33
5 Perdas por Atrito em Escoamento Separado Neste capítulo dedicaremos atenção à estimativa do atrito em escoamentos separados. Basicamente procuraremos obter o gradiente de pressão devido ao atrito viscoso em escoamentos bifásicos (ou de dois componentes) em regime permanente em dutos com seção transversal constante. Admite-se que esses escoamentos consistem de duas correntes que escoam separadamente, denominadas de gás e líquido, embora possam ser igualmente tratados para quaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera que as duas fases podem ter propriedades físicas e velocidades distintas. Na versão mais complexa as equações de conservação de massa, quantidade de movimento e energia são consideradas para cada fase, constituindo seis equações que devem ser resolvidas simultaneamente, juntamente com equações que relacionam o processo de interação entre as fases e com a parede do duto (usualmente transferência de quantidade de movimento e energia). Na versão mais simples, somente um parâmetro, como a velocidade, difere entre as fases, enquanto as equações de conservação são escritas na forma combinada. Quando o número de incógnitas excede o número de equações correlações ou hipóteses simplificadoras são introduzidas. Na literatura encontramos uma vastíssima quantidade de correlações para a perda de pressão devido ao atrito viscoso. Em geral essas expressões estão associadas a áreas específicas de aplicação como centrais nucleares, petróleo e sistemas biológicos, para as quais dados foram levantados para atender demandas particulares de geometria, características de fluidos, condições de escoamento e ambiente. Aqui só faremos uma breve menção a algumas dessas correlações, concentrando nos conceitos básicos dos diversos modelos. Uma pesquisa à literatura é fundamental para melhor conhecer as aplicações de interesse particular. 5.1

Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

5 Perdas por Atrito em Escoamento Separado

Neste capítulo dedicaremos atenção à estimativa do atrito em escoamentos separados.

Basicamente procuraremos obter o gradiente de pressão devido ao atrito viscoso em escoamentos

bifásicos (ou de dois componentes) em regime permanente em dutos com seção transversal

constante. Admite-se que esses escoamentos consistem de duas correntes que escoam

separadamente, denominadas de gás e líquido, embora possam ser igualmente tratados para

quaisquer outros dois fluidos imiscíveis.

O modelo de escoamento bifásico separado considera que as duas fases podem ter

propriedades físicas e velocidades distintas. Na versão mais complexa as equações de

conservação de massa, quantidade de movimento e energia são consideradas para cada fase,

constituindo seis equações que devem ser resolvidas simultaneamente, juntamente com equações

que relacionam o processo de interação entre as fases e com a parede do duto (usualmente

transferência de quantidade de movimento e energia). Na versão mais simples, somente um

parâmetro, como a velocidade, difere entre as fases, enquanto as equações de conservação são

escritas na forma combinada. Quando o número de incógnitas excede o número de equações

correlações ou hipóteses simplificadoras são introduzidas.

Na literatura encontramos uma vastíssima quantidade de correlações para a perda de

pressão devido ao atrito viscoso. Em geral essas expressões estão associadas a áreas específicas

de aplicação como centrais nucleares, petróleo e sistemas biológicos, para as quais dados foram

levantados para atender demandas particulares de geometria, características de fluidos, condições

de escoamento e ambiente. Aqui só faremos uma breve menção a algumas dessas correlações,

concentrando nos conceitos básicos dos diversos modelos. Uma pesquisa à literatura é

fundamental para melhor conhecer as aplicações de interesse particular.

5.1

Page 2: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.1)

5.1- Modelos Separados sem Transferências na Interface

5.1.1 Modelo de Lockhart-Martinelli 1

O modelo de Lockhart-Martinelli está entre os mais antigos para o atrito bifásico em dutos

horizontais. Ainda é utilizado na indústria de processo, sendo muito simples de aplicação,

embora nem sempre muito preciso. Correlações utilizam os resultados do gradiente de pressão

do escoamento monofásico de cada um dos fluidos. Por outro lado, no escoamento bifásico, a

fração volumétrica freqüentemente varia ao longo do duto, induzindo uma aceleração no

escoamento. Associado a esta aceleração está a componente do termo correspondente do

gradiente de pressão que será tratado no parágrafo seguinte na análise da correlação de

Martinelli-Nelson. As correlações admitem que as massas específicas dos fluidos permanecem

constantes e o componente do gradiente de pressão devido à gravidade não é considerado; ou

seja, o modelo é desenvolvido para escoamento em dutos horizontais.

Um balanço de forças para regime permanente em escoamento monofásico no duto, Fig.

5.1, requer que

onde P e A representam, respectivamente, o perímetro e a área da seção transversal e ôw é a

tensão cisalhante na parede do duto. Para um duto circular P/A= 4/D, onde D é o diâmetro,

enquanto para uma seção não-circular, P/A= 4/Dh, com Dh o diâmetro hidráulico.

Figura 5.1 Duto horizontal, escoamento monofásico.

Definindo o coeficiente de atrito f como

1 Lockhart, R.W., Martinelli, R.C., Proposed Correlation of Data for Isothermal Two-PhaseTwo-Component Flow in Pipes, Chem. Eng. Prog., 45, 34-48, 1949.

5.2

Page 3: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.2)

(5.1.3)

(5.1.4)

(5.1.5)

(5.1.6)

a Eq. (5.1.1) torna-se

Para duto liso e escoamento monofásico o coeficiente f é admitido uma função do número de

Reynolds (Re= ñDh j/ì) na forma

onde o coeficiente c depende da rugosidade do duto e do regime do escoamento, laminar ou

turbulento. O índice n varia entre 1 para o escoamento laminar e 1/4 para turbulento.

Essas relações dos escoamentos monofásicos são aplicadas para as duas correntes na

seguinte forma. Definimos inicialmente os diâmetros hidráulicos, DhL e DhG, para cada uma das

fases líquido e gás e os seguintes parâmetros, kL e kG

onde AL= áLA e AG= áGA são as duas áreas efetivas de escoamento das fases e Dh= 4A/P o

diâmetro hidráulico do duto (Dh= D para duto circular). Os parâmetros kL e kG estão associados

a um fator de forma geométrico do padrão do escoamento. Lochkart-Martinelli originalmente

utilizaram os valores unitários para os dois parâmetros. Eles são aqui introduzidos no sentido de

dar maior generalidade. Por exemplo, no escoamento anular com filme líquido uniforme na

parede, esses parâmetros assumem os valores (§11.1, Cap. 11) 2

2 Do §11.1 para escoamento anular em duto com diâmetro D e espessura de filme líquido igual

a ä obtém-se para líquido o diâmetro hidráulico e a fração volumétrica . Com essas

expressões em (5.1.5) . Para a fase gás , enquanto ,

portanto

5.3

Page 4: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.7)

(5.1.8)

(5.1.9)

Por outro lado, as relações geométricas produzem os resultados; cf. (5.1.5)

e

Gradientes de Pressão

Segundo Lockhart-Martinelli os gradientes de pressão devem ser os mesmos nas duas correntes

em escoamento separado. Assim o gradiente de pressão do escoamento bifásico, dpTP/dx, é (da

equação geral (5.1.3): )

onde uL e uG e DhL e DhG representam, respectivamente, as velocidades locais (in situ) do líquido

e do gás, e os diâmetros hidráulicos das fases líquido e gás, Fig. 5.2. ôim é a tensão cisalhante na

interface considerando o efeito do fluxo de massa de evaporação ÃL.

Figura 5.2 Escoamento separado gás-líquido num duto horizontal.

Uma vez que os expoentes nL e nG podem variar entre os limites 1 e 1/4, dependendo se o

escoamento é laminar ou turbulento, pode-se ter as combinações indicadas na Tabela 5.1.

5.4

Page 5: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.10)

(5.1.11)

(5.1.12)

(5.1.13)

Tabela 5.1 Parâmetros de Lockhart-Martinelli e Chisholm

Regime na corrente nL nG Subscrito C

(Chisholm)Líquida Gasosa (Lockhart-Martinelli)

laminar laminar 1 1 LL 5

laminar turbulento 1 1/4 LT 12

turbulento laminar 1/4 1 TL 10

turbulento turbulento 1/4 1/4 TT 20

As equações (5.1.7) e (5.1.9) constituem a base da construção do modelo de Lockhart-

Martinelli. Os autores definiram ainda os seguintes parâmetros, também denominados fatores

multiplicadores,

onde (dp/dx)TP representa o gradiente de pressão real no escoamento bifásico e (dp/dx)L e

(dp/dx)G os gradientes de pressão hipotéticos que ocorreriam no mesmo duto se somente líquido

e gás estivessem presentes com as respectivas velocidades superficiais (jL= QL/A e jG= QG/A). A

razão desses parâmetros define o que se costuma denominar de parâmetro de Martinelli X

lembrando que GN= ñN jN = ñN áN uN (N= L,G). Combinando as Eqs. (5.1.5), (5.1.7) e (5.1.9)

obtém-se de (5.1.9)

e assim, de (5.1.10),

ou

5.5

Page 6: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.14)

(5.1.15)

(5.1.16)

(5.1.17)

Os expoentes nL e nG representam constantes para cálculo do fator de atrito para as

respectivas fases. Portanto, estabelecidos os fluxos de massa para o líquido e o gás deve-se

esperar uma certa distribuição para o arranjo das fases e, assim, para áL (e áG), definindo valores

para Ö2L e Ö2

G . Observe-se que, sendo nG e nL menores que 1, os parâmetros Ö2L e Ö2

G são

maiores que a unidade.

Ao definir o parâmetro X2, conclui-se de (5.1.11) e (5.1.14b) (para kL=kG= 1) que

Portanto, o parâmetro de Martinelli está intrinsicamente associado ao arranjo geométrico das

fases áG e áL. Lockhart e Martinelli postularam que os fatores multiplicadores Ö2L e Ö2

G deveriam

ser correlacionados com X2; ou seja, que Ö2L= fL(X) e Ö2

G = fG(X), ambos determinados

experimentalmente. Nas análises que seguem veremos maiores detalhes a respeito.

Da relação áG + áL= 1 as equações (5.1.14b) podem ser combinadas como

que, para escoamento turbulento, com nG= nL= 1/4, torna-se

Como a perda de carga (fator de atrito em 5.1.8) depende do arranjo do escoamento, os

autores correlacionaram esses parâmetros em função das quatro combinações para o escoamento

(laminar e turbulento) conforme descrito anteriormente, sendo o limite sugerido para a transição

laminar-turbulento ReN= 2000 (N= G,L). As curvas sugeridas por Lockhart e Martinelli são

mostradas na Fig. 5.3.

5.6

Page 7: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.18)

(5.1.19)

(5.1.20)

Relações simples e bastante precisas para representação gráfica das curvas de Ö2G e Ö2

L

sugerida por Chisholm 3 quase vinte anos após o artigo original de Lockhart e Martinelli têm a

forma

onde C é um parâmetro adimensional cujo valor depende da natureza do escoamento (laminar

ou turbulento), para o qual Chisholm sugere valores conforme mostrado na Tabela 5.1.1.

Note que para X= 1 (perdas de pressão iguais) e ambas as fases em regime turbulento

(C= 20), uma situação muito comum em instalações industriais com baixa viscosidade, o modelo

de Lockhart-Martinelli prevê uma perda de carga bifásica 20 vezes superior àquela do

escoamento monofásico.

As expressões de Chisholm sugerem que o esquema de Lockhart-Martinelli pode ser

resumido nas seguintes condições assintóticas — aqui mostradas com base na fração de líquido

A fração volumétrica de líquido mostrado na Fig.5.4 pode ser representada pela

expressão empírica sugerida por Martinelli

enquanto a curva tracejada representa a Eq. (5.1.15).

Em resumo: conhecidos: i- as propriedades dos fluidos; ii- os tipos de escoamento, LL,

LT, TL, TT, assim como os valores dos parâmetros nL, nG, cG e cL; iii- as expressões para os

parâmetros de geometria do padrão de escoamento, kL e kG e iv- o valor de áG, a solução dessas

equações produzem os valores de Ö2L e Ö2

G. Conseqüentemente, o parâmetro de Martinelli, X2,

é conhecido e de (5.1.11) obtemos a relação entre os fluxos de massa GL e GG. Se, por exemplo,

3 Chisholm, D., A Theoretical Basis for the Lockhart-Martinelli Correlation for the Two-PhaseFlow, Int. J. Heat Mass Transfer, 10, 1767-1778, 1967.

5.7

Page 8: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

o fluxo de massa total G= GL+GG for conhecido (freqüentemente é), a solução fornecerá os

valores de GL, GG, o título de massa e outras propriedades do escoamento. O gradiente de pressão

é imediatamente obtido a partir dos valores Ö2L ou Ö2

G, cf. Eq.(5.1.10).

Figura 5.3 Correlações de Lockhart-Martinelli para kL = kG = 1.

Figura 5.4 Correlação de Lockhart-Martinelli para a fração volumétrica de líquido. Ref. Wallis.

5.8

Page 9: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.21)

5.1.2 A Análise de Turner-Wallis 4

O método proposto por Martinelli para cálculo da queda de pressão implica no conhecimento

prévio de correlações para os parâmetros ÖG , ÖL e a fração volumétrica áG . Cerca de duas

décadas após a publicação do artigo de Lockhart e Martinelli, Turner e Wallis desenvolveram um

modelo teórico que procura explicar, ainda de forma similar, o método de Martinelli. Seguiremos

neste parágrafo o desenvolvimento mostrado no livro de Wallis.

Os autores propuseram que o escoamento gás-líquido poderia ser considerado

equivalente aos escoamentos monofásicos que aconteceriam em dois dutos paralelos, cada qual

com área equivalente à respectivas áreas reais no escoamento bifásico para relações laminar-

laminar, turbulento-turbulento e regimes de escoamento com fator de atrito constante, Fig. 5.5.

Devido à essa peculiaridade, o método é também denominado de modelo de cilindros separados.

Figura 5.5 Modelo de Turner-Wallis. Escoamento separado bifásico, gás-líquido, num duto horizontal

(a) equivalente ao escoamento em dois dutos com áreas das fases iguais às áreas originais: duto (b), gás,

+ duto (c), líquido.

Admitindo gradientes de pressão iguais, e a hipótese de fator de atrito conforme (5.18), obtém-se

(índices inferiores para caracterizar condições nos cilindros transportando gás e líquido)

e, da combinação das equações (5.2.22) com (5.2.21),

(5.2.22)

4 Em Wallis, G.B., One-Dimensional Two-Phase Flow, McGraw-Hill Co., Cap.3, 1969.

5.9

Page 10: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.23)

(5.1.24)

(5.1.25)

(5.1.26)

(5.1.27)

após divisão pelos respectivos gradientes de pressão monofásicos

portanto

onde mg= (5-nG)/2 e ml= (5-nL)/2. Observe ser este o resultado obtido em (5.1.16) pelo método

de Martinelli. Se fizermos ng=nl=1 teremos m= mg= ml= 2, para escoamento laminar, 2,5 # m

#19/8=2,375, para escoamento turbulento, calculado com base nas expressões do coeficiente de

atrito turbulento, como Blasius, e 2,5 # m # 3,5, para escoamento totalmente turbulento,

calculado com base no comprimento de mistura, por exemplo.

Turner-Wallis sugeriram ser possível generalizar esta expressão para m= mg= ml. Tendo

em vista que obtemos

com os intervalos de aplicação para m como descrito acima.

No caso de dois regimes do tipo laminar-turbulento e turbulento-laminar, o método leva

às seguintes expressões implícitas, respectivamente,

Utilizando os dados de Lockhart-Martinelli, Turner-Wallis encontraram o melhor ajuste

experimental para m= 2,75 para escoamento laminar-laminar e m= 4 para turbulento-turbulento.

5.10

Page 11: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

Figura 5.6 Comparação da queda de pressão pelos resultados empíricos de Martinelli (escoamento

líquido turbulento-gás turbulento) e pela Eq. (5.1.24) com mG= 4. Ref. Wallis, op. cit.

Figura 5.7 Comparação da queda de pressão pelos resultados empíricos de Martinelli (escoamento

líquido laminar-gás turbulento) e pela Eq. (5.1.24) com mG= 3,5. Ref. Wallis, op. cit.

5.11

Page 12: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

Figura 5.8 Comparação da queda de pressão pelos resultados empíricos de Martinelli (escoamento

líquido laminar-gás laminar) e pela Eq. (5.1.24) com mG= 2,75 e mG= 3,5. Ref. Wallis, op. cit.

A equação (5.1.25), ou (5.1.26), fornece famílias de curvas uniparamétricas que pode

ser ajustada com dados experimentais. Resultados de Lockhart-Martinelli e ajustes de (5.1.16)

para diversos valores de n são mostrados nas Figuras (5.6) a (5.8).

A correlação de Martinelli foi originalmente obtida para dutos horizontais sem mudança

de fase e aceleração. Apesar disso, foi muito utilizada para calcular tanto o gradiente de pressão

(ou o fator de atrito f), quanto a fração volumétrica, para serem introduzidos na equação de

quantidade de movimento do modelo homogêneo (4.3.3). O procedimento leva progressivamente

a erros sérios na medida em que a dependência do componente de atrito do gradiente de pressão

aumenta com relação a outros fatores não considerados no modelo. Um outro ponto que deve ser

destacado com relação ao modelo de Lockhart-Martinlli é que ele não contém a tensão superficial

como parâmetro; portanto, tendo sido baseado para a mistura água-ar (ou vapor-ar), parece que

o mesmo não deve ser estendido para outros fluidos. Nesses casos, outros métodos mais

complexos devem ser considerados.

Exemplo 5.1.1. Um duto de 8” de diâmetro transporta gás e óleo nas seguintes condições: QG= 0,16

m3/s, QL= 0,02 m3/s; pm= 10 bar (abs), Tm= 20 ºC, ñG= 8,5 kg/m3, ñL= 825 kg/m3, ìG= 0,02 cp, ìL= 1,4

cp, Di= 205 mm, å= 0,1 mm. Calcular o gradiente de pressão devido ao atrito viscoso pelo método de

Lockhart-Martinelli.

Solução: Calculemos os números de Reynolds para líquido e gás. Para tanto, necessitamos das

velocidades superficiais: jG= usG= QG/A= 0,16/0,033= 4,85 m/s, jL= usL= QL/A= 0,02/0,033= 0,61 m/s,

5.12

Page 13: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(1)

(2)

(3)

(4)

(5)

(6)

Com esses valores calculamos os coeficientes de atrito para as duas fases pela equação de

Haaland (4.3.19)

e com isso os gradientes de pressão monofásicos

e assim o parâmetro de L-M

Para escoamento totalmente turbulento, das equações de Chisholm (C= 20) obtém-se

então

e, da equação (5.1.16), obtemos para a fração de gás, áG = 0,73. Note que se admitirmos

escoamento sem deslizamento teríamos, áG= QG/(QG+QL)= 0,88. O resultado de L-M sugere

haver considerável deslizamento (uG > uL).

5.13

Page 14: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.27)

(5.1.28)

5.1.3 Correlação de Friedel 5

A literatura apresenta um grande número de modelos analíticos e empíricos para

modificar ou extender o modelo de Martinelli. Dentre esses destacam-se modelos analíticos para

a troca de quantidade de movimento e/ou de energia entre as fases, e correlações empíricas que

procuram cobrir determinados fluidos e expressões para ö2L e áG desenvolvidas para condições

de interesse de um problema específico. De um modo geral esta opção deve ter preferência sobre

modelos analíticos ou correlações genéricas.

Friedel (1979) desenvolveu uma correlação para o parâmetro ö2L, aplicável a qualquer

ângulo de escoamento e fluido desde que . Hewitt a considera, cp. Hetsroni6, uma

das mais precisas para cálculo da perda de carga em escoamento separado gás-líquido, sendo

recomendada sua aplicação (em 1982), preferencialmente, sobre a de Lockhart-Martinelli, sempre

que possível.

A análise considerou um banco de dados com cerca de 25000 pontos, obtendo uma

correlação para o multiplicador de líquido (5.1.10) na seguinte forma, cp. Hetsroni op cit,

onde

5 Friedel, L., Improved Friction Pressure Drop Correlations for Horizontal and Vertical Two-Phase Flow, Europeam Two-Phase Flow Group Meeting, Ispra, Itália, 1979. Também em Handbook ofMultiphase Systems, Ed. Gad Hetsroni, Hemisphere Publishing Corp., Cap. 2, 1982.

6 Handbook of Multiphase Systems, Ed. Gad Hetsroni, Hemisphere Publishing Corp., Cap. 2,

1982.

5.14

Page 15: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.1.29)

(5.1.30)

(5.1.31)

e fG* a fL* representam os fatores de atrito para o fluxo de massa total G de gás e líquido. xG e xL,

BG e sl e ó os títulos (Eq. 1.1.15) e viscosidades de gás e líquido e tensão superficial gás-líquido,

respectivamente. O subescrito * indica que a tensão superficial na interface gás-líquido deve ser

calculada incluindo o efeito do fluxo de quantidade de movimento entre as fases quando ocorrer

evaporação ou condensação. Para fluxo transversal não muito elevado Hewitt mostra que

onde

ÃL (kg/m2-s) é o fluxo de massa por unidade de área entre o líquido e o gás — positivo na

evaporação, negativo na condensação. Observe que na evaporação a tensão cisalhante na

interface é reduzida pelo fluxo transversal e, vice-versa, aumentada na condensação. Pi é o

perímetro na interface. Não havendo transferência de massa transversal, a tensão cisalhante, ou

o fator de atrito, tem a forma clássica obtido em função do número de Reynolds e da rugosidade

relativa interfacial, fi= f(ReG,å/D).

Uma vez calculado Ö2L* a perda de carga pode ser avaliada por

A comparação dos resultados obtidos pela correlação de Friedel e os dados

experimentais indicam um desvio padrão de 30% para escoamento uni-componente (água e

vapor, por exemplo) e de 40-50% para escoamento com dois componentes (óleo e gás, por

exemplo). Portanto, a despeito da complexidade da correlação proposta, os desvios padrão são

ainda bastante elevados, indicando um espalhamento considerável dos dados e, assim, um grau

de incerteza elevado para a previsão da queda de pressão do modelo 7.

7 Hetsroni, G., op cit.

5.15

Page 16: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.2.1)

(5.2.2)

(5.2.3)

(5.2.4)

(5.2.5)

5.2- Modelos Com Deslizamento (Drift Flux)

Drift flux é outro modelo de escoamento separado que tem por base relações para o fluxo

volumétrico – ou velocidade superficial – de cada fase (cp. § 1.1.2), e não a velocidade real. O

conceito foi originalmente proposto por Wallis 8 e posteriormente consolidado por Zuber e

Findlay 9.

Iniciemos a análise com a definição de média na área da seção transversal do duto. Para

uma variável genérica n, a média na seção A do duto é definida como

enquanto a média por um peso genérico å pode também ser definida como

Relembrando que uG e uL são velocidades locais das fases, do Cap. 1 definimos os fluxos

volumétricos, ou velocidades superficiais

e

Então, podemos definir as velocidades de deslizamento (drift velocities), ou velocidades relativas

a j (fluxo volumétrico global, ou médio),

8 Wallis, G.B., One-Dimensional Two-Phase Flow, McGraw-Hill Co., Cap. 4, 1969.

9 Zuber, N., Findlay, J.A., Average Volumetric Concentration in Two-Phase Flow Systems,J. Heat Transfer, 87, 453, 1965.

5.16

Page 17: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.2.6)

(5.2.7)

(5.2.8)

(5.2.9)

(5.2.10)

(5.2.11)

(5.2.12)

(5.2.13)

e a velocidade relativa entre as fases

Combinando as quatro últimas equações obtém-se

Observe que se a velocidade relativa uGL for nula, então uGj= uLj= 0 e uG= uL= j. Em termos de

velocidades médias na seção transversal do duto, de (5.2.3) temos

levando as expressões para uG e uL indicadas em (5.2.5) nesta equação

e definindo a velocidade de mistura média Vm

Define-se as frações volumétricas médias

e a velocidade média para a fase G

Dividindo (5.2.9a) por

Observe que, se o perfil de concentração for uniforme, o primeiro termo da direita desta equação

é igual a Vm.

5.17

Page 18: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.2.14)

(5.2.15)

(5.2.16)

(5.2.17)

(5.2.18)

Parâmetro de Distribuição e Velocidade de Deslizamento

Neste ponto é interessante introduzir o parâmetro de distribuição de Zuber e Findlay Co e a

velocidade de deslizamento uG j* (aqui uma média baseada na fração volumétrica áG),

Levando (5.2.14) em (5.2.13)

Portanto, a velocidade média da fase gás pode ser expressa como a soma de um termo

proporcional à velocidade de mistura e uma velocidade de deslizamento.

Note que VG não é igual a , pois esta está relacionada ao fluxo e à distribuição de

concentração pela equação

A velocidade média VG é normalmente mais conveniente de utilizar do que uma

vez que está diretamente relacionada à vazão QG e à fração volumétrica média, cf. (5.2.12). Por

outro lado, é uma média volumétrica muito apropriada pois pode ser obtida por um

experimento simples em que uma seção do duto é isolada e a proporção do volume ocupado pela

fase gás é medida.

Em termos de vazões volumétricas globais, QG e QL,

Portanto, a equação (5.2.15) pode ser escrita na forma

que pode levar à relação entre as vazões de gás e líquido

5.18

Page 19: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.2.19)

(5.2.20)

ou, ainda, para a fração volumétrica média de gás

Dados experimentais mostram que escoamentos de mistura de gás e líquido confirmam

a relação linear sugerida por Zuber e Findlay, sendo possível obter expressões para Co e u* para

diversos padrões de escoamento, inclusive o anular. Deve-se destacar que a dedução desta

equação baseia-se na equação de continuidade para escoamento disperso, não havendo base

teórica para sua aplicação para outras situações que não para sistemas dispersos. Contudo, a

forma linear da equação tem sido confirmada para diversas outras situações, sendo aplicada num

contexto bem mais amplo em escoamentos bifásicos gás-líquido.

Como primeira aproximação, a Tabela 5.2 mostra alguns valores para Co e u* conforme

sugerido por alguns autores para escoamento em golfada, caótico-turbulento, bolha e anular.

O modelo de deslizamento relaciona a velocidade da fase gás com a velocidade de

mistura. Uma manipulação da equação permite calcular a fração volumétrica em função das

velocidades ou, relacionar as vazões de gás e de líquido, (5.2.19). Neste caso, temos uma relação

algébrica entre as duas vazões, o que permite eliminar uma delas nas equações de conservação.

O modelo tem várias vantagens sobre outros métodos de escoamento separado, dentre

eles:

• Baseia-se na diferença local de velocidades das fases, calculada como média na seção

transversal da diferença da velocidade +uG - j,, no lugar da diferença das médias das velocidades

locais +uG, - +j,. Físicamente o modelo é mais correto;

• Reconhece a distribuição de concentração na seção transversal pelo parâmetro Co.

Além disso, incorpora alguma informação sobre o padrão de escoamento. As expressões para Co

e u* são tão mais complexas quanto maior o grau de detalhamento (informação) do padrão de

escoamento;

• Pode tratar adequadamente tanto escoamentos co-concorrente (mesmo sentido),

quanto contra-corrente;

• Tem sido utilizado com razoável sucesso em códigos computacionais transientes nas

áreas nuclear e de petróleo.

5.19

Page 20: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

Tabela 5.2 Parâmetros Co e u* para diversos autores 10

Autors Escoamento Parâmetros

Zuber-

Findley 9

Golfada Co = 1,2

Bolha Co = 1,2

Ishii 11

Anular

Caótico-

Turbulento

Liao et al.12Caótico-

Turbulento

Pearson

et al.13

Caótico-

Turbulento

10 Artigos 12 e 13 na Tabela obtidos de: Choi,J.; Pereyra, E.; Sarica, C.; Park, C.; Kang, J.M.An Efficient Drift-Flux Closure Relationship to Estimate Liquid Holdups of Gas-Liquid Two-Phase Flowin Pipes, Energies, p.5294-5306, 5(12), 2012.

11 Ishii, M. One Dimensional Drift-Flux Model and Constitutive Equations for RelativeMotion Between Phases in Various Two-Phase Flow Regimes; T. Report- Argonne NationalLaboratory:Lemont, IL, USA, 1977.

12 Liao, L.; Parlos, A.; Griffith, P.Heat Transfer, Carryover and Fall Back in PWR SteamGenerators During Transients; T. Report NUREG/CR-4376 EPRI-NP-4298; Dept. Nuclear Engineering,MIT, Cambridge, USA, 1985.

13 Pearson, K.; Cooper, C.; Jowitt, D.The THETIS 80% Blocked Cluster Experiment, Part5: Level Swell Experiments; T. Report AEEW-R, AEEE Winfrith Safety and Engineering ScienceDivision, London, UK, 1984.

5.20

Page 21: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.3.1)

Para finalizar, note-se que o modelo de deslizamento requer leis para as transferências

de quantidade de movimento (atrito viscoso) e de calor nos contornos do escoamento.

Freqüentemente essas leis são obtidas de outros modelos separados mais antigos, sem que se

considere consistências com o modelo de deslizamento.

5.3- Modelos de Dois Fluidos

O modelo de dois-fluidos, ou Euleriano, trata a fase dispersa como uma segunda fase contínua,

interagindo com a fase contínua. As equações de conservação de massa, quantidade de

movimento e energia são escritas para os fluidos em movimento, incluindo a modelagem dos

termos de transferência de massa, quantidade de movimento e de energia. Portanto, o modelo não

considera efeitos devidos à natureza discreta da fase dispersa. Inerente à este procedimento estão

a obtenção de médias espaciais para propriedades e parâmetros para a fase dispersa num

procedimento semelhante ao utilizado no modelo de deslizamento.

Modelos de dois fluidos com trocas nas interfaces são muito utilizados hoje em dia em

códigos de computador uma vez que admitem não só as velocidades, mas as temperaturas

também, distintas entre as fases gás e líquido. Os modelos baseiam-se na formulação

unidimensional e na tomada de médias temporais e espaciais. Assim sendo, não admitem

variações de propriedades, como velocidades e temperaturas e seus gradientes radiais, nas

interfaces ou fronteiras na parede. Portanto, esses modelos requerem leis de fechamento para

tratar as condições nas interfaces e na parede. Uma vez que essas leis dependem do padrão do

escoamento, mapas para os padrões de escoamento devem ser igualmente especificados.

5.3.1 Leis de Conservação para Modelos de Dois Fluidos

As seguintes leis de conservação são propostas por Yadigaroglu e Lahey 14. As equações de

continuidade são

14 Yadigaroglu, G., Lahey, R.T., On the Various Forms of the Conservation Equations in Two-Phase Flow., Int. J. Multiphase flow, 2, pp. 477-494, 1976. Também na Ref. 10 no final deste livro.

5.21

Page 22: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.3.2)

Nessas equações, assim como nas que se seguem, a barra sobre as variáveis representam

valores médios na seção transversal. Como visto nos Capítulos anteriores, o termo à representa

a transferência de massa por unidade de volume entre as fases, sendo positivo no processo de

evaporação da fase líquida (sinal compatível com o adotado nos Capítulos anteriores, quando

tratamos de evaporação da fase dispersa, i.e., gasosa no caso presente). Algumas das

transferências ocorrem na interface e outras na parede. No caso de um único componente,

existindo equilíbrio termodinâmico entre as fases não ocorre transferência nas interfaces,

somente na parede. Note que a soma das duas equações reproduz a equação (4.1.1).

As equações correspondentes para a quantidade de movimento são mostradas a seguir.

Os termos da direita são forças atuantes nas respectivas fases. O primeiro termo representa a

força resultante devido ao gradiente de pressão e o segundo a força devido à gravidade. Os

terceiros e quartos termos as forças nas paredes e interfaces devidos às tensões cisalhantes ôw e

ôi , atuantes nos perímetros Pw e Pi, respectivamente. O último termo representa a força devido

ao fluxo de quantidade de movimento entre as fases onde ui refere-se a velocidade na interface.

No artigo original de Yadigaroglu e Lahey, é incluído um termo adicional nas equações de

quantidade de movimento devido à massa virtual, identificado como a força adicional requerida

para acelerar a massa virtual quando a velocidade entre as fases varia com o tempo. Não

trataremos este termo neste texto, por isso não está indicado.

Mais uma vez, a soma dessas equações reproduz a equação (4.1.5). Observe que os termos

interfaciais desaparecem neste processo. Além disso, as equações pressupõem que as pressões

nas duas fases sejam iguais.

Os autores escreveram as equações de energia na forma

5.22

Page 23: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.3.3)

(5.3.4)

onde a entalpia total ht é definida como

O primeiro termo no lado direito das equações (5.3.3) representa o trabalho realizado

pela expansão ou contração da fase, enquanto o segundo considera a soma de energia à fase

devido à transferência de massa. O terceiro termo reflete a troca de calor na parede e na interface

pelos perímetros de contato Pw e Pi, respectivamente. O quarto termo representa a energia

absorvida pela fase devido à geração de calor por fonte volumétrica. Finalmente, o termo î

representa a fração de energia que é transferida para a respectiva fase como conseqüência de

dissipação na interface. Note que o perímetro Pi é o mesmo utilizado nas equações de quantidade

de movimento e que a soma das equações reproduz a equação (4.1.15), exceto pelo termo de

geração de calor, não considerado naquela equação. Note que, na nossa nomenclatura, o calor

trocado com o exterior, QN (N= L,G), é positivo quando entrando no sistema, ou seja do exterior

para a interior do duto. Nas equações de Yadigaroglu e Lahey esses termos são positivos do

interior para fora.

Nessas abordagens é admitido que as pressões das fases sejam iguais, uma hipótese

razoável e geralmente adotada na maioria dos códigos. Todavia, ressalte-se que no caso de

escoamento estratificado deve-se considerar pressões distintas nas fases para determinar a

condição de instabilidade na interface e na transição para o escoamento em golfada.

A observação das equações anteriores mostra que o modelo de dois-fluidos requer o

conhecimento de vários termos, dentre eles: i- o fluxo de massa entre fases; ii- a tensão cisalhante

atuante sobre cada fase na parede e na interface; iii- a transferência de calor através da parede

para cada fase; iv- a transferência de energia dissipativa entre as fases. Ao todo necessitamos de

treze expressões para: Ã, PwL, PwG, PhL, PhG, Pi, QwL, QwG, QiL, QiG, ôwL, ôwG e ôi. Algumas dessas

são imediatas como

5.23

Page 24: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(5.3.5)

(5.3.6)

e a relação para o balanço de transferência de calor na interface

Ou seja, temos ainda um total de dez leis de fechamento a serem especificadas. Essas leis

dependem do padrão de escoamento. Portanto, temos que fornecer um volume considerável de

leis complementares às equações de conservação.

Em geral, as seis equações de conservação do modelo de dois-fluidos podem ser

simplificadas. Se desconsiderarmos os termos de transferência interfacial as equações são

reduzidas a três ou quatro, dependendo das hipóteses simplificadoras. Se equilíbrio térmico

existir no escoamento de um componente, as duas equações de energia podem ser combinadas.

De forma similar, adotando o modelo de deslizamento para as velocidades, a equação (5.2.18)

permite eliminar uma das velocidades (ou vazões) e, assim, eliminamos uma das equações de

quantidade de movimento, ou combinamos as duas.

No modelo mais geral de seis equações as incógnitas são áG, áL, uG, uL, pG, pL, TG e TL.

É usual admitir um valor único para a pressão na seção transversal. Se equilíbrio térmico existir,

então o mesmo pode ser admitido para a temperatura. Por outro lado, para um sistema bifásico

com dois componentes temos a relação áG + áL= 1. Portanto, as incógnitas ficam reduzidas a

cinco: áG, uG, uL, p e T, para um sistema de cinco equações: duas de continuidade, duas de

conservação de quantidade de movimento e uma de energia. Uma eventual combinação das

equações de quantidade de movimento e a utilização do modelo de deslizamento, reduzirá este

sistema a quatro equações com quatro incógnitas e um conjunto de equações de fechamento.

As equações básicas utilizadas em sistemas computacionais variam de código para

código. Embora as diferenças não sejam em geral significativas, a avaliação dessas diferenças

não é tarefa simples, especialmente nos simuladores transientes. Há de fato aqui um amplo

espaço para análise, implementação e avaliação.

5.4 Correlações na Indústria de Petróleo

Na indústria de petróleo o processamento e a produção de óleo e gás quase que invariavelmente

envolve o escoamento de misturas multifásicas. No caso de poços de produção, por exemplo,

5.24

Page 25: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

além dos hidrocarbonetos provenientes do reservatório nas formas líquida e gasosa, água também

é produzida, e o escoamento pode conter uma, duas ou três fases. Na maioria dos poços

produtores óleo, água e gás estão presentes em alguma seção do poço. Neste caso de aplicação

particular, fluido escoa pela coluna produtora, assim como no anular que a envolve. O

escoamento pode ser ascendente, do reservatório para a superfície, ou descendente, como no

processo de injeção de gás ou líquido. Ou seja, o duto pode fazer qualquer ângulo com a

horizontal, desde -90º (escoamento descendente), até +90º (escoamento ascendente). Além disso,

na maioria das situações, dada a natureza do escoamento multifásico, este é intrinsicamente não-

permanente. Dificuldade adicional na tentativa de construir modelos para o escoamento

multifásico na indústria de petróleo está associado ao comportamento termodinâmico dos fluidos.

Os óleos e gases produzidos são composições químicas de diversos hidrocarbonetos cujas

propriedades termodinâmicas como massa específica, viscosidade, tensão superficial e entalpia,

são fortemente dependentes da pressão, temperatura e composição molar. Desta forma,

expressões analíticas e empíricas tendem a ser extremamente complexas quando se procura

modelar esses escoamentos. Apesar da enorme capacidade de processamento dos computadores

atuais, um significativo número de hipóteses simplificadoras são normalmente introduzidas nesse

processo.

Ainda na área, como na indústria de processo químico, equipamentos de geração de

vapor e nas plantas nucleares, o escoamento multifásico inclui transferência de massa entre as

fases, em processos de condensação e de evaporação. Aqui o problema torna-se especialmente

complicado pela contínua variação das frações volumétricas ao longo do duto.

A literatura que trata de modelagem e correlações para o escoamento separado na

indústria de petróleo é extensa, cobrindo situações específicas de geometria, fluidos e

simplificações. Não sendo possível tratar em detalhe todas essas situações nesta Introdução, o

leitor interessado deve procurar as referências na área particular de interesse. Diversas situações

podem ser encontradas nos livros de Govier e Aziz 15 ou Hazan e Kabir 16, por exemplo. Os

tópicos a seguir cobrem de forma muito rápida algumas correlações clássicas na área.

Como acabamos de ver, a complexidade do escoamento multifásico requer o

desenvolvimento de técnicas especiais de solução para os fenômenos que eles representam,

obtido em geral por dois procedimentos: experimental, através de modelos em escala de

laboratório ou teórico, utilizando equações e modelos numéricos para o escoamento.

15 Govier, G.W. e Aziz, K., The Flow of Complex Mixtures in Pipes, Robert E. GriegerPublishing Co., 1982.

16 Hasan, A.R. e Kabir, C.S., Fluid Flow and Heat Transfer in Wellbores, Soc. of PetroleumEngineers, 2002.

5.25

Page 26: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

A longa experiência da indústria de petróleo na área levou inicialmente ao

desenvolvimento de soluções empíricas que tinham por base a medida e a observação de

escoamentos em sistemas de produção, particularmente poços e linhas de transporte, nas

configurações vertical e horizontal. Embora em muitas situações medidas foram realizadas no

próprio campo, e modelos de laboratório em escala real seja possível, isto nem sempre é

verdadeiro, tornando difícil sua aplicação nos protótipos. Por outro lado, o enorme

desenvolvimento de computadores nas últimas décadas estimulou a generalização e a sofisticação

da modelagem matemática, incluindo de escoamentos variáveis com o tempo, como aqueles

envolvendo a operação de válvulas, partida e parada de bombas, alimentação com fluxo

alternativo, corte e retomada de energia, rompimento de duto etc. Essas técnicas são assim

denominadas neste capítulo de modelos empíricos e matemáticos, respectivamente.

Condição de Não-Deslizamento

Com freqüência frações volumétricas para a condição de não-deslizamento são utilizadas em

correlações na área de petróleo, sendo assim definidas

Propriedades de Mistura

Propriedades de mistura para a velocidade e massa específica para condições de deslizamento

e não-deslizamento são

e

representando propriedades de deslizamento e não-deslizamento para a massa específica, ñm e

ñn, respectivamente.

5.4.1 Modelos Empíricos

Correlações para escoamento em regime permanente de gás, óleo e água existem para dutos nas

configurações vertical, horizontal e inclinados. Elas cobrem sistemas de fluidos com

propriedades variadas, diferentes faixas de vazões e diferentes diâmetros de dutos. Devido à

complexidade do escoamento e às variações que mudanças nos parâmetros envolvidos

(5.4.1)

(5.4.2)

(5.4.3)

5.26

Page 27: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

(propriedades físicas, geometria e condições de fluxo), nenhuma correlação é totalmente

satisfatória para todas as configurações. Todavia, quando análises com base em uma descrição

mais fundamental não estão disponíveis, correlações são utilizadas para muitas situações

práticas. Uma breve descrição é apresentada a seguir para alguns modelos mais comuns. O leitor

interessado encontrará maiores detalhes na bibliografia sugerida no início do livro e final deste

capítulo.

5.4.1.1 Escoamento Vertical - Ascendente

Brill e Mukherjee17, sugerem que correlações para escoamento vertical podem ser classificados

em três categorias, aqui reproduzidas. Na categoria (A) as duas fases (gás e líquido) não

apresentam escorregamento e não considera o regime de fluxo. Ou seja, gás e líquido escoam na

mesma velocidade, não havendo dependência para o regime de escoamento. A massa específica

é calculada com base na condição de mistura de entrada e a única correlação exigida é para o

fator de atrito. Na categoria (B) admite-se escorregamento mas não há consideração para o

regime de fluxo. É necessário utilizar correlações para o fator de atrito e a fração volumétrica,

aplicadas para qualquer regime de fluxo. Existindo escorregamento, requer-se uma metodologia

para estimar a velocidade de líquido, ou gás, ao longo do duto. Para a categoria (C) admite-se

escorregamento e regime de escoamento variável ao longo do duto. Portanto, obtido o arranjo

por uma metodologia apropriada, correlações são utilizadas para calcular o fator de atrito e a

fração volumétrica. O gradiente de pressão é assim dependente do regime de escoamento.

Incluem-se nessas categorias os seguintes modelos:

Categoria-A A equação básica para calcular o gradiente de pressão é

onde os subscritos m e n referem-se às condições de mistura e de não-deslizamento,

respectivamente, Eqs. (5.4.2) e (5.4.3).

Nesta categoria enquadram-se as correlações de Poettman e Carpenter (1952)18,

Baxdendel e Thomas (1961) e Fancher e Brown (1963). As três publicações utilizam correlações

particulares para o fator de atrito em função do parâmetro (dimensional) ö= ñmVmD; ou seja, o

numerador do número de Reynolds Re= ñmVmD/ìm.

(5.4.4)

17 Multiphase Flow in Wells, James P. Brill, Hernanta Mukherjee, 1st Printing, Soc. Petroleum

Engineers, 1999.18 Detalhes das referências com datas encontram-se nas “Referências” no final do capítulo.

5.27

Page 28: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

Categoria-B Nesta categoria destaca-se a correlação de Hagedorn e Brown (1965), aplicada para

escoamento vertical ou quase vertical (em torno de 5º com a vertical), que tem por base uma

extensão da equação de energia para escoamento monofásico, considerando uma estimativa da

massa específica de mistura in situ e efeitos de energia cinética. O gradiente de pressão faz uso

de correlações para o fator de atrito e holdup líquido. Os autores sugeriram a seguinte equação

para o gradiente de pressão

Para o cálculo do fator de atrito bifásico utiliza-se o número de Reynolds para escoamento

monofásico para massa específica de não-deslizamento e velocidade e viscosidade de mistura

O holdup líquido, áL, é calculado por correlação em função de alguns parâmetros adimensionais,

cf. Govier e Aziz, op. cit

Categoria-C Um número importante de autores destaca-se nesta categoria. A metodologia geral

difere de outros modelos na forma com que o arranjo de fase é obtido e como, para cada arranjo,

o holdup líquido e o fator de atrito é determinado. Cada um dos métodos requer um considerável

número de operações envolvendo parâmetros adimensionais e acesso a gráficos, tabelas e

equações particulares para identificação do regime de escoamento, assim como do fator de atrito

e da fração volumétrica. Uma breve apresentação de três correlações é feito a seguir, sem entrar

nos detalhes dos cálculos.

O método de Duns e Ros (1963) é considerado como a melhor correlação empírica para

o gradiente de pressão no escoamento vertical gás-líquido. Os autores realizaram a primeira

análise adimensional em escoamento bifásico em dutos. Após um processo de eliminação, quatro

grupos adimensionais mais relevantes são utilizados para determinar o gradiente de pressão, num

procedimento razoavelmente complexo. Melhores resultados são obtidos quando o método é

aplicado em dutos (verticais) relativamente curtos. Para linhas longas, recomenda-se aplicar a

metodologia sobre segmentos discretos e somar os gradientes de pressão locais.

O método de Beggs e Brill (1973) foi o primeiro a prever o comportamento de

escoamento em dutos inclinados, da horizontal à vertical. Com base no regime observado para

escoamento horizontal, um mapa empírico indica o arranjo correspondente para qualquer ângulo.

Correlações foram desenvolvidas para o holdup líquido para escoamento horizontal e corrigidos

(5.4.5)

(5.4.6)

5.28

Page 29: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

para o ângulo real do duto. O fator de atrito para escoamento bifásico é calculado a partir de uma

expressão envolvendo um fator de normalização, f/fn, obtido da curva de duto liso no diagrama

de Moody, ou da equação de Darcy-Weisbach baseada no número de Reynolds similar àquele

mostrado em (5.4.6). O gradiente de pressão é calculado pela equação

com

onde p é a pressão absoluta local.

A metodologia proposta por Mukherjee e Brill (1985) representou um avanço para

compensar algumas deficiências do método de Beggs e Brill, cobrindo toda faixa de inclinação

do duto, inclusive escoamento descendente; ou seja, para a configuração -90º#è#90º. Mapas de

arranjo de fase foram construídos com coordenadas baseadas em parâmetros adimensionais

envolvendo as velocidades superficiais e propriedades do fluido, com curvas de transição entre

os arranjos, cada uma das quais definidas por equações empíricas. Uma equação (complexa)

correlaciona o holdup líquido com parâmetros do escoamento. O fator de atrito é calculado de

forma similar à equação sugerida por Beggs e Brill, assim como o gradiente de pressão, Eq.

(5.4.8).

5.4.1.2 Escoamento Horizontal

Como no caso vertical, nenhuma correlação é suficientemente precisa e geral para o escoamento

gás-líquido em dutos horizontais devido à complexidade do problema. As primeiras tentativas

de análise na área tiveram início no final da década de 40 com trabalhos ainda sendo realizados

em anos recentes. Apresentamos neste parágrafo apenas algumas das correlações mais relevantes

para esta configuração.

O holdup líquido tem menor importância no cálculo do gradiente de pressão no

escoamento horizontal do que no vertical ou inclinado, embora a maioria das correlações

requeiram o holdup na avaliação da massa específica para cálculo do fator de atrito e do termo

aceleração. Em muitas aplicações este último é pequeno e ignorado. Não havendo o termo devido

à gravidade, o gradiente de pressão é obtido por uma equação geral na forma

(5.4.7)

(5.4.8)

(5.4.9)

5.29

Page 30: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

onde ñf e ñac representam massas específicas particulares sugeridas por cada correlação para os

termos de atrito e aceleração, respectivamente.

Como vimos, o modelo de Lockhart e Martinelli (1949), cf. §5.1.1, foi pioneiro na

apresentação de uma correlação geral para o gradiente de pressão em dutos horizontais. A técnica

foi bastante utilizada pela indústria nas décadas de 50 e 60, contendo conceitos na sua

formulação importantes para diversas análises teóricas ainda hoje.

O método de Dukler, Wicks e Cleveland (1964), normalmente conhecido como método

de Dukler, aplica-se especialmente para escoamento óleo-gás. A metodologia tem origem numa

análise de similaridade onde correlações para o fator de atrito e o holdup líquido foram

calculados a partir de dados de campo. O fator de atrito é calculado a partir de uma expressão

envolvendo um fator de normalização, f/fn, função de um número de Reynolds baseado na

velocidade de mistura, da viscosidade de mistura com peso nas frações volumétricas de não-

deslizamento e de uma massa específica de mistura, Eq. (5.4.11). O holdup líquido é calculado

a partir de tabelas e gráficos com coordenadas áL e ëL (frações volumétricas de líquido com e sem

deslizamento). O gradiente de pressão contém termos devidos ao atrito e à aceleração na forma

onde

A correlação de Beggs e Brill (1973) descrita no parágrafo anterior para escoamento

vertical aplica-se para escoamento horizontal. Conforme alí descrito, correlações foram

desenvolvidas para o holdup líquido para o escoamento horizontal. O fator de atrito para

escoamento bifásico é calculado a partir de uma expressão envolvendo um fator de normalização,

f/fn, obtido da curva de duto liso no diagrama de Moody, ou da equação de Darcy-Weisbach

baseada no número de Reynolds similar àquele mostrado em (5.4.6). O gradiente de pressão é

calculado pela equação (5.4.7-8).

Oliemans (1976) apresentou uma metodologia de cálculo para o gradiente de pressão

em escoamento bifásico em gasodutos. O autor postula que o deslizamento do gás sobre a fase

líquida resulta num acúmulo de líquido na linha que reduz a área efetiva de escoamento das fases.

Assim, a fração volumétrica de gás, áG, e a fração volumétrica de não-deslizamento para o

líquido, ëL, são conhecidas. Desta forma, a diferença öL= áL-ëL é ocupada pelo líquido

acumulado. Uma vez que tanto áL como ëL podem variar ao longo do duto, o mesmo ocorre com

a área efetiva. Como conseqüência do deslizamento, Oliemans propos que o fluxo de massa

(5.4.10)

(5.4.11)

5.30

Page 31: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

bifásico, a massa especifica e o diâmetro efetivo sejam redefinidos em função de parâmetros do

escoamento.

5.4.1.3 Escoamento Inclinado

Escoamento inclinado refere-se ao escoamento em dutos formando ângulo distinto do horizontal

ou vertical. Exemplos de escoamento inclinado na indústria de petróleo incluem dutos

atravessando regiões montanhosas e poços direcionais, esses muito freqüentes hoje na produção

offshore. Em muitas instalações offshore o óleo e o gás produzido nas plataformas é transferido

onshore antes da separação. Sendo o fundo do mar raramente horizontal, ocorre escoamento

inclinado entre a plataforma e o separador, localizado em terra.

O cálculo do gradiente de pressão no escoamento bifásico inclinado é realizado em

larga escala hoje em dia por métodos baseados em modelos matemáticos que consideram a

dinâmica das fases e sua interação enquanto escoam pelo duto. Todavia, algumas poucas

correlações estão disponíveis para esta configuração, notadamente a de Beggs e Brill, op. cit.

Neste caso, o gradiente de pressão é estimado pela equação (5.4.7-8), onde è é o ângulo com a

horizontal. Naturalmente, tanto a fração volumétrica quanto o fator de atrito devem ser

calculados pelo procedimento interno da proposta. Tendo sido desenvolvido com base de dados

de linhas reais (e não em laboratório), o método de Beggs e Brill tem se mostrado razoavelmente

preciso em muitas aplicações de escoamento inclinado gás-óleo.

Para completar essas informações apresentamos a seguir o nome dos autores

responsáveis pelos desenvolvimentos de algumas correlações utilizadas pelo segmento de

produção da indústria.

Para escoamento vertical são bem estabelecidos os trabalhos de Duns e Ros (1963),

Hagedorn e Brown (1965) e Hasan e Kabir (1988). Escoamentos horizontais incluem extensa

literatura, incluindo Dukler (1960), Beggs e Brill (1973), Taitel, Barnea e Dukler (1978),

Mukherjee e Brill (1983) e Hasan e Kabir (1988). Enquanto nos escoamentos desviados

(inclinados) os trabalhos de Beggs e Brill (1973) e Hasan e Kabir (1988) estão entre os muitos

consolidados na área.

5.5 Referências para §5.4

Embora apliquem-se à área de escoamento multifásico em geral, as referências a seguir são

particularmente importantes para o segmento de petróleo coberto em §5.4.

5.31

Page 32: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

# Baxendell, P.B., Thomas, R.: “The Calculation of Pressure Gradients in High-Rate Flowing Wells”,

J. Pet. Tech., pp. 1023-1028, 1961.

# Beggs, H.D., Brill, J.P.: "A Study of Two-Phase Flow in Inclined Pipes", J. Pet. Tech., pp. 607-617,

1973.

# Dukler, A.E., Wicks, M., Cleveland, R.G.: "Frictional Pressure Drop in Two-Phase Flow: B. Approach

Through Similarity Analysis", AIChE J., 10, pp. 44-51, 1964.

# Duns, H., Ros, N.C.J.: "Vertical Flow of Gas and Liquid Mixtures in Wells", Proc. 6th World

Pet. Congr., pp. 451-465, Frankfurt, 1963.

# Fancher, G.H., Brown, K.E.: “Prediction of Pressure Gradients for Multiphase Flow in Tubing”, Soc.

Pet. Eng. J., pp. 59-69, 1963.

# Friedel, L.: “Improved Friction Pressure Drop Correlations for Horizontal and Vertical Two-Phase

Pipe Flow”, European Two Phase Flow Group Meet., Ispra, Italy, paper E2, 1979.

# Govier, G.W., Aziz, K., “The Flow of Complex Mixtures in Pipes”, Robert Krieger Publishing Co.,

1982.

# Hagedorn, A.R., Brown, K.E.: “Experimental Study of Pressure Gradients Occurring During

Continuous Two-Phase Flow in Small-Diameter Vertical Conduits”, J. Pet. Tech., pp. 475-484, 1965.

# Hewitt, G.F, Roberts, D.N.: “Invetigation of Interfacial Phenomena in Annular Two-Phase

Flow by Means of the Axial View Technique”, Rept. AERE-R6070, UKAEA, Harwell, 1969.

# Lokhart R.W., Martinelli, R.C.: “Proposed Correlation of Data for Isothermal Two-Phase, Two-

Component Flow in Pipes”, Chem. Eng. Prog, 45:39-48, 1949.

# Mandhane, J.M., Gregory, G.A, Aziz, K.A.: “A Flow Pattern Map for Gas-Liquid Flow in Horizontal

Pipes”, Int. J. Multiphase Flow, 1:537-553, 1974.

# Mukherjee, H., Brill J.P.: “Pressure Drop Correlations for Inclined Two-Phase Flow”, ASME J.

Energy Res. Tech.107, no. 4, pp. 549-, 1985.

# Muzychka, Y.S., Awad, M.M.: “Asymptotic Generalizations of the Lockhart-Martinelli Method for

Two Phase Flow”, ASME, J. Fluids Eng. vol. 132, pp. 031302-1/12, 2010.

# Oliemans, R.V.A.: “Two-Phase Flow in Gas Transmission Pipelines”, ASME paper 76-Pet-25, Pet.

Div. Conference, Mexico City, 1976.

# Poetmann, F.H., Carpenter, P.G.: "The Multiphase Flow of Gas, Oil and Water Through Vertical Flow

Strings", Drill and Prod., API, Dallas, 257, 1952.

# Taitel, Y., Dukler, A.E.: "A Model for Predicting Flow Regime Transitions in Horizontal and Near-

Horizontal Gas-Liquid Flow", AIChE J., 26, pp. 47-55, 1976.

# Züber, N., Findley,: “Average Volumetric Concentration in Two-Phase Flow Systems”, J. Heat

Transfer, ser C, vol 87, pp. 453-, 1965.

5.32

Page 33: Perdas por Atrito em Escoamento Separadomultifasico.usuarios.rdc.puc-rio.br/CHP05.pdfquaisquer outros dois fluidos imiscíveis. O modelo de escoamento bifásico separado considera

Exercícios

1- Obtenha as equações do Texto: 5.1.12, 5.2.14 e 5.1.18.

2- Resolver o problema sugerido no Ex. 5.1.1 pela correlação de Friedel

5.33