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1. PRECEDENTE JUDICIAL1
Érico Andrade
Prof. Adjunto da Faculdade de Direito da UFMG
1. O tema da exposição é dos mais complexos no processo contemporâneo e tem
gerado muita discussão e debate não só no direito brasileiro, mas no direito europeu
em geral, em que se percebe uma espécie de mixagem dos sistemas conhecidos como
civil law e common law, o que vem causando grande perplexidade doutrinária.
2. Antes de se passar ao tratamento do precedente propriamente dito, cabe uma
contextualização importante, para retratar a complexidade do tema.
3. O direito formado entre o século XIX e meados do século XX, se baseava no
valor da lei, ou seja, da lei e dos códigos como o ponto de referência jurídico, nos
quais se baseavam os juízes e tribunais para decidir.
4. Com o surgimento do chamado Estado pluriclasse (Giannini), em que várias
classes sociais, com a democratização do voto, ganham o parlamento, a lei começa a
perder sua condição de elemento uniformizador e de coerência do sistema,2 papel que
se desloca para a constituição, formatada, no mais das vezes, em cima de normas
abertas, os chamados princípios.
5. Assim, o papel de mediação acaba por ser retratado na própria Constituição
uma vez que esta acolhe os vários valores da sociedade e possibilita a convivência
entre eles, conforme leciona ZAGREBELSKY:
1 Texto inicial, não revisado, da apresentação realizada para a EJEF em 02 de outubro de 2014, e
disponibilizado internamente para a EJEF apenas para informação complementar aos alunos. Adiantam-
se as desculpas em razão de eventuais erros de digitação e de português. 2 ZAGREBELSKY, Il diritto mite, p. 44-45: In questa situazione, viene notevolmente ridotta l’aspirazione della
legge a essere fattore di ordine. Essa è piuttosto espressione di un disordine, al quale essa cerca, al più, di porre
remedi ex post factum. A explicação, segundo ZAGREBELSKY, Il diritto mite, p. 45, está no pluralismo das
forças políticas, que conduz não sò à perda da generalidade da lei, mas também na heterogeneidade de seu
conteúdo, a contribuir para o clima de instabilidade legal: Il pluralismo delle forze politiche e sociali in campo,
tutte ammesse alle competizione per l’affermazione delle proprie istanze nelle strutture dello Stato democratico
e pluralista, conduce all’eterogeneità dei valori e degli interessi espressi nelle leggi. [...] La legge, insomma,
non è piú garanzia assoluta e ultima di stabilità ma diviene essa stessa strumento e causa di instabilità.
2
“Le società pluraliste attuali, cioè le società segnate dalla presenza di una
varietà di gruppi sociali, portatori di interessi, ideologie e progetti differenziati ma in
nessun caso così forti da porsi come esclusivi o dominanti e quindi da fornire la base
materiale dalla sovranità statale nel senso del passato [...] assegnano alla
Costituzione il compito di realizzare la condizione di possibilità della vita comune,
non il compito di realizzare direttamente un progetto predeterminato di vita comune”.
6. Isso porque, com o surgimento do Estado pluriclasse se inicia o processo de
inflação legislativa, em que a lei é usada para proteger os interesses das várias classes
representadas no parlamento, e começa, portanto, a fragmentarização da legislação e
dos códigos, bombardeados constantemente pela legislação especial.
7. Com isso, chega-se, na doutrina italiana, a falar abertamente do nosso tempo
como a era da “descodificação” (Natalino Irti e Nicola Picardi), em que os códigos
civil e de processo civil perdem seu papel de centro do direito, bombardeado que
foram pelas leis extravagantes, que chegam a criar verdadeiros microssistemas
jurídicos independentes. O centro, pois, de estabilidade do sistema, deriva para a
Constituição. 3
8. Paralelamente, a Constituição assume papel jurídico cada vez maior, pois passa
a ser o documento jurídico máximo do Estado (o século XX é chamado o século do
constitucionalismo, que vê a Constituição ganhar o centro do ordenamento jurídico),
cristalizando os princípios básicos que irão reger o Estado e a sociedade, razão pela
qual acaba por se tornar o centro do direito.
9. O papel que antes era desenvolvido pela lei e pelos códigos, como centro de
referência jurídica, se transfere para a Constituição.
3 Segundo IRTI, L’età della decodificazione, p. 96, tem-se que não mais o código, mas sim a Constituição passa
a exercer o papel central do direito: queste garanzie, già prestate dal codice civile, si sono transferite dal piano
delle norme ordinarie al piano delle norme costituzionali. E completa IRTI, L’età della decodificazione, p. 99:
la certezza non deriva più dalla stabilità delle norme e dalla centralità del codice civile, ma dal carattere rigido
della Costituzione e dall’impegno sistematico degli interpreti.
3
10. Segundo ZAGREBELSKY, “la legge, un tempo misura esclusiva di tutte le
cose nel campo del diritto, cede cosí il passo alla costituzione e diventa essa oggetto di
misurazione. Viene detronizzata a vantaggio di un’istanza piú alta. [...] Il principio di
costituzionalità è, nella nuova situazione, ciò che deve assicurare il perseguimento di
questo compito di unità”.
11. E essa transferência não é meramente formal, ou simples passagem da
referência de um documento legislativo para outro: a Constituição é montada, desde
meados do século XX, em cima de princípios jurídicos, normas abertas, flexíveis, e
que veiculam idéias-base do sistema.
12. Com isso, o ponto de referência jurídico, centrado na Constituição, gera
imensas dificuldades para os operados do direito, em especial para os juízes e
tribunais, que constatam o cambiamento do direito por leis para o direito por
princípios, situação em que o papel da jurisdição e da jurisprudência aumentam
enormemente, dentro do intenso cipoal legislativo gerado pelo processo de inflação
legislativa, e da abertura para os princípios ditada pela Constituição, permitindo à
jurisprudência assumir, às claras, um papel “criador” do direito mais intenso do que
até então teoricamente se lhe reconhecia, já que o juiz era visto, como proclamavam os
franceses, como “buche de la loi”.
13. E, para piorar, no âmbito do Estado pluriclasse, a Constituição acolhe vários
princípios ao mesmo tempo, que são muitas das vezes conflitantes entre si, mas todos
de igual hierarquia e que devem conviver na mesmo ambiente juridicamente
organizado, pela via da harmonização, e não por eliminação ou amputação, sendo esse,
aliás, um dos mais importantes papéis da jurisprudência constitucional: harmonizar os
princípios, permitindo a convivência entre eles.
14. Nesses termos, surge o tema da maior abertura conferida pela principiologia,
que permite a flexibilização da atividade do julgador, aumentando-lhe a possibilidade
de buscar soluções que melhor se adaptem ao caso concreto, dentro da margem ditada
pelos princípios constitucionais e pelos conceitos jurídicos indeterminados.
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15. Tenha-se a perfeita lição de ZAGREBELSKY: Il carattere spirituale del tempo
in cui viviamo mi pare quindi possa descriversi come l’aspirazione non a uno ma a
tanti principi o valori formativi della convivenza colletiva [...] È il tema del conflitto
dei valori, che noi vorremmo sciogliere dando la vittoria a tutti, anche se conosciamo
la loro tendenziale inconciliabilità. Il tempo presente è quello in cui sembra
dominante l’aspirazione a quanto è concettualmente impossibile ma praticamente
altamente desiderabile: non la prevalenza di un solo valore di un solo principio, ma la
salvaguardia di tanti, contemporaneamente. L’imperativo teorico di non
contraddizione – valido per la scientia juris – non dovrebbe impedire il perseguimento
del compito, proprio della jurisprudentia, di realizzare positivamente la “pratica
concordanza” delle diversità e perfino delle contraddizioni che, pur essendo tali in
teoria, non cessano per questo di essere concretamente desiderabili. “Positivamente”:
non dunque attraverso mere amputazioni di pontenzialità costituzionali, ma
principalmente attraverso accorte soluzioni cumulative, combinatorie, compensative
che portino i principi costituzionali a svilupparsi insieme, piuttosto che ad avvizzire
insieme.
16. Por isso, segundo ZAGREBELSKY, a pluralidade dos princípios não acarreta a
formação de uma ciência de composição entre eles, mas um balanceamento prudente,
marcado pela proporcionalidade e pela razoabilidade:
La pluralità dei principi e l’assenza di una gerarchia formalmente determinata
comporta che non vi possa essere una scienza della loro composizione ma una
prudenza nel loro bilanciamento. La “pratica concordanza”, cui si è fatto cenno, o la
“pesa dei beni giuridici indirizzata al principio di proporzionalità” [...]. Forse,
l’unica regola formale di cui si può parlare è quella della “ottimizzazione” possibile
di tutti i principi ma come ottenere questo risultato è questione eminentemente
“materiale”.
17. Como afirma ZAGREBELSKY, pode ser que essa conclusão não satisfaça os
espíritos voltados para maior anseio de segurança, tal como se pensava no direito
anterior, mas não há como fugir do contexto aberto das sociedades modernas e dos
direitos que as regulam:
5
Si potrà dire che non si tratta sempre di conseguenze tranquillizzanti, rispetto a
certe esigenze che il tempo passato poneva come inderogabili – ad esempio la certezza
e la prevedibilità delle decisioni giudiziarie e forse anche la posizione non engagée
dei judici –. Ma non guardare la realtà per no vederne gli aspetti meno
tranquillizzanti non la trasforma nel senso dei nostri desideri.
18. Essa, segundo ainda ZAGREBELSKY, potrà essere una conclusione che non
soddisfa le esigenze di chiarezza, purezza, coerenza del pensiere, ma la convivenza
umana non è affare di pure pensiero.
19. Assim, sabe-se que a certeza e a segurança jurídicas constituem características
essenciais das mais remotas ordens jurídicas.4 É certo, porém, que a perspectiva de
abertura provocada pela “principialização” do direito leva a incertezas e traduz
insegurança, tendo em vista a fluidez da principiologia encampada na Constituição.5
Mas esta é a realidade jurídica atual, e não podem a Administração e os demais
operadores do direito se furtar a ela.
20. A busca da certeza jurídica sempre foi considerada um ideal, razão pela qual
não se pode ter a ilusão do seu completo atingimento.6 O que se pode e deve esperar,
inclusive do poder judiciário, é maior estabilidade nas decisões e nos mecanismos de
interpretação jurídica,7 perspectiva que pode ser atingida se se considerar que a
Constituição, hoje, é o centro de referência do direito.8
4 FARALLI, Carla. Il “diritto alla certezza” nell’età della decodificazione. In: SCRITTI Guiridici in Onore di
Sebastiano Cassarino, v. I, p. 623: Fin dall’antichità la certezza del diritto è stata considerata come una
caratteristica essenziale e costitutiva del diritto. 5 MORAES, Controle jurisdicional da administração pública, p. 19.
6 FARALLI, Carla. Il “diritto alla certezza” nell’età della decodificazione. In: SCRITTI Guiridici in Onore di
Sebastiano Cassarino, v. I, p. 625: È stato scritto che un diritto che realizzi pienamente il valore della certezza
rappresenta un ideale al quale i diritti storici possono approssimarsi più o meno notevolmente senza però avere
la pretesa o illusione di realizzarlo. Aliás, como aponta a mesma FARALLI, Carla. Il “diritto alla certezza”
nell’età della decodificazione. In: SCRITTI Guiridici in Onore di Sebastiano Cassarino, v. I, p. 629, todo esse
processo de erosão da lei como centro do direito foi proclamado por autorizada doutrina como a revanche da
efetividade sobre o formalismo legal, sustentando-se que nesse contexto o contrato se destina a tornar-se o
principal instrumento de inovação jurídica. 7 Segundo FARALLI, Carla. Il “diritto alla certezza” nell’età della decodificazione. In: SCRITTI Guiridici in
Onore di Sebastiano Cassarino, v. I, p. 630, essa perda da centralidade da lei como ponto de referência para a
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21. O Judiciário deve promover o julgamento de casos semelhantes da mesma
forma, até por razões de igualdade de tratamento dos cidadãos diante da lei, o que,
certamente, irá gerar maior estabilidade e possibilidade de o cidadão ter um mínimo de
previsibilidade a respeito da sua pretensão.9
22. Hoje qualquer tipo de estabilidade jurídica que se possa esperar parte da
Constituição como centro de referência, e não da lei, diante das características do
mundo atual e da tantas vezes anunciada inflação legislativa.10
23. Assim, no âmbito do movimento pendular, no Estado, entre administração,
legislação e jurisdição, PICARDI qualifica nossos tempos atuais como o tempo da
jurisdição, em que tal função estatal tem maior destaque e aponta a vocação do nosso
tempo para a jurisdição e a doutrina jurídica: All’inizio del XXI secolo, la situazione
certeza e a segurança jurídica importa na dramática busca de um novo centro de referência em condições de
permitir grau aceitável de certeza e estabilidade. 8 IRTI, L’età della decodificazione, p. 96-97, leciona que a garanzie, già prestate dal codice civile, si sono
trasferite dal piano delle norme ordinarie al piano delle norme costituzionale. E aponta ser a certeza
constitucional l’unica certezza possibile in una società frantumata ed in un Stato scosso da violente
trasformazioni. E conclui: La certezza di ieri era fondata su ciò che la norma diceva; la certezza di oggi, su ciò
che la norma ordinaria non può dire (per il controllo di legittimità costituzionale) o deve dire (in adempimento di
obblighi, imposti dalle norme costituzionali agli organi legislativi). Ou seja, mudou o tipo de “certeza”que antes
permeava o mundo jurídico: agora, com a constituição, e a abertura principiológica, o conceito de certeza e estabilidade
muda para a “certeza”ou “estabilidade” constitucional, que é muito diversa daquela proporcionada pela lei, dentro da
fluidez dos conceitos abertos, cláusulas gerais, e as possibilidades do intérprete promover as adaptações devidas. Todavia,
essa leitura ou atividade é sempre parametrizada pela constituição, que agora é o novo centro de referência jurídica. 9 MONTESANO, La tutela giurisdizionale dei diritti, p. 88-89: L’uguaglianza dei cittadini davanti alla legge
(art. 3 Cost.) sarebbe troppo facilmente frustrata nei giudizi, se non venisse assicurata agli stessi cittadini una
ragionevole prevedibilità de loro esiti, in diverse parole se qui il detto principio costituzionale non generasse il
corollario che casi simili devono ricevere decisioni giudiziarie simili. È questa un’esigenza avvertita da tutti gli
ordinamenti sensibili ai diritti dei cittadini e che costituisce in gran parte la base dei sistemi di tipo
anglosassone a “precedente vincolante”, dai quali il nostro differisce, ma, come fra poco si vedrà, forse meno di
quanto diffusamente si crede. 10
Como aponta FARALLI, Carla. Il “diritto alla certezza” nell’età della decodificazione. In: SCRITTI Guiridici
in Onore di Sebastiano Cassarino, v. I, p. 625-626, em uma sociedade caracterizada por rápidas transformações,
além de grande mobilidade e de desenvolvimento tecnológico, a lei perde centralidade, não só em razão do
grande e variado número de leis, mas também em razão da lentidão do processo legislativo. Cf., ainda,
SCHERZBERG, Para onde e de que forma vai o direito público?, p. 28-29.
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appare ormai differente e più complessa. Potremmo sintetizzarla parlando di
vocacione del nostro tempo per la giuridizione e la dottrina giuridica.
24. E continua Picardi, no excelente texto La vocazione del nostro tempo per la
giurisdizione, apontando no âmbito dos vários fatores que contribuem para que a
jurisdição assuma tal posição de proeminência no âmbito jurídico:
a) a legislação tem perdido sua posição de proeminência em razão da inflação
legislativa, tanto do ponto de vista da quantidade como da qualidade e da pluralidade
de centros produtores de normas: no Brasil, por exemplo, veja-se a produção
normativa de todas as unidades da federação, além da produção normativa por entes
integrantes da Administração Pública;
b) e por outro lado, o legislador tem restado inativo em temas relevantes: vide no
Brasil o tema da união homossexual decida no fim das contas pelo STF;
c) diante dessa confusão normativa, o Judiciário é que tem sido chamado para se
manifestar;
d) muitas vezes o Judiciário acaba por atuar como uma espécie de fonte subsidiária do
direito, e já se admitindo com certa tranquilidade que o papel do juiz não é apenas o de
boca da lei, mas acaba por criar, em certa medida, o direito. Este é um dos temas
centrais hoje, e Picardi aponta muito bem a perspectiva quando destaca a polêmica: a
função do juiz é de descoberta do direito a partir da lei ou chega a criar o direito?
e) destaca como o poder judiciário entendido de forma burocrática vai hoje afirmando
sua posição de poder em confronto com o legislativo e o executivo, tornando incerto
os confins e a identificação de tais funções no confronto com os três poderes, ou seja,
o modelo tradicional se mostra desarticulado e desatualizado para fazer face à situação
atual.
8
25. Este o cenário macro em que vem ganhando cada vez mais importância o
Judiciário e a jurisprudência, e do qual se pode partir para estudar o precedente
judicial.
26. Também Costantino (Rivista Trimestrale, 2011, n. 4-speciale) destaca a subida
de importância do precedente judicial a partir das seguintes constatações:
a) o frenesi legislativo, com frequentes alterações de rumo, além de elaboração de
normas opacas, implicam em sérias consequências para o sistema jurídico, pois: i) dá-
se mais atenção à interpretação do que ao funcionamento da justiça em si; ii) gera
interpretações criativas; iii) legislador ineficiente leva a jurisprudência a lugar de
destaque;
b) este cenário eleva a importância da jurisprudência como direito vivo, e sobe
também a importância da jurisprudência como uniformizadora dos entendimentos em
torno da interpretação da lei, o que leva, inclusive, parte da doutrina a propor a
jurisprudência como fonte do direito,
1.1 A evolução do sistema brasileiro de valorização do precedente
27. O CPC de 1973 já previu um instrumento de valorização da jurisprudência,
inclusive para se buscar sua uniformização, qual seja, o chamado “incidente de
uniformização da jurisprudência” (arts. 476/479, CPC).
28. O incidente pode ser suscitado por qualquer juiz no tribunal, ao dar voto na
turma, câmara ou grupo de câmaras, a fim de solicitar o pronunciamento do tribunal
acerca da interpretação do direito quando se verificar que ocorre divergência ou no
julgamento a interpretação for diversa da que adotada por outra turma ou câmara.
Segundo a jurisprudência do STJ e deste TJMG trata-se de faculdade do relator, ou
9
seja, cabe ao relator, em juízo de conveniência e oportunidade, suscitar ou não o
incidente.
29. A parte pode também preventivamente indicar o incidente no recurso ou em
petição avulsa, mas sempre antes do julgamento do recurso diante do reconhecido
caráter preventivo e não repressivo do incidente de uniformização de jurisprudência.
30. A doutrina aponta que os tribunais de segunda instância (TJ’s e TRF’s) não têm
o costume de editar súmulas de jurisprudência e nem admitem com facilidade
incidente de uniformização de jurisprudência, de modo que o instituto previsto no CPC
nunca teve grande utilização nos tribunais de segunda instância (José Rogério Cruz e
Tucci). Registre-se que o TJMG todavia, nos últimos tempos, tem editado súmulas,
chegando atualmente a 29 súmulas (número baixo se se considerar que o CPC está em
vigor desde 1973: e mais, estas súmulas foram criadas basicamente nos últimos 10
anos).
31. Neste sentido, em pesquisa no site do TJMG nos últimos dois anos foram
encontrados apenas 2 incidentes acolhidos, o que de certa maneira confirma a
indicação doutrinária:
a) incidente de Uniformização de Jurisprudência nº 1.0000.12.126587-0/002: É cabível
a impetração de mandado de segurança contra decisão judicial que rejeita os
embargos infringentes previstos no artigo 34 da Lei nº 6.830/80, desde que debate
matéria de cunho infraconstitucional, e, portanto, não atacável por recurso
extraordinário;
b) incidente uniformização jurisprudência 1.0024.11.312690-8/002: “ACOLHERAM O
INCIDENTE PARA DECLARAR QUE A PRESCRIÇÃO DO BENEFÍCIO DE
PENSÃO POR MORTE DEVIDO AOS DEPENDENTES DOS SERVIDORES DO
10
IPSEMG ALCANÇA APENAS AS PARCELAS SUCESSIVAS VENCIDAS ANTES DO
QUINQUÊNIO QUE PRECEDEU O AJUIZAMENTO DA AÇÃO, CONTANDO-SE O
PRAZO PRESCRICIONAL A PARTIR DA NEGATIVA DA ADMINISTRAÇÃO”.
32. Ao lado da baixa utilização do incidente de uniformização de jurisprudência no
âmbito dos tribunais de segunda instância, o que se percebia no direito brasileiro, no
âmbito do CPC de 73, era uma utilização cada vez maior nos tribunais superiores da
súmula e sua valorização cada vez maior.
33. A súmula surge no direito brasileiro, segundo a doutrina (Higashiyama, RePro
200/76) na década de 1960, no âmbito do regimento interno do STF, em que se
aprovou a edição de súmulas da jurisprudência dominante do STF, sem efeito
vinculante, sob o fundamento de que seria instrumento simplificador dos julgados. Na
sequência foi acolhida também pela Lei 5010/66 (lei que organiza a Justiça Federal),
na qual se atribuiu ao extinto TFR competência para organizar, a fim de orientar a
Justiça Federal, súmulas de sua jurisprudência (art. 63).
34. E depois a perspectiva da súmula da jurisprudência adentra o próprio CPC, cujo
art. 479, no âmbito do incidente de uniformização da jurisprudência, veio a dispor que
“o julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que integram o
tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização da
jurisprudência”.
35. A partir da CF/88 que cria o STJ como tribunal superior competente para
uniformizar a lei federal e mantém o STF como tribunal constitucional, surge a Lei
8.038/90 a perspectiva legal de se conferir maior força às súmulas, como permitir que
o relator, no STF ou no STJ, negue monocraticamente seguimento a recurso que
esbarre em entendimento da jurisprudência sumulada:
11
“Art. 38 - O Relator, no Supremo Tribunal Federal ou no Superior Tribunal de
Justiça, decidirá o pedido ou o recurso que haja perdido seu objeto, bem como negará
seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível ou,
improcedente ou ainda, que contrariar, nas questões predominantemente de direito,
Súmula do respectivo Tribunal”.
36. O que se observa a partir daí é um crescente cada vez maior de valorizar a
súmula, tanto do ponto de vista destes tribunais superiores como do ponto de vista
legislativo.
37. Nesse sentido, por exemplo, o STJ, em voto da lavra do Min. Sálvio de
Figueiredo, já indicava a necessidade de órgãos judiciais observarem as súmulas,
mesmos que desprovidas de força legal:
“RESPEITADAS AS RESSALVAS LEGAIS, MESMO REITERADA E DIUTURNA A
JURISPRUDENCIA NÃO TEM FORÇA DE VINCULAR OS PRONUNCIAMENTOS
JURISDICIONAIS. NÃO SE JUSTIFICA, NO ENTANTO, QUE OS ORGÃOS
JULGADORES SE MANTENHAM RENITENTES A JURISPRUDENCIA
SUMULADA, CUJO ESCOPO, DENTRO DO SISTEMA JURIDICO, E ALCANÇAR
EXEGESE QUE DE CERTEZA AOS JURISDICIONADOS EM TEMAS POLEMICOS,
UMA VEZ QUE NINGUEM FICA SEGURO DO SEU DIREITO ANTE
JURISPRUDENCIA INCERTA” (REsp 14.945/MG, Rel. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 17/03/1992, DJ
13/04/1992, p. 5002)
38. Tenha-se outro precedente do Superior Tribunal de Justiça, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros:
“PROCESSUAL – STJ - JURISPRUDÊNCIA - NECESSIDADE DE QUE SEJA
12
OBSERVADA.
O Superior Tribunal de Justiça foi concebido para um escopo especial: orientar a
aplicação da lei federal e unificar-lhe a interpretação, em todo o Brasil. Se assim
ocorre, é necessário que sua jurisprudência seja observada, para se manter firme e
coerente.
Assim sempre ocorreu em relação ao Supremo Tribunal Federal, de quem o STJ é
sucessor, nesse mister. Em verdade, o Poder Judiciário mantém sagrado compromisso
com a justiça e a segurança. Se deixarmos que nossa jurisprudência varie ao sabor
das convicções pessoais, estaremos prestando um desserviço a nossas instituições. Se
nós – os integrantes da Corte – não observarmos as decisões que ajudamos a formar,
estaremos dando sinal, para que os demais órgãos judiciários façam o mesmo. Estou
certo de que, em acontecendo isso, perde sentido a existência de nossa Corte. Melhor
será extingui-la” (AgRg nos EREsp 228.432/RS, Rel. Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/02/2002, DJ 18/03/2002,
p. 163).
39. A partir daí a legislação ordinária passa a trilhar o caminho de conferir cada vez
mais valor às súmulas, como se observa do seguinte caminho trilhado pelas reformas
do CPC:
a) Lei 9.756/98, que alterou, entre outros, o art. 557 do CPC, em cujo âmbito se passou
a admitir o julgamento monocrático de recursos nos tribunais, quando o recurso estiver
em confronto com súmula ou jurisprudência dominante: “Art. 557. O relator negará
seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”;
b) Lei 10.352/01: eliminação do reexame necessário quando a sentença estiver fundada
em jurisprudência do plenário do STF, ou de súmula deste ou de outro tribunal
superior: art. 475, § 3º: “§ 3º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a
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sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal
ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente”;
c) Lei 11.276/06: inviabilidade da apelação se a sentença estiver em conformidade
com súmula do STF ou do STJ, conforme nova redação dada ao §1º do art. 518, CPC:
“§ 1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em
conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal
Federal”.
d) Lei 11.418/06 que regulamentou a repercussão geral no âmbito do recurso
extraordinário indicando acrescendo os arts. 543-A e 543-B ao CPC, prevendo, por
exemplo, no art. 543-A, §5º, CPC, que: “Negada a existência da repercussão geral, a
decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos
liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal”.
e) Lei 11.672/08 que acresceu o art. 543-C no CPC, para regular o julgamento de
recurso especial no âmbito de demanda múltiplas ou seriadas, determinou a
observância do precedente do STJ, conforme §7º do citado artigo: “Publicado o
acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na
origem: I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir
com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou II - serão novamente
examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da
orientação do Superior Tribunal de Justiça”;
f) no projeto de CPC (versão Câmara enviado ao Senado em 26.03.2014 – PL 8046-
B), evolui-se ainda para permitir o julgamento de improcedência preliminar da
demanda, quando esta contrariar súmula de jurisprudência: “Art. 333. Nas causas que
dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará
14
liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I – súmula do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II – acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência; IV – frontalmente norma jurídica extraída
de dispositivo expresso de ato normativo; V – enunciado de súmula de tribunal de
justiça sobre direito local”.
40. E o coroamento ou ápice do prestígio sumular vem com a alteração da CF, por
meio da EC 45/04 que acresceu o art. 103-A, prevendo a chamada súmula vinculante,
ou seja, súmulas editadas pelo STF e que uma vez editadas na forma da Constituição
vinculam todos os demais juízos e tribunais, bem como a própria Administração
Pública. Relembre-se o teor do art. 103-A, CF:
“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”. (a lei
em questão já foi editada: Lei 11.417/06).
41. Determina ainda o § 1º do art. 103-A a razão de ser e o objeto da Súmula
vinculante:
“A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou
entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica”.
15
42. E cria ainda a CF um mecanismo eficaz, canal direto com o STF, para impedir o
desrespeito à súmula vinculante: a reclamação como se extrai do § 3º do art. 103-A:
“Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso”.
43. Segundo a doutrina (v.g., José Roberto Freire Pimenta) a ideia base da súmula é
a redução do número de demandas nos tribunais superiores, que se encontram
abarrotados de recursos, muitas vezes sem fundamento, tendo, assim, o propósito de
combater o uso predatório da justiça por meio da interposição de recursos protelatórios
ou inúteis, já decididos pelo STF.
44. Acatou-se a proposta moderada que indicou a viabilidade de edição de súmula
vinculante só para o STF, e não de outros tribunais superiores.
45. O STF de 2007 até hoje já editou 32 súmulas vinculantes.
46. Críticas às súmulas vinculantes (José Roberto Freire Pimenta):
a) Súmula vinculante: não resolveu o problema da enxurrado de processos que assola o
Judiciário, já que os tribunais superiores a e justiça brasileira continua assoberbada:
vide dados CNJ 2013: tabelas 5 e 6 indicam maior volume de processos que entram na
Justiça e maior estoque processual na Justiça (CNJ Justiça em Números – Sumário
Executivo);
16
b) as súmulas, como contêm enunciados genéricos, muito assemelhados à lei, e que
não tem como retratar, por isto, a lógica dos precedentes que as geraram, e, ao se
traduzirem como súmulas vinculantes, podem representar a concessão ao Judiciário de
função legislativa que não é adequada em sistemas da família romano-germânica como
o brasileiro;
c) as súmulas vinculantes podem ser editadas logo após edição de medidas legislativas
controversas, polêmicas, e com isso inibiria o Judiciário de discutir mais amplamente a
matéria, evitando-se o debate jurisprudencial: ou seja, a súmula pode aparecer em
qualquer momento, e não só após amplo debate judicial com uma gama de precedentes
alinhados;
d) aprovação prematura da súmula vinculante, sem maiores debates e reiteração de
decisões sobre o tema, inclusive por parte das instâncias inferiores, não obstante a
ideia de que as súmulas. Apontam-se, nesta linha, incongruências em algumas das
súmulas vinculantes, como aprovação de súmula sem que aquele próprio Tribunal já
houvesse proferido reiteradas decisões no sentido da interpretação nelas consagrado.11
1.2. Breves referências críticas
47. Do ponto de vista da crítica da perspectiva das súmulas e do precedente judicial,
a doutrina nacional e estrangeira tem apresentado ponderações muito razoáveis que
merecem meditação:
11
Como ocorreu no caso da Súmula Vinculante nº 4, relativa à base de cálculo do adicional de insalubridade,
que resultou de decisão contrária ao que até então vinha sendo decidido pelo STF, que em algumas decisões
anteriores, proferidas em sede de julgamento de recursos extraordinários, não havia admitido que o salário
mínimo legal fosse utilizado como base de cálculo do adicional de insalubridade.
17
a) no direito brasileiro tem-se buscado uma eficiência quantitativa, na busca de alta
produtividade no âmbito judiciário, o que leva à necessidade de uniformização da
jurisprudência para que os precedentes sejam seguidos, uniformização que tem se dado
de forma superficial, antes de maiores debates em torno do caso, na busca de se
aumentar a estatística de casos resolvidos (Humberto Theodoro, Dierle Nunes,
Alexandre Bahia);
b) muitas vezes o tribunal superior, ao julgar as demandas múltiplas ou seriadas,
destaca alguns casos e a partir daí busca-se impor a jurisprudência para os outros
casos, sem maiores análises ou aprofundamentos no caso concreto;
c) nem mesmo nos países em que historicamente se usam os precedentes (common
law), o precedente não é levantado em tese, mas devidamente contextualizado no
âmbito do caso concreto, de modo que a situação do direito brasileiro em busca da
suposta igualdade de tratamento acaba por fomentar o engessamento dos
posicionamento, principalmente em razão da forma superficial com que os precedentes
são criados, com o que se favorece inclusive, uma concepção hierarquizada da Justiça,
com quebra da independência interna (Humberto Theodoro, Dierle Nunes, Alexandre
Bahia);
d) Humberto Theodoro, Dierle Nunes, Alexandre Bahia, inclusive se referem ao
fenômeno sumular como uma espécie de “common law à brasileira”, sem a
preocupação científica de consolidação de uma verdadeira “teoria dos precedentes” em
nosso país, pois a aplicação e alegação e súmulas se dá de forma completamente
desconectada dos casos concretos, como se se tratasse de norma legal, de forma muito
diferente do que se passe nos países da common law.
48. Vale também invocar, a título de análise crítica, a doutrina italiana que tem se
produzido desde 2010 sobre a perspectiva do precedente judicial e que foi suscitada
18
por um pronunciamento da Corte de Cassação italiana que em setembro de 2010
revirou jurisprudência consolidada anteriormente no sentido de que o prazo para
defesa em caso de decreto de pagamento seria de 10 dias, para se estabelecer um prazo
menor de 5 dias. O julgamento veio a causar comoção porque muitos devedores
apresentarem defesa no prazo de 10 dias e com isso o decreto de pagamento se
consolidaria, com a improcedibilidade da defesa (Calzolaio, Rivistra Trimestrale,
2013, n. 3p. 901).
49. O ponto suscitou então fortíssimo debate a respeito da perspectiva do
revirement jurisprudencial ser ou não aplicado de imediato, para os casos em curso,
em que a parte se fiou na linha dos precedentes consolidados no âmbito da
jurisprudência e depois vê a orientação jurisprudencial dar uma guinada de 180 graus.
50. Assim, os autores italianos têm observado que:
a) não se pode entender que a alteração em precedentes seria irretroativa, ou seja, só se
aplicaria para frente, porque os precedentes não tem força de lei, já que tratar o
precedente judicial como lei não seria possível em sistemas como o italiano, de civil
law, e a jurisprudência não pode ser vista como fonte do direito (Punzi, Rivista Direito
Processuale, 2011, n. 6)
b) justo processo impõe reflexão para proteção da parte que confiou no precedente
consolidado e atuou de acordo com tal orientação. Se tal orientação é alterada a parte
que confiou no precedente não pode ser prejudicada: surge a ideia da proteção da
confiança na orientação jurisprudencial anterior. Todavia, não se pode invocar a
irretroatividade do precedente, pois precedente não é lei, e como o precedente
interpreta a lei é naturalmente retroativo. A solução então para a proteção daquele que
confiou no precedente que veio a ser alterado no curso do processo é a perspectiva da
proteção da confiança (Rufini, Rivista Diritto Processuale, 2011, n. 6);
19
c) destaca-se que as diferenças entre os sistemas de common law e civil law, apesar da
mistura atual entre os dois, existem e não podem ser ignoradas, razão pela qual não se
pode admitir a jurisprudência, nos sistemas de civil law como fonte do direito, em
razão do acolhimento do princípio da separação de poderes com maior rigidez (Verde,
Rivista Diritto Processuale, 2012, n. 1);
d) para que se tenha a possibilidade de aplicar a teoria da confiança no âmbito dos
precedentes, diante da impossibilidade de irretroatividade de posicionamentos
jurisprudenciais, é preciso ficar muito claro: a) existência de jurisprudência
consolidada; b) superveniência de alteração desta jurisprudência; c) conhecimento
posterior pela parte da reviravolta no âmbito da orientação consolidada (Verde, Rivista
Diritto Processuale, 2012, n. 1);
e) de qualquer forma Verde alerta para o fato de que se esta situação se tornar
corriqueira, pode ser que a parte não queira recorrer para buscar a reviravolta em um
precedente, pois a decisão então não se aplicaria para o caso, já que a outra parte
estaria protegida pela confiança (Verde, Rivista Diritto Processuale, 2012, n. 1);
f) o entendimento da corte de cassação italiana no sentido da irretroatividade da
reviravolta do precedente, quando prejudicar a parte que se valeu do entendimento
consolidado, eleva a jurisprudência como fonte do direito, com toda perplexidade
sistemática que isto gera em sistemas de civil law (Comoglio, Rivista Trimestrale,
2013, n. 2);
@
g) jurisprudência como fonte criadora do direito surge no cenário de insuficiência
legislativa, em cenário da parda da centralidade dos códigos e das leis, com grande
fragmentação do ordenamento, o que abre então espaço maior para a jurisprudência e
sua importância (Calzolaio, Rivistra Trimestrale, 2013, n. 3p. 901);
20
h) Calzolaio indaga se esta valorização da jurisprudência no âmbito dos sistemas de
civil law implicaria em identificação com o sistema common law. Entende o autor que
não é possível a transposição pura e simples do sistema inglês para os sistemas
continentais, de fonte legislativa, em razão das diferenças históricas e culturais entre os
dois sistemas, indicando, inclusive, que a invocação dos sistemas de common law vem
para justificar a jurisprudência “criativa”, que cria o direito muitas vezes à revelia do
sistema legislativo, inclusive num cenário de desvinculação dos sistemas políticos e
eletivos por parte dos juízes, quando criam o direito à revelia da perspectiva política e
democrática (Calzolaio, Rivistra Trimestrale, 2013, n. 3p. 901);
i) Taruffo, em recentíssimo artigo (Rivista Trimestrale, 2014, n. 1), destaca que o valor
da uniformidade da jurisprudência é antigo, e se arguem como vantagens de tal
uniformização: i) certeza do direito; ii) garantia de igualdade de tratamento para as
partes; iii) previsibilidade do direito e das decisões dos tribunais. Mas como destaca
Taruffo, trata-se de visão estática do direito, baseada na completude do ordenamento
jurídico;
j) E, ainda segundo Taruffo, o órgão encarregado da uniformização seria uma corte
superior, alocada no ápice do ordenamento judiciário, o que cria então o mito da corte
suprema e dos precedentes que edita, que depois vêm repetidos como um mantra,
gerando uma obsessão pelo precedente (Rivista Trimestrale, 2014, n. 1);
l) Taruffo destaca como valorização do precedente o direito brasileiro com suas
súmulas vinculantes, que só encontra paralelo na Rússia e em Cuba (Rivista
Trimestrale, 2014, n. 1);
m) a perspectiva torna a corte superior, no vértice da pirâmide judicial, mais
importante do que o próprio legislador, e esta corte superior acaba por se manifestar
21
com enunciados que mais parecem enunciados legislativos e que são desvinculados
dos fatos, o que leva a repensar a função dos precedentes nestes moldes (Rivista
Trimestrale, 2014, n. 1).
51. Estas importantes críticas a respeito do precedente e da função dos tribunais
superiores, independentemente de emprestarmos ou não adesão a elas, são importantes
para meditar a situação atual da jurisprudência, inclusive num momento tão importante
no Brasil, em que se está às vésperas da edição de um novo CPC que dedica todo um
capítulo aos precedentes, instituindo uma espécie de “teoria do precedente”, e que
merece destaque a seguir, para fechar o ponto relativo aos precedentes judiciais.
1.3. O projeto de CPC (versão aprovada na Câmara e tramitando no Senado: PL
8046-B finalizado na Câmara em 26.03.14)
52. O projeto, como já anunciado, dedica um capítulo especial ao “precedente
judicial” estabelecendo a regulamentação da formação e aplicação do precedente (arts.
520/522). A indicação numérica dos artigos (apenas 3) parece evidenciar um
tratamento mais geral, mas não é o que se verifica, pois o art.521 tem vários incisos e
11 parágrafos, de modo que o projeto, neste ponto, institui uma grande novidade no
direito brasileiro, já que, não obstante a reconhecida importância dos precedentes,
como visto no decorrer da exposição, ainda não havia regulamentação consistente e
sistematizada do precedente judicial.
53. Passa-se, então, a partir de agora a uma breve e panorâmica visão inicial do
tema do precedente judicial, no Projeto de CPC.
54. Cabe, antes, uma pequena indicação da evolução do tema do Anteprojeto
apresentado no Senado pela Comissão de Juristas em meados de 2010, passando pela
versão do Projeto aprovada no Senado e depois na mais atual, aprovada na Câmara.
22
55. O Anteprojeto dispunha genericamente e de forma indicativa sobre o
precedente, no seu art. 847, dispondo que os tribunais deveriam velar para
uniformização e estabilidade da jurisprudência, observando-se o seguinte:
a) os tribunais devem, sempre que possível, editar enunciados correspondentes à
súmula da jurisprudência dominante;
b) os órgãos fracionários devem seguir a orientação dos órgãos especiais e plenos aos
quais estejam vinculados internamente dentro do mesmo tribunal;
c) a jurisprudência pacificada de qualquer tribunal deve orientar as decisões de todos
os órgãos a ele vinculados;
d) a jurisprudência do STF e do STJ deve nortear as decisões de todos os tribunais e
juízos singulares do país, de modo a concretizar os princípios da legalidade e da
isonomia.
e) no caso de alteração da jurisprudência dominante do STF ou do STJ, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica;
sendo que a mudança de entendimento sedimentado deve ser fundamente de maneira
adequada e específica considerando a estabilidade das relações jurídicas. Veja-se que
aqui o Anteprojeto partiu para se alinhar à orientação da Corte de Cassação italiana
acima indicada, no sentido de proteger a confiança da parte que acreditou e atuou de
acordo com os precedentes, ao admitir a modulação de efeitos na revisão do
precedente.
56. O projeto votado no Senado, PLS 166/2010, no final de dezembro, manteve, no
art. 882, basicamente a mesma estrutura do Anteprojeto.
23
57. A matéria, todavia, sofreu uma reviravolta na Câmara dos Deputados, em cuja
versão final (PLS 8046-B) foi incluído o capítulo específico “Do Precedente Judicial”,
no âmbito, como dito, dos arts. 520/522, matéria, portanto, que pode sofrer
reapreciação por parte do Senado.
58. Como indicado, passa-se a uma breve panorâmica do tema no Projeto aprovado
na Câmara:
1) o art. 520 mantém a linha do art. 847 do Anteprojeto e indica que os tribunais
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente, devendo
os tribunais editar os enunciados de súmula correspondente à jurisprudência
dominante. Acrescenta-se porém que as súmulas devem se vincular às circunstâncias
fáticas dos precedentes (art. 520, §2º): aqui se vislumbra uma dificuldade, pois
considerando a prática do direito brasileiro de súmulas curtas, com enunciados
completamente genéricos, a observância do dispositivo, no sentido de que as súmulas
devem se ater à circunstâncias fáticas do precedentes, levaria a que as novas súmulas
indicassem, pelo menos, a base fática do caso;
2) o art. 521 anuncia as seguintes perspectivas para dar efetividade à aplicação do
precedente, na linha dos princípios da legalidade, segurança jurídica, duração razoável
do processo, proteção da confiança e isonomia:
a) inicialmente, indica-se a vinculação dos juízes e tribunais ao precedentes,
indicando-se que deverão seguir (“seguirão”) os precedentes nos seguintes termos:
I – os juízes e tribunais seguirão as decisões e os precedentes do Supremo Tribunal
Federal em controle concentrado de constitucionalidade
24
- Aqui não se vê problema, pois a Constituição é que determina este efeito vinculante:
art. 102, §2º, CF.
II – os juízes e tribunais seguirão os enunciados de súmula vinculante, os acórdãos e
os precedentes em incidente de assunção de competência ou de resolução de
demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos:
- Não se vê problema também quanto às súmulas vinculantes (art. 103-A, CF), mas o
drama da constitucionalidade pode aparecer nos outros casos (precedente em incidente
de assunção de competência; incidente de resolução de demandas repetitivas, ou em
julgamento de recursos especiais repetitivos), em que surgiria a dúvida: seria possível
ao legislador ordinário determinar a vinculação do precedente, independentemente de
previsão constitucional expressa, quando a Constituição só indica dois casos expressos
de vinculação do precedente? Não seria tema reservado à Constituição, tanto que os
dois casos estão expressos na Constituição (arts. 102, §2º, e 103-A)?
- A indicação nos outros casos referidos acima é de que se teria um precedente
vinculante, como se extrai do art. 959, relativamente ao incidente de assunção de
competência (causas relevantes e de grande repercussão social, em que o julgamento
do recurso pode ser afetado a um órgão colegiado específico: art. 959, §1º) e, segundo
o § 3º do art. 959, “o acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos
os juízes e órgãos fracionários, exceto se houver revisão de tese, na forma do art.
521, §§ 6º a 11”.
- O incidente de resolução de demandas repetitivas é previsto nos arts. 988 a 999 do
PL Câmara, e é cabível junto aos TJ’s e TRF’s “quando, estando presente o risco de
ofensa à isonomia e à segurança jurídica, houver efetiva repetição de processos que
contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito”, e no art. 995
25
se prevê a vinculação da tese jurídica estabelecida na decisão do incidente: “Art. 995.
Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada a todos os processos individuais ou
coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de
jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados
especiais do respectivo estado ou região”.
- A mesma perspectiva de vinculação do precedente também é confirmada no âmbito
dos recursos especial e extraordinário repetitivos, prevista no art. 1049 do Projeto
Câmara, no sentido de que “sempre que houver multiplicidade de recursos com
fundamento em idêntica questão de direito, o recurso extraordinário ou especial será
afetado para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado o
disposto no regimento interno do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justiça”. E o art. 1053 prevê a força vinculante indicando, por exemplo, que, após a
decisão do recurso repetitivo, “os processos suspensos em primeiro e segundo graus
de jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo
tribunal superior” (inciso III).
III – os juízes e tribunais seguirão os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal
Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional
- Aqui, como se observa, se institui também a vinculação dos juízes e tribunais aos
enunciados das súmulas persuasivas, hoje sem efeito vinculante, do STF, e as do STJ,
que hoje são todas persuasivas. Valem as mesmas observações realizadas para o item
anterior sobre a dúvida de constitucionalidade.
IV – não sendo a hipótese de aplicação dos incisos I a III, os juízes e tribunais
seguirão os precedentes:
26
a) do plenário do Supremo Tribunal Federal, em controle difuso de
constitucionalidade;
b) da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, em matéria infraconstitucional
- Ainda estabelece o projeto a vinculação dos juízes a precedentes mesmo não
sumulados do STF e do STJ. De modo que valem as mesmas observações anteriores
quanto à dúvida de constitucionalidade.
- Veja-se que se parte do cenário atual de súmulas persuasivas e de poucas súmulas
vinculantes para o estabelecimento de uma série de amarras vinculativas e se se
interpretar o “seguirão” do texto do CPC na sua literalidade todos esses precedentes
vão vincular os juízos e tribunais.
- O ponto pode gerar ainda uma chuva de reclamações no STJ e STF, pois se
desobedecidos os precedentes gerados em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência, é cabível reclamação direta perante os dois
tribunais superiores (art. 1000, IV).
- E nos demais casos o Projeto Câmara não indica instrumento específico para a
correção no caso de não se observar, por exemplo, os precedentes indicados no art.
521, III e IV, de modo que provavelmente a arguição de eventual desobediência se
daria nos moldes atuais, por meio de recurso especial ou extraordinário, com o que não
se teria, nas duas hipóteses, súmulas propriamente vinculantes, mas sim persuasivas,
como ocorre com as atuais súmulas do STJ e as não vinculantes do STF. Isso porque,
súmula vinculante sem mecanismo específico para fazer prevalecer a súmula, pode ser
vinculante só no nome, mas não de fato.
3) o art. 521, § 3º, estabelece que o efeito vinculante do precedente decorre dos
fundamentos determinantes adotados pela maioria dos membros do colegiado, cujo
27
entendimento tenha ou não sido sumulado. Enquanto que o §4º do mesmo dispositivo
indica que não possuem efeito vinculante os fundamentos: “I – prescindíveis para o
alcance do resultado fixado em seu dispositivo, ainda que presentes no acórdão; II –
não adotados ou referendados pela maioria dos membros do órgão julgador, ainda
que relevantes e contidos no acórdão”. Ter-se-á, então, de realizar uma triagem nos
precedentes para indicar quais são os pontos vinculantes e aqueles não vinculantes, o
que vai obrigar os tribunais a instituírem um sistema rigoroso de triagem destes
fundamentos, sob pena de se instalar uma série de dúvidas no ponto.
4) o art. 521, § 5º, acolhe a distinguishing do sistema common law, em que se retira o
caso da aplicação do precedente mostrando que possui particularidades que podem
retirá-lo do espectro do precedente. Confira-se: “O precedente ou jurisprudência
dotado do efeito previsto nos incisos do caput deste artigo poderá não ser seguido,
quando o órgão jurisdicional distinguir o caso sob julgamento, demonstrando
fundamentadamente se tratar de situação particularizada por hipótese fática distinta
ou questão jurídica não examinada, a impor solução jurídica diversa”.
5) O 521, §§6º a 11, delineia as linhas gerais da modificação do precedente
sedimentado, podendo-se destacar o seguinte:
- o §7º prevê que “a modificação de entendimento sedimentado poderá fundar-se,
entre outras alegações, na revogação ou modificação de norma em que se fundou a
tese ou em alteração econômica, política ou social referente à matéria decidida”. A
disposição é interessante e parece acatar sem maiores problemas a perspectiva do
precedente como fonte do direito, já que se admite a alteração do precedente a partir
não apenas da modificação do cenário legislativo, mas também de alteração
econômica, política ou social referente à matéria decidida, com o que se abre a
perspectiva para se praticamente legislar por meio da jurisprudência, já que terá efeito
vinculante.
28
- O § 10, na linha já indicada da proteção da confiança no precedente, dispõe que “na
hipótese de alteração de jurisprudência dominante, sumulada ou não, ou de
precedente, o tribunal poderá modular os efeitos da decisão que supera o
entendimento anterior, limitando sua retroatividade ou lhe atribuindo efeitos
prospectivos”. Assim, na revisão do precedente vinculante, o tribunal poderá modular
os efeitos da decisão, estabelecendo uma data a de corte a partir da qual a orientação
passa a ser aplicada ou mesmo aplicar o “efeito prospectivo”, ou seja, pró-futuro, de
modo que a nova orientação só vale para o futuro, tal como ocorre hoje na ADI/ADC,
nos termos do art. 27, da Lei 9.868/99, e do art. 4º da Lei 11.417/06. Veja-se, a título
de exemplo, o teor do art. 27 da Lei 9.868/99: “Art. 27. Ao declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou
decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado”.
- No ponto cabe, ainda, menção ao Enunciado 54 do II Encontro dos Jovens
Processualistas do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP), realizado em
Salvador-BA, indicado que a regra da alteração do precedente seria efeito prospectivo
(pró-futuro): “Pelos pressupostos do § 6º do art. 521, a modificação do precedente
tem, como regra, eficácia temporal prospectiva. No entanto, pode haver modulação
temporal, no caso concreto”.
- Neste ponto vale relembrar as perspectivas da doutrina italiana sobre a confiança no
precedente, de um lado, e de outro o fato de que a situação pode desestimular recursos,
já que se a alteração só vale para o futuro não atingiria o caso em julgamento que
levou à alteração do precedente.
6) Por fim, vale indicar que o art. 521, §1º, ainda determina que no âmbito da
formação do precedente devem ser observados os arts. 10 e 499, §1º, do Projeto.
29
- O art. 10 do Projeto dispõe que “em qualquer grau de jurisdição, o órgão
jurisdicional não pode decidir com base em fundamento a respeito do qual não se
tenha oportunizado manifestação das partes, ainda que se trate de matéria apreciável
de ofício”.
- Daí, por exemplo, a orientação cristalizada no II Encontro dos Jovens Processualistas
do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP), realizado em Salvador-BA,
indicada o Enunciado 2 para interpretação do art. 521 conjugado com o art. 10 do
Projeto, no sentido de que “Para a formação do precedente, somente podem ser
usados argumentos submetidos ao contraditório”.
- E o art. 499, §1º, é artigo de grande destaque no Projeto, pois traz o elenco de
decisões judiciais que padecem do vício de falta de fundamentação:
“§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento”.
30
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