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FILOSOFANDOl Meu avó foi abaixando a cabeca e seus olhos tocaram em nossas' máos entrelacadas. Eu achcí serem pingos de chuva as gotas rolando sobre meus dedos, mas a noite estava clara, como tudo mais." (Bartolomeu Campos Queírós)!' ".7 •. Faca um levanta mento das propagandas de carro veiculadas no momento e observe o tipo de apelo usado. Quem sai "ganhando" pelo uso do produto e o que ganha? Faca a crítica a partir do que foi estudado no capítulo. 8; Lendo ern alguns jornais as norícias sobre a atuacáo do MST (Movimento dos Sern-Terra), percebe-se que o termo usado é o de "invasáo da propriedade rural", enquanto os ativistas preferem se referir a "ocupacáo de terras improdutivas". Explique o significado da díferenca de enunciados. Questoes sobre a leitura complementar _" """""""-.,..~=,,,n>"',, " .,,9; A partir do texto "Desterritorializacáo da cultura" responda. a) Explique com suas palavras por que o executivo alernño se sente "ern casa" 11.adistante e.oriental !-long Kong. b) A partir da experiencia pessoal ao visitar shoPIJings de diferentes cidades no seu estado e/ou no Brasil, identifique as características de hornogeneizacáo sob diversos aspectos. e) Levando em conta as especifícídades da regiáo em que vocé habita, identifique produtos regionais que forarn esquecidos em funcáo do consumo de produtos internacionais. Dlssertacáo """""""'-=,.." "'",',' '.,'-"" lQ; Tema: "O importante nao é o que fazem do ser humano, mas o que ele faz do que fizeram dele". (lean- Paul Sartre) Debate ~"""'~<'3i' 11", Cada grupo formado na c1asse deve se ocupar de urna das tarefas a seguir, voltadas para a análise de quadrinhose charges publicados em revistas e jornais. Após o trabalho, as conclus6es de cada grupo devem ser expostas para a classe e debatidas por todos. a) Selecione quadrinhos com características ideológicas; em seguida, justifique a escolha. b) Selecione tiras de quadrinheiros nacionais que tenham postura crítica dos costurnes. justique sua escolha. e) Selecione algumas charges em jornais e as comente a luz dos acontecimentos políticos que elas visam criticar. 11. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. P01: parte de pai. Belo Horizonte, RHJ, 1995. p. 71-72. CAPÍTULO A perenidade dos mitos nao é devida ao prestígio da fabulClfaO, el magia da literatura. É que ela atesta a perenidade mesma da ~ealidade humana, Gusdorf 1. A perspectiva dos ti civilizados" Inicialmente, faremos urna advertencia. O problema que sempre existe ao estudarrnos os pavos tribais é o risco do exotismo e da compa- racáo depreciativa, ou seja, do etnocentrismo. Se, por um lado, as pessoas se eñ¿mi;'iñ. e se surpreendem com os estranhos rituais e convic- cóes míticas dessas comunidades. por outro, nao relutam e111considera-las inferiores, atrasadas. Daí a tendencia de c1~;ificá-las ap;rtir das nossas categorias, como a sociedade "~21~ escri- ta":~'sem Estado", "se m cornércio", "sem histó- ria". Segundo o etnólogo francés Pierre Clastres, se explicamos esses POyOS pelo que lhes falta, tendo como ponto de referencia a nossa sociedade, dei- xamos de compreender a sua realidade, o que, em muitos casos, acaba por justificar a atitudc ~n_alis!<t e missionária de "levar o progresso, a ct!1tura e a 'verd.a(;kir.![é" ao p_ovq "atrasado". -"A tendencia de ver esses grupos como infe- riores decorre da tradicáo da colonizacáo que a justifica. Quando os navegantes"ew'Opeus iniciam a expansáo ultramarinaiiosséculos 'X;V e XVI, na procura de novos carninhos para as Indias, dáo o nome de índios aos nativos americanos, que supu- nham pertecerem as terras do Oriente. Para evitar esse equivoco, muitas vezes o termo "indio" é substituido por.ÍEEígena, que etlmologiéaní:ente significa "nascido em casa". Usam-se também denominacóes como P?.1!.Qs,n.~riies 0l3:.5!ni;!.~«p~i- .mitiuas" ou "sem-escrita", embora reconhecendo- se' a inadequ;~ao'd~~;as expressóes. Nesse sentido, o antropólogo Claude ~!-:- St~_~,:~s prefere colocar ~~ n~ ~~~a_~'pri~ mitivo", quando a ela recorre, na falta de outra. I "~~--;-'assim, é preciso nao nos esquecermos de que,g~elU?º-Yºs devem ser vistos como dife- -e., rentes, e nao iriferiqre~: É ainda Lévi-Strauss quem '>l~;-;~xplic~ com0.9l1los nós que perdemos muito de nossas capacidades, por exernplo, por utilizannos consideravelmente menos as nossas ...:- ,~_ '0', '._"' ••••.•.• ,~ perc_ep~6es sensoriais. . Basta lembrar corno os indígenas tém a vis- ta e o ouvido treinados para perceber o qúe"ñIo' mais "cori'S~guimos ver ou ouvir e como ácú- mulam conhecimentos adrniráveis sobre as plan- tas e os·animais. "Nós perdemos todas estas co'i= sas, mas nao as 'perdemos em troca de nada; esta- mos agora aptos a guiar UIl1 automóvel sem cor- r------- -' rer o risco de sermos esmagados a qualquer mo- mento, e ao fim do dia podemosligaro rásl.i,() ou o televisor. Isto implica um treino de capa- -cídadesille;;:tais que os POYOS 'primitivos' nao possuem porque nao precisam delas. Pressinto que, com o potencial que térn, po~er mo- dificado a qualidade das suas mentes, mas tariii'o:' dificaca(; na~ se~ia adequada ao tipo de vida que 'k;;n; e~o tipo de relacóes que mantérn c.Q1l1 a ~atureza".2 2. O mito entre os "primitivos" Entre o pavos indígenas, habitantes das ter- ras brasileiras, encontramos várias versóes sobre a origem do dia e da noite. Um desses relatos miticos é o seguinte: ao transportarem um coco, algumas pessoas ouvem sair de dentro dele rui- dos estranhos e nao resistern a tentacáo de abri- lo, apesar de recomendacóes contrarias. Deixam escapulir entáo a escuridáo da noite. Por pie da- 1 e 2. LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Lisboa, Edícóes 70, 2000. p. 30 e 33.

Pensamiento cientifico ii

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FILOSOFANDOl

Meu avó foi abaixando a cabeca e seus olhos tocaram em nossas' máos entrelacadas. Eu achcí serempingos de chuva as gotas rolando sobre meus dedos, mas a noite estava clara, como tudo mais." (BartolomeuCampos Queírós)!'

".7 •. Faca um levanta mento das propagandas de carro veiculadas no momento e observe o tipo de apelo usado.Quem sai "ganhando" pelo uso do produto e o que ganha? Faca a crítica a partir do que foi estudado nocapítulo.

8; Lendo ern alguns jornais as norícias sobre a atuacáo do MST (Movimento dos Sern-Terra), percebe-seque o termo usado é o de "invasáo da propriedade rural", enquanto os ativistas preferem se referir a"ocupacáo de terras improdutivas". Explique o significado da díferenca de enunciados.

Questoes sobre a leitura complementar _" """""""-.,..~=,,,n>"',, ".,,9; A partir do texto "Desterritorializacáo da cultura" responda.

a) Explique com suas palavras por que o executivo alernño se sente "ern casa" 11.adistante e.oriental!-long Kong.

b) A partir da experiencia pessoal ao visitar shoPIJings de diferentes cidades no seu estado e/ou no Brasil,identifique as características de hornogeneizacáo sob diversos aspectos.

e) Levando em conta as especifícídades da regiáo em que vocé habita, identifique produtos regionaisque forarn esquecidos em funcáo do consumo de produtos internacionais.

Dlssertacáo """""""'-=,.." "'",',''.,'-""lQ; Tema: "O importante nao é o que fazem do ser humano, mas o que ele faz do que fizeram dele". (lean-

Paul Sartre)

Debate ~"""'~<'3i'

11", Cada grupo formado na c1asse deve se ocupar de urna das tarefas a seguir, voltadas para a análise dequadrinhose charges publicados em revistas e jornais. Após o trabalho, as conclus6es de cada grupodevem ser expostas para a classe e debatidas por todos.a) Selecione quadrinhos com características ideológicas; em seguida, justifique a escolha.b) Selecione tiras de quadrinheiros nacionais que tenham postura crítica dos costurnes. justique sua

escolha.e) Selecione algumas charges em jornais e as comente a luz dos acontecimentos políticos que elas visam

criticar.

11. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. P01: parte de pai. Belo Horizonte, RHJ, 1995. p. 71-72.

CAPÍTULO

A perenidade dos mitos nao é devida ao prestígio da fabulClfaO, el magia daliteratura. É que ela atesta a perenidade mesma da ~ealidade humana,

Gusdorf

1. A perspectiva dosticivilizados"Inicialmente, faremos urna advertencia. O

problema que sempre existe ao estudarrnos ospavos tribais é o risco do exotismo e da compa-racáo depreciativa, ou seja, do etnocentrismo.Se, por um lado, as pessoas se eñ¿mi;'iñ. e sesurpreendem com os estranhos rituais e convic-cóes míticas dessas comunidades. por outro, naorelutam e111considera-las inferiores, atrasadas.

Daí a tendencia de c1~;ificá-las ap;rtir dasnossas categorias, como a sociedade "~21~escri-ta":~'sem Estado", "se m cornércio", "sem histó-ria". Segundo o etnólogo francés Pierre Clastres,se explicamos esses POyOS pelo que lhes falta, tendocomo ponto de referencia a nossa sociedade, dei-xamos de compreender a sua realidade, o que,em muitos casos, acaba por justificar a atitudc~n_alis!<t e missionária de "levar o progresso, act!1tura e a 'verd.a(;kir.![é" ao p_ovq "atrasado".

-"A tendencia de ver esses grupos como infe-riores decorre da tradicáo da colonizacáo que ajustifica. Quando os navegantes"ew'Opeus iniciama expansáo ultramarinaiiosséculos 'X;V e XVI, naprocura de novos carninhos para as Indias, dáo onome de índios aos nativos americanos, que supu-nham pertecerem as terras do Oriente. Para evitaresse equivoco, muitas vezes o termo "indio" ésubstituido por.ÍEEígena, que etlmologiéaní:entesignifica "nascido em casa". Usam-se tambémdenominacóes como P?.1!.Qs,n.~riies 0l3:.5!ni;!.~«p~i-.mitiuas" ou "sem-escrita", embora reconhecendo-se' a inadequ;~ao'd~~;as expressóes.

Nesse sentido, o antropólogo Claude ~!-:-St~_~,:~s prefere colocar ~~ n~ ~~~a_~'pri~

mitivo", quando a ela recorre, na falta de outra. I

"~~--;-'assim, é preciso nao nos esquecermos

de que,g~elU?º-Yºs devem ser vistos como dife--e., rentes, e nao iriferiqre~: É ainda Lévi-Strauss quem

'>l~;-;~xplic~ com0.9l1los nós que perdemosmuito de nossas capacidades, por exernplo, porutilizannos consideravelmente menos as nossas

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perc_ep~6es sensoriais.. Basta lembrar corno os indígenas tém a vis-

ta e o ouvido treinados para perceber o qúe"ñIo'mais "cori'S~guimos ver ou ouvir e como ácú-mulam conhecimentos adrniráveis sobre as plan-tas e os·animais. "Nós perdemos todas estas co'i=sas, mas nao as 'perdemos em troca de nada; esta-mos agora aptos a guiar UIl1 automóvel sem cor-r------- -'rer o risco de sermos esmagados a qualquer mo-mento, e ao fim do dia podemosligaro rásl.i,()ou o televisor. Isto implica um treino de capa-

-cídadesille;;:tais que os POYOS 'primitivos' naopossuem porque nao precisam delas. Pressintoque, com o potencial que térn, po~er mo-dificado a qualidade das suas mentes, mas tariii'o:'dificaca(; na~ se~ia adequada ao tipo de vida que

'k;;n; e~o tipo de relacóes que mantérn c.Q1l1

a ~atureza".2

2. O mito entre os "primitivos"Entre o pavos indígenas, habitantes das ter-

ras brasileiras, encontramos várias versóes sobrea origem do dia e da noite. Um desses relatosmiticos é o seguinte: ao transportarem um coco,algumas pessoas ouvem sair de dentro dele rui-dos estranhos e nao resistern a tentacáo de abri-lo, apesar de recomendacóes contrarias. Deixamescapulir entáo a escuridáo da noite. Por pie da-

1 e 2. LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado.Lisboa, Edícóes 70, 2000. p. 30 e 33.

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FILOSOFANDO' ,

de divina, a claridade lhes é devolvida pela Au-rora, porém nunca mais haveria so claridade,como antes, mas alternancia do dia e da noite.

De forma parecida, os greg~s dos temposhoméricos narram o mito de Pan dora, a pri-rneira mulher. Em uma das muitas versóes desse

. mito, Pan dora é enviada por Zeus a fim de pu-nir o titá Prometen, que roubara o fogo dos céuspara dá-lo aos seres humanos. Pandora leva con-sigo urna caixa, que abre por curiosidade, dei-xando escapar todos os males que nos afligem,mas consegue fechá-Ia a tempo de reter a espe-ranca, única forma de suportarmos as dores e ossofrimentos da vida.

Nos dois relatos, percebemos situacóes apa-rentemente diversas, mas com forres semelhan-cas, porque ambos contam a origem de algo:entre os indígenas, como surgiram o dia e a noitee entre os gregos, a origem dos males.

Urna leitura apressada nos faria entender omito C01110uma maneira fanrasiosa de explicara realidade ainda nao justificada pela razño. Sobesse enfoque, os mitos seriam lendas, fábulas,crendices e portanto uma forma menor de co-nhecimento, prestes a ser superado por ex'Plica-cóes mais racionáis. No entanto, o mito é maiscomplexo e mais rico do que supóe essa visñoredutora. Mesmo porque nao sáo só os POyOS

"primitivos" que elaborarn mitos, a conscienciamítica persiste em todos os ternpos e culturascomo componente indissociável da maneirahumana de comprecnder a realidade, como ve-remos mais adiante,

Foi importante a contribuicáo dos antropó-logos que, a partir do inicio do século XX, esta-beleceram contatos diretos com comunidades dasilhas do Pacífico, da África e do interior do Bra-sil. Suas pesquisas de campo mostram que o mitovivo é muito mais expressivo e rico do que supo-mos quando apenas ouvimos o relato frio de len-das, desligadas do ambiente que as fez surgir.

Como processo de cornpreensáo da reali-dade, o mito nao é lenda, mas verdade. Quandopensamos ern verdade, é cornum nos referirmosa coeréncia lógica, garantida pelo rigor da argu-mentacáo e pela apresentacáo de provas. A ver-dade do mito, porérn, é intulda, e, como tal, naonecessita de comprovacóes, po~c;i-téi-io

.: de adesño do mito é a crenca, a fé. O mito éI '..portanto uma_ intuicáo compreensiva da reali-dade, cujas raízes se fundam nas e?}o<;:o_ese na

afetividade. Nesse sentido, antes de interpretaro mundo, o mito expressa o que desejamos outememos, como somos atraídos pelas coisas ouC0l110del as nos afastamos.

Esse "falar sobre o mundo" simbolizado pelomito está impregnado do desejo humano de do-miná-lo, afugentando a inseguranca, os temores ea angústia diante do desconhecido e da 1119rte.

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magicamente, para garantir de antemáo o su-cesso da cacada; essa suposicáo se deve ao fatode que geralmente os desenhos erarn feitos naspartes mais escuras da caverna,

Segundo Mircea Eliade, filósofo romenoestudioso das religióes, urna ~ilsJ~l.m:§~s..do111Ü.Qé fixar os modeL<?LgemRl,m:~.de todos os ritose de fodás··as-;;tividades humanas sigl1¡f¡c;dvas-.--Dessa forma, o "prirnitivo'<imitá os gestos exem-plares dos deuses, repetindo nos rituais as acóesdeles. Quando o missionário e etnólogoStrehlow perguntava aos arunta por que cele-bravam determinadas cerimónias, obtinha inva-riavelmente a mesma resposta: "Porque os an-cestrais assim-o prescreveram". Essa é também ajustificativa invocada pelos teólogos e rirualistashindus: "Devemos fazer o que os deuses fize-rarn no principio"; "Assim fizeram os deuses,assim fazem os homens".

Nos rituais, os arunta nao se limita m a re-pres;;ma~·oLi imitar a vida, os feitos e as aventu-ras dos ancesriáis: tudo se passa como se elesaparecessem de fato nas cerimónias, Nesse sen-tido, o tempo sagrado é reversíveJ, ou seja, a fes-ta religiosa nao é simples comernoracáo, mas aocasiáo em que o sagrado acontece novamentecomo reatualizacáo do evento divino que tevelugar no passado mítico, "no comeco". Na suaacño, o "primitivo" imita os de uses nos ritos queatualizam os mitos primordiais. Caso contrário,a sernente nao brotará da terra, a muJher naoserá fecundada, a árvore nao dará frutos, odianao sucederá a noite.

_bJQrma sobrenaturalde descrever a realida-de é coerente com a maneira mágica pela qual o"primitivo" age sobre o mundo, como, por exem-plo, nos inúmeros r{t,osgepq.s.sagem do nascimen-to, da infancia para a idade adulta, do casamento,da 1110rte,Sem os ritos, é corno se os fatos natu-rais descritos nao pudessern se concretizar. Se-gundo Mircea Eliade,"quando acaba de nascer, acrianca só dispóe de urna existencia física, nao éainda reconhecida pela familia nem recebida pelacornunidade. Sáo os ritos qué se efetuarn imedia-tamente após o parto que conferem ao recérn-nascido o estatuto de 'vivo' propriamente dito; ésomente graps a estes ritos que ele fica integra-do na comunidade dos vivos. [...] No que diz

UNIDADE 11 - CONHEClM",~TO

3. Fun~oesdo mitoEmbora o mito tarnbérn seja uma forma de

cornpreensño da realidade, sua funcáo é, primor-dialmente, acomodar e tranqüilizar o ser huma-no em um mundo assustador.·

Entre as comunidades "primitivas", o nlito-·se constitui un~.discurso de tal forca que s{:!_es~tende por todas as dependencias da realidadevivida; nao se restringe apenas ao alllbito do sa-grado (ou seja, da relacáo entre a pessoa e o di-vino), nl~~_permeia todos os campos da ativida-de hL;l1lan~~~or isso,-osmodeJos de construcáo

. mítica do real sáo de natureza sobrenatural, isto é,recorre-se aos de uses para cornpreender a ori-gem e nature;; 'd~s fatos, como indica m osexemplos a seguir:

• a origem da técnica: como os seres huma-nos eram mais fracos do que os animais, o titáPromet~u roubou o fogo dos de uses par;--dr:lo aos humanos, tornando-os mais fortes, por-que hábeis;

• a natureza dos instrumentos: certos utensiliossño objeto de culto, como a enxada ou o anzol, alanca ou a espada;

., a origem da agricultura: segundo o mito in-dígena tupi, a mandioca, alimento básico da tri-bo, nasce do túmulo de uma crianca chamadaMandi; no mito grego, Perséfone é levada porHades para seu castelo tenebroso, mas, a pedidode sua máe Deméter, retorna ern certos perio-dos: esse mito simboliza o trigo enterrado comosemente e renascendo como planta;

• a fertilidade das mulheres: para os arunta, daAustrália, os espíritos dos mortos esperam a horade renascer e penetram no ventre das mulheresquando elas passam por certos locais;

• o caráter mágico das dancas e desenhos: quan-do o Homem de Cro-Magnon fazia afrescos nasparedes das cavernas, representando a captura derenas, talvez nao pretendesse enfeitá-Ias nemmostrar suas habilidades pictóricas, mas agir

3. ELlADE,M. O sagrado e o profano. Lisboa, Livros do Brasil, s.d, p. 143-144.4. GUSDORF, G, Mito e metafisica. Sito Paulo, Convívío, 1979. p, 102.

respeito a morte, os ritos sáo tanto mais cornple-xos quanto se trata náo-somente de UI11 'fenó-meno natural' (a vida - ou a alma - abando-nando o corpo), mas tarnbém de urna mudancade regime ao mesmo tempo ontológico e social:o defunto deve afrontar certas provas que inte-ressarn ao seu próprio destino post-mortem, masdeve também ser reconhecido pela comunidadedos mortos e aceito entre eles"."

4. O "primitivo" e aconsciencia de si

Nas comunidades tribais em que predomi-na a consciencia mítica, a experiencia, inrlivi-dual nao se separa da experiencia da' cornunida-.ie, n;;;-;~ faz por meio dela, o que nao significaa ausencia de qualquer princípio de individua-cáo, mas sim que o equilíbrio pessoal dependeda preponderáncia do coletivo, Como diz Gus-dorf, "aE~nleira ~onscienci; pessoal está, por-tanto, presa na massa comunitária e nela sub-

. mergida. Mas esta consciencia dependente e re-lativa nao é uma ausencia de consciencia; é urnaconsciencia em situacáo, extrínseca e nao in-trínseca, a individualidade aparecendo entáocomo um nó no tecido complexo das relacóessociais. E o eu se afirma pelos outros, isto é, ejenáo é pessoa, mas personagem"."

Essa foun~ de coletivismodetermina a adap-ta<;:ao,!;.eJ)1critica do indivíduo as normas da tra-

-di<;:a~'A:·~~~lscienciamítica é ingenua (no senti-do' de náo-critica), desprovida de problematiza-c;:ao~. supóe a acei~ª-o_.1~cita sl-ºs .mitos e das

~ 2rescri<;:oesdos rituais. A adesáo ao mito é feita-P~la.ili,pela cren\=a.No universo cuja conscién-Eia ~_c-º-letiv;,-at;'a;sg~eSsao da normaultrapassaquem a violou, Por isso a trangressáo do tabu -proibicáo sempre envolta ern clima de temor e

~sobrenaturalidade - estigmatiza a familia, osamigos e, as vezes, toda a tribo. Daí os "ritos de

Y1iificac;:ao" e os rituais do "bode eXPlatóiio",nos quais o pecado é transferido para UL11animal.

,_~a.tr.~~diE:Édipo rei, de Sófocles, ficamos saben-do que o crirne de Édipo traz toda sorte de pra-:

_gas para Tebas, e o sábio Tirésias vaticina que acidade só se Iivraria delas quando fosse encontra-

, doo assassino de Laio .

~FILOSOFANDO ,:1

5..Mito e religiao"No desenvolvimento da cultura humana,

náo podemos (ixar um pont!2_onde termina omi~9 e a.reJigiao copleya. Em todo ~urso de suahistória, a ~.Iigili?P.~!:!11ªg~S<O indissoluvdme~teligada a elementos míticos e repassada deles,"

~;'-~--POden1ós distinguir tre~ases na forrnacñodos conceitos de dcusls",::::=;;;;

A-prirneirafase é caracterizada pela rnulti-plicidade de dcuset!J,?~elltán~os, simples excita-yOes inst¡¡,n!arl.eas,fugidias, ~s quais é atribuído ovalor de divindade.e cuja fonte é a_emps:aQ,sub-~va, marcada ainda pelo Jn~9o. Esses deusesnao representam nern forcas da I;atureza nemaspectos especiais da vida humana. As vezes, trata-se de UJ11 conteúdo mental, como a Alegria, aDecisáo, a {¡;U;lig~nCia:·m:itras,de un! objeto ou(fequalquer~ealidade percebida como ten do sidorepentinamente enviada do Céu.

Na se~~~.fase, há a descoberta do sentí-mentada individualidad e dü-dívÚi.ci; dos de-mc·ri:t"os pessoais do sagrado. Essa etapa coincidecom a maior complexidade da acáo humana,caracterizada pela divisío do trabalho.Assirn, toda

atividade particular ganha o seu deus [uncional,que vigia cada momento do trabalho. A regula-do da atividade encontra sua medida na pró-~ria periodicidade dos ciclos naturais (as esta-cóes do ano, o plantío, a colheita etc.). E cadaato, por rnais especializado que seja, adquire sig-nificado religioso: o ser humano recorre a di-vindades que devern protege-lo a cada momento.Entre os gregos, por exemplo, Deméter presideo ritmo das estacóes e das colheitas; Afroditeregula o amor; e assim por diante.

Ao mesrno tempo, o caráter existencia] domito conduz a prática de rituais mágicos, e a féna magia constitui o despertar da confianca ernsi mesmo. O ser humano nao se sente mais amercé das forcas naturais e sobrcnaturais e de-sempenha o seu papel, convicto de que no mun-do natural tudo depende, em parte, dos seus atos.Como exemplo, podemos citar os ritos mágicosda fertilidade, sern os quais se acreditava que nema terra frutificaria nern a mulher conceberia.Convém lernbrarque a-magia tanto pode ser usa-da para o bern como para o mal, urna vez quenao se encontra ainda ligada a princípios éticos.

5: CASSlRER, E. AntropologiajUosófica. Sáo Paulo, Mestre Jou, J 972. p. 143.

No lugorsagrado de Delfos,a temploe o leaIra [no falo,

í- em 1969) reverenciamduasdivindodes 'que se opóerne se complelam: Apolo e

I Dioniso.O primeirosimbolizoo equilibrio,o hormoniodeformos e o segundo, deusdo vinho e do inspirocóo.represenlo o que extrovosae se expressa no impulsocriador: o espírilodionisioco,disciplinadopeloapolíneo,dálugará Iragédioe á cornédio

; 9re90s.

UNIDADE 11 CONHECIMENTO m ~. ¡¡¡

compreensáo do mundo dessacraliza o pensa-mento e a acáo, isto é, retira dele o caráter desobrenaturalidade, fazendo surgir a filosofía, aciencia, a técnica.

Perguntamos entáo: o desenvolvimento dopensamento reflexivo decretou a morte da cons-ciencia rnítica?

Augusto Cornte, filósofo francés do séculoXIX~~d;¿or aopositi;i~mo, responde pelaafirmativa: ao explirn-;-;;;oluyao da humani-dade, define a maturidade do espírito humanopelo abandono de todas as formas miticas ereligiosas. Dessa maneira, opóe radicalmentemito e razao, ao mesmo tempo que inferioriza

. o mito como tentativa fracassada de explicacáoda realidade,

Ao criticar o mito e exaltar a ciencia, con-traditoi·iam~n:te o positivismo faz nascer o mito

'-do cientificis~1O, OU seja, a crenca na ciencia C01110·"·~;;i·~aforma de saber possível, de onde surgemos mitos do progresso, da objetividade e da neu-tralidade científicas.

Além disso, o positivismo mostra-se redu-cionista,empobrecendo aspossibilidades de abor-dagens do mundo.porquea ciéncia nao é a únicainterpretacño válida do real nem é suficiente, já

. que o mito é uma forma fundamental do viverhumano. Q. mito é o ponto de partida par? a

~_~lE~~n~ao do }er. EIÍ1'otifiis-pala~ras, tudo oque pensamos e queremos se situa inicialmenteno horizonte da irnaginacáo, nos pressupostosmíticos, cujo sentido existencial serve de basepara todo trabalho posterior da razáo.

Como o mito é a nossa primeira leituradomundo, o advento de outras interpreracóes darealidade nao exclui o [1tO de ele ser raiz dainteligibilidade.A funs~~ f,!~ulad9ra persiste naosó nos con~os p()p.lllares, no.0!c.!Qre, como tam-~.é.rl1. na vida diária, quando proferimos certaspalavras ricas de ressonáncias míticas: casa, lar,amor, pai, máe, paz.Iiberdade, morte, c~;ja defi-nicáo objetiva nao esgota os significados queultrapassam os limites da própria subjetividade.Essas palavras nos remetem a valores arquetipi-cos, modelos universais existentes na naturezainconsciente e primitiva de todos nós. Nao por

6. CASSlRER, E. Anlropologiafilosófica. Sáo Paulo, Mestre Jou, J972. p. l62.

_ ..~_~~~~.:i~~f~se caracteriza-se pelo apareci-mento do••.~e.u~.J?!H'l(lI,fruto do processo histó-rico que inclui o desenvolvimento lingüístico.Surge quando o no me do deus funcional, deri-vado do círculo deati~idadee;¡;eCíar que lhedeu origern, perde a ligayao com essa atividadee torna-se um nome próprio, constituindo urnnovo ser que continua a se desenvolver segundosuas próprias leis, O deus pessoal caracteriza-sepor ser capaz de sofrer e-.agir como as pessoas.

~---- '=-~Atua de maneiras diversas e seus múltiplos no-mes expressam diferentes aspectos de sua natu-reza, seu poder e sua eficiencia. Como exemplo,a deusa grega Palas Atena, filha de Zeus, surgeinicialmente como deusa guerreira.protetora dosexércitos, Aos poucos, sua protecño se ampliapara o trabalho em geral e, mais tarde, especifi-carnente para a atividade intelectual e as artes.Ao mesmo tempo, é a densa da sabedoria, a pro-tetora da cidade de Atenas. .'"

Como desenvolvimento da terceira fase, )'.<'

surgem as religióes monoteístas.tque-prívíle-giam as forcas morais do individuo e se con-centrarn no problema do bern e do mal. A in-terpretacáo da natureza adquire UIl1caráter maisracional, e nao predominantemente emocional,como acontecía nas fases anteriores. O divinodeixa também de ser concebido pelos poderesmágicos e passa a ser enfocado pelo p.Q.derde

I j\!st~'2: Diz Cassirer: "O sentido ético substi-tuill e suplantou o sentido mágico. A vida intci-ra do homem se converte numa luta constantepelo amor da justica"."

A partir de entáo, o indivíduo entra emcontato com o sagrado como árbitro do seupróprio destino. Ao dar a sua livre adesáo aobem, torna-se aliado da divindade.praticando odever religioso.

6. O mito hojeA consciencia humana, antes do advento da

escrita, permanece ingenua, nao-crítica. NoCapítulo 7 - Do mito a razáo, veremos que apassagem para o pensarnento crítico-reflexivoquebra a unidade do mito. A nova forma de

acaso, os psicanalistas aproveitam a riqueza domito e descobrem nele as raízes do desejo hu-mano. Por exemplo, a pedra angular da psicaná_1isese encon tra na illterpreta~ao feita por Freuddo mito de Édip07. . . ---....:

---- .•• -- -"- - •. ":0;.. •

a rnesmo sucede con! personalidad,es C0l110artistas, políticos, esportistas que os meios de

•co'n~~l!1icacaose incul1lbem de trallSformar crnrni;g~ns e~!J.1plares, e que, no imaginário daspe;'oas, representam todo tipo de anseios: sll-cesso, poder, lideran~a, atracáo sexual etc. Por

~;xemp1ó, na década de 1950 o ator james Oeanexpressa o mito da 'J~ventude trans~iada" eMarilyn Monro., um mito se~ual, posteriorlllen_

.. t~ 'outros modelos surgem e desaparecel11, Con-forme as expectativas que predol1linal11 ern cadaperíodo. Hoje em dia, COI1la rapidez dos meiosde cOmunicavao, essas influencias toñ1-árn-se

"¡;lúltiplas e tambél1lmais fugazes,

Nas I?i~tóriasel11.9.~¡adrinhos,o mal!igueísmoexprime o arquétipo da Juta entre o bem e o mal,enquanto a dLípla personalidade do "illper-heróiatinge em cheio o desejo da pessoa cÓrilurÍl' desuperar a própria inexpressividade e impotencia,tornando-se excepcloiíal e poderosa. Também oscontos de fada remetem as crianps aos mitos uni-versais do heró¡ em Iuta Contra as forcas do mal,apaziguando os temores infantis.

No !=ampo da política, quando alguél1l dizque o socialismo é L1In mito, pode estar dizendoque se trata de algo inatingível, de urna mentira,de urna ilusao que nao leva a lugar algul1l. Po-r€m,outros verJo positivamente o mito do socia-lismo como utopia, o lugar do "ainda-nao", cujaforca Illobiliza a COnstru~ao daquilo que UI11diapoderá "vir-a-ser". Até as rnais racionais adesoesa partidos políticos e a correntes de pensamentosupóem esse pano de fimdo, nao-justificado eiqjustificável, ern que nos movemos ern direcáo aurn valor que apaixona e que só posteriormentebuscamos explicitar pela razáo,

a nosso COl11portal1lento também é per-meado de "rituais", llleslllO que secularizados:as comel1l0ra~oes de nascil1lentos, CaSal11elltos,aniversários, os festejos de ano-novo, as festas

------ '""1FILOSOFANDO &1

de formatura, de debutantes, trote de caloul'Os1el11bram verdadeiros ritos de passagel11, Exa-minando as lllanifesta~oes coletivas no coti-diano da vida urbana do brasileiro, descobrimoscomponentes núticos no carnaval e no futebol,ambos como manifesta~oes delirantes do irna.,ginário nacional e da expansao de forc;asinconscientes.

O mito se expressa ainda sob formas nega-tivas, tais COmojá nos referimos ao mito do cien-tificismo ou, ern tempos rnais dificeis, quandoHitler fez viver o mito da raca ariana, por eje

"'éOiisiderada a raca pura, e desencadeou 1110vi-mentes apaixonados de persegui~ao e genocí-dio de judeus e ciganos .

A lista possível das conota~oes diversas que omito assurne nao termina aqui. Apenas quisemos \mostrar COIllOurn conceito táo al11ploe rico naose esgota nurna só linha de interpretavao,

Conclusao

a mito nao resulta, portanto, de delírionern se reduz a simples mentira, mas faz parteda nossa vida cotidiana, como urna das formasindispensáveis do existir humano. Mito e razáose coi11plell1entam nlutlIamente. No entanto,recuperado no cotidiano da vida contempo_dnea, o mito nao se apresenta corn a abran-gencia que se faz sentir entre as sociedadestribais. O aprimoramento da reflexao, que pro-picia o exercício da ct'Ítica racional, permite arejei~ao dos mitos prejudiciais quando nos tor-namos capazes de diferenciá-Ios, legitimandoalguns e negando aqueles que podem levar adesul11aniza~ao.

Para Gusdorf, "o mito propoe todos os valo-res, puros e impuros. Nao é da sua atribui~aoautorizar tudo o que sugere. Nossa época conhe-ceu o horror do desencadeamento dos mitos dopoder e da ra~a, quando seu fascínio se exerciasern controle.A sabedoria é lU11equilibrio. a mitopropoe, mas cabe a consciencia dispar. E foi talvezporque UIl1 racionalisll1o estreito demais faziaproflssao de desprezar os mitos, que estes,deixadossern controle, tornaram-se Joucos's

7. Sófocles, dramaturgo grego do século V a.C., relata esse mito na tragédia Édipo rei: ern van Édipo tentafugir ao destino valicinado pelo oráculo de que ele mataria o paí e desposaria a própria rnáe, Ao retomar omito grego. Freud Tefere-se ao "complexo de Édipo", como desejo inconSCiente da crianca

8. GUSDORF, G, Mito e metafisica. Sáo Paulo. ConviVÍo,1979. p. 308.

[Mito e literatura]. . 't' que garantia aA consciencia mítica pnrru Iva,. '. d des

. íoid d primeiras cornuru acoeréncia ngl a as face do progresso dah~manas, despare~:~ ~~nicas sustentadas pelacritica racional e.. nsciéncia extensiva e., . Mas esta pnmelra co 'A •

crenoa. , íd por uma consciencraunanimista foi substituí a , mo que nos' , d mais secreta, e cornttrca segun a, . I As intenr6es .

mento raciona , ~bastidores do pensa . ..ern urna adesáomíticas, 'aqul, rnais hvres, sU:~riagem entre asindividual e como que um . de cada um.possibilidades oferecidas aos des:!os. em ordemReliqiáo, literatura, política propoem, da homemdispersa, fórmulas míticas nas ~ualsdc: exame d~chamado assim a uma especie.. ,

'A • , nvidado a se reconhecer,consoClenClaí;r~~cente da literatura e sua progres-

pape , d m o recuo dassiva difusáo, deve ser ~~c~~~~a ~~~ca teve de secrencas religiosas. A 9 " • O aspecto for-fixar em meios novos de expressao, ue sua signi-

Ida literatura importa menos doq .' .ma . lori os elementos malsfica~ao material. O estil~~a~~',~apermanenCiajusti-arcaicos do ser no mU~a ~ d¿ drama, assim comofica o sucesso do"pode b as-primas da literaturamotiva a expansao as o r . .,

].:':'1

UNIOADE " - CONHECI~ENTO ';

"'1'¡;1':;; le,¡rtu1ra, ~Q¡~~~~.fU1;'ti"r·;}:.:rgif.\'4·~~.7;.~.~~=: .-

. I O prodigioso desenvolvimento do ~o-unlversa " dúvida o aspecto mals siqnifi- .mance, que e, sem , ,cativo da vida literáriacontemporanea: deve-se sem

d· o romance poe o mito aodúvida ao fato e que, h'I de todos sob o revestimento de uma ,15-

a cance '. I a sobreviven-,. f' '1de seguir Hiade assrna outória aCI " I d literatu. 'r os míticos como c aves a -era~~~a~~v:~es, os' sofrimentos, as peregri~a-r~, do candidato a iniciacáo, [Oo.] por exemp~,sobr . em no relato dos sofrimentos e dos obsta-so revrv herói épico ou dramático deve supe-~~:~~~~:s~Enéas, Parsifal, este ou aquele ~:;s~~

d Shakespeare, Fausto e outros), an ,nagem e f [)" O próprio romance poli-atinqir os seu\i~:~'u~ d~s aspectos mais sinqula-cial, que cons. .. I ga sob as

. d folclore contemporaneo, pro on '. ,:~areonciasdo duelo entre o detetive e o cnml~~-

. . - d romances de capa e espa ,Sq~eaf~~s~:~;~~m~:amente aquela dos rO,man~~

ta a muito rnars atrás ainde cavalaria, e remon . to é 'até as raízes do in-na noite dos tempos, 15 r

consciente.

GUSDORF, Georges Mg~n~í~~~a;~~~aps~~:~~~:

Ati,,~dJªd~$

Ouestóes de compréensao ~""'~'~ ..' ., rentes facarn pesquisas sobre mitos, a fím de. os que grupos tre y d H 'do' Urano

L Antes da discussáo dos c~~~~~~:~:l~:~:~ca~ao do capítulo: criacáo do;nu~:o~:!~i~o~rit~:I~e i~iCia~ii(;recolher elementos para '6, P teu e Pandora; DlOl1lS0e po ,e Zeus: Deméter e Persé one, romeronos e . : , d d indígenas brasileiros.

de povos tribais; len as e , 1 E 1'-

- d mas abordados no capttu o. xp I. uir visam verificar a compreensao os te,/ . 2 •.Os tópicos relacionados a seg . .. 'que cada um deles: , "

a) funcóes dos mitos entre os "primitivos;b) mito e magia;c ) mito e religiáo:d) mitos contemporáneos.

Questoes de lnterpretacáo e problemat¡Z~lfaO ...........,..,,..,,.,;"'==""".,,3 F a urn paralelo entre: mito/ciencia; magia/técnica. .

'. ac 1" e analíse o seudo cenário artístico ou po Ineolíd d hecida e mareante4. Enfoque alguma persona I a e con ,(

componente mítico expressivo.y

g rFILOSOFANDO ~

5, A partir dos conceitos de mito e rito, analise os fenómenos brasileiros do futebol e do carnaval. Cada umdos temas pode ser atribuído a dois grupos diferentes. CAPÍTULO

...... "o··:¡ ......•

i;LDó'rnito árazñoi:;~j~riascimentoda filosofía

Advento da pólis, nascimento da JilosoJia: entre as duas ordens de fenómenos osvínculos sdo demasiado estreitos para que o pensamento racional níio apare¡:a, em

suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais práprias da cidade grega.Jean-Pierre Vermaot

";(i, "Os contos de fadas, a díferenca de qualquer outra forma de literatura, dirigem a crianca para a descober-ta de sua identidade e cornunicacáo, e tarnbérn sugerem as experiencias que sáo necessárias para desen-volver ainda mais o seu caráter. Os contos de fadas declaram que urna vida compensadora e boa está aoalcance da pessoa, apesar da adversidade - mas apenas se ela nao se intimidar com as !uras do destino,sem as quais nunca se adquire verdadeira ídentidade. Essas estórias prometem a crianca que, se da ousarse engajar nessa busca atemorizante, os poderes benevolentes viráo em sua ajuda, e ela o conseguirá. Asestórias também advertem que os muito temerosos e de mente medíocre, que nao se arriscam a se encon-trar, devem se estabelecer nurna existencia monótona - se urn destino ainda pior nao recair sobre des."(Bruno Bettelheim)

i a) Explique em que sentido, a partir das sugestóes do texto do psicanalista Bettelheim, podemos relacio-nar o canto de fada e o mito.

b) Aplique as análises do texto a algum conto de fada (por exernplo, [oiio e Maria, ChapeuzinhoVermelhoou a nutro).

V 7,. "[...] em numerosas sociedades sul-americanas, os ritos de passagem comportam urna série de provasfísicas muito penosas e urna dirnensáo de crueldade e de dor que torna esta passagem um acontecimentoinesquecível: tatuagens, escarificacóes, f1agela~oes, picadas de vespas ou de formigas ctc., que os jovensiniciados devem suportar em meio ao mais profundo silencio. Eles desmaiam, mas sern gemer. E nestapseudomorte, nesta morte provisória (o desmaio deliberadamente provocado ~r aqueles que conduzemo ritual), surge claramente a identidade de estrutura que o pensamento indígena estabelece entre nasci-mento e passagem. Este é um renascimento, uma repeticáo do primeiro nascimento, que lleve, conse-qüenternente, ser precedido por uma morte simbólica." (Pierre Clastres)

A partir do trecho acima, responda as questóes a seguir.a) De exemplos de alguns ritos de passagern modernos dessacralizados.b) Entre os ritos modernos, o trote de calouros violento poderia ser considerado urna forma degenerada

desse costume primitivo? Justifique sua resposta. '

Introdu~ao

1. Homero e Hesíodo

Questóes sobre a leitura complementar == 'A~",""",,,,~ . .,.,

A partir do texto "Mito e literatura", responda as questóes de 8 a 10.

<, . 8. Segundo Gusdorf, qual é a diferen<;a entre a consciencia mítica primitiva e a do indivíduo contemporáneo?

Costuma-se dizer que os primeiros filóso-fos foram gregos. Isso significa que embora re-conhecamos a importancia d~~~b.i~_que vive-

ram no século VI a.e. na ~hi!}a lCQufr~cio eLao Tsé), na Índia (I3uda) e na Pérsia (Zaratus-

_tra) , essas dout;~;~-;-inda estño -p~r d~l~1ais vin-

~uladas a religiáo para que possamos falar pro-priamente em reflexáo filosófica.

Neste capítulo veremoso processo pelo qualse di a passagem da consciencia mítica para aconsciencia filosófica na civilizacáo grega, emU111 período histórico em que a Grécia ainda se

chamava Hélade e era constituída por diversasregióes políticamente autónomas.

Os mitos gregos surgem quando ainda naohavia escrita, portanto eram preservados pelatradicño e transmit;idQs oralmente pelos aa/os erapsodos, cantores ambulantes que davanl'i'Orñlapoética aos relatospopulares e os recitavarn deccircll1·p-rayi·'plibiléá. "E-á'-diflcil conhecer osautores desses traball{os de formalizacño, por-que nao havia preocupacáo com a autoria dashistórias, que eram engendradas de forma cole-tiva e anónima.

'9. No trecho analisado, a que formas literárias Gusdorf se refere? Qual o impacto que elas exercern sobre oimaginário das pessoas?

• Civilizecáo micénlca (sécs. XX a XII a C.) - desenvolve-se desde o início do segundo milénioa.c. e tem esse nome pela importancia da cidade de Micenas, de onde, por volta de 1250 a.C,partem Agamemnon, Aquiles e Ulisses para sitiar e conquistar Tróia.

I.,I

10. Como o livro de Gusdorf foi publicado na Franca em 1953, transponha seus comentarios p~ra os días dehoje: que tipo de cxpressáo ficcional exerceria o mesmo papel que ele descreve? Justifique sua resposta.

• Tempos homéricos (sécs. XII a VIII a.C) - nesse período teria vivido Homero (século IX ou VIIIa.C): na transicáo de um mundo essencialmente rural, 05' senhores enriquecidos formam a aris-tocracia proprietária de terras; recrudesce o sistema escravista.

Disserta~ao '''''"''-''='''''~_=L'''':.t 1"1. Tema: "Os bons e os maus mitos do nosso ternpo".

• Período arcaico (sécs. VIII a VI a.C] - com o advento das cidades-estados (póleis), ocorremgrandes alteracóes sociais e políticas, bem como o desenvolvimento do comércio e a expansáoda colonizacáo grega.

Debate """"==~¿"",'o:.;:":.

12. Dividir a classe em grupos: cada urn deve pesquisar os mitos subjacentcs nas producóes culturais (porexemplo: telenovelas, propagandas, filmes, histórias em quadrinhos, programas humorísticos e outrossugeridos pelos alunos). Cada grupo faz um relatório e em seguida abre-se a exposicáo dos temas e debateem sala de aula. .

• Período clássico (sécs. V e IV a.C) - apogeu da civilizacáo grega; na política, expressáo dademocracia ateniense; desenvolvimento das artes, literatura.e filosofia; época em que vive m ossofistas e os filósofos Sócrates, Platáo e Aristóteles.

• Período helenístico (sécs. 111 e 11 a.C} - decadencia política, domínio maced6nico econquista da Grécia pelos romanos; culturalmente, significativa influencia das civilizac;:6es

orientais.

r) f

=~~~--~------------ __~F~'~~dE~ ~~~~~~,Hon d ILOSOFANOO ¡ UNIOADE 11 - CONHECiMENTO

vável tord un¡1. esses poetas, teria sido o pro- .au or e (OIS poemas épi ,. Nessa perspectIVa, a no 50 de _ . ,

¡Hada e Odisséia A Ir d. ~ cos, as epopelas a rnesrna que ternos I s: vlrtude nao e sobre o mundo e a 0liteJ1CJa humana, Essas(,-, • .rv uia a trata da guerra d T" roje, mas slg fi ' _ - -;;-_._._. - _ 'Lróia em grego é Ílion) e a ",' e roza 3!~Supenoridade. Trata-se da v Di tea exc~.I<.:n-ñov!g-ªCfessao a invencao da escrita e da rnoeda,

, torno de Ulisses a Ítaca a .Od¡sseta relata o re- .reiro Delo e born b Irtude ClOguer_'a lei escrita, o nascimento da pólis (cidade-esta-< (Odi ' ,pos a guerra de Tróia ' o ~etlvo Supre d h' ,'-isseus e o nome grego de UI' ) .' Hesíodo ourro Illo o eróí. do) todas elas como condicáo para o surgllnen-ent . Isses .Exisrs no ' poeta que teri d . - " -' - , -'

anto, urna controvérsia a respeito da é oca' volta d~fInal do século v'm e prena, VIVIdOPOI to do filósofo.Vejarnos como ISSOse deu.quef-Iol11ero teria vivido (séc. IX ollVIPIl e¡;1 a.C,produz um, ob incipio, o VIIe t 1 a C ,) d ra COI11parhculand d, a e se e e realmente teria existl'do Al '," ten em a Superar a po' ,a es que am A escrita

te h guns In d '. 'eSla IllJpessoal el'rpretes ac am que essas obra fi . '1 ,- as epopélas, Essas " co etlVapor diversos autores e _ . s orarn e aboradas dlcat¡vas do períod caractenstlcas novas saó in-sidade do estil d ' 111razao 1l1c1uslveda diver- Por exemplo Hesl,oodarca¡clo,que entao se imCJa,, d' o os dOlSpoemas e de p , , o va onza b l1111Icativas de período his ' . ", assagens ~jUStlp, destacando a inlpol.t~n e °d tra.. a .1.0e a

F ' . . ' s l,toncos diferentes b l er era as 1egras,. 01 Importante a funrao did 't' d' a izarn o comporta h ' 'que

P' id y a ica as epo ,mento urnanoeras na VI a dos gregos' or d ' ,- M esrno assrm, sua obr'a]' . "ríodo d . '1' - . '.p escreverem o pe- eooor ( da CIVIIzapo nucenic ' . gonia:origem) reBete ai d ' "oma teo: eus;

valores da cultu ' . a e tranSmltIrem os nos mitos. NeJa H síodo o l11teressepela crencara por mero das histórias d d ' eslO o relar '

ses e antepassados 'os eu- mundo e dos de' a as ongel1S donada concep~ao el' eXdPrepssandourna determi_ "entes da use~, ern que as forps emer-

y e VI a or ISSOd d d b, natureza vao se divi ,crians:as decoravam .. "es e ce o as mando-se nas próp" di l11lzando, transfor_Homero, passagens dos poemas de o Cé 'U. 1las IVl11dades:aTerra é Gaia

A u e rano, o Tempo é C ' 's as:oes heróicas relatadas nas ,. naSCem ora por segrea-ado ronos

l, Esses seres

mostram a constante interven _ ,epopelas cáo dE' «r. o ,r ,ora pe a l11terven-para auxiliar :--.-.- Jao dos deuses, ora",-",~" IQ,,:+o.Amol~,pnncípio divino'. . o protegIdo ora par , xirna os opostos. que apro-

Inll11igo. No penod d '. T ,:a perseguir oindivíduo é presa d °D a ClVI lzas:ao Il1lcenica, o, '-. o estll10 (Mona) , til111utável e nao pod 1 ' ,que e XO,

. " e ser a terado At' di rrbipSlquicos como po l' e istur lOS.. "", ,r exemp o o d 'mentaneo de Aa- _' esvano 11l0-divina N bamemnon,sao atribuídos a acáo" ' " , o l11esmo sentIdo é a [lla de ,Nl11guem me lanprá ao Had l. e Heltor:

dens do destino' G e es Contra as or-. aranto-te que n halgul11 born ,unca omern

d ' ou rnau, escapou ao desnesde que nasceuJ" 2 ' seu estl110,

O herói vive 'p' td ' or anto, na depend' ia deuses e do destino e: 1 d enCla os, la tan o a ele a ' dVOntade pessoal d I'b d ,nopo ed' " ", e 1 er ade. Ma' ,l11U11l1idiante d ,s ¡sso nao o, as pessoas COl1luns .

no, ter sido escolh'd 1 ' ao Contra_valor e em nad 1 o pe os dellses é sinal de

. a essa ajuda desmere '.' ,tude. A vlrtllde d h ' ' ce a Sua VIr-o eral S' 'ffgem e pela fon;:a sob. de lllallJ esta pela Cora-

lha. Mas tambén; retu o no campo de bata-guerreiros, pelo po~:rdJ;taca na ~sscll1b/éia dosO preceptor de A '1 dPersuasao do diScurso., qUI es lZ' "p . 'VIOU a fi d . ala ISSOme en-

" un e eu te ensinar tud .fazer discursos e p t' o IStO,a saber

ra Icar nobres [eitos"J

A escrita gera .nova idade mental porqueexige de quem escreve urna postura diferentedaquela de quem apenas fala, Como a escritafixa a palavra, e conseqüentemente o mundo,para além de quem a proferiu, necessita de maiorrigor e clareza, o que estimula o espírito critico.Além disso, a retornada posterior do que foiescrito e o exarne pelos outros -:- nao só decon ternporáneos mas de outras geracóes -abrern os horizontes do pensarnento, propici-ando o distanciarnento do vivido, o confrontodas idéias, a ampliacáo da crítica.

._- Portanto, a escrita surge como possibilida-de maior de abstracáo, umaretlexáo da palavraque tenderá a modificar a própria estrutura dopensarnento.

A consciencia rnitica predomina em cultu-ras detradicáo oral.quando ainda nao há~~cnta"É 11lt,~r~s;nte obse~ar que !!lJ!tl'!!?! significa "e-lavra , o que. se diz . A palavra antes da escnta,bgada';¡úm supone VIVOque a plonuncla, r~Ee~e fixa o evento por meio da rnemória pessoal,Etimologicamente, epopéia significa "o que seexprimepela jJalavra"~' 1~l};daé"o queseconta".

E bem verdade que, de inicio, a primeira es-crita. é mágica e reservada aos privilegiados, aossacerdotes e aos reis,Entre os egípcios, por exern-plo, hicróglifos significa literalmente ",~!Eaisdivinos".

Na Grécia,já existira urna escrita no períodornicénico, mas restrita aos escribas que exerciamfuncóes administrativas de Íri"tef'esseda aristocraciapalaciana, Com a violenta invasáo dórica, no séculoXII a,C,a escrita desaparecejunto com a civilizacáo

-ITlicenica-;-para-re:¡S¡:ir¡;ír'apenasno final do século'DCOll VIII a.C, por influencia dos fenicios.- _. Ñess~ segundo momento, a escr'ifa assume

funcáo diferente, porque se encontra suficien-temente. desligada de preocupacóes esotéricas ereligiosas e'nao mais corno atributo da classedos escribas, que sempre esteve atrelada ao po-der. Quanto a essa mudanca de significado, dizVernant: "a escrita na;t~'rK n~;;'¡spor objeto cons-tituir para usó do rei arquivos no recesso de umpalácio; terá correlac;:ao doravante com a func;:aode publicidacfe';'vai permitir divulgar, colocarigualmente sob o olhar de todos, os diversos as-pectos da vida social e política","

Enquanto os rituais religiosos sao cheios defórmulas mágicas, termos fixosé" inquestionados,

, .os.eser,iras' cleixam de ser reservados apenas aosque detem o poder e passam a ser divulgados emprac;a pública, sujeitos a discussao e a crítica. Issonao significa qüé"a escrita tenha se tornadoacessívd a todos, muito ao contrário, a maioriada populac;ao é constituída de analfabetos. O queestá em destaque, no entanto, é a dessacralizac;:aoda escrita, ou seja, seu desligame;;-to d;;gr~cÍó:~

-'":;;:,

OiIíIA moeda

Entre os séculosVIII eVI a.e dá-se o desen-volvimento do comércio marítimo, decorrente daexpansáo do mundo grego, com a colonizacáo daMagna Grecia (atual sul da Itália e Sicília) e Jonia(litoral da atual Turquía). O enriquecimento doscomerciantes provoca a substiruicáo de valoresaristocráticos por valoresda nova classe em ascensáo,

Na época da aristocracia rural, de riquezabaseada ern terras e rebanhos, a economía é pré-monetaria. Os objetos usados para troca vérncarregados de simbologia afetiva e sagrada, por'?aüsa-do' caráte~ sobrenatural que impregna asrelacóes sociais, fortemente marcadas pela posi-cáo social de pessoas consideradas superioresdevido a origem divina de seus ancestrais,

A moeda, inventada na Lídia, aparece naGrécia por volta do século VII a.C, o que faci-

.lita os negócios e il11[iílISionao comércio: Com~ ;ecurso da l110eda, os produtos que antes serestringiam ao seu valor' de uso passam a ter va-íor de troca, isto é, transformam-se em mercado-ria. Daí a exigencia de algo que fi.ll1cionassecomovalor equivalente universal das mercadorias.

Emitida e garantida pela pólis, a moeda fazreverter seus beneficios para a própria comuni-dade. Além desse efeito político de democrati-zayao de 11111valor, a l110eda sobrepoe aos sím-bolos sagrados e afetivos o caráter racional desua concepc;:ao: muito mais do que um metalprecioso que se U'oca por qualquer nlercadoria,

2. Uma nova ordem humana, No período arcaico Sur' "

filosofos gregos, por volta de ~en~1dOS~nl11eJrosa.C. e durante o século VI C o seculo VII

Al a, ,guns autores Ch'1ll1anl d " '1o" , " e llU 'lgre,15 a passagel11 da mentalidad . " gre-

pensamento crítl'co ' 1 e m¡tlca para Q.. raCIOl1'l e fil . fidestacarem o caráter re e 1 ~so 1CO,porprocesso N ~ -- --, epemlllO e UI1ICOdesse

.. "o entanto outros d' ." arn a en[lse dad ' :stu 10SOSatenu-! '_, ' a a essa l11utapo e;' VIsao SImplista e" h' -'7' ,C:C" superam essaid' a- IS,tonca" reals:and r:1 e que a racionalidade .',' o o lato, processo lmuto""l" >. oo. • •• c:rl~¡ca resultou de~.- ,".. .. ento, preparad l -, ,--LmltlCo cuias cara t . ,. ~_ ..-º-Pt:.() pas§adol' . ' , " ,c enstlcas - d - ...

,: ".C01110por en '" nao esaparecem,1, canto na no b," filosofica do mUl1do O . va a ordagem

nao é fruto de UIl1~alt~ s¿:,}~ltsOfi~, na Gréciapor um pOYOprivil 'd' n1l,agre rea/¡zadod egla o, mas e a culn . -

'.' o,processo gestado atra "d------' .. ,._~~apo. ves os temp -, portanto tem sua dI' 'd ' os e que,, VI a com d -,AIgumas novl'dades'd ~ passa o mítico,, openod ' ".

dam a transformar '_ o arcaICO,~u-L Hades: de;; do Mu d S _' a VIsao que o mito oferecia

Mu d d n o ubterraneo ( trn o os Mortos en e os romanos ch'2 e 3 A' . , <lmava-sePlut· ) H3 ' s clta,óes sao da Ilíada. a ud ' ao; ades também Significa o

. ed, LIsboa, Funda¡;ao CalOLISfeG~~;~~t~~el;~7~oCh~ Pereira, Estudos de hislória d 1' , vo. 1, p, 101 e 102. a cu tura c/ássica.

4, VERNANT, J.'P, As origens do pensamento grego, 2. ed. Silo Paulo, Difel, 1977, p, 25.

FILOSOFANDO" ¡;¡

" a moeda é artificio racional, convenr;:ao huma-na, nocáo abstrata de valor que estabelece amedida comum entre valores diferentes.

N esse sentido, a invencáo da l'Úoeda desern-pcnha papel revolucionário, pois está vinculadaao nascimento do pensamento racional crítico.

~ A lei escrita e o eldadáo da pólis

Para Jean- Pierre Vernant, helcnista e pensa-dor francés, o nascimento da pólis (por voltados séculos VIII eVII a.Ci) é um acontecimen-to decisivo que "m arca um corneco, urna vcrda-dcira invencño", por provocar grandes alteracóesna vida social e nas relacóes humanas.

A transforma<;:ao da pólis muito se deve aoslegisladores Drácon (séc.VIl a.C}, SÓIOIle Clis-tenes (séc.Vl a.e.) que sinalizam urna nova era:a justj.s:a, até entño dependente da interprctacáoda vontade divina ou da arbitrariedad e dos reisé codificada nurna legislacáo escrita. Rcgra co-mum a todos, norma-·racional, sujeita a discus-sáo e modificacáo, ;; lei escrita passa a encarnarurna dimensáo propriamente humana.

As reformas da legislar;:ao de Clístenes fun-dam a pólis sobre nova base: a antiga organiza-c;:aotribal é abolida e estabelecem-se relacóesnao mais resultantes da consangüinidade, masdeterminadas por outra organizacño administra-tiva. Essas modificacóes expressam o ideal igua-Iitário que prepara J democracia nascente,já quea unificacáo do corpo social abole a hierarquiafundada 110 poder aristocrático das tamíJias eassenrada nas formas de subrnissáo e domínio.Ou seja, "os que compóern a cidade, por maisdiferentes que sejam por sua origem, sua classe,sua funcáo, aparecem de urna certa maneira'semelhantes' uns aos outros". De inicio aigualdade existe apenas entre os guerreiros, mas"essa imagem do mundo humano encontraráno século VI sua exp ressáo rigorosa nurnconceito, o de isorwmia: igual participayao detodos os cidadáos no exercicio do poder".'

A originalidade da cidade grega é que elaestá centralizada na ágora (praca pública), espacoonde se debatcm os problemas de interesse co-mUi11. Separarn-se na pólis o domínio público e

Por isso, quando falamos ern democraciaateniense, é born lembrar que a maior parte dapopulacáo se achava excluida do processo políti-co. Aliás, quanto mais se desenvolve na Grécia aidéia de cidadania, com a consolidacáo da demo-cracia, rnais a escravidáo surge como contrapon-to indispensável, na medida ern que ao escravosáo reservadas as tarefas consideradas menores dosrrabalhos manuais e das atividades diárias desobreviven cia. No entanto, o que enfatizamosnesse processo é a mutacáo do ideal político eurna concepcáo inovadora de poder, a democracia.

O ideal teórico da classe dos comerciantesserá elaborado pelos sofistas, filósofos do séculoVa. e. (ver Capítulo 17 -:- A política na Anti-guidade e na Idade Media).

o privado: isso significa que ao ideal de valor desangue, restrito a grupos privilegiados em fun-¡;:ao do nascimento ou fortuna, se sobrepóe ajusta distr ibuicáo dos direitos dos cidadáos comorepresentantes dos interesses da cidade. Está sen-do elaborado o novo ideal de justica, pelo qualtodo cidadiio tem direito ao poder. A nocáo dejustica assume caráter político, e nao apenasmoral; ou seja, nao diz respeito apenas ao iudi-víduo e aos interesses da tradicáo familiar, mas asua atuacáo na comunidade.

A pólis se f.1Z pela autonomia da palavra,nao mais a palavra mágica dos mitos, palavra dadapelos deuses e, portanto, COl11uma todos, mas apalavra humana do conflito, da discussáo, da ar-gumentacño O saber deixa de ser sagrado e passaa ser objeto de discussño.A expressáo da indivi-dualidade por meio do debate faz nascer a polí-tica, que liberta o indivíduo dos exclusivos de-sígnios divinos e lhe permite tecer seu destinona prac;:apública. A instaurar;:50 da ordem hu-mana dá origem ao cidadiío da pális, figura ine-xistente no mundo da cOl1lunidade tribal.

O apogeu da democracia ateniense ocorre noséculo V a.e.; já no período clássico, quandoPéricles era estratego. É bem verdade que Ate-nas possuia meio milháo de habitantes, dos quaistrezentos mil eram escravos e cinqüenta milmereces (estrangeiros); excluidas mulhercs e cri-ancas, restavam apenas 10% considerados cida-daos propriamentc ditos, capacitados para deci-dir por todos.

3. Os prlmelros filósofosA grande aventura intelectual dos gregos nao

corneca propriamente na Grécia continental, masnas colonias da jónia e da Magna Grécia, ondeflorescia o comercio. Os primeiros filósofos vive-ra111por volra dos séculos VI eV a.e. e, mais tarde,forarn classificados como pré-socrátiws, quando adivisáo da filosofia grega se centralizo u na figurade Sócrates. Entre os mais importantes pré-socráticos, destacam-se Tales, Anaximandro,Anaxímenes, Heráclito (das cidades da Jonia);Pitágoras de Samos, que fundou lima escola emCrotona, sul da Magna Grécia; Xenófanes,

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(Xenofanes, "1Parmenides, '1:1Hl

ZenáO)'j¡ .lrAOIOna

,~::n.nl1r.[I'~:lt~~,,~!I ¡ ..f>¡ Agrigen~t ll~,- Empédocles)

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Grovuro que reconslilui o ocrópole de Atenas, G.Rehlender,sem dolo. O Porlenon, templo dedicado ó

deuso Ateno, dolo do século V o.C.

"ITIIJ] Magna Grécia

F=I Jónía I~m~~~..Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris, Larousse, 1987

5. VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. 2. ed. Sáo Paulo, Dífel, 1977. p. 42.

~MAR MEDITERRANEO

UNIDADE.II - CONHEClMENTO iParménides e Zenáo (de Eléia, também MagnaGrécia); Leucipo e Demócrito de Abdera;Anaxágoras de Clazomenas; Empédocles (deAgrigento, na Sicília).

Os escritos dos filósofos pré-socráticos de-saparecerarn com o tempo, e só nos restam al-guns fragmentos ou referencias que filósofosposteriores lhes fizeram. Sabemos que geral-mente escreviam em prosa, abandonando aforma poética característica das epopéias, dosrelatos míticos.

Os primeiros pensadores centram sua aten-r;:aona natureza e elaboram diversas concepcóesde cosmologia, procurando a racionalidade cons-titutiva do Universo.Ao perguntarem como se-ria possível emergir o cosmo do caos - ou seja,como da confusáo inicial surge o mundo orde-nado -, os pré-socráticos buscam o princípio (aarché) de todas as coisas, entendido nao comoaquilo que antecede no ternpo, mas como fUll-

damento do ser. Buscar a arché é explicar qual é oelemento constitutivo de todas as coisas.

As respostas dos filósofos a questáo do fun-damento das coisas, da arché, a unidade que podeexplicar a multiplicidade, sáo as mais variadas.Para Tales, é a água; para Anaximenes, é o ar;para Dem.ócrito, é o átomo; para Empédocles,os quatro elementos - terra, água, ar e fogo -,a teoria mais conhecida e aceita até o cientistaLavoisier, no século XVIII.

FILOSOFANDO~

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~ ~UNIDADE 11 - CONHECI~ENTO i~"

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4. Mito e filosofía:continuidade e ruptura

Já podemos observar a diferenca entre pen-samento mítico e filosofia nascente: os filósofosdivergem entre si e a filosofia se distingue datradicño mÍtica oferecendo urna pluralidade deexplicacñes possíveis, urna atitude característicado filósofo. Além disso, a física jónica é a ex-pressáo do pensamento filosófico racional e abs-trato, ao recorrer a argumentos e nao a explica-cóes sobrenaturais. Por exemplo, Hesíodo relatao princípio do mundo (cosmogonía) e o nasci-mento dos deuses (teagonia) a partir da suagériese ou origem no tempo, enquanto ascosmolooias dos pré-socráticos sáo baseadas cmexplicacñes racio nais. Assim justificamos aperspectiva comumente aceita da ruptura entremythos e logos (razáo).

No entanto, para estudiosos como o inglesCornford, apesar das diferencas, o pensamentofilosófico nascente ainda apresenta vinculacóes

com o mito. Por exemplo, Hesíodo relata naTragonía como Gaia (Terra) gera sozinha, porsegregafiío, o Céu e o Mar; depois, a unido daTerra com o Céu, presidida por Eros (princípiode ccesáo do Universo), resulta na geracáo dosdeuses. Ora, examinando os textos dos filósofosjónicos, Cornford descobre neles a mesrna es- .trutura de pensamento existente no relatomítico: os jónios afirrnam que, de urn estadoinicial de indistincáo, separam-se pares opostos(quente e frio, seco e úmido) que váo gerar osseres naturais (o céu de fogo, o ar frio, aterraseca, o mar úmido). Para os filósofos, a ordemdo mundo deriva de forcas opostas que seequilibram reciprocamente, e a unido dosopostos explica os fenómenos meteóricos, asestacóes do ano, o nascimento e a morte detudo que vive."

Portanto, na passagem do mito a razáo, hácontinuidade no uso comum de certas estruturasde explicacño. Na concepcáo de Cornford naoexiste "urna imaculada concepcáo da razao", pois

"o aparecimento da filosofia é W11 fato históricoenraizado no passado.

Outra observacáo interessante sobre esseperíodo de transicáo pode ser feita a partir daproducáo literária de tragédias, nos séculos VI eV a.C., cujos autores mais conhecidos foramÉsquilo, Sófocles e Eurípcdes. Embora o con-teúdo das pec;:asteatrais fosse retirado dos mitos,o tratamento dado aos conflitos denota urnaconsciénda trágica que representa a ambigi.iidadepela qua1 o destino é questionado, ainda que nofinal a vontade dos deuses acabe se curnprindo.O esforco humano "na encruzilhada da decisáo,as voltas com as conseqüéncias de seus atos",como diz Vernant, representa o lagos nascente,Voltaremos a esse assunto no inÍcio do Capítulo27 - Concepcóes éticas.

Cidade dos deuses, cidade dos homens do reino dos mortos, aonde os homens só chegamsob a forma de sombras impalpáveis. Aterceira é a

. No canto XV[da lIíada), Posídon, intimado por expressa pelo termo "viláo". Elaimplica uma nocáoZeus, por intermédio de íris, a cessar de intervirem de hierarquia. Ora, essas tres idéiassáo constitutivasfavor dos aqueus', dá uma resposta violenta que da pólis grega, e a sua presenca no texto, diga-senos esclarece a partilha dos poderes: "Entáo Zeus de passagem, torna inúteis as polémicas sobre opretende me dominar pela torea, contra a minha nascimento da pólis antes ou depois de Homero.vontade, eu que sou igual a ele? Nós somos tres A lIíada nao é concebível sem uma certa presencairrnáos, gerados por Crono e concebidos por Réia: da pólis. A cidade dos deuses nos permite saberZeus, eu e, em terceiro lugar, Hades, o monarca como se desenvolveu a cidade dos homens nodos mortos. O mundo foi dividido em tres; cada período arcaico.um teve a sua parte. Tendo tirado a sorte, consequi ] Expliquemos melhor. g~...t~io é, em_A!~~as,

di eito d h bit A t . t t muito tempo após a época da rtraáa, a instituicáoo Ir I e alar o argen eo mar e ernamen e. ~Hades teve por quinhao a sombra brumosa, e Zeus, sobre a qual repousa a democracia. Naturalmenteo vasto céu, em pleno éter, nas próprias nuvens. nao se trata de urna loteria entre irrnáos, mas simPara nós tres aterra é um bem comum, assimcomo de um sorteio das funcóes que nao silo técnicasO alto Olimpo. Nao pretendo víversubmisso aZeus. (estas silo atribuídas por eleicáo),Que ele viva tranqüilo, com toda a sua torea, no . f2g.rnínjº,.¡;~? Tal.é o estatuto, por exem~seu lote, o terceiro; e que de forma alqurna tente plo, da Acrópolé e da.ffigo.!]em~s, Os arqueó-me aterrorizar como se eu.fosse um vlláo!" logos que escavararn a praca pública (a ágora) de

Outras passaqens da lIíada eda Odisséia nao Mégara Hibléiana Sicília,colonia fundada no fim doseguem nessa direcáo e insistem na soberanía de séculoVIIIa.c., constataram que, desde o início,umZeus. . ." espaco comum fora reservadocomo domínio coletivo

De resto, há nesse texto tres idéias essenciais. da cidadeJjD~!mente, a presenca do :~' entreA primeira.é a do sorteio, É ele que permite a atri- os deuses nos recorda que certas pessoas .sáo

. _. excluídas da pólis. É o caso, ern,•.~pa¡:ta, dos hilotas,buicáo dos lotes e, conseqüentemente,. dasf _. A da é d "domí . "categoria servilque cultivaa terra, e, em Atenas,dosun~oes. segun a e a e um Qmmlocomum. -- • ---

,m....fi~C9_s,_e~f;:~~ñ~trQsdo.in."k.iliác!ósque nao térn oA terra e o monte Olimpo, morada dos deuses, ..direite-ae_"P.to,e, mais ainda, dos escravos,proprie-

nao estáo sob a soberania de Zeus. Eledeve contar .--éfáde'dOsc¡J;¡daos ou da própria cidade.com as outras potencias divinas, incluslvePosfdon,que, a partir do mar, pode "agitar o: solo", etarnbém, de rnaneíra surpreendente, Hades, senhor

Conclusáo

Embora existarrí aspectos de continuidadeentre mito efilosofia, o pensamenro filosófico éalgo muito diferente do mito, por resultar deurna ruptura quanto a atitude diante do saberrecebido. Enquanto o mito é uma narrativa cujoconteúdo nao sequestiona, a filosofía proble-matiza e, portanto, convida a discussáo. No mitoa inteligibilidad e é dada, na filosofia ela é pro-curada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a inter-ferencia de agentes divinos na explicacáo dosfenómenos. Ainda mais: a filosofia busca a coe-réncia interna, a definicáo rigorosa dos concei-tos, organiza-se em doutrina e surge, portanto,como pensamento abstrato.

Na nova abordagem do real caracterizadapelo pensamento filosófico, podemos ainda no-tar a vinculacáo entre filosofia e ciencia. O pró-prio teor das preocupacóes dos primeiros filó-sofos é de natureza cosmológica,de maneira que,na Grécia Antiga, o filósofo é tambérn o inte-lectual do saber científico. SÓno século XVII asciencias encontram seu próprio método e sepa-ram-se da filosofia, formando as chamadas cien-cias particulares, como veremos na Unidade III- Ciencia.

VIDAL-NAQUET, Pierre.o mundo de Hornero. SiloPauta,Companhiadas Letras,2002.p. 66·68.

1; Os tópicos relacionados a seguir visam verificar a cornpreensáo dos temas abordados no capítulo. Expli-que cada um deles:a) diferencas e sernelhancas entre mito e filosofía;b) [atores que acelerara m o aparecimento da filosofía na Grécia.

Questoes de ínterpretacáo e problematizacáo "'"_"" ••••••••••••••••••••••••••.""""'''';<;,'..<'",.'.

2. Explique qual é o sentido das citacóes a seguir, tendo em vista a concepcáo de ser humano transmitidapelas epopéias.a) Diz a deusa Atena a Ulisses: "Eu sou urna divindade que te guarda sem cessar, em todos os trabalhos''.

6. VERNANT,J.-P. Mito e pensamento entre os gregos. Sáo Paulo, Difel/Edusp, 1973. p. 297.7. Os aqueus eram os habitantes de Acaía, rcgtao do norte do Peloponeso de onde saíram os guerreiros para

lutar contra os troíanos.

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FILOSOFANDOI

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b) Agamemnon, depois de um desvario momentáneo, diz: "Nao sou eu o culpado, mas Zeus, o Destino ea Erínia, que caminha na sombra". (Erínias eram deusas da vinganca, tarnbém chamadas Fúrias.) CAPÍTULO"

.,ti.. reflexao filosóficaJ. "Em todas as literaturas, a prosa é posterior ao verso, como a reflexáo o é a imaginacáo, A literatura greganao faz excecáo a regra, antes a acentua, pois o desnível cronológico entre ambas deve importar uns tresséculos." (M. Helena Rocha Pereira)a) Quais sáo as obras em prosa a que a autora se refere? E as em verso?b) Situe no tempo o aparecimento do verso e da prosa.e): Explique o que a autora quer dizer com a oposicáo imagina~a.o-reflexa.o.

A verdadeíra filosofia é reaprender a ver o mundo.Merleau-Ponty4:. Qual é a importancia da ágora para o desenvolvimento da: democracia na Grécia antiga? E nas modernas

democracias, o que constituiria nossas "ágoras"?\. 5. Se o advento da escrita na Grécia antiga foi importante para o nascimento da filosofia, discuta em que

medida, ainda hoje, os altos índices de analfabetismo em alguns países constituem um obstáculo para odesenvolvirnento da consciencia crítica dos seus cidadáos.

Introdu~aoLernbremos a figura de Sócrates.Viveu ern

Atenas no século V a.C. Dizem que era um ho-mem feio, mas, quando falava, exercia estranhofascínio. Procurado pelos jovens, passava horasdiscutindo na praya pública. Interpelava os tran-seuntes, dizendo-se ignoran te, e fazia perguntasaos que julgavarn entender determinado assun-to. Ao final, o interlocutor concluía nao haversaída senáo ern reconhecer a própria ignoran-cia. Dcssa forma Sócrates conseguiu alguns dis-cípulos, mas tambérn rancorosos inimigos.

Essa primeira parte do seu método, conhecidacomo ironía, consiste em destruir a ilusáo do conhe-cimento; a ela se segue a maiéutica, centrada na in-vestigacáo sobre os conceitos. O interessante nessemétodo é que nem 5empre as discussóes Jevam defato a urna conclusáo efetiva. Sabemos disso nao pelopróprio Sócrates,que nunca escreveu livros.mas parseus discípulos, sobretudo PlaCIO e Xenofonte.

O destino de Sócrates é conhecido: acusado decorromper a mocidade e negar os deuses da Cida-de, foi condenado a morte.A história de sua conde-nacío, defesa e morte é contada no diálogo de Pla-táo, Apología de Sócrates. Em outro diálogo, Fédon,Platáo relata como, na prisño, o mestre discutia comos discípulos questóes sobre a imortalidade da alma.

A partir dessa introducáo, podemos fazeralgumas observucóes:

• Sócrates nao está ern seu "gabinete" contern-plando"o próprio umbigc",e sim na pra<;:apública.

• A relacáo estabelecida COI11as pessoas naoé puramente intelectual nem alheia as emocóes.

• Seu conhecimento nao deriva de erudi-cáo, mas é vivo e em processo de se fazer; e tempor conteúdo a experiencia cotidiana.

• Guia-se pelo princípio de que nada sabee, desta perplexidade primeira, inicia a interro-gacáo e o questionamento do que é familiar.

6. Leia o fragmento de um texto de Empédocles e identifique os elementos que denotam continuidade emrelacáo ao pensamento mítico.

"Ainda outra coisa te direi. Nao há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como nao há fimna morte funesta, mas somente composicáo e dissociacao dos elementos compostos: nascimento nao émais do que um nome usado pelos homens."

"Esta [luta das duas toreas] é manífesta na massa dos membros humanos: as vezes, unern-se pelo amortodos os membros que atingiram a corporeidade, na culrnináncia da vída f1orescente; outras, divididospela cruel torea da discordia, erram separados nas margens da vida. Assim também com as árvores epeixes das águas, com os animais selvagens· das montanhas e os pássaros rnergulhóes levados por suasasas." (Apu.d G. Bornheim, Os filósofos pré-socuuicos. 3. ed. Silo Paulo, Cultrix, 1977. p. 70)

Questao sobre a leitura complementar __ ~"'='R"'.·"-·7; A partir da leitura complementar, responda:

a) Explique qual o significado do título "Cidade dos deuses, cidade dos homens".b) Em que sentido tambérn no exemplo escolhido por Vidal-Naquet é possível reconhecer a continuida-

de de mentalidade na criacáo da pólis grega?e) Sob que aspectos surgem diferencas fundamentais na nava pólis?

Dlssertaeáo ~,-;, -

8 .• Tema: "A filosofía é filha da Cidade".

Seminário __ '''''''''''''''?-'''~',

9. Dividir a classe em quatro grupos, que deveráo pesquisar a respeito das seguintes escolas de filosofía:escola jónica; escola itálica; escola eleática; escala atomista,

• Ao criticar o saber dogmático, nao quer comisso dizer que ele próprio é detentar de um saber.Desperta as consciéncias adormecidas, mas nao seconsidera um "farol" que ilumina; o caminho novodeve ser construído pela discussáo, que é intersub-jetiva, e pela busca criativa das solucóes,

• Sócrates é "subversivo" porque "desnor-teia", perturba a "ordern" do conhecer e do fa-zer e, portanto, deve morrer,

Se fizerrnos um paralelo entre Sócrates e aprópria filosofia, chegaremos a conclusío de queo lugar da filosofia é tambérn na praya pública,dai a sua vocacáo política. Por ser alteradora daordern, perturba, incomoda e é sempre "expulsada cidade", mesmo quando as pessoas se rieiu dofilósofo ou o consideram simplesmente inútil.Porvia das dúvidas, o amordacam," cortam o mal pelaraiz" e até retirarn a filosofia das escolas, comoacontece ern época de ditadura. Mas há outrasformas de "matar" a filosofía: quando a tornamospensamento dogmático e discurso do poder, ou,ainda, quando cínicamente reabilitamos Sócratesmorto.já que entáo se torno u inofensivo.

Sócrafes e o fi!osofio, Antonio Conovo, século XVIII, óleosobre madeiro. Sócrofes incomodou os poderosos do cdodede Atenos: o hlosoho é contestadoro do ordem vigente