148

Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local
Page 2: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

1

Angela Maria Endlich

Márcio Mendes Rocha (organização)

Pequenas cidades e desenvolvimento local

2009

Page 3: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

2

Editoração e revisão gráfica

Pedro Henrique Carnevalli Fernandes

Ricardo Luis Töws

Conselho Editorial

Prof. Dr. César Miranda Mendes

Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos

Profa Dra Maria Terezinha Serafim Gomes

Profa Ms. Yolanda Shizue Aoki

As idéias expressas nos textos, a correção gramatical e

de normas técnicas são de responsabilidade dos respectivos

autores.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação

(CIP)

(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR.,

Brasil)

P425 Pequenas cidades e desenvolvimento local / Angela

Maria Endlich, Márcio Mendes Rocha(organização).

-- Maringá : PGE, 2009.

147 p.

Inicialmente apresentado no I Simpósio sobre

Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local, realizado

de 25-27 de agosto de 2008, organizado pela

Departamento de Geografia da Universidade Estadual

de Maringá.

ISBN 978-85-8788-422-0

1. Cidades e vilas. 2. Cidades e vilas -

Desenvolvimento. 3. Geografia urbana. 4. Espaço

geográfico. 5. Cidades e vilas - Urbanização. 6.

Política urbana. 7. Planejamento urbano. 8.

Urbanização. I. Endlich, Angela Maria, org. II.

Rocha, Márcio Mendes, org. III. Universidade

Estadual de Maringá. Departamento de Geografia. IV.

Título.

CDD 21.ed. 910.130776

307.76

307.762

Page 4: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

3

Agradecimentos

Foi fundamental o apoio financeiro da Fundação Araucária

tanto na realização do I Simpósio sobre pequenas cidades e

desenvolvimento local como para que esta publicação pudesse se

concretizar. Por isso, agradecemos as pessoas que fazem dessa

instituição uma realidade no Paraná.

Somos gratos pelo apoio institucional da Universidade

Estadual de Maringá, nos seus mais variados setores: PPG, DGE,

PGE, CCH, entre outros.

Agradecemos o apoio de nossos colegas e, por fim,

agradecemos especialmente aos nossos alunos que nos ajudam e

ao mesmo tempo nos motivam a continuar.

Page 5: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

4

Page 6: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

5

Há um vilarejo ali

Onde areja um vento bom Na varanda, quem descansa

Vê o horizonte deitar no chão

Toda gente cabe lá Palestina, Shangri-lá

Vem andar e voa Vem andar e voa Vem andar e voa

Lá o tempo espera

Lá é primavera Portas e janelas ficam sempre abertas

Pra sorte entrar [Excertos – Vilarejo/Marisa Monte]

Page 7: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

6

Page 8: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

7

SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................ 09

Qual o papel dos pequenos municípios

na escala local do desenvolvimento?

Rosa Moura ........................................................................................................ 15

Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana do norte

do Paraná

Tânia Maria Fresca ........................................................................................... 41

Pequeñas localidades y vaciamiento demográfico: desafíos y

oportunidades

Marcela Benitez ............................................................................................... 69

Desenvolvimento auto-gerido e trabalho

Marcelo Dornelis Carvalhal ............................................................................ 93

Pequeñas localidades. ¿camino hacia la entropía?

Juan Manuel Diez Tetamanti ....................................................................... 117

Pequeñas localidades, políticas públicas en la provincia de Buenos

Aires

Daniel Cárdenas, Jorge Sutil ....................................................................... 133

Page 9: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

8

Page 10: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

9

INTRODUÇÃO

Esta publicação resulta do I Simpósio sobre Pequenas Cidades e

Desenvolvimento Local, realizado em agosto de 2008, na Universidade

Estadual de Maringá. São alguns registros das mesas redondas,

conferências e trabalhos selecionados. Em convergência aos objetivos

do evento, pretendemos com essa coletânea de textos estimular o

debate acerca da realidade dos municípios com pequenas cidades e seus

numerosos desafios no século XXI. Ainda que o Brasil seja conhecido

pelas suas grandes cidades, há esta outra face do urbano brasileiro,

também notável, que diz respeito às pequenas cidades. Estas

localidades abrigam significativa parte da população brasileira e

constituem numerosos pontos de suporte territorial por todo o país.

Devem, portanto, constar das pautas acadêmicas e políticas como parte

da totalidade, pois constituem expressivas dimensões espaciais da vida

social e, por conseguinte, do planejamento e da gestão.

Tem sido comum entre os que procuram estudar as pequenas

cidades lamentar as poucas referências de estudos anteriores sobre o

tema. Entretanto, acompanhando a produção da pós-graduação

brasileira, em especial no campo da Geografia, assim como os eventos

realizados nos últimos anos, podemos assinalar que tal temática vem

ganhando destaque e aos poucos antigas lacunas na Geografia Urbana

brasileira vão sendo supridas.

O urbano não se compõe apenas das grandes aglomerações, pois

há um amplo e diverso conjunto de pequenas localidades cujos papéis

talvez não se revelem isoladamente, mas no conjunto da rede urbana.

São faces deste urbano cada vez mais multifacetado e contraditório.

Apesar da temática das pequenas cidades já estar fazendo parte

de forma mais efetiva da pauta acadêmica, o evento realizado em

Maringá foi o primeiro voltado de forma específica a esta questão. É

Page 11: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

10

preciso ressalvar que a realização desse simpósio não significa

defender a fragmentação da Geografia Urbana. Ao contrário, os mais

diversos tipos de localidades e expressões do urbano precisam ser

compreendidos de forma articulada. A realidade assim o exige. Contudo,

a realização de um evento mais específico, vem no sentido de somar,

criando oportunidades de intercâmbios e debates que permitirão

avançar de forma mais verticalizada quanto a esta temática. Apesar de

espaços aparentemente simples, as pequenas cidades constituem um

objeto de estudo bastante complexo, sobretudo porque apresentam

uma pluralidade imensa, que se verifica nas mais diversas regiões do

Brasil e do mundo.

Destacamos a pertinência da realização deste primeiro simpósio

na Universidade Estadual de Maringá, pois a região Norte do Paraná,

onde está inserida esta instituição, possui uma realidade socioespacial

que clama pela introdução deste tema no rol de estudos, principalmente

por dois motivos:

Há nesta região uma intensa presença de pequenas localidades

urbanas. Estas localidades representam uma herança histórica

regional, em especial a partir da inserção desta área ao mercado

mundial por meio da economia cafeeira.

As transformações verificadas posteriormente, sobremaneira a

partir da década de 1970, trouxeram muitas implicações que em

parte se expressam por meio do processo de declínio demográfico

em relação à população total na maioria dos municípios da região.

Deve-se registrar que tal fato ocorre especialmente nos municípios

polarizados por pequenas cidades, o que faz dessa uma questão da

Geografia Urbana, ainda que não exclusivamente dela.

De modo geral, as pequenas cidades estão por todo o território

brasileiro, mas é possível observar que em algumas regiões elas

aparecem com maior densidade. Este é o caso do setentrião paranaense.

Page 12: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

11

Obviamente, esta geografia não decorre do acaso. Está relacionada à

formação socioespacial da região que viabilizou, ainda que por apenas

algumas décadas (1930-1970), uma forma de produção no campo com

menor concentração fundiária que em outras áreas do Brasil, além do

uso intensivo do trabalho. A região contava, então, com uma alta

densidade demográfica, bem distribuída em seu interior. As pequenas

localidades, não obstante o exíguo território urbano e população,

funcionavam indubitavelmente como localidades centrais, fundamentais

para o funcionamento cotidiano da economia e da sociedade regional.

O mencionado declínio demográfico mostra que muito se

modificou. As transformações econômicas marcadas principalmente pela

crise da cafeicultura, sobretudo nos moldes em que ela se instalara na

região, trouxeram ampla mudança na composição da produção regional.

Houve concentração fundiária e o trabalho agora se realiza em grande

parte com a mecanização, absorvendo pequeno contingente de

trabalhadores. Isso alterou completamente o quadro regional assinalado

anteriormente e, por isso, parece premente a necessidade de repensar

que papéis representam na atualidade as pequenas localidades, tanto na

perspectiva econômica como na perspectiva social.

Tendo em vista esta problematização, aqui exposta de forma

muito breve, é que assinalamos que estudar as pequenas cidades não

corresponde a fazer apologias às mesmas. Trata-se de analisá-las

profundamente, focalizando tanto os processos que podem ser

verificados em âmbito regional e que nos fazem repensar os papéis

dessas localidades, quanto verificar na dinâmica local cotidiana,

expressões próprias do modo de produção capitalista. São, portanto,

dimensões do espaço que também revelam as contradições sociais. É

neste sentido que propomos a reflexão sobre as pequenas cidades.

Ainda assim, como o leitor pode perceber, nos valemos como

epígrafe desta publicação de excertos poéticos de Marisa Monte. A

Page 13: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

12

poesia pode se aproximar da apologia, contudo é possível reconhecer

nos versos apresentados atributos que permanecem nas pequenas

localidades e que trazem uma sociabilidade diferente. Elas preservam

dimensões mais humanas do tempo e do espaço. São estes ritmos e

espaços diferentes que nos ajudam a questionar as tendências e

expressões urbanas predominantes e a condição de vida que tem

representado.

Os dois primeiros textos: “Qual o papel dos pequenos municípios

na escala local do desenvolvimento?” (Rosa Moura) e “Redefinição dos

papéis das pequenas cidades na rede urbana do Norte do Paraná” (Tânia

Maria Fresca) são resultantes de exposições efetuadas na mesa

redonda: “Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana”.

São contribuições pensadas a partir de perspectivas diferentes no

sentido de caracterizar as pequenas localidades e como elas têm se

inserido e redefinido os seus papéis no âmbito de uma rede urbana cada

vez mais complexa.

Em seguida o texto “Pequenas localidades y vaciamento

demográfico: desafíos y oportunidades”, registra a conferência de

Marcela Benitez. Ela conta a experiência da criação de uma ONG

(Responde - Recuperación Social de Poblados Nacionales que

Desaparecen). A autora foi fundadora e atual diretora da instituição

que tem procurado diversas formas para apoiar pequenas localidades da

Argentina que correm risco de desaparecer devido ao processo de

perda populacional. Em tom de depoimento ela explica com detalhes a

formação da ONG, pensada a partir da elaboração de sua tese de

doutorado. O leitor encontrará no texto os desafios enfrentados, os

programas implementados, entre outros aspectos do trabalho

desenvolvido por Marcela Benitez e sua equipe na Argentina.

O texto “Desenvolvimento auto-gerido e trabalho” (Marcelo

Dornelis Carvalhal) resulta de exposição apresentada em sessão

Page 14: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

13

denominada: “Potencialidades e particularidades locais: um desafio de

desenvolvimento auto-gerido e auto-sustentado”. O autor traz

reflexões críticas sobre a questão do desenvolvimento pensada nos

marcos do capitalismo, principalmente tendo em consideração a recente

reestruturação deste modo de produção e as implicações que tal

processo tem representado para os trabalhadores.

Com os dois últimos textos, selecionados entre os trabalhos

apresentados no evento: “Pequeñas localidades. ¿camino hacia la

entropía?” (Juan Manuel Diez Tetamanti) e “Pequeñas localidades,

políticas públicas en la província de Buenos Aires” (Daniel Cárdenas e

Jorge Sutil) retornamos o olhar sobre a realidade Argentina.

Destacamos que, em comum com a realidade de diversas pequenas

localidades brasileiras, os trabalhos provenientes da Argentina expõem

a questão do intenso declínio demográfico que, conforme já mencionado,

igualmente tem se verificado nas pequenas localidades argentinas.

Estes dois últimos textos mostram outras análises e iniciativas no

sentido de atenuar esse processo de perda demográfica e abandono dos

“pueblos”, como é o caso da lei que procura amparar a promoção das

pequenas localidades da província de Buenos Aires, ancorada no

trabalho de uma instituição denominada “Uniendo Pueblo” como poderá

se verificar no último texto. Conhecer estas experiências representa

uma troca enriquecedora.

Esperamos deixar com essa publicação algumas contribuições e

idéias que possam iluminar tanto a continuidade dos estudos dos temas

expostos, bem como reflexões sobre possibilidades pragmáticas com

significativos alcances sociais que se revelam por meio de algumas ações

sinalizadas nos textos apresentados.

Angela Maria Endlich

Page 15: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

14

Page 16: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

15

QUAL O PAPEL DOS PEQUENOS MUNICÍPIOS NA ESCALA LOCAL DO

DESENVOLVIMENTO?

Rosa Moura1

Nas análises cuja unidade é o município, se o objetivo é avaliar

performances, sempre é destacada a categoria daqueles que participam

com maiores proporções na geração da renda, do emprego ou na

absorção da população residente. Também são ressaltados aqueles com

centralidade urbana de maior expressão, pela oferta de funções mais

complexas, representados pelo papel de pólos regionais ou sub-

regionais. Em qualquer dos casos, raramente se encontram, entre esses,

municípios de pequeno porte. Então, qual o papel a eles reservado na

dinâmica econômica ou na articulação da rede urbana, no caso de países

como o Brasil, onde a urbanização se fez elevando metrópoles e grandes

aglomerações?

Mais que isso, que são pequenos municípios? Partindo do

pressuposto de que à medida que os classifica é o tamanho da

população, qual corte os caracteriza? Os adjetivos "grande" ou

"pequeno" referem-se a uma situação relativa em um universo

específico, admitindo cortes distintos no caso de uma Unidade da

Federação ou do País.

Em face do tema proposto Redefinição dos papéis das pequenas

cidades na rede urbana, cabe ainda perguntar como se constituem

cidades nesse horizonte de pequenos municípios brasileiros? Em alguns

casos, há quem questione até se há urbano em sua constituição. E por

fim, que perspectivas de ascensão têm aquelas cidades situadas à

margem dos processos mais dinâmicos e como operam na escala local do

desenvolvimento?

1 Geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES);

pesquisadora do Observatório das Metrópoles/Instituto do Milênio - CNPq.

Page 17: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

16

Essas questões servem de ponto de partida para a presente

reflexão. Reflexão que será organizada discutindo brevemente a noção

de cidade, a opção pela unidade municipal de análise e o corte de

tamanho do que se pode considerar pequeno. Feitas essas delimitações,

buscará traçar um também breve perfil dos pequenos municípios na

distribuição da população, dinâmica do crescimento e geração de riqueza.

Por último, focará a discussão sobre a escala local do desenvolvimento,

particularmente no que concerne à convincente retórica da capacidade

endógena.

Cidade ou município?

Em muitos países da Europa, pequenos centros urbanos oferecem

as funções necessárias para um cotidiano auto-suficiente, com as

vantagens da tranqüilidade que os centros maiores perderam. Em países

subdesenvolvidos, há que se recorrer às metrópoles até para funções

fundamentais. Nesses, a delimitação do urbano de muitos municípios é

apenas uma lei que identifica um núcleo em um território ainda preso à

base produtiva e ao modo de vida rural. Por vezes, a agricultura local

envolve o pequeno conjunto de edificações desses núcleos, como que

querendo fazer parte dele, ou reclamando por ter sido apropriada.

Seriam esses núcleos cidades?

O conceito de cidade está vinculado à materialidade do espaço

construído, ao concreto, onde vivem os cidadãos, ao conjunto de infra-

estruturas, de equipamentos, enfim, de toda a materialidade que

permite a vida coletiva de um conjunto cada vez maior de cidadãos

coabitando (SOUZA, 1999). Está, também, sempre relacionado à idéia de

civilização (IANNI, 1999).

A cidade, na visão histórica dominante na economia política,

resulta do aprofundamento e expressa a divisão socioespacial do

trabalho em uma comunidade, para salientar o domínio da cidade sobre

Page 18: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

17

o campo, a partir do controle político. A produção é centrada no campo,

e a cidade, espaço não-produtivo privilegiado do poder político e

ideológico, retira do excedente nele produzido as condições de

reprodução da classe dominante e de seus servidores diretos (MONTE-

MÓR, 2006). Política, civilização e cidadania são conceitos que derivam

da forma e organização da cidade.

Sposito (2005) observa que o termo cidade é concomitantemente

um conceito descritivo, que permite apreender uma realidade material

concreta, e um conceito interpretativo, pois evoca um conjunto de

diversas funções sociais. Remy e Voyé (1994) complementam que o

conceito parte da definição do laço existente entre um tipo de

apropriação do espaço e uma dinâmica coletiva. Assim, a cidade surge

como uma unidade social que desempenha um papel privilegiado nas

trocas – materiais ou não – e em todas as atividades de direção, de

gestão e no processo de inovação. Lugar onde os vários grupos

encontram entre si possibilidades múltiplas de coexistência e de

intercâmbios, mediante a partilha legítima de um mesmo território.

Pode-se dizer que mesmo pequenos núcleos organizam-se para a

vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania.

Respeitadas as escalas, a densidade material ou a capacidade inovativa,

todos assumem um papel na divisão social do trabalho e têm uma

participação na teia da rede urbana. E são estruturadores da dinâmica

do território municipal como um todo e de suas relações com a região e

o Estado.

Distinguindo o espaço da cidade, mas reconhecendo sua

importância na dinâmica municipal, a opção pela análise foi o município,

posto que é sobre esta unidade que incide grande parte dos indicadores

selecionados para responder às questões às quais o tema remete. Como

parâmetro de distinção de "pequenos" no universo dos mais de 5 mil

municípios brasileiros, foram considerados aqueles com menos de 25 mil

Page 19: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

18

habitantes, última classe definida pelo IBGE para mapeamento relativo

à distribuição da população dos municípios do Brasil, em 2007. Sobre

essa classe foi procedido um segundo corte, dos municípios com menos

de 5 mil habitantes, dado que, além de ser significativo o número que se

inclui nessa classe de tamanho, atingindo no Brasil a ordem de 1.334,

esses municípios apresentam singularidades.

Distribuição e dinâmica de crescimento dos pequenos municípios

O universo de pequenos municípios em território brasileiro é

expressivo e, embora não respondam por grande proporção da

população, ocupam consideráveis extensões do território. Quase sempre

compõem áreas pouco densas, o que oferece condições para que

constituam cidades confortáveis à vida das populações.

Dos 5.565 municípios brasileiros, 78% possuem menos que 25 mil

habitantes, segundo a Contagem da População de 2007, realizada pelo

IBGE, sendo 54,1% na classe de população entre 5 e 25 mil habitantes e

24% naquela com menos que 5 mil (Tabela 1). Os primeiros ocupam

52,8% da área do Brasil, onde residem 19,9% da população total de

2007. Nos segundos, ocupando 7,1% da área, encontra-se 2,4% da

população.

TABELA 1 - NÚMERO DE MUNICÍPIOS, POPULAÇÃO E ÁREA, SEGUNDO

CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - BRASIL - 2007

CLASSE

(mil habitants)

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO 2007 ÁREA (%)

Número % Total %

>=500 36 0,6 53.750.924 29,2 0,6

>=100 A <500 217 3,9 44.818.152 24,4 4,8

>=50 A <100 314 5,6 21.826.290 11,9 13

>=25 A <50 656 11,8 22.393.214 12,2 21,7

>=5 A <25 3.008 54,1 36.609.950 19,9 52,8

<5 1.334 24,0 4.490.311 2,4 7,1

TOTAL DO

PAÍS

5.565 100,0 183.888.841 100,0 100,0

FONTE: IBGE

Page 20: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

19

Grande parcela da população brasileira se concentra nas classes

entre 100 e 500 mil habitantes (24,4%) e na superior (29,2%), com mais

de 500 mil habitantes (Gráfico 1). Nesta se distribui o maior

contingente populacional entre as classes definidas, o que demonstra

que seus 36 municípios seguem sendo os que mais concentram população

no País. Uma concentração que se manifesta em alta densidade e em

elevada geração de riqueza, como será abordado na seqüência.

(milhabitantes)

GRÁFICO 1 - INDICADORES POR CLASSE DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - BRASIL

%60

50

40

30

20

10

0

500500

50 a 25 a 5 a 5100 a100 50 25

Municípios

FONTE: IBGE

População 2007 PIB 2005

Verifica-se que, no Brasil, a relação existente entre número de

municípios é inversamente proporcional à concentração de

população/geração de riqueza. Guardando especificidades, o mesmo se

dá nas Unidades da Federação.

No Paraná, considerando seus 399 municípios, em 2007, 58,1%

enquadram-se na classe entre 5 e 25 mil habitantes; outros 25,1%, na

faixa dos menores que 5 mil habitantes (Tabela 2). Esses dois grupos

alcançam 83,2% do total de municípios, ocupam 69,9% da área do

Estado e abrigam 21,4% da população total de 2007.

Page 21: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

20

TABELA 2 - NÚMERO DE MUNICÍPIOS, ÁREA E POPULAÇÃO, SEGUNDO

CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - PARANÁ - 2007

CLASSE (mil habitantes) MUNICÍPIOS ÁREA

%

POPULAÇÃO 2007

Número % Total %

>=500 1 0,3 0,2 1.797.408 13,0

>=100 a <500 13 3,3 7,2 6.567.243 47,3

>=50 a <100 18 4,5 7,1 1.366.936 9,9

>=25 a <50 35 8,8 15,6 1.182.992 8,5

>=5 a <25 232 58,1 59,3 2.603.195 18,8

<5 100 25,1 10,6 356.587 2,6

TOTAL DO ESTADO 399 100,0 100,0 13.874.361 100,0

FONTE: IBGE

Há que se enfatizar que esses grupos conjugam o maior conjunto

de municípios e também a maior parcela territorial do Estado. Em

termos populacionais ficam muito abaixo do montante concentrado pelos

13 municípios da classe entre 100 e 500 mil habitantes, que respondem

por 47,3% da população total de 2007. Evidentemente, o caso extremo

é o de Curitiba, que numa fração de 0,2% da área (completamente

urbanizada) do Paraná adensa 13% de sua população. Mesmo assim,

2.959,8 mil habitantes do Paraná residem em pequenos municípios, o que

não pode ser considerado um contingente desprezível, já que

corresponde ao da população de muitos países da Europa.

Os municípios de maior porte populacional configuram as

principais centralidades do Estado. Em torno delas aglutinam-se

municípios de portes intermediários, formando e estendendo a

abrangência das aglomerações urbanas a porções territoriais cada vez

maiores (Mapa 1). Alguns desses correspondem a pólos sub-regionais ou

regionais. Os de menor porte ocupam todos os quadrantes do território,

embrenhando-se, inclusive, nas aglomerações urbanas.

Page 22: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

21

ESTADO DO PARANÁ

mapa 1

POPULAÇÃO TOTAL SEGUNDO CLASSES

DE TAMANHO DOS MUNICÍPIOS - 2007

FONTE: IBGE - Contagem da PopulaçãoBASE CARTOGRÁFICA: IAP (2004)

Mil habitantes

>= 250

>= 100 a < 250

>= 50 a < 100

>= 20 a < 50

>= 10 a < 20

< 10

É importante salientar que todo esse conjunto de municípios, e

não apenas aqueles localizados contiguamente às aglomerações urbanas,

embora aparentemente alheios ao processo concentrador do Estado e

do País, compartem o mesmo processo, já que está se consolidando uma

expansão horizontal da urbanização e do meio técnico-científico-

informacional, ou seja, da "modernização" do território.

A partir do momento em que o território brasileiro se

torna efetivamente integrado e se constitui como mercado

único, o que à primeira vista aparece como evolução

divergente é, na verdade, um movimento convergente. Há

uma lógica comum aos diversos subespaços. Essa lógica é

dada pela divisão territorial do trabalho em escala nacional,

que privilegia diferentemente cada fração em dado

momento de sua evolução. A lógica é comum, os resultados

regionais e locais são diferentes (SANTOS; SILVEIRA, 2001,

p.273-274).

Page 23: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

22

Assim, no reverso da concentração, um amplo espaço organiza-se

sob a mesma lógica, polarizado por centros e aglomerações. Ao redor

desses centros, a produção rural obedece às mesmas leis que regem os

aspectos da produção econômica como um todo. Segundo Santos e

Silveira (2001), os efeitos dessa difusão técnica também se fazem

perceber no surgimento ou na ampliação, em regiões mais dinâmicas, de

um conjunto de atividades e ocupações não-agrícolas, que colocam esses

espaços em outro patamar de articulação, no qual o rural não mais pode

ser visto simplesmente como fornecedor de produtos primários para os

centros urbanos.

Conseqüentemente, esse mundo rural modernizado esvazia-se de

grandes contingentes populacionais e isola pedaços do território,

incapazes de cumprir as exigências de uma produção que se opera sob

racionalidades externas. Observa-se, tanto no meio rural quanto em

pequenos núcleos urbanos, uma parcela da população residente

totalmente integrada – por meio dos circuitos de produção,

comunicações e transportes – ao mais avançado padrão de produção e

consumo ofertado pelos grandes centros. Ao mesmo tempo, nos grandes

e médios municípios, existem significativos contingentes populacionais

marginalizados do processo de modernização e geração de renda. São

uma expressão do atual ciclo da acumulação, que produz, em qualquer

porção do território, uma face moderna, de alta renda e complexidade,

e outra com características opostas.

Os pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento

bastante reduzida. Entre os 332 com menos de 25 mil habitantes em

2007, apenas 86 tiveram crescimento positivo da população nos

períodos 1991-2000 e 2000-2007, e 38 perdiam população no primeiro

período e passaram a crescer no segundo (Tabela 3). Mesmo assim,

crescimentos ínfimos, próximo ou abaixo do vegetativo. Entre os que

cresceram nos dois períodos, grande parte situa-se próximo ou insere-

Page 24: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

23

se nas aglomerações urbanas e centros regionais. É o que se observa

entre os que estão crescendo entre 2000-2007 a taxas superiores ao

dobro da média do Estado – Tunas do Paraná (7,70% ao ano),

Itaipulândia (3,5% a.a.), Mauá da Serra (2,9% a.a.), Cafelândia (2,4%

a.a.), Mandirituba (2,3% a.a.) e Pontal do Paraná (2,2% a.a.) – exceto

Tunas do Paraná, os demais apresentaram crescimento superior ao

dobro da média do Estado também no intervalo 1991-2000. Esses

municípios estão localizados no entorno da aglomeração metropolitana

de Curitiba e no das aglomerações urbanas de Londrina, Cascavel e Foz

do Iguaçu. Além desses, cresceram mais que o dobro da média do

Estado entre 2000 e 2007 os municípios de Ventania (3,8% a.a.),

Teixeira Soares (2,7% a.a.) e Imbaú (2,5% a.a.), num comportamento

que pode estar ligado a atividades específicas, até conjunturais, que não

garantem sustentar o crescimento da população no intervalo seguinte.

TABELA 3 - CONDIÇÃO DE CRESCIMENTO DOS

PEQUENOS MUNICÍPIOS - PARANÁ - 1991-2000 E 2000-

2007

CRESCIMENTO

1991-2000E 2000-2007

MUNICÍPIOS < 25 MIL

HABITANTES

Número %

Positivo / Positivo 86 25,9

Negativo / Positivo 38 11,4

Positivo / Negativo 51 15,4

Negativo / Negativo 157 47,3

FONTE: IBGE

Dos 332 municípios paranaenses com menos de 25 mil habitantes,

157 (47,3%) perderam população entre 1991-2000 e continuaram

perdendo entre 2000-2007; outros 51 (15,4%) ganhavam no primeiro

período e passaram a perder no segundo. Estes totalizam 62,7% dos

pequenos municípios, localizam-se afastados das aglomerações e

demonstram uma dinâmica de esvaziamento populacional (Mapa 2).

Page 25: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

24

ESTADO DO PARANÁ

mapa 2

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO

NOS PERÍODOS 1991/00 E 2000/07

FONTE: IBGEBASE CARTOGRÁFICA: IAP (2004)

Períodos

Cresce mais que a média do Estado

nos dois períodos

Cresce menos que a média no 1º e

mais que a média no 2º

Não cresce no 1º e cresce menos

que a média no 2º

Cresce mais que a média no 1º e

menos que a média no 2º

Cresce menos que a média nos

dois períodos

Cresce menos que a média no 1º e

não cresce no 2º ou não cresce em

nenhum período

Assim, salvo pequenos municípios inseridos nas dinâmicas das

aglomerações urbanas, os demais não vêm manifestando sinais de que

possuem atrativos a novos moradores ou de que contemplam as

exigências dos vários segmentos da própria população residente, que

migra em busca de oportunidades. Esta situação não é recente nem é

peculiar ao Paraná. Em IPARDES (2000), é salientado o intenso

movimento de concentração e esvaziamento que caracterizou a rede

urbana da Região Sul entre os anos 1970 e 1996.

Soma-se à fragilidade dos pequenos municípios já consolidados o

processo de desmembramento de novos pequenos municípios. Uma

retrospectiva dos desmembramentos municipais no Estado do Paraná, a

partir do Censo de 1970, registra que, nesse ano, o Paraná possuía 288

municípios, dos quais 224 tinham, em 2007, população inferior a 25 mil

habitantes; na década de 1970, houve dois desmembramentos, ambos

gerando municípios hoje com menos de 25 mil habitantes (Tabela 4). Na

década de 1980, foram desmembrados mais 33 municípios, dos quais 32

Page 26: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

25

encontram-se nessa faixa de população; e na de 1990, outros 76, sendo

74 com menos de 25 mil habitantes.

TABELA 4 - MUNICÍPIOS DESMEMBRADOS SEGUNDO

CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - PARANÁ - 1970/2007

CENSO

NÚMERO DE MUNICÍPIOS

Total <25 mil hab.

Em 2007

<5 mil hab.

em 2007

1970 288 224 50

Desmembrados até 1980 2 2 0

Desmembrados até 1991 33 32 7

Desmembrados até 2000 76 74 43

2007(1) 399 332 100 FONTE: IBGE

(1) Contagem da População.

Esse quadro mostra que recentemente houve uma proliferação de

pequenos municípios, e que, mesmo que tenham sido desmembrados com

uma população maior que a atual, a dinâmica de perda populacional ou a

estabilidade em faixas de tamanho mínimo acaba sendo a sua marca.

Inserção dos pequenos nas escalas da rede urbana

O estudo Regiões de Influência das Cidades (REGIC),

desenvolvido pelo IBGE, a partir da definição de um rol de bens e

serviços, mede o volume e a origem de sua procura. Os resultados dessa

medida traduzem a diferenciação entre as localidades centrais e

estabelecem a escala hierárquica dos centros urbanos brasileiros. Na

versão mais recente (IBGE, 2008), a hierarquia dos centros focou a

classificação na identificação dos principais centros responsáveis pela

gestão do território. Considerou também a intensidade de

relacionamentos entre centros e a dimensão da região de sua influência,

bem como as diferenciações regionais.

Page 27: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

26

Foi identificada, no Paraná, uma metrópole, conformada por

Curitiba e mais 13 municípios contíguos que compõem sua "área de

concentração de população"; quatro Capitais Regionais (Londrina,

Maringá e Cascavel, nível B, e Ponta Grossa, nível C); 14 Centros Sub-

regionais, sendo 10 de nível A e quatro de nível B; e 37 Centros de

Zona, sendo 15 de nível A e 22 de nível B. Além dessas classes, 318

municípios receberam a denominação de Centros Locais.

Comparando os tamanhos de população com as classes de centros,

observa-se que nenhum município com menos de 25 mil habitantes ocupa

as centralidades superiores da hierarquia. Passam a aparecer como

Centros de Zona A (Jandaia do Sul e Loanda) e Centros de Zona B

(Matinhos, Coronel Vivida, Andirá, Chopinzinho, Wenceslau Braz,

Siqueira Campos, Campina da Lagoa, Faxinal, Nova Londrina, Roncador,

São João do Ivaí, Paranacity e Barracão). Essa relação aponta a

presença de população como fator fundamental à dotação de funções

urbanas mais qualificadas, tornando os municípios menores dependentes

dos que apresentam maior nível de centralidade. Essa dependência

nominava uma das categorias da pesquisa similar realizada em 1978

(IBGE, 1987), que alocava o mais amplo conjunto de municípios na classe

dos "subordinados".

Vale lembrar que uma rede urbana hierarquizada espelha

justamente uma organização entre centros, na qual municípios

desempenham papéis específicos. Sistemas hierarquizados, na lógica,

não são excludentes, mas racionalizadores de funções e serviços. Isso

significa que estar em um nível de subordinação não corresponde a

estar à margem, mas, sim, estar integrado e beneficiado por tal ordem

hierárquica que pressupõe que as funções básicas permeiam todos os

integrantes da rede, enquanto as de maior complexidade, localizadas

nas centralidades principais, são acessáveis por todos.

Page 28: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

27

Resta saber se os pequenos municípios brasileiros efetivamente

respondem pelas funções básicas requeridas por sua população e se

viabilizam acesso a funções de maior complexidade ofertadas por

centros vizinhos. Enfim, se garantem condições para que se elevem os

patamares de urbanidade de seus moradores.

Inserção na divisão social do trabalho

A dinâmica de crescimento populacional dos pequenos municípios

reflete uma base produtiva que pouco oferta oportunidades de

trabalho. De fato, a expressividade na geração de riqueza se encontra

nas classes de tamanho com mais de 100 mil habitantes, que respondem

por 69% do produto interno bruto (PIB) de 2005 (proporção mais

elevada que a de população, que é 53,6% do total da população do

Brasil). Também no PIB da Indústria, municípios dessas classes se

destacam com uma participação de 66,3%. Mesmo assim, não é irrisória

a participação das classes com menos de 25 mil habitantes, perfazendo

13,3% do PIB total e 12,9% do PIB da Indústria (Tabela 5).

TABELA 5 - PARTICIPAÇÃO DAS CLASSES DE TAMANHO DA

POPULAÇÃO NO PIB TOTAL DA INDÚSTRIA E DA AGROPECUÁRIA -

BRASIL – 2005

CLASSES

(mil habitantes)

PIB 2005 (%)

Total Indústria Agropecuária

>=500 41,9 31,7 1,0

>=100 A <500 27,1 34,6 8,0

>=50 A <100 9,7 11,9 11,5

>=25 A <50 7,9 8,7 19,5

>=5 A <25 11,7 11,8 49,5

<5 1,6 1,1 10,5

TOTAL DO PAÍS 100,0 100,0 100,0

FONTE: IBGE

Page 29: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

28

Outra característica dos pequenos municípios quanto à

participação dos setores de atividade na composição do PIB está na

participação mais elevada dos serviços públicos na composição da renda

dos pequenos municípios (Gráfico 2). A participação desses serviços

decresce ao longo das classes de tamanho, mas torna-se outra vez

expressiva nos grandes, porém por motivo distinto: enquanto nos

pequenos municípios essa atividade se alimenta da presença da

"prefeitura" como grande ativador da economia, nos municípios das

classes superiores decorre da presença de empresas públicas,

autarquias, sede do governo, entre outras atividades que demarcam

funções que os caracterizam como centros de gestão do território.

GRÁFICO 2 - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E INDÚSTRIA NO PIB, POR CLASSE

TAMANHO DA POPULAÇÃO - BRASIL - 2005DE

Categoria

5

5 a

a

a

a

25

25 50

50

100

100

500

500

0%

Adm. Pública / PIB

FONTE: IBGE

Indústria / PIB Demais Atividades

20% 40% 60% 80% 100%

Mas é a participação no PIB da Agropecuária, atingindo 60%

entre os pequenos municípios, que coloca em destaque essas classes de

Page 30: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

29

municípios e demarca seu nítido e expressivo papel na inserção do País

na divisão social do trabalho. Papel que é ainda mais saliente no Paraná,

onde essas classes de municípios somam 66,6% do PIB da agropecuária;

somam também 13,5% do PIB total e 11,3% do da Indústria.

O perfil de participação desse estado em relação ao do Brasil tem

pequenas diferenças a serem consideradas. O Brasil ainda registra a

presença da classe com mais de 500 mil habitantes participando da

composição do PIB da Agropecuária, em 1%, enquanto no Paraná a

mesma classe alcança apenas 0,12%. O Brasil também supera o Paraná

na participação das classes intermediárias, entre 25 e 100 mil

habitantes, mas é superado por ele nas classes entre 100 e 500 mil e na de

5 a 25 mil habitantes (Gráfico 3). A classe dos menores que 5 mil

habitantes praticamente se iguala em ambos.

GRÁFICO 3 - PARTICIPAÇÃO DO PIB SETORIAL NO TOTAL DO SETOR, POR

DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - BRASIL E PARANÁ - 2005CLASSES

PR Agropecuária

BR Agropecuária

PR Indústria

BR Indústria

0% 20% 40% 60% 80% 100%

500 100 50500 100a a 5255 a25 a 50

FONTE: IBGE

Page 31: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

30

Ao mesmo tempo, o Paraná apresenta-se mais concentrador das

atividades produtivas urbanas nas classes de municípios com população

maior que 100 mil habitantes, que, com 60,3% da população, registram

mais de 70% do PIB total e do da Indústria no Estado. No caso da

concentração da atividade industrial em municípios com mais de 500 mil

habitantes, no Brasil há um relativo equilíbrio na participação dessa

classe e da entre 100 e 500 mil, com respectivamente 31,7% e 34,6%,

enquanto no Paraná, Curitiba, único município na classe superior,

responde por 12,5% do PIB da Indústria, e os municípios da classe

subseqüente por 61,9%.

Ao se voltar para a localização dos grandes estabelecimentos

industriais, constata-se que 42 dos 300 maiores estabelecimentos

industriais do Estado do Paraná, segundo faturamento em 2005, situam-

se em municípios com menos de 25 mil habitantes (Quadro 1). Grande

parte desses 42 estabelecimentos está em municípios situados em

aglomerações urbanas ou muito próximo a essas, sendo que nove estão

em pequenos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), dos

quais cinco em Quatro Barras – muito possivelmente como resultado de

sua posição estratégica junto à BR 116.

Page 32: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

31

QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS 300 MAIORES ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS DO

ESTADO, SEGUNDO MUNICÍPIOS COM MENOS DE 25 MIL HABITANTES - PARANÁ - 2005

MUNICÍPIO N.o

ESTAB. MUNICÍPIO N.o ESTAB.

MUNICÍPI

O

N.o

ESTAB.

Quatro Barras 5

Cidade Gaúcha 1

Mauá da

Serra 1

Balsa Nova 2

Coronel Domingos

Soares 1

Moreira

Sales 1

Carambeí 2

Itaipulândia 1

Nova

Londrina 1

Jandaia do Sul 2 Itapejara d'Oeste 1 Paranacity 1

Rondon 2 Ivaté 1 Piên 1

Andirá 1

Jaguapitã 1

São Carlos

do Ivaí 1

Araruna 1

Joaquim Távora 1

São Pedro

do Ivaí 1

Astorga 1 Lobato 1 Sengés 1

Cafelândia 1 Mallet 1 Tapejara 1

Cambará 1 Mandirituba 1 Turvo 1

Capanema 1 Matelândia 1 Ventania 1

Céu Azul 1 TOTAL 42

FONTE: SEFA

Os grandes estabelecimentos distribuídos em pequenos

municípios do interior do Estado vinculam-se, majoritariamente, à cadeia

agroindustrial alimentar. Sua presença, muitas vezes, determina a rotina

diária desses municípios.

Segundo Santos e Silveira (2001, p.298), muitas empresas criam

uma ordem para si e a desordem para o resto, gerando a "instabilidade

do território". Instabilidade que marca "as relações da empresa com

seu entorno, isto é, com outras empresas, as instituições e o próprio

território, já que existe uma contínua necessidade de readaptação ao

mercado e ao seu entorno". Conforme os autores, ocorre a criação de

um "espaço nacional da economia internacional" (Op.cit, p.257), ou seja,

a organização do espaço para servir às grandes empresas hegemônicas,

o que faz com que o território – seja a Nação, mas também os estados

Page 33: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

32

ou municípios – pague "por isso um preço, tornando-se fragmentado,

incoerente, anárquico para todos os demais atores". (Op.cit, p.258).

Os pequenos municípios sofrem mais fortemente esses efeitos,

pela dificuldade de contrabalançar com outras atividades o poder

hegemônico dos grandes estabelecimentos, e mesmo de exercer sobre

eles o controle que faz parte de suas competências.

A escala local do desenvolvimento

Na esfera acadêmica e dos formuladores de políticas públicas,

nas últimas décadas vem preponderando uma retórica sobre a

virtuosidade da capacidade endógena dos municípios. Em sua essência,

essa retórica contém alguns equívocos, o que exige um distanciamento

crítico de certas correntes. A ênfase localista, em concepções de

"endogenia exagerada" que exaltam a escala local como se a mesma

tivesse poderes ilimitados (VAINER, 2002; BRANDÃO, 2003), negligencia

questões estruturais do País e região e subestima os limites colocados à

regulação local.

O neolocalismo competitivo, que sustenta essa noção, organiza-se,

salvo exceções, a partir de posições adquiridas ou pretendidas em

circuitos produtivos que, de maneira direta ou indireta, conectam-se

verticalmente às escalas nacional e global. A escala local passa a operar

sob um voluntarismo que cristaliza o que Brandão (2004) chama de um

verdadeiro "pensamento único localista", que numa simplificação

ideológica desqualifica o dissenso e a análise crítica e dissemina a

crença de que a escala menor é capaz de estruturar a força sinérgica

comunitária para a promoção do desenvolvimento. Muitas ações podem

ser articuladas no âmbito local, mas este tem limites que devem ser

considerados nas políticas de desenvolvimento.

Page 34: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

33

A doutrina que o neolocalismo apregoa não explicita que é

transferida para o governo local a atribuição de cumprir de maneira

vantajosa as tradicionais funções garantidoras da acumulação do

capital, antes nas mãos dos Estados-Nacionais. Em seu uso abusivo de

instrumentos que estruturam o planejamento estratégico, como o city

marketing, os projetos urbanos desarticulados das necessidades sociais

locais, a engenharia do consenso, dão força à produtivização, mercan-

tilização e empresariamento urbano. Instrumentos cuja adoção vem da

necessidade de estabelecer uma analogia entre empresas capitalistas,

concorrendo num mercado livre, e cidades e regiões, competindo num

mercado globalizado de localizações (BRANDÃO, 2007).

Um dos grandes equívocos das correntes que apregoam essa

doutrina está em exaltar as potencialidades de uma única escala espacial,

enquanto o desenvolvimento só se constrói em políticas que articulem suas

várias escalas. Ignoram que o comando de muitos processos,

determinações, instrumentos e políticas reside em outras escalas

espaciais que não a local, e que, nesta, o êxito pode se dar em áreas

restritas, engendrando soluções parciais, sem se difundir pelo

território; em "focos de prosperidade", como experiências

intransferíveis (BRANDÃO, 2007).

Com isso, negam as questões estruturais do processo de

desenvolvimento e sua complexidade escalar e incitam a guerra dos

lugares, reduzindo o território municipal a uma plataforma vantajosa a

investidores. A ação pública passa a subsidiar grandes

empreendimentos privados, direcionando a atração de investimentos,

muitas vezes passageiros, os escassos orçamentos públicos,

fundamentalmente compostos por transferências de recursos do Fundo

de Participação dos Municípios, deixando de realizar necessários gastos

sociais.

Page 35: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

34

Clusters, sistemas de inovação, incubadoras, novos distritos

industriais, empreendedorismo, voluntarismo, microiniciativas, arranjos

produtivos locais (APLs) tornam-se palavras de ordem ao

desenvolvimento. No entanto, enquanto práticas isoladas, encontram

restrições em avançar sobre seu hinterland, principalmente em

municípios de regiões periféricas. Evidentemente que há exceções,

como no próprio Norte Central paranaense, entre outros casos

exemplares o APL moveleiro de Arapongas, que se disseminou por

municípios vizinhos, agregando um número crescente de empresas,

gerando milhares de empregos diretos e indiretos.

Mas, de modo geral, resultam na perda da visão de totalidade, na

fragmentação e esvaziamento da esfera pública, na gestão estratégica

em moldes empresariais como substituta do planejamento e da

formulação de políticas públicas. O Estado é transformado em mero

animador dos empreendedores, facilitador de suas vontades, relegando

o compromisso com a coletividade local (BRANDÃO, 2007).

Operam, de fato, a geração de consensos em substituição à ação

planejada do Estado. De modo contundente, fazem o "desenvolvimento

endógeno, integrado e sustentável" surgir como uma promessa, omitindo

sua essência como parte de um pacote ideológico, teórico, metodológico,

coerente e fechado.

Desafios

A dinâmica engendrada pelo modelo de desenvolvimento adotado

no País desenha um território concentrado, heterogêneo, com partes

menos ou mais integradas, espelhando os movimentos do capital no espaço

na busca seletiva de mercados e localizações (IPARDES, 2005).

Dinâmica que exclui segmentos e municípios, particularmente pequenos;

e que organiza, ao seu modo, a distribuição da atividade econômica. Em

Page 36: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

35

nenhuma hipótese tais segmentos e municípios estão dissociados dos

espaços economicamente relevantes, colocando-se em posições limites a

esses e, também, permeando-os, participando, em grande medida, de

sua dinâmica como periferias.

Os dados analisados demonstraram que os pequenos municípios

constituem uma parcela significativa do território nacional e estadual

voltada à produção agropecuária, que abrigam elevado contingente da

população, e que têm importante papel na inserção do País e do Estado

na divisão social do trabalho.

Como integrá-los, então, a dinâmicas mais geradoras de

externalidades, que reforcem suas qualidades urbanas de modo a que

sustentem suas populações residentes, assegurando-lhes padrões

socioculturais mais elevados? Como superar as dificuldades, de várias

naturezas, relacionadas à oferta de serviços públicos, à fragilidade

administrativa e à situação financeira debilitada de muitos dos pequenos

municípios? Como articulá-los ao processo de desenvolvimento, explorando

as possibilidades e diversidades latentes à escala local, e valorizando

seu papel na necessária ação transescalar?

O grande desafio é superar a prevalência da competição sobre a

cooperação entre municípios, tornando claras as regras e mecanismos

de regulação dos processos conflituosos entre entes da federação

(GALVÃO, 2005). Ou seja, desnaturalizar a guerra de lugares, que se

colocou no vácuo de políticas territoriais nas escalas federal e estadual,

e permitiu que se fortalecessem novas formas de articulação entre

capitais e forças políticas, aprofundando os processos de fragmentação

territorial.

Para superar a perversidade de seus resultados ao território,

tornam-se imprescindíveis medidas no âmbito do planejamento para o

desenvolvimento regional, assim como a valorização da escala supralocal,

Page 37: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

36

complexa, porém necessária para suprir as disfunções de competências

limitadas e/ou superpostas.

Para Galvão (2005, p.41), as desigualdades sociais e regionais

submetem a unidade nacional, "provocando tensões e paralisias que

podem arrefecer o ímpeto do desenvolvimento e dissipar

solidariedades. Vistas em perspectiva dinâmica, as desigualdades

atestam uma fragilidade constitutiva do arranjo político-territorial,

reclamando mudanças nos sistemas políticos e estratégias

governamentais." Torna-se inequívoca a necessidade do pacto

federativo, no qual o Estado nacional se estruture de forma que

permita a convivência de um poder central forte e articulado com entes

federados dotados de autonomia, recursos e atribuições relevantes, e

que concilie essas múltiplas instâncias político-administrativas, segundo

cortes justapostos de abrangência jurisdicional territorial; um modelo de

difusão de poderes, no qual a União passe a conviver com o

contraditório, sem romper sua unidade.

É necessário também criar articulações intermunicipais: consórcios,

associações, agências, fóruns, redes, câmaras intermunicipais, que

auxiliem na solução de problemas comuns, e ter claras, na cooperação,

as responsabilidades, evitando a subordinação dos mais fracos pelos

mais fortes, pois a cooperação implica (re)definição do poder.

No âmbito estadual, a adoção de uma política de desconcentração

econômica emerge como importante medida, não somente para aliviar a

pressão por infra-estrutura e serviços públicos, tanto do setor

produtivo, quanto por parte da população, mas, principalmente, para

melhor aproveitar a potencialidade produtiva das demais porções do

Paraná. Aos pequenos municípios é fundamental o apoio e fortalecimento

das atividades existentes, como também o adensamento das cadeias

produtivas.

Page 38: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

37

Em espacialidades socialmente críticas, conforme IPARDES

(2005), representativas do fato estrutural próprio da dinâmica seletiva

da expansão do capital, a defasagem no desenvolvimento é um processo

que, permanecendo o quadro atual, tende a se perpetuar, ampliando sua

desigualdade em relação a outras áreas do Estado. Demandam, como

medida emergencial, a convergência de programas em curso e de outros

em formulação, coordenados articuladamente, numa ação conjunta com

as organizações locais já existentes. Tal convergência deve priorizar

não só a redução da vulnerabilidade social da população, mas também o

fortalecimento e dinamização das economias locais.

Para conquistar esses desafios, outro, ainda mais importante,

amplamente discutido por Brandão (2007), deve ser perseguido: suprir

a ausência de um projeto nacional de desenvolvimento e resgatar o

território em sua totalidade. Nessa direção, é preciso reconstituir

espaços públicos e canais de participação; criar "arenas" diversas que

possam aglutinar e dar vazão à diversidade de reivindicações e

interesses; e, em vez de consensos, garantir transparência aos

conflitos, buscando coesão e solidariedade no sentido do

desenvolvimento.

Um projeto democrático, como propõe Vainer (2008), no qual as

opções sobre os destinos do território sejam passíveis de debates e

embates, nas múltiplas escalas. Ou seja, um projeto transescalar,

concebendo e implementando políticas, planos e práticas que combinem

e articulem múltiplas escalas, "local, regional, nacional, continental,

internacional; que promova a redistribuição territorial e social de

recursos – materiais, políticos e simbólicos; que combine redução das

desigualdades territoriais com a redução das desigualdades sociais".

Para alcançar esse desafio, é urgente resgatar a credibilidade na

função do Estado, esgarçada pelo projeto neoliberal – já ciente do

próprio erro –, e revalorizar o papel do poder público para incentivar e

Page 39: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

38

possibilitar a discussão democrática, com transparência, presença,

fiscalização e monitoramento permanente, fortalecendo suas

atribuições quanto a impor e fazer cumprir sanções e benefícios.

E, como recomenda Santos (1999, 2000), é preciso romper as

fabulações que naturalizam práticas, discursos, pensamentos e teorias

que se colocam na direção contrária dos interesses coletivos. Isso exige

compreender os determinantes da lógica de acumulação do capital e

seus verdadeiros interesses; admitir que o sistema aperfeiçoa seus

instrumentos de ação, e mobiliza a diversidade social e material

exclusivamente em seu favor; e que a sociedade, na miríade de seus

segmentos, pode articular forças em contra-racionalidades e

racionalidades paralelas capazes de enfrentar as perversidades dos

interesses hegemônicos.

Page 40: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

39

Referências

BRANDÃO, C. A. O modo trans-escalar de análise e de intervenção

pública: notas para um manifesto anti-localista. In: Encontro Nacional

da Anpur, 10, 2003, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: ANPUR,

2003.

___. Teorias, estratégias e políticas regionais e urbanas recentes:

anotações para uma agenda do desenvolvimento territorializado.

Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba: IPARDES, n.107,

p.55-74, jul./dez. 2004.

___. Território & desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e

o global. Campinas: UNICAMP, 2007.

GALVÃO, A. C. F. Desenvolvimento regional e inovação como instrumentos

fundamentais para o desenvolvimento brasileiro. In: CURSO GOVERNANÇA

DEMOCRÁTICA, 2005, Curitiba. Geopolítica e desenvolvimento regional.

Curitiba, IPARDES, 2005. p. 51-74. Disponível em:

<http://www.ipardes.gov.br/pdf/cursos_eventos/governanca_2005/gov

ernanca_2005_apostila_02.pdf> Acesso em: 09/2008.

IANNI, O. Cidade e modernidade. In: SOUZA, M. A. A. de et al.

Metrópole e globalização: conhecendo a cidade de São Paulo. São Paulo:

CEDESP, 1999.

IBGE. Contagem da População. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

IBGE. Regiões de influência das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 1987.

IBGE. Regiões de influência das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

IPARDES. Redes urbanas regionais: Sul. Brasília: IPEA, 2000. (Série

caracterização e tendências da rede urbana do Brasil, 6). Convênio

IPEA, IBGE, UNICAMP/IE/NESUR, IPARDES, 2000.

IPARDES. Os vários Paranás: estudos socioeconômico-institucionais

como subsídio aos planos de desenvolvimento regional. Curitiba:

IPARDES, 2005. Mapas e tabelas anexas. Disponível em:

Page 41: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

40

<http://www.ipardes.gov.br/pdf/publicacoes/varios_paranas.pdf>.

Acesso em: 04/2006.

MONTE-MÓR, R. L. de M. O que é o urbano no mundo contemporâneo.

Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2006. (Texto para discussão, 281).

REMY, J.; VOYÉ, L. A cidade: rumo a uma nova definição? Porto:

Afrontamento, 1994.

SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.

___. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed.

São Paulo: Hucitec, 1999.

SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início

do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SOUZA, M. A. A. de. A metrópole global? Refletindo sobre São Paulo.

In.: SOUZA, M.A.A. de et al. Metrópole e globalização: conhecendo a

cidade de São Paulo. São Paulo: CEDESP, 1999.

SPOSITO, M. E. B. O chão em pedaços: urbanização, economia e cidades

no Estado de São Paulo. Presidente Prudente, 2005. Tese (Livre

Docência) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP.

VAINER, C. B. As escalas do poder e o poder das escalas: o que pode o

poder local? IPPUR. Planejamento e território: ensaios sobre a

desigualdade. Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, v. 15/16, n.1/2, p. 13-32,

ago./dez. 2001-jan./jul., 2002.

___. Fragmentação e projeto nacional: desafios para o planejamento

territorial. Curitiba: Ambiens Cooperativa, 2008. Apresentado ao

Seminário Política e Planejamento: Economia, Sociedade e Território

(PPLA). Tema "Estado e Lutas Sociais: intervenções e disputas no

território".

Page 42: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

41

REDEFINIÇÃO DOS PAPÉIS DAS PEQUENAS CIDADES NA REDE URBANA DO

NORTE DO PARANÁ

Tania Maria Fresca2

Introdução

Só muito recentemente pesquisadores das mais diversas ciências

redescobriram as cidades pequenas e passaram a estudar a importância,

o significado e sua representação social, econômica e cultural no

contexto da urbanização brasileira. Foi no início dos anos de 1990 que

ocorreu certa retomada das discussões sobre redes urbanas e estas

cidades, até então pouco privilegiados nas pesquisas geográficas.

Trabalhos estes que foram realizados a partir da análise da inserção

dos núcleos em redes urbanas regionais e proliferaram no contexto das

reflexões sobre a necessidade de se estudar cidades de nível não

metropolitano. Expandiram-se os estudos sobre as cidades pequenas,

haja vista que a intensificação da reestruturação produtiva impôs para

estas, outras demandas que possibilitaram o desempenho de novas

centralidades no contexto das redes urbanas. E aqui reside um

elemento fundamental para tais estudos, que é a inserção das cidades

pequenas em redes urbanas como caminho profícuo ao seu

entendimento.

Esta retomada nos estudos sobre cidades pequenas tem a ver

com as intensas modificações na organização sócio-espacial brasileira

que provocaram transformações em redes urbanas; que permitiram

realização de novos papéis nestas cidades; que possibilitaram às

2 Professora do Departamento de Geociências - Universidade Estadual de Londrina.

[email protected]

Page 43: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

42

mesmas tornarem-se lócus privilegiado da realização de uma parcela da

produção propriamente dita; que permitiram a inserção das mesmas em

interações espaciais de grande alcance; enfim a redescoberta destas

cidades como uma particularidade da urbanização brasileira.

O trabalho está dividido em três partes. Inicia com uma

discussão sobre redes urbanas, já que esta é uma das dimensões

espaciais para a análise das cidades pequenas; seguidamente discute-se

o conceito de cidades pequenas e por fim, discutem-se caminhos da re-

inserção de núcleos locais na rede urbana norte-paranaense.

Rede Urbana Brasileira: complexificação

Os estudos sobre redes urbanas tem sido uma temática bastante

trabalhada na geografia, especialmente após a Segunda Guerra Mundial,

quando foi introduzida no país durante a realização do Congresso da

UGI em 1956. Conceito este ligado à teoria de Walter Christaller, mas

que ganhou rapidamente alguns avanços por intermédio de Michel

Rochefort, que propôs o uso da telefonia como um dos serviços que

poderia permitir entender a área de influência de uma cidade,

articulada aos diferentes ramos de atividades econômicas.

A rede urbana deve ser entendida como um conjunto de centros

funcionalmente articulados conforme Corrêa (1989, p.8), refletindo e

condicionando as transformações econômico-sociais da sociedade. A

gênese e a dinâmica de uma rede urbana estão inseridas no processo

histórico que lhe atribui uma natureza eminentemente social e a torna

uma dimensão sócio-espacial da sociedade, refletindo e condicionando

essa mesma sociedade que a engendrou. Para o autor citado a rede é

“[...] um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel é o

de, através de interações espaciais, articular toda a sociedade numa

Page 44: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

43

dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução”

(CORRÊA, 1997, p. 93).

Ao mesmo tempo em que a rede urbana é uma dimensão sócio-

espacial da sociedade ou uma estrutura territorial, por intermédio

desta verificam-se processos de criação, apropriação e circulação do

excedente socialmente produzido, frequentemente alterados já que

interligados à divisão territorial do trabalho que também passa por

constantes mudanças. Com base em Corrêa (1989, p. 48) pode-se

entender que “[...]a rede urbana constitui-se simultaneamente em um

reflexo e uma condição para a divisão territorial do trabalho”. Isto

porque a rede traduz os arranjos distintos referenciados ao processo

de ocupação do território pela sociedade e pelas intensas e sucessivas

transformações que ocorrem. Simultaneamente é condição para a

divisão do trabalho, pois define os pontos focais da vida de relações e

as vias de tráfego por onde os fluxos diversos são estabelecidos e

possibilitam a criação e transformação constante e desigual de

atividades e cidades.

Por intermédio de funções articuladas como comércio atacadista

e varejista, bancos, indústrias, transportes, armazenagem, educação,

saúde, etc, as cidades da rede tornam-se uma condição para a divisão

territorial do trabalho. Isto porque as cidades que integram uma rede

urbana são articuladas por diversos sistemas de transportes,

comunicações e informações internas e externas que viabilizam as

condições necessárias para a produção, distribuição, circulação e

consumo.

A rede urbana possibilita reinvestimentos do excedente

acumulado em novas atividades produtivas quer sejam urbanas ou rurais

para que se amplie a reprodução do capital e novos excedentes sejam

gerados (CORRÊA, 1989). Reinvestimentos que pressupõe a existência

de fluxos diversos envolvendo pessoas, bens e serviços, idéias, ordens,

Page 45: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

44

ideologias, etc, e a existência de vários pontos no território ou centros

urbanos de uma rede onde se verificam os processos de tomada de

decisões, armazenamento, vendas atacadistas, localizações industriais,

prestação de serviços diversos, dentre outros.

No entanto, segundo Fresca (2002) o excedente acumulado e a

correspondente possibilidade de re-inversão em esferas produtivas não

ocorrem de maneira homogênea, mas sim de forma desigual em uma

rede urbana posto que ela também é internamente diferenciada. A

desigualdade de investimentos privilegia alguns núcleos urbanos em

detrimento de outros, implicando em diferenciações cada vez mais

acentuadas. Alguns núcleos de uma rede tornam-se capazes de

apropriar, por processos, mecanismos e agentes diversos, de parcela do

valor excedente que circula e criar novos valores (CORRÊA, 1989).

Outros têm menores possibilidades de apropriação do valor excedente

face a localizações, oferta de infra-estrutura, mão-de-obra, dentre

outros, tornando-se lugares de intensa perda do mesmo, aí

permanecendo pequena parcela da mais-valia oriunda de uma força de

trabalho com baixos salários.

Enquanto uma dimensão sócio-espacial da sociedade, sua análise

pode ser realizada através das categorias estrutura, processo, função e

forma (SANTOS, 1985), como uma possibilidade de entendimento da

rede enquanto particularidade do espaço considerado em sua

totalidade. Por intermédio dessas categorias, é possível entender a

rede urbana como uma forma espacial, através da qual funções se

realizam, emanadas de processos sociais que assumem características

específicas na estrutura capitalista.

A rede urbana apresenta uma diversidade de centros urbanos que

vão desde aqueles com nível de centralidade muito fraco e cuja área de

influência é bastante reduzida com alguns municípios em seu entorno,

até aqueles com nível forte, muito forte ou máximo, dependendo da

Page 46: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

45

escala de análise e da complexidade da rede urbana em estudo. Pode

ainda ser caracterizada por uma complexificação, vinculada a

intensificação dos processos de produção, circulação e consumo. Na

medida em que processos gerais foram incidindo na rede, emergiu uma

heterogeneidade que antes não estava presente e onde o que mais se

ressalta é a continuidade da diferenciação e redefinição dos lugares.

É necessário considerar a sua inserção na divisão territorial do

trabalho, articulando-se aos processos de modernização da agricultura

brasileira que ao atingir municípios de uma rede podem provocam uma

diversidade produtiva, tendo como uma de suas expressões a

implantação de complexos agroindustriais submetidos à lógica da

produção e reprodução do capital industrial.

Esta modernização que não foi extensiva a toda a rede brasileira,

deixando à margem áreas que não garantiam e garantem neste

momento, condições vantajosas para taxas de lucratividade mediante

inversões realizadas. Estas áreas estão à espera de terem suas

potencialidades valorizadas pela incidência de outros processos, que

gerarão outras singularidades.

Outro aspecto fundamental são as implicações que esta

modernização do campo trouxe para a dinâmica populacional, onde se

ressalta o esvaziamento demográfico do campo. Os fluxos populacionais

dirigem-se para as mais distintas áreas, mas vinculados em grande

parte à procura de emprego em cidades diversas, de níveis de

centralidade diferentes.

Do ponto de vista da produção propriamente dita, outras

emergiram ou foram ampliadas para as cidades da rede, como a

produção industrial. A intensificação do processo de industrialização

ocorreu em linhas gerais, a partir dos anos de 1970 quando da

aceleração das transformações do campo. Num quadro de completa

desestruturação de uma dada produção e de processos gerais atingindo

Page 47: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

46

os mais distintos lugares, houve tendência a um início ou aceleração da

industrialização em cidades onde condições de múltiplas ordens o

permitiram.

Condições estas que se referem à noção de contingência,

entendida como a seleção de uma das múltiplas necessidades de

realização de processos gerais, levando-se em conta as heranças do

passado, e o envolvimento de agentes externos e internos ao lugar.

Neste encaminhamento há que ser referida a percepção e ação de

agentes locais em valorizar e dar maior importância a estes lugares,

tornando-se capazes de dar rumos diferentes às cidades. Isto é

importante, porque a industrialização instaurada em distintas cidades

da rede urbana nacional não foi resultado apenas da transferência de

setores paulistas, ou comandada pela indústria paulista, mas um

desenvolvimento próprio que para alguns setores acabou se tornando,

inclusive, competitivo com aquele similar metropolitano paulista.

Simultaneamente a esta densidade produtiva, ocorreu ainda a

melhoria geral da circulação, enquanto etapa necessária entre produção,

distribuição e consumo. No momento atual do desenvolvimento do

capitalismo pautado em uma maior concentração e centralização do

capital, para o qual são criados eficientes sistemas de transporte,

comunicação e informação. Estas estruturas passaram por avanços

permitindo maior fluidez e flexibilidade na circulação de pessoas,

mercadorias, capital, idéias, valores etc. Não somente sistemas técnicos

de outro momento histórico, como os mais recentes a exemplo das

redes de telecomunicações e informações que permitem aos processos

de múltiplas ordens, suas viabilizações.

O que ocorreu foi uma crescente complexidade funcional dos

centros urbanos traduzida agora em enormes diferenciações entre as

cidades, manifesta na emergência de cidades especializadas – tanto em

produção industrial como em serviços – na transformação de núcleos em

Page 48: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

47

reservatórios de força de trabalho rural; em cidades que se colocaram

como reguladoras e controladoras de parte da produção agrícola, em

metrópoles, em cidades que gradativamente ganharam novas funções

vinculadas ao comércio e serviços. Outros centros perderam parte de

suas funções e potencialidades funcionais latentes emergiram ou foram

criadas. (CORRÊA, 1997).

Pequenas Cidades no Contexto da Rede Urbana: uma discussão

Como a preocupação no presente trabalho são as pequenas

cidades, necessário se torna explicitar a concepção aqui adotada. Quais

elementos podem ser utilizados para caracterizar uma cidade como

sendo pequena? A palavra pequena é um adjetivo, que remete à noção de

tamanho, dimensão e no caso das cidades, uma associação entre pequeno

número de habitantes com pequena área - no sentido mensurável -

ocupada por uma cidade.

Ao utilizar-se de os dados populacionais como um caminho para

caracterizar uma cidade como sendo pequena, incorre-se no risco de

igualar cidades que na sua essência são diferentes. Em outras palavras,

o número de habitantes como variável utilizada resultará em considerar

cidades com populações similares como sendo pequenas, mas não se

levará em conta as especificidades de cada uma delas. Não permitirá

que se entenda as diferentes inserções de cada núcleo urbano nas

redes ou região, impedindo que se entenda seus papéis, suas áreas de

influência, suas integrações internas e externas às redes, dentre

outros aspectos fundamentais para a consideração de uma cidade como

sendo pequena. Evidente que dependendo do estudo e objetivos, nada

impede que se utilize a variável número de habitantes, mas há que se

fazer as ressalvas necessárias, acorde aos objetivos estabelecidos na

pesquisa.

Page 49: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

48

Para tanto, parte-se da concepção de Santos (1982, p. 71) quando

nos fala da existência de uma dimensão mínima “[...] a partir da qual as

aglomerações de população deixam de servir às necessidades da

atividade primária para servir às necessidades inadiáveis da população

com verdadeiras especializações do espaço”. É preciso que se encontre

o fundamento, o limite mínimo de “[...] complexidade das atividades

urbanas capazes de [...] garantir ao mesmo tempo um crescimento auto-

sustentado e um domínio territorial” (SANTOS, 1982, p. 70). Assim, a

cidade local como sendo a de menor complexidade acaba por responder

“[...] às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma

população, função esta que implica uma vida de relações” (SANTOS,

1982, p. 71). Caso contrário, Santos (1982, p. 71) nos coloca que

estaríamos trabalhando com pseudo-cidades.

Para Fresca (2001, p. 28) este posicionamento permite entender

a dimensão mínima a partir da qual é possível falar de uma verdadeira

cidade, mas isto remete à complexidade das condições e elementos para

considerar uma cidade como sendo pequena. A partir do nível mínimo de

atividades acima exposto, há uma diversidade significativa de cidades,

cuja complexidade de atividades urbanas extrapola o denominado nível

mínimo. Mas isto não gera elementos necessários para que as mesmas

possam ser consideradas cidades intermediárias ou metrópoles,

significando que mesmo tendo certa complexidade de atividades

urbanas acima do nível mínimo, continuam sendo pequenas comparativas

às anteriormente referidas. E aqui reside razão para o uso da

expressão cidade pequena ao invés de cidades locais.

Neste grupo de cidades pode-se encontrar desde aquelas com

limite mínimo de complexidade de atividades urbanas, até aquelas onde

funções urbanas são mais complexas, refletindo inclusive, diferenças do

ponto de vista populacional, manifestando realidades muito distintas

(FRESCA, 2001). Desta forma, a autora considera que para se

Page 50: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

49

caracterizar uma cidade como sendo pequena, é necessário entender

sua inserção em uma dada rede urbana ou região. Precisa-se do “[...]

entendimento do contexto sócio-econômico de sua inserção como eixo

norteador de sua caracterização como forma de evitar equívocos, e

igualar cidades com populações similares, que em essência são distintas”

(FRESCA, 2001, p. 28). No momento atual as cidades pequenas e

metrópoles, enquanto lugares, são singulares e uma situação não é

semelhante a outra, e cada lugar combina de maneira particular

variáveis que podem ser comuns a vários lugares (SANTOS, 1988). De tal

modo que uma cidade pequena na rede urbana de Manaus pode

apresentar-se bastante distinta comparativa à uma na rede urbana

norte-paranaense, reiterando-se mais uma vez que é a inserção nas

redes ou região, que permite melhor caminho para considera-la como

pequena.

Por este caminho é possível ter melhores condições de entender

uma cidade como sendo pequena, evitando deste modo as armadilhas das

classificações populacionais, das recentes discussões de que o Brasil

não é tão urbano quanto se fala e de generalizar que as cidades

pequenas são apenas fornecedoras de bens e serviços básicos à

população de uma restrita área de influência.

Reinserções das Pequenas Cidades na Rede Urbana Norte-

Paranaense

Entender as reinserções de pequenos núcleos em uma rede urbana

é adentrar em um conjunto de inúmeras possibilidades, que manifestam

particularidades das transformações sócio-espaciais da urbanização

brasileira, especialmente nas últimas décadas do século XX e início do

XXI. Isto porque a diferenciação entre os centros e entre as redes

urbanas pode ser entendido, segundo Corrêa (2000) a partir da

Page 51: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

50

combinação entre elementos essenciais à análise das redes urbanas

como a gênese, localização, tamanho, densidade e funções dos centros

urbanos, a natureza, a intensidade e o alcance das interações espaciais

mantidas por esses centros.

Em direção ao entendimento destas complexas re-inserções,

Corrêa (1999) ao discutir a globalização e as pequenas cidades mostra

duas possibilidades: a primeira envolve uma perda de centralidade, seja

ela absoluta ou relativa. A segunda envolve uma ampliação da

centralidade, começando pela introdução de novas funções realizadas

pela elite local ou externamente, criando especializações produtivas e

inserindo-as em interações espaciais bastante complexas.

Com relação a estas duas possibilidades, importa acrescentar

ainda que além de especializações produtivas, os pequenos núcleos

urbanos podem adicionalmente desenvolver outras atividades/funções

urbanas articuladas ou não a esta especialização produtiva. Verifica-se

ainda que a perda relativa ou absoluta da centralidade, envolve

situações em que não houve nem a introdução daquelas ligadas à

produção agropecuária. Estas são algumas das situações que discutidas

a seguir.

A cidade de Jaguapitã, localizada a noroeste de Londrina, foi um

centro urbano fortemente afetado pelas transformações gerais da

agropecuária brasileira e paranaense, que lhe possibilitou uma

reinserção bastante complexa na rede urbana. Inclusive pelo fato de

ter implantado uma especialização ligada à produção industrial de mesas

para bilhar e a implantação de agroindústrias avícolas a partir de

reinvestimentos da primeira atividade (VEIGA, 2007).

A autora evidencia que o início do processo industrial de mesas

para bilhar ocorreu no final da década de 1960, conhecida como

“milagre brasileiro” ocorrido entre 1968-1973. Foi o caso dos dois

precursores da atividade em Jaguapitã-PR, ambos de origem urbana que

Page 52: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

51

trabalhavam como representantes comerciais de artigos para vestuário

no Norte do Paraná, e em 1967, ainda de forma modesta, iniciaram a

produção industrial de mesas para bilhar na cidade, a partir do

conhecimento da mesma na cidade de Ponta Grossa. Assim, ocorreu a

criação de duas indústrias no final dos anos de 1960; mais tres nos anos

de 1970; 10 nos anos de 1980; 9 na década de 1990 e três no início do

século XXI. Para Veiga (2007) a expansão das indústrias é explicada a

partir do contato próximo, ou seja, com o sucesso da primeira empresa

“[...] gerou-se a perspectiva da implantação de outras, sem que para tal,

tenha havido uma política ou ações coordenadas por parte de órgãos

públicos ou agentes privados como forma de fomentar a criação de

indústrias” (FRESCA, 2000, p. 361). A partir de então analisou a origem

das empresas em quatro processos: o primeiro é formado por

proprietários rurais que transferiram parcela das rendas para

investimento no ramo industrial, seja a renda acumulada, seja pela

venda das terras, etc. O segundo envolve filhos e/ou genros de

proprietários rurais que investiram rendas em uma atividade para os

mesmos. Os ex-funcionários e ex-sócios das indústrias de bilhar

compõem o terceiro, que em função da experiência prévia investiram na

instalação de unidades industriais próprias. O quarto é composto por

pessoas ligadas as atividades urbanas diversas, que a partir de

economias acumuladas em atividade anterior, implantaram suas

indústrias de mesas para bilhar.

Esta atividade atingiu importante posição no mercado nacional,

sendo a cidade de Jaguapitã, a que apresenta maior número de

indústrias deste ramo no país e é responsável pelo controle de cerca de

30% do mercado nacional. Isto é muito expressivo tendo em vista

tratar-se de um segmento muito disperso em termos de presença de

unidades produtivas. Segundo Veiga (2007), como se trata de uma

produção onde há baixa composição orgânica do capital, a maioria dos

Page 53: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

52

estados brasileiros tem presença dessas unidades produtivas. Mediante

antecipação da presença dessas indústrias em Jaguapitã e mediante

capacitação técnica e de gestão das atividades, os industriais de desta

cidade conseguiram-se colocar como controladores deste segmento

produtivo. As estratégias passam pela forma de comercialização das

mesas, que não são vendidas, mas sim locadas para bares, restaurantes

e similares; pela estratégia de acompanhamento da qualidade das mesas

com consertos contínuos das mesas, reposição dos tacos, bolas, etc.;

com imposição do preço das fichas já que controlam a maioria das mesas

locadas na Região Sul e parte da Região Centro-Oeste brasileira e

interior do estado de São Paulo; pela qualidade das mesas produzidas,

dentre outras.

Gerando cerca de 500 empregos diretos já que o sistema

produtivo é bastante simples e que a produção é restrita pelo fato das

mesas serem locadas, a cidade de Jaguapitã tornou-se especializada

nesta produção pelo controle do mercado consumidor e por apresentar

o maior número de indústrias do segmento no país.

Esta atividade também gerou a implantação de outra produção na

cidade a partir dos reinvestimentos dos lucros obtidos por seus

proprietários. Foi o caso da implantação de agroindústria avícola, a

Avebom, cujos proprietários são também donos de indústrias de mesas

para bilhar. Mas há ainda a presença de outra agroindústria avícola, a

Jaguafrangos, cujos proprietários realizavam atividades comerciais de

compra e venda de frangos e com os recursos acumulados investiram em

agroindústria. A Avebom tem seu mercado consumidor concentrado na

Região Norte do Brasil, enquanto a segunda exportava cerca de 60% de

sua produção para o Japão, Hong Kong, Rússia, etc. As agroindústrias de

frango geravam cerca de 1100 empregos em 2006, e a produção que

envolvia frangos inteiros, cortes, congelados, temperados, miúdos, etc.

(VEIGA, 2007). Isto coloca Jaguapitã em uma posição muito complexa na

Page 54: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

53

rede urbana norte-paranaense, pois além de ser uma cidade

especializada na produção de mesas para bilhar, também teve

implantação de outra atividade produtiva inserindo-a em interações

espaciais muito amplas. Trata-se de uma cidade local, com nível muito

fraco de centralidade, traduzido no fato de ofertar uma pequena gama

de atividades comerciais e prestadoras de serviços, cuja área de

influência é bastante restrita, concentrada em alguns municípios

adjacentemente localizados. Mas insere-se em uma lógica de produção,

circulação e consumo muito complexa.

A cidade de Loanda, localizada no extremo noroeste da rede

urbana do norte do Paraná, foi fortemente atingida pelas mudanças na

agropecuária após os anos de 1970, destacando-se a expansão das

pastagens e criação de gado de corte. Passou por mudanças, onde todo

um conjunto de atividades anteriormente exercidas perdeu sua

finalidade face à desestruturação de uma dada produção propriamente

dita, e uma série de funções desapareceu, sem que houvesse

substituição imediata por outras no contexto da nova atividade

produtiva.

Dados do IBGE (1960-2000) e do Ipardes (2006) demonstram

uma evolução negativa da população total entre 1960-2006, onde na

última data a população total (19.464 habitantes) era menor que aquela

presente em 1960 (20.612 habitantes); contínua redução da população

rural, atingindo em 2000, apenas 2.601 habitantes; aumento progressivo

da população urbana, atingindo cerca de 84% da população total.

Além dos já conhecidos processos de migração forçada via êxodo

rural, é importante acrescentar que ao longo dos anos de 1980, a

população urbana de Loanda foi bastante aumentada por migrantes

oriundos do Norte do Paraná e do interior de São Paulo. Eles foram

atraídos pela oferta de empregos no processo de construção da Usina

Hidrelétrica de Rosana, no extremo oeste do estado de São Paulo. Ao

Page 55: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

54

findar as etapas construtivas que demandaram maior geração de

empregos, essa parcela da população migrante deslocou-se de Loanda,

em grande parte para o atual município de Rosana-SP, tendo esse

processo arrefecido maior redução da população total municipal.

Em meio a mudanças significativas com implicações drásticas do

ponto de vista das atividades realizadas na cidade, um agente local

iniciou atividades de produção de bombas para uso em poços

convencionais de água no meio rural. Este agente é de Dracena - SP,

tendo fixado residência em Loanda em 1965, e atuado desde então com

atividades comerciais de venda de móveis, carros, materiais para

construção. Foi no início dos anos de 1980 que Salvador Duarte Casado

iniciou a construção de bombas para poços de água. Na esteira desta

atividade, a cidade de Loanda estava sendo dotada de serviço de

saneamento básico no início dos anos de 1980 e Salvador iniciou

produção de torneiras de modo a atender demandas do saneamento

básico. A partir de então foi criada a primeira indústria de metais

sanitários da cidade: a Imperatriz Metais. Inicialmente sozinho, mas

depois de enfrentar crise gerencial e financeira, abriu a sociedade para

dois novos sócios: Roberto Villar (bancário e pecuarista) e Jair Longue

(bancário e pecuarista). No final dos anos de 1980 mediante

desentendimentos entre os três só sócios da Imperatriz Metais,

Salvador Casado decide montar outra indústria denominada Delta

Metais com recursos oriundos da venda de sua parte na indústria

pioneira. Essa indústria por sua vez foi adquirida pela Real Metais em

2004. Esta última teve sua fundação em 1988, como prestadora de

serviços para Delta Metais, produzindo e comercializando registros de

gaveta.

Criada com recursos oriundos da venda de uma empresa de

transporte composta por 06 carretas, o capital foi todo revertido para

a instalação da Real Metais. Estas informações são importantes, pois foi

Page 56: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

55

a partir da implantação da Imperatriz Metais que ocorreu a criação

todas as demais presentes no município, seja pelo encerramento de

sociedades e conseqüente fundação de novas indústrias; seja pelo

aprendizado como funcionário e a partir daí a criação de uma indústria;

seja pela transferência de capital de atividades urbanas ou rurais para

implantação de uma indústria como forma de diversificação das

atividades, ou ainda para implantação para um membro da família.

Processo esse denominado por Fresca (2004) como contato próximo,

isto é, a partir do sucesso de uma atividade/empresa, visível

empiricamente pelo enriquecimento dos proprietários que em uma

pequena cidade é bastante nítido, outras pessoas passam a implantar

empresas do mesmo ramo por caminhos antes explicado.

O Quadro 1 dá uma idéia a respeito do processo de origem das

indústrias do setor metalúrgico da cidade tanto por ano quanto por

gênese. Observa-se que no final dos anos de 1980, teve-se as primeiras

implantações industriais após a Metais Imperatriz como decorrência de

rompimento de atividades e ingresso de novos empresários no ramo.

Ao longo dos anos de 1990, outras indústrias foram criadas,

vinculadas ainda à ação de Salvador Casado, que efetuou transferência

e venda de outra empresa à ex-funcionários; criação de empresas tanto

por ingresso de novos investidores em direção à diversificação de suas

atividades, adquirindo empresas com problemas financeiros e

administrativos ou por pequenos comerciantes que adentram no

segmento sem conhecimento da área de produção.

Ao longo dos anos de 1990, outras indústrias foram criadas,

vinculadas ainda à ação de Salvador Casado, que efetuou transferência

e venda de outra empresa à ex-funcionários; criação de empresas tanto

por ingresso de novos investidores em direção à diversificação de suas

atividades, adquirindo empresas com problemas financeiros e

Page 57: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

56

administrativos ou por pequenos comerciantes que adentram no

segmento sem conhecimento da área de produção.

QUADRO 1: GÊNESE E ORIGEM DO CAPITAL DE EMPRESAS DE METAIS

SANITÁRIOS DE LOANDA - PARANÁ E MUNICÍPIOS ADJACENTES.

INDÚSTRIA ANO ORIGEM DO CAPITAL

Imperatriz Metais 1980 Atividades comerciais

Delta Metais/Real Metais 1988 Venda de outra indústria

Real Metais 1988 Empresa de Transporte de Carga

Metais Pevilon 1998 Industrial e Agropecuária

Metais Leão 1999 Industrial

Talita Metais 1999 Comércio (pastelaria), propriedade

rural e financiamento BNDES

Aguia Metais 2001 Madeireira e Propriedade Rural

Campeã Metais (ex Fort

Metais) 2004 (2000)

Setor de transportes. Adquire a Fort

Metais

Metais Rainha 2004 Industrial (início: bancário e pecuária)

Marchezan Metais

Sanitários 2004

Agropecuária. Adquire a Tuane

Metais, empresa com problemas

Silva Metais 2005 Venda de comércio (lanchonete) Fonte: Trabalho de campo realizado nos dias 11 e 12 de maio de 2006; Associação da Indústrias de Metais

Sanitários de Loanda e Região , atualmente denomina-se AIMES-ADR – Associação das Indústrias de Metais

Sanitários, e agrega a Agência de Desenvolvimento Regional/FIEP, passando a integrar a rede de agências de

Desenvolvimento Regional do Paraná; informações destas empresas obtidas em sites das mesmas.

Este é um dos problemas que parcela dos empresários

enfrentaram e enfrentam em direção à manutenção de seus negócios:

desconhecimento do ramo produtivo. Advém daí processo sucessivo de

venda e revenda das empresas, ligado tanto ao desconhecimento do

ramo como a falta de condições gerenciais mais adequadas à esta

atividade. Tanto assim, que em 2006, quando da realização de

levantamentos de campos, nas empresas a grande maioria foi textual ao

informar que ao iniciar os negócios não tinha a menor idéia de como

funcionava a produção de torneiras e demais metais sanitários.

Desconhecimento que foi sendo compensado pelo aprendizado na

prática, errando e acertando. Isto também ocorreu com o proprietário

da primeira indústria deste ramo instalada no município, que se deslocou

Page 58: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

57

para São Paulo de forma a ter os primeiros contatos com produção de

torneiras.

O processo produtivo demanda uma série de cuidados e

conhecimentos específicos, especialmente nas etapas de fundição da

sucata e preparação dos moldes das torneiras realizadas a partir da

areia shell, onde o menor erro resulta na perda do processo produtivo.

Como a maioria das indústrias enfrentava problemas semelhantes,

estavam organizadas em torno da Associação das Indústrias Produtoras

de Metais Sanitários de Loanda e Região - Aimensalor - com fim

específico de vincularem-se aos Arranjos Produtivos Locais no âmbito

estadual, como forma de obterem recursos para organizarem melhor a

produção. Arranjo Produtivo - APL - é o termo utilizado para designar

uma aglomeração de empresas com a mesma especialização produtiva,

localizada em uma mesma cidade. Os arranjos produtivos locais

apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e

aprendizagem entre si, contando também com apoio de governos

estaduais, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e

pesquisa como forma de conseguirem verbas para organizarem melhor a

produção. No caso de Loanda, este passo seria dado pela aquisição de

um programa de computador que permitiria organizar o “chão de

fábrica”.

Em outras palavras, visitas realizadas em algumas indústrias

permitiram verificar que na maioria delas não havia um sistema

produtivo organizacional que desse maior fluidez à produção. Não se

tratava de processo nem fordista nem toyotista, mas de um sistema

produtivo que não seguia nenhuma especificação ou racionalidade na

forma de produzir propriamente dita. O segundo grande problema para

este setor era a falta de mão-de-obra qualificada na cidade, mediante

ausência de cursos específicos para a capacitação da mesma, que eram

ministrados pelo Senai de Paranavaí e Sebrae de Maringá, impondo

Page 59: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

58

deslocamentos acima de 60 km com aumento considerável dos custos. O

terceiro problema vinculava-se a questões administrativas tendo em

vista relativas dificuldades de seus proprietários e funcionários em

comandar as empresas do ponto de vista do controle da produção,

controle da qualidade, dentre outros. Outro problema estava

relacionado à busca de certificação por parte das empresas de forma a

torná-las aptas a participarem de licitações públicas - Programa

Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat PBQP-H – do

Ministério das Cidades que visa melhoria da qualidade do habitat e a

modernização produtiva. Tornando-se certificadas poderiam vender

torneiras e metais sanitários para construção de habitações populares.

Outro problema a ser solucionado estava vinculado às inovações – busca

de melhoria nos produtos em ABS, aço, melhoria nos produtos com

revestimentos em ouro, desenvolver torneiras com monocomando e de ¼

de volta, etc. - e ao design dos produtos, como forma de conquistar

novos mercados em direção a produtos mais sofisticados.

Outra questão relacionava-se ao meio ambiente pela utilização da

areia shell para preparação dos moldes das torneiras, que contém

presença de resina fenólica, considerada pelo Tecpar como de classe 1

(maior nível) de toxicidade. Esta advém da fundição dos metais onde há

muita impureza como chumbo, cádmio, níquel e manganês. Problema este

que começou a ser resolvido com a instalação de uma empresa

denominada Reciclagem Imperial em 2005, fruto de uma sociedade com

3 empresários locais e investimentos da ordem de 1 milhão de reais.

Esta empresa constitui-se em uma das três presentes no Brasil e é

responsável pela reciclagem de toda areia shell utilizada em Loanda e

municípios adjacentes.

Embora com dificuldades o setor tem prosperado e conta

atualmente com 23 indústrias produtoras de metais sanitários,

envolvendo torneiras, registros, kit para banheiros, filtros de água,

Page 60: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

59

válvulas diversas, bóias, duchas higiênicas, chuveiros e duchas diversas

para banho, etc, distribuídas entre Loanda com 19 indústrias e 1522

trabalhadores formais no ano de 2008, Santa Cruz do Monte Castelo (1

e 127), Santa Isabel do Ivaí (2 e 310) e São Pedro do Paraná (1 e 84

trabalhadores). (www.aimesadr.com).

Evidente que os dados referem-se àquelas empresas que atuam na

formalidade, pois segundo informações obtidas em levantamento de

campo havia em 2006, uma série de empresas que não estavam

regulamentadas, isto é, não possuíam registros junto aos órgãos

administrativos. Isto ocorre tanto em Loanda como nos municípios

citados, adjacentemente localizados em relação à primeira. O número

de trabalhadores diretos em Loanda, corresponde a cerca de 7,8% de

toda a população urbana, mas se acrescentar-se os empregos indiretos

estimados em cerca de 3.000 (www.redeapl.pr.gov.br), a participação

deste setor na geração de empregos torna-se muito mais significativo.

Importa ainda frisar que este setor tem apresentando um forte

crescimento em sua produção, estando estimada em cerca de 15 milhões

de peças ano, o que significou um crescimento da ordem de 60,25%

entre 2005 e 2007.

O mercado consumidor deste setor tem sido bastante ampliado,

envolvendo praticamente todo o território nacional, estimando em cerca

de 40% do mercado interno, mas tendo maior concentração geográfica

no Centro-Sul do país - exceto o estado de São Paulo - seguido por

alguns estados da região Nordeste. O segmento de modo geral é

especializado em produtos de linha popular, não concorrendo com

grandes marcas como Deca (colocada como a maior controladora

individual do segmento no mercado interno e grande exportadora) e

Docol (controla cerca de 19% do mercado nacional -

www.fetiesc.org.br/indústria_sc.html). No entanto algumas empresas já

iniciaram linhas de produção de produtos mais sofisticados como

Page 61: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

60

aqueles banhados a ouro, prata e ônix. A exportação ainda é reduzida,

mas algumas empresas já iniciaram o processo de vendas no âmbito do

Mercosul, especialmente para a Argentina e Paraguai.

(www.redeapl.pr.gov.br).

Outro aspecto fundamental do setor refere-se ao processo de

tendência à especialização do trabalho em determinadas partes da

produção associado à expansão do processo de subcontratação pelas

indústrias de metais sanitários de Loanda. Algumas etapas estão sendo

realizadas por outras empresas, sejam elas formais ou informais.

Situação típica deste processo é a Metais Leão, especializada e

única na cidade a produzir acessórios como ralos e grelhas, que são

vendidos para outras indústrias da Loanda, iniciou recentemente a

fabricação de torneiras para as quais terceiriza a etapa de fundição e

afinação, já que não compensa financeiramente incluir tais etapas em

sua linha de produção.

Outro aspecto vincula-se às dificuldades enfrentadas pelas

empresas para a obtenção de matérias-primas, especificamente a

sucata, pois a China tem se colocado no mercado como a maior

compradora da mesma, afetando tanto o preço e a quantidade a ser

adquirida. A China ainda tem afetado fortemente as estruturas de

produção dos metais sanitários da região já que se coloca como forte

concorrente neste mercado no Brasil, uma vez que consegue colocar no

mercado brasileiro, metais sanitários com preços oscilando entre 5% e

10% mais baratos que os fabricados no país e com melhor tecnologia.

Para este setor concorrer com os produtos chineses, precisa, no

mínimo, adquirir máquinas que fabriquem o mecanismo de cartucho de ¼

de volta, uma estrutura para torneiras de monocomando, de elevado

preço. Enquanto isto não ocorre, empresas como a Imperatriz Metais,

possuem em seu catálogo de vendas produtos adquiridos da China e

embalados com sua marca.

Page 62: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

61

Esta produção industrial insere a cidade de Loanda em uma gama

muito variada de interações espaciais e de relações de produção e

consumo, muito complexas. É uma cidade local, com fraco nível de

centralidade expressando oferta de bens e serviços que atendem sua

população local e aquelas de municípios adjacentemente localizados. Mas

aqui importa explicitar que a centralidade exercida não é apenas de

ofertar bens e serviços fundamentais à população, mas de ofertar

produtos e serviços de maior alcance espacial. Isto decorre da

presença de estabelecimentos de redes nacionais e regionais de móveis

e eletrodomésticos, perfumes, calçados, de serviços de saúde, ensino,

jurídicos, dentre outros.

Situação muito distinta das apresentadas até aqui é cidade de

Cafeara, localizada a noroeste de Londrina, no vale do Paranapanema.

Este núcleo local foi criado nos anos de 1940 no contexto da expansão

das frentes pioneiras, como um ponto de apoio para o desenvolvimento

das atividades agropecuárias, ofertando bens e serviços fundamentais

para a população rural e urbana. As transformações gerais afetaram de

modo muito intenso este núcleo, a começar pela redução de sua

população total que de 7.709 habitantes em 1960, passou para 2.485

habitantes em 1991, cuja maioria encontra-se na área urbana. Do ponto

de vista das atividades agropecuárias, o município caracteriza-se por

ter cerca de 69% de suas terras ocupadas com pastagem, 12% com

produção de soja e 20% com produção de cana-de-açúcar (IBGE, 2008)

evidenciando que tais atividades pouco dependem da cidade como

supridora de necessidades, em outra palavras, uma cidade que não

controla do campo por intermédio de atividades diversas. A começar

pelo fato da mesma não apresentar serviços financeiros, exceto pela

Loteria que realiza vários serviços da Caixa Econômica Federal. Da

condição de núcleo ofertador de bens e serviços para o mercado

consumidor urbano e rural em termos de necessidades básicas,

Page 63: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

62

atualmente Cafeara coloca-se como uma cidade de nível muito fraco de

centralidade. A reinserção ocorreu de modo que a cidade perdeu

atividades e funções, passando atualmente a abrigar uma parcela

significativa de trabalhadores rurais atuando no corte da cana-de-

açúcar.

Meireles (2007) evidenciou que a distribuição de dos

trabalhadores em Cafeara se dá em três principais atividades:

primeiramente pela prefeitura, gerando aproximadamente 8% de

empregos para o total de habitantes; o comércio local que emprega

aproximadamente 4% do total de habitantes urbanos; e por último as

três microempresas existentes na cidade, sendo uma de móveis

artesanais de bambu, e duas confeccionistas, que juntas empregam

cerca de 4% da população total; os demais atuam no corte da cana-de-

açúcar. Situação desta precariedade da geração de empregos está no

fato de que 250 famílias da cidade estão cadastradas no programa

federal da Bolsa Família. Se considerar quatro pessoas por família, ter-

se-á cerca de 40% da população urbana recebendo R$120 reais mensais

para complemento ou para a sobrevivência (MEIRELES, 2007). De acordo

com IBGE (2008), Cafeara apresenta um restrito conjunto de

estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, atendendo

apenas as necessidades mais vitais de sua população.

Trata-se, pois, de uma localidade central com nível muito fraco de

centralidade, entendendo-se que no bojo das transformações gerais não

ocorreu a implantação de atividades que demandassem da cidade a

oferta de bens e serviços diversos. A agropecuária de uma maneira

geral, realiza-se sem a regulação da cidade, sem que esta desempenhe

atividades de atendimento de sua demanda. Perda absoluta de funções,

de atividades, onde a cidade coloca-se como lócus de reprodução de

uma força de trabalho rural.

Page 64: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

63

Considerações Finais: reinserções complexas das pequenas cidades

na rede urbana

A reinserção de pequenos núcleos em redes urbanas tem sido

realizada de modo bastante complexo já que articulada ao contínuo

processo de mudanças na organização espacial, emanadas do movimento

geral da sociedade. Se até pouco tempo atrás dificilmente falar-se-ia

sobre especialização produtiva, produção industrial em pequenas

cidades, mais recentemente tem-se verificado uma profusão de

situações indicativas de uma cada vez maior diferenciação entre estas

cidades. A especialização produtiva aqui discutida refere-se ao fato de

uma pequena cidade congregar um número importante de indústrias que

acabaram por tornarem-se responsáveis pelo controle de importante

parcela do mercado nacional de metais sanitários, envolvendo uma

diversidade de itens; significativa parcela da força de trabalho urbana.

Tem-se, assim, dois aspectos fundamentais desta especialização: a

produção propriamente dita e a mão-de-obra envolvida, garantindo à

Loanda, condição de ser neste momento, um centro especializado na

produção de metais sanitários. Assume relevância pelo fato de que isto

é bastante visível nesta escala de cidade, onde inúmeros aspectos são

empiricamente observáveis, diferente do que ocorre em grandes

cidades e metrópoles que por mais que detenham o controle majoritário

de certas produções não apresentam a mesma visibilidade. O mesmo

processo pode ser observado em Jaguapitã, que assumiu posição

nacional no controle da produção de mesas para bilhar, mas que envolve

outras atividades econômicas oriundas de reinvestimentos dos lucros

como é o caso da produção avícola. Caminhos que permitem a estas

cidades, serem atrativas para uma mão-de-obra de cidades

adjacentemente localizadas. Da mesma forma, produções industriais

emergiram em pequenos núcleos ocupando lacunas de consumo

Page 65: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

64

entreabertas por grandes empresas que dominavam o mercado, inclusive

tornando-se competitiva com aquela similar dominada pelo grande

produtor.

Esta especialização produtiva industrial está correlacionada em

parte à capacidade de parcela de agentes locais em conseguirem

selecionar uma das possibilidades ditadas pelos processos gerais, de

serem realizadas no lugar, que em razão de suas capacitações diversas,

percebem e realizam um dos processos universais no lugar. Evidente que

a realização de uma especialização produtiva articula-se ao contexto

nacional/regional de medidas e políticas econômicas que possibilitem ou

não a efetivação destas produções. Os impactos de políticas

macroeconômicas brasileiras como elevação de taxas de juros, taxas de

inflação, abertura de mercado consumidor interno para produtos

importados, valorização do real frente ao dólar, taxa cambial, dentre

outras tantas, podem criar impactos positivos ou negativos para a

emersão ou expansão de uma dada produção industrial.

Neste sentido, os intensos processos de desconcentração da

produção industrial ocorrido a partir dos anos de 1990 como uma

possibilidade das indústrias enfrentarem as dificuldades impostas pelas

macro-políticas e medidas nacionais, também provocaram mudanças

para muitas cidades brasileiras, inclusive nas pequenas. São vários os

pequenos núcleos urbanos que receberam transferências de plantas

industriais e criaram forte tendência à especialização produtiva

industrial.

Com isto chama-se a atenção para discutir-se com mais vagar as

diferentes formas de realização da produção industrial brasileira,

especialmente para cidades não metropolitanas e grandes. Sugere-se

assim analisar os caminhos da emersão da produção industrial em

cidades pequenas, procurando-se atentar se a mesma é local/regional ou

fruto de investimentos externos. Da mesma forma, discutir-se o

Page 66: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

65

sentido que assume a produção industrial em cidades pequenas, sejam

elas especializadas ou não, em termos de renda gerada pelo salário da

força de trabalho, de tributos aos cofres municipais, dentre outros.

Com isto pode-se ter melhores possibilidades de entendimento da

oferta de bens e serviços que uma localidade exerce. Diferente é a

cidade de Cafeara que representa uma situação de perda absoluta de

atividades e funções, podendo ser caracterizada como uma localidade

de abrigo de uma força de trabalho rural. Os elementos que geraram

esta perda absoluta de centralidade vinculam-se a elite local

representada inicialmente pelos proprietários fundiários, que em parte

migraram e não reinvestiram suas rendas na pequena localidade.

Migração esta que ocorreu com a venda do estabelecimento rural, ou

ainda com a mudança do domicílio do proprietário, implicando o não

reinvestimentos de suas rendas no lugar. Em segundo lugar há uma

questão de localização relativa vinculada principalmente ao fato de

estar fora dos principais eixos de circulação rodoferroviário. É relativa,

pois não significa que um núcleo que esteja fora dos principais eixos de

transportes obrigatoriamente não possa ampliar sua centralidade.

Trata-se de um conjunto de elementos de ordem econômica, social,

política que geraram as condições de perda absoluta de centralidade.

Page 67: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

66

Referências

APL DOS METAIS SANITÁRIOS. Disponível em:

<http://www.ipardes.gov.br>. Acesso em 30 de jun. 2008.

APL DOS METAIS SANITÁRIOS. Disponível em: <www.aimesadr.com>.

Acesso em 30 de jun. 2008.

CARACTERIZAÇÃO GERAL DO APL DE METAIS SANITÁRIOS DE LOANDA.

Disponível em: <www.redeapl.pr.gov.br> Acesso em 30 jun. 2008.

COMPLEXOS INDUSTRIAIS DE SANTA CATARINA. Disponível em <

www.fetiesc.org.br/indústria_sc.html>. Acesso em 30 jun. 2008.

CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989.

___. Globalização e reestruturação da rede urbana – uma nota sobre as

pequenas cidades. Território, Rio de Janeiro, n. 6, p. 43-53, jan/jun.

1999.

___. Repensando a teoria dos lugares centrais. In: SANTOS, M. (org).

Novos rumos da geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982.

___. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

___. L. Rede urbana e formação espacial - uma reflexão considerando o

Brasil. Território, Rio de Janeiro, a. 5, n.8, p.121-129, jan./jun.2000.

FRESCA, T. M. A rede urbana do norte do Paraná. Londrina: Eduel,

2004.

___. A rede urbana norte-paranaense: de um padrão tipo christalleriano

à uma condição de diversidade e complexidade. In: FRESCA, T. M.; SALVI,

R. F.; ARCHELA, R. S. (org). Dimensões do espaço paranaense. Londrina:

Eduel, 2002.

___. Em defesa dos estudos das cidades pequenas no ensino de

geografia. Geografia, Londrina, vol. 10, n. 01, p. 27-34, jan/jun. 2001.

A, T. M. Industrialização no norte do Paraná na década de 1990:

transferência industrial e estratégias de crescimento. Ciência

Geográfica, Bauru, v. 10, n. 3, p. 195-206, 2004a.

Page 68: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

67

___. Transformações na rede urbana do Norte do Paraná: estudo

comparativo de três centros. 2000. Tese (Doutorado em Geografia) -

USP, São Paulo.

IBGE. Censo demográfico. Rio de Janeiro, 1940 a 2000.

IBGE. Cidades. Cafeara. Disponível em <www.ibge.gov.br/cidades>.

Acesso em ago. de 2008.

IBGE. Regiões de influência das cidades: rede de lugares centrais e

áreas de atuação das cidades brasileiras. Área de atuação de Curitiba.

Rio de Janeiro: IBGE, 1997. (disquete).

IMPORTÂNCIA SOCIECONÔMICA DO ARRANJO. Disponível em:

<www.aimesadr.com>. Acesso em 30 jun.2008.

IPARDES. Arranjo produtivo local de metais sanitários de Loanda e

região: estudo de caso. Curitiba, 2006. Disponível em:

<www.ipardes.gov.br>. Acesso em jun. 2006.

IPARDES. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio

na formulação de políticas para os arranjos produtivos locais (apls) do

estado do Paraná - etapa 3: caracterização estrutural preliminar dos

APLs pré-selecionados e nota metodológica para os estudos de caso.

Curitiba, 2005. Disponível em: <www.ipardes.gov.br>. Acesso em abr.

2006.

IPARDES. Perfil dos municípios. Disponível em: <www.ipardes.gov.br>.

Acesso em 27 jun. 2008.

IPARDES. Perfil municipal de Loanda. Disponível em:

<http://www.ipardes.gov.br>. Acesso em: abr. 2006.

MEIRELES, M. A. Rede urbana norte paranaense e a re-inserção de

cidades pequenas: estudo de casos. Relatório de Pesquisa de Iniciação

científica. Londrina, 2007. Inédito.

SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1982.

___. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.

Page 69: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

68

___. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e

metodológicos da geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1988.

VEIGA, L. A. Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-

paranaense especializada na produção industrial de mesas para bilhar.

2007. Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e

Desenvolvimento) – UEL, Londrina.

Page 70: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

69

PEQUEÑAS LOCALIDADES Y VACIAMIENTO DEMOGRÁFICO: DESAFÍOS Y

OPORTUNIDADES

Marcela Benítez3

Introducción

En Argentina casi la mitad de los pequeños pueblos rurales corren

riesgo de desaparecer (Figura 1).

La mayor parte nació entre fines del siglo XIX y principios del

XX, alrededor de estaciones de ferrocarril, otros en cruce de caminos

de tradicionales rutas económicas, o por actividades productivas como

la explotación del quebracho, la extracción de minerales, la cría de

ovejas para lana, y más tarde, la explotación de gas y petróleo.

Todo aquel dinamismo generó cientos de pueblos que cubrieron el

territorio, con una población que crecía en función de las oportunidades

que las nuevas actividades ofrecían. Con el paso del tiempo, los avances

tecnológicos, los cambios en los modos de producción, sumados a

decisiones políticas y económicas que no los tuvieron en cuenta,

iniciaron el ocaso de esos pueblos. Ellas incluyeron el cierre de

estaciones Del ferrocarril, el trazado de rutas asfaltadas alejadas de

los caminos de tierra que corrían paralelos a lãs vías, el cese de

actividades económicas, porque el recurso ya no existía o porque había

dejado de ser rentable. ¿El resultado? 430 olvidados y aislados pueblos

que integraban la lista de “pueblos en riesgo de desaparición” allá por

los inicios de la década del ‟90.

3 Doutora em Geografia. Fundadora e directora ejecutiva da ONG-Responde, Buenos

Aires.

Page 71: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

70

Así comencé como aprendiz de Geógrafa e investigadora, a

recorrer un centenar de pueblos en las distintas provincias del país. Los

testimonios recogidos durante mi trabajo de campo, ejemplificaban

esta situación:

En la época del ferrocarril teníamos teléfono,

después levantaron la estación y nos quedamos sin nada.

Hace poco vinieron los de Telefónica de Argentina y nos

dijeron que éramos muy poços para conectarnos el servicio.

Ramón Castro, Neuquén, Región Patagónica, 1992.

Figura 1 – Argentina, Pueblos em riesgo de desaparición, 2001

Page 72: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

71

Cada lugar que visitaba, era de difícil acceso. Caminos

polvorientos y solitarios, otros prácticamente intransitables por el

barro, conducían a pueblos de un aspecto similar: viviendas ruinosas e

increíblemente de pie, en manzanas donde ya el pastizal le ganaba al

ladrillo o al adobe. Carteles que a pesar del herrumbre o la falta de

algunas letras, todavía decían “Hotel” o “Biblioteca Popular”. Calles

desoladas e inquietantes donde se adivinaba detrás de algunas ruinosas

ventanas, ojos curiosos que escudriñaban al insólito visitante.

Se explotó el monte y luego se agotó. Hubo una

fábrica de tanino, propiedad de los ingleses, un aserradero

y una fábrica de cabos de herramientas. En 1930 al

terminarse el quebracho se agotó el tanino, explotado por

los ingleses, los ingleses se fueron y toda la actividad se

acabó. Tartagal, Santa Fe, Región Nordeste, 1994.

Durante siete años escuché cientos de historias de vida. Conocí a

través de ellas los clubes de pueblo, disfruté sus principales fiestas,

escuché la antigua banda de música, acompañé al grupo de muchachas

hasta el andén para ver quién llegaba, vi las caras de alegría de aquella

parejita que recibía la pequeña encomienda con las alianzas encargadas

por catálogo en la Casa Harrods de Buenos Aires. Fui al cine muchos

domingos a ver la misma película, no importaba, era uno de los

acontecimientos de la semana.

En el año 1930 comenzaron a funcionar cinco

fábricas de productos lácteos que elaboraban quesos,

quesillos y crema; toda la producción tenía un único destino:

Buenos Aires. Con el tiempo la actividad tambera se fue

restringiendo y las fábricas se fueron cerrando. Coincidió

con el levantamiento de las vías del ferrocarril (...) Ordoqui,

Buenos Aires, Región Pampeana, 1995.

Page 73: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

72

Cuando aquel viaje por el pasado de la mano de mi entrevistado se

teñía de angustia, todo se desvanecía. Estábamos solos y mis ojos no

descubrían un solo testimonio de aquel relato. Con el corazón apretado y

un afectuoso saludo, me despedía para siempre de aquel que como

tantos otros, soñaron con ver a su pueblo grande y próspero. Tanto, que

haría palidecer de envidia a la misma Buenos Aires.

Cada visita aumentaba en mi corazón de aprendiz, sentimientos de

diversa índole y taladraba em mi cabeza la misma pregunta. “¿Cómo

podía ser que esa gente estuviera abandonada a su suerte?”. Se tratara

de la pampa húmeda, la meseta patagónica, los cerros, los valles o los

bosques, la historia del olvido se repetía de idéntica manera.

La idea de que como ciudadanos merecían educarse, recibir

atención sanitaria, trasladarse, comunicarse, trabajar, progresar, tener

acceso a la información, sólo parecía tener cabida en el discurso político

de los candidatos de turno, cuyas promesas eran sistemáticamente

olvidadas a la hora de gobernar.

Nadie pensaba seriamente en invertir en cada pueblo generando

promoción humana y desarrollo local. Por el contrario, a la hora de las

sumas y restas resultaba demasiada la inversión para atender unos

miles de puñados de almas que significarían un magro número de votos

en La próxima campaña. No así si se invertía en cualquier barrio

marginal del Gran Buenos Aires donde proliferaba la miseria, donde la

incultura y la necesidad vendían su favor al mejor postor siempre

acechante.

Me daba cuenta que eran miles los condenados a la exclusión y

estaban en silencio. Un silencio que ya no encerraba gritos de rebeldía,

ira o dolor. Silencio que encerraba más silencio. Cuerpos de brazos

caídos. Mentes adormecidas por la ignorancia y el sopor de la rutina que

se repetía de igual modo hace cinco, diez, treinta años.

Page 74: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

73

Me preguntaba: “¿será entonces que van a desaparecer?, ¿será

entonces que nadie hará nada por evitarlo?, ¿será entonces que

reencontraré a sus jóvenes y sus niños mendigando una moneda en las

esquinas ciudadanas?, ¿seré yo la única que se da cuenta de esto?. Por

Dios, ¿es que seré yo quién deba hacer algo por ellos?”

Tiempo de decisiones

El Problema

La investigación iniciada en 1991 acerca del problema del

despoblamiento de los pequeños núcleos rurales de la Argentina me

permitió descubrir, tomando como herramienta la fuente de

información que proporcionaba el Instituto Nacional de Estadística y

Censos (Indec), que eran 430 las localidades que podían ser

consideradas poblados en vías de desaparición, por presentar un

continuo decrecimiento en sus montos poblacionales.

La información censal produjo un acercamiento a la verdadera

dimensión de la problemática, ya que algunas diferencias en sus

criterios de definición en cuanto al término "localidad" en 1980 y 1991,

sembraban justificadas dudas acerca del fiel reflejo que estos datos

proporcionaban acerca del proceso de despoblamiento de esos núcleos.

Otro tipo de análisis realizado sobre estas nuevas localidades que

aparecían consignadas en el censo de 1991 y que en 1980 habían sido

consideradas como "población rural dispersa", revelaba que existía la

sospecha acerca de un mayor número de pueblos que engrosarían los

430 considerados "en vías de desaparición".

Estos resultados, demostraban, desde el punto de vista

demográfico, que el 32% del total de las localidades rurales del país

estaban perdiendo población. Desde el punto de vista geográfico

exponía una trama de asentamientos debilitada que estaba influyendo

Page 75: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

74

en el crecimiento de áreas marginales alrededor de las ciudades y el

aumento de vacíos territoriales.

Desde el punto de vista económico, la llegada del migrante,

producía en las ciudades un impacto negativo ya que no lograba incluir

formalmente a este trabajador, el cual pasaba a engrosar las filas de

desocupados y marginales. Tampoco lograba satisfacer sus crecientes

demandas de infraestructura y servicios sometiendo al nuevo poblador

a condiciones de vida, en muchos casos, infrahumanas.

Este incesante llegar del campo a la ciudad sólo acarrea miseria a

unos y a otros. Miseria facilmente observable en miles de rostros

deambulantes sin rumbo ni futuro, en cualquier ciudad del país.

Desde el punto de vista sociológico, el problema de la emigración

de los habitantes de los pueblos, significaba la desintegración del tejido

comunitario del reducido núcleo de población que aún permanece y para

el que migra, el desarraigo y la pérdida de los lazos culturales a partir

de la siguiente generación.

El trabajo de campo y reconocimiento de la situación en que se

encontraban más de 100 de los 430 poblados en la Argentina, demandó

recorrer más de 50.000 Km e insumió siete años.

Durante ese trabajo visité y entrevisté a los personajes más

relevantes de la vida de cada pueblo.

La síntesis de este largo trabajo quedó plasmada en una tesis

doctoral “La Argentina que Desaparece” que defendí en diciembre de

1998 y donde pronosticaba la desaparición de la mayor parte de los

pueblos en la línea del tiempo.

Si este trabajo hubiera sólo permanecido en el ámbito de la

investigación pura, esa contribución al conocimiento científico no

hubiera aportado nada significativo a la resolución del problema en sí.

¿Podría existir otro camino para que aquella investigación

aportara alivio a la situación identificada?

Page 76: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

75

¿Sería posible desde el rol de investigador en Ciencias Sociales

promover soluciones? ¿Seguia siendo esto investigación, o se convertía

en “otra cosa”, como sostenían y sostienen algunos férreos defensores

de la investigación pura como única manera de investigar?

Tiempo de RESPONDE

Despuntando el siglo XXI decidí a fundar la ONG Responde4

(Recuperación Social de Poblados Nacionales que Desaparecen). Sumé a

mi perfil de aprendiz del conocimiento, la naciente y volcánica vocación

de hacer. Ella despertaba después de la incertidumbre, la parálisis y el

miedo. ¿Cómo no temer emprender tan titánica tarea?

El temor a la soledad en la tarea rápidamente se desvaneció al

advertir que otros como yo, sin banderas ideológicas ni religiosas, se

sumaban dispuestos a intentarlo. Juntos emprendimos un camino de

enorme esfuerzo.

El Censo Nacional de Población de 2001 actualizaba las cifras.

602 pueblos de menos de 2.000 habitantes habían perdido población

respecto al censo anterior; 124 habían crecido menos del 10% y 90 ya

no figuraban (Tabela 1).

En el último período intercensal, esos pueblos expulsaron el 14 %

de sus habitantes que emigraron hacia la ciudad en busca de

oportunidades.

La falta de inversión en infraestructura básica de servicios y

comunicación, sumada a la falta de inversión en educación y capacitación

de su gente, trajo como resultado asentamientos urbanos cada vez más

obsoletos y decadentes y una sociedad cada vez más ignorante y

4

Site: www.responde.org.ar

Page 77: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

76

limitada en sus posibilidades de pensar, organizar, hacer, elegir y

desarrollarse.

Las decenas de miles de personas que aún hoy habitan cientos de

pueblos tienen como único horizonte el acceder a un Plan de subsidio de

Gobierno de US$ 50.- como única tabla de salvación, aceptando acceder

a pagar el favor político que le permite sobrevivir.

Aquellos habitantes que no se resignan a una vida sin futuro

eligen partir. Sueñan con una vida mejor, emigran hacia las ciudades y

se detienen en los cordones marginales, por lo general, único destino al

que acceden debido a su situación económica y nula calificación laboral.

La gente que vive en estos pueblos es amable, cordial y solidaria

pero cuando emigra, muchas veces la pobreza y la marginalidad lo llevan

a él o sus descendientes, a sufrir desviaciones que lo llevan al crimen, la

violencia o la droga.

La falta de atención de los Gobiernos a esta problemática nos

lleva a ser testigos, no pasivos sino agredidos, de una población urbana

en aumento, cada vez más violenta, lista para arrasar con nuestras vidas

y la de nuestras familias, buscando arrebatar en un momento lo que en

dos o tres generaciones de miseria su familia no pudo darle.

Este proceso define que los pueblos desaparezcan, las raíces de

nuestra sociedad y el patrimonio cultural se pierda, las ciudades

crezcan desproporcionadamente y disminuya su oferta de servicios

básicos, crezcan los índices de criminalidad y violencia y la trama

demográfica territorial se debilite.

Page 78: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

77

Region Províncias Pueblos en riesgo Población

involucrada

NEA Chaco, Corrientes,

Misiones, Formosa

21 6.231

NOA Salta, Tucuman,

Jujuy, Santiago Del

Estero, Catamarca y

La Rioja

157 35.608

Patagónica Neuquén, Rio Negro,

Chubut y Santa

Cruz

41 9.580

Pampeana Santa Fe, Entre

Rios, La Pampa,

Córdoba y Buenos

Aires

462 203.202

Cuyo San Juan, San Luis

y Mendonza

45 14.299

Total 816 268.920

Tabela 1: Argentina, Pueblos en riesgo.

El sector social en Argentina

Las Organizaciones No Gubernamentales en Argentina, han

crecido exponencialmente en los últimos diez años. Están reguladas por

la Inspección General de Justicia y el grueso de ellas se divide entre

Fundaciones y Asociaciones Civiles. Suman aproximadamente 100.000.

Las acciones que ellas llevan adelante se enfocan hacia la atención

de problemas ofreciendo la asistencia que mejora la situación de

urgencia. Dentro del sector de las ONG, exista un sub-sector

representado por las ONG de Promoción y Desarrollo, llamado ONGD.

Las Organizaciones No gubernamentales de Promoción y Desarrollo

ONGD, protagonizan el campo del desarrollo social, combaten las causas

Page 79: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

78

estructurales de la pobreza. En la Argentina, las ONG no sólo deben

enfrentar el desafío de combatir la pobreza de los pobres

estructurales, sino también la de los “nuevos pobres”. Aquellos que

perdieron su trabajo luego de la crisis económica de 2001.

Cuando hablamos de pobreza humana, nos referimos al

empobrecimiento del ser humano en sus múltiples dimensiones, como son

la privación de una vida larga y saludable, de conocimiento, de un nivel

decente de vida y de un grado considerable de participación.

Nominalmente, se define a la pobreza por la falta de una sola de estas

dimensiones, y generalmente, al hablarse de pobres suele entenderse,

erróneamente, que consiste en un ingreso insuficiente que habilita a la

privación humana.

El informe de las Naciones Unidas acerca del desarrollo del año

2000, asegura que la pobreza es “invasiva” y afecta a la cuarta parte de

la población en desarrollo. Las desigualdades aumentan no solo en

cuanto a los ingresos y la riqueza, sino y lo que es verdaderamente

grave, en el acceso a los servicios sociales y los recursos productivos.

Las ONGD se caracterizan por:

Tener una organización estable con un grado mínimo de

estructura: Poseen personalizad jurídica y capacidad legal acorde a las

normas vigentes.

No poseer ánimo de lucro. Los ingresos que perciben deben

beneficiar a la población objetivo de los programas de desarrollo que

implementan, o al funcionamiento de la propia organización.

Trabajar en el campo de la cooperación para el desarrollo en el

marco fijado por la IGJ

Poseer voluntad de cambio o de transformación social, a través

de una mejora de la sociedad en la que viven.

Tener respaldo y presencia social, en el sentido de gozar del

apoyo de la sociedad y uma presencia activa, manifestado a través de:

Page 80: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

79

Apoyo económico recibido a través de donaciones para la

concreción de proyectos o del pago de cuotas sociales o membresías.

Capacidad para movilizar trabajo voluntario.

Participación activa en redes con presencia social y contacto

con otras organizaciones sociales.

Ser Independiente, manifestando autonomía institucional y

decisoria respecto de cualquier instancia gubernamental,

intergubernamental o cualquier otra ajena a la institución.

Poseer recursos humanos y económicos (trabajo voluntario,

donaciones privadas).

Ser transparente en sus políticas, prácticas y presupuestos, a

través de la publicación de documentación y del control externo de sus

actividades y recursos.

Estas organizaciones promueven el desarrollo como proceso de

cambio social, económico, político, cultural y tecnológico. Nuestra

Organización pertenece al campo de las ONGDs y trabaja con población

rural.

Según el INDEC, una localidad rural es aquella que está habitada

por menos de 2.000 habitantes, también conocida como "poblados".

La población urbana y rural ha variado en el siglo XX. Hubo, en el

último censo, un descenso en los valores de la población rural que no son

significativos como para hablar de un éxodo rural.

Los integrantes de esas comunidades toman la decisión de

emigrar por creer que no tienen más futuro en su pueblo, sabiendo que

el desplazamiento hacia grandes ciudades no les asegura una vida

próspera.

Page 81: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

80

ONG RESPONDE

Fundé Responde en 1999 como resultado de mis investigaciones

científicas y sociológicas. Fui investigadora del Instituto Nacional de

Investigaciones Científicas y Tecnológicas (Conicet) entre 1991 y 2003,

año en el que renuncié para dedicarme de lleno a transformar un

trabajo de investigación en acción.

Responde es una Organización No Gubernamental de Promoción y

Desarrollo constituida legalmente ante la Inspección General de

Justicia en Octubre de 1999 con el propósito de responder a la

problemática de la población rural de la Argentina que se encontraba en

proceso de desaparición.

Inicié Responde sin fondos, sin oficina, sin computadora, sólo con

el apoyo de otros que como yo, soñábamos con un país diferente.

La incorporación de socios en 2002 nos permitió tener una oficina

y equipamiento mínimo para trabajar. Obtuvimos las primeras

contribuciones de empresas que apoyaron parcialmente algunos

proyectos en pueblos.

Los resultados obtenidos en los pueblos, el trabajo profesional e

incansable, nuestra transparencia y sostenido compromiso con la misión

y valores que sustentamos y promovemos, nos valió los primeros apoyos

de financiamiento completo a un proyecto. También obtuvimos

distinciones y premios nacionales e internacionales (Emlyon Business

School/2008: World Entrepreneurship Forum Think-tank; Premio

Gestión Solidaria del Campo/2008: Mención especial categoria

promoción laboral; Foro Ecuménico Social/2007: Premio Al

Emprendedor Solidario, Categoria Alimentación, entre otros).

Responde está constituida por una Comisión Directiva, un

Director Ejecutivo y un equipo profesional que trabaja en el área de

Page 82: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

81

Programas de Recuperación, de Desarrollo de Recursos y

Administración.

La Comisión Directiva es ad honorem, las posiciones clave son

rentadas y el resto del equipo es voluntario. Actualmente Responde

está formada por 8 profesionales rentados, 12 voluntarios y 160

asociados. Los voluntarios son convocados en función del programa que

lo requiera.

Las actividades de Responde se dirigen hacia dos campos bien

diferenciados:

En poblados en riesgo de desaparición: implementando nuestros

programas de Promoción y Desarrollo.

En la Sociedad nacional e internacional: realizando distintos

tipos de eventos que ponen la problemática de los pueblos en la Agenda

Pública y en la Agenda Social. También participando en distintos foros.

Se sostiene principalmente con los aportes de:

Productos Propios: Tienda Virtual y Libro de Fotografías (e-

jacinta tienda virtual) (Figura 2);

Figura 2 – Livro organizado por Responde

Page 83: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

82

Apoyos en Especies: Internet; pasajes en ómnibus o avión; piezas

gráficas; espacios en prensa; asesoramiento legal y contable.

Cuotas Sociales: aporte mensual de sus sócios.

Proyectos: Las empresas financian el desarrollo de los proyectos

y un porcentaje de ese apoyo sostiene la estructura de la organización.

Los gastos más importantes por su volumen son los relacionados

con los proyectos y se destacan: Obras, capacitaciones y dirección de

proyectos.

Los Ingresos se distribuyen aproximadamente del siguiente modo:

Un 12 % en Gastos de Infraestructura

Un 12 % en la Promoción y Difusión de Pueblos

Un 76 % en Desarrollo de Proyectos

El mayor desafío financiero actual es llevar adelante los

programas en la mayor cantidad de pueblos posibles, sin quebrar la

sustentabilidad de la estructura orgánica.

Nuestro trabajo en los pueblos

Alcance del Proyecto: Localidades menores de 2.000 habitantes

con pérdidas de población censo a censo o aquellas que se consideran en

situación de crisis.

En la República Argentina existen 602 pueblos de menos de 2.000

habitantes que están en riesgo de desaparecer, 124 que prácticamente

no han crecido en los últimos diez años y 90 que ya no figuran en el

último censo 2001.

Los poblados en riesgo representan casi el 40% de los poblados

rurales del país.

Caracterización de los Poblados

Finalización de la principal actividad económica que le dio vida.

Cierre de estaciones de ferrocarril.

Page 84: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

83

Aislamiento por el trazado de rutas pavimentadas alejadas de

los antiguos caminos de tierra.

Debilitamiento de su infraestructura de servicios por el

achicamiento del pueblo.

Falta de fuentes de trabajo.

Imposibilidad de acceder a la información y a las

oportunidades en general.

Trabajamos los tres primeros años (2000 -2003) sin apoyo

económico tratando de entender si el proceso de despoblamiento era o

no una situación irreversible.

La primera experiencia en un pueblo, fue terriblemente difícil.

Tanto que casi desisto. La comunidad desconfiada y desesperanzada no

dejaba resquicio para entrar en ella. Tantas situaciones frustrantes y

dolorosas, flagelaban mi entereza. Afortunadamente un día, ocurrió el

milagro y comenzamos a tejer un pequeño puente entre sus dudas y

temores y nuestros deseos y oportunidades.

Cuando advertimos que era posible, comenzamos a buscar apoyos.

Habíamos aprendido las primeras lecciones acerca de las condiciones

necesarias para dar sustentabilidad a nuestro accionar:

Que la comunidad estuviera dispuesta a trabajar por su futuro.

Que exista el compromiso de otros actores críticos que apoyen

nuestro trabajo.

Programas

Nuestra Misión está orientada a través de distintos programas a

proponer soluciones que permitan a la gente mantener sus lazos

culturales, permanecer sin la obligación de dejar su pueblo y crecer de

manera sustentable favoreciendo el desarrollo local y regional de la

Argentina.

Page 85: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

84

Nuestras tres líneas de trabajo y respectivos proyectos son:

1) Trabajo y Producción: Pueblos Autosustentables, Turismo en

Pueblos Rurales, Revival.

2) Cultura y Educación: Alas, Enseñemos Nuestros Oficios,

Responde Educativa.

3) Desarrollo y Medioambiente: Pueblos Dorados.

Acerca de Trabajo y Producción

Pueblos autosustentables

Propone el autoabastecimiento y la buena alimentación de las

pequeñas comunidades rurales a partir de los recursos naturales con los

que cuentan. Se basa en una plataforma digital que utiliza un Sistema

de Información Geográfica que facilita el despliegue de una información

inédita y de alto impacto para el beneficio del poblador rural y su

familia.

Este Programa se ha implementado en las provincias de la Región

Pampeana y comienza em Región Patagónica, provincia de Neuquén,

esperando lograr en un futuro nuevos apoyos que nos permitan

continuar en las restantes provincias del país.

Turismo en pueblos rurales

Promueve el desarrollo económico local favoreciendo la

participación de los integrantes Del pueblo como prestadores de

servicios de alojamiento, gastronomía, paseos turísticos y oferta de

productos artesanales locales.

Algunos de ellos tienen bellezas naturales, otros culturales, pero

todos sin excepción tienen algo para mostrar, contar y compartir.

Page 86: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

85

Revival

Permite crear responsabilidad social empresaria, capital social y

fortalecer los proyectos de promoción y desarrollo para la recuperación

de pueblos en Argentina. Voluntarios internacionales provenientes de

empresas y/o universidades aplican su conocimiento y experiencia en los

pueblos durante su estadía.

Acerca Cultura y Educación

Alas

Propone la creación de Centros de Extensión Socio – Económico –

Cultural, (Centros Responde), que permiten desarrollar actividades

sociales, culturales, recreativas, de capacitación y educación. Este

Centro cuenta con: Biblioteca; Museo; Aula Virtual, con acceso a

Internet que permite Educación y Capacitación; Salón de Actividades

culturales, sociales y económicas y Cafetería.

Enseñemos nuestros oficios

Este programa es brindado por experimentados jubilados que

viven en grandes ciudades y que se encuentran deseosos de ser útiles a

la sociedad que los contiene. Permite acercarlos hasta los pobladores

rurales ávidos de conocer nuevos oficios.

Responde educativa

Ofrece la posibilidad de realizar el Bachillerato para Adultos a

través de Internet a dos generaciones de adultos que viven en los

pueblos rurales de nuestro país que no han tenido la posibilidad de

educarse.

Iniciamos una experiencia piloto en diciembre de 2006 donde un

grupo de 22 adultos ya ha finalizado su primer año de Bachillerato.

Page 87: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

86

Estudian en un contexto de dificultad y aislamiento, comprometidos con

su crecimiento personal.

Acerca de I + D - Desarrollo y Medioambiente

Pueblos dorados

Promueve la desconcentración de las grandes ciudades

favoreciendo la reducción de la emisión de gases de efecto invernadero.

Busca atraer nuevas familias a los pequeños pueblos rurales

ofreciendo un nuevo estilo de vida, en un entorno natural y respetuoso

del medioambiente.

Consolida las raíces de su población al ofrecer una

infraestructura básica de servicios y la creación de nuevas

oportunidades sociales y económicamente sustentables.

La innovación, desafíos y oportunidades

El problema de riesgo de desaparición de los pueblos rurales, se

ha iniciado hace varias décadas en nuestro país. Sólo tomando los datos

de los últimos diez años, el Censo informa que 90 localidades rurales ya

no figuran con población.

Nuestra ONG considera que la inversión en desarrollo local que

demanda un pueblo para revertir su situación: a) es mínima en

comparación al subsidio asistencial mensual que requiere de su gobierno

local antes de llevar adelante un proyecto social y económico; b) es

ínfima, respecto al gasto que genera en la ciudad destino una vez

emigrada.

Un pueblo en riesgo, de cerca de 400 habitantes, representa

un costo para el gobierno local de US$ 13,000 mensuales en concepto

de ayuda asistencial. Esto significa un costo por habitante de US$

32,50 mensuales (US$ 390 anuales).

Page 88: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

87

La inversión para el proyecto cultural, educacional y turístico

es un monto de US$ 400 por habitante, por única vez.

La inversión en el Programa Pueblos Autosustentables para la

Región Pampeana demandó solamente US$ 0.42 por cada beneficiario

directo.

Un emigrante que recibe un Plan de Ayuda Familiar, un paquete

de alimentos y subsidio alimentario para los niños, genera un costo

mensual de US$ 39 por cada miembro de la familia. Y ese monto no

considera los costos de la familia en asistencia médica gratuita,

subsidios de alojamiento, subsidios escolares y otros servicios

gratuitos5.

La pérdida generada por una persona que comete un crimen o

asalto, sin muerte de los afectados, es de US$ 4.000 En este monto no

se considera los efectos colaterales como terapia psicológica,

reparaciones, costo de reposición de los bienes robados y el costo

gubernamental para la búsqueda del criminal6.

No existen políticas públicas que propongan invertir en desarrollo

local para estos pueblos, ya que suman pocos votos a la hora de las

elecciones partidarias.

Hasta hoy, sólo RESPONDE pone una luz de atención sobre las

comunidades rurales en crisis e implementa acciones que las ayude a

superarlas.

Creemos que es posible revertir la situación de riesgo de

desaparición de un poblado promoviendo proyectos económicos y

5 De acuerdo a datos oficiales a Enero 2008: Plan de Ayuda Familiar US$ 91.60, paquete

de alimentos US$ 100 y subsidio alimentario para cada niño u$s 16.60. Total costo

mensual para una familia de siete miembros US$ 274.60 equivalentes a US$ 39 por cada

miembro de la familia. 6 Fuente: familia Gorleri, robada en Septiembre 2005.

Page 89: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

88

sociales creativos e innovadores, alentando a sus pobladores a

convertirse en protagonistas del cambio. Dado que conservan recursos

naturales y humanos que sólo esperan una nueva oportunidad de ser

desarrollados.

Desafíos políticos

Indiferencia del Estado Nacional por la suerte de pequeños

pueblos (escasos votantes). Estrategia: Comenzamos a difundir nuestro

trabajo haciendo que tomara estado público la situación de cientos de

pueblos rurales que se extinguían. Poco a poco “los pueblos” van siendo

parte de la agenda pública porque la sociedad ya los ha incorporado a la

suya.

Asistencialismo del Estado: promueve el clientelismo y desalienta

la cultura del trabajo. Nos agrega al escenario ya dificultoso un

elemento negativo a la hora de provocar actitudes proactivas.

Estrategia: contrastamos los “beneficios obtenidos” de su triste

presente contra la dignidad de un futuro posible. Los desafiamos a

conseguirlo.

Desafíos culturales

Desconfianza del poblador hacia “el de afuera”. Sumado a su

individualismo, conspiran a la hora de articular proyectos conjuntos.

Estrategia: promovemos el contacto con otros poblados para que

conozcan su experiencia. Esto genera mayor confianza hacia nosotros y

en ellos mismos.

Oportunidades para la promoción y el desarrollo de pueblos:

Colaboramos en la identificación de recursos disponibles.

Develamos habilidades y capacidades de la gente.

Estimulamos una actitud proactiva y solidaria.

Page 90: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

89

Oportunidades que los programas de RESPONDE brindan a los

pobladores:

Cualitativos:

Se siente reconocido como ser humano.

Toma conciencia de su capacidad de hacer.

Se siente apoyado en sus proyectos e iniciativas.

Se convierte en protagonista de su futuro.

Toma conocimiento que el alcance de sus logros depende de él.

Reconoce que ya no es un habitante de un pueblo olvidado.

Cuantitativos:

Emprende una actividad económica, cultural, social o educativa.

Genera resultados económicos, culturales, sociales o

educativos.

Establece vinculaciones con otros actores externos a su pueblo.

Suma nuevas oportunidades personales a partir de esas

vinculaciones.

Figura 3 – Argentina, Presencia de Responde em los pueblos

Page 91: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

90

¿Por qué nuestros programas resultan innovadores?

1. Porque ofrecen alternativas de solución a los problemas que

enfrentan estas postergadas comunidades.

2. Porque promueven el desarrollo del Hombre en un entorno de

respeto y cuidado por el médio ambiente natural que lo rodea.

3. Porque tienen un principio y un final, objetivos claros y un

presupuesto claro y auditable.

4. Porque se convierten en modelos que pueden ser implementados

en otras partes del mundo.

Otros Impactos:

Mejora del ingreso mensual de los beneficiarios directos del

proyecto turístico

Recuperación edilicia.

Apertura de negocios y ampliación de servicios.

Llegada de nuevos habitantes.

Beneficiarios de otros sectores de la sociedad: jubilados;

población de clase media baja que accede por primera vez al Turismo

Rural (antes de elite).

A modo de conclusión

El encontrar un camino que llevara a buen puerto nuestros

proyectos en pueblos, significó marchas y contramarchas,

equivocaciones y momentos de flaqueza.

No sólo resulta muy difícil obtener financiamiento para los

proyectos, sino que resulta aún más difícil devolver la autoestima a una

comunidad desesperanzada e incrédula y lograr provocar el cambio de

sus actitudes negativas.

Page 92: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

91

Después de nueve años hay lecciones aprendidas, hay varios

pueblos con un antes y un después y un mito destruido: que su situación

es irreversible, que van a desaparecer. Hemos sumado actores críticos,

no todos los necesarios, pero sí una muestra representativa que

significa que es posible.

Ello ocurre cuando al menos un grupo de aquella comunidad

olvidada se anima a intentar cambiar su futuro. Advertimos que

necesitan al principio y por un tiempo, estímulo, guía y acompañamiento.

El involucramiento de sus referentes locales es importantísimo: su

maestra, la autoridad local, su guía espiritual. Cuando su autoridad

acompaña o al menos no dificulta la tarea, cuando alguna empresa

financia los pequeños proyectos ejerciendo la responsabilidad social

hacia aquella sociedad que la contiene, la balanza se inclina hacia la

recuperación del pueblo.

Sólo entonces es posible ese antes y después. Esa foto

instantánea que refleja dos momentos: el del inicio, donde las cabezas

están gachas y los rostros apesadumbrados; el del “después”, donde

están vestidos de gala por dentro y por fuera, preparándose a contar a

la sociedad que no sabía de ellos, que existen y que están dispuestos a

dar batalla para sumarse definitivamente a un mundo del que quieren

ser parte.

Las fotos del “después” tal vez perduren a través del tiempo. Son

seres humanos con características personales que los llevarán a

perseverar o a abandonar lo obtenido. Pero su corazón y su mente

quedarán marcados de manera indeleble y nosotros, nuestra sociedad y

muchos más, sabrán que lo han conseguido.

Hace poco tiempo escuché a un geógrafo alemán expresarse

acerca de cuál consideraba que era el rol del geógrafo. Decía: “El

Geógrafo es el médico de la Tierra”.

Page 93: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

92

Cuando tomé la decisión de fundar Responde y aceptar el desafío

de intentar cambiar uma realidad aparentemente imposible de cambiar,

jamás imaginé la evolución que tendría la organización, la cantidad de

gente que se involucraría y la transformación del escenario social que

produciría.

Estos años me han dejado algunas enseñanzas personales:

Aprendí que no debo dejar de llevar adelante una Misión, por

imposible que parezca.

Que no debo subestimar nuestro potencial como ser humanos y

agentes de transformación de la realidad.

Que debo mantener la confianza en mí misma ya que el temor

nos pone límites previos a nuestra posibilidad de hacer.

Una invitación final: La tierra y nuestra sociedad necesita

doctores, aprovechemos nuestra vocación para remediarla.

Page 94: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

93

DESENVOLVIMENTO AUTO-GERIDO E TRABALHO

Marcelo Dornelis Carvalhal7

Breve debate sobre o conceito de desenvolvimento

O desenvolvimento capitalista é muitas vezes confundido com o

mero progresso técnico e crescimento econômico, em que sua essência é

positiva e desejável. Num certo sentido, essa leitura do

desenvolvimento é pouco crítica aos seus efeitos, quando muito procura

minimizar os efeitos nocivos do “modelo” de desenvolvimento adotado.

A ideologia do progresso técnico traduz-se como uma fé

inabalável de que as contradições engendradas pelo desenvolvimento

capitalista serão solucionadas pelos instrumentos criados por este

padrão de desenvolvimento tecnológico. Isso é muito evidente nas

discussões sobre os problemas ambientais em que algumas correntes

ambientalistas crêem no desenvolvimento de novas tecnologias para

minimizarem os efeitos danosos da produção capitalista, mais

recentemente isso é possível de verificarmos com a “febre” dos

biocombustíveis.

As leituras do desenvolvimento capitalista durante o século XX

foram marcadas por esse consenso, quanto à relação com o progresso e

com a modernidade, e os problemas pragmáticos de como alcançar o

desejado desenvolvimento.

7 Professor de Geografia dos cursos de graduação e mestrado da Universidade Estadual

do Oeste do Paraná-UNIOESTE, campus de Marechal Cândido Rondon, membro do Grupo

de Pesquisa de Geografia das lutas e conflitos sociais (GEOLUTAS) e do Centro de

Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT), e-mail: [email protected]

Page 95: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

94

A problematização sobre o caráter linear do desenvolvimento é

marcada pela constatação de que países e regiões apresentam

diferentes níveis de desenvolvimento. A perspectiva relativamente

otimista do desenvolvimento capitalista ensejava que o atraso e/ou

subdesenvolvimento era uma fase necessária e transitória do processo

histórico desses países, que chegariam por fim ao nível alcançado pelos

países desenvolvidos, seguindo etapas sucessivas.

Isso justificou um conjunto de ações politicamente coordenadas

por agências internacionais de desenvolvimento, no contexto da leitura

geopolítica da guerra fria, em que o atraso relativo e a pobreza eram

caldos culturais importantes para a emergência dos radicalismos de

esquerda, que marcaram os movimentos de libertação na Ásia e África e

as lutas sociais na América Latina.

Assim implementaram-se ações para garantir o desenvolvimento

econômico e social, influenciados pelo pensamento keynesiano e mais

especificamente na América Latina com a influência da CEPAL

(Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), cujos marcos

teóricos foram consolidados nas teorias dualistas sobre a economia dos

países subdesenvolvidos, marcados pela industrialização e a manutenção

ou aumento da pobreza.

De forma bastante simplificada podemos afirmar que a teoria

dualista propõe uma leitura em que duas realidades distintas polarizam

a economia, apresentando-se em oposição.

De um lado, a parte moderna, com padrões de produção e

consumo similares aos do mundo desenvolvido; de outro, a

parte não moderna, arcaica, em que se reproduziriam

formas rudimentares de produção e de consumo (incluindo

aqui o autoconsumo de subsistência). (THEODORO, 2004,

p.31).

Page 96: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

95

A teoria dualista ainda exerce grande influência no pensamento

social, notadamente na América Latina, opondo duas realidades

distintas, uma articulada às formas contemporâneas de acumulação

capitalista, com emprego de novas tecnologias e inseridas no circuito

internacional, outra caracterizada pelo atraso tecnológico, relacionado

às camadas mais pobres da população.

Seguindo variadas proposições e alternativas para superação

desse dualismo foram ensejadas propostas que têm em comum a busca

pela modernização e o crescimento econômico como elemento central

dessa conquista (THEODORO, 2004).

Posteriormente, a crítica à teoria dualista permitiu o

revigoramento da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do

capital, realizada desde Marx, mas que teve com Rosa Luxemburgo e

Leon Trotsky seus principais aprofundamentos.

Ao contrário do pregado pelas teorias desenvolvimentistas, o

desenvolvimento capitalista não é linear, com uma imanente propensão à

uniformidade na composição orgânica do capital nos diversos lugares do

planeta, as trocas mercantis não são necessariamente benéficas para

todas as partes, as trocas são desiguais, como puderam perceber Samir

Amin e Kostas Vergopoulos.

A desigualdade – longe de ser uma excrescência da evolução

capitalista - é a marca de seu processo histórico.

Nessa perspectiva as condições de “inserção” no circuito

mercantil através da renda são no mínimo parciais, pois não são

generalizáveis a todos os lugares, pelo contrário é na produção dessa

desigualdade que está um dos trunfos da acumulação capitalista. Isso

impõe um desafio teórico e prático: como é possível reverter e/ou

controlar o processo de produção da desigualdade sem contrariar os

princípios fundamentais da acumulação capitalista?

Page 97: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

96

O trabalho no capitalismo é a expressão concreta dessa

“dualidade”, pois a condição de valorização e acumulação depende da

apropriação da mais-valia. Ela requer a exploração do trabalho vivo,

mesmo com os avanços tecnológicos engendrados pelo capital, então há

a convivência articulada entre as formas da mais valia absoluta e da

mais valia relativa, que em outros termos é a existência de formas

“arcaicas” de exploração do trabalho com as formas contemporâneas.

A própria jornada de trabalho é ampliada com o aumento da

produtividade, mostrando como os mecanismos técnicos estão a serviço

da reprodução ampliada de capital, mas os capitalistas não abrem mão

da utilização de formas da mais-valia absoluta, indicando o que

Mészáros (2005) afirma como a via mais fácil de acumulação.

Não podemos ignorar o papel da luta de classes nesse processo

como um dos elementos definidores do nível de exploração da mão-de-

obra. Assim, as conjunturas de desemprego massivo favorecem a

implantação de formas de superexploração do trabalho baseadas na

mais valia absoluta, quando ou onde a resistência coletiva dos

trabalhadores impõe restrições à utilização dessas formas o capital

terá que buscar a reorganização e incorporação de tecnologia para

extrair a mais valia necessária à sua acumulação.

A inovação tecnológica que expressa a materialidade dos

processos hodiernos do desenvolvimento capitalista não tem uma

existência autônoma de outros processos sociais, são também

parametrizadas pelas relações políticas, que definem aquilo que é

possível de ser utilizado, assim como as condições em que a tecnologia é

utilizada.

As transformações no capitalismo engendradas a partir da crise

de acumulação da década de 1970 são articuladas entre si: a

desregulamentação financeira, a reestruturação produtiva, o

neoliberalismo, a crise do endividamento e os mecanismos institucionais

Page 98: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

97

de “abertura” dos mercados nacionais, enfim um conjunto bastante

amplo, que podemos afirmar como sendo a construção do bloco histórico

contemporâneo da burguesia internacional.

São também elementos fundamentais para o entendimento do

quadro estrutural do desenvolvimento capitalista, contexto no qual as

formas locais e auto-geridas de desenvolvimento devem por certo estar

cientes, para preparem-se contra as investidas do capital.

A conjuntura do mercado de trabalho é importante para

entendermos as potencialidades e limites do desenvolvimento local e

auto-gerido, pois a desestruturação ocorrida no Brasil durante a década

de 1990 forjou a necessidade premente da busca de alternativas fora

do padrão fordista da relação capital x trabalho, porém essa “exclusão”

merece ser entendida também como uma potência para a construção de

alternativa concreta às relações sociais capitalistas, já que incluir

conforme o padrão anterior significa ser explorado sob a forma do

assalariamento, seria esse o tipo de inserção social que desejamos? Ou

podemos almejar que na relação salarial a justiça social seja alcançada?

Para contribuir com essas questões farei antes uma

caracterização sobre o mercado de trabalho no Brasil e o processo de

precarização que marcou a década de 1990.

Mercado de trabalho, renda e desenvolvimento capitalista

O mercado de trabalho no capitalismo é o regulador fundamental

da condição de renda para os trabalhadores, embora seu funcionamento

não seja exclusivamente mercantil. Estar em melhor ou pior situação

para a venda da força de trabalho depende de variados fatores –

inclusive geográficos – e sua conjuntura expressa a maior ou menor

propensão à pobreza no conjunto da população.

Page 99: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

98

Durante o compromisso fordista o emprego assalariado foi o

fulcro do pacto entre trabalhadores organizados, Estado e empresas.

De alguma forma, isso assegurou aos países desenvolvidos um período

de estabilidade e crescimento econômico, com parcela do aumento da

produtividade redividido entre os trabalhadores.

Como o preço da força de trabalho no capitalismo é em grande

parte decorrente das leis mercantis, a recriação de oferta sobrante de

mão-de-obra é uma estratégia vital para o capitalista baratear o custo

trabalhista. Isso em parte é resolvido com o próprio aumento da

produtividade do trabalho ou através das recessões econômicas,

minando com isso a resistência sindical, isso quando os sindicatos e

movimentos sociais não são abertamente reprimidos.

O operariado fabril foi o sustentáculo das ações sindicais dos

países desenvolvidos (com exceção do Japão) e seu desmonte a partir

da década de 1970 atingiu em cheio os sindicatos e os partidos

trabalhistas.

Esse desmonte ocorre sob a reestruturação produtiva, que é a

resposta do capital ao poder acumulado pelas organizações de

trabalhadores, alterando a organização do trabalho e internalizando as

inovações tecnológicas, com o claro objetivo de diminuição do trabalho

vivo necessário à acumulação.

Isso tem importante impacto para o padrão de desenvolvimento

capitalista, pois rompe com o equilíbrio parcial entre crescimento

econômico e desenvolvimento social nos países desenvolvidos, e que

significa para os países subdesenvolvidos o “aborto” da estratégia

fordista de desenvolvimento.

Page 100: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

99

O complexo de reestruturação produtiva impulsionou a

diminuição relativa da classe operária industrial, instalada

no núcleo central do complexo produtor de mercadorias. À

medida que ela diminuiu, incorporou novas qualificações,

integrando-se mais, sob a lógica do toyotismo, à

organização da produção capitalista (o que contrasta com

sua propagação precária pelas bordas do complexo

produtor de mercadorias). (ALVES, 2000, p. 66).

Embora isso possa ser válido quando se analisa genericamente a

dinâmica do mercado de trabalho é importante salientar que esse

processo é espacialmente diferenciado, com incremento e diminuição

ocorrendo simultaneamente em vários lugares, o que de alguma forma

pode caracterizar um deslocamento territorial e setorial do

proletariado industrial e conseqüentemente recriando/territorializando

as formas “excluídas” de emprego e trabalho.

Desta forma a divisão territorial do trabalho ensejada pelo

capital está articulada tanto à necessidade expansiva do capital, quanto

à geografia própria do capital, isso significa que ao expandir reproduz

as desigualdades espaciais, com valorização em alguns lugares e

desvalorização em outros. À medida que a saturação do mercado e o

excesso de acumulação aumentam o capital precisa encontrar

mecanismos de garantir a reprodução ampliada, seja através da

valorização produtiva, seja pela reprodução virtual do capital financeiro.

Assim as estratégias de deslocamento temporal e espacial como

alternativas à crise de superacumulação marcam a geografia do

capitalismo, cujas tendências de equalização e diferenciação ensejam a

divisão territorial do trabalho, conforme Smith:

Page 101: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

100

Necessidade de acumulação do capital leva a uma franca

expansão geográfica da sociedade capitalista, conduzida

pelo capital produtivo. A mobilidade do capital circulante

durante surtos de desvalorização rápida torna-se um meio

não para a equalização geográfica, mas uma diferenciação

sobre a qual a sobrevivência do capital é firmada (SMITH,

1988, p. 188).

Essa expansão é destrutiva dos arranjos nacionais de

desenvolvimento relativamente autônomo e também das economias

tradicionais e locais, expropriando camponeses e povos autóctones,

fator crucial para entendermos parte dos desafios para o

desenvolvimento local e auto-gerido já que a existência de recursos

naturais ou a própria territorialização desses arranjos de

desenvolvimento local podem ser um obstáculo para o desenvolvimento

capitalista, portanto cerne de uma conflitualidade estrutural com claras

conotações geográficas.

As transformações articulam-se não somente às determinações

econômicas, como é um corolário necessário à expansão capitalista, mas

precisam de uma composição política que favoreça a expansão segundo

os interesses dos capitais hegemônicos, muitas vezes transmutados de

interesses nacionais.

Isso pode ser exemplificado de diferentes formas: a hegemonia

neoliberal nos governos latino-americanos, que moldam até mesmo a

reação da esquerda política como no governo Lula, incapaz de forjar

uma alternativa sustentável à política econômica neoliberal; a repressão

aos movimentos sociais; a ofensiva contra governos nacionalistas ou com

leve tendência à esquerda (Chávez na Venezuela e Morales na Bolívia).

A dinâmica territorial do capital significa, portanto, a expansão

simultânea de relações capitalistas em territórios precariamente

desenvolvidos, o desmonte de estruturas econômicas em outras áreas e

a intensificação de relações capitalistas em territórios já incorporados.

Page 102: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

101

É nesse quadro geográfico que os trabalhadores atuam, seja sob a

égide de territórios recém industrializados, com formas degradantes

de emprego, seja resistindo às ofensivas contra a invasão de seus

territórios, como caracterizam as diversas lutas camponesas.

Uma das questões cruciais da dinâmica territorial capitalista

contemporânea é descobrir se a expansão capitalista através da

totalidade intensiva chegou ao seu limite, ou se a sociedade suporta a

elevação das contradições do capitalismo desenvolvido para a escala

planetária.

Se a forma espacial do desenvolvimento capitalista é

simultaneamente equalizante e desigual é preciso atentar para os seus

significados quanto à divisão territorial do trabalho e os processos de

regionalização capitalista, com impactos diferenciados sobre as

possibilidades de desenvolvimento local e auto-gerido, pois se trata de

uma alternativa, que se não é claramente anti-capitalista, pode ser um

obstáculo à expansão dos grandes capitais e o enfrentamento será

necessário para esses sujeitos sociais.

Portanto, o mercado de trabalho é um elemento indissociável do

desenvolvimento capitalista, sendo esse mercado forjado politicamente

pela luta de classes, o quê está sem dúvida relacionado às possibilidades

de construção de alternativas à destrutividade do capital. Entender a

conjuntura desse mercado de trabalho e seu papel estrutural na luta de

classes é elemento crucial para forjarmos uma alternativa teórica viável

à leitura do mundo pelo viés do mercado.

Page 103: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

102

O “desenvolvimento” da precarização do trabalho no Brasil

O período iniciado com a abertura comercial no Brasil, no início da

década de 1990, marca a escalada dos índices de desemprego, conforme

podemos verificar por meio da taxa de desemprego medida pelo IBGE,

que sai de um patamar de 3,35 % no ano de 1989, até atingir 6,23 % em

2001, demonstrado no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Taxa de Desemprego Total

Brasil (%)

2

4

6

8

10

12

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

Fonte: IBGE. www.ibge.gov.br. Acesso em 15/05/2004.

Observação: a partir de 2002 o IBGE adota nova metodologia, incorporando além do desemprego aberto o

desemprego oculto.

Além da ampliação generalizada do desemprego aberto – ou seja,

decorrente da procura efetiva por emprego da população desocupada –

ocorre um intenso crescimento de desemprego oculto8, tanto pelas sub-

ocupações que muitos trabalhadores precisam se “conformar”, quanto

8 O desemprego oculto é composto pelo trabalho precário, em que estão incluídas as

pessoas que procuraram emprego mesmo estando ocupados em atividades inconstantes, e

pelo desemprego oculto por desalento, em que as pessoas apesar de não estarem

procurando emprego gostariam de exercer alguma atividade no mercado de trabalho.

Page 104: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

103

pela desistência da procura por emprego, medidos pelas taxas de

desemprego oculto por empregos precários e pelo desalento.

Isto é, o desemprego embora seja um índice importante para

aferir a condição do mercado de trabalho, em termos da incapacidade

de atendimento à demanda dos trabalhadores por postos de emprego,

ele implica em um leque mais amplo de situações do trabalhador, que em

comparação com situações mais ou menos seguras do emprego

assalariado formal, encontram-se precarizados.

De uso corrente na literatura especializada, a precarização é

usada como indicativo da deterioração das relações de trabalho, tendo

como parâmetro as relações formais de assalariamento, que assegura a

inclusão do trabalhador na rede mínima de seguridade social instituída

pela CLT na década de 1930 e ampliada desde então pela pressão dos

movimentos organizados dos trabalhadores, por exemplo, com as

tímidas conquistas da Constituição de 1988.

Porém, já no início da década de 1990 há a internalização seletiva

do toyotismo como parâmetro de organização do trabalho, concomitante

à desestruturação das empresas pela concorrência internacional. Isso

provocou um aumento generalizado do desemprego, que mesmo em

períodos de recuperação econômica não teve seus índices reduzidos aos

patamares anteriores à abertura comercial.

Tal desestruturação do mercado de trabalho tornou menos

efetiva as conquistas sociais e trabalhistas da Constituição de 1988,

pois concomitante ao aumento do desemprego houve o aumento da

informalidade no mercado de trabalho, setor não regulamentado pela

legislação trabalhista.

Como uma espiral perversa para os trabalhadores, a recessão

econômica do início da década de 1990 favoreceu a adoção da

reestruturação produtiva pelas empresas, pela fragilidade relativa dos

Page 105: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

104

sindicatos num quadro de desemprego generalizado, sem forças para

reagir às políticas organizacionais poupadoras de mão de obra.

Por sua vez engendrou-se uma hegemonia no Estado brasileiro

refratária às demandas trabalhistas, desregulamentando o mercado de

trabalho quando possível ou desmontando a própria estrutura

fiscalizadora do Estado, sem falar na investidura sindical do Estado que

na década de 1990 consolida-se com a criação da Força Sindical como

aporte ideológico na luta contra os setores combativos do sindicalismo

brasileiro, principalmente a CUT, finalmente “derrotada” com a adesão

incondicional ao governo Lula.

Essa hegemonia neoliberal e o desmonte do quase-Estado-do-

bem-estar-social produziram o efeito de que mesmo nos períodos de

retomada do crescimento econômico os índices de emprego não

acompanhavam esse crescimento, relação parcialmente revertida no

governo Lula.

O desemprego precisa, portanto, ser compreendido como algo que

não é exclusivamente determinado pela dimensão econômica. Para

Meneleu Neto (1996), as teses que relacionam diretamente o

desemprego como resultado “natural” da tecnologia estão baseadas num

determinismo tecnológico, em que o desemprego poderia ser

tecnicamente explicado como decorrência da mera aplicação de fatores

produtivos, forjando um consenso em torno de idéias reducionistas

sobre a tecnologia e a exploração do trabalho.

A conseqüência destas idéias, segundo o autor, seria a sugestão

da inevitabilidade do fim do operariado fabril, com todas as implicações

para a luta de classes, já que as inovações tecnológicas são inevitáveis e

desejáveis, dado que melhorariam a vida humana.

Invertendo essa lógica, o autor postula o papel que a reposição do

exército industrial de reserva tem sobre a redução da força da classe

trabalhadora, ou seja, a própria crise capitalista, resultado de suas

Page 106: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

105

contradições intrínsecas, jogou os trabalhadores na defensiva ao

aumentar o desemprego e a precarização do trabalho, repondo as

margens de lucro para os capitalistas.

Desta forma, a adoção do toyotismo e da reestruturação

produtiva pelas empresas não foi pelo desenvolvimento natural das

forças produtivas, mas decorrente da correlação de forças negativas

para os trabalhadores organizados, que o fizeram “aceitar” a introdução

de métodos organizacionais e de tecnologias na produção, com

evidentes prejuízos para sua remuneração e condições de trabalho.

A crise do paradigma fordista recolocou o Exército Industrial de

Reserva como variável de ajuste baseado no mercado, pois o declínio da

capacidade de regulação do fordismo permitiu que a coordenação

política sob o crivo do neoliberalismo operasse a desmontagem do

emprego pleno, e com isso a estrutura social do sindicalismo europeu e

norte-americano, favorecendo ainda mais a ofensiva do capital sobre as

conquistas trabalhistas obtidas no pós-guerra.

Portanto o exército industrial de reserva, que no

capitalismo clássico analisado por Marx era resultado das

flutuações autônomas da acumulação de capital, passou a

ser reposto como „externalidade‟ pelas políticas neoliberais

(MENELEU NETO, 1996, p. 87).

A regulação política sobre o mercado de trabalho, antes baseada

no fordismo é reposta a partir dos pressupostos neoliberais do mercado

como indutor da regulação, sendo que essa substituição é

deliberadamente uma forma de atingir o movimento operário e sindical,

principalmente nos países em que a seguridade social é mais efetiva.

A mobilidade alcançada pelo capital nas três últimas décadas

irrompe com os regramentos jurídicos em países periféricos,

chantageando-os das mais diferentes formas para aceitarem a condição

Page 107: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

106

de fornecedores de mão-de-obra e recursos naturais baratos para as

grandes corporações transnacionais.

Por isso, o desemprego não é uma variável tecnicamente neutra,

que não possa ser inferida pelos determinantes da luta de classes, pois,

a adoção seletiva dos paradigmas técnicos e organizacionais do

toyotismo atinge desigualmente os setores econômicos e lugares,

construindo a territorialidade do capital, que tem no deslocamento

escalar e temporal, trunfos que utiliza para exercer seu domínio sobre

a totalidade social.

É assim que podemos compreender os esforços empreendidos pelo

capital, para adaptar os sujeitos e lugares à exploração do padrão

flexível de acumulação, abrangendo um conjunto amplo de medidas,

como a desregulamentação do mercado de trabalho, a territorialização

de benfeitorias custeadas pelo Estado para facilitar a instalação e

operação destas empresas (portos, estradas, etc.) e a preparação da

mão-de-obra para essa exploração através da formação e qualificação

profissional.

Esse é o desafio de muitas comunidades locais que vêem seus

territórios como alvos dos interesses capitalistas e, portanto,

necessário para a acumulação capitalista, a “exclusão” que viviam não

pode se manter e a “inclusão” do território pode significar o fim dessas

comunidades.

A dinâmica territorial que o capital enseja traz justamente a

possibilidade de utilização da mobilidade planetária como estratégia de

domínio, pois através desta mobilidade e tendo em vista a destruição de

vias alternativas de sociabilidade, o capital pode empreender sua

chantagem sobre os países e regiões, aproveitando-se do caráter

fragmentário dos locais, base da representação política dos

trabalhadores, tanto em nível nacional, quanto em níveis sub-nacionais,

Page 108: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

107

como no caso brasileiro, que tem no município a unidade territorial da

representação sindical.

A interescalaridade do capital é uma estratégia fundamental para

manter sua dinâmica territorial, pois age nessas diferentes escalas para

garantir uma acumulação sem maiores riscos, enfrentando os

movimentos sociais relativamente desarticulados territorialmente, o

quê confere à estratégia interescalar capitalista um obstáculo ao

desenvolvimento local auto-gerido.

Como corolário da desregulamentação do mercado de trabalho

temos a (re) emergência do setor informal na economia brasileira,

reforçando as concepções que o compreendem como elemento

indissociável do desenvolvimento capitalista.

No setor informal via de regra a remuneração é inferior aos

trabalhadores com carteira de trabalho assinada, conforme Gráfico 2,

evidenciando a dimensão da precarização que a informalidade significa,

pois a remuneração do trabalho é a principal fonte de renda, que

determina como é a inserção na esfera do consumo para milhões de

pessoas.

R$ 1531,00

R$ 869,00

R$ 441,00

0 1000 2000

Gráfico 2 - Rendimento médio mensal

Empregados e trabalhadores domésticos

Brasil - 2006

Sem carteira assinada

Com carteira assinada

Militares e funcionários

públicos estatutários

Fonte: IBGE, PNAD 2006. www.sidra.ibge.gov.br, acesso em 07/11/2008.

Page 109: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

108

Mesmo durante a primeira década desse Século XXI a

informalidade é mantida em patamares elevados (Gráfico 3),

evidenciando que mesmo o incremento do emprego formal dos últimos

anos ainda não foi suficiente para reverter os estragos da década de

1990.

Gráfico 3 - Empregados por categoria do emprego.

BRASIL (%)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Com carteira assinada

Sem carteira assinada

Militares e funcionários públicos estatutários

Fonte: IBGE, PNAD, www.sidra.ibge.gov.br, acesso em 07/11/2008.

A construção da noção de informalidade está ligada ao projeto de

integração social dos trabalhadores através do emprego, aparece como

a negação de uma situação considerada normal e desejável, que é a do

emprego formal.

Portanto, quando se analisa a informalidade, como a condição do

não ser formal, perde-se a sua dimensão analítica na totalidade social

capitalista, e postulam-se propostas de formalização destas relações

rebaixando o nível de exigências para a contratação, demonstrando a

inevitabilidade de tal rebaixamento, já que a condição de informal já é

um rebaixamento real destas condições.

Assim, o desenvolvimento do mercado de trabalho passa a ser

compreendido como uma evolução hierárquica, em que a criação de

Page 110: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

109

postos de trabalho formalizados seria um indicador da boa saúde do

mercado de trabalho. Quanto mais qualificados forem os postos

criados, mais próximos estaremos dos países desenvolvidos, daí a

ênfase na preparação da mão-de-obra para estar pronta para os

desígnios do capital. Esse processo atesta os esforços envidados para

criação de uma “atmosfera” modernizante, em que a luta de classe é

entendida como uma negociação cordial, com conciliações de interesses

que agradem tanto ao capital, quanto ao trabalho.

O desenvolvimento “bom” é aquele que proporciona a integração

dos trabalhadores ao mercado formal de trabalho, em que as garantias

legais são efetivas, mas o quê aparece como uma luta definitiva da

melhoria social nada mais é do que uma ação paliativa e reversível de

melhoria das condições de vida. É necessário desvencilhar-se da

armadilha que propõe a geração de empregos formais como a luta

definitiva do movimento sindical, pois isso não é garantia de bem estar

para todos os trabalhadores, como de alguma forma pudemos verificar

no auge do fordismo no capitalismo ocidental, que não logrou

universalizar-se como condição mínima para os trabalhadores.

Os desafios do desenvolvimento local e auto-gerido

Aquilo que expusemos até o momento é um referencial bastante

genérico de como o desenvolvimento local e auto-gerido deve ser

pensado. Os desafios são muitos, mas é necessária a ciência de que a

permanência da hegemonia capitalista implica que o esse

desenvolvimento só pode ser parcial em sua concretização.

A ofensiva neoliberal foi uma reação à queda da taxa de lucro nas

economias capitalistas mais desenvolvidas, isso provocou um desmonte

no pacto social-democrata, em que camadas importantes do operariado

lograram êxito na ampliação de seus direitos e remuneração.

Page 111: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

110

O desafio que a desregulamentação e conseqüente aumento da

precarização do trabalho impõem pôde ser, de alguma forma,

antecipado nas discussões que fizemos anteriormente, mas merecem

ser revisados, ou seja, será possível a incorporação da massa de

trabalhadores precarizados ao núcleo de trabalhadores relativamente

seguros e bem pagos? Essa possibilidade não significa mais do que

modificar o modelo de gestão macroeconômica neoliberal?

Não podemos negar que parte importante do trabalho precário

exerce um papel fundamental na acumulação capitalista, utilizado

diretamente nas diferentes cadeias produtivas, outra parcela

igualmente significativa trabalha sob formas de subsistência, que

embora não diretamente vinculadas aos circuitos capitalistas funcionam

como reserva de mão-de-obra, que como vimos é uma estratégia para o

capitalista rebaixar o preço da força de trabalho.

A inserção desses trabalhadores à esfera de consumo capitalista

requer uma re-distribuição da riqueza socialmente gerada, se não for

pelo emprego – como no auge do fordismo –, será pelas políticas sociais,

mas em ambos os casos tratam-se de uma re-distribuição, mas de onde

viria essa parte da renda. No Brasil neoliberal retirou-se das camadas

de renda média para manter as políticas sociais focalizadas, não

alterando o caráter regressivo do sistema tributário.

De qualquer forma as mudanças na distribuição de riqueza só

acontecem por ação política, são possíveis e não se pode negar sua

importância imediata para os trabalhadores pauperizados, porém sua

conquista – nem sempre resultado de mobilizações desses

trabalhadores – é reversível. Sua manutenção requer a perenidade da

correlação de forças, possível com a conscientização e mobilização dos

trabalhadores.

Pois o enfraquecimento dos trabalhadores significa a reversão

das conquistas, como temos o exemplo recente das perdas do Estado do

Page 112: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

111

bem estar social, sendo que a condição imanente da queda da taxa de

lucro repõe freqüentemente o conflito.

Essa reversibilidade está relacionada ao próprio desenvolvimento

desigual e combinado do capital, pois a desigualdade espacial é

articulada, o que permitiu que inclusive os países desenvolvidos

externalizassem suas contradições durante o pós-guerra. Porém, nas

últimas três décadas há uma contínua degradação do Estado do bem

estar social, demonstrando como essa condição do “pleno” emprego é

insustentável para o capitalismo, será que vale a pena insistir em

alternativas paliativas?

Essa é uma questão fundamental para os sujeitos que não se

conformam com os limites impostos pela lógica da acumulação de

capital, não se trata em hipótese alguma do pessimismo paralisante, que

na falta de alternativa claras e viáveis só lamenta, destruindo os

esboços de alternativas, mesmo que sabidamente parciais.

Vivemos num país que o reformismo social já é um grande avanço,

pois as condições materiais são urgentes para milhões de brasileiros. Se

esse reformismo social está associado a alguma forma de protagonismo

isso o torna mais relevante, a miséria não é apenas material, mas é

sobretudo da consciência, quando o conformismo generaliza-se entre os

trabalhadores, não podemos acreditar que há uma relação direta entre

a situação de penúria e a consciência por um mundo melhor e mais justo,

pois a imediaticidade da questão pode impelir a ações desastrosas, como

a história do fascismo demonstrou.

As intenções de solidariedade, equalização social, radicalização

da democracia, sustentabilidade ambiental, devem ser mantidas, são

condições inegociáveis de uma sociedade futura, sob o risco de, ao abrir

mão de alguma delas, progredirmos para a barbárie. Portanto não há

concessão nesses princípios. Creio que devemos envidar esforços para a

Page 113: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

112

construção dos meios necessários a esse fim, sendo radicais na leitura

dos desafios, sem abrir mão do pragmatismo.

É fundamental levarmos em consideração as experiências dos

trabalhadores para nossas formulações teóricas, principalmente porque

para muitos trabalhadores tratam-se de questões urgentes, que não

podem esperar as condições ideais de ação. Isso quer dizer que

devemos fazer algo para a melhoria da vida de milhões de pessoas. Se

for possível fazer isso através do estímulo ao protagonismo desses

sujeitos, tanto melhor. A miséria não conduz necessariamente à maior

consciência e disposição para revolucionar os paradigmas da sociedade

capitalista.

A questão é não nos iludirmos com as conquistas parciais e

reversíveis. Elas são importantes e fundamentais, mas não bastam para

alcançarmos os princípios que indiquei acima, pois sendo parciais e

reversíveis podem servir para a acomodação e em momento posterior

atuam como um encantamento para os sujeitos sociais, que clamam pela

repetição das soluções, que nem sempre são possíveis pelo próprio

desenvolvimento capitalista. É o que podemos vislumbrar quanto ao

emprego na atualidade, com o desenvolvimento tecnológico e aumento da

produtividade, cabe pleitearmos a criação de mais empregos? Será que

isso é possível, ou não estamos nos iludindo?

O desenvolvimento local auto-gerido, pelo que entendo dele, é

também uma importante ação – pedagógica inclusive – que permite

alcançar objetivos materiais e ideológicos, mas que precisa ser pensado

em sua inter-relação com a totalidade social.

Isso quer dizer que o desenvolvimento local por si só não leva

necessariamente a uma melhoria generalizada para a sociedade, ela

pode significar, por exemplo, uma disputa entre lugares na atração de

capital, com condições desfavoráveis para o trabalho, como quando

Page 114: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

113

ocorre a disputa baseada na diminuição dos custos salariais, fazendo

trabalhadores de diversos lugares concorrerem entre si.

É preciso lembrar que toda ação é local, mas não acontece

externa a uma totalidade/universalidade existente. O desenvolvimento

local auto-gerido precisa incorporar em seus princípios a perseguição

das metas de justiça social, democracia radical, equilíbrio social da

renda, relação saudável com o meio ambiente, que não podem ser

pensadas e normatizadas apenas nos termos locais, é um pacto geral,

porque senão a concorrência entre os lugares pode fazer cair as

condições gerais de vida, destruindo as possibilidades de

desenvolvimento.

Além disso, a auto-gestão desse desenvolvimento requer a

construção de relações políticas inovadoras, que signifiquem uma

efetiva democratização das decisões, com capacidade de conhecimento

e de intervenção de todos os sujeitos da comunidade. Dessa forma, a

construção das alternativas assume maior consistência, com a formação

dos trabalhadores para o desenvolvimento local auto-gerido, talvez no

caminho da emancipação social.

Pois os riscos da auto-gestão do trabalho, que podem servir de

exemplo para a auto-gestão do desenvolvimento, são a criação de uma

oligarquia gestora, travando o processo democrático, sem incorporar

efetivamente os trabalhadores nas decisões e no processo de

conhecimento da gestão. Trata-se de um risco que fragiliza o caráter

pedagógico do desenvolvimento auto-gerido, tolhendo a possibilidade de

construção dos sujeitos do desenvolvimento.

Esses riscos também podem ser pensados em termos do

desenvolvimento auto-gerido. Em que medida o desenvolvimento pode

ser pensado e construído por toda a sociedade, radicalizando a

democracia? Seria possível a construção de uma divisão técnica do

Page 115: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

114

trabalho que não significasse divisão social do trabalho e,

principalmente, hierarquização social do trabalho?

Para concluir uma última questão que considero também

fundamental: o desenvolvimento local auto-gerido é uma experiência

local, quase comunitária, como torná-lo universalizável é um desafio que

não pode ser ignorado, obviamente que as experiências locais e suas

particularidades não podem ser reproduzidas em todos os locais, por

isso precisamos de uma construção teórica para definirmos o método de

aplicação, pois não se trata apenas da aplicação em outros locais, mas

como operar a auto-gestão nas escalas supra-locais, sob o risco de ao

não concretizarmos essa tarefa o localismo tornar-se o calcanhar de

Aquiles desses sujeitos e experiências.

De todo modo é necessário reafirmarmos a práxis como método

de transformação revolucionária, não há dualidade teoria/prática, ou

ambas são efetivadas ou não há possibilidade concreta de construção da

teoria e a prática fica inconsistente e politicamente fragilizada. A

hierarquização desse binômio é igualmente um risco. Num mundo

desigual e perverso como vivemos não podemos ignorar as experiências

de resistência dos trabalhadores/camponeses e se estamos

preocupados com a sustentabilidade social e ambiental desse planeta

devemos contribuir, pois a Geografia construiu um arcabouço teórico-

conceitual muito rico nas últimas décadas que podem ser úteis para a

construção das alternativas.

Page 116: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

115

Referências

ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho. Reestruturação

produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo/SP: Boitempo, 2000.

MENELEU NETO, J. Desemprego e luta de classes: as novas

determinidades do conceito marxista de exército industrial de reserva.

In: TEIXEIRA, F. J.S. e, M. A. de (orgs.) Neoliberalismo e

reestruturação produtiva: as novas determinações do mundo do

trabalho São Paulo/SP: Cortez, Fortaleza/CE: Universidade Estadual do

Ceará, 1996, p. 75-108.

MÉSZÁROS, I. O desafio e o fardo do tempo histórico. São Paulo:

Boitempo, 2000.

SMITH, N. Desenvolvimento desigual Rio de Janeiro/RJ: Bertrand

Brasil, 1988.

THEODORO, M. A questão do desenvolvimento: uma releitura. In:

Ramalho, J. P., ARROCHELLAS, M. H. (orgs.) Desenvolvimento,

subsistência e trabalho informal no Brasil. São Paulo: Cortez,

Petrópolis/RJ: Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, 2004, p.

15-44.

Page 117: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

116

Page 118: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

117

PEQUEÑAS LOCALIDADES. ¿CAMINO HACIA LA ENTROPÍA?

Juan Manuel Diez Tetamanti9

Introducción:

La provincia de Buenos Aires es un infinito suceder de espacios

casi idénticos. Un pueblo sigue al anterior, el que a su vez anticipa al

siguiente. A veces es casi idéntico ir hacia cualquier parte. Ningún lugar

es lo mismo que todos los lugares a la vez. La sucesión territorial, esa

perpetua monotonía, se interrumpe de entre los kilómetros y leguas por

la obra humana. La pampa pareciera estar dibujada por chicos y

medianos cuadrados constituidos por manzanas. Sobrevolar la provincia,

nos sumerge en un enjambre de cuadrados, rectángulos, diagonales,

rectas y equiláteros. Son estas las formas que originan las miles de

explotaciones agropecuarias, los caminos rurales, las rutas de tierra, las

nacionales, autopistas y las líneas férreas. Dependiendo del cuadrante

provincial por que el se transite, habrá más o menos cursos de agua;

algunos arroyos y muy pocos ríos. Sus cursos se distinguen por sus

dibujos curvos y suaves. Desde sus márgenes, las aguas de arroyos y

ríos se advierten parsimoniosos y cargados de oscuros sedimentos. El

silencio es el aullido de la pampa. El aullido, un silencio estremecedor,

se convoca entre los hilos de alambre, electricidad y telégrafo ya

abandonados. La provincia es una pampa salvaje, enjaulada por

chacareros, sembradoras, tractores y pick up. Buenos Aires provincia,

9

Licenciado y Profesor en Geografía. Doctorando en Geografía. Becario CONICET. Ayte

1ra. Geografía Económica. Universidad Nacional de Mar del Plata Ayte de 1era Trabajo

Social I. Universidad Nacional de La Plata. Coordinador en subproyecto “Ientidades

locales y promocion social” de Programa Nacional de Voluntariado Universitario.

Argentina. [email protected]

Page 119: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

118

es geografía domada a carne viva. Buenos Aires, es una mezcla de

tradicionalismos con resistencias y particularidades microscópicas. Es

un amasijo hecho de almacenes viejos, casas abandonadas y calles de

tierra con mansiones, countries y autopistas. La provincia es el centro y

la periferia en al mismo tiempo y en el mismo lugar. Miles de kilómetros

de soja, girasol, trigo, opulencia y estanquidad se enfrentan a los límites

la vorágine del conurbano. Es la pampa un viejo campo minero que hoy

cambió su maquinaria, sus carriles y sus obreros. La pampa es una

diacronía perfecta, que se proyecta en el espacio con sellos teñidos de

tierra. Hay en la pampa un momento de silencio absoluto en el que todos

los tiempos acontecen en el presente. El sistema humano de

asentamientos esta casi intacto y las huellas, los sellos y la sangre se

suceden en simultáneo. Desde la autopista, en los márgenes, los caminos

se internan en la tierra sobre la misma tierra. El paisaje muta y a su vez

se superpone. Como a los fotogramas impresos en cinta de cine, la

pampa debe observarse y analizarse con la lentitud de las aguas que se

escurren. Con la paciente calma de su relieve. Con el silencio de su

infinitud y horizonte. Aquí queremos proyectar algunos de esos

fotogramas, casi cuadro por cuadro, y en tiempo real.

Las pequeñas localidades

En cada fotograma de la provincia, se ven puntos muy pequeños,

diminutas manchas que para algunos espectadores son la causa de fallas

en el revelado, o simples manchas de pantalla. Para otros, estos puntos

son pintas pintorescas de filmes proyectados en otros tiempos que hoy,

se rememoran con nostalgia. Pero en el regular golpeteo del paso de las

cintas, esas manchas se repiten, se proyectan y en algunos casos se

reenfocan como resistentes a verse olvidados o desaparecidos. No

Page 120: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

119

desaparecen. Están como testigos vivos de otras configuraciones (de

lentes o estéticas si se quiere...)

Pequeñas localidades al final de una recta. Allá va la pampa, allá

viene y se corre el horizonte como en la utopía de Eduardo Galeano.

Muchas pequeñas localidades: calles de tierra. Barro. Cementerios.

Cooperativas. Estaciones de tren. Vías. Óxido. Teatros. Viejos autos.

Viejos hombres. Viejos tiempos.

Hablar de estos pueblos es vivirlos, es sentirlos y

escucharlos en palabras de ellos mismos. Hay un mundo

oculto, un país aparte, un lugar que no es del turismo ni de

la producción. No es casi de nadie, pero es el lugar de

muchos. Y esos muchos, dicen que fue de muchísimos.

Definir pequeñas localidades en el marco de la provincia es

una tarea compleja, si tenemos en cuenta que podemos

encontrar más de 700 de ellas, con características bien

diferenciales, en cuanto población, ubicación, crecimiento...

Las principales ideas en la Argentina referentes a la

conceptualización del término localidad pueden hallarse en

la documentación técnica del Instituto Nacional de

Estadística y Censos (INDEC). En este sentido los censos

tienden a separar la población en urbana y/o rural -como

en el censo de 1980- o en población aglomerada en

localidades o dispersa en el campo abierto –para el censo

de 1991- (MANTOBANI, 2004).

Para delimitar localidades se pueden tomar tres criterios

excluyentes: jurídico (municipio), funcional o interaccional

(comunidades) y físico (localidades o aglomeraciones). Los censos

argentinos han utilizado el criterio físico (MANTOBANI, 2004). El

criterio físico que ha sido desarrollado por Vapñarski no nos resulta

convincente para nuestro problema, ya que en una publicación del

INDEC define a una localidad como: “...una porción o varias porciones

cercanas entre sí de la superficie de la tierra, delimitada cada una por

Page 121: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

120

una envolvente y configurada como mosaico de áreas edificadas y no

edificadas” (VAPÑARSKI, 1998).

Estos datos, quizás nos sirvan a utilidades casi exclusivamente

cuantitativas o de tipos. Nuestro interés en el tema no descarta a estas

definiciones, sino que las incluye, pero a su vez busca en las pequeñas

localidades la cualidad de su situación geográfica, social y económica

que la hace partícipe de un ex sistema territorial o bien, de un sistema

territorial en crisis. Así, estas pequeñas localidades son las asentadas

en la distancia, en el margen de la frontera del desarrollo de obras

públicas y en el borde de la memoria geográfica.

Los problemas: algunas vivencian procesos de pérdida poblacional,

otras advierten crecimiento o bien transcursos cíclicos. La accesibilidad

y la integración territorial no ingresan dentro de sus características

destacables. Tangencial a esto, no olvidamos que todas forman parte de

un todo que, en el tiempo muta sus funciones, situaciones y

características tanto en aspectos productivos, como sociales,

organizacionales, económicos, vinculares y territoriales.

En definitiva, estas localidades en general poseen menos de 2.000

o 3.000 habitantes, pero por sobre todo se caracterizan por ser las

referentes de un sistema territorial en crisis. En ellas tanto desde el

Estado, como –por sobre todo- desde la población que las habita, se

intenta reincluirlas en un espacio de intercambio, interconexión,

servicios y accesibilidades. Para el viajero no será difícil entender de

cuales localidades hablamos, sus carteles viales atiborrados de óxido

entre los pastizales, indican el camino a seguir para llegar.

Page 122: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

121

Mapa Provincia de Buenos Aires. Instituto Geográfico Militar. 2007.

Page 123: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

122

El sistema, el tiempo

Es común que los trabajos dedicados al tema, tiendan a ver a

estas localidades como partes de un sistema lineal de transportes o

proveedor. A su vez, es frecuente leer que “estos pueblos murieron o

desaparecen” por el levantamiento de alguna línea ferroviaria. También

encontramos textos que acusan a la tecnificación del trabajo rural, o al

abandono del Estado del proceso de despoblamiento. Por último, y entre

otras cosas, algunos intentan incluir a los fenómenos sociales,

imaginarios, deseos de movilidad como explicativo para el fenómeno de

cambio, de pérdida o aumento poblacional. Para explicar como

concluyente los sentidos de salida de la estanquidad de estos

territorios.

Sistemas

Maurice Godelier (1982) dice que el estudio del sistema, para el

investigador, tiene una doble tarea. Por un lado estudiar cuales son los

elementos de ese sistema y sus relaciones en un tiempo de evolución de

ese sistema. Por otro lado, estudiar como fueron formados y como

evolucionaron esos elementos y sus relaciones durante el tiempo de

duración de ese sistema.

Javier Arcil (1992) se pregunta antes de intentar analizar un

sistema: ¿Hasta dónde alcanza nuestro sistema?. O más sencillamente,

¿Qué está dentro de él?, ¿Qué está fuera? Aún teniendo claro cuál es

el sistema de nuestro interés, conviene aclarar cuáles son los límites de

nuestro sistema dinámico, cuáles de todos los elementos e interacciones

del sistema real van a ser incluídos, y cuales pasarán a formar parte del

medio.

Page 124: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

123

Es decir, que de todo el sistema real bajo estudio, habremos de

hacer abstracciones para reducir la complejidad de la realidad y

capturar los elementos y sus interrelaciones”

En “Investigación Cualitativa” Juan Báez y Pérez de Tudela

(2007) hacen hincapié en que el concepto de sistema, supone para el

investigador un esfuerzo de abstracción considerable. Ya que ha de

encontrar lo común en entidades muy diferentes. Citando a Ludwing von

Bertalanffy (1901 – 1972), Báez resume a un sistema real como

“cualquier entidad material formada por partes organizadas que

interactúan entre sí como un todo. De tal manera que las propiedades

del conjunto (llamadas propiedades emergentes) no pueden deducirse

por completo de las propiedades de las partes”.

Rosana Cacivio (2000) interpreta a la teoría de sistemas como

dedicada a problemas de relaciones e interdependencia y no a los

atributos constantes de los objetos. Los sistemas organizacionales o

sociales dependen de sobremanera del ambiente externo y por ello han

de concebirse como sistemas abiertos.

Tiempo

En terminología musical, el tiempo, es la velocidad con que debe

ejecutarse una pieza de música. Pero qué sucede con el tiempo del

territorio. Para ello, Alfred North Whitehead en “El concepto de

naturaleza” (1994) dedica casi treinta páginas a discutir sobre el

Tiempo, a pensar en eso que nos dice –en palabras de Whitehead- que si

algo está pasando, hay una ocurrencia, un suceso a ser definido.

Whitehead dice que cada evento se extiende por sobre otros eventos, y

por cada evento se extienden otros eventos. Por lo tanto en el caso de

las duraciones cada duración es parte de otras duraciones; y cada

duración contiene a su vez otras duraciones que son parte de ella.

Page 125: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

124

Por su parte en cuestión de periodizar, Milton Santos y Silveira

(2000) ponen énfasis en escoger variables clave que en cada segmento

de tiempo, comanden un sistema de variables. Sistema que los autores

denominan período.

Allegro molto vivace

En este marco y para un período inicial histórico a principios del

siglo XX, pensamos a las pequeñas localidades como un sistema abierto

interdependiente, en el cual los atributos de cada una de ellas es poco

representativo, en contraste con su lugar en la función general del

sistema territorial (CACIVIO, 2000). Para comprenderlo imaginemos a un

conjunto de pequeñas localidades de la provincia de Buenos Aires.

Excluyendo a las cabeceras de partido, encontraremos localidades muy

pequeñas –con menos de 50 habitantes- y algunas con más de 2.000

habitantes. Haciendo un trabajo no demasiado profundo podremos

comprobar que muchas de esas localidades entre 1920 y 1970

aproximadamente eran –prósperas- en palabras locales10

. Su población

probablemente duplicaba a la actual, su actividad era esencialmente

minera o agroganadera y su vinculación con el exterior se realizaba a

través de líneas ferroviarias, el telégrafo o el correo postal. Todas

estas localidades en función de un modelo agroexportador, con una

maquinaria determinada, –lenta y costosa- a su vez, el sector se

posiciona como un demandante de mano de obra. Ante esto, no

solamente su población se habrá compuesto de obreros rurales, sino

también de prestadores de servicios, comerciantes, médicos, docentes,

viajantes y hasta oportunistas. En definitiva: imaginemos una postal

local activa; con flujos fuertes de energía, tanto entrantes (demandas,

10

Entrevistas y talleres grupales realizados en San Agustín, Mechongué, La Dulce, Mar

del Sud, Bavio, Patricios, La Niña, Espil. Entre 2004 y 2008.

Page 126: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

125

pagos, incentivos sociales y culturales) como salientes (producción,

transformación y consumo). El resultado de la imagen es una localidad

en construcción, con dinamismo y por sobre todo viva. Vida como el

estado de actividad de los seres orgánicos. Pueblos, localidades, como

seres orgánicos.

Esta es la primera serie de fotogramas. Fotogramas en un tiempo

allegro molto vivace.

Pianissimo

Poniendo el acento en las entrevistas que hemos realizado en

pequeñas localidades bonarenses, advertimos que el tiempo de la vida

social sufrió un cambio contrastante. Mucho hemos escrito, y amplia es

la bibliografía que puede encontrarse sobre el tema del despoblamiento,

el desarraigo, el abandono de los pueblos, el levantamiento ferroviario.

Para ello puede consultarse a Benítez (2000), Sili (2000), Flores

(2004), Ratier (2004). Volviendo al tiempo, también podemos repensar

en que momento histórico aconteció este cambio; en general los autores

mencionados coinciden en una brecha que se enmarca entre 1950 y

1980. Para imaginar este cambio, debemos tomar los siguientes

fotogramas. Esta nueva serie de fotogramas además tendrá un tinte

sepia y menos luminosidad. La proyección muestra un panorama con

menos dinamismo social, los comercios advierten menos flujos de

intercambio y la demanda de empleo rural es cada vez menor. Entre los

sucesos, pueden verse modificaciones en la legislación - Ley Raggio 11 -,

11

Según R. Lapolla desde la “Ley Raggio [Ministro de Agricultura durante el gobierno del

presidente de facto Onganía] en 1967 hasta el 2001 se perdieron 260.000 productores.

Mientras tanto el sector terrateniente recuperó y amplió sus tierras: el 49.6% de la

tierra del país pertenece a 6900 propietarios.(cita al Censo Nacional Agropecuario 2002)

Si pensáramos en términos de una familia tipo -cosa no del todo cierta ya que 'nuestros'

Page 127: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

126

la clausura de algunos ramales ferroviarios, la liberalización del

mercado granario (DIEZ TETAMANTI, 2006). Paralelamente la

industrialización de las grandes ciudades y el crecimiento de la

población urbana no cesan. Algunos habitantes de estas pequeñas

localidades optaron por ir a vivir a ciudades más grandes, con más

servicios, con escuela secundaria, con universidad, con empleos

industriales mejor remunerados, o bien convertirse en profesionales.

Otros, por la Ley Raggio fueron desalojados de los campos que

arrendaban. Allí están: las pequeñas localidades en el pianissimo. Una

lenta espera en el desalojo. Un desalojo muchas veces en el mismo lugar.

Sin trabajo, sin servicios, en el aislamiento y en medio de la infinita

pampa. En la espera, en la esperanza, en el letargo, en la resistencia.

Allegro / Pianissimo / Allegro / Pianissimo:

Ahora imaginemos un defasaje dual en sincronía, tanto en los

tiempos como en la cantidad de fotogramas por segundo que

proyectamos. En el territorio de la provincia de Buenos Aires sucedió

algo muy parecido. Mientras en algunos lugares los vehículos cada vez se

hicieron más veloces, en otros, los vehículos continuaron siendo los

mismos, o prestando servicios los mismos ferrocarriles de siempre.

Mientras en las ciudades y las capitales llegaban el agua corriente, las

cloacas y los teléfonos con discados directo, en las pequeñas localidades

esto se demoraba o no se instalaba. Mientras el asfalto hacía más

sencillos los traslados y el gas más cálido a los hogares; la tierra y el

barro dejaba sin frutas frescas a pueblos enteros y sin clases a miles

de niños, al tiempo que en las casas alejadas la leña seguía siendo el

alimento de estufas y salamandras. Mientras las cosechadoras con guías

terratenientes suelen ser muy prolíficos- hablaríamos de menos de 28.000 personas

dueñas de la mitad de las tierras cultivables de la nación.” (LAPOLLA, 2005).

Page 128: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

127

satelitales y las camionetas 4x4 surcaban vorazmente los campos, la

peonada a veces analfabeta quedaba desempleada o cautiva de planes

sociales o subsidios salvavidas. Dos pampas, dos Buenos Aires província.

Dos sistemas a diferentes velocidades. Dos tiempos. Dos espacios en un

mismo territorio. Dos resultados de un mismo producto: Allegro /

Pianissimo / Allegro / Pianissimo.

Pianissimo ¿sempre?

Hablar de los pueblos, hablar y trabajar en pequeñas localidades,

analizarlas, estudiarlas y reverlas... El pasaje por kilómetros y palabras

siempre dejan, como al viajante encandilado, preguntas: ¿qué podemos

hacer para que las pequeñas localidades abandonen el pianissimo? Tanto

dentro de la bibliografía como desde el Estado y sus políticas (Plan

Volver, Programa Pueblos I y II, Programa Mi Pueblo, etc.) (DIEZ

TETAMANTI, 2006) e incluso desde las organizaciones que trabajan en el

territorio como “Pueblos Que Laten”, se han intentado múltiples

alternativas que van desde el dictado de cursos de alambrador o

molinero, hasta el otorgamiento de microcréditos o créditos medianos,

la promoción del turismo o la promoción de la participación de los

jóvenes en la vida social. En todos los casos, relevados en las

entrevistas realizadas y en el trabajo de campo, se observa una

tendencia a la demanda de la sociedad enfocada hacia la intervención

del Estado12

. Muchas veces la demanda no es siquiera dirigida en

12

La demanda social de intervención del Estado merece un capítulo aparte, debido a las

cuestiones históricas que enmarcan el rol estatal en la configuración del territorio

provincial. No obstante, cuando nos referimos a Estado, lo hacemos en triple sentido:

Nación, Provincia y Municipio. Estas demandas, casi exclusivamente se enmarcan en la

solicitud de apoyos y subsidios económicos. Nos quedan serias dudas sobre el consenso de

algunos sectores, en relación a la intervención estatal en la regulación de mercados de

comercialización y producción.

Page 129: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

128

conjunto de los pueblos afectados. Como respuesta a veces

desordenada, es muy común advertir que en algunos pueblos se aplica un

microcrédito para la cría de cerdos, en otro se dicta un curso de

hotelería y en alguno más lejano se plantea la construcción de un centro

tradicionalista. Este fenómeno, nos deja la evidencia que las políticas o

acciones no se planifican o ejecutan con un criterio de sistema. Sistema

implica retroalimentación, diferenciación, transformación y

exportación. Las pequeñas localidades conforman un sistema abierto

sufren procesos entrópicos. A fin de detener la entropía, en algunas

localidades sus habitantes ejercen fuerzas de resistencia que intentan

redinamizar los flujos energéticos que entran y salen. Así, el

sostenimiento de las cooperativas, movimientos culturales como: “Por

Nosotros” en Bavio, o “Patricios Unido de Pié en Patricios”, son ejemplos

de resistencias a la entropía.

Las pequeñas localidades son parte de un sistema. Un sistema que

a paso más lento, fue infartando los territorios que ofertaban menos

rentabilidad y menor productividad. Si bien estos pueblos son islas en

un mar millonario de tierras fértiles, oleaginosas y granos, en sus plazas

y sus paredes es difícil advertir la riqueza. Pianissimo, inmortalizan en

sus memorias tiempos en los que sus instalaciones eran necesarias y

funcionales. Camiones, grandes silos, bancos, contratistas, pooles,

potentes maquinarias y especuladores no demandan los viejos galpones

de almacenaje, ni la peonada y su familia, ni sus simples viviendas, ni al

telégrafo desactivado, ni sus bares.

Integrar a las pequeñas localidades a los beneficios que posee la

ciudad no es tarea compleja desde el pensamiento y el análisis; pero tal

vez sí lo sea desde la práctica. Distribuir la población y terminar con el

hacinamiento requiere de invertir la dotación de los servicios que

faltan, en hacer dinámico el trasporte de pasajeros acortando tiempos

o igualándolos a los que son comunes en las ciudades. Integrar hacer

Page 130: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

129

honor al derecho de no migrar. Integrar es fortalecer el territorio con

criterio de sistema, sin por ello renegar del avance tecnológico, sino

todo lo contrario, adaptándolo y utilizándolo. Y para ello, el Estado

tendría un rol: el de rehacer un sistema, el de acercar beneficios y

servicios afianzando la soberanía, hoy gobernada casi exclusivamente

por la soja, maquinarias agrícolas, los fondos de inversión. Y quizás

también un rol con mayor intervención tanto en el apoyo, subsidios

cruzados y distributivos, como en el control de beneficios, rentas y

manejo de tierra y territorios.

Guillermo Rawson –en el último cuarto del siglo XIX- enfatizaba:

“En la República Argentina hay grandes lores, grandes propietarios de

tierra; a la República Argentina llegan millares de extranjeros pobres,

buscando un pedazo de tierra para poblarla, para hacerla producir,

regándola con le sudor de su rostro, para arrancar de su seno lo que

necesita, para su sustento y el de su familia. ¿Y que hace el gran

propietario? La retiene en su poder, entregada a los potros, a las vacas

y a las ovejas”.

Page 131: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

130

Referencias

ARACIL, J. Introduccion a la Dinamica de Sistemas. Alianza Editorial.

1992. 400p.

BÁEZ, J.; PÉREZ DE TUDELA, J. Investigación cualitativa. ESIC Editorial,

2007, 399p.

BENITEZ, M. La Argentina que desaparece, desintegración de

comunidades rurales y poblados en vías de desaparición. Univ. De

Belgrano. Buenos Aires, 2000. 68p. (Tesis de Doctorado. Universidad de

Belgrano. Serie de estudios para graduados).

CACIVIO, R. Las organizaciones y el concepto de sistema.

Procesamiento didáctico de Daniel Katz y Robert Kahn. UNLP, 2000.

DIEZ TETAMANTI, J. M. Despoblamiento y Acción del Estado en la

región Sudeste de la Provincia de Buenos Aires entre 1976 y 2004.

Estudio de caso en las localidades de Mechongué (Partido de General

Alvarado) y San Agustín (Partido de Balcarce). disponible en:

http://www.uib.es/catedra_iberoamericana/publicaciones/tetamanti/in

dex.html#i . Acceso en agosto de 2008. (Colección Veracruz. Nº 17. Ed

Fundació Cátedra Iberoamericana. Barcelona.).

FLORES, C. F. Globalización y redefinición territorial. Una aproximación

al estudio del despoblamiento rural en el partido del General las Heras

(P de B. Aires). Disponible en:

http//www.cmq.edu.mx/rii/cuba%202002/grupo/grupo1/t1/gt%2014.ht

m Acceso en mayo de 2004.

GODELIER, M. Racionalidade e Iracionalidade na economia. Tempo

brasilero, 1982. 313p.

LAPOLLA, A. J. Estado y economía: algunos aspectos relacionados a la

biotecnología transgénica en la Argentina y sus efectos

socials.Disponible en:

Page 132: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

131

http://www.buenasiembra.com.ar/ecologia/articulos/biotecnologia_soja

lizacion1.htm Acceso en 21 de agosto de 2005.

MANTOBANI, J. M. Territorio, población y localidad. En: Nuestra

geografía local. Velázquez, G; Lucero P y Mantobani J. Editores. Ed. El

Faro: Mar del Plata. 2004. 347p.

RATIER, H. Poblados Bonaerenses, vida y milagros. Ed. La Colmena.

Buenos Aires. 2004. 130p.

RAWSON, G. Polémicas con Sarmiento discursos y escritos politicos.

Ed. W. M. Jackson, Buenos Aires. 1944. 260p.

SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início

do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 471 p.

SILI, M. Los Espacios de la Crisis Rural, Geografía una Pampa Olvidada.

Ed. UNS. Bahía Blanca. 2000. 179p.

VAPÑARSKY, C. El concepto de localidad: definición, estudios de caso y

fundamentos teóricos – metodológicos. Serie D Nº 4, INDEC, Buenos

Aires.1998. 96p.

WHITEHEAD, A. N. O conceito de natureza. Martins Fontes. 1994.

240p.

Page 133: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

132

Page 134: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

133

PEQUEÑAS LOCALIDADES, POLÍTICAS PÚBLICAS EN LA PROVÍNCIA DE

BUENOS AIRES

Daniel Cárdenas13

Jorge Sutil14

Por que estamos presentes en este espacio

Uniendo Pueblo es una Asociación sin fines de lucro, constituida

en el año 2004 a partir de un trabajo territorial y comunitario que

sustentó la elaboración de la Ley de 13.251/04, Régimen de Promoción

de Pequeñas Localidades de la Provincia de Buenos Aires; con el objetivo

genérico de promover un modelo de desarrollo local integral y

sustentable.

Desarrolla su accionar con la participación y colaboración de

todos los agentes públicos y privados que intervienen en los procesos de

desarrollo económico, sociocultural y medioambiental.

Busca la construcción de espacios facilitadores, articular e

integrar iniciativas locales que, a través de la creación de alianzas

estratégicas, permitan mejorar y fortalecer las capacidades de las

organizaciones de la sociedad civil para contribuir sistemáticamente a

mejorar la calidad de vida de los habitantes en las localidades del

interior.

Nuestro Diagnostico en las pequeñas localidades en la Provincia

de Buenos Aires:

13

Daniel Cárdenas, vicepresidente “Uniendo Pueblo” . E-mail: [email protected]. 14

Jorge Sutil, secretario “Uniendo Pueblo”. E-mail: [email protected].

Página web: www.uniendopueblo.com.ar.

Page 135: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

134

El baricentro de la movilidad espacial de la población en la

provincia de Buenos Aires fue variando desde 1960 hasta la actualidad,

teniendo como punto de referencia el índice de población urbana

nacional, que se elevó de un 72% en 1960 a un 93% en 2001.

Los datos de la provincia de Buenos Aires, tal vez sean más

relevantes para nuestro objeto de estudio que los del total nacional. La

población urbana en la provincia de Buenos Aires, supera por más de 2

puntos al indicador de población urbana nacional, situándose la de

nuestra provincia en 96,23% en 2001.

La característica de la población rural (se clasifica como rural a la

población en localidades de menos de 2.000 habitantes o en campo

abierto [INDEC, 1991]), es de interesante análisis para nuestro

propósito.

Para el censo 1991, la población rural en la provincia de Buenos

Aires, representaba al 4,83% de la población total; mientras que en el

censo 2001, se registra un descenso que fija a la población rural en el

3,77% con respecto al total provincial. Esta disminución porcentual

rural de 1,06 puntos; en términos absolutos se traduce en 87.117

habitantes menos en el espacio rural.

Para acotar más aún el campo de análisis, analizamos los cambios

en los últimos dos censos, dentro del espacio rural, pero desagregando

los datos en población del espacio rural-dispersa (campo abierto

[INDEC: 1991]) y rural-agrupada (localidades de menos de 2000

habitantes [INDEC, 1991]).

En lo referente a la población rural-dispersa se registra una

disminución del 32,53% entre 1991 y 2001. Para 1991, la población rural-

dispersa alcanzaba al 3,39% del total, mientras que para 2001 el

porcentaje disminuyó al 2.29%. Paralelamente la población rural-

agrupada, -en donde se encuentran por ejemplo Mechongué y San

Agustín- (localidades con menos de 2000 habitantes) entre 1991 y 2001

Page 136: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

135

Porcentaje de la población rural sobre el total provincia de

Buenos Aires. Rural disgregada en Agrupada y Dispersa

-0,35

-0,3

-0,25

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

1.991 2.001 Variación 1991-

2001

%

Población rural Agrupada Dispersa

registra un leve aumento del 3,12%. Para el censo 1991, esta porción

poblacional representaba al 1,44% del total, mientras que ya en 2001,

un incremento casi imperceptible hasta para la estadística, indica que la

porción rural-agrupada representa al 1,48% del total provincial.

Los siguientes gráficos ilustran el comportamiento descrito.

Gráfico 1 – Provincia de Buenos Aires, Porcentaje de la población rural sobre el total,

1991-2001.

Fuente: INDEC. Censos 1991 y 2001

Extraído de: Diez Tetamanti, 2007.

Page 137: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

136

Poblacíon Rural absoluta. Rural disgregada en Agrupada y

Dispersa. Censo 1991 y 2001.

0

100

200

300

400

500

600

700

1991 2001

en

miles d

e h

ab

itan

tes

Población rural Agrupada Dispersa

Gráfico 2 – Provincia de Buenos Aires, Población rural absoluta, disgregada y dispersa,

1991-2001.

Fuente: INDEC. Censos 1991 y 2001

Extraído de: Diez Tetamanti, 2007.

Si observamos las columnas que grafican los porcentajes y valores

absolutos, advertimos que la población rural ha decrecido, comparando

los valores de los censos 1991 y 2001. No obstante, al disgregar la

población en rural-agrupada y rural-dispersa, podemos ver que la

población rural-agrupada, no sólo es la única que demuestra un

crecimiento relativo, sino que también en valores absolutos se observa

el incremento poblacional.

Entre los problemas actuales, manifestados en el espacio rural

pampeano, encontramos diversas cuestiones relacionadas con cambios

en la estructura económica territorial que actúan directamente sobre la

cuestión social, su representación físico espacial, la composición

demográfica, el abandono de la capacidad de servicios instalada, el

Page 138: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

137

aislamiento, la marginación y, los modos de resistencia social a cambios,

o bien las nuevas formas de representación del problema.

Dentro de la estructura de las localidades hay elementos como

signos constitutivos de un sistema que interesan desde su interacción o

bien dentro del esquema funcional. La interacción entre estos

elementos es, en definitiva, lo que le otorga su propia razón de ser

(RANDLE, 1992). Los elementos pueden también darnos idea de la

magnitud de la localidad y hablarnos sobre su comportamiento social,

económico, histórico y territorial. Consideramos que la propia

reproducción de la edificación, el estado de abandono o cuidado de sus

estructuras físicas, las empresas actuantes, la relación con el espacio

agrario y las ciudades próximas o lejanas, la circulación de personas y

mercaderías, de información; y otros elementos hacen a la

internacionalidad, la funcionalidad y la vida misma de la localidad. Son

estos elementos los que en interacción permiten (en realidad vamos a

decir más adelante que vertebran) una funcionalidad del territorio.

Siguiendo a Giddens podemos vincular la idea de vertebrar con la

de estructura, donde las “partes” (elementos) de un sistema sólo son en

virtud de las características que componen el “todo” (sistema). De esta

forma, las “partes” no pueden funcionar sin estar en relación entre sí.

(GIDDENS, 1990) Es el “todo” quien les otorga funcionalidad, pero

integrado por sus “partes”. Pensamos que desde el análisis geográfico,

existen en el territorio comportamientos sociales, culturales y

económicos que funcionan como partes de la estructura. Esas partes

hacen a la vez de sostén y dinamizador del territorio. El territorio es

mutante, móvil, es una estructura de constantes construcciones y

deconstrucciones. El territorio es atravesado por flujos simbólicos y

concretos, (información, coyuntura económica política y social, rutas,

ferrocarriles, mercaderías, etc.), estos flujos actuarían como

vertebradores, sostenes de una estructura mutante infinita que puede

Page 139: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

138

observarse desde sucesos y mapas fotogramáticos (DIEZ TETAMANTI,

2007)

En el sentido territorial además de las condiciones

vertebradoras, incluimos a las articuladoras. La articulación del

territorio esta relacionada con la capacidad de mantener un rol en el

sistema en el sentido del vertebramiento del territorio. La

desarticulación aparece al perderse todo o parte del rol funcional local

en cuanto a su interacción, lo que luego se traduce en la falta de

respuestas a los requerimientos sociales globales e incluso locales

(RANDLE, 1992).

Los antecedentes principales que llevaron a la situación actual

Consideramos que evidentemente que este diagnostico descrito

precedentemente no es resultado casual sino que obedeció a un modelo

y a una política que vivió nuestro país a lo largo de los últimos cincuenta

años.

Siguiendo a Diez Tetamanti, podríamos decir entonces, que hasta

1955 hubo en estas localidades y parte de la región, un proceso de

ocupación natural del espacio. Las localidades crecieron acompañando

una necesidad coyuntural y temporaria de mano de obra generada por la

actividad agraria. Por otra parte, un complejo legal y normativo

colaboró, hasta estos años con una distribución de la tierra entre

pequeños productores agrícolas.

Cercana la década de 1960, se inicia el proceso aperturista de la

economía Argentina. Esta fase es acompañada por una serie de medidas

de Estado que impactaron en la reconcentración de las tierras, la

demanda de mano de obra y, el modo de explotación de la tierra. Las

pequeñas localidades, advierten en este tiempo, tanto desde la

Page 140: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

139

estadística como desde la memoria, el inicio del estancamiento

demográfico.

Ya en 1976 se advierten quiebres fuertes tanto en lo social como

en lo territorial. El modelo económico de ajuste, sumado a una política

aperturista intensificada, impacta en las localidades rurales con el

cierre o clausura de servicios de transporte y una disminución de la

inversión en obras públicas. Desde algunos municipios o cooperativas,

con la participación de la población se encargan, de ejecutar o mantener

servicios y obras públicas.

La década de 1990 es un periodo de intensificación del ajuste

económico y de la exclusión socio-territorial. El proceso de

agriculturacion intensiva que se manifiesta desde fines de los ‟70 en

todo el país, llega a la región e impacta desplazando a pequeños

productores, básicamente hoy de la mano de la sojizacion, acompañados

de los cultivos tradicionales del trigo, girasol, maíz, etc. Sumado esto a

la creciente tecnificación del agro, se incrementa la baja en la demanda

de mano de obra.

Por otra parte, la Ley de Reforma del Estado 23.696 y sus

reglamentaciones de ajustes, privatización y concesión de los servicios

públicos, cierre de instituciones subsidiarias a la actividad agraria,

desplazan al margen de la economía, a los espacios sociales de estas

localidades. Se paraliza la obra pública, cesa el crédito y el

financiamiento y se ejecutan solamente políticas sociales de retén

social. La acción de los municipios y de las cooperativas, pasa a ser

fundamental para el sostenimiento de los servicios sociales y

económicos como salud, educación, agua, teléfono, electricidad.

La década de 1990 impone una gestión casi autónoma para la

conservación de servicios, empleo, instituciones y patrimonio. La falta

de financiamiento y el sentido de lucro de las empresas privatizadas,

hacen que se disminuyan las frecuencias de servicios de transporte, que

Page 141: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

140

no exista inversión u obra por parte del Estado o las “privatizadas”,

generando la necesidad y el impulso de apropiación del sistema de

servicios y de parte del patrimonio. Así, las cooperativas se sitúan con

un rol fundamental de fomento, y las acciones sociales endógenas

organizadas mantienen o reconfiguran viejas estructuras

pertenecientes a la antigua lógica de Estado, esto en el sentido de la

reorganización, reterritorialización y resistencia. De esta forma,

muchas de las cooperativas conservan los servicios públicos y, a través

de organizaciones sociales locales se obtiene financiamiento para

ayudas mutuas, construcción de centros culturales, reparación de

instalaciones, reactivación de espacios públicos (DIEZ TETAMANTI,

2007).

Contexto de Acción de Estado

La crisis de 2001, está marcada en estas localidades, quizás no

tan potentemente desde la manifestación social en sí; sino desde el

cambio de participación en la acción por parte del Estado. La provincia

de Buenos Aires, representa en esta nueva etapa un papel relevante. El

cambio de políticas económicas pos crisis, no solamente se refleja en

una mayor actividad de mano de obra dedicada a los servicios

relacionada con el agro – que no es del todo satisfactoria para la

población - sino en un giro de paradigma de política social, o quizás de

política territorial.

La Ley 13.251 de la provincia, el Plan Volver, el Programa Pueblos,

etc.; tal vez no lleguen a integrar de modo total a las localidades en el

sistema de inclusión socio-territorial, pero (re)involucran e intentan

reconstruir una política local y una nueva relación entre la población y

las políticas de Estado.

Page 142: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

141

Así, y ante los períodos cíclicos de la economía nacional, vinculado

a procesos de territorialización, a partir de 2001 se inicia una nueva

fase de intervención del Estado, pero renovada, con más dinamismo y

proyección. La acción local para el desarrollo, que en los 90‟ se

enarbolaba como salida única y de casi absoluto autofinanciamiento y

autogestión, a partir de 2001 se acopla con la cooperación y el

compromiso del Estado. La diferencia está marcada por un Estado que

toma de la autogestión y de la innovación local, la pauta para encauzar el

financiamiento ante necesidades o demandas concretas.

Ley 13251 - Régimen de Promoción de Pequeñas Localidades

Bonaerenses

Esta Ley, de autoría del diputado Mariano West, contempla la

situación de despoblamiento que fue acompañada en décadas

anteriores por un progresivo retiro del Estado (nacional, provincial y

municipal) que por muy diversas causas, (ya sean económicas o de

racionalización) fue disminuyendo los servicios que se prestaban

agravando aún más la de por sí difícil situación.

De este modo, la necesidad de legislar sobre el problema, debe –

necesariamente - ser acompañada por una activa política estatal de

planificación y desarrollo, definiendo nuevos roles políticos y

administrativos.

Con esta Ley se intenta atacar las causas de la problemática

proponiendo medidas tendientes a detener el progresivo

despoblamiento de las pequeñas localidades, dotándolas de

herramientas que faciliten su desarrollo y progresiva integración

regional y nacional, a fin de garantizar la integridad territorial.

Por ello, la iniciativa crea un Régimen de Promoción de pequeñas

Localidades, con el fin de promover el desarrollo de las mismas

Page 143: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

142

mediante la articulación de políticas públicas nacionales, provinciales y

municipales.

La Ley, persigue definir y articular acciones interjurisdiccionales

en las áreas de desarrollo humano, empleo, educación, cultura,

infraestructura, vivienda, producción, asuntos agrarios y turismo;

destinadas al desarrollo socioeconómico de localidades de hasta 2.000

habitantes, mejorando la accesibilidad de las pequeñas localidades a la

salud, educación, vivienda, bienes culturales, infraestructura,

producción, trabajo y desarrollo sustentable.

Asimismo, la iniciativa persigue la generación de planes

estratégicos de desarrollo local con perspectiva regional y provincial,

que deberán abordar el desarrollo económico, cultural, demográfico,

social y ambiental, procurando una proyección sustentable que, evaluado

por la autoridad de aplicación nacional, permitirá la obtención de

recursos necesarios para su implementación.

La provincia de Buenos Aires posee una distribución desigual de la

población dentro de su territorio. Esto genera dificultades de diversa

índole que se fueron haciendo cada vez más complejas década tras

década. Así, la distribución desigual en tanto desproporcionada, es

causa y efecto de la existencia de grandes aglomeraciones urbanas,

donde el acceso a los servicios básicos y la calidad de vida se ven

deteriorada en la actualidad; pero aún ofrecen cierta perspectiva de

sobrevivencia, sosteniéndose la vida cotidiana en condiciones de gran

precariedad.

La instalación de esta problemática afecta una población estimada

que va de 500 mil a 2 millones de personas. Es decir que la situación de

las pequeñas localidades bonaerenses es sumamente compleja y se

pierde en miradas que sólo suelen ponerse en los grandes aglomerados

urbanos o que intentan dar respuesta sólo desde lo productivo, dejando

de lado las cuestiones locales, en tanto cultura, identidad, educación,

Page 144: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

143

potencialidades y especialmente la necesidad imperiosa de mejorar la

calidad de vida y facilitar las formas solidarias y autogestivas locales.

En este aspecto el Estado pasaría a tener un papel central como

promotor, dinamizador, ordenador y planificador, y la presente ley

apunta a facilitar el papel del Estado provincial, la autogestión en el

ámbito comunitario y el desarrollo local.

Es conocida la necesidad de mejorar la capacidad del desarrollo

local atendiendo la particularidad de las diferentes regiones y

municipios de nuestra Provincia. Desde la ley se fortalecerán esas

facetas poniendo énfasis en las potencialidades de las pequeñas

localidades bonaerenses teniendo en cuenta su singularidad y

perspectivas de desarrollo.

Así, el desarrollo local integrado a una política poblacional,

permitirá fortalecer los aspectos socioproductivos de las pequeñas

localidades bonaerenses.

Por ello, la Ley establece un régimen de promoción de pequeñas

localidades bonaerenses, en la perspectiva de impulsar acciones

dirigidas a la concreción de planes estratégicos de tipo local, articulado

desde los municipios, promoviendo políticas públicas en las áreas de

vivienda, acción social, educación, salud, cultura, entre otras, con los

diferentes estamentos del gobierno provincial y nacional.

“Programa de promoción de Pequeñas Localidades”

Programa desarrollado a través del Convenio 2447/05, entre el

Ministerio de Desarrollo Social de la Nacion (M.D.S.) y la Federación de

Asociaciones de Centros Educativos para la producción total (FACEPT)

en conjunto con la Asociación Civil Uniendo Pueblo.

Este convenio tuvo por objeto "Promover la organización

comunitaria e institucional en las pequeñas localidades de la Provincia de

Page 145: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

144

Buenos Aires, para la gestación de procesos sostenidos de organización

y planificación participativa comunitaria para el desarrollo local"; a

través de la implementación del primer Programa de Capacitación y

Asistencia Técnica.

Esta propuesta tiende a fortalecer la organización comunitaria en

las pequeñas localidades, a través de procesos sostenidos de

planificación participativa y financiamiento de Proyectos socio-

productivos para el desarrollo local en el marco de la Ley de Promoción

de Pequeñas Localidades sancionada en la Provincia de Buenos Aires

(Ley 13.251) y lo establecido por Resoluciones MDS 1.375/2004 y

SPSyDH 360/2004.

El objetivo general del Plan presentado al M.D.S. apunta a:

"Promover la organización comunitaria e institucional en las pequeñas

localidades de la Provincia de Buenos Aires, para la gestación de

procesos sostenidos de organización y planificación participativa

comunitaria para el desarrollo local".

Para el logro de este objetivo general se plantea un primer

Programa de promoción de 24 pequeñas localidades bonaerenses, como

sectores estratégicos del desarrollo de sus pobladores rurales, cuyos

objetivos específicos son:

a) Celebrar acuerdos cogestivos con los gobiernos locales

distritales para la implementación del Programa de promoción de

Pequeñas Localidades.

Metas: 24 acuerdos de cogestión firmados con 24 gobiernos

distritales para la implementación del Programa.

b) Generar capacidad instalada en los distritos seleccionados

para la promoción del desarrollo rural comunitario a través de la

conformación de los Consejos de Apoyo Locales como espacios de

planificación y gestión del mismo.

Page 146: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

145

Meta 1

- Conformar 24 Equipos de 3 integrantes cada uno para la

promoción del desarrollo comunitario rural y la formación de Consejos

de Apoyo Local.

Meta 2

- Constituir 24 Consejos de Apoyo Local.

c) Fortalecer las capacidades de los Consejos de Apoyo Local para

propiciar la gestión de una propuesta local de desarrollo con equidad,

sostenible y sustentable para cada localidad.

Meta 1

- 24 diagnósticos participativos realizados.

Meta 2

- Líneas estratégicas para el desarrollo identificadas en cada uno

de los 24 Consejos de Apoyo Local.

Meta 3:

- 10 planes estratégicos participativos para el desarrollo

comunitario formulados y puestos en marcha.

d) Difundir, articular y aplicar planes, programas y proyectos

sociales específicos, de nivel internacional, nacional, provincial o

municipal, que permitan fortalecer los planes, líneas o acciones

estratégicas impulsadas por cada localidad.

Meta 1:

- 24 Consejos de Apoyo Locales conociendo los diferentes

programas sociales disponibles.

Meta 2:

- 24 Consejos de Apoyo con capacidad de gestionar recursos

provenientes de planes, programas y/o proyectos sociales

e) Fortalecer económicamente y de asistir técnicamente

proyectos productivos o de servicios a la producción, enmarcados en las

Page 147: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

146

líneas estratégicas de desarrollo de las localidades para el desarrollo

local.

Meta 1

- 20 proyectos productivos o de servicios puestos en marcha con

financiamiento del Programa para priorizar el fortalecimiento de las

cadenas de producción de la región.

Meta 2:

- 20 proyectos de capacitación o a. técnica implementados en el

marco del Programa.

Listado de Municipios que integraron el Programa y las localidades

elegidas: Municipio de San Andrés de Giles, localidad Heavy; Municipio

de Mercedes, localidad Franklin; Municipio de Rojas, localidad Roberto

Cano; Municipio de Baradero, localidad Santa Coloma; Municipio de

General Viamonte, localidad La Tribu; Municipio de General Belgrano,

localidad Newton; Municipio de Rauch, localidad Colman; Municipio de

Lobos, localidad Zapiola; Municipio de Brandsen, localidad Altamirano;

Municipio de Gral. Alvarado, localidad Mar del Sur; Municipio de

Balcarce, localidad San Agustín; Municipio de Tres Lomas, localidad Ing.

Thompson; Municipio de Magadalena, localidad Vieytes; Municipio de

Carlos Tejedor, localidad Colonia Seré; Municipio de Carlos Casares,

localidad Ordoqui; Municipio de Pehuajó, localidad Francisco Madero;

Municipio de 9 de Julio, localidad Dennehy / French; Municipio de

Lincoln, localidad Bayauca; Municipio de Pringles, localidad Divisorio;

Municipio de Guamini, localidad Arroyo Venado; Municipio de General La

Madrid, localidad Las Martinetas; Municipio de Olavarria, localidad

Espigas; Municipio de Torquinst, localidad Tres Picos; Municipio

Gonzalez Chavez, localidad Juan E. Barra

Page 148: Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

147

Referências

DIEZ TETAMANTI, J. M. Despoblamiento y Acción del Estado en la región

Sudeste de la Provincia de Buenos Aires entre 1976 y 2004.

Estudio de caso en las localidades de Mechongué (Partido de General

Alvarado) y San Agustín (Partido de Balcarce). Edición de la Fundació

Càtedra Iberomericana, Barcelona. 2007. En

http://www.uib.es/catedra_iberoamericana/publicaciones/tetamanti/index.

html

GIDDENS, A. La teoría social, hoy. Ed. Alianza. Madrid. 1990. Pp. 254 –

289.

INDEC. Censo de Población y Vivienda. 1991 y 2001. En

http://www.indec.gov.ar

INDEC. Censos Nacionales Agropecuarios 1960, 1988 y 2002. Datos en

papel y en línea. [consulta: marzo de 2006.]. Buenos Aires.

INDEC. Compendio de resultados Provisionales del Censo 1970.

(Localidades con menos de 2000 habitantes). 1970.

INDEC. Provincia de Buenos Aires. Serie B Censo 1980. 1980.

PROVINCIA DE BUENOS AIRES. Ministerio de Economía. Dirección Provincial de

Estadística. Estadísticas Sectoriales Bonaerenses. Población por localidad.

2004.

PROVINCIA DE BUENOS AIRES. Ministerio de Economía. Dirección Provincial de

Estadística. Población por localidad para los censos. 1960, 1970, 1980 1991

y 2001. Formato digital. Sin año de publicación. Año de solicitud a la

entidad: 2005.

RANDLE, P. Ciudades Intermedias, su reactivación en la región pampeana.

Fundación Banco Boston. Buenos Aires: Ed. Banco Boston Argentina. 1992.

UNIENDO PUEBLO. Convenio 2447/2005. Provincia de Buenos Aires:

Ministerio de Desarrollo Social de la Nacion- FACEPT. Año 2005/2006.

WEST, M. Ley 13251: Régimen de Promoción de Pequeñas Localidades

Bonaerenses. Provincia de Buenos Aires: Honorable Cámara de Diputados,

2005.