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PENTECOSTALISMOS: O DESENVOLVIMENTO DE SUA DIVERSIDADE RELIGIOSA:
2⁰ Simpósio Internacional de História das Religiões
XV Simpósio Nacional de História das Religiões
ABHR 2016
Ailto Martins 1
Introdução
A institucionalização do movimento pentecostal teve como resultado o surgimento
de vários pentecostalismos. Este fenômeno tornou-se possível devido à perda da hegemonia
das religiões tradicionais oficialmente reconhecidas pelo Estado. O Estado laico em muitos
países garantem aos fiéis de todas as religiões, o direito a liberdade de expressão, por meio
de leis que proporcionam a defesa dos locais de culto e promovem a tolerância religiosa.
Ainda, a secularização constitui outro aspecto que permite a redução da influencia da
religião sobre a sociedade. Desta forma, a institucionalização, laicidade e a secularização
contribuem para a diversidade religiosa. Dentro deste contexto surgem possibilidades para o
diálogo e o ecumenismo nos pentecostalismos.
O movimento pentecostal se desenvolveu devido a sua diversidade religiosa.
Contudo esta particularidade produziu uma série de pentecostalismos, fruto da
fragmentação das diversas expressões pentecostais, orientadas pelo pluralismo e
sincretismo religioso. Diante disto, em virtude dessa complexidade torna-se difícil a definição
da identidade pentecostal, bem como de sua teologia. Muitos sociólogos, historiadores e
teólogos já tentaram formatar sistematicamente o fenômeno pentecostal, por meio de
definições e classificações, porém com a evolução e crescimento do movimento essas
tentativas não estão dando conta de explicar o fenômeno. Desta forma surgem alguns
questionamentos: Qual a fundamentação bíblica e teológica dos pentecostalismos? Qual a
1 Mestrado em Teologia (FABAPAR). Pós-graduado MBA em Gestão de Pessoas (UNINTER). Pós-graduado em Educação a Distância (Portal da Educação/Universidade Dom Bosco). Graduado em Administração de Empresas (UNIVILLE). Ciências Contábeis (UNIASSELVI) e Teologia (FATE/Metodista). Professor da Faculdade Refidim. E-mail [email protected].
influência do pluralismo e sincretismo religioso no desenvolvimento da diversidade religiosa
nos pentecostalismos? O que o Estado laico e o secularismo contribuem para a expansão do
fenômeno pentecostal? Que similaridades e diferenças doutrinárias podem ser encontradas
nos pentecostalismos? Todas estas perguntas podem ser analisadas diante da seguinte
problemática: Quais as principais particularidades e distinções no desenvolvimento da
diversidade religiosa nos pentecostalismos? Assim sendo, a pesquisa visa analisar e
compreender o fenômeno pentecostal na concepção e expansão de sua diversidade
religiosa, com objetivo de sinalizar caminhos para uma unidade dentro da diversidade
pentecostal, por meio de uma teologia do Espírito Santo, que contemple todos os
pentecostalismos.
A estruturação do artigo ocorre de forma tripartida, ou seja, a partir de três
divisões. A análise acontece através de uma revisão bibliográfica em tópicos específicos: O
primeiro tópico apresenta os pentecostalismos e suas possíveis definições e classificações.
Este tema visa abordar em meio às diversas estruturas que tentam organizar os
pentecostalismos, apresentar dois principais autores e suas respectivas classificações e
definições. A classificação e definição dos sociólogos Ricardo Mariano e Paul Freston. Esta
análise das obras destes autores permite perceber, diante do importante trabalho
desenvolvido por estes teóricos, que toda a definição por mais densa que se apresente
promove o reducionismo. O segundo tópico da pesquisa apresenta uma síntese sobre o
pluralismo e sincretismo religioso e, consequentemente, expõe a influencia destes dois
elementos no desenvolvimento da diversidade religiosa nos pentecostalismos. Uma das
forças do pluralismo religioso constitui-se por via da laicidade do Estado, que garante a
liberdade religiosa. Já a secularização promove o pluralismo religioso. Em alguns tipos de
pentecostalismos acontece o processo de secularização, especialmente com um pluralismo
doutrinário. Esta dinâmica tem como objetivo manter o movimento relevante à sociedade. O
sincretismo religioso apresenta-se como um fenômeno social complexo. Ele acontece por
meio do contato dos pentecostalismos com grupos religiosos similares e distintos, numa
condição de contaminação mútua entre os pares. O último tópico da pesquisa sinaliza
possíveis caminhos para uma teologia pentecostal. Pondera as diferenças e semelhanças nas
teologias dos pentecostalismos, buscando similaridades de doutrinas entre as instituições do
movimento, com a finalidade de fundamentar uma unidade teológica que não venha
extinguir a diversidade religiosa, mas sim canalizar esta força em busca de uma teologia do
Espírito Santo, que faça frente às necessidades inerentes a todos os pentecostalismos.
1. OS PENTECOSTALISMOS: POSSIVEIS DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
Os pentecostalismos se constituem como um fenômeno social e teológico. Quanto à
origem deste fenômeno ocorrem algumas controvérsias. O sociólogo Souza (2004) contradiz
a afirmação de muitos estudiosos do movimento pentecostal, que apresentam o surgimento
do pentecostalismo no inicio do século 20 nos Estados Unidos. Para ele, a origem desse
movimento remete aos movimentos sucessivos anabatistas, quacres e metodistas, ancestrais
do pentecostalismo, que descende de um protestantismo do espírito. Também apresenta
uma série de avivamentos na história da Igreja como marco fundante do pentecostalismo.
Cita o movimento cristão do montanismo que surgiu no segundo século na inspiração
constante do Espírito Santo, como voz integrante do pentecostalismo. O teólogo Peruano
Bernardo Campos (2002) também trabalha dentro dessa perspectiva, quando introduz o
conceito de pentecostalidade, a qual define como a experiência universal do agir do Espírito
Santo em todos os períodos da história da Igreja Cristã, sendo um princípio norteador para
todos os pentecostais. Desta forma, de acordo com o autor, os pentecostalismos são
manifestações históricas dessa pentecostalidade.
O fenômeno pentecostal tem sido objeto de estudo no âmbito das ciências
humanas nas últimas décadas. Muitos pesquisadores já expuseram algumas classificações,
na tentativa definir e entender o pentecostalismo. Contudo, estes teóricos esbarram na
complexidade do movimento. Incorrem em dois erros primários: a generalização abusiva do
termo e o reducionismo que leva ao estigma social2, onde procuram rotular o movimento, a
2 Estigma Social: o conceito de estigma social está relacionado com as características particulares de um grupo
ou indivíduo que seguem o oposto das normais culturais tradicionais de uma sociedade. Ou seja, tudo o que não é
partir de determinado contexto. Mariano (2005) comenta que o trabalho de classificação do
pentecostalismo torna-se difícil, complexo e sujeito a controvérsias, devido às
transformações ocorridas neste movimento nas últimas décadas que ampliaram a
diversidade teológica, eclesiológica, institucional, social, estética e política nos
pentecostalismos. O sociólogo trabalha as tipologias das formações pentecostais, a partir da
análise de sua dinâmica histórico-institucional. Com base na discussão dessas tipologias
classifica o pentecostalismo em três vertentes 3 : pentecostalismo clássico,
deuteropentecostalismo e neopentecostalismo. Cada uma destas categorizações possuem
representações institucionais históricas.
Já o sociólogo Paul Freston (1996) apresenta a classificação em três ondas4 do
pentecostalismo brasileiro. A partir de um corte histórico-institucional, com implementação
de igrejas. Descreve a primeira onda com a chegada da Congregação Cristã (1910) e
Assembleia de Deus (1911). A segunda onda pentecostal acontece nos anos de (1950 e
1960), com a fragmentação e dinamização do campo pentecostal, três igrejas se destacam:
Igreja do Evangelho Quadrangular (1952), Igreja Brasil para Cristo (1955) e Igreja Deus é
Amor (1962). A terceira onda inicia-se no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80, com a
Igreja Universal do Reino de Deus em (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus em
(1980). De acordo com o autor a primeira onda é marcada por igrejas fora do eixo Rio-São
Paulo, entretanto, a segunda e terceira onda se desenvolveram no contexto paulista e
carioca.
considerado um padrão cultural social é tido como um estigma para aquela sociedade. Por exemplo, durante
alguns anos os doentes mentais, negros, homossexuais e membros de algumas doutrinas religiosas, como os
judeus, eram considerados estigmas para determinadas sociedades. O estigma social, para muitos estudiosos,
ajuda a provocar a criminalização de alguns grupos excluídos socialmente. Disponível em:
<http://www.significados.com.br/estigma> Acesso em 23.10.2015. 3 A Primeira vertente: o pentecostalismo clássico representado pela Congregação Cristã no Brasil e Assembleia
de Deus, a primeira fundada em 1910 e a segunda em 1911. A segunda vertente: o Deuteropentecostalismo (a
partir de 1950) representada pela Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Brasil para Cristo e Igreja Deus é
Amor. A terceira vertente: o Neopentecostalismo (a partir de 1970) representada pela Igreja Universal do Reino
de Deus, Renascer em Cristo e Igreja Internacional da Graça de Deus. MARIANO, Ricardo. Neopentecostais:
sociologia do pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2005. 4 Quanto à história do protestantismo David Martin (1978) divide a dissidência protestante em três ondas: a
puritana ou calvinista, metodista e a pentecostal. FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo
brasileiro. Em: ANTONIAZZI, Alberto et al. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do
pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 67.
De acordo com esse contexto os pentecostalismos se estabeleceram como religião
urbana e popular. Passos (2005) analisa a estrutura da religião popular. Descreve os
elementos que permanecem sujeitos às diversas práticas: as funções sociais dos santos e as
práticas culturais e morais. Este processo permanece ao longo da história, onde ocorrem os
embates, as oposições e assimilações. Filho (2005) destaca como seu objeto de estudo em
sua pesquisa, a matriz cultural e matriz religiosa brasileira, com a finalidade de tecer um
comentário aceitável do campo religioso brasileiro. Estas matrizes representam uma série de
valores religiosos e de símbolos que lhe correspondem e que ensejam uma concepção
religiosa ampla e difusa vivenciada em todos os tipos de religiosidade. Diante disto, o autor
expõe a função da religião imersa nessa complexidade social, por meio da coesão e cisão
alcança grupos específicos e, consequentemente, forma subculturas, que pode gerar
conflitos. Desta forma, a diversidade religiosa coopera para disputas, concorrências e para o
aprofundamento de divergências, com proeminência nas discussões do campo moral,
doutrinário e teológico. As matrizes dos pentecostalismos perpassam essa diversidade
religiosa fundamentada na proeminência do pluralismo e sincretismo religioso.
2. O PLURALISMO E SINCRETISMO RELIGIOSO: A INFLUÊNCIA DESTES ELEMENTOS PARA
DIVERSIDADE RELIGIOSA NOS PENTECOSTALISMOS
O pluralismo e sincretismo religioso bebem da fonte do secularismo. O processo de
secularização se utiliza do conceito weberiano de “desencantamento do mundo”. Weber
(1967) afirma que por meio do desencantamento religioso o mundo abandona o domínio
que veem das forças ocultas transcendentes, que podem ser manipuladas pela ação
transcendental, para serem controladas somente pela ciência. Esta dinâmica apresenta a
eliminação da magia no interior das religiões, a qual vai sendo substituída por uma prática
religiosa estabelecida pela ética. Dentro desta perspectiva, Rivera (2010) diz que uma
sociedade não secularizada define-se pela autoridade da religião no plano do saber e na
esfera dos valores. Neste caso, a secularização corresponde ao desenvolvimento e à
autonomia das ciências, ofuscando o poder religioso oficial e abrindo espaço para outras
manifestações religiosas. Este contexto fortalece o desenvolvimento do pluralismo e
sincretismo religioso em todas as religiões.
O grande marco no processo de secularização realizou-se por via da laicidade do
Estado. Ferreira (2012) menciona que a religião pentecostal foi a quem mais se beneficiou
com o Estado laico5. O estudioso das religiões argumenta que a tomada do poder da religião
pelo Estado possibilitou a diversidade religiosa através da multiplicação das instituições
religiosas pentecostais. Desta forma, o Estado laico sustenta o pluralismo religioso, que por
sua vez, se apresenta como uma das consequências mais importantes da secularização.
Diante destes fatos, a tendência religiosa contemporânea é plural e desenvolve um campo
fértil para o sincretismo religioso. Burke (2003, p.47) define o sincretismo, “como a mistura
deliberada de elementos de determinadas crenças”. Dentro de alguns pentecostalismos o
elemento sincretista representa o ferramental adequado para a penetração da fé
pentecostal em espaços de difícil acesso. Ambientes onde o protestantismo histórico
encontrou muitas dificuldades de adaptação e resistências, os pentecostalismos assimilaram
as diferenças e as controvérsias e se estabeleceram.
Os pensadores contemporâneos vêm discutindo e dialogando temas relacionados
ao pluralismo religioso, sincretismo religioso, tolerância religiosa, ecumenismo, diálogo inter-
religioso, teologia pluralista das religiões, entre outros. Para analisar a contemporaneidade
religiosa dos seres humanos torna-se indispensável o exame desta nova consciência. Vigil
(2006, p.376) enfatiza esta realidade: “Estamos vivendo essa nova experiência espiritual. Há
um Espirito novo rondando-nos, desafiando-nos, quase que cada dia, numa multiplicidade
de gestos, de reflexões, de novas práticas. Estamos passando por um momento de
transformação”. O autor descreve algumas características mais importantes do pluralismo,
especificamente no contexto cristão. Afirma que modus operante do cristocentrismo na
religião cristã esta de passagem para o pluralismo. Paradoxalmente há medo e resistência,
ao mesmo tempo, atração, clareza e evidência. Todo este discurso demonstra o poder do
5 Estado laico significa um país ou nação com uma posição neutra no campo religioso. Também conhecido como
Estado secular, o Estado laico tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, não apoiando ou
discriminando nenhuma religião. <http://www.significados.com.br/estadolaico> Acesso em 23.10.2015.
pluralismo religioso na religiosidade contemporânea. Desta forma, os pentecostalismos
principalmente diante do agir livre e espontâneo do Espírito Santo, a qual se pode chamar do
movimento do Espírito vai dando lugar a um pentecostalismo cuja identidade não pode mais
ser explicável como única, assume formas diversas de acordo com o local e as demandas
populares.
A inter-religiosidade das religiões ajuda entender os aspectos sincretistas de todos
os movimentos religiosos. Klinger (2010) questiona se existe um sincretismo legítimo. Avalia
o conceito de sincretismo como um problema de linguagem. O linguístico deve-se ser
empregado com cuidado, sabendo qual sentido e para qual finalidade. De acordo com o
autor sincretismo é originalmente um conceito politico, que significa um crescimento
conjunto frente uma ameaça exterior. Contudo, hoje é usado com um sentido pejorativo e
negativo. O crescimento conjunto é traduzido como mistura de religiões. Deste modo, o
sincretismo é um sinal característico de todas as religiões. Boff (1982) destaca que a
catolicidade como sinônimo da universalidade, só torna-se possível sob a condição do
sincretismo. Portanto, partindo deste princípio do pensamento de Boff, a pentecostalidade
do Espírito Santo deve acontecer dentro dos ambientes plurais e sincretistas das religiões.
No entanto, Júnior (2014) faz uma crítica acentuada ao neopentecostalismo no
desenvolvimento do seu sincretismo. Denuncia a prática sincrética desrespeitosa por este
tipo de pentecostalismo, que vem desenvolvendo um sincretismo de inversão, a qual expõe
uma alta dose de intolerância religiosa, na estrutura e conjuntura de sua religiosidade. Esta
postura nega a essência do sincretismo que é a tolerância e o respeito a todas as religiões.
3. CAMINHOS PARA UMA TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO: SIMILARIDADES E DIFERENÇAS
TEOLÓGICAS NOS PENTECOSTALISMOS
A diversidade cultural e religiosa da humanidade se mostra na sua própria história.
Stroher (2015, p.126 e 127) trabalha os direitos humanos e a diversidade religiosa em um
Estado laico. Salienta que “a diversidade é uma realidade humana, conquanto caiba
evidenciar que esta diversidade foi construída e é resultado de um processo histórico e
cultural. E, entre os Direitos Humanos fundamentais, é preciso reafirmar o direito à
diferença como elemento componente e constituinte da diversidade”. Todavia, a autora
argumenta que “nossa diversidade étnico-cultural é uma diversidade histórica resultante da
colonização/colonialidade, enraizada em políticas de escravidão, desumanização e exclusão”.
Portanto, a diversidade religiosa não é analisada na dinâmica da colonização devida
principalmente o sofrimento de pessoas neste processo. Muitos sujeitos passaram pela
extinção de suas crenças e, consequentemente, a catequização de suas religiosidades,
devido à prática do método que visava impor a cultura e a religião dos civilizados aos
desumanizados. Esta constatação ajuda a entender a diversidade religiosa nos
pentecostalismos, visto que é nos movimentos de massas, mesmo perante a negação da
religiosidade dos marginalizados e excluídos, por parte da classe dominante, que se encontra
o desenvolvimento da diversidade religiosa. Diante disto, Gutiérrez (1996) destaca o sentido
popular do movimento pentecostal, a qual incluiu os marginalizados e os excluídos, com uma
proposta de transformação social.
As descobertas científicas e desenvolvimento tecnológico torna o mundo
progressivamente mais globalizado e diverso. A diversidade cultural, social e religiosa cada
vez mais se configura e cresce continuamente na sociedade contemporânea. Bock (2004)
propõe uma releitura da teologia cristã na perspectiva da unidade na diversidade, com
objetivo de mostrar possíveis caminhos de consenso, diante das controvérsias teológicas no
contexto pós-moderno. Por meio desta temática chama a atenção ao comprometimento e
ao envolvimento através do diálogo desafiador a respeito de Deus no mundo. Propõe uma
revisão histórica das raízes do evangelicalismo,6 observando os limites impostos que diz
respeito à verdade, bem como o compromisso no evangelho e na autoridade única da Bíblia,
6 O evangelicalismo tem sua origem no interior da Igreja da Inglaterra no século XVIII. Havia, desde o século
XVI, a herança da ala mais protestante da Igreja (“igreja baixa”), com a influência luterana e calvinista e a
presença de puritanos que optaram pela permanência na instituição. Com os irmãos John e Charles Wesley,
George Whitefield e John Fletcher vem a influência armeniana. Vale lembrar que o “metodismo” foi
primeiramente um movimento evangélico dentro da Igreja Anglicana. Os irmãos Wesley viveram até o fim nessa
igreja, e, até hoje, constam como homenageados pelo calendário anglicano. Após a sua morte é que há o cisma,
com a criação da Igreja Metodista. Parcela significativa dos seus seguidores, porém, continuou na Igreja
Anglicana, formando a ala evangelical. CAVALCANTI, Robinson. As origens do evangelicalismo. Revista
Ultimato. n.253, Jul-Agos, São Paulo: 1998.p.27.
a qual busca delinear a posição e a direção que a teologia cristã deve tomar frente ao
pensamento pós-moderno. Diante da proposta de Bock, que tenta encontrar uma unidade
teológica, em meio à diversidade de cristianismos, os teólogos pentecostais também
necessitam sinalizar caminhos para uma teologia que tenha fundamentos na
pentecostalidade do Espírito e que venha contemplar todos os pentecostalismos.
As diferenças no campo teológico dos pentecostalismos incidem de várias formas.
Pommerening (2013) descreve o maior distanciamento entre dois tipos de pentecostalismos.
O designado pentecostalismo clássico e o neopentecostalismo. O autor destaca que a
exposição desta categorização díspar tem como objetivo diferencia-los. Faz uma síntese das
diferenças teológicas entre eles, a qual se pretende destacar nesta pesquisa os quatros
principais. O pentecostalismo clássico quanto à questão do pecado a ênfase é no
arrependimento. A respeito de Jesus, Ele é Senhor e Salvador. A salvação pela graça com
regras. A Bíblia deve ser interpretada na literalidade. Já o neopentecostalismo estas
teologias sistemáticas são interpretadas de forma diferente. O tema pecado, a ênfase é na
ausência de culpa humana. Jesus é Salvador e Provedor. Já a salvação acontece pelo
sacrifício financeiro e o uso da Bíblia ocorre com parcialidade. Todas estas diferenças
teológicas são melhores compreendidas quando se analisa o ponto central do fazer teológico
desses dois pentecostalismos. A teologia do pentecostalismo clássico esta centrada na
pessoa e obra do Espírito Santo no processo de santificação e de glorificação. Já a teologia
do neopentecostalismo esta totalmente imergida na teologia da prosperidade.
As similaridades e diferenças teológicas nos pentecostalismos se formam devido à
diversidade religiosa. Diante deste cenário religioso destaca-se em todos os
pentecostalismos a experiência com o Espírito. Pommerening (2014) fala desta experiência
pneumatológica que sustenta a compreensão de fé pentecostal. Enfatiza a importância que
os pentecostais colocam na experiência do Espírito, visto que ela aponta caminhos
fundamentais de organização pessoal, familiar e social. Ainda destaca o conforto espiritual
do individuo, por meio de um sentimento de pertença. Moltmann (2010) também sustenta
essa ideia, que a experiência pessoal do Espírito é fundamental para a pessoa se sentir
amada e cuidada por Deus. A presença do Espírito advindos do êxtase e o empoderamento
espiritual somente podem ser percebidos perante a experiência. Outro aspecto de
similaridade entre os pentecostalismos que também esta imersa na experiência encontra-se
no Batismo no Espírito Santo. Para Campos (2002) a força do Espirito esta relacionada à
práxis pentecostal, que constitui poder a pessoa, para suplantar as condições que querem
desumanizar os seres humanos. Nos cultos de muitos pentecostalismos os dons espirituais
tem primazia e guia a vida de muitos pentecostais, principalmente por meio dos dons de
profecia. Souza (2004) diz que o movimento pentecostal na sua origem buscou os carismas
do Espírito Santo para a espiritualidade da igreja e o trabalho de evangelização. Já no
segundo momento, a ênfase foi colocada na cura e libertação. O autor termina destacando a
década de 80, que a operação do Espírito Santo liberta da pobreza, da miséria e da
depressão. Desta forma, as principais similaridades dos pentecostalismos podem ser
sintetizadas nas experiências do Espírito, no Batismo do Espírito Santo e nos dons espirituais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fenômeno pentecostal tem expirado muitos pesquisadores para o estudo dos
pentecostalismos. Esse campo religioso se apresenta ainda fértil, vigoroso e, em constante
crescimento. Toda essa força explica-se pela diversidade religiosa proporcionada pela
pentecostalidade do Espírito, em todos os momentos iluminados, mas também em períodos
de perseguições e sofrimentos, enfrentados pela Igreja Cristã no decorrer da história. O
pluralismo religioso e o sincretismo contribuíram de forma significativa para a expansão dos
pentecostalismos, visto que a sociedade contemporânea é plural e sincretista. O mover do
Espírito tem quebrado hegemonias de religiões fundamentalistas e opressoras, dando voz
aos marginalizados e excluídos. O Espírito da vida é especialista em transformar miséria em
bênção, sofrimento em alegria, perdição em salvação. Toda esta transformação deve ser
compreendida como imerecida, por meio da ação justificadora e regeneradora do Espírito
Santo. Já quanto à definição e classificação dos pentecostalismos, diante dos importantes
trabalhos de muitos pesquisadores, incide ainda um longo caminho que precisa ser
percorrido. O slogan principal para estes perseverantes da ciência deve ser este: “o Espírito
sofra onde quer”, visto que Ele é livre.
As similaridades e diferenças teológicas nos pentecostalismos estendem-se por via
da diversidade religiosa. Paradoxalmente a diversidade tem o poder de unir e separar. As
igualdades e as desigualdades no ser humano, em um sentido positivo são importantes para
a construção do sujeito. Ser igual e diferente torna-se fundamental para a multiplicação e
perpetuação da espécie. Homens e mulheres, seres iguais e diferentes que se unem com a
potencialidade de formar uma nova criatura. Desta maneira, o Espírito age na unidade do
ser, criando seres humanos diversos. A teologia nos pentecostalismos necessita dessa
sinergia do Espírito, focando principalmente nos aspectos teológicos vitais, como as
experiências, o Batismo do Espírito Santo e os dons espirituais, a qual proporciona a unidade
nos pentecostalismos, isto deve ocorrer sem comprometer a diversidade, visto que é através
dela que ocorre a propagação desta unidade. Este deve ser o principio norteador para o
desenvolvimento da teologia do Espírito Santo.
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