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nova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_41-66_janeiro-abril de 2009 Pecuária e desmatamento: uma análise das principais causas diretas do desmatamento na Amazônia Sérgio Rivero Doutor em Ciências Sócio Ambientais do Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia (CEPEC-UFPA) Oriana Almeida Ph.D. em Ciências Ambientais do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA-UFPA) Saulo Ávila Analista de sistemas do Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia (CEPEC-UFPA) e bolsista CNPq Wesley Oliveira Economista do Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia (CEPEC-UFPA) e bolsista CNPq Resumo Na Amazônia Brasileira a principal atividade res- ponsável pelo desmatamento é a pecuária. Esse trabalho analisa a evolução das causas imediatas do desmatamento da Amazônia, utilizando-se de regressões lineares com dados em painel. O mo- delo avalia a contribuição dos principais usos do solo na região ao desmatamento, de 2000 a 2006. Dados do PRODES de desmatamento, o número de cabeças bovinas de 782 municípios da Amazô- nia e área plantada de culturas perenes e temporá- rias foram utilizados para essa análise. O resulta- do mostrou que o desmatamento é fortemente correlacionado com a pecuária. A soja também aparece positivamente correlacionada com o des- matamento. Esta tendência é reforçada pelo cres- cimento nacional e internacional da demanda de carne. Políticas públicas eficazes para a redução do desmatamento devem, portanto, agir nas cau- sas subjacentes da expansão da pecuária reduzin- do a força dos processos que produzem a sua ex- pansão na fronteira do desmatamento. Abstract Cattle Ranching is the main causes of deforestation in the Brazilian Amazon region. This paper analyses the proximate causes of deforestation using linear regressions with panel data. The model evaluates the contribution of the main land uses for deforestation from 2000 to 2006. Deforestation data from INPE-PRODES, number of heads of cattle, and area of temporary and permanent crops from IBGE are the data used in the analysis (782 municipalities). The result of the regressions shows that deforestation is strongly associated with cattle ranching. Soybean plantations are also strongly related with deforestation in the model. This trend is reinforced by the growth in demand for meat in the domestic and international markets. To be effective in reducing deforestation rates, public policies must therefore act on the underlying causes of deforestation, reducing the forces that lead to its expansion on the area where deforestation is occurring. Palavras-chave desmatamento, Amazônia, pecuária, dados em painel. Classificação JEL Q24, Q28. Key words deforestation, Amazon, cattle ranching, panel data analysis. JEL Classification Q24, Q28.

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Pecuária e desmatamento:uma análise das principais causas diretasdo desmatamento na Amazônia

Sérgio RiveroDoutor em Ciências Sócio Ambientais

do Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia (CEPEC-UFPA)

Oriana AlmeidaPh.D. em Ciências Ambientais

do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA-UFPA)

Saulo ÁvilaAnalista de sistemas do Centro de Pesquisas Econômicas

da Amazônia (CEPEC-UFPA) e bolsista CNPq

Wesley OliveiraEconomista do Centro de Pesquisas Econômicas

da Amazônia (CEPEC-UFPA) e bolsista CNPq

ResumoNa Amazônia Brasileira a principal atividade res-ponsável pelo desmatamento é a pecuária. Essetrabalho analisa a evolução das causas imediatasdo desmatamento da Amazônia, utilizando-se deregressões lineares com dados em painel. O mo-delo avalia a contribuição dos principais usos dosolo na região ao desmatamento, de 2000 a 2006.Dados do PRODES de desmatamento, o númerode cabeças bovinas de 782 municípios da Amazô-nia e área plantada de culturas perenes e temporá-rias foram utilizados para essa análise. O resulta-do mostrou que o desmatamento é fortementecorrelacionado com a pecuária. A soja tambémaparece positivamente correlacionada com o des-matamento. Esta tendência é reforçada pelo cres-cimento nacional e internacional da demanda decarne. Políticas públicas eficazes para a reduçãodo desmatamento devem, portanto, agir nas cau-sas subjacentes da expansão da pecuária reduzin-do a força dos processos que produzem a sua ex-pansão na fronteira do desmatamento.

AbstractCattle Ranching is the main causes of deforestationin the Brazilian Amazon region.This paper analyses the proximate causes ofdeforestation using linear regressions with panel data.The model evaluates the contribution of the mainland uses for deforestation from 2000 to 2006.Deforestation data from INPE-PRODES,

number of heads of cattle, and areaof temporary and permanent crops from IBGEare the data used in the analysis(782 municipalities). The result of the regressionsshows that deforestation is strongly associatedwith cattle ranching. Soybean plantations are alsostrongly related with deforestation in the model.This trend is reinforced by the growth in demand formeat in the domestic and international markets.To be effective in reducing deforestation rates,public policies must therefore act on the underlyingcauses of deforestation, reducingthe forces that lead to its expansionon the area where deforestation is occurring.

Palavras-chavedesmatamento, Amazônia,pecuária, dados em painel.

Classificação JEL Q24, Q28.

Key words

deforestation, Amazon, cattleranching, panel data analysis.

JEL Classification Q24, Q28.

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1_ IntroduçãoO desmatamento1 na Amazônia brasileiratem como principais causas diretas a pe-cuária, a agricultura de larga escala e a agri-cultura de corte e queima. Dessas causas,a expansão da pecuária bovina é a maisimportante. A remoção temporária ou par-cial da floresta para a sua conversão emáreas de pastos e agrícolas associadas coma extração seletiva de madeira emite umaentre 0,6 e 0,9 (+/- 0,5) PgC.ano-1. Issorepresenta, segundo algumas recentes es-timativas, de 15% a 35% da emissão glo-bal média de combustíveis fósseis na dé-cada de 1990 (Defries et al., 2002). Deacordo com a FAO, a maior taxa de des-matamento ocorreu no Brasil, seguido daÍndia, da Indonésia, do Sudão e da Zâm-bia (Houghton, 2005). No Brasil, a maio-ria dos estudos já tem demonstrado que odesmatamento tem sido causado pela con-versão de floresta, principalmente parapecuária, agricultura de corte e queima ouassociada à exploração madeireira (Ari-ma et al., 2005; Veríssimo et al., 1996; Fer-reira et al., 2005).

O principal objetivo deste trabalho éanalisar, com base nos dados dos municípiosda Amazônia Legal brasileira, como evoluí-ram, nos anos recentes, as principais causasdiretas do desmatamento. Isso foi feito utili-zando-se uma série de regressões lineares

múltiplas com dados em painel coletadosvalendo-se de fontes secundárias (IBGE,Ipeadata, INPE) para 782 municípios sele-cionados dos Estados da Amazônia Legal.Esse modelo econométrico simples per-mite avaliar a contribuição dos acordosprincipais dos usos do solo para o desma-tamento de 2000 a 2006 e, consequente-mente, estimar o impacto desses usos nasdinâmicas atuais e futuras da expansão dodesmatamento. O trabalho também analisao potencial de expansão da atividade pe-cuária associado às novas dinâmicas de de-manda nacional e global e da organizaçãoda indústria de carne na Amazônia.

2_ As causas do desmatamentona Amazônia brasileirae seus modelos

Kaimowitz e Angelsen (1998), em suaanálise de 150 modelos do desmatamen-to de florestas tropicais, definem desma-tamento como a “remoção completa eno longo prazo da cobertura de árvores”.Essa é a definição de desmatamento quese usará neste artigo. O estudo das causasdo desmatamento feito por Geist e Lam-bin (2001 e 2002) aponta que o que eleschamam de causas próximas do desmata-mento está associado com os usos do so-lo e afeta diretamente o ambiente e a co-bertura vegetal. Esses autores associam

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1 Entendido aqui como ocorte raso da floresta.

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as causas próximas (chamadas aqui de cau-sas diretas) do desmatamento em três cate-gorias, a saber: expansão das pastagens eáreas agrícolas, extração de madeira e ex-pansão da infraestrutura. Tais mudançasdo uso do solo são dirigidas por proces-sos econômicos que as sustentam. Essascausas mais profundas do processo dedesmatamento são chamadas pelos auto-res de causas subjacentes e estão associadascom o crescimento dos mercados para osprodutos que produzem a mudança deuso do solo, com a urbanização e com ocrescimento populacional, com fatoresestruturais, culturais e, finalmente, compolíticas governamentais.

As causas subjacentes dos proces-sos de desmatamento são pouco suscetí-veis a uma análise quantitativa, visto que, emgeral, modelos econométricos que mapei-am os usos do solo ou seus condicionantesmais imediatos (como crescimento popu-lacional ou urbanização) tendem a ter pou-ca eficácia de análise, quando do mapea-mento de processos mais complexos comoo comportamento dos agentes e de suasdecisões individuais; os impactos de expec-tativas e de políticas públicas, bem comoaspectos mais difusos como aprendizado ecultura nas dinâmicas de expansão das ati-vidades econômicas que são causas diretasdo desmatamento.

Modelos que mapeiem consistente-mente os atores, os processos decisórios e oambiente institucional que produz as dinâmi-cas de expansão do desmatamento na Ama-zônia implicam uma ampliação do escopode análise que comumente tem sido utiliza-do na maioria dos estudos sobre essa temá-tica. Estudos econométricos, em geral, ten-tam associar os resultados dos processosde desmatamento com causas objetivas di-retas mensuráveis (uma consequência ób-via da metodologia, claro), mas tendem aavançar pouco sobre as determinações dasdecisões dos atores (Kaimowitz e Angel-sen, 1998, p. 5-6). Modelos que observemo comportamento dos atores num nível in-dividual e também os dados numa aborda-gem regionalizada podem ser mais úteispara esclarecer consistentemente as dinâ-micas associadas às causas subjacentes dosprocessos de desmatamento.

O reconhecimento dos problemasassociados aos modelos comumente utili-zados para a análise das causas do desmata-mento não impede, porém, de lhes avaliar avalidade. Um aspecto fundamental associ-ado a esses modelos, quando se fala em cau-sas diretas do desmatamento, é o de mapearestatisticamente o peso de cada tipo de usodo solo no processo. Nesse sentido, umaanálise de vários estudos econométricossobre as causas do desmatamento parece

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ser um bom ponto de partida para mapearos achados e os espaços ainda não analisa-dos do problema.

Por meio da modelagem do proces-so de desmatamento, em um trabalho pio-neiro, Reis e Margulis (1991) projetaram asemissões futuras de carbono da AmazôniaLegal. O modelo desenvolvido pelos autoresdescreve a relação entre a densidade espa-cial das principais atividades econômicas ea fração da área desmatada, utilizando oefetivo bovino, a área de cultura agrícola(lavoura permanente e temporária), a densi-dade de população, as rodovias e a extraçãode madeira como variáveis. A variável áreaagrícola apresentou o maior valor para a elas-ticidade do desmatamento, seguida da po-pulação e da densidade de rodovias. Os au-tores trabalharam com modelos cross-section,relacionando o crescimento entre 1980 e1985 à densidade da população; área agríco-la, número de bovinos e extração madeirei-ra em 1980 foram estimadas a fim de fazeras previsões dos padrões de crescimentode cada atividade no futuro.

A análise das interações entre osprocessos de desmatamento, ocupação agro-pecuária, urbanização e industrializaçãoconstitui a base do modelo de Reis (1996).Segundo esse modelo, as causas principaisda ocupação econômica da Amazônia Le-gal são a expansão da malha rodoviária e o

crescimento populacional, sendo a ativi-dade agropecuária a principal causa ime-diata do processo de desmatamento, ten-do o setor madeireiro papel secundário.

Já Andersen e Reis (1997) fizeramuma comparação entre crédito e aberturade estradas. No estudo, os autores afirmamque o impacto da abertura de estradas émuito pior que o do crédito, uma vez quecausa grande desmatamento e pequeno au-mento da produção. Contudo, o créditoagrícola, apesar de ser mais eficiente, étambém muito menos equitativo, já que asestradas permitem o acesso dos pobres àsterras da União. Os investimentos em in-fraestrutura e serviços atraem empreende-dores, que, por sua vez, atraem migrantes,tendo como consequência o aumento dapopulação e a demanda por serviços bási-cos e de infraestrutura, onde exige a pre-sença do governo.

Young (1998), analisando os meca-nismos que causaram o desmatamento naAmazônia Legal, nas décadas de 1970 e1980, verificou uma relação positiva entrea variação da área agrícola e a variação notempo dos preços agrícolas, da construçãode rodovias, do preço da terra e dos cré-ditos. Registrou, porém, uma relação ne-gativa com o salário rural. Para Margulis(2001), os maiores preços agrícolas estimu-lam a busca por terras e, em consequência,o desmatamento.

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Ferraz (2000) buscou analisar as cau-sas da expansão agrícola e da pecuária entre1980 e 1995 através de modelo de regres-são múltipla, relacionando as variáveis de-pendentes (conversão de floresta em áreaagrícola e conversão de floresta em pecuá-ria) com as variáveis explicativas de extensãode rodovias pavimentadas e não pavimen-tadas, crédito agrícola, preço de insumos,preço da produção. O autor argumentaque a expansão agrícola é determinada pe-los aumentos de preço da terra, redução dosalário rural, crédito rural e rodovias. Quan-to à expansão da pecuária, os resultados doautor apontam para o crescimento da ma-lha rodoviária como a causa principal. Se-gundo Margulis (2001), o preço da terrapode ter efeito dual, dependendo do seuuso, se para fins produtivos ou lucrativos.Portanto, menores preços da terra estimulamo desmatamento, quando usado para finsprodutivos. Para o mesmo autor, o preçodos insumos pode também ter efeito dualno desmatamento, ou seja, um aumentodeles causa uma diminuição da lucrativida-de da agricultura e, portanto, no desmata-mento; por outro lado, força a substituiçãoda produção intensiva pela extensiva, por-tanto mais desmatamento.

Para Margulis (2003), não seriamrodovias (ou estradas) por si mesmas quelevariam ao desmatamento, mas sim a via-

bilidade financeira da pecuária. Os madei-reiros e depois os pecuaristas as constroemse houver viabilidade. Segundo o autor, nãohá dúvida de que a redução dos custos detransportes propiciada pelos investimentosnos grandes eixos rodoviários tornou lu-crativa a implantação de atividade agrope-cuária, que, anteriormente, era consideradainviável. Essa consideração sobre a impor-tância da pecuária como motor do proces-so de desmatamento feita por Margulis éconsistente com os números encontradospara a expansão e a participação dessa ati-vidade no uso do solo na Amazônia.

É preciso também compreender odesmatamento como um processo que temcausas diretas associadas ao uso do solo,mas que também tem causas subjacentesligadas ao ambiente institucional e às ex-pectativas de rentabilidade dos investimen-tos dos agentes. Esse conjunto complexode causas acaba por resultar em dinâmicasagregadas de larga escala que têm, muitasvezes, características comuns para toda aAmazônia Legal.

3_ A estrutura dos processosde desmatamento na Amazôniaem uma base municipal

Usando dados do Prodes (INPE, 2008)para o desmatamento, analisou-se a distri-

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buição percentual do desmatamento porclasse para 782 municípios da região. Es-tabeleceram-se quatro classes de desma-tamento, quais sejam: os municípios commenos de 20% de área desmatada, osmunicípios com 20% a menos de 50% deárea desmatada, os municípios com 50%a menos de 80% de área desmatada e osmunicípios com mais de 80% de áreadesmatada. Para o cálculo do percentualde área desmatada, usou-se o tamanho daárea de não floresta calculada no ano2000 para os municípios. Com base nes-sa classificação, analisou-se a presençados municípios em cada classe de desma-tamento (Tabela 1).

Analisou-se a distribuição do núme-ro dos municípios por classe de desmata-mento de 2000 a 2006. Nessa análise, pode-se comprovar uma mudança significativana distribuição da participação dos municí-pios. O número de municípios com menosde 20% de área de não floresta desmatada

reduziu de 446 em 2000 para 354 em 2006.Ao mesmo tempo, houve um crescimentodos municípios com 80% de área de nãofloresta desmatada de 103 em 2000 para150 em 2006. Também há expressivo cres-cimento dos municípios com 50-80% deárea desmatada de 117 para 150 no mes-mo período.

Mais do que “uma dança de cadei-ras”, esses números expressam uma dinâmi-ca de expansão dos processos de desmata-mento que ocorre em todos os municípiosda região. Tal desmatamento parece estarassociado a processos endógenos de ex-pansão das atividades agropecuárias, alémda já discutida expansão da fronteira do ar-co de desmatamento. Isto é, apesar de umaredução nas taxas de desmatamento nas re-giões de ocupação mais densa e antiga, osprocessos de desmatamento tendem a teruma dinâmica própria, associada à expan-são dos cultivos e das pastagens e aos no-vos investimentos nas áreas já ocupadas.

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Tabela 1_ Número de municípios por classe de percentual de desmatamento – 2000-2006

% Desmatamento 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

< 20 446 391 387 371 367 360 354

20-50 115 129 125 130 127 127 127

50-80 117 139 140 144 145 146 150

> 80 103 122 129 136 142 148 150

Fonte: INPE (2008).

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Então, diferentemente de uma dinâ-mica exclusivamente expansionista associadaà incorporação de novas áreas à produçãoagropecuária regional, dentro das áreas an-tigas, o desmatamento também continuaacontecendo. Há que se lembrar que os mu-nicípios que têm os menores percentuais deáreas desmatadas também têm, em geral,as maiores áreas em termos absolutos, oque significa que há diferenças em termosde volume de área desmatada para cada

classe de município. Isso, porém, reforça ofato de que, além da expansão para novasáreas, o desmatamento continua ocorren-do (mesmo que em proporções menores)nas áreas da chamada fronteira consolidada.

Observando-se a espacialidade doprocesso de desmatamento, pode-se cons-tatar que a expansão segue também umadinâmica que tem uma associação bastanteespecífica (Figuras 1 e 2).

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Deflorestamento Amazônia (2000) 2Deflorestamento Amazônia (2000) 2

� ���

� �20% 50%� � � �0% 0%� �0%Sem dados

Figura 1_ Desmatamento classe de área e municípios (2000)

Fonte: INPE (2008) – Elaboração dos Autores.

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Como era de se esperar, os municí-pios que estão na chamada “fronteira conso-lidada do desmatamento” são aqueles quetêm a maior participação na faixa de des-matamento acima de 50%. Na verdade, em2000 (Figura 1), todos os municípios comáreas desmatadas acima de 50% da área denão floresta se encontravam no chamado“arco do desmatamento”. Os Estados doPará, do Mato Grosso, de Rondônia, do

Maranhão e de Tocantins concentram omaior número de municípios com áreasdesmatadas acima de 80%. O Sudeste Pa-raense, o Sul do Mato Grosso, o Centro deRondônia, o Leste do Maranhão e o Nortedo Tocantins têm a maior parte da sua áreajá desmatada. Esses municípios correspon-dem às regiões onde os processos de ocu-pação da fronteira foram mais intensos apartir da década de 1970 e são também as

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Deflorestamento Amazônia (2006) 2

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� �20% 50%� � � �0% 0%� �0%Sem dados

Figura 2_ Desmatamento classe de área e municípios (2006)

Fonte: INPE (2008) – Elaboração dos Autores.

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áreas onde se concentra a maior parte dapopulação que está fora dos grandes cen-tros urbanos.

Uma mudança significativa dos da-dos de 2000 para 2006 é a expansão dodesmatamento para as áreas no entornodos municípios que têm a maior intensida-de de ocupação (Figura 2). As zonas ondeaumentam os municípios que têm de 20%a menos de 50% de área desmatada ocor-rem principalmente no entorno das zonasjá consolidadas. A exceção dessa regra é aexpansão registrada na região Norte doMato Grosso, no entorno da BR-163, quetem aumento da expansão das áreas des-matadas nos municípios. Essa expansão,fora do entorno das zonas da chamada“fronteira consolidada”, é um importanteresultado para direcionar uma análise maisprecisa dos processos de desmatamento.Tais processos, neste caso, não parecem es-tar associados apenas à expansão das áreasocupadas da Amazônia para atividades tra-dicionais, mas parecem confirmar a expec-tativa de que a expansão das zonas de pro-dução agropecuária de larga escala amplia eintensifica os processos de desmatamento.

É importante notar que os municí-pios do Pará e do Amazonas, onde estáocorrendo parte do desmatamento comtaxas mais altas, têm, em geral, áreas totaismuito grandes, o que certamente reduz o

impacto desse tipo de análise. Os proces-sos de intensificação da denominada “fron-teira consolidada”, porém, parecem ir acontrapelo da ideia de que essa intensifica-ção reduz os impactos da expansão sobrenovas áreas. Isto é, ao que parece, o proces-so de desmatamento analisado aqui confir-ma a ideia de que novos cultivos e novasáreas de expansão da agropecuária de largaescala reforçam as dinâmicas de desmata-mento existentes. Seja pelo financiamentoda expansão da pecuária baseando-se nosprocessos de arrendamento de áreas anti-gas, capitalizando os pecuaristas para fi-nanciar a expansão das pastagens em terrasde menor valor, seja aumentando as expec-tativas de valorização das terras novas ocu-padas em áreas próximas das zonas de ex-pansão da agricultura de larga escala, in-tensificando o desmatamento associado amotivos especulativos.

Observando-se, então, a espacialida-de dos processos de expansão do desmata-mento, pode-se perceber que, a despeito deuma potencial difusão espacial associada a fa-tores logísticos (como novas estradas, asfal-tamento e custos de transporte menores),há ainda fatores endógenos associados à ex-pectativa de rentabilidade dos agentes so-bre os investimentos em ampliação das áreasocupadas com novos cultivos específicos.Esses processos de decisão dos agentes pre-

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cisam ser mapeados e reconhecidos, casose queira produzir políticas efetivas de re-dução do desmatamento na Amazônia.

4_ As causas diretasdo desmatamentona Amazônia Legal

Para identificar as causas diretas do des-matamento da Amazônia, foi construídoum banco de dados que combinava di-versas fontes. Foram coletados os dadosdo Prodes (INPE, 2008) de identificaçãodos dados de desmatamento da Amazô-nia Legal brasileira (área desmatada defloresta),2 o número de cabeças bovinasde 782 municípios da Amazônia da Pes-quisa Pecuária Municipal (IBGE, 2008),a área plantada de culturas perenes e tem-porárias selecionadas nos mesmos muni-cípios da Produção Agrícola Municipaldo Sidra (IBGE, 2008). O número de782 municípios foi estabelecido valen-do-se da combinação dos municípios dosEstados do Acre, do Amazonas, de Ron-dônia, de Roraima, do Amapá, do Pará,de Tocantins, do Mato Grosso e do Ma-ranhão. Os dados do IBGE foram com-binados com os dados do Prodes, sendo,assim, alguns municípios dos Estados doMaranhão (23) e do Mato Grosso (2)

(não incluídos na listagem do INPE) fo-ram, portanto, eliminados.

4.1_ Uso do soloe desmatamento

A pecuária bovina é a atividade mais forte-mente correlacionada com desmatamen-to para os municípios da Amazônia. Naanálise que inclui apenas a pecuária bovina,encontrou-se um coeficiente de correla-ção de 0,7345 entre o número de cabeçasde gado e o desmatamento (Tabela 2).Observando-se as correlações, percebe-se baixa correlação entre a variável soja eo desmatamento. Isso sugere que a fracacorrelação direta da soja com os processosde desmatamento implica o pouco im-pacto desse tipo de cultivo sobre a ocupa-ção de novas áreas na Amazônia. Obser-vando-se, porém, as correlações entre sojae arroz (0,6462) e soja e milho (0,7397) eentre arroz e desmatamento (0,3562) eentre milho e desmatamento (0.2235),vê-se que soja e desmatamento podemestar ligados de forma indireta. Arroz emilho são culturas associadas ao proces-so de implantação da cultura de soja emáreas novas. Observações de campo fei-tas pelos autores demonstram que é co-mum plantar-se arroz em áreas novaspor aproximadamente 3 anos antes de seiniciar a produção de soja.

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2 Para os dados dedesmatamento, foi escolhida aárea desmatada total pormunicípio a partir de 2000.

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Essas relações entre arroz, milho esoja são ainda mais importantes quando seobservam os resultados das regressões efe-tuadas. Com uma regressão simples de mí-nimos quadrados ordinários que, utilizandoa variável número de cabeças como termoindependente, se tem o desmatamento co-mo variável dependente. O desmatamento,nesse modelo, tem um R² ajustado de 0,5397(erro 0.0077166) e um coeficiente beta de0,4048625. Os resultados dessa regressãodemonstram que o principal componenteda variação do desmatamento é a pecuária,explicando ~54% a sua variação. A pecuá-ria bovina, então, é, individualmente, a prin-cipal causa imediata do desmatamento daAmazônia, o que é consistente com a lite-

ratura sobre desmatamento da Amazôniarevisada aqui.

Analisou-se a relação do desmata-mento com a pecuária em três momentos,2000, 2003 e 2006. Para o ano 2000, a cor-relação foi de 0,6808; em 2003, de 0,7060;e em 2006, de 0,7768. Percebe-se clara-mente o aumento considerável da relaçãocom o passar do tempo. A soja, embora te-nha correlação muito baixa (no máximo0,1030), mostra um crescimento relativodesses valores no decorrer do tempo. Talcenário só reforça a hipótese já discutida deque a pecuária bovina é a principal causaimediata do desmatamento e que tal ten-dência tende a aumentar.

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Tabela 2_ Coeficientes de correlação, usando todas as observações(2000-2006)

desm bovino soja arroz milho perm temp_sem_gr

1,0000 0,7345 0,0864 0,3562 0,2235 0,2850 0,1181 desm

1,0000 0,0357 0,1980 0,1186 0,2692 0,0825 bovino

1,0000 0,3541 0,7397 -0,0296 0,6462 soja

1,0000 0,3640 0,0357 0,1874 arroz

1,0000 0,0470 0,5205 milho

1,0000 0,1046 perm

1,0000 temp_sem_gr

Fonte: INPE (2008) e IBGE (2008).

Nota: 5% valor crítico (bilateral) = 0,0265 para n = 5474

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Com base nesses resultados, pode-se ver que os processos estruturais que cor-relacionam pecuária e desmatamento, longede reduzirem seu impacto, estão amplian-do seu peso no desmatamento. A correla-ção da soja com o processo de desmata-mento, vista assim para a Amazônia toda,parece ser extremamente baixa, o que, emprincípio, não justificaria a afirmativa deque há relação direta entre a expansão doscultivos de soja e os processos de desmata-mento na Amazônia. Isso não é bem o ca-so; na próxima seção, ampliar-se-á a análiseutilizando-se de regressões para interpretarmelhor a relação entre os usos do solo e odesmatamento da Amazônia.

4.2_ Regressões em seção cruzadae com dados em painel

Para a análise dos dados de regressão, fo-ram utilizados dados em painel para osreferidos 782 municípios dos Estados daAmazônia Legal que combinavam com alista de municípios do INPE. O período

dos dados utilizados no painel foi anual eabrange os anos de 2000 a 2006. Esse con-junto de dados perfaz 5.474 observações.O uso de dados em painel se justifica pelofato de essa combinação de dados permi-tir maior nível de informação, variabilida-de e eficiência no uso dos dados, bem co-mo menor colinearidade (Gujarati, 2006).Foram utilizados efeitos fixos nas regres-sões, visto que os testes de Durbin-Watsonpara as regressões foram significativa-mente próximos de 2, implicando baixaautocorrelação nos modelos.

Foram testadas duas classes de mo-delos. Num primeiro momento, foi feito ummodelo de seção cruzada anual para anosespecíficos. Foram testadas as causas dire-tas do desmatamento nos anos de 2000,2003 e 2006. A segunda classe de modelofoi a regressão em painel propriamente di-ta. Foram feitas regressões para os Estadosde maior taxa histórica de desmatamentoanual (Mato Grosso, Pará e Rondônia) etambém para o Estado do Amazonas, que

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Pecuária e desmatamento52

Tabela 3_ Correlações entre cabeças bovinas, soja e desmatamento

Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Corr. Bovino 0.6808 0.6920 0.7007 0.7060 0.7557 0.7629 0.7768

Corr. Soja 0.0522 0.0481 0.0650 0.0773 0.0981 0.0978 0.1030

Fonte: Elaboração dos autores.

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é o maior Estado da região. Todos os mo-delos testados neste trabalho têm o desma-tamento como variável dependente.

Na primeira classe de modelos, pro-curou-se observar a relação direta entre asvariáveis de uso do solo e o desmatamentodentro de um dado ano. Na segunda classede modelos, foram feitas regressões em pa-inel para os dados de desmatamento dosprincipais Estados. As classes de modelostestadas foram:

Classe de Modelo 13 (seção cruzada anos 2000,2003, 2006)

desmano = a1(ano) + a2bovino(ano) + a3soja(ano) ++ a4arroz(ano) + a5milho(ano) ++ a6temp_sem_gr(ano) + a7perm(ano)

Classe Modelo 2 (painel 2000-2006 totale Estados de MA, PA, RO e AM)

desm_estado = a1 + a2bovino + a3soja + a4arroz ++ a5milho + a6temp_sem_gr + a7perm

Quando são feitas as regressões comas seções cruzadas (Tabela 4), nota-se, paratodos os anos, uma relação negativa entre asoja e o desmatamento. Essa relação é sig-nificativa para 2000 e 2003 e não significa-tiva para 2006. A relação negativa da sojacom desmatamento não é, obviamente, as-sociada a alguma propriedade “conservacio-nista” da soja, mas provavelmente está asso-ciada ao fato de que os municípios onde asoja ocorre normalmente já estão nos seus

ciclos finais de ocupação, tendo, portan-to, poucas áreas novas disponíveis para aexpansão dos cultivos agropecuários. Nasregressões, não foi possível verificar esseefeito, portanto não há como estabelecerconexão direta entre as áreas disponíveisnos municípios e o desmatamento even-tualmente associado à soja.

O fato marcante do modelo é ainda,como se poderia esperar, o peso da pecuárianos diversos anos. A observação dos resul-tados do modelo aponta para um aumentoda participação da pecuária na expansão dasáreas desmatadas. A pecuária, nesta análise,portanto, permanece a atividade que, indi-vidualmente, tem mais peso no processode desmatamento.

Quando se estabelece a análise comdados em painel numa série de 2000 para2006 (Tabela 5), há uma mudança significa-tiva na participação dos diversos usos dosolo nos resultados das regressões.

A relação da soja com o desmata-mento passa a ser positiva e significativapara quase todos os cortes efetuados, à ex-ceção do Amazonas. Embora a pecuáriacontinue sendo o coeficiente mais impor-tante da equação de regressão para qual-quer aspecto da análise, a soja passa a terimportância significativa na regressão paraa Amazônia com um todo.

Sérgio Rivero_Oriana Almeida_Saulo Ávila_Wesley Oliveira 53

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3 Variáveis: desm – Hectaresde Desmatamento; perm –Área Plantada (HA) deculturas permanentes; arroz –Área Plantada (HA) de arroz;milho – Área Plantada (HA) demilho; soja – Área Plantada(HA) de soja; temp_sem_gr –Área Plantada (HA) deculturas temporárias,excluindo arroz, milho e soja;bovino – Número de cabeçasde gado bovino.

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Pecuária e desmatamento54

Tabela 4_ Causas diretas do desmatamento – MQO por ano

Ano/R² bovino soja arroz milho temp_sem_gr perm _cons

2000 coef 0.5602 -0.8172 3.7420 2.1137 1.3212 3.4571 13339.5800

R² std err 0.0279 0.1477 0.6188 0.5985 0.7651 1.1137 2906.7750

0.53 P > t 0.000 0.000 0.000 0.000 0.085 0.002 0.000

2003 coef 0.5813 -0.4927 7.3986 2.0306 1.1222 5.2000 8628.1320

R² std err 0.0232 0.1253 0.7113 0.5130 0.6795 1.1943 3419.8270

0.59 P > t 0.000 0.000 0.000 0.000 0.099 0.000 0.012

2006 coef 0.6683 -0.0727 10.2931 1.7142 -0.4048 4.6548 2541.5640

R² std err 0.0209 0.1223 1.1830 0.5366 0.5729 1.3021 3716.0100

0.65 P > t 0.000 0.552 0.000 0.001 0.480 0.000 0.494

Fonte: Elaboração dos autores.

Tabela 5_ Causas diretas do desmatamento – Painel 2000-2006

UF/R² bovino soja arroz milho temp_sem_gr perm _cons

Amazônia coef 0.3857 0.6437 -0.0201 -0.9629 -0.3462 0.2204 44995.8300

R² std err 0.0078 0.0368 0.1091 0.1076 0.1504 0.4897 927.2544

0.49 P > t 0.000 0.000 0.854 0.000 0.021 0.653 0.000

Amazonas coef 0.2932 9.1309 0.7565 7.6169 0.7975 -1.8723 40482.1900

R² std err 0.03777 14.29960 1.51067 1.98827 0.46966 1.05869 1396.95100

0.3 P > t 0.000 0.524 0.617 0.000 0.090 0.078 0.000

Rondônia coef 0.3120 1.6380 -1.0503 -1.3479 11.1486 3.3570 52553.0400

R² std err 0.01532 0.51684 1.02775 1.14530 1.51875 0.94644 5480.64800

0.56 P > t 0.000 0.002 0.308 0.240 0.000 0.000 0.000

Pará coef 0.4200 3.9435 0.0941 -2.1844 -0.4155 -0.8812 90023.0600

R² std err 0.01875 0.93283 0.42083 0.43458 0.75001 1.21819 3250.48700

0.68 P > t 0.000 0.000 0.823 0.000 0.580 0.470 0.000

Mato Grosso coef 0.3472 0.5319 0.1612 -0.3394 -0.1695 -0.3400 51786.0300

R² std err 0.0200 0.0400 0.1400 0.1400 0.1900 1.0100 3514.9800

0.31 P > t 0.000 0.000 0.270 0.020 0.370 0.740 0.000

Fonte: Elaboração dos autores.

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Arroz, milho e outras culturas tem-porárias (que excluem arroz, milho e soja)têm coeficientes negativos na regressão pa-ra a Amazônia com um todo, mas a partici-pação do arroz na regressão não se mostrousignificativa em praticamente nenhum corteanalisado. As diferenças entre os coeficien-tes dos diversos usos nos cortes efetuadosna regressão parecem demonstrar diferen-ças estruturais que vão se refletir na partici-pação de cada uso nas equações. Essas di-ferenças estruturais resultam de processosconcretos de ocupação e uso do solo quepodem ser associados a padrões de ocupa-ção e, consequentemente, a atividades quese refletem na participação de cada usodeste na expansão das áreas desmatadas.Tais processos vão refletir-se também nasdinâmicas espaciais de expansão da ocupa-ção que, longe de refletir apenas fatores lo-gísticos ou processos de difusão das ativi-dades espacialmente conectadas (como aexpansão dos cultivos existentes ou a aber-tura de novas áreas de pastagem dentro daspropriedades), resultam de processos detomada de decisão dos agentes sobre in-vestimento e da expectativa de valorizaçãodo capital associada à ocupação de novasterras na fronteira.

Guardando-se a importância dessesprocessos endógenos de expansão do des-matamento (que ocorrem nas áreas conso-

lidadas), é necessário ver que, nas áreas deexpansão das atividades agropecuárias, as de-cisões dos agentes sobre sua ocupação vãoocorrer motivadas por expectativas de ren-da (seja ela associada à valorização da terra,seja ela associada à atividade produtiva),por fatores associados à disponibilidade decapital, bem como por fatores associadosao conhecimento e à cultura em determi-nadas atividades.

Nesse sentido, o aumento da im-portância da soja como uso do solo associ-ado ao processo de desmatamento é signi-ficativo. A ocupação de novas áreas pelasoja, quando se analisa a regressão com osdados em painel, parece produzir um efei-to de reforço às atividades já existentes as-sociadas à grande produção, mais especifi-camente, à pecuária. Isso está fortementerelacionado ao fato de que a disponibilidadede áreas agricultáveis para culturas de largaescala implica, provavelmente, a realocaçãode atividades já existentes, como pastagense outros cultivos temporários ou perma-nentes. Essas atividades, financiadas pelavalorização da terra ou pelo influxo de ca-pital do arrendamento e ou venda das ter-ras na fronteira sul e oriental da Amazônia,provavelmente migrarão para áreas maisno interior da região, ampliando assim osimpactos da ocupação da Amazônia pelaprodução agropecuária altamente capitali-

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zada. Esses efeitos derivados da expansãoda agricultura de larga escala são difíceis deidentificar e de medir, mas os resultados ob-servados nas regressões em painel parecemdemonstrar que os processos de ocupaçãoe uso do solo pela agricultura de larga esca-la reforçam as dinâmicas de expansão.

Um aspecto que ainda é necessárioidentificar é a participação da pequena pro-dução agropecuária na expansão do des-matamento. As culturas temporárias nãoassociadas à agricultura de larga escala, co-mo mandioca e feijão, têm reduzido suaárea nas regiões de ocupação da pequenaprodução. A participação das culturas per-manentes no total do uso do solo é sempreuma parte muito pequena do uso do solototal; isso implica que a expansão das áreasdas culturas temporárias, caso ocorra, vaiter pequeno impacto na expansão de pro-cessos de desmatamento. A pecuária, noentanto, tem presença grande também napequena produção e é o principal uso dosolo associado a essas propriedades. Issoresulta que eventuais aumentos nas expec-tativas de renda associadas à pecuária po-dem ter impactos tanto na grande como napequena propriedade na Amazônia. Isto é,o aumento de expectativa de rentabilidadeda atividade pecuária tende a ter efeitos sis-têmicos muito mais amplos e, provavel-mente, implicará grande impacto nas taxasde desmatamento.

O papel da pecuária no processo dedesmatamento e na consequente emissãode carbono também torna urgente a elabo-ração de políticas específicas para a ativida-de na Amazônia a fim de reduzir, de algumaforma, os impactos de sua forte expansãosobre a floresta. Antes de ir às políticas, po-rém, é necessário entender melhor a novadinâmica econômica que modifica a ativi-dade. Não há apenas uma pecuária na Ama-zônia; há várias formas diferentes de organi-zação da atividade pecuária que não são nemcontraditórias nem excludentes na frontei-ra. Na fronteira de expansão da ocupaçãoda Amazônia por atividades produtivas, épossível encontrar pecuaristas completa-mente articulados com a nova dinâmica deexpansão da agricultura de larga escala eagindo (tomando decisões de investimen-to) coerentemente com esse movimento.

5_ O papel e a extensãoda pecuária na Amazônia

A atividade pecuária está presente tantonas pequenas propriedades quanto nasgrandes e tem se expandido quase conti-nuamente em toda a história recente daocupação da região. Os processos associ-ados à expansão da pecuária têm se mos-trado, portanto, extremamente resilien-tes; isso se dá não por uma causa única,como a rentabilidade específica da ativi-

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Pecuária e desmatamento56

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dade, mas é o resultado da interação com-plexa de múltiplas causas (Pikkety et al.,2003; Rodrigues, 2004). Essas causas es-tão associadas, principalmente, à liquidezda atividade, à relativa simplicidade dosprocessos produtivos, bem como ao bai-xo nível de investimento de capital ne-cessário à sua instalação. A pecuária estápresente tanto na fronteira mais antigaquanto nas zonas de expansão da ocupa-ção da floresta. É uma atividade que, pelasua importância na participação da ocu-pação, necessita de análises mais preci-sas, bem como de políticas públicas es-pecíficas para o seu desenvolvimento etambém para a redução do seu impactona fronteira do desmatamento.

Um movimento recente vem aumen-tando o peso da pecuária na Amazônia Le-gal. De 1990 a 2006, o rebanho bovinocresceu a uma taxa de 6,74% ao ano-1, naregião, enquanto no resto do Brasil o cresci-mento médio do rebanho foi de 0,57% aoano-1. Com essas taxas, segundo os dadosda Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE,o rebanho cresceu de 26 milhões de cabe-ças em 1990 para 73,7 milhões em 2006,mais de 180% em 16 anos.

Essa expansão acompanha o cresci-mento da demanda interna e externa decarne bovina, mas também é influenciadapor outros fatores, como a sucessiva redu-ção de custos de transporte, o aumento da

produtividade da atividade associado a umamaior eficiência no manejo e o ainda relati-vamente pequeno preço da terra nas re-giões de expansão da Amazônia. A maiorparte do crescimento do rebanho brasileiro(de 26 milhões em 1990 para 73,7 milhõesem 2006),4 mais de 180% em 16 anos,deu-se nos Estados da Amazônia brasilei-ra, mais especificamente naqueles onde odesmatamento é maior (Mato Grosso, Paráe Rondônia). Esse avanço da pecuária so-bre as novas áreas segue uma dinâmica queestá associada ao aumento da demanda decarne e à progressiva integração da pecuá-ria da região com mercados globalizados.

6_ Causas subjacentesda expansão da pecuáriana Amazônia Legal

Os dados do Conselho Nacional da Pe-cuária de Corte (ABIEC, 2007) demons-tram que o consumo de carne no Brasiltem crescido nos últimos anos. Emboraas exportações apresentem uma taxa decrescimento média mais alta (17% ao ano),o consumo interno tem crescido em tor-no de 3% em média ao ano. Mesmo comesse crescimento, as exportações de car-ne ainda são bem menores que os níveisde consumo interno, ou seja, represen-tam em torno de 32% do consumo internode carne bovina do Brasil. No ano de2006, a demanda interna era de quase 7

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4 Pesquisa PecuáriaMunicipal (IBGE, 2008).

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milhões de toneladas equivalentes de car-caça (TEC), e as exportações perfaziammenos de 2,5 milhões de toneladas equi-valentes de carcaça (ABIEC, 2007). Issoimplica que, mesmo mantendo taxas maisbaixas de crescimento, como mostram asprojeções lineares da Figura 3, se podeestimar que a demanda interna alcance,no ano de 2012, em torno de 7,5 milhõesde TEC, ao passo que a demanda externaficará pouco abaixo de 3 milhões de TEC.

Sendo as restrições ao consumo decarne em áreas ainda não liberadas pelaOrganização Mundial de Sanidade Animal(OIE) menos impactantes no nível interno,é de se esperar que a carne produzida inter-namente nas regiões ainda não declaradasáreas livres de aftosa continue sendo con-sumida no mercado brasileiro, que é emtorno de 70% da demanda total. As impli-cações dessa expansão são grandes. O cres-cimento da demanda interna de carne nãoé reduzido pelas restrições sanitárias inter-nacionais. Isso implica que, se as tendênci-as de crescimento econômico estável seconfirmarem, haverá a manutenção das ta-xas de aumento do consumo interno decarne bovina no Brasil.

As exportações brasileiras de carnese concentram nos portos do Sul e do Su-deste do Brasil. A maior parte da carne ex-portada em 2006 (mais de US$ 2.93 mi-

lhões) saiu pelo porto de Santos, em SãoPaulo. Essa significativa concentração nãoreflete, necessariamente, a participação dorebanho paulista no total nem se reflete nocrescimento da participação de São Pauloou dos outros Estados do Sudeste-Sul noabate animal (ABIEC, 2007).

Ao separar-se nas estatísticas de aba-te os Estados da Amazônia Legal brasileira,vê-se que o crescimento do abate de bovi-nos se deu quase todo nessa região. So-mente nela esse tipo de abate cresceu con-sistentemente de 2004 até 2007, o que éacompanhado pela expansão dos frigorífi-cos para a região Amazônica, mais especi-ficamente para a região Sul e Oeste daAmazônia brasileira (Figura 4).

Na Associação Brasileira da Indús-tria de Carne (ABIEC, 2007), estão listadasas unidades produtivas dos frigoríficos mem-bros. Os dois principais frigoríficos, quetêm 31 das 87 unidades produtivas listadas,concentram suas operações em São Paulo,nos Estados do Centro-Oeste, em Rondô-nia, no Tocantins, no Acre e no Pará. O fri-gorífico Margem, por exemplo, mantémdois entrepostos em São Paulo. Os Esta-dos do Mato Grosso e de Rondônia se des-tacam como os maiores em números defrigoríficos filiados na ABIEC, presentesna Amazônia Legal.

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Pecuária e desmatamento58

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1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 20110

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

Consumo internoLinear regression for Consumo internoExportação

Linear regression for Exportação

Importação

MilT

onela

das

Equi

valen

tede

Carc

aça

Figura 3_ Brasil: consumo interno e exportações de produtos da pecuária bovídea

Fonte: ABIEC (2007).

Tabela 6_ Balanço da Pecuária Bovina – 1994 a 2006

(dados em Mil Toneladas Equivalentes de Carcaça)

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005a 2006b

Consumo interno 5018 5376 5962 5710 5797 5793 6158 6091 6395 6463 6549 6660 6860

Exportação 378 285 278 287 378 560 592 858 1006 1301 1854 2150 220

Importação 196 262 196 177 135 83 100 49 101 64 53 60 6

Fonte dos dados básicos: SRF/MF, SECEX/MDIC, MAPA, EMBRAPA, IBGE, CNPC, Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte – CNA,Sec. Estaduais de Agricultura.

Obs.: (a) Preliminar; (b) Estimativa; Em mil toneladas em equivalente carcaça. Rebanho: 1994 – PPM/IBGE; 1996 – Censo Agropecuário/IBGE;1995 e 1997 a 2006 – Estimativas.

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O movimento de expansão dos fri-goríficos para a Amazônia reflete, por umlado, uma lógica de redução de custos deaquisição de matéria-prima e, por outro, umposicionamento em um mercado em ex-pansão. As operações de exportação dessesfrigoríficos, se estiverem ocorrendo apenascom bovinos abatidos no Sudeste, estãoreduzindo a oferta de carne para consumointerno. Essa redução poderia, então, estarsendo suprida por bovinos abatidos no Sule no Leste da Amazônia. Além disso, o fim

das barreiras sanitárias para a carne do Ma-to Grosso, de Rondônia e do Sudeste doPará abre novos mercados de exportação.Se os custos da logística de transporte fo-rem reduzidos, nada impede a ampliaçãoda operação de exportação nos portos daAmazônia. Isso por si só não é necessário. Acarne de bovinos abatidos nos frigoríficosque têm unidades de produção na Amazô-nia pode estar sendo resfriada ou congeladae exportada pelo porto de Santos. Tudo éuma questão de custo, demanda e logística.

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Pecuária e desmatamento60

2000

35.000.000

30.000.000

25.000.000

20.000.000

15.000.000

5.000.000

0

10.000.000

Cabe

ças

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Amazônia Legal

Resto do Brasil

Figura 4_ Brasil: Bovinos Abatidos 2000 a 2008

Fonte: IBGE, Pesquisa Trimestral de Abate de Animais (www.sidra.ibge.gov.br).

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Os frigoríficos brasileiros têm se po-sicionado nas regiões onde a pecuária estáse expandindo. Essa região tem tido taxasde expansão significativamente superioresàs do resto do Brasil. Apesar de o efetivobovino das outras regiões do Brasil aindaser maior, a pecuária tem se expandindomais fortemente nos Estados da Amazô-nia Legal brasileira.

A participação do rebanho bovinoda Amazônia Legal no total do rebanhobrasileiro subiu de 17,85% em 1990 para

36,01% em 2005. Esse crescimento refletea forte expansão da atividade pecuária nasáreas de expansão do desmatamento naAmazônia brasileira (Figura 6).

O crescimento da pecuária bovinana Amazônia brasileira tem sido, nos anosanalisados, sempre bem maior que no restodo Brasil. Esse crescimento apresentou, de2000 a 2005, uma taxa média anual de 7%na Amazônia Legal, ao passo que, no restodo Brasil, a taxa média de crescimento anoa ano ficou em torno de 1% (Figura 7).

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OutrosFrisaBertim

Margem

FriboiQuatro Marcos

Independência

MercosulMarfrigMinerva

SPMTGOPRRSROMSMGACSCTOPARJESBA

0 5 10 15 20 25

Figura 5_ Número de instalações de frigoríficos filiados à ABIEC por UF

Fonte: ABIEC (2007).

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1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 20050

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Cabe

ças

80.000.000

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120.000.000

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Amazônia Legal

Resto do Brasil

Figura 6_ Efetivo do Rebanho Bovino (1990-2005)

Fonte: IBGE – Produção Pecuária Municipal (http://www.sidra.ibge.gov.br).

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

-4.00

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anua

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Amazônia Legal

Resto do Brasil

Figura 7_ Brasil e Amazônia: Taxas de Crescimento Anual do Rebanho Bovino

Fonte: IBGE – Produção Pecuária Municipal (http://www.sidra.ibge.gov.br).

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A forte expansão da pecuária bovi-na na Amazônia é uma tendência que devecontinuar. Caso o atual quadro de demandaglobal continue em expansão, e a presençadas instituições na fronteira amazônica con-tinue frágil, o contexto institucional quepermite a expansão da pecuária na frontei-ra vai continuar funcionando. Aliadas a is-so, as novas demandas e a rentabilidademaior da pecuária na Amazônia vão refor-çar esses processos de expansão.

Tais processos de expansão da ativi-dade pecuária são reforçados ainda maispela entrada de novos atores no jogo. A ex-pansão da agricultura de larga escala e opotencial de ampliação dos usos do solopor novas culturas para a produção de bio-energia são, potencialmente, um processoque vai reforçar ainda mais a importânciado papel da pecuária na expansão da fron-teira do desmatamento.

7_ Conclusões e uma perspectivapara a política pública

A pecuária bovina é o uso do solo maisimportante em todos Estados da Ama-zônia. É uma atividade, que, em geral,tem apresentado crescimento em todosos Estados. Esses fatos tornam a criaçãode gado a atividade econômica de maiorimpacto em toda a região.

A pecuária bovina também está for-temente associada com o desmatamento daAmazônia, sendo sua causa imediata maisimportante. As regressões realizadas nestetrabalho mostram também que o cresci-mento da agricultura de larga escala, emvez de reduzir, amplia o impacto da pecuá-ria sobre o desmatamento.

As motivações para o investimentona criação de gado na Amazônia continua-rão ocorrendo. A pecuária exige baixos ní-veis de capital, pouco preparo para o solo etem poucas restrições associadas a relevo ea áreas livres de troncos em florestas recen-temente desmatadas. Esses fatores tornama pecuária a atividade mais intensamenteassociada aos processos de desmatamentona maior parte da região. Tal fato ainda estáassociado à baixa densidade dos rebanhosna região. A criação de gado bovino, nor-malmente, é extensiva, contando com nú-meros normalmente em torno de uma ca-beça.hectare-1.

Políticas para a pecuária devem con-siderar esses dois aspectos citados; a ex-pansão da pecuária é a principal causa ime-diata do processo de desmatamento; a ati-vidade é, em sua maior parte, extensivacom baixa densidade do rebanho.

Para reduzir os impactos da expan-são da pecuária, é necessário agir para au-mentar a intensificação da atividade. De-

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ve-se tomar cuidado, porém, para que issonão ocorra apenas em áreas onde fatorescomo o preço da terra, os níveis de capitale a proximidade dos mercados consumi-dores favoreçam o processo. É necessárioagir sobre a lógica dessa expansão, reduzin-do o seu avanço sobre novas áreas naAmazônia. Para isso, políticas que promo-vam o cuidado ambiental, como boas prá-ticas dentro das propriedades e algum pro-cesso de qualificação do rebanho (asse-gurando sua procedência de áreas fora daregião onde ocorrem novos desmatamen-tos), podem ser úteis.

É necessário também considerar asdiferenças entre pequenos e grandes pro-dutores na pecuária bovina. Na Amazôniabrasileira, a pecuária bovina é uma ativida-de importante nas pequenas propriedades.Políticas para a pecuária têm, certamente,que considerar esse fato. Políticas de inten-sificação que funcionam para a grande pro-priedade que, eventualmente, exigem gran-de volume de capital podem ser uma fortebarreira para o aumento da intensificaçãona pequena produção. Isso pode reduzir oimpacto de políticas que favoreçam a in-tensificação para os pequenos produtores.Como dito, políticas de incentivo à intensi-ficação, portanto, devem considerar as di-ferenças de escala entre pequenos e gran-des produtores, estabelecendo, casualmente,condições diferenciadas para cada um.

As políticas de controle da expansãodo desmatamento e de promoção de boaspráticas também devem considerar as dife-renças entre pequenos e grandes produto-res. Essas diferenças não são pequenas eprecisam ser identificadas para estabelecerqual o melhor formato de uma política pa-ra cada tipo de ator (pequenos ou grandesprodutores). Associado a isso, é necessáriotambém reduzir a motivação da expansãoda pecuária nas áreas onde a propriedadeda terra é incerta ou se encontra sobre ocontrole formal do governo (as chamadasáreas devolutas). Sem o aumento do graude ordenamento sobre a propriedade daterra e do aumento da legalidade nas áreasocupadas, a pecuária de baixa produtivida-de e baixo investimento de capital vai con-tinuar fazendo parte da lógica de expansãoda ocupação da terra na Amazônia.

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Este artigo contou com ofinanciamento do CNPq nosprojetos MCT/CNPq/PPG7– 048/2005 e edital CNPq“casadinho” – EditalCNPq 07/2006(processo 620235/2006-3).Os autores agradecem osfrutíferos debates doProfessor José Nilo Jr.e Professor Paul Cooney doPPGECONOMIA/UFPA.

E-mail de contato dos autores:

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Artigo recebido em dezembro de 2008;aprovado em maio de 2009.