Informativo Técnico MensalNúmero 0001 Abril/2021

COMO DILUIR O ÁGIO DO BEZERRO NA RECRIA?

PECUÁRIADE PRECISÃO

Soluções e Tecnologias para a Pecuária Lucrativa.

Rogério Marchiori CoanZootecnista – Diretor Técnico da Coan Consultoria.E-mail: rogerio@coanconsultoria.com.br

Maurício Palma NogueiraEngenheiro Agrônomo – Sócio Diretor da Athenagro Consultoria.E-mail: mauricio@athenagro.com.br

A estacionalidade de produção forrageira é responsável por um dos momentos mais críticos no ciclo de recria e engorda de bovinos de corte, tendo em vista que na maioria das fazendas brasileiras, os bezerros emagrecem ou apresentam ganho mínimo nos cinco a seis meses do período de secas, que se seguem posteriormente à desmama, sendo tal fato devido à baixa oferta quantitativa e qualitativa da forragem.

Para enfrentar tal desafio, os pecuaristas podem fazer uso de diversas estratégias tecnológicas, como: suplementação com suplementos proteicos e/ou energéticos, pastagens melhoradas de “inverno” decorrentes da integração lavoura-pecuária (ILP), suplementação volumosa, irrigação de pastagens e o uso do confinamento de sequestro. Independentemente do sistema escolhido pelo produtor para acelerar a  recria, ele enfrentará desafios operacionais e logísticos peculiares à tecnologia à ser implantada, que exigirão treinamento e comprometimento da equipe, estrutura para armazenagem de insumos (adubos, ração, silagem, etc.), adequação das instalações (cochos, cercas e bebedouros) e maquinários. para distribuição do suplemento e/ou dieta no pasto ou confinamento.

Uma vez definida a estratégia de recria, falta somente o pecuarista avaliar se o preço da reposição é compatível com a viabilidade econômica do sistema de produção, principalmente na atual conjuntura de mercado, onde o ágio da arroba do bezerro em relação ao boi gordo encontra-se (média fevereiro/2021) superior a 51,0% no Estado de São Paulo, conforme pode ser observado na Figura 1.

A IMPORTÂNCIA DESSA ESTRATÉGIA

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"A reposição valorizada prejudica não somente a relação de troca boi gordo/bezerro, mas também a

viabilidade econômica da atividade de recria e engorda."

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Gráfico 1Preços nominais da arroba do bezerro e do boi gordo em São Paulo - em R$/@

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A reposição valorizada prejudica não somente a relação de troca boi gordo/bezerro, mas também a viabilidade econômica da atividade de recria e engorda, uma vez que nesses sistemas, o bezerro corresponde de 52,0 a 54,0% dos custos operacionais totais. E logicamente, comprar mal a reposição implica em maiores riscos operacionais, haja visto que mesmo com grande eficiência produtiva (ganho de peso, taxa de lotação e produtividade), o pecuarista pode ainda amargurar margens reduzidas ou até negativas, caso a venda de animais para abate seja realizada em momentos inoportunos do mercado, como na safra, onde as cotações da arroba do boi gordo encontram-se em patamares mais baixos.

De toda forma, visando exemplificar essa análise, vamos considerar o preço do bezerro (180 kg ou 6@s) como sendo R$2.811,03/cabeça (Cepea - 26/02/21), ou seja, R$468,50/@ e do boi gordo em R$303,15/@. Por esses números, já é possível avaliar que o ágio da arroba do bezerro/arroba do boi gordo situa-se em 54,55%, considerando somente a compra dos animais. No entanto, há que se considerar ainda outras variáveis, como: frete até a propriedade, protocolo sanitário, perda

de peso (viagem e processamento), nutrição animal e demais custos inerentes ao pacote tecnológico.

Das tecnologias citadas, vamos considerar o uso do confinamento de recria como ferramenta de diluição do ágio de compra e também como ferramenta para acelerar o ciclo de recria e engorda na propriedade, haja visto que após o confinamento de recria, os animais adentrarão em pastagens intensivas, com fornecimento de proteico-energético na razão de 0,3 a 0,5% do peso corporal, até a entrada dos animais no confinamento de terminação.

Na tabela e gráfico a seguir é possível visualizar as variáveis técnicas e econômicas do confinamento de recria, onde o período de confinamento (dias de cocho) impacta o sistema de forma proporcional, uma vez que à medida que os animais permanecem mais tempo confinados, maior é a taxa de diluição das arrobas compradas frente às arrobas produzidas no confinamento.

Outro aspecto de relevância observado acima, refere-se à diluição do ágio da arroba na compra do bezerro em relação ao período de confinamento. De início, o ágio situava-se em 62,77%, tendo em vista os custos relacionados ao frete e menor peso de chegada na fazenda. Após o confinamento de recria, o ágio se dilui à medida que os animais

“O que parece uma grande oportunidade para uns pode significar

riscos e dificuldades para outros.”

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Tabela 1Análise técnica e econômica do confinamento de recria de bezerros no Estado de São Paulo.

Fonte: Coan Consultoria e Athenagro, 2021

Figura 2Ágio da arroba do bezerro na compra (+ frete) x ágio após recria.

Fonte: Coan Consultoria e Athenagro, 2021

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permanecem mais tempo no sistema, atingindo 20,78% de ágio, após 180 dias de cocho.

Por fim, é importante ressaltar que todo pecuarista busca aumentar a rentabilidade, apesar dos vários pontos discutidos, vale sempre lembrar que não existe uma receita de sucesso, sendo necessário avaliar porteira adentro sua realidade produtiva e também a habilidade para potencializar da melhor forma possível seus ganhos, sejam eles produtivos ou econômicos. O que parece uma grande oportunidade para uns pode significar riscos e dificuldades para outros. Mas uma coisa é certa pecuarista, diluir o ágio do bezerro na recria não é mais somente uma questão de necessidade e, sim, de sobrevivência, principalmente para quem busca uma pecuária competitiva e rentável. Pense nisso e faça suas contas.

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