33

Pe. João António Borges BertoldiCarta Mortuária

1918 - 200385 anos

44

Pela celebração do Batismo as pessoas são mortas, sepultadas e res-suscitadas com Cristo (Rm 6,4; Ef 2,6; Cl 3,1; 2Tm 2,11). Esta participação no mistério Pascal de Cristo renova-se em cada celebração sacramental. O que acontece tantas vezes sacramentalmente, a fé cristã assegura que aconte-ce existencialmente na morte do cristão. Segundo esta fé, com sua morte, a pessoa “deixa este corpo para ir morar com o Senhor” (2Cor 5,8), ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus, “a pessoa não morre, entra na vida”.

Comunicamos com estas palavras da Escritura e com sentimentos de profunda esperança, o falecimento do caro irmão,

Padre João António Borges Bertoldi, nesta madrugada de 14 de maio de 2003,

festa do apóstolo São Matias, na Casa de Saúde de Campinas, com 85 anos de idade,

67 de vida religiosa salesiana e 59 de presbiterado.

NASCIMENTO E FAMÍLIA

O padre João nasceu em Canguçu (RS), Diocese de Pelotas, hoje Arqui-diocese de Pelotas, a uns 277 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e 60 km de Pelotas. Nasceu no dia 24 de junho de 1918. Seus pais foram Ricardo Bertoldi e Romana Borges Bertoldi.

Foi batizado na Paróquia de Sant’Ana, Pelotas (RS), no dia 25 de abril de 1919, pelo padre Jacob Lorenzet, sendo padrinhos Domingos Soares de Camargo e Severina Maria Soares.

Foi crismado no dia 30 de março de 1924, na matriz de Sant’Ana, por Dom Joaquim Ferreira de Mello, bispo de Pelotas, sendo padrinho o senhor Hyppolito Lorenzet.

PRIMEIRA OBRA SALESIANA

A primeira obra salesiana que João frequentou foi o Liceu Leão XIII, na cidade de Rio Grande (RS), de 1928 a 1930, concluindo o curso primário. O Colégio Leão XIII foi fundado em 1901. A comunidade salesiana tinha cape-lania entre os poloneses, uma capela pública, escola de educação infantil e escolas pro� ssionais. O diretor e ecônomo era o padre José Vera, o conselhei-

55

ro escolar era o padre Onorato Serena, e outros residentes eram o padre José Massimi e o padre José Allievi.

ITINERÁRIO FORMATIVO

De 1931 a 1934 João faz o curso ginasial em Lavrinhas (SP). De 1924 a 1932 o diretor, em Lavrinhas, era o padre André Dell’Oca e, de 1933 a 1935, o diretor de Lavrinhas era o padre Luiz Garcia de Oliveira. Logo no início de sua vida no Aspirantado, João Borges teve duas grandes � guras de salesia-nos pela sua sabedoria, santidade e salesianidade. Nesta época de 1924 a 1932, Lavrinhas era casa de formação para aspirantes, noviços e � lósofos. Os diretores trabalhavam com todas as suas preciosas qualidades de mente e de coração conseguindo incremento e seriedade nos estudos, na observância religiosa. Florescia a piedade e a virtude entre os aspirantes sem diminuir em nada a alegria salesiana.

Em Lavrinhas, no dia 8 de dezembro de 1934, João fez o seu pedido para ingressar no Noviciado. Deixa por escrito:

Senhor padre Diretor,

Escrevo-lhe esta carta com o � m de pedir-vos para entrar no Noviciado da Pia Sociedade Salesiana. O que me impele a este ato, é que, desde a minha entrada neste aspirantado, jamais vacilei na minha vocação. Outro motivo é que desde a minha mais tenra idade, sinto no meu coração uma voz que me chama para o estado eclesiástico.

Eis, amado superior, as causas que me movem a pedir para ser admitido ao Noviciado.

Nesta novena da Imaculada pedi instantemente a Maria SS. que me guiasse neste passo importante e dissipasse toda a dúvida que por ventura me adviesse. E agora, mais que nunca, sinto essa voz que me incita a que me faça sacerdote na Congregação Salesiana. Espero, com a graça de Deus e com a pro-teção de Maria SS. Auxiliadora, tornar-me digno dessa sublime vocação e a ela permanecer � el até à morte.

Abençoai a este vosso � lho “in Corde Iesu”

João António Bertoldi

66

NOVICIADO

João foi aceito no Noviciado pelo Conselho Inspetorial reunido em Campinas na reunião de 22 de janeiro de 1935. Foi feita a comunicação ao padre Emílio Philippini, diretor da casa de Campinas e, por ele, ao mestre de Noviços, padre Agenor Vieira Pontes. O Noviciado começou no dia 27 de ja-neiro. A vestidura clerical foi no dia anterior, dia 26 de janeiro de 1935, das mãos do padre André Dell’Oca, inspetor salesiano.

O Noviciado de 1935 começou em Campinas no Liceu Nossa Senhora Auxiliadora e terminou no Instituto Pio XI em São Paulo. Os noviços eram 12 naquele Instituto Monte Carmelo em São Paulo, Lapa.

João faz a primeira pro� ssão religiosa no dia 28 de janeiro de 1936 também nas mãos do padre André Dell’Oca. E quais os sentimentos que pas-savam pela mente e o coração daquele noviço? O pedido foi também escrito no dia 8 dezembro de 1935.

77

Rev.mo Sr. P. Diretor,Viva Jesus!

Com grande júbilo de minha alma, neste dia consagrado a honrar a Ima-culada Conceição de Maria, venho, por meio desta, fazer a Vossa Rev.ma um pe-dido, que por tanto tempo suspirei fazer.

Desde a mais tenra idade, sinto em mim o desejo ardente de ser ministro do Senhor, não só, mas me entregar todo a Ele com os santos votos religiosos na Congregação Salesiana.

Por isso, hoje quero pedir a V. Rev.ma a grande graça de emitir pela vez primeira os santos votos na Sociedade Salesiana.

Com grande anelo de ser atendido osculo respeitosamente a mão de V. Rev.ma.

Cl. João António Bertoldi

FILOSOFIA

O estudo da Filoso� a e do Curso Cientí� co foi em Lavrinhas (SP), de 1936 a 1937. Nestes dois anos, o diretor da casa era o seu antigo mestre de noviços, padre Agenor Vieira Pontes. Os demais salesianos eram o padre Pe-dro Prade, o padre Virgínio Fistarol, o padre Aníbal Lazzari e o Venerável pa-dre Rodolfo Komorek. Os estudantes de Filoso� a eram oito no segundo ano e vinte e um no primeiro ano. Muitos outros eram os Salesianos Irmãos num curso próprio de aperfeiçoamento para eles.

A segunda pro� ssão trienal foi após os exercícios espirituais, em Lore-na, no dia 14 de janeiro de 1939. Os votos perpétuos foram em São Paulo, no dia 06 de dezembro de 1944.

TIROCÍNIO

Depois do Curso Cientí� co e do Curso de Filoso� a vem a fase da Assis-tência ou Tirocínio Prático. É o exercício da Pedagogia Salesiana no cuidado de alunos dos nossos colégios e o exercício da Didática lecionando para os alunos nos diversos cursos oferecidos pelo colégio onde o candidato vai trabalhar.

O Tirocínio do seminarista João Borges foi em Araxá (MG), em 1938 e 1939, e no Liceu Coração de Jesus (SP), em1940.

88

A obra salesiana de Araxá foi fundada em 1926. Era o Colégio Dom Bosco com educação infantil e fundamental para internos e externos, paró-quia e capelanias. O diretor era o padre Emílio Filippini, o pároco era o padre José Baeta Tavares e trabalhavam ainda nesta comunidade o padre Clóvis Ra-mos Villa Nova e seis outros salesianos para a assistência e outras atividades como banda, canto orfeônico, teatro e trabalhos manuais.

No ano de 1940 foi o terceiro ano de assistência do seminarista João Borges foi no Liceu Coração de Jesus, em São Paulo.

O Liceu foi a segunda obra salesiana fundada no Brasil em 1885. Em 1940 o diretor era o padre João Resende Costa, com uma equipe de 40 sa-lesianos. O colégio tinha a educação infantil, o ensino fundamental, o ensi-no médio, aulas diurnas e noturnas para alunos internos e externos, escolas pro� ssionais de sapataria, tipogra� a, encadernação, alfaiataria, Faculdade de Economia, paróquia, capelania para os encarcerados, oratório festivo, grupo de Ex-Alunos e Salesianos Cooperadores.

O Liceu Coração de Jesus era uma cidade de crianças, adolescentes e jovens, mais de 1.000, num processo de aprendizagem nos cursos regulares de ensino e nos cursos pro� ssionais. Era uma cidade de meninos e jovens. Eis a razão do número tão grande de salesianos especializados na tarefa de educadores dos jovens.

O seminarista João Borges era assistente dos alunos internos. Cuidava da disciplina, do desenvolvimento escolar dos alunos, das aulas, animava os esportes e a participação de todos; quanto ao comportamento e rendimento escolar, controlava, anotava e informava o conselheiro escolar de tudo, em vis-ta da Leitura de Notas de comportamento e aplicação, e dava aulas também.

RENOVAÇÃO DA PROFISSÃO RELIGIOSA

Em Araxá, no dia 07 de novembro de 1938, o seminarista João Borges fez a seu diretor padre Emílio Fhilippini, o pedido para a renovação de sua primeira pro� ssão religiosa nestes termos:

Escrevo que, de minha livre e espontânea vontade, depois de ter pensa-do e rezado muito e de ter experimentado, no primeiro triênio, se podia ou não seguir esta divina vocação, peço formalmente a grande graça de poder renovar por mais três anos os votos religiosos.

99

E isso não faço por motivos humanos, mas por � ns espirituais: salvação de minha alma e da dos jovens para glori� car a Deus Nosso Pai e Senhor.

Embora fosse meu desejo fazê-los perpétuos, não me é dado, por falta de idade. Mas sempre e sempre quero pertencer inteiramente a Dom Bosco na Sociedade Salesiana.

Peço-vos não esqueçais de rezar pela minha perseverança e pela conse-cução do meu ideal.

Antecipando meus agradecimentos me subscrevo.

Irmão em D. Bosco SantoCl. João António Borges Bertoldi

PROFISSÃO PERPÉTUA

Em São Paulo, no dia 17 de novembro de 1941, faz seu pedido para a Pro� ssão Perpétua. Esta é feita no dia 06 de dezembro do mesmo ano, nas mãos do padre Orlando Chaves, inspetor salesiano. Em seguida, João Borges segue para o Curso de Teologia.

TEOLOGIA

A Teologia foi em São Paulo no Instituto Pio XI, no Alto da Lapa, de 1941 a 1944. A comunidade tinha como diretor o padre Luiz Garcia de Oli-veira. Estavam também naquela casa o padre Pedro Prade para aulas e o Oratório Festivo, o padre Alcionílio Bruzzi, o padre Virgínio Fistarol, o padre Breno Romeiro César, o padre José Vera, quatro Salesianos Irmãos num curso de aperfeiçoamen-to e os estudantes de Teo-logia do Brasil todo: 23 no quarto ano, 16 no terceiro ano, 21 no segundo ano e 14 no primeiro ano.

1010

No dia 14 de novembro de 1941 João Borges fez seu pedido para ser admitido à primeira Tonsura, que queria signi� car a renúncia às vaidades mundanas e assim ingressar no estado eclesiástico. Recebeu a Tonsura no dia 20 de dezembro de 1941, das mãos do Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, que esteve à frente da arquidiocese de São Paulo de 1939 a 1943.

Aos 09 de maio de 1942 fez o pedido regulamentar para ser admitido às Ordens do Ostiariado e Leitorado. Quer dar mais um passo, assim escreve, que o conduzirá ao sacerdócio. Pede ajuda de Nossa Senhora Auxiliadora e Dom Bosco para se manter � rme e constante na vocação. Recebe estas ordens no dia 30 de maio de 1942, também das mãos do mesmo Arcebispo de São Paulo.

Os estudos continuam e a vida comunitária também. Para as Ordens do Exorcitado e Acolitado faz seu pedido no dia 27 de outubro de 1942. Aprovado e aceito, recebe estas ordens no dia 12 de dezembro de 1942, também das mãos do Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar.

Já no � nal do terceiro ano de Teologia, juntamente com seus colegas de turma, faz o pedido para o Subdiaconado, cuja função é assistir o cele-brante nas missas cantadas, sendo responsável pela preparação dos vasos sagrados, pelo pão e vinho da missa, pela mistura da água no cálice e pelo canto da epístola. O pedido tem sequência lógica de intenções e disposição interior de receber um dia o Presbiterado. Foi ordenado Subdiácono por Dom Pedro Massa, SDB Bispo da Prelazia do Rio Negro, com sede em São Gabriel da Cachoeira (AM), erigida a 1º de maio de 1925, pelo Papa Pio XI.

Ainda no começo de 1944, no dia 29 de fevereiro, escreve sua carta de pedido para ser aceito para o Diaconado e pede ao diretor que, por suas orações, o ajude a preparar-se e tornar-se um ministro de Deus segundo o Coração de Jesus. O Diaconado foi recebido no dia 19 de março de 1944, das mãos de Dom Vicente Priante SDB, quinto bispo diocesano de Corumbá (MS).

No mesmo ano, além dos exercícios próprios de Diácono nas paró-quias ou obras salesianas, temos os estudos do quarto ano de Teologia e a preparação imediata para a ordem do Presbiterado. No dia 29 de outubro o Dc. João Borges faz seu último pedido. Nele reconhece sua indignidade para tão alta missão, contudo, con� a na bondade e misericórdia de quem o chamou desde pequeno para junto de si e o conservou no meio de tantas vicissitudes.

1111

Recebeu o Presbiterado das mãos do Arcebispo de São Paulo, o Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, no dia 08 de dezembro de 1944.

ATIVIDADES COM SALESIANO PADRE

No ano de 1945, a primeira atividade do neossacerdote João Borges é ser o ecônomo do Colégio São Joaquim, em Lorena. O Colégio tinha estas atividades: era aspirantado, estudantado de Filoso� a, escola para educação infantil, fundamental e médio, capelanias, Santuário Basílica São Benedito para o atendimento espiritual do povo, Oratório Festivo. O diretor era o padre Ladislau Paz, o ecônomo o padre João, o catequista dos clérigos, pós-noviços, era o padre Hugo Grecco, o catequista dos aspirantes era o padre José Vieira de Vasconcelos, o conselheiro dos aspirantes era o padre Eduardo Afonso, o conselheiro dos externos e encarregado do Oratório Festivo era o padre José Geraldo de Souza. Na comunidade havia os confessores da casa, os assisten-tes, um total de mais de dez salesianos, além dos acima citados.

Já no ano de 1946, o padre João foi transferido para ser conselheiro escolar e professor em Ponte Nova (MG), no Ginásio Dom Helvécio. Aí per-manecera até o � nal de 1947. Esta obra salesiana foi fundada em 1940. Nesta época sua atividade principal é internato e externato, com educação infantil e fundamental. O diretor, padre Alcides Lanna, que tinha uma equipe de dez salesianos para assistência, aulas e as atividades próprias da vida de internato.

Em 1948 e 1949 o vemos em Campinas, no Liceu Nossa Senhora Au-xiliadora, cuja fundação remonta ao dia 25 de julho de 1897. É um Colégio com regime de internato e externato, com a educação infantil, ensino fun-damental, ensino médio e Oratório Festivo. O 13º diretor era o padre Barto-lomeu Poli, no triênio (1948-1950); era auxiliado por dezoito salesianos para as diversas atividades do colégio. O padre João era o Conselheiro escolar, portanto, tudo o que se referia à disciplina, ao comportamento, às aulas e aos estudos estavam sob seu comando. Eram aulas, períodos de estudos e pesquisas, aulas de música e piano, recreios, fanfarra, jogos, campeonatos. Tudo sob sua responsabilidade.

De 1950 a 1953, padre João vai para Bagé (RS), como professor. Em Bagé temos o Colégio Maria Auxiliadora, que foi fundado em 1904. Colégio interno com educação infantil e fundamental, duas capelanias, paróquia com quatro associações paroquiais e, Oratório Festivo. O diretor é o padre Henri-que Schmengler e mais catorze salesianos.

1212

De 1954 até 1965, por um período de onze anos, novamente o padre João está no Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, como professor e confessor para alunos internos e externos daquele colégio.

Em 1966, como professor e confessor, o vemos no Colégio Dom Bosco em Piracicaba, fundado em 1950. Este colégio tem o regime de externato e Obra Social e Oratório Festivo São Mario, cuja inauguração e bênção das novas instalações se deram aos 19 dias de janeiro de 1963. Em 1966 o diretor era o padre António Gerotto, com mais oito salesianos para as diversas ativi-dades do Colégio.

Em 1966 o padre João começa o ano como confessor em Piracicaba, no Colégio Dom Bosco, e depois passa a ser vigário paroquial em Jundiaí, paróquia Santo António.

Em 1967 o padre João Borges foi para a Diocese de Corumbá. Ficaria adido ao bispo Diocesano, Dom Ladislau Paz SDB, por um ano. Mas aí perma-neceu por 24 anos. A cada período há uma solicitação do bispo para que con-tinue e uma carta do Inspetor e do padre João conversando sobre o assunto, e ele lá permanecendo.

Além dos trabalhos na Diocese, padre João dava aulas. E neste período, justamente em 1973, concluiu Processo de nº 3181/73 junto ao Conselho Federal de Educação, obtendo título nº 8.790 para lecionar Português no 3º grau, já pos-suindo título para as disciplinas Português, Geogra� a e Ciências Naturais e Física.

Na diocese pode servir, além de Dom Ladislau, os bispos Dom Onofre Cândido Rosa SDB, bispo Diocesano de Corumbá de 1978 a 1981, Dom Vitó-rio Pavanello SDB, bispo Diocesano de Corumbá de 1981 a 1984, Dom Pedro Fré C.SS.R., bispo Diocesano de Corumbá de 1985 a 1989. Deste, há uma carta ao padre Inspetor de São Paulo, padre Hilário Moser, solicitando a permanên-cia do padre João por mais um tempo.

Assim está na carta de D. Pedro:

Estou escrevendo ao senhor a � m de pedir uma grande caridade em favor da Diocese de Corumbá. Ultimamente, o padre João Borges Bertoldi tem desem-penhado o cargo de Vigário Geral e Chanceler do Bispado, bem como tem cui-dado de toda parte administrativa da Diocese. Além disso, é Pároco em Ladário (MS). Ele me disse que talvez fosse chamado para São Paulo. Em conversa com ele, ele se dispõe a permanecer por aqui, dependendo do senhor.

1313

Padre Hilário, é aqui que quero pedir a sua caridade para com esta Dioce-se tão desfalcada de sacerdotes. Tenho somente três sacerdotes diocesanos e são oito os salesianos. Dos Salesianos não posso exigir mais do que estão fazendo com a responsabilidade do Colégio Santa Teresa e Cidade Dom Bosco. É um tra-balho maravilhoso que eles desenvolvem nesta cidade junto à juventude. Além disso, aos sábado e domingos ajudam na pastoral atendendo diversas capelas. E ainda mais o atendimento de três Paróquias.

Quanto ao padre João Borges Bertoldi, eu o julgo indispensável porque conhece tudo da Diocese no tocante à parte administrativa. E eu que estou che-gando para enfrentar uma nova realidade vou precisar muito de sua ajuda. Por isso, quero pedir encarecidamente que o senhor o deixe por aqui. É uma grande caridade que o senhor faz não só para o bispo, mas principalmente para o povo desta Diocese. Se ele saísse eu não saberia como resolver o problema.

Padre Hilário, veja o que o senhor pode fazer. Eu conto com sua com-preensão.

Oremus pro invicem.Servo em Cristo

Corumbá, 17 de fevereiro de 1986.+ Pedro Fré CssR.

Depois de uma troca triangular de correspondências entre o bispo, Dom Pedro, o inspetor salesiano de São Paulo, padre Hilário Moser, e o padre João Borges Bertoldi, foi feito um Convênio para prolongamento da estadia do padre João naquela Diocese.

Padre João voltou para a Inspetoria Nossa Senhora Auxiliadora depois de D. José Alves da Costa DC, o 11º bispo Diocesano de Corumbá ter tomado posse em maio de 1991.

Nos anos de 1992 e 1993 o padre João Borges esteve em Londrina (PR) como vigário paroquial.

Os salesianos chegaram a Londrina (PR) em 1961. A primeira tarefa foi a administração da Rádio Alvorada de Londrina, da Fundação Mater et magistra e o Oratório Festivo.

1414

A Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora foi criada em 06 de janeiro de 1967, pelo bispo Dom Geraldo Fernandes Bijos, no mesmo espaço onde funcionava o Instituto Dom Bosco, que fora fundado em 1961.

De 1994 até o ano 2000, portanto, por sete anos, o vemos como vi-gário paroquial na paróquia do Senhor Bom Jesus do Monte, con� ada aos Salesianos de Dom Bosco desde o ano de 1972.

Nos anos 2001 e 2003 o padre João retorna para o Liceu Nossa Senho-ra Auxiliadora em Campinas, como confessor. A saúde vai decaindo. Precisa de cuidados especiais. Um câncer inexorável.

Chegou rápido o seu � m. Veio a falecer na Casa de Saúde, em Campi-nas, na madrugada de 14 de maio de 2003, festa do apóstolo São Matias. Ti-nha 85 anos de idade, 67 de vida religiosa salesiana, 59 anos de presbiterado, pertencia a esta Comunidade Salesiana do Liceu Nossa Senhora Auxiliadora.

A missa de corpo presente foi celebrada às 15h na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, presidida pelo padre Marco Biaggi, inspetor salesiano, acompanhado de inúmeros salesianos, sacerdotes salesianos e diocesanos, com a presença do povo e amigos da obra salesiana em Campinas. O sepul-tamento se deu às 16h30. Está sepultado no Jazigo dos Salesianos no Cemi-tério da Saudade em Campinas.

TESTEMUNHOS

Padre João Borges era um excelente professor. Inteligente e arguto. Em-bora tivesse gênio forte, procurava tratar a todos com delicadeza. Amava a Con-gregação e sempre procurou ser um bom salesiano. Devoto de Maria Auxiliado-ra. Foi para Corumbá (MS) para ser adido ao bispo diocesano, o salesiano Dom Ladislau Paz, por um ano, e lá � cou trabalhando 24 anos, cuidando da admi-nistração, sendo a um tempo Vigário Capitular, depois Vigário Geral e também Chanceler do bispado.

Padre Mario QuiliciVice-inspetor de BSP

1515

Londrina, 22 de maio de 2003.

Mui estimado padre Mário QuiliciPaz Christi.Estou sofrendo a partida do colega e amigo de 72 anos – desde 1931 –

João Bertoldi.

E cumpro o sagrado dever de lembrar-lhe a longa e grata presença de sin-cera estima.

Por isso tracei estas linhas que dizem alguma coisa de sua vida – devota-da a Cristo e a Dom Bosco.

Sua proverbial delicadeza saberá aproveitar o que achar de bom e útil.

Não esqueço nunca os que me atravessaram o caminho com carinhosa compreensão. Abraços do

Eduardo Afonso

Eis as linhas de Eduardo Afonso:

Obrigo-me a recordá-lo com respeito e admiração que sempre lhe tive. Foram 72 anos de amizade fraterna.

Teve começo em Lavrinhas, no distante 1931. Convivência frutuosa em Cristo e em Dom Bosco. Cursamos os quatro anos de ginásio no vetusto São Ma-nuel e, depois do Noviciado em Campinas e São Paulo, retornamos à fazenda do Coronel Horta para os dois anos de Filoso� a. Mais quatro anos no Alto da Lapa para os estudos teológicos. E depois nos separamos sem cortar os laços de esti-ma que jamais se perdeu através do tempo e do espaço.

No dia 31 de março do corrente ano padre João telefonou-me para o abra-ço dos 85 anos redondos. E eu lhe disse: “no dia 24 de junho pagar-lhe-ei a gentile-za!” – não aconteceu, porém. Aprouve ao Senhor levá-lo para o Jardim dos Eleitos.

Descanse em paz, e a luz perpétua o ilumine.

• Padre João Borges tinha inteligência privilegiada. Foi sempre o primeiro da classe, e era mestre nas “exatas”. Tinha cultura eclética. Difícil tocar em assun-to que não fosse de seu conhecimento.

1616

• Acima de tudo, porém, foi por longos 60 anos o exemplar “sacerdote de Cristo e Salesiano de Dom Bosco”. Disse-me, certa feita, ter lido quatro vezes as Memórias Biográ� cas.

• Nós, os mais antigos, bebemos em fontes de cristalinas águas dombos-quinas. Também, pudera, como mestres tivemos os padres – Domingos Cerra-to, André Del’Occa, Luiz Garcia de Oliveira, Aníbal Lazari, Ladislau Paz, Antônio Barbosa, João Resende Costa. Pecado sem perdão não tivéssemos aprendido.

• Padre João era homem de responsabilidade. Não tolerava leviandades, nem lidava com mesquinharias. Era, sim, um tanto severo – consigo mesmo, e com os outros. Conscientemente exato. Dois mais dois = quatro, e ponto. Tal-vez, ou sem talvez, por isso mesmo não era muito “social”. Somou, não obstan-te, rico cabedal para o dia das contas. De certo, pelo menos, como dizia meu saudoso padre Arcanjo Moratelli, empatou o jogo. E no desempate deu-lhe o Cristo – intrometida soberanamente a misericórdia! - o voto favorável.

Que ele reze por mim a � m que – pelo desempate misericordioso, São Pedro me abra a porta, e possa abraça-lo no Éden Celeste.

Professor Eduardo Afonso

As Memórias Biográ� cas de Dom Bosco XII, 466 e XVII, 272 traz um pen-samento muito importante e atual de Dom Bosco transcrito nas Constituições Salesianas: «O trabalho e a temperança farão � orescer a Congregação»; a procura das comodidades e do conforto será, ao contrário, a sua morte.

O salesiano entrega-se à sua missão com operosidade incansável, procurando fazer bem todas as coisas com simplicidade e medida. Sabe que com seu trabalho participa na ação criadora de Deus e coopera com Cristo na construção do Reino.

A temperança reforça-lhe a guarda do coração e o domínio de si, e o ajuda a manter-se sereno.

Não busca penitências extraordinárias, mas aceita as exigências diá-rias e as renúncias da vida apostólica: está pronto a suportar o calor e o frio, a sede e a fome, as fadigas e o desprezo, sempre que se trate da glória de Deus e da salvação das almas.

1717

Para nosso exemplo, padre João Borges fez isso, viveu assim, e alegre. Um ou outro sabia que ele carregava consigo a cruz do inexorável câncer.

Rezemos sempre por ele e por todos os irmãos salesianos falecidos e que Deus, na sua bondade, envie muitos jovens que queiram viver como o padre João Borges prometeu e viveu coerentemente. – Dai-lhes, Senhor, o repouso eterno. E brilhe para eles a vossa luz.

São Carlos, 29 de junho de 2015,no bicentenário do nascimento de Dom Bosco,

solenidade de São Pedro e São PauloP. Narciso Ferreira sdb

LINHA DO TEMPO

FATO LOCAL DATANascimento Canguçu (RS) 24/06/1918Batizado - Pelotas Paróquia de Sant’Ana 25/04/1919Crismado – Pelotas Paróquia de Sant’Ana 30/03/1924Noviciado São Paulo - Pio XI 1935Primeira Profi ssão São Paulo – Pio XI 28/01/1936Segunda Profi ssão Lorena 14/01/1939Assistência Araxá (MG) 1939-1940Assistência São Paulo – Liceu 1941Profi ssão Perpétua São Paulo 06/12/1941Teologia São Paulo – Pio XI 1941-1944Tonsura S. Paulo 20/12/1941 Dom José GasparOstiariado e Leitorado S. Paulo 30/05/1942 Dom José GasparExorcitado e Acolitado S. Paulo 12/12/1942 Dom José Gaspar

1818

Subdiaconado S. Paulo 08/12/1943 Dom Pedro Massa SDBDiaconado S. Paulo 19/03/1944 Dom Vicente Priante SDB

Presbiterado S. Paulo 08/12/1944 D. Carlos Carmelo de V. Motta

Ecônomo Colégio S. Joaquim - Lorena 1945Conselheiro escolar Ponte Nova (MG) 1946-1947Conselheiro escolar Campinas Liceu 1948-1949Professor Bagé (RS) 1950-1953Professor e Confessor Campinas, Liceu 1954-1965Professor Piracicaba 1966Vigário Paroquial Jundiaí 1967Adido ao bispo Corumbá (MS) 1967-1991 – 24 anosAdido ao bispo Ladário (MS) Pároco Adido ao bispo Vigário Capitular 1981-1982Adido ao bispo Chanceler do bispado 1983-1991Adido ao bispo Vigário Geral 1983-1991Vigário Paroquial Londrina (PR) 1992-1993Vigário Paroquial Piracicaba 1994-2000Confessor Campinas, Liceu 2001-2003Falecimento Campinas (SP) 14/05/2003

Dados para o NecrológioPadre João António Borges Bertoldi *Canguçu (RS), 24 de junho de 1918.†Campinas (SP), 14 de maio de 2003 com:85 anos de idade67 de vida religiosa salesiana59 de presbiteradoEstá sepultado no Jazigo dos Salesianos no Cemitério da Saudade em

Campinas.