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anorama P NO PALCO Porto Alegre, quinta-feira, 28 de junho de 2012 - Nº 19 Perdidos num céu de diamantes Mariana Amaro, especial JC E m 1967, um jornal americano noticiou o caso de uma jovem que fugiu de casa, deixando para trás somente um bilhete de despedida na geladeira. A nota chamou a atenção da banda mais famosa da época, que compôs a canção She is leaving home em home- nagem àquela menina e a toda uma geração que questionava o “sonho americano” idealizado por seus pais. Quarenta e cinco anos depois, o musical Beatles num céu de diamante, que se apresenta hoje em Novo Ham- burgo e sexta e sábado em Por- to Alegre, se inspira naquela mesma fuga para contar uma história de busca e autoconhe- cimento de uma jovem, usando como linha de costura canções e letras de Lennon, McCartney, Harrison e Starr. Dirigido pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, o espetáculo foge do óbvio. Assim como o filme Across the univer- se, os Beatles só estão presen- tes com suas canções e senti- mentos. A proposta não é atrair somente fãs da banda, mas sim surpreender o público que já tem uma concepção imutável da discografia do grupo. “Acho que banda cover dos Beatles nós já temos a cada esquina. A nossa ideia não era fazer um espetáculo só para beatlema- níacos, e sim um trabalho que tivesse por essência o que eles pregavam e uma pegada tea- tral. Um espetáculo feito para todos”, afirma Möller. As músicas encenadas fo- ram rearranjadas vocalmente, e os instrumentos utilizados são um violoncelo, um piano e um acompanhamento de percussão na mão, uma des- construção bem radical para as canções que são normal- mente acompanhadas pelo trio bateria, guitarra e baixo. Sem diálogos, os dez cantores-atores utilizam quase 50 músicas, como Help, I wanna hold your hand, Lucy in the sky with diamonds, Let it be e, claro, She is leaving home, da banda inglesa, para transmitir ao público a sensação de viagem interna de uma jovem. “Essa peça você não entende pela ló- gica, mas pelas sensações. A in- terpretação era uma coisa que os Beatles buscavam muito. O importante era sentir a canção, não observar, mas estar dentro Musical que estreia hoje uliza canções dos Beatles para costurar enredo Beatles num céu de diamantes Novo Hamburgo Hoje, às 21h, no Teatro Feevale (ERS-239, nº 2755) Ingressos entre R$ 40,00 e R$ 120,00 Porto Alegre Sexta e sábado, às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80) Ingressos entre R$ 60,00 e R$ 140,00 dela”, diz Möller. Aparentemente simples, o cenário utiliza objetos comuns, como um tapete persa, guarda- -chuvas, malas e uma parede de tijolos ao fundo para am- bientar a peça. Apesar disso, a simbologia desses recursos técnicos são essenciais ao enredo, como explica o diretor: “A encenação toda é em cima de malas e guarda-chuvas, com uma parede de concreto ao fundo, que cria uma sensação de situação externa. Mas os ta- petes persas no chão mostram que é uma viagem psicodélica e que também você tem que buscar o conhecimento. Não adianta pegar a sua mala e partir se as questões estão mal resolvidas internamente”. Outra utilidade essencial do cenário é a facilidade de mon- tagem e locomoção do musical, que permite à companhia se deslocar pelo País sem gran- des empecilhos. “O Beatles... é um espetáculo muito fácil de viajar. Só levar os tapetes, a parede e os objetos na mon- tagem. Ando com toda minha equipe de som, o elenco são os próprios músicos. Isso facilita”, diz. Porém, Möeller critica a posição de alguns produtores nacionais que não financiam ou dão espaço para produções musicais regionais. “Eu acho que ainda é preciso mudar a mentalidade dos produtores locais. De ter um pouco mais de tempo de montagem, de apoiadores que cubram o preço de orquestras para o gênero crescer”, sentencia. Apesar de utilizar o tra- balho da banda inglesa como pano de fundo, o verdadeiro fio condutor da história é o roteiro de uma viagem interna, psicodélica, que usa o vasto repertório dos rapazes de Liverpool para ambientar os espectadores. Como o objetivo não é fazer um show para os beatlemaníacos, Möeller suge- re que mesmo quem não gosta da banda vá ao espetáculo e se surpreenda. “O fã, ou não, vai sentar e ouvir aquela música e ela vai ter o frescor da primei- ra vez, porque é um teatro musical. Tem muita gente que não gostava de Beatles porque escutava com o pai ou com a mãe e pensava ‘ai, que saco, não gosto desses caras’ e depois que viram a peça, gostaram”. E ele completa: “Não adianta, a canção em um musical te pega de outra maneira”. GALERIA MAISON DELA DANSE/DIVULGAÇÃO/JC

Perdidos num céu de diamantes

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Matéria sobre o musical Beatles num céu de diamantes para o Jornal do Comércio.

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Porto Alegre, quinta-feira, 28 de junho de 2012 - Nº 19

Perdidos num céu de diamantesMariana Amaro, especial JC

Em 1967, um jornal americano noticiou o caso de uma jovem que fugiu de casa,

deixando para trás somente um bilhete de despedida na geladeira. A nota chamou a atenção da banda mais famosa da época, que compôs a canção She is leaving home em home-nagem àquela menina e a toda uma geração que questionava o “sonho americano” idealizado por seus pais. Quarenta e cinco anos depois, o musical Beatles num céu de diamante, que se apresenta hoje em Novo Ham-burgo e sexta e sábado em Por-to Alegre, se inspira naquela mesma fuga para contar uma história de busca e autoconhe-cimento de uma jovem, usando

como linha de costura canções e letras de Lennon, McCartney, Harrison e Starr.

Dirigido pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, o espetáculo foge do óbvio. Assim como o filme Across the univer-se, os Beatles só estão presen-tes com suas canções e senti-mentos. A proposta não é atrair somente fãs da banda, mas sim surpreender o público que já tem uma concepção imutável da discografia do grupo. “Acho que banda cover dos Beatles nós já temos a cada esquina. A nossa ideia não era fazer um espetáculo só para beatlema-níacos, e sim um trabalho que tivesse por essência o que eles pregavam e uma pegada tea-tral. Um espetáculo feito para todos”, afirma Möller.

As músicas encenadas fo-

ram rearranjadas vocalmente, e os instrumentos utilizados são um violoncelo, um piano e um acompanhamento de percussão na mão, uma des-construção bem radical para as canções que são normal-mente acompanhadas pelo trio bateria, guitarra e baixo. Sem diálogos, os dez cantores-atores utilizam quase 50 músicas, como Help, I wanna hold your hand, Lucy in the sky with diamonds, Let it be e, claro, She is leaving home, da banda inglesa, para transmitir ao público a sensação de viagem interna de uma jovem. “Essa peça você não entende pela ló-gica, mas pelas sensações. A in-terpretação era uma coisa que os Beatles buscavam muito. O importante era sentir a canção, não observar, mas estar dentro

Musical que estreia hoje utiliza canções

dos Beatles para costurar enredo

Beatles num céu de diamantes

Novo HamburgoHoje, às 21h, no Teatro Feevale (ERS-239, nº 2755)Ingressos entre R$ 40,00 e R$ 120,00

Porto AlegreSexta e sábado, às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80)Ingressos entre R$ 60,00 e R$ 140,00

dela”, diz Möller. Aparentemente simples, o

cenário utiliza objetos comuns, como um tapete persa, guarda--chuvas, malas e uma parede de tijolos ao fundo para am-bientar a peça. Apesar disso, a simbologia desses recursos técnicos são essenciais ao enredo, como explica o diretor: “A encenação toda é em cima de malas e guarda-chuvas, com uma parede de concreto ao fundo, que cria uma sensação de situação externa. Mas os ta-petes persas no chão mostram que é uma viagem psicodélica e que também você tem que buscar o conhecimento. Não adianta pegar a sua mala e partir se as questões estão mal resolvidas internamente”.

Outra utilidade essencial do cenário é a facilidade de mon-tagem e locomoção do musical, que permite à companhia se deslocar pelo País sem gran-des empecilhos. “O Beatles... é um espetáculo muito fácil de viajar. Só levar os tapetes, a parede e os objetos na mon-tagem. Ando com toda minha equipe de som, o elenco são os próprios músicos. Isso facilita”, diz. Porém, Möeller critica a posição de alguns produtores

nacionais que não financiam ou dão espaço para produções musicais regionais. “Eu acho que ainda é preciso mudar a mentalidade dos produtores locais. De ter um pouco mais de tempo de montagem, de apoiadores que cubram o preço de orquestras para o gênero crescer”, sentencia.

Apesar de utilizar o tra-balho da banda inglesa como pano de fundo, o verdadeiro fio condutor da história é o roteiro de uma viagem interna, psicodélica, que usa o vasto repertório dos rapazes de Liverpool para ambientar os espectadores. Como o objetivo não é fazer um show para os beatlemaníacos, Möeller suge-re que mesmo quem não gosta da banda vá ao espetáculo e se surpreenda. “O fã, ou não, vai sentar e ouvir aquela música e ela vai ter o frescor da primei-ra vez, porque é um teatro musical. Tem muita gente que não gostava de Beatles porque escutava com o pai ou com a mãe e pensava ‘ai, que saco, não gosto desses caras’ e depois que viram a peça, gostaram”. E ele completa: “Não adianta, a canção em um musical te pega de outra maneira”.

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