde para a desistência da pesquisa era o fato da

nova coordenadora questionar se a pesquisa não estaria atrapalhando o

rendimento do trabalho delas em relação às visitas domiciliares.

Os(as) entrevistadores(as) informaram que houve recusa e

resistência dos residentes, principalmente dos homens, em participar da

pesquisa. Estes justificavam a falta de tempo ou de interesse em

participar.

Embora reiterado para os(as) entrevistadores(as) a importância

de registrar no caderno de campo a recusa e motivos de desistências,

isto não foi feito. A recusa em participar da pesquisa fugiu do controle

do pesquisador responsável, uma vez que não foram feitas anotações

no caderno de campo, conforme esclarecido no treinamento. Diante

disso, não foi possível determinar o número de residentes que se

recusaram a participar da pesquisa.

48

As entrevistas – questionários sociodemográficos – e os

instrumentos WHOQOL-Bref, SF-36, SRQ-20 e CAGE foram digitados

em planilhas do Excel 2010.

3.7. Análise dos dados

Foram realizadas análises descritivas das variáveis demográficas

(sexo, idade, cor/etnia, estado civil), socioeconômicas (renda,

escolaridade, ocupação, ser trabalhador rural, ter trabalhado na

agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e posse

de propriedade), uso de agrotóxico no processo de trabalho, contato

com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão de bebida

alcoólica, tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento e dos

domínios do WHOQOL-Bref, do SF-36 e do SRQ-20, a partir do

programa SAS, versão 9.2 e do SPSS, 17.0.

Para identif icar variáveis que influenciam na qualidade de vida

(WHOQOL-Bref) e na qualidade de vida relacionada ao estado de saúde

(SF-36), empregou-se a análise de regressão linear múltipla. Para

identificar fatores que discriminam transtorno mental comum, avaliado

pelo SRQ-20, realizou-se análise de regressão logística múltipla

(Tabachnick e Fidell, 2001; Stevens, 1992).

49

Devido à ausência de normalidade, foi aplicada a transformação

por postos nas variáveis dependentes. O modelo stepwise forward

serviu como critério para a seleção das variáveis. O nível de

significância adotado para os testes estatísticos foi de 5% e intervalo

de confiança (IC) de 95%.

Na análise binomial, considerou-se (sim/não) para as variáveis:

intoxicação, exposições a agrotóxicos, tabagismo, consumo de bebidas

alcoólicas, situação ocupacional, problemas de saúde, uso de

medicamentos. Tais fatores foram correlacionados aos domínios do

WHOQOL-Bref: físico, psicológico, social e ambiental e do SF-36:

capacidade funcional, aspecto físico, social, emocional, estado geral de

saúde, saúde mental e vitalidade e com as categorias do SRQ-20.

Foi adotado ponto de corte de sete respostas positivas, para

ambos os sexos, como sendo sugestivos de transtornos mentais

comuns (TMC) entre os residentes rurais.

Realizou-se a análise de correlação em relação ao tempo (anos)

de trabalho na função atual, condições relacionadas ao trabalho –

jornada de trabalho (quantidade de horas trabalhadas semanalmente)

com os domínios do WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20 – ajustado para

idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda.

50

3.8. Ética na pesquisa

O projeto teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

(FCM/UNICAMP) sob o parecer CEP 1154/2010. A participação dos

entrevistados foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – ANEXO I) e receberam um

Termo de Responsabilidade do Pesquisador (ANEXO II). Todos os

participantes foram informados dos objetivos da pesquisa e sobre a

possibilidade de desistência em qualquer etapa do trabalho, sem

prejuízo para os desistentes.

51

4. RESULTADOS

Os resultados do presente estudo são apresentados em formatos de

artigos científ icos.

52

53

4.1. ARTIGO 1 – ATENDENDO AO PRIMEIRO OBJETIVO DO

ESTUDO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE RESIDENTES EM

ÁREAS RURAIS1

Assessment of quality of life of residents in rural areas

Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las

zonas rurales

Autores: Paulo Junior Paz de Lima; Helenice Bosco de Oliveira .

1 Publicado na Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente, v. 2, n. 3, jun. 2014. Encontra-se disponível, na íntegra, no apêndice. Paz de Lima, Paulo Junior; Oliveira, Helenice Bosco. Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rurais. Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente. 2014, 2(3):9-12.

54

55

Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas

rurais

Assessment of quality of life in residents of rural areas

Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las

zonas rurales

RESUMO

A discussão sobre qualidade de vida (QV) no contexto rural tem

assumido um aspecto secundário, dada a urgência de outras

prioridades. Objetivos: Avaliar a qualidade de vida de residentes em

áreas rurais em Atibaia/SP e identif icar alterações nos domínios do

WHOQOL-Bref, quando relacionados a fatores sociodemográficos.

Métodos: Estudo transversal realizado entre abril e dezembro de 2011,

com 355 participantes com idade acima de 18 anos. Foram aplicados

questionários sociodemográficos e o WHOQOL-Bref. Foram realizadas

análises descritivas e de regressão linear múltipla das

variáveis sociodemográficas e dos domínios do WHOQOL-Bref. Foi

realizado ajuste para idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda.

Foi utilizado o programa SAS, versão 9.2, nas análises. Nível de

significância de 5% e intervalo de confiança (IC) de 95%. Resultados:

56

Os resultados apontaram associação estatística entre os domínios do

WHOQOL-Bref e as variáveis: idade ( físico e social), sexo (físico e

psicológico), estado civil (social), escolaridade (psicológico), renda

(social e ambiental), tipo de propriedade (ambiental), problema de

saúde (físico e psicológico) e uso de medicamento (psicológico e

social). Conclusão: Os resultados destacaram a contribuição de

variáveis sociodemográficas ( idade, sexo, estado civil, escolaridade,

renda, tipo de propriedade), problema de saúde e uso de medicamento

para melhor QV de residentes em áreas rurais, em um contexto

brasileiro. Estes podem servir de parâmetro para estudos futuros com

população rural.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida, população rural, perfil

epidemiológico.

57

Assessment of quality of life in residents of rural areas

Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas

rurais

Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las

zonas rurales

ABSTRACT

The discussion on quality of life (QOL) in the rural context has assumed

a secondary aspect given the urgency of other priorities. Objectives: To

evaluate the quality of life of rural residents in Atibaia/SP, and to

identify changes in the domains of WHOQOL-Bref, when related to

socio-demographic factors. Methods: Cross-sectional study between

April and December 2011, with 355 participants over the age of 18. We

applied a sociodemographic questionnaire and the WHOQOL-Bref. We

applied descriptive statistic and multiple linear regression of

sociodemographic variables and of the WHOQOL-Bref domains.

Adjustment in the variables for age, sex, marital status, education and

income were conducted. Data were analyzed using SAS, version 9.2.

The significance level was 5%, and confidence intervals (CI) were of

95%. Results: The results showed statistically significant association

58

between the domains of WHOQOL-Bref, and the variables: age (physical

and social), sex (physical and psychological), marital status (social),

education (psychological), income (social and environmental), type of

property (environmental), health problem (physical and psychological),

and medication use (psychological and social). Conclusion: The results

highlighted the contribution of sociodemographic variables (age, sex,

marital status, education, income, type of property), health problems,

and medication use for a better QOL in residents of rural areas, in a

Brazilian context. These may serve as parameters for future studies with

rural population.

KEY-WORDS: Quality of life, rural population, epidemiologic profile.

59

Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las

zonas rurales

Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas

rurais

Assessment of quality of life in residents of rural areas

RESUMEN

El debate sobre la calidad de vida (CV) en el contexto rural ha asumido

un aspecto secundario, debido a la urgencia de otras prioridades.

Objetivos: Evaluar la calidad de vida de los residentes rurales en

Atibaia/SP e identif icar cambios en WHOQOL-Bref, en relación a

factores sociodemográficos. Métodos: Se realizó un estudio transversal

entre abril y diciembre de 2011, con 355 participantes, mayores de 18

años. Se aplicaron cuestionarios sociodemográficos y WHOQOL-Bref.

Se realizaron análisis descriptivos y de regresión linear múltiple de las

variables sociodemográficas y WHOQOL-Bref. Fue realizado ajuste por

edad, sexo, estado civil, educación y renta. Se utilizó el programa SAS,

versión 9.2 para los análisis. El nivel de significación (5%) y el intervalo

de confianza (IC) de 95%. Resultados: Los resultados mostraron una

asociación estadísticamente significativa entre los dominios el

60

WHOQOL-Bref y las variables: edad ( físico y social), sexo (físico y

psicológico), estado civil (social), educación (psicológico), renta (social

y ambiental), tipo de propiedad (ambiental), problema de salud (físico y

psicológico) y el uso de medicamentos (psicológico y social).

Conclusión: Los resultados ponen de relieve la contribución de las

variables sociodemográficas (edad, sexo, estado civil, educación , renta,

tipo de propiedad), problema de salud e el uso de medicamentos a una

mejor calidad de vida de los residentes en las zonas rurales, en el

contexto brasileño. Estos pueden servir como punto de referencia para

futuros estudios en la población rural.

PALABRAS CLAVE: Calidad de vida, población rural, perfil

epidemiológico.

61

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE RESIDENTES EM ÁREAS

RURAIS

Assessment of quality of life in residents of rural areas

Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las

zonas rurales

INTRODUÇÃO

A realidade de grande parte dos residentes em áreas rurais do

Brasil estimula a reflexão sobre as condições de vida, de trabalho e de

moradia a eles impostas e, consequentemente, sobre o impacto de tais

condições em sua qualidade de vida (QV).

Embora o tema qualidade de vida tenha merecido a atenção de

pesquisadores em todo o mundo, quando o objeto da investigação é a

população rural, a literatura – principalmente a brasileira – silencia.

Tais trabalhos têm explorado a QV em pessoas portadoras de

enfermidades ou doenças crônicas, transtornos psicoemocionais,

portadoras de HIV/Aids, idosos, alcoólatras, trabalhadores urbanos,

entre outras (Fleck, 2008a).

A discussão sobre as concepções de saúde e QV no contexto e

trabalho no campo é importante porque tem assumido um aspecto

62

secundário, dada a urgência de outras prioridades, bem como a

garantia da sobrevivência, mesmo em condições de trabalho

degradantes. Neste sentido, Uchoa et al. (2002) destacam que, nos

poucos trabalhos que relacionam QV e trabalho rural, a QV é discutida

a partir da articulação entre condições objetivas (estado de saúde,

serviços disponíveis, bens e redes sociais de apoio) e o universo de

representações objetivas e subjetivas (avaliação do estado de saúde,

satisfação com os serviços, recursos materiais e redes sociais de

apoio).

Qualidade de vida no contexto rural

Os estudos sugerem que as comunidades localizadas em áreas

dependentes da agricultura, ou com pobreza persistente, têm uma

propensão para maiores déficits na QV (Nzeadibe e Ajaero, 2010;

Mammen et al., 2009).

Rėklaitienė et al. (2008) avaliaram a QV em comunidades rurais

na Lituânia. Os resultados sugerem que o est ilo de vida e os aspectos

sociodemográficos podem explicar uma parte substancial das

diferenças entre a QV de homens e de mulheres. Fatores como meno r

escolaridade, sedentarismo e obesidade são mais prevalentes entre as

mulheres.

63

No contexto dos Estados Unidos, McGranahan e Beale (2002) ,

sugerem que o declínio econômico e o êxodo rural em massa são

fatores a serem considerados na análise da QV. No contexto chinês,

segundo Zhang et al. (2009), o rápido crescimento econômico aumentou

a disparidade de renda entre as zonas urbana e rural a níveis elevados.

Com isso, houve drástico impacto na QV dos habitantes das áreas

rurais do país, que foram estimulados a migrar para áreas urbanas em

busca de uma vida melhor. Essas mudanças demográficas tiveram

profundos impactos não apenas no campo, mas também na QV dos

migrantes.

No cenário brasileiro, os poucos estudos também identificam

relações entre a QV no campo, o modo de organização e realização do

trabalho (Sena et al., 2013; Faker, 2009).

64

OBJETIVOS

Avaliar a qualidade de vida dos residentes em áreas rurais ;

identificar a importância das variáveis sociodemográficas nos domínios

da qualidade de vida no contexto rural, bem como da função

desempenhada no campo e da relação entre carga horária (quantidade

de horas) de trabalho semanal, nos domínios de qualidade de vida.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal , com residentes maiores de 18

anos em áreas rurais dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, no município de Atibaia, SP. Atibaia possui, segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE, 2010), uma população de

126.603 habitantes (62.211 homens e 64.392 mulheres), assim

distribuída: população urbana – 115.229 habitantes (56.235 homens e

58.994 mulheres); população rural – 11.374 (5.976 homens e 5.398).

Em 2010, Atibaia tinha um Produto Interno Bruto (PIB) de R$

3.062.680,00.

65

Cálculo amostral

Foi utilizado cálculo de tamanho amostral para estimativa de

médias, nos domínios do WHOQOL-Bref, esperado para uma população

normal (Fleck et al., 2000). Considerou-se um poder de teste de 80%,

com um erro alfa de 5% e uma possível perda de informação em 20%

dos indivíduos amostrados (Elashoff e Lemeshow, 2006).

Variáveis de análises

Foram consideradas como variáveis dependentes os domínios do

WHOQOL-Bref: físico, psicológico, social e ambiental e, como

independentes, as variáveis sociodemográficas (sexo, idade, estado

civil, cor/etnia, escolaridade, tipo de moradia e propriedade, renda,

ocupação, ser trabalhador rural, se trabalhou na agricultura, carga

horária de trabalho semanal), uso de agrotóxicos, contato com

agrotóxicos, intoxicação por agrotóxicos, ingestão de bebida alcoólica ,

tabagismo, uso de medicamento e problema de saúde.

66

Instrumentos adotados

Foram aplicados questionários sociodemográficos

(semiestruturado) e o WHOQOL-Bref.

O WHOQOL-Bref foi desenvolvido pela Organização Mundial de

Saúde (The WHOQOL Group, 1995) e validado para população

brasileira por Fleck et al. (2000). O instrumento consta de 26 questões,

sendo duas questões gerais de QV e as demais representativas dos

quatro domínios: físico (7 questões), psicológico (6 questões), relação

social (3 questões) e meio ambiente (8 questões).

Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os

participantes foram selecionados por conveniência e de acordo com o

interesse dos residentes em participar, voluntariamente, da pesquisa.

Foram aplicados 361 questionários, sendo a amostra final

composta por 355 participantes. Houve uma perda de seis participantes

(questionários) que foram excluídos da pesquisa por apresentarem

informações incompletas, desistência, duplicidades no preenchimento

67

do questionário pelo mesmo participante e mudança de endereço

durante a coleta de dados.

Os critérios de inclusão para participar da pesquisa foram ser

maiores de 18 anos e residir nos bairros de estudos no momento da

pesquisa. Foram excluídos da pesquisa residen tes menores de 18 anos

de idade.

Utilizou-se um projeto piloto com 17 participantes das áreas de

estudos, com objetivo testar aplicabilidade dos instrumentos. Os

participantes do projeto piloto não foram incluídos nas análises finais

do projeto de pesquisa.

As entrevistas foram realizadas por oito (8) agentes e ex -agentes

de saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural

de Rio Abaixo), após receberem treinamentos para aplicação dos

questionários. As questões eram lidas pelos entrevistadores e anotadas

nos questionários, conforme as respostas dadas pelos participantes.

Os entrevistadores informaram sobre a recusa e resistência dos

residentes, principalmente dos homens, em participar da pesquisa.

Estes justificavam pela falta de tempo ou de interesse em participar.

Embora reiterado sobre a importância de registrar no caderno de campo

a recusa e motivo dos residentes em não participar da pesquisa, isto

não foi feito pelos entrevistadores. É provável que a maior recusa por

parte dos homens em participar da pesquisa tenha influenciado os

68

entrevistadores em maior abordagem/convite às mulheres, o que poderá

ter contribuído para maior participação destas.

A informação sobre o número de pessoas que se recusaram a

participar da pesquisa fugiu do contro le do pesquisador responsável,

uma vez que não foram registradas no caderno de campo, conforme

esclarecido no treinamento. Diante disso, não foi possível determinar o

número de residentes que se recusaram a participar da pesquisa.

Análise dos dados

As informações dos questionários sociodemográficos e dados do

WHOQOL-Bref foram digitados em planilhas do programa Excel 2010.

Os dados foram analisados a partir do programa SAS, versão 9.2.

Foram realizadas análises descritivas e de regressão linear

múltipla das variáveis: sexo, idade, estado civil, cor/etnia, escolaridade,

renda, ocupação, ser trabalhador rural, carga horária (quantidade de

horas) de trabalho semanal, tipo de moradia e propriedade, uso de

agrotóxicos, contato com agrotóxicos, intoxicação por agrotóxicos,

ingestão de bebida alcoólica, tabagismo, uso de medicamento e

problema de saúde, além dos domínios do WHOQOL-Bref.

A análise binomial, por sua vez, considerou (sim/não) para as

seguintes variáveis: situação ocupacional, exposições a agrotóxicos ,

69

intoxicação por agrotóxico, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e

uso de medicamentos. Tais fatores foram correlacionados aos domínios

físico, psicológico, social e ambiental, do WHOQOL-Bref.

Realizou-se a análise de associação quanto ao tempo na função,

condições relacionadas ao trabalho – jornada de trabalho (número de

horas trabalhadas semanalmente) com os domínios do WHOQOL-Bref –

e ajustado para as variáveis de idade, sexo, estado civil, escolaridade e

renda.

Para identif icar variáveis que influenciam na QV, empregou-se a

análise de regressão linear múltipla. Devido à ausência de normalidade,

foi aplicada a transformação por postos nas variáveis dependentes. O

modelo stepwise forward serviu como critério para a seleção das

variáveis. O nível de significância adotado para os testes estatísticos

foi de 5%, com intervalo de confiança (IC) de 95%.

Ética na pesquisa

O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

(FCM/UNICAMP) sob o parecer CEP 1154/2010. A participação dos

entrevistados foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e receberam um Termo de

70

Responsabilidade do Pesquisador. Todos foram informados dos

objetivos da pesquisa e sobre a possibilidade de desistência em

qualquer etapa do trabalho, sem prejuízo para os desistentes.

RESULTADOS

A idade média dos participantes é 38,3 anos, com desvio padrão

(DP) de 14,9 anos, com 61,7% entre 18 e 40 anos de idade. A maior ia é

do sexo feminino (64,5%), de cor/etnia branca (57,5%); 70,4% são

casados/amasiados e 38% residem em propriedade própria (Tabela 1).

A escolaridade média é de 5,8 anos de estudos, com desvio

padrão (DP) de 3,6 anos. A maioria (55,8%), excluindo os que não

estudaram (7,9%), não chegou a concluir o ensino fundamental, ou

seja, não possuíam 8 anos de estudos concluídos; 8,7% concluíram 8

anos de estudos e 20% têm mais de 11 anos de estudos; 23,4% não

possuem renda; 64,2% recebem entre menos de 1 e 2 salários mínimos

(SM). Dentre os entrevistados, 30,4% desempenham atividades

agrícolas, 72,2% relataram já ter trabalhado na agricultura, 33,5% estão

desempregados e 66,5% estão empregados com ou sem registro em

carteira profissional (Tabela 1). A média de tempo de trabalho na

função atual é 12,7 anos (DP=12,2) e a média de horas de trabalho

semanal é 40,6 horas (DP=13,8).

71

As frequências de tabagismo e alcoolismo entre os participantes

foram de 20,3% e 19,1%, respectivamente; 40,0% mencionaram ter

problemas de saúde e 40,3% faziam uso de algum tipo de medicamento

(Tabela 1).

72

Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas, condições

de trabalho, alcoolismo, tabagismo, problemas de saúde e uso de

medicamento entre residentes dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte

Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

VARIÁVEIS

SEXO

n

%

Masculino Feminino

n % n %

Sexo 126 35,5 229 64,5 355 100,0

Idade (anos)

18 – 30 44 12,4 84 23,7 128 36,1

31 – 40 30 8,5 61 17,1 91 25,6

41 – 50 18 5,1 39 11,0 57 16,1

51 – 60 17 4,8 32 9,0 49 13,8

≥ 61 17 4,8 13 3,6 30 8,4

Cor/Etnia

Branca 74 20,9 130 36,6 204 57,5

Preta/Parda 49 13,8 90 25,3 139 39,1

Amarela 3 0,9 9 2,5 12 3,4

Estado Civil

Casado/amasiado 81 22,9 168 47,5 249 70,4

Solteiro 36 10,1 36 10,2 72 20,3

Separado/divorciado/viúvo 9 2,5 24 6,8 33 9,3

Escolaridade (anos concluídos)

Não estudou 11 3,1 17 4,8 28 7,9

1 – 4 48 13,5 89 25,1 137 38,6

5 – 7 19 5,4 42 11,8 61 17,2

8 14 3,9 17 4,8 31 8,7

73

9 – 10 8 2,3 19 5,3 27 7,6

≥ 11 26 7,3 45 12,7 71 20,0

Tipo de propriedade

Alugada/Arrendatário 28 7,9 58 16,3 86 24,2

Cedida 46 13,0 88 24,8 134 37,8

Própria 52 14,6 83 23,4 135 38,0

Renda mensal (em R$)

Sem renda 11 3,1 72 20,3 83 23,4

≤ 1 SM* 19 5,4 73 20,5 92 25,9

> 1 ≤ 2 SM 59 16,6 77 21,7 136 38,3

> 2 ≤ 3 SM 26 7,3 7 2,0 33 9,3

> 3 ≤ 5,5 SM 11 3,1 0 0,0 11 3,1

Ocupação

Desempregado 20 5,6 99 27,9 119 33,5

Empregado com registro 72 20,3 76 21,4 148 41,7

Empregado sem registro 34 9,6 54 15,2 88 24,8

Trabalhador rural 44 13,0 64 18,0 108 30,4

Trabalhou na agricultura 93 26,2 162 46,0 255 72,2

Usa agrotóxico no processo de trabalho 23 6,5 25 7,5 48 13,5

Tem contato com agrotóxico 28 8,1 39 11,0 67 18,9

Sofreu intoxicação por agrotóxico 20 6,1 24 7,2 44 12,4

Sentiu-se mal durante aplicação de agrotóxico 20 6,2 33 10,4 53 14,9

Alcoolismo 39 11,2 29 8,3 68 19,1

Tabagismo 31 9,0 41 11,8 72 20,3

Refere ter problema de saúde 50 14,1 92 26,0 142 40,0

Refere uso de medicamento 31 8,8 112 32,1 143 40,3

SM – Salário mínimo (R$ 545,00, em 2011).

74

As médias de respostas nos domínios físico (72,7), psicológico

(71,4) e social (73,3) do WHOQOL-Bref apresentaram melhores

aspectos, enquanto o ambiental apresentou uma média de 56,9 (Tabela

2).

Tabela 2 – Análise descritiva dos domínios do WHOQOL-Bref entre os

residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

WHOQOL-BREF n Média Mínimo Mediana Máximo Desvio Padrão

Domínios

Físico 350 72,7 28,6 75,0 100,0 16,2

Psicológico 342 71,4 29,2 75,0 100,0 14,1

Social 344 73,3 8,3 75,0 100,0 15,8

Ambiental 345 56,9 9,4 56,3 100,0 15,4

No modelo de regressão (Tabela 3), os resultados apontaram

associações estatísticas das variáveis idade (p=0,000), sexo (p=0,000)

e problemas de saúde (p<0,000) com domínio físico de qualidade de

vida. Em relação ao domínio psicológico, verificou-se associação com

sexo (p=0,003), escolaridade (p=0,000), problemas de saúde (p=0,026)

e uso de medicamento (p=0,010). O domínio social apontou associação

com idade (p=0,002), estado civil (p=0,005), renda (p=0,003) e

problemas de saúde (p=0,005). Quanto ao domínio ambiental, a

75

associação foi entre renda (p=0,000) e ter residência própria (p=0,000)

em relação à alugada e arrendada. Menor idade, sexo masculino,

estado civil com união estável, maior renda e nível de escolaridade, ter

residência própria, não ter problemas de saúde e não fazer uso de

medicação mostraram associações com melhores domínios de

qualidade de vida.

76

Tabela 3 – Regressão linear múltipla: variáveis que influenciam na qualidade de vida avaliada pelo

WHOQOL-Bref.

VARIAVEIS

WHOQOL-BREF

Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Social Domínio Ambiental

β p R2 1 R

2 2 β p R

2 1 R

2 2 β p R

2 1 R

2 2 β p R

2 1 R

2 2

Idade -1,50 0,000 0,03 0,25 – – – – -1,16 0,002 0,04 0,12 – – – –

Sexo: masculino x feminino 42,28 0,000 0,04 0,25 33,64 0,003 0,02 0,17 – – – – – – – –

Estado Civil: c/ comp x s/comp – – – – – – – – 35,62 0,005 0,02 0,12 – – – –

Escolaridade: anos concluídos – – – – 5,25 0,000 0,05 0,17 – – – – – – – –

Renda (salário mínimo) – – – – – – – – 19,57 0,003 0,03 0,12 25,77 0,000 0,06 0,10

Propriedade – – – – – – – – – – – – – – 0,04 0,10

Própria X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 49,55 0,000 – 0,10

Cedida X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – 25,50 0,080 – 0,10

Problema de saúde (sim x não) -68,57 <0,000 0,18 0,25 -27,84 0,026 0,01 0,17 – – – – – – – –

Uso medicamento (sim x não) – – – – -32,79 0,010 0,09 0,17 -32,57 0,005 0,03 0,12 – – – –

R2 1 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.

R2 2 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no

modelo.

77

No modelo de regressão linear múltipla, quando analisado por

sexo (Tabela 4), os resultados mostraram que quanto menor a idade

melhor a QV, referentes aos domínios físico (masculino) e social

(feminino). Cor/etnia (p=0,046) apontou associação estatística com o

domínio físico. Entre os homens, ser branco indicou melhor QV em

relação ao não branco. Em relação ao estado civil: com companheiro e

sem companheiro também houve associação (p<0,019). Ter

companheira indicou melhor QV no domínio social (masculino). Maior

nível de escolaridade apontou associação com melhor QV em relação

aos domínios psicológico (feminino) e social (masculino). Maior renda

apontou melhor QV referente ao domínio ambiental (masculino). Não ter

trabalhado na agricultura apresentou associação com melhor QV no

domínio psicológico (masculino). Maior quantidade de horas de trabalho

semanal esteve associada ao domínio social, entre os homens. Ter

casa própria mostrou associação com melhor QV quanto aos domínios

ambiental (feminino) e residir em casa cedida no psicológico

(masculino). Não ter problema de saúde indicou melhor QV nos

domínios físico e psicológico entre os homens e físico entre mulheres.

Não fazer uso de medicamento mostrou melhor QV nos domínios

psicológico , social e ambiental entre as mulheres.

78

Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos da qualidade de vida

avaliada pelo WHOQOL-Bref, por sexo.

VARIAVEIS

WHOQOL-BREF

Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Social Domínio Ambiental

β p R2 1 R

2 2 β p R

2 1 R

2 2 Β p R

2 1 R

2 2 β p R

2 1 R

2 2

Sexo Feminino

Idade – – – – – – – – -1,01 0,003 0,05 0,08 – – – –

Escolaridade (anos concluídos) – – – – 3,63 0,004 0,05 0,11 – – – – – – – –

Propriedade – – – – – – – – – – – – _ _ 0,07 0,10

Própria X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 42,17 0,000 _ 0,10

Cedida X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 18,15 0,123 _ 0,10

Problema de saúde (sim x não) -52,22 <0,000 0,16 – – – – – – – – – – – –

Uso medicamento (sim x não) – – – – -28,22 0,002 0,06 0,11 -19,50 0,038 0,03 0,08 -21,03 0,023 0,03 0,10

Sexo Masculino

Idade - 0,70 0,000 0,10 0,38 – – – – – – – – – – – –

Escolaridade (anos concluídos) – – – – – – – – 1,79 0,045 0,03 0,15 – – – –

Estado Civil: c/ comp x s/comp – – – – – – – – 15,85 0,019 0,04 0,15 – – – –

Cor/Etnia: Branca x Não Branca 11,94 0,046 0,03 0,38 – – – – – – – – – – – –

Renda (salário mínimo) – – – – – – – – – – – – 13,37 0,000 – 0,14

Trabalhou agricultura (sim x não) – – – – -28,80 0,000 0,13 0,29 – – – – – – – –

Carga horária de semanal – – – – – – – – 0,39 0,027 0,08 0,15 – – – –

Propriedade – – – – _ _ 0,06 0,29 – – – – – – – –

Própria X alugada/arrendada – – – – 12,40 0,137 0,29 – – – – – – _ _

Cedida X alugada/arrendada – – – – 28,40 0,001 0,29 – – – – – – _ _

Problema de saúde (sim x não) -26,33 <0,000 0,25 0,38 -21,81 0,000 0,10 0,29 – – – – – – – –

R2 1 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.

R2 2 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no

modelo.

79

DISCUSSÃO

A população de estudo era relativamente jovem, 61,7% com idade

até 40 anos. A maioria do sexo feminino, casados/amasiados e branca.

O trabalho doméstico feminino e/ou a proximidade das lavouras em

relação às residências podem ter contribuído para maior participação

das mulheres na pesquisa. Foi mais comum encontrá -las em casa. A

maior participação das mulheres, neste trabalho, se deu, também, pela

maior recusa por parte dos homens em participar da pesquisa sob a

justif icativa de falta de tempo ou de interesse. É provável que os

entrevistadores tenham convidado mais as mulheres do que os homens,

por prever sua recusa. Essa última informação não pôde ser con firmada

devido à falta registro sobre recusa no caderno de campo, embora

reiterada sua importância.

Os residentes rurais, em específico os trabalhadores rurais,

geralmente temem participar de pesquisas e dar informações sobre o

processo de trabalho. Eles desconfiam que as pesquisas estejam

relacionadas à investigação sobre emprego de praguicidas na lavoura,

visto que muitos desses produtos, embora proibidos em seus países de

origem, ainda são empregados no Brasil. Nos estudos de Lima (2009) e

Fernández et al. (2006), também se verifica uma maior participação de

mulheres. Lima (2009) atribui a recusa dos homens em participar de

pesquisas à dificuldade de expor seus problemas.

80

A renda mensal dos participantes era de até dois salários

mínimos, com média salarial de R$ 619,90, considerados como pessoas

de baixa renda. Dados do IBGE (2010a) destacaram 32,7% de pessoas

ocupadas no Brasil, em 2010, com rendimento médio de até dois

salários mínimos.

A maioria dos participantes (63,7%), incluindo os que não

estudaram, não chegou a concluir o ensino fundamental. Segundo o

IBGE (2010a), houve um aumento no nível de instrução da população

brasileira entre 2000 e 2010. O percentual de pessoas com mais de 10

anos de idade sem instrução ou com ensino fundamental incompleto

caiu de 65,1% para 50,2%.

Estudos apontam as dif iculdades econômicas e a falta de

exigência de escolaridade para o trabalho rural como responsáveis pelo

fato dos homens abandonarem a escola muito cedo, no intuito de

reforçar o sustento da família (Lima, 2009). O emprego de novas

tecnologias para produção e desenvolvimento da agricultura (voltada

para a exportação de alimentos, principalmente) tem exigido melhor

qualificação e maior escolaridade do homem do campo (Peres, 2009).

Investimentos em educação, segundo Mammen et al. (2009),

podem proporcionar melhores oportunidades de emprego e de rendas

mais elevadas. Melhores níveis de educação geralmente são

associados a maiores níveis de renda e melhor satisfação com a vida.

Famílias de baixa renda e famílias rurais são especialmente vulneráveis

81

à pobreza, mudanças de emprego e menor renda, doenças e mudanças

de estado civil. É mais provável encontrar taxas elevadas de pobreza

persistente nas comunidades rurais (Mammen et al., 2009).

As médias dos domínios do WHOQOL-Bref foram melhores em

relação aos aspectos físico, psicológico e social. A exceção foi o

ambiental (56,9), que indicou pior desempenho quando comparado com

outros estudos. Lima (2009) também identificou o domínio ambiental

como fator de pior aspecto na QV, entre trabalhadores rurais de Três

Pontas/MG, em 2005.

Os resultados do presente estudo apontaram as variáveis idade,

sexo, estado civil, escolaridade, renda, tipo de posse de propriedade,

problemas de saúde e uso de medicamento como associadas

estatisticamente aos domínios de qualidade de vida. Na estratificação

por sexo, além das variáveis já relacionadas, cor/etnia branca, não ter

trabalhado na agricultura e maior quantidade de horas de trabalho

semanal também mostraram associação com melhor qualidade de vida

entre os homens, principalmente em relação aos domínios físico,

psicológico e social, respectivamente.

Fatores como idade avançada, baixa escolaridade, assim como

sofrimento mental, problemas de saúde e efeito colateral de

medicamento contribuem para um baixo nível de QV. Tais variáveis

podem contribuir negativamente para autoavaliação de saúde e a fetar

diferencialmente domínios de QV devido a fatores específicos da

82

doença (Jakobsson et al., 2004; Patrick et al., 2004). Pereira et al.

(2011) destacaram a associação entre sexo feminino e baixos escores

no domínio ambiental e, ainda, o uso de medicamento como variáveis

associadas a baixos escores de QV no domínio psicológico. Jakobsson

et al. (2004) identificaram idade, problema de saúde, sexo femin ino,

renda e falta de companheiro associados à baixa QV.

Embora o estudo tenha sido realizado com residentes de áreas

rurais, apenas 30,4% dos residentes eram trabalhadores rurais. A

maioria desempenhava atividades laborais em áreas não agrícolas. A

maioria (72,2%) mencionou ter trabalhado na agricultura e 36,3%

relataram ter trabalhado no campo antes da função atual.

Em relação ao contato e exposição a agrotóxico, seja no processo

de trabalho ou por residir próximos as lavouras, 18,9% relataram ter

contato. Quando questionados sobre como ocorre o contato, 25,2%

mencionaram morar próximo às plantações, sentir o cheiro durante a

aplicação de agrotóxicos, puxar a mangueira para aplicação de

agrotóxico por outras pessoas, permanecer próximo quando os

agrotóxicos são aplicados e lavar roupas usadas durante a aplicação

desses produtos. Em relação à intoxicação por agrotóxico, 12,4%

mencionaram ter sofrido intoxicação. No entanto, o número dos que

relataram ter se sentido mal durante a aplicação desse tipo de

defensivo foi maior, 14,9%. Os estudos de Sena et al. (2013) com

trabalhadores rurais de Lagarto, em Sergipe, apontaram piores escores

83

de QV entre os agricultores que utilizavam agrotóxicos no processo de

trabalho, quando comparados aos que não utilizavam.

A inclusão, neste estudo, de variáveis referentes à exposição e

intoxicação por agrotóxicos tinha como finalidade verif icar a

associações entre essas variáveis e domínios de qualidade de vida do

WHOQOL-Bref. Por se tratar de um estudo com residentes em

comunidades rurais, esperava-se encontrar relação entre QV e

variáveis como uso de agrotóxico no processo de trabalho, contato com

agrotóxico e intoxicação por agrotóxico. No entanto, esta hipótese não

foi confirmada, embora estudos apontem uma taxa média de leta lidade

de 0,4% e mortalidade por agrotóxicos de 3,4%, no Brasil, em 2001,

além de altas taxas de intoxicações (Faria et al., 2007; Pires et al.,

2005).

Entre a população rural estudada, as frequências de tabagismo

foram de 20,3% e de alcoolismo, de 19,1%. Esses números podem estar

subestimados. Esses dados sobre a “negação” de hábitos foram

contestados, no momento da entrevista, por pessoas próximas que

informaram sobre os hábitos de fumar e de ingerir bebida alcoólica dos

entrevistados. A prevalência de tabagismo entre os Estados brasileiros

e Distrito Federal, em 2008, foi de 16,1%. A frequência de adultos

tabagistas variou entre 9,7% e 20,9% entre as capitais (Malta et al.,

2010).

84

Em relação ao alcoolismo, Laranjeira et al. (2007) apontaram que

52% dos brasileiros acima de 18 anos de idade podem ser classificados

como bebedores e 12% da população tem algum problema com o álcool.

Na população rural do Vale do Taquari (RS), em 2005, Souza et al.

(2011) verif icaram consumo de álcool em 54,4% dos participantes .

Outros achados, como morbidade e uso de medicamento, também

são importantes para entender QV no contexto rural. A taxa de

morbidade é relativamente alta na população investigada, pois 40,0%

dos entrevistados mencionaram ter algum problema de saúde e 40,3%

fazem uso de algum tipo de medicamento. Pavão et al. (2013),

baseados em dados do inquérito domiciliar nacional de 2008, a partir da

Pesquisa Dimensão Social das Desigualdades, apontaram prevalência

de 40% de autoavaliação do estado de saúde ruim. As mulheres

apresentaram 10% mais chance de ter uma autoavaliação de saúde

ruim em relação aos homens.

Pavão et al. (2013) apontaram associação entre autoavaliação do

estado de saúde ruim da população brasileira e fatores como idade

avançada, baixos níveis de escolaridade e renda, tabagismo,

sedentarismo, não consumo de bebida alcoólica e presença de

morbidades crônicas e obesidade.

Os estudos de Pavão et al. (2013) e Barros et al. (2011), quando

comparados aos de Pinheiro et al. (2002), apontaram para um aumento

85

na prevalência de problemas de saúde e autoavaliação ruim em relação

ao estado de saúde de população brasileira.

Barros et al. (2011), a partir de dados da PNAD de 2008,

apontaram que 40,6% dos brasileiros com idade acima de 18 anos

referiram pelo menos uma doença crônica e 31,3% mencionaram ter

pelo menos um problema de saúde entre os 12 pesquisados, contra

29,9%, de 2003. A prevalência foi maior entre as mulheres e pessoas

com idade mais avançada.

Pinheiro et al. (2002) informam que, segundo dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 1998, 23,0% da

população autoavaliavam seu estado de saúde como deficiente, sendo

que 31,6% apresentavam, pelo menos, uma doença crônica e 6,9%

referiram restrição de atividades por motivo de saúde. As mu lheres, por

sua vez, apresentavam maior percentual de restrição de atividades em

relação aos homens. Estes autores defendem que as diferenças entre

gêneros estreitam-se a partir dos 65 anos nas áreas urbanas e rurais,

mas variam com a situação de moradia urbana ou rural.

86

CONCLUSÃO

Neste estudo, o reduzido diálogo com estudos nacionais se deve

à limitação de pesquisa sobre QV no contexto rural brasileiro, havendo

necessidade de assumir outros estudos como referências .

Os resultados apontaram associação estatisticamente significativa

entre variáveis sociodemográficas (idade, sexo, estado civil,

escolaridade, renda, tipo de posse de propriedade), problemas de

saúde e uso de medicamento e os domínios de qualidade de vida. Na

estratificação por sexo, cor/etnia branca, não ter trabalhado na

agricultura e maior quantidade de horas de trabalho semanal também

apresentaram associação com melhor qualidade de vida entre os

homens.

Os resultados destacaram a contribuição de fatores

sociodemográficos como idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda,

tipo de posse de propriedade, ausências morbidades e uso de

medicação para melhores desempenhos nos domínios de qualidade de

vida de residentes em áreas rurais, em um contexto brasileiro. Estes

resultados, embora limitados para comunidade rural brasileira, podem

servir de parâmetro para estudos futuros com população do campo.

87

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92

93

4.2. ARTIGO 2 – ATENDENDO AO SEGUNDO OBJETIVO DO

ESTUDO

AVALIAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM

COMUNIDADES RURAIS EM ATIBAIA/SP – BRASIL

Assessment of common mental disorders in rural communities

in Atibaia/SP – Brazil

Autor: Paulo Junior Paz de Lima

Submetido à Revista: Cadernos Brasileiros de Saúde Mental 2, em

14/07/2012.

2 Situação: Em avaliação 23/12/13 (revisões requeridas). http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/author/submissionReview/1668.

94

95

Avaliação de transtornos mentais comuns em

comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil

Assessment of common mental disorders in rural communities

in Atibaia/SP – Brazil

RESUMO

Transtornos mentais afetam 25% da população no mundo. Objetivos:

avaliar transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural,

analisar associação entre TMC e variáveis sociodemográficas, de saúde

e ocupação de residentes de área rural. Métodos: Estudo transversal

entre abril e dezembro de 2011, com 355 residentes rurais, com idade

acima de 18 anos. Foram aplicados questionário sociodemográfico e

Self Reporting Questionnaire (SRQ-20). Foram realizadas análises

descritivas das variáveis sociodemográficas e regressão logística

múltipla. Foi adotado nível de significância de 5% e intervalo de

confiança de 95%. Foram utilizados os programas SAS 9.2 e SPSS 17.0

nas análises. Foi adotado um ponto de corte ≥ 7 no SRQ-20.

Resultados: 64,5% eram mulheres; 39,1% referiram cor/etnia

preta/parda e 57,5%, branca. Escolaridade média de 5,8 anos de

estudos. 30,4% eram trabalhadores rurais. A prevalência de TMC foi

23,4%, de tabagismo, 20,3% e de alcoolismo, 19,1%. 40,0% referiram

96

ter problema de saúde. TMC foi maior entre mulheres, desempregados,

não trabalhador rural, com renda inferior a um salário mínimo, cor/etnia

preta/parda, com escolaridade entre 1 e 4 anos de estudos, não

alcoolistas, não tabagistas, não expostos a agrotóxicos e que

autoreferiram ter problema de saúde e usar medicamento. Sexo

(RC=3,1), problema de saúde (RC=4,6) e autorreferência a intoxicação

por agrotóxico (RC=2,5) apontaram associação com maior chance de

desenvolver TMC. Cor/etnia (RC=4,4) e autorreferência a intoxicação

por agrotóxico (RC=5,5) apontaram associação para maior chance de

TMC entre homens. Conclusão: A prevalência de TMC foi alta. Sexo,

cor/etnia, intoxicação por agrotóxico e problema de saúde estiveram

associadas ao TCM entre residentes rurais.

PALAVRAS-CHAVE: Transtorno mental, saúde mental, comunidade

rural.

97

Assessment of common mental disorders in rural

communities in Atibaia/SP – Brazil

Avaliação de transtornos mentais comuns em comunidades

rurais em Atibaia/SP – Brasil

ABSTRACT

Mental disorders affect 25% of the population worldwide. Objectives:

To assess common mental disorders (CMD) in rural communities, to

analyze the association between CMD and social-demographic

variables, health, and occupation of residents of rural areas. Methods:

Cross-sectional study between April and December 2011, with 355 rural

residents over the age of 18. A socialdemographic questionnaire and

the Self Reporting Questionnaire (SRQ-20) were applied. Descriptive

analysis of the socialdemographic variables and logistic multiple

regression were performed. The significance level was 5% and the

confidence interval was 95%. The SAS 9.2 and SPSS 17.0 programs

were used for analysis. A ≥ 7 score was adopted on the SRQ -20.

Results: 64.5% were women. 39.1% reported race/ethnicity as

black/brown, and white 57.5%. Average schooling of 5.8 years. 30,4%

were rural workers. The prevalence of CMDs was 23.4%, of smoking

20.3%, and of alcohol use 19.1%. 40.0% self -report health problem.

98

CMD were more present among subjects who were women, unemployed,

not rural workers, nonalcoholic, and nonsmokers, who had not been not

exposed to pesticides, who had income below one minimum salary,

schooling between 1 and 4 years of study, and health problems, who

self-reported color/ethnicity as black/brown, and drug users. Gender

(OR=3.1), health problems (OR=4.6), and self-reference to pesticide

poisoning (OR=2.5) reveal association to a greater chance of

developing CMD. Color/ethnicity (OR=4.4), and self-reference to

pesticide poisoning (OR=5.5) are more likely to show association with

CMD among men. CONCLUSION: The prevalence of CMD was high.

The variables age, sex, educational level, race/ethnicity, workload,

pesticide poisoning and health problems suggest association with

development of CMD among rural residents.

KEYWORDS: Mental disorders, mental health, rural community.

99

Avaliação de transtornos mentais comuns em

comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil

Assessment of common mental disorders in rural communities

in Atibaia/SP – Brazil

INTRODUÇÃO

Os transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias

(álcool e drogas) representam 14% da carga de doenças no mundo

(WHO, 2008). Os transtornos mentais e comportamentais afetam mais

de 25% de todas as pessoas em algum momento durante suas vidas.

Tais transtornos são universais, acometem pessoas de todos os países

e sociedades, indivíduos em todas as idades, ricos e pobres, em

ambientes urbanos e rurais. Contudo, as doenças mentais não recebem

a mesma atenção dada à saúde física, sobretudo nos países em

desenvolvimento. Os custos indiretos gerados pela desassistência

acabam por superar os custos diretos, tendo em vista o prolongamento

dos transtornos e suas incapacitações, além do impacto sobre a

sociedade e a qualidade de vida dos indivíduos e das famílias (WHO,

2008).

100

Considera-se que transtornos mentais são problemas de

sociedades industrializadas e ricas, portanto há a crença de que as

comunidades rurais, pouco afetadas pelo ritmo acelerado da vida

moderna, não têm transtornos mentais (WHO, 2008). Os distúrbios

mentais envolvem dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais,

expressando-se diferentemente nas classes sociais e nas relações de

gênero (Ludermir, 2008).

O SRQ-20 tem sido bastante utilizado para avaliar transtornos

mentais comuns (TMC) entre a população geral. O instrumento foi

proposto pela OMS para detectar morbidade psiquiátrica na população

geral e validado no Brasil por Mari e Williams (1986). A escala é

composta de 20 questões com respostas de sim/não, sendo os

melhores pontos de cortes entre 5 e 6 para os homens e de 7 e 8 para

as mulheres, para o rastreamento de transtorno psicoemocional Mari e

Williams, 1986; WHO, 1994).

Alguns autores têm adotado escores menores e distintos para

sexo masculino e feminino, além de população de estudo específica

(Nakimuli-Mpungu et al.2012; Santos et al., 2010; Costa e Ludermir,

2005; Ludermir e Melo Filho, 2002; Mari e Williams, 1986) .

Costa e Ludermir (2005) consideram indivíduos com suspeitas de

TMC os que apresentam ponto de corte maior ou igual a seis respostas

(≥ 6) afirmativas. Ludermir e Melo Filho (2002) definem como ponto de

corte ≥ 5/6 positivos, enquanto Santos et al. (2010), em área urbana no

101

Brasil, afirmam que ponto de corte ≥ 6/7 apresentam melhor

desempenho.

Nos estudos de Carlotto et al. (2011), com trabalhadores urbanos

em Porto Alegre (RS), foi considerado como sugestivo de TMC ponto de

corte ≥ 7 para ambos os sexos. Outros estudos definiram ponto de corte

distinto para homens e mulheres. Husain et al. (2006) sugeriram, em

1996, ponto de corte a partir de 5, em população rural do Paquistão,

para ambos os sexos. Faker (2009) e São Paulo (2011) adotaram ponto

≥ 8 para ambos os sexos . Scazufca et al. (2009) definiram ponto ≥ 4/5

para detectar TMC.

No Brasil, Costa e Ludermir (2005) verificaram uma prevalência

de TMC de 36,0% entre a população rural, em Pernambuco, em 2000.

Os achados não diferem de estudos realizados em Olinda, Pernambuco,

em 1993, com população urbana, onde a prevalência foi 35,0%

(Ludermir e Melo Filho, 2002). Faria et al. (1999) apontaram, em 1996,

uma prevalência de transtornos psiquiátricos menores de 38% entre

agricultores na Serra Gaúcha (Brasil). Para os autores, os resultados

são superiores à maioria dos achados de outros estudos sobre TMC em

populações urbanas e rurais.

102

JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO

A limitação de estudos brasileiros sobre o tema transtorno mental

comum (TMC) em residentes de áreas rurais no Brasil e a hipótese de

maior prevalência de TMC entre a população de comunidades rurais,

em decorrentes da exposição e intoxicação por agrotóxico e das

condições de trabalho no campo, instigaram a realização deste estudo.

OBJETIVOS

Avaliar transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural e

analisar as associações entre TMC e variáveis sociodemográficas, de

saúde e ocupação, de residentes de área rural.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal com residentes em áreas rurais

dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, no município

de Atibaia, interior de São Paulo/Brasil, com idade acima de 18 anos.

Atibaia conta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE, 2010), uma população de 126.603 habitantes, sendo a

103

população urbana de 115.229 habitantes e a rural, de 11.374

habitantes.

A amostra foi calculada com base nas medidas de média de

variância para uma população normal. Foi considerado um poder de

teste de 80%, com um erro alfa de 5% e possível perda de informação

em 20% dos indivíduos amostrados. O cálculo foi feito com base no

trabalho de Berni (2002). Participaram da pesquisa 355 residentes das

áreas de estudo, de um universo de aproximadamente 2.100 residentes

com idade acima de 18 anos (Brasil , 2012).

Foram aplicados um questionário sociodemográfico

(semiestruturado) e o Self Reporting Questionnaire – SRQ-20 para

avaliar transtornos mentais comuns entre os residentes das áreas de

estudo com idade acima de 18 anos.

Os dados foram coletados entre abril e dezembro de 2011. Os

participantes foram selecionados, por conveniência, dentro das regiões

de estudo e de acordo com o interesse dos residentes em participar da

pesquisa voluntariamente.

As entrevistas foram realizadas pelas agentes e ex-agentes de

Saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural de

Rio Abaixo, Atibaia), após receberem treinamento. Foi realizado um

teste piloto com 17 participantes das áreas de estudo para testar os

instrumentos. Os participantes do teste piloto não foram incluídos no

banco de dados.

104

Foi adotado ponto de corte de sete ou mais respostas positivas no

SRQ-20, para ambos os sexos, como sugestivo de TMC. O SRQ-20

ainda não foi validado no Brasil para população rural, embora já tenha

sido empregado em pesquisas em comunidades rurais. A opção pelo

ponto de corte maior ou igual 7 se baseou em estudos nacionais e

internacionais, com população rural e urbana (Carlotto et al., 2011;

Giang et al., 2010; Santos et al., 2010).

Foram realizadas análises descritivas das variáveis

sociodemográficas e das relacionadas ao trabalho. Foram estimadas

razões de chance (odds ratio, OR), brutas e ajustadas e os respectivos

intervalos de confiança de 95% para o TMC por meio de regressão

logística múltipla. As variáveis que apresentaram p<0,20 na análise

descritiva foram selecionadas para o modelo múltiplo. Permaneceram

no modelo as variáveis com valor de p<0,05. Foi utilizado o

procedimento stepwise forward para a seleção de variáveis.

As entrevistas, questionários sociodemográficos e o questionário

do SRQ-20 foram digitados em planilhas do Excel 2010. As análises

foram realizadas a partir do programa SAS, versão 9.2 e do SPSS 17.0.

105

Ética na pesquisa

O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

(FCM/UNICAMP). A participação foi voluntária. Os participantes

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

receberam um Termo de Responsabilidade do Pesquisador. Todos

foram informados dos objetivos da pesquisa e que poderiam desistir do

estudo a qualquer momento, sem que houvesse prejuízo para eles.

106

RESULTADOS

A amostra foi composta por 355 participantes, sendo 64,5%

mulheres e 35,5% homens. A média de idade foi 38,3 anos, com desvio

padrão (DP) de 14,9 anos. Em relação à idade dos participantes, 7,9%

tinham entre 18 e 20 anos, 53,8% entre 21 e 40 anos e 8,5% tinham

mais de 60 anos. Quanto à situação conjugal, 70,4% eram

casados/amasiados. Em relação à cor/etnia, preta/parda somaram

39,1% e branca foram 57,5%. A escolaridade média foi de 5,8 anos de

estudos (DP=3,6). 27,6% tinham 9 ou mais anos de estudos, sendo que

7,6% possuíam entre 9 e 10 anos de estudos e 20% tinham mais de 11

anos (Tabelas 1 e 2).

Quanto à renda mensal e situação ocupacional dos par ticipantes,

25,9% ganhavam até um salário mínimo e 38,3% recebiam entre 1 e 2

salários mínimos, com média de renda de R$ 619,20 e desvio padrão de

R$ 483,50. 33,5% estavam desempregados e 30,4% desempenhavam

atividades na agricultura. Em relação à exposição aos agrotóxicos,

13,5% mencionaram fazer uso de agrotóxicos no processo de trabalho,

18,9% disseram ter exposição a agrotóxicos e 12,4% referiram já ter

sofrido intoxicação por agrotóxicos (Tabelas 1 e 4).

A prevalência de transtorno mental comum (TMC) foi de 23,4%.

Em relação às frequências entre os participantes considerados

107

suspeitos de apresentarem TMC, estas foram maiores entre pessoas

que não utilizavam agrotóxico no processo de trabalho (86,8%), do sexo

feminino (81,9%), não tabagistas (79,5%), não alcoolistas (78,3%), não

expostas a agrotóxicos (78,3%), com companheiros (73,5%), não

trabalhadores rurais (72,3%), que faziam uso medicação (62,7%), que

mencionaram ter algum problema de saúde (60,3%), com idade entre 21

e 40 anos (55,4%), de cor/etnia parda/preta (51,8%), desempregadas

(45,8%), com escolaridade entre 1 e 4 anos de estudos (42,2%) e

pessoas com renda inferior a 1 salário mínimo (34,9%) e sem renda

(33,8%) (Tabela 1).

As prevalências de tabagismo e de alcoolismo entre os

participantes foram de 20,3% e de 19,1% respectivamente. 40,0%

relataram ter algum problema de saúde (Tabela 1), em média, há 10,3

anos, com desvio padrão de 10,8 anos (Tabela 4).

Na análise de regressão logística múltipla (Tabela 2) as variáveis

idade (p=0,03), sexo (p<0,01), escolaridade (p<0,00), ter problema de

saúde (p<0,00) e autorreferência à intoxicação por agrotóxico (p=0,01)

apresentaram associação estatística com maior chance de desenvolver

TMC entre residentes rurais, sendo 3,1 vezes maior entre o sexo

feminino e 4,6 vezes entre pessoas que mencionaram ter problemas de

saúde. Autorreferência à intoxicação por agrotóxico no processo de

trabalho apontou associação estatística de 2,5 vezes maior chance para

108

TMC, quando excluídas, do modelo de regressão, as variáveis

problemas de saúde e uso de medicamento.

Na tabela 3, quando estratif icada por sexo, a escolaridade

(p<0,01), entre as mulheres, e a cor (p=0,03), carga horária (quantidade

de horas) de trabalho semanal (p<0,01) e ter referido intoxicação por

agrotóxico no processo de trabalho (p=0,03), entre os homens,

apresentaram associação estatisticamente significativa com o TMC na

população rural. Os resultados associaram cor/etnia branca como um

fator de proteção para TMC (RC=4,4) e autorreferência à intoxicação

por agrotóxico com 5,5 vezes maior chance de desenvolver TMC entre a

população masculina (RC=5,5).

DISCUSSÃO

Considerando-se a limitação de literatura nacional e internacional

que abordam a temática sobre transtorno mental comum em contexto

rural a partir do SRQ-20, buscou-se dialogar, também, com outros

estudos realizados em populações urbanas.

A prevalência de transtornos mentais comuns (TMC), assim como

as taxas de alcoolismo, tabagismo, morbidades e uso de medicamento

foram relativamente altas entre a população de estudo. A taxa de TMC

(23,4%) na população de estudo superou os 12,0% apontados por Faker

109

(2009) entre cortadores de cana, em Nova Andradinha (MS), e foi

inferior aos 33,8% entre trabalhadores rurais da microrregião de

Ituporanga, em Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina (Poletto, 2009). Na

capital paulista, em 2008, a prevalência de TMC em pessoas acima de

16 anos foi de 16,5%, sendo quase três vezes maior entre as mulheres,

com maior prevalência entre os pardos, separados, desquitados,

divorciados e viúvos, com renda per capita menor que meio salário

mínimo e entre pessoas que apresentam problemas de saúde (São

Paulo, 2011).

Os resultados deste estudo apontaram idade mais avançada, sexo

feminino, menor nível de escolaridade, cor/etnia não branca, menor

quantidade de horas de trabalho semanal, autorreferência à intoxicação

por agrotóxico no processo de trabalho e queixas de problema de saúde

associados à maior chance de desenvolver TMC entre residentes rurais.

Poletto (2009), em Ituporanga (SC), também obteve maior prevalência

de TMC associada ao sexo feminino, idade, estado civil casado e

viúvo/separado, uso de agrotóxico no processo de trabalho e nos que

tiveram intoxicação por agrotóxico na família.

Vários fatores podem estar associados ou contribuir para

desencadeamento de TMC. Darviri et al. (2012) indicam que fatores

como idade, sexo feminino e baixa escolaridade podem contribuir

negativamente na autoavaliação da saúde. Estudos têm apontado maior

prevalência de TMC entre as mulheres tanto em pa íses desenvolvidos

110

como em desenvolvimento. Fatores como pobreza, baixa escolaridade e

renda, desemprego, sexo feminino, idade avançada, ser divorciado,

separado e viúvo e cor/etnia preta e parda estão associados à maior

chance de desenvolver TMC (Farias e Araújo, 2011; São Paulo, 2011;

Phillips et al., 2009; Marín-León et al., 2007a; Fernández et al., 2006).

Neste estudo, 20,0% dos residentes rurais concluíram o ensino

médio. Em Farias e Araújo (2011), São Paulo (2011), Phillips et al.

(2009) e Fernández et al. (2006), o baixo nível de escolaridade

apresentou associação estatisticamente significante com TMC. Faria et

al. (1999) apontaram, também, maior nível de escolaridade com menor

prevalência de indicadores de saúde mental entre agricultores.

Ludermir e Melo Filho (2002) consideram que a educação reflete

as circunstâncias sociais reproduzidas de uma geração à outra. Para

estes autores, a condição socioeconômica dos pais influencia a

permanência dos filhos na escola e a necessidade precoce de trabalhar.

Alguns autores consideram as dificuldades econômicas e a falta de

cobrança de escolaridade no trabalho rural como responsáveis por

retirarem os homens da escola, ainda jovens, com o intuito de reforçar

o sustento da família (Lima et al., 2010; Lima, 2009).

As prevalências de tabagismo (20,3%) e de alcoolismo (19,1%),

neste estudo, com população predominante feminina (64,5%), embora

não tenham apresentado associações com TMC, foram próximas ou

superiores a de outros estudos. O Inquérito de Saúde na Cidade de São

111

Paulo (ISA 2008) (São Paulo, 2011) apontou prevalência de tabagismo

na Capital Paulista de 19,3%, entre pessoas acima de 12 anos. Nos

Estados Brasileiros e Distrito Federal, em 2008, foi de 16,1%, com

variação entre 9,7% e 20,9% nas capitais e entre adu ltos (Malta et al.,

2010).

Para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2008), a

prevalência de alcoolismo pode ser distinta entre área urbana e rural e

entre Estados Brasileiros. Na população rural, no Vale do Taquari (RS),

em 2005, o consumo de álcool foi de 54,4% (Souza et al., 2011). Na

microbacia de São Lourenço, Nova Friburgo, Araújo et al. (2007),

verif icaram prevalência de 60,8% entre agricultores, sendo 45,2% com

consumo alcoólico elevado ou acentuado. Marín-León et al. (2007b)

informam que a dependência alcoólica no Brasil, em 2002, foi

responsável por 0,8% dos óbitos entre os homens e 0,1% entre as

mulheres, o que sinaliza um problema de saúde pública.

Foram observadas maiores frequências de TMC entre os

participantes da pesquisa que mencionaram exposição a agrotóxico,

que referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxico e que relataram ter

se sentido mal durante a aplicação de agrotóxico. A exposição aos

agrotóxicos se dá pelo fato dos participantes residirem próximo às

lavouras, por “sentir o cheiro” de agrotóxico durante a aplicação, por

aplicar, puxar a mangueira ou permanecer no local durante a aplicação

112

do produto na lavoura e, ainda, por lavar a roupa utilizada na aplicação

de agrotóxico.

A hipótese de que poderia haver associação estatis ticamente

significativa entre TMC e as variáveis trabalhador rural, exposição e uso

de agrotóxico no processo de trabalho não pôde ser confirmada neste

estudo. Embora não se tenha apontado associação estatística entre

TMC e exposição e uso de agrotóxico entre a população de estudo, esta

associação foi verif icada entre os participantes da pesquisa que

referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxico durante o processo de

trabalho, sendo maiores as chances para TMC entre a população

masculina.

Faria et al. (1999) também apontaram associação entre

intoxicação aguda por agrotóxico e transtornos mentais entre

trabalhadores rurais em municípios de Serra Gaúcha (RS). Levigard e

Rozemberg (2004) encontraram associação entre queixas de nervoso

(irritabilidade, insônia, depressão etc.) e intoxicação por agrotóxico no

discurso dos profissionais de saúde de área rural, em Nova Friburgo,

Rio de Janeiro. Sena et al. (2013), estudando a relação entre trabalho

rural e qualidade de vida, em Lagarto, Sergipe, identificaram melhor

aspecto de saúde mental entre aqueles que não utilizavam agrotóxicos

no processo de trabalho em relação aos que utilizavam.

Paz de Lima (2009, 2008) destaca ser a intoxicação e exposição a

agrotóxico percebida pelo trabalhador apenas quando ocorre de f orma

113

aguda, ou seja, quando há necessidades de cuidados médicos ou

internação, além da presença de maiores sinais e sintomas. Singer et

al. (1978) afirmam que a doença só é sentida quando os sinais que

percebe em si correspondem a sintomas reconhecidos soc ialmente

como indicadores de enfermidade.

CONCLUSÃO

Assim como em estudos com população urbana, constatou-se que

variáveis socioeconômicas e demográficas ( idade, sexo, escolaridade e

cor/etnia), problemas de saúde e autorreferência à intoxicação por

agrotóxico estiveram significativamente associadas aos transtornos

mentais comuns em população rural.

A prevalência de TMC foi considerada alta para população do

estudo, para um ponto de corte igual ou maior a sete respostas

positivas. Os resultados apontaram que fatores como ser mais jovem,

sexo masculino, maior nível de escolaridade, não ter sofrido intoxicação

por agrotóxico e não ter problema de saúde podem contribuir para

diminuir a chance de desenvolver TMC. Já entre os homens, não

brancos, com menor quantidade de hora de trabalho semanal e que

autoreferiram intoxicação por agrotóxico, as chances para TMC foram

maiores.

114

Os resultados deste estudo não podem ser generalizados para a

população rural brasileira. Contudo, estes achados são importantes

para nortear novas investigações, podendo ainda, contribuir para

elaboração de políticas de saúde voltadas à população no campo.

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120

Tabela 1 – Resultados do SRQ-20 segundo variáveis sociodemográficas

e epidemiológicas de residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,

Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

TMC

SRQ-20 + SRQ-20 –

VARIÁVEL n=355 % n=83 % n=272 %

SRQ-20 ≥ 7 TMC + 355 100,0 83 23,4 272 76,6

Idade anos 355 100,0 83 100,0 272 100,0

18 – 20 28 7,9 5 6,0 23 8,5

21 – 40 191 53,8 46 55,4 145 53,3

41 – 60 106 29,8 24 28,9 82 30,1

≥ 61 30 8,5 8 9,7 22 8,1

Sexo 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Masculino 126 35,5 15 18,1 111 40,8

Feminino 229 64,5 68 81,9 161 59,2

Estado civil 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Com companheiro 250 70,4 61 73,5 189 69,5

Sem companheiro 104 29,3 22 26,5 82 30,2

Não respondeu 1 0,3 0 0,0 1 0,3

Cor/Etnia 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Branca 204 57,5 36 43,4 168 61,8

Parda/Preta 139 39,1 43 51,8 96 35,3

Amarela 12 3,4 4 4,8 8 2,9

Escolaridade em anos 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Não estudou 28 7,9 12 14,5 16 5,9

1 – 4 137 38,6 35 42,2 102 37,5

5 – 8 92 25,9 20 24,1 72 26,5

9 – 10 27 7,6 8 9,6 19 7,0

11 – 13 71 20,0 8 9,6 63 23,1

Ocupação 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Desempregado 119 33,5 38 45,8 81 29,8

Empregado com registro 148 41,7 26 31,3 122 44,8

Empregado sem registro 88 24,8 19 22,9 69 25,4

Renda R$ 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sem renda 83 23,4 28 33,8 55 20,2

≤ 1 SM* 92 25,9 29 34,9 63 23,2

> 1 SM < 2 SM 136 38,3 23 27,7 113 41,5

121

≥ 2 SM 44 12,4 3 3,6 41 15,1

Trabalhador rural 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 108 30,4 22 26,5 86 31,6

Não 240 67,6 60 72,3 180 66,2

Não informa 7 2,0 1 1,2 6 2,2

Usa agrotóxico no processo de trabalho

355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 48 13,5 10 12,0 38 14,0

Não 294 82,8 72 86,8 222 81,6

Não informa 13 3,7 1 1,2 12 4,4

Exposição a agrotóxico 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 67 18,9 18 21,7 49 18,0

Não 284 80,0 65 78,3 219 80,5

Não informa 4 1,1 0 0,0 4 1,5

Refere intoxicação por agrotóxico 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 44 12,4 17 20,5 27 9,9

Não 288 81,1 62 74,7 226 83,1

Não informa 23 6,5 4 4,8 19 7,0

Refere sentir-se mal durante aplicação 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 53 14,9 20 24,1 33 12,1

Não 266 74,9 54 65,1 212 77,9

Não informa 36 10,2 9 10,8 27 10,0

Alcoolismo 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 68 19,1 17 20,5 51 18,8

Não 280 78,9 65 78,3 215 79,0

Não informa 7 2,0 1 1,2 6 2,2

Tabagismo 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 72 20,3 16 19,3 56 20,6

Não 274 77,2 66 79,5 208 76,5

Não informa 9 2,5 1 1,2 8 2,9

Problema de saúde 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 142 40,0 50 60,3 92 33,8

Não 212 59,7 33 39,7 179 65,8

Não informa 1 0,3 0 0,0 1 0,4

Usa medicamento 355 100,0 83 100,0 272 100,0

Sim 143 40,3 52 62,7 91 33,5

Não 208 58,6 31 37,3 177 65,0

Não informa 4 1,1 0 0,0 4 1,5

* SM = Salário mínimo (R$ 545,00)

122

Tabela 2 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC, avaliado

pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,

Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

Variável Razão de chances (RC) IC 95% Valor de p

Idade 0,97 (1,03) 0,94 – 0,99 (1,00; 1,06) 0,026

Sexo (masculino x feminino) 3,1 1,53 – 6,18 0,001

Escolaridade (anos concluídos) 0,82 (1,22) 0,73 – 0,92 (1,09; 1,36) 0,000

Problema de saúde (não x sim) 4,6 2,38 – 9,00 <0,000

Sofreu Intoxicação (não x sim) 2,5 1,20 – 5,32 0,014

123

Tabela 3 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC, avaliado pelo SRQ -20, entre residentes

rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011, segundo

sexo.

VARIÁVEIS

Sexo

Homem Mulher

RC IC 95% p RC IC 95% P

Escolaridade (anos concluídos) _ _ _ 0,85 (1,20) 0,77 – 0,94 (1,07; 1,30) 0,001

Cor/etnia (branco x não branco) 4,4 1,12 – 16,99 0,033 _ _ _

Carga horária trabalho semanal 0,96 (1,05) 0,93 – 0,99 (1,02; 1,08) 0,003 _ _ _

Sofreu intoxicação (não x sim) 5,5 1,21 – 24,92 0,027 _ _ _

124

Tabela 4 – Estatística descritiva de características demográficas e

socioeconômicas dos residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,

Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

VARIÁVEIS Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máxima

Idade 38,3 35,0 14,9 18 81

Escolaridade (anos concluídos) 5,8 5,0 3,6 0 13

Renda mensal (R$) 619,20 560,00 483,5 0,00 3.000,00

Carga horária de trabalho semanal 40,6 44,0 13,8 0 90

Quanto tempo tem problema (anos) 10,3 6,0 10,8 0 69

Quanto tempo usa medicamento (anos) 6,8 5,0 7,6 0 40

125

4.3. ARTIGO 3 – ATENDENDO AO TERCEIRO OBJETIVO DO

ESTUDO

ASPECTOS DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE

RESIDENTES EM COMUNIDADES RURAIS

Aspects of health and quality of life of residents of rura l

communities

Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las

comunidades rurales

Autores: Paulo Junior Paz de Lima; Helenice Bosco de Oliveira

Submetido à Revista Baiana de Saúde Pública3

3 http://inseer.ibict.br/rbsp/index.php/rbsp/author

126

127

Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em

comunidades rurais

Aspects of health and quality of life of residents of rural communities

Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las

comunidades rurales

RESUMO

Estado de saúde e qualidade de vida (QV) estão relacionados a fatores

educacionais, saneamento, renda e serviços de saúde, entre outros.

Incluem aspectos físicos, cognitivos, emocionais, culturais e

socioeconômicos, além da saúde mental, vitalidade e capacidade

funcional. Objetivos: avaliar a qualidade de vida relacionada a

aspectos do estado de saúde de comunidades rurais e verificar a

associação entre estado de saúde e variáveis demográficas,

socioeconômicas e de trabalho. Métodos: Estudo transversal com 355

indivíduos residentes em área rural no município de Atibaia, com idade

acima de 18 anos. Foram aplicados um questionário sociodemográfico e

o SF-36. Foram realizadas análises descritivas e de regressão linear

múltipla para identificar variáveis relacionadas aos aspectos de saúde e

qualidade de vida, com nível de significância de 5% e IC de 95%.

Resultados: A idade média foi de 38,3 anos e 64,5% eram mulheres. A

128

escolaridade média foi de 5,8 anos de estudos e 30,4% eram

trabalhadores rurais. A frequência de tabagismo foi de 20,3% e de

alcoolismo, de 19,1%. Da amostra, 40,0% relataram problema de saúde

e 40,3% usavam medicamentos à época da pesquisa. Idade, sexo, cor,

estado civil, renda, quantidade de horas de trabalho semanal,

tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento apresentaram

associação estatística com domínios do SF-36. Conclusão: Variáveis

demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil) e socioeconômicas

(renda e escolaridade), alcoolismo, tabagismo, trabalhador rural e ter

trabalhado na agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de

posse de propriedade, problema de saúde e uso de medicação

apontaram contribuir para aspectos do estado de saúde e de qualidade

de vida da população rural.

Palavras-Chave: Saúde rural; qualidade de vida; população rural.

129

Aspects of health and quality of life of residents of rural

communities

Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las

comunidades rurales

Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em comunidades

rurais

ABSTRACT

The health status and quality of life (QOL) factors are related to

education, sanitation, income, and health services, among others.

Health status and quality of life include physical, cognitive, emotional,

cultural and socioeconomic factors, in addition to mental health, vitality,

and physical functioning. Objectives: To assess quality of life issues

related to aspects of health status in rural communities and the

association between health status, and demographic factors,

socioeconomic factors, and work of rural residents. Methods: Cross-

sectional study with 355 rural residents over the age of 18. We applied a

sociodemographic questionnaire and the SF-36. Descriptive analysis

and multiple linear regression were used to identify variables related to

health aspects and quality of life; the significance level was 5%, and the

confidence interval was 95%. Results: The average age was 38.3 years

130

and 64.5% were women. The average schooling was of 5.8 years of

studies. 30.4% were rural workers. The prevalence of smoking was

20.3%, and the prevalence of alcohol use was 19.1%. Of the sample,

40.0% reported having health problems and 40,3% used drugs at the

time of the survey. Age, sex, race, marital status, income, number of

weekly working hours, smoking, health problems, and medication use

are statistically associated with the SF-36. Conclusion: Demographic

(gender, age, race/ethnicity, marital status) and socioeconomic

variables (income and education), alcoholism, smoking, working in a

rural environment, having worked in agriculture, weekly working hours,

type of property owned, health problems, and medication use were

indicated as contributing to aspects of health status and quality o f life of

the rural population.

Keywords: Rural health; quality of life; rural popu lation.

131

Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de

las comunidades rurales

Aspects of health and quality of life of residents of rural communities

Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em comunidades

rurais

RESUMEN

Estado de salud y calidad de vida están relacionados con factores

educacionales, saneamiento, renta y servicios de salud, entre otros.

Incluye aspectos físicos, cognitivos, emocionales, culturales y

socioeconómicas, además de salud mental, vitalidad y capacidad

funcional, Objetivos : Evaluar la calidad de vida relacionada con el

estado de salud de las comunidades rurales y verificar la asociación

entre el estado de salud y las variables demográf icas, socioeconómicas

y trabajo. Métodos: Estudio transversal con 355 individuos que viven en

áreas rurales en Atibaia, mayores de 18 años. Fueron aplicados un

cuestionario sociodemográfico y el SF-36. Se realizaron análisis

descriptivos y de regresión linear múltiple para identif icar variables

relacionadas los aspectos de salud y calidad de vida. El nivel de

significación (5%) y el IC (95%). Resultados : La edad media fue de

38,3 años y el 64,5% eram mujeres. El promedio de escolaridad fue de

132

5,8 años de estudio. 30,4% eran trabajadores rurales. La frequência de

tabaquismo fue del 20,3% y de alcoholismo, el 19,1%. De la muestra,

40,0% reportó tener problemas de salud y el 40,3% los medicamentos

utilizados el momento de la encuesta. La edad, sexo, raza, estado civil,

tabaquismo, renta, horas semanales de trabajo, problemas de salud y

uso de fármacos se asoció estadísticamente con el SF-36, Conclusión:

Las variables demográficas (edad, sexo, raza/etnia, estado civil) y

socioeconómicas (ingresos y educación), el alcoholismo, el tabaquismo,

trabajador rural y han trabajado en la agricultura, las horas semanales

de trabajo, tipo de propiedad, problema la salud y los medicamentos

demostraron contribuir para aspectos de la situación de salud y calidad

de vida de la población rural.

Palabras-Chave: Salud rural, calidad de vida, población rural.

133

Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em

comunidades rurais

Aspects of health and quality of life of residents of rural communities

Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las

comunidades rurales

INTRODUÇÃO

A crítica à desigualdade social, a partir da década de 60, deu

origem aos movimentos sociais e iniciativas de políticas públicas com a

finalidade de melhorar a qualidade de vida da população (Fleck et

al.,1999; Wood-Dauphinee,1999). A partir de 1970, os conceitos de

qualidade de vida, bem-estar e estado de saúde passaram a ter

importância entre os estudos acadêmicos (Zubaran et al., 2008; Fleck,

2008; Galinha e Pais Ribeiro, 2005).

Estado de saúde, bem-estar e qualidade de vida do indivíduo

estão atrelados a fatores como o acesso à educação, saneamento

básico, saúde e segurança no trabalho, renda per capita e serviços de

saúde, entre outros. A definição de estado de saúde inclui aspectos

físicos, cognitivos, emocionais, culturais, socioeconômicos e aspectos

do estado de saúde (Sturgis et al., 2001). O conceito pessoal de saúde

se relaciona com a percepção que cada indivíduo tem do seu estado de

134

saúde, sendo este definido pela Organização Mundial de Saúde como

um estado de completo bem-estar físico, mental e social (Zubaran et

al., 2008; Sen, 2002; The WHOQOL Group, 1994).

O estado de saúde de um indivíduo pode estar diretamente

associado à sua qualidade de vida (QV) e seu bem-estar, avaliado por

percepções subjetivas, incluindo sensações desagradáveis ou

agradáveis e avaliações globais de saúde ou de estado subjetivo. Desta

forma, pessoas com limitações funcionais podem desfrutar de alta

qualidade de vida a partir de suporte do ambiente, da perspectiva de

vida e avaliação de suas necessidades e desejos (Fleck, 2008; Patrick,

2003).

Os conceitos de estado de saúde, estado funcional, bem-estar,

qualidade de vida (QV) e qualidade de vida relacionada à saúde

(QVRS), segundo Patrick (2003), costumam ser empregados sem

exatidão e de forma alterada. Não há consenso em relação à definição

do uso do termo qualidade de vida entre os pesquisadores, sendo o

termo utilizado em diferentes contextos. A saúde, no entanto, é tão

somente um domínio dos instrumentos de avaliação de QV. Os

conceitos de estado de saúde e de QVRS envolvem sintomas físicos e

psicológicos, estado funcional, percepções de saúde e de bem-estar

global, além de oportunidade, entendida por Patrick (2003) como

habilidade para lidar ou resistir ao estresse e à doença.

135

O estado de saúde é diferente de categorias diagnósticas usadas

para nomear e caracterizar a condição de saúde subjacente: doença,

distúrbio ou lesão. Por ser este um fenômeno multidimensional, o

estado de saúde deve ser um atributo intrínseco do corpo humano,

descrito e medido conforme os níveis de funcionalidade em diferentes

domínios (Chatterji e Bickenbach, 2008). Sentir-se doente não se refere

exclusivamente a sentimentos de dor física, desconforto, mas também

às consequências psicológicas e sociais de se ter um problema

(Szwarcwald et al., 2005; Sen, 2002; Blank e Diderichsen, 1996).

As políticas de saúde para a população rural no Brasil sempre

estiveram atreladas a interesses econômicos, com finalidade de

potencializar a exploração dos recursos naturais, o que, por sua vez,

necessitava de mão de obra saudável (Carneiro, 2007). A política

econômica neoliberal vigente restringe o papel do Estado e contribui

para que a população do campo continue sem acesso aos serviços

básicos como saúde, saneamento, transporte coletivo, educação de

qualidade, capacitação profissional entre outros fatores importantes e

necessários ao desenvolvimento no campo.

Para Carneiro et al. (2009), a modernização da agricultura

brasileira contribuiu para precariedade das relações de trabalho, além

da elevação dos riscos socioambientais. A modernização da agricultura

foi responsável, ainda, pela expulsão das famílias da terra que, por sua

136

vez, migraram para as cidades em busca de trabalho e melhores

condições de acesso à saúde e de outros serviços.

JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO

A preocupação com questões relacionadas às temáticas sobre

estado de saúde e qualidade de vida relacionada à saúde da população

tem sido objeto de investigação em todo o mundo. Embora as temáticas

sejam recorrentes entre os pesquisadores, quando analisado sob a

ótica da população de área rural, a literatura, principalmen te a

brasileira, não tem explorado o assunto, embora seja este de extrema

importância para o contexto atual.

OBJETIVOS

Avaliar a qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de

saúde de residentes em comunidades rurais e verificar a associação

entre estado de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e de

trabalho.

137

MATERIAL E MÉTODOS

Estudo transversal com residentes em áreas rurais, com idade

acima de 18 anos, dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, no município de Atibaia/São Paulo, Brasil. Atibaia contava,

segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de

2010, com uma população de 126.603 habitantes, sendo 11.374

residentes de áreas rurais (IBGE, 2010). Os bairros estudados, segundo

dados do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) do

Ministério da Saúde, possuíam, em 2011, período de realização da

pesquisa de campo, uma população de aproximadamente 2.100

habitantes maiores de 18 anos (Brasil, 2012) .

A pesquisa contou com a participação de 355 indivíduos. No

cálculo amostral, considerou-se um poder de teste de 80%, com um

erro alfa de 5% e possível perda de informação em 20% dos indivíduos

amostrados.

A coleta dos dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os

participantes foram selecionados, por conveniência, dentro da região de

estudo e de acordo com o interesse dos residentes em participar do

estudo voluntariamente.

As entrevistas foram realizadas pelos(as) agentes e ex-agentes

de saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rura l

138

de Rio Abaixo), em Atibaia, após receberem treinamento para aplicação

do questionário. Os dados foram digitados em planilhas do Excel 2010.

Foram aplicados o SF-36 – Medical Outcomes Study 36 – Item

Short-Form Health Survey para avaliar a qualidade de vida relacionada

aos aspectos do estado de saúde da população de estudo e um

questionário sociodemográfico (semiestruturado) com questões, em sua

maioria, fechadas.

O Medical Outcomes Study Item Short -Form Health Survey (SF-

36) é um instrumento genérico que tem sido utilizado para a avaliação

da qualidade de vida de médias e grandes populações, além de avaliar

o estado de saúde de pacientes crônicos, serviços de saúde, testes

clínicos, condições crônicas da população em geral e tratamentos

clínicos de várias condições de saúde, abordando aspectos físicos e

mentais, do estado de saúde e da qualidade de vida do indivíduo

(Zanei, 2006; Sturgis et al., 2001; Ciconelli et al., 1999).

O SF-36 contém oito dimensões, sendo quatro associadas à

saúde física (funções fís icas, postura de vida, dor corporal e saúde

geral) e quatro à saúde mental (vitalidade, funções sociais, postura

emocional e saúde mental). O SF-36 tem sido traduzido e adaptado

cultural e psicometricamente em vários países, inclusive no Brasil

(Morimoto et al., 2006; Ciconelli et al., 1999).

Foram consideradas como variáveis dependentes os oito domínios

do SF-36 (capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor,

139

estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, emocionais e saúde

mental). Como independentes, foram consideradas as variáveis

demográficas, socioeconômicas, uso de agrotóxico no processo de

trabalho, contato com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão

de bebida alcoólica, tabagismo, uso de medicamento, problema de

saúde.

Foram realizadas análises descritivas por meio de frequências

absolutas e relativas e de regressão linear múltipla das variáveis

demográficas, socioeconômicas, epidemiológicas e dos domínios do SF -

36. Os modelos de análises de regressão linear múltipla foram

construídos para verif icar a influência destas variáveis nos domínios do

SF-36. Foi realizado ajuste para as variáveis idade, sexo, estado civil,

escolaridade e renda.

Foi utilizado o stepwise forward como procedimento para seleção

de variáveis. O nível de significância adotado para os testes

estatísticos foi de 5%, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Os

dados foram analisados a partir do programa computacional SAS 9.2 e

do SSPS 17.0.

O projeto de pesquisa foi aprovado, com parecer CEP 1154/2010,

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas

da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). A

participação foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e receberam um Termo de

140

Responsabilidade do Pesquisador. Todos foram informados dos

objetivos da pesquisa e que poderiam desistir do estudo a qualquer

momento, sem que houvesse prejuízo para eles.

RESULTADOS

A maioria dos participantes (61,7%) tinha entre 18 e 40 anos de

idade, com idade média de 38,3 anos e desvio padrão (DP) de 14,9

anos. Da amostra, 64,5% eram mulheres, 70,4% eram

casados/amasiados, 57,5% pertencentes à cor/etnia branca e 39,1% à

preta/parda. A maioria (64,5%) possuía entre 1 e 8 anos de estudos

(Tabela 1). A escolaridade média é de 5,8 anos de estudos (DP=3,6)

(Tabela 2).

Quanto à renda e situação ocupacional dos entrevistados, 87,2%

tinham rendimentos mensais de até dois salários mínimos, sendo que

66,5% estavam empregados com ou sem registros e 33,5%,

desempregados (Tabela 1). A média salarial era de R$ 619,20 (DP=

483,5) (Tabela 2). Entre participantes, 30,4% desempenhavam

atividades agrícolas, ou seja, eram trabalhadores rurais, 13,5%

mencionaram fazer uso de agrotóxicos no processo de trabalho e 12,4%

referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxicos (Tabela 1).

141

As frequências de tabagismo e de alcoolismo entre os residentes

rurais foram de 20,3% e 19,1%, respectivamente; 40,0% mencionaram

queixas de problemas de saúde e 40,3% faziam uso de algum tipo de

medicamento (Tabela 1).

Em relação às médias dos escores do SF-36, os domínios de

aspecto físico, emocional, social e de capacidade funcional (81,3 a

87,7) apresentaram os melhores escores, sendo o domínio estado de

saúde geral o que obteve o menor (73,1) (Tabela 3).

No modelo de regressão linear múltipla (Tabela 4), as variáveis

idade, sexo, estado civil, cor/etnia, tabagismo, renda, carga horária

(quantidade de horas) de trabalho semanal, problemas de saúde e uso

de medicamento apontaram associações estatísticas significativas com

os domínios do SF-36. Menor idade, maior renda, maior quantidade de

horas de trabalho semanal e estado civil sem união estável (sem

companheiro em relação ao com companheiro) apresentaram melhores

desempenhos em alguns dos domínios de qual idade de vida e aspectos

do estado de saúde avaliados pelo SF-36.

O domínio relacionado à capacidade funcional apontou

associação estatística com idade (p=0,000), cor/etnia branca (p=0,003)

e amarela (p=0,026) em relação à preta e parda, quantidade de horas

de trabalho semanal (p=0,002), problemas de saúde (p=0,000) e uso de

medicamento (p=0,012). O domínio referente ao aspecto físico

apresentou associação com cor/etnia branca (p=0,001) e amarela

142

(p=0,026) em relação à preta e parda e queixas de problemas de saúde

(p<0,000).

Em relação ao domínio aspecto social, cor/etnia branca (p=0,007)

em relação à preta/parda e problemas de saúde (p=0,005) mostraram

associações estatisticamente significativas. As variáveis cor/etnia

branca (p=0,000) em relação à preta/parda, tabagismo (p=0,043) e

problemas de saúde (p<0,000) evidenciaram associações com o

domínio emocional. Referências a problemas de saúde (p=0,014) e uso

de medicamento (p=0,024) também estiveram associadas ao domínio

dor.

Quanto ao domínio estado geral de saúde, as associações foram

em relação à idade (p=0,039), ao estado civil (p=0,027) e à renda

(p=0,022). No domínio saúde mental, sexo (p=0,000) e problemas de

saúde (p=0,000) apresentaram associações estatísticas. O domínio

relacionado à vitalidade indicou associação com idade (p=0,003), sexo

(p=0,000) e cor/etnia branca (p=0,017) em relação à preta/parda

(Tabela 4).

Na estratif icação por sexo (Tabela 5), além das variáveis

relacionadas na tabela 4, entre as mulheres, a escolaridade (p=0,001)

apresentou associação com capacidade funcional e cor/etnia com

aspectos físico (p=0,026) e emocional (p=0,002). Trabalho rural

(p=0,034) esteve associado ao domínio dor.

143

Entre os homens, as associações foram entre alcoolismo e estado

geral de saúde (p=0,041); trabalho rural e capacidade funcional

(p=0,002) e aspecto emocional (p=0,006); ter trabalhado na agricultura

mostrou-se associado à saúde mental (p=0,011) e vitalidade (p=0,005);

e residir em propriedade cedida (p=0,008) em relação à

alugada/arrendada, com domínio saúde mental.

DISCUSSÃO

Os resultados deste trabalho são de uma população relativamente

jovem, a maioria do sexo feminino. A natureza do trabalho doméstico

feminino e/ou a proximidade das lavouras em relação às residências

podem ter contribuído para maior participação das mulheres na

pesquisa. Nas visitas às residências, foi mais comum encontrá -las em

casa.

O estudo apontou baixo nível de escolaridade entre os residentes

rurais. A maioria não concluiu oito anos de estudos. Carneiro (2007)

também verif icou baixa escolaridade, em 2005, entre residentes de

comunidade rural em Unaí (MG), sendo a média de 3,4 anos de estudo

entre os homens e 4,3 entre as mulheres. Marangon et al. (2004)

atribuem à falta de emprego e de meio de transporte público, no campo,

e à participação dos filhos nas atividades agrícolas, como forma de

144

complementação de renda familiar, a responsabilidade por incentivar a

desvalorização da educação formal e desestimular a regularidade dos

estudos.

Fatores como maior nível de renda e satisfação com a vida,

segundo Mammen et al. (2009), geralmente estão associados a

melhores níveis de educação. Para estes autores, investimentos em

educação podem proporcionar melhores oportunidades de emprego e de

renda. Famílias de baixa renda e famílias rura is são, especialmente,

vulneráveis à pobreza, mudanças de emprego e menor renda, doenças

e mudanças de estado civil (Mammen et al., 2009). Alexandre et al.

(2009) verificaram que melhor situação financeira amplia a autonomia

das pessoas com relação às suas escolhas de lazer, acesso a bens e

serviços, relacionamentos e arranjos familiares, o que contribui para

melhor qualidade de vida.

Em relação às morbidades e ao uso de medicamento, o estudo

verif icou uma prevalência de morbidade relativamente alta na

população investigada (40,0%), bem como de uso de medicamento

(40,3%). Barcellos et al. (2002) consideram a doença uma manifestação

do indivíduo. A situação de saúde é uma manifestação do lugar,

resultado de uma acumulação de situações históricas, ambientais e

sociais que promovem condições particulares para a produção de

doenças.

145

Neste estudo, os homens apresentaram melhor desempenho em

relação às mulheres, principalmente nos aspectos de saúde mental e

vitalidade do SF-36. Ser mais jovem foi associado estatist icamente a

melhores capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade.

Além das variáveis idade e sexo, as categorias não ter união estável,

cor/etnia branca, não ser tabagista, maior renda, maior quantidade de

horas de trabalho semanal, não ter problemas de saúde e não fazer uso

de medicamento indicaram associações com melhores domínios de

qualidade de vida e aspectos relacionados ao estado de saúde da

população rural.

Ao excluir as variáveis-problemas de saúde e uso de medicação

do modelo de regressão, na estratif icação por sexo, as variáveis idade,

estado civil, renda e alcoolismo apontaram associações estatísticas

com o domínio estado geral de saúde . Não ter companheiro e menor

idade apresentaram associações com este domínio entre as mulheres e

não ser alcoolista e maior renda, entre os homens. Menor nível de

escolaridade esteve associado negativamente à capacidade funcional

entre as mulheres.

Faker (2009) apontou idades entre 20 e 29 anos como tendo

melhor avaliação nos domínios estado geral de saúde e aspecto social

entre cortadores de cana em Nova Andradinha (MS), em 2008. O autor

destacou, ainda, os tabagistas como tendo pior avaliação nos domínios

vitalidade, aspecto social, emocional e saúde mental em relação aos

146

que não fumam. Para Faker (2009), pessoas que trabalhavam no corte

de cana há um ano apresentaram pior desempenho nos domínios

aspecto físico, social, dor, vitalidade e saúde mental quando

comparadas com as que trabalhavam há mais de quatro anos.

Não foram verificadas, neste trabalho, associações entre

exposição e intoxicação por agrotóxicos e os domínios de QV. Contudo,

entre a população feminina, o trabalho no âmbito rural apresentou

associação estatisticamente significativa com domínio dor. O estudo

também apontou associação estatíst ica entre trabalho rural e os

domínios de capacidade funcional e aspecto emocional e ter trabalhado

na agricultura e saúde mental e vitalidade, entre os homens.

Sena et al. (2013) apontaram associação entre trabalhadores

expostos a agrotóxicos e menores escores dos domínios dor e

vitalidade e maior dif iculdade nas relações sociais. Para estes autores,

trabalhadores expostos a agrotóxicos apresentaram associações

significativamente inferiores em todos os domínios de QV em relação

aos não expostos, com exceção da capacidade funcional.

Os estudos de Sabbah et al.(2003), com população urbana e rural

no Líbano, em 2000, apontaram associações entre os domínios do SF -

36 e variáveis categóricas como idade, sexo feminino, estado civil

(casado), menor renda, morbidade, bem como satisfação com o

trabalho. Para estes autores, as mulheres apresentaram piores

147

desempenhos em relação à capacidade funcional, aspecto físico, dor,

estado geral de saúde e vitalidade em relação aos homens.

Para Lebrão e Laurenti (2003), o estado de saúde de um indivíduo

está diretamente relacionado à baixa qualidade de vida, influenciados

pelo gênero, escolaridade, idade, condição econômica e presença de

incapacidade, além das doenças crônicas, principalmente nas mulheres.

Szwarcwald et al. (2005) destacam que os indicadores de saúde

variam de acordo com fatores sociais desfavoráveis aos grupos de

níveis socioeconômicos mais baixos: renda, escolaridade, ocupação ou

classe social. Dachs (2002) acrescenta, também, características

geográficas (áreas urbanas e rurais), cor/etnia e sexo como variáveis

de determinação de estado de saúde.

Avaliar qualidade de vida em comunidade rural a partir de

questões baseadas em população urbana, segundo Liu et al. (2010),

pode levar a erros na interpretação de resultados, em relação aos que

vivem em áreas rurais. Para estes autores, é difícil determinar como as

características de nível de educação e circunstâncias de vida afetam as

propriedades psicométricas. Por outro lado, o estado de saúde

relacionado à qualidade de vida mede a saúde percebida e diferentes

valores de autoavaliação têm sido frequentemente encontrados entre o

urbano e o rural (Liu et al., 2010).

148

CONCLUSÃO

Os resultados apontaram as contribuições e influências de

variáveis demográficas e socioeconômicas (idade, sexo, estado civil,

escolaridade, cor/etnia, renda, trabalho rural), condições de trabalho e

tipo de posse da propriedade, alcoolismo, tabagismo, condição de

saúde e doença e uso de medicação no desempenho dos domínios de

qualidade de vida e, consequentemente, sobre o estado de saúde da

população rural.

Estes resultados identificam a necessidade de políticas públicas

que garantam aos residentes de comunidades rurais o acesso a

serviços de saúde, à promoção de saúde e prevenção de doenças

(alcoolismo, tabagismo e outras morbidades), além de melhor nível de

escolaridade, melhores condições de trabalho e de renda, no intuito de

contribuir para redução da desigualdade social, da melhoria da

qualidade de vida e estado de saúde da população no campo.

149

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154

Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas e de

condições de saúde dos residentes dos bairros rurais: Laranjal,

Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

VARIÁVEIS n = 355 %

Idade (anos)

18 – 30 128 36,1

31 – 40 91 25,6

41 – 50 57 16,1

51 – 60 49 13,8

61 – 81 30 8,4

Sexo

Masculino 126 35,5

Feminino 229 64,5

Cor/Etnia

Branca 204 57,5

Preta/Parda 139 39,1

Amarelo 12 3,4

Estado Civil

Casado/amasiado 249 70,3

Solteiro/Separado/divorciado/viúvo 105 29,7

Escolaridade (anos concluídos)

Não estudou 28 7,9

1 – 4 137 38,6

155

5 – 8 92 25,9

9 – 10 27 7,6

≥ 11 71 20,0

Renda mensal (em R$)

≤ 1 SM * 162 47,4

> 1 ≤ 2 SM 136 39,8

< 2 ≤ 3 SM 33 9,6

> 3 ≤ 5,5 SM 11 3,2

Ocupação

Desempregado 119 33,5

Empregado com registro 148 41,7

Empregado sem registro 88 24,8

Trabalhador rural 108 30,4

Trabalhou na agricultura 255 72,2

Usa agrotóxico no processo de

trabalho

48 13,5

Refere intoxicação por agrotóxico 44 12,4

Alcoolismo 68 19,1

Tabagismo 72 20,3

Tem problema de saúde 142 40,0

Faz uso de medicamento 143 40,3

* SM = Salário mínimo (R$ 545,00, em 2011).

156

Tabela 2 – Estatística descritiva de características demográficas e

socioeconômicas dos residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,

Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.

VARIÁVEIS Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máxima

Idade 38,3 35,0 14,9 18 81

Escolaridade (anos concluídos) 5,8 5,0 3,6 0 13

Renda mensal (R$) 619,20 560,00 483,5 0,00 3.000,00

Carga horária de trabalho semanal 40,6 44,0 13,8 0 90

Quanto tempo tem problema (anos) 10,3 6,0 10,8 0 69

Quanto tempo usa medicamento (anos) 6,8 5,0 7,6 0 40

157

Tabela 3 – Estatística descritiva dos domínios do SF-36 entre os

residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, em Atibaia/SP, 2011.

DOMINIOS SF-36 n Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo

Aspecto físico 355 81,3 100,0 32,1 0,0 100,0

Aspecto emocional 355 83,8 100,0 31,8 0,0 100,0

Aspecto social 355 87,7 100,0 18,7 12,5 100,0

Capacidade funcional 355 84,4 95,0 22,5 0,0 100,0

Dor 355 75,3 74,0 23,6 0,0 100,0

Estado de saúde geral 355 73,1 77,0 19,7 12,0 100,0

Saúde mental 355 76,2 80,0 21,0 4,0 100,0

Vitalidade 355 73,6 75,0 20,7 0,0 100,0

158

Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos do estado de saúde e na

qualidade de vida avaliada pelo SF-36.

VARIAVEIS

SF-36

CF AF AS AE DOR EGS SM VI

β p R21 R

2

2

β p R21 R

22 β p R

2 1 R

22 β p R

21 R

2 2 β p R

21 R

22 β P R

21 R

2 2 β p R

21 R

22 β p R

21 R

22

Idade - 1.5 0,000 0,05 0,27 – – – – – – – – – – – – – – – – - 0,8 0,039 0,02 0,06 – – – – -1,2 0,003 0,03 0,09

Sexo: masculino x

feminino

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 45,2 0,000 0,04 0,08 41,0 0,000 0,04 0,09

Estado Civil: c/comp x

s/comp

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –29,2 0,027 0,02 0,06 – – – – – – – –

Cor/etnia 0,03 0,27 0,04 0,16 0,03 0,06 0,04 0,13 – – – – – – – – – – – – 0,02 0,09

Branca x Preta/Parda 30,7 0,003 31,2 0,001

29.7 0,007 0,06 31,8 0,000 0,13 – – – – – – – – – – – – 28,9 0,017 0,09

Amarela x Preta/Parda 61,1 0,026 55,5 0,026 0,4 0,988 0,06 40,3 0,088 0,13 – – – – – – – – – – – – 26,6 0,395 0,09

Tabagismo (sim x não) – – – – – – – – – – – – -22,4 0,043 0,02 0,13 – – – – – – – – – – – – – – – –

Renda – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 15,6 0,022 0,02 0,06 – – – – – – – –

Quantidade de horas de

trabalho semanal

0,7 0,002 0,03 0,27 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Problema saúde (sim x

não)

-42,0 0,000 0,15 0,27 - 62,0 <0,000 0,12 0,16 - 30,4 0,005 0,03 0,06 -42,0 <0,000 0,07 0,13 -32,8 0,014 0,05 0,07 – – – – -42,3 0,000 0,04 0,08 – – – –

Uso medicamento (sim x

não)

-29,9 0,012 0,01 0,27 – – – – – – – – – – – – -30,4 0,024 0,02 0,07 – – – – – – – – – – – –

Domínios do SF-36: Capacidade Funcional = CF, Aspecto Físico = AF, Aspecto Social = AS, Aspecto Emocional = AE, Estado

Geral de Saúde = EGS, Saúde Mental = SM, Vitalidade = VI.

R21 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.

R22 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no

modelo.

159

Tabela 5 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos do estado de saúde e

qualidade de vida avaliada pelo SF-36, por sexo.

VARIAVEIS

SF-36

CF AF AS AE DOR EGS SM VI

β p R21 R

22 Β p R

21 R

22 β p R

21 R

22 Β p R

21 R

22 β p R

21 R

22 β P R

21 R

22 β p R

21 R

22 β p R

21 R

22

FEMININO

Idade – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 0,8 0,026 0,03 0,06 – – – – – – – –

Cor/etnia: branca x não branca – – – – 17,7 0,026 0,02 0,12 – – – – 22,9 0,002 0,05 0.14 – – – – – – – – – – – – – – – –

Escolaridade (ano concluído) 3,9 0,001 0,04 0,23 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Estado civil: c/ comp x s/com – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 25,1 0,027 0,03 0,06 – – – – – – – –

Trabalhador rural (sim x não) – – – – – – – – – – – – – – – – -22,3 0,034 0,03 0,11 – – – – – – – – – – – –

Renda – – – – – – – – – – – – -13,5 0,023 0,03 0,14 – – – – – – – – – – – – – – – –

Problema de saúde (sim x não) - 37,2 <0,001 0,16 0,23 - 34,7 <0,001 0,10 0,12 – – – – -27,0 <0,001 0,06 0,14 -24,7 0,023 0,06 0,11 – – – – – – – – – – – –

Uso medicamento (sim x não) - 22,5 0,019 0,03 0,23 – – – – - 21,9 0,015 0,04 0,04 – – – – -22,1 0,038 0,02 0,11 – – – – - 35,3 <0,001 0,07 0,07 - 29,5 0,002 0,05 0,05

MASCULINO

Idade - 0,7 <0,001 0,22 0,40 – – – – – – – – – – – – - 0,5 0,015 0,06 0,06 – – – – – – – – – – – –

Cor/etnia: branca x não branca 15,8 0,004 0,6 0,40 – – – – 12,8 0,038 0,04 0,11 – – – – – – – – – – – – – – – – 14,4 0,029 0,04 0,22

Alcoolismo (sim x não) – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 14,5 0,041 0,04 0,08 – – – – – – – –

Trabalhador rural (sim x não) 16,7 0,002 0,7 0,40 – – – – – – – – 14,8 0,006 0,07 0,15 – – – – – – – – – – – – – – – –

Trabalhou agricultura (sim X

não)

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 22,1 0,011 0,06 0,13 - 20,9 0,005 0,06 0,22

Renda – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 7,3 0,037 0,04 0,08 – – – – – – – –

Carga horária trabalho semana – – – – – – – – 0,4 0,017 0,07 0,11 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Propriedade – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 0,07 0,13 – – – –

Própria x Alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 2,7 0,781 – 0,13 – – – –

Cedida x Alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 27,0 0,008 – 0,13 – – – –

Problema de saúde (s im X não) -17,3 0,003 0,5 0,40 - 24,6 <0,001 0,17 0,17 – – – – - 15,5 0,003 0,08 0,15 – – – – – – – – – – – – - 24,0 <0,001 0,12 0,22

SF-36: Capacidade Funcional = CF, Aspecto Físico = AF, Aspecto Social = AS, Aspecto Emocional = AE, Estado Geral de

Saúde = EGS, Saúde Mental = SM, Vitalidade = VI.

R21 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.

R22 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no

modelo.

160

161

5. DISCUSSÃO

Este trabalho se propõe a discutir questões sobre a realidade de

residentes em áreas rurais, em um contexto brasileiro, a partir de

fatores demográficos, socioeconômicos, condições de trabalho,

tabagismo, alcoolismo, morbidade e dos resultados sobre qualidade de

vida, qualidade de vida relacionada ao estado de saúde e transtornos

mentais comuns (TMC) que acometem a população do campo.

Os aspectos de qualidade de vida, qualidade de vida relacionada

ao estado de saúde e transtornos mentais comuns (TMC) de uma

população podem ser avaliados a partir de instrumentos específicos

como o WHOQOL-Bref, o SF-36 e o SRQ-20, respectivamente,

associados às variáveis demográficas e socioeconômicas desta

população (Darviri et al., 2012; Nakimuli-Mpungu et al., 2012; Carlotto

et al., 2011; Giang et al. , 2010; Faker, 2009; Fleck, 2008a; Marín-León

et al., 2007b; Borders et al., 2004; Ciconel li et al., 1999, The WHOQOL

Group, 1995).

Os resultados deste estudo apontaram idade, sexo, cor/etnia,

estado civil, escolaridade, tipo de posse de propriedade (residência),

renda, carga horária de trabalho semanal, trabalho rural, ter trabalhado

na agricultura, autorreferência à intoxicação por agrotóxicos,

alcoolismo, tabagismo, queixas de problemas de saúde e fazer uso de

medicamento como associados estatisticamente com domínios de

162

qualidade de vida, de qualidade de vida relacionada ao estado de saúde

e com TMC, entre residentes de áreas rurais.

A variável idade esteve associada com os domínios capacidade

funcional, estado geral de saúde e vitalidade (SF-36) e com os

domínios físico e social do WHOQOL-Bref, além de estar associada,

ainda, à TMC. Quanto menor a idade, melhor é a qualidade de vida e

menor são as chances de desenvolvimento de TMC entre os residentes

rurais.

Faker (2009), em 2008, também identificou idades entre 20 e 29

anos como tendo melhor desempenho no estado geral de saúde entre

população rural de Mato Grosso do Sul, quando comparadas com

maiores de 40 anos. No entanto, pessoas mais velhas tendem a

procurar momentos de confraternização e diversão com os amigos, ao

contrário dos mais jovens.

Em relação à variável sexo, ser do sexo masculino mostrou

associação com os domínios físico e psicológico do WHOQOL-Bref, com

os domínios saúde mental e vitalidade do SF-36 e TMC do SRQ-20. As

mulheres apresentaram maior razão de chance (RC) para TMC, bem

como pior avaliação nos domínios da qualidade de vida.

Em estudos sobre TMC e QV de jovens de áreas urbanas de

Pelotas (RS), Jansen et al. (2011) identif icaram as mulheres com

escores menores em sete domínios do SF-36. Pereira et al. (2011),

entre idosos, em Teixeiras e Zona da Mata de Minas Gerais, também

163

encontraram associação entre sexo feminino e baixos escores no

domínio ambiental e, ainda, o uso de medicamento como variável

associada a baixos escores no domínio psicológico do WHOQOL-Bref.

Ser branco esteve associado com os domínios capacidade

funcional, aspecto físico, aspecto social, aspecto emocional e

vitalidade, enquanto ser de cor/etnia amarela apresentou associação

com os domínios capacidade funcional e aspecto físico do SF-36,

quando comparadas com cor/etnia preta/parda. Ser branco é um fator

de proteção para aspectos da qualidade de vida e melhor estado de

saúde. Esta associação também foi apontada em relação à presença de

TMC entre os homens (domínios capacidade funcional, aspecto social e

vitalidade) e entre as mulheres (domínios aspectos físico e emocional),

quando estratificada por sexo. Homens não brancos apresentaram

maior razão de chance de desenvolver TMC em relação aos brancos.

Os estudos de Farias e Araújo (2011), em Feira de Santana, com

trabalhadores urbanos, e de Gureje et al. (2007), na Nigéria, com

idosos, apontaram maior prevalência de TMC, bem como transtorno de

humor, depressivos e de ansiedade entre pessoas de cor/etnia

preta/parda. Estes autores identificaram fatores como pobreza, baixa

escolaridade e renda, desemprego, sexo feminino, idade avançada e

ser divorciado, separado e viúvo como apresentando maior chance de

desenvolver TMC.

164

Em relação à escolaridade, os resultados apresentaram

associação estatística com o domínio psicológico do WHOQOL-Bref e

com capacidade funcional do SF-36 e TMC. O baixo nível de

escolaridade apontou associação com presença de TCM, bem como

com pior desempenho do domínio psicológico do WHOQOL-Bref e

capacidade funcional do SF-36 entre as mulheres. Farias e Araújo

(2011) e Marín-León et al. (2007b) também identificaram associação

entre baixa escolaridade e presença de TCM em seus estudos, em

áreas urbanas.

No presente trabalho, também foram apontadas influências de

variáveis como estado civil, renda e tipo de propriedade (moradia),

associadas aos domínios social, ambiental e psicológico (entre os

homens), do WHOQOL-Bref e estado geral de saúde e saúde mental

(entre os homens), do SF-36. Quanto maior a renda, melhor a qualidade

de vida e o estado de saúde da população de estudo. Indicadores de

saúde, segundo Szwarcwald et al. (2005), podem ser influenciados,

quando observados a partir de fatores socioeonômicos desfavoráveis

como: baixa renda, escolaridade, ocupação ou classe social .

Corroborando, Dachs (2002) acrescenta características geográficas

(áreas urbanas e rurais), cor/etnia e sexo como variáveis de

determinação de estado de saúde.

Minayo et al. (2000), por sua vez, sugerem renda, educação e

saúde como atributos da expressão das capacidades humanas. Para

165

estes autores, tais variáveis estão relacionadas com o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH). Neste sentido, Lebrão e Laurenti

(2003) asseguram que o estado de saúde de um indivíduo está

relacionado à baixa qualidade de vida, influenciados pelo gênero,

escolaridade, idade, condição econômica, presença de incapacidade e

doenças crônicas, principalmente nas mulheres.

A situação ocupacional desempenhada no campo também pode

ter influência na qualidade de vida e no estado de saúde dos

residentes. Ser trabalhador rural mostrou associação com pior

desempenho no domínio dor (SF-36) entre as mulheres. Trabalho rural

e ter trabalhado na agricultura apresentaram associações com

capacidade funcional, aspecto emocional, saúde mental e vitalidade

(SF-36) e domínio psicológico (WHOQOL-Bref), entre os homens.

A quantidade de horas de trabalho semanal também mostrou

associação com capacidade funcional (SF-36) e domínio social

(WHOQOL-Bref) entre os homens. Quanto maior a quantidade de horas

de trabalho, maior a capacidade funcional do indivíduo e melhor o

desempenho no domínio social. Menor quantidade de horas de semanal

indicou maior chance de TMC entre a população masculina. Faker

(2009) identificou que pessoas que trabalhavam no corte de cana há um

ano apresentavam piores desempenhos em relação aos domínios de

aspecto físico, social, dor, vitalidade e saúde mental, quando

comparadas com as que trabalhavam há mais de quatro anos.

166

Os resultados do presente estudo mostraram que a intoxicação

prévia por agrotóxico aumenta as chances para TMC em 5,5 vezes,

entre os homens, e 2,5 vezes, entre a amostra. Embora ainda limitada,

a literatura, nacional e internacional, também aponta associações entre

TMC e intoxicação por agrotóxico no contexto rural (Baldi et al., 2001;

Faria et al., 1999).

Poletto (2009), em Ituporanga (SC), verif icou maior prevalência de

TMC associada ao uso de agrotóxico no processo de trabalho e entre

pessoas que tiveram intoxicação por agrotóxico na família. Levigard e

Rozemberg (2004) identificaram, em 2000, a associação entre queixas

dos ‘nervos’ (irritabilidade, insônia, depressão etc.) e intoxicação por

agrotóxico no discurso dos profissionais de saúde de área rural, em

Nova Friburgo, Rio de Janeiro.

O percentual dos que mencionaram ter se sentido mal durante a

aplicação de defensivo agrícola na lavoura (14,9%), neste estudo, foi

superior aos verif icados por Faria (2005), com trabalhadores rurais, na

Serra Gaúcha (RS) e Soares et al. (2005), em Teresópolis (RJ).

Observa-se distinção quanto à percepção do trabalhador rural em

relação à intoxicação, o sentir-se mal durante a aplicação e a exposição

a agrotóxico. O trabalhador mostra perceber e/ou sentir a intoxicação

quando esta ocorre de forma aguda, havendo a necessidade de

cuidados médicos ou internação, além da presença de maiores sinais e

sintomas (Paz de Lima, 2009, 2008). Para Singer et al. (1978), a

167

doença é percebido pelo indivíduo quando os sinais e sintomas são

reconhecidos socialmente como indicadores de enfermidades.

Câmara e Tambellini (2003) atribuem a dif iculdade de diagnosticar

as intoxicações por produtos químicos ao fato de não haver um quadro

clínico clássico para a maioria das substâncias químicas. As exposições

costumam ser múltiplas e associadas a diferentes sinais e sintomas,

podendo o indivíduo ser atingido por várias substâncias qu ímicas e ser

lesado da mesma forma se fosse exposto a uma única substância.

Intoxicações e mortes por agrotóxicos, no contexto rural

brasileiro, são problemas de saúde pública e que necessitam de maior

atenção do poder público, no intuito de preveni -las. Em 2009, o Sistema

Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX), do

Ministério da Saúde (Brasil, 2011), registrou 171 óbitos e 5.253 casos

de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola. As intoxicações e

mortes por envenenamento por agrotóxico, no campo, não se

restringem apenas ao setor rural do Brasil. Estudos têm apontado maior

taxa de suicídio em populações rurais, na Austrália, em relação à

população urbana (Handley et al., 2012).

Phillips el al. (2009) verif icaram que população de comunidade

rural é mais propensa a ter transtornos depressivos e ser dependente

de álcool, quando comparada à população urbana. Patel et al. (2007)

encontraram maior prevalência de distúrbios mentais entre pessoas de

áreas rurais, em Moçambique. Somando-se à maior prevalência de

168

transtornos mentais no campo, destaca-se, ainda, segundo Rohrer et al.

(2005), menor oferta de serviços de saúde mental em áreas rurais em

relação às urbanas. É provável que a ausência de programas de

promoção, tratamento e prevenção de saúde mental no campo

contribuam para maior taxa de TMC entre a população rural.

Tsai et al. (2004), em Taiwan, compararam o estado de saúde das

populações urbana e rural. Os resultados foram melhores em sete das

oito escalas do SF-36 na população urbana, quando comparada com a

rural. As mulheres apresentaram menores escores que os homens em

todas as escalas do SF-36, exceto para o funcionamento social. Para os

autores, o fato de o indivíduo ter uma doença crônica pode contribuir

para pior pontuação nos aspectos de saúde.

Martins et al. (2007), avaliando QV de idosos de áreas urbana e

rural, na Paraíba, verificaram maiores pontuações nos domínios social e

psicológico da população rural em relação à urbana, enquanto os

domínios físico e meio ambiente foram melhores entre idosos urbanos.

Os autores não identificaram diferenças na QV em relação ao gênero e

ao tipo de áreas (urbana e rural). Alencar et al. (2010) também não

constataram diferenças na QV entre mulheres idosas residentes em

ambientes rurais e urbanos de Juazeiro do Norte e Crato, no Ceará.

Darviri et al. (2012), estudando população rural na Grécia,

alertam que fatores como idade, sexo feminino e baixa escolaridade

podem contribuir negativamente na autoavaliação da saúde. Para

169

Mammen et al. (2009), nos EUA, as variáveis sexo, idade, grau de

instrução, estado civil, situação financeira, satisfação com o trabalho,

percepção de QV e morbidade tiveram maior efeito sobre a qualidade

de vida entre mulheres de áreas rurais,.

Neste estudo, referências a morbidades (hipertensão, diabetes,

colesterol, dores lombares, dores de cabeça, problemas pulmonares,

cardíacos e psicoemocionais etc.) e o uso de medicação apresentaram

associações com piores desempenhos nos domínios físico, psicológico

e social (WHOQOL-Bref) e capacidade funcional , aspecto físico, social,

emocional, dor e saúde mental (SF-36) e maiores chances de

desenvolver TMC. Nos estudos de Rėklaitienė et al. (2008), em

comunidade rural na Lituânia, os homens pontuaram mais nos domínios

físico e psicológico. Tay et al. (2004), estudando população rural na

Irlanda, assim como Hoi et al. (2010), no Vietnã e Zhou et al. (2010), na

China, defendem que fatores sociodemográficos e estilo de vida podem

explicar as diferenças entre homens e mulheres nas dimensões de QV.

Pinheiro et al. (2002), analisando o perfil de morbidades da

população brasileira, com exceção da população rural dos Estados da

Região Norte, destacam que o percentual de pessoas com queixas de

problemas de saúde varia em função do indicador analisado, sendo

maior entre as mulheres do que entre os homens. As diferenças entre

eles se estreitam a partir dos 65 anos, mas variam com a situação de

moradia urbana ou rural.

170

Vital et al. (2012) associaram baixo nível de qualidade de vida no

trabalho, entre trabalhadores rurais de Pedra Grande/RN, a fatores

como condições de trabalho, relação interpessoal entre os

trabalhadores, alto nível de preocupação com o estado saúde e,

principalmente, renda, falta de reconhecimento pelo trabalho realizado

e idade.

Neste sentido, Barcellos (2002) considera a doença uma

manifestação do indivíduo. Portanto, a situação de saúde é uma

manifestação do lugar. Os lugares são resultados de uma acumulação

de situações históricas, ambientais e sociais que promovem condições

particulares para a produção de doenças. Uma das questões

importantes para o diagnóstico de situações de saúde, nesse sentido, é

o desenvolvimento de indicadores capazes de detectar e refletir

condições de risco à saúde como consequência das condições

ambientais e sociais adversas. Pessoas e áreas com pior nível

socioeconômico apresentam piores condições de saúde.

No entendimento de Singer et al. (1978).

... Nas classes mais desfavorecidas, as imposições

econômicas e a vida do dia-a-dia tornam muito dif ícil o

abandono do trabalho [abandono no sentido de

afastamento do trabalho para tratamento de saúde, grifo

nosso]. Esta impossibilidade inibe a expressão das

sensações físicas e a percepção de sintomas

171

anunciadores da doença. Esta menor escuta do corpo

está ligada à sua utilização mais intensiva. Eis porque a

doença será para eles um fenômeno brutal que torna

impossível a atividade cotidiana (Singer et al., 1978 p.

72-73).

172

173

6. CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo apontaram associação

estatisticamente significativa entre variáveis socioeconômicas e

demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil, escolaridade, renda,

trabalho rural, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e de

posse da propriedade), tabagismo, alcoolismo, autorreferência à

intoxicação por agrotóxicos, problemas de saúde e uso de medicamento

com os domínios de avaliação de qualidade de vida, qualidade de vida

relacionada à saúde e transtornos mentais entre a população rural.

As variáveis idade, sexo, cor/etnia, escolaridade, carga horária

(quantidade de horas) de trabalho semanal e problemas de saúde

apresentaram associações estatísticas significativas,

concomitantemente, nos três instrumentos adotados neste trabalho

(WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20), cujos objetivos foram avaliar a

qualidade de vida, qualidade de vida relacionadas aos aspectos do

estado de saúde e transtornos mentais comuns em contexto rural. Tais

variáveis mostraram contribuições e influências para aspectos de

saúde, de saúde mental e para a qualidade de vida rural. A

autorreferência à intoxicação por agrotóxico indicou associação com

maior chance de desenvolver TMC entre a população de estudo.

A partir dos resultados, considera-se que o acesso à educação e

a serviços de saúde de qualidade são condições fundamentais para a

174

melhoria da qualidade de vida, da qualidade de vida relacionada à

saúde, da saúde mental e para o exercício pleno da cidadania.

Entende-se que o baixo nível de escolaridade da população rural tem se

apresentado como um grande entrave ao mercado de trabalho e ao uso

adequado das novas tecnologias.

Maior nível de escolaridade e de renda, além de melhores

condições de trabalho e de moradia e capitação de mão de obra da

população rural, poderiam contribuir para melhorar a qualidade de vida,

a saúde física e mental e o desenvolvimento no campo.

São urgentes, e também necessárias, a capacitação da mão de

obra no campo, bem como polí ticas públicas que visem à prevenção de

intoxicação e mortes no campo por exposição a agrotóxicos.

Deve-se considerar as limitações desta pesquisa. Por ser tratar

de um estudo de caráter transversal, não é possível determinar ou

apontar as relações de causas e efeitos em relação aos resultados

apontados. Neste tipo de estudo, é possível apontar apenas as

associações entre os domínios de avaliação de qualidade de vida, dos

aspectos do estado de saúde e suspeitas de transtornos mentais

comuns (TMC) na população rural de estudos e as variáveis

socioeconômicas e demográficas, entre outras .

Por se tratar ainda de um estudo local, é importante salientar que

os resultados não podem ser generalizados para população rural

175

brasileira. No entanto, podem contribuir para formulação de políticas

públicas de saúde voltadas à população rural.

176

177

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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202

203

APÊNDICES

PERMISSÃO DA REVISTA INTERFACES CIENTÍFICAS – SAÚDE

AMBIENTE PARA INSERÇÃO DE ARTIGO NA TESE

204

Paz de Lima, Paulo Junior; Oliveira, Helenice Bosco. Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rurais. Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente. 2014, 2(3):9-12.

205

206

207

208

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219

ANEXOS

ANEXO I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

ANEXO II – TERMO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR

ANEXO III – QUESTIONÁRIO: SOCIODEMOGRÁFICO E CONDIÇÕES DE TRABALHO

ANEXO IV – WHOQOL ABREVIADO (WHOQOL BREF)

ANEXO V – SELF REPORT QUESTIONNAIRE (SRQ) – SRQ-20

ANEXO VI – QUESTIONÁRIO CAGE

ANEXO VII – QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA – SF-36

220

221

ANEXO I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos voluntários que participarão do Projeto

de Pesquisa: “Avaliação da qualidade de vida de residentes em área rural no

município de Atibaia/SP”.

Responsável pelo projeto: Paulo Junior Paz de Lima – Doutorando em Saúde Coletiva –

FCM/UNICAMP.

Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira

Local de Desenvolvimento do Projeto: Bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio

Abaixo, no município de Atibaia, no interior do Estado de São Paulo em parceria com a

Faculdade de Ciências Médicas, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da

FCM/UNICAMP.

Eu,_________________________________________, RG_______________, ____ anos

de idade, residente à ___________________________________, voluntariamente

concordo em participar do projeto de pesquisa acima mencionado, que será detalhado a

seguir, e sabendo que para a sua realização as despesas monetárias serão de

responsabilidade do pesquisador.

É de meu conhecimento que este projeto será desenvolvido em caráter de pesquisa

científica e objetiva avaliar a qualidade de vida dos residentes em áreas rurais dos bairros

de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, de Atibaia/SP. A avaliação será realizada a

partir de um questionário formado por questões semi-estruturadas e pelos instrumentos

de analise de qualidade de vida: WHOQOL-Bref; SF-36; saúde mental: SRQ-20; hábito de

alcoolismo: CAGE.

Estou ciente ainda, de que, as informações obtidas durante as avaliações serão mantidas

em sigilo e não poderão ser consultadas por pessoas leigas, sem a minha devida

autorização. Esses dados coletados, no entanto, poderão ser usados para fins de

pesquisa científica, desde que a minha privacidade seja totalmente resguardada.

222

Comprometo-me, na medida das minhas possibilidades, responder os questionários da

melhor forma possível a fim de colaborar para um bom desempenho do trabalho científico

do responsável por este projeto.

Estou ciente também que poderei abandonar a pesquisa a qualquer tempo sem ter

nenhum prejuízo, e, caso ocorram danos decorrentes desta pesquisa, terei meus direitos

assegurados diante do item IV da Resolução 196/96. Em caso de dúvidas ou denúncias,

as mesmas poderão ser esclarecidas através dos telefones abaixo relacionados.

Li e entendi as informações precedentes, sendo que eu e o responsável pelo projeto já

discutimos todos os riscos e benefícios decorrentes deste, onde as dúvidas futuras que

possam vir a ocorrer poderão ser prontamente esclarecidas, bem como o

acompanhamento dos resultados.

Assim, estando de acordo com estes termos relacionados, me proponho a contribuir para

esta pesquisa a partir de minha assinatura abaixo firmada.

CAMPINAS, _____ de ______________________ de 2011.

_____________________________________

VOLUNTÁRIO (A)

______________________________________

Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de

Oliveira

Telefone de contato: (19) 3521-8036

SCPG – Saúde Coletiva/Unicamp

_______________________________

Pesquisador: Paulo Junior Paz de Lima

Doutorando em Saúde Coletiva –

FCM/UNICAMP

Contatos: (11) 3361-5642/9317-4685

[email protected]

Comitê de Ética/Informações ou Denúncias Fone: (19) 3521-8936

223

ANEXO II

TERMO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR

Eu, Paulo Junior Paz de Lima – Doutorando em Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP,

pesquisador responsável pelo projeto de pesquisa intitulado: “Avaliação da qualidade de

vida de residentes em área rural no município de Atibaia/SP” assumo a

responsabilidade de comunicar imediatamente a Faculdade de Ciência Médicas –

Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP (e demais Instituições envolvidas)

e ao patrocinador (se houver, informar qual patrocinador) toda e qualquer complicação

ocorrida durante a realização do referido projeto que coloque em risco o voluntário ou

bens incluídos neste trabalho de pesquisa.

Responsabilizo-me, igualmente, a acompanhar as diligências necessárias à imediata e

integral assistência aos voluntários participantes ou à reposição ou restauração de bens

eventualmente danificados durante a pesquisa.

CAMPINAS, ______ de ________________________ de 2011.

__________________________________

Pesquisador: Paulo Junior Paz de Lima

Doutorando em Saúde Coletiva –

FCM/UNICAMP

Contatos: (11) 3361-5642 / 9317-4685

[email protected]

_________________________________________

Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira

Telefone de contato: (19) 3521-8036

SCPG – Saúde Coletiva/Unicamp

Comitê de Ética/ Informações ou Denúncias Fone: (19) 3521-8936

224

225

ANEXO III

QUESTIONÁRIO: SOCIODEMOGRÁFICO E CONDIÇÕES DE TRABALHO

Data da Entrevista: ____ /____ / 2011 No da Entrevista: _______

1. Data de nascimento: ____/____/_____ (dia/mês/ano) 2. Idade: __ anos

3. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

4. Cor/Etnia: ( ) Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena

5. Estado Civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Viúvo ( ) Separado ( ) Outro:_

6. Escolaridade:

( ) Ensino Fundamental _______ anos ( ) Ensino médio __ anos

( ) Ensino médio técnico _______ anos ( ) Superior _____ anos

7. Tempo de escola (em anos): ________________________

8. Fuma atualmente: ( ) Sim ( ) Não

9. Ex-fumante: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo é ex-fumante? __

10. Tem o hábito de ingerir bebida alcoólica: ( ) Sim ( ) Não

Se sim, responder questionário ANEXO VI – CAGE.

11. Situação ocupacional:

( ) Empregado com registro ( ) Empregado sem registro ( ) Desempregado

12. Renda mensal do entrevistado (em Real): R$ _________________

13. Tipo de moradia/casa: ( ) Alvenaria ( ) Taipa ( ) madeira

14. Propriedade: ( ) Própria ( ) Arrendatário ( ) Alugada ( ) Cedida

15. Trabalhador Rural: ( ) Sim ( ) Não

16. Se trabalhador rural, utiliza algum produto químico (agrotóxico) no processo de

trabalho? ( ) Sim ( ) Não

226

17. Já trabalhou na agricultura: ( ) Sim ( ) Não

18. Horas trabalhadas semanalmente: ______ horas/semanal

19. Tem contato com agrotóxicos: ( ) Sim ( ) Não

20. Se sim, como é esse contato:

( ) Você mora próximo a plantação

( ) Sente o “cheiro” de agrotóxico quando estão aplicando

( ) Faz aplicação de agrotóxicos

( ) Puxa mangueira para outro aplicar

( ) Permanece próximo quando estão aplicando agrotóxico na lavoura

( ) Lava a roupa utilizada para aplicação de agrotóxico

21. Alguma vez já sofreu algum tipo de intoxicação por agrotóxico:

( ) Sim ( ) Não

22. Alguma vez já se sentiu mal durante a aplicação de agrotóxico?

( ) Sim ( ) Não

23. Se sentiu mal, em que momento foi isso?

( ) Quando fazia a aplicação de agrotóxico ( ) Quando puxava a mangueira

( ) Quando passava por perto da aplicação/lavoura ( ) Mora próximo a lavoura

24. Foi ao médico? ( ) Sim ( ) Não

25. Tem algum problema de Saúde? ( ) Sim ( ) Não

26. Se sim, qual o problema? _____________________________________

27. Há quanto tempo tem o problema de saúde? _____________ anos

28. Faz uso de algum tipo de medicamento: ( ) Sim ( ) Não

29. Há quanto tempo utiliza tais medicamentos? ________________ (anos)

227

ANEXO IV

WHOQOL-BREF

INSTRUÇÕES: Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua

qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. Por favor, responda todas as

questões. Se você não tem certeza sobre que resposta dar em uma questão, por

favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas

vezes, poderá ser a sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus

valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que

você acha da sua vida, tomando com referência às DUAS ÚLTIMAS SEMANAS.

1. Como você avaliaria

sua qualidade de vida?

Muito ruim Ruim Nem ruim

Nem boa

Boa Muito boa

1 2 3 4 5

2. Quão satisfeito você

está com sua

saúde?

Muito

insatisfeito Insatisfeito

Nem

satisfeito

Nem

insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

1 2 3 4 5

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas

últimas DUAS semanas.

Nada

Muito

pouco

Mais ou

Menos Bastante Extremamente

3. Em que medida você acha que

sua dor (física) impede você de

fazer o que você precisa?

1 2 3 4 5

4. Quanto você precisa de algum

tratamento médico para levar

sua vida diária?

1 2 3 4 5

228

5. Quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5

6. Em que medida você acha que

sua vida tem sentido?

1 2 3 4 5

7. Quanto você consegue se

concentrar?

1 2 3 4 5

8. Quão seguro(a) você se sente

em sua vida diária?

1 2 3 4 5

9. Quão saudável é o seu

ambiente físico (clima, barulho,

poluição, atrativos)?

1 2 3 4 5

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido

ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas DUAS semanas.

Nada Muito pouco Médio Muito Completamente

10. Você tem energia suficiente

para seu dia-a- dia? 1 2 3 4 5

11. Você é capaz de aceitar sua

aparência física? 1 2 3 4 5

12. Você tem dinheiro suficiente

para satisfazer suas

necessidades?

1 2 3 4 5

13. Quão disponíveis para você

estão as informações que

precisa no seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

14. Em que medida você tem

oportunidades de atividade

de lazer?

1 2 3 4 5

229

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a

respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas DUAS semanas.

Muito

ruim Ruim

Nem ruim

Nem bom Bom Muito bom

15. Quão bem você é capaz

de se locomover? 1 2 3 4 5

Muito

insatisfeito Insatisfeito

Nem

satisfeito

Nem

insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

16. Quão satisfeito(a) você

está com o seu sono?

1 2 3 4 5

17. Quão satisfeito(a) você

está com sua capacidade

de desempenhar as

atividades do seu dia-a-

dia?

1 2 3 4 5

18. Quão satisfeito(a) você

está com sua capacidade

para o trabalho?

1 2 3 4 5

19. Quão satisfeito(a) você

está consigo mesmo?

1 2 3 4 5

20. Quão satisfeito(a) você

está com suas relações

pessoais (amigos,

parentes, conhecidos,

colegas)?

1 2 3 4 5

21. Quão satisfeito(a) você

está com sua vida

sexual?

1 2 3 4 5

22. Quão satisfeito(a) você está

com o apoio que você

1 2 3 4 5

230

recebe de seus amigos?

23. Quão satisfeito(a) você

está com as condições

do local onde mora?

1 2 3 4 5

24. Quão satisfeito(a) você

está com o seu acesso

aos serviços de saúde?

1 2 3 4 5

25. Quão satisfeito(a) você

está com o seu meio de

transporte?

1 2 3 4 5

As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou

experimentou certas coisas nas últimas DUAS semanas.

Nunca

Algumas

vezes Freqüentemente

Muito

freqüentemente Sempre

26. Com que freqüência

você tem sentimentos

negativos tais como

mau humor,

desespero, ansiedade,

depressão?

1 2 3 4 5

231

ANEXO V

SELF REPORT QUESTIONNAIRE (SRQ) – SRQ-20

1. Tem dores de cabeça freqüentes? 1 – Sim 2 – Não

2. Tem falta de apetite? 1 – Sim 2 – Não

3. Dorme mal? 1 – Sim 2 – Não

4. Assusta-se com facilidade? 1 – Sim 2 – Não

5. Tem tremores de mão? 1 – Sim 2 – Não

6. Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a) 1 – Sim 2 – Não

7. Tem má digestão? 1 – Sim 2 – Não

8. Tem dificuldade de pensar com clareza? 1 – Sim 2 – Não

9. Tem se sentido triste ultimamente? 1 – Sim 2 – Não

10. Tem chorado mais do que de costume? 1 – Sim 2 – Não

11. Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias?

1 – Sim 2 – Não

12. Tem dificuldades para tomar decisões? 1 – Sim 2 – Não

13. Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, causa sofrimento)?

1 – Sim 2 – Não

14. É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida? 1 – Sim 2 – Não

15. Tem perdido o interesse pelas coisas? 1 – Sim 2 – Não

16. Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo? 1 – Sim 2 – Não

17. Tem tido idéias de acabar com a vida 1 – Sim 2 – Não

18. Sente-se cansado(a) o tempo todo? 1 – Sim 2 – Não

19. Tem sensações desagradáveis no estômago? 1 – Sim 2 – Não

20. Você se cansa com facilidade? 1 – Sim 2 – Não

A – Total de sim |___||___|

21. Sente que tem alguém que de alguma maneira quer lhe fazer mal? 1 – Sim 2 – Não

22. Você é alguém muito mais importante do que a maioria das pessoas pensa?

1 – Sim 2 – Não

23. Tem notado alguma interferência ou outro problema estranho com seu pensamento?

1 – Sim 2 – Não

24. Ouve vozes que não sabe de onde vêm, ou que outras pessoas não podem ouvir?

1 – Sim 2 – Não

B – Total de sim |___||___|

TOTAL A + B |___||___|

232

233

ANEXO VI

CAGE – Cut-down, Annoyed, Guilty e Eye-opener

Screening test for alcohol dependence

Atenção: Este teste só será marcado corretamente se você responder a cada uma

das perguntas.

Por favor, verifique a única resposta para cada item que melhor descreve como

você se sentiu e se comportou durante toda sua vida.

1. Você já sentiu necessidade de parar de beber? 1 – Sim 2 – Não

2. Você já se sentiu chateado por pessoas que

criticam seu hábito de beber?

1 – Sim 2 – Não

3. Você já se sentiu culpado por beber? 1 – Sim 2 – Não

4. Você já bebeu álcool de manhã para acordar? 1 – Sim 2 – Não

Criado por Mayfield e colaboradores (1974) e validado no Brasil por Mansur e Monteiro

(1983).

234

235

ANEXO VII

QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA – SF-36

Instruções: Estas informações nos manterão informados de como você se sente

e quão bem você é capaz de realizar suas atividades de vida diária. Responda

cada questão marcando a resposta como indicado. Caso você esteja inseguro de

como responder, tente fazer melhor que puder.

1. Em geral, você diria que sua saúde é?

Excelente Muito boa Boa Ruim Muito ruim

1 2 3 4 5

2. Comparada a um ano atrás, como você classificaria sua saúde em geral,

agora?

Muito melhor

agora do que

um ano atrás

Um pouco melhor

agora do que um

ano atrás

Quase a

mesma de um

ano atrás

Um pouco pior

agora do que um

ano atrás

Muito pior

agora do que

um ano atrás

1 2 3 4 5

3. Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente

durante um dia comum. Devido a sua saúde, você tem dificuldade para

fazer estas atividades? Neste caso, quanto?

Atividades Sim

Dificulta

muito

Sim,

Dificulta

pouco

Não, não

Dificulta de

modo algum

A. Atividades vigorosas, que exigem muito

esforço, tais como correr, levantar objetos

1 2 3

236

pesados, participar te esportes árduos.

B. Atividades moderadas, tais como mover

uma mesa, passar aspirador de pó, jogar

bola, varrer a casa

1 2 3

C. Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3

D. Subir vários lances de escadas. 1 2 3

E. Subir um lance de escada 1 2 3

F. Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3

G. Andar mais que um quilômetro 1 2 3

H. andar vários quarteirões 1 2 3

I. Andar um quarteirão 1 2 3

J. Tomar banho ou vestir-se 1 2 3

4. Durante as últimas quatro semanas, você teve algum dos seguintes

problemas com o seu trabalho ou com alguma atividade diária regular, como

conseqüência de sua saúde física?

Sim Não

A. Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu

trabalho ou a outras atividades?

1 2

B. Realizou menos tarefas do que gostaria? 1 2

C. Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou em outras atividades? 1 2

D. Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. ex.

necessitou de um esforço extra)?

1 2

237

5. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas

com o seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de

algum problema emocional (como sentir-se deprimido ou ansioso)?

Sim Não

A. Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu

trabalho ou a outras atividades?

1 2

B. Realizou menos do que você gostaria? 1 2

C. Não trabalhou ou não fez qualquer atividade com tanto cuidado

como geralmente faz?

1 2

6. Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física, ou

problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em

relação à família, vizinhos, amigos ou em grupo?

De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente

1 2 3 4 5

7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas quatro semanas?

Nenhuma Muito leve Leve Moderada Grave Muito grave

1 2 3 4 5 6

8. Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu em seu trabalho

normal (incluindo tanto o trabalho fora como dentro de casa)?

De maneira alguma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente

1 2 3 4 5

238

9. Estas questões são como você se sente, e como tudo tem acontecido com

você durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, de uma resposta

que mais se aproxime da maneira como você se sente.

Todo

Tempo

A maior

parte do

tempo

Um boa

parte do

tempo

Alguma

Parte do

tempo

Uma Pequena

parte do

tempo

Nunca

A. Quanto tempo você

tem se sentido cheio

de vigor, cheio de

vontade, cheio de

força?

1 2 3 4 5 6

B. Quanto tempo você

tem se sentido uma

pessoa muito

nervosa?

1 2 3 4 5 6

C. Quanto tempo você

tem se sentido tão

deprimido que nada

pode animá-lo?

1 2 3 4 5 6

D. Quanto tempo você

tem se sentido

calmo ou tranquilo?

1 2 3 4 5 6

E. Quanto tempo você

tem se sentido com

muita energia?

1 2 3 4 5 6

F. Quanto tempo você

tem se sentido

desanimado e

abatido?

1 2 3 4 5 6

G. Quanto tempo você

tem se sentido

esgotado?

1 2 3 4 5 6

239

H. Quanto tempo você

tem se sentido uma

pessoa feliz?

1 2 3 4 5 6

I. Quanto tempo você

tem se sentido

cansado?

1 2 3 4 5 6

10. Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou

problemas emocionais interferiram em suas atividades sociais ( como visitar

amigos, parentes, etc.)?

Todo o tempo A maior parte

do tempo

Alguma parte do

tempo

Uma pequena

parte do tempo

Nenhuma parte

do tempo

1 2 3 4 5

11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?

Definitivamente

verdadeiro

A maioria

das vezes

verdadeiro

Não

sei

A maioria

das vezes

falsa

Definitivamente

falsa

A. Eu costumo adoecer

um pouco mais

facilmente que as

outras pessoas.

1 2 3 4 5

B. Eu sou tão saudável

quanto qualquer

pessoa que conheço.

1 2 3 4 5

C. Eu acho que a minha

saúde vai piorar.

1 2 3 4 5

D. Minha saúde é

excelente.

1 2 3 4 5

240

241

DECLARAÇÃO

As cópias de artigos de minha autoria ou de minha coautoria, já

publicados ou submetidos para publicação em revistas científicas ou

anais de congressos sujeitos a arbitragem, que constam da minha Tese

de Doutorado, intitulada “Avaliação da qualidade de vida e

transtornos mentais comuns de residentes em áreas rurais”, não

infringem os dispositivos da Lei nº 9.610/98, nem o direito autoral de

qualquer editora.

Campinas, 20 de outubro de 2014.

Autor: Paulo Junior Paz de Lima

RG: 1899885-90

_________________________________________

Orientadora: Profa Dra. Helenice Bosco de Oliveira

RG: 3.791.495-9