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CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL PEDROGÃO GRANDE O DESAFIO DE UMA CATÁSTROFE Relatório de análise do incêndio florestal 17 de junho de 2017 Outubro de 2017 Conselho Diretivo

PEDROGÃO GRANDE O DESAFIO DE UMA CATÁSTROFEceipcivil.com/pdf/relatorio1.pdf · Nota: esta alínea serve de base para os planos de mitigação. g) Previsão e planeamento de ações

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CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

PEDROGÃO GRANDE

O DESAFIO DE UMA CATÁSTROFE

Relatório de análise do incêndio florestal

17 de junho de 2017

Outubro de 2017

Conselho Diretivo

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |3

ÍNDICE

1. Introdução -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5

2. Enquadramento jurídico ---------------------------------------------------------------------------------------- 7

2.1. Lei de Bases da Proteção Civil ------------------------------------------------------------------------- 7

2.1.1.Sistema de Gestão de Operações -------------------------------------------------------------- 11

2.1.2.Planos de Emergência -------------------------------------------------------------------------- 14

3. Combate aos Incêndios Florestais --------------------------------------------------------------------------- 17

4. Catástrofe de Pedrógão Grande ----------------------------------------------------------------------------- 21

5. Conclusões e Propostas -------------------------------------------------------------------------------------- 59

5.1. Conclusões --------------------------------------------------------------------------------------------- 59

5.2. Propostas ---------------------------------------------------------------------------------------------- 62

5.2.1.Estruturais -------------------------------------------------------------------------------------- 62

5.2.2.Instrumentais ----------------------------------------------------------------------------------- 63

5.2.3.Operacionais ------------------------------------------------------------------------------------ 65

6. Bibliografia ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 67

6.1. Documentação Técnica------------------------------------------------------------------------------- 67

6.2. Legislação --------------------------------------------------------------------------------------------- 67

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Sistema de Gestão Operacional .................................................................................................................. 12

ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1: Incêndio de Pedrogão Grande. ............................................................................................................ 20

Fotografia 2: Notícia do Incêndio de Pedrogão Grande ........................................................................................ 22

Fotografia 3: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 28

Fotografia 4: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 29

Fotografia 5: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 29

Fotografia 6: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 30

Fotografia 7: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 32

Fotografia 8: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 35

Fotografia 9: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande ................................. 35

Fotografia 10: Pluma do Incêndio ................................................................................................................................ 38

Fotografia 11: Pluma do Incêndio ................................................................................................................................ 41

Fotografia 12: Incêndio de Pedrogão .......................................................................................................................... 58

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |5

1.

INTRODUÇÃO

Por deliberação do Conselho Diretivo do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção

Civil (CEIPC) empenhamo-nos na elaboração de um Relatório de Análise da Catástrofe do

Incêndio Florestal que ocorreu em Pedrogão Grande no dia 17 de junho de 2017 e que se

prolongou nos dias seguintes, atingindo o território de mais quatro municípios

(Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Sertã e Pampilhosa da Serra).

Pretende-se com esta iniciativa refletir sobre todo o processo de decisão que orientou

esta operação de proteção civil, num incêndio do qual resultou a morte de 64 pessoas e 254

feridos (alguns graves). Para além desta tragédia humana há a registar prejuízos em 491

casas e a afetação da atividade produtiva em 48 empresas.

Em Portugal não existe uma cultura de avaliação, razão porque raramente se

aproveitam as ocorrências adversas – de qualquer natureza – para potenciar

aprendizagens, para melhoria dos sistemas.

Nesta matéria, o Sistema de Proteção Civil não é exceção. A elaboração de sucessivos

estudos e relatórios ao longo dos anos, sem qualquer consequência, comprova esta

afirmação.

Este não é um estudo. Este documento é uma análise factual de um conjunto de dados e

informações que nos foi possível recolher.

O presente relatório assume a dimensão de um testemunho de cidadania,

concretizado de forma independente e rigorosa, liberto de quaisquer condicionamentos,

apenas motivado pelo serviço à Causa Pública e à melhoria constante dos dispositivos

sistémicos de garantia da segurança de pessoas e bens.

O trabalho desenvolvido segue uma metodologia que se pretendeu simples e eficaz.

Através de um conjunto muito alargado de dados recolhidos no terreno e de muitos

contributos recebidos, construímos uma cronologia da operação, a partir da designada

“Fita de Tempo” já do conhecimento público, complementada com informação adicional,

reunida junto de fontes credíveis a que recorremos e confirmadas através do cruzamento

de depoimentos e de documentos a que tivemos acesso.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|6 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Numa primeira parte fazemos uma síntese caracterizadora do Sistema de Proteção Civil

e da missão de combate aos incêndios florestais nele inserido.

Numa segunda parte procuramos analisar os dados mais relevantes na marcha das

operações de combate ao incêndio e identificar as vulnerabilidades da gestão operacional

do mesmo.

Numa terceira e última parte procedemos à sistematização das conclusões, enquanto

resultado final da missão a que nos propusemos, traduzindo-as num conjunto de propostas

para a superação das falhas entretanto identificadas.

O respeito pelas nossas disposições estatutárias, a memória das vítimas e a decência

impede-nos que transformemos este relatório num exercício especulativo de identificação

de um qualquer “bode expiatório”.

Só nos interessa a interpretação rigorosa dos factos e a identificação de erros e

omissões na perspetiva de um sistema que, numa primeira análise, parece ter sido o

principal responsável desta catástrofe humana.

Quanto ao apuramento de responsabilidades objetivas, de natureza individual ou

institucional, deixamos essa missão para as entidades competentes. Ainda assim, não

queremos desvalorizar as responsabilidades políticas do poder municipal e do poder

central, antes, durante e depois da catástrofe.

A proliferação de relatórios já divulgados (ou a divulgar), não ajuda à análise dos

acontecimentos e à retirada das necessárias lições e aprendizagens dos mesmos, para

robustecer o sistema de proteção de pessoas, bens e ambiente no nosso país.

Conscientes desta dificuldade, ela serve-nos de estímulo para fazermos uma

abordagem diferente desta catástrofe, indo à essência das vulnerabilidades do sistema,

identificadas desde há muito e do pleno conhecimento do poder político mas, até esta

ocasião, tragicamente ignoradas.

Focados no futuro, queremos contribuir para que, a partir desta catástrofe, nada

fique como antes, no que concerne ao sistema português de proteção civil.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |7

2.

ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.1. Lei de Bases da Proteção Civil

O artigo 27.º da Constituição da República Portuguesa consagra que “Todos os cidadãos

têm direito à liberdade e à segurança”.

É neste contexto que se insere a Lei n.º 27/2006 de 3 de julho (Lei de Bases da

Proteção Civil), com a redação dada pela Lei n.º 80/2015, de 3 de agosto, que define

proteção civil como:

“a atividade desenvolvida pelo Estado, regiões autónomas e autarquias locais, pelos

cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos

coletivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e

proteger e socorrer as pessoas e bens em risco quando aquelas situações ocorram”.

O artigo 4.º número 1 do mesmo diploma define como objetivos fundamentais do

sistema:

a) Prevenir os riscos coletivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe

deles resultantes;

b) Atenuar os riscos coletivos e limitar os seus efeitos no caso das ocorrências

descritas na alínea anterior;

c) Socorrer e assistir as pessoas e outros seres vivos em risco, proteger bens e

valores culturais, ambientais e de elevado interesse público;

d) Apoiar a reposição de normalidade da vida das pessoas e áreas afetadas por

acidente grave e catástrofe.

Nota: relativamente às quatro alíneas anteriores evidenciam-se os objetivos

gerais das diversas fases do ciclo da gestão da emergência (mitigar, preparar,

responder e recuperar), alinhando a Lei com o conceito hoje implementado e aceite

na maior parte dos países.

No número 2 do mesmo artigo especifica-se que a atividade de proteção civil se exerce

nos seguintes domínios:

a) Levantamento, previsão, avaliação e prevenção dos riscos coletivos;

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|8 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

b) Análise permanente das vulnerabilidades perante situações de risco;

Nota: as duas alíneas anteriores, não sendo uma fase do ciclo da emergência, são

a base de todo o processo. Sem o conhecimento do que pode acontecer, onde, com

que magnitude e quem (ou o quê) será afetado e de que forma, todas as atividades

são inconsequentes.

c) Informação e formação das populações, visando a sua sensibilização em matéria de

autoproteção e de colaboração com as autoridades;

Nota: esta é uma ferramenta da mitigação;

d) Planeamento de soluções de emergência, visando a busca, o salvamento, a

prestação de socorro e de assistência, bem como a evacuação, alojamento e

abastecimento das populações;

e) Inventariação dos recursos e meios disponíveis e dos facilmente mobilizáveis, ao

nível local, regional e nacional;

Nota: as duas alíneas anteriores inserem-se nas atividades de preparação.

f) Estudo e divulgação de formas adequadas de proteção dos edifícios em geral, de

monumentos e de outros bens culturais, de infraestruturas, do património

arquivístico, de instalações de serviços essenciais, bem como do ambiente e dos

recursos naturais;

Nota: esta alínea serve de base para os planos de mitigação.

g) Previsão e planeamento de ações atinentes à eventualidade de isolamento de áreas

afetadas por riscos.

Nota: esta alínea insere-se na preparação e resposta

A Lei de Bases alicerça-se num conjunto de oito princípios estruturantes, aplicáveis às

atividades de proteção civil: prioridade da prossecução do interesse público; prevenção

para antecipar riscos e minimizar os efeitos dos acidentes ou catástrofes; precaução para

diminuir os riscos; subsidiariedade para apoio dos níveis superiores quando necessário;

cooperação entre todas as entidades públicas e privadas, incluindo os cidadãos ao nível

individual envolvidas; coordenação na execução das políticas ao nível nacional, regional,

distrital e municipal; unidade de comando para potenciação da atuação, respeitando as

cadeias de comando dos vários agentes de proteção civil e demais entidades intervenientes;

informação traduzida no dever de divulgação das informações de proteção civil.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |9

As atividades de proteção civil, por definição, têm caracter permanente. Entretanto a

Lei prevê a possibilidade dos órgãos competentes declararem a situação de alerta,

contingência ou calamidade, em função da natureza das ocorrências a enfrentar e a

gravidade dos seus efeitos, produzidos ou expectáveis.

Para assegurar a direção e a execução da política de proteção civil o diploma atribui

competências à Assembleia da República, ao Governo e ao Presidente de Câmara

Municipal. Para efeitos da coordenação em matéria de proteção civil, a Lei de Bases

institui e atribui competências próprias às Comissão Nacional, Comissões Distritais e

Comissões Municipais de Proteção Civil.

No domínio operacional, a Lei de Bases institui uma estrutura organizada a nível

nacional entendida como distrital e municipal no continente, coordenada pela Autoridade

Nacional de Proteção Civil (entidade com as atribuições e competências definidas em

diploma próprio) e pelos designados Agentes de Proteção Civil, que o número 1 do artigo

46.º identifica:

a) Os corpos de bombeiros;

b) As forças de segurança;

c) As Forças Armadas;

d) Os órgãos da Autoridade Marítima Nacional;

e) A Autoridade Nacional da Aviação Civil;

f) O INEM, IP e demais entidades públicas prestadoras de cuidados de saúde;

g) Os sapadores florestais.

Quanto à Cruz Vermelha Portuguesa esta exerce funções de proteção civil nos domínios

da intervenção, apoio, socorro e assistência sanitária e social, no contexto do seu estatuto

próprio.

Para além dos referidos agentes, a Lei atribui deveres especiais de cooperação a um

diversificado conjunto de instituições, nomeadamente às Associações Humanitárias de

Bombeiros, na qualidade de entidades privadas detentoras de corpos de bombeiros.

As instituições de investigação técnica e científica, públicas ou privadas, com

intervenção em domínios de produção do conhecimento aplicável, cooperam com os órgãos

de direção e coordenação do sistema.

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|10 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

A nível nacional, as operações de socorro são coordenadas e dirigidas, no plano

estratégico, pelo Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS) constituído pelo

comandante operacional nacional, segundo comandante operacional nacional e três

adjuntos de operações.

O CNOS possui três células específicas de apoio à decisão: planeamento, operações,

monitorização e avaliação do risco e informações; logística e comunicações; gestão de

meios aéreos.

Cabe também ao CNOS “Assegurar o comando e controlo das situações que pela sua natureza,

gravidade, extensão e meios envolvidos ou a envolver requeiram a sua intervenção” (artigo 7.º

alínea c) do Decreto-lei n.º 134/2006, de 25 de julho, alterado pelo Decreto-Lei n.º

114/2011, de 30 de novembro e pelo Decreto-Lei n.º 72/2013, de 31 de maio).

A nível distrital a referida coordenação é assegurada pelos comandantes operacionais

distritais, apoiados por segundos comandantes operacionais distritais.

Nos termos do artigo 11.º número 1 alínea b) do diploma que temos vindo a citar, é

atribuída aos CDOS a competência, na sua área de jurisdição, de “Assegurar o comando e

controlo de situações que pela sua natureza, gravidade, extensão e meios envolvidos ou a envolver

requeiram a sua intervenção”.

Existem também cinco agrupamentos distritais de operações de socorro (Norte, Centro

Norte, Centro Sul, Sul e Algarve) dirigidos pelos comandantes de agrupamento distrital

(CADIS).

Os CADIS têm como missão, entre outras, “Coordenar operacionalmente os comandos

distritais de operações de socorro” e “Assegurar a coordenação e direção estratégica das operações de

socorro interdistritais”, nos termos definidos pelas alíneas b) e d) do artigo 9.º do mesmo

diploma.

Quanto ao nível municipal, a Lei atribui ao Presidente da Câmara a qualidade de

“responsável municipal pela política de proteção civil”, cabendo-lhe “desencadear, na iminência ou

ocorrência de acidente grave ou catástrofe, as ações de proteção civil de prevenção, socorro,

assistência e recuperação adequadas em cada caso”.

No exercício das suas responsabilidades, neste domínio, o Presidente da Câmara “é

apoiado pelo serviço municipal de proteção civil e pelos restantes agentes de proteção civil de âmbito

municipal”.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |11

Entretanto, o enquadramento institucional e operacional da proteção civil no âmbito

municipal e a organização dos serviços municipais de proteção civil é regulado por um

diploma próprio (Lei n.º 65/2007 de 12 de novembro).

Nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira a política e ações de proteção civil

são da responsabilidade dos Governos Regionais.

Sabe-se que estão em curso trabalhos de revisão de muitos dos diplomas atrás referidos,

com particular destaque para a Lei Orgânica da ANPC e a Lei n.º 65/2007.

Seria desejável que se refletisse sobre a catástrofe de Pedrogão Grande e articulasse as

alterações legislativas com as lições a aprender.

2.1.1. Sistema de Gestão de Operações

A Lei de Bases da Proteção Civil consagra um Sistema Integrado de Operações de

Proteção e Socorro (SIOPS), definindo-o como “o conjunto de estruturas, de normas e

procedimentos que asseguram que todos os agentes de proteção civil” e as demais entidades

“atuam, no plano operacional articuladamente sob um comando único, sem prejuízo da respetiva

dependência hierárquica e funcional”.

Nota: comando único deve ser entendido como tendo cada indivíduo um único

supervisor designado a quem reporta no teatro de operações (FEMA - NIMS).

O designado SIOPS, juridicamente estruturado pelo Decreto-lei n.º 134/2006, de 25 de

julho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 114/2011, de 30 de novembro e pelo Decreto-Lei

72/2013, de 31 de maio) institucionalizou um modelo de atuação operacional dos agentes

de proteção civil, subordinados a um comando único, sem prejuízo da respetiva

dependência hierárquica e funcional.

O diploma que criou o SIOPS estabeleceu um Sistema de Gestão de Operações (SGO),

definindo a organização dos teatros de operações e dos postos de comando, clarificando

competências e consolidando doutrina operacional.

O SGO foi instituído por Despacho do Presidente da Autoridade Nacional de Proteção

Civil n.º 3551/2015, publicado no Diário da República, 2ª. Série, n.º 69, de 9 de abril de

2015.

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|12 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

O SGO desenvolve-se numa configuração modular e evolutiva em função da dimensão e

tipo da ocorrência, nos níveis estratégico, tático e de manobra, de acordo com a seguinte

matriz de evolução do sistema:

Fases do

SGO

Comando

Graduação Mínima

do Comandante de

Operações de Socorro

(COS)

Células do Posto de

Comando Operacional

Obrigatórias

N.º máximo de

equipas Setorização

Fase I Mais graduado no TO Nenhuma 6 Equipas Não

obrigatória

Fase II

Elemento

Quadro

Comando

Corpo de Bombeiros

Operações 18 Equipas Até 3 setores

Fase III Comandante

de CB

Operações

Logística

Planeamento

108 Equipas Até 6 setores

Fase IV

Elemento Operacional

da ANPC ou

Comandante CB

designado para o efeito

Operações

Logística

Planeamento

>108 Equipas Até 6 setores

Tabela 1: Sistema de Gestão Operacional Fonte: CEIPC

A função do COS é dinâmica, pois pode ser transferida, de acordo com critérios

predefinidos. Assim, e de forma crescente, o COS compete ao mais graduado dos

Bombeiros que estiver no teatro de operações, ao comandante do Corpo de Bombeiros da

área de atuação ou a um Comandante de CB designado pelo CODIS. Em função da

complexidade e se a situação o justificar, o COS pode ser exercido por um elemento da

estrutura do CDOS ou, ainda, pelo CONAC se este avocar o comando, bem como por

alguém de outro CDOS por si nomeado ou por um elemento do CNOS.

O Comandante das Operações de Socorro (COS) deve ser um elemento tecnicamente

qualificado e dotado de autoridade para atribuir missões operacionais, articular as forças

que lhe forem atribuídas, dirigir e regular aspetos logísticos de interesse imediato para as

operações, bem como gerir a informação operacional.

A decisão do desenvolvimento da organização do teatro de operações é da

responsabilidade do COS, que a deve tomar sempre que os meios disponíveis na

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |13

intervenção inicial e respetivos reforços se mostrem insuficientes, ou quando a previsão do

potencial dano o exigir ou aconselhar.

Ao COS são atribuídas importantes competências, a saber:

a) Aprovar o Plano Estratégico de Ação (PEA);

b) Efetuar o reconhecimento do TO, avaliar a situação e comunicar o resultado ao

PCO e ao CDOS territorialmente competente;

c) Coordenar os meios das várias entidades e organismos presentes;

d) Propor ao CDOS o reforço de meios operacionais ou de suporte logístico;

e) Garantir ao CDOS a informação dos pontos de situação dos resultados obtidos,

bem como a desmobilização das várias forças do TO;

f) Solicitar às autoridades policiais, sempre que necessário, a criação de perímetros,

zonas ou áreas de segurança;

g) Requisitar temporariamente quaisquer bens móveis indispensáveis às operações

de proteção civil e socorro e os serviços de pessoas válidas;

h) Ocupar as infraestruturas necessárias ao estabelecimento da organização de

comando e controlo e meios de intervenção;

i) Utilizar imediatamente quaisquer águas públicas e, na falta destas, as de

particulares, verificada a situação de necessidade para conter ou evitar danos;

j) Solicitar, dando conhecimento ao CDOS, o acionamento dos órgãos do sistema

de proteção civil, de nível municipal;

k) Em articulação com o CDOS, garantir informações aos órgãos de comunicação

social, fornecendo exclusivamente a informação oficial sobre a ocorrência,

devendo limitar-se à informação das operações de proteção e socorro;

l) Garantir a ligação com as entidades e oficiais de ligação presentes e

organizações locais necessárias ao suporte e sustentação das operações;

m) Promover a realização de briefings regulares para: garantir um fluxo de

informação sincronizado e de acordo com a complexidade e natureza do TO;

capacitar e verificar os objetivos estratégicos definidos para a operação em

curso; promover e assegurar o efetivo comando e controle da operação;

n) Determinar a localização do Posto de Comando Operacional (PCO);

o) Nomear os responsáveis pelas células do PCO (Planeamento, Operações e

Logística).

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|14 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Relativamente ao Posto de Comando Operacional este desempenha um conjunto de

funções muito relevantes, a saber:

- A recolha e tratamento operacional das informações;

- A preparação das ações a desenvolver;

- A formulação e a transmissão de ordens, diretrizes e pedidos;

- O controlo e execução das ordens;

- A manutenção da capacidade operacional dos meios empregues;

- A gestão dos meios de reserva;

- Preparação, elaboração e difusão de informação pública.

Para assessorar o COS, este pode nomear até três oficiais; um para a segurança, um para

as relações públicas e um outro para a ligação com outras entidades.

O SGO prevê também a função de Coordenador de Operações Aéreas (COPAR). Este

tem por competência coordenar ao nível de manobra as aeronaves a operar no TO.

Nas situações de maior complexidade nas quais intervêm diversos Agentes de Proteção

Civil, o PCO assume a dimensão de Posto de Comando Operacional Conjunto, sendo

igualmente disponibilizados meios de comando e controlo, com maior amplitude.

2.1.2. Planos de Emergência

Os planos de emergência constituem uma importante ferramenta de gestão da

emergência. Neles estão descritas todas as funções e ações a implementar, na emergência

propriamente dita, bem como na fase de recuperação, por todos e cada um dos APC e todas

as demais organizações e instituições que integram o sistema de proteção civil nos seus

diversos níveis.

Na presença de acidente grave ou catástrofe, ou na presença do risco da ocorrência

destes fenómenos, são desencadeadas operações de proteção civil, orientadas pelos planos

de emergência, previamente elaborados, aprovados e testados com recurso a vários tipos

de exercícios, sempre com avaliação do seu desempenho. Os referidos planos visam

“possibilitar a unidade de direção das ações a desenvolver, a coordenação técnica e operacional dos

meios a empenhar e a adequação das medidas de carácter excecional a adotar”.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |15

Os planos de emergência são instrumentos determinantes de coordenação e articulação

entre todos os atores que intervêm numa ocorrência de proteção civil, de média ou grande

escala. Porém estes documentos não são um fim em si mesmo, uma vez que a componente

fundamental para a consecução da sua finalidade é o processo de planeamento e não o

documento em si.

Conforme o disposto na Lei de Bases da Proteção Civil “os planos de emergência de

proteção civil, de acordo com a sua finalidade, classificam-se em gerais ou especiais, e consoante a

extensão territorial da situação visada, são nacionais, regionais, distritais ou municipais”.

No caso particular dos planos municipais de proteção civil, estes são elaborados pelas

camaras municipais, sendo a sua aprovação da competência da Comissão Nacional de

Proteção Civil.

A elaboração dos planos de emergência obedece a uma matriz, regulada pela Resolução

n.º 30/2015 da Comissão Nacional de Proteção Civil, que aprovou uma Diretiva para este

efeito.

Os planos de emergência consagram, entre outras variáveis: a caracterização do risco,

as vulnerabilidades existentes, medidas de prevenção e mitigadoras a adotar e potenciais

cenários decorrentes do risco; a organização da resposta nas fases de emergência e

recuperação, designadamente ao nível da execução do plano, da missão e da articulação e

atuação dos APC e demais organismos e entidades a envolver; a gestão da informação e

emprego dos meios de comunicação, para além do inventário de meios e recursos

suscetíveis de serem mobilizados.

Entendemos que os planos de emergência devem ser genéricos e não direcionados para

uma determinada situação. A tendência adotada no nosso sistema de proteção civil tem

sido a de elaborar um plano específico para cada tipo de situação. No entanto, a

generalidade das ações de resposta são idênticas, efetuadas da mesma forma e com o

mesmo tipo de comunicação, independentemente da causa.

A existência de vários planos, todos definindo as mesmas estruturas, meios, recursos e

formas de atuação propícia a confusão e dificulta a sua atualização pois, por pequena que

seja, terá de ser efetuada em todos os documentos ao mesmo tempo, sob pena de ficarem

desatualizados.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|16 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Os planos devem ser desenvolvidos numa base de princípios gerais e não de detalhes

específicos. Por isso defendemos a simplificação da matriz orientadora, aprovada pela

Comissão Nacional de Proteção Civil, para a elaboração de Planos de Emergência.

O planeamento não se conclui com a elaboração e aprovação do Plano de Emergência.

O planeamento é um ciclo contínuo que integra, treino, exercícios e revisão, devendo

ocorrer em todas as fases do ciclo da gestão de emergência (mitigação, preparação,

resposta e recuperação), para garantia da sua atualização sistemática. Trata-se de um

processo dinâmico que compromete todos os intervenientes a participarem ativamente no

mesmo.

Por isso defendemos que uma das aprendizagens a retirar dos processos de recuperação

deve ser precisamente o assumir do compromisso, por parte dos decisores, de

aproveitarem a oportunidade que a emergência representa para mudar comportamentos

individuais e coletivos, com vista a tornar mais resilientes as suas comunidades.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |17

3.

COMBATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

Os incêndios florestais são geradores de situações complexas, normalmente potenciadas

por condições meteorológicas extremas. Para além de perdas no património florestal e

outro tipo de bens, estes incêndios são também uma séria ameaça à vida humana, conforme

se comprova na catástrofe de Pedrogão Grande.

Também no domínio da segurança interna,

“Os incêndios Florestais representam uma das maiores ameaças no domínio da

proteção civil, obrigando a um permanente envolvimento dos vários agentes de proteção

civil na sua prevenção e combate” (Gabinete do Secretário-geral do Sistema de

Segurança Interna (GSGSSI), 2014).

Ao longo dos últimos 15 anos, os incêndios florestais condicionaram sempre a

abordagem política ao sistema de proteção civil, da parte de todos os governos em funções,

tanto do ponto de vista da produção legislativa como do investimento.

Depois dos catastróficos incêndios florestais registados no país nos anos de 2003 e

2005, o sistema foi alvo de uma significativa reestruturação.

Os incêndios florestais foram o alfa e o ómega da referida reestruturação, alicerçada

num novo ordenamento jurídico para o sistema de proteção civil.

É neste contexto que é instituído o designado Sistema Nacional de Defesa da Floresta

Contra Incêndios (SNDFCI), regulado pelo Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de junho,

alterado pelos Decretos-Lei n.º 15/2009 e 17/2009, de 14 de janeiro, pelo Decreto-Lei n.º

114/2011, de 30 de novembro e pelo Decreto-Lei n.º 83/2014, de 23 de maio. Este

diploma define um conjunto de medidas e ações visando a prevenção e proteção das

florestas contra incêndios, nomeadamente quanto à articulação institucional, ao

planeamento e à intervenção.

Com uma estratégia de missão centrada em duas dimensões específicas – defesa de

pessoas e bens; defesa dos recursos florestais – o referido sistema assenta em três pilares:

- Prevenção estrutural;

- Vigilância, deteção e fiscalização;

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|18 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

- Combate, rescaldo e vigilância pós-incêndio.

O primeiro pilar do SNDFCI é da responsabilidade do Instituto da Conservação da

Natureza e Florestas (ICNF). O segundo pilar cabe à Guarda Nacional Republicana

(GNR). O terceiro pilar é da responsabilidade da Autoridade Nacional de Proteção Civil

(ANPC).

A ANPC tem por missão:

“planear, coordenar e executar a política de proteção civil, designadamente na

prevenção e reação a acidentes graves e catástrofes, de proteção e socorro às populações e

de superintendência da atividade dos bombeiros, bem como assegurar o planeamento e

coordenação das necessidades nacionais na área do planeamento civil de emergência”

(Decreto Lei n.º 73/2013, de 31 de maio, que aprova a Lei Orgânica da

Autoridade Nacional de Proteção Civil.).

É no quadro desta competência que a ANPC propõe anualmente à Comissão Nacional

de Proteção Civil uma Diretiva Operacional Nacional (DON) para o Dispositivo Especial

de Combate a Incêndios Florestais (DECIF).

Com esta DON:

“define-se a arquitetura da estrutura de direção, comando e controlo, a forma como é

assegurada a coordenação institucional, a regulação, a articulação e otimização da

atuação operacional das forças integrantes do SIOPS, dos organismos e instituições

envolvidas ou a envolver nas operações de defesa da floresta contra incêndios, entendida

esta na vertente da proteção e socorro, tendo em vista o cumprimento dos objetivos

estratégicos definidos pelo Governo nesta matéria”.

A Comissão Nacional de Proteção Civil aprovou em 31 de março de 2017, a DON para

vigorar no ano em curso.

O DECIF enquanto estrutura de resposta operacional de natureza sazonal tem como

conceito estratégico:

a) Garantir a primeira intervenção imediata e segura em incêndios declarados,

dominando-os à nascença;

b) Limitar o desenvolvimento dos incêndios e reduzir os reacendimentos;

c) Garantir permanentemente a unidade de comando, controlo e comunicações;

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |19

d) Garantir permanentemente a segurança de todas as forças das organizações

integrantes do SIOPS;

e) Garantir a prioridade da intervenção terrestre e aérea para as zonas de maior

risco florestal, nomeadamente áreas protegidas ou áreas de elevado valor

económico;

f) Garantir permanentemente a defesa de pessoas e seus bens.

Na DON estão consagradas várias disposições de natureza operacional. Dada a

relevância das mesmas para a adequada interpretação do incêndio de Pedrogão Grande,

julgamos essencial centrarmo-nos sobre elas.

O DECIF organiza-se em cinco fases – Alfa, Bravo, Charlie, Delta e Echo –

correspondentes a um calendário específico e no contexto de uma classificação de risco. A

cada uma destas fases são alocados meios operacionais de resposta. A fase de maior risco e,

portanto, com maior número de meios mobilizados é a Charlie, estabelecida, em regra, no

período de 1 de julho a 30 de setembro. Podendo as datas de início e de fim ser ajustadas

por decisão do Governo, em função de vários fatores como sejam as condições

meteorológicas.

Todas as evidências vêm revelando o caracter desajustado da definição de meios

alocados ao dispositivo, subordinada ao calendário gregoriano. A classificação de risco de

incêndio florestal desde há muito que deixou de ter “estações” pré-definidas.

Entretanto e no modelo atual em todas as referidas fases de risco do DECIF, aplica-se

as seguintes ações operacionais:

Ataque Inicial: visa garantir uma intervenção organizada e integrada, sustentada por

um despacho inicial, até dois minutos depois de confirmada a localização do incêndio, de

meios aéreos, se disponíveis, e em triangulação de meios terrestres de combate a incêndios

florestais. Este ataque inicial deve permitir colocar o primeiro meio de intervenção

operacional, no início de um incêndio, até 20 minutos depois do despacho inicial.

O ataque inicial desenrola-se de forma intensa com rápida progressão de equipas

helitransportadas, equipas terrestres e meios aéreos de ataque inicial.

Deve garantir-se que o Comandante das Operações de Socorro (COS) transfira o

comando com a passagem das informações necessárias que permitam o desenvolvimento

da organização do teatro de operações para ataque ampliado, nomeadamente:

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|20 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Uma estrutura e localização adequada ao funcionamento do Posto de Comando

Operacional;

Uma adequada setorização do teatro de operações;

O estabelecimento de um plano de comunicações.

Ataque Ampliado: sempre que atingidos os primeiros 90 minutos de intervenção desde

o despacho do primeiro meio de ataque inicial, e o incêndio não tenha sido dado como

dominado (resolvido) pelo COS, inicia-se a fase de ataque ampliado. O ataque ampliado

pode iniciar-se antes de se atingirem os primeiros 90 minutos de operação, quando a

previsão de evolução do incêndio, efetuada pelo COS, assim o determine.

Sendo uma ação integrada sustentada pelo despacho de meios de reforço e especiais,

projetados para incêndios não dominados em Ataque Inicial, esta fase caracteriza-se pela

expansão da organização no teatro de operações, com a constituição de um Posto de

Comando Operacional (PCO) e a sectorização do teatro de operações.

As variáveis que o COS tem de equacionar são muito diversificadas e estas influenciam

fortemente as decisões tomadas.

Embora haja parâmetros definidos para situações padrão, é necessário que os decisores

tenham bom conhecimento do território, do histórico em incêndios daquele local e do risco

associado.

Devem igualmente possuir experiência operacional e um bom relacionamento de

confiança com os outros atores do sistema.

Este é genericamente o enquadramento de missão do Combate aos Incêndios Florestais,

no domínio do sistema de Proteção Civil.

Fotografia 1: Incêndio de Pedrogão Grande. Fonte: https://www.noticiasaominuto.com/fama/815760

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |21

4.

CATÁSTROFE DE PEDRÓGÃO GRANDE

O incêndio iniciado em Escalos Fundeiros, Pedrogão Grande, pelas 14h43 de 17 de

junho de 2017, constitui uma das mais graves catástrofes ocorridas em Portugal.

Partindo desta dolorosa evidência, importa entender todas as circunstâncias que o

potenciaram, das quais resultou a morte de 64 cidadãos, um elevado número de feridos e

danos materiais que ascendem a mais de 500 milhões de euros.

Nesta parte do presente documento identificamos uma sequência de factos, que

designamos por Cronologia da Operação, seguida de alguns comentários e informações

adicionais às decisões tomadas ao longo das primeiras 24 horas, após o alerta de incêndio,

período no decorrer do qual se desencadeou a catástrofe.

Tomamos como fonte de informação base a “Fita de Tempo”, profusamente divulgada –

mas também adulterada – na fase posterior à catástrofe. Importa referir que a mencionada

“Fita de Tempo” (na sua versão oficial) possui grandes lacunas quanto à descrição dos

fluxos de informação que pretende registar. Por outro lado há ações enunciadas que não

são complementadas com informações sequenciais subsequentes, motivando omissões que

impedem o adequado entendimento de muitas das decisões tomadas e a identificação de

quem as tomou.

Entendemos que este modelo de “Fita do Tempo” deveria ser mais rigoroso e factual, de

modo a permitir, após cada operação, um adequado estudo de todas as decisões tomadas no

decorrer da mesma. Tendo em conta o volume e intensidade do fluxo de informação,

sugere-se que exista um elemento da estrutura do posto de comando dedicado apenas ao

registo dos diversos eventos em tempo real, de modo a reduzir as lacunas que poderão

ocorrer quando as fitas de tempo são elaboradas posteriormente por um qualquer elemento

designado para a elaborar com base na reconstituição dos eventos.

Ainda assim elaboramos a partir dela uma cronologia dos factos determinantes das

primeiras 24 horas da operação, interpretando as informações registadas na mesma.

Sem perder de vista a análise objetiva dos factos, citamos o investigador Emanuel

Oliveira:

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|22 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

“Aos olhos do analista, este incêndio tratou-se sem dúvida alguma de um incêndio

inédito, dado o domínio de um comportamento convectivo, ou seja, um incêndio

conduzido pelo estado fenológico e carga disponível do combustível, e associado a uma

instabilidade atmosférica previsível que favorecia e sustentava a coluna convectiva em

caso de incêndio. Este tipo de incêndios, de comportamento extremo do fogo, origina

consequentemente elevada complexidade nas operações de controlo e extinção. Não

existem grandes receitas, a não ser a proteção de aglomerados. Por alguma razão, os

analistas de incêndios americanos denominam de “Hungry Fires”, uma vez que

terminam quando acabam com o combustível que os alimenta ou então a situação

sinóptica muda e permite que os meios de combate possam exercer manobras eficazes e

seguras.

Associado a este tipo de incêndio, ocorrem fenómenos meteorológicos que aumentam a

complexidade do controlo, tais como a geração de ventos erráticos, normalmente

soprando com intervalos de elevada intensidade e de direção variável. A coluna de fumo

(pluma) rapidamente eleva-se verticalmente, sendo tridimensional e muito densa e

escura, transportando material incandescente que não se apaga dada a temperatura

dentro da coluna, permitindo o lançamento de projeções a longas distâncias e

produzindo inúmeros focos secundários em várias direções no raio do incêndio”

(Oliveira. E., 2017).

Fotografia 2: Notícia do Incêndio de Pedrogão Grande

Fonte: Montagem CEIPC

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |23

CRONOLOGIA DA OPERAÇÃO

17 de junho de 2017

1. ALERTA - Via 112 transferido do CDOS de Castelo Branco para o CDOS de Leiria.

Informa-se a visualização de uma coluna de fumo (14h43).

AÇÕES IMEDIATAS - Despacho em Ataque Inicial (ATI) e em triangulação de meios

dos 3 Corpos de Bombeiros (CBV de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró

dos Vinhos). É dada ordem de missão para helicóptero ligeiro de ataque inicial com equipa

helitransportada da Força Especial de Bombeiros (FEB) posicionado em Ferreira do

Zêzere (localizado a 32 km).

Outros meios despachados:

2 Equipas de sapadores florestais – 6 operacionais;

1 Patrulha da GNR – 2 militares.

Comentário

Na data do incêndio o DECIF encontrava-se na designada Fase Bravo. Assim, e de

acordo com o previsto para a referida fase, no mês de junho estavam disponíveis menos

Equipas de Combate a Incêndios Florestais (ECIN), integradas por um Veículo

Florestal de Combate a Incêndios (VFCI) e uma guarnição de 5 elementos. A cada um

dos CBV da triangulação (Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de

Pera) foi atribuída uma ECIN.

Numa entrevista dada ao jornal Expresso e publicada na edição de 24 de junho de 2017

deste jornal, o Comandante do CBV de Pedrogão Grande, Augusto Arnault, quando

questionado sobre se “Precisa de mais homens e de mais meios para combater as

chamas” afirmou:

Comentário

Neste relatório não nos detemos na causa do incêndio, uma vez que nos decidimos focar

na resposta operacional ao mesmo. Fica apenas a constatação de que nesta data ainda

não há uma conclusão institucionalmente consolidada sobre esta matéria.

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|24 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

2. Primeiro Ponto de Situação feito pelo Bombeiro de 2.ª do CBV de Pedrogão Grande

(primeiro COS) informava que o Incêndio ardia com muita intensidade, solicitando por

isso reforço de meios para o local. Na sequência desta informação foram acionados mais

meios dos CBV de Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, bem

como do CBV Ansião (14h54).

3. CODIS de Leiria determina, para reforço da triangulação inicial de meios, a mobilização

de mais duas brigadas de combate a incêndios do distrito (14h54).

4. No ponto de situação feito pelo Adjunto Comando CBV Pedrogão Grande, entretanto

chegado ao TO, refere que o incêndio já é de grandes proporções e pede mais meios

(15h02).

5. A ocorrência passa à classificação de “importância elevada” (15h07).

Comentário

Recorda-se que conforme se especifica no ponto 2.1.1 deste documento, na fase I do

SGO o primeiro COS é o Chefe da primeira equipa a chegar ao local da ocorrência.

Comentário

Embora seja omissa qualquer referência na “Fita de Tempo”, supõe-se que com a

chegada ao TO de um elemento de Comando do CBV de Pedrogão Grande este tenha

assumido a função de COS.

“Preciso de mais bombeiros profissionais permanentes. Nesta altura do ano, antes

da fase Charlie, temos cinco profissionais. É pouco para a quantidade e dimensão de

fogos que combatemos. O resto são todos voluntários. O futuro para os bombeiros é o

de serem todos profissionais. Não há outro caminho. Os piquetes são assegurados por

voluntários que usufruem das suas férias para vir combater. A partir de julho e até

setembro, na fase Charlie, teremos diariamente 12 homens no total. Se há sapadores

têm de os colocar nas aldeias.”

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |25

6. CNOS aciona um Helicóptero Bombardeiro Pesado KAMOV (HESA02) (15h08).

7. Comandante do CBV de Pedrogão Grande chega ao TO e assume a função de COS. Faz

o ponto de situação e informa que o Incêndio está com muita intensidade. Pede mais

uma brigada (15h10).

8. São acionadas duas Brigadas de Leiria (Brigada 1 – CB Caldas da Rainha, Óbidos e

Bombarral; Brigada 2 – Batalha, Vieira de Leiria e Marinha Grande) – (15h11).

9. Meios no TO: 14 veículos, 55 operacionais e 1 Helicóptero H31 (15h21).

Comentário

Com o Cmdt. do CBV de Pedrogão Grande investido na função de COS desconhecem-

se as diligências feitas por este, para a constituição do PCO.

Comentário

Na entrevista do Comandante do CBV de Pedrogão Grande, já anteriormente citada,

quando questionado sobre “Quantos homens combateram os fogos nas primeiras duas horas”,

este respondeu:

“Daqui (Pedrogão Grande) saímos sete homens. No total, com a chamada dos

voluntários de Castanheira de Pera e Figueiró, eramos cerca de vinte. Demoramos 15

minutos a chegar a Escalos Fundeiros. Numa hora o fogo progrediu de Escalos para

Vila Facaia e Graça: são 11 quilómetros em linha reta. O fogo andou muito mais rápido

do que a gente.”

Esta quantificação de meios no TO nas duas primeiras horas não coincide com o registo

de meios no TO constante na “Fita de Tempo” (15h21), 38 minutos após o alerta.

Comentário

De acordo com a NOP 3201/2016 de 30/6, do Comando Nacional de Operações de

Socorro, que regula o Sistema de Notificações, uma ocorrência de incêndio florestal

passa a ser classificada de “importância elevada” quando atinge duração igual ou

superior a 3 horas; mobiliza um número igual ou superior de 15 meios operacionais;

com meios aéreos a operar. A passagem a esta classificação, 24 minutos depois do

alerta, pressupõe que houve uma avaliação inicial significativa, da severidade do

incêndio.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|26 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

10. Mobilizado o Comandante do CBV Figueiró dos Vinhos, para assumir as funções de

Coordenador de Operações Aéreas (COPAR) – (15h25).

11. Acionado Veículo de Comando e Comunicações [VCOC] de CB Peniche e Equipa de

Posto de Comando – 2 elementos (Comandante do CB Peniche e Adjunto de Comando

de CB Pombal) – (15h35).

12. O COPAR é substituído pelo Oficial Bombeiro do CB de Alvaiázere, em virtude do

incêndio que, entretanto, deflagrou em Figueiró dos Vinhos necessitar da presença do

primeiro, na qualidade de Comandante do respetivo CBV (15h44).

Comentário

No Manual Operacional para Emprego dos Meios Aéreos em Operações de Proteção

Civil editado pela ANPC define-se o COPAR (Coordenador de Operações Aéreas)

como:

“um especialista que desenvolve a sua atividade no posto de comando, garantindo

apoio técnico ao Comandante de Operações de Socorro (COS). Colabora na

execução do Plano de Ação, recebe as informações sobre os meios aéreos atribuídos,

avalia continuamente a situação, propõe missão aos meios aéreos, fornecendo todas

as informações disponíveis e pertinentes, analisa a eficácia dos meios, propõe a

alteração da missão, identifica problemas de segurança e propõe a desmobilização de

meios”.

Não nos parece razoável que esta função seja assumida por um Comandante de

CB que, face a uma ocorrência verificada na área de atuação do seu CB, seja

forçado a ser substituído por outro elemento na função, interrompendo assim a

continuidade da missão, numa qualquer fase da operação, exceto em

consequência de rendição natural para pausa de repouso.

Comentário

A DON n.º 2 - DECIF 2017 estabelece que “Em cada distrito constitui-se, no mínimo,

uma EPCO com capacidade para prover todas as células previstas no SGO”. Não estão

definidos requisitos para a constituição das Equipas de Posto de Comando Operacional

(EPCO) nem o critério para a mobilização das mesmas. Ainda assim parece

insuficiente para um incêndio classificado de “importância elevada” a mobilização de

uma única EPCO.

Como se verificará mais adiante esta EPCO desenvolveu várias e esforçadas missões

mas as circunstâncias anormais verificadas no TO acabaram por desvirtuar a missão

definida na DON nº 2 para as EPCO.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |27

13. Posto de Comando Operacional (PCO) localizado em Escalos Fundeiros (na Sociedade

Recreativa) – (16h24).

14. Helicóptero Kamov (HESA 02) regressa à Base de Santa Comba Dão por não ter

conseguido operar devido ao facto de, no TO, a temperatura ambiente atingir o limite

de segurança para a aeronave (90 graus) – (16h25).

15. Adjunto de CBV Pedrogão Grande informa que estão a verificar-se muitas projeções

que provocam vários incêndios (16h57).

16. Meios no TO: 37 veículos, 117 operacionais e 1 Helicóptero Ligeiro (17h05).

Comentário

Segundo apuramos, após uma ou duas horas do alerta do incêndio em Escalos

Fundeiros, eclodiu uma outra ignição em Regadas Cimeiras, da qual não existe registo.

No entanto, na análise das imagens recolhidas a partir das camaras instaladas no CBV

de Pedrogão Grande confirma-se esta ocorrência, presumindo-se que este novo

incêndio se tenha juntado ao de Escalos Fundeiros, sem que nunca esta circunstância

tenha sido identificada.

Comentário

Conforme se desenvolve no ponto 2.1.1 o PCO constitui-se como órgão diretor das

operações de apoio ao COS, para preparação das decisões e articulação dos meios. Este

pode ser implementado numa infraestrutura ou em veículo adequado para o efeito.

A questão relacionada com os critérios para a seleção dos locais mais adequados para

instalação dos PC não é nova. Para reforçar esta importante variável na gestão dos

TO, em 2015 foi decidido adquirir um software para apoiar a referida seleção. Foi

adquirido pela ANPC a aplicação TRACES (Trade Control and Expert System) e esta

só não está a ser utilizada porque ainda não lhe foi entregue pela Secretaria Geral do

MAI.

Comentário

Com a retirada do HESA 02 do TO, ficou apenas a operar o Helicóptero H31, o que se

revelou manifestamente insuficiente, face ao rápido desenvolvimento do incêndio.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|28 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

17. 2.º Comandante Operacional Distrital (2.º CODIS) Mário Cerol, em deslocação para o

incêndio (17h08).

18. Nas imagens seguintes, captadas através de câmara instalada no CBV de Pedrogão

Grande, constata-se a ocorrência de um fenómeno, que se desenvolve das 17h20 às

18h09, da qual resulta uma variação de direção e a aceleração do incêndio (17h20).

Fotografia 3: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

Comentário

Mais de duas horas depois do alerta e face à mobilização de meios, entretanto

verificada, bem como às informações que foram sendo dadas pelo COS (transcritas na

“Fita do Tempo”) quanto à gravidade do incêndio, afigura-se-nos como tardia a

deslocação do 2.º CODIS para o TO. Relembre-se que, às 15:07, o incêndio já tinha sido

declarado como de importância elevada.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |29

Fotografia 4: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

Fotografia 5: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|30 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Fotografia 6: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

19. Vereador da CM de Pedrogão Grande no PCO (17h38).

20. Não há meios aéreos a operar (17h43).

21. O helicóptero HESA 02 sai da Base de Santa Comba Dão e regressa ao TO, onde

chegará 20 minutos depois. Autonomia no TO de 1h15 (17h48).

22. CODIS Leiria informa contacto com Presidente da Câmara de Pedrogão Grande no

sentido de mobilizar 1 máquina de rasto. O mesmo informou que tem uma do exército e

que a vai tentar mobilizar (17h54).

Comentário

A chegada de um representante da CM de Pedrogão Grande ao PCO quase 3 horas

depois do alerta do incêndio e da sua progressão parece-nos tardia. Sugere-nos

também a dúvida, dado que a “Fita de Tempo” é omissa, sobre em que fase do incêndio

a Câmara Municipal (e o seu Serviço Municipal de Proteção Civil) acionou os

mecanismos de acompanhamento da operação, no quadro das competências legais

atribuídas e inseridas no Plano de Emergência Municipal de Proteção Civil.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |31

23. Meios no TO: 39 veículos, 133 operacionais, 1 Helicóptero Ligeiro (18h04).

24. Presidente da CM de Pedrogão Grande, Valdemar Alves, presente no PCO (18h06).

25. Ponto de Situação: Incêndio com 4 frentes, 60% a arder livremente. Frente de

incêndio a dirigir-se para a Zona Industrial de Pedrogão Grande. TO setorizado em 5

setores. Solicitados 4 canais de manobra (18h14).

26. Acionado Helicóptero Pesado 03 KAMOV (18h15).

27. Meios no TO: 44 veículos, 144 operacionais, 1 Helicóptero Ligeiro e 1 Helicóptero

Pesado (18h19).

Comentário

No Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Pedrogão Grande, no

“Inventário de Meios e Recursos” suscetíveis de mobilização estão identificadas 4

Máquinas de Rasto das empresas Tercentro – 2, Valdep – 1 e Terbeira – 1. A falta de

mobilização atempada deste tipo de meios impossibilitou o emprego de métodos de

combate combinado e/ou indireto, que o incêndio, nesta fase, impunha.

Comentário

Cruzando os dados da “Fita do Tempo” com o registo do movimento de entradas e

saídas do TO constata-se que a esta hora estavam no TO: 33 veículos, 112 operacionais

e os meios aéreos acima referidos, o que não corresponde com a "versão oficial".

Comentário

Tal como referido no ponto 22 deste relatório, a “Fita de Tempo” não esclarece quais

as ações entretanto acionadas pela CM de Pedrogão Grande, no quadro das suas

responsabilidades e no contexto do Plano Municipal de Emergência. Diligências

entretanto encetadas permitem-nos afirmar que, a esta hora, não tinha sido

desencadeada qualquer ação organizada promovida pela Câmara Municipal.

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|32 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

28. Na imagem seguinte captada a partir da mesma fonte, verifica-se que no período entre

as 18h09 e as 18h50, o incêndio aumenta de intensidade e assume uma rápida

propagação.

Fotografia 7: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

29. CNOS/CONAC solicita acionamento de 6 máquinas de rasto militares ao Oficial

Ligação Forças Armadas. O mesmo informa que consegue arranjar 2 máquinas.

Aguarda-se confirmação das restantes 4 máquinas de rasto (18h28).

30. Segundo o relatório da GNR

“O Major Santos (Oficial de Serviço à Sala de Situação) tendo chegado ao PCO da

ANPC, em Escalos Fundeiros, verificou que se encontravam lá dois comandantes de

bombeiros e mais quatro ou cinco pessoas com o colete da Proteção Civil, atarefados com

a gestão do pessoal envolvido no combate ao incêndio. Dado que não lhe foi solicitada

qualquer colaboração, deixou o seu contacto telefónico e informou que ia para a zona do

incêndio, com o fim de monitorizar a sua evolução e manobrar as patrulhas colocadas

na EN 2, caso fosse necessário” (18h29).

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |33

31. Informação de 1 vítima, Bombeira do CBV da Marinha Grande, a ser socorrida pela

SIV de Avelar com traumatismo no tórax (18h46).

32. Agrupamento de Escoteiros no TO sem se conhecer o número de elementos. (18h52).

33. Oficial GNR no PCO (Major Santos) para articulação de tarefas atribuídas a esta força

de segurança no âmbito da Diretiva Operacional Nacional 02 DECIF/2017 (18h52).

34. Meios no TO: 50 veículos; 179 operacionais; 2 Helicópteros Pesados (HESA02,

HEBP03) 1 Helicóptero Médio (HEBM15) e 1 Helicóptero Ligeiro (HEBL31) –

(18h55).

35. VCOC Peniche informa: posicionado na localidade de Escalos Fundeiros na

Associação Recreativa, onde se encontra instalado o PCO. Não tem acesso ao SADO

por não ter INTERNET. Por indicação do 2.º CODIS o PCO vai ser reposicionado

(18h58).

Comentário

A circunstância do PCO desconhecer o número de elementos do Agrupamento de

Escoteiros presentes no TO faz antever que também ignorava a natureza da missão que

lhe foi (ou não foi) atribuída.

Comentário

Mais de 4 horas depois do alerta do incêndio o PCO não está estabilizado e a funcionar

plenamente.

Recorda-se que o PCO “funciona como órgão diretor das operações de socorro, de apoio ao

COS na preparação das decisões e na articulação dos meios”, tal como o define a DON n.º1.

Comentário

A “Fita de Tempo” não regista a presença deste oficial no PCO a esta hora, mas sim

mais tarde. Ver registo no ponto 33 do presente documento. Não se percebe se são

duas presenças distintas no PCO, ou uma só, referenciada a horas distintas.

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|34 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

36. CNOS interroga se IC8 está cortado. CDOS informa que IC8 se encontra

condicionado, com autoridades no local a fazer sinalização. GNR confirma corte do IC8

ao km 88 (19h01).

Comentário

Como se pode constatar na figura seguinte, o município de Pedrogão Grande é

“cercado” por diversas vias rodoviárias.

A EN 236.1 constitui uma importante via de circulação entre os 3 municípios da

triangulação do incêndio, pelo que se estranha que, de acordo com o princípio da

precaução, o trânsito não tenha sido encerrado na mesma.

Apesar dos argumentos aduzidos no relatório da GNR, sobre esta matéria, a verdade é

que no contexto da DON n.º 2, DECIF 2017 “Durante os períodos críticos exercem missões

de condicionamento de acesso, circulação e permanência de pessoas e bens no interior de zonas

críticas”.

Sublinha-se que foi na EN 236.1 que morreram 47 das 64 vítimas mortais desta

catástrofe, umas em trânsito e outras em fuga de aldeias atingidas pelo fogo.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |35

37. Nas imagens seguintes, captadas a partir da fonte já anteriormente citada constata-se

a ocorrência do colapso da coluna de convecção, verificada no período entre as 19h10 e

as 19h35, originando a expansão do incêndio, ao longo de vários quilómetros de

distância do seu ponto de início, provocando elevado número de projeções.

Fotografia 8: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

Fotografia 9: Imagem de câmara sobre progressão d0 Incêndio de Pedrogão Grande Fonte: ANPC

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|36 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

38. COPAR informa saída do TO dos helicópteros HESA02 e HEBL31 (19h19).

39. Adjunto CBV Pedrogão Grande informa despiste de viatura civil na localidade de

Mosteiro com 3 ocupantes no interior, 1 dos ocupantes com queimaduras em 90% do

corpo. Pede para se deslocarem ambulâncias para socorro das vítimas (19h25).

40. Adjunto Pedrógão Grande pede evacuação de pessoas em Vila Facaia (em percurso

com os sinistrados de Mosteiro com destino ao CMA de Figueiró dos Vinhos) –

(19h36).

41. O 2.º CODIS informa o Major Santos da GNR que o PCO foi transferido para o

Parque Municipal de Pedrogão Grande (19h37).

Comentário

Segundo apuramos só às 19h55 é que o PCO tomou conhecimento desta situação, por

impossibilidade de estabelecer comunicação. Não tendo meios disponíveis, o PCO

solicitou um veículo ao Serviço Municipal de Proteção Civil (SMPC) de Pedrogão

Grande. Este informou que o veículo disponível estava empenhado na localidade de

Troviscais. A responsável pelo SMPC tentou entrar em contacto com o Presidente da

JF para avaliar a situação mas não conseguiu por falta de comunicações. Em Vila

Facaia morreram 4 pessoas.

Comentário

Na “Fita do Tempo” não há qualquer registo específico quanto à transferência do PCO

para o Parque Municipal de Pedrogão Grande, enquanto decisão do COS.

Comentário

Vários relatos que recolhemos e o cruzamento de informações diversificadas

conduzem-nos à conclusão de que foi nesta fase que o incêndio atingiu o seu ponto

catastrófico, com a propagação projetada em várias direções, chamas muito altas e o

aumento exponencial da energia libertada. Segundo registos da estação meteorológica

de Proença-a-Nova, neste período o vento registou rajadas de 85 km/h e sofreu

variações de direção de 180 graus.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |37

42. Informado PCO de que nas povoações de Coelhal, Troviscais Fundeiros, Torneira e

Casalinho estão casas a arder (19h44).

43. CB de Pedrogão Grande informa que ficaram sem sinal de baixa frequência (19h45).

44. Central 112 informa: 3 vítimas no interior de uma habitação devoluta, cercadas pelo

incêndio na localidade de Casalinho e não conseguem sair sozinhas. Tentado o contacto

com o PCO e com 2.º CODIS sem sucesso. (19h45).

45. CDOS Coimbra informa: na localidade de Troviscais, o popular Fábio Salgueiro e o

pai necessitam de ajuda urgente. Contacto com o PCO e com o 2.º CODIS sem sucesso

(19h50).

46. Populares de Coelhal, Casal Valada e Casalinho ligaram a dizer que incêndio está a

chegar às casas e não existem veículos de socorro (19h50).

Comentário

Apuramos que estavam meios a operar em Troviscais. Porém, o PCO não conseguiu

estabelecer comunicação com os mesmos. Face a esta impossibilidade, foi enviado um

elemento de comando para estas localidades, para validar a informação e redirecionar

meios.

Comentário

Apuramos que o PCO só tomou conhecimento desta informação bastante tempo

depois, por falta de comunicações, pelo que não foram enviados meios para a localidade

de Casalinho.

Comentário

Em termos de comunicações no âmbito das operações de bombeiros, designa-se baixa

frequência, a gama de frequências na faixa dos 33 Mz aos 40 Mz (VHF).

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|38 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

47. Segundo o relatório da GNR, até às 20:16 estiveram presentes duas patrulhas da

Guarda no nó do IC8 com a EN 236-1, em tempos distintos, mas interligados. Ainda de

acordo com a GNR “entre as 20:16 e as 21:10 não esteve qualquer patrulha da Guarda

presente no nó do IC8 com a EN 236-1” (19h50).

48. Evolução da Pluma do Incêndio entre as 19h50 e as 20h00.

Fotografia 10: Pluma do Incêndio Fonte: ANPC

49. CODU Coimbra solicita coordenadas do Centro de Meios Aéreos (CMA) de Figueiró

dos Vinhos e informa que vai um Meio Aéreo em deslocação para transportar as vítimas

queimadas (19h52).

50. CDOS Coimbra informa CDOS de Leiria que a aldeia de Vermelho se encontra toda

envolvida pelo fogo (19h53).

51. Operador 112 passou chamada de civil em Valongo, habitações cercadas com idosos

acamados. Estrada transitável de Pedrogão Grande/Valongo (19h53).

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |39

52. 2.º Comandante Operacional Distrital de Leiria, assume a função de COS (19h55).

53. Comandante de Agrupamento Distrital Centro Norte (CADIS) Pedro Nunes no TO

(19h58).

54. Segundo o relatório da GNR:

“o Cabo Santos deslocou-se sozinho, na viatura patrulha, pela EN 236-1, até ao

cruzamento da Várzea, para se inteirar da situação relacionada com o aproximar de

uma nuvem escura de fumo. Verificou que a referida nuvem estava relacionada com o

incêndio, mas que ainda estava longe. Naquele trajeto de ida e de regresso ao nó não se

cruzou com nenhum veículo” (20h00).

Comentário

Apuramos que o PCO não conseguiu contactar com os meios a operar no local, por

falta de comunicações.

Comentário

A presença de um segundo elemento da estrutura de comando da ANPC no TO revela

uma preocupação adicional da parte do CNOS, relativamente à situação que estava

acontecer.

Dado que nos termos do SIOPS os CADIS no seu espaço territorial têm a competência

de “Assegurar o comando e controlo de situações que pela sua natureza, gravidade, extensão e

meios envolvidos ou a envolver requeira a sua intervenção”, a envolvência deste no TO ter-

se-ia justificado para proceder a uma transferência do nível de comando da operação.

Ele acabou por ser empenhado em missões de reconhecimento no TO.

Comentário

Às 17h08 é registada a informação de que o 2.º CODIS está a deslocar-se para o TO. Só

quase 3 horas depois é que este assume a função de COS. Face ao desenvolvimento do

incêndio, parece-nos tardia a transferência de patamar do COS, no contexto do SGO.

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|40 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

55. CMA Ferreira do Zêzere informa que H31 não tem condições para operar. Muito

vento e fumo (20h04).

56. CDOS de Leiria solicita 2 Ambulâncias aos CBV Pombal, Alvaiázere e Ansião para

proceder a evacuações (20h04).

57. Informação: localidade de Marinha, Graça e Casais dos Ferreiros em risco (20h10).

58. Populares informam que há uma idosa acamada em Pinheiro Bori, com casa cercada a

precisar de evacuação (20h10).

59. Dada a dificuldade de informar o PCO foi informado o Comandante do CBV Ansião

das localidades em risco: Troviscais, Casalinho, Coelhal, Marinha, Pinheiro Vão, Aldeia

de Vermelho (20h11).

60. Foi solicitado pelo CADIS Pedro Nunes o corte de Estrada Nacional 350, de

Pedrogão Grande em direção a Graça (20h11).

61. Mobilizado Grupo Sanitário de Ambulâncias de Castelo Branco (20h13).

62. Povoações de Casalinho, Troviscais, Coelhal, Vermelho e Valongo, cercadas pelo

incêndio. Existem vítimas civis queimadas (20h16).

63. Populares de Pinheiro e Cume com idosos e pessoas cercadas a solicitar ajuda

(20h17).

64. Civil informa que o filho está desaparecido, bem como outro popular na localidade de

Mó Grande – Pedrogão Grande. Povoação cercada pelo fogo (20h25).

Comentário

Apuramos que, apesar de estarem meios a operar no local, o PCO não conseguiu

contacto com os mesmos. Foi o oficial de Ligação do INEM que, posteriormente

atestou que esta informação não se confirmava.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |41

65. Acionada Equipa de Posto de Comando Operacional (EPCO) com Cmdt. CBV Batalha,

2.º Cmdt. CBV Batalha, Cmdt. CBV Bombarral (20h28).

66. Evolução da Pluma do Incêndio entre as 20h30 e as 20h40.

Fotografia 11: Pluma do Incêndio Fonte: ANPC

67. Informação: aldeia de Mosteiro com casas a arder (20h42).

68. Adjunto de Comando de Castanheira de Pera informa: VFCI04 Castanheira de Pera

ardeu e há 4 bombeiros queimados e 1 desaparecido. Colisão com viatura civil. Após o

acidente os Bombeiros tentaram proteger-se numa clareira mas, face à exposição a

elevadas temperaturas, acabaram por ficar gravemente feridos (20h44).

Comentário

A mobilização de uma segunda EPCO, 5 horas depois da mobilização da primeira, no

contexto de uma operação marcada pela dificuldade de estabelecimento das funções de

“Comando e Controlo”, parece-nos uma decisão errada.

Justificar-se-ia, face aos indicadores iniciais da rápida progressão do incêndio e

consequente desenvolvimento do TO, ter sido reforçada a função de comando da

operação através da colocação de mais EPCO enquanto fator de reforço e de

sustentação da decisão operacional do COS.

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|42 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

69. Ponto de Situação: Incêndio ativo com quatro frentes, a arder com intensidade.

Grupos a fazer defesas perimétrica a habitações. Uma criança com intoxicação por

fumo, inconsciente e a ser transportada para a zona industrial de Pedrogão Grande para

ser avaliada pela equipa médica do Helicóptero do INEM. Vai ser ativado meio aéreo do

INEM para evacuação de sinistrados de um despiste (20h45).

70. Ativado o Plano Municipal de Emergência de Pedrogão Grande (20h45).

Comentário

Segundo o relatório deste acidente elaborado pela Direção Nacional de Auditoria e

Fiscalização da ANPC “O acidente ocorreu entre as 20:00 e as 20:44, ao km 7 da EN 236-1”.

Segundo o depoimento de uma bombeira sinistrada, a viatura circulava pela EN 236.1

tendo passado por vários veículos. Ao passarem pelo lugar de Vilas Pedro, numa curva,

surgiu um veículo totalmente fora de mão que colidiu violentamente com o veículo do

CBV de Castanheira de Pera.

Relato posterior indicia que, neste momento, os veículos em circulação encontravam-se

em fuga face à perceção da aproximação do incêndio.

Comentário

O Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Pedrogão Grande de

setembro de 2010, foi aprovado em 3 de maio, de 2011 e revisto e 3 de maio, de 2012.

A ativação do Plano é da competência da Comissão Municipal de Proteção Civil,

sendo o Presidente da Câmara Municipal o Diretor do Plano.

No uso das responsabilidades e competências que legalmente lhe estão atribuídas, no

âmbito da direção e coordenação das operações de proteção civil, o Presidente da

Câmara Municipal deve facultar aos diversos serviços da autarquia e aos demais

organismos intervenientes, as condições indispensáveis para assegurar o conjunto de

ações a desenvolver, nomeadamente “Convocar de imediato a Comissão Municipal de

Proteção Civil (CMPC), declarando a ativação do Plano Municipal de Emergência de

Proteção Civil (PMEPC) e acionar o alerta às populações e Risco/Risco”.

Neste caso particular a CMPC de Pedrogão Grande não reuniu. Nesta matéria

entendemos que futuramente deverá haver alguma flexibilidade para os Presidentes

da Câmara poderem ativar o plano de emergência, decisão posteriormente ratificada

pela CMPC.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |43

71. CNOS contacta Chefe da Divisão Informática e Comunicações (DIC), solicitando o

reposicionamento de antenas SIRESP na zona de Pedrogão Grande e Figueiró dos

Vinhos (20h55).

72. Civil informa: localidade de Várzeas – Vila Facaia, cercada pelo fogo. Casas a arder

(21h04).

73. Informado PCO que a povoação Várzeas – Vila Facaia está cercada pelo fogo e que há

uma criança de 4 anos desaparecida e Lameira Fundeira (21h09).

74. CODU Lisboa informa: localidade de Pobrais com 20 pessoas cercadas. Necessitam de

evacuação urgente (21h13).

75. CDOS Leiria recebe informação de uma vítima já cadáver junto à estrada que liga Vila

Facaia para Alagoa. Parece que a vítima faleceu por intoxicação, uma vez que não está

carbonizada. CDOS Leiria informa Sala de Situação da GNR (21h20).

76. Informação: grávida e criança pequena dentro de habitação, cercada pelo fogo, na

localidade de Várzea Redonda e Carregal Cimeiro. Outra habitação cercada pelo fogo

com 2 idosos no interior (21h20).

Ainda no âmbito do PMEPC importa ver o que consagra o mesmo quanto aos

“Procedimentos de Evacuação”.

“A competência para a proposta de evacuação é da responsabilidade do

Comandante Operacional Municipal, estando sujeita à validação do diretor do Plano.

Compete à GNR a tarefa de evacuar e orientar a movimentação das populações e

áreas afetadas por sinistro, que sejam áreas, de localidades ou de edificações. Compete

também à GNR, após identificação das zonas de sinistro e de apoio, reencaminhar o

tráfego rodoviário em redor do teatro de operações de modo a não interferir com a

movimentação das populações a evacuar, nem com a mobilidade das forças de

intervenção”.

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|44 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

77. Solicitado ao CDOS de Lisboa um grupo de 8 a 10 ambulâncias para o CB de

Castanheira de Pera com comando próprio (21h25).

78. Popular informa que na localidade de Mó Grande encontram-se 4 adultos e 4 crianças

dentro de água e estão bem. Aguardam resgate no local em virtude do calor e fumo

intenso (21h25).

79. Na localidade de Ramalho, Vila Facaia há uma habitação a arder e vítima queimada.

Não se conseguiu estabelecer contato com PCO para informar situação (21h28).

80. Cmdt. do CBV Pedrogão Grande informa que está a fazer buscas da criança de 4 anos

desaparecida. Necessita de ambulância e apoio psicológico para o local. Do local não

consegue contacto com o CODU (21h32).

81. Ponto de Situação: Incêndio a arder com intensidade e a desenvolver-se em 4 frentes.

Existe muito vento no local. Necessidade de mais meios terrestres (21h32).

82. VFCI de Castanheira de Pera ardeu na totalidade com 5 bombeiros feridos graves

(queimados). Acionados meios de socorro (21h35).

83. Situação na povoação de Ramalho, Vila Facaia com habitação a arder e vítima

queimada. Não se consegue estabelecer contato com bombeiros nem com PCO (21h35).

84. Na localidade de Cume – Vila Facaia há uma habitação a arder. Avisado PCO (21h37).

85. CDOS Leiria é informado via 112 da existência de idosos nas suas habitações na

localidade Covais – Pedrogão Grande que se recusam a sair das mesmas (21h38).

Comentário

Apuramos que a informação chegou tarde ao PCO, por falta de comunicações, pelo que

não foram direcionados meios de socorro para o local.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |45

86. PCO informa 2.º CODIS que Cmdt. do GRIF Santarém solicitou uma Ambulância

para transporte de civil queimado nos membros superiores. 2.º CODIS procede em

conformidade e reforça a necessidade de enviar mais meios para a localidade de

Carregal Cimeiro (21h39).

87. Segundo o relatório da GNR até esta hora:

”não foi efetuado qualquer corte por patrulhas da Guarda na EN 236-1, em

particular junto ao nó do IC8, no sentido Castanheira de Pera, por nunca ter sido

comunicada à Guarda qualquer decisão operacional ou informação de risco naquela

estrada nacional, factos que foram confirmados pelos sucessivos Comandantes das

Operações de Socorro em funções” (21h44).

88. Cidadão pede ajuda. Encontra-se na localidade de Sarzedas do Vasco, numa quinta,

sozinho. A casa já está a arder por baixo. Tem 75 anos e sofre de problemas

respiratórios. Não tem água pois o furo está avariado. Não se conseguiu contato com

PCO (21h47).

Comentário

Segundo apuramos este contacto foi direcionado para o CDOS de Leiria que aconselhou

o cidadão a proteger-se. O PCO só tomou conhecimento desta informação às 22h05

tendo sido enviada uma Ambulância de Socorro do CBV Castanheira de Pera, que

localizou 4 vítimas mortais perto da povoação. Foram também socorridas 7 vítimas.

Entretanto e face à intensidade e velocidade de propagação do incêndio não foi possível

qualquer meio ter acesso ao local.

Comentário

Esta referência no relatório da GNR suscita a seguinte questão: o oficial de Ligação da

GNR esteve em permanência no PCO para acompanhar a situação e tomar a diligências

adequadas, no contexto das suas competências?

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|46 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

89. Localidade de Valongo, 2 idosos cercados pelo fogo vão tentar sair pelos próprios

meios (21h50).

90. Sarzedas do Vasco, casal dentro de veículo na estrada principal não consegue passar.

Incêndio dentro da localidade de Graça (21h55).

91. Civil solicita ajuda, com habitação cercada pelo fogo na localidade de Souto Fundeiro.

Informado PCO (21h56).

92. Localidade Castanheira (Figueiró dos Vinhos), cercada pelo incêndio, com 5 pessoas a

necessitar de serem resgatadas. Civil solicita ajuda com habitação cercada pelo fogo na

localidade de Souto Fundeiro. Informado PCO (21h56).

93. Civil solicita ajuda, habitação a arder na localidade de Escalos do Meio para Regadas.

Na estrada da localidade de Sarzedas do Vasco senhora dentro de viatura está cercada

pelo fogo. Casal de idosos em fuga, senhora caiu e sofreu fratura da "bacia", na

localidade de Carregal Cimeiro. Informado Posto Comando (22h00).

94. 2.º Comandante Operacional Nacional, Albino Tavares, assume o COS (22h00).

95. Segundo a GNR, a partir desta hora o Oficial de Ligação, Major Santos, manteve-se

no PCO, em Pedrogão Grande para acompanhar a situação e desenvolver as diligências

do âmbito da sua missão (22h00).

Comentário

Após um período de colapso do Comando e Controlo da operação, bem documentada

nos relatos acima reproduzidos dos pontos 71 a 93 do presente relatório, o 2.º CONAC

assume a função de COS.

Face às circunstâncias esta transferência de comando para um nível superior afigura-

se-nos tardia.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |47

96. CDOS Setúbal informa: automóvel civil ocupado por 6 pessoas cercadas na aldeia de

Sarzedas do Vasco. Informação passada ao CDOS Leiria (22h05).

97. Acionadas 13 Ambulâncias e VCOT do distrito de Lisboa para CB Pedrogão Grande

(22h05).

98. Cmdt. CBV Peniche informa: na localidade de Outeiro encontra-se desaparecido

cidadão de 40 anos. Na estrada de Outeiro para Lameira de Cima efetua buscas de

criança de 4 anos que se encontra desaparecida (22h12).

99. Informação: dois cidadãos estrangeiros estão em casa cercados pelo fogo, na localidade

de Lapa (22h17).

100. Informação: dois cidadãos estrangeiros estão em casa cercados pelo fogo, na

localidade de Lapa (22h17).

101. Sala de situação da GNR solicita a recolha 1 cadáver entre Alagoa e Vila Facaia.

Solicita recolha de 4 cadáveres (3 masculinos/1 Feminino) na estrada entre Castanheira

e Pedrogão em Sarzedas de São Pedro junto ao cemitério (22h26).

102. Segundo relatório da GNR, a esta hora tinha 17 patrulhas e 38 militares

empenhados na operação (22h30).

103. Localidade de Campelos, idosa com casa destruída não consegue sair da aldeia e

necessita de ajuda (22h31).

Comentário

Partindo do pressuposto de que o PCO estava integrado desde o princípio por todos os

oficiais de ligação necessários, fica a dúvida quanto à razão porque só no momento em

que o 2.º CONAC assume o COS é que o oficial de ligação da GNR passa a manter-se

no PCO “com o fim de acompanhar a informação que chegava”.

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|48 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

104. Acionado Grupo de Reforço para Ataque Ampliado (GRUATA) e a ERAS da FEB

(22h32).

105. CADIS Pedro Nunes, destacado para o TO em missão de reconhecimento, informa

que em Barraca da Boavista, já se encontra Ambulância no local e vão transportar 2

vítimas com queimaduras para CHUC (22h36).

106. Sala de situação informa incêndio na localidade de Coelhal (22h44).

107. CONAC Rui Esteves contacta Oficial de Ligação da GNR solicitando reforço dos

meios nas ocorrências de Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de

Pera., principalmente nas vias de comunicação (22h45).

108. Cidadão interroga a possibilidade de socorrer esposa que se refugiou dentro de

viatura. Casa já ardeu. Não se conseguiu contato com o PCO (22h45).

109. Cidadã contacta CDOS de Leiria que informa que sua mãe se encontra algures na

localidade de Sarzedas do Vasco no interior de uma viatura com 8 pessoas. CDOS de

Leiria não conseguiu estabelecer contacto com o PCO para fornecer este alerta.

Contactada Sala de Situação da GNR esta informa que esta senhora já tinha contactado

mas, não tem elementos disponíveis para enviar para o local (22h45).

110. Cmdt. CBV Castanheira de Pera solicita patrulha da GNR para a EN 236-1, no

Ramal de Vilas de Pedro, perto do seu VFCI04. Viatura ligeira ardida com pelo menos

Comentário

Nos termos definidos pelo SGO ao ser implementada a fase III deste sistema “É ativada

pelo menos 1 Equipa de Reconhecimento e Avaliação da Situação (ERAS), na dependência da

Célula de Planeamento (CEPLAN), preferencialmente dotada de um especialista na natureza da

ocorrência”. Passadas 7 horas após o alerta do incêndio é que é acionada a primeira ERA

da FEB. Esta circunstância teve certamente influência na qualidade do fluxo de

informações canalizadas a partir do TO para sustentar as melhores decisões no domínio

do “Comando e Controlo” da operação.

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |49

2 queimados, já cadáveres no interior. Sala Situação GNR diz não ter meios para poder

enviar para o local (22h55).

111. PCO informa que o PMA (Posto Médico Avançado) está montado no Centro de

Saúde de Pedrogão Grande. CDOS solicitou envio de meios (GNR) à EN 261-1

(23h05).

112. Aldeia de Carregal do Cimeiro cercada. Necessária ajuda para evitar que as

habitações sejam afetadas (23h11).

113. CDOS Leiria contacta CNOS a informar que não consegue estabelecer contacto com

PCO, bem como não consegue estabelecer contacto com CBV Pedrogão Grande e

Castanheira de Pera (23h15).

114. Popular informa CNOS que a aldeia de Dardios está cercada. CDOS de Leiria

informado (23h17).

115. Informação de que na localidade de Graça há casas a arder. Não há bombeiros no

local (23h23).

116. Incêndio em Troviscal, Venda da Gaita e Carregal Cimeiro, população pede ajuda

(23h26).

117. CODU Porto informa: chamadas de pedido de socorro de Vale do Moinho-

Castanheira de Pera. Há habitações a serem consumidas pelas chamas (23h44).

118. Civil informa que os seus pais se encontram na localidade de Carregal Cimeiro e

estão cercados pelo fogo (23h46).

119. CADIS Pedro Nunes solicita 2 Ambulâncias para localidade de Vilas de Pedro, 2

vítimas de sexo feminino (50 e 60 anos), inconscientes e com 50% do corpo queimado e

1 vítima mortal carbonizada (23h50).

120. Total de meios acionados: 243 veículos; 718 operacionais (24h00).

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|50 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

18 de junho de 2017

121. Posto Médico Avançado (PMA) do INEM deslocado para a localidade de Avelar

(00h04).

122. Na localidade de Troviscal idosa sozinha. Incêndio junto às casas (00h04).

123. Cmdt. do CBV Peniche informa que o incêndio se divide em duas frentes: uma no

Capelo da Ribeira e outra na encosta sul em Três Pontes, prevendo que ambas se

juntem a curto prazo. Informa que se vai deslocar para o PCO para atualizar carta

militar (00h14).

124. Popular informa CNOS que a aldeia de Troviscal está cercada. Não há bombeiros no

local. Informado CDOS (00h23).

125. Equipa ERAS 2 vai fazer reconhecimento no setor Delta (00h27).

126. Popular informa que na localidade de Figueira/Graça já arderam várias casas

devolutas e há casas habitadas a arder (00h35).

127. Todos os 4 setores com frentes ativas a não cederem aos meios de combate. Frentes

atingem 3 concelhos: Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera

(00h41).

128. Meios no TO: 120 veículos e 359 operacionais (00h45).

129. 2.º Cmdt. do CBV Figueiró dos Vinhos informa que, devido à dificuldade de passar

para o Centro de Saúde da localidade de Pedrogão Grande, o Posto Médico Avançado

do INEM passa a estar instalado junto ao Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos

(00h46).

130. Cmdt. de CBV Peniche informa que a aldeia de Torgal está cercada pelo fogo. Há 4

habitantes que não foram retirados (00h49).

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RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |51

131. Informação dos Oficiais de Ligação da GNR e INEM: na estrada entre Castanheira

de Pera e Figueiró dos Vinhos (EN 236.1) foram localizadas 33 vítimas mortais

(01h00).

132. CDOS Leiria solicita ao Oficial de Operações de Emergência (OFOPE) do CNOS

que se insista com a PT para resolução das quebras constantes da rede SIRESP e

INTERNET no PCO e na localidade de Pedrogão Grande. Solicitado também apoio

para levantamento das vítimas mortais que se encontram na EN 236-1 o que

impossibilita a circulação de meios de combate (01h02).

133. Cidadã informa que os pais idosos se encontram cercados pelo fogo na localidade de

Balsa – Castanheira de Pera. Informado PCO (01h13).

134. População de Escalos Fundeiros cercada pelas chamas (01h15).

135. CADIS Pedro Nunes na localidade de Sarzedas de São Pedro informa: 3 veículos

ligeiros carbonizados com 5 vítimas mortais (carbonizadas) (01h37).

136. CDOS Leiria contata OFOPE do CNOS com o intuito de reforçar junto da PT a

regularização urgente do serviço da rede SIRESP e INTERNET (01h37).

137. Oficial de Operações do CNOS solicita ao CDOS de Leiria veículo caracterizado para

se dirigir ao IC8, junto à saída de Fragas de São Simão. No local, equipa da PJ espera

para ser guiada até à zona onde se encontram os corpos das vítimas, para avaliarem o

local e articular com o Ministério Público o transporte de corpos para o Instituto de

Medicina Legal de Coimbra, no veículo frigorífico da ANPC (01h45).

138. Contacto de cidadã na aldeia de Alge – Figueiró dos Vinhos informando necessitar

de evacuação de 4/5 adultos e 2 crianças. Estão cercados pelo fogo. Despachado para o

PCO (01h47).

139. Na localidade de Pobrais – Vila Facaia várias habitações foram consumidas pelas

chamas, provavelmente com vítimas mortais no seu interior (01h33).

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|52 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

140. Popular informa CNOS que o incêndio está na aldeia de Campelo junto às casas e

não há bombeiros no local (02h02).

141. Iniciado transporte de cadáveres que se encontram em Vilas de Pedro para a Casa

Mortuária de Pedrogão Grande (02h07).

142. Popular informa CNOS que o incêndio está na aldeia de Sobreiro e não há bombeiros

no local (02h08).

143. Populares de localidades de Aguda, Carapinhal e Ribeira de São Pedro pedem apoio

(02h09).

144. Popular solicita meios para Pisão da Teresa – Castanheira de Pera e reforço para

Bairradas (02h15).

145. Chegada do GIPS da GNR: 44 operacionais e 14 veículos. Missão: trabalhar no setor

Charlie (02h19).

146. Popular na localidade de Graça pede meios com urgência. Casas a serem consumidas

pelas chamas (02h19).

147. Enviado pedido de apoio de meios aéreos à Direção Geral de Proteção Civil de

Espanha (02h21).

148. COS (2.º CONAC) solicita ao CNOS uma VPCC (Viatura de Planeamento, Comando

e Comunicações) – (02h31).

Comentário

A “Fita do Tempo” sugere a dúvida sobre se o GIPS da GNR só entrou no TO neste

momento, uma vez que não há registos de outros efetivos desta força em operação,

desde o início da operação. Se assim aconteceu é incompreensível esta mobilização

tardia.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |53

149. Localidade de Abrunheira – Figueiró dos Vinhos com casas em risco (02h33).

150. Povoação de Cercal cercada pelas chamas com pessoas que não conseguem sair pelos

próprios meios. Avisado PCO (02h43).

151. Início da reunião da Comissão Distrital de Proteção Civil (03h00).

Comentário

De acordo com a ata desta reunião realizada no Posto de Comando em Pedrogão

Grande e presidida pelo Presidente da CM de Leiria – na qualidade de Presidente da

Comissão Distrital de Proteção Civil (CDPC) – e que contou com a presença do

Secretário de Estado da Administração Interna (SEAI), a convocatória foi justificada

“pela dimensão catastrófica do incêndio, pelo número de vítimas e pela necessidade de responder

em diferentes planos à situação de emergência com a participação das entidades que integram a

CDPC.”

Na reunião o SEAI informou que “decidiu declarar a situação de contingência nos termos dos

artigos 16 e 17 da Lei de Bases de Proteção Civil atendendo à dimensão e consequências

catastróficas do incêndio, à necessidade de mobilização de diversas entidades e instituições nas

operações de proteção e socorro, assim como o elevado número de mortos e feridos graves, bem

como aos elevados danos materiais”. A referida declaração de contingência abrangeu os

concelhos de Pedrogão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, resultando

na ativação imediata dos respetivos Planos Municipais de Emergência. Nestas

circunstancias a Estrutura de Coordenação e Controlo é assumida pelo Centro de

Coordenação Operacional Distrital de Leiria e o comando operacional pelo Comandante

das Operações de Socorro (COS).

De acordo com o teor do Despacho do SEAI que formalizou a declaração de

contingência, à hora da realização da reunião o incêndio tinha causado “24 vítimas

mortais e 11 feridos, 5 dos quais graves, bem como inúmeros e elevados prejuízos materiais”.

Comentário

Este pedido indicia uma avaliação de deficientes condições para o funcionamento do

PCO, para uma operação desta envergadura. Fica a dúvida: por que razão só neste

momento foi acionada a VPCC.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|54 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

152. Localidade de Graça – Pedrogão Grande, população em risco. Necessários meios

para o local. Informado PCO (03h01).

153. CDOS informa Oficial de Ligação da GNR a solicitar a presença de militar da GNR

na Sala de Operações de forma a articular esforços com esta força de segurança. O

Oficial de Ligação informa que vai ver o que se pode fazer (03h02).

154. Localidades de Várzea, Figueiró e Cercal a solicitar meios com urgência. No Cercal

existe feridos. Avisado PCO (03h05).

155. A professora Cristina Mendonça do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forenses

(IMLCF) contacta OFOPE-CNOS solicitando interdição do Largo da Sé Nova para

poder estacionar o carro frigorífico da ANPC (03h25).

No decorrer da reunião da CDPC o 2.º CONAC “apresentou a situação operacional no que

diz respeito aos meios envolvidos no combate ao incêndio bem como à evolução do mesmo nas

últimas horas.” Por sua vez o Presidente da CM de Pedrogão Grande “referiu a existência

de muitas casas ardidas, podendo verificar-se o crescimento do número de vítimas mortais, sendo

essencial percorrer as áreas ardidas para averiguar sobre a existência de corpos.”

O Presidente do INEM informou “que dispunham de várias equipas no terreno a apoiar a

evacuação de povoações, a prestar cuidados médicos, a evacuar vítimas para os hospitais e a

prestar apoio psicológico.” Acrescentou ainda que estava a ser instalado um hospital do

INEM na localidade de Avelar.

Na sequência da situação relatada pelos vários membros da CDPC “o presidente propôs a

ativação do Plano Distrital de Emergência (PDE), proposta que foi acolhida por unanimidade”.

No dia 22 de junho pelas 23h59 reuniu a CDPC. Nesta ocasião o presidente desta

comissão informou que o Governo suspendeu a declaração da situação de contingência,

fundamento para a CDPC ter desativado o PDE.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |55

156. PCO informado de que GRIF de Setúbal tem 1 Veículo Florestal de Combate a

Incêndio (VFCI) INOP, tem falta de logística e combustível. Não conseguem contacto

com o PCO (03h33).

Comentário

Sabe-se que o carro frigorífico da ANPC avariou, embora nada conste na “Fita do

Tempo”, não podendo cumprir a missão para que foi adquirido. Foi substituído por

uma viatura frigorífica de transporte de peixe. Na foto abaixo reproduzida podem ver-

se os sacos com cadáveres, amontoados na referida viatura.

Recorre-se ao Plano Nacional de Emergência para no domínio dos “Serviços

Mortuários” recordar uma das orientações definidas neste documento, quanto a esta

matéria:

“Assegurar o correto tratamento dos cadáveres, conforme procedimentos

operacionais previstos;“

Fonte: anónima

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|56 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

157. Na localidade de Cercal estão 12 pessoas cercadas pelo incêndio, fechadas numa

habitação. Necessitam de ajuda urgente. Avisado PCO (03h42).

158. Enviada notificação a todos os operadores do CDOS: “Solicita-se aos Operadores com

disponibilidade para reforço à Sala de Operações, o contacto com o Chefe ou Subchefe de Sala.

Estamos a viver uma tragédia de proporções épicas, pelo que é necessária a ajuda de todos”

(03h45).

159. Aldeia de Campelos cercada. Necessários meios para o local. Avisado PCO (03h47).

160. Localidade de Sarzeda do Vasco, 7 vítimas queimadas. Mobilizadas 6 Ambulâncias e

uma SIV para o local (03h56).

161. Solicitado veículo de reforço de comunicações da rede SIRESP para o TO (04h00).

162. Solicitado apoio da UE com módulo de Combate a Incêndios Florestais com meios

aéreos (04h00).

163. GNR informa: Feteira/Castanheira de Pera e Pobrais/Pedrogão Grande, cercadas

com habitações a arder (04h16).

164. Casa a arder na localidade de Feteira; 2 casas a arder na localidade de Lomba da Casa

(04h41).

165. Solicitado ao CDOS de Leiria o Meteograma de Pedrogão Grande (05h46).

Comentário

A falta de alimentação e de combustível foi sentida por outros veículos envolvidos na

operação, segundo testemunhos que recolhemos de responsáveis operacionais, em

especial no que concerne aos Grupos de Reforço deslocados de outros distritos para

este TO. Esta circunstância resultou em alguns casos da falta de informação dos locais

aos quais deveriam aceder para o referido efeito.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |57

166. Chegada ao PCO do veículo de comunicações SIRESP (06h26).

167. Ponto de situação de vítimas: 37 mortos e 58 feridos assistidos (06h39).

168. Meios no TO: 225 veículos, 689 operacionais (07h10).

169. Ponto de Situação: 57 mortos (georreferenciados pela FEB e validados pelo INEM

(10h35).

170. Ponto de Situação: 58 mortos. Incêndio continua ativo: Sector Alfa, sem

comunicações; Sector Bravo, sem comunicações; Sector Charlie, a arder com muita

intensidade; Sector Delta, com frente ativa, acessos muito difíceis e algumas povoações

em risco; Sector Echo (Sanitário) (12h00).

171. Ponto de Situação: 62 mortos; 54 feridos; 215 veículos; 691 operacionais; 3 aeronaves

(A02, A09, H03) – (13h07).

172. Localidade de Torgal a ser evacuada pela Cruz Vermelha Portuguesa (13h10).

173. CODIS, Sérgio Gomes, chega ao PCO (13h15).

Comentário

Analisando a “Fita de Tempo” oficial não se identifica anteriormente qualquer pedido

deste tipo em nenhuma fase do incêndio. Registe-se que o Meteograma é uma previsão

temporal da situação meteorológica, que contém informações sobre a humidade

relativa, precipitação, vento e temperatura à superfície, variáveis indispensáveis para o

processo de decisão no combate a um incendio florestal.

Comentário

No registo 22 desta cronologia é referida a intervenção do CODIS na operação, ao

estabelecer contacto com o Presidente da CM de Pedrogão Grande. Entretanto o

referido CODIS estava afastado do serviço por motivo de doença. Neste registo

constata-se a chegada do mesmo ao TO.

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|58 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

174. Informação: localidade de Capelo estão casas em risco (13h16).

175. CDOS de Leiria informa CNOS: necessidade de evacuação da localidade de Torgal

(13h55).

176. Retificação do número de mortos: 61 mortos (14h29).

Fotografia 12: Incêndio de Pedrogão Fotografia: Paulo Cunha/Lusa

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |59

5.

CONCLUSÕES E PROPOSTAS

5.1. Conclusões

5.1.1 É necessário assumir uma transformação conceptual e orgânica do atual sistema

de proteção civil, redefinindo a missão de combate aos incêndios florestais e a respetiva

atribuição de responsabilidade a agentes e instituições, fazendo uma clara distinção entre

defesa do espaço florestal e defesa de pessoas, infraestruturas económicas e habitações.

Não é mais possível disfarçar que, face à severidade do comportamento dos incêndios, a

prioridade dada (e bem) à defesa de pessoas e bens não é compatível com a defesa da

floresta contra incêndios, assumida maioritariamente pelos mesmos agentes.

5.1.2 É necessário dar mais consistência à primeira intervenção (entendida como ação

decisiva no ataque inicial ao incêndio florestal), reforçando os recursos humanos e de

equipamentos mobilizáveis para assegurar um controlo precoce do desenvolvimento dos

incêndios. Para que esta fase seja bem-sucedida é indispensável aumentar o número de

elementos que integram as equipas de ataque inicial ao incêndio, baseadas nos corpos de

bombeiros, bem como o número de equipas de sapadores florestais. Importa também

repensar o uso e posicionamento de meios aéreos, de modo a agilizar a entrada destes no

TO em ataque inicial.

5.1.3 Relativamente ao ataque ampliado, a debilidade desta fase está radicada na

variável de “Comando e Controlo”, associada ao défice de capacitação dos elementos que

protagonizam esta importante vertente do SGO, em particular quanto ao nível de

organização estratégico, tão determinante na gestão de operações de maior complexidade.

5.1.4 O Sistema de Proteção Civil, tal como se encontra atualmente configurado, revela

inúmeras fragilidades, no ponto de vista do planeamento de emergência e da organização

da resposta a situações de crise, como foi a vivida no incêndio em apreciação. Em vários

momentos documentados na cronologia da operação, elaborada neste documento, é fácil

identificar a existência de situações de total descontrolo, motivadas pela insuficiência ou

mesmo a inexistência do planeamento, enquanto base de sustentação de uma operação

desta envergadura.

5.1.5 As competências atribuídas aos municípios e aos respetivos presidentes de

Câmara, no domínio da Proteção Civil, não são uniformemente assumidas nas 308

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|60 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

Câmaras Municipais existentes no país. Os municípios afetados por esta catástrofe

confirmam esta afirmação. O incumprimento pelas disposições e orientações constantes

nos Planos Municipais de Emergência aprovados, bem como a desvalorização dos Planos

Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, são apenas exemplos das

responsabilidades não assumidas pelos municípios afetados por esta catástrofe, com

particular gravidade, face às consequências verificadas, para a situação de Pedrogão

Grande.

5.1.6 O Grande Incendio Florestal (GIF) em análise revelou, desde as primeiras horas,

características de severidade anormais, relativamente ao padrão de GIF que o dispositivo

de combate enfrenta habitualmente. Esta circunstância não foi atempadamente

percecionada, verificando-se a injeção possível de meios no TO, sem que esta obedecesse a

um planeamento estratégico alicerçado numa avaliação do risco.

5.1.7 O Posto de Comando Operacional (PCO) enquanto órgão diretor das operações

levou várias horas a estabilizar uma localização, impossibilitando deste modo que

cumprisse as suas missões essenciais: recolha e tratamento operacional de informações;

preparação das ações a desenvolver; formulação e transmissão de ordens e consequente

controlo da sua execução; manter a capacidade operacional dos meios empregues, entre

outras funções definidas no Sistema de Gestão de Operações (SGO).

5.1.8 Ainda no domínio do funcionamento do PCO verifica-se que em momento algum

da operação, este esteve corretamente constituído pelas células de planeamento, combate e

logística, nem pelos respetivos núcleos que, num evento desta magnitude, se justificava

estarem constituídos, na sua máxima extensão. Verificou-se também que não foram

nomeados os adjuntos para a segurança, para as relações públicas e para a ligação com

outras entidades.

5.1.9 Em muitos momentos da operação foram fundidos, como se de um só se tratasse,

os níveis estratégico, tático e de manobra. Deste modo ficaram comprometidos os

princípios da unidade de comando, continuidade de comando, clareza da cadeia de

comando, cooperação e compreensão mútua.

5.1.10 O colapso das comunicações em vários momentos vitais da operação constitui

um dos réus das consequências catastróficas que se verificaram neste GIF.

A impossibilidade de manter em permanência um fluxo de comunicações do PCO para o

TO e deste para o primeiro foi o principal responsável pela incapacidade de gerir em

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |61

tempo útil os inúmeros pedidos de socorro formulados, através de diversas vias, por

cidadãos ameaçados pelas chamas.

5.1.11 Para além da falta de robustez da Rede SIRESP, para ser utilizada em TO de

natureza catastrófica e com a intervenção de elevado número de meios no terreno,

verificou-se uma sistemática anarquia funcional, da parte de múltiplos utilizadores da rede,

circunstância que agravou a situação.

5.1.12 A setorização geográfica e funcional do TO, conforme definido no SGO, revelou

múltiplas fragilidades para este tipo de GIF, em especial pela extensão da área de cada

setor definido e a dificuldade de articulação entre eles.

5.1.13 Os meios de reforço acionados para o TO, ao chegarem ao mesmo, não foram

desde logo integrados. Houve ainda meios que foram integrados em setores, mas não lhes

foi atribuída missão específica, tendo atuado, em muitos casos e de acordo com relatos que

recolhemos, por sua conta e risco.

5.1.14 A ausência de uma cultura de planeamento de emergência aos vários níveis do

sistema (tanto político como operacional), servida por instrumentos diretores (Planos) que

sejam mais do que meras coleções de papel para cumprimento de formalidades jurídicas,

tornou inviável uma adequada gestão desta catástrofe, ao longo das primeiras 24 horas

após a sua ocorrência. O processo de planeamento está a montante dos planos que são,

afinal, o “produto final”. O referido processo é fundamental para um bom plano, pelo que é

ao longo dele que se estabelecem as ligações e o reconhecimento de confiança entre os

vários intervenientes que contribuem para a cooperação na tomada de decisão.

5.1.15 A falta de conhecimentos mínimos das populações para lidar com situações de

emergência, para salvaguarda da sua autoproteção, resultou na morte de um número

significativo de pessoas, circunstância que exige dos poderes públicos – a quem compete

disponibilizar informação e formação aos cidadãos para tal efeito – uma responsável

ponderação e a implementação de um Programa de Ação Imediata nesta matéria.

5.1.16 A falta de uma estratégia sistemática e tecnicamente sustentada de informação

pública para o sistema de proteção civil resultou na adoção de vários erros de comunicação

ao longo de toda esta operação, sobretudo pela sobreposição permanente entre o que são as

responsabilidades dos atores políticos e os deveres de função dos responsáveis

operacionais, com manifesto prejuízo para o direito das populações a uma informação

rigorosa e pedagogicamente eficaz a que tem direito.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |62

5.2. Propostas

5.2.1. Estruturais

a) Reivindicar aos órgãos de soberania (Assembleia da República e Governo) que

adotem uma postura política mais audaciosa no domínio doutrinário e legislativo,

bem como na alocação de recursos financeiros para robustecimento do sistema de

proteção civil e superação das suas debilidades estruturais e instrumentais.

b) Alterar a Lei de Bases da Proteção Civil eliminando o nível distrital do sistema e

substituindo-o por uma estrutura tendo por referência as NUT II (Norte, Centro,

Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo e Algarve) e repondo a criação de uma

autoridade que represente o governo a nível regional, no contexto da estrutura

anteriormente proposta.

c) Reestruturar a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), nomeadamente no

que concerne à sua estrutura operacional, evoluindo para uma organização regional,

tendo por referência as 23 NUT III do território do Continente, constituindo-se

como regiões operacionais, dotadas de estrutura de direção específica e a alocação

dos meios operacionais existentes nos respetivos concelhos.

No quadro da mesma reestruturação:

c1. Substituir os atuais CDOS por Centros Regionais de Operações de Socorro

(CROS), tendo por referencia as NUT II, dotados de quadro de pessoal e salas de

operações e comunicações próprios, dirigidos por um diretor regional.

c2. Dotar o quadro de pessoal de todas as unidades orgânicas da ANPC, incluindo as

operacionais, com os elementos necessários ao cumprimento das suas atribuições

e missões, através de recrutamento por concurso, com contrato de serviço público

e conteúdo funcional definido, com exceção do Presidente e Diretores Nacionais,

recrutados por nomeação. Numa segunda fase criar uma carreira técnica com

parâmetros de candidatura bem dirigidos, capaz de prover todos os lugares na

estrutura operacional da ANPC.

c3. Reforçar as competências da Direção Nacional de Bombeiros (DNB),

nomeadamente transferindo para esta a fiscalização dos corpos de bombeiros, bem

como a competência para avocar o comando operacional, em determinados

cenários, nas ocorrências protagonizadas pelos corpos de bombeiros, isto é, nas

operações de socorro.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |63

c4. Criar no âmbito e dependência do diretor nacional de bombeiros o cargo de

inspetor regional de bombeiros e adjuntos, destacados para os CROS.

c5. Eliminar a Direção Nacional de Meios Aéreos, transferindo as suas competências

para uma unidade especializada a criar, com a missão de gestão dos meios aéreos

civis do Estado (ao serviço da ANPC, INEM, GNR, PSP, ANSR, e outros

serviços).

d) Promover a profissionalização faseada da estrutura de resposta do socorro confiado a

Bombeiros, permitindo potenciar a disponibilidade permanente para a ação, o treino

sistemático e a aquisição de formações genéricas e especializadas, nos vários

domínios da missão atribuída aos corpos de bombeiros de qualquer natureza,

conferindo ao voluntariado um caracter complementar, ajustado à disponibilidade

possível, mas igualmente tecnicamente qualificado.

e) Criar uma unidade especializada de supressão, destinada a intervir em GIF,

conforme preconizado pelo PNDFCI, em complemento da atividade dos corpos de

bombeiros.

f) Criar uma rede de equipas de sapadores florestais e garantir a sustentabilidade das

equipas existentes, tanto no ponto de vista dos recursos humanos como do seu

equipamento.

g) Criar um Centro de Investigação Aplicada do Risco (CIAR) – com autonomia

jurídica própria ou integrada na ENB como unidade de investigação desta – tendo

como missão a produção de doutrina, estudos, investigação e relatórios de análise de

ocorrências para promoção de aprendizagens e boas práticas, identificação de

vulnerabilidades sistémicas e conceção de soluções para as mesmas, recorrendo à

utilização do conhecimento disponível.

h) Criar um Núcleo de Informação Pública (NIP) dotado de estratégia de comunicação

institucional e de técnicos qualificados para o desempeno das funções inerentes ao

disposto na Lei de Bases da Proteção Civil quanto a esta matéria.

5.2.2. Instrumentais

a) Constituir Grupos de Analise e Uso do Fogo (GAUF), ao nível das regiões

propostas em 5.2.1 b), para serem projetadas para as ações de avaliação e combate

indireto aos incêndios.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|64 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

b) Aumentar o número de Equipas de Combate a Incêndios Florestais (ECIN)

disponíveis nos CB das zonas maior nível de risco e a correspondente capacitação

dos seus elementos e das respetivas chefias.

c) Formar Equipas de Comando Especializado (ECE) recrutadas no âmbito dos CB da

região operacional, com escala de permanência, de modo a serem projetadas para

assumirem de imediato o “Comando e Controlo” de um incêndio, em articulação

com o Cmdt. do CB da área.

d) Promover um “Curso Especializado de Comando” e um “Curso Especializado de

Gestão de Emergências”, em cooperação com o Instituto Universitário Militar

(IUM), o primeiro destinado à capacitação de elementos para Comando de Grandes

Operações e o segundo dirigido aos Coordenadores dos Serviços Municipais de

Proteção Civil (SMPC) das câmaras do país.

e) Formar técnicos especializados em meteorologia aplicada a incêndios e na sua

interpretação quantitativa, capazes de prever o comportamento potencial do fogo

para apoio à decisão nos PCO.

f) Criar carreiras de técnico/técnico superior de proteção civil para assegurar o

desempenho de grande parte das tarefas dos SMPC.

g) Promover ações descentralizadas, a realizar no primeiro semestre de 2018, de

informação e formação dirigidas aos Presidentes de Câmara Municipal eleitos para

o mandato de 2018-2021 sobre as competências e responsabilidades que lhes cabem

no domínio da Proteção Civil, em articulação com a Associação Nacional dos

Municípios Portugueses.

h) Conceber uma Norma de Execução Permanente (NEP) dos Planos Municipais de

Emergência de Proteção Civil (PMEPC), que oriente os autarcas na tomada de

decisão quanto ao acionamento dos referidos instrumentos de planeamento e

gestão de situações de emergência, contornando-se assim a dificuldade que muitos

autarcas revelam para interpretar a complexidade do modelo vigente dos mesmos.

i) Promover um Plano de Autoproteção e Resiliência (PAR) das populações, através

da realização de um programa de formação dos cidadãos para enfrentar os riscos

que ameaçam a respetiva comunidade, incluindo o risco de incêndio. Neste plano

inserir: informação de boas práticas a seguir em situações de risco; delineamento

das faixas de proteção das edificações tendo em conta as características locais;

sensibilização para o correto uso do fogo.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |65

O plano em causa deverá ser parte de um plano de mitigação de riscos, o qual, por

sua vez, deve derivar de um processo rigoroso e profissional de avaliação de riscos

de cada comunidade.

j) Inventariar, operacionalizar e reforçar os Kits de primeira intervenção das juntas

de freguesia, promovendo simultaneamente a constituição de Grupos de

Intervenção Local (GIL), dotando-os de obrigatória e adequada formação para

garantia da primeira intervenção ao nível das freguesias.

k) Promover a criação de uma Plataforma Nacional de Voluntariado de Proteção

Civil, organizada numa base nacional e municipal.

5.2.3. Operacionais

a) Rever o SGO e a DON n.º 2 – DECIF adotando novas abordagens organizativas e

operacionais, consentâneas com a complexidade e exigência da gestão das

operações, como as desencadeadas nos GIF.

b) Alterar a setorização dos TO dado que, neste como noutros incêndios, constata-se

que a grande extensão dos setores (em alguns casos atingindo largos quilómetros

lineares) e o elevado número de meios alocados aos mesmos criou várias situações

de vazio de Comando e Controlo, razão porque o incêndio progrediu, em algumas

ilhas dos seis setores definidos, sem qualquer combate. Neste domínio estudar a

adoção do modelo francês em que os setores são divididos em subsetores.

c) Elaborar uma nova formatação dos PCO, definindo as necessidades de suporte

tecnológico e a adequada formação dos integrantes do mesmo para a plena

rentabilização daqueles. Definir também regras-padrão para a localização dos

referidos PCO e para o funcionamento dos mesmos, recorrendo a tecnologias de

apoio para este efeito e, segundo informação recolhida, já na posse do MAI, mas

ainda não disponibilizadas para utilização operacional.

d) Organizar Grupos de Reforço para Combate a Incêndios Florestais (GRIF) com

equipas fixas, para mobilização em áreas de risco previamente reconhecidas,

fazendo-se este reconhecimento no período que antecede a fase Bravo do DECIF,

através da realização de exercícios nas respetivas áreas.

e) Constituir equipas de “Comando de Operações Aéreas” com elementos escalados

em exclusivo para esta missão, sobrepondo-se esta função a quaisquer outras

acumuladas pelos respetivos elementos, impedindo-se deste modo a sua

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

|66 RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE

substituição no decorrer de uma operação, nomeadamente para assumirem as

funções de comando nos respetivos CB.

f) Constituir Equipas de Reconhecimento e Avaliação de Situação (ERAS), ao nível

das regiões operacionais, de modo a serem projetadas para os TO, para apoiar a

missão dos respetivos PCO.

g) Criar unidades móveis de apoio logístico para balancear em TO de maior amplitude

e assegurar a pronta disponibilização das necessárias instalações previstas nos

planos municipais de emergência, para pernoita e descanso dos Bombeiros.

h) Elaborar um “Programa Anual de Treino em Ambiente Florestal (PATAF),

organizado no período de janeiro a abril de cada ano e realizado numa ou mais

áreas de risco de incêndio florestal, com a duração mínima de três dias, envolvendo

CB dos concelhos inseridos nas respetivas áreas, bem como GRIF oriundos de

distritos de menor risco e habitualmente mobilizados para apoio das demais áreas

com maior risco de incêndio florestal. Nestes PATAF envolver também os

respetivos municípios, para testar a aplicação dos respetivos Planos e robustecer a

articulação entre todas as entidades envolvidas.

CENTRO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO EM PROTECÇÃO CIVIL

RELATÓRIO DE ANÁLISE À CATÁSTROFE DE PEDROGÃO GRANDE |67

6.

BIBLIOGRAFIA

6.1. Documentação Técnica

ANPC (2010). Diretiva Operacional Nacional n.º 1 – DIOPS.

ANPC (2015). Plano Nacional de Emergência.

ANPC (2017). Diretiva Operacional Nacional n.º 2 – DECIF Dispositivo Especial de Combate a

Incêndios Florestais 2017.

Autoridade Nacional de Proteção Civil (2008). Cadernos Técnicos PROCIV 3: Manual de apoio à

elaboração e operacionalização de Planos de Emergência de Proteção Civil.

Camara Municipal de Pedrogão Grande (2010). Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil

de Pedrogão Grande.

Comissão Nacional de Proteção Civil (2014). Avaliação Nacional de Risco.

Ministério da Agricultura (2006). Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

Oliveira. E. (2017). A propagação inicial do Grande Incêndio Florestal de Pedrogão Grande.

6.2. Legislação

Diário da Republica. 1.ª série nº 149 de 3 de agosto de 2015. Lei n.º 80/2015. Assembleia da

República.

Diário da República. 1.ª série nº 158 de 17 de agosto de 2017. Lei n.º 76/2017. Assembleia da

República.

Diário da República. 1.ª série nº 217 de 12 de novembro de 2007. Lei n.º 65/2007. Assembleia da

República.

Diário da República. 1.ª série nº 105 de 31 de maio de 2013. Decreto-Lei n.º 72/2013. Ministério

da Administração Interna.

Diário da República. I.ª série nº 105 de 31 de maio de 2013. Decreto-Lei n.º 73/2013. Ministério da

Administração Interna.

Diário da República. 2.ª série nº 69 de 9 de abril de 2015. Despacho n.º 3551/2015 de 13 de janeiro

de 2015 – Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Diário da República. 2.ª série nº 88 de 7 de maio de 2015. Resolução n. 30/2015 de 5 de dezembro

de 2014. Comissão Nacional de Proteção Civil.

Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil