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16 M. Virmond
Pavilhão auricular
INTRODUÇÃO
O comprometimento do pavilhão au-
ricular em hanseníase pode se dar por
infiltração difusa especifica, pela presença de
nódulos ou tubérculos (hansenomas) ou por
episódios reacionais (ENL), sendo todas estas
manifestações clínicas típicas dos casos
virchovianos. A relação entre a pele e o M.
Leprae não é muito agressiva, tanto que a
regressão de uma lesão de pele pode não deixar
sequelas importantes devido à pouca formação
de fibrose local( JOB, 1984 ). Isto só acontecerá
nos casos de episódios reacionais, onde o
envolvimento das fibras colágenas no processo
inflamatório ocasionará fibrose residual.
O infiltrado difuso pode comprometer
todo o pavilhão auricular, principalmente o
lóbulo da orelha, ricamente colonizado por
bacilos, sendo por isso um sítio de eleição para a
coleta de material para baciloscopias. Este
infiltrado pode regredir sem deixar seqüelas, a
não ser um discreto aumento de volume e ptose
do lóbulo. Os nódulos e tubérculos também
ocorrem no lóbulo assim com no contorno da
hélice. O tamanho e o número desta lesões,
aliadas ao efeito da gravidade, contribuem em
muito para o surgimento da ptose e megalóbulo,
uma vez regredidos com o tratamento. Os nódu-
los que se apresentem por mais tempo podem
ser ressecados cirurgicamente, uma vez que
signifiquem transtorno estético ao paciente. Os
estados reacionais são os maiores responsáveis
pelas alterações estéticas do pavilhão auricular.
A presença de nódulos ulcerados e o infiltrado
inflamatório agudo permitem alterações da
estrutura da pele, que ocasionam modificações
do contorno do pavilhão, assim como aumento
do lóbulo ( megalóbulo ) e sua queda (ptose ).
A repetição destes episódios permite que
as estruturas progressivamente se alterem
levando a deformidades significativas para a
estética do pavilhão auricular Em outras
palavras, os freqüentes aumentos e diminuições
de volume ocasionados pela instalação do
fenômeno reacional e sua regressão levam a
uma desorganização e reorientação das fibras
colágenas e outros componentes da anatomia da
cútis que determinam o surgimento de pele
redundante. Para exemplificar, podemos
estabelecer um ligeiro paralelo desta situação
com o uso de expansores em cirurgia plástica
onde, com a progressiva introdução de soro
fisiológico em uma bolsa de silicone no
subcutâneo, obtém-se quantidades adicionais de
pele para a reparação de defeitos traumáticos ou
congênitos. Por outro lado, o próprio infiltrado
inflamatório específico também causa
pericondrite, o que resulta num real aumento do
tamanho da concha auricular
O megalóbulo é deformidade muitofreqüente nas formas virchovianas da hansenía-se e causa importante estigma ao paciente, poisse trata de uma das poucas patologias queocasiona esta deformidade e, por este motivo,permite identificar seu portador com a doença.
136 Cirurgia Reparadora e Reabilitação em Hanseníase
Alterações do contorno da hélice sãodecorrentes de modificações da cartilagemsubjacente. Ainda que esteja descrita a presençade globias bacilares junto a células carti-laginosas, acredita-se que a necrose dacartilagem seja causada por pericondritesdecorrentes de infecção secundária sobre lesõesulceradas da pele da orelha. Estas ulceraçõesocorrem principalmente por fenômenos devasculite que acompanham os estados rea-cionais mais severos. O pericôndrio 6. a camadade onde se deriva a nutrição da cartilagem. Osprocessos infecciosos que interfiram com estanutrição podem levar A necrose e absorção dacartilagem. 0 agente infeccioso mais comumnestes casos é a Pseudomonas aeruginosa(MAWSON, 1979). Estas deformidades dahélice são pouco comuns. Variam de pequenasperdas cartilaginosas até lesões mais extensas,muito raras, com perda de quase todo o suportecartilaginoso do pavilhão auricular. As perdasmenores determinam uma lesão característicado contorno da hélice conhecida como " rat-bitten" ou "niblled". ENNA ( 1974 ) refere queeste nome seria oportunamente ligado aos casosdestas lesões, quando relatadas em pacientes debaixa renda na África. Nessa região a lesão docontorno auricular poderia realmente sercausada por mordidas de ratos, urna vez queesta área seria anestésica e as condições de mo-radia e higiene destas populações menosfavorecidas permitiriam esta ocorrência. Aindaque seja possível encontrá-las em casostuberculóides reacionais com lesão sobre aorelha, estas lesões são mais características doscasos dimorfos ou virchovianos (Correspon-dência, 1956).
TRATAMENTO
O tratamento quimioterápico adequado eprecoce, com seguimento constante, permite aresolução do infiltrado difuso e nódulos semseqüelas importantes. Na presença dedeformidades permanentes e importantes para aestética da orelha, o tratamento de escolha é ocirúrgico(Fig. 16.1).
Fig. 16.1 Megalóbulo.
O megalóbulo pode ser corrigido porsimples excisão da pele redundante. Noentanto, devemos seguir certos princípios paraque a forma final do lóbulo e a qualidade dacicatriz sejam adequadas. As linhas de força dapele da orelha seguem um trajeto arqueado eem sentido transversal ao eixo maior. Acicatriz cirúrgica deve acompanhar estaslinhas, preferen-cialmente. Este principio temmaior rigor de aplicação em partes do corpoonde a musculatura subjacente A pele é maisativa. No caso do pavilhão auricular, osmúsculos são de
P
pequeno tamanho e discreta função, prin-cipalmente no lóbulo onde as fibras muscularessão praticamente inexistentes. Mesmo assim,convém seguir a orientação das linhas de força.A irrigação arterial do pavilhão auricular émuito abundante, provindo da artéria auricularanterior e posterior, ramos da artéria temporalsuperficial. Este fato permite uma grandeliberdade no desenho dos retalhos em relação à
Fig. 16.2 Diferentes desenhos para a correção domegalóbulo.
segurança de sua viabilidadcorreção do megalóbulo senaquelas cuja incisão se fazno bordo posterior doGUERRERO-SANTOSatenção para o fato de qfeitas no bordo posterior,do lóbulo, tendem a formadegrau, o que é indesejávestético. Por esse motivo,o uso de incisões no bordolinha superior do desenhoângulo da orelha corn a rprincípio usualmenteresultados estéticos (Fig. 16
A macrotiaconcomitantemente comlóbulo. Uma ressecção adhélice e parte da concha, r(Fig. 16.2). Os nóduloslóbulo como na hélice, pfacilmente por excisões em16.4). A
Fig. 16.3 Pré e Pós-operatório. Técnica de GUERRERO-SANTOS.
avilhão auricular 1,37
e. As técnicas para adividem basicamenteno bordo anterior oulóbulo (Fig. 16.2).(1970) chama a
ue todas as incisõesisto é, na porção livrer uma chanfradura ouel do ponto de vistaeste autor recomenda
anterior, sendo que adeve ficar próxima aoegião mastóide. Estepermite melhores.3 ).
pode apresentar-sea hipertrofia do
icional, envolvendo aesolve este problemaresiduais, tanto no
odem ser ressecadosforma de "V"(Fig.
138 Cirurgia Reparadora e Reabilitação em Hanseníase
sutura da lesão dever ser feita com manipulaçãodelicada dos tecidos, utilizando um fio de náilonfino (6 zeros) e tomando o cuidado para incluirparte do pericôndrio na sutura, o que propiciauma boa aposição dos bordos da cartilagemseccionada.
deformidades adicionais, pois as ressecçõescom Angulo muito aberto do "V", ao fim dasutura, altera a forma global da orelha, geral-mente com pinçamento anterior da concha.Aqui indica-se o uso de retalhos condro-cutâneos ou apenas cutâneos, nas situações emque não necessidade de reconstrução daestrutura cartilaginosa. Os retalhos mais apro-pria dos são os retroauriculares, pois com elesfacilmente se reconstrói os defeitos da hélice,que são os mais comum nos casos de hanse-níase(Fig. 16.5).
A técnica de reconstrução em doistempos inicia-se pela confecção do retalhoretroauricular, com uma incisão logo abaixo dalinha de implantação dos cabelos. O defeito nahélice é ressecado e preparamos as extre-midades da cartilagem da hélice para receber oenxerto. A cartilagem a ser enxertada pode ser
Fig. 16.4 Excisão de nódulo.
Os defeitos mais difíceis de seremresolvidos são os decorrentes das perdas desubstancia do pavilhão auricular. Nestes casos,temos perda de cartilagem e pele em diferentesgraus. As lesões de menor tamanho podem sercorrigidas por uma incisão em "V", com apro-ximação cuidadosa dos bordos. A utilizaçãodesta técnica em lesões maiores pode trazer
obtida da concha da orelha contralateral ou dorebordo costal. Preferentemente, utilizamos aconcha da outra orelha, pois o enxerto retiradoda região costal é mais complexo tecnicamente ea cartilagem obtida menos maleável. O enxertoé cuidadosamente fixado no local por meio depontos separados de fio absorvível delicado.Retalho é suturado, acomodando-se ao defeito
16.5 Contecção de retalho retroauricular.
já retificado na hélice. A parte cruento na regiãoretroauricular recebe um enxerto de pele para suacobertura. Três a quatro semanas após, temos o segundotempo com a liberação do retalho. A parte remanescenteé ressuturada à região retroauricular. Uma pequenamodificação nesta técnica é a sutura do bordo
interno do defeito da hrior da área cruenta reevitamos a exposiçãoretalho no período queNeste caso, o desenassemelharia ao de um tbase larga e pequeno com
Fig. 16.6 a e b Pré e Pós operatório de reconstrução parcial de hélice.
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Pavilhão auricular 139
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