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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal 1 Direito Processual Penal Professora Me. Letícia Neves PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME “ESTUDA ISSO, VIVENTE!” (aulas ao vivo)

PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Direito Processual Penal

Professora Me. Letícia Neves

PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME

“ESTUDA ISSO, VIVENTE!” (aulas ao vivo)

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Letícia Neves @prof.leticianeves

Alminhas queridas,

Sejam bem-vindas ao estudo do Processo Penal! Preparei este material com todo o carinho para auxiliar na tua preparação. Lembre-se que o momento exige muita dedicação e persistência para que o objetivo seja alcançado. Você não está sozinho nesta missão, tem toda uma equipe junto contigo que também está focada na tua aprovação. Para aprimorar o estudo sugiro que após assistir as aulas você revise o conteúdo novamente, no mínimo uma vez, e realize as questões indicadas. Isso auxiliará na memorização e compreensão da matéria. Assim, ficarei confiante com o teu estudo. A ideia é ter presente a seguinte expressão: treino forte, jogo fácil. Desta forma, iniciaremos a nossa caminhada, com PASSOS PEQUENOS E FIRMES, rumo à segunda fase, mas para isso, neste momento de preparação, contamos com o teu comprometimento e confiança, desde o início, agora, na primeira fase do Exame da OAB com todo o comprometimento. Bora? Estamos juntos e no caminho certo!

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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SUMÁRIO

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL ............................................................................................. 6 1.1 Considerações iniciais .................................................................................................... 6 1.2 Conceito de infrações de menor potencial ofensivo ...................................................... 7 1.3 Critérios e objetivos dos Juizados Especiais Criminais .................................................. 9 1.4 Competência no Juizado Especial Criminal ................................................................... 11 1.5 Situações de remessa para o Juízo Comum .................................................................. 12 1.6 Citação no âmbito do Juizado Especial Criminal .......................................................... 13 1.7 Procedimento Sumaríssimo ........................................................................................... 17 1.8 Recursos de Apelação e Embargos Declaratórios ........................................................ 19 1.9 Suspensão Condicional do Processo ........................................................................... 21

DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI ...................................................................... 27 2.1 Do procedimento do tribunal do júri ............................................................................ 27 2.2 Recebimento da denúncia ........................................................................................... 28 2.3 Indispensabilidade da Resposta à Acusação ............................................................... 28 2.4 Contraditório: Específico do Procedimento do Júri ..................................................... 28 2.5 Providências judiciais .................................................................................................. 28 2.6 Instrução concentrada ................................................................................................. 29 2.7 Mutatio libelli ................................................................................................................ 31 2.8 Fase de apreciação da admissibilidade da acusação .................................................. 31 2.9 Pronúncia ..................................................................................................................... 31 2.10 Impronúncia ............................................................................................................... 32 2.11 Absolvição sumária ..................................................................................................... 32 2.12 Desclassificação ......................................................................................................... 32 2.13 Aditamento da denúncia ou queixa para inclusão de corréus ................................... 33 2.14 Emendatio libelli ......................................................................................................... 33 2.15 Intimação da decisão de pronúncia ........................................................................... 33 2.16 Preclusão da decisão de pronúncia ............................................................................ 33 2.17 Preparação e organização do júri ............................................................................... 34 2.18 Desaforamento ........................................................................................................... 34 2.19 Excesso de Serviço ..................................................................................................... 36 2.20 Ausência do defensor ................................................................................................ 36 2.21 Ausência do acusado .................................................................................................. 36 2.22 Imprescindibilidade do depoimento da testemunha ................................................. 37

Direito Processual Penal Prof.ª Letícia Neves

2ª FASE OAB | XXXIII EXAME

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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2.23 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da sessão .......... 37 2.24 Infrutífera condução coercitiva ................................................................................. 37 2.25 Realização do julgamento .......................................................................................... 37 2.26 Preparo para a composição do conselho de sentença .............................................. 38 2.27 Abertura dos trabalhos ............................................................................................... 38 2.28 Ausência de quórum .................................................................................................. 38 2.29 Reunião prévia do juiz com os jurados ...................................................................... 39 2.30 Formação do conselho de sentença ......................................................................... 40 2.31 Recusas motivadas e imotivadas ................................................................................ 41 2.32 Separação do julgamento .......................................................................................... 41 2.33 Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade .................................... 42 2.34 Estouro da urna .......................................................................................................... 43 2.35 Compromisso e entrega de peças aos jurados .......................................................... 43 2.36 Instrução em plenário ................................................................................................ 43 2.37 Interrogatório do acusado ......................................................................................... 44 2.38. Dos debates .............................................................................................................. 44 2.39 Limite de tempo para as partes ................................................................................. 45 2.40 Referências proibidas ................................................................................................ 45 2.41 Do questionário e sua votação ................................................................................... 46 2.42 Sentença .................................................................................................................... 47 2.43 Execução antecipada da pena no júri ........................................................................ 48 2.44 Resposta à acusação no procedimento do tribunal do júri ....................................... 50

MEMORIAIS DO JÚRI .......................................................................................................... 54 3. Considerações iniciais ................................................................................................... 54

APELAÇÃO DAS DECISÕES DO JÚRI .................................................................................. 65 4. Considerações ............................................................................................................... 65

LEI DE EXECUÇÃO PENAL .................................................................................................. 75 5.1 Comentários à lei de execução penal .......................................................................... 75 5.2 Detração penal ............................................................................................................. 78 5.3 Regimes Prisionais e Modificação do Regime durante a execução da pena ...............80 5.4 Unificação de Penas .................................................................................................... 81 5.5 Regime disciplinar diferenciado .................................................................................. 83 5.6 Progressão de regime .................................................................................................. 85 5.7 Exame criminológico ................................................................................................... 93 5.8 Regressão de Regime .................................................................................................. 94 5.9 Prisão domiciliar .......................................................................................................... 96 5.10 Remição de pena: hipóteses legais ............................................................................ 97 5.11 Permissão de saída e saída temporária ....................................................................... 98 5.12 Monitoração eletrôncia............................................................................................. 100

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LIVRAMENTO CONDICIONAL ............................................................................................ 101 6.1 Requisitos .................................................................................................................... 101 6.2 Hipóteses de revogação ............................................................................................ 104 6.3 Suspensão do Livramento Condicional ..................................................................... 105 6.4 Incidentes da Execução Penal ................................................................................... 105 6.5 Anistia, Graça, Indulto ............................................................................................... 106 6.6 Aspectos gerais relacionados à execução da medida de segurança ........................ 107

AGRAVO EM EXECUÇÃO ................................................................................................... 115 7.1 Cabimento e conteúdo ................................................................................................ 115 7.2 Rito e competência para ojulgamento ........................................................................ 116 7.3 Prazo ......................................................................................................................... 116 7.4 Efeitos ......................................................................................................................... 116 7.5 Estruturação da peça .................................................................................................. 117

CONTRARRAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO ............................................................... 127 8.1 Introdução ................................................................................................................... 127 8.2 Identificação ............................................................................................................... 127 8.3 Prazo ......................................................................................................................... 127 8.4 Conteúdo .................................................................................................................... 128 8.5 Pedido ......................................................................................................................... 128

PADRÃO DE RESPOSTAS ................................................................................................... 131

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do seu curso preparatório

para a 2ª Fase do XXXIII Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas

aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.

Atualizado em outubro de 2021.

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Juizado Especial Criminal

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

1.1 Considerações iniciais

Em conformidade com o art. 24, inc. X e XI, da CF, compete à União, aos Estados

e ao DF legislar concorrentemente sobre: a criação, funcionamento e processo do

juizado de pequenas causas (inciso X); procedimentos em matéria processual (inciso

XI).

O art. 98 da CF/88 dispõem que os Juizados serão providos por juízes togados

ou togados e leigos competentes para conciliação, o julgamento e execução de

infrações de menor potencial ofensivo. Dessa forma, no dia 26/09/95, foi sancionada

pelo Presidente da República a n° Lei 9.099, restringindo sua aplicação ao âmbito da

Justiça Estadual. Por subsequente, em 12/07/01, dispondo acerca da instituição dos

Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, foi sancionada a Lei n° 10.259/01.

Juizado Especial Criminal

(Justiça Estadual)

Juizado Especial Criminal

(Justiça Federal)

Lei nº 9.099/95 Lei nº. 10.259/01

Inobstante a existência de duas legislações, no âmbito do Juizado Especial

Criminal observa-se o regramento previsto na Lei n. 9.099/95, visto que na Lei n.

10.259/01 não há previsão do procedimento a ser observado (artigo 1º da Lei n.

10.259/01).

Importante registrar que os Juizados Especiais Criminais introduzem a

denominada jurisdição consensual no âmbito criminal, possibilitando alternativas para

solucionar as questões penais utilizando-se da composição civil dos danos, transação

penal ou suspensão condicional do processo.

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1.2 Conceito de infrações de menor potencial ofensivo

A redação original do artigo 61 da Lei n° 9.099/951 conceituava infrações de

menor potencial ofensivo abrangendo as contravenções penais (Lei n° 3.688/41) e

aqueles crimes cuja pena máxima prevista não ultrapassa 01 (um) ano, excetuadosos

casos em que a lei preveja procedimentos especiais.

Porém, com o advento do artigo 2°, parágrafo único, da Lei n° 10.259/01, houve

uma ampliação do conceitode infração de menor ofensivo, considerando como sendo

aqueles que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos ou multa.

A jurisprudência e a doutrina posicionaram-se no sentido de que a Lei 10.259/01

teria ampliado o conceito de infração de menor potencial ofensivo, aplicando o

mesmo conceito na Justiça Estadual.

1 A Lei 9.099/95 trouxe outro conceito importante no artigo 89 – crimes de médio potencial ofensivo – aqueles cuja pena mínima não ultrapassa 1 ano, destinatários da Suspensão Condicional do Processo. Importante diferenciar tais crimes daqueles denominados de crimes de bagatela, estes, por sua vez, não possuem previsão legal, o princípio da insignificância resulta na exclusão da tipicidade (material). Por exemplo: um crime de furto simples poderá ser um crime de bagatela, todavia não se trata de um delito de menor potencial ofensivo, e sim de médio.

Art. 98 da Constituição Federal. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados

criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes

para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e

infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e

sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de

recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça

Federal. (Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Artigo 98 da Constituição Federal

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Atualmente, com o advento da Lei 11.313/06, legislação que alterou as duas leis

supramencionadas, consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os

efeitos de ambas as leis (lei 9.099/95 e 10.259/01), as contravenções penais e os

crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não

com multa”, unificando o conceito e encerrando-se a discussão.

Por fim, outra questão importante é a alteração proferida no artigo 60 da referida

lei que diz respeito às regras de conexão ou continência asseguradas no Código de

Processo Penal2, eis que consta expressamente no parágrafo único que na reunião de

2 A quem interessar vale a leitura sobre a pretensão da Procuradoria geral da República, na ADIN 5264, em que busca obter a declaração de inconstitucionalidade do dispositivo que determina a observância das regras de conexão e continência, visto que tal regra despreza a competência determinada pelo artigo 98 da CF, que determina que as infrações de menor potencial ofensivo deverão observar as regras do JECRIM (ver: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=288555).

Observação: As causas de aumento e diminuição de pena (majorantes e minorantes)

deverão ser observadas para definição de competência. Assim, deverão incidir as causas

de aumento que mais aumentem a pena e as causas que menos diminuem. Por exemplo,

no caso de tentativa, deverá incidir a diminuição da pena máxima em abstrato no mínimo

em 1/3 (artigo 14, parágrafo único, CP). Já as agravantes e atenuantes não serão

Importante registar que no âmbito dos Juizados Especiais Criminais Federais as

contravenções não serão objeto de julgamento, por força do artigo 109, IV, da

Constituição Federal que exclui da competência de julgamento dos juízes federais o

julgamento das contravenções. Logo, deverá ocorrer a remessa para Justiça Estadual,

conforme consta na súmula 38 do STJ, vejamos: “Compete à Justiça Estadual Comum,

na vigência da CF/88, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em

detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades”.

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processos, perante o juízo comum ou tribunal do júri, serão observados os institutos

da transação penal e da composição civil.

1.3 Critérios e objetivos dos Juizados Especiais Criminais

O artigo 62 da Lei n. 9.099/95 traz os critérios e objetivos que orientam os

Juizados Especiais Criminais. Vejamos os critérios:

Os atos processuais deverão ser públicos e podem ser realizados no período

noturno e em qualquer dia da semana, de acordo com a disposição das normas de

organização judiciária local.

Para serem válidos, os atos processuais deverão preencher as finalidades para

as quais foram realizados, atendidos os critérios dos princípios mencionados

anteriormente. Ou seja, nenhuma nulidade será pronunciada se não houver a

ocorrência de prejuízo para uma das partes.

C Celeridade

E Economia processual

I Informalidade

O Oralidade

S Simplicidade

Art. 61 da Lei n. 9.099/95. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,

para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima

não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Conceito de Infração de menor potencial ofensivo

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Importante registrar que mesmo que tenhamos todos esses critérios voltados a

um procedimento célere, econômico, informal, oral e simples devemos nos ater aos

preceitos constitucionais da ampla defesa e contraditório, no intuito de resguardar os

direitos e garantias daqueles que estão na condição de autor do fato ou acusado.

• A lei prevê várias alternativas para que se alcance os objetivos de reparação dos

danos, sempre que possível, e a aplicação de pena não privativa de liberdade. Convém

ressaltar que é possível que os objetivos não sejam alcançados e na pior das hipóteses

uma pessoa seja ao final condenada a uma pena privativa de liberdade, ainda que

pequena, no âmbito do juizado especial criminal. Entretanto, o ideal é que seja utilizada

alguma medida despenalizadora prevista na legislação, vejamos um breve conceito:

• Composição civil dos danos: é um acordo de natureza civil, quando realizado

gera a renúncia ao direito de queixa na ação penal privada ou a renúncia à

representação nos casos de ação penal pública condicionada, com a consequente

extinção da punibilidade (Art. 74, parágrafo único, da Lei nº 9.099/952). Essa medida

impede a instauração do processo criminal nos crimes de ação penal pública

condicionada à representação e nos casos de ação penal privada. Entretanto, eventual

composição civil de danos nos casos de ação penal pública incondicionada não gera

impedimento para o prosseguimento, sendo o caso de verificar a possibilidade de

transação ou suspensão condicional do processo.

Art. 62 da Lei n. 9.099/95. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos

critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,

objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação

de pena não privativa de liberdade.

Critérios e Objetivos

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• Transação Penal: autoriza o cumprimento imediato de uma pena restritiva de

direitos ou multa, em contrapartida evita a instauração do processo criminal (Art. 76

da Lei nº 9.099/953). Em outros termos, é uma proposta feita geralmente pelo

Ministério Público para que o autor do fato aceite uma pena diversa de prisão para

evitar o processo. Caracterizando-se nos casos de ação penal pública uma exceção ao

princípio da obrigatoriedade.

• Suspensão Condicional do Processo: possibilidade de acordo com o acusado,

depois de recebida a denúncia, o magistrado suspende o andamento da ação penal e

da prescrição. Em contrapartida, durante determinado lapso temporal (período de

prova), o acusado é submetido a certas condições. Encerrado o período de prova sem

a ocorrência de qualquer alteração, o magistrado declara extinta a punibilidade (Art.

89 da Lei nº 9.099/95). Vale ainda destacar que o instituto da suspensão condicional

do processo não se limita aos delitos de menor potencial ofensivo da Lei 9099/95, ou

melhor, vale para todo e qualquer delito que preencha os requisitos do artigo 89 da

Lei nº 9.099/95, desde que não haja vedação, como ocorre nos casos envolvendo Lei

Maria da Penha.

1.4 Competência no Juizado Especial Criminal

O Código de Processo Penal (Art. 70) adotou a teoria do resultado, pois a

competência é fixada pelo local da consumacão do delito. Já o artigo 63 da Lei dos

Juizados Especiais acolheu a teoria da atividade, ou seja, a competencia é fixada pelo

lugar em que se deu a acão ou omissão.

Art. 63 da Lei n. 9.099/95. A competência do Juizado será determinada pelo lugar

em que foi praticada a infração penal.

Competência Territorial

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Cuidado:

Na doutrina e na jurisprudência dos Tribunais, prevalece o entendimento de que

a competência dos Juizados Especiais Criminais em razão da matéria apresenta

natureza relativa, pois pode ser alterada por conexão e continência, complexidade da

causa ou impossibilidade de citação pessoal.

1.5 Situações de remessa para o Juízo Comum

Existem algumas situações em que a competência de julgamento no âmbito dos

Juizados Especiais Criminais é afastada por determinação legal. Vejamos:

• complexidade ou circunstância do caso – artigo 77, §2° e § 3°, da Lei n.

9.099/95;

• acusado não localizado para ser citado – artigo 66, parágrafo único, da Lei n.

9.099/95;

• quando ocorrer conexão ou continência com delitos da competência do Júri ou

crimes mais graves, será afastada a competência – artigo 60 da Lei n. 9.099/95;

• poderá também restar afastada a competência do JECRIM caso incida uma

causa de aumento de pena, ultrapassando o patamar da pena máxima de 2 anos. Por

exemplo, nos casos de concursos material entre dois crimes, aplica-se a regra do

acúmulo material somando no caso as penas máximas (art. 69 do CP), logo se dois

crimes com pena máxima de dois forem praticados no mesmo contexto, somando-se

teríamos uma pena máxima de 4 anos, portanto, restaria afastada a competência do

JECRIM;

A lei n. 11.340/06 no artigo 41 exclui a aplicação da Lei n. 9.099/95, logo não há

que se falar em JECRIM nos casos de violência doméstica e familiar.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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1.6 Citação no âmbito do Juizado Especial Criminal

O artigo 66 da Lei n. 9.099/95 é claro ao informar que a citação será pessoal ou

por mandado, logo se o acusado não for encontrado o processo será remetido ao juízo

comum (parágrafo único, artigo 66).

A regra é que a citação seja pessoal e no próprio Juizado Especial Criminal, pois

a pretensão legislativa é de que inexistindo acordo entre as partes ou não tendo

ocorrido a transação, seja determinada a citação do acusado no final da audiência

preliminar, conforme consta no artigo 78 da Lei n. 9.099/95.

Não cabe citação por edital no JECRim, pois conforme mencionado não sendo

encontrado o acusado haverá remessa ao juízo comum. No tocante à citação por hora

certa a matéria é controvertida, pois apesar de diversas Turmas Recursais não

admitirem esta modalidade de citação ficta, há Enunciado do FONAJE (Fórum Nacional

de Juizados Especiais) admitindo a aplicação, vejamos o Enunciado n. 110: “No Juizado

Especial Criminal é cabível a citação com hora certa”.

Fase Preliminar:

A fase preliminar ao processo está prevista nos artigos 69 a 76 da Lei n.

9.099/95. Nesta fase, fica evidenciado o caráter consensual do Juizado, visto que

inclui a possibilidade de composição civil dos danos ou a aceitação da proposta de

transação penal como medidas despenalizadoras, que evitariam a propositura da ação

penal.

Art. 538 do CPP. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial

criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro

procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.

Aplicação do procedimento sumário

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Termo Circunstanciado:

De acordo com o artigo 69 da Lei n. 9.099/95, a autoridade policial que tomar

conhecimento da ocorrência de uma infração de menor potencial ofensivo lavrará o

chamado termo circunstanciado, que conterá de forma simplificada o relato dos

acontecimentos, indicações de eventuais testemunhas e se for possível o exame de

corpo de delito (neste momento pode ser dispensado).

Trata-se de um relatório singelo, baseado na simplicidade, que contém a

identificação das partes, menção ao fato, indicação de testemunha se houver.

Não se imporá prisão em flagrante para o autor do fato que se comprometer a

comparecer aos atos perante o Juizado Especial Criminal. Entretanto, caso o agente se

recuse a assumir o compromisso de comparecer ao Juizado deverá ser lavrado o auto

de prisão em flagrante, o que não significa que permanecerá preso pois é possível a

concessão de liberdade provisória com fiança pelo próprio delegado, com base no art.

322 do CPP, visto que em se tratando de infrações de menor potencial ofensivo é

plenamente cabível arbitramento da fiança pelo delegado.

Audiência Preliminar:

De acordo com os artigos 70 e 71 a audiência preliminar ocorreria

imediatamente, porém na prática o que ocorre é a remessa do Termo Circunstanciado

(TC) ao JECRIM, para após ser marcada uma data para audiência, sendo as partes

intimadas a comparecerem. Há locais em que a própria autoridade policial determina

a data de audiência informando que as partes devem comparecer ao Fórum no dia

designado.

Dessa forma, quando é feita a remessa ao Fórum, haverá a intimação nos termos

dos artigos 67 e 68. Intimação pessoal, informando, além da data da audiência de

conciliação a necessidade de acompanhamento de advogado.

Na audiência preliminar o juiz esclarecerá sobre a possibilidade de composição

civil ou de aceitação da transação (art. 72 da Lei n. 9.099/95).

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Importante perceber que neste início da audiência o que temos é apenas o

Termo Circunstanciado, não falamos em acusação ou denúncia/queixa, por isso a

nomenclatura utilizada é de autor do fato, não de acusado.

A composição civil dos danos constitui um acordo de natureza civil, que, se

realizado pelas partes no caso de ação penal privada ou pública condicionada à

representação, resultará na extinção da punibilidade. Nos casos de ação penal pública

incondicionada, a composição dos danos não gera nenhuma consequência no tocante

à punibilidade, dando-se continuidade ao trâmite legal.

Em caso de não haver a composição civil, ou sendo o caso de ação penal

incondicionada, e em qualquer situação não caracterizar possibilidade de

arquivamento, será oferecida a proposta de transação, ainda na audiência preliminar,

que se trata de uma proposta de aplicação de pena restritiva de direito ou pena de

multa para evitar que haja processo penal.

A transação é instituto extremamente importante, pois evita o processo e não

gera reincidência ou maus antecedentes. Todavia, há a exigência de preenchimento

dos seguintes requisitos:

1ª Fase - Conciliação Civil - Art. 72 a 74 (composição civil dos danos)

•Sem atuação do MP;•Se for Ação Penal Privada: acomposição gera renúncia àqueixa ou representação;

• Não pagamento? Não épossível mais exercer a queixaou representação. Apossibilidade aqui é a execuçãodo título judicial (Art. 74).

2ª Fase - Conciliação penal (com possível Transação Penal)

• Transação Penal (Art. 76);• Mitigação ao princípio daobrigatoriedade. Princípio dadiscricionariedade regrada.

Para todos verem: esquema

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• o autor do fato não poderá ter usufruído de outra transação nos últimos cinco

anos;

• não pode ter sido condenado definitivamente a crime anterior por pena privativa

de liberdade;

• as circunstâncias, como antecedentes, conduta social, personalidade, devem

indicar a possibilidade da medida.

De acordo com o art. 76 da Lei 9.099/95 a transação poderá ser oferecida pelo

Ministério Público nos crimes de ação penal pública. Entretanto, a doutrina é pacífica

no sentido de ser cabível a transação penal também nas ações penais privadas, o que

é controvertido é o posicionamento de quem seria a função de oferecer a transação.

Discute-se, portanto, se o oferecimento da transação nas ações penais privadas

deveria ser feito pelo representante do Ministério Público ou pelo Querelante, titular

da ação penal.

Tem prevalecido nos Tribunais superiores que o querelante é o legitimado a

oferecer nos casos de ação penal privada. No STJ veja RHC 102381/BA, no STF veja a

Ação Penal 634, neste mesmo sentido é o entendimento também adotado por Renato

Brasileiro de Lima. Portanto, inobstante a existência do Enunciado 112 do FONAJE que

diz “Na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e suspensão

condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público”, tem prevalecido

a legitimidade do Querelante no âmbito da jurisprudência dos tribunais.

O cumprimento da transação penal resulta na extinção da punibilidade, já o

descumprimento resulta na retomada da situação no momento que parou, podendo,

inclusive, ser oferecida ação penal (Súmula Vinculante nº 35 do STF). Por fim,

importante destacar que da decisão que aplica a transação, caberá recurso de

apelação (art. 76, §5º, da Lei n. 9.099/95).

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

17

A transação penal nos casos de crimes ambientais, que se caracterizem como infrações de

menor potencial ofensivo, nos termos do art. 27 da Lei 9.605/1998 somente poderá ser

formulada caso tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art.

74 da Lei n. 9.099/1995, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Art. 27 da Lei 9.605/98: Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta

de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº

9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido

a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso

de comprovada impossibilidade.

Não sendo obtido qualquer acordo, prosseguirá a audiência preliminar e no final

será oferecida a denúncia ou queixa-crime, em regra oralmente, depois reduzida a

termo, no momento será realizada no próprio JECRIM, se possível. Neste momento,

inicia-se o procedimento sumaríssimo.

Atente-se para o fato de que a audiência preliminar, como o próprio nome

remete, precede à fase processual, logo somente haverá procedimento sumaríssimo

se não houver adoção de nenhuma das medidas anteriores. Leia atentamente o

próximo item.

1.7 Procedimento Sumaríssimo (Fase processual)

Como mencionado, ainda na audiência preliminar, não sendo realizado

nenhum acordo ou aceitação de pena restritiva ou pena multa (transação), será

oferecida de forma oral a acusação, que poderá ser uma denúncia ou queixa-crime a

depender da situação, conforme consta no art. 77 da Lei no 9.099/1995. Perceba que,

nesse momento, iniciamos o procedimento sumaríssimo, ou seja, a fase processual,

até então não havia menção à acusação formal, somente existia o termo

Transação nos crimes ambientais

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Da decisão de rejeição da acusação caberá recurso de apelação (art. 82 da Lei 9.099/95).

circunstanciado e proposta de alguma medida despenalizadora (composição ou

transação), para evitar justamente à via processual.

Após o oferecimento oral da acusação, será reduzida a termo, e o acusado, caso

presente na audiência, será citado pessoalmente, no Juizado Especial Criminal, e

imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução

e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o

responsável civil e seus advogados. Caso o acusado não esteja presente, será citado

na forma do art. 66 da Lei, por mandado a ser cumprido pelo Oficial de Justiça.

No dia da audiência de instrução e julgamento (art. 81), a sucessão dos atos

difere do procedimento comum ordinário, observe bem a ordem do procedimento

sumaríssimo. Vejamos:

Audiência de instrução e julgamento (art. 81)

• proposta de composição ou transação, se não tiverem sido propostas;

• palavra ao defensor para responder à acusação;

• juiz decidirá se recebe ou não a denúncia ou queixa;

• em caso de recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação

e defesa;

• após, o acusado será interrogado, se presente;

• debates orais (acusação e defesa);

• sentença.

Em resumo, identifique as diferenças entre os demais procedimentos, no caso

do sumaríssimo a resposta à acusação é oral; a citação é feita antes do recebimento

da acusação, em audiência e na forma oral; se o juiz optar por rejeitar a denúncia ou

No JECRIM a citação é pessoal no próprio Juizado, pois ela ocorre em regra na

audiência preliminar. Se o acusado não estiver presente será citado pessoalmente

por mandado, não se admitindo citação por edital, sendo inclusive uma hipótese

de remessa do procedimento para uma Vara Criminal, afastando-se assim a

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queixa, caberá o recurso de apelação, nos termos do art. 82 da Lei no 9.099/1995.

Inclusive, o prazo da apelação neste procedimento é dez dias.

1.8 Recursos de Apelação e Embargos Declaratórios

É importante mencionar que o recurso de apelação no JECRIM é dirigido à Turma

Recursal, sendo interposto no prazo de 10 dias a contar da ciência da sentença. A

petição é escrita e conterá as razões e o pedido, não se aplicando o artigo 600, § 4°

do CPP. Para contrarrazoar o prazo é o mesmo, 10 dias, artigo 82, §1° e 2°, da Lei n.

9.099/95.

• Hipóteses de interposição de Apelação no JECRIM:

Já os Embargos Declaratórios no JECRIM o prazo é 5 dias, conforme dispõe o art.

83 da Lei 9.099/95, poderão ser opostos diante da obscuridade, contradição ou

omissão contida na sentença ou acórdão. Os embargos declaratórios interrompem a

contagem do prazo para os demais recursos.

Sentença Absolutória ou Condenatória

• É o mesmo raciocínio do CPP, ou seja, de sentença absolutória ou condenatória é cabível o

recurso de Apelação (Art. 82 da Lei nº 9.099/95).

Da Rejeição da Peça Acusatória

•No CPP, o recurso cabível da decisão que rejeita a peça acusatória é o Recurso em

Sentido Estrito (Art. 581, inciso I, do CPP). No entanto, nos Juizados Especiais Criminais, o

meio recursal é a Apelação, sendo obrigatória a intimação da parte adversa para apresentar

contrarrazões no prazo de 10 dias (Art. 82, § 2º, Lei nº 9.099/95).

Da Decisão Homologatória da Transação Penal

• É o que estabelece o artigo 76, § 5º, da Lei nº 9.099/95: da sentença prevista no parágrafo

anterior, caberá a Apelação referida no artigo 82 desta Lei.

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20

1.8.1 Observações sobre Recursos no âmbito dos Juizados Especiais

Criminais

No âmbito do JECRIM não é cabível Recurso Especial, há inclusive a Súmula 203

do STJ, negando o cabimento de Recurso Especial.

Tal posicionamento se justifica, em razão do artigo 105, III, da CF somente

mencionar decisões de Tribunais, não sendo o caso das Turmas Recursais, por isso a

ausência de competência do Superior Tribunal de Justiça para julgamento nesse caso.

Destaca-se que é plenamente cabível Recurso Extraordinário das decisões das

Turmas Recusais (Súmula 640 do STF).

1.8.2 Habeas Corpus e Revisão Criminal no Juizado Especial Criminal

As turmas recursais julgarão os habeas corpus impetrados contra atos de Juízes

dos Juizados. Porém, o julgamento de habeas corpus contra ato das Turmas Recursais

Criminais deverá ser julgado pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado ou Tribunal

Regional Federal.

Em relação à Revisão Criminal é possível, quem julgará a ação será a Turma

Recursal Criminal (STJ – CC 47.718/RS).

1.8.3 Pedido de Uniformização de Jurisprudência: artigo 14 da Lei n.

10.259/01.

De acordo com o artigo 14 da Lei 10.259/01, no âmbito dos Juizados Federais

caso haja violação às questões pacíficas no STJ é cabível o pedido de uniformização

de jurisprudência (artigo 14 da Lei 10.259/01).

O intuito é uniformizar a interpretação de lei federal quando houver divergência

entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais (HC

369717/MS,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, Julgado

em 25/04/2017,DJE 03/05/2017).

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Não há previsão similar no âmbito do Juizado Criminal Estadual, em situações

dessa natureza a celeuma vem sendo amenizada através das Resoluções do STJ. A

Resolução n. 03/2016 prevê:

Art. 1º Caberá às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos Tribunais de Justiça a competência para processar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e do Distrito Federal e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em enunciados das Súmulas do STJ, bem como para garantir a observância de precedentes.

Assim sendo, o STJ determinou aos Tribunais o julgamento das Reclamações

oriunda das Turmas Recursais. Inobstante a vigência desta resolução, há quem discuta,

e com razão, a inconstitucionalidade da medida.

1.9 Suspensão Condicional do Processo – art. 89 da Lei 9.099/95

A suspensão condicional do processo, como o próprio nome refere, é um

instituto que viabiliza a suspensão do processo criminal mediante o cumprimento de

algumas condições. Importante destacar que embora esteja previsto no art. 89 da Lei

no 9.099/1995 é aplicável em todos os procedimentos processuais, desde que não

haja vedação legal.

A aplicação da suspensão condicional do processo deverá se destinar aos

crimes em que a pena mínima prevista ao delito não ultrapasse um ano, observando

os seguintes requisitos:

• o acusado não esteja sendo processado por outro crime

• não tenha sido condenado por outro crime

Pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região = julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito

Pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgada por Turma de Uniformização

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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• e a culpabilidade, os antecedentes, os motivos e as circunstâncias do crime

autorizem a concessão do instituto (demais exigências do art. 77 do CP).

Aceita as condições contidas na proposta e previstas no art. 89, §1º e 2º, da Lei

9.099/95, o juiz receberá a denúncia e suspenderá o processo pelo período de 2 a 4

anos.

Assim sendo, é possível que uma pessoa acusada pelo delito de aborto, previsto

no art. 124 do CP, ainda que estejamos diante do procedimento do júri, obtenha a

suspensão do processo, da mesma forma que uma pessoa que esteja respondendo

por estelionato, art. 171 do CP, desde que preencha os demais requisitos do art. 89 da

Lei no 9.099/1995.

Importante frisar que se tratando de violência doméstica e familiar contra a

mulher não haverá aplicação de transação ou suspensão condicional do processo,

uma vez que o art. 41 da Lei 11.340/2006 expressamente afasta a Lei nº 9.099/1995, o

que resta referendado na Súmula 536 do STJ.

Em regra, o oferecimento da proposta é feito pelo Ministério Público, no

momento do oferecimento da denúncia, conforme a Lei. Porém, poderá ser feita em

momento posterior, nos casos de desclassificação ou procedência parcial da

acusação, nos termos da Súmula 337 do STJ, e ainda nas hipóteses de emendatio e

mutatio libelli (artigo 383, §1º, e 384, §3º, do CPP).

O legislador omitiu a possibilidade da suspensão condicional do processo no

caso de ações penais privadas, todavia tem a doutrina e jurisprudência admitem a

hipótese. O que é matéria controvertida é de quem seria a titularidade para o

oferecimento da proposta, existindo duas posições:

No âmbito do STJ, o entendimento é de que a legitimidade seria titular da ação,

ou seja, do querelante. Já o Enunciado 112 do FONAJE é no sentidoda legitimidade para

o oferecimento ser do Ministério Público.

Caso não seja oferecida a proposta de sursis processual, aplica-se o teor da

Súmula 696 do STF.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Importante, atentar para as seguintes regras quando estivermos diante de

concurso de crime: a) concurso material: suspensão somente será possível se a soma

das penas mínimas não exceder a 1 ano; b) concurso formal e crime continuado a

suspensão somente será possível se o aumento mínimo de 1/6 (arts. 70 e 71 do CP),

aplicado sobre a pena mínima do crime mais grave, não superar o limite de 1 ano.

Vejamos as súmulas 243 do STJ e 723 do STF:

• Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em

relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou

continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela

incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

• Súmula 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por

crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento

mínimo de um sexto for superior a um ano.

Durante o período de prova, a suspensão condicional do processo estará sujeita

à revogação, nos seguintes casos:

• Revogação Obrigatória: art. 89, §3º, da Lei 9.099/95 - se, no curso do prazo, o

beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo

justificado, a reparação do dano.

• Revogação Facultativa: art. 89, §4º, da Lei 9.099/95 - se o acusado vier a ser

processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra

condição imposta.

A consequência da revogação será a retomada imediata do curso do processo

e da contagem do prazo prescricional. Importante destacar que durante a suspensão

do processo a contagem do prazo prescricional restará suspensa.

Por fim, expirado o período de prova, cumpridas as condições, o juiz declarará

a extinção da punibilidade, nos termos do art. 89, §5º.

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1) (QUESTÃO 03 - XX EXAME)

Andy, jovem de 25 anos, possui uma condenação definitiva pela prática de

contravenção penal. Em momento posterior, resolve praticar um crime de estelionato

e, para tanto, decide que irá até o portão da residência de Josefa e, aí, solicitará a

entrega de um computador, afirmando que tal requerimento era fruto de um pedido

do próprio filho de Josefa, pois tinha conhecimento que este trabalhava no setor de

informática de determinada sociedade. Ao chegar ao portão da casa, afirma para

Josefa que fora à sua residência buscar o computador da casa a pedido do filho dela,

com quem trabalhava. Josefa pede para o marido entregar o computador a Andy, que

ficara aguardando no portão. Quando o marido de Josefa aparece com o aparelho,

Andy se surpreende, pois ele lembrava seu falecido pai. Em razão disso, apesar de já

Para todos verem: esquema abaixo

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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ter empregado a fraude, vai embora sem levar o bem. O Ministério Público ofereceu

denúncia pela prática de tentativa de estelionato, sendo Andy condenado nos termos

da denúncia. Como advogado de Andy, com base apenas nas informações narradas,

responda aos itens a seguir.

A) Qual tese jurídica de direito material deve ser alegada, em sede de recurso de

apelação, para evitar a punição de Andy? Justifique. (Valor: 0,65)

B) Há vedação legal expressa à concessão do benefício da suspensão condicional

do processo a Andy? Justifique. (Valor: 0,60)

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Do Procedimento do Tribunal do Júri

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

2.1 Do procedimento do tribunal do júri

É rito procedimento destinado para processor e julgar crimes dolosos contra a

vida, previsto nos artigos 406 a 497, todos do Código de Processo Penal. A

competência constitucional está firmada no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição

Federal/88.

Nos termos do artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “d”, da Constituição Federal/88, o

procedimento do Tribunal do Júri é o procedimento destinado a processor e julgar

crimes dolosos contra a vida, que são, segundo o artigo 74, § 1º, e artigo 394, §3º,

ambos do Código de Processo Penal:

O rito procedimental para os processos de competência do Júri comporta duas

fases: a primeira fase inicia-se com o oferecimento da denúncia e se encerra com a

decisão de pronúncia (judicium accusationis ou sumário de culpa); já a segunda tem

a) Homicídio (art. 121, CP)

b) Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122, CP)

c) Infanticídio (art. 123, CP)

d) Aborto (art. 124 a 128, CP)

DICA: Não é de competência do

Júri o julgamento de crimes

culposos contra a vida.

DICA: Latrocínio, “roubo seguido de morte”, é

crime contra o patrimônio, portanto, não é de

competência de julgamento do Júri.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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início com o recebimento dos autos pelo juiz presidente do tribunal do júri, e termina

com o julgamento pelo Tribunal do Júri (judicium causae).

2.2 Recebimento da denúncia: art. 406, CPP

O Juiz, ao receber a denúncia, abre prazo para a defesa responder, no prazo de

10 (dez) dias. A defesa poderá arguir preliminaries e alegar tudo que interesse à sua

defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e

arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua

intimação, quando necessário; as exceções são processadas em apartado.

2.3 Indispensabilidade da Resposta à Acusação: art. 408, CPP

Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para

oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.

2.4 Contraditório: Específico do Procedimento do Júri: art. 409, CPP

Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre

preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.

2.5 Providências judiciais: art. 410, CPP

Recebida a defesa prévia e, eventualmente, a manifestação do órgão acusatório

acerca de preliminares que tenham sido levantadas ou documentos juntados, deve o

magistrado deliberar a respeito do encaminhamento a ser dado o processo.

Procedimento da primeira fase – Sumário da Culpa (judicium accusationis)

artigos 406 ao 421, todos do Código de Processo Penal

Lembre-se: A base legal da Resposta à Acusação no procedimento do Júri é o artigo 406

do Código de Processo Penal e não o artigo 396 do Código de Processo Penal.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Em seguida, determinará as diligências cabíveis (produção de prova pericial,

reconstituição do crime, entre outros). O mais relevante será designar a audiência de

instrução e julgamento, uma vez que as partes, quase sempre, arrolam testemunhas.

Observe que não há previsão expressa de absolvição sumária antes da audiência

de instrução e julgamento, visto que neste procedimento a possibilidade de absolvição

sumária está prevista como uma das decisões que encerram a primeira fase do Júri.

Logo, há discussão doutrinária a respeito do cabimento, existindo dois

posicionamentos:

a) É possível a aplicação da absolvição sumária para evitar a audiência de

instrução, aplicando subsidiariamente o artigo 397 do Código de Processo Penal3, por

força do parágrafo 4º do artigo 394 do Código de Processo Penal;

b) Não é possível, pois somente se utilizam as regras do procedimento comum

ordinário de forma subsidiária. No caso, há previsão expressa de aplicação do instituto

para evitar o Plenário. Dessa forma, já se manifestou o STJ.

2.6 Instrução concentrada: art. 411, CPP

O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realização das diligências

requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias. Os esclarecimentos dos

peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz. Todas as

3Nesse sentindo: Nestor Tavora e Rosmar Alencar sustentam: “Entendemos possível a antecipação da absolvição sumária para momento anterior à audiência de instrução, com esteio no artigo 397 do CPP, aplicado analogicamente com base no artigo 2º do mesmo Código.” in: Curso de Direito Processual Penal. Editora JusPodivm. 2017. P. 1235.

Inobstante os posicionamentos acima, é importante verificar nos enunciados as informações constantes, pois somente será o caso de pedir em eventual Resposta à Acusação que seja o acusado Absolvido Sumariamente, nos termos do artigo 397 do Código de Processo Penal, aplicando-se subsidiariamente a regra do procedimento comum ordinário (Art. 394, §4º, do CPP), se houver indicação de causa manifesta que permita um juízo de certeza, antes mesmo da audiência de instrução, do contrário, seguiremos as regras expressas para o Procedimento Especial do Júri.

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provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz indeferir as

consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante,

determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer. A audiência

terá a seguinte ordem: 1°) declarações do ofendido, se possível; 2°) declarações de

testemunhas; 3°) interrogatório do acusado; 4°) debates; 5°) decisão.

As alegações escritas foram substituídas por debates orais, concedendo-se a

palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 minutos,

prorrogáveis por mais 10; havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a

acusação e a defesa de cada um deles será individual; ao assistente do Ministério

Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 minutos, prorrogando-se por

igual período o tempo de manifestação dadefesa.

Por fim, no tocante às alegações finais na primeira fase do Júri há um

posicionamento do Superior Tribunal de Justiça que merece atenção, vejamos.

Para o respectivo Tribunal Superior, não há nulidade na primeira fase do júri,

quando o defensor deixar de apresentar alegações finais, inclusive há tese firmando o

posicionamento no seguinte sentido: A ausência do oferecimento das alegações finais

em processos de competência do Tribunal do Júri não acarreta nulidade, uma vez que

a decisão de pronúncia encerra juízo provisório acerca da culpa (Tese n. 69 – ver Info

n. 399). Entretanto, se no caso em exame, a ausência de alegações trouxer prejuízo à

defesa, deverá ser sustentada a nulidade, inobstante a existência do posicionamento

jurisprudencial.

Lembre-se: É possível converter as alegações orais por Memoriais, no prazo de 5 dias,

utilizando-se da regra contida no artigo 394, §5°, do Código de Processo Penal, ou seja

das disposições do procedimento comum ordinário (Arts. 403, §3º e 404, parágrafo

único, ambos do CPP).

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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2.7 Mutatio libelli: art. 411, §3º, CPP

Ao final da instrução, pode-se constatar que os fatos narrados na denúncia ou

queixa não coincidem com as provas colhidas.

Portanto, pode ser necessário adaptar a peça acusatória ao contexto das provas

produzidas. Evitando-se qualquer surpresa ao réu, segue-se o disposto no artigo 384

do Código de Processo Penal.

2.8 Fase de apreciação da admissibilidade da acusação

O procedimento da primeira fase, de acordo com o artigo 412 do Código de

Processo Penal, terá duração de 90 (noventa) dias.

Finda a instrução do processo relacionado ao Tribunal do Júri, cuidando de

crimesdolosos contra a vida e infrações conexas, o magistrado possui quatro opções:

a) pronunciar oréu;

b) impronunciá-lo;

c) absolvê-lo sumariamente;

d) desclassificar a infraçãopenal.

2.9 Pronúncia: art. 413, CPP

É decisão interlocutória mista não terminativa, que julga admissível a acusação,

remetendo o caso à apreciação do Tribunal do Júri.

Na pronúncia, há um mero juízo de prelibação, pelo qual o juiz admite ou rejeita

a acusação, sem penetrar no exame do mérito. No caso de o juiz se convencer da

existência do crime e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentence de

pronúncia, fundamentando os motivos de seu convencimento.

Observe que a decisão de pronúncia atualmente possui uma função bem

determina em lei, pois o artigo 476 do Código de Processo Penal diz que a acusação

está atrelada aos limites da denúncia ou de eventuais decisões de recursos que a

tenham confirmado.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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2.10 Impronúncia: art. 414, CPP

É a decisão interlocutória mista de conteúdo terminativo, visto que encerra a

primeira fase, deixando de inaugurar a segunda, sem haver juízo de mérito. Assim,

inexistindo prova da materialidade do fato ou não havendo indícios suficientes de

autoria, deve o magistrado impronunciar o réu, que significa julgar improcedente a

denúncia e não a pretensão punitiva do Estado.

2.11 Absolvição sumária: art. 415, CPP

Ocorrerá quando estiver provada a inexistência do fato, provado não ser o réu

autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal ou estiver demonstrada

causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. No caso de inimputáveis, a

absolvição sumária só é possível, agora por disposição expressa, se a inimputabilidade

for a única tese defensiva.

2.12 Desclassificação: art. 419, CPP

O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação,

embora o acusado fique sujeito a pena mais grave. Quando o juiz se convencer, em

discordância com a acusação, da existência de crime não doloso contra a vida e não

for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja, ficando à

disposição deste o acusado preso.

IMPORTANTE: Recurso de Apelação

Art. 416 do CPP: Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá

apelação.

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2.13 Aditamento da denúncia ou queixa para inclusão de corréus: art.

417, CPP

Havendo prova, colhida durante a instrução, de que outras pessoas estão

envolvidas na infração penal pela qual está o juiz pronunciando o acusado, é preciso

determinar a remessa dos autos ao Ministério Público para o necessário aditamento.

2.14 Emendatio libelli: art. 418, CPP

O Juiz não está adstrito à classificação feita pelo órgão do Ministério Público e o

réu não se defende da definição jurídica do fato, mas, sim, dos fatos imputados.

Logo, se, no momento de pronunciar, verificar o magistrado que não se trata de

infanticídio, mas de homicídio, desde que todas as circunstâncias estejam bem

descritas na denúncia, pode pronunciar, alterando a classificação, ainda que o réu

fique sujeito a pena mais grave.

2.15 Intimação da decisão de pronúncia: art. 420, CPP

O acusado será intimado pessoalmente, esteja preso ou solto.

O defensor nomeado (dativo ou defensor público) e o Ministério Público (Art.

420, inciso I, do CPP). Quanto ao defensor constituído, ao querelante (por seu

advogado) e ao assistente do Ministério Público (também é o advogado contratado

pelo ofendido), pode-se fazer a intimação pela imprensa. Por fim, se o acusado estiver

solto e não for localizado para a intimação, far-se-á por edital.

2.16 Preclusão da decisão de pronúncia: art. 421, CPP

Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz

presidente do Tribunal do Júri. Havendo circunstância superveniente que altere a

classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público, em

seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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2.17 Preparação e organização do júri

O libelo foi extinto pela nova redação dada pela Lei nº 11.689/2008.

No entanto, de acordo com este artigo, o legislador o substituiu por duas novas

peças (inominadas). Assim, ao receber os autos, após a preclusão da pronúncia, o

presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público

ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias,

apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5

(cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência.

2.18 Desaforamento: art. 427, CPP

2.18.1 Conceito

É a decisão jurisdicional que altera a competência inicialmente fixada pelos

critériosdo artigo 69 do Código de Processo Penal, com a aplicação estrita no

procedimento do Tribunal do Júri, dentro dos requisitos legais previamente

estabelecidos.

A competência, para tal, é sempre da Instância Superior (Câmara ou Turma

doTribunal de Justiça).

2.18.2 Interesse da ordem pública

A ordem pública é a segurança existente na Comarca onde o júri deverá realizar-

se. Assim, havendo razoáveis motivos e comprovados de que a ocorrência do

julgamento provocará distúrbios, gerando intranquilidade na sociedade local,

constituído está o fundamento para desaforar o caso.

Procedimento da segunda fase - Fase da Causa (Judicium causae)

Arts. 422 ao 497, do Código de Processo Penal

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2.18.3 Dúvida sobre a imparcialidade do júri

Não há possibilidade de haver um julgamento justo com um corpo de jurados

parcial. Tal situação pode dar-se quando a cidade for muito pequena e o crime tenha

sido gravíssimo, levando à comoção geral, de modo que o caso vem sendo discutido

em todos os setores da sociedade muito antes do julgamento ocorrer.

2.18.4 Segurança pessoal do réu

Em casos anormais e excepcionais, de pequenas cidades, onde o efetivo da

polícia é diminuto e não há possibilidade de reforço, por qualquer motivo, é razoável

o desaforamento.

2.18.5 Iniciativa do desaforamento

Podem pleitear o desaforamento as partes, agora enumerados pela Lei

(Ministério Público, assistente, querelante ou acusado).

O acusado pode propor por intermédio de seu defensor, mas também

diretamente, por petição sua, afinal no processo penal, existe a autodefesa. O Juiz que

preside a instrução pode representar pelo desaforamento, exceto quando houver

excesso de prazo.

2.18.6 Suspensão do julgamento pelo relator

O Código de Processo Penal permite que seja determinada a suspensão do

julgamento pelo júri até que o Tribunal possa apreciar o pedido de desaforamento.

2.18.7 Inadmissibilidade do pedido de desaforamento

Considerando-se que o pleito de desaforamento somente é admissível entre a

decisão de pronúncia, com o trânsito em julgado, e a data de realização da sessão de

julgamento em plenário, não há fundamento para ingressar com o pedido enquanto

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pender recurso contra a referida decisão de pronúncia. Afinal, pode esta ser rejeitada

pelo Tribunal e o réu, impronunciado ou absolvido.

2.19 Excesso de Serviço: art. 428, CPP

Na regra atual, somente se poderá pleitear o desaforamento pela demora no

julgamento, caso seja ultrapassado o período de seis meses, contado do trânsito em

julgado da decisão de pronúncia, mas fundado em excesso de serviço comprovado.

2.20 Ausência do defensor: art. 456, CPP

Em primeiro lugar, deve-se frisar que, havendo escusa legítima, adia-se a sessão

de julgamento, sem qualquer outra providência. É preciso que a justificativa seja

oferecida ao magistrado até a abertura da sessão em plenário.

Se não houver motivo razoável, o juiz comunica à OAB, seção local, marcando

nova data para o julgamento. Nesta o réu deverá ser, necessariamente, julgado (§ 1º).

Para tanto, pode o réu apresentar outro defensor constituído, logo após a

determinação de adiamento. Não o fazendo, o magistrado intima a Defensoria Pública

para que assuma o patrocínio da defesa, observando o prazo mínimo de 10 dias.

2.21 Ausência do acusado: art. 457, CPP

O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do

assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro

dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de

comparecimento subscrito por ele e seu defensor.

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2.22 Imprescindibilidade do depoimento da testemunha: art. 461, CPP

É fundamental que as partes, entendendo ser indispensável o depoimento de

alguma testemunha, arrolem-na na fase de preparação para o plenário, com o caráter

de imprescindibilidade.

Não o fazendo, deixa de haver a possibilidade de insistência na sua oitiva, caso

alguma delas não compareça à sessão plenária.

O momento para arrolar testemunhas, no procedimento preparatório, é o

previsto no artigo 422 do Código de Processo Penal, após a intimação determinada

pelo juiz.

2.23 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento

da sessão

Somente ocorre se a testemunha tiver sido arrolada com o caráter de

imprescindibilidade e houver sido intimada.

2.24 Infrutífera condução coercitiva

É possível que, a despeito da tentativa, falhe a condução coercitiva, razão pela

qual não se pode adiar eternamente a realização do julgamento.

Assim, se a testemunha não for localizada para a condução ou tiver alterado o

domicílio, instala-se a sessão.

2.25 Realização do julgamento, independentemente da inquirição de

testemunha arrolada

Caso a testemunha tenha sido arrolada sem o caráter de imprescindibilidade,

não comparecendo, o julgamento será realizado de qualquer modo, tendo sido ela

intimada ou não;

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Se tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibildade, se for intimada e não

comparecer, é cabível o adiamento, como regra, para que possa ser conduzida

coercitivamente na sessão seguinte.

Entretanto, arrolada com o caráter de imprescindibilidade, mas não localizada,

tomando ciência a parte de que não foi intimada e não indicando o seu paradeiro, com

prazo hábil para nova intimação ser feita, perde a oportunidade de insistir no

depoimento.

2.26 Preparo para a composição do conselho de sentença: art. 462, CPP

Para a composição do Conselho de Sentença, o juiz presidente deve checar se as

partes estão presentes, assim como todas as testemunhas indispensáveis,

convenientemente separadas e incomunicáveis. Ultrapassada essa fase, poderá voltar-

se à formação do Conselho.

2.27 Abertura dos trabalhos: art. 463, CPP

Comparecendo ao menos 15 (quinze) jurados, há quorum para a instalação da

sessão, que será dada por aberta pelo juiz presidente.

O próprio magistrado anuncia o processo a ser julgado (número do processo,

nomes do autor e do réu, classificação do crime) e pede ao oficial que faça o pregão

(anúncio na porta do plenário para que todos tomem ciência, vez que o julgamento é

público).

2.28 Ausência de quórum: art. 464, CPP

Se o quorum de 15 (quinze) jurados não foi atingido, é impossível instalar a

sessão. Deve o magistrado providenciar o sorteio de suplentes e adiar o julgamento

para a data seguinte desimpedida.

A partir da edição da Lei 11.689/2008, somente se faz o sorteio dos suplentes,

caso não se atinja o quorum mínimo 15 (quinze) e não mais o número legal 25 (vinte e

cinco).

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Ou seja, se comparecerem 18 (dezoito) jurados, instala-se a sessão, sem sorteio

de suplentes. Se vierem apenas treze, adia-se a sessão e sorteiam-se suplentes até o

número máximo 25 (vinte e cinco).

2.29 Reunião prévia do juiz com os jurados: art. 466, CPP

2.29.1 Reunião prévia do juiz com os jurados

Somente pode realizar-se, a fim de que o magistrado forneça algumas

instruções a respeito da forma e do julgamento e do procedimento do Tribunal do Júri,

se as partes estiverem cientes e, desejando, possam estar presentes.

2.29.2 Incomunicabilidade dos jurados

Significa que os jurados não podem conversar entre si, durantes os trabalhos,

nem nos intervalos, a respeito de qualquer aspecto da causa posta em julgamento,

especialmente deixando transparecer sua opinião.

Logicamente, sobre os fatos desvinculados do feito podem os jurados

conversar, desde que não seja durante a sessão – e sim nos intervalos –, pois não se

quer a mudez dos juízes leigos e sim a preservação da sua íntima convicção.

A troca de ideias sobre os fatos relacionados ao processo poderia influenciar o

julgamento, fazendo com que o jurado pendesse para um ou outro lado.

A incomunicabilidade dos jurados existe para resguardar o princípio do sigilo

das votações do júri (Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “b”, da CF/88), que constitui garantia

das liberdades individuais e, por isso, sua violação configura nulidade absoluta (Art.

564, inciso III, alínea “j”, c/c o Art. 458, § 1º (atual, 466, §1º).

2.29.3 Manifestação da opinião acerca do processo

Em razão da incomunicabilidade, deseja-se que o jurado decida livremente, sem

qualquer tipo de influência, ainda que seja proveniente de outro jurado.

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Deve formar o seu convencimento sozinho, através da captação das provas

apresentadas, valorando-as segundo o seu entendimento.

Portanto, cabe ao juiz presidente impedir a manifestação de opinião do jurado

sobre o processo, sob pena de nulidade da sessão de julgamento.

2.29.4 Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento

É atribuição do juiz presidente, razão pela qual não pode ele afastar-se do

plenário por muito tempo, o que coloca em risco a validade do julgamento.

Se algum jurado desejar esclarecer alguma dúvida, a ausência do magistrado

prejudica a formação do seu convencimento, além do que o jurado pode fazer alguma

observação inoportuna, gerando nulidade insanável.

2.29.5 Certidão do oficial de justiça

A principal autoridade a controlar a manifestação dos jurados é o juiz presidente.

Entretanto, vale-se dos oficiais de justiça presentes para auxiliá-lo.

Em suma, ao final do julgamento, cumpre ao oficial lançar certidão de que a

incomunicabilidade foi preservada durante todos os momentos processuais.

2.30 Formação do conselho de sentença: art. 467, CPP

O Conselho de Sentença no Tribunal do Júri é composta por sete jurados,

escolhidos aleatoriamente, por sorteio, dentre os que comparecerem (mínimo de

quinze e máximo de vinte e cinco).

Exemplo: na sala especial, quando estiverem reunidos em intervalos, o juiz pode não estar

presente, razão pela qual o oficial incumbe-se de fiscalizar a incomunicabilidade.

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2.31 Recusas motivadas e imotivadas: art. 468, CPP

Para a formação do Conselho de Sentença, essas são as duas possibilidades de

recusa do jurado, formuladas por qualquer das partes.

A recusa motivada baseia-se em circunstâncias legais de impedimento ou

suspeição (Arts. 448 e 449, ambos do CPP). Logo, não pode ser jurado, por exemplo,

aquele que for filho do réu, nem tampouco o seu inimigo capital.

A recusa imotivada – também chamada peremptória – fundamenta-se em

sentimentos de ordem pessoal do réu, de seu defensor ou do órgão da acusação. Na

constituição do Conselho de Sentença, cada parte pode recusar até três jurados, sem

dar qualquer razão para o ato.

A nova sistemática, introduzida pela Lei nº 11.689/2008, impõe que, havida a

recusa peremptória por qualquer das partes, o jurado está automaticamente excluído

da formação do Conselho de Sentença. Anteriormente, seria preciso coincidir a recusa

da defesa com a da acusação.

2.32 Separação do julgamento: art. 469, CPP

Conforme disposto no artigo 468, parágrafo único, do Código de Processo Penal

quando o jurado for recusado imotivadamente (recusa peremptória) por qualquer das

partes será excluída daquela sessão, prosseguindo-se o sorteio para a formação do

Conselho de Sentença.

Logo, a cada recusa de jurado, este não mais permanecerá, independentemente

de haver também recusa por parte de outro defensor ou da acusação.

Em ilustração, computando-se 25 (vinte e cinco) jurados presentes, com dois

corréus. Imaginemos que o primeiro defensor recuse os três primeiros jurados

sorteados. Serão excluídos, com ou sem a recusa do segundo defensor e do promotor.

Após, outros três jurados, sorteados na sequência, são recusados por parte do

segundo defensor. Serão, também, excluídos, independentemente da manifestação

do promotor. Serão afastados.

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Ao todo, nove jurados sorteados foram rechaçados e os envolvidos (dois

defensores e um promotor) já não podem exercer o direito de recusa imotivada (são

três para cada parte). Logo, dos 16 jurados restantes, por sorteio, serão escolhidos

obrigatoriamente 7 para compor o Conselho de Sentença. Não haverá cisão do

julgamento.

Caso estivessem presentes apenas 15 jurados, a exclusão de 9, recusa dos pelas

partes presentes, faria com que restassem apenas 6 e ocorreria o denominado estouro

da urna. Se tal se desse, haveria então a separação do julgamento.

O juiz verifica qual é o autor do fato. Será ele julgado em primeiro lugar, como

determina o artigo 469, § 2º, do Código de Processo Penal.

Com relação à preferência de julgamento em caso de separação, impõe-se que,

em caso de separação, seja julgado em primeiro lugar o acusado a quem se atribuiu a

autoria do fato, ou, em caso de coautoria, aplica-se o critério de preferência do artigo

429 do Código de Processo Penal (presos em primeiro lugar; dentre os presos, os que

estiverem há mais tempo na prisão; em igualdade de condições, os que estiverem há

mais tempo pronunciado).

2.33 Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade: art.

470, CPP

Tão logo sejam instalados os trabalhos, deve a parte interessada em levanter

qualquer causa de impedimento ou suspeição do juiz presidente, do promotor (no

caso da defesa arguir) ou de qualquer funcionário fazê-lo de imediato, apresentando

as provas que possuir. Assim, cabe levar testemunhas, se for o caso, ou documentos

para exibição emplenário.

Aceita a suspeição, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido.

Rejeitada, realiza-se o julgamento, embora todo o ocorrido – inclusive a inquirição das

testemunhas – deva constar da ata.

Futuramente, caberá ao Tribunal analisar se houve ou não a causa de

impedimento ou suspeição.

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Caso seja arguida contra o jurado, deve ser levantada tão logo seja ele sorteado,

procedendo-se da mesma forma, isto é, com a apresentação imediata das provas.

2.34 Estouro da urna: art. 471, CPP

Outra hipótese de adiamento da sessão para outra data é a impossibilidade de

formação do conselho de sentença por insuficiência do número de jurados presentes,

com potencial para o sorteio.

Se comparecerem, por exemplo, quinze jurados (quantum mínimo para a

instalação dos trabalhos), mas houver a recusa motivada, calcada em causas de

impedimento ou suspeição, de vários deles, é possível que o afastamento ocorra em

número tal aponto de inviabilizar o sorteio de sete jurados para compor o Conselho.

2.35 Compromisso e entrega de peças aos jurados: art. 472, CPP

Formado o conselho de sentença, os jurados prestarão compromisso e

receberão cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que

julgaram admissível a acusação e do relatório do processo. A lei não mais prevê a

realização de relatório pelo Juiz, em plenário.

2.36 Instrução em plenário: art. 473, CPP

Em primeiro lugar, ouve-se o ofendido. O Juiz Presidente dirige-lhes as

perguntas que entender necessárias. Em seguida, passa a palavra ao representante do

Ministério Público e ao assistente de acusação, se houver, ou ao querelante (se a ação

for privada). Na sequência, poderá a defesa reperguntar.

Finda a oitiva da vítima, passa-se à inquirição das testemunhas de acusação.

Primeiramente, o juiz faz as perguntas cabíveis. Em seguida, concede a palavra ao

Ministério Público e ao assistente, se houver. Depois, à defesa.

Após, ouvem-se as testemunhas de defesa. Inicialmente, as perguntas são

formuladas pelo juiz. Na sequência, pela defesa. Em seguida, pelo Ministério Público

e assistente.

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2.37 Interrogatório do acusado: art. 474, CPP

Ao final da colheita das provas em plenário, Ministério Público, o assistente, o

querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao

acusado; os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.

Nos termos do §3º, do artigo 474 do Código de Processo Penal, não se permitirá

o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do

júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das

testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.

Por exceção e quando for absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à

segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá

o réu permanecer algemado.

Por unanimidade, o STF decidiu que o uso de algemas deve ser adotado em

situações excepcionalíssimas, pois, do contrário, violam-se importantes princípios

constitucionais, dentre eles a dignidade da pessoa humana (Súmula vinculante n. 11).

2.38. Dos debates: art. 476, CPP

2.38.1 Correlação entre acusação e pronúncia

Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará

a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância

agravante. O assistente falará depois do Ministério Público.

Art. 476, CPP: Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará

a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a

acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.

A acusação é limitada pela Pronúncia

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2.38.2 Manifestação inicial do querelante

Ocorre na hipótese de ação privada, em conexão com ação pública, mas com

desmembramento.

Nesse caso, manifesta-se o querelante (por meio de advogado) e, na sequência,

fala o Ministério Público, como custos legis (fiscal da lei).

2.39 Limite de tempo para as partes: art. 477, CPP

A Lei 11.689/2008 alterou o tempo de manifestação reservado às partes. De

duas horas para acusação e defesa, como tempo original, passou-se a uma hora e

meia.

Em relação à réplica e à tréplica modificou-se o tempo de trinta minutos para

uma hora. Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será

acrescido de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o

disposto no § 1º deste artigo.

2.40 Referências proibidas: art. 478, CPP

É vedado às partes:

• fazer referência à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de

autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado, bem como ao silêncio do

acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo

(trata-se de dispositivo nitidamente direcionado ao Ministério Público, com prejuízo à

acusação);

Exemplo: dois crimes são cometidos no mesmo cenário, um deles é doloso contra a vida e o outro, de ação exclusivamente privada, ocorrendo o julgamento isolado do delito cujo titular da ação é o ofendido.

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• a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos

autos com a antecedência mínima 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte,

abrangendo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de

vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio

assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e

julgamento dosjurados.

2.41 Do questionário e sua votação: arts. 482 e 483, CPP

Questionário é o conjunto dos quesitos elaborados pelo juiz presidente, que

serão submetidos à votação pelo Conselho de Sentença, para obtenção do veredicto

final.

Nos termos do artigo 483 do Código de Processo Penal, os quesitos serão

formulados na seguinte ordem:

a) Quesito sobre a materialidade do fato

Se o conselho de sentença responder de forma afirmativa a essa questão,

seguirá a votação com a questão seguinte. Se responder negativamente, encerra-se o

julgamento com a absolvição do réu.

b) Quesito sobre a autoria ou participação

O juiz indagará aos jurados se o réu de qualquer modo contribuiu para o

cometimentodo delito.

Respondendo o Conselho de Sentença de forma afirmativa, seguirá com a

pergunta seguinte. Caso contrário, encerra-se o julgamento com a absolvição do

acusado pelo júri.

Duas situações podem acontecer aqui:

• Caso não haja tese de desclassificação do delito doloso contra a vida para outro

que não seja, o quesito seguinte que deve ser inserido perguntará se “o jurado absolve

o acusado?”

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• Se houver alegação de tese de desclassificação para delito diverso do doloso

contra a vida, a questão desclassificatória será dirigida aos jurados sempre antes do

quesito que indaga se “o jurado absolve o acusado?”

É o que se extrai do artigo 483, § 4º, do Código de Processo Penal, ao destacar

que uma vez sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do

juiz singular, sera formulado quesito a respeito, para ser respondido após o segundo

ou terceiro quesito, conforme ocaso.

Da mesma forma, deve ser usado para hipótese de tentativa, nos termos do

artigo 483, § 5º, do Código de Processo Penal, que enfatiza que se sustentada a tese

de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a

tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará

quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.

O quesito seguinte será em relação à causa de diminuição da pena alegada pela

defesa, que somente será formulado se o acusado, a essa altura, tiver sido condenado

pelos jurados.

Por fim, os jurados são inquiridos sobre a existência de circunstâncias

qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em

decisões posteriores que julgaram admissível aacusação.

2.42 Sentença: art. 492, CPP

A sentença pode ser:

a) de condenação, devendo, nesse caso, o juiz fixar apena.

b) absolvição, caso em que o réu deverá ser posto imediatamente em liberdade,

caso estejapreso.

Atente-se para a hipótese de desclassificação do crime pelo Conselho de

Sentença, nos casos do artigo 492, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Penal.

Diz-se desclassificação própria quando o Conselho desclassifica para outro

crime que não é da sua competência, sem especificar qual crime, assim o Juiz

presidente deverá decidir. Por exemplo, jurados não reconhecem a tentativa de

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homicídio, caberá o juiz o julgamento da lesão corporal. Vale frisar que o Juiz aqui

assume capacidade decisória integral, poderá até mesmo absolver.

Sempre lembrar que sendo possível suspensão condicional do processo ou

outra medida despenalizadora devem ser oportunizadas.

Já a desclassificação imprópria os jurados reconhecem a incompetência para

julgar, mas indicam o delito cometido. Como ocorre quando reconhecem

materialidade e lesões, mas desclassificam para homicídio culposo. Aqui o juiz deve

julgar com base na decisão dos jurados, estando vinculado.

Caso haja desclassificação o crime conexo que não seja da competência do Júri

será julgado pelo Juiz Presidente.

2.43 Execução antecipada da pena no júri: art. 492, inciso I, alínea “e”,

2ª parte, CPP

Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri é competência do Juiz Presidente

determinar a prisão do condenado, se presentes os requisitos da prisão preventiva

previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal. Entretanto, destaca-se que com

a publicação da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserida a regra de execução

provisória de pena nos processos julgados pelo Tribunal do Júri quando o quantum

aplicado na sentença condenatória for igual ou superior a 15 anos (Art. 492, inciso I,

Alínea “e”, 2ª parte, do CPP), sem prejuízo do conhecimento de eventual recurso a ser

interposto.

Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

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Aqui o Recurso cabível é APELAÇÃO, nos termos do artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal.

O juiz presidente, excepcionalmente, poderá deixar de autorizar a execução

provisória se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir

o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da condenação.

Caso não obtido o efeito suspensivo através de decisão do Juiz Presidente, o

Tribunal que julgar o recurso de apelação poderá atribuir efeito suspensivo à

apelação quando verificar que o recurso interposto não tem propósito meramente

protelatório; e a que há questão substancial que poderá resultar em absolvição,

anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15

anos.

O pedido do efeito suspensivo poderá ser feito no corpo da apelaçãoou, por

meio de petição endereçada ao relator, instruída com cópias da sentença, razões de

apelação e prova da tempestividade, além das contrarrazões e das demais peças

necessárias à controvérsia (Art. 492, § 6º, do CPP).

• Observação: caso a peça prática seja uma Apelação da 2ª fase do Júri

envolvendo uma condenação cuja pena aplicada seja igual ou superior a 15 anos, tendo

o enunciado informado que o juiz presidente determinou a execução antecipada,

deverá ser elaborado um item na peça processual, a fim de requerer ao Tribunal que

conceda efeito suspensivo à apelação (Pedido de Efeito Suspensivo) – nos termos do

art. 492, §6º, CPP. O pedido deverá ser explorar os fundamentos do §5º,

demonstrando que o recurso em questão:

I - não tem propósito meramente protelatório; e

II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da

sentença, novo julgamento ou redução da pena.

IMPORTANTE

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2.44 Resposta à acusação no procedimento do tribunal do júri

• Base legal: art. 406, CPP

• Identificação:

A resposta à acusação é oferecida após o recebimento da denúncia e citação

do acusado. Antes, por óbvio, da instrução.

Logo, deve haver denúncia, o recebimento da denúncia e a citação do réu. Não

poderá ter sido realizada audiência de instrução e julgamento.

• Conteúdo:

Nos termos do artigo 406, § 3º, do Código de Processo Penal, na resposta, o

acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer

documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,

até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando

necessário.

Em síntese, além de eventuais nulidades, deve-se buscar no enunciado

informações relacionadas a causas evidentes de exclusão de ilicitude, tipicidade e

culpabilidade, salvo a inimputabilidade por doençamental.

PEDIU PRA PARAR

Lembrete:

Súmula 713/STF

Peça:

Recurso de apelação

PAROU!

para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

51

• Pedido:

No procedimento do júri, não há previsão legal de absolvição sumária logo após

o oferecimento da resposta à acusação. Neste procedimento, a possibilidade

deabsolvição sumária está prevista após o encerramento da instrução, nos termos do

artigo 415 doCódigo de Processo Penal.

Todavia, sugere-se, para esse caso excepcional, adotar, por analogia, o artigo

397 do Código de Processo Penal. É o entendimento de Gustavo Badaró, segundo o

qual “Embora o procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida haja a

previsão de uma ‘absolvição sumária’ ao término do juízo da acusação (Art. 415 do

CPP), isso não impede de que seja aplicado o artigo 397 do Código do Processo Penal,

sendo possível ao juiz, logo após o oferecimento da resposta, absolver sumariamente

o acusado. Aliás, o § 4º do artigo 394 do Código de Processo Penal prevê que “as

disposições dos artigos 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos

penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código". Aplica-se, pois, o art.

397 ao procedimento dos crimes dolosos contra a vida”.4

4 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3ª ed. São Paulo: RT. 2015, p. 656.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

52

Estruturação da peça Resposta à Acusação no Tribunal do Júri

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça Estadual) / EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça Federal) Processo nº ... FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com base no artigo 406 do Código de Processo Penal pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos: I) DOS FATOS5 II) DO DIREITO6 a) Das preliminares b) Do mérito III) DO PEDIDO Ante o exposto, requer o denunciado: a) Seja rejeitada a denúncia; b) Nulidades (referir todas as nulidades enfrentadas na peça); c) Absolvição, com base no artigo 397 e inciso correspondente (por analogia); d) A produção de provas, com designação de audiência de instrução e julgamento e oitiva das testemunhas arroladas.

5 Fazer um breve relato dos fatos. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão. 6 Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade formal e/ou material.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

53

ROL DE TESTEMUNHAS A) Fulano de tal... B) Fulano de tal...

Local..., data... ADVOGADO...

OAB...

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Memoriais do júri ou alegações finais por memoriais

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

3. Considerações iniciais

• Base legal: Art. 403, § 3º, CPP OU Art. 404, parágrafo único, CPP.

Embora não tenha previsão na lei, admite-se, no procedimento do júri, a

substituição dos debates orais em memoriais escritos, por analogia aos artigos 403, §

3º e 404, ambos do Código de Processo Penal. Aliás, foi o que ocorreu na peça da OAB

2010-01 e no XXXII Exame.

Em relação à base legal propriamente dita, na peça profissional do Exame XXXII,

em 2021, foi permitida a indicação como fundamento legal dos memoriais propostos

o artigo 403, § 3º ou o 404, ambos do Código de Processo Penal.

• Identificação: os memoriais são oferecidos após a instrução e antes da decisão

de impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação.

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica:

“encerrada a instrução”

Peça:

MEMORIAIS DO JÚRI

PAROU!

*para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

55

• Conteúdo dos Memoriais do Júri

Assim como nas demais peças, deve-se buscar no enunciado preliminares e

mérito.

Preliminar

Como já referido, as questões preliminares são aquelas que não observam

aspectos formais de determinado ato processual, gerando, invariavelmente, nulidade.

Aqui, por questão de organização, recomenda-se que as causas extintivas de

punibilidade, notadamente prescrição, sejam abordadas no campo destinado às

preliminares.

Mérito

Finda a instrução do processo relacionado ao Tribunal do Júri, cuidando de

crimes dolosos contra a vida e infrações conexas, o magistrado poderá proferir

decisão de:

a) Pronúncia

b) Impronúncia

c) Absolvição sumária

d) Desclassificação

Conforme abordado, nas peças práticas profissionais deverá ser desenvolvida

uma tese que, ao final, viabilizará o correspondente pedido. Ou seja, somente se

aborda na peça aquilo que, ao final, poderá ser objeto depedido.

No caso dos memoriais escritos do procedimento do júri, as teses de mérito

guardam relação com as hipóteses que podem ensejar decisão de: a) impronúncia (Art.

414 do CPP); b) absolviçãosumária (Art. 415 do CPP); c) ou desclassificação (Art. 419

do CPP).

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Para melhor visualização do conteúdo dos memoriais do júri, convém destacar

as hipóteses de decisões que podem ser proferidas nesta primeira fase do

procedimento do Tribunal do Júri:

• Pronúncia: art. 413, CPP

É decisão interlocutória mista não terminativa, que julga admissível a acusação,

remetendo o caso à apreciação do Tribunal do Júri.

Na pronúncia, há um mero juízo de admissibilidade, pelo qual o juiz admite ou

rejeita a acusação, sem penetrar no exame do mérito. No caso de o juiz se convencer

da existência do crime e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de

pronúncia, fundamentando os motivos de seu convencimento.

Assim, nos termos do artigo 413, § 1º, do Código de Processo Penal, a decisão

de pronúncia deve se limitar à indicação da materialidade do fato e da existência de

indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo

legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e

as causas de aumento depena.

Se o Magistrado se aprofundar na análise do mérito, extrapolando na linguagem,

enfatizando, por exemplo, ser o réu efetivo autor do delito ou que não agiu sob o

amparo de excludente de crime, caracteriza-se o que se denomina eloquência

acusatória, gerando nulidade da decisão de pronúncia.

• Impronúncia: art. 414, CPP

É a decisão interlocutória mista de conteúdo terminativo, visto que encerra a

primeira fase, deixando de inaugurar a segunda, sem haver juízo de mérito. Assim,

inexistindo prova da materialidade do fato ou não havendo indícios suficientes de

autoria, deve o magistrado impronunciar o réu, que significa julgar improcedente a

denúncia e não a pretensão punitiva do Estado.

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57

• Absolvição sumária: art. 415, CPP

A absolvição sumária ocorrerá quando estiver provada a inexistência do fato,

provado não ser o réu autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal

ou estiver demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. No caso

de inimputáveis, a absolvição sumária só é possível, agora por disposição expressa, se

a inimputabilidade for a única tese defensiva.

Nos termos do artigo 415 do Código de Processo Penal, o juiz absolverá, desde

logo (sumariamente, portanto), o acusado quando:

De acordo com o parágrafo único do artigo 415 do Código de Processo Penal,

“não se aplica o disposto no inciso IV do caput do art. 26 do CP, salvo quando esta for

a única tese defensiva”.

Dessa forma, ainda que a inimputabilidade se encontre comprovada por exame

de insanidade mental, o Código de Processo Penal faz restrições à absolvição

imprópria do agente, pois esta implicará na imposição de medida de segurança, o que

poderá ser prejudicial ao réu, uma vez que não lhe será viabilizado demonstrar em

plenário do Júri, outras teses defensivas em favor da sua inocência, sem a imposição

de qualquer medida restritiva.

Assim, havendo outra tese defensiva e não sendo caso de absolvição sumária

por outro fundamento, o Magistrado deverá pronunciar o réu, para que seja submetido

Provada não ser ele o autor ou partícipe do fato

Prova indiscutível de que o réu não cometeu ou participou de sua execução

Provada a inexistência do fato Prova cabal de que os fatos narrados na inicial acusatória não aconteceram

O fato não constituir infração penal Fato atípico

Demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime

Vide notas de excludentes de ilicitude e culpabilidade

*para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

58

Não confundir a absolvição sumária prevista no Art. 397 do CPP (que decorre da resposta

à acusação), com a absolvição sumária do Art. 415 do CPP, aplicável somente ao

Procedimento do Júri.

a julgamento pelo plenário do Júri. Agora, se, por conta dessa outra tese, ficar

evidenciada hipótese de absolvição sumária, que não a inimputabilidade, o juiz deverá

absolver o réu sumariamente, sem imposição de medida de segurança (absolvição

própria).

De outro lado, se a inimputabilidade for a única tese da defesa, admite-se a

absolvição sumária imprópria, com a imposição de medida de segurança.

No caso de não haver convencimento por parte do magistrado acerca da

autoria, ainda que o acusado seja inimputável, deverá ser impronunciado, pois a

medida de segurança só poderá ser imposta se ficar provada a prática de um fato

típico e ilícito. Desta forma, melhor alternativa ao acusado seria a impronúncia.

• Desclassificação: art.419, CPP

Nos termos do artigo 419 do Código de Processo Penal, quando o juiz se

convencer, em discordância com o que consta na peça acusatória, da existência de

crime não doloso contra a vida e não for competente para o julgamento, remeterá os

autos ao juiz que o seja, ficando à disposição deste o acusado preso.

Exemplo: o agente ser denunciado por crime de homicídio doloso e, ao final,

constatar-se que agiu sem a intenção de matar, passando a ser, em tese, homicídio

culposo.

Pedido

No campo destinado aos pedidos, deve-se formular pedido específico para cada

uma das teses desenvolvidas ao longo da peça.

IMPORTANTE

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

59

Exemplo: Se sustentou alguma preliminar, nulidade, por exemplo, deve-se, ao

final, formular pedido expresso no sentido de que seja declarada a nulidade.

No que tange ao mérito, o pedido deve guardar relação com a(s) tese(s)

invocadas:

No procedimento do júri, as teses e pedidos subsidiários guardam relação,

invariavelmente, com o afastamento da qualificadora ou causa de aumento de pena.

Estruturação da peça Memoriais do Júri

Endereçamento: Juiz de Direito da Vara do Tribunal do Júri (se crime da

competência da Justiça Estadual) ou Juiz Federal da Vara do Tribunal do Júri da Seção

Judiciária (se crime da competência da Justiça Federal)

Preâmbulo: nome e qualificação do acusado (não inventar dados), capacidade

postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (403, § 3º ou 404,

parágrafo único), nome da peça (Memoriais escritos), frase final (pelos fatos e

fundamentos jurídicos a seguirexpostos);

Corpo da peça (tesesdefensivas)

Pedidos:

I) Nulidades (acompanhar a ordem daspreliminares)

II) Absolvição sumária (art. 415), impronúncia (art. 414) e/ou desclassificação

(art.419) – teses alternativas, em caso de pronúncia, afastamento de qualificadoras,

causas de aumento de pena ...

Parte final (local, data, advogado... e OAB...)

a) Impronúncia, com base no artigo 414 do Código de Processo Penal; e/ou b) Absolvição sumária, com base no artigo 415 do Código de Processo Penal; e/ou c) Desclassificação, com base no artigo 419 do Código de Processo Penal.

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Sistema Recursal

Pronúncia Impronuncia Desclassificação Absolvição Sumária

RESE

(art. 581, IV, CPP)

Apelação

(art. 416, CPP)

RESE

(art. 581, II, CPP)

Apelação

(art. 416, CPP)

*para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

61

Estruturação da peça Memoriais no Tribunal do Júri:

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça Estadual) B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça Federal) Processo nº ... FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS ESCRITOS, com base no artigo 403, §3º, parágrafo único do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I) DOS FATOS7 II) DO DIREITO A) DAS PRELIMINARES B) DO MÉRITO * Impronúncia: ausência de prova da materialidade e não restar provada a autoria (Art. 414 do CPP); * Absolvição sumária (Art. 415 do CPP) * Desclassificação: fato imputado não constitui crime doloso contra a vida (Art. 419 do CPP) C) SUBSIDIARIAMENTE8 III) DO PEDIDO9 a) Preliminares (nulidades, prescrição, etc – acompanhar a ordem das preliminares);

7Narrar o fato, fazendo um breve relato. Não inventar dados nem simplesmente transcrever o enunciado. 8Afastar qualificadora ou causa de aumento de pena. 9OBS: CONFORME O ENUNCIADO DA PEÇA OU DA QUESTÃO, OS PEDIDOS PODEM SER CUMULATIVOS

Page 62: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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b) impronúncia, com base no artigo 414 do Código de Processo Penal; c) Absolvição sumária, com base no artigo 415 do Código de Processo Penal; d) Desclassificação, com base no artigo 419 do Código de Processo Penal; e) Afastar qualificadora ou causa de aumento de pena.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., data...10

ADVOGADO...

OAB...

10A FGV pode pedir para que seja apontado o último dia do prazo.

Para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

63

2) (QUESTÃO 2 - VI EXAME)

Hugo é inimigo de longa data de José e há muitos anos deseja matá-lo. Para conseguir

seu intento, Hugo induz o próprioJoséamatarLuiz, afirma ndo falsamente que Luiz

estava se insinuando para a esposa de José. Ocorre que Hugo sabia que Luiz é pessoa

de pouca paciência e que sempre anda armado. Cego de ódio, José espera Luiz sair

do trabalho e, ao vê-lo, corre em direção dele com um facão em punho, mirando na

altura da cabeça. Luiz, assustado e sem saber o motivo daquela injusta agressão,

rapidamente saca sua arma e atira justamente no curacao de José, que more

instantaneamente. Instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte

de José, ao final das investigações, o Ministério Público formou sua opinion no seguinte

sentido: Luiz deve responder pelo excesso doloso em sua conduta, ou seja, deve

responder por homicídio doloso; Hugo por sua vez, deve responder como partícipe de

tal homicídio. A denúncia foi oferecida e recebida.

Considerando que você é o advogado de Hugo e Luiz, responda:

A) Qual peça deverá ser oferecida, em que prazo e endereçada a quem?

(Valor:0,30)

B) Qual a tese defensiva aplicável a Luiz? (Valor:0,5)

C) Qual a tese defensiva aplicável a Hugo? (Valor:0,45)

3) (QUESTÃO 04 - EXAME 2010/03)

Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente

qualificado, guiava seu automóvel tendo Madalena, sua namorada, no banco do

carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o que faz com que

Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, Madalena pede

insistentemente para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não

seria possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo

ser perito em direção e refutando qualquer possibilidade de perder o controle do

carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade empreendida,

acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na calçada,

Page 64: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

64

vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de

velocidade, e ouvidos Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo

travado entre o casal, Caio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime

de homicídio namodalidade de dolo eventual, três vezes em concurso formal.

Recebida a denúncia pelo magistrado da vara criminal vinculada ao Tribunal do Júri da

localidade recolhida a prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos

exatos termos dainicial.

Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens

a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação

legal pertinente ao caso.

A) qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte?

(Valor: 0,40)

B) qual pedido deveria ser realizado? (Valor: 0,30)

C) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a

peça de interposição deveria ser dirigida? (Valor: 0,30)

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Apelação das decisões do júri

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

4. Considerações

• Identificação: Após a decisão dos jurados no Plenário do Júri, o Juiz Presidente

passa a proferir asentença, restringindo-se, se for sentença condenatória, a fixar a

pena.

Assim, a apelação das decisões do Júri tem cabimento contra a decisão

proferida pelo Juiz após o julgamento no Plenário do Júri.

• Base legal: art. 593, inciso III, CPP

A base legal do recurso de apelação contra decisão do Plenário do Júri guarda

relação com o artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal, devendo, ainda, o

recorrente mencionar a(s) alínea(s) pelo qual está recorrendo, ou seja, artigo 593, inciso

III, Alinea “a” e/ou alínea “b” e/ou alínea “c”e/ou alínea “d”, sem prejuízo da possibilidade

de recorrer por mais de um fundamento.

Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal do Júri deve

apresentar logo na petição de interposição qual o motive que o leva a apelar, deixando

expressa a alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP, ficando vinculado, nas razões

de apelação aos argumentos relacionados ao motivo declinado na interposição. Assim

sendo, o Tribunal somente pode julgar nos limites da interposição.

Nesse sentido é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra

decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”.

Page 66: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

66

• Hipóteses decabimento

Nulidade posterior à pronúncia

Tratando-se de nulidade anterior à pronúncia, a questão já foi analisada na

própria decisão ou em recurso contra ela interposto, operando-se, por conseguinte, a

preclusão.

LOPES JÚNIOR (2012, p. 1.224) elenca algumas hipóteses:

• a juntada de documentos fora do prazo estipulado no art.479;

• participação de juradoimpedido;

• inversão da ordem de oitiva das testemunhas deplenário;

• produção, em plenário, de provailícita;

• uso injustificado de algemas durante ojulgamento;

• referências, durante os debates, à decisão de pronúncia ou posteriores, que

julgaram admissível aacusação;

• referências, durante os debates, ao silêncio do acusado, em seuprejuízo;

• e, o mais recorrente: defeitos na formulação dosquesitos.

Se a nulidade ocorrer na própria sentença de pronúncia, o recurso cabível é o

Recurso em Sentido Estrito (art. 581, inciso IV, CPP).

Na hipótese de provimento do recurso, o Tribunal de Justiça ou Tribunal

Regional Federal deverá determinar a renovação do ato viciado e, até mesmo do

próprio julgamento em plenário.

Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos

jurados

O juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do

juiz togado sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados

Page 67: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

67

decidem o fato e o juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não

podendo dela desgarrar-se.

Como se vê, há duas hipóteses concentradas nesse inciso:

a) decisão contra lei expressa; b) decisão de forma contrária à decisão dos

jurados.

Alguns exemplos de decisão contrária à lei expressa (LOPES JÚNIOR, 2012, p.

1226):

• a sentença substitui a pena aplicada pelo homicídio doloso por prestação de

serviços à comunidade em desacordo com os limites do art. 44 do CP;

• fixar o regime fechado para o réu primário condenado a uma pena inferior a 8

anos;

• decidir sobre o crime conexo sem submetê-lo a julgamento pelo júri.

Alguns exemplos de sentença contrária à decisão dos jurados (LOPES JÚNIOR,

2012, p. 1227):

• os jurados absolvem o réu e o juiz profere uma sentença condenatória, fixando

a pena, e vice-versa;

• o júri condena por homicídio qualificado e ojuiz realiza a dosimetria

considerando a pena do homicídiosimples;

• o júri reconhece uma privilegiadora e o juiz não faz a respectiva redução da

pena;

• os jurados acolhem a tese defensiva de desclassificação de homicídio doloso

para culposo e o juiz condena o réu por homicídiodoloso;

• os jurados acolhem a tese de crime tentado, e o juiz profere sentença

condenatória por crime consumadoetc.

Se der provimento ao recurso de apelação interposto com base nesta alínea, o

Tribunal ad quem procederá à retificação da sentença, sem necessidade de renovação

do julgamento em plenário do Júri (art. 593, § 1º, CPP).

Page 68: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

68

Qualificadoras: Encontra-se pacificado o entendimento no sentido de que a discussão

envolvendo o reconhecimento ou afastamento da qualificadora deve ser abordada com

base na alínea “d” do inciso III do art. 593. Isso significa que, se der provimento ao recurso

de apelação, o réu será submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de

segurança

É outra hipótese que diz respeito, exclusivamente, à atuação do juiz-

presidente, não importando em ofensa à soberania do veredicto popular. Logo, o

Tribunal pode corrigir a distorção diretamente.

A aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários, ou

excessivamente brandas para reincidentes, por exemplo, sem ter havendo

fundamento razoável, ou medidas de segurança incompatíveis com a doença mental

apresentada pelo réu podem ser alteradas pela Instância superior.

Se der provimento à apelação interposta com base na alínea “c”, o Tribunal

retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança, sem necessidade de

renovação do Julgamento pelo Júri.

Em síntese, a interposição do recurso de apelação visando ao afastamento da

qualificadora deve ser com base no artigo 593, inciso III, alínea “d”, do Código de

Processo Penal.

Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos

Contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum

elemento de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de

condenação que apóia em versão mais fraca.

Só cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez. Não importa

qual das partes tenha apelado, é uma vez para qualquer dasduas.

OBSERVAÇÃO

Page 69: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

69

Conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se

fundar no inciso III, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos

jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para

sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda

apelação.

• Prazo: O prazo para interposição da apelação das decisões do Tribunal do Júri é

de 5 (cinco) dias, nos termos doartigo 593 do Código de Processo Penal. Todavia,

atenção especial deve ser dada ao Assistente de Acusação, que possui o prazo de 15

(quinze) dias para recorrer caso não esteja habilitado ainda no processo, conforme

consta no artigo 598 do Código de Processo Penal. Caso já esteja habilitado, o prazo

será de cinco dias.

Ocorrer nulidade posterior à

pronúncia.

A sentença do Juiz Presidente for

contrária à letra expressa da Lei ou à

decisão dos jurados.

Quando houver erro ou injustiça à

aplicação da pena ou da medida de

segurança.

Quando a decisão dos jurados for

manifestamente contrária à prova dos

autos.

Das decisões do Tribunal

do Júri, quando

Page 70: PENAL 2ª FASE XXXIII EXAME Direito Processual Penal

Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

70

Peça de interposição: endereçada ao juiz de 1º grau

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA ... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça Estadual) B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DO ... TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça Federal)11 Processo nº...

FULANO DE TAL, (não inventar dados), por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão de fls..., interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso III (indicar a alínea)12, do Código de Processo Penal. Assim, requer seja recebido e processado o recurso, já com as razões anexas, remetendo-se os autos ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., data...13

ADVOGADO... OAB...

11Competência da Justiça Federal – Art. 109 da CF/88. 12Cuidado: se for contra decisão do Tribunal do Júri indicar o fundamento (uma das alíneas do inciso III, do Art. 593, do CPP). Súmula 713 STF 13 CUIDADO: O ENUNCIADO PODE PEDIR A INTERPOSIÇÃO NO ÚLTIMO DIA DO PRAZO

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Peça de razões

A) EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... (se da competência da Justiça Estadual); B) EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA REGIÃO... (se da competência da Justiça Federal) Apelante: FULANO DE TAL Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO Processo nº... RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO Colenda Câmara (Justiça Estadual) ou Colenda Turma (Justiça Federal) I) DOS FATOS14 II) DO DIREITO15 A) DAS PRELIMINARES B) DO MÉRITO III) DO PEDIDO Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, com a REFORMA DA DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim ....: a) Seja declarada a nulidade do processo a partir do ato tal ... e, por consequência, seja o réu submetido a novo Júri (se pela alínea “a”, do Art. 593, inciso III, do CPP); b) Seja retificada a decisão, a fim de que prevaleça a decisão dos jurados, no sentido de que (se pela alínea “b”, do Art. 593, inciso III, do CPP); c) Seja retificada a pena, a fim de que seja fixada no mínimo legal, fixado o regime carcerário semiaberto, etc (se pela alínea “c”, do Art. 593, inciso III, do CPP);

14Fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar nada nem simplesmente transcrever o enunciado). 15Cuidado: Observar as hipóteses das alíneas do artigo 593, III, do CPP.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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d) Seja o réu sibmetido a novo Júri pelo Plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal (se pela alínea “d”, do artigo 593, inciso III).

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO... OAB...

Para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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4) (QUESTÃO 3 – XVIII EXAME)

Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado

que teve como vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua

namorada, ouvida na condição de informante, afirmaram que Henrique iniciou

agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Por sua vez, a

namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que não houve

qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. No momento do julgamento, os

jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver Fernando

da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de

apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a

decisão foi manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica

preocupada como recurso, em especial porque afirma que todos tinham

conhecimento que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos, mas em

momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no recurso ou avaliado pelo

Juiz Presidente.

Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de

Fernando, os seguintes questionamentos da família do réu:

A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos?

Justifique. (Valor: 0,60)

B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com

fundamento em nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor:

0,65)

5) (MP-MS-2011)

Tício foi denunciado pela prática de homicídio qualificado pelo motivo torpe (art. 121,

§ 2º, inc. I, Código Penal). A denúncia foi recebida e, no decorrer da instrução

processual, a defesa requereu exame de insanidade mental do acusado (art.149 e

seguintes do Código de Processo Penal). Ao final do referido incidente, restou

devidamente comprovado que Tício, ao tempo da ação, em razão de doença mental,

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de

acordo com esse entendimento. Nos debates, a defesa apresentou como única tese

defensiva a inimputabilidade de Tício. Lastreado em tal premissa, responda,

respectivamente, a seguinte indagação: Qual decisão deverá ser proferida pelo juiz

ao final da primeira fase do procedimento do júri e qual é o recurso cabível?

Justifique.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Lei de Execução Penal

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

5.1 Comentários à lei de execução penal

A Lei nº 7.210/84, também conhecida com a Lei de Execução Penal, regula a

execução das penas e medidas de segurança no Brasil.

As penas, conforme o artigo 32 do Código Penal, dividem-se em: penas

privativas de liberdade, restritivas de direito e penas de multa. Já as medidas de

segurança estão previstas no artigo 96 do Código Penal, dividindo-se em: medidas de

segurança de internação ou de tratamento ambulatorial.

Em regra, quando se fala em execução penal, se pressupõe a existência de uma

sentença penal condenatória transitada em julgado. Assim sendo, a partir do

esgotamento da via recursal tem-se que será determinada a expedição / formação do

processo de execução criminal, denominado na praxe jurídica como P.E.C (Processo

de Execução Criminal).

O trâmite do processo de execução se dará em Vara de Execução Criminal,

quando assim houver, conforme determinação das regras de organização judiciária de

cada Estado. Nesta fase, o Juiz responsável por este processo é denominado Juiz da

Vara de Execução, cujo rol exemplificativo de sua competência consta no artigo 66 da

Lei nº 7.210/84.

É importante registrar que, excepecionalmente, é possível a formação do

Processo de Execução Provisório, ou seja, quando a pessoa estiver executando uma

pena que ainda está sob discussão perante o Poder Judiciário, ou seja, ainda não

transitou em julgado a sentença.

Independentemente de ser preso em caráter definitivo ou provisório, a Lei de

Execução é aplicável no que couber.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Para fins da prova prático-profissional, registra-se que os pedidos ao Juiz da Vara

de Execução devem ser elaborados no formato de petições, por exemplo, o apenado

pretende progressão de regime, deverá ser postulado por meio de peticionamento um

pedido fundamentado ao Juiz, através de seu defensor (público ou

privado/contratado).

Por fim, em sede de execução penal deverão ser observados todos os direitos e

garantias constitucionais, bem como aqueles previstos em Tratados e Convenções de

Direitos Humanos quando aplicáveis. Neste contexto, enfatiza-se a importância de

observar o artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal/88, que assegura o devido

processo legal, exigindo a observância do contraditório e ampla defesa, também

durante a execução penal.

• Finalidade da Lei de Execução Penal

A finalidade da Lei de Execução Penal, nos termos do artigo 1º da Lei de

Execução Penal, está intimamente ligada à ideia de ressocialização, baseada na teoria

da prevenção especial positiva. Além de efetivar as disposições contidas nas decisões

penais, objetiva-se proporcionar condições para a harmônica integração social do

condenado ou internado.

Para isso, a Lei de Execução Penal busca viabilizar uma série de institutos para

assegurar o contato com o mundo exterior. Aos condenados à pena de privativa por

exemplo: saídas temporárias, progressão de regime, livramento condicional, entre

outros.

Vale destacar que todos os direitos não atingidos pela sentença permanecem

inalterados (Art. 3º da LEP), inclusive nos artigos 39 e 41, ambos da Lei de Execução

Penal constam listados alguns deveres e direitos que devem ser observados durante a

execução penal.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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• Vale destacar que o processo de execução criminal (PEC) tramita junto à Vara de

Execução Criminal da Comarca (VEC), cuja jurisdição pertença o estabelecimento prisional

em que o apenado cumpre pena. Nele constará toda e qualquer informação que gere

alguma modificação na pena ou na sua forma de cumprimento.

• Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução

das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando

recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

• Aplicação da Lei de ExecuçãoPenal

A Lei de Execução Penal é aplicável a todos que estiverem recolhidos a

estabelecimentos prisionais sujeitos à jurisdição ordinária (Justiça Estadual ou

Federal), independentemente da origem da condenação. Logo, o que se verifica na

execução penal é olocal de cumprimento de pena, para determinar o Juízo

Competente.

A título de exemplo, se um condenado pela Justiça Federal estiver recolhido

num estabelecimento sujeito à administração Estadual, o Juiz da Vara de Execução

Criminal Estadual será o competente para apreciar os pedidos e acompanhar a

execução da pena.

• Princípio da Individualização da Pena: art. 5°, inciso XLVI, CF/88 – fase

executória

O princípio da individualização da pena na fase da execução manifesta-se

incialmente com aclassificação dos condenados segundo seus antecedentes e

personalidade (Art. 5º da LEP). A classificação será feita por uma Comissão Técnica de

Classificação (CTC), que elaborará o programa individualizador da Pena Privativa de

Liberdade (PPL)ao condenado ou preso provisório (Arts. 6 e 7, ambos da LEP).

OBSERVAÇÕES:

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Identificação Genética na Execução Penal (Art. 9º- A da LEP): Nova hipótese de falta grave

a recusa em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético.

Leitura Complementar: Recurso Extraordinário 973837 (ver notícia sobre o

reconhecimento da Repercussão Social no RExt:

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319797)

A Comissão Técnica de Classificação será presidida pelo diretor e composta, no

mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente

social.

Além da classificação, para auxiliar na obtenção de mais elementos para

individualização da pena, o condenado à pena privativa de liberdade em regime

fechado será submetido ao exame criminológico. Ainda, poderão ser submetidos o

condenado à pena privativa de liberdade, em regime semiaberto (Art.8° da LEP).

Frise-se, tais questões ocorrem no início da execução da pena, com a finalidade

de apenas obter mais dados, conhecer a pessoa que está recolhida no sistema

penitenciário. Todavia, convém informar que na maioria das vezes, isso não é

cumprido durante a execução da pena.

5.2 Detração penal

Conforme o art. 42 do Código Penal:

Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.

ATENÇÃO

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A partir da alteração legislativa provocada pela Lei nº 12.736/12, tem-se que a

detração penal deverá ser observada, desde logo, na sentença condenatória,

conforme previsto no artigo 387 do Código de Processo Penal. Atualmente, a

competência do Juiz da VEC é subsidiária, ou seja, quando não for objeto na sentença,

deverá ser observado pelo Juiz da Vara de Execução. Tal entendimento decorredo

artigo 111 da Lei de Execução Penal e do artigo 66, inciso III, alínea “c”, da Lei de

Execução Penal.

Conforme o art. 111 da Lei de Execução Penal:

Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.

A consideração da detração não poderá caracterizar uma conta corrente do

indivíduo com o Estado16.

Exemplo 1: Pedro comete um crime e permanece preso durante 1 ano, após é

absolvido. Pedro não poderá reaver este período, buscando resgatá-lo.

Exemplo 2: Mário comete um delito de furto simples, na expectativa de não ficar

preso, pois teria direito à detração daquele 1 ano, dito acima, referente a outro delito.

Caso seja condenado, pela prática deste delito, não terá direito à detração anterior,

pois geraria uma contacorrente.

16HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DETRAÇÃO. PERÍODO ANTERIOR AO FATO DELITUOSO. IMPOSSIBILIDADE. 1. É assente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o condenado não faz jus à detração penal quando a conduta delituosa pela qual houve a condenação tenha sido praticada posteriormente ao crime que acarretou a prisão cautelar. 2. Ordem denegada. (HC 109599, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 26/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-048 DIVULG 12-03- 2013 PUBLIC 13-03-2013).

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5.3 Regimes Prisionais e Modificação do Regime durante a execução

da pena

Em regra, o regime a ser cumprido vem estabelecido na sentença penal

condenatória ou quando for aplicada a pena em um acórdão pelo Tribunal, pois a

fixação do regime inclui uma das fases da individualização da pena (Art. 59, inciso III,

do CP e Art. 110 da LEP). Inclusive, será estabelecido conforme as regras contidas no

artigo 33, §2º e §3º e artigo 59, ambos do Código Penal.

Entretanto, pode ocorrer de existirem processos distintos, que ainda não

iniciaram a execução da pena, neste caso o resultado da soma das condenações

determinará o novo regime.

Por exemplo: Cross Fox possui uma condenação por um delito de roubo

praticado em Porto Alegre/RS, cuja pena aplicada foi de 5 anos, em regime

semiaberto; em comarca distinta, Caxias do Sul/RS, Cross Fox possui outra

condenação à pena de 6 anos, em regime semiaberto. Nesta situação quando Cross

Fox começar a cumprir a pena, o Juiz da Vara de Execução ao verificar a existência de

duas condenações a serem cumpridas, determinará a soma das penas, no caso

totalizará 11 anos, consequentemente o regime prisional será o fechado pelo resultado

apontado.

De outro modo, caso sobrevenha nova condenação durante o cumprimento de

uma pena, a determinação do regime será feita através da soma do restante da pena

que está sendo cumprida com a nova condenação, conforme dispõe o parágrafo único

do artigo 111 da Lei de Execução Penal, vejamos: “Sobrevindo condenação no curso da

execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para

determinação do regime”.

Imagine se Cross Fox estivesse executando uma pena de 10 anos de reclusão e

no momento faltasse 2 anos para terminar, caso sobrevenha nova condenação por

outro crime a 8 anos de reclusão, para determinação do novo regime, deverá ser

somada a nova condenação (8 anos) + o restante da pena em execução (2 anos), o total

do somatório, no caso 10 anos, determinará o novo regime, que pela quantidade

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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resultará na imposição de regime fechado. Destaca-se que nessa situação ocorrerá

uma hipótese de regressão de regime (Art. 118, inciso II, da LEP), que será estudada

nos itens seguintes.

Em todas as situações, da mesma forma que ocorre na aplicação da pena, em

que o juiz se socorre da previsão contida no artigo 33, §2º, do Código Penal para a

fixação de regime, na execução penal o resultado da soma deverá ser enquadrado nas

regras do artigo 33 do Código Penal.

5.4 Unificação de Penas

O termo unificação, teoricamente, deveria ser utilizado nos casos em que se

evidencia alguma hipótese de crime continuado (Art. 71 do CP) ou de concurso formal

perfeito (Art. 70, caput, 1ª parte, do CP), pois nesses casos muito embora tenhamos

mais de um crime, para fins de aplicação de pena, considera-se a pena de um deles,

se idênticas, ou a mais grave, se diferentes, e aumenta-se de 1/6 a 2/3 (sistema da

exasperação). Em outros termos, pode transformar diversas penas em uma, por

determinação legal.

Destaca-se que caso não tenha sido observada a ocorrência de crime

continuado pelo Juiz da condenação, pois geralmente essas hipóteses são apuradas

no mesmo processo, se isso for constatado na execução da pena, deverá o juiz fazer a

unificação da pena, aplicando a exasperação aqui na fase da execução. Veja o recente

julgado exemplificando a questão.

Por fim, fala-se também em unificação de pena, no caso do artigo 75 do Código

Penal, para fins de delimitar o cumprimento da pena em 40 anos, ocasião em que para

fins de cálculo de progressão de regime, livramento condicional permanecerá o total

da pena, como orienta a súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite

de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é

considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou

regime mais favorável de execução”.

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Chama-se atenção para o fato de que o termo unificação de penas é utilizado de

diversas formas na execução pena, muitas vezes gerando confusão com a hipótese de

soma de penas, pois o artigo 111 da Lei de Execução Penal não traz qualquer conceito

a respeito de cada expressão, somente refere que o regime prisional será fixado pelo

resultado da soma ou unificação das penas.

AGRAVO EM EXECUÇÃO. UNIFICAÇÃO DE PENAS DECORRENTE DE CONTINUIDADE DELITIVA.

DECISÃO MANTIDA. As práticas delituosas atinentes aos processos nºs 010/2.13.0002498-1 e

5006934-02.20034047107 aconteceram em intervalo de tempo inferior a 30 dias (entre

22/01/2013 e 13/02/2013). Ademais, são da mesma espécie e se perfectibilizaram de maneira

muito semelhante, consistindo ambas em roubo majorado pelo uso de arma de fogo e pelo

concurso de pessoas. [...] Decisão mantida. AGRAVO MINISTERIAL DESPROVIDO. UNÂNIME.

(Agravo Nº 70076880152, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ícaro

Carvalho de Bem Osório, Julgado em 10/05/2018).

CONFERIR

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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5.5 Regime disciplinar diferenciado: art. 52, LEP

Redação Anterior Vigência da Lei nº 13.964/19

Art. 52: A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.

Art. 52: A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie; II - recolhimento em cela individual; III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas; IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso; V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário; VI - fiscalização do conteúdo da correspondência; VII - participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.

§ 1º O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do

§ 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros: I - que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade;

Alterações significativas ocorreram em virtude da aplicação da Lei nº

13.964/19 (Pacote Anticrime)

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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estabelecimento penal ou da sociedade.

II - sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da Federação, o regime disciplinar diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal. § 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso: I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem ou da sociedade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, considerados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a operação duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário. § 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar diferenciado deverá contar com alta segurança interna e externa, principalmente no que diz respeito à necessidade de se evitar contato do preso com membros de sua organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais. § 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário. § 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber a visita de que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Atenção!

A inclusão do preso no Regime Disciplinar Diferenciado, de acordo com o artigo

54 da Lei de Execução Penal, dependerá de requerimento circunstanciado elaborado

pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa.

A decisão judicial que incluir o preso no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)

será precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo

máximo de 15 dias, devendo ser fundamentada.

5.6 Progressão de regime

A Lei de Execução Penal adotou o sistema progressivo para o cumprimento da

pena, ou seja, a transferência do regime mais rigoroso para um menos rigoroso

mediante a observância de alguns requisitos, sendo “inadmissível a chamada

progressão per saltum de regime prisional", nos termos da Súmula 491 do STJ.

Para fins de progressão de regime, observa-se a pena total, nos termos da

Súmula 715 do STF e não o limite máximo de cumprimento da pena, previsto no artigo

75 do Código Penal.

Desta forma, quem estiver executando pena, poderá progredir, ainda que esteja

aguardando definição de recurso (Súmula 716 do STF), bastando o preenchimento do

requisito objetivo (lapso temporal) e subjetivo (bom comportamento), observando as

especificidades referentes à natureza do delito, vejamos:

• Requisitos para Progressão de Regime

O instituto da progressão de regime sofreu profunda alteração com a Lei

13.964/2019. Vejamos o antigo tratamento legal:

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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A progressão de regime exige o preenchimento de dois requisitos, quais sejam:

requisito subjetivo e objetivo.

Em relação ao requisito subjetivo, foi mantido como requisito para concessão

da progressão o atestado de bom comportamento carcerário emitido pelo Diretor do

estabelecimento prisional, nos termos do artigo 112, § 1º, da LEP. Aliás, o parágrafo 7º

do art. 112 da LEP dispõe que o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano da

ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para

a obtenção do direito.

Entretanto, no tocante ao lapso temporal, previamente estabelecido para o

alcance da progressão ao regime mais brando, o legislador optou por estabelecer uma

exigência em percentual de cumprimento de pena, não mais em formato de fração,

excetuando a hipótese da progressão especial para mulheres do parágrafo 3º do

artigo em questão, restando a seguinte previsão na nova redação:

Progressão de Regime Antes da Lei 13.964/2019

Base Legal anterior à Lei 13.964/2019

1/6 Primários e Reincidentes - Crimes Comuns

Antiga redação do Artigo 112 da Lei 7.210/84

2/5 Primários – Crimes Hediondos e Equiparados Antiga redação do artigo 2º, §2º, da

Lei 8.072/90 3/5 Reincidentes – Crimes Hediondos e

equiparados

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Progressão de Regime: atual art. 112 da LEP

16% da pena

Primário crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;

20% da pena

Reincidente específico em

25% da pena

Primário crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;

30% da pena

Reincidente específico em

40% da pena

condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;

50% da pena

se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

60% da pena

se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado (reincidência específica);

70% da pena

se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional (reincidência específica).

Somente estarão sujeitos aos novos prazos – que eventualmente trouxerem um

tratamento mais gravoso à progressão de regime – aqueles que praticarem crimes a

partir da data da vigência do Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), qual seja, dia 23 de

janeiro de 2020. Neste sentido, sempre que a nova lei trouxer algum benefício ao

apenado deverá retroagir, nos termos do artigo 5º, XL, da CF.

Dentro deste contexto, não se pode olvidar a Súmula 471 do STJ, que assegura

a aplicação do prazo de 1/6 para todos os crimes, inclusive os hediondos e

equiparados, desde que praticados antes do dia 29 de março de 2007, haja vista os

efeitos atribuídos ao habeas corpus n. 82.959-7/SP, julgado pelo Supremo Tribunal

Federal, em fevereiro de 2006.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Devemos ficar atentos às lacunas existentes na legislação atual, vejamos:

• Lacuna legislativa – Progressão de Regime nos casos de reincidência em

crimes comuns:

Em relação aos reincidentes não específicos em CRIMES COMUNS a legislação

não trouxe tratamento claro para alguns casos envolvendo apenados reincidentes,

caracterizando uma lacuna, omissão legislativa.

Portanto, quando não houver enquadramento na reincidência específica como

a lei exige, deverá ser adotada uma interpretação mais favorável, atenção aos

exemplos:

a) Apenado está cumprindo pena por ROUBO, mas já possui SPCTJ por furto,

crime sem violência, o que fez caracterizar a sua reincidência, porém não

específica em crime com violência, neste caso progredirá incidindo sobre a pena do

ROUBO o quantum de 25% (fração destinada aos primários, pois não podemos

equipará-lo ao reincidente específico em crime com violência e exigir 30% - seria uma

interpretação mais gravosa da condição dele).

b) Apenado está cumprindo pena por FURTO (sem violência), porém já

possuía SPCTJ por ROUBO (com violência), neste caso progredirá incidindo sobre a

pena de FURTO o quantum de 20% (neste caso a interpretação não piora a condição

do apenado, pois ele é reincidente em com um crime mais grave, e está sendo tratado

como reincidente em crime sem violência).

• Lacuna legislativa – Progressão de Regime e Crime Hediondo. Reincidente

não específico:

O novo artigo 112, VII, da LEP prevê a aplicação do lapso temporal de 60% para

os casos de delitos hediondos ou equiparados quando reincidentes específicos nestes

crimes. Na legislação anterior não havia esta previsão e a jurisprudência entendia que

bastava a reincidência, não importando se comum ou específica, para permitir a

incidência de 3/5 como lapso temporal para progredir sobre a pena referente ao delito

hediondo ou equiparado.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Atualmente, diante da lacuna legislativa se a pessoa tiver sido condenada por

um crime hediondo ou equiparado, e for reincidente em crime comum, deverá ser

aplicado 40%, pois a aplicação de 60% é destinada somente aos reincidentes

específicos, resultando aqui uma lacuna legislativa que conduz a uma situação melhor

ao reincidente não específico que possui uma condenação por crime hediondo ou

equiparado.

Por exemplo, condenado por crime de estupro (crime hediondo), que já possui

uma condenação transitada em julgado por um crime de furto (crime comum), neste

caso será aplicado 40% sobre a pena do crime de estupro.

Segue julgado que demonstra o entendimento, vejamos:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. ART. 112, VII, DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL (INCLUÍDO PELA LEI N. 13.964/2019). PACOTE ANTICRIME. CÁLCULO PRISIONAL. PLEITO PELA APLICAÇÃO DO PERCENTUAL DE 60% (OU 3/5) DO CUMPRIMENTO DA PENA PARA PROGRESSÃO DE REGIME. RECORRIDO REINCIDENTE NÃO ESPECÍFICO EM CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. [...] 2. Com efeito, os incisos VII e VIII do art. 112 da LEP, introduzidos pela Lei n. 13.964/2019, são taxativos e abarcam tão somente a hipótese de reincidência na prática de crime hediondo ou equiparado. O apenado foi sentenciado por delito hediondo (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), tendo sido reconhecida sua reincidência genérica, decorrente de condenação anterior pela prática de crime comum (e-STJ fl. 52). Para tal hipótese - condenado por crime hediondo, mas reincidente em razão da prática de crime comum -, como bem ponderou o Tribunal a quo (e-STJ fl. 54), inexiste, na novatio legis, percentual a disciplinar a progressão de regime ora pretendida, sendo certo que os percentuais de 60% (sessenta por cento) e 70% (setenta por cento) foram destinados aos reincidentes específicos.3. Assim, na espécie, considerando que o apenado, condenado por crime hediondo (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), é reincidente em crime comum (reincidência genérica), conforme se extrai dos presentes autos (e-STJ fl. 52), impõe-se, ante a omissão legislativa, o uso da analogia in bonam partem, para aplicar o percentual equivalente ao que é previsto para o primário (art. 112, inciso V, da LEP), qual seja, o de 40% (quarenta por cento), para fins de cálculo da progressão de regime prisional, em relação ao crime anterior praticado. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1918050/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/05/2021, DJe 07/05/2021).

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Observe que no caso do informativo do STJ a situação específica se fosse tratada

apenas com a aplicação da legislação anterior ao Pacote Anticrime resultaria na aplica

de 3/5 sobre a pena do condenado por crime hediondo com resultado morte que fosse

reincidente independente de ser específico ou não (o equivalente a 60%). Neste caso,

com resultado morte, a legislação mais benéfica não foi a que prevê 40% e sim a que

aplica 50%. Temos que pensar um pouquinho mais para entender bem esta questão,

mas resta evidente que entre a legislação antiga que trazia a exigência de 3/5 com a

nova que para crimes hediondos com resultado morte traz 50%, a segunda é melhor.

• Informativo n. 681/2020 do STJ:

Execução Penal. Progressão de regime. Crime hediondo. Reincidente não

específico. Requisito objetivo. Lei n. 13.964/2019 (Pacote anticrime). Lacuna na nova

redação do art. 112 da LEP. Interpretação in bonam partem.

A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou

equiparado com resultado morte deve observar o que previsto no inciso VI, a, do

artigo 112 da Lei de Execução Penal.

No caso condenado por crime hediondo com resultado morte, reincidente não

específico, diante da lacuna na lei, deve ser observado o lapso temporal relativo ao

primário. Impõe-se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do referido artigo da

Lei de Execução Penal, exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a

progressão de regime.

• Falta grave e Progressão de Regime

O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de

liberdade interrompe o prazo para a obtenção da progressão de regime, resultando no

reinício da contagem do requisito objetivo, que terá como base a pena remanescente,

nos termos do artigo 112, §6º, da LEP. Trata-se da incorporação do entendimento

jurisprudencial, pois o novel parágrafo incorporou o teor da Súmula 534 do STJ.

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• Progressão de Regime especial para mulheres

Não houve alteração no artigo 112 da Lei de Execução Penal no tocante à

progressão de regime especial para mulheres gestantes ou que forem mães ou

responsáveis por criança ou pessoa com deficiência, prevalecendo a exigência dos

seguintes requisitos de forma cumulativa, que constam no respectivo §3º:

1) não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

2) não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;

3) ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

4) ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor

do estabelecimento;

não ter integrado organização criminosa.

Destaca-se que o cometimento de fato definido como crime doloso ou falta

grave, conforme dispõe a lei, implica na revogação da progressão de regime

diferenciada (Art. 112, §4º, da LEP).

• Tratamento diferenciado para integrantes de organização criminosa –

reconhecidos expressamente em sentença – Art. 2º, § 9º, da Lei n°

12.850/2013

Atualmente, com o Pacote Anticrime em vigência (Lei 13.964/2019), foi

introduzida na legislação uma norma que assegura a vedação da progressão de regime

ou do livramento condicional, bem como de outros benefícios, para os casos de

integrante de organização criminosa, expressamente reconhecido em sentença, ou de

condenado por crime praticado por meio de organização criminosa, quando houver

elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo, conforme

consta no artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/2013.

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• Progressão para o regime aberto

Frise-se, a progressão para o regime aberto possui algumas condições

específicas, previstas nos artigos 114 e 115, ambos da Lei de Execução Penal, como por

exemplo, estar trabalhando ou possuir condições de trabalhar imediatamente. Neste

caso, convém reforçar que a inexistência, por exemplo, de vaga para trabalho, não

autoriza o juiz a suprir essa condição impondo uma pena restritiva de direito como a

prestação de serviços à comunidade, pois caracterizaria uma afronta à legalidade.

Inclusive, há vedação expressa na Súmula 493 do STJ, matéria já cobrada no exame

da OAB.

• Exame Criminológico e Progressão de Regime

No tocante ao exame criminológico, até 2003 era obrigatória a realização para

que se alcançasse a progressão de regime, mas com a redação dada ao artigo 112 da

Lei de Execução Penal, pela Lei nº 10.792/03, foi retirada a obrigatoriedade.

Entretanto, é possível que o Juiz exija a realização do exame, desde que em

decisão motivada, nos termos da Súmula 439 do STJ e Súmula Vinculante nº 26 do

STF, parte final, pois o início desta súmula está prejudicado pela alteração legislativa

que permite a progressão de regime para esses delitos.

• Progressão de regime e crimes contra administração pública

Nos casos de condenados por crimes contra a administração pública, aplica-se,

como requisito para progressão, além do tempo e do comportamento, a reparação do

prejuízo gerado ao erário, conforme dispõe o artigo 33, §4º, do Código Penal.

• Porte e Posse Ilegal de arma de fogo de uso restrito – Crime Hediondo

Em outubro de 2017 foi inserido como crime hediondo, no artigo 1°, parágrafo

único, da Lei nº 8.072/90, odelito de porte e posse ilegal de arma de fogo de uso

restrito. A alteração teve vigência a partir do dia 27 de outubro de 2017.

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Dessa forma, a nova lei e o tratamento diferenciado oriundo da condição de

delito hediondo somente poderá incidir em crimes praticados a partir do dia 27 de

outubro de 2017, pois trata-se de lex gravior, logo não poderá retroagir para alcançar

fatos cometidos antes de sua promulgação.

Em outros termos, por exemplo, se alguém condenado antes da inclusão deste

crime no rol dos delitos hediondos pretender progredir, deverá ser observado o artigo

112 da Lei de Execução Penal, 1/6 e bom comportamento, como requisitos.

Da mesma forma é importante ter bem definido os delitos que passaram a

integrar o rol de crimes hediondos com o Pacote Anticrime, para verificar o tratamento

diferenciado na execução, somente quando praticados a partir do dia 23 de janeiro de

2021. Por exemplo, o crime de roubo com emprego de arma de fogo.

5.7 Exame criminológico

Há entendimento sumulado sobre progressão de regime e a exigência de exame

criminológico no STF e STJ.

Os Tribunais Superiores têm entendido que, muito embora a nova redação do

artigo 112 da Lei de Execução Penal tenha excluído a exigência de realização de exame

criminológico para obtenção de progressão de regime, não caracteriza

constrangimento ilegal a submissão do apenado à realização de exame, desde que

devidamente fundamentada a necessidade pelo Juiz da Vara de Execução Criminal.

Neste sentido, temos as seguintes súmulas:

• Súmula Vinculante nº 26 do STF: Para efeito de progressão de regime no

cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução

observará a inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei nº 8.072/90, sem prejuízo de

avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do

benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de

exame criminológico.

• Súmula 439 do STJ: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do

caso, desde que em decisão motivada.

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Falta grave e Progressão de Regime

• Súmula 534 do STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo

para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do

cometimento dessa infração.

5.8 Regressão de Regime: art. 118, LEP

A execução da pena está sujeita a forma regressiva quando o apenado praticar

fato definido como crime doloso ou falta grave (Art. 50 e 51, ambos da LEP).

Nesse caso, antes da regressão de regime deverá ser ouvido, previamente, o

apenado (Art. 118, § 2°, da LEP) audiência dejustificativa, sob pena de nulidade. A

regressão em caráter definitivo, esta prevista no artigo 118, inciso I, da Lei de Execução

Penal exige a oitiva prévia. O entendimento jurisprudência que afasta a oitiva refere-se

à regressão cautelar.

Inclusive, atualmente, a Súmula 533 do STJ que exigia a instauração de PAD

(Procedimento Administrativo Disciplinar) para o reconhecimento de falta disciplinar

está prejudicada pelo seguinte entendimento:

HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - PAD. NULIDADE. OITIVA JUDICIAL DO SENTENCIADO SOB DEFESA REGULAR. TEMA DE RECURSO REPETITIVO NO STF - RE 972.598/RS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I [...] II O col. Supremo Tribunal Federal já enfrentou a matéria aqui posta, em sede de recurso repetitivo representativo da controvérsia, no RE n. 972.598/RS, assentando a seguinte tese: A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena? (RE n. 972.598, Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 06/08/2020). III- No mais, "Para afastar a conclusão do acórdão, absolver o agravado ou desclassificar sua conduta, seria necessário reexaminar fatos e provas, providência incabível na via do habeas corpus, de cognição limitada" (AgRg no HC n. 414.750/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de

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1º/08/2018). Habeas corpus não conhecido. (HC 620.019/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 09/12/2020, DJe 15/12/2020).

Em relação à exigência de sentença transitada em julgado para o

reconhecimento da falta grave pela prática de crime doloso, há entendimento

sumulado vejamos:

Súmula 526 do STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de

fato definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em

julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração

do fato.

As faltas graves estão descritas no artigo 50, 51 e 52 (primeira parte), todos da

Lei de Execução Penal. O Pacote Anticrime introduziu uma nova hipótese de falta grave

a recusa em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético (Art. 50,

inciso VIII, da LEP):

• quando o apenado sofrer condenação, por crime anterior, cuja soma da pena

restante com a nova condenação torne impossível a manutenção do regime (Art.111).

• nos casos de violação com os deveres do monitoramento eletrônico, quando o

Juiz da Execução adotar essa opção, artigo 146, alínea “c”, parágrafo único, da Lei de

Execução Penal.

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(STJ - jurisprudência) Diante da inexistência de legislação específica quanto ao prazo

prescricional para apuração de falta grave, deve ser adotado o menor lapso prescricional

previsto no art. 109 do CP, ou seja, o de 3 anos para fatos ocorridos após a alteração dada

pela Lei n. 12.234, de 5 de maio de 2010, ou o de 2 anos se a falta tiver ocorrido até essa

data. Precedentes: AgRg nos EDcl no REsp 1248357/MS, Rel. Ministra REGINA HELENA

COSTA, QUINTA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 25/11/2013; AgRg no REsp

1414267/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em

05/11/2013, DJe 25/11/2013;

A jurisprudência tem admitido a chamada regressão cautelar, que dispensa a

oitiva prévia do apenado (Art. 118, §2º, LEP), passando a exigir audiência somente nos

casos de regressão definitiva.

5.9 Prisão domiciliar: art. 117, LEP

Para cumprir a pena em residência particular o preso deverá estar em regime

aberto e se enquadrar em uma das quatro hipóteses do artigo 117 da Lei de Execução

Penal, quais sejam:

• condenado maior de setentaanos;

• condenado acometido de doença grave;

• condenada com filho menor ou deficiente físico ou metal;

• condenada gestante.

Atentar para a Súmula Vinculante nº 56 do STF, vejamos: “A falta de estabelecimento

penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais

gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no

RE641.320/RS.

Precedente representativo da Súmula Vinculante nº 56 do STF:

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: posicionamento jurisprudencial retirado do

site do Superior Tribunal de Justiça:

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"3. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos

regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São

aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como 'colônia agrícola, industrial'

(regime semiaberto) ou 'casa de albergado ou estabelecimento adequado'

(regimeaberto) (art.33, §1º, alíneas "b" e "c"). No entanto, não deverá haver alojamento

conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do regime fechado.

4. Havendo déficit de vagas, deverão serdeterminados: (i) a saída antecipa da de

sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada

ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de

vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado

que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas

propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado." (RE 641320, Relator

Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 11.5.2016, DJe de8.8.2016).

5.10 Remição de pena: hipóteses legais

A remição é o computodo período trabalhado ou estudado com o tem pode

pena cumprida, nos termos do artigo 128 da Lei de Execução Penal.

É possível remir tanto pelo trabalho como pelo estudo, inclusive, cumulando as

duas possibilidades.

Todavia, é importante se ater nas regras contidas nos artigos 126 e seguintes da

Lei de Execução Penal.

Por exemplo, remição por trabalho, somente nos casos de regime fechado e

semiaberto, a Lei de Execução Penal omitiu a possibilidade de remição no caso de

regime aberto. Os Tribunais superiores entendem que como não há previsão legal e o

trabalho é requisito para ingressar no regime aberto, não há direito a remição neste

caso.

Já a remição por estudo, é possível em todos os regimes prisionais, inclusive, na

última etapa do cumprimento de pena, ou seja, quando o apenado estiver em

livramento condicional.

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• Trabalho prisional

Espécies de Trabalho Prisional:

a) Serviço interno: qualquer regime poderá trabalhar internamente e a qualquer

momento, desdeque existam vagas.

b) Serviço externo:

Em relação ao serviço externo, é importante observar que o artigo 37 da Lei de

Execução Penal atribui ao Diretor do Estabelecimento Prisional a concessão da

autorização. Todavia, é importante registrar que há forte posicionamento doutrinário

e deu so prático no cotidiano forense de que o trabalho prisional no âmbito externo

deverá ser autorizado pelo Juiz da VEC (Neste sentido: Sídio Rosa de Mesquita Júnior,

Norberto Avena, entre outros).

5.11 Permissão de saída e saída temporária

Podem obter permissão de saída, os apenados que cumprem pena em regime

fechado, semiaberto e provisórios, mediante escolta, em duas hipóteses:

• falecimento ou doença grave CCADI (cônjuge, companheiro, ascendente,

descendente ou irmão);

• necessidade de tratamento médico.

Já a saída temporária, sem vigilância, poderá ser concedida a pena dos que

cumprem pena em regime semiaberto.

Vale destacar que foi introduzida em 2010 a possibilidade da utilização de

monitoramento eletrônico, no artigo 122, parágrafo único, da Lei de Execução Penal

(redação dada pela Lei nº 12.258/10).

Em outras palavras, a ausência de vigilância direta não impede que o juiz

determine a monitoração eletrônica. Constitui uma faculdade do Juiz, não uma

obrigação legal.

Para obtenção da saída temporária, os apenados em regime aberto, deverão

preencher os seguintes requisitos:

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• comportamento adequado;

• cumprimento mínimo de 1/6 para apenado primário e de, no mínimo, ¼ para

reincidentes;

• compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

O período de deuração conforme a lei não poderá ser superior a 7 dias, podendo

ser renovadas por mais 4 vezes, logo faz jus a 35 dias de saída. Com intervalo de 45

dias entre as saídas. Quando se tratar de saída para fins de estudo o tempo será o

necessário para a realização das atividades discentes.

A Lei nº 12.258/10 também inovou ao estabelecer que o juiz imporá condições

ao apenado, para obtenção das saídas temporárias, permitindo que além das previstas

em lei outras poderão ser estabelecidas, vejamos a nova redação do §1º do artigo 124

daLei de Execução Penal:

Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes

condições, entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a

situação pessoal do condenado:

I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo dobenefício; II - recolhimento à residência visitada, no períodonoturno; III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

O Pacote Anticrime inseriu o § 2º, no artigo 122 da Lei de Execução Penal e dipõe

que não terá direito à saída temporária o condenado que cumpre pena por praticar

crime hediondo com resultado morte. Infere-se que a lei foi restritiva ao impedir o

instituto aos delitos hediondos, ou seja, aqueles previstos no artigo 1º da Lei nº

8.072/90.

Súmula 520 do STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução

penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do

estabelecimento prisional.

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5.12 Monitoração eletrôncia

O monitoramento eletrônico é uma faculdade judicial, pois, de acordo com a lei,

poderá ser definido pelo juiz nos casos definidos em lei, desde que seja necessário.

A lei admite a monitoração eletrônica em duas situações: prisão domiciliar e

saída temporária no regime semiaberto.

O instituto está previsto a partir do artigo 146 – B da Lei de Execução Penal.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Livramento condicional

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

O livramento condicional como o próprio nome permite concluir é a liberdade

mediante condições. Trata-se da última etapa do cumprimento de pena, não se

confundido com progressão de regime, pois o livramento condicional não integra o

sistema progressivo.

O instituto é regulado pelos artigos 83 a 90, todos do Código Penal e artigos 131

a 146, todos da Lei de Execução Penal, a análise é conjunta dos dois dispositivos legais.

Nesta hipótese, o apenado é liberado do estabelecimento prisional, ficando

submetido as condições previstas no artigo 132 da Lei de Execução Penal, condições

obrigatórias e condições facultativas, que dependerão de cada caso.

Os requisitos a serem preenchidos estão expostos no artigo 83 do Código Penal.

Importante destacar que o lapso temporal exigido para fins de preenchimento

do requisito objetivo não é interrompido pela prática de falta grave, nos termos da

súmula 441 do STJ: “A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento

condicional”.

6.1 Requisitos

Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva,

encontram-se no artigo 83 do Código Penal.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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• Requisitos objetivos:

a) Natureza e quantidade da pena: art. 83, caput, CP:

Tal como ocorre com a suspensão condicional, somente a pena privativa de

liberdade pode ser objeto do livramento condicional. Esse instituto poderá ser

concedido à pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos (Art. 83 do CP).

A soma das penas é permitida para atingir esse limite mínimo, mesmo que tenham sido

aplicadas em processos distintos.

b) Cumprimento de parte da pena: art. 83, incisos I, II e IV, CP:

Nos termos do artigo 83, incisos I e II, do Código Penal, o criminoso primário

deve cumprir mais de 1/3 da pena privativa de liberdade.

Assim também o reincidente, desde que não o seja em crime doloso. Para tanto,

é necessário que apresentem bons antecedentes.

Quando o condenado é reincidente em crime doloso, deve cumprir mais da

metade da pena. Por ausência de previsão legal, o agente primário portador de maus

antecedentes deverá cumprir 1/3 para o livramento condicional, já que o inciso

restringe somente à hipótese de reincidente em crime doloso (não é possível analogia

in malam partem).

Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito

de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, desde que não seja

reincidente específico em tais delitos, deve cumprir mais de 2/3 da pena (Art. 83,

inciso V, do CP). Assim, sendo reincidente específico não é admissível o livramento

condicional. Há reincidência específica, para efeito da disposição, quando o sujeito, já

tendo sido condenado por qualquer dos delitos hediondos ou demais por sentença

transitada em julgado, vem novamente a cometer um deles.

O Pacote Anticrime trouxe uma nova vedação para o livramento condicional no

caso de crimes hediondos ou equiparado com resultado morte não terá direito ao

livramento condicional (Art. 112, LEP). Registra-se que a restrição somente srá aplicada

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Artigo 44 da Lei nº 11.343/06: Prazo para Livramento condicional – Associação ao Tráfico

não é delito equiparado a crime hediondo, porém conforme a lei de drogas o prazo para

obtenção de livramento condicional é de mais de 2/3.

para quem praticar delitos desta natureza a partir da vigência do pacote. Do contrário

estaríamos violando o artigo 5º, inciso XL, da CF/88.

Há também a previsão do artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/13 que em caso de

manutenção de vínculos com organização criminosa reconhecida expressamente na

sentença como integrante, não terá direito ao livramento condicional.

O artigo 84 do Código Penal reza que “as penas que correspondem a infrações

diversas devem somar-se para efeito do livramento”.

• Requisitos subjetivos:

Os requisitos subjetivos estão no artigo 83, incisos III e IV, sendo exigido o bom

comportamento carcerário atestado pelo diretor, por força do artigo 112, §1º, da Lei de

Execução Penal. Ressalta-se que com o pacote anticrime foi inserida a exigência de

ausência de prática de falta grave nos últimos 12 meses.

Requisitos do livramento condicional Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: III – comprovado: a) bom comportamento durante a execução da pena; b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;

ATENÇÃO

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O exame criminológico poderá ser exigido, desde que devidamente

fundamentada a decisão que o determina (Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame

criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”).

6.2 Hipóteses de revogação do Livramento Condicional

O livramento condicional poderá ser revogado por imposição legal ou por

faculdade judicial. Assim sendo, são duas hipóteses: a) revogação obrigatória; e b)

revogação facultativa.

a) Revogação Obrigatória (Artigo 86 do CP): Ocorre quando o liberado vem a

ser condenado irrecorrivelmente à pena privativa de liberdade por crime praticado

antes ou durante o livramento condicional.

b) Revogação Facultativa (Art. 87 do CP): O juiz poderá revogar o livramento

condicional se o liberado descumprir as condições do artigo 132 da Lei de Execução

Penal ou vier a ser condenado irrecorrivelmente por contravenção penal ou por crime

cuja pena não seja privativa de liberdade.

Os efeitos da revogação dependerão se o motivo ocorreu antes ou durante o

período de provas, ou seja, o perído do livramento condicional, conforme os artigos

88 do Código Penal e artigos 141 e 142, ambos da Lei de Execução Penal.

Frise-se: nos casos de revogação obrigatória em razão da superveniência de

sentença penal condenatória irrecorrível por crime praticado durante o livramento

condicional, a revogação resulta na perda do período de provas e na perda do direito

ao livramento condicional em relação à condenação em que violou as regras da

liberdade condicional. Caso o crime que gerou a sentença irrecorrível tenha sido

praticado antes do livramento condicional, computa-se na pena o período de prova,

período que esteve livre, podendo ser concedido novo livramento com a soma das

condenações.

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6.3 Suspensão do Livramento Condicional

Conforme consta expresso no artigo 86 do Código Penal, somente revoga-se

o livramento condicional se sobrevier sentença penal condenatória transitada em

julgado por crime durante o período de prova, logo atente-se ao fato de ocorrer a

suposta prática de crime durante a liberdade condicional. Neste caso, não poderá

haver revogação, e sim a suspensão do livramento, nos termos do artigo 145 da Lei de

Execução Penal.

A decisão sobre a revogação em si, bem como seus efeitos, ficará sujeita ao

trânsito em julgado referente ao novo fato.

• Extinção do Livramento Condicional

O cumprimento do período de prova sem que haja a revogação resulta na

extinção da pena, nos termos do artigo 90 do Código Penal.

Em 2018, foi publicada a Súmula 617 do STJ que refere: “A ausência de

suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de

prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena”.

6.4 Incidentes da Execução Penal

• Conversão da Pena Privativa de Liberdade (PRD) em Pena Restritiva de Direito

(PRD): PPL não superior a dois anos; condenado em regime aberto; cumprido pelo

menos ¼; antecedentes e personalidadeindiquem (artigo 180 da LEP).

• Conversão da PRD em PPL (artigo 181 da LEP): ocorrerá na forma do artigo 45 do

CP.

• Conversão da Pena Privativa de Liberdade em Medida de Segurança (artigo 183

da LEP)

• Desvio ou Excesso de Execução (artigo 185 da LEP)

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6.5 Anistia, Graça, Indulto

São institutos que extinguem a punibilidade, conforme o artigo 107, inciso II, do

Código Penal.

A anistia “é a declaração pelo Poder Público de que determinados fatos se

tornam impuníveis por motivo de utilidade social. O instituto volta-se a fatos, e não a

pessoas. Pode ocorrer antes da condenação definitiva–anistia própria–ou após o

trânsito em julgado da condenação– anistia imprópria. Tem a força de extinguir a ação

e a condenação. Primordialmente, destina-se a crimes políticos, embora nada impeça

a sua concessão a crimes comuns.” A anistia somente é concedida através de lei

editada pelo Congresso Nacional.

A graça, por sua vez, é “a clemência destinada a uma pessoa determinada, não

dizendo respeito a fatos criminosos. Trata-se de um perdão concedido pelo Presidente

da República, dentro de sua avaliação discricionária, não sujeita a qualquer recurso,

deve ser usada com parcimônia. É uma medida de caráter excepcional, destinada a

premiar atos meritórios extraordinários praticados pelo sentenciado no cumprimento

de sua reprimenda ou ainda atender condições pessoais de natureza especial,

bemcomo a corrigir equívocos na aplicação da pena ou eventuais erros judiciários.” É

concedida mediante análise do casoindividual.

De acordo com o artigo 5°, inciso XLIII, não é permitida nem a graça nem a

anistia para delitos considerados hediondos.

Por fim, o indulto também é uma causa extintiva da punibilidade, no entanto é

concedido de forma coletiva, ou seja, tornou-se comum ao final de cada ano a

publicação de um Decreto concedendo Indulto para todos aqueles que preencherem

determinadas condições.

No ano de 2007, foi publicado no dia 11 de dezembro o Decretonº 6.294/07, o

qual consta emanexo para conhecimento.

Assim sendo, qualquer preso que preencher as condições passará a ter direito

ao indulto, devendo ser apenas declarado pelo Juiz da Vara de Execuções.

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Destaca-se que no mesmo Decreto há previsão legal para a concessão de

Comutação de Pena, porém esta não se confunde com o Indulto, pois não se trata de

extinção da punibilidade, mas sim um abatimento da pena, desde que haja o

preenchimento dos requisitos (ver artigos 2°e 4°do Decreto em anexo–somente para

exemplificar, pois o Decreto não poderá ser objeto de questionamento na prova).

6.6 Aspectos gerais relacionados à execução da medida de segurança

• Espécies

a) Internação e tratamento ambulatorial (Art. 96 do CP): prazo máximo de

cumprimento da Medida de Segurança – Súmula 527 do STJ: “O tempo de duração da

medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente

cominada ao delito praticado”.

b) Conversão da Pena Privativa de Liberdade em Medida deSegurança – artigo 183 da

LEP.

c) Agravo em Execução – Efeito suspensivo – artigo 179 da LEP.

• Jurisprudência selecionada:

Conversão de Pena Restritiva de Direito em Pena Privativa de Liberdade –

Incompatibilidade de cumprimento simultâneo:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. CONVERSÃO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS EM PRIVATIVA DE LIBERDADE. POSSIBILIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM CUMPRIMENTO DA PENA ALTERNATIVA ANTERIORMENTE IMPOSTA. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Para a caracterização do crime de associação para o tráfico é necessário o dolo de se associar com estabilidade e permanência. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior firmou-se no sentido de que, no caso de nova condenação a penas restritivas de direito a quem esteja cumprindo pena privativa de liberdade em regime fechado ou semiaberto, é inviável a suspensão do cumprimento daquelas - ou a execução simultânea das penas. Nesses casos, as penas restritivas de direito devem ser convertidas em sanção privativa de liberdade, unificando-se as reprimendas, nos termos dos arts. 181 e 111 da Lei de Execução Penal, respectivamente, não sendo aplicável o art. 76 do

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Código Penal (ut, HC 400.480/RS, Rei. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe 21/9/2017). 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 1880437/SE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 10/08/2021, DJe 16/08/2021).

Saída Temporária Informativo 590 – STJ:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRAZO MÍNIMO ENTRE SAÍDAS TEMPORÁRIAS. RECURSO REPETITIVO. TEMA 445.As autorizações de saída temporária para visita à família e para participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, nãoseexige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP.

Conversão da Medida de Segurança em Pena:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO. SUPERVENIÊNCIA DE DOENÇA MENTAL. CONVERSÃO DE PENA PRIVATIVADELIBERDADEEMMEDIDADESEGURANÇA.INTERNAÇÃO. MANUTENÇÃO. TEMPO DE CUMPRIMENTO DA PENA EXTRAPOLADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. Em se tratando de medida de segurança aplicada em substituição à pena corporal, prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal, sua duração está adstrita ao tempo que resta para o cumprimento da pena privativa de liberdade estabelecida na sentença condenatória. Precedentes desta Corte. 2. Ordem concedida. (HC 373.405/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 21/10/2016).

Mandado de Segurança e efeito suspensivo no Agravo:

EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO PELO PARQUET ESTADUAL, COM O FITO DE ATRIBUIR EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO EM EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.ILEGITIMIDADE ATIVA. AGRAVO DESPROVIDO. I - "O manejo do mandado de segurança como sucedâneo recursal, notadamente com o fito de obter medida não prevista em lei, revela-se de todo inviável, sendo, ademais, impossível falar em direito líquido e certo na ação mandamental quando a pretensão carece de amparo legal" (HC n. 368.491/SC, Quinta Turma, Rel.Min.Joel Ilan Pacionik, DJe de 14/10/2016). II - Não cabe mandado de segurança com o escopo de dar efeito suspensivo ao agravo em execução. Ora, nos termos do art. 197 daLEP ("Das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo"), o recurso de agravo em execução não comporta efeito

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suspensivo, salvo no caso de decisão que determina a desinternaçãoou liberação de quem cumpre medida de segurança(precedentes). Agravo regimental desprovido. (AgRgnoHC380.419/SP, Rel.Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,julgado em 28/03/2017, DJe 25/04/2017).

Segunda Progressão – quantum Remanescente. Vale a data da decisão que

concedeu e não a data da efetiva transferência se não for culpa do acusado:

RECONTAGEM DO LAPSO DE 1/6 PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO.PERDA DOS DIAS REMIDOS: ART. 127 DA LEP. Em caso de falta grave, é de ser reiniciada a contagem do prazo de 1/6, exigido para a obtenção do benefício da progressão no regime de cumprimento da pena. Adotando-se como paradigma, então, o quantum remanescente da pena. Em caso de fuga, este prazo apenas começa a fluir a partir da recaptura do sentenciado (HC85.141-Primeira Turma).A jurisprudência desta colenda Corte firmou a orientação de que "o cometimento de falta grave implica a perda dos dias remidos, mostrando-se constitucional o artigo 127 da Lei nº7.210/84-Recurso Extraordinário nº452.994-7/RS, Plenário, julgamento realizado em 23 de junho de 2005, redator designado ministro Sepúlveda Pertence." Recurso ordinário em habeas corpus parcialmente provido.RHC 89031, Relator(a): Min. MARCOAURÉLIO, Relator(a) p/Acórdão: Min. CARLOSBRITTO, Primeira Turma, julgado em 28/11/2006, Dje -092DIVULG30-08-2007PUBLIC31-08-2007DJ31-08-2007 PP-00036 EMENT VOL-02287-03 PP-00595).

Associação ao tráfico não hediondo:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. CRIME NÃO CONSIDERADO HEDIONDO OU EQUIPARADO. BENEFÍCIOS. REQUISITO OBJETIVO. PROGRESSÃO DE REGIME E LIVRAMENTO CONDICIONAL. LAPSOS TEMPORAIS DISTINTOS. CUMPRIMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) NO CASO DE PROGRESSÃO E DE 2/3 (DOIS TERÇOS) PARA O LIVRAMENTO, VEDADA A SUA CONCESSÃO AO REINCIDENTE ESPECÍFICO. ARTS. 112 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E 44 DA LEI N. 11.343/2006. CONSTRANGIMENTO jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça reconhece que o crime de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei n. 11.343/2006) não figura no rol taxativo de delitos hediondos ou a eles equiparados, tendo em vista que não se encontra expressamente previsto no roltaxativo do art. 2º da Lei n. 8.072/1990. 2. Não se tratando de crime hediondo, não se exige, para fins de concessão de benefício da progressão de regime, o cumprimento de 2/5da pena, se o apenado for primário, e de 3/5, se reincidente para a progressão do regime prisional, sujeitando-se ele, apenas ao lapso de 1/6 para preenchimento do requisito objetivo. 3. No entanto, a despeito de não ser considerado hediondo, o crime de associação para o tráfico, no que se refere à concessão do livramento condicional, deve, em razão do princípio da especialidade, observar a regra estabelecida pelo art. 44, parágrafo único, da Lei n.

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11.343/2006, ou seja, exigir que o cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena, vedada a sua concessão ao reincidente específico. 4. Ordem concedida para afastar a natureza hedionda do crime de associação para o tráfico e determinar que o Juízo da Vara das Execuções Criminais da Comarca de São José do Rio Preto/SP proceda a novo cálculo da pena, considerando, para fins de progressão de regime e de livramento condicional, respectivamente, as frações de 1/6 (um sexto) e 2/3 (dois terços). (HC 394.327/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 23/06/2017).

Exame criminológico e fundamentação:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. EXAME CRIMINOLÓGICO. FACULDADE DO JUIZ, MEDIANTE DECISÃO DEVIDAMENTE MOTIVADA. IMPOSIÇÃO PELO TRIBUNAL SEM FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. Sem razão o regimental, pois a decisão recorrida está de acordo com entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, uma vez que a gravidade abstrata, a longa pena a cumprir e a reincidência não constituem fundamentos idôneos a justificar a necessidade de realização de exame criminológico. Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC 665.874/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 08/06/2021, DJe 16/06/2021).

Regressão cautelar:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. REGRESSÃO CAUTELAR AO REGIME PRISIONAL FECHADO. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de ser possível a regressão cautelar, inclusive ao regime prisional mais gravoso, diante da prática de infração disciplinar no curso do resgate da reprimenda, sendo desnecessária até mesmo a realização de audiência de justificação para oitiva do apenado, exigência que se torna imprescindível somente para aregressão definitiva. Precedentes. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido. (RHC 81.352/MA, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 18/04/2017, DJe 28/04/2017).

Monitoramento eletrônico:

Informativo nº 0597 Processo HC 351.273-CE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 2/2/2017, DJe 9/2/2017. Monitoramento eletrônico mediante uso de tornozeleira. Pedido de retirada do equipamento por desnecessidade. Indeferimento pelo juízo das execuções sem fundamento concreto. Constrangimento ilegal evidenciado.

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Destaque: A manutenção de monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica sem fundamentação concreta evidencia constrangimento ilegal ao apenado. Destaque: A não observância do perímetro estabelecido para monitoramento de tornozeleira eletrônica configura mero descumprimento de condição obrigatória que autoriza a aplicação de sanção disciplinar, mas não configura, mesmo em tese, a prática de falta grave.

Prisão domiciliar:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CONHECIMENTO. PRISÃO DOMICILIAR ANTEA INEXISTÊNCIA DE VAGA NO ESTABELECIMENTO COMPATÍVEL COM OREGIME IMPOSTO. APLICAÇÃO DO NOVO ENTENDIMENTO DO STF ADOTADO EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL (RE 641.320/RS). PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO STJ PARA APRECIAÇÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. POSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação nosentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento daimpetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado, fato que reclama a concessão da ordem de ofício. Precedentes. 2. A jurisprudência desta Corte Superior é assente no sentido de que, em caso de falta de vaga em estabelecimento prisional adequado ao cumprimento da pena, ou, ainda, de sua precariedade ou superlotação, deve-se conceder ao apenado, em caráter excepcional, o cumprimentoda pena em regime aberto, ou, na falta de vaga em casa de albergado,em regime domiciliar, até o surgimento de vagas. 3. O Supremo Tribunal Federal, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, entende que "a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS". 4. Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso; b) os Juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimessemiaberto e aberto, para verificar se são adequados a tais regimes,sendo aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como colôniaagrícola, industrial (regime semiaberto), casa de albergado ou estabelecimento adequado-regimeaberto-(art.33,§1º,alíneas"b"e "c"); c) no caso de haver déficit de vagas,deverão determinar: (i)a saída antecipada de sentencia do no regime com falta de vagas; (ii)a liberdade eletronicamente monitorada ao preso que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. 5. "Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, se o caótico sistema prisional estatal não possui meios para manter os detentos em estabelecimento apropriado, é de se autorizar, excepcionalmente, que a pena seja cumprida em regime mais benéfico - estabelecimento adequado ao regime aberto ou prisão

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domiciliar" (HC 403.312/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe21/8/2017). 6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC420.220/RS, Rel.Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/11/2017, DJe 28/11/2017)

Livramento condicional:

DIREITO PENAL. INFLUÊNCIA DA REINCIDÊNCIA NO CÁLCULO DE BENEFÍCIOS NO DECORRER DA EXECUÇÃO PENAL. Na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição de reincidente em crime doloso deve incidir sobre a somatória das penas impostas ao condenado, ainda que a agravante da reincidência não tenha sido reconhecida pelo juízo sentenciante em algumas das condenações. Isso porque a reincidência é circunstância pessoal que interfere na execução como um todo, e não somente nas penas em que ela foi reconhecida. Precedentes citados: HC 95.505-RS, QuintaTurma, DJe1º/2/2010; e EDclnoHC267.328-MG, Quinta Turma, Djede 6/6/2014.HC307.180-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em16/4/2015, DJe 13/5/2015.

Livramento e impossibilidade de perda dos dias remidos:

Informativo nº 0539 Período: 15 de maio de 2014. SEXTA TURMADIREITOPENAL. PRÁTICA DE CRIME DURANTE LIVRAMENTO CONDICIONAL. O cometimento de crime durante o período de prova do livramento condicional não implica a perda dos dias remidos. Isso porque o livramento condicional possui regras distintas da execução penal dentro do sistema progressivo de penas. Assim, no caso de revogação do livramento condicional que seja motivada por infração penal cometida na vigência do benefício, aplica-se o disposto nos arts. 142 da Lei 7.210/1984 (LEP) e 88 do CP, os quais determinam que não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado e não se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento. A cumulação dessas sanções com os efeitos próprios da prática da falta grave não é possível, por inexistência de disposição legal nessesentido. Desse modo, consoante o disposto no art. 140, parágrafo único, da LEP, as penalidades para o sentenciado no gozo de livramento condicional consistem em revogação do benefício, advertência ou agravamento das condições. Precedentes citados: REsp 1.101.461-RS, Sexta Turma, DJe 19/2/2013; e AgRg no REsp 1.236.295-RS, Quinta Turma, DJe 2/10/2013. HC 271.907-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgadoem27/3/2014.

Livramento e comportamento – absurdo:

EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. LIVRAMENTO CONDICIONAL. FALTAS GRAVES. AUSÊNCIA DE REQUISITO SUBJETIVO.LIMITAÇÃO DO PERÍODO DE AFERIÇÃO DO REQUISITO SUBJETIVO. IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

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1. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que, malgrado não interrompa o prazo para fins de livramento condicional (Súmula/STJ n. 441), a prática de falta grave impede a concessão do aludido benefício, por evidenciar a ausência do requisito subjetivo exigido durante a execução da pena, nos termos do disposto no art. 83, III, do CódigoPenal. 2. Segundo entendimento fixado por esta Corte, não se aplica limite temporal para a análise do preenchimento do requisito subjetivo, devendo ser considerado todo o período de execução da pena, a fim de se averiguar o mérito do apenado. Precedentes. Desse modo, no caso concreto, o cometimento de 2 (duas) faltas graves durante a execução penal é causa suficiente para o indeferimento do benefício legal, consoante exposto no art. 83, III, do Código Penal. Agravo regimental a que se negaprovimento. (AgRgnoHC417.233/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 28/11/2017, DJe 01/12/2017).

Livramento e delito e período de provas:

EMBARGOS DECLARATÓRIOSEM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL.NOVO DELITO PRATICADO DURANTE O LIVRAMENTO CONDICIONAL. NECESSIDADE DE SUSPENSÃO EXPRESSA DO BENEFÍCIO DURANTE O PERÍODODEPROVA. PRORROGAÇÃOAUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. EXTINÇÃO DA PENA. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. PREQUESTIONAMENTO.INCONFORMISMOCOMOJULGADO. EMBARGOSREJEITADOS. 1. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão, nos termos do art. 619 doCódigo de Processo Penal, pressupostos não caracterizados na hipótese dos autos. 2. O julgador não é obrigado a manifestar-se sobre todas as teses expostas no recurso, ainda que para fins de prequestionamento, desde que demonstre os fundamentos e os motivos que justificaram suas razões dedecidir. 3. O livramento condicional deve ser suspenso ou revogado de forma expressa no curso do período de prova. Do contrário, a pena restará extinta, nos termos dos arts. 90 do Código Penal, e 146 da Lei de Execução Penal.Precedentes. 4. Na hipótese, o embargado cometeu delitos em 12/12/2008 e 12/6/2009, durante o prazo do livramento condicional, cujo término estava previsto para 30/9/2010. Sobrevindo a nova condenação, o Juízo da Execução revogou-lhe o benefício em 18/1/2013, com base no art. 86, I, do CódigoPenal. 5. Embargos declaratórios rejeitados. (EDcl no HC 302.641/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIO RNIK, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 25/05/2016).

Conversão da PRD em PPL:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. CONVERSÃO EM PRIVATIVA DE LIBERDADE. REGRESSÃO DE REGIME. AUSÊNCIA DE OITIVA DO CONDENADO PARA POSSÍVEL JUSTIFICAÇÃO. NECESSIDADE.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. I – [...] II - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido de que, para a conversão de medidas restritivas de direito em pena privativa de liberdade, é indispensável a intimação do condenado para que esclareça as razões do descumprimento, em audiência de justificação. assegurando-lhe o direito ao contraditório e à ampla defesa. III - Na hipótese, ante a mera notícia de que o paciente retirou em cartório, pessoalmente, o ofício para dar início à prestação de serviços à comunidade, mas não compareceu ao local indicado, converteu a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, determinou a regressão de regime e consignou que somente após o cumprimento do mandado de prisão, seria designada a audiência de justificação (fl. 125), o que configura constrangimento ilegal. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para cassar as decisões das instâncias ordinárias, e determinar ao Juízo da Execução que ouça previamente o sentenciado em audiência de justificação, antes de decidir acerca da conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. (HC 486.269/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2019, DJe 01/03/2019).

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Agravo em Execução

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

7.1 Cabimento e conteúdo

É recurso destinado à impugnação de decisões interlocutórias proferidas no

curso da execução criminal, disciplinada na Lei nº 7.210/84. Não há um rol taxativo,

sendo cabível para impugnar qualquer decisão proferida pelo juízo da execução penal,

cuja competência é definida no artigo 66 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84),

como, por exemplo, em relação aos seguintes temas:

• Decisão que concedeu ou nega a progressão de regime;

• Que determina a regressão do regime carcerário e perda dos dias remidos;

• Que indefere o pedido de unificação das penas, com base, por exemplo, na

continuidade delitiva;

• Que concede ou denega pedido de livramento condicional;

• Que indefere o pedido de saídas temporárias;

• Concede ou denega o pedido de indulto, comutação, remição.

• Base legal: art. 197 da Lei 7.210/84 (LEP)

• Identificação:

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica:

“decisão pelo juízo da execução”

Peça:

AGRAVO EM EXECUÇÃO

PAROU!

Para todos verem: esquema

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116

Interposição: 05 dias

Razões: 02 dias

7.2 Rito e competência para ojulgamento

A Lei de Execução Penal não definiu o rito a ser seguido no agravo em execução,

definindo, apenas, no seu artigo 197, que “Das decisões proferidas pelo Juiz caberá

recurso de agravo, sem efeito suspensivo”.

Nesse sentido, a doutrina e jurisprudência amplamente dominante, adotam o

entendimento de que deve ser adotado o mesmo rito do recurso em sentido estrito,

notadamente no que se refere ao prazo, ao juízo de retratação e ao processamento.

Tal entendimento restou consagrado na Súmula 700 do STF, a qual: “É de cinco

dias o prazo para a interposição de agravo contra a decisão do juiz da execução penal”.

A interposição do recurso deve ser dirigida ao juiz de primeiro grau que proferiu

a decisão, para que este possa rever a decisão, em sede de juízo de retratação.

As razões de recurso devem ser endereçadas ao Tribunal competente (Tribunal

de Justiça, se da competência da Justiça Comum Estadual; ou Tribunal Regional

Federal, se da competência da Justiça Federal).

7.3 Prazo

Como a FGV costuma cobrar a interposição e a apresentação das razões

simultaneamente, priorizar o prazo de 05 dias para interpor, já com as razões inclusas.

7.4 Efeitos

Assim como no recurso em sentido estrito, o agravo em execução possui efeito

regressivo, uma vez que a interposição do recurso obriga o juiz que prolatou a decisão

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Agravo em Execução e Medida de Segurança: artigo 179 da Lei de Execução Penal – atribui

excepcionalmente o efeito suspensivo nos casos de execução de Medida de Segurança.

recorrida a reapreciar a questão, mantendo-a ou reformando-a, aplicando-se

analogicamente o artigo 589, caput, do Código de Processo Penal.

Se o juiz mantiver a decisão, determinará a remessa dos autos à instância

superior; se reformá-la, o recorrido, por simples petição, e dentro do prazo do prazo

de cinco dias, poderá requerer a subida dos autos. O recorrido deverá ser intimado,

no caso de retratação do juiz.

Nos termos do artigo 197 da Lei de Execução Penal, o agravo em execução, em

regra, não tem efeito suspensivo. Ou seja, as decisões proferidas em sede de execução

penal devem ser, em regra, imediatamente executadas.

7.5 Estruturação da peça Agravo em Execução

A estrutura do agravo em execução segue dois momentos, sendo a peça

bipartida: a) interposição do recurso (afirmar que pretende recorrer); b) razões do

recurso de agravo em execução.

• Interposição

a) Endereçamento: Juiz da Vara de Execuções Penais;

b) Preâmbulo: nome, capacidade postulatória (por seu procurador infra-assinado),

fundamento legal (art. 197 da Lei nº 7.210/84 – Lei de Execução Penal), nome da peça

(Agravo em Execução), frase final (pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir

expostos);

c) Juízo de retratação, em analogia ao artigo 589, CPP (importante);

ATENÇÃO

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d) Parte final: “Nesses termos, requer o processamento do presente recurso. Pede

deferimento, data, advogado... e OAB...

• Razões

a) Endereçamento: Tribunal de Justiça;

b) Identificação: agravante/recorrente, agravado/recorrido, nº processo...

c) Saudação: Justiça Estadual: Egrégio Tribunal de Justiça – Colenda Câmara –

Eméritos Julgadores – Douta Procuradoria da Justiça;

d) Corpo da peça: breve relato, preliminares e mérito;

e) Pedidos: conhecimento e provimento do recurso, reforma da decisão e pedido

específico conforme o caso apresentado;

f) Parte final: “Termos em que pede deferimento”, local, data, advogado... e OAB...

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Peça de interposição: endereçada ao juiz de 1º grau:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DE EXECUÇÃO PENAL DA COMARCA DE ... ESTADO ... Processo nº...

FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão das fls., interpor o presente AGRAVO EM EXECUÇÃO, com base no artigo 197 da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal).

Nesse sentido, requer seja recebido o recurso e procedido o juízo de retratação, nos termos do artigo 589 do Código de Processo Penal. Se mantida a decisão, requer seja encaminhado o presente recurso, já com as razões inclusas, ao Tribunal de Justiça do Estado..., para o devido processamento.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local..., data... Advogado...

OAB...

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Razões de agravo em execução: endereçadas ao tribunal competente

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... / TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL ... Agravante: Fulano de Tal Agravado: Ministério Público Processo nº ... RAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO Colenda Câmara I) DOS FATOS II) DO DIREITO * decisão que concede ou nega a progressão de regime; * que determina a regressão do regime carcerário e perda dos dias remidos; * que indefere o pedido de unificação das penas, com base, por exemplo, na continuidade delitiva; * que concede17 ou denega pedido de livramento condicional; * que indefere o pedido de saídas temporárias; * concede ou denega o pedido de indulto, comutação, remição. Em síntese, hipóteses previstas no artigo 66 da LEP (Lei nº 7.210/84). III) DO PEDIDO Ante o exposto, requer seja CONHECIDO E PROVIDO o presente recurso, com a REFORMA DA DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim de que ...

Nestes termos,

Pede deferimento. Local..., data...

Advogado... OAB...

17 No Exame XVI a Banca atribuiu 0,20 para o pedido de expedição de alvará de soltura referente à concessão do livramento condicional. Portanto, recomendável fazer o pedido neste caso.

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6) (QUESTÃO 02 – XXIII EXAME)

Gabriel, condenado pela prática do crime de porte de arma de fogo de uso restrito,

obteve livramento condicional quando restava 01 ano e 06 meses de pena privativa de

liberdade a ser cumprida. No curso do livramento condicional, após 06 meses da

obtenção do benefício, vem Gabriel a ser novamente condenado, definitivamente,

pela prática de crime de roubo, que havia sido praticado antes mesmo do delito de

porte de arma de fogo, mas cuja instrução foi prolongada.

Diante da nova condenação, o magistrado competente revogou o livramento

condicional concedido e determinou que Gabriel deve cumprir aquele 01 ano e 06

Para todos verem: esquema

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122

meses de pena restante quando da obtenção do livramento em relação ao crime de

porte, além da nova sanção imposta em razão do roubo.

condenado, definitivamente, pela prática de crime de roubo, que havia sido praticado

antes mesmo do delito de porte de arma de fogo, mas cuja instrução foi prolongada.

Diante da nova condenação, o magistrado competente revogou o livramento

condicional concedido e determinou que Gabriel deve cumprir aquele 01 ano e 06

meses de pena restante quando da obtenção do livramento em relação ao crime de

porte, além da nova sanção imposta em razão do roubo.

Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Gabriel,

responda aos itens a seguir.

A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado que revogou o benefício do

livramento condicional e determinou o cumprimento da pena restante quando da

obtenção do benefício? É cabível juízo de retratação em tal modalidade recursal?

Justifique. (Valor: 0,65)

B) Qual argumento deverá ser apresentado pela defesa de Gabriel para combater

a decisão do magistrado? Justifique. (Valor: 0,60)

7) (QUESTÃO 04 – XIX EXAME)

Carlos foi condenado pela prática de um crime de receptação qualificada à pena de

04 anos e 06 meses de reclusão, sendo fixado o regime semiaberto para início do

cumprimento de pena. Após o trânsito em julgado da decisão, houve início do

cumprimento da sanção penal imposta. Cumprido mais de 1/6 da pena imposta e

preenchidos os demais requisitos, o advogado de Carlos requer, junto ao Juízo de

Execuções Penais, a progressão para o regime aberto. O magistrado competente

profere decisão concedendo a progressão e fixa como condição especial o

cumprimento de prestação de serviços à comunidade, na forma do Art. 115 da Lei nº

7.210/84. O advogado de Carlos é intimado dessa decisão. Considerando apenas as

informações apresentadas, responda aos itens a seguir.

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A) Qual medida processual deverá ser apresentada pelo advogado de Carlos,

diferente do habeas corpus, para questionar a decisão do magistrado? (Valor: 0,60)

B) Qual fundamento deverá ser apresentado pelo advogado de Carlos para

combater a decisão do magistrado? (Valor: 0,65)

8) (QUESTÃO 02 – XVIII EXAME)

No dia 10 de fevereiro de 2012, João foi condenado pela prática do delito de quadrilha

armada, previsto no Art. 288, parágrafo único, do Código Penal. Considerando as

particularidades do caso concreto, sua pena foi fixada no máximo de 06 anos de

reclusão, eis que duplicada a pena base por força da quadrilha ser armada. A decisão

transitou em julgado. Enquanto cumpria pena, entrou em vigor a Lei nº 12.850/2013,

que alterou o artigo pelo qual João fora condenado. Apesar da sanção em abstrato,

excluídas as causas de aumento, ter permanecido a mesma (reclusão, de 1 (um) a 3

(três) anos), o aumento de pena pelo fato da associação ser armada passou a ser de

até a metade e não mais do dobro. Procurado pela família de João, responda aos

itens a seguir.

A) O que a defesa técnica poderia requerer em favor dele? (Valor: 0,65)

B) Qual o juízo competente para a formulação desse requerimento? (Valor: 0,60)

9) (QUESTÃO 02 - XVI EXAME)

No dia 03/05/2008, Luan foi condenado à pena privativa de liberdade de 12 anos de

reclusão pela prática dos crimes previstos nos artigos 213 e 214 do Código Penal, na

forma do Art. 69 do mesmo diploma legal, pois, no dia 11/07/2007, por volta das 19h,

constrangeu Carla, mediante grave ameaça, a com ele praticar conjunção carnal e ato

libidinoso diverso. Ainda cumprindo pena em razão dessa sentença condenatória,

Luan, conversando com outro preso, veio a saber que ele havia sido condenado por

fatos extremamente semelhantes a uma pena de 07 anos de reclusão. Luan, então,

pergunta o nome do advogado do colega de cela, que lhe fornece a informação. Luan

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entra em contato pelo telefone indicado e pergunta se algo pode ser feito para reduzir

sua pena, apesar de sua decisão ter transitado em julgado. Diante dessa situação,

responda aos itens a seguir.

A) Qual a tese de direito material que poderia ser suscitada pelo novo advogado

em favor de Luan? (Valor: 0,65)

B) A pretensão deverá ser manejada perante qual órgão? (Valor: 0,60)

10) (QUESTÃO 02 - XIV EXAME)

Mário foi condenado a 24 (vinte e quatro) anos de reclusão no regime inicialmente

fechado, com trânsito em julgado no dia 20/04/2005, pela prática de latrocínio (artigo

157, § 3º, parte final, do Código Penal). Iniciou a execução da pena no dia seguinte. No

dia 22/04/2009, seu advogado, devidamente constituído nos autos da execução

penal, ingressou com pedido de progressão de regime, com fulcro no artigo 112 da Lei

de Execuções Penais. O juiz indeferiu o pedido com base no artigo 2º, §2º, da

Lei8.072/90, argumentan do que o condenado não preencheu o requisito objetivo

para a progressão deregime.

Como advogado de Mário, responda, de forma fundamentada e de acordo com o

entendimento sumulado dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir:

A) Excetuando-se a possibilidade de Habeas Corpus, qual recurso deve ser

interposto pelo advogado de Mário e qual o respectivo fundamento legal? (Valor:

0,40)

B) Qual a principal tese defensiva? (Valor: 0,85)

11) (QUESTÃO 04 - XII EXAME)

Marcos, jovem inimputável conforme o Art. 26 do CP, foi denunciado pela prática de

determinado crime. Após o regular andamento do feito, o magistrado entendeu por

bem aplicar medida de segurança consistente em internação em hospital psiquiátrico

por período mínimo de 03 (três) anos. Após o cumprimento do período

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

125

supramencionado, o advogado de Marcos requer ao juízo de execução que seja

realizado o exame de cessação de periculosidade, requerimento que foi deferido. É

realizada uma rigorosa perícia, e os experts atestam a cura do internado, opinando,

consequentemente, por sua desinternação. O magistrado então, baseando-se no

exame pericial realizado por médicos psiquiatras, exara sentença determinando a

desinternação de Marcos. O Parquet, devidamente intimado da sentença proferida

pelo juízo da execução, interpõe o recurso cabível naespécie. A partir do caso

apresentado, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) Qual o recurso cabível da sentença proferida pelo magistrado determinando a

desinternação de Marcos? (Valor: 0,75)

B) Qual o prazo para interposição desse recurso? (Valor: 0,25)

C) A interposição desse recurso suspende ou não a eficácia da sentença proferida

pelo magistrado? (Valor: 0,25)

12) (QUESTÃO 01 – XI EXAME)

O Juiz da Vara de Execuções Penais da Comarca “Y” converteu a medida restritiva de

direitos (que fora imposta em substituição à pena privativa de liberdade) em

cumprimento de pena privativa de liberdade imposta no regime inicial aberto, sem

fixar quaisquer outras condições.

O Ministério Público, inconformado, interpôs recurso alegando, em síntese, que a

decisão do referido Juiz da Vara de Execuções Penais acarretava o abrandamento da

pena, estimulando o descumprimento das penas alternativas ao cárcere. O recurso,

devidamente contra-arrazoado, foi submetido a julgamento pela Corte Estadual, a

qual, de forma unânime, resolveu lhe dar provimento. A referida Corte fixou como

condição especial ao cumprimento de pena no regime aberto, com base no Art. 115 da

LEP, a prestação de serviços à comunidade, o que deveria perdurar por todo o tempo

da pena a ser cumprida no regime menos gravoso. Atento ao caso narrado e

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

126

considerando apenas os dados contidos no enunciado, responda

fundamentadamente, aos itens aseguir.

A) Qual foi o recurso interposto pelo Ministério Público contra a decisão do Juiz da

Vara de Execuções Penais? (Valor: 0,50)

B) Está correta a decisão da Corte Estadual, levando-se em conta entendimento

jurisprudencial sumulado? (Valor: 0,75)

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Contrarrazões de Agravo em Execução

Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves

8.1 Introdução

Como visto no tópico anteriore, das decisões proferidas pelo Juízo da Execução

Penal, cabe agravo em execução. Na sequência, intima-se o recorrido para oferecer

suas Contrarrazões de recurso de Agravo em Execução ou Razões do Agravado para

a manutenção da decisão recorrida, no prazo de 02 (dois) dias.

8.2 Identificação

8.3 Prazo

Considerando que segue o rito do recurso em sentido estrito, o prazo para

contrarrazões é de 02 (dois) dias, conforme o artigo 588 do Código de Processo Penal.

Decisão Juízo da Execução Penal

Petição de juntada

Contrarrazões de recurso de

agravo em execução

Agravo em Execução pelo

Ministério Público

Recebimento do recurso e

intimação da defesa para

apresentar a peça correspondente

Contrarrazões de Recurso de Agravo em Execução

*para todos verem: esquema abaixo

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

128

8.4 Conteúdo

Deve-se buscar no enunciado informações que permitem desenvolver teses

voltadas à manutenção da decisão recorrida, bem como refutar os argumentos

lançados pelo Ministério Público.

8.5 Pedido

O pedido deve corresponder ao não conhecimento do recurso, improvimento e

manutenção da decisão recorrida.

Para todos verem: esquema

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

129

Estruturação das Contrarrazões de Agravo em Execução:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÃO PENAL DA COMARCA ... ESTADO ...

FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar as presentes CONTRARRAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO, com base no artigo 588 do Código de Processo Penal, requerendo sejam recebidas, mantendo-se a decisão recorrida em sede de juízo de retratação, com posterior remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...

OAB...

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

130

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... Agravante: Ministério Público Agravado: Fulano de Tal Processo nº...

CONTRARRAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO Colenda Câmara Criminal

I) DOS FATOS18 II) DO DIREITO Expor argumentos contrários aos invocados nas razões de Agravo em Execução (informados no enunciado da questão), defendendo, em síntese, a manutenção da decisão recorrida. III) DO PEDIDO19 Ante o exposto, requer seja IMPROVIDO o recurso de Agravo em Execução, MANTENDO-SE, por conseguinte, a decisão recorrida nos seus exatos termos.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., data...

Advogado...

OAB...

18 Fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar nada), bem como da decisão recorrida. 19Requer o improvimento do recurso de Agravo em Execução e a manutenção da decisão recorrida, se extrair do enunciado informações nesse sentido, buscar, ainda, o não conhecimento do recurso (Exemplo: recurso de agravo em execução interposto pelo MP de forma intempestiva).

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PADRÃO DE RESPOSTAS

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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1) (QUESTÃO 03 - XX EXAME)

Andy, jovem de 25 anos, possui uma condenação definitiva pela prática de

contravenção penal. Em momento posterior, resolve praticar um crime de estelionato

e, para tanto, decide que irá até o portão da residência de Josefa e, aí, solicitará a

entrega de um computador, afirmando que tal requerimento era fruto de um pedido

do próprio filho de Josefa, pois tinha conhecimento que este trabalhava no setor de

informática de determinada sociedade. Ao chegar ao portão da casa, afirma para

Josefa que fora à sua residência buscar o computador da casa a pedido do filho dela,

com quem trabalhava. Josefa pede para o marido entregar o computador a Andy, que

ficara aguardando no portão. Quando o marido de Josefa aparece com o aparelho,

Andy se surpreende, pois ele lembrava seu falecido pai. Em razão disso, apesar de já

ter empregado a fraude, vai embora sem levar o bem. O Ministério Público ofereceu

denúncia pela prática de tentativa de estelionato, sendo Andy condenado nos termos

da denúncia. Como advogado de Andy, com base apenas nas informações narradas,

responda aos itens a seguir.

A) Qual tese jurídica de direito material deve ser alegada, em sede de recurso de

apelação, para evitar a punição de Andy? Justifique. (Valor: 0,65)

B) Há vedação legal expressa à concessão do benefício da suspensão condicional

do processo a Andy? Justifique. (Valor: 0,60)

GABARITO COMENTADO

A) A tese de direito material a ser alegada pelo advogado de Andy é que, no caso, não

poderia ele ter sido punido pela tentativa, tendo em vista que houve desistência

voluntária. Prevê o Art. 15 do CP que o agente que voluntariamente desiste de

prosseguir na execução responde apenas pelos atos já praticados e não pela tentativa

do crime inicialmente pretendido. Isso porque o agente opta por não prosseguir

quando pode, ao contrário da tentativa, quando o agente não pode prosseguir por

razões alheias à sua vontade. No caso, a execução já tinha sido iniciada, quando Andy

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

133

empregou fraude. O benefício, porém, não foi obtido, sendo certo que o crime não se

consumou pela vontade do próprio agente. Assim, sua conduta se torna atípica e

deveria ele ser absolvido.

B) Não há vedação legal, podendo Andy fazer jus ao benefício da suspensão

condicional do processo. O crime de estelionato possui pena mínima de 01 ano, o que

está de acordo com as exigências do Art. 89 da Lei nº 9.099/95. Ademais, prevê o

dispositivo que não caberá suspensão se o agente já houver sido condenado ou se

responder a outro processo pela prática de crime. Todavia, no caso, Andy havia sido

condenado pela prática de contravenção penal, logo não há vedação à concessão do

benefício.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS:

ITEM PONTUAÇÃO

A) Deveria ser alegada a ocorrência de desistência voluntária (0,40), o que torna a conduta do agente atípica OU o que faz com que responda apenas pelos atos já praticados (0,15), na forma do Art. 15, primeira parte, do CP (0,10).

0,00/0,15/ 0,25/0,40 /0,50/0,55/ 0,65

B) Não há vedação legal, tendo em vista que Andy ostenta condenação pela prática de contravenção penal e não de crime (0,50), sem violação ao Art. 89 da Lei nº 9.099/95 (0,10).

0,00/0,50/ 0,60

2) (QUESTÃO 2 - VI EXAME)

Hugo é inimigo de longa data de José e há muitos anos deseja matá-lo. Para conseguir

seu intento, Hugo induz o próprioJoséamatarLuiz, afirma ndo falsamente que Luiz

estava se insinuando para a esposa de José. Ocorre que Hugo sabia que Luiz é pessoa

de pouca paciência e que sempre anda armado. Cego de ódio, José espera Luiz sair

do trabalho e, ao vê-lo, corre em direção dele com um facão em punho, mirando na

altura da cabeça. Luiz, assustado e sem saber o motivo daquela injusta agressão,

rapidamente saca sua arma e atira justamente no curacao de José, que more

instantaneamente. Instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte

de José, ao final das investigações, o Ministério Público formou sua opinion no seguinte

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

134

sentido: Luiz deve responder pelo excesso doloso em sua conduta, ou seja, deve

responder por homicídio doloso; Hugo por sua vez, deve responder como partícipe de

tal homicídio. A denúncia foi oferecida e recebida.

Considerando que você é o advogado de Hugo e Luiz, responda:

A) Qual peça deverá ser oferecida, em que prazo e endereçada a quem?

(Valor:0,30)

B) Qual a tese defensiva aplicável a Luiz? (Valor:0,5)

C) Qual a tese defensiva aplicável a Hugo? (Valor:0,45)

GABARITO COMENTADO

Resposta à acusação, no prazo de 10 dias (art. 406 do CPP), endereçada ao juiz

presidente do Tribunal do Júri OU Habeas Corpus para extinção da ação penal; ação

penal autônoma de impugnação que não possui prazo determinado; endereçado ao

Tribunal de Justiça Estadual.

A tese defensive aplicada a Luiz é a da legítima defesa real, instituto previsto no art. 25

do CP, cuja natureza é de causa excludente de ilicitude. Não houve excesso, pois a

conduta de José (que mirava com o facão na cabeça do Luiz) configurava injusta

agressão e claramente atentava contra a vida deLuiz.

Hugo não praticou fato típico, pois, de acordo com a Teoria da Acessoriedade

Limitada, o partícipe somente poderá ser punido se o agente praticar conduta típica e

ilícita, o que não foi o caso, já que Luiz agiu amparado por uma causa excludente de

ilicitude, qual seja, legítima defesa (art. 25 do CP).

OU Não havia liame subjetivo entre Hugo e Luiz, requisito essencial ao concurso de

pessoas, razão pela qual Hugo não poderia ser considerado partícipe.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Resposta à acusação (0,1), no prazo de 10 dias (art. 406 do CPP) (0,1), endereçada ao Juiz da Vara Criminal / do Júri (0,1).

0,00/0,10/0,20/0,30

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

135

OU Habeas Corpus para extinção da ação penal (0,1); que não possui prazo determinado (0,1); endereçado ao Tribunal de Justiça (0,1). B) Legítima defesa (0,3). Não houve excesso, pois a conduta de José configurava injusta agressão e atentava contra a vida de Luiz (OU fundamentação jurídica da legítima defesa) (0,2). Obs.: A mera indicação de artigo não é pontuada.

0,00/0,20/0,30/0,50

C) Não praticou crime (0,2), pois, de acordo com a Teoria da Acessoriedade Limitada, o partícipe somente poderá ser punido se o agente praticar conduta típica e ilícita, o que não foi o caso, já que Luiz agiu amparado por uma causa excludente de ilicitude (0,25). OU Não havia liame subjetivo entre Hugo e Luiz (0,2), razão pela qual Hugo não poderia ser considerado partícipe (0,25).

0,00/0,20/0,25/0,45

3) (QUESTÃO 04 - EXAME 2010/03)

Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente

qualificado, guiava seu automóvel tendo Madalena, sua namorada, no banco do

carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o que faz com que

Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, Madalena pede

insistentemente para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não

seria possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo

ser perito em direção e refutando qualquer possibilidade de perder o controle do

carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade empreendida,

acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na calçada,

vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de

velocidade, e ouvidos Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo

travado entre o casal, Caio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime

de homicídio namodalidade de dolo eventual, três vezes em concurso formal.

Recebida a denúncia pelo magistrado da vara criminal vinculada ao Tribunal do Júri da

localidade recolhida a prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos

exatos termos dainicial.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens

a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação

legal pertinente ao caso.

A) qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte?

(Valor: 0,40)

B) qual pedido deveria ser realizado? (Valor: 0,30)

C) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a

peça de interposição deveria ser dirigida? (Valor: 0,30)

GABARITO COMENTADO

Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo, pois agiu com

culpa consciente, na medida em que, embora tenha previsto o resultado, acreditou

que o evento não fosse ocorrer em razão de sua perícia.

Desclassificação da imputação para homicídio culposo e declínio de competência,

conforme previsão do artigo 419 do CPP.

Recurso em sentido estrito, conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A peça de

interposição deveria ser dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal

do júri, prolator da decisão atacada.

Em relação à correção, levou-se em conta o seguinte critério de pontuação:

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo (0,2), pois agiu com culpa consciente, na medida em que, embora tenha previsto o resultado, acreditou que o evento não fosse ocorrer em razão de sua perícia (0,2).

0,00/0,20/0,40

B) Desclassificação da imputação para homicídio culposo OU declínio de competência (0,15), conforme previsão do artigo 419 do CPP (0,15). 0,00/0,15/0,30

C) Recurso em sentido estrito (0,15), conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A peça de interposição deveria ser dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal do júri (0,15), prolator da decisão atacada.

0,00/0,15/0,30

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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4) (QUESTÃO 3 – XVIII EXAME)

Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado

que teve como vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua

namorada, ouvida na condição de informante, afirmaram que Henrique iniciou

agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Por sua vez, a

namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que não houve

qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. No momento do julgamento, os

jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver Fernando

da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de

apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a

decisão foi manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica

preocupada como recurso, em especial porque afirma que todos tinham

conhecimento que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos, mas em

momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no recurso ou avaliado pelo

Juiz Presidente.

Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de

Fernando, os seguintes questionamentos da família do réu:

A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos?

Justifique. (Valor: 0,60)

B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com

fundamento em nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor:

0,65)

GABARITO COMENTADO

A decisão dos jurados não foi manifestamente contrária à prova dos autos, tendo em

vista que o acusado e sua namorada alegaram a existência de legítima defesa. De fato,

a namorada da vítima e uma testemunha afirmaram que esta causa excludente da

ilicitude não existiu. Contudo, existem duas versões nos autos, com provas em ambos

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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os sentidos, logo os jurados são livres para optar por uma delas, de acordo com a

íntima convicção. Não houve arbitrariedade ou total dissociação da prova dos autos,

mas apenas escolha de uma das versões. Assim, a soberania dos vereditos deve

prevalecer, não cabendo ao Tribunal fazer nova análise do mérito, se a decisão não foi

manifestamente contrária às provasproduzidas.

Não poderá o Tribunal anular o julgamento com base na existência de nulidade

ocorrida durante a sessão plenária. De fato, prevê o Art. 448, inciso IV, do CPP, que

estão impedidos de servir no mesmo Conselho os irmãos. Ocorre que o enunciado 713

da Súmula não vinculante do STF afirma categoricamente que “o efeito devolutivo da

apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos de sua interposição”. O

Ministério Público apresentou apelação apenas com fundamento na alínea ‘d’ do Art.

593, incisoIII, do Código de Processo Penal. Assim, está limitado o efeito devolutivo,

de modo que o Tribunal somente poderá analisar a existência de decisão

manifestamente contrária à prova dos autos. Decisão em contrário prejudicaria a

ampla defesa, pois eventual nulidade não foi combatida pela defesa em sede de

contrarrazões. Poderia, ainda, o candidato basear sua resposta no enunciado 160 da

Súmula do STF, que afirma que é nula a decisão que acolhe, contra réu, nulidade não

arguida pela acusação.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Não. A decisão dos jurados não foi manifestamente contrária à prova dos autos, pois está baseada em uma das versões existentes nos autos OU porque as declarações do réu e de sua namorada escoram a decisão (0,45), devendo prevalecer a soberania dos vereditos OU a íntima convicção dos jurados (0,15).

0,00/0,15/0,45/0,60

B) Não, pois o Tribunal está limitado ao conteúdo da apelação apresentada pelo Ministério Público, OU Não, pois decisão em contrário prejudicaria a ampla defesa e/ou contraditório, tendo em vista que não foi rebatido em contrarrazões (0,55), na forma do enunciado 713 da Súmula não vinculante do STF OU do enunciado 160 da Súmula do STF (0,10).

0,00/0,10/ 0,55/0,65

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5) (MP-MS-2011)

Tício foi denunciado pela prática de homicídio qualificado pelo motivo torpe (art. 121,

§ 2º, inc. I, Código Penal). A denúncia foi recebida e, no decorrer da instrução

processual, a defesa requereu exame de insanidade mental do acusado (art.149 e

seguintes do Código de Processo Penal). Ao final do referido incidente, restou

devidamente comprovado que Tício, ao tempo da ação, em razão de doença mental,

era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de

acordo com esse entendimento. Nos debates, a defesa apresentou como única tese

defensiva a inimputabilidade de Tício. Lastreado em tal premissa, responda,

respectivamente, a seguinte indagação: Qual decisão deverá ser proferida pelo juiz

ao final da primeira fase do procedimento do júri e qual é o recurso cabível?

Justifique.

GABARITO COMENTADO

O juiz na 1ª fase deverá absolver sumariamente o acusado, considerando que a única

tese defensiva é a inimputabilidade, nos termos do artigo 415, parágrafo único, do CPP.

O recurso cabível nesse caso seria o de apelação, nos moldes do artigo 416 do CPP.

6) (QUESTÃO 02 – XXIII EXAME)

Gabriel, condenado pela prática do crime de porte de arma de fogo de uso restrito,

obteve livramento condicional quando restava 01 ano e 06 meses de pena privativa de

liberdade a ser cumprida. No curso do livramento condicional, após 06 meses da

obtenção do benefício, vem Gabriel a ser novamente condenado, definitivamente,

pela prática de crime de roubo, que havia sido praticado antes mesmo do delito de

porte de arma de fogo, mas cuja instrução foi prolongada.

Diante da nova condenação, o magistrado competente revogou o livramento

condicional concedido e determinou que Gabriel deve cumprir aquele 01 ano e 06

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meses de pena restante quando da obtenção do livramento em relação ao crime de

porte, além da nova sanção imposta em razão do roubo.

condenado, definitivamente, pela prática de crime de roubo, que havia sido praticado

antes mesmo do delito de porte de arma de fogo, mas cuja instrução foi prolongada.

Diante da nova condenação, o magistrado competente revogou o livramento

condicional concedido e determinou que Gabriel deve cumprir aquele 01 ano e 06

meses de pena restante quando da obtenção do livramento em relação ao crime de

porte, além da nova sanção imposta em razão do roubo.

Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Gabriel,

responda aos itens a seguir.

A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado que revogou o benefício do

livramento condicional e determinou o cumprimento da pena restante quando da

obtenção do benefício? É cabível juízo de retratação em tal modalidade recursal?

Justifique. (Valor: 0,65)

B) Qual argumento deverá ser apresentado pela defesa de Gabriel para combater

a decisão do magistrado? Justifique. (Valor: 0,60)

GABARITO COMENTADO

Narra o enunciado que Gabriel cumpria pena privativa de liberdade pela prática de

crime de porte de arma de fogo, quando obteve livramento condicional. No curso do

livramento condicional, todavia, vem a ser condenado pela prática de crime de roubo,

tendo o magistrado da execução decidido pela revogação do benefício e também por

desconsiderar o período de pena cumprido em livramento. Da decisão proferida pelo

juízo da execução cabe Agravo em Execução, na formado Art.197 da Lei de Execuções

Penais, com prazo de interposição de 05 dias. Não há previsão expressa em lei sobre

o procedimento a ser adotado no recurso de agravo, de modo que pacificou a doutrina

e a jurisprudência que o processamento a ser adotado é semelhante ao do recurso em

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sentido estrito. Diante disso, cabível o juízo de retratação pelo magistrado

competentepara execução.

O argumento a ser apresentado pela defesa de Gabriel é que não poderiam ter sido

desconsiderados os dias de livramento condicional como pena cumprida. De fato,

Gabriel foi condenado, definitivamente, pela prática de crime no curso do livramento

condicional, logo cabível a revogação do benefício. Trata-se, inclusive, de hipótese de

revogação obrigatória. Ocorre que a condenação que justificou a revogação foi em

razão da prática de delito anterior à obtenção do benefício, e não de novo crime

praticado no curso do livramento. Dessa forma, as condições do livramento

condicional vinham sendo regularmente cumpridas pelo apenado, de modo que os

dias em que ficou em livramento deverão ser computados como pena cumprida e não

desconsiderados. Assim, errou o magistrado ao afirmar que deveria Gabriel cumprir 01

ano e 06 meses de pena, desconsiderando os 06 meses cumpridos de livramento. Nos

termos do aqui exposto estão as previsões dos Art. 86 e do Art. 88, ambos do Código

Penal, além do Art. 141 da Lei 7.210/84.

DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) O recurso cabível da decisão é de Agravo de Execução, (0,40) na forma do Art. 197 da LEP (0,10), cabendo ao magistrado exercer juízo de retratação em razão da aplicação, no recurso de agravo, do rito previsto para o recurso em sentido estrito (0,15).

0,00/0,15/0,25/ 0,40/0,50/0,55/0,65

B) O argumento para combater a decisão é o de que o período em livramento condicional deveria ser considerado como pena cumprida (0,20), tendo em vista que o delito que justificou a revogação é anterior ao benefício (0,30), nos termos do Art. 88 do CP OU Art. 141 da Lei nº 7.210/84 (0,10).

0,00/0,20/0,30/ 0,40/0,50/0,60

7) (QUESTÃO 04 – XIX EXAME)

Carlos foi condenado pela prática de um crime de receptação qualificada à pena de

04 anos e 06 meses de reclusão, sendo fixado o regime semiaberto para início do

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cumprimento de pena. Após o trânsito em julgado da decisão, houve início do

cumprimento da sanção penal imposta. Cumprido mais de 1/6 da pena imposta e

preenchidos os demais requisitos, o advogado de Carlos requer, junto ao Juízo de

Execuções Penais, a progressão para o regime aberto. O magistrado competente

profere decisão concedendo a progressão e fixa como condição especial o

cumprimento de prestação de serviços à comunidade, na forma do Art. 115 da Lei nº

7.210/84. O advogado de Carlos é intimado dessa decisão. Considerando apenas as

informações apresentadas, responda aos itens a seguir.

A) Qual medida processual deverá ser apresentada pelo advogado de Carlos,

diferente do habeas corpus, para questionar a decisão do magistrado? (Valor: 0,60)

B) Qual fundamento deverá ser apresentado pelo advogado de Carlos para

combater a decisão do magistrado? (Valor: 0,65)

GABARITO COMENTADO

A medida processual a ser apresentada pelo advogado de Carlos é o agravo previsto

no Art. 197 da Lei nº 7.210/84, também conhecido como agravo de execução ou agravo

em execução. Prevê o mencionado dispositivo que, das decisões proferidas em sede

de execução, será cabível o recurso de agravo. No caso, o enunciado deixa claro que

houve decisão condenatória com trânsito em julgado e que a decisão a ser combatida

foi proferida pelo Juízo da Execução, analisando progressão de regime.

O argumento a ser apresentado pelo advogado de Carlos é o de que a decisão do

magistrado foi equivocada, pois não é possível fixar, como condição especial ao

regime aberto, o cumprimento de prestação de serviços à comunidade. O Art.115 da

LEP prevê expressamente que o magistrado, no momento de fixar o regimeaberto,

poderá fixar condições especiais, além das obrigatórias e genéricas estabelecidas nos

incisos desse dispositivo. Ocorre que a legislação penal não disciplina quais seriam

essas condições especiais, de forma que surgiu a controvérsia sobre a possibilidade

de serem fixadas penas substitutivas em atenção a esta previsão. O tema, porém, foi

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pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça, que, no Enunciado 493 de sua Súmula de

Jurisprudência, estabeleceu a inadmissibilidade de serem fixadas penas substitutivas

(Art. 44 do Código Penal) como condições especiais ao regime aberto. A ideia que

prevaleceu foi a de que, apesar de ser possível o estabelecimento de condições

especiais, estas não podem ser penas previstas no Código Penal, sob pena de bis in

idem ou dupla punição.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) A medida processual a ser apresentada é o Agravo OU Agravo de Execução OU Agravo em Execução (0,50), na forma do Art. 197 da Lei nº 7.210/84 (0,10).

0,00/0,50/0,60

B) Inadmissibilidade de ser fixada prestação de serviços à comunidade (ou pena substitutiva) como condição especial ao regime aberto (0,40), na forma do Enunciado 493 da Súmula do STJ (0,10), sob pena de configurar dupla punição OU bis in idem (0,15).

0,00/0,15/0,25/0,40/0,50/0,55/0,65

8) (QUESTÃO 02 – XVIII EXAME)

No dia 10 de fevereiro de 2012, João foi condenado pela prática do delito de quadrilha

armada, previsto no Art. 288, parágrafo único, do Código Penal. Considerando as

particularidades do caso concreto, sua pena foi fixada no máximo de 06 anos de

reclusão, eis que duplicada a pena base por força da quadrilha ser armada. A decisão

transitou em julgado. Enquanto cumpria pena, entrou em vigor a Lei nº 12.850/2013,

que alterou o artigo pelo qual João fora condenado. Apesar da sanção em abstrato,

excluídas as causas de aumento, ter permanecido a mesma (reclusão, de 1 (um) a 3

(três) anos), o aumento de pena pelo fato da associação ser armada passou a ser de

até a metade e não mais do dobro. Procurado pela família de João, responda aos

itens a seguir.

A) O que a defesa técnica poderia requerer em favor dele? (Valor: 0,65)

B) Qual o juízo competente para a formulação desse requerimento? (Valor: 0,60)

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GABARITO COMENTADO

A defesa técnica de João poderia requerer a aplicação da lei nova, que é mais benéfica

para o acusado. A redação anterior do Art.288, parágrafo único, do CP previa que, no

caso de crimes praticado com armas de fogo, a pena seria dobrada. Hoje, o dispositivo

prevê que a pena, nessa mesma hipótese, será “apenas” aumentada de, no máximo,

metade. Assim, no caso de João, como sua pena base foi aplicada em 03 anos, a pena

final restaria em, no máximo, 04 anos e 06 meses. A nova lei, então, é favorável ao

condenado, de modo que pode retroagir para atingir situações pretéritas, na forma do

Art. 2º, parágrafo único, do CP.

Considerando que já houve trânsito em julgado da sentença condenatória, o juízo

competente para formulação do requerimento é o da Vara de Execuções Penais, na

forma do enunciado 611 da Súmula não vinculante do STF ou do Art. 66, inciso I, da

LEP.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Poderia requerer a redução de sua pena pela aplicação da Lei nº 12.850/13 ou pela aplicação da nova redação do artigo 288, parágrafo único, do Código Penal, que traz previsão mais favorável ao acusado e deve retroagir (0,55), na forma do artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal OU do artigo 5º, XL, CRFB (0,10).

0,00/0,10/0,55/0,65

B) O juízo competente é o da Vara de Execuções Penais (0,50), na forma do enunciado 611 da Súmula não vinculante do STF OU do Art. 66, inciso I, da LEP (0,10).

0,00/0,10/0,50/0,60

9) (QUESTÃO 02 - XVI EXAME)

No dia 03/05/2008, Luan foi condenado à pena privativa de liberdade de 12 anos de

reclusão pela prática dos crimes previstos nos artigos 213 e 214 do Código Penal, na

forma do Art. 69 do mesmo diploma legal, pois, no dia 11/07/2007, por volta das 19h,

constrangeu Carla, mediante grave ameaça, a com ele praticar conjunção carnal e ato

libidinoso diverso. Ainda cumprindo pena em razão dessa sentença condenatória,

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Luan, conversando com outro preso, veio a saber que ele havia sido condenado por

fatos extremamente semelhantes a uma pena de 07 anos de reclusão. Luan, então,

pergunta o nome do advogado do colega de cela, que lhe fornece a informação. Luan

entra em contato pelo telefone indicado e pergunta se algo pode ser feito para reduzir

sua pena, apesar de sua decisão ter transitado em julgado. Diante dessa situação,

responda aos itens a seguir.

A) Qual a tese de direito material que poderia ser suscitada pelo novo advogado

em favor de Luan? (Valor: 0,65)

B) A pretensão deverá ser manejada perante qual órgão? (Valor: 0,60)

GABARITO COMENTADO

Luan foi condenado pela prática de crimes de estupro e atentado violento ao pudor

em concurso material. O entendimento que prevalecia antes da edição da Lei nº 12.015

era a da impossibilidade de aplicação da continuidade delitiva entre essas duas

infrações, pois não seriam crimes da mesma espécie. Ocorre que, com a inovação

legislativa ocorrida no ano de 2009, a conduta antes prevista no Art. 214 do Código

Penal passou a ser englobada pela figura típica do Art. 213 do CP. Apesar de não ter

havido abolitio criminis, certo é que a lei é mais benéfica. Sendo assim, poderá

retroagir para atingir situações anteriores e caberá a redução de pena de Luan. A

jurisprudência amplamente majoritária entende que, de acordo com a nova redação,

o Art. 213 do CP passou a prever um tipo misto alternativo. Assim, quando praticada

conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso em um mesmo contexto e contra a

mesma vítima, haveria crime único. Outros, minoritariamente, entendem que o artigo

traz um tipo misto cumulativo, de modo que ainda seria possível punir o agente que

pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso por dois crimes. De qualquer

forma, mesmo para essa segunda corrente, caberia a redução de pena de Luan, pois

agora seria possível a aplicação da continuidade delitiva, já que os crimes são de

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mesma espécie. O examinando poderá adotar qualquer uma das duas correntes,

desde que assegure a aplicação da nova lei mais benéfica para Luan.

O órgão competente perante o qual deverá ser formulado o pedido de aplicação da lei

mais benigna e, consequentemente, da redução da pena é o juízo da Vara de

Execuções Penais, considerando que já ocorreu o trânsito em julgado da sentença

condenatória, na forma da Súmula 611 do STF ou do Art. 66, inciso I, da LEP.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) A tese adequada é a da aplicação da lei mais benéfica ao condenado, que importará na redução da sua pena, (0,30) tendo em vista que a alteração legislativa transformou o tipo penal do estupro em misto alternativo, portanto crime único OU tendo em vista que a alteração legislativa transformou o tipo penal do estupro em misto cumulativo, sujeito à aplicação da continuidade delitiva (0,25) o que permite sua aplicação para fatos pratica dos antes de sua entrada em vigor, ainda que a decisão seja definitiva (0,10).

0,00/0,10/0,25/0,30/ 0,35/0,40/0,55/0,65

B) O pedido deverá ser formulado perante a Vara de Execuções Penais, pois existe decisão com trânsito em julgado (0,50), na forma da Súmula 611 do STF OU do Art. 66, inciso I, da LEP (0,10).

0,00/0,10/0,50/0,60

10) (QUESTÃO 02 - XIV EXAME)

Mário foi condenado a 24 (vinte e quatro) anos de reclusão no regime inicialmente

fechado, com trânsito em julgado no dia 20/04/2005, pela prática de latrocínio (artigo

157, § 3º, parte final, do Código Penal). Iniciou a execução da pena no dia seguinte. No

dia 22/04/2009, seu advogado, devidamente constituído nos autos da execução

penal, ingressou com pedido de progressão de regime, com fulcro no artigo 112 da Lei

de Execuções Penais. O juiz indeferiu o pedido com base no artigo 2º, §2º, da

Lei8.072/90, argumentan do que o condenado não preencheu o requisito objetivo

para a progressão deregime.

Como advogado de Mário, responda, de forma fundamentada e de acordo com o

entendimento sumulado dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir:

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A) Excetuando-se a possibilidade de Habeas Corpus, qual recurso deve ser

interposto pelo advogado de Mário e qual o respectivo fundamento legal? (Valor:

0,40)

B) Qual a principal tese defensiva? (Valor: 0,85)

GABARITO COMENTADO

A questão objetiva extrair do examinando conhecimento acerca da lei penal no tempo

(regramento legal e entendimento jurisprudencial), bem como da execução penal.

Nesse sentido, relativamente à alternativa “A”, o examinando deve indicar que o

recurso a ser interposto é o agravo, previsto no artigo 197 da LEP.

Tendo em conta a própria natureza do Exame de Ordem, a mera indicação do

dispositivo legal não será pontuada. No que tange ao item “B”, por sua vez, a resposta

deve ser lastreada no sentido de que, de acordo com os verbetes 26 da súmula

vinculante do STF e 471 da súmula do STJ, Mário, por ter cometido o crime hediondo

antes da Lei 11.464/2007, não se sujeita ao artigo 2º, §2º, da Lei8.072/90, por se tratar

de novatio legis in pejus, devendo ocorrer sua progressão de regime com base no

artigo 112 da Lei de Execuções Penais, observando o quantum de 1/6 de cumprimento

depena.

Cabe destacar que tal entendimento surgiu do combate ao artigo 2º, § 2º, da Lei

8.072/90, que previa o cumprimento de pena no regime integralmente fechado para

os crimes hediondos ou equiparados. Após longo debate nos Tribunais Superiores,

reconheceu-se a inconstitucionalidade da previsão legal, por violação ao princípio da

individualização da pena, culminando na progressão de regime com o quorum até

entãoexistente, qual seja, 1/6 com base no artigo 112 da LEP.

O legislador pátrio, após o panorama jurisprudencial construído, alterou a redação do

artigo 2º, § 2º, da Lei 8.072/90, autorizando a progressão de regime de forma mais

gravosa para aqueles que cometeram crimes hediondos, por meio do cumprimento de

2/5 para os réus primários e 3/5 para os reincidentes.

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Curso 2ª Fase Penal XXXIII Exame de Ordem Direito Processual Penal

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No entanto, a nova redação conferida ao artigo 2º, §2º, da Lei8.072/90, por meio da

Lei 11.464/2007, externa-se de forma prejudicial àqueles que cometeram crimes

hediondos em data anterior a sua publicação, tendo em vista que os Tribunais

Superiores autorizavam a sua progressão com o cumprimento de 1/6 dapena.

Diante dessa construção jurisprudencial, os Tribunais Superiores pacificaram o

entendimento por meio dos verbetes 26 da súmula vinculante do STF e 471 da súmula

do STJ.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Agravo (0,30), artigo 197 da LEP (0,10). Obs.: A mera indicação do artigo não pontua.

0,00/0,10/0,30/0,40

B) Mário não se sujeita ao artigo 2º, § 2º, da Lei 8.072/90 por se tratar de novatio legis in pejus OU com base na irretroatividade da lei penal mais gravosa o artigo 2º, § 2º, da Lei 8.072/90 não se aplica a situação de Mário OU a antiga redação do artigo 2º, da Lei 8.072/90 é inconstitucional (0,35), razão pela qual a progressão deve ocorrer com base no Art. 112 da LEP, observando o quantum de 1/6 de cumprimento de pena (0,40). / Tal entendimento é fundamentado nos verbetes 26 da súmula vinculante do STF ou 471 do STJ (0,10). Obs.: A justificativa é essencial para atribuição de pontos.

0,00/0,10/0,35/0,40/ 0,45/0,50/0,75/0,85

11) (QUESTÃO 04 - XII EXAME)

Marcos, jovem inimputável conforme o Art. 26 do CP, foi denunciado pela prática de

determinado crime. Após o regular andamento do feito, o magistrado entendeu por

bem aplicar medida de segurança consistente em internação em hospital psiquiátrico

por período mínimo de 03 (três) anos. Após o cumprimento do período

supramencionado, o advogado de Marcos requer ao juízo de execução que seja

realizado o exame de cessação de periculosidade, requerimento que foi deferido. É

realizada uma rigorosa perícia, e os experts atestam a cura do internado, opinando,

consequentemente, por sua desinternação. O magistrado então, baseando-se no

exame pericial realizado por médicos psiquiatras, exara sentença determinando a

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desinternação de Marcos. O Parquet, devidamente intimado da sentença proferida

pelo juízo da execução, interpõe o recurso cabível naespécie. A partir do caso

apresentado, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) Qual o recurso cabível da sentença proferida pelo magistrado determinando a

desinternação de Marcos? (Valor: 0,75)

B) Qual o prazo para interposição desse recurso? (Valor: 0,25)

C) A interposição desse recurso suspende ou não a eficácia da sentença proferida

pelo magistrado? (Valor: 0,25)

GABARITO COMENTADO

Como se trata de decisão proferida pelo juiz da execução penal, o recurso cabível é o

Agravo, previsto no Art. 197, da Lei de Execução Penal - 7.210/84.

O prazo para a interposição do recurso é de 05 (cinco) dias, contados da data da

publicação da decisão no D.O., conforme dispõem as Súmulas do STF 699 e700.

SÚMULA 699 - O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO, EM PROCESSO PENAL, É

DE CINCO DIAS, DE ACORDO COM A LEI 8038/1990, NÃO SE APLICANDO O DISPOSTO

A RESPEITO NAS ALTERAÇÕES DA LEI 8950/1994 AO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

SÚMULA 700 - É DE CINCO DIAS O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO CONTRA

DECISÃO DO JUIZ DA EXECUÇÃO PENAL.

Via de regra, o recurso de Agravo em Execução não tem efeito suspensivo, conforme

previsão do Art. 197, da LEP. Todavia, a hipótese tratada no enunciado é a única

exceção à regra supramencionada, i.e., o agravo possui, na hipótese do enunciado,

efeito suspensivo, conforme previsto no Art. 179, da LEP. Portanto, a interposição

desse recurso suspende a eficácia dasentença.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

ITEM PONTUAÇÃO

A) Agravo em Execução (0,55), previsto no Art. 197 da Lei de Execução Penal - 7.210/84 (0,20). Obs.: A mera indicação ou reprodução do conteúdo do artigo não pontua.

0,00/0,55/0,75

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B) O prazo para a interposição do recurso é de 05 (cinco) dias (0,15), conforme previsto na Súmula 700 ou Súmula 699, ambas do STF (0,10). Obs.: A mera indicação da Súmula não pontua

0,00/0,15/0,25

C) A interposição desse recurso suspende a eficácia da sentença, conforme previsto no Art. 179, da LEP c/c Art. 197, da LEP (0,25).

0,00/0,25

12) (QUESTÃO 01 – XI EXAME)

O Juiz da Vara de Execuções Penais da Comarca “Y” converteu a medida restritiva de

direitos (que fora imposta em substituição à pena privativa de liberdade) em

cumprimento de pena privativa de liberdade imposta no regime inicial aberto, sem

fixar quaisquer outras condições.

O Ministério Público, inconformado, interpôs recurso alegando, em síntese, que a

decisão do referido Juiz da Vara de Execuções Penais acarretava o abrandamento da

pena, estimulando o descumprimento das penas alternativas ao cárcere. O recurso,

devidamente contra-arrazoado, foi submetido a julgamento pela Corte Estadual, a

qual, de forma unânime, resolveu lhe dar provimento. A referida Corte fixou como

condição especial ao cumprimento de pena no regime aberto, com base no Art.115 da

LEP, a prestação de serviços à comunidade, o que deveria perdurar por todo o tempo

da pena a ser cumprida no regime menos gravoso. Atento ao caso narrado e

considerando apenas os dados contidos no enunciado, responda

fundamentadamente, aos itens aseguir.

A) Qual foi o recurso interposto pelo Ministério Público contra a decisão do Juiz da

Vara de Execuções Penais? (Valor: 0,50)

B) Está correta a decisão da Corte Estadual, levando-se em conta entendimento

jurisprudencial sumulado? (Valor: 0,75)

GABARITO COMENTADO

Agravo em Execução (Art. 197 da LEP).

Não, pois de acordo com o verbete 493 da Súmula do STJ, é inadmissível a fixação de

pena substitutiva (Art. 44 do CP) como condição especial ao regimeaberto.

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Ademais, embora ao Juiz seja lícito estabelecer condições especiais para a concessão

do regime aberto, em complementação daquelas previstas na LEP (Art. 115 da LEP),

não poderá adotar a esse título nenhum efeito já classificado como pena substitutiva

(Art. 44 do CPB), porque aí ocorreria o indesejável bis in idem, importando na aplicação

de dúplicesanção.

Ademais, o Art. 44 do Código Penal é claro ao afirmar a natureza autônoma das penas

restritivas de direitos que, por sua vez, visam substituir a sanção corporal imposta

àqueles condenados por infrações penais mais leves. Diante do caráter substitutivo

das sanções restritivas, vedada está sua cumulatividade com a pena privativa de

liberdade, salvo expressa previsão legal, o que não é o caso.

Precedente: STJ - Habeas Corpus n. 218.352 - SP (2011/0218345-1)

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