80
- 1 - PAZ DE ESPÍRITO Ana P. Fraiman

PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 1 -

PAZ DE ESPÍRITO

Ana P. Fraiman

Page 2: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 2 -

Page 3: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 3 -

PAZ DE ESPÍRITOAna P. Fraiman

São Paulo - SP2004

Coleção Plenitude - Volume I

Page 4: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 4 -

F256a Fraiman, Ana

Paz de espírito / Ana P. Fraiman, Coleção Vida Plena - Vol. I , São Paulo: Alexa Cultural, 2004

14x21 - 78p.

Bibliografia

ISBN - 85-98175-05-0-6

CDD - 100/150

© by Alexa Cultural

Direção GeralMarcia Kling

EditorKarel Langermans

CapaK. Langer

Editoração EletrônicaAlexa Cultural

Rua Dr. Diogo de Faria, 1202São Paulo - SP - CEP: 04037-004

[email protected]

Page 5: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 5 -

SUMÁRIO

Apresentação 07O porque deste livro 11

I - RuMO AO DESCONhECIDO 13 Em busca do conhecimento 14 As duas faces da mente 15 Experiências de totalidade 18 A evolução da mente 20 O poder da respiração 22 A forma e a experiência 23 A nobre tarefa do pensamento 25 A conquista da sabedoria 26

II - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo 30 terceiro nível A consciência da comunicação 30 Quarto nível A construção lógica da mente 33 Quinto nível A consciência da intuição 35 Sexto nível O princípio criativo no modo racional 37 Sétimo nível A ruptura com a rigidez do passado 39 Oitavo nível A Alquimia 46 Nono nível A experiência da consciência de si mesmo 47 Décimo nível A consciência do puro poder 49

Page 6: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 6 -

Décimo primeiro nível O serviço de doação 50 Décimo segundo nível A torre da consciência consciente 52 Dar e receber 54 A arte de conversar 56

III - PONhA A MãO NA CONSCIêNCIA 58 A escalada do conhecimento consciente 59 E que virtudes são estas? 62 A formação da consciência: uma pedagogia para a paz 66 A luta entre a estagnação e a generatividade: O “continuum” vida e morte 66 Os esforços dos primeiros tempos são totais e avassaladores 67 A ação do tempo 69 IV - A CONDuçãO DA EXPANSãO DA CONSCIêNCIA 71 Ensinar a observar 73 Ensinar a interpretar 75 Não julgar para não ser julgado 78

Bibliografia 80

Page 7: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 7 -

APRESENTAÇÃO

Algumas pessoas cruzam nosso caminho e, por artimanhas dodestino,prestamosatençãonelas. Istoéosuficienteparacorrigir a nossa rota. Para nos tornarmos melhores.

Muitas foram as que me feriram. Outras me cuidaram e trataram. há outras ainda que me ensinaram a me curar. Na verdade, ainda tenho muito a aprender. Mas já deu para descobrir o divertido da coisa.

Aos que me machucaram, deliberadamente ou não, o meu “tchau! Muito obrigada”. Da maioria deles, quero mais é distância.

Aos que me cuidaram, também deliberadamente ou não, a minha gratidão. Quero dizer que vocês fazem parte daquilo que considero “incrível”, “espantoso”. Sim, porque o amor ainda me deslumbra e me enternece. Cada vez mais. tantos de vocês, com facilidade, têm-me brindado com seus sorrisos e conselhos, com seus abraços e acenos.

Aos que me ensinaram a me curar, minha reverência. Estes me ouviram e me ouvem. E me ensinaram, com sua luz, serenidade, paciência e bom humor, a ir perdendo o medo. Princi-palmente de mim. hoje eu sei o que é paz de espírito: “querer-se bem”, “ser meu melhor amigo”.

Já tive medo de “desenvolver o meu lado espiritual”. hoje tenho medo é da ignorância! Da falta de leis e de moral.

Severidade, rigor e disciplina ganharamoutros signifi-cados, com a descoberta de que tais atitudes, aplicadas com conhecimento amoroso, não restringem, mas promovem o que importa: harmonia e equilíbrio.

Pessoas com mais visão do que eu pararam, também, para prestar a atenção em mim. São estes os momentos de troca. É uma verdadeira graça! E é devido a algumas delas que pude escrever este livro. têm-me sido constante fonte de inspiração aqueles que cito, em especial:

Page 8: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 8 -

Robert Happé, holandês, natural de Amsterdã, que estuda, divulga e integra ensinamentos ocidentais e orientais, traduzindo coisas que vão além da razão de uma forma muito compreensível. Aprendeu vedanta, budismo e taoísmo durante quatorze anos no oriente, conviveu com nativos na índia, no tibe-te, no Líbano e no Cambodja. De volta à Europa, em meados da década de 70, aprofundou-se no estudo da meditação. E agora realiza um trabalho independente, sem nenhuma vinculação re-ligiosa ou esotérica, promovendo cursos na Europa, nos Estados unidos, na Austrália, na África do Sul, na Argentina e no Brasil.

happé insiste muito na atitude mental de awareness (estar acordado, ligado, com os sentidos e a consciência abertos). Seus cursos visam o crescimento e a expansão da consciência. Alternam explanações com meditações e momentos em que os presentes esclarecem suas dúvidas. Mas happé não ensina só com palavras. Faz a coisa acontecer. tem a rara capacidade de ir fundo de maneira suave. Além de paz, seu semblante sereno e seu humor leve e gostoso transmitem bondade.

happé incentiva os presentes a escreverem e diz que o ato de escrever facilita a memorização. Só que cada um escreve uma coisa diferente. Portanto, este livro, que publico agora, traz a minha interpretação de parte dos ensinamentos difundidos por este mestre.

Ruth Toledo,minhaterapeutadeflorais.Inúmerasvezessentei-me a sua frente, tonta de dor, por falta de luz. Sentimentos confusos, desconectada do meu amor-próprio, sem saber como gerá-lo. Decididamente, com palavras simples sobre conceitos muito elaborados, Ruth me guiou pelo caminho do autoconheci-mento e auto-aceitação. Ouviu-me com o coração, me respondeu com voz de compaixão, me enxergou com olhos límpidos, olhar de veludo, me abraçou com braços cálidos. É gentileza, correção e transparência em forma de pessoa.

hoje, quando a consulto, mesmo se sofrida, vou com ale-gria, com um sentimento de “Ôba! O que será que este sentimento tem a me ensinar agora?!” de que Robert happé tanto fala. Sim, porque Ruth me inspira a ver além do sofrimento, o doce que seextraidoamargo.Comelaeosflorais,ganheifirmezaparacruzar as portas da intuição. Ficou tudo bem mais fácil. Meu ego agradece. Meu self se ilumina.

Maria José Oliveirado, taróloga, quiromante, minha doce e divertida amiga. há anos e anos pesquisamos juntas e de várias maneiras, alguns sinais e muitas mudanças. Maria José

Page 9: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 9 -

agradece por trabalhar. Agradece também por comer, por sorrir, por dançar, por conversar. Agradece pelo que lhe é dado viver.

Fala de problemas como oportunidades de evolução, da mente e da alma. E com ela compreendi que cada perda, e cada pessoa importante se afasta, sob o manto da imediata solidão, nos deixa mais de nós mesmos para ser descoberto. há uma contradança cósmica nos encontros e desencontros da vida e há que se ver o todo, o padrão, para vencer a pequenez e a imaturidade do ego. Isto é discernimento. A integração vem com a aceitação e o equilíbrio dos opostos, compreendendo a articulação e realizando, em plenitude, as tarefas de todas as casas zodiacais.

Cesar Augusto Silvino, meu terapeuta corporal, tem-me propiciado galgar estados mentais tão diferenciados e elevados que posso considerar-me abençoada pelos conhecimentos daí advindos.

Com suas sessões de energização e harmonização dos chacras, seguidas de conversas e esclarecimentos mútuos sobre símbolose significados visualizadose/oupressentidos, temospodido traduzir, em palavras compreensíveis, questões até então tratadas hermeticamente por tantos autores, de diferentes épocas e lugares.

Junto com Cesar, rever conceitos, impressões, estabele-cer conexões, novas relações, esclarecer, pensar tem sido um trabalho entusiasmante, que nos tem feito ganhar desembaraço e alguma segurança na pesquisa sobre realidades e mundos cujos referenciais são muito diferentes do nosso. Muitas vezes damos risada sobre o que nós mesmos consideramos “conversa de doi-dos”, coisas de “como se”. E assim vamos vencendo bloqueios e desassossegos, recuperando memórias, alargando horizontes, vencendo barreiras de lugar e de tempo.

Na verdade, encontrar-me com cada um deles, Robert happé, Ruth toledo, Maria José ou Cesar, tem sido uma festa, porque todos, a seu modo, “pensam com o coração”, ampliam a nossa consciência. São pessoas agradabilíssimas, sensíveis, inteligentes, batalhadoras, organizadas e bonitas. Propiciam, aos que com elas convivem, entrar em contato com o que há de melhor dentro de nós mesmos, obter o que se pode chamar desde “alívio” até “iluminação”, de qualquer forma, sempre auto-conhecimento.

Outros mestres e autores, neste momento na citados,

Page 10: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 10 -

recebem também meu agradecimento e reconhecimento, pelo fato demeajudaremavivercomsignificado.Ecompartilhar.Porissoescrevi este livro.

Dedico-o a meus antepassados, por parte de pai e mãe.

Page 11: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 11 -

O PORqUE DESTE lIvRO

Nos meus muitos anos de trabalho em consultório, em em-presas e junto a movimentos sociais, constatei que as pessoas vivem e envelhecem de duas maneiras básicas: “desabrochando” ou “fenecendo”.

Não estou aqui me referindo a crises ou fases que se suce-dem. há ocasiões em que a experiência de vida que se tem é de pouco aproveitamento, fechamento em si mesmo, desgosto ou mesmo falta de vontade de viver. Ou, de outro modo, ou ou-tras épocas, experimentamos exuberância, energia, vontade de realizar, arriscar e crer.

Algumas pessoas dificilmente se entusiasmame, quandovibram, é na direçãodas dificuldadese problemas, enquantooutras irradiam bem-estar, força de espírito, disposição para se recuperar mesmo diante de graves acontecimentos.

há algo que a psique humana não compreende logicamente e, sim, apreende esteticamente: pelos sentidos e sentimentos.

É desse algo que desejo falar aqui algo que pode ser re-conhecido, captado e desenvolvido e que faz toda a diferença entre viver morrendo, ir fenecendo ou vir a morrer cheio de vida, desabrochando.

Para viver e envelhecer bem é preciso que a pessoa, em algum momento e por algum motivo, aprenda os movimentos básicos que imprimem mais vida ao viver: harmonia e equilíbrio. Daí pode-se ir além. Perde-se até o medo da morte, justamente porque se consegue encontrar e recriar a graça da própria vida.

há os que se abrem, então, e se tornam generosos. Fazem da sua vida cotidiana uma experiência de alegria, descobertas e encontros siderais. A desenvoltura em lidar com emoções, o bom humor e a curiosidade transformam as coisas mais banais em acontecimentos e oportunidades de evolução.

A pessoa vai se libertando dos seus medos, traumas e can-saços e aprende, como se diz, “a viajar somente com o essen-cial”. Não leva em sua bagagem vivencial pesos impróprios ou desnecessários.

Page 12: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 12 -

há os que aprendem isso mais cedo. há os que levam muitos anos.Areflexãoajudaaextrairaslições,paraqueaexperiêncianão se torne tão somente enfadonha, mas única e criativa, mesmo que se repita. Isto é sabedoria, a voz da experiência.

E há os que se recusam, ou não conseguem aprender. Esses ainda são imaturos e têm medo de perder a ignorância de que são portadores. É dessa ignorância que brotam as arrogâncias e crueldades, as inferioridades e baixa auto-estima. Não deve-mos, portanto, temer o conhecimento, mas a ignorância. Daí a importância da educação.

há, também, muitas pessoas que sofrem e buscam ajuda espiritual, além da psicoterapêutica. E alcançam-na. Outras, porém , quando alertadas para o fato de que precisam cuidar e “desenvolveroseuladoespiritual”,ficammuitoassustadasefo-gem. têm medo. Acham que para isso terão, necessariamente, de fazer contato com o “mundo dos espíritos” e que vão se deparar com forças que não conseguirão controlar. A bem da verdade, não é possível controlar as forças da vida e do amor. E isso é o que, de início, precisamos saber.

Não é necessário, porém, que façamos “sessões” ou magias, sacrifícios ou rezas, para desenvolver o que chamamos de “lado espiritual”. É preciso, isso sim, desenvolver cada vez mais as habilidades de relacionamentos criativos, livres e elevados, entre todas as formas de vida e nas diferentes dimensões.

Não se trata de um “sair de si”, mas de um “conhecer-se”, de ser tão si próprio a ponto de se perder o medo de amar, de viver, de ir além.

Desenvolvero ladoespiritualnãosignifica,então,darmaisvalor “ao lado de lá”, isto é, tornar-se uma pessoa desejosa de logo partir e impaciente com as questões do corpo, do ego, da matéria.

Pelo contrário, é desenvolver um profundo gosto pela vida, um grande respeito por todas as suas formas e um elevado temor, um inspirado movimento de entrega e recebimento perante tudo aquilo que é sagrado.

Esse desenvolvimento nos permite, nas coisas mais corriquei-ras ou nos grandes mistérios, a experiência de pureza, alegria e simplicidade. Isso nos torna atraentes e sensíveis, receptivos, pessoas valiosas e valorosas que estamos destinados a ser.

Desenvolver o lado espiritual é aprender a viver bem, entre os homens e a natureza, no dia-a-dia.

Page 13: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 13 -

I. RUMO AO DESCONHECIDO

Nós, seres humanos, somos uma polaridade mente/corpo. O corpo vive e coleta dados da realidade que alimentam a cons-ciência. A mente, por sua vez, capta outros dados que também alimentam a consciência. Em geral, não há uma relação unívoca entre o que o corpo vive e a mente capta. Nem mesmo uma congruência. um pode não estar consciente da existência do outro. tanto isso é verdade que precisamos treinar a mente para perceber e entender as expressões do nosso próprio corpo. E precisamos treinar o corpo para suportar a expansão da mente.

O que o corpo vive é imediato. E nós vamos, então no-minando essas vivências, a partir do que os outros nos dizem: isso é dor, isso é cócega, isso é prazer. Através das palavras, traduzimos para a mente informações vindas do corpo.

Muita gente confunde o seu ser com aquilo que existe na mente. No entanto, mente e corpo são instrumentos do ser. Daí,queavelhaafirmaçãogrega“Penso,logoexisto”podeserquestionada. Porque o sentir já é a própria existência.

A partir do arcabouço de suas idéias, portanto daquilo que a pessoa pensa, há quem formule uma idéia na mente sobre o que é e diga: “Eu sou isso”. E não percebe que “isso” é apenas um conjunto de idéias que podem ser mudadas a qualquer mo-mento. Independente do que pensa, cada ser humano continua sendo o que é.

Podemos ter uma idéia do ser que ainda não é o ser. O ser é muito mais do que a idéia, muito mais do que a sensação. Aquela frase clássica: “Sou assim, não vou mudar nunca, quem quiserquemeaceite”refleteumaconfusãoentreoseuseresuamente, que é um repositório de idéias. O que conduz a essa atitude é o medo. Sobretudo, o medo do desconhecido. Nós aprendemos que o desconhecido é perigoso. E isso não passa apenas de mais uma idéia.

todas as correntes que falam do desenvolvimento, do aperfeiçoamento da pessoa, procuram desvendar o ser. Logo, não temos outro caminho a não ser rumo ao desconhecido.

Page 14: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 14 -

Este caminho é qualquer caminho. Não existe uma estrada única. todas levam ao destino, embora cada uma a seu passo e saindo de um ponto distinto. também não há um chegar. há um caminhar. O próprio movimento da vida que não cessa. um movimento de descoberta, que é a própria criação.

Em busca do conhecimento

Se pensarmos bem, cada novo dia é um dia desconheci-do. E cada um deles precisa ser trilhado, mas de uma maneira consciente e desperta. Se dormir o dia inteiro, o ser humano irá concluir: “Esse foi um dia que eu não vivi”. Eis aí outra confusão: nós só reconhecemos como vida nossos processos conscientes. Por isso tem gente até que não gosta de dormir. Acha que dormir é pura perda de tempo!

Só que a consciência profunda nunca adormece. Está sempre viva, desperta. E a mente serve-se durante o sono. tanto para manter ativa aquela inteligência que comanda os processos básicos do nosso organismo e sobre os quais não se pensa (o coração sabe bater, o pulmão, sabe respirar e as trocas metabó-licas ocorrem independentemente da nossa vontade), como para simbolizar novos conhecimentos, por meio daquela linguagem figurada,quetentamosentenderedecodificarnoestadodevigília:os sonhos.

Nós precisamos dormir, entrar no estado de sono, para que a mente mergulhe na consciência profunda e traga à tona o conhecimento. Porque todo o conhecimento já existe ali. Cabe a nós desvendá-lo.

Por isso mesmo é tão interessante brincar com as idéias: ao invés de mergulhar no mar em busca de tesouros antigos e formas de vida distintas, durante o sono a mente mergulha na consciência profunda e encontra também tesouros, objetos novos e antigos e formas de vida além da própria.

Isso tudo é muito assustador porque escapa ao domí-nio do ego. É como se o ego submergisse nessa consciência, dissolvendo-se nos seus contornos e precisasse se reorganizar para poder voltar. É assustador, também, porque a desestrutu-raçãodoegojáéemsiumgrandedesafio.Afinal,oegotempor função lutar para manter sua estrutura tal como é, sem se modificar,relativamenteestávelepermanente.

Ao mergulhar na consciência profunda, rumo ao desco-

Page 15: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 15 -

nhecido, o ego se dissolve, o que para alguns se assemelha a se desintegrar, morrer, sumir, não mais existir. Em algumas doenças mentais, nas quais a estrutura do ego se vê muito ameaçada, a pessoa resiste a dormir. Dormir e sonhar são entendidos como morrer, desintegrar-se. Mais do que medo de dormir, há o medo de não conseguir voltar.

Quando se sentem em pânico, com o ego ameaçado de desestruturaçãoedesestabilização,porconflitosíntimosdeor-dem emocional ou ameaças reais à integridade física, as pessoas também não conseguem dormir. Como conciliar o sono, sabendo que existe um perigo real? Levado ao esgotamento físico o corpo só adormece de cansaço.

Aoviver umconflitomuito grandeouestar sobumasériaameaça, o que cada um pode fazer consigo mesmo é distrair-se de tal formaafimdeprovocarumadormecimentonatural,ouseja, um dormir sem perceber. Porque, se a mente perceber, ela impedirá.

Para o bebê, o que some de sua vista desaparece, deixa de existir. Com o tempo, por meio da brincadeira de esconder, ele aprende que o objeto continua existindo apesar de não vê-lo mais. O mesmo ocorre com o ato de dormir. Se a pessoa não se sabe acordada, então ela teme a morte.

Por isso, quem diz ter medo da morte deveria tratar, pri-meiro, do medo de viver. O de morrer é incurável, mas ele se dissolve quando desaparece o medo da vida.

Como a morte é desconhecida, não tem nome, nem dá para explicar, faltam-nos argumentos para que a mente lógica fale das coisas da morte. Então, a mente lógica vai sempre resistir à idéia da morte. O ego não agüenta a idéia de que tudo tem um ciclo. A possibilidade de morrer mobiliza as defesas do ego, construído para ter permanência e estabilidade.

O único jeito de acabar com o medo da morte é viver em plenitude. Daí, a morte se integra à vida. E passa a ser compre-endida não, pela mente lógica, mas pela mente intuitiva.

As duas faces da mente

Existem dois tipos de funcionamento da mente em contrapo-sição: a mente lógica e a mente intuitiva. A primeira é linear e temporal (considera o antes, o durante e o depois). A Segunda é circular e atemporal. A mente lógica é analítica e direta, a intuitiva

Page 16: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 16 -

é sintética e abrangente. A primeira é penetrante; a segunda, acolhedora. A mente lógica é excludente (trabalha na base do “ou isto ou aquilo”) e processa em partes. A mente intuitiva é integrante e processa o todo.

Napresençadeumconflitoemocional,amente lógicatrava,ficabloqueada.Amenteintuitiva,não.Édaliquepodemvir as soluções para esses problemas.

Voltando aos sonhos, a simples lembrança deles já em-bute uma certa ordenação da mente lógica ou, pelo menos, uma tentativa de ordenação. Se isso às vezes facilita a compreensão doseusignificado,outrasvezesresultanumprocessoinfrutífero,pois só a mente intuitiva é capaz de lidar com elementos caóticos, não ordenáveis. O que nós chamamos de insight pode ser, então, entendido como um encontro feliz dessas duas mentes. E, daí, resulta um conhecimento de ordem superior.

Os elementos trazidos da consciência profunda para o estado de vigília aparecem de maneira desordenada, atemporal, quefogeàqualificação,portantonãopassíveldecontrole.Sóde conhecimento. O ego, que é controlador por natureza, reage, com medo de enlouquecer. Ele se sente bastante à vontade em situações passíveis de controle, mas profundamente ameaçado perante o conhecimento que advém do intuitivo, intimamente ligado ao afetivo.

Em geral, na vivência de emoções intensas, as pessoas dizem para si mesmas: “Eu estava fora de mim. Não era eu”. E o pior é que a gente acredita. Mas esta possibilidade simples-mente não existe. A gente só pode ser Eu, isto é, a gente mesma. NinguémpodeseroOutro.Porisso,éimpossívelficarforadesi. No entanto, ao ser “assaltada” por afetos e sentimentos, a pessoa tem a nítida sensação de estar perdendo o controle de si,oquesignifica,paraela,enlouquecer.

O fato é que, na intensidade das emoções ou na ausência delas, portanto dois momentos extremos de estados alterados da consciência cotidiana, as pessoas podem se deparar com um pe-daço maior daquele seu desconhecido. E, se nessas experiências altamente emocionais ou carentes de emoção, a sensação é de não ser Eu, na serenidade das emoções e dos pensamentos é que adentramos a consciência profunda e nos sentimos cada vez mais Eu. Em outras palavras, na paixão, tenho a impressão de quefiqueiforademim.Naserenidade,asensaçãoéqueestouem mim,

há pessoas tão viciadas em viver num estado de paixão

Page 17: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 17 -

que temem não ser mais elas mesmas caso permitam que seus ânimosfiquemserenados.Nãomerefiroaquemamasuacriaçãoou seu trabalho, mas a quem vive angustiado, excitado, nervoso, ruidoso e medroso, temendo alterar esse procedimento por achar que, se não for desse jeito, nada irá lhe restar. Essas pessoas ainda não sabem do seu ser.

Pela mesma razão, há pessoas acreditando que, se para-rem de beber, usar drogas, fazer sexo, ou comer compulsivamen-te, não mais conseguirão trabalhar, escrever, criar. Gente com medo de perder o vício porque atribui ao seu estado alterado de consciência a capacidade de criar. Na verdade, criar é um talento delas próprias. O vício só atrapalha.

Percebi isso enquanto me esforçava para parar de fumar. Tinhaohábitodeacenderocigarroemcircunstânciasespecífi-cas, por exemplo, quando ia apreciar um texto que acabara de escrever. Até que um dia me lamuriei: “Ah, não sei como vou conseguir fazer uma boa apreciação crítica do meu trabalho sem um cigarro nas mãos”. E tive a felicidade de ouvir de volta: “Não sabia que a sua inteligência morava na brasa do cigarro”. O absurdo me trouxe à realidade. E, com certeza, me auxiliou a parar de fumar.

Demorei algum tempo para entender o que é a consci-ência holística, como se processa a compreensão da totalidade. Descobri que, de fato, a totalidade não se compreende, apenas se sabe. A mente não consegue executar esse fenômeno de inte-gração total entre o Eu, pois sua função maior, senão a principal, é preservar a sua identidade, sua diferenciação do todo. Cada vez que houver risco de perda de individualidade, a mente reagirá através dos seus mecanismos de defesas inconscientes, isto é, não integrados à consciência. Em virtude desses processos, a pessoa pode pensar que está aberta e integrada à totalidade, quando de fato não está.

Ela se mobiliza pedindo ajuda, mas não dá a mínima condi-ção de o outro auxiliá-la. Por outro lado, quem se dispõe a ajudar não questiona se os instrumentos que estão sendo oferecidos são adequados.Dessemodo,acomunicaçãonãoflui.Podeexistiruma participação intensa, sem que haja integração.

Experiências de totalidade

Page 18: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 18 -

A grande questão é: há quem consiga a totalidade? Os maio-res passos dados em direção à cura e à autocura são resultantes de experiências de integração. Nesse caso, a totalidade deixa de ser um conceito, algo que se almeja, para se tornar a própria vivência. Certa vez, no consultório, conversava com um cliente que estava muito triste e angustiado. tinha motivos reais para isso. Eu estava consciente de não poder fazer nada além de ouvi-lo.Odesejodemudaraquelasituaçãonãoerasuficienteparatransformá-la. Simplesmente, aceitei que estivesse triste.

Num dado instante, ele desviou os olhos de mim e co-meçou a prestar atenção na espiral desenhada pela fumaça do incenso que queimava. Esqueceu-se totalmente da minha presença e abandonou-se àquela fumaça. Enquanto isso, pude observar seu rosto adquirindo uma feição de paz absoluta. Sua face ganhou brilho. Parecia que seus cabelos estavam mais dourados do que de costume. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

Até que ele sorriu para mim e disse: “Eu fui aquela fumaça. Subi para o céu com ela. E agora estou ótimo!” Este abandono foi um abandono ativo: ele abriu mão de seus pensamentos e sentimentos, inclusive do próprio contato comigo, simplesmente para ser. Não havia mais diferença entre ele e a fumaça. Ambos subiram juntos. Fiquei encantada com isso. Para mim esta foi, uma experiência de contemplação serena, que me trouxe muita alegria.

Meu cliente não se havia retirado da situação como tenta-tiva de fuga ou alienação. Pelo contrário. Ele encontrou naquele ambiente o elemento que lhe permitiu sair do estado depressivo, sem ter se esforçado para ir buscá-lo. Ele queria. Abandonou-se à vida e aconteceu. Soube aproveitar a oportunidade. Isso é uma experiência de integração.

O que permite a integração e elevação é a consciência holística, não a consciência dualística. Nesta última, nós vive-mosasdiferençaseosconflitos,istoouaquilo.Ésomentenaconsciência holística que nós ascendemos à perfeição. Aqui não há diferença entre os fenômenos. Portanto, estar iludido não tem menos qualidade do que estar consciente.

O autor do livro O Ponto de Mutação, Fritjof Kapra, utiliza uma metáfora, de sabedoria incomum, para explicar como as coisas estão todas interligadas. Estabelece uma relação íntima eunívocaentreoflocodeneveeooceano. Aparentemente,

Page 19: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 19 -

eles surgem como fenômenos isolados. Você pode encontrar neve muito distante do oceano. No entanto, tanto um como o outro fazem parte da mesma realidade. Ou melhor, são a mesma realidade.

Imagine que no seu movimento incessante o oceano che-gue à praia, molhe a areia e em determinada hora, ao se recolher, ainda reste a areia molhada, que se destaca do oceano. Logo depois, a água escoa e volta a se integrar ao oceano. Neste pro-cesso,ficaevidenteumarelaçãoíntimaentreaareiamolhadaeo oceano.

Suponha que esse oceano avance um pouco mais, ul-trapassando um banco de areia. Ao se recolher, uma parte dele ficaalireservada.Aindaassimsesabequeaquelaáguaépartedo oceano. O calor do sol faz a água evaporar e se transformar em nuvem. Aquela nuvem também é oceano, embora a relação entre eles já não seja mais tão evidente.

Carregada por uma corrente fria, a nuvem pode alcançar grandesalturasedarorigemaváriosflocosdegelo.Tudoéotodo. Mas cada parte surge de forma isolada. Quem analisa e dá conta dessas partes isoladas é a mente dualística. Para ela, existemapenasduasalternativas:ouéflocodegeloouéoceano.Sealguémdisser“flocodegeloéoceano”,podeparecermaluco.A mente holística, ao contrário, sabe tratar-se do todo. Compre-endeaafirmação,porquefuncionaporoutrosprocessos.

A verdade não pede crença. Ela é reconhecida e evidente quando a escutamos, porque já está contida em nós. O que pede crença é a ilusão. A verdade sempre foi preservada nas lendas, nos mitos, nos contos de fadas, exatamente ao contrário do que se propala, que este é um mundo de “faz de conta”.

A verdade pode ser revestida de várias roupagens que se alteram. São suas metáforas. Mas permanece válida, indepen-dentemente das histórias. Aliás, as verdades verdadeiras não mudam no tempo, só mudam no espaço.

Donde se tem que, a inteligência resulta da recuperação damemória.Eaeducaçãoésempreumprocessoreflexivo.Nin-guém educa ninguém. É a pessoa que se auto-educa, na medida em que aprende com as próprias experiências, como um ser livre para experimentar e enriquecer seu banco de memórias.

temos aí uma situação paradoxal: quanto mais educada uma pessoa, isto é, quanto mais se abre às novidades e aprende, maior é a sua lembrança do já sabido. É como se ela estivesse

Page 20: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 20 -

abrindo seus arquivos da memória para trazê-los à luz da cons-ciência. Portanto, a educação é um processo de libertar a mente dos medos, que são o único obstáculo para a aprendizagem.

A mente, por sua própria natureza, é curiosa e anseia por respostas, tanto sobre as polaridades das coisas (dualística) quanto pela sua integração e equilíbrio (holística). Ambos os processos aliviam a confusão da mente e permitem que a pessoa experimente aquilo que conhecemos como paz. Nós a geramos e aplicamos.

Fica um tanto incompreensível, aos olhos de muita gente, que pessoas bem-nascidas, bem-dotadas e com uma vida relati-vamente fácil não tenham sossego. É porque não encontraram em si a paz de espírito. Por isso, nada que lhes é externo lhes basta. A paz reside na pessoa. Não onde ela a busca, mas onde ela a põe.

A evolução da mente

quando se fala dos altos níveis que a mente pode alcançar, considera-se que o ser humano sai de um estado de indiferen-ciação e passa por vários graus de desenvolvimento, que ora refletemadualidade,oraapercepçãoholística,atotalidade.Afinalidadedesseaperfeiçoamento individualéoconhecimentodo mistério.

No entanto, não existem mistérios. O único mistério é aquilo que ainda não foi decifrado. Mesmo o passado pode tornar-se um mistério, se não tiver sido decifrado. A mente não pode conhecer o desconhecido. Mas pode saber de sua existência, porque a mente é consciente dos seus limites.

O que nós sentimos como medo do desconhecido nada mais é do que uma projeção a partir do conhecido. Ou seja, a gente projeta lá no futuro alguma experiência anterior que imagi-namos que se repetirá. E daí criamos a ilusão de temer o desco-nhecido. Na verdade, trata-se apenas do medo da repetição do conhecido. Medo de que as coisas não mudem. A gente pensa temer as mudanças, mas o horror dirige-se à estagnação.

Cada vez que surge um “desconhecido”, um vácuo de conhecimento ainda não sabido, sempre há um além que a expe-riência não alcança. Quando falamos em morte e da forma como imaginamos que viveremos depois dela, estamos tomando como referencial o que conhecemos da vida, deste lado da fronteira. Não se sabe o que vem depois. É um mistério que todos nós

Page 21: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 21 -

iremos enfrentar um dia. O eterno desconhecido. Mas,damesmaforma,nãopodemosafirmar,comcerteza,

que tudo acaba com a morte. Nós simplesmente não sabemos. A mente não sabe. Ela não pode conhecer nada além de si mesma. Para penetrar neste misterioso mundo do desconhecido, a mente tem de abdicar de si própria e se dissolver. É este seu pavor. É por isso que a mente busca conhecer o mistério e sucumbe ao medo do desconhecido.

O ego tem horror ao não saber, porque precisa controlar. A mente sábia permite que o ego pense que controla, embora tudo que existe seja a experiência, o risco.

Em parte é devido a esse medo que o ego busca o saber. É uma estrutura que, ao se defender buscando o saber, eleva a própria consciência. Do contrário, se cristalizaria na ignorância enadesconfiança,oqueprovocariaumatrasoemnossodesen-volvimento mental.

O fato é que, para penetrarmos em muitos dos mistérios da vida , nós nem precisamos da mente. Só da inteligência, que éaprópriaenergiauniversal.Ainteligênciaaquemerefirotem,nomundododualismo,diferentesconfigurações.Omaréumaexpressão dessa inteligência. O homem, a mulher, a criança, o velhosãotambémexpressõesdela.Ainteligênciaunificaetotalizatodas essas expressões. E pode, também, receber o nome de amor.

Nós não precisamos da mente para amar. Só da respira-ção. Quando inspiramos conscientemente a energia universal, inteligência ou amor, pois é tudo a mesma coisa, nós nos tornamos mais inteligentes, amorosos e criativos. Ficamos em paz.

O fenômeno do estresse, por exemplo, que impede a respira-ção serena e profunda, provoca, também, a falta de inteligência. Assim,apessoaficasujeitaacometermaiserros.Portanto,seestá estressada, a pessoa deve começar a respirar mais tranqüi-la e profundamente para recuperar o equilíbrio. É isso que nós fazemos, por exemplo, quando suspiramos.

É principalmente pela respiração profunda que entramos em contato consciente com toda essa energia universal, amorosa, que passa a nos “inspirar”. É por intermédio dela que contactamos o poder criador, que cura a própria dor da separação, que cura as ilusões. É esse sopro do Criador, ou seja, a respiração, que nos anima, que nos torna humanos.

Não é o que se pensa que constrói a realidade. Mas o

Page 22: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 22 -

que se sente sobre o que acontece. E não se pode sentir sem respirar. Por meio do movimento de inspiração e expiração, o universo cria e se recria através de nós, que o representamos.

Por intermédio da respiração, trazemos o universo para dentro de nós. O que é da esfera do divino vem ao nosso alcance no aqui-e-agora. Este é o próprio fundamento das meditações.

O poder da respiração

É por meio da respiração profunda que superamos a pola-ridade da mente dualística. Sem a respiração, que é o próprio movimento do universo, nós não galgamos níveis qualitativos superiores da nossa inteligência. Por isso, quando uma pessoa está em pânico, desesperada, a primeira providência é fazê-la respirarfundo.Docontrário,elanãopensa,ficaparalisada.Omesmo vale para quando a pessoa está eufórica.

Se quiser tratar alguém deprimido, ensine-o primeiro a respirar. Respirando bem, a pessoa também começa a conectar em si o Belo. E assim encontra uma pista em direção àquilo que chamamosdeautoconfiança,amor-próprio,vontadedeconhe-cer.Issoésuficienteparaquemelhoreaprópriaqualidadedasexperiências do dia-a-dia.

Respirando bem, nós aceitamos melhor e mais as coi-sas tais como são, descarregamos emocionalmente, limpamos a cabeça de pensamentos excedentes e alcançamos um nível mais elevado de consciência. Por isso, a inteligência depende diretamente da respiração.

Para nosso desenvolvimento mental e mesmo físi-co, basta criar a paz dentro de nós. Respirando bem, vamos atrair as experiências necessárias para aprender. Isso é tão óbvio que quando uma criança não respira direito, ao nascer, pode ter graves problemas de desenvolvimento mental. A primeira providência que se toma num acidente grave, quando há parada respiratória e sangramento, é fazer a vítima recuperar a respiração.

Respirar bem, por si só, já torna o mundo muito mais agra-dável. Ajuda as pessoas a se libertarem dos próprios medos. A uma criança assustada por um pesadelo, a mãe ensina: “Respira fundo,meufilho”.

Quando consideramos o universo e a sua essência, o importante é saber que a energia universal é inteligente. O

Page 23: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 23 -

universo como um todo contém essa energia que nutre a vida e, então, o todo da vida partilha dessa mesma substância essencial. À organização harmônica desse todo chamamos amor.

A harmonia, porém, não é o único modo de o universo se apresentar. Quando há uma dissonância nessa harmonia, que perturba os nossos sentidos e nossos próprios sentimentos, pela introdução de uma experiência que vai além do amor e que muitas vezes chamamos de mistério, então estamos no mundo da verdade.

Poderíamos dizer, então, que o mundo do amor é aquela experiência harmônica de tranqüilidade e quietude. E o mundo da verdade é o mundo do espantoso, daquilo que é para ser reconhecido. Ambos os mundos são igualmente inteligentes.

No limite da nossa evolução, a consciência nos permite viver como uma coisa única e indissolúvel tanto a harmonia quanto a desarmonia, tanto o já conhecido quanto o misterioso. O amor e a verdade passam a ser uma coisa só.

A forma e a experiência A vivência da verdade é sempre única e sempre a mesma.

É a própria renovação, ou revivescência. Já a vivência do amor apresenta-se de duas maneiras: pela forma e pela experiência, ou seja, matéria e espírito. Portanto, forma e experiência equivalem a matéria e espírito.

Antes de encarnar, a pessoa é experiência. No nascimento trazemos o mundo da verdade e do amor para o plano da matéria. Para isso, nos foram dados um corpo mental e um corpo emocio-nal, além do corpo físico. Na verdade, todos esses corpos são expressões de um único corpo, que só parece diferente quando é percebido pela mente dualística.

Por uma questão de organização desse próprio dualis-mo,afirmamosqueasemoçõesnospermitemaproximidadedoespiritual. Em outras palavras, dizemos que o corpo físico está mais ligado às coisas da matéria, e o emocional, às coisas do espírito.

habitam o corpo emocional tanto a capacidade de se emocionar, quanto a de sentir. Mas há uma distinção importante entre estas duas manifestações. As emoções são mais frágeis e referem-se a reações que uma pessoa tem perante um estímulo,

Page 24: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 24 -

quase sempre externo. Por exemplo, quando alguém é destra-tado, sente raiva. Na iminência de um perigo, sente medo.

Já os sentimentos têm uma permanência no tempo e uma estabilidade bem mais prolongada, derivando muito mais do mundo interior da pessoa. Quando destratada, ela não se abala. Sente tranqüilidade e segurança. Ou, assim que passa um perigo, experimenta um sentimento de gratidão por estar viva.

É claro que as emoções também podem brotar de algum estímulo interno. há pessoas viciadas em se emocionar, que nutrem tristeza ou raiva imprópria (exacerbada) dentro de si, o que lhes acarreta um pseudo-sentimento, de importância, mas que no fundo tem a função de fazê-las se sentir vivas.

Outros,porfaltadeprecaução,podemidentificar-setãoprofundamente com as dores e alegrias alheias que, além de se desgastar, quase deixam de ter aquilo que chamamos de vida própria. tomam para si as dores do mundo, ou condicionam a sua própria satisfação à satisfação do outro. É o típico caso da mãe que não consegue estar bem se houver algum problema comumfilho,comosenãotivessedireitoàfelicidadeseofilhonão estiver feliz.

Não quero radicalizar. Quando se trata da integridade de quem a gente ama, o sentimento verdadeiro é a solidariedade, capaz de fazer com que as pessoas assumam sacrifícios ou en-contrem em si forças que nunca imaginavam possuir.

Écomum,eatédesejado,quefiquemosabaladosquandoalguém de nossa intimidade não está bem. Isso é compaixão e faz com que auxiliemos o outro naquilo que precisa, no limite daquilo que pode ou deseja receber de nós. Algo muito diferente de tomar as dores do outro e vivê-las em seu lugar.

Entre casais, é freqüente, por exemplo, que um deles seja uma pessoa tranqüila, contida, enquanto o outro se mostra explosivo, raivoso. Quando esse casal se separa, os verdadei-ros temperamentos podem surgir. E, não raramente, o que era serenotendeaficaragitadoeoqueeraexplosivopodeencontrartranqüilidade.

Portanto, uma pessoa movida por emoção corre o risco de “se meter onde não é chamada” e, mesmo, ter a sensação de viver a vida mais intensamente. Já quem é movido pelos sen-timentos possui maior força de vontade e permanece mais em contato consigo mesmo.

Page 25: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 25 -

A nobre tarefa dos pensamentos

Ambos os processos, sentimentos e emoções, fazem parte de um corpo único, o emocional, por isso dizemos que estão mais próximos do espiritual. Por seu intermédio transporta-se o espiritual para o mental e, com o corpo mental, traduzimos os sentimentos para o corpo físico. Em outras palavras, o corpo emocional registra os sentimentos do espírito.

O corpo emocional os apanha, exprime-os em pensamen-tos e os pensamentos proferidos materializam aquilo que dizemos ser espiritual.

Seja emoção, seja sentimento, é na quietude que ouvimos o corpo emocional e somos capazes de traduzi-lo em pensamen-to. É a partir daí que o sentimento espiritual torna-se matéria, especialmente quando se fala sobre ele. É por isso que, para haver paz, deve haver muita conversação sobre a própria paz.

Com freqüência, enganamo-nos, também, com relação ao sentimento. Nós o traduzimos pelo medo, raiva ou tristeza, em vez de realidade. há pessoas que nem sabem discernir com clareza aquilo que pensam e sentem. Sem se dar conta, ouvem a pergunta num nível, mas respondem no outro. A gente per-gunta o que ela sente. Ela responde o que pensa, e vice-versa. Por exemplo: “O que você achou disso?” “Ah, eu detestei!” Ou: “O que você está sentindo agora?” “Que ela não devia ter feito aquilo”.

Às vezes, há contradição entre o que se pensa e o que se sente. Além disso, pode-se ainda desenvolver sentimentos sobre o que se pensa ou se sente. Por exemplo, ter vergonha de sentir desejoousentirraivadesimesmoporpensarquedeveriaficarcalmo num momento em que se está furioso.

O pensamento é, portanto, uma ação através da qual se registra um experiência, seja do sentimento, seja dos sentidos. Mas nós não somos aquilo que pensamos. um pensamento, verdadeiramente,éumareflexãodaexperiência.

Bebês não pensam, são livres. Entendem tudo. Ou me-lhor, quase tudo, exceto o plano físico, que é muito denso. Levam bastante tempo para compreender e organizar para si mesmos o que é o seu corpinho. Por meio de várias tentativas, acabam programando a mente, de modo que, no futuro, cada um se tornará maisoumenosumreflexodosseuspensamentosprogramadosquando era bebê.

Page 26: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 26 -

Ao nascer, a criança tem a capacidade e a necessidade, de organizar sua mente dualísticamente. Porém, sua primeira compreensão do mundo é global, direta, intuitiva e instantânea. Com o tempo, ela adquirirá a capacidade de pensar sobre as experiências vividas e formará a sua visão de mundo, além da visão de si mesma. Se essas visões forem favoráveis, ela achará que o mundo é bom.

É importante compreender que os pensamentos movem-se através damente. Simplesmente, refletindo experiências.Isso quer dizer que, se não gostamos deles, podemos mudá-los. Cada pessoa tem a sua própria experiência, na qual baseará sua noção do Eu e do mundo. Logo, experiência não se transmite, se propicia.

A mesma experiência desperta, em alguns, medo, em outros, prazer. Isso depende, essencialmente, dos programas que nos foram colocados na mente em tenra infância.

A ordem é esta: vivencia-se uma experiência, dá-se um nome (ou um conjunto de nomes) a ela, que se torna um concei-to e é arquivada na memória. Junto, associam-se as emoções relativas àquela experiência, o que quer dizer que não existe só uma única forma, ou a melhor forma, de vivenciá-la.

Isso nos dá a liberdade de reescrever, hoje, o nosso passado. Reinterpretar, repensar nas mesmas experiências e deixar de ressenti-las. Criar novos sentimentos e pensamentos sobre as mesmasvivências.Éapartirdessaflexibilizaçãodamentequese superam traumas e surgem novas alternativas.

Dado que um pensamento não é verdade pura, que ape-nasrefleteumângulodaverdade,quanto mais experiências se tiver em torno de um mesmo fato, mais se conseguirá enxergar sobre ele. É isso que leva os jovens a lutar pelo direito de viver suas próprias experiências, em que pesem os conselhos dos mais velhos. Viver para saber.

A conquista da sabedoria

Tudo isso se assenta na alma e se torna sabedoria, ilumina-ção. Ou seja, tem-se tanta experiência que não mais se precisa das emoções e dos pensamentos para se conhecer um fato. Isto é sabedoria. um estado através do qual a gente se move além das polaridades. É aqui que nos tornamos indivíduos.

A primeira experiência de individuação vem acompanhada

Page 27: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 27 -

por sentimentos de solidão. Isto é uma ilusão necessária para que comece a ocorrer a individuação, sem a qual não se alcança aunificação,aintegraçãodaspolaridadesdamentedualística.

Estamentenãoécapazdeentenderaunificação.Elaécons-truída para ajudar a pessoa a entender. Mas a pessoa não é a sua mente, como não é o seu braço, o seu útero, seus cabelos ou a falta de qualquer uma dessas partes.

A sabedoria é o entendimento em essência. uma função da alma, que carrega a memória de eventos de centenas de mi-lhares de vidas. Captamos isso pela intuição. Assim, os erros não importam na nossa evolução. O que importa é o que passamos a enxergar com a experiência. É isso que levamos conosco. Os erros somente acontecem para que possamos aprender.

No fundo, nem existe o erro, que é só um conceito. A única coisa que existe é a experiência. Quando não alcançamos o objetivo almejado, chamamos a isso de erro. Mas do ponto de vista vivencial chegamos a uma resposta, ainda que diferente da esperada. A experiência é sempre positiva, mesmo quando envolve frustração ou dor.

É em função disso que, com o passar do tempo, alguma coisa que a princípio parece ruim, revela-se uma coisa boa, pois nos traz conhecimentos. O inverso também é verdadeiro. Às vezes, o que parece bom revela-se doloroso. Mas é sempre positivo.

Se olharmos para uma pessoa ainda bem criança e ad-mitirmosqueéumserdivino,desabedoriainfinita,assimserá.O seu destino é somente uma estrada que ela terá de trilhar de acordo com as experiências que puder, desejar ou conseguir vivenciar.

Nesta jornada, ela se utiliza de energias físicas, mentais e emocionais, que estão à nossa disposição o tempo todo. há pessoas que agem mais com o corpo, outras, com a mente, outras, ainda, com os sentimentos. Não são escolhas do grau evolutivo. uma não é melhor que a outra.

São as possíveis estradas da alma, e a alma haverá de trilhar todas elas. Pois, aqui estamos para viver experiências de todo o tipo, que haverão de resultar na plenitude do nosso espírito. Até que não precisemos mais das experiências. Até que não necessitemos mais da matéria.

Mas, por enquanto, precisamos da matéria e nascemos em carne e osso, ou seja, uma pessoa. todos somos pessoas. Alguns de nós se tornam gente, a quem chamamos espirituali-

Page 28: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 28 -

zadas. Nada mais do que pessoas desprendidas, humanizadas. Bondosas,serenaseengraçadas.Dignas,confiáveis,valorosas.Simplesesurpreendentes.Quentinhas,macias,firmes,resisten-tes. Sofridas. Livres. Pedacinhos de Deus em forma de gente.

Ao longo dessa trilha, de pessoa à gente, tanto a mente intuitiva, quanto a dualística devem percorrer e superar vários níveis para sua plena evolução. Os quatro primeiros níveis da consciência ancoram-na no plano físico. O último nível é o plano da mais pura espiritualidade, integrada à corporeidade. Ao todo são doze níveis.

Page 29: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 29 -

II.OS DOZE NÍvEIS PARA A EvOlUÇÃO MENTAl

Primeiro nível: o começo da consciência pura

A identidade pessoal ainda não existe neste nível porque a consciência está em unidade com a vida como um todo. Seu símboloéozero,oquenãosignifica,deformaalguma,ausênciade coisas. Não é uma nulidade. É uma totalidade. E pode conter, inclusive,onada.Nãotemnomepróprioeétambémoinfinitoque se volta para si próprio.

O caos. Não há ordem,mas harmonia unificada. Arespiração universal da vida. Não se trata de bagunça. O caos original é aquele estado de ser que integra, tanto a ordem, quanto a desordem, o tudo e o nada em experiência indiferenciada, pois não há conceito. tudo pode ser, como não ser. A consciência é o que é e o que não é.

Neste nível, não existe nenhum desejo senão aquilo que está acontecendo. É o louco do tarô, feliz com qualquer coisa que se passa. Aceita, simplesmente.

É uma consciência tremendamente bela. Não há diferen-ciação, mas todas as possibilidades de semelhanças e diferenças. “ÉosoprodoCriador,éumafigurarepletadeamor”,comobemdisse o compositor Gonzaguinha.

Quando nascemos, estamos neste primeiro nível de cons-ciência. A partir daí, entramos no plano tridimensional e nos é dada uma mente para organizar a personalidade. No entanto, em alguns momentos da vida podemos sempre retornar a ele.

A consciência evolui, o que não a impede de voltar a níveis anteriores. Ela faz estes passeios para trás porque, diante de certas experiências, precisamos recorrer a níveis primeiros de organização para o aprendizado. É deste zero inicial, inominável, que derivam todas as possibilidades de vida, nascimento e morte. Aqui, se pudéssemos, diríamos “eu sou todo mundo”.

Segundo nível: a consciência de si mesmo

A natureza da mente neste nível é explorada em termos de

Page 30: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 30 -

associações. É o que permite ao pensador dar nome àquilo que encontra. Aí começam as polaridades, embora ainda não se te-nhacapacidadepararefletirsobreelas.Podemosdescobri-lassomente através das experiências. E nomeá-las depois disso.

Ao ver o fogo, por exemplo, a criança pode achá-lo bonito, até agradável. Se tentar tocá-lo, estende a mão e se queima. um objeto positivo se associa, então, a uma experiência negativa. Nós precisamos dessas experiências de polaridade. Não adianta a mãe dizer para não tocar. A criança não entende o que é perigo. Ela só entende o que vive.Esta é a essência do ensinar: proporcionar experiências. todas elas.

Muitos dos nossos relacionamentos significativos sãocomo tocar o fogo. Envolvem polaridades como atração e repulsa, interesse e desdém. E, ora vemos uma vertente de um fenômeno, ora vemos outra vertente do mesmo fenômeno.

Se nascer e amar, nas primeiras experiências, associam-se a experiências agradáveis, então desenvolvemos uma visão e uma crença de que as experiências vividas são boas e ne-cessárias. E entendemos sempre o nascimento e o amor como positivos. Senão, podemos formar uma visão do mundo como algoterrível.Ounosconsiderarmospessoasinsignificantes,depoucovalor.Muitosdenósoscilameoutrosficamlimitadosnoseu desenvolvimento.

É pela rigidez dos orientadores, ou a mesmice das vivên-cias, que se impede uma criança de viver experiências necessárias para sua evolução.

Quandoestamosprontospararefletirsobreasassocia-çõesquefizemos,paradiscerniraspolaridadesdeummesmofenômeno , é chegada a hora de nos movermos para o terceiro nível.

Terceiro nível: a consciência da comunicação

Como se entrássemos num salão de espelhos, a consciência começa a discernir entre as várias partes e a estrutura do próprio pensamento. tudo tem o efeito de espelhamento. As coisas são vistassobaformadereflexos.Inclusiveaspessoas.Elasespe-lhamparanósaquiloqueenxergamoseagentesevêrefletidanelas. As associações produzidas no segundo patamar revelam as pessoas que escolhemos para nos relacionar no terceiro.

Neste nível estamos muito preocupados conosco. As pes-soas com as quais nos relacionamos ajudam-nos a avaliar quem

Page 31: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 31 -

somos. Conversamos com alguém para entender melhor a nós mesmos. uma criança começará a se ver segundo os olhos de seus pais e segundo o que ela deseja ver nesses olhos.

Alguns já começam, aqui, a refletir conscientemente.Porém,refletemoreflexo, infinitamente. Quandoenxergamosa nossa beleza nos olhos dos outros, onde quer que olhemos, vemosapenasnósmesmos.Falamossobreafinidadeseafetosou deparamos com espelhos críticos, negativos.

Háespelhosquedistorcemaverdadeerefletemilusões.Outros mostram a verdade. Isso não acontece para confundir a mente, mas para criar e treinar o discernimento.

Osespelhosquerefletemsomenteaverdadenãocon-denam, nem julgam, nem elogiam, só mostram com clareza. Esse é o hall de entrada da mente, que permite vivenciar o valor especial de ser alguém especial, embora especial mesmo seja a possibilidade de perceber que tudo é especial.

Alguns espelhos deprimem, outros exaltam a mente. Agradável ou desagradável, é preciso olhar para todos eles a fimdediscernireentenderopotencialdamenteedosseuspen-samentos. E, daí, ganhar o entendimento mais profundo do que somos.

O narcisismo é um início da percepção da beleza de nós mesmos no todo. Os relacionamentos são importantes para que enxerguemos mais e mais a nós mesmos nos nossos aspectos, tanto positivos como negativos. todos os relacionamentos são espelhos de nós mesmos.

Aqui fazemos uma nova pergunta: qual é o valor de manter e energizar um determinado relacionamento ou outro, ou ainda outro, com todas as suas polaridades, confortos e desconfortos? É porque a mente busca a verdade. Só que a busca como se estivesse lá longe, algo que será descoberto um dia.

No entanto, a verdade é o momento. A verdade é aquilo que acontece. Ela não existe no futuro ou no passado. Não é o que gostaríamos de ver. Mas o que vemos na nossa experiência, naquele momento.

Paraenxergar,procuramossempre refletoresquenos“contam” quem somos. Precisamos ouvi-los. Quando somos capazesdeatrairrefletoresquenospermitemidentificaraspartesnegativas de nós mesmos, também podemos notar as distorções dos espelhos . E tudo isso é parte da aquisição da consciência. Não há incompatibilidades. Só distorções.

Page 32: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 32 -

Quandoestamosdistorcidos,surgemdificuldades,poisnão é fácil apreciarmos um espelho mais verdadeiro, que corrija nossa imagem. Por isso é bom duvidar e questionar os nossos própriosreflexos.Nãotertantacertezaassimdaquiloquevemos.Porque neste nível não é possível ter certeza de nada. tudo pode ser ilusão. A verdade é somente o sentimento que se sente. O reflexonãoéarealidade.

Não há um espelhamento ideal. todos são necessários. E os que nos irritam são provavelmente aqueles que mais nos ensinam. O bonito e o feio são ilusórios, mas importantes para o discernimento. Para que reconheçamos o divino em cada re-flexo.

A autopercepção consciente é justamente a capacidade de enxergar o divino em cada reflexo. Como se déssemos um passo para fora de nós mesmos, procurando nos ver como os outros nos vêem. Este passo vai além daquilo que pensamos e refletimosquaseautomaticamenteotempotodo.Sóapartirdeleé que podemos saber mais sobre nós mesmos.

Daí, passamos a olhar para as nossas experiências “atra-vés dos olhos dos outros”. É um procedimento desapegado que objetiva aquilo que se vê. E é exatamente aqui que começamos a ter o controle das nossas mentes. Contudo, o entendimento mais profundo é encontrado no quarto nível.

Quando elevarmos as nossas percepções para o nível superior, todas as criações, todas as construções que até então fizemosaindaestarãoplenasdedistorções.Sóentãoadquiri-remos uma certa maestria para distinguir entre o que é real e o que está distorcido.

há medo, muito medo de entrarmos em contato com certosreflexos.Éporissoqueprecisamosobtercontrolesobreosnossossentimentoseaprenderaolhardefrenteosreflexos,sabendo que o medo é mais uma distorção que impede a auto-consciência. O medo somente nos avisa que ainda não temos maestria sobre uma dada situação.

As pessoas procuram não mudar, com o objetivo de manter um certo equilíbrio e evitar o medo. Mas, dessa forma, também não adquirem maestria. Os que a buscam são mais corajosos. Mergulham nos registros acáxicos. Gravados na nossa mente mais profunda, são os registros da história da humanidade, con-tendo passado, presente e futuro, acessíveis a qualquer um de nós através da meditação e da percepção consciente. A mente

Page 33: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 33 -

visita este registro durante o sono e pode trazer alguns conheci-mentos à mente consciente na forma de sonhos, mensagens ou inspirações.

No entanto, nem os mais corajosos deixam de ter medo. talvez procurem tanto porque também são muito medrosos e buscam o conhecimento como uma forma de se libertar do medo. Dessa forma, podemos tomar conhecimento dos eventos principais da vida em também chegar às origens daquilo que nos causou tanto temor. Ao ousarmos encarar o medo, começamos a nos tornar destemidos.

O que faz a diferença é o bom humor. Portanto, rir do medo torna a experiência mais leve e divertida. Perante dis-torções, simplesmente sorria e vá em frente. E, caso se sinta paralisado, medite.

Quarto nível: a construção lógica da mente

Énestenívelqueseconfiguramosprocessoslógicos,espe-cialmente no que se refere a experiências passadas. tornamo-nos, então, capazes de enxergar o nosso próprio envolvimento com um sistema de relações. É quando a criança se dá conta de que, além de pai e mãe, há uma relação dela com cada um deles, outra entre os pais e todos, em conjunto, formam uma família. A criança se percebe como integrante desse núcleo. tal percepção é estruturada a partir de uma base lógica.

Este é, também, o ponto da observação do relacionamen-to. É a isso que chamamos de entender. tornar lógico, transmitir conceitos claros. trata-se do próprio processo de construção. A artedefilosofarnascenesteníveldeconstruçãológicadamente.Nele, funciona a escrita. Escrever alivia e faz bem porque é uma estruturação lógica de pensamentos e sentimentos. Ao escrever tornamos as relações lógicas e materiais.

Aqui estamos refletindo claramente umponto sobre ooutro, construindo outros pontos de lógica sobre uma estrutura e tornando o conhecimento mais completo. É um tipo de raciocínio cujos elementos são de base racional.

há situações em que se raciocina com base em elementos emocionais. Por exemplo, quando sentimos muita raiva de al-guém ou de alguma coisa, e passamos a buscar argumentos que alimentamaraivaoujustificamumaatitude.Quandodizemos“vamosesfriaracabeça”,significaqueestamostrazendoesseraciocínio de base emocional para o raciocínio de base racional.

Page 34: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 34 -

Ambos têm a sua lógica. Este é apenas o começo da estruturação da mente: uma

busca de organização para os relacionamentos já vividos. A mente cria de acordo com sua capacidade de discernir com clareza. Os relacionamentoscomeçamaserdefinidoscommuitocuidadoe,pouco a pouco, aprendemos a concordar sobre conceitos. Até que os pensamentos se tornem sólidos, consistentes. Até que a pessoafirmeseusprópriosconceitos.

Isso não quer dizer que já estamos construindo a realida-de, pois, a partir de qualquer crença se pode construir uma lógica inteira sem fundamento na realidade (delírio).

O desmoronamento dessa construção chama-se desilu-são. Portanto, esse processo é inevitável. Vamos questionar tudo até enxergarmos com clareza. Somente a partir da aprendizagem dessamaneiralógicadepensaréqueganhamosdistânciasufi-ciente para discernir entre o que é verdadeiro e o que não é, entre o real e as versões construídas com base nele, a realidade.

Apenas um escrito é verdadeiro: aquele que a gente pro-duziu e ainda não leu. É o livro do coração, o livro da própria verdade, que se escreve enquanto se vive e se recria. A verdade está na alma. É o campo energético que carregamos conosco e só podemos ver e ouvir através do coração, que chamamos olhar e voz da sabedoria.

Neste quarto nível ainda não há paz, porque todas as pes-soastêmosseusconceitoslógicosqueafirmamseramaisrealdas realidades. Esta confrontação também não é a realidade.

O que se aprende é a percepção de que tudo o que se leva à consciência é aquilo que se aprende. Adquire-se a noção da própria aprendizagem. Começamos a ter certeza de que a única coisa que levamos conosco, quando morremos, é o que apren-demos. Nada, portanto, de material.

A verdade é simples. Se olharmos para livros, obras de arte, imagens, sentimentos, relações, somente com a mente racional, não conseguiremos ver nada. Sem a intuição, não en-tendemos nada. Precisamos comparar o que vemos logicamente, com o que enxergamos através da sabedoria, intuitivamente. Então, alcançaremos o quinto nível.

Quinto nível: a consciência da intuição

O maior ganho da consciência neste nível é poder enxergar

Page 35: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 35 -

além. Contudo, este além não está longe, mas aqui. A intuição afloranaturalmente,comoseestivessesempredentrodenós.E,defato,esteve.Éelaquepermiteidentificarnovosaspectosdeuma mesma realidade que está sendo vivida no presente.

O universo onde vivemos e do qual somos parte é vivo, é vida. tudo são porções do ser. Células dentro do corpo do uni-verso. As pessoas são porções desse ser vivo que é o universo. Assim também as árvores, os mares, as pedras, os planetas... SãotodasexpressõesmateriaisinfinitasdoUniversocomoumtodo.

Ocorpofísicoéumreflexodessecorpouniversal.Metafo-ricamente falando, as células do nosso corpo podem ser diferen-tes e exercer funções distintas, mas estão todas em comunicação. Por isso é que “o remédio sabe onde ir para fazer efeito”. Num corpo saudável, não há guerra. todas as células trabalham em conjunto, trocando informações.

No que diz respeito à mente, essa comunicação é a intui-ção. O próprio princípio criativo. A intuição é uma nova vibração, tanto na mente como no corpo físico, que faz com que a gente se sinta mais leve.

Aqui, neste nível, a espontaneidade começa a fluir enos tornamos descontraídos e até mais divertidos. Passamos a apreciar as diferenças. As explicações racionais tornam-se en-graçadas. Lembra-se daqueles joguinhos da idade dos porquês? Apessoacontactasuasreflexõesinteriorese,aoescutardesimesma as racionalizações que fez a respeito, diverte-se brincando com as idéias. Alcançamos, então, uma nova dimensão de prazer. Brincar de pensar, brincar de relacionar.

No quinto nível a pessoa torna-se menos preocupada com a realidade. É como se nem ligasse mais para ela. O prazer não é provar que está certo ou errado, que é feio ou bonito, mas sim de se exprimir através de ilimitadas possibilidades. Ela brinca até de sentir e isso pode ser inebriante. Colocamos mais cores na vida e acrescentamos poesia.

trata-se do coroamento da lógica. Com esse processo de colorir a vida, simplesmente acrescentamos alegria a ela. A alegria da criação. E, então, entramos em contato com o belo. E sabemos que forma bela, é aquela que nos faz mais livre para criar.

A obra de arte suscita em nós a capacidade de entrar em contato com as nossas próprias fontes de criação interiores.

Page 36: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 36 -

É como se essa forma bela, ao ser reconhecida como tal, nos conduzisse à liberdade de ser muito mais do que somos. Então, pensamos, sentimos e percebemos, nuances delicadas, sutis ou fortes, que sempre estiveram presentes em nós mesmos ou ao nosso redor, mas das quais nunca estivemos antes tão conscien-tes.

A cor tem, também, a função de diferenciar as experi-ências. tanto isso é verdade que estruturas rígidas e pessoas manipula-doras obrigam as demais a se vestir de um mesmo jeito e de uma cor única. Embora haja uma necessidade lógica de unidade, não devemos confundi-la com uniformidade. Entre-tanto, também é necessário experimentar a uniformização para abandoná-la, conscientemente, em direção à individualização.

Antes desse nível de consciência tão colorido, o amor é apenas uma idéia. A partir dele, entendemos que as pessoas cometem milhares de erros por não viver o amor. tornamo-nos capazes de perdoar.

Por meio da intuição damos vazão ao amor, à nossa capacidade de contactar polaridades de uma forma criadora. A nossaimaginaçãoeoquerefletimossobreaspessoaspassama se impregnar da energia do amor e a corrigir distorções.

Na verdade, é só neste nível que surge a própria imaginação, que permite à criação assumir um novo propósito e desfrutar a ale-gria da criação. Contactamos o que é divino em nós mesmos.

O humor soma-se à construção lógica do nível anterior e passamos a poder rir de nós mesmos. Isto tem um forte poder curativo.

Neste nível, também cometemos acidentes, erros, equí-vocos,quenemsempresãodestrutivos,poisosignificadodoengano é reconsiderado. O espírito se eleva, inclusive, com os erros. E a dimensão espiritual é acrescentada à consciência. A mente desfruta a espontaneidade.

Ao iniciar um relacionamento com outra pessoa, a partir destenível,temosasensaçãodeflutuareimprimimosatudoqueacontece uma natureza cheia de encantamento. Encantar-se com alguém não é lógico. É, simplesmente, criativo. Leva-nos a outros entendimentosesignificados.Permite-nosdesfrutaronovosemmedo.

No quinto nível, a pessoa passa a ser guiada pelo seu Eu interior em direção à verdade. O espírito, acrescentado à lógica, ancora a nossa consciência superior. Imaginar, brincar, desfrutar,

Page 37: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 37 -

colorir,fluircomespontaneidade,perceberagraçadavidanosdesencaixes e acrescentar humor às experiências, dão maior dimensão à consciência. Assim, esta se eleva e liberta a mente do nível puramente lógico.

Porisso,aosolicitarqueumapessoareflitacomjustiçasobre uma determinada decisão, pedimos que “coloque a mão na consciência”, e não simplesmente na mente, que ainda não está totalmente liberta. Desse modo, com a mão na consciência, o universo passa a garantir maior abundância. Entramos nas experiências pelo coração e tudo se torna possível.

A chave para esta libertação é a educação. uma edu-cação que não exclui, mas integra, que reconcilia diferenças e polaridades. Que faz a ilusão desaparecer sem dor.

Precisamostranspassaromundoilusóriodosconflitosenos reconciliar, pois este é o caminho exclusivo da liberdade.

Sexto nível: o princípio criativo ao modo racional Este nível está ligado aos pensamentos racionais, mecânicos,

que, modernamente, originaram toda a ciência da computação. Aqui, o princípio criativo é experienciado por meio de padrões lógicos. Começamos a entender e a criar a própria criatividade. É o princípio da inventividade. um novo olhar para dentro, como um entendimento racional sobre questões da arte, da criação e mesmo do romance.

A palavra-chave é introspecção, processo que leva à autopercepção consciente. Ao olhar para dentro, a pessoa descobre, não só aquilo que está registrado no seu íntimo, mas também a si própria, o que lhe permite uma análise e avaliação crítica de si mesma. trata-se, basicamente, de um movimento de aprendizagem sobre si próprio. E sobre a natureza das questões espirituais que se expressam materialmente.

Fazemos um exame lógico-racional daquilo que chama-mos criatividade. O humor, a brincadeira e o prazer são compre-endidos e recriados da mesma forma, racional e logicamente. A pessoa descobre novas leis e se aperfeiçoa. Como que se recria. Esta nova lógica inclui a intuição e os princípios criativos.

A mente começa a olhar interdimensionalmente para dentro do próprio ser. Novas realidades apresentam-se de modo complexo e articulado. Acontece, outra vez, uma espécie de reflexão,àsemelhançadosjogosdeespelhosdoterceironível.Porém, agora, as bases são muito mais sutis.

Page 38: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 38 -

Aqui, relacionamos o mundo interior com o mundo exte-rior, num movimento de ganho de consciência interdimensional. Apartirdestefluxo,adquirimosacapacidadedenosmoverdanossa alma para a alma do outro.

uma nova condição de relacionamento humano organiza-se: a doação. Ou, em outras palavras, a capacidade de aceitar a liberdade que as outras pessoas têm de se exprimir do jeito que são.

Mais do que o que cada um faz, o que passa a importar é o foco da atenção em relação ao que se faz. Por exemplo, deixamos de nos impressionar com a raiva de uma pessoa para nos ligarmos ao seu profundo sentimento de amor, contrariado quando estamos errados.

Antesdosextonível,reagimosàagressividade,ficandobravos também, assustados ou apenas nos defendendo. A partir deste estágio, aprendemos que há algo mais importante do que aquela forma agressiva de se exprimir. O que importa é a sua mensagem de amor. Discernimos com clareza quando alguém está bravo com a gente ou com raiva da gente.

Na raiva, a intenção é se defender ou agredir. Na braveza, a intenção única é que a gente se corrija e faça o que tem de ser feito. Não existe o propósito de desmerecer ninguém, nem mesmo o nosso erro. Apesar da aparente cara feia, conseguimos perceber as palavras de amor.

As pessoas que trabalham seu interior e se elevam para este sexto nível estão, de fato, interessadas em olhar para dentro de si e conhecer o que acontece em seu íntimo. Descobrir outros princípios e conceitos além do próprio princípio do prazer.

Já no quinto nível, entramos em contato com um prazer imenso.Oprazerdedissolverconflitos,oprazerdareconciliação,da intimidade, da criatividade e da própria liberdade. Muita gente se satisfaz com tudo isso.

há aqueles, porém, que se tornam conscientes de algo ainda mais profundo, além de seu íntimo e do seu próprio prazer. Vão em direção ao subconsciente, ao mar mais profundo de si mesmos, que dá acesso ao inconsciente comum à toda humani-dade.

Já se observa este tipo de força naqueles sonhos em que a pessoa se vê ameaçada por um maremoto, sitiada ou com águas invadindo sua casa, ilhada por um grande mar ameaçador. Separada dos amigos, tem de vencer obstáculos, nadar contra a

Page 39: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 39 -

correnteza, com águas que sobem torrencialmente do subterrâ-neo.

São imagens desse mar de criatividade que prenunciam uma nova forma de ordem. Esta ordem é o conhecimento de que não estamos sozinhos. Somos todos partes de um todo. E novas formas de conhecimento e de convivência se impõem, independentemente da nossa vontade. Elas surgem como fruto da própria evolução.

Quando estamos na iminência de uma grande decisão ou já envolvidos numa aventura emocional, ainda que não nos tenhamosdado conta dissoe dasmodificaçõesque se farãonecessárias, este mar que se apresenta nos sonhos já pode ser um indicativo de inevitáveis mudanças de ordem superior, que estão acontecendo ou por acontecer. É a vida que nos pede essa transformação.

Sétimo nível: a ruptura com a rigidez do passado

Este é um nível um tanto doloroso, de confusão. A orga-nização e as regras anteriores terão de ser rompidas. O novo espírito precisa ser livre, guiado apenas pelas leis do universo, pela compaixão e pelo amor. torna-se natural o desejo de que-brar asnormasque fixame cristalizamopassado, fazendo-oressurgir sempre da mesma forma no presente e impedindo a experiência do novo.

Aqueles que dizem: “Eu sou assim, não adianta que não vou mais mudar”, insistindo em permanecer como são, serão arduamente testados por experiências de vida que vão exigir mudanças. Caso não se concedam tais mudanças, sofrerão muito em virtude da resistência ao novo e do apego ao passado cristalizado.

Aosedefinir“Eusouassim”,apessoapodeestarcertadeumacoisa:elaterádeseredefinir,poisnãofomosfeitosparaficarparados, mas para nos expandir. O poder pelo qual ganhamos entendimento e expansão é o poder do amor.

Neste nível, compartilhamos as leis cósmicas e é a partir deste referencial que passamos a mudar as leis menores criadas pelos homens. Surgem novos princípios e valores que vão se confrontar, aceitar ou rejeitar aqueles vigentes no sexto nível.

Como o sétimo nível rege os relacionamentos e sua harmonia, ele estabelece direitos territoriais e confronta limites.

Page 40: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 40 -

Estes territórios e fronteiras existem entre os homens, as famílias, entre grupos e nações, como separações aparentemente naturais e desejáveis. Mas como estas divisões prestam-se, unicamente, ao conhecimento, uma vez conhecido, não há mais necessidade de manter a distância.

A palavra-chave é sentar e dialogar. Registrar as dife-renças e dar liberdade a elas e a todo passado que possibilitou as divergências. A discussão conjunta abre áreas até então bloqueadas. Os debates envolvem o reexame e a observação profunda dos pensamentos e polaridades, dos processos de atração e repulsa e, no tempo, ajudam a descobrir uma forma dereconciliação.Novasalternativasparaosconflitosacabamdissolvendoosprópriosconflitos.

Para chegar a esse ponto, é preciso acontecer muito confronto interior. Serão necessárias mudanças mentais no nível das idéias e das emoções. Elas vão ocorrer em profusão, fora do controle da mente. É por isso que o sétimo nível está relacionado ao místico, à ruptura com aquilo que é mundano e à abertura em relação ao espiritual.

A liberdade conquistada não é mais afirmação de si ou do próprio ego, mas origina-se de um profundo entendimento entre pessoas iguais e diferentes. Portanto, está garantida a liberdade de pensar, de se expressar, de se movimentar. Não há outros freios,anãoserosdaconsciência.Evaleapenaconfiarneles,pois são os limites naturais dados pela compaixão e pelo amor.

Não se trata mais do certo e do errado, do feio e do bonito. Éporissoqueficamosconfusos.Todososconceitosfamiliaressão derrubados. Se eles nos acompanharam até então foi por uma necessidade de organização do mundo dualístico e de nos atermos ao já conhecido. uma reserva de garantia.

No sétimo nível ocorre um aumento de tal ordem na liber-dade de ser, que proliferam os sentimentos de que as coisas reais são misteriosas, que é preciso saber tudo de novo. E esse tudo vem envolto em uma boa dose de insegurança. É muita novidade! Embora inseguros, perdemos o medo de questionar, de explorar, de reconhecer as leis maiores, de viver de modo diferente.

Passamos a querer explorar livremente o que nos familiariza, cada vez mais, com as leis cósmicas:

· Toda forma de vida tem dentro de si energia pura, poder que atrai para cada um o que esta forma necessita para seu próprio desenvolvimento.

Page 41: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 41 -

· Todos os acontecimentos devem ser enxergados como oportunidades de aprendizagem em direção à liberdade.

· Todos nós somos amor. E é necessário que amemos, a nós mesmos, conscientemente.

Existem, ainda, outras leis. No entanto, estas já começam a sersuficientesparanosorientarafazercoisasquenosagradam.Assim, aprendemos a nos amar e a amar as outras pessoas. Compreendemos, por exemplo, que muitas vezes ao nos ferir, elas não estavam contra nós, mas buscando algo que as agradasse, que fosse bom para elas.

Do mesmo modo, deixamos de pedir tanta desculpa pelo que somos, pelos nossos erros ou pelo que ainda não somos, porque a consciência do perdão é natural. É a qualidade da aceitação de si e dos outros do jeito como cada um é.

Neste nível, é fácil reconhecer novos princípios de certo e errado, porqueeles serão firmemente testados. Istoé, serãovividos com maior percepção e sabedoria.

As realidades dos nossos relacionamentos tornam-se mais claras. Daí ser natural o respeito e o reconhecimento de uns para com os outros. Além da permissão de que cada um seja quem é. E mude, a seu modo, em seu tempo, de acordo com a sua vontade. Isto é amor.

Mesmo assim, pode acontecer um grau considerável de con-fusão e maior quantidade de erros, pois as antigas regras ruíram. uma nova aprendizagem está acontecendo. Surgem, também, tentações para violações. Por exemplo, o desejo de praticar magia, de interferir nos desejos alheios, de manipular pessoas ou de se auto-exaltar.

Estas tentações acontecem porque as leis interiores passam a funcionar de uma forma que a pessoa ainda não conhece bem e quer muito testar. há o risco de se encantar com a própria tenta-tiva,maisdoqueficarinteressadonaharmoniaenaconciliação.De certo modo, este é um poder para se ter, não para se usar.

Sabemos, a partir do nosso íntimo, escutando a voz do cora-ção, que atitudes tomar. Aqui, já existem pessoas que não ousam mais machucar a si próprio. Como se trata, porém, de uma nova aprendizagem, o íntimo pode oscilar algumas vezes entre o amor e a compaixão, a raiva e o ressentimento, no que se refere à mes-ma experiência. Numa hora, tem autopiedade; noutra, coragem. Isto é espiritualização, a capacidade de experimentar ambas as faces da mesma experiência e da própria vida .

Page 42: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 42 -

É preciso sentir, pois a espiritualidade não pode ser compre-endida totalmente pela mente. Mas pelo coração, pela atitude de entrega: render-se à própria vida e deixar acontecer. A pessoa se entrega ao conhecimento básico, deixa ser. É mais fácil fazer isso neste nível do que nos anteriores.

Como não é possível entender o tempo todo, as demais pessoas ou os próprios problemas, julgamos. Queremos que os outros saibam fazer coisas que nós mesmos não sabemos.tentamos controlar tudo e sofremos com isso. No sétimo nível, abrimos mão dessas coisas. O que importa é o agora, não o já vivido ou o que está por vir.

Aprendemos que quem mais nos machuca é exatamente quem mais nos ama. Até porque exige mais de nós. O amor que este alguém tem por nós acontece para que sua alma evolua. Não para nos agradar e dar prazer. Por isso, há pessoas que nos amam e nos sufocam, ou, mesmo, nos maltratam. Não porque não nos querem bem, mas porque são desastradas. Ainda não aprenderam a cuidar do objeto do seu amor.

Importa saber que todos aqui estão em busca da paz para o seu coração. Perceber que a dor que os outros nos provocam, em geral, não é deliberada. Não se infringe a dor pela vontade deliberada, mas porque se tem medo da liberdade, da honesti-dade.

Quando uma pessoa agride ou machuca alguém e se vanglo-ria disso por achar que foi merecido, que estava em seu pleno direito de dar o troco ou de se vingar, ela se considera dona da verdade. Mas de fato está cega, envolvida com os próprios sentimentos e com a própria dor, não com o desejo de criar. As pessoas se machucam, umas às outras e a si mesmas, por duas únicas razões: medo e ignorância.

No sétimo nível, passamos a entendê-las, não só com a mente racional, mas com o coração, com o conhecimento de que todos somos parte desta vastidão. Então, paramos de nos machucar, de querer ser donos da verdade, justiceiros. As leis se fazem pre-sentes pela intuição e pela consciência da alma. Não é possível impor regras à vastidão.

O problema é que muita gente pensa que precisa encontrar algo que lhe falta e vive em busca disso. Pretende até funcionar de uma forma linear: “Se não encontrei agora, encontro depois”. Mas há quem goste de procurar. Não necessariamente de en-contrar. O jogo é buscar/encontrar. Os “buscadores” continuarão

Page 43: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 43 -

sempre buscando. Vivem acompanhados por um sentimento de falta ou ausência. Carência.

Os “encontradores” pensam que a vida é para ser vivida, simplesmente. Nada falta, nem há o que ser buscado ou dado por alguém. É o próprio desfrute da vida, divinamente, momento a momento. A vida não irá se tornar melhor do que é. A vida é sempre melhor agora. Este é o conhecimento do valor da vida, de qualquer forma, a qualquer tempo. Esta é a face do divino.

O desfrute gera a prosperidade. Cura as carências. Essa atitude é bem diferente da acomodação, em que as pessoas nada fazem ou são indiferentes. Aqui, elas estão em profundo contato consigomesmasecomoutraspessoas.Refletemativamente.Na acomodação, mal conseguem pensar.

Quando se pára de buscar o divino, de forçar o ego a encontrá-lo de qualquer maneira, é aí que se pode localizar o divino em si, e chamamos isso de consciência da alma. Não é mais a mente do ego. Agora, a mente consciente assume o controle. O ego não morre, ele se rende. Descobre que o melhor jogo é o da espiritu-alidade. Simplesmente porque não tem regras para ninguém.

A inspiração ou a iluminação, ocorre ao acaso. Não é provo-cada, nem desejada. O “iluminado” sabe que a iluminação não pode ser descrita, nem escrita, nem falada. A iluminação é a pessoa. E, quando uma pessoa se ilumina, ela também acende, através da sua liberdade e da ausência de medo, a luz daqueles com quem convive, perto ou à distância. Isso traz um imenso sentimento de alegria, não mais emoção. A presença do próprio mistério.

toda vez que a pessoa pensa que está no controle de sua vida, é o momento exato de perceber que algo está errado. A vida não admite controle. E não faz o mínimo sentido. há quem diga “que a vida é o que acontece, enquanto as pessoas fazem planos”. Só que a inteligência divina é um movimento espontâneo, dinâmico e criativo.

A substância básica da vida é a alegria, com seu movimento fluido, livre, totalizante, nas experiências mais simples do coti-diano. Cada momento é um momento decisivo. Nenhum é mais importante do que o outro. Às vezes damos mais importância a algumas coisas, que então passam a ter mais valor. No sétimo nível, percebemos o real valor das coisas, independentemente da importância que se atribua a elas.

O paradoxo da mente é que as pessoas lutam para se tornar

Page 44: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 44 -

iluminadas. E a iluminação acontece quando elas param de lutar e se aceitam como são. É só! O único obstáculo para a ilumina-ção é pensar que não se é iluminado. Ou que algumas pessoas são e outras, não.

Na verdade, somos todos responsáveis por expressar quem realmente somos. E cada um só pode pensar aquilo que pode pensar. Não se pode pensar o impensável, o mistério. Este é vivido, reconhecido, porque esteve sempre lá. Ou cá. Dá na mesma.

E, se tudo é divino, por que haver diferenças? Isto é a liber-dade. Não há o mal. O mal é apenas uma invenção para manter a ignorância. Só existe o medo, a ser dissolvido pelo amor.

Se a pessoa souber que a cada momento ela pode escolher entre o medo e o amor, então ela pode mudar à hora que quiser. Pode continuar sendo do jeito dela ou como nunca foi. Pode ex-perimentar.Mudar,semdeixardeser.Confirmarasuaunidadeou unicidade. Isto é iluminação!

Só o medo e os pensamentos é que nos impedem de vivenciar a liberdade, a plena alegria. São eles que nos prendem, seja aopassado,sejaaofuturo.Sentirraivapoderefletiromedodenãotersidobomosuficiente.Sentirtristeza,medodeficarsó.Sabendo que sempre somos o que somos, independentemente do que sentimos, para que manter o medo, a raiva ou a tristeza, se temos como alternativa a alegria e o amor?

Conseguimos isso aquietando a mente. É uma ação dinâmi-ca, não de passividade, mas de auto-aceitação, de recebimento da vida tal como ela é. Ajuda muito quando se pára de tentar melhorar. Então, as coisas começam acontecer.

Saber que já se é perfeitamente ótimo libera preocupações e tensões. Permite que comecemos a meditar. Na meditação, re-conhecemos as polaridades, comparamos, reconciliamos, criamos harmonia.Éumprocessoativodeauto-reflexão,observaçãoeequilíbrio. tudo isso, a partir do coração. A mente é usada para registrar estes conhecimentos.

Agora, não necessitamos mais de limites ou fronteiras. Re-conhecemos linhas de orientação, aquelas que acompanham os ensinamentos. Não é preciso temer coisas do futuro, mesmo desconhecido, pois o futuro só pode ser assim. Nem trazer do passado lembranças ruins. Porque o mal não existe, verdadeira-mente. É uma ilusão. há o que causa dor, a ação da ignorância. E confundimos os contrastes dessas experiências de “mal” com

Page 45: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 45 -

a verdade da vida.No sétimo nível, perdemos, inclusive, a memória do já vivido.

Tudoficasimplesmentenaalma,comoumregistro.Oseventosdo passado que não foram superados, ou bem compreendidos, são recriados de forma semelhante nesta vida para que possamos aprender a lidar com eles.

Estasexperiênciasnãosãocastigooudificuldadesdanossanatureza, mas oportunidades de contactar e fortalecer o próprio poder. Quando conseguimos isso, elas param de se repetir. A alma está livre para viver situações novas.

Aquilo que está sendo vivenciado no momento é uma pro-jeção: própria, de outras pessoas ou de membros da família.. A questão é não dar tanta atenção a esta projeção como sendo algo real, mas meditar sobre as polaridades que estão em jogo e precisam ser equilibradas. Por exemplo: em vez de falar mal de alguém ou julgar sua moral como mesquinha, controladora ou algo do gênero, passamos a enxergar essa pessoa como alguém que nos possibilita alcançar a nossa própria experiência de liberdade. Aocolocarseus limites,ela favorecea reflexãosobrenossospróprioslimites.Éaocasiãodeverificarseestãoadequados ou se a gente não os quer mais.

Os afetos começam a se apresentar em toda a sua beleza. Passam a ser uma questão de estética. De perceber a vida de um modo sensível e artístico. A beleza é a própria expressão da nossa consciência. temos, neste nível, a certeza de uma justiça divina, que nem sempre é vivenciada no plano tridimensional, deconflitos,ondeestamos.Aquelesqueelevamsuaconsciên-cia tornam-se, mesmo sem nada compreender, protegidos pela própria luz.

Os que permanecem numa vibração mais densa, também chamada negativa, não agüentam a vibração da consciência elevada, da autoconsciência. Irritam-se, afastam-se, agridem, ridicularizam. Eles perseguem ou se sentem perseguidos. O seu egoaindanãoéforte,nemflexível,osuficienteparaaconfronta-ção necessária a uma harmonização e questionamento sereno.

Issoédiferentedesercético.Océticodesconfiaporqueseapega aos processos lógicos. O emocional acredita ingenuamen-te. Ambas as atitudes são bastante limitadas.

Oitavo nível: a alquimia

Page 46: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 46 -

Neste nível a pessoa começa a transformar e a transmutar a energia. O pensador é capaz de enxergar interdimensionalmen-te, como se conseguisse ver a relação de um nível pelo qual a energiafluirefletidanooutro.Começaaenxergarasimbologia.Eosímbolorefleteaconsciência.

há uma grande diferença entre o que é a fantasia da mente e a revelação da consciência. Na fantasia, a informação, o dado, surge estanque. Não há movimento e se pode sentir medo. Na revelação,aimaginaçãoéfluidaeamorosa.Apessoatodasetorna amorosa. Passa a entender a lei universal das correspon-dências: Assim na terra como no céu. Assim como é em cima, também é embaixo. Assim como é dentro, é fora.

A chave é: você pode mudar o que está dentro de você. Ganhar confiança,amor. Então,podemudar, também,oqueestá fora. Se não gosta do que há ao seu redor, mude o que está dentro de você. Esta é a transmutação, a alquimia.

O único meio de entender a lei das correspondências é através da imaginação criadora. Daí, o trabalho com a energia torna-se consciente.

há uma correspondência unívoca: a pessoa é capaz de trazer o plano espiritual para o plano material pela respiração. Asenergiasmovimentam-se,incessantemente,fluindoumaparadentro da outra. Percebe-se a dança divina que o mundo espiritual fazcomomundomaterial.Éadançadaunificação.

A mente individual é como um personal computer. Ao se elevar para o plano espiritual, ela contacta a mente universal e passa a poder receber qualquer informação sobre si no presente, passado e futuro, pois tudo acontece ao mesmo tempo.

Neste oitavo nível, experienciamos a imaginação e o rela-cionamento entre planos de diferentes dimensões. tudo isso se torna uma outra forma de lógica, que permite enxergar as similaridades entre eventos das dimensões diversas. Aquilo que está acima é trazido para os níveis inferiores. O espiritual expressa-se no ser.

Entende-se em outros níveis aquilo que antes era inexplicável. Muitas vezes, faltarão palavras de explicação, pois o conhecimen-toocorreporsi.Aspalavrassãoinsuficientesparaexpressarasua magnitude.

Maisdoquenunca,aquiénecessáriosacrificaromedo.Elefaz com que nos sintamos pesados e que vibremos nas sombras.

Page 47: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 47 -

É preciso passar por esta encruzilhada, do físico para o espiritual. E, quanto mais formos capazes de realizar esta passagem, mais carregados de energia espiritual permaneceremos aqui mesmo, na matéria.

Neste nível, o ego supera as suas perturbações, à medida em que se rende à consciência superior. O entendimento torna-se fácil.Assimilaridades,osrelacionamentos,osreflexospassama ser inteligíveis através de símbolos e alegorias. A palavra é proferida a partir do coração e não só da mente, por isso ela tem o poder da transmutação.

Proferida a partir do coração, a palavra levanta o véu que tolda a consciência das pessoas. Ela é de pura bondade! As reflexõespessoaistocamnasrealidadesdecadanível.Oconceitode tempo em cada uma dessas realidades, também é diferente. Ao escutarmos, porém, as palavras do coração, captamos o entendimento em qualquer nível. E é possível extrair diferentes coisas de uma mesma fala.

Nada se requer da pessoa que atinge este nível, a não ser que atravesse o ponto da transmutação. É preciso querer sem medo.Coragem,então,passaasignificaralibertaçãodeantigoshábitos da vida material. Render-se à vida, aceitá-la como ela é. Ameditaçãoéomodomaispacíficodetransformartodasessasenergias.

Nono nível: a expansão da consciência em si mesma

Neste nível, chega-se além das palavras, da razão e dos símbolos. Mais do que buscar, encontra-se. Ocorre uma clara percepção do que se vivencia: não só a imaginação, mas os próprios insights.

As energias psíquicas percorrem mundos conhecidos e também, desconhecidos. A pessoa contacta partes de si em todos os tempos e lugares. Neste nível, são freqüentes os episódios de clarividência, viagem astral, acessos a qualquer tempo e espaço. Inclusive aqui e agora.

A consciência liberta-se do físico, ocasionando a mais plena expansão mental. A pessoa adquire capacidade de se sin-tonizarnumareligiãoounumafilosofia,enxergandoasestruturase dinâmicas que existem por detrás delas.

Neste nível, pode-se pensar que, tudo que se vê, é preciso. Mas, cuidado! Isto pode desencaminhar o pensamento. também aqui há o perigo de ocorrer imagens e ilusões, irrealidades. Exis-

Page 48: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 48 -

tem muitas incertezas e armadilhas que estão ligadas à memória oculta e coletiva da humanidade, o mar psíquico. Este mar é cheio de idéias dos homens. Idéias que são estranhas e que, às vezes, estão carregadas de medo.

No nono nível, a pessoa torna-se sensível a essas proje-ções e deve aprender a discernir entre o que é projeção e o que é verdade. Os que vão se tornando hábeis nesse discernimento transmutam essas projeções de medo e aliviam o conhecimento dahumanidade,clarificando-o.

As projeções de medo partem da mente inferior do homem e podem ser transformadas instantaneamente. A mente inferior é densa, muito pouco iluminada e carregada de ilusões. Acredita no mal, nos fenômenos da raiva, tristeza e medo.

Apegada ao ego e à sua matéria, é pouco sensível às mudan-ças, às transformações. Exceto para reagir, contrariamente, a tudo o que é criativo, espontâneo e sensível no próprio homem e na natureza. É uma mente cética ou fanática, fechada em si mesma,iludindo-seemseupróprioreflexo.

Sabendo-se criador, em vez de se impressionar com as formas e sensações do medo, o sujeito projeta ali a sua própria luz. Isso basta para transformar o medo em amor. uma situação não-harmoniosa, então, pode ser mudada a partir desta limpeza, desta iluminação, que se faz nos planos interconscientes.

Palavras de amor, a delicadeza entre as pessoas, a bondade, as artes, as orações e a própria meditação energizam aquilo que é divino na mente do homem. Mudam o negativo, tornando-o positivo. Na verdade, nem prestam atenção às sombras e aos medos, mas os transmutam em sua vibração. Isto é cura.

Assim, precisamos passar por todas essas experiências para nos tornarmos criadores conscientes. Podemos dizer que se trata de um teste ou iniciação. temos de nos confrontar com as sombras deste mar psíquico coletivo e sair ilesos desse con-fronto.

Muitas histórias nos falam do herói que decifra os enigmas das sombras e, com isso, prova sua integridade de caráter, fazen-do jus a algum prêmio mais elevado, de ordem maior. Provam o seu valor e recebem reconhecimento. Não existe, na verdade, nenhum prêmio a ser recebido. A única recompensa é que as pessoas em si tornam-se valiosas.

Neste nono nível, são freqüentes as viagens aos planos astrais. Elas devem ser rápidas, porque se pode encontrar ener-

Page 49: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 49 -

gias muito negativas. O plano astral nos envolve o tempo todo e deve ser limpo e iluminado sempre.

todos os medos têm de ser transmutados. Não importa se são nossos medos ou de outras pessoas. Aqui já não há mais diferença. tudo é de todos. Assim, como estamos protegidos para fazer isso, a tarefa é doarmos o nosso amor, não ao outro, mas à limpeza da nossa própria consciência.

A verdadeira cura acontece quando a pessoa quer se curar. De nada mais ela precisa. Esta luz de cura já está, sempre esteve e sempre vai estar presente, ao seu alcance. Precisa somente se acender, pelo conhecimento de causa.

Para ajudar as pessoas, não devemos, nem precisamos interferir na sua própria condição de cura. Não há nada a fazer por ela, se ela está necessitada. Mas ajudá-la a acender a própria luz, se e quando quiser. Ou na medida em que seu sofrimento suportar. Da ilusão das carências se libertar.

Décimo nível: a consciência do puro poder

Poder,glóriaeoqueésignificativo.Éistoqueprecisamosaprender. Oscilamos muito. Num instante, sentimo-nos seguros e poderosos, plenos da glória do ser. No momento seguinte, estamos fracos e pequenos. há muitos exageros. Lutas demais paradescobrirosignificadodavida.

Os sentimentos de grandeza e humildade em confronto podem criar problemas psicológicos. Pelo excesso, então, as pessoascorremoriscodeficarmuitonervosas,oscilandoentreos picos de conhecimento. Mais do que nunca, deve-se buscar e exercitaroequilíbrioparareadquiriraconfiançaemsimesmo.

No décimo nível, são descobertos conceitos e idéias que alimentammuitasformasdecrenças,filosofiasereligiões.Nonível anterior, descobre-se o que há por trás de tudo isso. Neste, a visão é mais abrangente e chega-se ao conceito do ser supremo, daquilo que é puro poder e nutre a criação de todas as coisas, em todos os níveis anteriores. Atinge-se a fonte de poder supremo no ser. O contato com a sabedoria é aberto, direto, constante e fluente,poisesteéoníveldoprópriopoder.

A energia deste décimo nível é, de fato, a eletricidade, criada por nós para alimentar os níveis inferiores e para que possamos servir àqueles que necessitam. Logo, tornamo-nos elétricos e passamos a servir.

Page 50: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 50 -

Não estamos mais preocupados em dar formas ou nomes à fonte de poder contactado. Mas, em reconhecê-la. Quem não for capaz de re-conhecê-la não poderá contactá-la. Ao fazer con-tato com essa energia, geramos mais energia ainda. Chegamos à própria Criação: focalização da consciência, da força capaz de criar. Não importa o nome, porque são todos os nomes. Quem contacta o poder é capaz de re-conhecê-lo, quando o ouve e o focaliza.

Enquanto isso, cada um se torna mais si próprio. As coi-sasvirammaiselasmesmas.Aenergiaseintensifica.Quandovocê focaliza sua atenção no poder do amor, no coração, você o amplificaesetransformanele.

Criação é transformação. Amplificação da energia do amor.Oqueéverdadeiramentesignificativoéoqueésignifica-tivo para todas as pessoas. Não se mede se um benefício faz efeito pela retribuição. O benefício é o próprio efeito.

No décimo nível, percebemos que tudo é divino. todos os lugares são sagrados. A Escola, o Palácio da Justiça e o Local de Cura são todos a mesma coisa. Até mesmo os templos. Não importa a quem falamos, porque toda experiência é sagrada e santa.

O que se dá à pessoa não é a nossa energia, mas a cons-ciência de que ela própria tem uma energia capaz de vibrar com amor. Prestar-lhe atenção e respeito, registrar sua existência tal comoé,aceitaroqueésignificativonela,éobastanteparaelacomeçarabrilhar.Então,afloraosagradodointeriordecadaum. Podemos criar o divino ao conversar e enxergar o divino nos outros.

Neste nível, os deuses são feitos e criados. todos re-presentamos esta energia. É a consciência una, a energia que transmuta, corrige distorções e enxerga nada mais do que o divino em cada qual. É a energia da criação, cuja atenção se focaliza naquilo que há de verdadeiramente bom e amoroso em cada pessoa. E dá início à própria cura total.

Décimo primeiro nível: o serviço de doação

Este décimo primeiro nível é como uma extensão lateral do anterior, que dá à “torre da mente” um efeito de cogumelo. Os valores do décimo nível são expressos, concretamente, através do décimo primeiro. Amor e doação em formas de energia in-controláveis, incondicionais.

Page 51: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 51 -

Éprecisosaberquenemtudoésignificativoenemtodosos valores humanos são tão valiosos. Ainda que valores, alguns são até prejudiciais. Neste nível, todos os sistemas de valores são questionados. trabalho? Dinheiro? Sexo? harmonia? Felicidade das pessoas? Suas posses? O verdadeiro “buscador” da verdade nada aceita como absoluto, permanente e imutável, a não ser a própria verdade.

Como é determinado o verdadeiro valor, quando todas as culturas são igualmente valiosas? Não há valores mais valiosos do que outros. A humanidade é valiosa em si, uns com os outros, comtodasassuasdiversidadeseiguaislimitesoudificuldades.

No décimo primeiro nível, encontramos o respeito e a liberdade, que permitem a expressão pessoal, social e cultural. Quando pensamos de forma mais simples, a vida torna-se mais fácil. Para promover valores humanos a este nível, há uma ati-tude: servir.

Muitas pessoas que se dedicam à cura e à melhoria da qualidade de vida da sociedade atingem o décimo e o décimo primeiro níveis. Para fazer um verdadeiro trabalho de transmu-tação e alquimia em relação a toda sorte de abusos e violação dos corpos e das consciências de que as pessoas são vítimas, o sujeito deve ser capaz de perdoar a todos que cometem erros e implantar uma nova educação, especialmente focalizada no poder da criação.

Não se pode ser ingênuo. As mentes criadoras já foram muito violadas. Quem quiser, pois, trabalhar na linha da cura – e todos podemos, em maior ou menor escala – precisa aprender a proferir a palavra do coração. A palavra da verdade, que é, sobretudo, amor.

Quando alguém cruzar o seu caminho irradiando essa energia de cura, siga-o, porque ele é você. E ao menos lhe diz que isso é possível acontecer. A pessoa nada lhe ensina. Ela aceita que você seja você. É isso que cura.

No décimo primeiro nível há o confronto entre muitos siste-mas de valores. Até aqui, podemos pensar que algumas pessoas valem mais do que as outras ou devem ter mais chances. Neste nível, porém, o respeito dirige-se a todas as formas e conteúdos. E instala-se a consciência dos direitos humanos.

Não basta, porém simplesmente aceitar uma pessoa como ela é. O melhor presente que se pode dar a alguém é mostrar-lhe quem somos nós. Presenteá-la com a nossa presença. É isso

Page 52: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 52 -

que causa harmonia. Neste nível, sintonizamo-nos de tal modo com as pessoas,

que é difícil discernir os nossos pensamentos dos pensamentos dos outros. É aqui que se coloca a palavra empatia. há, porém, um quê de pessoal nesses contatos. Por isso, as ilusões ainda podem estar presentes.

É somente no décimo primeiro nível que vivenciamos a desagregação da nossa consciência sem, contudo, ameaçar o ego.Essadesagregaçãonãosignificasuadissolução.Masacapacidade de integrar tudo e todos ao próprio campo áurico.

Décimo segundo nível: a torre da consciência conscien-te

Ao ingressar neste nível, a pessoa pode se sentir sem espaço, ou, com seu espaço invadido, em ter muita vontade de “solitude”. Aumenta seu desejo de estar em contato com a natureza, com as coisas simples, até mesmo para conseguir recuperar a clareza interior e desvencilhar-se dos humores alheios.

Pode haver tendência à irritabilidade e sensação de falta de liberdade. há uma necessidade premente de estabilidade, sem o quê a pessoa pode passar muito mal. Surge um turbilhão deconflitosnestadescobertadossistemasdevaloresdosou-tros.Excessodesentimentos,influências,porqueapessoaestámuito sensível e receptiva. Como se diz, “com os seus canais abertos”.

O recolhimentoemsipróprio,aoração,a reflexãoeameditação, permitem que se recupere e se torne mais forte e protegido na sua própria luz. Alguns têm a impressão de se rom-per interiormente, chegando quase à beira da insanidade. Isso acontece porque a torre da sua consciência está construída em falsos sentidos de ilusão. Por exemplo: a crença de que algumas pessoas são melhores, ou mais importantes, do que as outras.

Quem inclui os demais, irrestritamente, em importância e valor, quer estejam mais próximos, quer distantes, dando-lhes atenção e afeto, consegue construir uma sólida torre de consci-ência elevada e torna-se cheio de sabedoria. Incluir, no entanto, nãoéidentificar-secom.Mas,levaremconsideração.

Para que esta torre alcance níveis altos e de grande expansão, é preciso permitir que nos patamares inferiores haja bastante experiência. O pior atentado que se pode cometer contra o desenvolvimento espiritual de uma pessoa é negar-lhe

Page 53: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 53 -

as condições de adquirir suas próprias experiências e de refletir sobre elas. A isso chamamos de falta de educação.

Para elevar e fortalecer a construção da mente, são necessárias amplas áreas de experimentação, a nomeação de diversas palavras e o exercício de muitos tipos de relacionamento. tudo isso terá de ser examinado e submetido às mais variadas associações possíveis. A mente vai aprendendo como tudo se refletesobreotodo.Edamospassosmaissegurosemnossocrescimento e desenvolvimento psico-espiritual.

Apartirnomomentoemquepassamosa refletir,deveacontecer, além do emocional, um aprendizado lógico e racional. tudo que é metódico e bem organizado pertence ao quarto nível: matemática, lógica, música, gramática, línguas. É a base, não da cultura, mas da educação para a liberdade e o respeito para a grandeza da consciência.

Para que a mente ascenda ao quinto nível, é necessário expandir o potencial intuitivo, propiciando experiências no mundo das artes, dos romances, dos esportes, das brincadeiras.

No sexto nível, é necessário haver espaço para o auto-exame, auto-observação com relação à intuição, ao próprio sis-tema de vida e sua ordenação. Alguns já se sentem plenamente satisfeitos com esta qualidade de viver.

Outros desejam desenvolver-se em direção ao sétimo nível. Começam a estudar a natureza mística do seu ver, várias culturasefilosofias,ametafísicaeasciênciaslimítrofes.Come-çam a romper com o passado e a se libertar de velhas estruturas rígidas. Lançam-se ao aprendizado sobre novas áreas de co-nhecimento.

No oitavo nível, aprendem a transmutar energias, a fazer verdadeiras alquimias do seu ser, transformando o medo em amor. Com isso, conseguem verdadeiros intercâmbios entre diferentes dimensões da existência.

No nono nível, descobrem as várias experiências que se referem ao grande mar psíquico, onde presente, passado e futuro da humanidade mergulham e se expressam.

No décimo nível,exploramoquehádesignificativonaconsciência. Avaliam a essência da verdade de uma mensagem, de uma religião. Passam a discernir as reais e verdadeiras ener-gias de criação. Em suma, alcançam o poder.

No décimo primeiro nível, procedem a um exame dos valores humanos, dos vários caminhos da vida e descobrem que

Page 54: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 54 -

o maior valor é a própria vida da humanidade. O único! Passam a construir uma torre de conhecimento e sabedoria de bases tão firmeselargas,quecomeçamalidarcomenormestempestades,confrontoseconflitoscom tantoentendimento,quese tornam“criadores conscientes”. Cada experiência e cada pessoa lhe trazem algo de novo, oferecendo mais conhecimento.

Não se deve pensar, porém, que este patamar seja me-lhor do que os anteriores. Ele é resultante dos níveis inferiores amplamente experimentados. tudo é muito concreto. Não há erro. tudo vale. É precisamente aqui que compreendemos os versos de Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.

Somente com a maestria da experiência em todos os ní-veis anteriores poderemos ancorar melhor no nível físico a nossa mente superior do décimo segundo nível.

Sabe-se, por experiência própria, que não existem duas torres iguais e todas são respeitáveis. Isto é consciência desperta.

Dar e receberAgoraabrimo-nosparaonovo. Istosignifica transmutaro

velho, desfazer-se do antigo, do já sabido. Não porque valha menos, mas porque precisamos nos abrir para mais. Se o nosso cálice está cheio, temos de esvaziá-lo para receber o novo. Mais entradas, passagens, vias de acesso precisam ser criadas na antiga consciência para que estejamos despertos e nos tornemos sensíveis e receptivos às energias do amor e da criação.

Se, inicialmente, nos sentimos desconfortáveis com isso, é porque temos medo. há desconforto quando insistimos em continuar apegados ao velho, ao mesmo tempo que já captamos a pressão das novas energias e experiências. O desconforto é, pois, um indício da necessidade de maior expansão.

Não se deve lutar, nem eliminar o desconforto íntimo, masouví-lo.Compreenderasdificuldadesqueseapresentam.Observar os desconfortos é aumentar a capacidade de se ver em espelhos. Alguns distorcidos, outros cristalinos e corretos. todos precisando ser iluminados, transcendidos, integrados, depurados.

Quandosentir umadificuldade,pergunte-se:“Qualéosentido de eu estar tendo esses pensamentos e esses sentimen-tos? Por que isso é difícil para mim?” Em vez de lutarmos contra, então, abrimo-nos para compreender que atraímos para a nossa

Page 55: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 55 -

vida, exatamente, situações e pessoas que nos mostram partes da nossa consciência que ainda não ousamos olhar.

Esta tarefa de ganho em sabedoria é realizada em quatro grandes laboratórios de mudança: o físico, o mental, o emocional e o espiritual.

Ao abrir espaços, não busque preenchê-los, rapidamente, com coisas velhas. Por que isso pode levá-lo a certezas indevidas ou medos projetados neste desconhecido. Busque o novo, mesmo queamentedoegofiqueaflitaecommedodovazio.Étempode se livrar de tudo o que não serve mais. Ao transpassar um rio, você não precisa mais da canoa que o transportou. Assim, para criar o novo, temos de soltar e deixar o passado ir. Com amor no coração, sempre haveremos de encontrar novas canoas perante todos os rios.

“Viver e envelhecer com sabedoria é a arte de seguir ca-minho, fazer a viagem levando somente o essencial”, dizem os mestres.

Procure libertar-se do julgamento de si e dos outros, que nada mais é do que o efeito da falta de amor. Ao julgar alguém ou você mesmo, a energia criativa contrai-se e retrai-se no coração. O sentimento de culpa faz a mesma coisa.

Comoasmudanças no seu corpo físico são reflexos dasmudanças que ocorrem no seu coração, a dor que traz no peito oprimidoéreflexodaretraçãodaconsciênciaquequerseexpan-dir. É como se a pessoa criasse uma implosão dentro de si.

Este bloqueio causa diferentes experiências de perda de energia. E muitas espécies de doenças e padecimentos. São as sombras neste coraçãooprimido queparalisama fluênciadas energias e acabam provocando perdas com dor, em vez de transformação.

tornar-se consciente das próprias sombras é, também, resultado de poder encarar as sombras dos outros com mais clareza.Emvezdenosimpressionar,então,comasdificuldadesdeles, é melhor nos concentrarmos nas energias criativas que nosajudamasuperarasfrustraçõeseasdificuldadesalheias.Écomosetudoissofossereflexodanossamente.

O julgamento é o assassino da consciência, porque ao julgarmos perdemos contato com a voz do coração. Estas mor-tes é que causam as sombras, as dores e os medos, as ilusões de carência. Se não temos clareza sobre tudo isso, podemos perguntaraosnossosamigosefilhos.Elesnosvêemcomoso-

Page 56: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 56 -

mos. uns através dos outros, vemos muito dos nossos pontos fortes e fracos. Sensação de carência é resistência a este olhar transformador, ‘’e oposição à consciência.

A arte de conversar

Se seus amigos e filhos causam-lhe frustrações ou cometem traições, supere e caminhe em progressão, pedindo para que aqueles que amam você falem sobre seus próprios receios e temores. Em vez de se condoer de si mesmo, respeite quem o atacou e o ouça. É preciso ter cuidado com os que não são verdadeiramente amigos, porque esses terão prazer em machucá-lo.

Se você somente ouvir as mensagens das suas próprias sombras, mensagens de rancor, ressentimento, pena, tudo isso vai doer muito dentro de você. É melhor não dizer nada, respirar profundamenteeficarquieto.

Lembre-se de que respiração é amor e que podemos reagir muito intensamente, mas não precisamos, necessariamente, implo-dir. Cair em autocomiseração.

Agüente a revelação e pare de fingir para você mesmo que você é perfeito.

Nós, sozinhos, não somos capazes de ser perfeitos. Jun-tos, sim. Livres das sombras e imersos no amor, sim. Por isso, precisamos uns dos outros. É assim que aprendemos. Como amigos, como almas irmãs, é não como juízes e algozes, por-que a perfeição está no todo. Você pode ser uma expressão da perfeição, da beleza e da verdade, com todos os erros e acertos vivificados.

São as verdadeiras relações humanas que permitem que averdadeinterioraflore.Aoencararnossasfraquezas,tornamo-nosmaisforteseconfiáveis,porquesomoshumanos.Éprecisoconhecer nossos pontos fracos para criar novas maneiras de seguir vivendo. Experimentando. A consciência desse viver nos traz a luz que transmuta as fraquezas. E vamos, na experiência, fortalecendo-nos de modo consciente. Ganhando e gerando sabedoria.

No mais profundo do nosso ser, todos nós desejamos amar eseramadosaoinfinito.Busque,primeiro,oreinodoscéusnaterra, que o resto virá depois. Penetre a sua psique e encontre o poder do amor dentro de você. Aí tudo começará a mudar. A

Page 57: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 57 -

carência cederá lugar à sua capacidade inata de amar. Prestar atenção é a chave. A consciência desperta, o

resultado. Como compromisso de vida, temos de trazer para o plano

físico a nossa verdade divina. traduzir e expressar o poder deste Eu interior. Esta tradução ocorre pelos sentimentos e pelas emo-ções. Ela é estética.

Os sentimentos são os nossos sentidos mais profundos que dizem respeito ao Eu interior, que estão ligados às nossas verdades e às sutilezas dos nossos charcas.

As emoções são os sentidos da mente. Elas contatam os sentimentos e os transmitem à mente. Em outras palavras, os sentimentos pertencem à alma. As emoções pertencem à mente.

É a mente que sente as emoções através do corpo físico e pode passar, também, a controlá-lo. Portanto, é necessário muito auto-respeito, habilidade e cuidado em relação às emoções de todos.

Este ensinamento deve ter o propósito de servir e nos tornar inofensivos, pessoas desinteressadas em ofender, por saber que “tudo o que vemos” somos nós mesmos, ainda que nos pareça estranho. Aqui, dançamos a vida .

Na iluminação da consciência, a carência se dissolve em vívida sabedoria. Aqui a pessoa pode sentir frustração, dor, falta ou ausência, sem cair no sentimento de dó, de si ou do outro.

Peranteasdificuldades,piedadeecompaixão,sentimentosque reconhecem e validam a própria dor, como experiência hu-mana de desenvolvimento.

Sob a ótica da compreensão e do amor, tanto o prazer quanto a dor são caminhos que nos conduzem à verdade, que nos trazem consciência, valor e humildade. Simplicidade. Bondade.

Quando o sol se eleva, lembramo-nos de acordar. Quando acordados, vivemos o dia, que é tudo a ser feito.

Descansamos ao anoitecer.

Page 58: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 58 -

III - PONHA A MÃO NA CONSCIêNCIA.

Se pudermos compreender que a nossa mais alta espiritua-lidade se alcança no estabelecimento das relações de paz entre os homens de boa vontade, faz todo o sentido a expressão “po-nha a mão na consciência”, quando apelamos para uma decisão ponderada e uma ação justa e corretamente praticada.

É preciso entender que essa boa vontade não quer dizer aco-modação ou concessão que se faz numa relação de desigualdade, mas em um ajuste entre individualidades que se reconhecem mutuamente, nas suas integridades e diferenças existenciais, nas suas similitudes espirituais. A boa vontade implica, pois, na vontade de que exista “o bom” compartilhado.

Em relação à consciência, é necessário perguntar: O que é isso? Do que é feita a consciência, sua substância? É algo real, concreto, que se possa tocar com as mãos? É um conceito, uma abstração ou uma existência real e tangível?

Podemos dizer que a consciência é feita de experiências. De muitasexperiênciassobreasquaisserefleteeseteceumsignificado,umaaprendizagem.Aindaqueintangível,épalpávelpelo tato profundo da sensibilidade.

Não se trata de uma aprendizagem horizontal, em que se acresce mais um dado àqueles já sabidos, uma variação, que enriquece o conhecimento a respeito de alguma coisa, mas não muda a nossa percepção sobre a coisa, trata-se de uma apren-dizagem vertical, em profundidade, que transforma a visão que temos: da coisa, de nós mesmos, de nossas capacidades e da nossa relação com a coisa.

Algumas experiências são repetitivas e nada acrescentam àquilo que já sabemos, nada acrescem à consciência. Outras são transformadoras e atingem os nossos saberes mais profun-dos, fazendo com que a nossa visão se amplie e que a nossa consciência se ilumine. São experiências reveladoras, possíveis somenteporqueaelasseaplicouacapacidadedereflexão,quepropicia o autoconhecimento.

Então,aconsciênciaganhacorpoconformerefletimossobre

Page 59: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 59 -

nossas experiências vividas e concretamente aprendidas pelos nossos sentidos, até um ponto em que, já pela força e luz adqui-ridas neste processo de evolução, começamos a poder dispensar a experiência concreta e nos basear na experiência simbolizada. Esta, tão real quanto aquela.

Em outras palavras, se num primeiro momento evolutivo pre-cisamos da experiência sentida na própria pele, num segundo momento, a partir da sua própria força, a consciência se expande eevoluitendoporbaseexperiênciasrefletidase/ouintuídas.

Neste momento, só neste momento, é que nos tornamos habi-litados a adentrar o universo da compaixão, verdadeiro sentimento e escopo da consciência social. Mas, vamos por partes.

A escalada do conhecimento consciente.Num primeiro nível é preciso viver, em profundidade, nossos

laços de dependência. Como se falássemos de um primeiro pata-mar da consciência que se fundamenta na experiência de sermos frágeis e necessitados, dependentes dos cuidados de outrem. Na infância este é o nosso estado natural de ser, física, psicológica e socialmente, é aqui que vivenciamos a profunda necessidade de sermos nutridos, cuidados e orientados.

Enxergamos o mundo pelos olhos de nossa mãe e desenvol-vemos nossa auto-estima pela maneira que ela nos toca. Com meiguiceefirmeza,experiênciasnecessáriasparanosdarasbases para nos sentir aceitos e queridos, para que saibamos e arrisquemosconfiar.

Neste primeiro patamar da nossa consciência a nossa depen-dência e fragilidade nos conduzem diretamente à aprendizagem da aceitação pelo outro e confiança no outro.

No segundo nível é preciso viver a experiência de explorar o ambiente, possuir e trocar. É o triunfo da conquista e da apren-dizagem do movimento de ter e reter ou perder e entregar. Sem saber o que nos pertence, ou não, vamos testando o mundo e formando a idéia de que, aquilo que está à nossa volta nos pertence e que, se quisermos conservar, precisamos aprender a defender as nossas posses e dominar nossos impulsos.

É o tempo de tomar consciência sobre aquilo que nos é de direito e, praticamente, tudo passa a ser do nosso direito. Sobre quase tudo, também, passamos a sentir obrigações.

trata-se da consciência da responsabilidade baseada no sen-timento de posse, domínio e na percepção daquilo que é pessoal

Page 60: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 60 -

e/ou coletivo. Para isso a linguagem nos fornece os pronomes e advérbios de posse: meu, teu, deles ou nossos. Estabelece-se a noção do comum a todos e nossa obrigação para com o bem conquistado ou recebido.

No terceiro nível nos sentimos impelidos a assumir maiores responsabilidades, agora não sobre coisas e tarefas, mas sobre pessoasepassamosadesejarternossosprópriosfilhos.Senti-mo-nossegurosdenósmesmos,osuficienteparaacreditarquedaremos conta de fazer grandes sacrifícios pessoais e sentirmo-nos felizes e enaltecidos com isso.

Háos que fazemfilhos,mesmo.Háos quedesenvolvemtrabalhose açõesquehaverãode influir na vida alheia.Aquiobservamos o fascínio que a liderança exerce, na medida em que o “status” de líder nos confere todo o prestígio e o poder de exercerainfluênciaaquetantoaspiramos.Naformaativa,comocondutores do processo, na forma passiva como seguidores leais deumaliderançaforte,comquenosidentificamos.

Competindo aberta, ou veladamente, com os nossos pais, bus-camos através do exercício da “maternagem” ou “paternagem”, corrigir e aperfeiçoar aquilo que acreditamos estar errado conosco e em nossa educação. Filhos e família formam, então, um exce-lente palco para a aprendizagem da consciência da autoridade e do poder de mando e influência, bem como para os primeiros ensaios de aprender a amar com desvelo e total dedicação.

Écomaexperiênciadefazerfilhos,decarneeosso,ouatra-vés do trabalho, que desenvolvemos a consciência de que mais alguém tem tanto valor quanto nós mesmos e passamos a prestar atenção nesse outro, por quem, se necessário, daríamos a nossa própria vida, com sentimento de honra por fazê-lo, transformando o sacrifício pessoal em sacro-ofício.

Fica claro, então, que os nossos filhos ,moralmente, nosajudam a construir a consciência do valor alheio, a nossa vida se preenchedosmaioresemaisprofundossignificados.

Contudo, não é neste patamar que a nossa consciência social já está construída. Aqui ainda temos a impressão de que nossos familiares nos pertencem e que, estando bem conosco, as coisas que não estão bem com outros não nos incomodam mais do que, intelectualmente, seria de se esperar.

Podemos dizer boas palavras consoladoras, fazer discursos e escrever livros inspiradores, mas a nossa ligação básica é para com os “nossos”, pouco importando de como os outros vivem, se

Page 61: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 61 -

para nós estiver tudo bem.Neste patamar o risco é, em vez de evoluir, estacionarmos

e nutrirmos de sentimentos de pena e culpa e perpetuarmos a pobreza psico-espiritual, tendo pena dos menos favorecidos e culpa de ser bem nascido, de ser privilegiado ou não fazer aquilo que é esperado.

Se participarmos de ações sociais, neste patamar iremos adotar um grupo qualquer como propriedade nossa ( “meus velhinhos”, “minhas crianças”, “os doentes que dependem só de mim” ) e ter uma falsa noção do que é caridade: “tirar dos ricos para dar aos pobres e necessitados”, “sentir pena dos outros” e “sofrer com eles, “não dormir direito por causa dos problemas a serem enfrentados”, ser infeliz e “revoltado com este mundo em que se vive”. Da mesma forma, ingenuamente, acreditarmos que, “se formos bonzinhos, seremos poupados”.

Neste nível de consciência ainda somos movidos por prêmios e castigos, atuando facilmente como sedutores e sendo manipu-lados.Asrelaçõesrefletemomovimentodeumagangorra,emque hora, uns estão por cima e noutra por baixo.

É o nível das desigualdades, onde se aprende, basicamente, o apego e desapego do poder.

No quarto nível, que é o intuitivo, a consciência agrega o sen-so estético, aprende a enxergar além das convenções, a ver o feio no bonito e o bonito no feio. A consciência intuitiva opera no mundo das artes, com liberdade para criar e antecipar mudanças, sem preocupação de acertar ou agradar. transpõe barreiras de culturas e sistemas de pensamento. É aqui, na verdade, que a cultura se expressa e se recria, pois a arte é simbólica e afetiva por natureza.

A consciência intuitiva se apóia num juízo estético que expres-sa um profundo sentimento de satisfação, universalmente válido, oquesignificaqueé,igualmente,universalmentecomunicávele livre dos determinismos e condições particulares que separam povos, mundos e nações.

Neste patamar estético, a pessoa vive a liberdade, a sua e a alheia,dascoerçõescomunsquetravamofluxodesuasfacul-dades mentais. É onde o ser humano aprende a se comunicar e a descobrir o que tem em comum com os demais seres e com a própria natureza. São as bases da diferenciação, não só entre o agradável e o belo, mas entre o público e o privado. O privado da sensação particular, incomunicável de pessoa a pessoa e o

Page 62: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 62 -

público da discussão das sensibilidades e o respeito dos gostos. uma comunidade de gostos que existe enquanto se busca e se afina,enquantosecultivamasdivergênciaspartilhadas.

A consciência estética, conforme evolui, é o cerne a partir do qual nasce a arte de se fazer política, pois não há política sem oconflitoeacertezadeserpossíveldialogarsobreaquiloquediverge e, exatamente por isso, é tão valioso e apreciável.

Fazer arte e criticá-la é o primeiro exercício de participação política que empreendemos, espontaneamente, ainda na infân-cia.Semadimensãoestética,podemosafirmarquenãoevoluia própria ética.

Conquistamos, pela arte, o quinto nível da evolução da consciência, que é o patamar da consciência comunal. Aqui não basta que esteja bom “para mim e para os meus”. Não basta que possamos compartilhar nossas experiências com os que se comu-nicam em busca de um acordo dialogado. há que se desenvolver o senso de pertença à comunidade humana como um todo, de fazermos parte da multidão.

Se, no patamar anterior a consciência, através das faculdades da imaginação, nos remete à liberdade sem fronteiras e ao nosso engrandecimentosemtamanho,perceber-secomoparteínfimada multidão requer o exercício dos aspectos mais elevados dos valores morais, porque a noção da pequenez particular é excep-cionalmente ameaçadora e dolorosa para o ego pessoal.

Consideradas em separado, as pessoas que compõem a multidão são sem valor. As virtudes individuais não são e jamais serãosuficientesparavenceromundodedesafiosàintegridadeda humanidade que é, simultaneamente, orientada para a paz e para a guerra, para a criação e para a destruição, para o sublime e para a degradação.

E que virtudes são estas?De acordo com André Comte, Sponville, citando Spinoza, “é

melhor ensinar as virtudes, do que condenar os vícios”. Não se trata de dar lição de moral, mas de “ajudar cada um a se tornar seu próprio mestre, como convém. E seu único juiz. Com que objetivo? Para nos tornarmos mais humanos, mais doces e mais fortes”.

“Virtudes são nossos valores morais encarnados”. São aquilo que compõe o poder, por exigência e excelência e, ainda que da esfera do intelecto, são expressões concretas, objetivamente vi-

Page 63: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 63 -

vidas e percebidas, voluntariamente escolhidas e por disciplina.Não é possível ser livre sem desenvolver as próprias virtudes,

através do fazer para aprender e do aprender a fazer. É um traba-lho árduo, pois nenhuma virtude é natural. É preciso que a pessoa torne-se virtuosa, o que só aparentemente é simples e fácil.

De início é preciso imitar as maneiras das virtudes, simulando-as e praticando-as ainda que à contra gosto e mesmo não sabendo doseusignificado.Somentedepoisdemuitapráticaerigor,peloexemplo, ensino e orientação das famílias e nas famílias e escolas équeasvirtudestornam-sesuficientementeatraentes,apontode motivar a nossa evolução.

Destemodo, primeiro os pais cuidamdos filhos e depoisaprendem com a nova geração. Não é possível, portanto, apren-deraserumgrandecidadãosenãosoubermosoquesignificamlaços de dependência, o reconhecimento e a defesa do território e posse, o valor sagrado da família, as necessidades de cuidar muito bem de tudo isso e as calamidades que advêm das inúmeras negligências individuais.

Individualmente, porém, não conseguimos sustentar direitos, nem os naturais nem os conquistados e nenhum trabalho, por maisvirtuosoqueseja,ésuficientementebomepermanentesenão for integrado e internalizado pelas diferentes gerações, se não for aceito e apreciado pela multidão.

Aqui aprendemos que, é só na experiência da coletividade que cada uma das fração de virtude, bem como de sabedoria prática, são todas agregadas e delas nos beneficiamos. “No corpo da multidão são reunidos os maiores e mais sábios juízos, que ne-nhum de nós é capaz de desenvolver, quaisquer sejam as nossas elevadas faculdades morais e intelectuais”. Daí a veracidade dos que sustentam que “a voz do povo é a voz de D’us”, pois que a busca da perfeição se encontra no todo, na congregação.

tornamo-nos, então, cidadãos não somente por deveres e di-reitos, que os temos desde que nascemos até a nossa morte, quer saibamos disto, ou não, pois a cidadania nos é garantida pelas leis, pela Constituição. Tornamo-nos cidadãos conscientes.

Neste quinto nível, mesmo num ateu, observa-se um viver religioso, norteado por convicções políticas democráticas e por princípios e ideais de liberdade. Enquanto o cidadão consciente vive segundo as leis dos homens, no próximo patamar que é o sexto nível, a consciência religiosa agrega à cidadania consciente, a experiência de temer e obedecer.

Page 64: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 64 -

Segundo Rabi Donim, o homem religioso faz quatro tipos de prece: a prece do pedido, a prece do agradecimento, o louvor e aintrospecçãoouconfissão.Entendemosquefazerumaprece,rezar é diferente de rogar ou suplicar. Conforme o Sidur, “toda prece está destinada a ajudar-nos a convertermo-nos em seres humanos melhores”.

Enquanto no patamar anterior o homem que crê ainda busca rezar segundo os textos e escrituras milenares, neste novo pa-tamar ele faz preces espontâneas, o que não é nada fácil, pois todos nos angustiamos com “o que dizer” e “como dizê-lo”.

Se antes pedíamos “reze por mim” ou nos desculpávamos, com um “não sei rezar”, acreditando que “o sentimento do outro pode suprir a nossa parte, agora compreendemos que toda pessoa tem os mesmos direitos e as mesmas obrigações de dirigir-se a D’us, equefazê-lodiretamentepoderesultarsermaissignificativodo que fazê-lo através de representantes ou intercessores”.

Perante Ele, nada nem ninguém pode nos representar e é perante o Seu juízo que daremos conta do nosso existir. E, tão importante quanto, só depois de termos criado juízo, ou seja, nos tornarmos o nosso próprio juiz.

Este patamar da consciência religiosa é também entendido como transcendental, pois tudo, “desde as mais simples neces-sidades materiais até as mais elevadas aspirações espirituais, transcendeaohomeme chegaao infinito”:Ao fazermosumaprece, buscamos a conexão com aquilo que a nossa consciên-cia vigil não consegue abarcar e com Aquele que não podemos nominar.

As preces também nos ensinam o que devemos pedir e nos educam nas aspirações que devemos sustentar. Ao fazê-las com regularidadeefreqüência,conseguimosnosidentificareelegerum grupo de pertença. Com humildade aprendemos sobre re-verência e gratidão. “Saber rezar é o mesmo que processar um julgamento sobre si mesmo”, seja a prece espontânea ou tenha ela sua estrutura.

Principalmente, para aqueles que ainda não rezam esponta-neamente, a “estruturação de uma prece é destinada a expressar valores fundamentais, quais sejam, os valores de mútua respon-sabilidade e preocupação”, como os votos matrimoniais e os juramentosprofissionais,bemcomoasuaética.

São feitas declarações de comprometimento pessoal, que envolvem tanto o assistir às necessidades alheias e os cultos

Page 65: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 65 -

que os demais professam, como participar, com envolvimento, das ações que dizem respeito ao coletivo. É a intersecção daquilo que é público ou privado e aqui cabem os sentimentos puros de pudor ou de culpa real, sempre que o pessoal e o coletivo des-respeitarem as fronteiras. Ou o privado e o público vierem a se imiscuir impropriamente.

A promiscuidade é, então, entendida como ausência nefasta de limites precisos entre o público e o privado, entre aquilo que é puro e íntimo e o que é compartilhado sem pureza e sem cuidados.

Em termos práticos e voluntários, no entanto, os resultados conquistados pelas ações provocadas pelas necessidades da consciência moral e ética mais elevada, e os resultados conquis-tados pela virtude religiosa, são exatamente os mesmos. Perante Ele, tanto faz se o homem crê ou não, somos todos iguais e a Ele nos apresentamos puros em nossa nudez.

A consciência pura e plena da cidadania evolui a partir de um proceder baseado em valores morais, quando a ação é ditada pelo prazer em servir ao outro e sentimo-nos satisfeitos conosco por isso.

Proceder este baseado em valores éticos, de caráter, quando a ação é ditada pela responsabilidade a que somos chamados a obedecer e sentimo-nos realizados com isso. E, baseado em valores religiosos, quando a ação torna-se, ela própria, a nossa forma de expressar louvor e gratidão, sem maiores distinções entre aquilo que é de cada homem e aquilo que acontece entre todos os homens.

Aqui sabemos que cada homem, independente de seus erros e acertos, de suas limitações ou brilhante genialidade, de suas ações perversas ou sua bondade, cada homem faz o que neste seu momento lhe é dado fazer de melhor.

A equidade e a compaixão nos permitem enxergar a profunda diferença entre a pessoa que erra e o seu erro, entre a pessoa que acerta e o seu sucesso, libertando-as do fardo das experiên-cias de até então, aceitando-as como seres humanos livres para voltar a errar ou acertar, pessoas que têm seus direitos e a quem devemos cobrar obrigações.

É a consciência do valor de cada ser humano que, enquanto ser em evolução, busca tornar-se exatamente isso, humano. Ou entendemos vez por todas, que todos temos valor ou ninguém de nós tem valor.

Essa é a consciência plena que está ao alcance das nossas

Page 66: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 66 -

mãos, um modo de ser e de agir tão evoluído, puro e simples, em nossos gestos mais banais no cotidiano, que nem mais nos apercebemos dos imensos esforços que nós e os nossos ante-passados, juntos ou em separado, já realizamos para chegar a isso.

A formação da consciência: uma pedagogia para a Paz.

Cabe, agora tecer algumas considerações sobre a formação da consciência, em especial para pais e professores comprome-tidos com uma pedagogia para a paz.

A aquisição da consciência decorre de dois movimentos bá-sicos. um deles associado à continuidade, ao ritmo constante, à fluência,traduzindotodoumtrabalhohumanodiligenteecuida-doso, com planejamento e acompanhamento entremeados por táticas, técnicas e exercícios.

O outro movimento é o que decorre do imprevisto, do risco, do caos, do salto no escuro. É descuidado, disruptivo e muito arriscado. Como no primeiro caso, é precedido ou seguido por táticas, técnicas e exercícios. Não dá, porém, para ser controlado, nem interrompido.

A dialética dentre estes dois movimentos, o da construção da consciência e o de sua derrocada, a destruição do padrão antigo para que emirja um novo patamar de saber, é um pro-cessocontínuo,docomeçoaofimdavida.Esteéumprocessoentremeado por dores que almejamos viver e por prazeres que não conseguimos suportar.

A tensão entre o nível de segurança e a estabilidade que podemos tolerar e o nível de angústia e a busca por mudanças, que necessitamos vivenciar, pode ser, também, entendida como a tensão entre o relembrar e o recriar.

A luta entre a estagnação e a generatividade:o “continuum” vida e morte.

Da percepção ego-centrada para a percepção excêntrica, a consciência se instala pouco a pouco, porém não linearmente. Será tantomais fluidaquantomenor for a pressão sofridadaconsciência sobre si própria.

Seja, porém, por um impulso epistemológico, uma sede de saber e conhecer, seja por exigências externas à cada pessoa, a consciência não tem outro caminho, a não ser evoluir rumo às

Page 67: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 67 -

suas partes inexploradas, ao recôndito de cada qual. Para se expandir ela precisa, primeiro, evoluir. Para isso é

necessário a segurança da rotina e da estabilidade. Só então, se pode se desvelar, um desvelamento que se concentra em romper com a mesma necessária rotina e com os padrões rígidos ou por demais limitados, até então vivenciados, quer a pessoa busque isso conscientemente, ou não, porque a consciência busca duas luzes: a inconsciência do consciente e o consciente da inconsci-ência. Quer dizer, tornar claro o que não sabemos que sabemos e o que sabemos que não sabemos.

Algumas pessoas sentem prazer em se lançar nessa jornada de auto-conhecimento, outras são toldadas pelo medo, pela humi-lhação, pela culpa e pela vergonha. O seu disfarce é apegar-se, o indivíduo, àquilo que já sabe que sabe e acrescentar detalhes, somente. Por isso é que, tão logo uma pessoa desenvolva uma virtude, descobrir-se-á presa de tantos outros vícios ou virtudes degradadas.

Afinal,aplenaconsciênciadesitemporméritolevarapessoaa integrar suas partes “ingratas” e sombrias à sua identidade e, com isso superar tanto as suas tendências de super-valorização de si mesma, como as de desmerecimento e invalidação. Para se enxergar direito é necessário muita coragem.

Os que logo descobrirem sua fontes de coragem em si mes-mos, abrirão seus olhos antes que muitos outros. Porém, todos abrirão. ter mais consciência, portanto, não torna ninguém melhor, nem superior a ninguém. torna-o, somente, mais responsável e livre para viver segundo a sua consciência e seu exame.

A pessoa assume o fardo da liberdade e candidata-se a viver segundo a Lei, fazer cumprir Seus Mandamentos. O que não é nada fácil! Enquanto isso não acontece,vamos sendo treinados, sendo que o primeiro treino é livre, pois é o treino da exploração, a curiosidade que acompanha a observação.

Os esforços dos primeiros tempos são totais e avassaladores.

Nos primeiros meses de vida o bebê busca emergir do caos. Sua mente está totalmente orientada para o conhecimento de si através de seu corpo. Embora o que um bebê mais faça seja observar e praticar, ele não tem consciência de o estar fazendo. É simples.

O bebê não julga, simplesmente percebe e sente. tudo, em

Page 68: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 68 -

torno e interno à ele, é aprendido e memorizado. tudo, menos os contornos nítidos entre ele e o mundo.

Ele é o mundo. O mundo é ele. A inconsciência da consciência vigora, neste período sensório-motor e oral-canibalista, quando se relaciona com o mundo de corpo e alma, o pensamento ausente, ainda nem formulado. Só apreensão e sensação.

O modo como começa a conceber o mundo, o valor afetivo comqueofazdepende,quasequeexclusivamente,dafirmezae da gentileza de quem lhe dispensa cuidados.

Atenção, gestos precisos e doçura presentes haverão de apoiá-lo na construção de um pré-conceito, de uma certeza, de que este é um mundo que vale a pena ser vivido. A este pré-conceito, mais tarde, haveremos de reconhecer como elevada auto-estima ou sentimento elevado de si próprio, senso de justo merecimento. haverá de se traduzir, também, em bom auto-conceito, que está na base do sonhar alto, de desejar vencer.

Isso virá no futuro, trazendo-lhe não só ambições, mas ambi-ções elevadas. O desejo de que o mundo seja bom para todos, advém das primeiras experiências em um mundo bom para si. Ummundofartoeconfiável,solícito.Tudomuitoconcretamentetraduzido, pois o encontro do bebê com a concretude da realidade requer saciedades concretas e nada simbólicas.

Assim como palavras doces não lhe aplacam a fome física, aplacam, somente, a dor de sua solidão existencial, o terror da “sozinhidão”, a igualmente concreta e implacável fome de com-panhia e sede de afeto não são atenuadas pelo “papá”.

Interessante notar que, nos seus limites, o bebê é um peque-no ser politicamente perfeito: sem comprometimentos prévios, nem desapontamentos conceituais, sem ilusões gerenciais, perfeitamente capaz de administrar desde cedo suas gracinhas e cativar. Nasce com uma habilidade incrível para estabelecer relacionamentos e ser tolerante para com aquilo que não é o principal.

É exatamente de seu egocentrismo que extrai as semente de amor por si próprio, de autocontentamento e certeza de gos-tar da vida. Sem qualquer capacidade de raciocinar, sua mente elabora as complexidades humanas, enquanto desenvolve sua tenacidade, sua capacidade de perseverar.

A ação do tempo Da mesma forma como o tempo haverá de subtrair-lhe a

Page 69: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 69 -

pureza, que deverá – um dia – ser reconquistada, castrando os impulsos afetivos e criativos do bebê em troca de um pesado senso de dever moral, responsabilidade por si e por outros, também sua potência resistirá às investidas do tempo, adotando a variedade como ordem, sem qualquer senso de honra ou de vaidade, somente em busca do novo e de algum sentido.

O tempo, através de todos os seus mestres (pais, irmãos e professores, amigos e inimigos mais tarde) e, além dos mestres, trazendo consigo suas dores, haverá de inibí-lo, levando-o a gostar, também, de nada fazer, ainda que permaneça, oculta e subjacente, sua propensão às transgressões.

Esse primeiro gosto por nada fazer é a semente do saber esperar, o que é muito diferente de estagnar ou resistir. Saber dar tempo ao tempo, eis do que se trata, o cerne da ponderação e da diplomacia.

Quando a inibição, porém, é muito fortemente exercida, através dos processos vários de coação, tais como abandono afetivo, falta de estímulos físicos e mentais, a sua consciência permanece obscura, sabedora somente de suas reações às tais coações sofridas.

Estasreaçõessãoauto-justificáveiseditadaspelainvejaco-lérica (sentimentos de menos-valia) e virão a ser expressas por: rigidez e estreiteza de julgamento (sentimentos de não precisar obedecer à Lei, mas ser a própria Lei), falta de autenticidade (um “eu”formadoparalisonjearouparatripudiar)e,finalmente,apro-crastinação(faltadefinalização,emsetratandodaaçãoefaltade vontade ou preguiça, em se tratando da volição e capacidade de se envolver e se entregar àquilo que é desejado).

Semfinalidade, sem vontade, semperseverança, não hápossibilidadedequeoacolhimentoeabondade,floresçam.Apessoaficasó.

tudo, individualmente, se passa sobre um contexto maior, que comporta: a cultura de origem (o que é dado conhecer e saber), a cultura familiar (o que é dado sentir, dar e receber), a cultura do nascimento (o que dele se espera e em qual imagem ideal se espelhar), as experiências intrauterinas (o que já lhe foi possível experimentar)e,porfim,o“Zeitgeist” (a que níveis de consciência pudemos chegar neste tempo histórico em que vivemos).

Se bloqueada a expansão da consciência, conduzimos à má formação do caráter, como que ensinando a operar através de reações e buscas substitutivas compensatórias, o que forma a

Page 70: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 70 -

base da leviandade e recusa ao amadurecimento e sensatez. Isso se volta contra a própria pessoa, atacando seu corpo

(fazendo-o enfraquecer, se contorcer, adoecer), atacando sua mente (fazendo-a se estreitar para se proteger) e atacando seu universodepossíveisrelacionamentos(minandoaconfiabilidadee senso de devoção). A pessoa se torna “rebelde”. Ainda assim, clamando por experiências que venham a romper a couraça men-tal que lhe tolda a visão e pela chave que possa abrir, de dentro para fora, o seu coração).

Podemos dizer que a rebeldia ainda traz em si a esperança de progresso e de mudança, de melhoria. Seu contraponto, é a apatia, face fria do desespero, voz calada da dor que não se pronuncia.

A reversão deste quadro se faz pelo convite à novidade, pelo confronto com o estranho, pela inquietação da mente e pela perplexidade.

Page 71: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 71 -

Iv -A CONDUÇÃO DA EXPANSÃO DA CONSCIêNCIA

O anseio pela abertura e crescimento da consciência é por existir e, por saber disso, a consciência quer se expandir. Para isso,precisarefletir.

Os quadros de rebeldia não precisam ser contidos e punidos, mas estimulados e reconduzidos, reorientados pelas experiências concretas de cinco elementos combinados de amor incondicio-nal (aceitação crística plena), beleza, harmonia, diplomacia e equilíbrio.

Puna-se a rebeldia com rigor e ela agrega o rigor à sua própria força, fazendo-se cruel. trate-se a rebeldia com amor e beleza e, ela se dissolve em alegria, em leveza e delicadeza.

Qualquer combinação, num mínimo de dois, dos cinco ele-mentos que “curam” a rebeldia, aplicada diligentemente, trará bons resultados. Porém, não constantes e nem permanentes, pois a rebeldia sempre será um bom recurso para os fracos e oprimidos se expressarem. Ela não deve ser extinta, mas percebida, aus-cultada e entendida, antes de ser corrigida.

A rebeldia, aliás, jamais é corrigida “de fora”. Por se tratar de um esforço da mente em resposta organizada à opressão exerci-da à consciência do ser, ele mesmo não tem consciência de sua rebeldia. Não a vê como conduta, mas como si próprio. Confunde o que faz com o que é. O que deseja, com o que precisa. O que dá, com o que toma.

O ser sem consciência é um simulacro e é com muito cuidado que precisamos abrir-lhe os olhos para devolver-lhe a autenticida-de. Se empregarmos força e ameaças, o cegamos. Se insistirmos, o perdemos.

Com o mesmo respeito e carinho, pois, com que fechamos os olhos de nossos mortos, devemos buscar abrir, delicadamente, os olhos dos nossos vivos. O rebelde não enxerga, ainda, mais do que a sua própria dor. trata-se de uma dor de seus olhos ainda pregados, inundados pela escuridão. Nesse ponto da evolução, regrasnãorepresentamsegurança,masdesafiosàsuainteligên-cia,queprecisaseauto-afirmar.

Page 72: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 72 -

Por isso, a “cura” da rebeldia não vem de fora. De fora só po-demos prover conforto humano e caloroso para com quem sofre. Exposto continuadamente às combinações curativas que temos a lhe oferecer, se as quiser aceitar, com o tempo e o rebelde recuperarásuasforçaseconfiança,suapurezadeespírito,a vontade de saber e de bem viver.

Não falamos já, dos adolescentes, cuja rebeldia é tão sabida e estimulada, mas sim de crianças pequenas, que igualmente podem sê-lo ao recusar comida, depois um bom sono, depois brincadeiras e novas aprendizagens, depois laços de amizade, depois sua sexualidade, depois... tanta coisa, até chegar à sua profissão.

Na verdade, desde que nascemos temos em nós mesmos tudo aquilo de que precisamos. Passamos o tempo da vida no esforço de recuperar a memória das nossas virtudes, nosso espírito de criança. Então, chegamos à plenitude de nós mesmos e nos tornamos mais conscientes do quanto ignoramos, principal-mentesobrenós...Pois,aqualquerproblema,amaiordificuldadeestá em nós próprios.

O engraçado da história é acreditar que “é difícil lidar com pessoas”, quando a principal pessoa difícil, à cada história, co-meça com a palavra “eu”.

Como conduzir, então, um processo educativo, atento para a formação da consciência?

Quando chegam às escolas, pequenas crianças já trazem consigo toda uma sorte de recalques e inibições. Graciosas e inocentes, todas já experimentaram diferentes formas de ataque à sua pureza e já sabem jogar o jogo dos disfarces e da simu-lação.

Ainda que grandemente dispostas a criar e a experimentar, nós as recebemos com o intuito de ensiná-las a aprender, o que se revela mais uma possível forma de tolhimento às suas livres pesquisas e expressões. Precisamos assumir o fato de que, ao nos propormos a ensiná-las a enxergar o mundo de uma certa forma, estaremos inibindo-as de ver o mundo à sua própria ma-neira.

A proposta é paradoxal: prender para soltar, treinar para ex-perenciar o que elas sempre souberam fazer sem treino algum e corresponder àquilo que delas se espera. Inicia-se o processo de adestramento da mente, uma espécie de “treino do piniquinho” mental e moral, do qual a consciência vai levar anos para se

Page 73: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 73 -

recuperar... e voltar à sua espontânea vivacidade.Isto posto, vamos aos “jogos”, com a consciência tranqüila, já

que sabemos e aceitamos que uma boa parte do nosso ser criativo ésacrificadaemproldacivilização.Pagamosotributo.

Precisamos, pois, ensinar às crianças primeiro e, aos adultos que ainda não os aplicam, dois movimentos básicos da consci-ência em evolução: observar e interpretar.

Ensinar a observartreinar a observação, desenvolver o senso de observação,o

gosto e a capacidade de observação.Issosignifica,conduzirumamentenaturalmente inquietaa

manter-se em estado de quietude, sem desinteressá-la.Se a mente humana é atraída pela novidade, pelo movimen-

to, pelo afeto, pelo insólito e pelo exagero, como estimulá-la a permanecer atenta (ativamente quieta), sem ter a garantia de que as crianças estão realmente interessadas naquilo que lhes mostramos, ou se estão, efetivamente, interessadas em nos agradar, interessadas em fazer como os outros coleguinhas fazem, interessadas em se defender das cobranças que sobre elas pairam?

Se aquilo que cognitiva e/ou afetivamente, realmente lhes interessa,ésuficienteparacaptarsuaatençãoeapreender-lhesos sentidos. Para que “treinar” observação?

No treino de observação buscamos fazer com que a criança perceba detalhes, que consiga informações de várias maneiras1, principalmente através do notar e descrever.

Se ainda não estiver madura para com o conteúdo afetivo-emocional daquilo que desejamos que ela note e descreva, o máximo que lhes estaremos ensinando é “obedecer ao professor/autoridade” e “fazer como todos fazem, porque assim dá certo”.

A alternativa é obter informações da criança sobre o que ela deseja saber. Essas informações são tão mais válidas quanto mais espontaneamente forem dadas. Só que podem resultar de interesses fugazes, dada a labilidade afetivo-emocional de toda pequena criança.

Por outro lado, a criança ainda não está lá, muito interessa-da em saber o que os seus coleguinhas acham, nem no que a professora acha do que ela acha. Está mais ligada na transação 1 Raths, pág. 84

Page 74: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 74 -

emocional, do que nas trocas de natureza cognitiva. Insistir em atividades descritivas e apreensão de detalhes,

sem o comparecimento do envolvimento afetivo da criança vai resultar em tagarelice, uso posterior da fala para evitar uma co-municação íntima e sincera entre pessoas. Ou mutismo, mesmo, começando por reações de timidez e inibição. Assim se aprende a fala desprovida de emoção, o “falar da boca para fora”, a falta de palavra, a promessa leviana que acarreta no prejuízo da pa-lavra de honra.

Qualquer treino que resulte em prestar atenção e falar pró-forma, para cumprir com o que se espera dela, vai levar a criança a se descomprometer com suas próprias palavras e não acreditar na palavra alheia, pois, por auto-defesa de saudável cunho nar-císico, e bem pelo de sua auto-estima e integridade, ela sempre vaiprojetarsuasdificuldadesnooutro.Seaprenderbemestamanobra, usará da fala para seduzir, sem, porém, se entregar.

Bem conduzida, no entanto, respeitando o seu real interesse pelo conteúdo psico-afetivo das coisas, fatos e pessoas a serem observadas, estará desenvolvendo o seu gosto pela conversa, pela troca de idéias, pela coerência e consistência, através da consolidação dos laços entre aquilo que pensa, faz e diz.

há uma profunda diferença entre gostar de trocar informações através da fala e gostar da pessoa que nos traz as informações. Desde cedo nos satisfazemos em observar o interesse das crian-cinhas,semcontudosermossuficientementecapazesdediscerniro alvo de seus interesses.

Fazer “ouvidos moucos” se aprende na tenra infância. Por isso,muitaspessoasaltamentesociáveis têmdificuldadesemestabelecer relações íntimas, a superficialidade das relaçõessociaisservedeperfeitacamuflagemàsdificuldadesafetivasdese envolver e se comprometer seriamente com alguém. A pessoa pode ser tornar, então, socialmente muito afável e, familiarmente, intimamente, muito esquiva, distante e gélida.

Sem conteúdo afetivo, a fala das pessoas transforma-se em papel jornal. Respaldada pelos sentimentos, a fala estabelece compromissos e consigna as vontades individuais e coletivas. Aprender a conversar sobre o que interessa é a base do desen-volvimento do interesse por tudo aquilo que permite a evolução de uma boa conversa.

Como na natureza tudo “conversa” entre si, podemos supor que, desses primeiros jogos de “conversas jogadas fora” irá evo-

Page 75: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 75 -

luir a arte do entendimento e o gosto por conhecer as pessoas e ouví-las, naquilo que elas são: a capacidade de estabelecer empatia.

Ensinar a interpretarEstimular o processo de atribuir e de negar sentido às expe-

riências2.Se, do ponto de vista cognitivo, atribuir sentido implica fazer

inferências, do ponto de vista afetivo, interpretar aponta para o estabelecimento de um propósito de vida, para um ideal utópico, para uma esperança.

Seja na forma de palpites ou de certezas, a interpretação faz interface entre a objetividade e a subjetividade da realidade experenciada pelos sentidos, sem o quê, o esforço de viver se torna árduo demais, quando não, inútil.

uma vida sem sentido é a grande questão nihilista que subjaz ao ceticismo desesperado dos suicidas, os quais se perguntam “se a vida vale a pena ser vivida...”. O sentido é a aspiração intermi-nável, o norte da bússola bem calibrada. O sentido, na verdade, é a própria vida magnetizada. Sem ele, não há porvir. O sentido é o impulso para superar, para ir além, para ir buscar.

Como a consciência humana precisa de uma vida com sentido, o homem está fadado a buscá-lo e já se alivia de suas angústias na mera suposição de que ele existe. É, também o sentido que apóia a sensação de tempo decorrido, o antes e o depois.

O agora não tem sentido, só presença. Sem a tensão entre o sentido que aponta para o futuro e a memória, que preserva o passado, o próprio presente não faz presença, não tem registro, passa batido.

Comsentidooprópriopassadoérevivificadoparaserrees-crito e, novamente, interpretado. O passado, por ser ido, não é necessário que esteja morto, ainda que enterrado. Na verdade, é somente com sentido que temos idéia do caminho percorrido e que podemos corrigir a rota. Não há moral sem sentido.

Interpretar,portanto,temambasasfaces:aquepresentificaomomento “aqui e agora”, que registra a vida e a revigora, e a face que rouba e nega esse mesmo momento, remetendo a consciên-cia àquilo que já foi e àquilo que, um dia, poderá vir a ser.

Interpretar é algo muito semelhante a matizar de cores perso-nalizadas aquilo que é de natureza pública e cultural. 2 Raths, pág. 24

Page 76: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 76 -

Sem interpretação de resultados não sabemos o que conse-guimos Sem saber o que obtivemos como retorno, não há como saberoquecausamoscomoquefizemos.Nãoháremorsosadio,nem reparação, sem a interpretação dos nossos atos.

Significar os nossos atos é inscrevê-los na ordem moral das coisas. Ainda que a interpretação seja de cunho absolutamente íntimoeprivado,aatribuiçãodesignificadosváriosabreespaçopara a atribuição de causação, seus antecedentes e atenuantes, seus conseqüentes e agravantes.

Antesdepoderjulgarénecessáriosignificar.Aquisecolocamas sementes dos nossos deveres morais para conosco e para com os outros, os primeiros sinais da responsabilidade social.

Mesmo cometendo enganos e distorções que fogem à rea-lidade, interpretar está na base de um caráter que encontra o seu “pelo quê” lutar. Ainda que esse “o quê” seja moralmente discutível, está no cerne da historicidade das ações mundanas que, sem essa historicidade seriam pouco importantes, seriam até mesmo irrelevantes.

Para interpretar é necessário concordar e discordar e, portan-to, conciliar diferenças, e fortalecer o espírito crítico. Este pode ser valorativo, resultando em preconceitos e pode ser avaliativo, resultando em opiniões.

Aprender a emitir a própria opinião é um exercício de coragem, muito necessária para não sucumbir à inércia mental, à simples e rotineira convivência intelectual e moral.

Ainda que conectada ao processo de comparar, opinar tende para a autonomia mental e emocional como atitude mental pré-via ao exercício da equanimidade. Comparar, no entanto, tende à atribuição de mérito e predileção quanto ao que se compara, numa prévia ao exercício da tendenciosidade.

Exatamente por causa disso é que nos faz tanto mal à saúde, ser comparado com os demais, especialmente, se esta compa-ração tiver um caráter de crítica e julgamento. Ao mesmo tempo, precisamos saber se somos “iguais” ou “diferentes”, onde nos posicionamos. É aqui que aqui entra a necessidade de saber opinar sem julgar.

Comparar, no entanto, e felizmente, se agrega ao interpretar, para consagrar as mudanças, os “antes”, os “agora” e os “de-pois”, os “cá e lá”, auxiliando a mente a organizar-se no tempo enoespaço,aestabelecersuahistóriaesuageografia,oseu

Page 77: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 77 -

mapeamento de mundo e, inclusive, detectar padrões. É interessante levar crianças a criticar como processo de

detecção de padrões, desenvolvendo o gosto por observá-los e à sua evolução. Isso está na base do auto-conhecimento, sem o quê não é possível evoluir.

Ainda que as críticas iniciais se façam a partir do gosto e do afeto, numa escolha a-lógica, é possível aplicar a lógica à crítica, transformando a segunda em senso crítico, forrado de um brando afeto, sem o quê a crítica se torna exacerbada e até cruel.

Devemos, no entanto, respeitar e considerar o fato de que a crítica e o senso crítico advêm de escolhas totalmente pessoais e pouco socializáveis, perfeitamente calcadas no mundo anímico da subjetividade porque, embora haja como apurar o gosto e as preferências, não há como explicá-los.

O pouco que conseguimos, porém, conduzir da crítica ao senso crítico (o que em nada se assemelha ao senso comum), altamente elaborado e individualizado, vai favorecer o futuro exercício do julgamento correto, equânime, eivado dos nobres sentimentos de Dever e de Servir.

É claro que este é um processo muito complexo, ao qual se agregam a escuta empática e a humildade necessárias para que se julguem fatos e condutas, e não pessoas.

Do ponto de vista cognitivo, no entanto, todos os julgamen-tos são corretos, porque são feitos a partir do mapa mental e da perspectiva daquele que julga.

Na sua profundidade, isso leva a uma capacidade crescente de aceitacão e tolerância social, ao mesmo tempo que à sadia indignação em relação a aquilo que avilta a vida moral. E, se todos os julgamentos são corretos, posto que relativos, também todos são passíveis de serem incorretos.

Isto nos leva ao fato de que pessoas não são corretas ou incorretas, mas os julgamentos que proferimos é que o são. Daí seu peso de arbitrariedade e a angústia de se cometer um grave erro no veredicto, já que todas as pessoas são corretas, mesmo as que erram ao julgar e em julgar.

Qualquer erro está na distorção causada pelo ângulo de visão daquele que profere o julgamento ou na maior, ou menor severi-dadedasentençafinal.

Não julgar para não ser julgado

Page 78: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 78 -

Ainda que do ponto de vista social seja impossível conceber um sistema onde não se incorra em pré-julgamentos morais, pode- se conceber um sistema social onde haja a consciência de que sempre, qualquer seja o ponto de vista, ele é parcial, ainda que compartilhado. Com isso, um homem jamais é apto a julgar outro homem e, nem mesmo em muitas vezes é apto a se julgar. No entanto, precisamos fazer justiça, e é por isso mesmo que não devemos, embora possamos, fazê-la com as próprias mãos.

A presença de um júri em uma sala e sessão de julgamento visa aliviar, dos ombros de um só homem, o peso e a culpa moral de condenar alguém. A vontade e o entendimento popular podem fazer executar o que vierem a considerar justo, mas a vontade de um único homem jamais deve preponderar sobre a vontade de outro homem.

Assim se exerce a consulta que aconselha os mais sábios, porém não os mais aptos, a julgar. Só é correto quando a vontade de todos se impõe àquele que perturbou a ordem consensada, nunca o contrário.

Levar crianças a opinar e deliberar é treinar seu senso de compartilhar dos deveres morais de manter a ordem e a justiça como patrimônios principais. Assim como a perfeição só se en-contra no patrimônio coletivo da nossa humanidade, também a justiça é lá que se encontra.

Carregando nas cores, ou sendo por demais benevolente, o homem-que-julga é fadado a errar e, muitos dos maiores erros se inserem nas interpretações que são dadas aos fatos, muito maisdoquenossignificadosautênticosqueos fatos,de fato,permitem.

Quandoagregamosoprocessodeclassificarasdistorções,omissões e generalizações que cometemos em nossos julgamen-tos, fácil, fácil, caímos na simploriedade de categorizar pessoas, grupos sociais e discriminá-los.

Classificar,conquantobusqueaneutralidadedoconhecimen-to e seja necessária ao discernimento, é presa fácil do rotular, paralisar grupos de pessoas nas percepções cristalizadas que deles fazemos, dando azo ao crime sem ação deveras cons-ciente, dando margem livre ao exercício do preconceito e da discriminação.

Sim, porque o ato, o processo de julgar, sabendo dos terríveis erros e injustiças que podemos cometer, é muito angustiante. E, pré-julgar é o antiato da criação, embora tenha a vantagem, nele

Page 79: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 79 -

embutida, da certeza ilusória do não-erro. Ao aceitarmos “não julgar para não sermos julgados”, isso não

significadeixardefazê-lopormedodarepressão,massuspendero julgamento como um processo ativo de co-criação.

Neste ponto o psicólogico e o espiritual dão-se as mãos, sus-tentando a nossa própria consciência em expansão e evolução.

Page 80: PAZ DE ESPÍRITO - alexacultural.com.br fileII - OS DOzE NíVEIS PARA A EVOLuçãO MENtAL 29 Primeiro nível O começo da consciência pura 29 Segundo nível A consciência de si mesmo

- 80 -

BIBlIOGRAFIA

CANIVEz, Patrice – “Educar o Cidadão ?” Ensaio e Textos, Papirus Editora

COMtE-SPONVILLE, André – “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, Editora Martins Fontes

RAthS, LOuIS E OutROS. Ensinar a Pensar. Editora Peda-gógica e universitária, 2ª edição, 1977

SIDuR da Semana, com tradução feita por Jairo Fridlin, de trechos do livro de orações e o culto na Sinagoga “Rezar como Judeu”, do Rabi hayim halevy Donim