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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA MULTICAMPI DE CIÊNCIAS MÉDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, TRABALHO E INOVAÇÃO EM MEDICINA JANICÉIA LOPES SIMPLÍCIO LINS PERFIL DE CASOS DE SUICÍDIO NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR (2000-2015) Caicó/RN 2019

PERFIL DE CASOS DE SUICÍDIO NA REGIÃO DO SERIDÓ …€¦ · Suicídio. 2. Serviços de saúde mental. 3. Psiquiatria preventiva. I. Pinto, Tiago Rocha. II. Título. RN/UF/Biblioteca

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA MULTICAMPI DE CIÊNCIAS MÉDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, TRABALHO E INOVAÇÃO EM

MEDICINA

JANICÉIA LOPES SIMPLÍCIO LINS

PERFIL DE CASOS DE SUICÍDIO NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR

(2000-2015)

Caicó/RN

2019

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JANICÉIA LOPES SIMPLÍCIO LINS

PERFIL DE CASOS DE SUICÍDIO NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR

(2000-2015)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação, Trabalho e Inovação em

Medicina da Escola Multicampi de Ciências Médicas do

Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre

em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina.

Orientador: Prof. Dr. Tiago Rocha Pinto

Coorientadora: Profa. Dra. Ana Carolina Patrício de

Albuquerque Souza

Caicó/RN

2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Dr. Paulo Bezerra - EMCM/RN

Lins, Janiceia Lopes Simplicio.

Perfil de casos de suicídio na região do Seridó potiguar (2000-2015) /

Janiceia Lopes Simplicio Lins. - Natal, 2019.

58 f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Escola Multicampi de

Ciências Médicas, Mestrado Profissional em Educação, Trabalho e Inovação em

Medicina.

Orientador: Prof. Dr. Tiago Rocha Pinto.

1. Suicídio. 2. Serviços de saúde mental. 3. Psiquiatria preventiva. I.

Pinto, Tiago Rocha. II. Título.

RN/UF/Biblioteca Setorial Dr. Paulo Bezerra CDU 616.89-008.441.3

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JANICÉIA LOPES SIMPLÍCIO LINS

PERFIL DE CASOS DE SUICÍDIO NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR

(2000-2015)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação, Trabalho e Inovação em

Medicina da Escola Multicampi de Ciências Médicas do

Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre

em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina.

Data: 28 de junho de 2019

Local da Defesa: Sala de videoconferência (183) da Escola Multicampi de Ciências Médicas

do Rio Grande do Norte, EMCM-RN, Caicó-RN

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

Prof. Dr. Tiago Rocha Pinto

Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte, EMCM-RN

_________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Luisa Vichi de Campos Faria

Centro de Saúde Escola-FAMESP

________________________________________________________

Prof. Dr. Dulcian Medeiros de Azevedo

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

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APRESENTAÇÃO

Sou potiguar, natural de Santa Cruz, localizada na região do Trairi do Rio Grande do

Norte, filha de Leodicéia e João Simplício, irmã de Jadicéia, Jaricéia e Jaicéia. Minha família

materna é natural de Lajes Pintadas, onde cresci e morei até os meus 18 anos, quando passei

no vestibular para o curso de Nutrição da UFRN, em Natal, o qual cursei durante dois anos.

Meu pai é natural de Natal, filho de pescadores da Vila de Ponta Negra, mas foi adotado por

uma família de Santa Cruz, onde morou até se casar com minha mãe.

O desejo de ser médica nasceu na adolescência, ao perder minha avó materna vítima

de infarto. Quando fui cursar Nutrição, em Natal já queria mudar para o curso de Medicina.

Em 2000, conheci meu esposo, Sueid, seridoense, natural de Currais Novos, que estava

concluindo o curso de Engenharia Mecânica na UFRN, e foi trabalhar na fábrica da HONDA,

em Manaus. Em 2003, passei no vestibular da UFAM para Medicina e morei 8 anos em

Manaus. Nos primeiros anos do curso, me identifiquei com a área de cirurgia abdominal, mas,

após o oitavo período, a Psiquiatria passou a fazer parte da minha vida, e comecei a me

apaixonar pela complexidade da mente humana e a desejar me aprofundar nos conhecimentos

da psique, para poder ajudar os pacientes que padecem com os transtornos mentais.

O professor de Psiquiatria Manoel Dias Galvão foi um grande incentivador para que

eu me especializasse nessa área, admirava muito o trabalho que o mestre desenvolvia com

psicoterapia psicodinâmica de grupo. Em 2009, após concluir o curso de Medicina, trabalhei

na cidade de Silves/AM, atendendo na Estratégia de Medicina da Família (ESF), na sede da

cidade e nas comunidades ribeirinhas, onde raramente fiz alguns atendimentos em saúde

mental.

No final de 2009, fui convidada a trabalhar na ESF, na cidade de São José do

Seridó/RN, cidade de pouco mais de 4 mil habitantes, onde fui surpreendida pela quantidade

assustadora de usuários de psicotrópicos, de transtornos mentais graves e de casos de suicídio,

o que me levou a ter que estudar mais Psiquiatria e a me identificar cada vez mais com a área.

Em 2010, engravidei do meu primeiro filho, Arthur, e decidi iniciar uma

especialização em Psiquiatria, em Belo Horizonte. Com o intuito de não parar de trabalhar na

ESF, viajei durante 2 anos, uma vez por mês, para a capital mineira, inclusive levando Arthur

comigo nos seis primeiros meses de vida, a fim de não descontinuar o aleitamento materno.

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No final da gestação, sai de São José do Seridó e fui trabalhar na ESF rural da minha cidade,

Lajes Pintadas.

Em Belo Horizonte, fiz estágio nos Ambulatórios do IPEMED e na enfermaria do

Hospital Raul Soares. Os professores Iso Jorge, Helian Nunes e Abel Cordeiro são minhas

referências dessa época.

Concluí o curso em 2012, meu primeiro trabalho como psiquiatra foi em um

ambulatório na cidade de Lagoa Nova/RN, na Serra de Santana, onde me surpreendi também

com a quantidade de transtornos mentais graves e de casos de suicídio. Depois trabalhei no

CAPS I de Santa Cruz, no CAPS I de Parelhas e no CAPS II de Currais Novos.

Em 2014, tive meu segundo filho, Heitor, e fui chamada em um concurso público pela

SESAP, sendo lotada no setor de clínica médica do Hospital Regional Mariano Coelho. Sofri

muito como psiquiatra, exercendo trabalho de clínica geral e batalhando para abrir leitos de

saúde mental na enfermaria, mas sempre encontrando resistência por parte das gestões e das

equipes.

Em 2016, fiz concurso para professora substituta de psiquiatria na EMCM/UFRN.

Ajudei a construir, junto com a professora Patrícia Cavalcanti e o professor Tiago Pinto, o

primeiro módulo de Problemas Mentais e do Comportamento. Nasceu aí outra paixão: pela

docência, e hoje me sinto profissionalmente realizada como médica, psiquiatra e professora.

Ainda nesse ano, iniciei o mestrado profissional, e como o tema do suicídio na região

do Seridó Potiguar sempre me inquietou, achei de extrema relevância a escolha do mesmo

para obter dados científicos, que espero possam ser usados na construção de políticas públicas

eficazes na redução desse grave problema de saúde pública.

Em 2018, fui aprovada no concurso para professora Efetiva de Psiquiatria da EMCM e

trabalhei no NASF de Currais Novos, realizando matriciamento e trabalhos em grupo para

desmame de benzodiazepínicos. No início de 2019, assumi um grande desafio que é a Direção

Técnica do Hospital Regional Mariano Coelho, em Currais Novos. Espero, como gestora,

contribuir para melhorar o serviço como um todo, mas, em especial, na área de saúde mental.

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, gostaria de agradecer a Deus por me guiar, iluminar e me dar

tranquilidade para seguir em frente com os meus objetivos e não desanimar com as

dificuldades.

Em segundo lugar a minha família, em especial a minha mãe Leodicéia e ao meu

esposo Sueid, que sempre me dão o suporte necessário para que eu possa crescer como

profissional. Aos meus filhos Arthur e Heitor, para os quais quero servir de exemplo.

Agradeço as colegas de mestrado, Ana Lígia e Lidiane, que tornaram as viagens para

Caicó mais rápidas e divertidas, a Socorrinha, que além de colega de mestrado se tornou uma

segunda mãe e uma grande amiga.

Aos meus orientadores Tiago e Ana Carolina, pela compreensão e paciência, além do

compartilhamento do saber. Aos professores Dulcian e Liliane pelas importantes colaborações

durante a qualificação.

Aos alunos Ana Lúcia, Launda, Luana, Reinaldo e Yasmim pela ajuda na coleta dos

dados.

Enfim, a todos aqueles que de uma maneira ou de outra contribuíram para que este

percurso pudesse ser concluído.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pacientes, pela confiança em partilhar suas histórias, angústias e dores e por

me fazerem crescer como ser humano e como profissional.

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Porções

vivo sob um pêndulo sombrio

que me leva

aqui

ali

– além

um pêndulo sobre rodas

transitando entre

o profundo e o raso

o micro e o macro

a lua e todas as estrelas de brilho

inefáveis.

quando a química me dorme

noite a dentro

e posso, enfim,

me achatar doída entre pesadelos

e palavras insoletráveis,

me penduro no pêndulo

– muda e imóvel –

à procura de um sonho

que me devolva

a luz.

Iara Maria Carvalho

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RESUMO

O suicídio tem sido visto como um problema de saúde pública em todo o mundo, pelo

crescente número de casos, principalmente entre os jovens. No Brasil, em especial no interior

do Rio Grande do Norte, não tem sido diferente, com destaque para o município de Caicó. O

objetivo deste trabalho foram analisar os casos de suicídio, no período de 2000 a 2015, e

caracterizar a rede de atenção psicossocial, na região do Seridó /RN, subsidiando uma

proposta de prevenção a novos casos de suicídio. Para tanto, foram selecionados os casos de

suicídio atendidos pelo ITEP/RN-Caicó, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2015,

no qual o óbito se deu por suicídio. A análise estatística utilizou as medidas de tendência

central, incluindo: média e desvio padrão, além de suas frequências absolutas individuais para

cada item avaliado. O presente estudo somou 397 casos de suicídio. Caicó e Currais Novos

apresentam maior frequência de casos absolutos. O sexo masculino corresponde a 82,1% dos

casos. A média de idade foi calculada em 43,7 anos (desvio padrão ± 18,9). A principal etnia

encontrada foi de brancos, e os solteiros somaram 48%. Os agricultores correspondem à

maioria dos casos de suicídio (30,2%), seguidos por aposentados, do lar e estudantes. A rede

de atenção psicossocial na Região do Seridó apresenta várias falhas, entre elas a falta de leitos

psiquiátricos nos principais hospitais regionais, nas cidades de Caicó e Currais Novos, falha

na comunicação formal para fluxo de pacientes e falta de matriciamento com a atenção básica.

Propõem-se algumas intervenções, como criação e implementação de fluxograma de casos de

alto risco de suicídio nos hospitais regionais, educação permanente continuada para toda

RAPS, instrumentalização da notificação compulsória das tentativas de suicídio na RAPS,

fortalecimento do apoio matricial, treinamento para identificação e rastreio de casos de riscos

pela atenção básica. É sabido que o perfil epidemiológico do suicídio é intrínseco a cada

região estudada, devido diversos fatores. Para a região do Seridó Potiguar, e com destaque ao

município de Caicó, a desassistência, aliada à falta de preparo dos profissionais, dos serviços

especializados e da atenção básica, surgem como fatores importantes a serem considerados e

que podem influenciar o número destas ocorrências. São necessários mais estudos, em

especial na classe de agricultores da região do Seridó e que os dados do mestrado possam

subsidiar políticas públicas regionais na prevenção ao suicídio.

Palavras-Chave: Suicídio. Serviços de saúde mental. Psiquiatria preventiva. Epidemiologia.

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ABSTRACT

Suicide has been seen as a public health problem worldwide, due to the growing number of

cases, especially among young people. In Brazil, especially in the interior of Rio Grande do

Norte, it has not been different, especially the municipality of Caicó. The objective of this

work was to analyze the suicide cases, from 2000 to 2015, and to characterize the

psychosocial care network in the Seridó / RN region, supporting a proposal to prevent new

suicide cases. To this end, we selected the cases of suicide treated by ITEP / RN-Caicó, from

January 2000 to December 2015, in which the death occurred due to suicide. Statistical

analysis used measures of central tendency, including: mean and standard deviation, as well

as their individual absolute frequencies for each item evaluated. The present study totaled 397

suicide cases. Caicó and Currais Novos have a higher frequency of absolute cases. Males

correspond to 82.1% of cases. The average age was calculated at 43.7 years (standard

deviation ± 18.9). The main ethnicity found was white, and single people totaled 48%.

Farmers account for the majority of suicide cases (30.2%), followed by retirees, housewives

and students. The psychosocial care network in the Seridó Region has several shortcomings,

including lack of psychiatric beds in the main regional hospitals in the cities of Caicó and

Currais Novos, failure in formal communication for patient flow and lack of matriculation

with primary care. Some interventions are proposed, such as the creation and implementation

of a high-risk suicide case flowchart in regional hospitals, continuous continuing education

for the entire RAPS, instrumentalization of compulsory notification of suicide attempts at

RAPS, strengthening of matrix support, identification and training. Risk case screening by

primary care. It is known that the epidemiological profile of suicide is intrinsic to each region

studied, due to several factors. For the region of Seridó Potiguar, and especially the

municipality of Caicó, lack of care, coupled with the lack of preparation of professionals,

specialized services and primary care, appear as important factors to be considered and that

may influence the number of these occurrences. Further studies are needed, especially in the

Seridó region's farmer class and that master's data can support regional public policies in

suicide prevention.

Keywords: Suicide. Mental health service. Preventive psychiatry. Epidemiology.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO _________________________________________________ 12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA _____________________________________ 16

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS ___________________________ 16

2.2 EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO___________________________ 19

2.3 A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ____________________________ 21

2.4 A REGIÃO DO SERIDÓ E SUAS PECULIARIDADES _________________ 27

3 OBJETIVOS ____________________________________________________ 33

3.1 OBJETIVO GERAL _______________________________________________ 33

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ________________________________________ 33

4 METODOLOGIA ______________________________________________ 34

4.1 TIPO DE ESTUDO ________________________________________________ 34

4.2 CENÁRIO DA PESQUISA _________________________________________ 34

4.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO _______________________________________ 34

4.4 PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO DOS DADOS _________________ 35

4.4.1 Procedimentos éticos ___________________________________________ 35

4.4.2 Fonte dos dados _______________________________________________ 35

4.4.3 Variáveis investigadas __________________________________________ 35

3.5. ANÁLISE DOS DADOS __________________________________________ 35

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES __________________________________ 37

5.1 ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA _____________________________________ 37

5.2 CARACTERIZAÇÃO DA RAPS NO SERIDÓ/RN______________________ 43

5.3 PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO __________________________________ 47

6 CONCLUSÕES _________________________________________________ 49

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 51

8 ANEXO ________________________________________________________ 58

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1 INTRODUÇÃO

O suicídio é um grande problema de saúde pública evitável, e a tentativa de suicídio

está associada a uma redução considerável na expectativa de vida da população em geral.

Fazem parte do que chamamos de comportamento suicida as ideias suicidas, os planos de

suicídio, a tentativa de suicídio e o suicídio em si. Este último se refere ao ato deliberado,

executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de modo consciente,

intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal (MELEIRO,

2018).

É considerado um fenômeno multifatorial, com precipitantes e predisponentes

conhecidos, como os problemas sociais e os transtornos mentais, respectivamente (TAN; et

al., 2015). São fatores de riscos distais, como as adversidades da vida precoce (estresse

intrauterino, trauma no momento do parto, acontecimentos estressantes da infância e na

adolescência) que, por meio de modificações epigenéticas, podem alterar o desenvolvimento e

levar a desregulação de características emocionais e comportamentais; e os proximais, como

os eventos graves de vida e o uso de substâncias psicoativas (JOKINEN ET AL, 2018).

Os transtornos mentais mais comumente associados ao suicídio são: depressão,

transtorno do humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas,

esquizofrenia e certas características de personalidade, principalmente Boderline. A situação

de risco é agravada quando mais de uma dessas condições combinam-se, como, por exemplo,

depressão e alcoolismo; ou ainda, a coexistência de depressão, ansiedade e agitação.

(BOTEGA, 2015).

As lesões autoprovocadas e tentativas de suicídio são fenômenos complexos e

multicausais, e também possuem como determinantes os fatores sociais, econômicos,

culturais, biológicos e a história de vida pessoal de cada indivíduo (ROSA, 2016). Essas

lesões correspondem ao fator de risco mais importante para o suicídio (FREITAS, 2014).

Segundo Botega (2015), uma tentativa de suicídio é o principal fator de risco para

sua futura concretização. Após uma tentativa, estima-se que o risco de suicídio aumente em

pelo menos cem vezes em relação aos índices presentes na população geral.

Estima-se que, para cada caso de suicídio, existem pelo menos dez tentativas de

gravidade suficiente para requerer cuidados médicos e que esses comportamentos sejam até

40 vezes mais frequentes do que os suicídios consumados. Considera-se ainda que, para cada

tentativa documentada, existem outras quatro que não foram registradas (MELLEIRO &

BAHLS, 2004).

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É provável que muitas dessas tentativas não cheguem ao atendimento hospitalar por

serem de pequena gravidade. Mesmo quando os pacientes chegam às unidades de assistência,

os registros elaborados nos serviços de emergência costumam assinalar apenas a lesão ou o

trauma decorrente das tentativas que exigiram cuidados médicos (MINAYO, 2005).

A maioria dos casos de autoagressão é atendida em algum tipo de serviço de saúde,

principalmente na emergência, antes de ocorrer uma tentativa fatal de suicídio. Esse primeiro

contato é uma excelente oportunidade para que médicos e demais profissionais de saúde

identifiquem o potencial nível de risco e possam intervir para reduzi-lo (PATTERSON,

2007).

Em uma revisão entre 1959 e 2001, englobando 15.629 suicídios ocorridos na

população geral, demonstrou-se que em 97% dos casos havia um diagnóstico de transtorno

mental à época do ato fatal (BERTOLOTE & FLEISCMANN, 2002).

Outros pesquisadores têm concordado com a ideia de que o suicídio geralmente

aparece associado a doenças mentais, como depressão, uso de álcool e abusos na infância

(BECKER et al, 2017; ENNS, 2006; MANN, 2015).

Nas últimas décadas, estudos com uso de neuroimagem e de autópsia cerebral de

pacientes suicidas, nos Estados Unidos, corroboram a correlação entre o suicídio e déficit de

serotonina em regiões específicas do cérebro (UNDERWOOD; et al., 2018; OQUENDO; et

al., 2006).

Segundo Meleiro (2018) os principais fatores de vulnerabilidade para ideação suicida

podem ser divididos em quatro grandes categorias: demográficas, diagnósticas, histórico

psiquiátrico e psicológico. Das características demográficas o sexo masculino, ser solteiro ou

divorciado e está desempregado são fatores de risco conhecidos. Em relação a orientação

sexual não existem estatísticas nacionais ou internacionais para morte por suicídio, pois ela

não é identificada nas certidões de óbitos.

Nas variáveis diagnósticas, ter uma doença física ou mental, não aumentam o risco

de suicídio por si só, mas elas aumentam a vulnerabilidade ao suicídio, por meio da ativação

da desesperança, da falta de sentido para a vida e da perda de importante papéis sociais

(LEVENSON, 2005). Noventa por cento ou mais dos indivíduos que morrem por suicídio são

diagnosticados com um ou mais transtornos psiquiátricos (BERTOLOTE &

FLEISCHMANN, 2003). Segundo Harris (1997), em um estudo de metanálise, o risco de um

indivíduo depressivo morrer por suicídio é 20 vezes maior que para o não depressivo.

Nas variáveis de histórico psiquiátrico o maior preditor talvez seja as tentativas

prévias, principalmente no primeiro ano após alta hospitalar por aquele intento (OQUENDO,

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2004). Além disso o histórico familiar de suicídio também já foi associado ao maior risco de

suicídio (CHENG, 2000).

As variáveis psicológicas são passíveis de serem modificadas com intervenções

psicoterapêuticas focadas. São elas: a desesperança, as cognições relacionadas ao suicídio,

maior impulsividade, déficits na resolução de problemas e perfeccionismo (MELEIRO, 2018).

Por tanto, o risco de atos suicidas não é apenas determinado por um transtorno

psiquiátrico, mas também por uma diátese, refletida por tendências a experimentar mais

ideação suicida e ser mais impulsiva, sendo mais propenso a agir com sentimentos suicidas.

De um lado há impulsividade, agressividade, pessimismo, inflexibilidade cognitiva, baixa de

serotonina e uso abusivo de substâncias. De outro, fatores ambientais como fácil acesso a

meios letais, falta de tratamento adequado e episódios de transtornos psiquiátricos, que leva a

mudanças neurobiológicas no organismo (OQUENDO, 2014).

Já os fatores de proteção ao comportamento suicida estão ligados ao estilo cognitivo

e de personalidade, como senso de valor pessoal, confiança em si mesmo, busca de conselhos,

abertura para experiências e soluções, flexibilidade para aprendizado e habilidades de

comunicação. Além de fatores sociais e culturais, padrão familiar e fatores ambientais.

O papel da Espiritualidade e da Religiosidade na prevenção ao suicídio tem sido

estudada por vários pesquisadores. Segundo Botega (2015), a fé pode proteger contra o

suicídio, uma vez que proporciona um sistema estruturado de crenças e, em geral, advoga em

prol de um comportamento que pode ser considerado benéfico em termos físicos e mentais.

No entanto, muitas crenças e comportamentos influenciados pela religião e pela cultura

aumentam o estigma em relação ao suicídio e podem desencorajar a busca por ajuda médica.

Um estudo realizado em Campinas, São Paulo, com 515 pessoas, sobre

comportamento suicida e religiosidade apresentou dados que aqueles adeptos da denominação

espírita kardecista foram os que mais apresentaram ideação suicida uma vez na vida (33,7%),

em comparação a católicos (23,4%) e evangélicos (14,4%) (DALGALARRONDO et al,

2008). Nestes, mais do que as proibições canônicas contra o suicídio, é a moral religiosa, o

apoio social e a coesão grupal, que parecem influenciar a condenação ao ato suicida, assim

como observado na condenação ao consumo de bebidas alcoólicas (MARIANO, 2001).

A posvenção ao suicídio corresponde ao trabalho de prevenção, manejo e intervenções

para o luto por suicídio. As pessoas que perdem alguém por suicídio são conhecidas como

sobreviventes enlutados, os quais necessitarão de um suporte especializado para viver mais,

com mais produtividade e menos estresse, se não houvesse esse auxílio (KESSLER, 2005).

Em 1989, a American Association of Suicidology (AAS) começou a falar sobre o impacto, a

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importância e a necessidade do cuidado após um suicídio. Em 2008, a OMS em parceria com

a IASP (International Association for Suicide Prevention) publicou: Prevenindo o Suicídio:

Como iniciar um grupo de suporte a sobreviventes, e esse documento foi distribuído

mundialmente.

Em relação ao tratamento medicamentoso, estudos demonstram eficácia do lítio no

tratamento para comportamento suicida, tanto no transtorno bipolar como na depressão

unipolar, por diminuir a impulsividade e agressividade. Além disso, em oito estudos com

pacientes com depressão maior resistente unipolar (um total de 2.434 pacientes-ano em risco

de suicídio), houve um risco 4 vezes menor de suicídio e tentativas no tratamento com lítio

em comparação a tratamentos com anticonvulsivantes (MOOECICKI, 1999).

Além do uso lítio para casos de transtornos do humor, o uso da clozapina para

tratamento do risco de suicídio em pacientes esquizofrênicos foi aprovado pelo FDA, baseado

em um grande estudo randomizado (InterSept) comparando a clozapina com a olanzapina

entre indivíduos esquizofrênicos com alto risco suicida (MELTZER ET AL, 2003).

Recentemente, estudos tem demonstrado redução da ideação suicida após dose

subanestésica de cetamina. Esta droga, há muito tempo utilizada pela anestesia, aparece como

uma nova e promissora alternativa na prevenção ao suicídio (PRICE ET AL, 2014).

No Brasil as maiores taxas de óbito por suicídio foram registradas nos estados do Rio

Grande do Sul, de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul que, no período estudado,

apresentaram, respectivamente, 10,3, 8,8 e 8,5 óbitos por 100 mil/hab (BRASIL, 2017).

A Região do Seridó aparece como um cluster de suicídio no Rio Grande do Norte,

com vários municípios apresentando coeficientes de suicídio muito acima da média nacional,

do Nordeste e do próprio estado (SANTOS, 2017). Estudos mostraram, ainda, que o

município de Caicó, com população de 67.259 habitantes, localizada na região mencionada,

ocupava o 3º lugar entre as 20 cidades brasileiras, com pelo menos 50.000 habitantes, com

maiores coeficientes de suicídio entre os anos de 2005 e 2007 (BOTEGA, 2010).

Cerca de 20% das pessoas que tentam o suicídio, se não obtiverem ajuda

especializada, repetem essa ação no prazo de um ano, aumentando a probabilidade de,

eventualmente, morrerem por suicídio, o que motivou a OMS a incluir nas suas

recomendações para a prevenção do suicídio, a indicação de “Melhorar os serviços de suporte

à saúde, reforçar o apoio social e promover a reabilitação de pessoas com comportamento

suicida” (WHO, 2014).

Considerando que a porta de entrada dos pacientes com ideação ou tentativa de

suicídio pode ser a atenção básica ou a emergência clínica, é de fundamental importância o

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treinamento dos médicos generalistas e de uma rede de saúde integrada para evitar os casos

de suicídio. A identificação e avaliação de risco de suicídio é de competência de toda a rede

de saúde, sendo de suma importância capacitações permanentes, por se tratar de um grave

problema de saúde pública mundial (BOTEGA, 2015).

Compreende-se, neste processo, que o suicídio não só é um problema a nível pessoal,

mas também se mantém como um problema de saúde pública, e devido ao grande aumento

das taxas a cada ano em todo o mundo, é importante estudar o fenômeno e realizar

intervenções sobre ele, em todos os níveis de atenção à saúde. (MELEIRO, 2018).

Diante desse contexto, o presente estudo se justifica pela necessidade de obter uma

compreensão ampliada sobre o fenômeno do suicídio e suas particularidades na Região do

Seridó Potiguar, a fim de direcionar ações de prevenção e redução da mortalidade por suicídio

na região. Desenvolvida no âmbito de um mestrado profissional, espera-se que o produto

desta dissertação também possa ser apresentado e debatido no meio acadêmico e das

secretarias municipais de saúde.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS

Há registro de várias motivações para o suicídio entre os povos primitivos, como a

evitação da desonra, a fuga da escravidão, reação a perdas afetivas, a idade avançada, ou

mesmo a vingança (RETTERSTOL, 1993). Entre os vikings, por exemplo, a morte em batalha

representava a primeira das honras e a qualificação para entrar no paraíso; a segunda, era o

suicídio. Odin, o supremo deus das guerras, também era conhecido como o Senhor das

Forcas. Em sua honra, homens e animais eram enforcados nas árvores sagradas de um bosque

em Upsala, na Suécia (ALVAREZ, 1999).

Em certas sociedades nômades primitivas, o suicídio de idosos ocorria de forma

ritualística e com certo grau de coerção social, ainda que velada. A pessoa idosa se matava em

um ato de suprema honra e altruísmo, a fim de não se transformar em um ônus para seu povo

(STEINMETZ, 1894).

Na Grécia, existia uma atitude de moderação e nobreza de espírito em relação ao

suicídio, porém não era tolerado se parecesse desrespeito gratuito aos deuses. Nesse caso, as

honras da sepultura regular eram vedadas, e a mão do cadáver era decepada e enterrada à

parte (RETTERSTOL, 1993). Para ser legitimado, o suicídio precisava ser consentido

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previamente pelas autoridades, as quais forneciam cicuta, um veneno mortal, para aqueles que

desejassem morrer (DURKHEIM, 2013).

Sócrates, ao mesmo tempo que condenou o suicídio, fez a morte parecer algo

desejável e tomou a cicuta com entusiasmo. Platão defendia o suicídio quando as

circunstâncias externas tornavam-se intoleráveis. Já Aristóteles o classificou como uma

ofensa contra o Estado, um ato de irresponsabilidade social. Para ele, ao se matar, um cidadão

útil enfraquecia o Estado (ALVAREZ, 1999).

Já em Roma, os indícios fizeram crer que o suicídio não era uma ofensa moral,

tampouco objeto de ações legais. Viver de forma nobre também significava morrer de forma

nobre e no momento certo. O suicídio poderia ser validado a partir de uma escolha cuidadosa,

com base nos princípios pelos quais se tinha vivido. A maior preocupação, no entanto, era de

como o Estado seria afetado pelos suicídios, principalmente o Tesouro. Por isso, o ato não era

permitido a escravos, soldados ou criminosos (WERTH, 1996).

Cerca de cem anos após a morte de Sócrates, os estoicos romanos transformaram o

suicídio na mais razoável e desejável de todas as saídas. Seu ideal era a aphateia, isto é, a

indiferença diante do inevitável (CHALLAYE, 1978). O mais famoso dos estoicos, Sêneca

(4-65 d.C.), acabou pondo em prática seus preceitos. Suicidou-se a fim de evitar a perseguição

vingativa do imperador Nero, de quem fora professor e conselheiro (WERTH, 1996).

Segundo Alvarez (1996), a partir do século V, com Constantino, o Estado romano

totalitário retirou do indivíduo comum o direito de dispor da própria vida, pois havia

epidemias, guerras, baixa natalidade, falta de mão de obra e de alimentos. A vida dos colonos

e escravos pertencia ao seu senhor e o suicida passou a ser culpabilizado, e seus familiares

tinham seus bens confiscados.

Durante a Idade Média, dependendo dos costumes locais, o cadáver do suicida não

poderia ser retirado de casa por uma porta, mas passado por uma janela ou por um buraco

aberto na parede. Era então posto em um barril e lançado ao rio, ou era arrastado por um

cavalo até a forca e pendurado com a cabeça para baixo. As mãos eram decepadas e

enterradas separadamente. Os enterros deveriam ser feitos em uma estrada ou encruzilhada,

nunca no cemitério do povoado (MINOIS, 1998).

Santo Agostinho (354-430), um importante teólogo do período medieval, em

Confissões e em Cidade de Deus, retomou e transformou as ideias de Platão, afirmando que,

como a vida é um presente de Deus, desfazer-se dela é o mesmo que contrariar Sua vontade e,

como consequência, rejeitá-lo. Matar-se, então, passou a ser um pecado mortal (WERTH,

1996).

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No século XIII, este mesmo autor aponta que outro importante teólogo, São Tomás

de Aquino, acrescentou em sua Summa theologica, que o suicídio não deixava chance para o

arrependimento, sendo, por isso, o pior dos pecados. Os suicidas passaram a ser considerados

os mártires de Satã. A legislação civil se inspirou no direito canônico e acrescentou às penas

religiosas, as penas materiais. Neste sentido, o suicida era considerado responsável pelos seus

atos, seus bens eram confiscados pela coroa e seus familiares privados da herança (MINOIS,

1998).

Ainda no século XIII, alguns tribunais passaram a fazer distinção entre o desperatio

e o efeito da melancolia ou do frenesi. Já no final do século XV, sinais de comportamento

estranho ou inabitual podiam ser tomados como prova de alienação mental, e, muitas vezes,

os inquiridos os aceitavam como tal. Nesse caso, não havia o suplício do cadáver, nem os seus

bens eram confiscados (MINOIS, 1998).

Com a chegada do século XVII, houve o reconhecimento da liberdade individual,

incluindo-se o direito ao suicídio. Célebres escritores, como Willian Shakespeare, trouxeram

nas suas peças o suicídio como um dilema humano. Foi também nesse século que o termo

suicídio, derivado do latim (sui= de si próprio; caedere=matar), apareceu pela primeira vez na

literatura inglesa, em substituição a homicídio de si próprio (MINOIS, 1998).

A obra de Goethe, um dos maiores exponentes da literatura inglesa do século XVIII,

trouxe dois suicídios famosos: o de Werther, um suicídio romântico, e o de Fausto, um

suicídio filosófico. Acreditou-se, na época, que Os sofrimentos do jovem Werther, escrito em

1774, tivesse inspirado vários jovens a cometer suicídio. Esse fato, na suicidologia e na área

de comunicação, ficou conhecido como efeito Werther. Passou-se a temer o efeito potencial

que a veiculação de casos de suicídio possa ocasionar, levando a novos suicídios, por imitação

ou contágio (JACK, 2014).

No século XIX, a Revolução Industrial ocasionou profundas mudanças na sociedade,

o que estimulou o estudo dos processos de transformação social. Em 1897, surgiu uma obra

fundamental: O suicídio, de Emile Durkheim. Com esse livro, deslocou-se o foco associado

ao suicídio: do indivíduo, para a sociedade; da moral, para os problemas sociais. Para esse

autor, após a Revolução Industrial, a Família, o Estado e a Igreja deixaram de funcionar como

fatores de integração social e nada foi encontrado para substituí-los.

Na pós-modernidade, respaldada pelos aspectos científicos, a responsabilidade pelo

suicídio diluiu-se em um conjunto complexo de influências que consolidaram, desde o século

XVII, o novo olhar sobre o indivíduo – antes pecador, agora vítima. Vítima de sua fisiologia

cerebral, da decepção amorosa, das misérias humanas, das calamidades sociais, vítima de uma

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organização política e econômica que conduz à perda do sentido e ao desespero, a uma vida

desprovida de significado, à morte aparentemente sem razão (BOTEGA, 2015).

Ainda segundo Botega (2015), as novas tecnologias, representadas pela internet e

pelas redes sociais virtuais, ao reverberarem o suicídio, reativam e alimentam várias fantasias

e tradições arcaicas armazenadas em nossas mentes, ligadas, por exemplo, à imortalidade, à

morte gloriosa ou à vingança. Em contrapartida, na volatilidade da internet, a realidade

dramática de um suicídio, e de uma pessoa em particular, muitas vezes se esvai em uma rede

de personae virtuais não vinculados afetivamente.

2.1 EPIDEMIOLOGIA

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é

responsável por pelo menos 800 mil mortes anualmente, que corresponde a um suicídio a cada

45 segundos, ou um contingente de mais de duas mil pessoas que põe fim à vida diariamente

em algum lugar do planeta. Jovens e adultos jovens são os mais afetados – sendo a segunda

causa mais frequente de morte entre os que estão na faixa etária de 19 a 25 anos de idade

(WHO, 2014).

O coeficiente de mortalidade por suicídio representa o número de ocorrências para

cada 100.000 habitantes ao longo de um ano. No Brasil, o coeficiente médio de mortalidade

por suicídio gira em torno de 5,5 por 100.000 habitantes ao longo de um ano, o que pode ser

considerado relativamente baixo, quando comparado ao de outros países, embora esta taxa

venha crescendo ao longo dos dez últimos anos, ao contrário da tendência observada na

maioria dos países. A despeito disso, por sermos um país populoso, ocupamos o oitavo lugar

entre os que registram os maiores números de mortes por suicídios. São 12.000 suicídios, o

que resulta em uma média de 32 pessoas que, diariamente, tiram a própria vida. É a cifra

oficial, do MS, que estima que a magnitude do suicídio seja pelo menos 20% maior do que a

oficialmente registrada (WHO, 2014).

Apesar do Brasil estar situado entre os países com taxas médias de suicídio, existe

uma distribuição desigual em várias regiões do país (BOTEGA, 2015).

Em certas localidades, bem como em alguns grupos populacionais (como, por

exemplo: indígenas do Centro-Oeste e do Norte; e lavradores do interior do Rio Grande do

Sul), os coeficientes aproximam-se dos de países do Leste Europeu e da Escandinávia, na casa

dos 15-30 por 100 mil/ano. Vários fatores socioculturais e econômicos parecem se associar a

esses altos índices, bem como elevada frequência de sofrimento mental e de uso abusivo de

bebidas alcoólicas (MARÍN-LEÓN; et al., 2012).

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Dados sobre mortalidade por suicídio no Brasil derivam de informações constantes

de atestados de óbito compiladas pelo Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do MS.

Esses dados costumam estar subestimados. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), ao comparar suas projeções demográficas com o total de óbitos registrados nos

cartórios brasileiros, estima que 15,6% dos óbitos não foram registrados em cartório,

constatando o sub-registro. Em relação às estatísticas do MS, o IBGE calcula que 13,7% dos

óbitos ocorridos em hospitais, no mesmo ano, podem não ter sido notificados (BRASIL,

2010).

Além do sub-registro e da subnotificação, autores revelam a existência do problema

dos suicídios que “se escondem” sob outras denominações de causa de morte, como, por

exemplo, acidente automobilístico, afogamento, envenenamento acidental e “morte de causa

indeterminada” (GOTSENS; et al., 2011).

No último boletim epidemiológico, divulgado pelo MS em 2017, a taxa de

mortalidade por suicídio no país no período estudado, embora duas vezes menor que a taxa

mundial no ano de 2012, apresentou um padrão de comportamento semelhante quanto ao sexo

e à situação conjugal.

A análise das notificações das lesões autoprovocadas no sexo feminino, segundo

raça/ cor, mostrou que 49,6% das mulheres eram brancas e 35,7%, negras (pardas + pretas).

Em relação à escolaridade, 30,5% delas apresentavam ensino fundamental incompleto ou

completo e 23,5% ensino médio incompleto ou completo. Destaca-se o elevado percentual de

casos com escolaridade ignorada (39,5%). A ocorrência de lesão autoprovocada se concentrou

nas faixas etárias de 10 a 39 anos, representando 74,4% dos casos. A presença de

deficiência/transtorno foi identificada em 19,6% dessas mulheres. A grande maioria delas,

89,4%, residia na zona urbana e os casos se concentraram nas regiões Sudeste (51,2%) e Sul

(25,0%) Ressalte-se que 84,0% dos casos ocorreram na residência, seguidos de 4,8% em via

pública. Apesar da elevada proporção de dados ignorados (24,5%), chamou a atenção que

33,1% das lesões autoprovocadas tinham caráter repetitivo. Somente 0,8% dos casos

apresentavam alguma relação com o trabalho desenvolvido pela mulher (BRASIL, 2017).

Entre os homens, 49,0% eram brancos e 37,2% negros (pardos + pretos); 32,3%

apresentavam ensino fundamental incompleto ou completo e 19,6% ensino médio incompleto

ou completo. A ocorrência de lesão autoprovocada também se concentrou nas faixas etárias

de 10 a 39 anos, representando 70,1% dos casos. A presença de deficiência/transtorno foi

identificada em 20,0% desses homens. A grande maioria deles, 86,2%, residia na zona urbana

e os casos se concentraram nas regiões Sudeste (49,6%) e Sul (26,2%). Ocorreram na

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residência 72,4% dos casos, e 10,4% em via pública. As lesões autoprovocadas tiveram

caráter repetitivo em 25,3% dos homens. Somente 1,1% dos casos apresentavam alguma

relação com o trabalho desenvolvido por eles. Observou-se, para os dois sexos, grande

proporção de dados ignorados para as variáveis escolaridade e presença de

deficiência/transtorno (BRASIL, 2017).

Ainda em relação ao Brasil, o risco de óbito por suicídio na população indígena se

destacou, em ambos os sexos, por superar em mais de duas vezes o risco na população branca

e pela alta proporção observada entre os adolescentes. Estes dados são concordantes com

estudos que indicam a vulnerabilidade dessa população entre sociedades de todo o mundo,

bem como com a existência de taxas mais altas de suicídio e de consumo de substâncias

psicoativas entre os jovens indígenas em regiões ou nações como o Alaska, o Canadá, a

Groenlândia, os países nórdicos e a Rússia (OPS/OMS, 2016).

Ainda segundo o boletim epidemiológico do MS, o enforcamento, a intoxicação

exógena e as armas de fogo foram, nessa ordem, os meios mais utilizados para cometer o

suicídio (BRASIL, 2017). Segundo a OMS, estratégias de restrição aos meios de cometer

suicídio, como o controle do uso de agrotóxicos/pesticidas e de armas de fogo, reduzem a

incidência do suicídio e são recomendadas como instrumentos de prevenção universal, ou

seja, para a população geral (WHO, 2012).

2.3 A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

A Reforma Psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter político,

social e econômico que vem sendo delineado como uma transformação do modelo assistencial

em saúde mental, a partir da implantação dos novos dispositivos, abertos e inseridos numa

rede de atenção psicossocial. Teve início na década de 80, sob influência do modelo da

Reforma Psiquiátrica Italiana e tem como vertentes principais a desinstitucionalização com

consequente desconstrução do manicômio e dos paradigmas que o sustentam; embora, ainda

hoje, se configure como um movimento contra hegemônico à tradição biomédica,

hospitalocêntrica e medicalizadora (BORSARI, 2013).

A rede de serviços substitutivos surge e se materializa por meio dos novos serviços e

dispositivos de cuidado em saúde mental, tendo na figura dos Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS) o principal equipamento de substituição ao paradigma asilar.

Normatizados pela portaria nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, os CAPS atuam em parceria

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com os serviços de residência terapêutica, programa de volta pra casa e os projetos de atenção

à crise e urgências dirigidas para a criação de leitos em hospitais gerais (MORAES, 2014).

Em 2006, o Ministério da Saúde instituiu as Diretrizes Nacionais para Prevenção do

Suicídio e, entre os principais objetivos a serem alcançados naquele momento, destacavam-se:

1) desenvolver estratégias de promoção de qualidade de vida e de prevenção de danos; 2)

informar e sensibilizar a sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública que

pode ser prevenido; 3) fomentar e executar projetos estratégicos fundamentados em estudos

de eficácia e qualidade, bem como em processos de organização da rede de atenção e

intervenções nos casos de tentativas de suicídio; 4) promover a educação permanente dos

profissionais de saúde da atenção básica, inclusive do Programa Saúde da Família, dos

serviços de saúde mental, das unidades de urgência e emergência (BRASIL, 2006).

Já em 2011 o Ministério da Saúde instituiu a criação da Rede de Atenção Psicossocial,

através da portaria N0 3.088, cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de

atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades

decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde

(SUS).

Constituem-se diretrizes para o funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial:

I - respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas;

II - promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde;

III - combate a estigmas e preconceitos;

IV - garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e

assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar;

V - atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas;

VI - diversificação das estratégias de cuidado;

VII - desenvolvimento de atividades no território, que favoreça a inclusão social com

vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania;

VIII - desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos;

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IX - ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle

social dos usuários e de seus familiares;

X - organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com

estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado;

XI - promoção de estratégias de educação permanente; e

XII - desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com transtornos mentais e

com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, tendo como

eixo central a construção do projeto terapêutico singular.

São objetivos gerais da Rede de Atenção Psicossocial:

I - ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral;

II - promover o acesso das pessoas com transtornos mentais e com necessidades

decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas e suas famílias aos pontos de atenção; e

III - garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no

território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento

contínuo e da atenção às urgências.

São objetivos específicos da Rede de Atenção Psicossocial:

I - promover cuidados em saúde especialmente para grupos mais vulneráveis (criança,

adolescente, jovens, pessoas em situação de rua e populações indígenas);

II - prevenir o consumo e a dependência de crack, álcool e outras drogas;

III - reduzir danos provocados pelo consumo de crack, álcool e outras drogas;

IV - promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com transtorno mental e com

necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas na sociedade, por

meio do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária;

V - promover mecanismos de formação permanente aos profissionais de saúde;

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VI - desenvolver ações intersetoriais de prevenção e redução de danos em parceria

com organizações governamentais e da sociedade civil;

VII - produzir e ofertar informações sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção

e cuidado e os serviços disponíveis na rede;

VIII - regular e organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de Atenção

Psicossocial; e

IX - monitorar e avaliar a qualidade dos serviços por meio de indicadores de

efetividade e resolutividade da atenção.

A Rede de Atenção Psicossocial é constituída pelos seguintes componentes:

I - atenção básica em saúde, formada pelos seguintes pontos de atenção:

a) Unidade Básica de Saúde;

b) equipe de atenção básica para populações específicas:

1. Equipe de Consultório na Rua;

2. Equipe de apoio aos serviços do componente Atenção Residencial de Caráter

Transitório;

c) Centros de Convivência;

II - atenção psicossocial especializada, formada pelos seguintes pontos de atenção:

a) Centros de Atenção Psicossocial, nas suas diferentes modalidades;

III - atenção de urgência e emergência, formada pelos seguintes pontos de atenção:

a) SAMU 192;

b) Sala de Estabilização;

c) UPA 24 horas;

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d) portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro;

e) Unidades Básicas de Saúde, entre outros;

IV - atenção residencial de caráter transitório, formada pelos seguintes pontos de

atenção:

a) Unidade de Recolhimento;

b) Serviços de Atenção em Regime Residencial;

V - atenção hospitalar, formada pelos seguintes pontos de atenção:

a) enfermaria especializada em Hospital Geral;

b) serviço Hospitalar de Referência para Atenção às pessoas com sofrimento ou

transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas;

VI - estratégias de desinstitucionalização, formada pelo seguinte ponto de atenção:

a) Serviços Residenciais Terapêuticos; e

VII - reabilitação psicossocial.

A partir da Portaria MS nº 1.271/2014, a tentativa de suicídio passou a ser um agravo

de notificação obrigatória e imediata, devendo a notificação ser feita para a Secretaria

Municipal de Saúde em até 24 horas. O início do cuidado para a pessoa também deve ser

imediato, devendo ela receber os acompanhamentos de emergência necessários, bem como

acompanhamento psicossocial na Rede de Saúde (BRASIL, 2014).

Em dezembro de 2017, o MS anunciou medidas para fortalecer o atendimento

ambulatorial no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo mudanças na Política

Nacional de Saúde Mental (Resolução CIT No. 32/2017 e Portaria No. 3.588/2017).

Com a instituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) como uma das redes

prioritárias no âmbito do SUS, a rede passa a ser formada pelos seguintes pontos de atenção

(Serviços):

- CAPS, em suas diferentes modalidades;

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- Serviço Residencial Terapêutico (SRT);

- Unidade de Acolhimento (adulto e infantojuvenil);

- Enfermarias Especializadas em Hospital Geral;

- Hospital Psiquiátrico;

- Hospital-Dia;

- Atenção Básica;

- Urgência e Emergência;

- Comunidades Terapêuticas;

- Ambulatório Multiprofissional de Saúde Mental.

Um dos pontos da nova Política Nacional de Saúde Mental é a expansão dos

(SRTs), equipamentos voltados à reinserção social dos pacientes e à desinstitucionalização

dos que moram em hospitais psiquiátricos e que agora também passam a acolher pacientes

com transtornos mentais em outras situações de vulnerabilidade, como aqueles que vivem

nas ruas. Foi criada também uma nova modalidade de CAPS (IV AD) para funcionar 24

horas nas regiões de cracolândias (BRASIL, 2017).

Além disso, o atendimento ambulatorial também passou a ser incentivado pelo MS

por meio do custeio de equipes multiprofissionais especializadas em saúde mental para

atuar em ambulatórios, de maneira integrada à atenção básica e aos CAPS, ocupando um

vazio assistencial que existia na RAPS. Outra mudança na nova política de saúde mental é o

investimento em leitos psiquiátricos especializados e atendimento qualificado nos hospitais,

sendo que, a partir de agora, será exigida a presença de equipe multiprofissional mínima em

enfermarias especializadas, dando maior eficiência e qualidade ao tratamento dos pacientes

(BRASIL, 2017).

O Brasil conta hoje com uma cobertura deficitária na assistência psiquiátrica

hospitalar. Somando leitos em hospitais psiquiátricos especializados e aqueles em hospitais

gerais, há cerca de 0,11 leito por 1.000 habitantes, quando o preconizado pelo Ministério

seria de 0,45 por 1.000 habitantes. Este índice está bem abaixo da média de cobertura dos

países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo

reconhecidos impactos negativos quando o índice fica abaixo de 0,30 por 1.000 habitantes

(BRASIL, 2017).

Sabemos que o suicídio é um fenômeno multifatorial e que a tentativa de suicídio é

um dos principais fatores de risco para a sua ocorrência, portanto a atenção aos casos de

tentativa de suicídio pressupõe a mobilização e a organização dos serviços de saúde, inclusive

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com leitos em hospitais gerais e/ou psiquiátricos para que esse paciente possa ser assistido de

maneira adequada no momento de crise, a partir da construção de linhas de cuidado, da

sensibilização dos profissionais e da desestigmatização do problema, da definição de fluxos e

responsabilidades, articulados numa rede de cuidados e de proteção envolvendo tanto a saúde

quanto recursos e estratégias intersetoriais.

2.4 A REGIÃO DO SERIDÓ E SUAS PECULIARIDADES

A região do Seridó Potiguar é um vasto trecho do território do estado do Rio Grande

do Norte, atravessado e cortado pelo Rio Seridó e seus afluentes. Tem uma extensão territorial

de 9.374,063 km², sendo composta por vinte e cinco municípios: Acari, Bodó, Caicó,

Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim

de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do

Matos, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, São

Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas (IBGE,

2017).

Segundo o folclorista e historiador Luís da Câmara Cascudo, a origem do nome

Seridó vem do linguajar dos tapuias transcrito como "ceri-toh", e que quer dizer "pouca

folhagem e pouca sombra", em referência às características da região. No entanto, existe a

possibilidade de outra origem, oriunda do hebraico, devido a sua colonização ter sido feita

por cristãos-novos, descendentes de judeus: trata-se dos termos "sarid" e "serid", que

significaria "sobrevivente" ou "o que escapou"; ou ainda "she'erit", no sentido de "refúgio

Dele", ou "refúgio de Deus" (DANTAS, 2008).

Segundo Medeiros (1954), a região da Ribeira do Seridó era habitada pelos índios

Tarairiús e Cariris, divididos em 5 grandes grupos: Canindés,

Jenipapos, Sucurus, Cariris e Pegas. O primeiro contato e tentativa de colonização se deram

pelos flamengos, no entanto não obtiveram sucesso devido à Guerra dos Bárbaros ou

Confederação Cariri (1687 a 1697).

Logo após o fim da Guerra dos Bárbaros, o povoamento da região começou. As

primeiras terras concedidas na região são registradas nos livros da Capitania do Rio Grande e

são de 1676, referindo-se exatamente à Acauã (hoje Acari). O povoamento se deu

inicialmente por paraibanos e pernambucanos à procura de terras para criação de gado, uma

vez que a Carta Régia de 1701 proibia o criatório de gado a menos de

10 léguas do litoral, para não interferir na produção de cana-de-açúcar. No entanto, as

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primeiras famílias a se instalarem plenamente na região, foi um fato que se deu a partir

de 1720, por portugueses vindos principalmente do norte de Portugal e Açores, espanhóis

vindos da fronteira da Galiza com Portugal e holandeses provenientes de Pernambuco e que

firmaram acordo de paz com os lusitanos. A região ainda sofreu influência de italianos, estes

últimos vindo a ser a principal influência étnico-cultural da cidade de Florânia (MACEDO,

2005).

A emancipação do Seridó foi feita em 31 de Julho de 1788, por alvará que criou o

município com denominação de Vila Nova do Príncipe (hoje Caicó), em homenagem ao

nascimento do príncipe Dom João VI. A região do Seridó também foi palco do pioneirismo

no Rio Grande do Norte, ao abrigar o primeiro núcleo republicano, fundado no Príncipe

(Caicó), em 25 de Julho de 1886, tendo como presidente Manuel Sabino da Costa. As páginas

do jornal "O POVO" serviram à propaganda republicana. Nelas, foram publicados o

Manifesto Republicano ao Povo Seridoense e a Ata Sessão de instalação do Centro

Republicano Seridoense (DANTAS, 2008).

No final do século XIX, popularizou-se o plantio de algodão nas terras do Seridó, que,

até então, era dominado pela pecuária. Toda a região do Seridó se orgulhava em produzir uma

das melhores variedades de algodão do mundo, o algodão Mocó ou algodão Seridó, variedade

que resistia às secas e fornecia capuchos de fibras longas, resistentes, de brancura única e

poucas sementes (AZEVEDO, 2005).

O algodão seridoense abastecia, inicialmente, as indústrias têxteis da Inglaterra, após a

independência dos EUA. Porém, quando a Inglaterra retomou o comércio com os Estados

Unidos, o algodão seridoense ficou em segundo plano, mas a produção já tinha destino

substitutivo: as indústrias paulistas que começavam a surgir (BELTRÃO, 1999).

Em 1905, o algodão superou o status do açúcar no estado, que, com o crescimento

econômico, fez surgir políticos seridoenses, assim como uma elite agrária local. Ao

assegurarem o controle político do estado, buscou-se realizar as melhorias adequadas para o

cultivo e escoamento do algodão. Em 1924, foi criado o departamento de Agricultura,

posteriormente o Serviço Estadual do Algodão (1924) e o Serviço de Classificação do

Algodão (1927), além de outras melhorias, como a construção de rodovias ligando o Seridó à

capital (BELTRÃO, 1999)

Contudo, em meados de 1918, os paulistas começaram a investir em sua produção

própria, após uma geada que destruiu as plantações de café, o que fez com que,

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gradativamente, deixassem de comprar o algodão seridoense. Aliada à falta de investimentos

em tecnologia, secas prolongadas e à inserção de pragas, como o bicudo que dizimou vastos

algodoais, iniciou-se então a decadência do ciclo algodoeiro. Mesmo com essa situação, foi

em Caicó, no ano de 1984, que se deu o primeiro registro da colheita de algodão de fibra

colorida, dando-se, a partir daí, todo o processo de melhoramento genético dessa linhagem

(BELTRÃO, 1999)

Além da pecuária e do ciclo do algodão, a região do Seridó contou com a exploração

da mineração como base do tripé de sua economia, principalmente a exploração da Tantalita,

do Berílio, da Scheelita e da Cassiterita, que, infelizmente, na década de oitenta, ruíram quase

que ao mesmo tempo.

Atualmente, o Seridó é bastante procurado pelo turismo gastronômico, de eventos e

esportes radicais. Possui características culturais e geográficas únicas, quando comparadas a

outras regiões do estado. Além disso, apresenta a maior concentração de municípios com

índice de desenvolvimento humano alto ou médio-alto das regiões Norte e Nordeste do país

(COSTA ET AL, 2007).

A sociedade da região enfrentou todas as adversidades, e a economia do Seridó do Rio

Grande do Norte encontra-se em processo de reestruturação, fundamentada por:

Uma bacia leiteira caracterizada como a principal do estado e que se consolida

rapidamente;

Modernização e ampliação da caprino-ovinocultura regional;

A agroindústria se fortalece principalmente com produtos de origem animal em

bases artesanais e modernas;

Dentro dos demais setores industriais, destaca-se a indústria cerâmica e a de

confecções, tendo Caicó como o segundo polo boneleiro do Brasil, com

aproximadamente 60 indústrias entre produtores de hotéis e componentes;

O Comércio, seguindo o aumento das atividades agrícolas e industriais,

acompanha a evolução;

O setor de serviços vem se desenvolvendo para apoiar e aperfeiçoar a

competitividade de todos os setores da economia regional;

Outra atividade importante é, sem dúvida, o artesanato, já descoberto dentro e

fora do estado, e que se organiza para atender o mercado internacional. Os

bordados, rendas, peças em pedra e madeira, cerâmicas decorativas, produtos

alimentícios, e muitos outros trabalhos singulares.

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De acordo com os dados do IBGE, seu território é constituído pelas microrregiões

do Seridó Ocidental, Seridó Oriental e parte da microrregião do Vale do Açu e da Serra de

Santana, e a população é estimada em 311.531 habitantes, correspondendo a 9.1% da

população total do estado (IBGE, 2017).

Fig. 1: Mapa das Microrregiões do Seridó

Fonte: IBGE

Microrregião do Seridó Oriental potiguar: pertencente à mesorregião Central Potiguar.

Possui uma área total de 3.777,267 km². Municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta,

Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó e São

José do Seridó.

Microrregião do Seridó Ocidental potiguar: pertencente à mesorregião Central Potiguar.

Possui uma área total de 3.065,724km². Municípios: Caicó, Ipueira, Jardim de Piranhas, São

Fernando, São João do Sabugi, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas.

Microrregião da Serra de Santana: pertencente à mesorregião Central Potiguar. Possui uma

área total de 3.031,906 km². Municípios: Bodó, Cerro Corá, Florânia, Lagoa Nova, Santana

do Matos, São Vicente e Tenente Laurentino Cruz.

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Microrregião do Vale do Açu (parte): pertencente à Mesorregião do Oeste Potiguar. Faz

parte da microrregião Vale do Assú. Somente o município de Jucurutu pertence à região

homogênea do Seridó Potiguar. Possui uma área total de 933,718 km².

O clima subúmido seco ou semiárido brando, está presente desde o oeste do município

de Caicó até a cidade de Serra Negra do Norte, com precipitação variando de 800 a

1000mm/ano e temperatura média anual de 27,5ºC. Desde a porção oriental de Caicó até o

oeste do Seridó Oriental, o clima dá-se como Semiárido mediano, com precipitação variando

de 600 a 800 mm anuais e temperatura média de 26ºC. Nas demais áreas do Seridó Oriental, o

clima é tido como Semiárido rigoroso, com precipitação variando entre 400 e 600 mm e

temperaturas mais amenas devido à altitude. Em regiões da Serra de Santana, predomina

o clima tropical de altitude, com temperaturas que podem atingir os 10ºC de mínima

no inverno e 30ºC de máxima no verão. Entretanto, o regime de chuva não se altera nessas

regiões.

Outra característica peculiar da Região do Seridó é a devoção religiosa católica,

marcada pelos festejos dos padroeiros de suas cidades, como um momento esperado pela

maioria da população, sendo relevante do ponto de vista cultural, histórico e social, pois é um

dos principais veículos da memória e da identidade coletiva, em especial os relacionados com

as expressões ligadas à fé católica.

Quatro cidades da região têm Sant’Ana como sua padroeira: Caicó, Currais Novos,

Santana dos Matos e Santana do Seridó.

A Festa de Sant’Ana de Caicó é considerada o maior evento sociorreligioso do estado, e

é a primeira manifestação do mesmo a entrar para a lista de "Patrimônio Imaterial do Brasil",

vinculado ao IPHAN, órgão do Ministério da Cultura (BRASIL, 2016). É realizada há mais

de 270 anos, dura onze dias e tem o seu encerramento com uma grande procissão de fiéis,

sempre no domingo imediatamente posterior ao dia de Sant'Ana (26 de julho). Reúne

diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações típicas da região do Seridó

Potiguar.

Sua origem remonta o período da colonização portuguesa e possui um grande

simbolismo para a população de Caicó, uma vez que, segundo a lenda, a fundação da cidade

se deve a uma promessa a Sant'Ana, através da qual um sertanejo encontrou uma fonte

de água durante uma forte seca, fonte que, até hoje, nunca secou, localizando-se onde,

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atualmente, é o Poço de Santana. Diante disso, o sertanejo conseguiu salvar a vida de sua

família e todo o seu rebanho de gado. Outra causa para a grande devoção da população

caicoense é o fato de Sant'Ana ser a avó de Jesus, figura de grande importância nas famílias

seridoenses (MACEDO, 2005).

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar os casos de suicídio na região do Seridó potiguar, no período de 2000 a

2015.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar o perfil sociodemográfico dos casos de suicídio no período de 2000 a 2015,

além dos meios utilizados;

Caracterizar a rede de atenção psicossocial, na região do Seridó /RN;

Propor intervenções para prevenção de novos casos e redução da mortalidade por suicídio

na região do Seridó potiguar.

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4 METODOLOGIA

4.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo epidemiológico, do tipo ecológico e série temporal (2000 a

2015), que subsidiará um estudo de pesquisa-ação.

4.2 CENÁRIO DA PESQUISA

O cenário da pesquisa é a 4ª região de saúde do estado do Rio Grande do Norte,

localizada na região do Seridó potiguar, composta por 25 municípios, conforme figura 02.

Figura 02 – 4ª Região de saúde do estado do Rio Grande do Norte.

Fonte: Editado do Plano Estadual De Saúde/RN - 2016 – 2019, 2018.

4.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO

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A população do estudo são os casos de suicídios ocorridos na IV URSAP (URSAP –

Unidade Regional de Saúde Pública), no período de 2000 a 2015.

4.4 PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO DOS DADOS

4.4.1 Procedimentos Éticos

O presente trabalho foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Ciências da Saúde do Trairi – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA-

UFRN), sob a CAAE n. 56201616.2.0000.5568, Número do Parecer: 1.707.504.

4.4.2 Fonte dos Dados

As fontes de informação foram os bancos de dados oficiais a seguir:

Banco de Dados do ITEP/Caicó – no qual foram obtidas informações

referentes aos óbitos ocorridos por suicídio entre 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro

de 2015, na região do Seridó potiguar; bem como as características sociodemográficas;

Coleta de Dados: A coleta dos dados foi realizada entre os meses de agosto a

outubro de 2017, por alunos do curso de medicina da EMCM, utilizando um questionário

padrão (em anexo).

Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) – obteve-se

informação sobre a quantidade e o tipo dos estabelecimentos, bem como sobre os

profissionais que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da 4ª Região de

Saúde;

IBGE – foram obtidos a população dos municípios.

4.4.2.1 Variáveis Investigadas

Variáveis Sociodemográficas: sexo, idade, ocupação, local de moradia.

Variável Dependente: declaração de óbito por suicídio, considerado como os

óbitos decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente (X60-X84), da

Classificação Estatística Internacional de doenças, na sua décima edição (CID-10).

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

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Os dados foram analisados mediante estatística descritiva por meio da leitura das

frequências absolutas (N) e relativas (%), bem como o coeficiente de mortalidade, e nos

quadriênios de 2000 a 2015, conforme variáveis quantitativas.

Para o Cálculo do Coeficiente de Mortalidade por Suicídio, utilizou-se a seguinte

fórmula: (número de óbitos por suicídio/população) x 100.000.

Os dados e informações foram analisados a partir de marco teórico conceitual da

saúde coletiva, com referenciais e autores que refletem a interface saúde coletiva e saúde

mental e, em particular, sobre o fenômeno do suicídio em suas várias determinações.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

Segundo as informações coletadas no banco de dados do ITEP/Caicó, durante o período

de 2000 a 2015, ocorreram 397 casos de suicídio na região do Seridó, destacando-se as

cidades de Caicó, Currais Novos e Jucurutu, com 117, 38 e 29 casos absolutos,

respectivamente.

Tabela 1: Número absoluto e porcentagem de casos de suicídio na Região do Seridó potiguar

distribuídos por cidade e microrregiões, no período de 2000 a 2015.

CIDADE n %

Seridó Ocidental

Caicó 117 29,47%

Jardim de Piranhas 24 6,05%

Serra Negra do Norte 3 0,76%

São João do Sabugi 12 3,02%

São Fernando 6 1,51%

Timbaúba dos Batistas 0 0,00%

Ipueira 4 1,01%

Seridó Oriental

Acari 11 2,77%

Carnaúba dos Dantas 8 2,02%

Cruzeta 10 2,52%

Currais Novos 38 9,57%

Equador 3 0,76%

Parelhas 9 2,27%

Jardim do Seridó 22 5,54%

São José do Seridó 11 2,77%

Santana do Seridó 2 0,50%

Ouro Branco 15 3,78%

Serra de Santana

Bodó 5 1,26%

Cerro Corá 15 3,78%

Florânia 14 3,53%

Lagoa Nova 15 3,78%

Santana dos Matos 12 3,02%

São Vicente 10 2,52%

Tenente Laurentino

Cruz 2 0,50%

Vale do Açu

Jucurutu 29 7,30%

Total 397 100

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De modo geral, tais dados refletem a proporcionalidade do maior número de casos de

suicídio nos municípios de maior porte da região do Seridó. Por outro lado, também

explicitam Caicó na posição de destaque no contexto locu regional, a qual já ocupou a 3ª

posição do ranking no coeficiente de suicídios do país em municípios de até 100.000

habitantes e representou quase 30% dos casos no nosso estudo.

Santos (2017), realizou um estudo ecológico sobre os casos de suicídio no Nordeste

do Brasil, entre os anos de 2010 a 2014, dentre os dez municípios com maiores índices de

suicídio do nordeste destacam-se São José do Seridó, em primeiro lugar, com 35,63

óbitos/100mil habitantes e Ouro Branco, em terceiro lugar, com 29,21 óbitos/100mil

habitantes.

Apenas um município não apresentou casos de suicídio no período estudado,

Timbaúba dos Batistas, o que mostra a problemática distribuída por toda região, com

destaques para os municípios de pequeno porte como São José do Seridó e Ouro Branco que

proporcionalmente apresentaram índices maiores que os de Caicó. Se, por um lado, tais dados

demonstram a dificuldade de tratamento estatístico de números baixos em indicadores que se

utilizam da base de 100.000 habitantes no cálculo do coeficiente, o que poderia

superdimensionar a problemática em municípios de pequeno porte, por outro, também

apontam para o perigo do chamado “Efeito Wherter”, caracterizado quando uma notícia de

uma morte por suicídio é explicitada em seus métodos, divulgação de fotos e se difunde

rapidamente na mídia, podendo atuar com efeito cascata incentivador e/ou motivador de

outras tentativas de suicídio.

Tal notoriedade negativa alcançada pelo município de Caicó veio alertar, em âmbito

nacional, aquilo que já era do conhecimento e vivência cotidiana de muitos moradores da

região do Seridó: a convivência com a presença perene do comportamento suicida em amigos,

familiares e desconhecidos, explicitado em honras nas mídias e blogs locais.

Aqui, faz-se necessário salientar que Caicó e Currais Novos contam com os hospitais

de maior porte, bem como os serviços de saúde mental de maior complexidade da região.

Diante disso, pondera-se a importância de aprofundar o conhecimento sobre o grau e o

circuito de notificação dos casos no contexto locu regional, bem como a atribuição do evento

ao seu local de moradia ou onde de fato se deu a óbito.

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O Gráfico 02 apresenta a distribuição absoluta do número de casos de suicídio no

período pesquisado, destacando-se os anos de 2003 e 2015 como aqueles de maior incidência

(n=33).

Gráfico 02: Número de mortes por suicídio x ano de ocorrência no período de 2000 a 2015.

Fonte: Dados da pesquisa

Conforme pode-se observar no gráfico sobre a mortalidade por suicídio no sertão

potiguar nas duas últimas décadas, constata-se que não há uma distribuição homogênea e/ou

equitativa ao longo dos anos. Ressaltam-se períodos de pico, percebidos em 2003, 2005, 2012

e 2015, assim como anos de acentuado declínio no número de casos, constatados nos

subsequentes, como se revela nos períodos de 2004 e 2013.

Santos (2017), realizou um estudo sobre os casos de suicídio no Rio Grande do Norte, no

mesmo período que o nosso, utilizando dados do DATASUS, onde verificou um cluster de

suicídio na região do Seridó, principalmente em áreas rurais.

Baseado nisso, aponta-se para a importância de maiores estudos e reflexões acerca

desses indicadores, buscando novas correlações com fatores históricos, econômicos, sociais,

ambientais e culturais, que poderiam estar incidindo de forma padrão sazonal no número de

casos.

Nesse sentido, ressalta-se que é possível reconhecer o comportamento suicida em

seus vários desdobramentos e repercussões no imaginário coletivo, fortemente sedimentado

num padrão comportamental que tem se intensificado e complexificado nos últimos tempos.

Observa-se a dinâmica histórico-cultural do suicídio na região, a qual podemos ilustrar com

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personalidades históricas que cometeram suicídio no passado, e que dão nomes às maiores e

mais importantes avenidas nos municípios de Caicó e Currais Novos.

Tabela 2: Caracterização da mortalidade por suicídio, na região do Seridó / RN, segundo

sexo, faixa etária, etnia e estado civil, no período de 2000 a 2015.

Ao serem avaliadas as características sociodemográficas (Tabela 02), predominou o

sexo masculino (82,1%), cor branca (48%), solteiros (48%), com idade média de 43,7 anos

(desvio padrão ± 18,9), sendo o enforcamento o método mais utilizado (79%). Estes dados

corroboram o que já é de conhecimento da literatura científica sobre o assunto, quando se

analisam as características sociodemográficas que emolduram o perfil do suicida, o qual tem

VARIÁVEIS

2000-2003

N = 94

2004-2007

N = 95

2008-2011

N = 101

2012-2015

N = 107

TOTAL

N = 397

% % % % %

SEXO

Masculino 78,72 82,10 87,13 80,37 82,08

Feminino 21,28 17,90 12,87 19,63 17,92

FAIXA

ETÁRIA

< 18 6,38 5,26 8,91 1,88 5,6

18 a 40 50,00 34,74 33,66 35,51 38,48

41 a 64 31,91 36,84 43,56 35,51 36,96

65 ou + 11,71 23,16 13,87 27,10 18,96

ETNIA

Negra 5,32 4,21 8,92 7,48 6,49

Parda 39,36 32,63 37,62 49,53 39,78

Branca 55,32 63,16 53,46 42,99 53,73

ESTADO

CIVIL

Solteiro 44,68 47,37 57,42 43,92 48,35

Casado/União

estável

37,23 43,16 38,61 45,78 41,95

Divorciado 4,25 1,05 1,00 2,80 2,27

Viúvo 5,32 7,37 2,97 6,54 5,55

Não avaliável 8,52 1,05 0 0,96 1,88

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sido historicamente marcado pela predominância de homens, brancos, solteiros, de meia idade

(WHO, 1993, 2014).

Nesse contexto, observa-se que o homem seridoense em idade produtiva está entre o

principal grupo de risco de suicídio, ao passo que também é aqui corroborada a importância

dos chamados fatores de proteção, como a presença de um companheiro e/ou estar numa

relação estável.

Mais do que isso, ilustraremos adiante outros fatores de risco e determinações

diversas que atravessam a vida e trazem implicações sobre o perfil do suicida na região, assim

como os aspectos que já são de conhecimento em inúmeros estudos, além da própria

constatação de como se dão os valores relacionais, morais e culturais que modelam a forma de

ser, pensar e agir de um povo em geral.

Gráfico 3:Principais métodos empregados para cometer suicídio, em porcentagem.

Fonte: Dados da pesquisa

Em relação ao método empregado para cometer o suicídio, os achados do nosso

estudo são semelhantes aos encontrados na realidade nacional, na qual o enforcamento

aparece como o principal método adotado para o suicídio em homens (BRASIL, 2017).

Embora seja de conhecimento que se trata de um método barato e de fácil acesso,

principalmente em comunidades interioranas, tal constatação ganha ainda maiores contornos

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quando observada a principal ocupação dos indivíduos que cometeram suicídio aqui

investigados, a saber, os agricultores, sobre os quais iremos estabelecer novas inferências a

partir das análises logo adiante.

Nesse contexto, cabe destacar que, historicamente, as mulheres cometem três vezes

mais tentativas de suicídio do que os homens, utilizando-se predominantemente de métodos

menos letais do que os mesmos, como a ingestão medicamentosa, por exemplo. Nisso,

reconhece-se que, quando se trata do comportamento suicida, os homens idealizam, planejam

e executam tentativas com meios mais letais e contundentes com poucas chances de

sobrevivência, tal como o suicídio por armas de fogo e enforcamento (BOTEGA, 2015).

A seguir, o Gráfico 4 traz o percentual de casos segundo a profissão das vítimas de

suicídio na Região do Seridó potiguar.

Gráfico 4: Ocupação dos indivíduos que cometeram suicídio, em porcentagem.

Fonte: Dados da pesquisa

Quando analisada a ocupação dos indivíduos que cometeram suicídio, ressalta-se o

grande contingente de agricultores na região do Seridó potiguar, totalizando 30,2% dos casos,

confirmando estudos recentes em vários países, como Índia, China, Japão e Austrália, que

também demonstraram preocupação em relação ao aumento no número de suicídio nessa

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categoria de trabalhadores (Klingelschmidt, 2018; Ram & Singh, 2017; Kunde et al, 2017;

LYU et al, 2018).

Na Índia, a mecanização, as dívidas agrárias e o término de relacionamentos

amorosos são apontados como principais causas de suicídio entre agricultores. (Ram &

Singh, 2017). Na Austrália, por sua vez, estudo de autópsia psicológica com casos de

agricultores masculinos que cometeram suicídio, identificaram fatores comuns e outros

elementos, como: problemas de relacionamento amoroso e preocupações financeiras;

pendência de aposentadoria; transtorno psiquiátrico de longa duração; extensas horas de

trabalho; conflitos interpessoais; doenças físicas e dor; abuso de álcool, acesso a armas de

fogo e exposição à seca (Kunde et al, 2017).

A exposição prolongada ou aguda a agrotóxicos organofosforados está caracterizada

como uma das causas de agressividade, impulsividade e aumento do risco de suicídio entre

agricultores (LYU et al, 2018). Os organofosforados podem, ainda, produzir agravos

neurocomportamentais, afetando as funções intelectuais, cognitivas, de memória,

comportamento, processamento de informações, coordenação motora fina, levando à

ansiedade e à irritabilidade (PACHECO-FERREIRA; et al., 2008).

A utilização prolongada de diferentes agrotóxicos pode ocasionar neuropatias tardias,

síndromes neurocomportamentais e distúrbios neuropsiquiátricos, com alta incidência de

suicídio, tal como descrito sobre os fumicultores do município de Venâncio Aires (RS)

(FALK; et al., 1996), assim como na correlação entre plantadores de tabaco na região sul do

Brasil (MENEGHAL & MOURA, 2018). Como sabemos, a região do Seridó já produziu

algodão em larga escala e segundo informações da EMATER, eram usados agrotóxicos

organofosforados nesse cultivo. Estudos mais aprofundados são necessários para fazer

dosagem sérica de organofosforados nos agricultores da região, além de aplicação de escalas

para rastreio de casos de depressão e dependência do uso de álcool.

Em estudo qualitativo com familiares de agricultores suicidas no interior do Rio

Grande do Norte, Dutra (2013) constatou que a falta de oportunidade de trabalho e de lazer,

bem como a seca, também aparecem como possíveis causas para o suicídio nessa classe de

trabalhadores.

Desse modo, compreende-se que não é possível estabelecer as mesmas relações que

explicam o perfil e comportamento suicida na região frente a outras localidades de mesmo

porte populacional em outros estados do país. Pondera-se, aqui, uma realidade diversa, com

características na agropecuária e na agronomia de subsistência, fortemente marcada pela

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dependência das chuvas e incentivos governamentais, os quais, tanto um quanto outro,

perderam força e se deterioraram nos últimos anos.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA RAPS NO SERIDÓ/RN

A Rede de Atenção Psicossocial da Região do Seridó é composta por cinco CAPS,

sendo um CAPS III e um CAPS AD, na cidade de Caicó; um CAPS II, na cidade de Currais

Novos; um CAPS I em Parelhas; e um CAPS I em Jucurutu. A cidade de Caicó conta ainda

com um Serviço de residência terapêutica. Em relação aos leitos de Psiquiatria em hospitais

gerais, segundo dados do Ministério da Saúde (2017) existem apenas dois leitos cadastrados

no Cadastro Nacional dos Equipamentos de Saúde (CNES), sendo um na cidade de Lagoa

Nova e outro na cidade de Parelhas (Quadro1).

Em julho de 2018, segundo registro no CNES, só existia um psiquiatra cadastrado no

CAPS III de Caicó, com carga horária de 30h/semanais, enquanto o preconizado é que esse

tipo de serviço conte com psiquiatra 24h. No Hospital Regional de Caicó, existem 8 leitos no

setor de clínica médica que foram reservados para serem leitos psiquiátricos, porém os

mesmos nunca foram habilitados, a equipe não recebeu capacitação para lidar com os

pacientes e estes são levados ao CAPS III uma vez por semana para serem avaliados pelo

psiquiatra daquela instituição. Caicó conta ainda com um ambulatório de psiquiatria pela

prefeitura e outro pela Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM) da UFRN.

Na cidade de Currais Novos, onde existe outro Hospital Regional, não existem leitos

de psiquiatria, mas nessa mesma cidade, além do psiquiatra do CAPS II, havia um

ambulatório de Psiquiatria na Policlínica do município e outras 2 psiquiatras cadastradas pelo

NASF.

O CAPS de Jucurutu encontrava-se sem psiquiatra e o de Parelhas contava com 1

psiquiatra, no momento da pesquisa.

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Figura 02: Representação da RAPS na 4a Região de Saúde

Fonte: Blog Saúde do RN

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Segundo Yoo et al (2013) uma diminuição na oferta de leitos de internação

psiquiátrica está significativamente associada a uma maior probabilidade de prisão por

pequenas acusações entre pessoas diagnosticadas com doença mental grave. O uso de

substâncias parece mediar esse relacionamento. Além disso, o acesso limitado ao tratamento

hospitalar para doentes mentais graves tem sido associado a maior risco de suicídio,

mortalidade prematura, falta de moradia, crime violento e o próprio encarceramento

(ALLISON ET AL, 2018).

Nos Estados Unidos, entre 1998 e 2013, o número total de leitos psiquiátricos

diminuiu de 34 para 22 a cada 100.000 habitantes, sendo essa redução associada a períodos

prolongados de permanência de doentes psiquiátricos nos serviços de emergênciae que

precisavam ser hospitalizados. Esse acesso muito limitado a internações hospitalares é

provavelmente um fator contribuinte para a crescente taxa de suicídio nos EUA

(BASTIAMPILLAI ET AL, 2016).

O município de Caicó tinha um Hospital psiquiátrico, que foi desativado após a

reforma psiquiátrica e não foram criados leitos em hospitais gerais suficientes para dá o

suporte necessário no momento da crise suicida, que sabidamente é uma emergência médica e

como tal necessita de um suporte hospitalar, assim como um paciente que é acometido por um

infarto agudo do miocárdio necessita de um suporte em unidade de terapia intensiva (UTI). A

depender do meio utilizado para cometer o suicídio o paciente que não tem êxito, pode

necessitar de internação para suporte clínico, cirúrgico ou de UTI, mas de qualquer forma

deve ser mantido em ambiente hospitalar até que esteja sem risco alto de suicídio (ABP,

2014).

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômica (OCDE) recomenda

uma média de 71 leitos psiquiátricos para cada 100.000 habitantes. Apenas 4 dos 35 países da

OCDE (Itália, Chile, Turquia e México) têm menos leitos psiquiátricos por 100.000 do que os

Estados Unidos. Embora o sistema de saúde europeu seja muito diferente do sistema de saúde

dos EUA, eles fornecem uma comparação útil. Por exemplo, Alemanha, Suíça e França,

apresentam 127, 91 e 87 leitos psiquiátricos por 100.000 habitantes, respectivamente.

Segundo dados do IBGE (2014), a população da Região do Seridó potiguar é de

311.531 habitantes, com 68% da população seridoense nas zonas urbanas. Levando em

consideração a recomendação da OCDE, temos um déficit considerável de leitos psiquiátricos

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na região. Considerando que para caso de tentativa de suicídio estima-se que 20 pessoas

tentem, e que para cada caso consumado, de 6 a 10 pessoas sejam atingidas diretamente, só no

período estudado, temos um contingente de aproximadamente 12 mil pessoas na região que

necessitam de um suporte profissional, multidisciplinar.

Entretanto a RAPS da região é muito frágil, com articulação deficitária entre os

dispositivos e praticamente sem ações de matriciamento, poucos ambulatórios de saúde

mental e pacientes institucionalizados nos CAPS.

4.2- PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

Por se tratar de um mestrado profissional e após a análise dos dados epidemiológicos

e da caracterização da RAPS, foram propostas algumas intervenções como:

1- Criação e implementação de fluxograma para casos de alto risco de suicídio nos

hospitais regionais;

2- Educação permanente continuada para toda a RAPS;

3- Instrumentalização da notificação compulsória das tentativas de suicídio na

RAPS;

4- Fortalecimento do apoio matricial;

5- Treinamento para identificação e rastreio de casos de risco pela atenção básica;

6- Criação de um ambulatório de Psiquiatria pela EMCM no Hospital Regional

Mariano Coelho em Currais Novos.

7- Realização de ações de extensão nos Sindicato de trabalhadores rurais dos

municípios da região.

8- Uso do protocolo de cetamina nos Hospitais Regionais para casos de alto risco de

suicídio.

Algumas das propostas de intervenção já foram realizadas. Escolhemos os

municípios de Caicó e de Currais Novos por serem os maiores da região.

Em agosto de 2018 organizamos um evento no Hospital Regional de Caicó, com a

presença do Professor Dr. Emerson Arcoverde, psiquiatra do Hospital Universitário Onofre

Lopes, o mesmo fez um relato da experiência desse hospital na criação e habilitação dos leitos

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de psiquiatria, entretanto a adesão dos profissionais foi muito baixa, contamos apenas com a

participação de 3 técnicos de enfermagem, 1 psicólogo e 1 assistente social.

Na cidade de Currais Novos escolhemos o mês de Setembro de 2018, durante a

campanha nacional de Prevenção ao suicídio para realizar alguma ações.

Foi realizada uma reunião no mês de julho de 2018, com as equipes do NASF, CAPS

e com os residentes multiprofissionais da UFRN, em Currais Novos, e foram definidas as

metas para a campanha de prevenção ao suicídio desse ano. Durante a reunião, identificamos

a fragilidade na rede de atenção desse município, principalmente em relação ao Hospital

Regional Mariano Coelho (HRMC), por isso planejamos concentrar a maioria das ações nessa

unidade.

Definimos uma agenda de capacitações para profissionais do HRMC, que foram

conduzidas pelas equipes do CAPS/NASF e Residência multiprofissional, além da criação de

um fluxograma para ser utilizado na Emergência daquele hospital.

A criação do fluxograma foi realizada junto com os alunos de medicina do 50 período

da EMCM/UFRN, que estavam no módulo de Vivência Integrada na Comunidade, na cidade

de Currais Novos, no mês de setembro, os quais também ficaram responsáveis por apresentar

aos médicos plantonistas o referido fluxograma.

Além disso, foram realizadas capacitações para profissionais da RAPS, palestras em

escolas públicas e privadas, para profissionais da mídia, em serviços de cunho religioso

(Centro Espírita Seara de Luz e Comunidade Católica de Casais), e um fórum intersetorial

para Prevenção ao Suicídio, que ocorreu no dia 28/09/18.

No mês de outubro de 2018, o fluxograma foi implementado também no Hospital

Regional de Caicó e planejamos iniciar um ciclo de Educação Permanente nesse hospital, a

partir de fevereiro de 2019, utilizando os internos do curso de Medicina da EMCM, que

estarão no módulo de Clínica Médica.

Outra meta para 2019 é a realização de capacitações com os Agentes Comunitários

de Saúde e com os Residentes Multiprofissionais, utilizando-se de escalas de rastreio de casos

com risco de suicídio na Atenção Básica dos municípios de Caicó e Currais Novos, além de

protocolo nos serviços de saúde mental para acolher as tentativas de suicídio nos principais

municípios da região.

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6 CONCLUSÕES

A partir do estudo aqui apresentado, podemos analisar que o suicídio na região do

Seridó assume o status de grande problema de saúde pública, com repercussões e

desdobramentos que vão muito além do indivíduo que cometeu suicídio, trazendo

consequências para o contexto familiar, social, econômico e cultural de seu povo.

Embora já fosse de conhecimento e constatado em senso comum, por meio desta

pesquisa demos visibilidade ao principal indivíduo implicado que emoldura as características

e perfil do comportamento suicida na região.

Aqui, revela-se a figura multifacetada do homem agricultor, historicamente apartado

dos serviços e cuidados em saúde em geral, muito além de problemáticas de sofrimento

psíquico. Sabemos que a perda de sua terra e de seu gado diante da seca avassaladora e do

descaso governamental cronificado nos últimos anos podem contribuir de várias formas para

agravar o sofrimento psíquico desses indivíduos. Porém, mais estudos devem ser realizados

para investigar possíveis correlações com fatores socioeconômicos e de exposição a

agrotóxicos.

Entre os vários aspectos que pudemos aqui problematizar, é preciso salientar que,

apesar da presença de equipes de apoio, equipamentos e serviços de saúde mental na região,

estes ainda se mostram frágeis e insuficientes, em que pesem a precariedade de instalações, a

falta de profissionais e materiais de trabalho, assim como o grande contingente de pessoas no

meio rural completamente desassistidas dos serviços de apoio e retaguarda em saúde mental.

Nisso, aponta-se para a necessidade de ampliação e qualificação da RAPS em toda a

região, com maior comprometimento e investimento dos governantes locais diante da

problemática, bem como no que se refere ao arranjo e à costura social das redes de cuidado

voltadas às pessoas com ideias e pensamentos suicidas. Urge a importância de serviços e

equipes constantemente preparadas para acolher o indivíduo que sofre, seja ele nos cenários

da Atenção Básica, serviços de saúde em geral e Prontos Socorros Municipais, com maior

especialização e preparo dos profissionais, desde a prevenção à tentativa propriamente dita.

Dessa forma, a notificação imediata da tentativa de suicídio deve ser realizada

oportunamente, com definição de fluxo para encaminhamento desses pacientes, garantindo o

acolhimento e a prestação de cuidados necessários, além da adoção de medidas terapêuticas

adequadas.

Ressaltam-se as insuficiências de um estudo produzido em nível de Mestrado

Profissional com todas as limitações de um profissional que atua no cotidiano assistencial.

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Todavia, aponta-se para a importância deste trabalho em despertar novas discussões nos

vários segmentos sociais, bem como na produção de novos conhecimentos e saberes

científicos sobre o fenômeno em questão.

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ANEXO