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8/3/2019 PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial) http://slidepdf.com/reader/full/pentagrama-em-busca-do-santo-graal-edicao-especial 1/45 E m  B u s ca  do G r aa l  S a g r a do EM BUSCA DO SANTO GRAAL INÚMEROS SÃOOS QUE PROCURAM O G RAAL NO MUNDO O GRAAL L TICO E A SAGA DE ARTUR PRESENÇA DO GRAAL EM CADA UM P ARSIF AL O CAMINHO DO PESQUISADOR OS CÁT AROS NO CAMINHO DO SANTO GRAAL O RIGEM E SIGNIFICADO DAS LENDAS DO GRAAL A VIAGEM DO ORIENTE AO OCIDENTE O LIVRO DOS REIS DA PÉRSIA ANTIGA KITESJ, SÍMBOLODE UM COSMOINVIOLADO P E N T A G RAMA ta Lec torium Rosicrucianum ç ã   p ec ial 

PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial)

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Em  Busca  do Graal   Sagrado

EM BUSCA DO

SANTO GRAAL

INÚMEROS SÃO OS QUE

PROCURAM O GRAAL

NO MUNDO

O GRAAL CÉLTICO E A

SAGA DE ARTUR

PRESENÇA DO GRAAL

EM CADA UM

PARSIFAL – O CAMINHO

DO PESQUISADOR

OS CÁTAROS NO

CAMINHO DO SANTO

GRAAL

ORIGEM E SIGNIFICADO

DAS LENDAS DO GRAAL

A VIAGEM DO ORIENTE

AO OCIDENTE

O LIVRO DOS REIS DA

PÉRSIA ANTIGA

KITESJ, SÍMBOLO DE UM

COSMO INVIOLADO

PENTAGRAMAR e v i s ta d o  Lectorium Rosicrucianum e d i ç ã o  e s  p ec ial 

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Í N D I C E

02 E M B U S C A D O

SA N T O G R A A L

03 I N Ú M E R O S S Ã O O S

Q U E PRO C U RA M O G R A A L

N O M U N D O

06 O G R A A L C ÉLT I C O E A

SA G A D E A R T U R

11 PR ESE N Ç A D O G R A A L

E M C A DA U M

12 PA RSI F A L –  O C AM I N H O

D O PES Q U IS A D O R

18 O S C Á T A R O S N O C AMI N H O

D O SA N T O G R A A L

24 O RI G E M E SI G N I F I C A D O

DAS L E N D AS D O G R A A L

29 A V I A G EM D O O R I E N T E

AO O C I D E N T E

32 O L IV RO D O S R E IS DA

PÉRSI A A N TI G A

39 K I T ESJ, SÍ M B O L O D E U M

C O SM O I N VI O LA D O

E D I Ç Ã O ESP E C I A L

D I A P ORTA S A BERTAS

C E N TRO D E C O N F E R Ê N C I A S

PE D R A A N G U L A R , JA R I N U

24 D E O U T UBRO D E 2004

PENTAGRAMA

Tema deste número:

Em busca do 

Santo Graal

Muitos grupos orientados espiritualmente utilizam,

em seus emblemas, o sí mbolo do Graal. O Graal está

na moda. Ele é cada vez mais conhecido e procurado, da

mesma f orma como na Idade Média. Suas lendas eram,

então, a f orma pela qual uma mensagem secular 

seria outra vez transmitida à humanidade.

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Em busca do Santo Graal

A bus c a  d o G r aa l é um t e ma  s e m- p r e a t ua l. É  um  s í mb olo uni v e r s a l d a   bus c a   d a   v e r d a d e :   a   v e r d a d e 

e t e r na   que  s e  a  p r e s e nt a   qua nd o o 

s e r  huma no a l c a nç a o li mi t e d e s ua s  po ss i b ili d a d e s . Foi  a ss i m  na   I d a d e 

M é d i a , e c o nt i nua  a ss i m a i nd a  hoje.

M a s  ne ss e meio  t e m po, a   huma ni -d a d e – e c a d a  i nd i v í duo – e v ol ui u.

P a r a  o b e m o u p a r a  o ma l, p a r a  o 

a l t o, p a r a  uma ele v a ç ã o a o E s  pí r i t o 

d i v i no, o u p a r a   b a ixo, d e s c e nd o 

s e m p r e ma i s  no a b i s mo d a  ma t é r i a .

ada época recebe novas possibili-dades que lhe são específicas. Frontei-r

as clar

as devem encerr

ar

 o passado. Enão teria nenhum sentido querer atra-vessar de novo essas f ronteiras unica-mente para procurar, no passado, ele-mentos ainda ho je válidos. A verdadepermanece sempre a mesma, embora,a cada segundo, ela se apresente demodo novo, diferente. E o ser huma-no é, sempre de novo, convidado a co-laborar com esse processo de renova-ção, como participante consciente da

Criação.Assim também o Graal, em nossos

dias, não é o mesmo Graal dos séculospassados. E f uturamente ele tambémnão será o mesmo  que é agora. Massua essência não muda e somente ela

pode auxiliar o pesquisador a dar mais

um passo no seu caminho. Os contosdo Graal são uns mais lindos que os

outros, cativantes e simbolicamente

pur

os. Mas nenhum pode fazer

 o pes-quisador progredir se este não desco-brir e não compreender interiormentesua mensagem para realizá-la em sua

própria vida.

Por isso, este número sobre a buscado Santo Graal não é um relato histó-rico, mas, sim, o  testemunho cons-ciente e autêntico do caminho que de-ve, de fato, ser seguido para a conquis-ta do  Santo  Graal, a taça que podetransmitir o Amor divino, transmuta-

do em uma Força apropriada para in-dicar e iluminar  o caminho  de cada

pesquisador.Assim, aqueles que participaram da

elaboração  deste número  não  hauri-ram somente das riquezas do passado,mas voltaram-se principalmente para

o f uturo glorioso que se abre para a

humanidade nos tempos presentes.Esperamos que estes textos, traba-

lhados a part

ir

 das alocuções pr

onun-

ciadas por ocasião do simpósio sobreo Graal, acontecido em 24 de maio de2001, no  Centro  de ConferênciasChristianopolis, em Birnbach, na Ale-manha, permitam ao leitor aprof undarsua compreensão sobre o mistério doGraal.

A Redação

C

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Inúmeros são os que procuram o Graal

no mundo

As  le nd a s  b e m c o nhe c i d a s  d o G r aa l s ó  d ã o  uma  pe que na  i d éi a   d a i me ns a  i nfl uê nc i a   d a   me ns a ge m

que  t r a ns mi t i a m. E l a s   a  p r e s e nt a -v a m  um  c a mi nho e s  pi r i t ua l  que 

c o ns e r v o u  t o d a   a   s ua  i m po r t â nc i a  p a r a  o  ho me m  d e  hoje. A fo nt e 

d e ss a  me ns a ge m é a  G no s i s , a  v e r -d a d e uni v e r s a l, pe r c e b i d a  e  t r a ns -mi t i d a   s o b   a  fo r ma   d e  uma   v i d a c o nc r e t a e r ege ne r a d o r a .

busca do Graal não é, portanto,

uma ficção, e muito menos o relato de

acontecimentos sobre os quais pode-mos discutir científica ou filosofica-

mente. T

r

ata-se de uma p

r

ática de vidaadotada de f orma direta e radical pelo

pesquisador a caminho para a verdade

vivente. Para conceber  um  pouco agrandiosidade desse impulso, aomesmo tempo secular e tão atual, estecaminho deve compreender a mensa-gem libertadora oculta em cada feitoheróico  dos cavaleiros do  passado.Esses acontecimentos apresentam doisaspectos, duas dimensões:  por  umlado, um aspecto humano transmitidopelas aventuras pitorescas dos cavalei-ros; por outro lado, a dimensão divinaalcançada após a execução desses atos

heróicos. O aspecto humano aparece

diretamente na luta contra o orgulho,

a tolice e o escândalo  da ignorânciacom  referência à vida superior. Estessão os inimigos característicos daque-les que partem em busca interior do

Castelo do Gr

aal.Parsifal consegue vencer seusadversários com  o auxílio  da f orçainterior que lhe é sempre concedida.Mas, apesar de sua coragem e de sua

genialidade, ele ainda não pode encon-trar a Luz. Ele é levado pela inquietu-de e pela agitação provocadas por seu

desejo do Graal. Mas sua vitória sobreo Cavaleiro Vermelho lhe dá o poder

de penetrar  no castelo  do  rei Artur.Podemos considerar  o  CavaleiroVermelho como a alma natural, intei-

O Graal, fonte

de vida. O cervo

simboliza a alma

sedenta, os pavões,

o homem dialético

que a água Viva

dessedenta. Baixo

relevo de pedra,

Itália, século IX ou X

d.C. Staatmuseum,

Berlim.

A

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ramente devotada à vida terrestre.Para o pesquisador autêntico, ela é oprimeiro obstáculo a ser superado seele quer alcançar a vida superior  daalma. Seu caráter e o meio no qual elevive, portanto sua herança sanguí nea,são igualmente obstáculos a serem

vencidos, o que implica num processode purificação da alma que se preparapara o encontro com o Espí rito.

Herança coletiva da 

humanidade

Esse conflito interior acontece en-tre o consciente e o subconsciente. Osubconsciente contém, em si, as f orças

que se desenvolveram  quando  ohomem se separou  da ordem  divina

original. Essas antigas e poderosas

concentrações de f orça continuam aser mantidas. Elas f ormam a herançacoletiva da humanidade, toda a sua

história. Ao mesmo  tempo, elas f or-mam a herança individual das vidaspassadas de cada personalidade, assim

como  da estrutura da personalidadeatual. Esses são os inimigos e os obs-táculos que Parsifal deve vencer  du-rante sua busca do Graal. Ele não sedeixa deter por essas f orças. Ele possuia f orça interior sob a f orma de umaespada que se torna cada vez  maisf orte e cortante à medida que ele pro-gride. Essa espada é uma arma espiri-tual, o auxílio indispensável para

todos aqueles que quer

em acer

tar

suaconta com  os demônios do  mundosubterrâneo do subconsciente.

O Castelo do Graal não é, pois, parao  pesquisador, alguma f ortaleza em

ruí na nos Pireneus. Essas testemunhas

do  passado  podem estimulá-lo f orte-mente, mas essa não é a finalidade desua viagem. O Castelo do Graal edifi-cado  pelo homem atual é um campoenergético  regenerador, mantido  poruma comunidade de almas que aspi-

ram crescer e se elevar. Esse SantoGraal é constituí do e sustentado  porhomens que vivem sobre a terra, que

descobriram o Graal por meio de seucombate e purificação interiores. EsseGraal vivente contém a energia salva-dora do Cristo Cósmico e se derramasobre a humanidade. Quem entra emcontato com essa f orça recebê-la-ácom grande alegria edesejará dar teste-munho  dela. Mas é preciso  tambémassimilá-la. Essa é a espada com a qualParsifal combate, o gládio mencionadopor Jesus quando disse em Mat.10:34:

E u nã o v i m t r az e r  a p az , ma s  a e s  p a d a .Essa espada tem o poder, a f orça, deseparar o puro do impuro.O Parsifal moderno segue o cami-

nho de sua libertação interior no seiode um grupo comparável à TávolaRedonda da corte do  rei Artur. Essa

Távola Redonda, essa comunidade depessoas com a mesma orientação, tema tarefa de se preparar  para f ormar

uma taça, um  Graal, um vaso, umacratera, a fim de aí  receber as f orças

divinas e de transmiti-las a todos os

que o desejarem.

Purif icação interior 

da alm

a

No  mundo existem inumeráveisbuscadores do  Graal. Em  todos os

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domí nios, todos os campos de pesqui-sa e em todos os níveis encontram-se

pessoas com essa preocupação, cons-ciente ou não. Enquanto esse processose desenrola de f orma inconsciente,eles contestam mutuamente suas des-cobertas e combatem em vão o Cava-

leiro Vermelho. Mas assim que, comoParsifal, seu desejo interior os leva a sevoltarem  para seu  próximo, eles to-mam consciência de seu combate, oqual se transf orma, então, numa puri-ficação e numa preparação interior daalma. E  por suas palavras, escritos eações, eles testemunham do auxílio e

da consolação  que constantementesentem enquanto mantêm o Graal emmira. É que o Graal, que é a sua fina-lidade, já os sustenta e os alimenta hámuito tempo.Enquanto a alma participa das

dores e lutas terrestres, é impossívelao buscador distinguir o Graal como aúnica finalidade da vida: seu  podersensorial está danificado  demais. Eis

porque a antiga estrutura da alma deve

ser transf ormada em uma nova, capazde ser alimentada pela f orça regenera-

dora e, com isso, reagir  de maneiracorreta. Se f or este o caso, o que pode-ria ainda prejudicá-la? A morte? Ela

venceu todos os aspectos da morte – avida cotidiana inconsciente. Portanto,

o Graal é o mistério da alma renovadaa caminho para a eternidade.

Eis uma das razões pelas quais os

processos do  Graal f oram  descritos,no  passado, em linguagem simbólica

tão color

ida. Aqueles que fizer

am essaexperiência o compreenderam. Para os

outros, eram as maravilhosas históriasque alimentavam seu  desejo  de umavida melhor, de uma vida superior.

Aqueles que buscam o Graal devempenetrar em seu f oro interior. É lá quecomeça a viagem e em nenhum outrolugar. O ponto de partida é um grande

desejo de penetrar o mistério da trans-f ormação da alma. Porque a consola-ção que emana do Graal dá ao peregri-

no a alegria de um saber autêntico,crescente, que é designado comoGnosis. Bem antes de poder ser  umguardião do Graal, o buscador já estáligado a ele; ele experimenta e tambémsabe que sua busca seguirá um longocaminho, doloroso e, por momentos,

precário.O Graal, como mistério de inicia-

ção, está agora tão vivo como na IdadeMédia, quando esse conhecimento,

por volta do ano 1200, f oi traduzidoem  narrativas pitorescas. Algumas

delas são abordadas nesta Penta-grama. Na nossa época, esse mistérioé explicado de f orma diferente porqueé pelo  poder  mental que a buscacomeça. Entretanto, o Graal só revela

seus segredos àqueles que estão pron-tos, de todo o seu coração, a suportaras conseqüências de seu encontro com

essa f orça regeneradora. Quem  querseguir o caminho sempre pode encon-trar o Graal. Este pro jeta suas raí zesf ora do  tempo e, com uma paciênciainfinita, chama todas as almas e as leva

de volta à vida eterna.

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Artur retira a

espada da pedra.

Victoria & Albert

Museum, Londres.

O s  c el t a s  e s t ã o na  o r ige m d a s  le n-d a s  d o G r aa l na  E ur op a . E le s  nã o 

t i nha m  uma   v e r d a d ei r a  e s t r ut ur a e s t a t a l, ma s  fo r ma v a m uma  s o c ie -d a d e  d i r igi d a  pelo s   d r ui d a s , que 

t r a ns mi t i a m  s e u e ns i na me nt o  a o 

 po v o  s o b  a  fo r ma  d e c o nt o s  o u d e 

c a nt o s .

cidade de Carnutum (atualmenteChartres) é considerada como o maisimportante local de reunião dos drui-das. Na floresta circundante encontra-va-se uma gruta onde eles guardavama representação  da Vi r go p a r i t ur a , avirgem  parturiente. Lá eles aguarda-

vam o nascimento daquele que «des

-ceria no abismo para sair dele vence-dor». A Bretanha, a Irlanda, o País de

Gales e a Escócia conservam ainda nu-merosos traços dessa cultura religiosa.A  mitologia celta f oi tema de um

texto intitulado O s  M ab i nogio n. Tra-ta-se de uma espécie de Graal: um cal-deirão que servia de instrumento ini-

ciático. Na realidade, havia dois cal-deirões:  o  do  renascimento e o  doaperfeiçoamento. Dizia-se que o heróimorto em combate retornava à vidaimergindo  no  primeiro. O segundoestava cheio do alimento de que o he-rói renascido  precisaria para progre-

dir. Mas ele estava vazio  para quemdele se aproximasse sem ter vivido def orma heróica.

O Caldeirão de Ceridwen

Ceridwen era a deusa-mãe celta. Elapossuía um caldeirão no qual prepara-va

uma

beb

eragem qu

epod

eriapr

o-

vocar  renascimento ou metamorf ose.

Um jovem que bebesse uma gota des-ta beberagem conheceria todos os se-gredos e renasceria, após uma série demetamorf oses, sob a f orma do GrandeDruida e Bardo Taliesin – a princí pio,

na qualidade de aluno de Merlin; emseguida, ele mesmo seria chamado deMerlin. Taliesin significa f ronte irra-diante. O caldeirão e a taça são sí mbo-los femininos e representam o princí -pio  receptor; a lança e a espada sãosí mbolos da f orça masculina.

As cruzes solares celtas

A cruz celta combina aspectos docristianismo  oriental e da sabedoria

dr

uí dica ocidental. Não é somente umsí mbolo do corpo físico, mas tambémdo encontro entre matéria e Espí rito.Freqüentemente, encontra-se, no meiodessa cruz, uma roda solar ou a repre-

6

O Graal céltico e a saga de Artur

A

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sentação  de um  movimento  rotativosimbolizado por três sinais semelhan-tes ligados uns aos outros por um cen-tro comum. A cruz é também o sí m-bolo do homem em pé, os braços es-tendidos e os pés firmes no chão. Nocruzamento das duas hastes, o sol en-globa a cabeça e o coração, imagem dohomem regenerado pelo Espí rito divi-no. A ligação da corrente oriental e datradição druí dica gerou o cristianismocelta e os contos da Távola Redonda

do rei Artur.Merlin era o grande iniciado  nos

Mistérios druí dicos, e, assim sendo,

possuía o dom de profecia. E, uma vez

que, segundo a lenda, ele tinha acessoa todas as esferas de vida, criou condi-ções para que Artur viesse ao mundoem Tintagel, um castelo que ficava nacosta da Cornualha, no sudoeste da

Inglaterra. Merlin havia feito um acor-do com o rei Uther Pendragon: levaria

o jovem  prí ncipe para educá-lo emlugar seguro. Quando Uther Pendra-gon morreu, houve uma controvérsiasobre sua descendência, pois ninguém

sabia que ele tinha um filho. Na noitede Natal apareceu, na praça do merca-do, uma pedra na qual estava cravadauma espada. Uma inscrição em letras

de f ogo indicava que aquele que pu-desse retirar a espada da pedra tornar-se-ia o rei da Inglaterra. Muitos cava-leiros tentaram em vão, e, finalmente,f oi o jovem Artur quem conseguiu re-tirar a espada, sem dificuldade. Dessa

f or

ma, ele pr

ovou sua linhagem e suavocação.Segundo a lenda, Merlin, que o ha-

via assim entronizado, tornou-se seuconselheiro, e juntos estabeleceram

Galaad se junta à

Távola Redonda e

ocupa o lugar vazio.

Itália, por volta de

1390.

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paz e prosperidade no país. Então, oGraal f oi introduzido na Inglaterra e oRei pescador deu instruções a Merlinpara que instituísse uma Távola Re-donda. Uther  Pendragon lhe pedira

para transmitir essa herança ao seufilho Artur, que estaria apto a realizar

essa tarefa. Ele criaria uma nova f ra-ternidade na qual se reuniriam  todosos que combatessem o mal com suas

palavras e seus atos. Merlin deu a Ar-tur a espada mágica Excalibur  tendoem vista a boa causa.O portador dessa

espada – oferecida pela Dama do Lago– era invencível.Ao lado de um rei vencedor o povo

desejava também  uma rainha. Essamulher, Guinevere, trouxe infelicida-de para a f raternidade dos nobres ca-valeiros, por causa dos problemas quesurgiram devido a suas relações comLancelot, o melhor amigo do rei. Ar-tur não reagiu nem com ciúmes, nem

com  ódio  ou cóler

a, mas sim comcompreensão. Ele também  teve difi-culdades com seu filho adulterinochamado Mordred, que se tornou seupior inimigo. Uma de suas meio-ir-

mãs, a fada Morgana, tentou aniquilara Távola Redonda, mas esbarrou  na

elevada ética dos cavaleiros e, princi-palmente, com Galaad, que não se dei-xou influenciar.

8

O Caldeirão

de Gundestrup,

recoberto de

prata. Dinamarca,

século I ou II a.C.

National Museum,

Copenhague.

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«É preciso que vás embora»

Quando Merlin levou Galaad à Tá-vola Redonda, este tomou lugar, semdificuldade, na décima terceira cadei-ra, a cadeira perigosa, e seu nome apa-receu em letras luminosas sobre o es-paldar. Era o cavaleiro que todos espe-ravam  há muito  tempo. No  mesmoinstante, alguns an jos trouxeram  oGraal, que ofereceu deliciosos man ja-res a cada um deles.Os cavaleiros fica-ram tão tocados que decidiram partirem  busca do Graal, que desapareceude suas vistas. Somente o  rei Arturpermaneceu em  Camelot. Comoadeus, o cavaleiro Gawain disse a Ga-laad: É  p r e c i s o  que  v á s  e mb o r a , poi s 

nã o é s  d o s  no ss o s . Merlin também nãoos acompanhou, pois ele havia termi-nado sua tarefa e retirou-se da TávolaRedonda.

Em seguida, o r

ei Ar

tur

 teve de lu-tar contra seu próprio filho.Na véspe-ra do combate, seus conselheiros, quehaviam consultado  os astros, disse-ram-lhe que não saísse de sua tenda no

dia seguinte. À noite, o rei sonhou queestava acorrentado à roda do destino,

que a deusa da Fortuna girava.Na pri-meira volta da roda, ele encontrou-se

no alto, como rei; na volta seguinte, na

parte de baixo  da roda, ele tinha setornado um mendigo. Então, compre-endeu a lei inflexível da reencarnação.Ele percorreu sua vida num relance e

descobriu a relatividade dos desejos

de bondade e de perfeição terrestres.No dia seguinte, depois de ter ad-

quirido esta compreensão, ele f oi lutarcontra seu filho. Os dois infligiramferimentos mortais um ao  outro.Mordred morreu e Artur pediu a seuamigo que o levasse até um lago vizi-nho. Lá ele devolveu Excalibur à Da-ma do Lago. Depois, uma nave comnove mulheres levou  o  rei à ilha decristal, Avalon, para cuidar dele e pre-pará-lo para seu retorno, quando f os-se a hora. Ar t ur  é o r ei! Ago r a e p a r a 

s e m p r 

e! A  busca do Graal continuou, em-bora numerosos cavaleiros tenhamperdido a vida ou se perdido. No en-tanto, três cavaleiros encontraram  o

Galaad encontra

o Graal.Tapeçaria

de Burne-Jones,

executada porWilliam Morris,

Birmingham City

Museum & Art

Gallery.

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Cálice Sagrado

: Boho

r, Parsifal e Ga-laad. Mas apenas um pôde aproximar-se dele. E a lenda relata: D epoi s  d i ss o,o G r aa l d e s a  p a r e c e u d o mund o.

A Távola Redonda continua

atual

Quem  não se senteria tocado  pela

nobreza, valentia e tragédia dessa ma-ravilhosa história? «Eram heróis, Ar-tur, Lancelot, Parsifal e Galaad. E es-tão vivos ainda ho je!» Há séculos ohomem é criado com a idéia de que overdadeiro herói é um personagem ex-terior a ele mesmo, de modo que, de-pois de uma história tão bonita, ele re-torna tranqüilamente à mediocridade

de sua vida cotidiana: comer, beber,

dor

mir

, e talvez, dur

ante as fér

ias, visi-tar Tintagel, para ver se ainda existealguma coisa por lá...E a mensagem  do  Graal em  tudo

isso? Apesar de tudo, ela ressoa em ca-

da passagem da nobre lenda. É a pró-pria história da vida. Todos os aconte-cimentos dessa lenda representam a

busca dos ideais, assim como os esf or-ços, os desalentos, as descobertas e asdecepções da vida. O  que buscamos

em nossos dias com nossas máquinasultra-rápidas, nossos aparelhos sofis-ticados e os produtos sintéticos? Sãoempreitadas muito  parecidas com asdos cavaleiros que estavam em busca

do Graal. Alguns querem alcançar umideal elevado e ajudar o próximo; ou-tros querem conseguir  um  domí nioabsoluto sobre a natureza ou sobre os

povos. Assim, cada um  traz, em si

mesmo, os diferentes aspectos da bus-ca: em cada um se esconde o rei Artur.Um bom  rei não é um  tirano, po-

rém assume conscientemente a res-ponsabilidade de todas as vidas con-fiadas à sua direção. Portanto, ele nãose aproveita de seus súditos para al-cançar seus próprios ob jetivos; ele nãoos explora. Na qualidade de verdadei-ro cavaleiro, ele não luta em interesse

próprio. Mas será que ainda existemcavaleiros como esses?Quem ainda pode ouvir a voz inte-

rior, sua consciência, por ela será ins-pirado a seguir o caminho correto.Noentanto, para ouvi-la, é preciso calma

e silêncio interiores. Ora, é escutandoessa voz que o cavaleiro andante podedescobrir e ver claramente qual é averdadeira finalidade de sua vida e,

por fim, alcançá-la.

10

A busca do

Graal. Esboço de

Walter Map,

Bridgeman Art

Library, Londres

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Presença do Graal em cada um*

C e r t a me nt e  c o nhe c ei s   a  le nd a   d o 

S a nt o  G r aa l. E s t a   a nt ig a  le nd a c o nt a  que o G r aa l é a  t a ç a  ut ili za -d a  po r  Je s us , o S e nho r , po r  o c a s i ã o 

d a  S a nt a  C ei a . D i z  a le nd a  que ne -l a  Jo s é  d e Ar i ma t éi a   r e c ol he u o 

s a ng ue d o c r uc ifi c a d o e, e m s eg ui -

d a , t o mo u o  G r aa l  s o b   s ua  p r o -t e ç ã o. M a i s   t a r d e, s e us   s uc e ss o r e s 

t r a ns  po r t a r a m o  G r aa l p a r a  o 

O c i d e nt e, o nd e  s e e nc o nt r a , a t é o 

 p r e s e nt e  mo me nt o, g ua r d a d o e m

lo c a l o c ul t o.

sta lenda, que é profanada de todasas maneiras possíveis pelos místicos

par

a especulações emocionais, e queserviu de tema, na Idade Média, para

diversas obras poéticas por parte dos

imitadores místicos, em sua simplici-dade nos dá plenamente os valoresgnósticos de que necessitamos paracompreender o que é o Graal, comodeverá ser edificado ou onde podere-mos encontrá-lo.

Para penetrar  neste mistério, cha-mamos primeiramente vossa atençãopara tudo o que já f oi considerado na

narrativa do Evangelho sobre o enviode Pedro e João para a preparação da

Santa Ceia. É o próprio aluno quemterá de preparar o Graal para que ele

possa, em seguida, ser  utilizado  porJesus, o Senhor.Anatomicamente, a taça do Graal é

indicada pelos três cí rculos plexiais jámencionados: o da laringe, o dos pul-mões e o do coração. A parte superiorda taça sagrada corresponde ao sis-tema da laringe; a haste da taça de

cristal está erigida nos pulmões e abase fica na cavidade cardíaca. A pos-

sibilidade par

a a confecção dessataçanupcial encontra-se, portanto, pre-

sente em todos os seres humanos.

* A G no s i s  U ni v e r s a l , Jan van Rijckenborghe C atharose de Petr i, Lectorium Rosicru-cianum, São Paulo, 1985.

E

Armado com o

escudo da Fé e

acompanhado pelas

pombas do Espírito

Santo, um cavaleiro

parte para lutar

contra o mal.

Summa de vitiis,

Peraldus, 1240,

British Library,

Londres.

11

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A I d a d e M é d i a  foi uma  épo c a  e m

que  ho uv e g r a nd e  a ng ús t i a   na E ur op a . A I g r ej a  p r o c ur a v a   a ss e -g ur a r  s ua s  po s i ç õe s  na  s o c ie d a d e. A

li b e r d a d e  d e exp r e ss ã o  d e s a  p a r e -c e u, a  v i d a  e s  pi r i t ua l e nf r a que c e ue d epoi s   s e ex t i ng ui u. O  O c i d e nt e 

 pô s -s e e m  ma r c ha   c o nt r a  o  I s l ã .M a s  a  c i v ili za ç ã o d o O r ie nt e M é -d io c o nhe c e u um d e s e nv ol v i me nt o 

mui t o ma io r  d o que o O c i d e nt e, e 

o s   c r uza d o s  le v a r a m  um  no v o 

i m p ul s o c ul t ur a l p a r a  c a s a .

Inquisição empreendeu a erradi-cação de toda renovação de vida espi-r

itual no seio dos dogmas já es

tabele

-cidos. Um  renascimento espiritual

buscou, pois, seus próprios caminhos

para expressar-se e comunicar-se. Ahistória de Parsifal e de sua busca doGraal, tal como  relatada, por exem-plo, por  Chrétien  de Troyes eWolf ram von Eschenbach, é uma ilus-tração  disso. São, à primeira vista,romances de aventuras que evocam oheroísmo, a fé, a coragem e os amores

dos cavaleiros. Eles descrevem a bele-za e a virtude das damas amadas e as

provas que os cavaleiros devemsuportar por elas.Podemos também encontrar  neles

um caminho de iniciação, velado, na-turalmente, mas perfeitamente deci-f rável com o auxílio de certas chaves.Foi assim que, sob imagens ricas e fa-bulosas, os bogomilos, os templários

e os cátar

os ocultar

am sua viventesabedoria antiga e conseguiram legá-la à posteridade.Embora Wolf ram von Eschenbach,

reconheça ter-se servido do  romance

inacabado  de Chrétien  de Troyes,afirma tê-lo  haurido  de uma outraf onte. Ele dá como referência o magoKyot, um iniciado  que havia desco-berto a lenda do Graal num velho ma-nuscrito, em Toledo. Esse manuscritoera obra do filósof o oriental Flegeta-

nis que havia lido  nos astros algunsdados relativos ao Graal. «Uma mul-tidão de an jos o  trouxe para a terra,

depois voou para as estrelas...» Kyotprocurou saber  onde se encontravaessa preciosa dádiva do céu e isso  olevou à linhagem dos Anschauwe (vi-sionários). Não se tratava de uma di-nastia existente, mas de uma raça deseres enobrecidos pela contemplação

espir

itual.Wolf ram von Eschenbach deu ou-

tra razão de não ter sido ele a origemda lenda do Graal. Ele afirmava nãoser um erudito, mas um cavaleiro que

não sabia ler  nem escrever. Certa-mente não devemos considerar tal de-claração literalmente; mas isso mostrabem  que se tratava de um  homemmodesto, que pensava que sua imagi-nação, embora grande, era insuficien-

te para descrever  o  bem supremo.Com efeito, ele descreveu, usando umambiente da época, como a alma queaspira a Deus acaba f undindo-se comas f orças espirituais do  Graal, apóssubmeter-se a muitas provas e purifi-cações. No presente, esse caminho étão significativo como o f oi outrora;entretanto, ele se adapta às possibili-dades e às limitações da humanidade

atual. Inter

pr

etado de f or

ma adequa-da e positiva, esse caminho simbólicoé capaz  de esclarecer  os desenvolvi-mentos e processos da própria vida

do leitor.

12

Parsif al – o caminho do pesquisador

A

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O tolo ingênuo iluminado pelacompaixão

Wolf ram von Eschenbach descreveo caminho seguido  por  um  homem

que, partindo de sua condição terrena,retorna para sua origem divina. Adão,em sua presunção, deixou de obedecer

a Deus. Desde então, a obediência é aúnica exigência que Deus impôs ao ser

humano para que ele possa ter acessoà imortalidade. Ass i m, d e s d e a ge r a ç ã o 

d e Ad ã o, nó s  s ó c o nhe c e mo s  a fli ç ã o o ua leg r i a , é dessa maneira que o ascetaTrevrizent descreveu a existência hu-

mana. A alegr

ia, por

que Deus jamaisabandona suas criaturas; a aflição,

porque nós carregamos o fardo  dopecado  de Adão. Amf ortas, o  ho-mem divino original, jaz mortalmente

doente, na cidadela do  Graal, onde

aguarda sua libertação. Cada filho dohomem esconde em si um Amf ortas, ea cidadela do Graal, que o envolve, é osí mbolo  do  microcosmo. Ora, se opesquisador  tem em si alguma remi-

niscência – isto é, a lembrança da con-dição do homem antes de sua su jeiçãoà vida e à morte – essa lembrança ointerpela; ele pode, então, tornar-seconsciente do caminho a percorrerpara encontrar o estado original e seuverdadeiro lugar na Criação.

Segundo  uma certa profecia, so-mente um  tolo ingênuo, iluminadopela compaixão, libertará o doente in-

cur

ável. Sua her

ança inter

ior

colocaParsifal no caminho. Seu pai, um va-lente cavaleiro, acumulou todas as ex-periências da vida terrena e sua mãe

personifica os sof rimentos da alma.

Artur e os

cavaleiros partem

em busca do Graal.

Manuscrito francês,

século XIII.

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Como missão, ela tem de dar a umacriança a oportunidade de reencontraro caminho do Graal, para que assimseja revelado o caminho da libertaçãoa todos os seres humanos. Em Parsifaltrabalham, portanto, a herança coleti-va das experiências da humanidade (opai), e o pressentimento de sua voca-ção  divina (a mãe). Sua aparência detolo  representa a percepção  pura eingênua da alma: a educação  de suamãe só se dirigia à sua alma. Mas esse

traço particular, no sentido exclusiva-mente literal, o faz cometer erros,além de provocar sof rimentos. Parsi-fal deve, portanto, aprender a distin-

guir entre comportamento  terreno easpiração espiritual. Uma bela e en-cantadora mulher pode ser considera-da como a encarnação  de uma alma

pura, mas também como um ser hu-mano.

O caminho do meio

A caminho, Parsifal cruza várias ve-zes com Sigune, que personifica a vozda reminiscência. Ela o chama por seunome e lhe revela sua origem: P a r s if a l,e ss e é o t e u no me. E le s ig nifi c a : p a ss a r 

 pelo  c e nt r o. Seu caminho  para o co-nhecimento da verdade passa tambémpelas prof undezas da natureza terre-na. Mas ele ainda não encontra suamissão interior e aspira sempre à cava-

laria exterior, simbolizada, em suaf orma mais nobre, pela Távola Re-donda do rei Artur. Esse grupo de ca-valeiros alcançou tudo o que é possí -vel na natureza terrena.Os cavaleiros, os reis, as damas e

outros personagens que Parsifal en-contra em sua busca podem ser vistos

como  representações de seus senti-mentos, idéias e desejos. Ele sempre se

vê face a face com obstáculos que deveenf rentar e resolver em si mesmo. As-sim, ele liberta Kondwiramur  dasmãos de seus inimigos e a desposa.Trata-se da união  duradoura com

aquela que o «conduz ao amor», a no-va alma! Impulsionado  pelo  desejooriginal (que Eschenbach  representapelo amor de sua mãe) e guiado inte-riormente por Kondwiramur, Parsifal

põe-se a caminho para a cidadela doGraal. Ainda muito influenciado pelaslições de Gurnemanz, ele não compre-ende o que se espera dele no Castelodo Graal. Ele não sabe fazer ao rei a

pergunta salvadora.

Suas vitórias não o aproximam 

do Graal

A espada de Amf ortas lhe será maistarde de grande auxílio para separar oque é terreno  do  que é divino. Ele

aprende a reconhecer suas faltas e arepará-las. A maldição  de Kundry  ofaz tomar consciência de sua negligên-cia em relação à sua elevada missão eele já não deseja mais nada a não ser

encontrar o Graal e unir-se a Kondwi-r

amur

, a nova alma.Na qualidade de cavaleiro em bus-ca do Graal, Parsifal envolve-se emincontáveis combates. Van Eschenba-ch utiliza o personagem do cavaleiroGawain para representar suas nume-rosas aventuras. A  princí pio, elecombate as alucinações do espí ritohumano. Porém, embora ele registrenumerosos sucessos, essas vitóriasnão  o aproximam  da meta porque

ainda são, em sua maioria, expressãode sua vontade terrena. Elas são, noentanto, o ponto de partida necessá-rio  para poder encontrar a SantaCidadela.Desencorajado, desesperado, com o

coração cheio de rancor por Deus, ele

vagueia pelos caminhos. Sof re por nãopoder encontrar a taça maravilhosa.Mas, em sua extrema solidão e impo-

tência, o auxílio de Deus chega nova-mente até ele. Um cavaleiro cinzentovem ao seu encontro, caminhandodescalço  na neve, com sua mulher eseus filhos. Esse cavaleiro lhe diz que

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num dia como aquele, Sexta-feira San-ta, é permitido esperar a graça de

Deus. Refletindo sobre essas palavras,Parsifal af rouxa as rédeas de seu cava-lo e este o leva até o eremita Trevri-zent que lhe dá um novo significadoda Sexta-feira Santa: é o dia no qual setem o poder de amar a Divindade! En-tão, Parsifal percebe que, para com-preender  o sacrifício  da Sexta-feiraSanta, deve entregar a Deus sua vonta-de pessoal:  S e nho r , que T ua   v o nt a d e s ej a fei t a ! Esta é a expressão do verda-deiro amor. No  mesmo instante, asf orças divinas vêm  tocá-lo  para suaconsolação e libertação. A partir desse

momento, ele trava vitoriosamenteseus últimos combates. Com a espadado Cavaleiro Vermelho ele põe em or-dem seus conflitos exteriores. Coma espada de Amf ortas elevence seu adversáriointerior, Gramoflanz,que simboliza a lutapelo poder  terreno;Gawain, a luta pela

santidade terrena;e Feirefis, a lutapelo conhecimen-to e sabedoria ter-renos. A  pele deFeirefis é manchadade branco e pretoporque ele acumuloutodas as riquezas e conhe-cimentos deste mundo:  tantoos bons quanto os maus.

«Ninguém pode ir à procura 

do Graal se não for conhecidono céu»

Os três conflitos da fase final apre-sentam uma certa semelhança com astrês tentações de Jesus no deserto. No

entanto, as f or

ças enganador

as destemundo  não  podem ser eliminadas: é

preciso vencê-las para que possa haver

uma reconciliação. Vitorioso por  trêsvezes, Parsifal é purificado, isto é, ele

 já não combate com o seu eu nem pro-cura libertar-se dele. Ele compreendeuo  quanto  os homens se encontramafastados de Deus, de quem ele mes-mo havia se apartado. Isso despertouo anseio por encontrá-Lo. Seu desejode salvação e de regeneração o faz en-tregar-se à vontade divina. Por issoTrevrizent  disse: N i ng ué m po d e i r   à 

 p r o c ur a  d o G r aa l s e nã o fo r  c o nhe c i d o 

no c é u e c ha ma d o po r  s e u no me.Só então conflitos interiores são ul-

trapassados e o mensageiro dos deusesindica o caminho do Castelo do Graal.É lá, no microcosmo, que se dá o en-contro consciente com Amf ortas. So-

mente então Parsifal, com um verda-deiro amor e uma prof unda compai-xão, faz a pergunta libertadora: M e u

t io, qua l é o v o ss o  t o r me nt o? É a

pergunta que cada um deve

se fazer algum  dia. E aresposta – a cura domicrocosmo sof re-dor – se realizaráem si e nos ou-tros. Uma parteda missão  deParsifal era con-duzir  um irmão

ao  Castelo  doGraal. Ele esco-

lheu  Feirefis que,após seu  batismo, é

encarregado  de levar  oGraal à humanidade para li-

bertá-la do sof rimento.

Parsifal torna-se o  rei do  Graal,com  Kondwiramur ao seu lado: a

união  do coração  purificado com a

nova compreensão. Lohengrin seráseu filho, o Novo Homem que apare-ce para salvar o mundo.

O templo do

Graal no centro

do zodíaco. Lars

Ivar Ringbom,

Estocolmo, 1951.

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a r a  a lg uns , o mi s t e r io s o G r aa l e r a  uma pe d r a  c ele s t e que s ó 

i rr ad i ava   s ua  fo r ç a   v i t a l  s e  a lg ué m  d el a   s e  a  p r oxi ma ss e.

E s t a v a   s o b   a  g ua r d a  e p r o t e ç ã o  d o  r ei Amfo r t a s , a nc i ã o 

d oe nt e que v i v i a  numa  c i d a d el a  d e d ifí c il a c e ss o. S ua  c ur a 

d epe nd i a  uni c a me nt e d e um  c a v a lei 

o  c a  p az  d e d a r 

 t e s t e -

munho d e uma  v i d a  p ur a  e no b r e e e nc o nt r a r  o C a s t elo.

E s t e d e v e r i a e nt ã o f az e r  a o r ei uma pe r g unt a p r e c i s a p a r a  r e s ol v e r  o e nig ma  d e 

s e u ma l.

P a r s if a l a s  pi r ava  a e ss a  c ava l a r i a e a  c o ns eg ui u. S e us p a i s e r a m d e s ang ue r e a l.

S e u p a i,G a mur e t  van Ans c hauw e, t i nha  s i d o um c ava lei r o c o mba t i v o e s ua  mã e,

H e r z eloi d e, uma  r a i nha  da li nha ge m d o G r aa l.G a mur e t  mo rr e u po r  o c a s i ã o d e 

uma  c a m p anha , ant e s  d o na s c i me nt o d e P a r s if a l. H e r z eloi d e r e t i r o u-s e c o m s e u

fil ho p a r 

a   uma  flo r 

e s t 

a   a  fi m  d e p r 

e s e r 

v á -lo  d e  um e nc o n

t r 

o  c o m  c a v a lei r 

o s e rr a nt e s , e e v i t a r -l he, a ss i m, a fli ç õe s , d oe nç a e mo r t e. M a s  P a r s if a l pe r c e b e u, um

d i a , um g r u po d e c a v a lei r o s  e, mui t o i m p r e ss io na d o, fe z  v o t o d e t o r na r -s e um

c a v a lei r o t a mb é m. E le qui s  d i r igi r -s e a o c a s t elo d o r ei Ar t ur  o nd e, c o mo l he c o n-

t a r a m o s  c a v a lei r o s , ele r e c e b e r i a  a  a r ma dur a  d e c a v a lei r o.

H e r z eloi d e nã o o d eixo u p a r t i r  d e b o a  v o nt ad e. E l a l he c o nfe cc io no u um t r a  je 

r i d í c ulo  c o m  a  e s  pe r anç a   d e  que  z o mba r i a m  d ele e  que, d e s e nc o r a  j ad o, ele 

v ol t a r i a . E l a  t a mb é m l he d e u a lg uns  c o ns el ho s  e, a  pó s  d e s  pe d i r -s e d e s e u fil ho,

s e nt i u o  c o 

a ç ã o d e s  pe da ç ad o. E nt r 

e t 

ant o, P a 

r s if a l p a 

r t i u feli z  e nã o 

a r 

d o u a a l c anç a r  o c a s t elo d o c ava lei r o G ur ne manz . E s t e l he e ns i no u a  manej a r  a e s  p a -

d a e a l a nç a , e, p r i nc ip a l me nt e, a s  r eg r a s  a  s e r e m o b s e r v a d a s  p a r a  t o r na r -s e um

a ut ê nt i c o c a v a lei r o. L i a ss e, a fil ha  d e G ur ne ma nz , c o nt o u-l he que s ua p r i ma , a 

r a i nha Ko nd w i r a mur , e s t a v a  s e nd o a ss e d i a d a po r  um r ei que d e s ej a v a e s  po s á -l a 

a  fo r ç a . P a r s if a l p a r t i u i me d i a t a me nt e  à  p r o c ur a  d e ss e  a g r e ss o r . E nc o nt r o u-o,

d e rr o t o u-o e t o mo u Ko nd w i r a mur  po r  e s  po s a .

M a s , logo ele  a   d eixo u p a r a   v i s i t a r   s ua  mã e. P e r c o rr e nd o o  c a mi nho, ele 

c hego u à  b ei r 

a  d e um l a go, que fi c ava  numa  r 

egi ã o d e s e r t 

a .U 

m pe s c ad o r 

 r 

i c a -

me nt e v e s t i d o i nd i c o u-l he a  d i r e ç ã o d e um c a s t elo o nd e ele foi r e c e b i d o mui t o 

c o r t e s me nt e. D ur ant e o ex c ele nt e j ant a r , ele s e nt o u-s e a o l ad o d e um pe s c ad o r ,

d o no d o l ug a r , que p a r e c i a  s of r e r  d e um ma l s é r io. U ma l anç a e uma  t a ç a , c o m

e s  p a nt o s o po d e r  d e a ç ã o, t i nha m-l he fei t o um fe r i me nt o s a ng r e nt o. E le ofe r e c e u

a   P a r s if a l  uma  e s  p a d a  p r e c io s a   c o m  um  r ub i i nc r us t a d o  no p unho. P a r s if a l,

a t ô ni t o, na d a pe r g unt o u. N a  ma nhã  s eg ui nt e, ele e nc o nt r o u o c a s t elo d e s e r t o e,

d e s  pei t a d o, pô s -s e a  c a mi nho.

N o c a mi nho, e nc o nt r 

o u s ua p r 

i ma  S ig une que l he fe z  s a b e r 

 que ele v i nha  d o C a s t elo d o G r aa l. S ur  p r e s o, ele c o m p r ee nd e u que d e v e r i a  t e r  fei t o a pe r g unt a  a o 

r ei s of r e d o r  p a r a li v r á -lo d e s e u ma l. D e c i d i u, e nt ã o, r e me d i a r  e ss a f a l t a e, a  pó s 

uma  v i a ge m mo v i me nt ada , e nc o nt r o u-s e no c a m po d o r ei Ar t hur . E le foi a c o -

16

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8/3/2019 PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial)

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l hi d o  na   T áv ol a  Re d o nda   d o s   c ava lei r o s  e K und r  y, a  me ns a gei r a   d o G r aa l,

a  p a r e c e u. E l a o c e ns ur o u pel a  s ua  a t i t ud e no C a s t elo d o G r aa l. O  jo v e m c ava -

lei r o, s e nt i nd o -s e  d e s o nr a d o, r e t i r o u-s e  d o  mund o p a r a  p r o c ur a r   a  C i d a d el a 

S a nt a e r ep a r a r  s e u e rr o. M a s  s e us  e s fo r ç o s  fo r a m e m v ã o e s ua  v i a ge m dur o u

lo ngo s  a no s . E mb o r 

a  s a í ss e  s e m p r 

e v e nc e d o r 

 d o s  t o 

neio s , ele e s t 

a v a  c o nt i nua 

-

me nt e r e v ol t a d o, op r i mi d o po r  D e us  e pelo s e u d e s t i no.

N o ma i s p r of und o d e s e u d e s e s  pe r o, P a r s if a l, e m s ua  a r madur a , mant i nha -s e 

s o b r e um ma g nífi c o c ava lo que hav i a   t o mad o d e um  c ava lei r o d o G r aa l, que 

t i nha  s i d o v e nc i d o. E le d eixo u o ani ma l s eg ui r  s e u p r óp r io c a mi nho e c hego u à 

c abana   d o e r e mi t a   T r e v r i z e nt , i r mã o  d e  s ua   mã e e  d o  v el ho  r ei Amfo r t a s .

T r e v r i z e nt   hav i a   s i d o  um  c ava lei r o  c o b e r t o  d e gló r i a , ma s   quand o Amfo r t a s 

r e c e b e u s e u fe r i me nt o i nc ur áv el, ele aband o no u a  ant ig a  c ava l a r i a . S e o r ei d o 

G r 

aa l a i nd a e s t 

a v a  v i v o, e r 

a pel a g r 

a ç a  d o G r 

aa l, que l he t r 

a ns mi t i a  s e m c e ss a 

uma  no v a fo r ç a  v i t a l.

P a r s if a l pe r ma ne c e u qua t o r z e d i a s  na  s ó b r i a  mo r a d a  d o e r e mi t a , o nd e r e c e -

b e u e s c l a r e c i me nt o s  a  r e s  pei t o d a  ma r a v il ho s a  t a ç a e d e t ud o que a c o nt e c i a  a o 

r e d o r  d el a . E le e nc o nt r o u a fé e m D e us e e s fo r ç o u-s e p a r a  a me ni za r  a s  d o r e s  que 

hav i a  c aus ad o po r  ig no r ânc i a . Wolf r a m v o n E s c he nba c h e s c r e v e u:  

« N e ss e s  l ug a r e s , s e u ho s  pe d ei r o o li b e r t o u d e  s e us  pe c ad o s  e o a c o ns el ho u a 

v ol t a r  p a r a  a  c ava l a r i a .» E nt ã o, ele  t r ava   s e us   t r ê s  c o mba t e s  ma i s  d ifí c ei s . N o 

úl t i mo, a  l u

a  foi t 

ã o dur 

a  que ele que b r 

o u  s ua  e s  p ada   c o nt r 

a  o el mo d e  s e uadv e r s á r io, um  c ava lei r o  t ã o i nv e nc í v el quant o ele. F a c e  a  f a c e, ele s   s e  r e c o -

nhe c e r a m:  a mb o s  s ã o fil ho s  d e G a mur e t ! O fil ho ma i s  v el ho, Fei r efi s , a d o r a d o r 

d e J ú pi t e r  e d e J uno, um d o s  ho me ns  ma i s  r i c o s  d a  t e rr a e po ss ui d o r  d e v á r io s 

r ei no s , t e m a pele ma nc ha d a  d e p r e t o e b r a nc o.

O s  i r mã o s  s ã o r e c e b i d o s  na  T á v ol a  Re d o nd a  d e Ar t ur  c o mo o s  ma i s  il us t r e s 

c a v a lei r o s . D epoi s  K und r  y a nunc i a  que P a r s if a l é elei t o r ei d o G r aa l, e que ele 

 po d e e s c ol he r  um c o m p anhei r o p a r a  auxili á -lo. P a r s if a l e s c ol he Fei r efi s e t o d o s o s 

t r 

ê s  s e d i r 

ige m a o C 

a s t elo d o 

G r 

aa l. L á , i nt ei 

a me nt e c o nc e n

t r 

ad o no G r aa l, P a r s if a l f az  a pe r g unt a :  « M e u t io, qua l é o v o ss o t o r me nt o? O 

que  v o s  f az  e nf r aque c e r ?»  E nt ã o, Amfo r t a s   r e c o b r a   r a  pi da me nt e  a   s aúd e e 

P a r s if a l t o r na -s e o no v o r ei. A r a i nha Ko nd w i r a mur  é c o nv i dada  a o C a s t elo e 

P a r s if a l v ê  s e us  d oi s  fil ho s  gê meo s  K a r d ei ss  e L o he ng r i n. E s t e úl t i mo  s e r á   s e u

s uc e ss o r .

U ma g r a nd e fe s t a é ofe r t a d a e o G r aa l é i nt r o duz i d o po r  uma  r a i nha  v i r ge m,

Rep a ns e d e Joye, i r mã  d e Amfo r t a s . P r a t o s e t a ç a s  s ã o p r ee nc hi d o s pelo mil a g r o s o 

c á li c e e d i s t r 

i buí d o s  e m  c í r c ulo. Fei 

efi s  e na mo r 

a -s e pel a  po 

r t 

a d o r 

a  d o G r 

aa l,e mb o r a  nã o p ud e ss e a i nda pe r c e b e r  o c á li c e. U m a mo r  d e s c o nhe c i d o e i rr e s i s t í -

v el o fo r ç a  a  s ep a r a r -s e d e s e us  d e us e s e d e s ua  mul he r e a f az e r -s e ba t i za r .D epoi s 

d i ss o, ele t a mb é m po d e v e r  o G r aa l e d e s  po s a  Rep ans e d e Joye.

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8/3/2019 PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial)

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O   a  p a r e c i me nt o  d o s   c á t a r o s   na s r egiõe s  me d i t e rr â ne a s  c oi nc i d e c o mo  a  poge u  d a s  le nd a s   d o  G r aa l  na E ur op a . N a   c o r t e  d o s   no b r e s , o s 

t r o v a d o r e s  c o nt a v a m a  epopéi a  d o 

G r aa l e i nt e r  p r e t a v a m c a nt o s  mí s -t i c o s  que f a l a v a m d o Amo r  d i v i no.

O s  c á t a r o s  nã o s e c o nt e nt a r a m e m pe r ma ne c e r  c o mo e s  pe c t a d o r e s  d e s -s e fe nô me no. E le s   bus c a r a m o 

G r aa l  d e d i c a nd o -s e, d i a r i a me nt e,

à p ur e za e à  c o r a ge m.

m 950 d.C., os bogomilos vindos da

Bulgária trouxeram ao  Ocidente oautêntico ensinamento gnóstico e cris-tão de Mani. Após o ano 1000, os cá

ta-

ros retomaram a chama do ensina-mento cristão  da libertação e, numcurto espaço de tempo, desenvolveu-se um grande movimento que influen-ciou todo o Ocidente. No fim do sé-culo XII, quase toda a Europa conhe-cia a mensagem do Graal. Mas f oi so-mente no final do século XIII que asmudanças se manifestaram. E a c r a t e -r a p r ee nc hi da pel a s fo r ç a s  d o E s  pí r i t o –

segundo a expressão de Hermes Tris-megisto – surgiu na Europa para pro-digalizar às almas amadurecidas oAmor divino libertador.O centro do movimento cátaro en-

contrava-se na Occitânia, no sul daFrança. Lá floresceu uma cultura ex-cepcionalmente rica. Foi principal-mente no Languedoc que se cantou oamor cortês e se propagou a pura

mensagem cr

istã dos cátar

os. Atual-mente o caminho do Santo Graal con-duz igualmente o pesquisador para oSabartez e, mais especialmente, para ovale do Ariège. Nos brasões do Sabar-

tez estão inscritas as palavras:  S a -b a r t e z , c us t o s   s ummo r um, Sabartez,guardião do altíssimo, sendo que o al-tíssimo é simbolizado  por  um  SantoGraal alado, que se situa no centro de

um sol radiante.O  Sabartez, que tem Tarascon co-

mo cidade principal, encontra-se noencantador vale do Ariège e se estendeaté as terras mais elevadas do vale dorio  Sem. Toda essa região f ormava ocondado de Foix. Sobre um  rochedocom altura de uma centena de metros,

na própria cidade de Foix, encontra-seainda o majestoso castelo dos condes

de Foix, protetores dos cátaros. NaIdade Média, esse castelo era muito

consider

ado por

causa dostrovado

r

esque costumavam ser para lá convida-dos, tais como  Chrétien  de Troyes,Bertrand  de Born e Wolf ram vonEschenbach.

Ref úgio do amor espiritual

No vale do Ariège encontra-se tam-

bém todo um sistema de grutas que seestende por  quilômetros através damontanha. Era nessas grutas, às vezespequenas, outras vezes com altas abó-badas, que os cátaros podiam abrigar-se. Mas, bem antes deles, outros ha-viam encontrado proteção e salvaçãonessas vastas grutas com suas nascen-tes quentes e atmosfera tão  peculiar,verdadeiros ref úgios para aqueles que

desejavam pr

aticar

livr

emente suar

eli-gião. Graças aos desenhos encontra-dos nas paredes, sabemos que essa re-gião f oi habitada há 12.000 anos. Ascolinas e cavernas do Sabartez f oram

Os cátaros no caminho do Santo Graal

E

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8/3/2019 PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial)

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utilizadas pelos celtas e pelos druidascomo lugares de culto. Lá encontra-

mos traços dos maniqueus, dos pauli-cianos e dos priscilianos, predecesso-res dos cátaros; aos poucos, f orma-ram-se grupos que se diziam ligados àGnosis e às suas correntes de sabedo-ria.A palavra cátaro vem do grego k a -

t ha r oi que significa puro. Os cátarosdiziam-se simplesmente cristãos e opovo os chamava de b o ns  o me s  e b o -

na s  fe mna s . Mas, entre si, eles se no-meavam a mi c i D ei ou a mi c z  d e D ie uou ainda c r e z e ns . O  termo cátaro f oiutilizado pela primeira vez nos mea-dos do século XII por um grupo de

heréticos de Colônia1. Mais tarde, otermo f oi empregado  principalmente

nos escritos oficiais. Foi a Igreja queos denominou  de albigenses, dandoesse nome a todos os grupos pretensa-mente hereges da Occitânia. Essa de-nominação nada tem a ver com a cida-de de Albi, no sul da França. Ela f oi

utilizada pela Igreja e pelos f rancesesdo norte para designar os hereges quenão eram valdenses e que habitavamno sul da França. Na Inglaterra os he-

réticos também eram denominados dealbigenses.Tornar-se cátaro não era algo reali-

zado de qualquer maneira, fazendo-se

batizar, por exemplo, ou passando por

Um trovador

do Codex Manesse.

Universidade de

Heidelberg.

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uma prova de admissão na comunida-de religiosa. Uma das exigências era

uma longa preparação  na prática de

vida cristã, a exemplo de Jesus. Os cá-taros diziam  que um serviço f ormal,com rituais falsificados e degradados,

não é capaz de libertar a alma de sua

prisão. Para que essa libertação acon-teça, é preciso que o mistério de ini-

ciação crística do Santo Graal seja re-velado graças a um comportamentocoerente e integralmente cristão.

O muro simbólico e a porta 

mí stica

Se observarmos um candidato queaspira por esse caminho, poderemos

perceber com que seriedade e abnega-ção os cátaros se consagravam ao pro-cesso  de transf ormação interior. Ocandidato que havia tomado sua deci-são  renunciava à vida social comum,ao casamento, aos bens terrenos e à

ingestão  de carne e de vinho. Ele sededicava à e ndur a , um  processo vo-luntário  de neutralização  de tudo  oque liga à vida terrestre, para permitir

que a alma despertasse e crescesse. Es-se tempo de preparação durava algunsanos e ocorria nas grutas de Ussat-Ornolac, no vale do Ariège. Algumasgrutas tinham a f unção  de templos,

outras de habitações. A entrada dessas

habitações era, às vezes, fechada porum muro e uma porta. Essas s  po ulg a s (grutas) eram de difícil acesso.Até o século XIII, essas grutas esta-

vam situadas sobr

e as mar

gens de umgrande lago que se estendia até Taras-con. O candidato  que se decidisse aseguir o caminho do Santo Graal de-via, primeiramente, atravessar um mu-

ro simbólico. Assim ele se despedia domundo  terrestre e obtinha acesso aomundo dos que buscam o Espí rito deDeus. Com  o auxílio  de outros ir-mãos, ele percorria esse caminho pas-so a passo.Os diferentes estágios erampercorridos graças a um  programa

diário  de jejum, de trabalho e deaprendizagem, em absoluto silêncio.

Dessa f orma eram-lhe ensinadas a sa-bedoria dos astros (astrosofia), a me-dicina e, principalmente, os mistérios

que acompanhavam as diferentes eta-pas de seu desenvolvimento interior.Para os cátaros, o caminho do Santo

Graal implicava em conhecimentos li-bertadores e serviços aos outros. Pou-co antes de o candidato ser iniciadoem sua missão, ele deveria sof rer umamorte mística simbólica, após umperí odo de quarenta dias de jejum. Ele

precisava passar três dias deitado nu-ma sepultura, na gruta denominadaKepler, para morrer  para a naturezaterrestre. Desse modo, sua alma podiaalcançar a libertação e, pela imitaçãode Jesus, pronunciar o c o ns umma t ume s t : tudo está consumado.O mistério  do Graal está estreita-

mente ligado à morte da natureza ter-restre. Naturalmente, poderíamos to-mar como epitáfio a inscrição gravadana taça do Graal que chama o candi-dato a unir-se à Fraternidade. Mas aendura não tem, efetivamente, nada aver com a morte do corpo físico  oucom  qualquer espécie de tortura ousuplício. Na realidade, a endura era –e continua sendo – um processo querompe todos os laços que mantém a

consciência pr

esa ao  passado. Nesseprocesso, o velho eu entrega-se às f or-ças crísticas renovadoras para que aalma possa renascer.Após ter passado três dias na gruta

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de Kepler, o candidato era despertadopelo irmão que o acompanhava, e saía

da tumba. Ele agora podia receber oc o ns ol a me nt um, o sacramento da con-solação. Sua alma purificada estava li-gada ao Espí rito de Deus. Esse gran-de acontecimento passava-se na grutade Be t hlée m (Belém).O candidato en-trava nessa gruta, que era considerada

um templo, pela po r t a  mí s t i c a . Lá, en-contrava-se um altar, uma pedra degranito coberta por  uma toalha de

linho branco, sobre a qual havia umaBí blia aberta na página do Evangelhode João. Num nicho da parede estavacolocada a taça do  Graal, encobertapor uma cortina. O sí mbolo do penta-grama, gravado  na rocha, era, assimcomo o altar, de origem druí dica. Parareceber o c o ns ol a me nt um, o candidatodevia colocar-se no pentagrama. Coma cabeça erguida e com  os braços e

pernas afastados, ele f ormava, assim,uma estrela de cinco pontas.No momento dessa iniciação, o nas-

cimento  do  Cristo  tornava-se umaexperiência física. Antonin Gadal, Pa-triarca dos cátaros e guardião  de seutesouro, escreveu: N ada po d e r i a  f az e r 

e s t r e me c e r  o u d e s v i a r  d o b o m c a mi nho 

o  ho me m  que  r e na s c i a  e m Be t hlée m.N i ng ué m no mund o po d e r i a  v e nc e r   a Fo r ç a  mi s t e r io s a  que ele r ep r e s e nt a v a ! Quando o candidato havia cumpri-

do o caminho iniciático e se tornadoperfeito, ele saía do santuário pela po r -

t a  mí s t i c a , celebrava um ritual e davaa sua benção aos companheiros. De-pois disso, ele percorria o célebre ca-minho  dos cátaros, que existe ainda

em nossos dias: da Montanha Sagr

adaele se dirigia a Montségur, onde osperfeitos se reuniam antes de cami-nhar pelo mundo para levar a Luz aosseus semelhantes.

a herança dos cátaros

continua atual

Montségur tem a f orma de um na-vio e está situado no cume de um ro-chedo. Esse castelo f oi construí donum lugar onde se elevava, há muitotempo, um templo dedicado ao sol, e

no qual as pessoas da época se ligavamaos mistérios de Zoroastro. Na capela

há uma abertura pela qual, no dia de

São João, 24 de junho, às onze horas,

um  raio  de sol penetra e ilumina osí mbolo  do  Logos solar  na paredeoposta (Essa data corresponde aosolstício  do verão  no  hemisférionorte).Quando, em 1244, o exército da In-

quisição f orçou os que estavam ref u-giados no castelo a capitularem, os cá-taros tiveram ainda um prazo para ter-minar sua tarefa espiritual. Na véspera

de subir para a f ogueira, todos os quequeriam  defender sua fé receberam,das mãos do grão-mestre BertrandMarti, o  c o ns ol a me nt um, para quesuas almas se unissem ao Espí rito de

Deus. O misterioso tesouro dos cáta-ros f oi ocultado nas grutas do vale do

Ariège. No dia 16 de maio desse ano,duzentos e cinco homens e mulhereslançaram-se voluntariamente nas cha-mas da f ogueira. Conta a lenda que,enquanto caminhavam em  direção àf ogueira, de mãos dadas e cantando,

um trovador que se encontrava entre amultidão disse:  Apó s  700 a no s  o lo u-r ei r o r eflo r i r á  s o b r e a s  c i nza s  d o s  má r -

t i r e s .

Em 1944 o patr

iar

ca da Fr

ater

nida-de dos cátaros, Antonin Gadal, subiucom sete testemunhas até a montanhade Montségur e cumpriu a profecia dotrovador. Assim, verifica-se mais uma

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vez, que os buscadores da Luz sagra-da que representa o  Santo Graal po-dem ser  perseguidos, martirizados emortos, mas que a própria Luz jamaispode ser  destruí da e retorna sempreao lugar de onde ela já surgiu.Em Albi, os perseguidores dos cáta-

ros construí ram uma catedral f ortifi-cada para mostrar  que eles eram  os

vencedores. A catedral ainda existe edomina a cidade. Assim, fecha-se uma

das mais negras páginas da história daIgreja Católica dita «cristã». O amordo Graal, que tudo perdoa, e a não-combatividade absoluta dos cátaros,

que dele decorre, colocaram um fim aesses acontecimentos. Desde então,

um acontecimento  tão  maravilhosoquanto inesperado aconteceu em Albi,provocando um retorno espiritual que

deu um novo impulso à libertação es-piritual da humanidade.

Supressão do personagem 

histórico de Cristo 

Não longe de Albi, em 1167, Nice-tas, patriarca búlgaro, havia dado à

Fraternidade Cátara a missão de fazerconhecer e espalhar  pela Europa osmistérios da iniciação crística. Erapreciso libertar a humanidade do per-sonagem  histórico  de Cristo e dos

dogmas a isso inerentes, pois são essasrepresentações que sempre a impedemde ter acesso às possibilidades liberta-doras que a Força crística cósmica

propicia:  o  Graal, preenchido  pela

Luz que é capaz de expulsar

 todas astrevas das almas humanas. A  pessoaque adquire essa compreensão desco-bre em si uma chaga incurável e isto aimpulsiona a procurar a verdade uni-

versal. Ela não cessará de aspirar pelorenascimento de sua alma e já não dará

ouvidos aos cantos de seu eu, que sódeseja garantir a segurança e o poder

de seu próprio mundinho. A humani-dade deve aprender novamente a fazeressa oferenda que representa o amorao próximo e a viver do santo e mara-vilhoso alimento  dispensado  pelo

Graal.Em 1954, no roseiral de Albi, ao la-

do da catedral-f ortaleza do  tempo daInquisição, a Luz universal transmitiuà Jovem  Fraternidade Gnóstica daRosacruz Áurea, representada por Janvan Rijckenborgh e Catharose de Pe-tri, a missão de terminar a obra come-çada pelos cátaros, de completar suaexpansão e de estendê-la sobre o mun-do inteiro. Em seguida, Jan van  Ri-ckenborgh, Grão-Mestre da Escola daRosacruz Áurea, recebeu das mãos dosenhor Gadal o selo de Grão-Mestre –o mesmo selo que o patriarca búlgaroNicetas havia dado à Fraternidade doscátaros, no século XII.É para tornar essa ligação espiritual

visível na matéria que f oi erigido, em 5de maio de 1957, em Ussat-les-Bains,

no vale do  Ariège, um  monumento

que recebeu o nome de Galaad. Essenome aparece com f reqüência nas len-das do Graal. Traduzido literalmenteele significa: «O Monte do Testemu-nho». Sobre o  quadrado  do  monu-mento está apoiada a pedra do altarsobre a qual o Perfeito celebrava seuprimeiro  ritual após sua iniciação nagruta de Belém. Essa pedra f oi ofere-cida, como  relí quia, pelo  último  pa-

tr

iar

ca dos cátar

os à Jovem Fr

ater

ni-dade Gnóstica. Este monumento sim-boliza os esf orços contí nuos para li-bertar a humanidade da sua prisãoreligiosa, esf orços empreendidos pela

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Aliança da Luz: Graal,Cátaros eCruzcom Rosas.

Descoberta de uma nova 

dimensão

Indubitavelmente, a gruta de Belém

e a catedral de Lombrives, por exem-plo, ainda são, atualmente, lugares es-peciais onde a atmosfera de pureza in-terior e de disponibilidade a serviçodo  próximo é sempre perceptível. ACatedral de Lombrives tem cerca de

oitenta metros de altura. Era lá que oscátaros celebravam seus serviços. Em1328 – oitenta e quatro anos após aqueda de Montségur – essa gruta f oifechada para o  mundo exterior e as510 pessoas que aí  permanecerammorreram de f ome. Seus restos f oramencontrados bem mais tarde.Talvez a mensagem  do  Graal seja

transmitida oculta sob imagens pito-rescas, mas não é um conto de fadas.

Trata-se de uma realidade vivente e vi-brante, mesmo para nossa época. En-tretanto, não podemos descobrir essarealidade pela exaltação ou investigan-

do o passado. Para ter acesso a essa di-mensão, é preciso seguir concreta-mente o processo da e ndur a , isto é, oabandono  dos desejos terrestres e aaspiração à união com  o Espí rito  deDeus, a Gnosis Universal.

Segundo a lei hermética O  que e s t á e mba ixo é c o mo o que e s t á e m c i ma , oGraal tem um aspecto macrocósmico,

um aspecto cósmico e um aspecto

micr

ocósmico. Seu aspecto  macr

o-cósmico é a manifestação  universal;seu aspecto cósmico abrange a Terracomo  morada da humanidade e seuaspecto  microcósmico  tem  relação

com a presença da taça do Graal nopróprio homem. Cada um deve reali-zar esse milagre: reencontrar interior-mente essa taça, purificá-la e prepará-la, para nela receber a f orça santifica-dora do Espí rito!

Eis a razão pela qual a imagem doGraal vivente toca prof undamente aconsciência humana: ela reanima a al-

ma adormecida e prisioneira da maté-ria. A lembrança dessa realidade, que

um dia existiu e que é continuamenteapresentada à humanidade, impulsio-na os seres humanos a buscar Deus.Para a eterna pergunta: Q ue r ei s  r e c e -b e r  o G r aa l? só podemos dar a eternaresposta: S ó  há   uma   úni c a   c o nd i ç ã o : d e s ej á -lo s a nt a e p r of und a me nt e! 

1 S e r mo ne s  c o nt r a  c a t ha r o s , Eckbert vanSchönau, 1163.

2 N o c a mi nho d o S a nt o G r aa l , A . Gadal,Lectorium Rosicrucianum, São Paulo, 1983

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M o nt s a l v a t , o  c a s t elo  d o  G r aa l.E r a  l á  que s e e nc o nt r a v a , s eg und o 

a s  le nd a s , a  o r d e m  d o s   c a v a lei r o s 

g ua r d i ã e s  d o G r aa l. Ass i m c o mo o 

r ei Ar t ur   c o m  s e us   c a v a lei r o s , ele s 

t a mb é m fo r ma v a m  uma   T á v ol a Re d o nd a . Q ua nd o ele s  s e r e uni a m

e o G r aa l e r a  a  p r e s e nt a d o, ele s  r e -c e b i a m um a li me nt o mi r a c ulo s o, e 

a  s i m ple s  v i s ã o d o G r aa l l he s  c o n-c e d i a  a j uv e nt ud e e t e r na .

egundo as lendas, o Graal é a taça da

qual Cristo bebeu na Santa Ceia. José

de Arimatéia, de posse dessa taça, terianela recolhido o sangue do Redentor.A Taça miraculosa do  Santo Graal é

um sí mbolo que pode ser encontradono  mundo inteiro. Na Idade Média,

na Europa, existiam versões dessaslendas nas tradições de muitos países.Diferentes religiões representam o sole a lua como cálices preenchidos dealimento  divino. Os heróis, em  re-compensa por suas nobres proezas,tinham o direito de haurir dele novasf orças. A filosofia grega fala de uma

«cratera» onde o deus supremo mistu-ra as matérias da criação com a luz dosol. Essa taça era estendida às almasrecentemente criadas para que elas daí tirassem a sabedoria.Num mistério de iniciação grega é

relatada uma festa mística que seassemelha muito com a refeição doscavaleiros do Graal. De um recipien-te sagrado, o k e r no s , os participantesr

ecebem  uma bebida que lhes dáacesso a um  mundo superior. Umaimagem semelhante aparece igual-mente nas tradições celtas: trata-se de

um caldeirão cu jo conteúdo  pode

suscitar  um  renascimento espiritual.Em algumas lendas, uma pedra pre-ciosa, ou pérola, substitui o sí mboloda taça sagrada.A maior parte das lendas indica que

essa taça está guardada num  temploou castelo, especialmente construí do

para a ocasião. Por exemplo, um tem-plo alto e redondo  dotado  de umacúpula dourada, onde pedras precio-sas representam um firmamento comum sol de ouro e uma lua de prata des-crevendo sua órbita. Segundo alguns

pesquisadores, um  templo desse tipodevia existir na Pérsia, sobre a monta-nha sagrada de Shiz. Nesse santuário,o mais importante da Pérsia, ardia of ogo sagrado. Esse teria sido o lugar

de nascimento de Zoroastro. As len-das budistas do  Japão  descrevem  omonte Meru, a montanha mística quetambém nos faz lembrar o templo doGraal. Buda está sentado no cume, ro-deado por seus b o d i s a t v a s , e, ao redordeles, circulam o sol e a lua.

O ní vel mais elevado que a alma

pode alcançar 

Todas essas lendas testemunhamque o encontro com os valores espiri-tuais do Graal modifica f undamental-mente a vida. Para desvendar um pou-co esses mistérios, os rosacruzes au-tênticos podem  dar  orientação, poisseus mistérios estão em relação direta

com os do Gr

aal. Eles par

tem do pr

in-cí pio de que não há somente um mun-do visível e tangível, mas também ummundo superior não perceptível pelossentidos. O mundo visível com todos

24

Origem e signif icado das lendas

do Graal

S

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os seus aspectos, inclusive o homem,nasce, atinge o ápice do seu desenvol-vimento e depois desaparece. Cada

um  pode constatar, por sua própriaexperiência, que este mundo não co-nhece a perfeição. Entretanto, ele ésustentado e mantido por um mundoimperecível, eterno. Segundo a sabe-doria original, os habitantes dessemundo superior são  perfeitos e, porisso, imortais.Colocamos, agora, a pergunta cru-

cial – e é aí que verificamos os misté-r

ios do Gr

aal – existe uma passagementre o  mundo eterno  perfeito e omundo imortal imperfeito? Haveráuma esfera, um espaço, uma dimensãoonde a eternidade e o tempo se encon-

tram e se unem? Estritamente falando,não. O  que acontece é que existemdois campos de vida f undamental-

mente separados.Entretanto, existe um  domí nio  de

transição no qual os dois mundos po-dem cooperar durante um certo tem-po. Esse lugar se revela num  movi-mento periódico de ir e vir.

Seres perfeitos do campo  de vidaeterno ligam-se, de f orma rí tmica, aoshabitantes do campo de vida perecívela fim  de elevá-los ao  plano  de vida

super

ior

. Esse pr

ocesso ér

epr

esentadopelo sí mbolo da cruz. A eternidade, otraço vertical, desce ao mundo perecí -vel, o  traço  horizontal, e penetra nomundo mortal. Assim é a crucificação:

Os doze

irmãos. Kniha

Václava z Jihlavy,

Tchecoslováquia.

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o mundo perfeito se oferece ao mun-do imperfeito ligando-se a ele.

Eles mostravam o caminho 

vivendo-o para dar o exemplo

Os grandes sábios, como Buda, Zo-roastro e Jesus, estabeleceram  uma

ponte entre esses dois mundos, ref or-çaram-no e explicaram-no, colocan-do-se, assim, a serviço da humanidade.

Dessa f orma, eles fizeram o sacrifíciode seu sangue puro. Eles mostraram ocaminho através da vivência, para dar

o exemplo. Eles abriram a porta entreos dois mundos. Assim, a ponte espi-ritual que eles edificaram é sempreconservada por aqueles que seguem

seu exemplo em  palavr

a e por

seusatos puros.

Uma tal ponte é um  milagre. Asmúltiplas lendas representam essaligação  temporária e sutil, realizada

pelo  Graal, entre a eternidade e otempo: a taça ou a cratera. Trata-se de

um espaço, de um campo de vida pro-tegido, como  uma terceira natureza,no qual a alma que busca pode apren-der a encontrar seu caminho através

do mundo dos opostos, a fim de des-cobrir a eternidade.As diferentes lendas descrevem co-

mo os cavaleiros do Graal vão execu-tar suas proezas. Essas narrações sãosempre tão atuais ho je quanto o f oramhá muitos séculos atrás. Entretanto, ohomem  moderno simplesmente nãopercebe o mundo perfeito, a meta desua viagem final. Seus sentidos não lhe

permitem. Ele percebe que deve haveroutra coisa, mas não  tem, a esse res-peito, uma imagem clara. Isso o preo-cupa e o impulsiona a procurar. Ele se

perguntará por que vive, para que ser-

ve a vida e por que tanta gente, inclu-sive ele, tem de sof rer, sem esperança.Com sinceridade, ele começa a pro-

curar, como  Parsifal; e um cavaleirodo Graal não deixará de cruzar seu ca-minho. Quem  parte em  busca doGraal talvez já tenha estado em conta-to com ele, mesmo que inconsciente-mente.

O domí nio de transição

À noite, durante o sono, pode acon-tecer aquilo que é impossível aconte-cer durante o dia: uma parte da perso-nalidade se separa do corpo e vai paraos domí nios invisíveis que correspon-dem à vida interior. Se estivermos ani-

mados por

  um gr

ande desejo, aindaque inconsciente e sem  orientaçãoprecisa, de compreender o sentido davida, os aspectos superiores de nossaalma se dirigirão, à noite, para os do-mí nios correspondentes. Então, a al-ma que busca tem a possibilidade de

se encontrar  num lugar  de transiçãoentre os dois mundos. Lá, ela é tocada

pela pura energia do Graal. Isso acon-tece durante a fase sem sonhos do so-

no  prof undo, quando a consciênciaestá desconectada e, por isso, já nãoconstitui um obstáculo. É o que acon-tece a Parsifal quando ele entra pela

primeira vez no Castelo do Graal semcompreender o que está acontecendoali. Ele partiu  tão ignorante comoquando ele aí havia chegado; faltava-lhe ainda levar uma vida de austerida-de antes de começar uma busca cons-

ciente e encontrar o caminho.O caminho que a Rosacruz Áureamostra visa despertar no pesquisadoruma nova alma livre e ligá-la ao Espí -rito Divino. Em outras palavras, a Ro-

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sacruz Áurea abre para o pesquisadorincondicional – Parsifal – o caminhoque conduz ao  Castelo  do  Graal, ocampo de vida original da alma. É ocaminho que todas as lendas do Graaldescrevem, embora o conteúdo e af orma não sejam sempre semelhantes.Freqüentemente são apresentadas so-mente algumas fases da evolução  deParsifal. Assim, o  texto  P e r c e va l  do

poeta f rancês Chrétien de Troyes (sé-culo XII), por exemplo, é f ragmentá-rio. Nele não é relatado que Percevalretorna conscientemente ao castelo doGraal.O P a r z i va l do poeta alemão Wol-

f ram von Eschenbach (cerca de 1170-1220) descreve o caminho por inteiro;ele mostra de uma maneira velada que,para isso, necessita-se de uma nova

consciência, e par

a começar

é pr

ecisodescobrir a f onte interior oculta. Por-tanto, cada um tem a possibilidade dereceber e de utilizar uma f orça interiormuito especial. Essa f orça de origemcósmica é também  denominada san-gue divino. Aquele que consegue en-contrar e receber essa energia é f unda-mentalmente transf ormado e postoem condição de receber diretamente asabedoria divina. O mistério do Graal

não é, pois, um processo exterior, masse passa no mais elevado nível que aalma pode alcançar.A esse propósito, a saga do rei Ar-

tur é mais clara. Trata-se aqui de Ga-laad, o cavaleiro irrepreensível. ComParsifal e um  outro cavaleiro  da Tá-vola Redonda, ele se põe a caminho,em  busca do  Graal sagrado. Ao seaproximarem  do castelo, eles perce-

bem uma luz que não vem do sol. Emseguida, Galaad torna-se rei do Graal:ele representa o  homem  perfeito e a

nova consciência da alma despertada.Ele é, portanto, o sí mbolo do aspecto

desconhecido do ser humano: a cons-ciência latente de sua verdadeira natu-reza que aspira ao mais elevado poder,ao Bem supremo. Assim  que essaconsciência ressurge, o caminho seabre à percepção lúcida do Graal.

A muralha de sua própria 

impotência

No homem dormita, portanto, umaspecto  desconhecido:  o aspecto  doGraal. Despertar esse elemento é, se-gundo a Rosacruz Áurea, a verdadeira

finalidade da vida sobre a terra. É sa-bido que a humanidade se choca, nosdias atuais, contra a grande muralha

de sua impotência; chegou o momen-to de desvenda

r

 novamente o seg

r

edodo Graal, pois ele contém a solução detodos os problemas.As lendas do Graal apareceram to-

das ao mesmo tempo, por volta do sé-culo XII, tanto na Europa Ocidental eOriental como  na Pérsia. Teria sidoum acaso? Os servidores do Graal vi-ram surgir uma época na qual a maiorparte dos seres humanos restabelece-ria a ligação interior com o mundo su-

perior. Se não f osse assim, esta desapa-receria completamente, pois a influên-cia da ciência e da técnica faria evoluir

uma mentalidade que fecharia aos se-res humanos o  mundo  da Alma-Es-pí rito. Talvez seja uma das razões doressurgimento das lendas do Graal na-quela época. Seu misticismo e seu ro-mantismo  misterioso  deviam conti-nuar a interpelar os corações nos sécu-

los vindouros. Quando a alma cai emuma grande angústia, essas alegorias

de prof undo significado poderiam lheservir de guia. Em nossa época turbu-lenta e incerta, esses antigos contos

27

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emocionantes mostram  que o cami-nho interior, velho como  o  mundo,continua praticável: o pesquisador de

ho  je, como  os cavaleiros da TávolaRedonda, tem sempre a possibilidade

de fazer parte do mundo superior.Em  diversos episódios, trata-se de

duas Távolas Redondas: a dos cavalei-ros do  Graal e a do  rei Artur. Istomostra que a unidade do mundo supe-rior, simbolizada pela Távola Redon-da dos cavaleiros do Graal, deve ser

realizada no mundo inferior: a TávolaRedonda do Rei Artur. Os candidatos

que se preparam para ir ao encontroda Taça sagrada precisam, aos poucos,se purificar interiormente e se libertar

detodas as influências que os

r

etêm navida inferior. No decorrer desse pro-

cesso, eles vão progressivamente jun-tar-se à Távola Redonda superior, deconf ormidade com as palavras deCristo:  O  P a i e e u  s o mo s   um, e  v ó s s e r ei s  uno s  c o migo. Nesse caminho, a

Santa Ceia oferece um alimento que já

não é simbólico, mas direto e concre-to.Cada membro do grupo assimila asenergias divinas concentradas na me-

dida em  que está preparado e podesuportar.Assim, o processo de mudança inte-

rior tem início e o Graal se ergue ne-les; então, a Taça invisível do Espí ritose manifesta no grupo  de orientaçãoconvergente e se estabelece no  meiodo mundo.No C o r  p us  H e r me t i c um (antigo es-

crito iniciático egí pcio) podemos ler:

E le fe z   d e s c e r 

  uma  g r 

a nd e  c r 

a t e r 

a , p r ee nc hi d a  po r  fo r ç a s   d o  E s  pí r i t o e e nv io u um me ns a gei r o p a r a  anunc i a r 

a o s   c o r a ç õe s   d o s   ho me ns :   me r g ul ha i ne ss a  c r a t e r a , v ó s , a l ma s  que o po d ei s ; 

v ó s  que a g ua r d a i s , c o m fé e c o nfi a nç a ,v o s  ele va r   a t é  àquele  que fe z   d e s c e r 

e ss e va s o ;  v ó s  que s ab ei s p a r a  que fi na -li dad e fo s t e s   c r i ad o s . T o d o s   aquele s 

que d e r a m o uv i d o s  a e ss a  a dv e r t ê nc i a e s e p ur ifi c a r a m i me r gi nd o -s e na s  fo r -

ç a s  d o E s  pí r i t o t i v e r a m p a r t e na  G no -

s i s , o v i v e nt e c o nhe c i me nt o d e D e us , e r e c e b e nd o o E s  pí r i t o, t o r na r a m-s e ho -me ns pe r fei t o s .* 

28

* A Ar quig no s i s  E gíp c i a e o s e u c ha ma d o no 

e t e r no p r e s e nt e , vol. 2, Jan van Rijckenborgh,

Lectorium Rosicrucianum, São Paulo, 1986.

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A viagem do Oriente ao Ocidente

U ma   d a s   nume r o s a s  le nd a s   d o 

G r aa l r el a t a  c o mo a  t a ç a  mi s t e r io -s a  c hego u a o O c i d e nt e. Be m a nt e s 

d o na s c i me nt o d e M e r li n, a  t a ç a  d o 

G r aa l pe r t e nc i a   a   um o r ie nt a l  d e 

no me Jo s é. C o mo ele o b t e v e a  t a ç a ,que m  a   ha v i a  fei t o, d e o nd e  v i -

nha m  s e us  po d e r e s   mil a g r o s o s ? N i ng ué m o s a b i a .

m certas ocasiões, José convocavasua família e seus amigos para umarefeição  que era servida sobre umamesa de prata. Quando todos haviamtomado seus lugares, ele exibia oGraal e o colocava no centro da mesa,

encoberto po

r

 uma nuvem luminosa.Em seguida, ele pedia a um velhopescador para descer ao rio e apanhar

um  peixe de prata que nadava naságuas claras. O pescador estava habi-tuado a isso e cada vez ele voltavacom um grande peixe brilhante. Josélhe ordenava que o preparasse sobreum f ogo de carvões ardentes. E quan-do o peixe ficava pronto, servia a pre-ciosa carne aos convidados, não im-

portando qual f osse o número deles.Aqueles que haviam  provado esseman jar milagroso sentiam-se, de re-pente, plenos de alegria, e tornavam-se suficientemente f ortes para evitaro mal e fazer o bem. Terminada a re-feição, todos voltavam  para seus la-res. E, embora essa cerimônia tivessesido repetida por centenas de anos se-guidos, e que muitos, graças a isso, ti-

vessem  tido uma vida feliz, somenteJosé e o velho pescador conheciam osegredo do Graal e do Peixe. Assim,eles estavam em condições de socor-rer a humanidade.

Mas naquela época não  havia sógente boa. O país de José era gover-nado por um prí ncipe mau que, mui-tas vezes, já havia tentado f urtar a

preciosa taça. Entretanto, mesmoaprisionado, José nunca revelou o es-conderijo  de seu  tesouro. Ora, seus

inimigos continuavam a procurá-la eameaçavam  José, sua família e seusamigos; mas nada conseguiam.

«Tem conf iança, toma a taça 

e parte.»

Um dia, quando José trabalhava emseu

jard

im, receb

eu

a visitad

eum ser

luminoso que lhe recomendou levar ataça para um  país longí nquo, paraalém  do  mar, ao Ocidente. José lheperguntou como faria isso. E u  nã o 

 p a ss o d e um j a r d i nei r o e t r aba l ho ha -b i t ua l me nt e no s  c a m po s  d e t r igo. N ã o t e nho  ne nhum  b a r c o e  nã o  c o nhe ç o ni ng ué m  que  s a i ba   nav eg a r . Entre-tanto, o  personagem lhe disse pa-ra não ter medo. T e m c o nfi anç a . C ha -

ma   t ua  f a míli a  e  t e us  a migo s , peg a  a me s a   d e p r a t a , a   t a ç a , e p a r t e!  Eledesapareceu; José f oi para casa e cha-mou o pescador. Pediu que ele reunis-se as pessoas para preparar essa gran-de viagem ao desconhecido e acompa-nhá-los.Logo tudo ficou pronto e eles par-

tiram:  José, o  pescador, os filhos eseus amigos. Eles levavam a mesa de

pr

ata e José carr

egava a taça do Gr

aalnum  pequeno cof re decorado comcentenas de pedras preciosas. Dias se

passaram e eles chegaram à beira domar. Este se estendia diante deles,

E

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azul e misteriosamente iluminado,

aqui e ali, por luzes de cores rosa evioleta. Eles viram, no horizonte, nu-vens baixas que pareciam ilhas rodea-

das pelo brilho dourado do sol poen-te. Deveriam ir até lá? Estariam as

ilhas do Ocidente sendo anunciadas aJosé? Entre os viajantes e as ilhas ha-via uma grande extensão de água comondas turbulentas. Para atravessá-las

seria preciso um barco, mas não havianenhum, nada com o que alguém pu-desse ousar fazer essa grande viagem.José mantinha-se à beira do  mar, e

todos aqueles que confiaram  nele ointerrogavam com  os olhos. Então,acima da água, soou uma voz que to-dos puderam ouvir: T o ma   t ua  v e s t i -me nt a  b r anc a , Jo s é, e e s t e nd e -a  s o b r e a   á g ua !  José obedeceu. Tomou sua

vestimenta de linho  branco e esten-deu-a sobre a superfície ondulantedas águas. E eis que a vestimenta to-mou a f orma de um barco. Então, no-

vamente, a voz 

r

essoou como o chil-

rear de um canto de pássaro ao anoi-tecer: S o b e a  b o r d o, Jo s é, e que t o d o s 

t e s ig a m.José pegou  o  pequeno cof re do

Graal e, confiante, subiu a bordo. Avestimenta branca provou ser sufici-entemente f orte para levá-lo e a em-barcação ficou tão imóvel como se es-tivesse presa por uma âncora. Os ou-tros o seguiram e depositaram a mesa

de prata no centro  da embarcação.Quando todos tomaram seus lugaresà mesa, o  barco, impulsionado  poruma f orça misteriosa, começou a mo-ver-se e tomou rapidamente a direçãodo Ocidente.

O bastão se enraí za na terragelada

Logo o sol declinou, a lua subiu aocéu e o  barco continuou seu cursomais rapidamente do  que qualquer

outra embarcação. Entretanto, a luatambém se deitou; depois, atrás deles,o sol despontou  novamente, e, nosraios de luz dourada que despertavampara a nova vida, José percebeu a

praia de areia branca e os altos roche-dos do país do Ocidente. Ele os con-templou com admiração, mas, quan-do os viajantes aproximaram-se, des-cobriram que haviam trocado o calordo verão e árvores cheias de f rutospor um país onde reinava o f rio do in-verno e cu jo solo estava coberto  de

neve. O gelo, que havia recoberto os

rochedos durante a noite, brilhava; eos rios corriam sob uma dura crostagelada. O barco levou os viajantes pa-ra uma pequena baía, onde o vento donorte os apressou a procurar um abri-go. José f oi o  último a sair, e a vozmandou  que ele recolhesse e usassenovamente sua vestimenta. Milagre!Ela estava seca, quente e conf ortável!Os viajantes subiram uns atrás dos

outros

: J

osé com o pequeno cof r

e, opescador, os que carregavam a mesade prata e toda a comitiva. Eles galga-ram as alturas, desceram aos vales, de-pois chegaram  num lugar  mais aco-lhedor. José apoiou-se em seu bastãoe olhou se o lugar era convenientepara aí se fixar. Então, seu bastão co-meçou a vibrar e dele saí ram brotos eramos cobertos de flores brancas: ele

se enraizou no solo gelado! A árvorecresceu  rapidamente e tornou-se tãogrande que José pode facilmente ins-talar-se debaixo dela. Quando ele to-cou as flores, elas esparziram um per-f ume maravilhoso.

José chamou  o  pescador e seusamigos e lhes pediu para colocarem amesa de prata sob a árvore. Todos se

instalaram ali. Então, o pescador en-controu um peixe de prata num ribei-

rinho próximo, como se esse peixe oestivesse esperando há muito  tempo.Ele o levou a José, que o preparou so-bre os carvões em brasa. O Graal f oicolocado no meio da mesa, e todos se

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apressaram a tomar parte da refeiçãomágica, que lhes era familiar, sob a ár-vore florida. Essa f oi a primeira refei-ção feita no  país do  Ocidente, en-quanto colinas e vales desapareciamsob uma espessa camada de neve.

A taça envolta por uma nuvemluminosa

Nesse momento, um ancião vestido

com um grande casaco os observava.Era um druida que apareceu por aca-so. Espantado, ele olhava esses ho-mens morenos, com suas vestimentas

orientais coloridas, instalados ao  re-dor de uma mesa de prata sob uma ár-vore florida. Mas era principalmente ataça envolta por uma nuvem lumino-sa que atraía sua atenção. Quandoeles terminaram  de comer, um  deles

levantou-se e, com grande cuidado,

tomou a taça cintilante em suas mãos.Todos se levantaram, pegaram a mesa

de prata e continuaram seu caminhopela neve. O druida aproximou-se da

árvore e tocou-a. A árvore era verda-deira, assim como as flores de odordelicado. Ele retornou para sua casa econtou a todas as pessoas o que havia

visto. Então, o  rei do  país do Oci-dente ofereceu a José e a seus amigos

a terra onde a árvore se encontrava.Eles ali construí ram uma capela e, du-rante muitos anos, puderam reunir-setranqüilamente ao  redor  da mesa deprata e permanecer no país, graças àinfluência protetora e salutar  doGraal.

 Jesus, pescador.

Papiro copta,

Staatliche Museen,

Berlim. Pedra

tumular do século

XIII. Museu de

Lerida, Espanha.

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O  I r 

ã , a  a nt ig a  P é r s i a , é, j unt o c o m o s  p a í s e s  á 

a b e s , há  s é c ulo s , um i m- po r t a nt e c e nt r o d o mund o i s l â mi c o. N o O c i d e nt e, e s que c e mo s  c o m f r e -qüê nc i a  que o s  d ife r e nt e s p a í s e s  i s l â mi c o s  t ê m r a í z e s e t r a d i ç õe s  mui t o d i s -t i nt a s . E m no ss o s  d i a s , o que s e c o nhe c e s o b r e a  mi t ologi a  d a  P é r s i a é mui -t o a nt e r io r  a o i ní c io d o I s l ã .

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O Livro dos Reis da Pérsia antiga

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pesquisa científica mostra que, noespaço e tempo, as tentativas que vi-sam tornar os homens conscientes deseu verdadeiro destino são universais.Encontramos testemunhos em  pala-vras, escritos e sí mbolos sobre a terrainteira. É como  um fio  de ouro  que

liga entre si os pesquisadores de todasas raças, em todos os séculos.Após o islã ter se tornado religião

de Estado, na Pérsia, correntes e mo-vimentos continuaram tentando fazerreviver a antiga herança espiritual doIrã. Eles procuraram a essência daqui-lo que se conservou e a adaptaram aoespí rito do tempo. Assim, o fio de ou-ro f oi novamente restabelecido e seudevido valor reiterado por toda parteonde isso se fez necessário.No século XII, o sábio persa Shihab

ad-Din Yahya al-Suhrawardi (1154-1191) religou o ensinamento de Zoro-astro e as tradições do antigo Irã coma sabedoria hermética e o neoplatonis-mo grego. Ele hauriu  dessas f ontes

para atualizar sua mensagem, pois es-

sas duas corr

entes de sabedor

ia er

ammuito conhecidas e apreciadas no seutempo. Em um de seus relatos ele fazreviver, de certa f orma, a imagem doGraal, uma clara e poderosa imagemque dif unde a prof unda verdade doensinamento espiritual libertador. Asf ontes de seus dizeres sobre a ação doGraal estão ocultas na pré-história daPérsia.

A taça mágica com sete 

cí rculos

Todos os iranianos conhecem e ve-neram o L i v r o d o s  Rei s , o  S hah-na -me h, que f oi composto no ano 1000

d.C. pelo grande poeta Firdawsi ecompreende 50.000 versos. No  Irã,

ele é tão considerado quanto a O d i s -s éi a  de Homero ou A D i v i na  C o mé -d i a  de Dante no Ocidente. O  L i v r o d o s   Rei s  é uma gigantesca epopéiasobre os tempos extremamente anti-

gos, quando os sábios prí ncipes con-duziram seus povos de f orma justa elevaram sua civilização a um imensodesenvolvimento. Conta-se de Jam-shid, o mais importante rei, o quartodesse perí odo, que seu trono flutua-va no ar e que ele possuía uma taçamágica com sete cí rculos. Na mitolo-gia da Pérsia, essa taça é conhecidacomo a Taça de Jamshid. Mais tarde,ela f oi denominada a  t a ç a  que r efle t e o  uni v e r s o . Entretanto, satisfeitodemais com suas obras, Jamshid caiusob o domí nio do mal. S o b r e a  t e rr a ,e u s ó c o nhe ç o a  mi m me s mo :  o t r o no r e a l j a ma i s  v i u um ho me m t ã o f a mo -

s o c o mo e u. Ele perdeu a razão e f oidestronado por um jovem que estavasob as ordens do mal. Esse aconteci-mento  marcou  o começo  da lutasempre atual entre o  bem e o  mal,simbolizada pelo combate do Irã e deTurã.O rei Jamshid não é uma invenção

de Firdawsi. Suas descrições do pas-sado iraniano e dos dezessete primei-r

osr

eis têm por

f undamento a obr

ado grande sábio Zoroastro (cerca de628-551 a.C.), que propagou, naPérsia, o ensinamento monoteísta deAhura Mazda e de seu adversárioAhriman. Jamshid é o antigo rei Yimadas tradições zoroástricas, queremontam à pré-história da Índia.O reino de Yima é conhecido como

a Idade de Ouro, quando  não  havianem  doença nem morte. Ele era um

prí ncipe justo e sábio, chamado de oBom  Pastor. O  número  de imortaiscresceu tão depressa sob sua direção,

que ele decidiu ampliar a Terra trêsvezes. Mas o  demônio  Mahrkuschaenviou um terrível maremoto seguidode verões tórridos que provocaramuma seca tão grande, que só  AhuraMazda pôde impedir a exterminaçãodos seres humanos. Ele mandou Yima

cavar uma morada subterrânea, ondetodos os homens e todos os animais

encontrariam um abrigo e onde have-ria fartura de água, árvores, flores ef rutos.

A ilha celeste,

atribuída a Mirza

Ali, Ca.1560.

A

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No f im da Idade de Ouro Yima

torna-se mortal

Diz-se que f oi o  orgulho de Yima

que provocou essa catástrofe. Ele teriase desviado de seu Criador e se encer-rado no erro. A Idade de Ouro termi-nou e Yima tornou-se mortal. Desde

que propagou suas falsas idéias, a Luzde Glória (Xvarnah) retirou-se. Segun-do os iranianos, todos os reis legí timospossuíam essa luz. Zoroastro  disse:E l a il umi na  c ada  c é u que, d o a l t o, r e s -

 pl and e c e d e l uz e s e e s t e nd e a c i ma e a o r e d o r  d e s t a  T e rr a , a ss i m c o mo um j a r -

d i m c r i a d o no mund o e s  pi r i t ua l i rr a d i a s ua l uz  s o b r e a s  t r ê s p a r t e s  d a  T e rr a .Esses mitos dos tempos primitivos

apresentam  uma fase do  desenvolvi-mento da humanidade quando os reis

sacerdotes ainda existiam. Nessa épo-ca, a humanidade era guiada por essesreis que possuíam a Taça de Jamshidou Luz de Glória. Eles estavam liga-dos ao Espí rito de Deus e tinham portarefa proteger seu povo graças a umasociedade justa e ordenada, a fim  de

que ele pudesse desenvolver-se. Nãosão somente os mitos persas que falamdeste sacerdócio-real, mas também osmitos do Egito antigo.

Voltemos para L i v r o  d o s   Rei s , o S hah-na me h. Nos contos e lendas daluta entre Irã e Turã aparece um ho-mem que tem um papel importante nabusca do  Graal. Seu  nome é Kay

Khosraw, o oitavo e último rei da di-nastia dos Kayanides. Sua vida mostramuita semelhança com a dos cavalei-ros das lendas do Graal conhecidas noOcidente.

Seu avô, o  rei do  Irã, não sabia oque fazia quando atacou o  reino dos

demônios. Seus adversários o aprisio-naram e lhe vazaram os olhos. Graçasao  herói Rustam, que af rontou sete

per

igos, o r

ei voltou finalmente aotrono do Irã. Seu filho retomou a lutacontra Turã mas, f orçado  pelas cir-cunstâncias, se entendeu com seu ini-migo, o  rei de Turã, e esposou sua

filha, Farangis. Pouco depois, ele per-deu sua vida devido a traição. Farangisestava grávida e deu à luz, após a mor-te de seu esposo, um filho denomina-do Kay Khosraw.

Os reinos do bem e do mal 

são entrelaçados

As relações entre Irã e Turã mos-tram que, no tempo de Kay Khosraw– nos primeiros tempos da história doIrã – o reino do Bem e do Mal já esta-va em curso. O  novo  prí ncipe Kay

Khosraw é o protótipo dessa dualida-de. Seus avós f oram, respectivamente,

os reis de Irã e Turã.Como nas lendas ocidentais sobre o

Graal, fica claro  que os guardiões dataça mágica a têm desmerecido muito.É preciso um ato enérgico para fazer aTaçade sete cí rculos de Jamshid, onde oUniverso se reflete, volte à Terra para

libertar a humanidade.

A juventude de Kay  Khosr

aw separece com a de Parsifal. O pai de ca-da um deles é assassinado  traiçoeira-mente. Os dois são filhos de princesas

e crescem ao lado de suas mães na soli-dão de uma floresta. Quando jovens,eles sentem atração  pela cavalaria.Quando Kay Khosraw, pela primeiravez, encontra-se diante do rei de Turã,

ele passa por  um  tolo e não fala desuas origens. Parsifal igualmente se

conduz como um simplório, um pate-ta que nem mesmo sabe seu nome.Kay Khosraw chega finalmente ao

Irã, ao lado de seu avô, que o faz ime-diatamente rei. Ele jura vingar o assas-sinato de seu pai, e não mais ter des-canso antes de ter vencido o malvadorei de Turã.Kay  Khosraw, como  Parsifal, tem

como  ob jetivo  restabelecer a justiça

divina original. É então  que o Graalaparece de novo: um jovem iraniano é

feito prisioneiro em Turã. Para salvá-lo, no  dia do  Ano  Novo  na Pérsia,Kay Khosraw coloca uma vestimenta

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especial e cinge a coroa dos Kayani-des;  depois, pega a taça mágica comsete cí rculos onde o Universo se refle-te e tenta descobrir o jovem num dossete mundos.Logo se dá a luta decisiva entre Irã

e Turã. Kay Khosraw vence o  rei de

Turã, que f oge em seu cintilante palá-cio  de Gangbehest. Após um longocerco, Kay Khosraw vence seu adver-sário. Então, começa um perí odo ilu-minado de sessenta anos no Irã.

No final de sua vida terrestre, KayKhosraw, com  oito cavaleiros, sobe

uma alta montanha. Quando ele osadverte da chegada de uma tempestade

de neve e aconselha a retornar, trêscavaleiros acatam seu conselho, mascinco deles continuam a acompanhá-loaté o momento em que eles chegam a

uma f onte. Lá, o rei se despede de seus

cavaleiros, banha-se na Água da Vida edesaparece. Os cavaleiros o procuramainda durante muito  tempo e acabamse perdendo na tempestade de neve.

O Graal e a Luz de Glória

A lenda persa da Taça com sete cí r-culos que reflete o universo se parecemuito com as lendas do  Graal. Estataça está ligada à Luz original que estáf ora do alcance da consciência comum,

que, aliás, é vigiada e combatida pelastrevas.No mesmo contexto, a tradição

de Zoroastro fala sobre o «Xvarnah», aLuz da Glória que envolve a Terra econfere a realeza aos prí ncipes do Irã.

Um  hino  zoroastriano  relata como aLuz da Glória é transmitida, em segui-da, a oito  reis. O último  rei tem pornome Kavi Husravah, nome zoroas-triano  de Kay  Khosraw. Portanto,

com  Zoroastro igualmente aparecemos oito reis portadores de luz da dinas-

tia dos Kayanides. O  número  oito –oito reis e oito cavaleiros que acompa-nham  Kay Khosraw – faz  pensar  na

tradição ocidental segundo a qual oitodescendentes de José de Arimatéia

conservaram a taça na qual ele reco-lheu o sangue de Cristo.

Substituição do ser interior

Após esses exemplos de lendas rela-tivas ao  Graal na antiga Pérsia, uma

questão apaixonante se impõe:  para

onde f oi uma tal herança? Onde pode-mos retomar  o fio  de ouro? Afinal,cada civilização tem sua própria lí nguae características particulares, de modoque os homens de cada época têmoutras tarefas e possibilidades para

alcançar a meta, seguindo um processode mudança interior. É interessantenotar que as lendas do Graal reapare-cem  no século  XII, não somente noOcidente, mas também na Pérsia.No mundo árabe persa, Suhrawardi

retoma os temas do Graal, sob o ângu-lo  do  zoroastrismo, das tradições daantiga Pérsia, do  hermetismo e dos

elementos helenísticos. Para ele, im-

por

ta menos uma filosofia ou  umateologia do  que as experiências con-cretas do  pesquisador  da verdade.Após muitas provas, este último pode

dar  uma vista d’olhos na Taça comsete cí rculos e assim ligar-se a umnovo e superior campo de vida. É porisso que ele não fala dos sacerdotes-rei

que intervieram como substitutos doCriador, mas de uma substituição doser interior em cada pessoa.

Na Pérsia de Suhrawardi existiamnumerosos sí mbolos que se referiamao  País da Luz  do  Espí rito  divino,uma rica herança provinda do  tempode Zoroastro. Mas a idéia do Reino deLuz amplamente dif undida por Maniexercia ainda uma grande influência.

Mais tarde, Mani f oi considerado etratado pelo Islã como herético; entre-tanto, f ragmentos de seu ensinamento

f oram conservados em  textos maistardios da mística e do gnosticismopersas. Em seus hinos e seus salmos,Mani descreveu  o  País da Luz  deDeus, ao qual deve aspirar o homem

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Vitória sobre o

dragão, guardião do

tesouro. Hamsah,

Nisami, British

Museum, Londres.

mutável e cego. Esses textos de Maniprovêm das tradições da antiga sabe-doria persa; contudo, ele denominavaa si mesmo Apóstolo de Jesus Cristosegundo a vontade de Deus.

O  E s  pí r i t o da  v e r dad e v eio e no s d e s a t o u da il us ã o d o mund o.E le no s  e nt r ego u um e s  pel ho.

C o nt e m pl a nd o -o, v e mo s  nele o U ni v e r s o.E le no s  mo s t r a  que exi s t e m dua s o r -

d e ns :  a o r d e m da  L uz e a o r d e m da s t r e v a s .

A o r d e m d a  L uz pe ne t r a  a o r d e m da s  t r e va s .N ã o o b s t ant e, a o r d e m da s  t r e va s  e s t á s ep a r a d a  d a  L uz  d e s d e o c o me ç o...

A corrente da iluminação

No século XII, Suhr

awar

di haur

iudessa f onte e instituiu o Ishraq, aCor-rente da Iluminação, denominadatambém de A Rad i a ç ã o da Aur o r a . Ele

deixou  uma obra considerável. Parte

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em árabe, parte em persa, ele redigiuconsiderações teológicas e tambémnarrativas alegóricas e herméticas. Eleexplica, em trechos diferentes, a quaistradições espirituais ele se sente liga-do; e insiste sempre na importância,

não dos conhecimentos, mas da expe-riência concreta:  Q uant o  a o s   a migo s s o b r e o  c a mi nho, ele s  pe r c e b e m, e ms ua s  a l ma s , l uz e s  que o s  d eix a m nume nc a nt a me nt o ex t r a o r d i ná r io, po r que e ss a l uz  nã o s e e nc o nt r a  na  v i d a  t e rr e s -

t r e. P a r a o p r i nc ipi ant e, é uma l uz f u-g az  c o mo o r a io ; p a r a o ma i s  ad i ant a -d o, uma  l uz   unifo r me, e, p a r a  o ho -me m s u pe r io r , uma l uz  c ele s t e o b s c ur a .

Q uant o à  l uz o b s c ur a  que le va  à  pe -que na  mo r t e, o  s áb io P l a t ã o, e nt r e o s g r ego s , foi o  úl t i mo  que  r e a l me nt e  a c o nhe c e u, a ss i m c o mo o G r a nd e E s  pí -r i t o c u jo no me foi c o ns e r v a d o a o lo ngo da  hi s t ó r i a  d e H e r me s .

Suhrawardi só consagrou algumaslinhas à taça, ou Graal. Ele parte doprincí pio de que seus leitores conhe-cem bem a história do rei mí tico KayKhosraw. O  G r aa l, o e s  pel ho d o uni -v e r s o, pe r t e nc i a   a  K a  y K ho s r a w . E le 

 po d i a le r  ne ss e e s  pel ho t ud o o que qui -s e ss e, c o nt e m pl a r   a s   c oi s a s  o c ul t a s  e c o nhe c e r  a s   c oi s a s  ma nife s t a d a s . D i z -s e que o G r aa l e nc o nt r ava -s e e m ume s t ojo d e c o ur o, d e fo r ma  c ô ni c a e a t a -d o po r  d e z   t i r a s . Q ua nd o K a  y K ho s -r a w  qui s , um d i a , v e r  a s  c oi s a s o c ul t a s ,ele c o nfio u o e s t ojo a o t o r nei r o. Q ua n-d o  t o da s   a s   t i r a s  fo r a m  d e s a t ada s , o 

G r aa l fi c o u i nv i s í v el. P o r é m, quand o o e s t ojo, na ofi c i na  d o t o r nei r o, foi r e a -ma rr a d o, o G r aa l t o r no u-s e no v a me n-t e v i s í v el.O tema da taça, espelho do Univer-

so, remonta a um passado muito lon-gí nquo e era ainda conhecido no tem-po de Mani.Portanto, para Suhrawardi, fica cla-

ro que o Graal desce na natureza do

homem par

a liber

tá-lo dela. O imor

taldesce no mortal. A natureza terrestreé o invólucro, o Graal está escondidodentro  do esto jo, voluntariamenteamarrado. No interior  desse invólu-

cro, a nova alma precisa despertar parareceber  o  Espí rito. Kay  Khosraw jápossuía essa ligação, em  princí pio.Permanecendo em seu corpo, o Graalera visível, quer dizer, agia na nature-za terrestre. Assim que ele desfez os

dez laços e voltou-se totalmente paraas coisas invisíveis, o  Graal não f oimais visível. Afinal, elevar-se no Es-pí rito significa desligar-se da matéria.

E como o Graal é preenchidopelo Espí rito?

Q uand o o  s ol e nc o nt r ava -s e  no e qui nó c io  da  p r i mav e r a , segundoSuhrawardi, K a  y K ho s r a w  ele v o u o G r aa l p a r a o s ol. I me d i a t a me nt e uma 

 po d e r o s a  l uz  c a i u  s o b r e ele e  t o da s  a s li nha s  e r ep r e s e nt a ç õe s  d o mund o nele s e manife s t a r a m. Ele conclui: Q uand o 

e u o uv i o me s t r e d e s c r e v e r  o G r aa l d e J a m, e u f ui, e u  me s mo, o G r aa l  d o mund o, o e s  pel ho  d e J a m. N o G r aa l d o mund o, o e s  pel ho, nó s   v i mo s , e mle mb r anç a , que c ada  G r aa l é uma  c ha -ma  que no s  f az  mo rr e r .Repetidamente, Suhrawardi indica

que o eu da natureza deve morrer demodo que uma nova alma possa nas-cer. Sob a ação  do Graal, o superiordeve substituir o inferior. Tal f oi suamensagem aos homens de seu tempo:são nossos atos que nos transf ormam.

Seu ensinamento exerceu ainda uma

grande influência muito  tempo apóssua morte. Sua f raternidade tinha pornome I s hr aqiy un, e também  K ho s r a -w iy un, segundo  o legendário  KayKhosraw.Essa comunidade perpetuou-se

após seu  desaparecimento e encon-tramos traços dela até em nossos dias.

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Kites j, sí mbolo de um cosmo inviolado

O  G r aa l é o s í mb olo d e uma  r e a li -d a d e e s  pi r i t ua l i nc o m p r ee ns í v el 

 p a r a  a  c o ns c iê nc i a  c o mum. E s t a , s ó 

c o m d ifi c ul d a d e po d e t e nt a r  a  p r o -xi ma r -s e  d ele!  E nt r e t a nt o, e ma na d e ss e s í mb olo uma fo r ç a  c r i a d o r a e 

d i na mi za d o r a , uma fo r ç a po r t a d o -r a   d e  c ur a  e  d e  r e no v a ç ã o. Alé md i ss o, e ss a  fo r ç a  exe r c e  s ua   a ç ã o 

s o b r e a  c o ns c iê nc i a  huma na e s o b r e 

a s  a t i v i d a d e s  que d el a  d e c o rr e m; e 

el a  a b r e a  po r t a  a  v i s õe s  i nt ui t i v a s c a  p az e s  d e e s c l a r e c e r  a  c o ns c iê nc i a c o mum, c ha ma d a  d e no r ma l.

uando se descreve o Graal, fala-se

detaça ou vaso sag

r

ado, de pedr

a pr

e-

ciosa luminosa, de um f ogo puro, de

uma música celeste que invade todas

as coisas, de uma f orça salvadora esantificadora que torna supérfluoqualquer outro alimento, de pura luzda sabedoria e também de uma cidade

oculta. A consciência terrestre estáimpossibilitada de dar a exata defini-ção  de uma realidade espiritual deuma ordem elevada, de rotulá-la.

Talvez seja por essa razão que o Graalé um conceito  que, em  toda parte,

interpela o homem até o mais í ntimodo coração.Quando não é representado mate-

rialmente, ele é considerado como umf ogo, como  uma energia espiritual –

todas as lendas são unânimes – inaces-sível aos simples mortais, a menos queestes tenham se preparado especial-

mente par

a a pr

ova, seguindo  umplano muito claro. Se não f or este ocaso, eles seriam, então, simplesmenteconsumidos por essa energia muitoespecial e não-terrena.

O Graal cósmico é imperecível. Eleexerce sua influência de duas f ormas:às vezes, ele se manifesta por meio desí mbolos, esboçando as linhas de f or-ça com a qual sua energia é animada;outras vezes, por intermédio  de suaação libertadora e regeneradora. Os

sí mbolos falam à consciência intuitivado homem receptivo e o impulsionama buscar e a agir de maneira lúcida e

inédita. Tal comportamento pode fa-zer nascer um novo tipo de homem, oqual confiará a conduta de sua vidacotidiana ao  princí pio interior imor-tal. Esse princí pio é o f undamento da

alma eterna. Graças a esse poder  daalma, ele tem a capacidade de ir cons-

cientemen

te ao encon

tro  do G

r

aal ede se colocar a seu serviço. Colocar-se

a serviço do Graal significa, portanto:conhecer  o  plano  de Deus para omundo e a humanidade e colaborarcom ele. Então a alma, uma vez puri-ficada, renovada, e com isso  tornada

imortal, encontra seu lugar na grandee antiga Fraternidade do  Graal, queabarca todo o universo.

Sobre essa base, o Graal não 

pode ser encontrado

Nessas condições, vemos claramen-te a razão pela qual reina, em todas aslendas do Graal, uma grande incertezasobre a natureza e a direção da busca.Onde é preciso procurar esse Graal? E

qual é o  momento  pr

opício  par

a sepôr a caminho? A busca depende deum ponto de partida bem determina-do? No início, a busca só reflete nos-sas próprias idéias. Ora, sobre essa

Painel com a Visão

de Kitesj sob a

água.T.Zubkova,

1968.Têmpera

ouro e laca sobre

papel machê.

Q

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base, o Graal não pode ser encontra-do, mesmo  que nossa imaginaçãoalcance um alto grau de refinamento ede idealização. Não há, portanto, comque se espantar se tantos pesquisado-res e Prometeus assaltam o céu e ficamde mãos vazias, a despeito de seus no-bres e corajosos esf orços. Somente épossível encontrar e conservar o Graal

quando a conduta é plena de dignida-de e orientada para uma espécie de ca-valaria interior, quando  tudo f oi dei-xado para trás, quando cessa o pensar,sentir e agir de acordo com a consci-ência terrena, quando todos esses ele-mentos terrenos estão  mortos e umlugar é preparado para a alma viventeeterna.Existia na Rússia, na época medie-

val, uma or

dem cavalheir

esca que as-pirava à honra e ao enobrecimento in-terior. Essa ordem  queria servir aDeus, defender a pátria e socorrer os

pobres, os doentes e os oprimidos.

Nas cortes principescas e mansões dos

nobres, a filosofia, a astrologia, a al-quimia e a magia eram praticadas damesma f orma que no resto da Europa.Nessa época, a Rússia encontrava-sesob a influência da cultura persa alta-mente elaborada, onde encontramosos mais antigos traços conhecidos daslendas do Graal.Paralelamente a essa f raternidade

cavalheiresca, a lenda de Kitesj teve

um papel não secundário. O composi-tor russo Rimsky-Korsakof (1844-19-08) escreveu  uma ópera intituladaS kazanije o ne v i d i mo m g r ad e Ki t e s  j i 

d e v e Fe v r o nii  (A cidade invisível de

Kitesj e a virgem Fevrônia). Essa ópe-ra descreve, de f orma mais clara doque a das lendas do Graal da Europa

ocidental, a preparação necessária pa-ra ser admitido numa ordem cavalhei-resca.

A sabedoria da alma medieval

O autor do libreto, W.J.Belski, feza sí ntese de todas os conceitos que

povoam  os mitos, contos e lendasrussas. Aqui, é a S a g a   d a  Jo v e mFe v r ô ni a   d a   c i d a d e  d e  M ur o m queocupa o lugar central. A C r ô ni c a  d e Ki t e s  j (1251) de Meledins sobre a edi-ficação  da Pequena e da GrandeKitesj em três anos, sobre os 75 anosque duraram essas duas cidades, sobre

a destruição  da Pequena Kitesj, em1239, f orneceu  o  quadro  históricodessa saga. Em colaboração intensa

com  Rimsky-Korsakov, W.J.Belskifez-se intérprete da sabedoria popularda alma medieval.Há pouca ação  dramática nessa

ópera, o que permite aos artistas, se-gundo Belski, dar ênfase a todas asemoções. A música poética e lí rica de

Rimsky-Korsakov torna vigorosos ossutis estados de alma – exatamentecomo na Fl a ut a  M á gi c a de Mozart –ela traduz claramente as três fases deevolução da consciência: 

O Cavaleiro

Branco combate

Ivan. Gravura

sobre madeira,

Contos das

florestas e

estepes russas,

Dr. Boris

Rapschinsky.

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• a compreensão concreta, que élimitada aos fenômenos terrestres

cotidianos; • a experiência intuitiva e mística da

luz  que não  pro jeta sombra. Nocoração do ser que aceita conscien-temente a luz, exprime-se a fé au-têntica do cristianismo original. Éessa fé que confere a sabedoria;

• a consciência espiritual, tal como a

despertada em Fevrônia, que, apóster ela suportado  provas sobre-humanas, a conduz ao campo  doprogresso espiritual.

Essa pureza interior espiritual colo-

ca Fevrônia em ligação com a luz doGraal e com o domí nio onde a Frater-nidade do Graal haure as f orças quelhe permitem  trabalhar no campo davida terrestre. Essa ligação é represen-tada, na ópera, pelos pássaros paradi-síacos Alkonost e Siren. Eles apare-cem cada vez que Fevrônia é submeti-da a uma prova que produz em suaconsciência uma experiência superior.

Representação da alma humana

purif icada

A Pequena e a Grande Kitesj f oramf undadas para serem as cidadelas da fécristã original. Seus habitantes pude-ram seguir, durante setenta e cincoanos, um caminho místico pessoal em

proveito do crescimento de sua alma,a grande finalidade da vida humana.Na lenda de Kitesj, o prí ncipe dessa

cidade é dotado  de uma prof undaconsciência religiosa e mística que ofaz viver  por antecipação seus ideaisem benefício de seu povo. Essa cons-ciência mística une todos os habitan-tes e os leva diretamente a desenvolver

uma nova alma, a qual esclarece para

eles a verdadeira finalidade da vida.A virgem  Fevrônia vive solitárianuma floresta vasta e selvagem aolongo do rio Volga, diante da PequenaKitesj. Fevrônia é a representação da

alma natural pura que transmite sua

sabedoria. Ela trabalha com ervas te-rapêuticas e compartilha seu conheci-mento livremente com os homens e osanimais. Ela compreende intuitiva-mente os processos que se desenvol-vem  nas plantas e no  reino animal eprodigaliza aos seus semelhantes com-preensão, compaixão, assistência eamor auxiliador.Os seres vivos da flo-resta confiam  nela. Ela vive em  har-monia com eles, e compreende, res-peita e favorece os processos naturaisque englobam todas essas criaturas.Assim, Fevrônia terminou uma fase

importante de seu  desenvolvimento.

Ela possui uma alma radiante, a luz dacompreensão intuitiva e a mais eleva-da f orma de amor que o homem podealcançar. É a razão pela qual ela é pro-vada e levada a fazer experiências queum eu  muito ligado à natureza nãopoderia suportar.

Vivif icação dos poderes

superio

reslatente

s

As provas de Fevrônia começamcom  um encontro com  o  prí ncipeVsevolod. Este se extraviou  duranteuma caçada e vagueia pela floresta,ferido e cansado. É então  que ele seapercebe de Fevrônia. Ela está cantan-do enquanto procura por plantas me-dicinais, e é acompanhada por pássa-ros, um  urso e alguns cabritos. Oprí ncipe fica espantado e cai sob o en-canto desse quadro: uma criatura per-feita e plena de alma segundo as nor-mas terrestres, nesta floresta selva-gem!Fevrônia olha para o prí ncipe com a

maior calma e vê que ele sof re, ví timade seus conflitos interiores. Ela se per-gunta como um homem tão nobre, um

prí ncipe, pode querer caçar seus jo-vens irmãos, os animais, para matá-los. Fevrônia percebe que ele aindanão descobriu a luz que está nele. Oprí ncipe é crente, e nada mais. Ele ain-

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da necessita de ritos e de princí piosmorais para poder seguir seu caminho.

Embora ele tenha uma grande fé, seupróprio  núcleo espiritual ainda nãodespertou. É por isso que ele só ageconf orme os preceitos apresentados àsua inteligência. A compreensão intui-tiva ainda lhe é desconhecida. Então,Fevrônia dirige-se a ele para descobrirse é possível vivificar seus podereslatentes.

Ela saúda Vsevolod com  palavras

simples que abrem seu coração. Oprí ncipe pede-lhe pão, mel e água. Es-ses são os sí mbolos esotéricos do ali-mento espiritual.

Vida da força crí stica em cada

alma humana

O  prí ncipe pensa que Fevrônia,com  toda a sua simplicidade, é bemsuperior a qualquer mulher, mesmo amais culta, da Pequena Kitesj. Ela

ocupa seu lugar

 na cr

iação de f or

matotalmente harmoniosa e colaboracom a natureza e suas criaturas portoda parte onde pode fazê-lo. É queCristo está em cada alma humana,

compadece-se e participa da vida decada ser vivente. Fevrônia está emcondições de doar ao prí ncipe sof re-dor, Vsevolod, a luz que iluminará sua

consciência. Ele aceita seu auxílio comreconhecimento e aprende que não

deve mais considerar  os animais eoutras criaturas como presas, mas que

deve defendê-las e socorrê-las.Assim  que essa mudança interior

acontece com  o  prí ncipe, Fevrôniapode aceitar seu pedido de casamento.Então, Vsevolod faz  que sua noiva

deixe o mundo que lhe é familiar e a

leva para a vida desconhecida da cida-de e de seus habitantes. Fevrônia

observa os cidadãos da Pequena Kitesjcom espanto e compaixão. A maneira

pela qual essas pessoas passam seutempo lhe é totalmente estranha.Quando estes percebem a luz  que

emana de Fevrônia, eles passam a cha-má-la de A Virgem da Luz. Assim es-timada, ela se esf orça para que enten-dam suas idéias sobre a vida e sobre averdadeira finalidade da existência.Ela os encoraja a buscarem a si mes-mos. Entretanto, apesar de sua humil-dade, sabedoria, discernimento, com-paixão, bondade, verdade e tolerância,apesar de sua alegria, f orça e retidão,

poucos se interessam por ela.

Os habitantes da Pequena Kitesjcultuam  principalmente a vida mate-rial, por isso demoram a compreender.Fevrônia vê claramente os limites des-sa vida superficial e percebe que os ha-

bitantes da cidade simplesmente igno-ram seu amor e suas sábias palavras.

Aceitar a escravidão ou 

ab jurar sua f é

Considerando que a mente e a con-duta deles estão fechadas a qualquer

tentativa der

enovação, eles não con-seguiriam escapar de uma transf orma-ção violenta. Os tártaros avançam pa-ra o Oeste e, na campanha devastado-ra que os faz atravessar a Rússia, dosul e do centro, aproximam-se da Pe-quena Kitesj. A Grande Kitesj deverásucumbir em seguida. Os habitantes

da Pequena Kitesj estão agora diantede uma escolha decisiva: render-se aostártaros para tornar-se seus escravos e

ab jurar sua fé, ou permanecer fiéis aesta, morrendo em combate?No decorrer dessa crise, muitos ci-

dadãos da Pequena Kitesj percebem avoz interior que lhes diz para seguirsua intuição que os impulsiona a com-bater pela sua salvação e pela preser-vação  da Grande Kitesj. Nesse meiotempo, o  prí ncipe Vsevolod galopacom alguns cavaleiros para a Grande

Kitesj a fim de buscar auxílio. Mas ostártaros surgem mais rápido do que oprevisto. No terrível combate, que sedesencadeia com violência, todos sãomortos, menos Fevrônia e um bêbado.

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Ninguém se mostrou disposto a aju-dar os tártaros e a lhes indicar o cami-nho secreto para a Grande Kitesj.Entretanto, o bêbado, obscurecido

por sua vida de prazeres, ligado à vidamaterial e não sabendo mais o signifi-cado da alma e dos valores superiores,

logo que cai nas mãos dos tártaros seprepara para guiá-los para a GrandeKitesj, a fim de salvar sua vida.A bela Fevrônia faz parte dos des-

po jos de guerra que cabem ao Khan,

prí ncipe dos tártaros, e torna-se suaescrava. Cativa, assim como o bêbado,ela roga a seu companheiro que não secomporte como  Judas, traindo  o se-

gredo  do caminho  para a GrandeKitesj. Ela se recolhe e ora pela salva-ção dos habitantes da Grande Kitesj:como eles se deixam guiar em sua vidacotidiana pela f orça da verdadeira fé,

somente isso pode salvá-los.

O prí ncipe enf renta 

pacif icamente os tártaros

Os poderes e f orças terrestres –simbolizados pelos tártaros – procu-ram ganhar Fevrônia para sua causa,mas ela permanece inatacável e inven-cível. Ela não teme a violência e só tempiedade de Khan, que está sedento pormortes e se af oga no álcool.

Então, segue-se uma série de acon-tecimentos dramáticos. O  prí ncipe

Vsevolod, com um pequeno grupo decavaleiros, marcha contra os tártaros.Ele se arma com o elmo da esperança,

o escudo da fé e a espada do Espí rito.Esses atributos mostram claramenteque ele está em busca do Graal, e queluta contra tudo o que deseja retê-lo.Ele tornou-se um  puro cavaleiro  doGraal, pois a lenda relata que ele vai aoencontro dos tártaros com um espí ri-

to de ausência de luta.Esses aspectos da lenda de Kitesj – e

que se encontram em muitos outros

contos do Graal – mostram que se tra-ta aqui de processos interiores de pu-

rificação espiritual a que todo ser

humano é convidado.O prí ncipe Vsevolod e seus cavalei-

ros penetram as fileiras dos tártaros eaí encontram a morte. Os habitantes

da Grande Kitesj e seu rei Yuri supli-cam à Mãe celeste para envolvê-loscom f orças puras e protegê-los. E  omilagre acontece: a cidade é envolvida

por uma nuvem de f ogo. Os pastores

que assistem a esse prodígio põem-se

a cantar: Ki t e s  j t o r no u-s e a  c a b e ç a e o c o r a ç ã o d o mund o. A cidade desapare-ce no mar de cristal, Swetli Jar, elevan-do-se ao céu. Na beira do mar, o exér-cito tártaro é tomado de indescritível

terror e f oge para os bosques ao redor.Fevrônia vê que a Grande Kitesj seeleva para uma dimensão superior. Os

dois pássaros dos mistérios, agora vi-síveis, convidam-na a lançar-se na luz

 junto com a cidade. Assim, ela alcan-çou sua finalidade:  não existe maismorte para ela. Revestida de luz, ela éacolhida pelos cavaleiros do  Graal;depois, vai ao encontro de Vsevolod

que, após sua mor

te no campo  debatalha, é ressuscitado e, como cava-leiro do Graal, é agora guiado para aGrande Meta. Finalmente, Vsevolod eFevrônia tornam-se rei e rainha doGraal da Grande Kitesj.

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N i ng ué m mel ho r  d o que G a d a l, úl t i mo p a t r i a r c a  c á t a r o, p a r a no s  g ui a r  pelo mund o d o s  mi s t é r io s  c á t a r o s . C o m fi r me za , ele 

 p r i v ilegi a o s ut il e d á  v o z  a o i nef á v el.

A hi s t ó r i a é, na  r e a li d a d e, um r i t o d e i ni c i a ç ã o c á t a r a . E m o nd a s s ua v e s , el a  il umi na   c a d a  p á gi na  e  no s  i nv a d e  c o m o  s ilê nc io 

má gi c o d a s g r ut a s  d o Ar iège.

N e ss e s ilê nc io i nt e r io r , el a p ul s a  v e r d a d e s  que s o me nt e o c o r a ç ã o 

 po d e  s o nd a r , d eix a nd o -no s  a  um p a ss o d o C a mi nho d o S a nt o 

G r aa l.

S e d e s ej a r  t r il há -lo, d ê o p r i mei r o p a ss o.