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6B / Terça-feira, 2 de abril de 2013 DIÁRIO DA REGIÃO Veja modelo de contrato que pode ser usado entre patrões e domésticas Beto Carlomagno [email protected] Uma semana depois da apro- vação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66/2012, tam- bém conhecida como a “PEC das Domésticas”, e com as primeiras modificações a um dia de entra- rem em vigor, as dúvidas conti- nuam crescendo. Só o escritório de advocacia que representa o Sindicato das Trabalhadoras Do- mésticas de Rio Preto tem recebi- do até dez ligações e visitas por dia em busca de esclarecimentos sobre as mudanças, segundo o ad- vogado representante do sindica- to André Luis Batista Sardella. Nos quadros ao lado é possí- vel esclarecer dúvidas sobre as mudanças, saber quanto custará agora manter uma empregada do- méstica, além de ter um modelo de contrato preparado pelo advo- gado Luciano Viveiros, da Fun- dação Getúlio Vargas (FGV). FGTS gera dúvidas A maioria dos contatos com o advogado André Luis Batista Sardella, do Sindicato das Do- mésticas é feito pelos empregado- res. Eles querem saber como será feito o depósito do fundo de ga- rantia e como pode ser feito o controle de jornada, principal- mente em casos em que os funcio- nários moram no trabalho. Uma das causas do grande nú- mero de dúvidas geradas pela proposta é a falta de clareza de al- guns pontos determinados pela PEC, como afirma a advogada Maria Isabel Montañes, de São Paulo. “Situações habituais en- tre patrão e empregado, o deta- lhamento de tópicos como hora extra, adicional noturno, os cus- tos relativos ao profissional que dorme na residência e como será feito o controle das horas extras, entre outras”, diz. As dúvidas têm resultado em preocupação também por parte das empregadas domésticas, afir- ma a advogada. “Muitas estão re- ceosas, acreditando que perderão seus trabalhos e que muitas por- tas podem se fechar’. Outras acre- ditam que essa lei só surgiu para criar agências especializadas em empregadas domésticas, as quais prestam serviços de forma tercei- rizada. Para o presidente da Organi- zação Não Governamental (ONG) Doméstica Legal Mário Avelino, é importante não se an- tecipar diante da dúvida. “O maior pecado que se pode fazer neste momento é demitir seu em- pregado por antecedência. Ne- nhuma lei retroage e sim valerá daqui para a frente. Ainda deve- mos ter uns 90 dias até a regula- mentação de alguns pontos. A di- ca que dou é: não seja precipita- do”, disse Avelino em entrevista ao Diário. Medo de demissões O medo das demissões não é apenas uma suposição, garante Mário Avelino. Segundo o presi- dente a ONG, muitas pessoas já foram adiante e demitiram seus empregados domésticos. “Fize- mos uma pesquisa quando a PEC estava prestes a ser aprova- da e uma grande parcela dos en- trevistados afirmou que provavel- mente demitirão suas emprega- das. É necessário que o governo faça algo para estimular a manu- tenção, como uma desoneração na folha de pagamento para esti- mular a formalidade”, sugere. Maria Isabel concorda com a necessidade de um incentivo, principalmente por causa do au- mento inevitável do valor pago pelo serviço de uma empregada doméstica. “Isso é fato e, infeliz- mente, muitas famílias não terão mais condições de arcar com es- tes custos. Na minha opinião, o governo deveria criar benefícios para os empregadores e estimu- lar a geração de emprego e renda ou atribuir alíquotas inferiores por se tratarem de residências e não empresas”. Acima de qual- quer dúvida levantada pela PEC, é importante estabelecer uma co- municação entre empregador e empregado. Segundo o presiden- te da ONG Doméstica Legal, a conversa é o melhor caminho pa- ra resolver qualquer empecilho criado e estabelecer a melhor for- ma de trabalho e convivência en- tre o empregador e seu emprega- do. “Um ponto que tem gerado muitas dúvidas e feito as pessoas se preocuparem é o controle do horário do empregado domésti- co, mas não é necessário entrar em neurose. O ambiente domésti- co não é igual a uma empresa e o empregador não precisa transfor- mar sua casa em uma, por que quem vai perder é o próprio em- pregador. Você contrata um em- pregado doméstico para ter o ser- viço feito, e não para ter um em- pregado ponto eletrônico”, afir- ma. De acordo com o advogado do Sindicato de Rio Preto, o ór- gão deve produzir um informati- vo para ser distribuído para suas sindicalizadas para ajudar a en- tenderem as mudanças. ECONOMIA & NEGÓCIOS Acho que é necessário regulamentar, afinal de contas é um trabalhador como qualquer outro e precisa dos seus direitos Adriana Neves, presidente da Acirp Toda lei possui pontos positivos e negativos e, neste caso, estamos na torcida para que todo o resultado seja positivo e gere estabilidade e motivação as empregadas domésticas Ricardo Eladio Arroyo, vice-presidente do Sincomercio É um avanço, porque temos que pensar na vida não só do lado comercial, mas do lado social, valorizando e prestigiando a classe José Roberto Campanelli, criador da franquia Mary Help Editor de Economia: Fabiano Ferreira [email protected] / 2139-2216 Advogados esclarecem dúvidas sobre lei Faça as contas PEC DAS DOMÉSTICAS - Pagamento de FGTS e o controle de horas extras estão entre os questionamentos tanto de empregadores quanto das domésticas Sardella, do Sindicato das Domésticas: 10 ligações por dia A advogada Maria Isabel Montañes: dúvidas dos dois lados Pierre Duarte 26/3/2013 Cálculo da multa paga por demissão sem justa causa Salário mínimo de R$ 755,00, pago por mês durante 10 anos FGTS pago sobre o salário: R$ 60,40 ao mês Durante dez anos de trabalho será pago R$ 7.852,00 Com a multa de 40% sobre o FGTS, esta empregada receberia R$ 3.140,80 *Simulação que leva em consideração apenas os valores atuais e desconsidera toda e qualquer variação de valores como salário, juros, rendimentos do FGTS e possíveis alterações sobre leis Artes: Aícro Júnior/Editoria de Arte Divulgação

PEC DAS DOMÉSTICAS - Pagamento de FGTS e o controle de ... · Cálculo da multa paga por demissão sem justa causa Salário mínimo de R$ 755,00, pago por mês durante 10 anos FGTS

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Page 1: PEC DAS DOMÉSTICAS - Pagamento de FGTS e o controle de ... · Cálculo da multa paga por demissão sem justa causa Salário mínimo de R$ 755,00, pago por mês durante 10 anos FGTS

6B / Terça-feira, 2 de abril de 2013 DIÁRIO DA REGIÃO

■ Veja modelo decontrato que pode serusado entre patrõese domésticas

Beto [email protected]

Uma semana depois da apro-vação da Proposta de Emenda àConstituição (PEC) 66/2012, tam-bém conhecida como a “PEC dasDomésticas”, e com as primeirasmodificações a um dia de entra-rem em vigor, as dúvidas conti-nuam crescendo. Só o escritóriode advocacia que representa oSindicato das Trabalhadoras Do-mésticas de Rio Preto tem recebi-do até dez ligações e visitas pordia em busca de esclarecimentossobre as mudanças, segundo o ad-vogado representante do sindica-to André Luis Batista Sardella.

Nos quadros ao lado é possí-vel esclarecer dúvidas sobre asmudanças, saber quanto custaráagora manter uma empregada do-méstica, além de ter um modelode contrato preparado pelo advo-gado Luciano Viveiros, da Fun-dação Getúlio Vargas (FGV).

FGTS gera dúvidasA maioria dos contatos com

o advogado André Luis BatistaSardella, do Sindicato das Do-mésticas é feito pelos empregado-res. Eles querem saber como seráfeito o depósito do fundo de ga-rantia e como pode ser feito ocontrole de jornada, principal-mente em casos em que os funcio-nários moram no trabalho.

Uma das causas do grande nú-mero de dúvidas geradas pelaproposta é a falta de clareza de al-guns pontos determinados pelaPEC, como afirma a advogadaMaria Isabel Montañes, de SãoPaulo. “Situações habituais en-tre patrão e empregado, o deta-lhamento de tópicos como horaextra, adicional noturno, os cus-tos relativos ao profissional quedorme na residência e como seráfeito o controle das horas extras,entre outras”, diz.

As dúvidas têm resultado empreocupação também por partedas empregadas domésticas, afir-ma a advogada. “Muitas estão re-ceosas, acreditando que perderãoseus trabalhos e que muitas por-tas podem se fechar’. Outras acre-ditam que essa lei só surgiu paracriar agências especializadas emempregadas domésticas, as quaisprestam serviços de forma tercei-rizada.

Para o presidente da Organi-zação Não Governamental(ONG) Doméstica Legal MárioAvelino, é importante não se an-tecipar diante da dúvida. “Omaior pecado que se pode fazerneste momento é demitir seu em-pregado por antecedência. Ne-nhuma lei retroage e sim valerádaqui para a frente. Ainda deve-mos ter uns 90 dias até a regula-mentação de alguns pontos. A di-ca que dou é: não seja precipita-do”, disse Avelino em entrevistaao Diário.

Medo de demissõesO medo das demissões não é

apenas uma suposição, garanteMário Avelino. Segundo o presi-dente a ONG, muitas pessoas jáforam adiante e demitiram seusempregados domésticos. “Fize-mos uma pesquisa quando aPEC estava prestes a ser aprova-da e uma grande parcela dos en-trevistados afirmou que provavel-mente demitirão suas emprega-das. É necessário que o governofaça algo para estimular a manu-tenção, como uma desoneraçãona folha de pagamento para esti-mular a formalidade”, sugere.

Maria Isabel concorda com anecessidade de um incentivo,principalmente por causa do au-mento inevitável do valor pagopelo serviço de uma empregadadoméstica. “Isso é fato e, infeliz-mente, muitas famílias não terãomais condições de arcar com es-tes custos. Na minha opinião, ogoverno deveria criar benefíciospara os empregadores e estimu-lar a geração de emprego e rendaou atribuir alíquotas inferiorespor se tratarem de residências enão empresas”. Acima de qual-quer dúvida levantada pela PEC,é importante estabelecer uma co-

municação entre empregador eempregado. Segundo o presiden-te da ONG Doméstica Legal, aconversa é o melhor caminho pa-ra resolver qualquer empecilhocriado e estabelecer a melhor for-ma de trabalho e convivência en-tre o empregador e seu emprega-do. “Um ponto que tem geradomuitas dúvidas e feito as pessoas

se preocuparem é o controle dohorário do empregado domésti-co, mas não é necessário entrarem neurose. O ambiente domésti-co não é igual a uma empresa e oempregador não precisa transfor-mar sua casa em uma, por quequem vai perder é o próprio em-pregador. Você contrata um em-pregado doméstico para ter o ser-

viço feito, e não para ter um em-pregado ponto eletrônico”, afir-ma.

De acordo com o advogadodo Sindicato de Rio Preto, o ór-gão deve produzir um informati-vo para ser distribuído para suassindicalizadas para ajudar a en-tenderem as mudanças.

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Acho que é necessárioregulamentar, afinal de contas é umtrabalhador como qualquer outroe precisa dos seus direitos Adriana Neves, presidente da Acirp

Toda lei possui pontos positivose negativos e, neste caso, estamosna torcida para que todo o resultadoseja positivo e gere estabilidadee motivação as empregadasdomésticas Ricardo Eladio Arroyo, vice-presidente do Sincomercio

É um avanço, porque temos quepensar na vida não só do ladocomercial, mas do lado social,valorizando e prestigiando a classe José Roberto Campanelli, criador da franquia Mary Help

Editor de Economia: Fabiano [email protected] / 2139-2216

Advogados esclarecem dúvidas sobre lei

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■ PEC DAS DOMÉSTICAS - Pagamento de FGTS e o controle de horas extras estão entre os questionamentos tanto de empregadores quanto das domésticas

Sardella, do Sindicato das Domésticas: 10 ligações por dia

A advogada Maria Isabel Montañes: dúvidas dos dois lados

Pierre Duarte 26/3/2013

Cálculo da multa paga por demissão sem justa causa■ Salário mínimo de R$ 755,00, pago por mês durante 10 anos■ FGTS pago sobre o salário: R$ 60,40 ao mês■ Durante dez anos de trabalho será pago R$ 7.852,00■ Com a multa de 40% sobre o FGTS, esta empregadareceberia R$ 3.140,80

*Simulação que leva em consideração apenas os valores atuais e desconsideratoda e qualquer variação de valores como salário, juros, rendimentos do FGTS epossíveis alterações sobre leis

Artes: Aícro Júnior/Editoria de Arte

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