34

Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Os textos que compõem este trabalho foram escritos pelos alunos do programa Oficina do Ensino (ano de 2013), desenvolvido pelo Instituto JCA e são resultado da observação dos jovens sobre a experiência de deslocar-se no seu território.

Citation preview

Page 1: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 2: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 3: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 4: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Agradecimento

Os textos que compõe este trabalho foram escritos pelos alunos

do programa Oficina do Ensino (ano de 2013), desenvolvido pelo

Instituto JCA e são resultado da observação dos jovens sobre a

experiência de deslocar-se no seu território.

A proposta pedagógica consiste no desenvolvimento do olhar

crítico para as situações e personagens curiosos que permeiam os

nossos percursos diários. A escolha pela crônica como narrativa se

deu pela variedade de temáticas que o gênero engloba,

permitindo aos autores uma ampla possibilidade criativa.

Os trabalhos, em sua maioria, dialogam com o cotidiano, o

rotineiro, e traduzem uma realidade onde chegadas e partidas

ficam em segundo plano. O que importa são os meios, o trajeto, o

que está pelo caminho.

Page 5: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

16 Horas! pág. 07

Hugo Paixão

O Povo Sofre pág. 09

Ingrid Cristyne

Imobilidade Urbana pág. 13

Jeílson Borges

Cotidiano pág. 15

Jhonata de Oliveira

Mobilidade na cidade pág. 17

Jhonata Dutra

O reflexo de um estranho pág. 19

Kalvin Patrick

Todos os dias os mesmos problemas pág. 23

Kelly Cristine

Apenas uma senhora qualquer pág. 25

Kelvin Philipp

Como são incríveis as pessoas pág.29

Kethyllen Caroline

Tá na hora pág.31

Larissa Gomes

Page 6: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 7: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

16 horas!

Hugo Paixão

Neste exato momento, me encontro perdido entre

pensamentos, ideias ou algo que possa me inspirar a

escrever uma crônica . Missão difícil? Sim. Porém, ainda são

08:56 da manhã. Isso quer dizer que minha jornada ainda

está no começo. Digo jornada porque para as pessoas que

não me conhecem e não sabem dos meus compromissos,

essa ainda é a primeira hora da " jornada " de 16 horas de

estudos que enfrento dia a dia.

São apenas 16 horas e logo lembro que meu dia possui

apenas 24 horas. Restando, assim, 8 curtas horas para mim

, só para mim. Que tesouro!

São apenas 16 horas de cansaço, de inúmeros textos,

expressões matemáticas e peças/instrumentos mecânicos.

São 16 horas de combustível para buscar um futuro melhor,

para ir atrás de sonhos. Malditos sonhos! Porque estão tão

distantes e ao mesmo tempo num futuro tão próximo?

De repente, escrever uma crônica não seja tão difícil assim,

comparado à saudade da família e dos amigos. Lembra das

8 horas que restavam para mim? Então, três delas eu uso

para aguardar dentro de terríveis conduções públicas,

Page 8: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

inseridas em infernais engarrafamentos pela cidade. Quando

restam apenas 5 horas, estou em casa, já é hora de dormir,

porque ao fim destas 5 horas a "jornada" começará mais

uma vez... É! Redigir uma crônica não é uma missão tão

árdua assim.

Page 9: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

O Povo Sofre

Ingrid Cristyne

O Brasil é conhecido como o país do futebol, do

carnaval, do samba e também por todas as belezas

naturais que possui. Entretanto, a vida da população não é

tão bela assim. Todos os dias, brasileiros e brasileiras

enfrentam situações para garantir a própria sobrevivência.

O governo se preocupa com a vida das empresas, mas o

povo é esquecido.

Povo? Sim, o povo sofre, com as diversas coisas que

acontecem em nosso país. Por exemplo: A falta de

transporte público é constante em nossas cidades.

Quantas pessoas sofrem querendo ir trabalhar, ou exercer

outras coisas em seus dias?

Quantas pessoas se lamentam cansativamente por ficarem

horas na fila dos terminais rodoviários?

Será que os nossos governantes estão vendo isso?

Será que eles estão fazendo alguma coisa pela nossa

sociedade, onde os impostos são muito caros?

Page 10: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Essas tantas perguntas para nenhuma resposta. Essa é a

realidade dos brasileiros de hoje: os ônibus são precários,

onde as pessoas correm para serem os primeiros na fila

para poderem seguir os seus destinos em lugares

confortáveis.

Outro dia, quanto voltava para casa, conversei com uma

senhora de aproximadamente 30 anos. Ela relatou sobre os

dias cansativos de esperar seu ônibus:

-Tenho que me levantar às 5h para ir trabalhar às 8:00h.

Acordo muito cedo fico horas no ponto de ônibus, pois em

minha cidade a situação é muito precária onde não passa

ônibus toda hora. Muitas vezes quando chego em casa,

lágrimas caem em meu olhar, pois os meus dias são cada

vez mais cansativos. Trabalho muito, tenho filhos para criar,

porém essa é a realidade de muitos brasileiros. Relatou essa

mulher.

A população precisa de transporte público, muitos

brasileiros, não tem carro ou outro tipo de transporte

privado para poderem se locomover. Para exercer o seu

direito de ir e vir.

O poder público tem olhos mais não vê o que está

acontecendo com o povo, tem nariz mais não sente o faro,

Page 11: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

tem ouvidos mais não ouve a população, e tem boca que

serve só para fazer promessas que nunca são cumpridas

para com o nosso país.

Brasil acorda! O povo precisa de soluções.

O povo precisa de conforto. A passagem dos ônibus ou de

outros tipos de transportes públicos estão cada vez mais

encarecidas, onde cada ano aumenta uma porcentagem.

Todos os anos motoristas de ônibus precisam fazer greve

para serem ouvidos, pedindo aumento, e acabam

prejudicando a população como um todo.

‘’Brasil um país de todos’’! Será que ele é de todos mesmo?

Page 12: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 13: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Imobilidade Urbana

Jeílson Borges

Fazia tempo que eu não circulava tanto de carro pela

cidade, mas agora, por muitas razões profissionais, preciso

encarar o trânsito de Maricá diariamente. E esta atividade

diária é um exercício para a paciência de qualquer um. Já

que se tornou algo inevitável, planejei formas de aproveitar

melhor o tempo em que fico parado nos congestionamentos.

Já estou organizando uma lista de tarefas que poderão me

auxiliar nesse momento tão desconfortante.

Ouvirei músicas de minha preferência. Antes, como o trajeto

entre a minha casa e o trabalho durava um pouco mais de

dez minutos, nem compensava colocar umas músicas no

som do carro. Hoje, tenho tempo de sobra para ouvir a

trilha sonora daquela minissérie que durou quase o ano

inteiro ou o repertório inteiro de Frédéric Chopin.

Decidi também que vou retomar minhas aulas de

enfermagem, só que desta vez, dentro do carro, otimizando

assim meu tempo no vai e vem de uma curva e outra. Além

de adquirir maior conhecimento ainda evitarei as filas dos

hospitais públicos caso me aconteça algum acidente. Após

terminar o curso de enfermagem, pensarei em fisioterapia,

psicologia, odontologia... Vou virar um médico genial e nem

Page 14: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

precisarei me naturalizar cubano.

Pensarei em outras coisas que posso fazer enquanto espero

nos congestionamentos do Rio de Janeiro, até porque com a

chegada das férias e do verão daqui a alguns meses, o

movimento só tende a piorar. Só de pensar nisso, já fico

agoniado. Alguém aí conhece alguns exercícios de

relaxamento que eu possa praticar dentro do carro? Uma

aeróbica, ioga, pilates... Quem sabe uma “ginástica

automotiva”?

Page 15: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Cotidiano

Jhonata de Oliveira

Acordei pensando no que iria fazer hoje. Então, lembrei que

tinha que ir pra escola. Levantei da cama e fui. Ao chegar

ao ponto do ônibus, deparei-me com uma cena: uma

senhora de cadeira de rodas tentando pegar a condução e

algumas pessoas tendo que ajudá-la a subir no ônibus a

fim de que ela pudesse chegar ao seu destino, pois não

havia outro meio para ela entrar na condução. Então parei e

pensei: “Nossa, um dia eu vou chegar nessa idade...! Será

que esse descaso com o transporte público irá permanecer

até o futuro?

Enfim o meu ônibus chega. Entro e sento num banco sujo e

rasgado ao lado de um senhor e pergunto:

- Senhor, algum dia o senhor já passou por alguma situação

difícil com esses transportes públicos?

E ele me respondeu:

- Quem nunca passou!

Então, continuamos a conversar. Pedi a ele que me contasse

uma situação difícil. E assim ele o fez. E começou a falar:

Page 16: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

- Meu jovem, certa vez estava no Rio de Janeiro indo tomar

um trem. Estava muito ansioso pois essa seria minha

primeira vez e fiquei imaginando como seria. Cheguei à

estação e já deparei-me com muitas pessoas estressadas,

um alvoroço só! Que tumulto! Perguntei a um rapaz o

motivo daquele alvoroço, e ele respondeu-me que os

passageiros estavam lá há mais de uma hora esperando o

trem e, além do trem não chegar, na havia ninguém para

dar alguma satisfação ao povo. Agradeci pela explicação e

voltei a esperar pelo trem. Algum tempo depois, o trem

chegou. Foi um empurra-empurra danado! Pessoas caindo

por cima das outras, crianças chorando... Quando consegui

entrar, o vagão já estava lotado! Foi uma experiência

terrível!! A partir daí, nunca mais andei de trem...

Estava eu a ouvir atentamente a história daquele senhor

quando o meu ponto chega. Despeço-me do senhor e sigo

meu caminho.

E assim eu segui meu rumo, pensando na história daquele

senhor e me indaguei: Será que eu posso fazer algo pra

mudar essa realidade? Ou devo ficar de braços cruzados,

esperando cair do céu uma solução para os problemas da

humanidade?

Page 17: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Mobilidade na cidade

Jonathan Dutra

Nas cidades as pessoas se locomovem de maneiras

diferentes para lugares diferentes. Elas utilizam vários

meios de transporte, como bicicleta, carro, moto, ônibus ou

trem. Nem sempre o transporte utilizado está em boas

condições e a pessoa acaba por ter que se contentar com o

que tem. Às vezes não há nem lugar para sentar e ficam em

pé, em posições incômodas, pois a condução está lotada!

As autoridades responsáveis pelo transporte público não

tomam qualquer providência para melhorar as condições

dos transportes. Além disso, há motoristas que colocam em

risco a vida dos passageiros, dirigindo sem cautela alguma.

Infelizmente não temos alternativa: precisamos utilizar os

meios de transportes que temos.

Page 18: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 19: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

O reflexo de um estranho

Kalvin Patrick

Estou dentro de um ônibus junto com muitos outros que

estão indo para algum lugar que não me importo em saber,

quando num olhar vago pela janela, vejo um grupo de

jovens exalando o que a juventude tem de melhor: a

esperança.

Uns diferentes dos outros, rindo e gritando, com seus

sonhos juvenis. Logo constato que estão indo para a minha

escola. Bem... Costumava ser minha escola. Eles fazem

sinal e pegam o mesmo ônibus velho que eu pegava. Como

sinto falta daquele ônibus.

Lembro-me do dia que eu embarquei em um deles pela

última vez, me despedindo de todos os meus amigos, sem a

certeza se iria encontrá-los novamente. Nessa mesma

época fui mandado para outra escola, onde todos eram

iguais, ninguém era especial e se fosse, dava-se um jeito de

fazê-lo deixar de ser, uma vez que os estereótipos eram

visivelmente necessários para a manutenção de uma “boa”

imagem.

Recordei-me de como me orgulhava de ser diferente. De

quando tinha aspirações e sonhos e tentei me apegar a eles

Page 20: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

com todas as minhas forças, como os fantasmas fazem na

relutância de aceitar sua condição. Mas era tarde. Deixei

isso acontecer, deixei o tempo passar. Sentia-me como o

porquinho da fábula que construiu a sua casa de palha e se

esqueceu dos problemas, sofrendo as consequências mais

tarde. Pouco a pouco eu crescia, como todos diziam que

seria. Como queriam que fosse. Sim, pois para as pessoas

comuns, comum é certo e diferente é errado.

Aprendi a ter mais disciplina e menos sonhos. A executar e

não pensar. A viver para trabalhar como "todo mundo faz".

O tempo passava e a lembrança dos meus amigos

desbotava junto com minhas ambições, como se fosse uma

foto velha.

Eu tentava retomar minhas recordações, voltar para junto

dos meus, indo visitá-los de vez em quando em minhas

memórias mais íntimas. Vendo-os com suas personalidades

não corrompidas e sentindo certa inveja de como

permaneciam enxergando com seus próprios olhos. Como

gostaria de não enxergar com os olhos dos outros! Como

gostaria de não ter-me tornado apenas mais um na

multidão!

Nunca recuperei totalmente o que me fora tirado. Nunca

mais fui o mesmo. Não estou nem totalmente lá nem cá,

Page 21: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

mas na penumbra entre os dois lados e vejo melhor os

meus erros. O maior dos meus erros foi abrir mão do que

achava correto. Foi abrir mão de quem realmente fui um

dia. Hoje sou apenas mais um engravatado dentro do

ônibus, um dentre milhares nessa cidade e milhões no país,

que por um motivo qualquer não realizou seus sonhos,

apenas indo para algum lugar.

Page 22: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 23: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Todos os dias os mesmos problemas

Kelly Cristine

Quem sai de São Gonçalo em sentido a Niterói encontra

ônibus cheios, sem conforto, com pessoas estressadas e

cotidianamente desrespeitadas.

Já não existe mais paciência. Todos os dias de manhã é a

mesma coisa. Correria total. É necessário sair de casa em

um bom horário, ou seja, cada vez mais cedo... Este é o

pensamento para evitar os atrasos nos compromissos, pois

enfrentamos os mesmos problemas todos os dias:

congestionamentos quilométricos e as vias em má

conservação contribuindo para o caos.

São feitas frequentemente algumas campanhas de incentivo

ao uso do transporte coletivo, entretanto, quem usará esses

modais se tiver uma segunda opção? Assim, o número de

carros e motos aumentam de forma alarmante e o trânsito

brasileiro não comporta mais tal crescimento.

Com isso, surge tal cenário que questionamos todos os

dias. Medidas mais objetivas devem entrar em vigor, pois

com as facilidades do mercado para a compra de veículos

não sabemos aonde iremos parar.

Page 24: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 25: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Apenas uma senhora qualquer

Kelvin Philipp

Indo à escola, como sempre faço, fico a esperar pelo ônibus

durante minutos em meio a dezenas de pessoas. De certa

forma, estou acostumado a essa demora. Desde o momento

em que passei a estudar longe é assim, condução

demorada. Depois de um bom tempo esperando e ouvindo

pessoas resmungarem sobre suas vidas e fofocarem sobre

os outros, eis que ele me aparece. Os passageiros sobem e

se amontoam no veículo. Todos têm muita pressa e não

podem esperar o próximo. No meio do caminho para a

escola, vejo de canto de olho uma sandália sendo

arremessada e arrastada pelo asfalto. Olho um pouco mais

e vejo uma senhora no meio da pista, estirada, jorrando

sangue. Fora atropelada por uma van.

Tudo indicava que havia atravessado fora da faixa de

pedestres e com o sinal aberto. Mesmo com o ocorrido, os

passageiros reclamavam continuamente sobre o atraso de

seus compromissos por causa da imprudência de uma

senhora qualquer.

Imediatamente desci do ônibus para prestar socorro, pois

ninguém tomava atitude alguma. Cheguei perto para ver o

estado dela, mas já estava morta. Enquanto me

Page 26: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

aproximava, passageiros da van disseram "garoto não

chegue perto dela! Olha o estado em que ela se encontra!”.

Um ar de nojo pairou em meus pensamentos. Fiquei

imaginando que talvez ela tivesse atravessado de forma

repentina, pois desejava ficar um tempo a mais com alguém

querido, para realizar algum afazer ou simplesmente para

chegar mais rápido do outro lado. Todos têm pressa, todos

querem fazer tudo o mais rápido possível ou às pressas,

como se fossem formigas operárias. Ninguém nota nada ao

redor. Não enxergam o próximo, tampouco necessidades ou

dependências de outro. O que importa são os minutos,

segundos, milésimos de um dia, mês, ano.

Não tenho conhecimento de como tais valores tomaram a

sociedade, mas sei que isso é algo incômodo. Voltando a

cena grotesca, notei que as pessoas ao redor passavam,

olhavam o corpo da senhora acidentada, mas não a

enxergavam e simplesmente continuavam o percurso. Liguei

para os bombeiros. O motorista da van também. Esperei a

chegada deles e fiz como os outros... continuei o meu

percurso como os demais.

No dia seguinte, tudo estava como antes. Pessoas

reclamando de suas vidas, outras fofocando, o comércio

funcionava. Enfim, tudo voltara ao “normal”. Tudo se

repetia. E eu, alí, em meio a esse caos disfarçado de rotina,

Page 27: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

via-me preso nesse ciclo de servos, cegos de seu tempo e

presos a uma única direção: a individualidade.

Page 28: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 29: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Como são incríveis as pessoas

Kethyllen Caroline

É interessante como as pessoas reagem quando estão

dentro de um ônibus! Nós entramos, um olha para o outro,

percebendo todos os detalhes. Quando cai um dinheiro no

chão ou dá algum problema no cartão da passagem, é certo

chamar atenção. Todos olham diretamente pra você!

Já percebi também como os jovens não fazem questão de

ceder o assento para um idoso ou até mesmo uma

gestante. Eles olham a situação e fingem que nada está

acontecendo. Assim, eu penso: “Nunca quero passar por

esta situação. Pobres velhinhos que enfrentam esse descaso

até nos transportes públicos”. Em contraponto, há pessoas

de coração bom, mais educadas, que não perdem tempo e

cedem logo o lugar para quem necessita sentar. Mas

infelizmente isso não acontece sempre...

Como fica nossa situação ao pegar uma condução lotada,

cheia de sujeiras para todo o canto? Sem contar com os

motoristas, que às vezes, pensam que estão em uma pista

de corrida. Não temos outra escolha a não ser nos

sujeitarmos ao descaso do transporte público.

Page 30: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)
Page 31: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Tá na hora

Larissa Gomes

Estava eu em mais um dia daqueles, em que tudo começa a

dar errado a partir do momento em que você se da mais 10

minutinhos de sono. Levanto correndo, pois já se passou

meia hora e, na correria da manhã, cada segundo é

sagrado.

Depois de levantar as pressas, tomar banho, arrumar-me e

comer ao mesmo tempo, olho no relógio vejo que já são

6:40 da manhã. Tenho que correr porque o ônibus passa às

7:00h. Saio desesperada pois a hora não me espera.

Andando quase que correndo, observo que não sou a única

a andar contra o relógio. Olho ao meu redor e vejo o quanto

as pessoas são reféns de seu tempo. Reflito sobre como

somos dominados por esses segundos! Como a nossa vida é

planejada por meio de um objeto que mede o tempo de

nossos afazeres! Esse "medidor de vidas'', vai além de um

acessório. É a extensão de nosso próprio corpo. Por meio

dele, organizamos toda uma rotina. Necessitamos de

precisão e dessa forma, perdemos o controle de nosso

próprio destino para uma máquina de cumprir prazos. Tudo

é imediato e, nessa correria o outro já não existe, o coletivo

deixa de ter sentido. O tempo e o espaço são os únicos a

Page 32: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

serem compartilhados. Não temos tempo para afeições.

Não, quando faltam 5 minutos para chegar ao trabalho,

colégio ou qualquer outro lugar com hora marcada.

Devo parar esse pensamento por aqui. Já gastei tempo

demais com ele. Afinal lá vem o ônibus como sempre no

horário.

Page 33: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)

Diagramação e Formatação

facebook.com/agenciapapagoiaba

Page 34: Pelo Caminho - Crônicas Sobre Mobilidade Urbana (Volume 3)