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AULA N. 3: PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO CONSIDERAÇÕES: Algumas vezes o legislador, por questões de política criminal, cria alternativa penal a fim de se evitar a pena privativa de liberdade. Nas alternativas penais surgem duas modalidades: a) As medidas Penais Alternativas (transação, suspensão do processo etc): não se trata de pena, mas de institutos que impedem ou paralisam a persecução penal. b) Penas Alternativas: constituem verdadeiras penas, as quais impedem a privação de liberdade, compreendendo a pena de multa e as penas restritivas de direito. A diferença básica entre elas é que as medidas alternativas não constituem penas, mas opções para se evitar a persecução penal e, por conseqüência, a imposição de pena privativa de liberdade por sentença judicial. Penas restritivas de direito são sanções de natureza criminal diversas da prisão. São autônomas e substituem a pena privativa de liberdade por certas restrições e obrigações. Têm nítido caráter substitutivo, ou seja, não são previstas em abstrato no tipo penal e, assim, não podem ser aplicadas diretamente. Desta forma, o Juiz deve aplicar a pena privativa de liberdade e, presentes os requisitos legais, substituí-la pela restritiva (CPB, art. 54). A doutrina tem afirmado que a denominação restritiva de direitos é incorreta, pois daquelas relacionadas na lei, somente a interdição temporária de direitos possui essa natureza. A prestação pecuniária e perda de bens e valores são de natureza pecuniária. A prestação de serviços à comunidade e a limitação de fim de semana referem-se à restrição da liberdade do apenado. Nos termos do art. 55, as penas restritivas têm a mesma duração da pena privativa de liberdade aplicada (exceto nos casos de substituição por prestação pecuniária ou perda de bens e valores). Em razão disso, sendo alguém condenado a 9 meses de detenção o Juiz poderá substituir a pena por exatos 9 meses de prestação de serviços à comunidade. Não podem ser aplicadas cumulativamente. CONDIÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO: Os requisitos encontram-se no art. 44 do CP: a) Que o crime seja culposo (qualquer pena) ou, b) Sendo doloso, seja aplicada pena não superior a 4 anos, desde que o delito tenha sido cometido sem o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa.

PENAS RESTRITIVA DE DIREITO

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AULA N. 3: PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

CONSIDERAÇÕES:

Algumas vezes o legislador, por questões de política criminal, cria alternativa penal a fim de se evitar a pena privativa de liberdade. Nas alternativas penais surgem duas modalidades:

a) As medidas Penais Alternativas (transação, suspensão do processo etc): não se trata de pena, mas de institutos que impedem ou paralisam a persecução penal.

b) Penas Alternativas: constituem verdadeiras penas, as quais impedem a privação de liberdade, compreendendo a pena de multa e as penas restritivas de direito.

A diferença básica entre elas é que as medidas alternativas não constituem penas, mas opções para se evitar a persecução penal e, por conseqüência, a imposição de pena privativa de liberdade por sentença judicial.

Penas restritivas de direito são sanções de natureza criminal diversas da prisão. São autônomas e substituem a pena privativa de liberdade por certas restrições e obrigações. Têm nítido caráter substitutivo, ou seja, não são previstas em abstrato no tipo penal e, assim, não podem ser aplicadas diretamente. Desta forma, o Juiz deve aplicar a pena privativa de liberdade e, presentes os requisitos legais, substituí-la pela restritiva (CPB, art. 54).

A doutrina tem afirmado que a denominação restritiva de direitos é incorreta, pois daquelas relacionadas na lei, somente a interdição temporária de direitos possui essa natureza. A prestação pecuniária e perda de bens e valores são de natureza pecuniária. A prestação de serviços à comunidade e a limitação de fim de semana referem-se à restrição da liberdade do apenado.

Nos termos do art. 55, as penas restritivas têm a mesma duração da pena privativa de liberdade aplicada (exceto nos casos de substituição por prestação pecuniária ou perda de bens e valores). Em razão disso, sendo alguém condenado a 9 meses de detenção o Juiz poderá substituir a pena por exatos 9 meses de prestação de serviços à comunidade.

Não podem ser aplicadas cumulativamente.

CONDIÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO:

Os requisitos encontram-se no art. 44 do CP:

a) Que o crime seja culposo (qualquer pena) ou, b) Sendo doloso, seja aplicada pena não superior a 4 anos, desde que o delito tenha sido cometido

sem o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa.c) Que o réu não seja reincidente em crime doloso. Excepcionalmente o art. 44, §3º permite que o

Juiz aplique a substituição ao condenado reincidente, desde que o Juiz verifique ser a medida recomendável em face da condenação anterior e que a reincidência não seja em virtude da prática do mesmo crime (reincidência especifica).

d) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente para a prevenção e repressão do crime.

Observações:

- Alguns doutrinadores entendem que, por não haver proibição expressa, o benefício seria aplicado a condenados por tráfico ilícito de entorpecentes. Entretanto, como a Lei 8.072/90 estabelece que os condenados por tal delito devem cumprir a pena em regime integralmente fechado, o benefício não é aplicável.

- Os crimes de lesão corporal de natureza leve, de constrangimento ilegal e de ameaça, apesar de serem dolosos e cometidos com emprego de violência e grave ameaça não podem ser excluídos do benefício, uma vez que são considerados de menor potencial ofensivo (pena não superior a 1 ano), admitindo-se em relação a eles a aplicação

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imediata da multa ou de pena restritiva de direitos até mesmo na audiência preliminar, antes do oferecimento da denúncia. Com muito mais razão não se pode deixar de admitir o benefício ao final, por ocasião da sentença de mérito.

ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS: O art. 43 prevê as seguintes penas restritivas de direito: Prestação pecuniária; Perda de bens e valores; Prestação de serviços à comunidade ou à entidades públicas: Interdição temporária de direitos; Limitação de final de semana.

PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA: consiste no pagamento em dinheiro – à vista ou em parcelas – à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo Juiz, não inferior a um salário mínimo, sem superior a 360 salários mínimos.

O montante será fixado pelo Juiz levando-se em consideração:

- A reprovação do delito;- A capacidade econômica do condenado;

- A extensão do prejuízo causado à vitima ou a seus herdeiros;

- Que em hipótese nenhuma o montante deve ultrapassar os limites máximos e mínimos fixados em lei.

Difere esta modalidade da perda de bens e valores, onde o limite do valor é o prejuízo suportado pela vítima ou o proveito obtido com o crime (o que for maior).

O valor pago será deduzido de eventual condenação em reparação civil, se coincidentes os beneficiários. Assim, se o destinatário da prestação for entidade diversa da vítima, não ocorrerá a compensação.

Caso concorde o beneficiário, a prestação poderá ser de natureza diversa de dinheiro, como cestas básicas. Não pode, entretanto, consistir em prestação de trabalho, pois já existe a prestação de serviços à comunidade.

PERDA DE BENS E VALORES: consiste no confisco generalizado do patrimônio lícito do condenado, imposto como pena principal substitutiva da privativa de liberdade imposta, permitindo a constrição de bens sem o ônus de comprovar sua origem ilícita. Trata-se da decretação de perda de bens móveis e imóveis ou de valores, tais como títulos de crédito, ações etc. Não pode alcançar bens de terceiros, mas apenas do apenado, pois a pena não pode passar da pessoa do condenado.

Não se confunde com o confisco de bens que constituírem instrumento, produto e proveito do crime previsto no art. 91, II, alínea “a” e “b” do CP. A perda de bens é pena principal e o confisco consiste em efeito secundário extrapenal da condenação. Além disso, a pena restritiva atinge bens e valores lícitos, o que não ocorre no confisco.

A perda de bens e valores dá-se em benefício do Fundo Penitenciário Nacional, ressalvada a legislação especial, e tem como teto o montante do prejuízo causado ou o proveito obtido pelo agente, em virtude da prática do crime, decidindo-se pelo valor mais elevado.

A execução é feita pelo próprio beneficiário, que em caso de descumprimento, comunica ao juízo da execução para que se proceda com a conversão da pena.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU À ENTIDADES PÚBLICAS: consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.

- A substituição somente é possível quando o réu for condenado a pena superior a 6 meses;

- As tarefas serão atribuídas pelo Juiz de acordo com as aptidões do condenado;

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- Deve ser cumprido à proporção de uma hora de tarefa por dia de condenação, de forma a não prejudicar a jornada normal de trabalho;

- Se a pena substituída for superior a 1 ano (e até 4), é facultado ao condenado cumpri-la em menor tempo, nunca inferior à metade da pena originalmente imposta, perfazendo um maior número de horas-tarefa em espaço mais curto de tempo;

- Quem determina a entidade é o Juiz da execução, que deverá encaminhar um relatório mensal sobre o comparecimento e aproveitamento do condenado.

INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS: características:

a) Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandado eletivo: trata-se de pena específica, pois só pode ser aplicada ao crime cometido no exercício do cargo ou função, com violação de deveres a ele inerentes (CP, art. 56), e desde que preenchidos os requisitos legais para a substituição. O cargo referido pela lei é o efetivo e não o eventual

No que se refere à suspensão do mandado eletivo, a condenação criminal transitada em julgado acarreta a suspensão dos direitos políticos enquanto durarem seus efeitos.

b) Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, autorização ou licença do Poder Público: também se trata de pena restritiva específica, pois somente se aplica aos crimes cometidos no exercício da profissão ou atividade e se houver violação de deveres a estas relativas (CP, art. 56).

c) Suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículos: cuida-se de pena específica, somente aplicável aos delitos culposos de trânsito.

OBSERVAÇOES sobre o Código de TrÂnsito Brasileiro - CTB:

1) Com o novo CTB (Lei n. 9.503/97) a suspensão ou proibição de obter habilitação para dirigir veículo automotor passou a ser pena principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades.

2) Neste caso, alguns autores afirmam que está revogado o inciso III do art. 47, pois não se enquadram nessa categoria os veículos movidos por tração animal e a propulsão humana.

3) Outros afirmam que o dispositivo continua tendo validade, entretanto, somente se aplica às pessoas que, habilitados para dirigir veículos, pratica crime culposo de trânsito na condução de veículo de tração humana (bicicleta etc) ou animal (carroças etc).

4) O condutor condenado por qualquer dos crimes previstos no CTB perderá sua habilitação ou permissão, ficando obrigado a submeter-se a novos exames para voltar a dirigir. Trata-se de efeito penal automático da condenação, não necessitando ser motivado expressamente na sentença (CTB, art. 160);

5) Transitada em julgado a decisão, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em 48 horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação;

d) Proibição de freqüentar determinados lugares: consiste na proibição do condenado em freqüentar lugares discriminados pelo Juiz pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade fixada inicialmente. Os lugares discriminados devem guardar relação com o delito praticado e com a pessoa do agente, como forma de prevenir a prática de novo crime pelo condenado.

Cabe ao Juiz da execução comunicar à autoridade administrativa a respeito da pena de interdição de direitos aplicada.

Quando se tratar de proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandado eletivo, a autoridade à qual for comunicada a aplicação da pena deverá, em 24 horas, contados do

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recebimento do ofício do magistrado, baixar ato a partir do qual a execução terá seu início (art. 151 §1º da LEP)

Quanto à proibição de exercício de profissão, atividade ou ofício e à suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículos, o Juiz da execução determinará a apresentação dos documentos que autorizam o exercício do direito interditado (art. 154, §2º da LEP).

O descumprimento de pena deverá ser comunicado pela autoridade administrativa ou por qualquer pessoa prejudicada (art. 155 da LEP).

Já não é mais possível a suspensão provisória do exercício do pátrio poder, da autoridade marital, da tutela, da curatela e da profissão ou atividade quando estas interdições poderiam resultar da condenação, como fazia a lei anterior, no art. 71.

LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA: consiste na obrigação do condenado de permanecer aos sábados e domingos, por 5 horas diárias na casa do albergado ou outro estabelecimento adequado, onde poderão ser ministrados cursos ou palestras ou atribuídas atividades educativas. O estabelecimento encaminhara mensalmente ao juízo da execução relatório sobre o aproveitamento do condenado.

A TRANSAÇÃO NOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO:

Nos termos do art. 76 da Lei n. 9.099/95, em crimes de menor potencial ofensivo (pena máxima não superior a um – [ou dois no Juizado Federal] ano) o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, a ser especificada na proposta, desde que:

- O autor da infração não tenha sido condenado definitivamente à pena privativa de liberdade pela pratica de crime;

- Não ter sido o autor da infração beneficiado com a transação nos últimos 5 anos anteriores;

- Os antecedentes, a conduta sócia e a personalidade do agente, os motivos e circunstâncias indicarem ser necessária e suficiente a medida.

Acolhida a proposta pelo autor da infração o Juiz aplicará a pena restritiva, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para fins de impedir novo benefício no prazo de 5 anos.

CONVERSÃO: é a alternatividade de uma pena por outra no curso da execução.

O art. 180 da LEP dispõe sobre a conversão. Lá se prevê a possibilidade de conversão da pena privativa de liberdade durante a execução da pena, quando não foi favorecido inicialmente com a substituição da pena. A conversão pode ocorrer quando, pela quantidade de pena privativa de liberdade aplicada, não era possível a substituição quando da sentença.

Somente pode ser convertida pena não superior a dois anos, desde que:

- O condenado esteja cumprindo em regime aberto;- Tenha sido cumprido pelo menos um quarto da pena;

- Os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável.

Observe-se que quando da prolação da sentença seriam levadas em consideração a culpabilidade, motivos, circunstâncias e conseqüências do crime etc, e neste momento da conversão somente os antecedentes e a personalidade são considerados.

A conversão também está prevista no art. 44, §4º do CP. Ocorre quando o apenado descumpre injustificadamente a restrição imposta e a pena restritiva de direito é convertida para privativa de liberdade. Haverá a conversão quando:

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- Durante o cumprimento da pena alternativa, sobrevier condenação à pena privativa de liberdade e a nova condenação tornar impossível o cumprimento da pena alternativa;

- O condenado não for encontrado para ser intimado do início do cumprimento da pena;

- Houver o descumprimento injustificado da restrição imposta ou quando o condenado praticar falta grave.

Nos casos de conversão, do cálculo da pena privativa de liberdade a ser executada será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direito. Como única exceção observa-se o cumprimento de um mês de reclusão ou detenção se o saldo a cumprir for inferior a esse limite temporal

A conversão não é automática, devendo ser decidido pelo Juiz após ouvir as justificativas do descumprimento.

Diante da nova redação do art. 51, é quase unânime a doutrina em afirmar que a conversão não se aplica quando a pena substituta é de multa.

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