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perguntas estratégicas sobre as principais áreas da administração que o gestor deve fazer

perguntas estratégicas sobre as principais áreas da ... · O conhecimento da economia, da estrutura produtiva local, da renda per capita, da estrutura ocupacional e de rendimentos

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perguntas estratgicas sobre as principais reas da administrao que o gestor deve fazer

Reviso de Texto | Maria Lcia Becker

Projeto Grfico e Diagramao | Marina Proni

Colaborao | Jorge Monge e Marina Brasiliano

Tiragem | 1.500 exemplares

Governo do Estado de So Paulo

Jos Serra

Secretaria de Economia e Planejamento

Francisco Vidal Luna

Fundao Prefeito Faria Lima - Cepam

Felipe Soutello

Reitor

Jos Tadeu Jorge

Vice-Reitor

Fernando Ferreira Costa

Diretor

Mariano Francisco Laplane

Diretor Associado

Cludio Schller Maciel

Diretor Presidente

Carlos Alonso Barbosa de Oliveira

Diretor Administrativo

Waldir Quadros

So Paulo, 2008

perguntas estratgicas sobre as principais reas da administrao que o gestor deve fazer

Fundao Prefeito Faria Lima CepamCentro de Estudos e Pesquisas de Administrao Municipal

Universidade de Campinas (Unicamp)Instituto de Economia

EQUIPE RESPONSVEL

UnicampAnselmo Lus dos Santos (Coordenador)Amilton MorettoDenis Maracci GimenezEder Luz MartinsEugnia Troncoso LeoneFabiano Lago GarridoMarcelo Weishaupt ProniRicardo AzevedoWalter Barelli

CepamFtima Fernandes de Arajo (Coordenadora)Ana Lcia Furquim de MendonaAdriana Romeiro de Almeida PradoCelso Murano Del PicchiaCintia Ebner MelchioriFernando Antonio Franco MontoroJuara Morelli Terra RodriguesLuciana de Toledo Temer Castelo BrancoMaria do Carmo Meirelles Toledo CruzMaria Niedja Leite de OliveiraRicardo Augusto KadouakiSilvia Rodrigues Bio

FUNDAO PREFEITO FARIA LIMA CEPAM; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS - UNICAMP. Instituto de Economia. Construindo o diagnstico

municipal: uma metodologia. Coordenao de Anselmo Lus dos Santos e Ftima

Fernandes de Arajo. So Paulo, 2008. 160 p. (Eleies Municipais 2008).

1. Administrao municipal. 2. Diagnstico de gesto metodologia. I. SANTOS,

Anselmo Lus dos, coord. II. ARAJO, Ftima Fernandes de, coord. III. Ttulo

CDU: 352

Ficha Catalogrfi ca elaborada pela Biblioteca Ivan Fleury Meirelles

A Fundao Prefeito Faria Lima Cepam empenha-se na busca constante de inovao no campo das

polticas pblicas para fortalecer os municpios e, como decorrncia, a qualidade de vida dos cidados

APRESENTAO

Guiada por essa misso, a Fundao tem procurado olhar para o futuro e, por intermdio de vrias iniciativas, colaborar para o aprimoramento dos mtodos de gesto municipal no Estado de So Paulo.

Esta publicao foi concebida com a finalidade de oferecer aos prefeitos recm-empossados e suas equi-pes de governo algumas diretrizes e sugestes para orientar o perodo inicial do mandato municipal. Tem como pressuposto a compreenso de que o planeja-mento e a adoo de polticas estratgicas so essen-ciais para uma gesto responsvel e alinhada com as exigncias do nosso tempo.

Conta com a parceria do Instituto de Economia da Unicamp, cuja produo acadmica tem oferecido reco-nhecida contribuio no terreno das polticas pblicas e do desenvolvimento econmico regional. Os pesquisado-res do IE-Unicamp, em conjunto com tcnicos do Cepam, aceitaram o desafi o de levantar e sistematizar uma gama de informaes necessrias para um diagnstico muni-cipal, assim como indicar as maneiras mais apropriadas para a sua interpretao e aplicao.

Certamente, muitas prefeituras tm encontrado difi -culdades para dar respostas s demandas sociais e para solucionar problemas colocados ao desenvolvimento eco-

nmico. Neste sentido, uma das tarefas essenciais que os gestores municipais devem executar a realizao de um amplo diagnstico da situao do municpio em diferen-tes dimenses de anlise, para que seja possvel defi nir com maior segurana as polticas e aes prioritrias na agenda de governo.

Uma viso panormica dos problemas e desafi os nas diversas reas de atuao da administrao municipal tais como fi nanas, trabalho, educao, sade, infra-es-trutura, segurana e meio ambiente o ponto de par-tida para que o planejamento alcance pleno xito, uma vez que permite escolher as estratgias de curto, mdio e longo prazos, de modo a articular melhor os esforos que sero feitos em cada rea.

Esta publicao oferece aos gestores, de forma sucin-ta, informaes sobre as principais polticas pblicas, um roteiro de questes a serem formuladas para se conhecer a real situao do municpio e as fontes nas quais podem ser encontrados os dados. Dessa forma, portanto, procu-ra contribuir para que os novos prefeitos e suas equipes sejam bem-sucedidos na implementao de projetos in-tegrados, visando melhoria da qualidade de vida da populao e explorao das principais potencialidades econmicas do municpio.

Felipe SoutelloPresidente da Fundao Prefeito Faria Lima Cepam

5TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

Apresentao

Introduo 7

Tendncias Gerais: Brasil e So Paulo 9

1. Demografi a 17

2. Economia 27

3. Finanas Municipais 39

4. Mercado de Trabalho 53

5. Educao 61

6. Sade 79

7. Assistncia e Desenvolvimento Social 95

8. Infra-estrutura 105

9. Habitao e Saneamento Bsico 119

10. Meio Ambiente 133

11. Segurana Pblica 145

Sntese Conclusiva 151

Referncias Bibliogrfi cas 157

SUMRIO

Esta publicao tem o propsito de contribuir para uma refl exo a respeito dos problemas e desafi os colocados para os gestores municipais, assim como indicar polticas e aes a serem consideradas na agenda de governo

INTRODUO

Pretende, em particular, oferecer subsdios metodo-lgicos aos gestores das prefeituras dos municpios de pequeno ou mdio porte para que possam elaborar diag-nsticos da situao local.

A compreenso adequada dos problemas e demandas das diversas reas, como de economia, sade, educao, infra-estrutura, segurana, entre outras, fundamental para que as autoridades implementem, de forma consistente e pautada em informaes, seus programas de governo. O diagnstico permite delimitar as principais questes a se-rem enfrentadas pela administrao municipal.

Em primeiro lugar, as autoridades e os tcnicos devem compreender a dinmica demogrfi ca municipal: saber se a populao est crescendo e em que velocidade; entender o papel da migrao, do ritmo de natalidade e mortalida-de nessa dinmica demogrfi ca. Com essa anlise, podem compreender quais so as demandas futuras por empre-go, moradia, saneamento, vagas no sistema de educao, atendimento sade, cuidados com os idosos, formao e qualifi cao profi ssional para jovens e muitos outros as-pectos importantes, que so fortemente infl uenciados pelo ritmo e perfi l das transformaes demogrfi cas.

O conhecimento da economia, da estrutura produtiva local, da renda per capita, da estrutura ocupacional e de rendimentos e das transformaes ocorridas no passado recente um fator decisivo para compreender o poten-cial de desenvolvimento do municpio, sua capacidade de atender s demandas por ocupao e rendimento, os provveis impactos sobre a arrecadao de tributos, etc. O diagnstico das fi nanas pblicas fornecer importan-tes subsdios para a gesto fi nanceira, indicando possibi-lidades de elevao de receitas, de melhor controle dos gastos correntes, de formas alternativas para ampliar e fi nanciar os investimentos prioritrios.

Na rea social, a anlise das condies de sa-de, de educao, de privao social, no s permite

a identificao das principais demandas geradas para os sistemas municipais de atendimento, mas tambm fornece subsdios para a proposio de novos progra-mas e de correo dos j existentes, assim como para a construo de indicadores que expressem a situao social relativamente a outros municpios da regio e a padres nacionais e internacionais.

Da mesma forma, importante que os gestores mu-nicipais possam obter respostas para suas principais in-dagaes com relao infra-estrutura (transportes, co-municaes, energia, etc.), habitao, ao saneamento bsico e ao meio ambiente. O diagnstico dessas reas permitir identifi car quanto o municpio est pronto para o crescimento econmico, para empreender inovaes, ou atender com qualidade demanda atual.

E, diante da complexidade que envolve a questo da violncia no Pas, o conhecimento mais aprofundado dos problemas de segurana pblica local possibilitar que as autoridades municipais desenvolvam um dilo-go efi caz com as autoridades estaduais de segurana e com a populao, assim como possam encaminhar novas demandas ao governo estadual e viabilizar um conjunto de programas municipais que contribuam para reduzir a violncia e combater a criminalidade.

A ampliao das reas contempladas no diagnstico municipal, a freqente atualizao das informaes e das anlises, a melhoria da capacidade dos tcnicos e das auto-ridades pblicas na interpretao do diagnstico, bem como a divulgao, para a sociedade, da necessidade de resolver determinados problemas e implementar determinadas pol-ticas, so iniciativas que contribuem em grande medida para que as polticas pblicas municipais defi nidas como priorit-rias possam ganhar um apoio poltico mais amplo.

Com este guia, espera-se oferecer aos gestores um rico instrumental para levantar, organizar e interpretar as informaes necessrias ao diagnstico de diversas reas

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA8

no municpio. Neste sentido, deve auxiliar i) na eleio dos temas prioritrios a serem analisados, ii) no levanta-mento de informaes e suas fontes, iii) na organizao de sries estatsticas, iv) na familiaridade com procedi-mentos estatsticos para tratamento dos dados, e v) na defi nio de uma forma para analis-los.

Alm disso, deve contribuir para que o municpio possa desenvolver uma atividade sistemtica de acom-panhamento e atualizao das informaes, elevando a capacidade de observar integradamente os diferentes te-mas pertinentes administrao municipal, assim como a inter-relao entre os diferentes temas e problemas identifi cados na anlise setorial ou temtica.

Este guia explicita de forma simples e detalhada os principais procedimentos para a elaborao de diagns-tico nos municpios de pequeno e mdio portes segun-do os temas: demografi a; economia; fi nanas pblicas; mercado de trabalho; educao; sade; assistncia e desenvolvimento social; infra-estrutura; habitao e sa-neamento bsico; meio ambiente; e segurana pblica. Em conjunto, tais temas permitem uma abrangente viso dos desafi os e potencialidades locais.

Por considerar proveitoso que as autoridades e tc-nicos municipais tenham uma referncia para analisar a situao observada em seu municpio nos diversos temas citados em termos de evoluo, estrutura, intensida-de, projees , a seo Tendncias Gerais: Brasil e So Paulo apresenta as principais mudanas em cada uma dessas reas e proporciona um primeiro contato com os indicadores do diagnstico municipal. Assim, possvel identifi car, por exemplo, se as tendncias verifi cadas no municpio so tambm observadas no Pas ou se, ao con-trrio, o municpio apresenta especifi cidades que o distin-guem no cenrio paulista.

Os Captulos 1 a 11 contm os roteiros de anlise para cada um dos temas contemplados no diagnstico munici-pal. A introduo ao tema da seo tem o objetivo de es-clarecer como ele aparece regulamentado em lei; mostrar sua importncia no conjunto do diagnstico municipal;

descrever os principais aspectos que devem ser considera-dos na anlise; e apontar que tipo de polticas pblicas tem sido implementado na rea.

Em seguida, para cada tema, so explicitadas em forma de perguntas ou informaes as questes rele-vantes que os gestores municipais devem levar em conta e cujas respostas podem ser examinadas na elaborao do diagnstico. Tambm so apresentadas as fontes dos indicadores para cada tema, assim como os sites em que as informaes esto disponveis.

importante ressaltar que todos os sites das fontes citadas tambm esto contidos no CD-ROM, no tpico Roteiro de Diagnstico, com atalho para a informao, de forma a facilitar o acesso.

Todos os captulos contm um exemplo de diagns-tico para cada tema, tomando como referncia o Muni-cpio de Birigi. So apresentados os indicadores mais importantes (disponveis para os municpios paulistas), interpretado o signifi cado dos resultados e so discutidas as respectivas polticas pblicas.

Sempre que possvel, so comparados com os in-dicadores da Regio de Governo no caso, a Regio de Araatuba e com o Estado de So Paulo. As con-cluses mais importantes da anlise de cada tema e sua relao com outras temticas ou outros problemas do municpio ajudam a demonstrar a importncia de integr-las no diagnstico.

Por fi m, uma sntese conclusiva tem o objetivo de reafi rmar o carter multidimensional do diagnstico e a necessidade de integrar as concluses das reas te-mticas, assim como mostrar a importncia de adaptar os principais procedimentos indicados e a interpretao dos resultados s especifi cidades de cada municpio. Neste sentido, foram incorporadas as referncias con-clusivas de outros estudos de caso realizados no mbito da pesquisa desenvolvida, que contemplou mais dois municpios paulistas Jaguarina e Brotas , cujos diagnsticos completos podem ser consultados no CD-ROM que acompanha esta publicao.

9TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

O objetivo desta seo dar algumas breves indicaes sobre as principais tendncias socioeconmicas verifi cadas na dcada atual para o Pas e Estado de So Paulo

TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

A inteno fornecer parmetros para o diagnstico da situao econmica e social dos municpios paulistas, assim como subsdios para o debate em torno das ques-tes de maior interesse e das polticas mais apropriadas para equacionar tais questes. Uma discusso mais de-talhada sobre os temas prioritrios e exemplos de como analisar os indicadores produzidos tendo como pano de fundo a tendncia estadual podem ser encontrados nos demais captulos que compem este livro.

TENDNCIAS SOCIOECONMICAS BRASILEIRAS

No que se refere anlise demogrfi ca, as principais tendncias observadas no Pas so as seguintes: i) queda da natalidade e da fecundidade das mulheres; ii) diminui-o relativa da populao jovem (principalmente menor de 14 anos); iii) aumento da populao em idade poten-cialmente ativa (de 15 a 64 anos) e da mais idosa (de mais de 64 anos); iv) aumento do ndice de envelhecimento da populao; v) reduo do tamanho das famlias; vi) queda do nmero mdio de moradores por domiclio; vii) aumen-to do nmero de famlias e/ou domiclios; viii) reduo dos nveis de mortalidade, em geral, e infantil, em particular; e ix) aumento da esperana de vida ao nascer associado queda da mortalidade infantil.

A dinmica demogrfi ca infl uenciada por vrios fa-tores que interferem nas condies de vida da populao e nas estratgias de organizao familiar, entre os quais esto a evoluo do nvel de renda das famlias, o acesso aos frutos do progresso tecnolgico e a qualidade e co-bertura das polticas sociais. infl uenciada, tambm, por mudanas nos padres de sociabilidade e nos valores e aspiraes predominantes, em particular no que se refe-re s unies conjugais e emancipao da mulher. Por exemplo, a reduo da mortalidade infantil, um fenmeno generalizado no Brasil, conseqncia da melhoria das

condies de saneamento bsico e higiene, da maior ofer-ta de atendimento mdico e dos programas de vacinao, assim como de uma melhoria do grau de instruo das mes e de maior circulao de informaes.

Tambm deve ser mencionado o fl uxo migratrio den-tro do Pas. Embora, nas ltimas dcadas, o contingente de pessoas que se deslocam para residir em outro Estado tenha diminudo, a migrao permanece sendo um fator demogrfi co importante em alguns Estados brasileiros. Por isso, h regies que apresentam saldo lquido positivo e outras que tm saldo lquido negativo, o que em geral est associado com o maior ou menor dinamismo econmico.

O ritmo mais moderado de crescimento populacional e a alterao no perfi l da populao ampliaram o leque de demandas sociais. Por exemplo, a tendncia de au-mento da populao com mais de 64 anos de idade tem exigido do Poder Pblico uma preocupao crescente com a oferta de servios de ateno sade e de equipa-mentos de lazer apropriados para essas pessoas.

No que se refere economia, observa-se nos ltimos anos uma tendncia de crescimento sustentado do Produ-to Interno Bruto (PIB). Entre 2003 e 2008, o PIB nacional cresceu a uma taxa de aproximadamente 4,5% ao ano. Isso signifi ca que tambm ocorreu um crescimento do PIB per capita, j que a taxa de crescimento populacional tem apresentando um ritmo de crescimento anual mais baixo. Entre as caractersticas desse crescimento, destaca-se o fato de ser promovido principalmente pelo aumento da demanda interna no Pas e de ser bastante diversifi cado do ponto de vista setorial, apresentando expressivas ta-xas de crescimento na construo civil, na indstria de bens de consumo durveis (especialmente de autom-veis) e na indstria de bens de consumo no-durveis (alimentos, bebidas, calados, entre outras), assim como uma forte expanso do agronegcio. Alm do aumento da demanda interna, observa-se, principalmente a partir

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA10

de 2003, um forte incremento das exportaes; ao mes-mo tempo, com a valorizao da moeda nacional e com as maiores taxas de crescimento do PIB brasileiro, houve um incremento signifi cativo das importaes.

Outra observao importante que o crescimento eco-nmico continua marcado por desequilbrios regionais his-tricos e por desigualdades expressivas entre os plos mais dinmicos e as reas mais atrasadas. Por exemplo, h regi-es metropolitanas onde tm se desenvolvido os segmentos mais modernos do setor de servios, ao passo que em vrias capitais estaduais tm ganhado expresso as atividades tu-rsticas. Algumas cidades pequenas do Sul e do Centro-Oeste tm se destacado por atividades primrias voltadas para a exportao ou tm sido impulsionadas pela agroindstria, ao passo que em muitas cidades do Nordeste permanecem predominando as atividades primrias com baixos ndices de produtividade. Inversamente, h cidades do Nordeste que tm ampliado sua produo industrial, enquanto h cidades do Sudeste que sofreram uma certa estagnao industrial. E, acrescente-se, h diferenciais na intensidade da expanso da produo e do crescimento da renda, inclusive entre mu-nicpios do mesmo Estado.

O crescimento econmico tem contribudo para a melhoria das fi nanas pblicas no Pas, principalmen-te em funo da elevao da arrecadao a taxas bem mais elevadas do que as referentes ao crescimento do PIB. Apesar da prtica de taxas de juros mdias muito elevadas no Pas, o aumento da arrecadao tem contri-budo para que muitos municpios possam reduzir seus endividamentos e criar condies para ter acesso a novos crditos e fi nanciamentos. Mas, em muitos casos, o gasto pblico em reas prioritrias (e o investimento, principal-mente) vem encontrando muitas restries em razo dos ajustes fi scais realizados em muitos municpios.

Contudo, a observao da evoluo da economia bra-sileira nos ltimos cinco anos no sufi ciente para pro-jetar cenrios e desenhar horizontes. A crise internacional recente que afetou todos os pases que fazem parte da economia globalizada provocou uma infl exo das tendn-cias verifi cadas at ento. No Brasil, possvel constatar uma forte desacelerao da atividade econmica, provo-cada em especial pelo colapso das linhas de crdito ao consumo e pela eroso da confi ana dos agentes com relao ao futuro. Neste contexto de crise, alguns ramos econmicos esto sendo mais protegidos por polticas governamentais, ao passo que outros esto mais expos-tos aos efeitos da desacelerao indesejada. De qualquer forma, ainda cedo para avaliar a profundidade dos im-pactos da crise sobre a economia nacional e, em particu-lar, sobre os diferentes ramos econmicos, as diferentes regies do Pas e as prprias fi nanas pblicas.

Em paralelo ao expressivo crescimento econmico que vinha ocorrendo, verifi cou-se no Pas uma tendn-cia de melhoria do mercado de trabalho nacional. Foram constatadas quatro tendncias positivas, na dcada atual: (i) forte crescimento do emprego formal (em 2007, 51% dos empregados tinham carteira de trabalho assinada), (ii) elevao do salrio mnimo (que tem sido corrigido acima da infl ao), (iii) recuperao dos rendimentos de muitas categorias profi ssionais (o rendimento mdio dos ocupados alcanou R$ 956,00 em 2007) e (iv) reduo do desemprego (a taxa mdia de desemprego aberto tem oscilado entre 8 e 9%). Sem dvida, o desemprego (em especial dos jovens) continua sendo um problema prioritrio da agenda governamental, assim como a in-formalidade e os baixos salrios permanecem sendo tra-os estruturais que prejudicam a distribuio de renda e a generalizao da proteo social. No obstante, o ncleo formalizado do mercado de trabalho deu sinais de recuperao e propiciou um ambiente mais favorvel para a execuo das polticas pblicas de emprego (em particular aquelas de qualifi cao profi ssional).

A maioria dos ocupados encontra-se no setor tercirio da economia, mas vale registrar que houve uma recupe-rao do emprego no setor secundrio e o mais impor-tante que mais da metade do crescimento recente do emprego industrial ocorreu em municpios com menos de 100 mil habitantes. De fato, h indicaes de que aumen-taram os Arranjos Produtivos Locais (APLs) industriais no interior do Brasil. E, alm disso, deve-se frisar que, pelo menos nos municpios onde se verifi cam polticas de es-tmulo s pequenas empresas, muitos esforos tm sido feitos no sentido de reduzir a informalidade, no apenas com relao legislao trabalhista como tambm no que diz respeito aos encargos fi scais e legislao ambiental.

Tanto o aumento do emprego como o dos rendimen-tos do trabalho, reforados pelas transferncias de renda (em especial, aposentadoria rural e Programa Bolsa Fam-lia), ajudaram a reduzir a proporo de pobreza absoluta. Em acrscimo, com a maior facilidade de acesso ao cr-dito pessoal, houve um expressivo aumento do grau de endividamento das famlias e uma signifi cativa expanso do consumo no Pas. Contudo, a avaliao das tendncias recentes no campo social no simples, uma vez que h diferentes aspectos a considerar. E possvel que a crise atual afete negativamente o mercado de trabalho e interrompa a mobilidade social ascendente.

Com relao educao, a baixa qualidade do en-sino no Brasil uma caracterstica bsica que deve ser destacada. Tal caracterstica se expressa de vrias formas. A precariedade da estrutura fsica (que pode ser vista na falta de escolas e no sucateamento dos equipamentos)

11TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

e a falta de recursos fi nanceiros somam-se a profundos problemas qualitativos destacados em vrios estudos in-ternacionais comparativos sobre o desempenho educa-cional. Estudo da Unesco (2003) indica que um em cada quatro brasileiros analfabeto funcional. A comparao qualitativa entre 41 pases mostra que os estudantes brasileiros na faixa etria dos 15 anos tm desempenho medocre em matemtica, em cincias e em leitura (o Pas aparece em penltimo lugar, na frente apenas do Peru). Cerca de 50% dos alunos brasileiros com 15 anos de idade esto abaixo do nvel 1 de alfabetizao, numa escala que classifi ca os estudantes por suas difi culdades em utilizar os instrumentos da leitura para aumentar seus conhecimentos e competncias em outros assuntos.

O movimento de universalizao do ensino fun-damental no Pas, que foi signifi cativamente auxiliado pelas mudanas demogrfi cas, particularmente pela re-duo da taxa de fecundidade, destacado como uma das grandes realizaes governamentais neste campo, nas ltimas dcadas. Embora o governo federal venha criando polticas de estmulo modernizao da infra-estrutura educacional e capacitao dos professores da rede pblica, preciso mencionar que a responsabilidade pela formao escolar das crianas brasileiras cabe aos Estados e municpios. Por outro lado, alm da pssima qualidade do ensino fundamental, deve-se frisar que tambm houve ampliao da demanda por vagas no en-sino mdio e superior. No caso do ensino superior, tal demanda foi respondida, em larga medida, pela expan-so das vagas no setor privado, em geral com um padro qualitativo sofrvel.

No caso da sade, os indicadores para o Brasil so piores do que para a maior parte dos pases com renda per capita equivalente (ou mesmo um pouco inferior) brasileira. Por exemplo, o Pas apresenta uma porcentagem de crianas subalimentadas duas vezes maior do que a do Mxico; o dobro da incidncia de tuberculose verifi cada na Venezuela; e uma taxa de mortalidade infantil que, embora venha caindo sistematicamente, continua sendo duas vezes maior que a da Argentina. Em razo de distintos riscos sade, estima-se que 1/3 dos homens e 1/5 das mulheres nascidos entre 2000 e 2005, no Pas, podem no atingir os 65 anos de idade; e que h vrios fatores que comprome-tem a possibilidade de uma vida saudvel aps os 60 anos para uma parcela signifi cativa da populao.

A criao do Sistema nico de Sade (SUS) no fi nal dos anos 80 foi, sem dvida, um grande avano institu-cional. Todavia, o fi nanciamento de uma poltica de sade de carter universalista encontrou muitas limitaes. O SUS vem convivendo h duas dcadas com uma enorme carncia material, tendo em vista o reduzido gasto per

capita em sade no Pas. No debate nacional comum o argumento de que, apesar dos pssimos indicadores, j se gasta muito em sade. Ao contrrio dessa tese, o gasto per capita em sade no Brasil baixo, sobretudo quando comparado aos pases mais desenvolvidos. O Pas gasta 14 vezes menos em sade do que a mdia dos pases de alta renda; menos de 1/5 do que gastam os espanhis e pouco mais de 1/3 do que gasta a Coria do Sul. Evi-dentemente, isso traz constrangimentos variados para a efetividade da ateno sade.

No que se refere ao desenvolvimento social, o Brasil atingiu recentemente um alto ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), fi cando em 70 lugar no ranking de 177 pases avaliados anualmente pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O IDH do Pas subiu de 0,772 em 2000 para 0,800 em 2005, o que o coloca no grupo de alto desenvolvimento, mas ainda bem atrs de outros pases latino-americanos (Argentina, Chi-le, Uruguai, Costa Rica, Cuba, Mxico e Panam). Entre os municpios brasileiros, tambm possvel estabelecer uma hierarquia, medida que so distribudos nos grupos de elevado, mdio e baixo desenvolvimento. Contudo, neste caso, os dados se referem ao ano de 2000, devendo-se aguardar o prximo Censo Demogrfi co para verifi car os avanos (e mudanas de posio) observados na dca-da atual. De qualquer modo, como o IDH um indicador sinttico, uma anlise mais consistente da situao social e das condies de vida da populao requer um levanta-mento de indicadores especfi cos para as vrias reas.

Por outro lado, na dcada atual, tambm chama ateno a reduo na desigualdade social no Brasil. Conforme aponta o Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea), entre 2001 e 2007, o Coefi ciente de Gini da ren-da familiar passou de 0,593 para 0,552. Embora ainda esteja num patamar muito elevado em comparao com outros pases da Amrica Latina, gradativamente, vem sendo reduzida a desigualdade de renda. No entanto, o Pas continua ranqueado entre as naes com maior concentrao de renda (os 10% mais ricos se apropriam de 3/4 da renda disponvel) e ainda est muito longe de propiciar uma insero social digna para a sua popula-o menos favorecida. Dessa forma, o contraste entre ricos e pobres continua gritante, em especial nos gran-des centros urbanos.

Acrescente-se que o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE) divulgou, recentemente, os resultados do Mapa de Pobreza e Desigualdade 2003, tendo como referncia a Pesquisa de Oramentos Familiares 2002-2003. De acordo com esse mapeamento, 32,6% dos mu-nicpios brasileiros tinham mais da metade de sua popula-o vivendo na pobreza absoluta em 2003. O Nordeste

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA12

a regio que apresenta o maior ndice de municpios com incidncia de pobreza acima de 50% da sua populao (77,1%), ao passo que no Sudeste essa proporo bem menor (13,3%) e no Sul os municpios muito pobres so quase inexistentes (0,9%). O IBGE tambm destacou que a concentrao de maior incidncia da pobreza ocorre em municpios com at 50 mil habitantes.

No que se refere s tendncias recentes na rea de habitao, deve-se mencionar o dfi cit habitacional e as polticas governamentais. O crescimento demogrfi co, a ocupao desordenada do territrio e a sobreposio de carncias sociais tm acarretado vrios problemas urba-nos, em especial a proliferao de favelas, de moradias em reas de risco e de populao sem teto. Estudos refe-rentes ao problema habitacional apontam para a existn-cia de um dfi cit da ordem de 7,9 milhes de moradias, ao passo que alguns movimentos sociais que lutam pelo direito moradia digna estimam que o nmero de pes-soas expostas a uma alta vulnerabilidade habitacional pode alcanar 30 milhes de habitantes no Brasil. Tm sido tentadas novas polticas neste campo, que procuram atuar sobre as precariedades habitacionais e restaurar o sentido de dignidade nessas comunidades mais vulner-veis. No entanto os investimentos que vm sendo reali-zados na construo de conjuntos habitacionais e na ur-banizao de favelas ainda so muito insufi cientes para resolver os problemas diagnosticados, que se concentram nos maiores aglomerados urbanos do Pas.

Com relao infra-estrutura urbana, h uma srie de demandas econmicas e sociais que so direcionadas de forma mais ou menos organizada por segmentos da populao e por setores empresariais. medida que o direito moradia passa a ser um dos componentes do di-reito cidades sustentveis, o Poder Pblico deve garan-tir o acesso aos servios urbanos essenciais integrao na vida moderna. Ao mesmo tempo, este tema passa a ser visto como estratgico: o desenvolvimento econmico local requer uma infra-estrutura efi ciente em termos de transportes e telecomunicaes, que necessria para o bom funcionamento das empresas (em especial, as de mdio e grande porte), as quais geram empregos e tributos para o municpio. Infelizmente, como sabido, os recursos oferecidos pela Unio para ajudar os muni-cpios brasileiros a responder a tais demandas tm sido insufi cientes, havendo tambm difi culdades para o endi-vidamento das prefeituras, o que tem feito persistirem os gargalos nesta rea.

Num cenrio de enormes difi culdades de manuten-o e ampliao da infra-estrutura do Pas com rodo-vias em pssimas condies e ferrovias desativadas, alm do racionamento na distribuio de energia eltrica no

incio da dcada atual , o governo federal anunciou uma srie de grandes projetos no bojo do Programa de Ace-lerao de Crescimento (PAC), mostrando a importncia da ao executora e indutora do Estado para suprir as necessidades nesta rea. Por sua vez, as principais pol-ticas de governos estaduais e municipais que podem ser destacadas neste campo referem-se s seguintes iniciati-vas: pavimentao e iluminao de vias pblicas; servios regulares e freqentes de transporte coletivo; moderniza-o de terminal de nibus e de rodoviria; facilidades para escoamento da produo; oferta adequada de servios de telecomunicaes; e construo de equipamentos cultu-rais, esportivos e de lazer. Acrescente-se que, desde a d-cada passada, passou a ser exigncia do jogo democrtico tanto a discusso transparente do Plano Diretor como a defi nio de prioridades para a ao municipal no curto, mdio e longo prazos, o que depende de vrios fatores, como o porte e as caractersticas do municpio.

Quanto ao diagnstico no campo do saneamento b-sico, embora tenham sido registrados avanos na dcada atual, ainda h muito que fazer para incorporar a totali-dade da populao num padro de atendimento de servi-os urbanos compatvel com as exigncias do sculo 21. Deve-se mencionar, por exemplo, que 83% dos domiclios brasileiros tm acesso rede geral de abastecimento de gua, 51% esto ligados rede coletora de esgotamento sanitrio e 87,5% so atendidos por servio de coleta do lixo residencial. Sem dvida, tanto o crescimento de-sordenado das cidades como a destinao inadequada do esgoto e dos resduos slidos podem causar srios problemas ao meio ambiente.

As tendncias recentes das polticas municipais neste campo apontam a necessidade de aes com o sentido de equacionar problemas que afetam a qualidade de vida e as condies de sade no municpio, assim como proteger os recursos naturais dos efeitos destrutivos da expanso urbana e de atividades econmicas agressivas ao meio ambiente. Destacam-se as polticas voltadas ao abastecimento de gua, coleta e tratamento do esgo-to sanitrio, coleta e destinao de resduos slidos, assim como a legislao especfi ca para a proteo do meio ambiente e medidas que aumentem a efi ccia das agncias de fi scalizao. As principais demandas sociais, que tm sido encaminhadas aos gestores municipais, so as seguintes: purifi cao e tratamento da gua distribu-da na rede pblica; ampliao da cobertura da coleta de esgoto residencial; sistema efi ciente de tratamento do esgoto; regularidade dos servios de limpeza urba-na; organizao de coleta seletiva de lixo; fi scalizao das atividades agropecurias e extrativas; proteo das matas ciliares; e combate ocupao irregular de reas

13TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

ambientalmente frgeis. Certamente, h especifi cidades regionais e distintos perfi s econmicos e sociais que dife-renciam as prioridades identifi cadas em cada cidade.

Por fi m, a segurana pblica. E o desemprego, esto entre as reas de maior preocupao da populao bra-sileira, segundo vrias pesquisas de opinio. A escalada da violncia no Pas, desde os anos 80, manifesta-se prin-cipalmente no crescimento do nmero de homicdios. Na dcada de 1990, os homicdios assumiram o primeiro lu-gar no ranking das mortes resultantes de causas externas (quase 40%), que engloba ainda acidentes de transporte terrestre (26%), suicdios, afogamentos, intoxicaes e quedas. Atualmente, estima-se uma taxa de 28 homic-dios por 100 mil habitantes, uma das mais elevadas do planeta. A maior parte dos homicdios envolve o uso de armas de fogo e ocorre na faixa etria de 15 a 49 anos de idade. No se trata de uma exploso sbita de criminali-dade, embora o crime organizado tenha se estabelecido nas principais rotas do trfi co de drogas e de armas, nes-te perodo. Mais correto seria dizer que se trata de uma tragdia anunciada, um verdadeiro processo endmico, cuja explicao deve ser buscada em um conjunto de fa-tores estruturais, tendo em vista a generalizao espacial dos problemas diagnosticados.

Nesse quadro, alm da superao das difi culdades econmicas, a reestruturao da poltica nacional de segurana pblica parece um imperativo, uma vez que ainda restrita a articulao entre as foras federais, es-taduais e municipais, assim como preciso investir em equipamentos pesados e nos sistemas de informao, au-mentar o contingente de policiais e elevar seus salrios. Certamente, nas metrpoles mais densamente povoadas, podem ser encontrados ingredientes que alimentam ain-da mais essa dinmica criminal, mas a violncia tambm prolifera nos municpios de mdio porte. Por isso, uma das tendncias atuais tem sido a procura de solues pon-tuais, isoladas, como no caso dos municpios brasileiros que possuem recursos para montar uma guarda municipal e aumentar a presena de policiais nas ruas.

Em suma, nas ltimas dcadas, a melhoria de certos indicadores sociais ocorreu em simultneo com a piora signifi cativa de outros, no Brasil. Por exemplo, queda da mortalidade infantil se contrape ao robusto aumento da mortalidade juvenil, principalmente por causas externas (agresses, homicdios e acidentes de trnsito). Por outro lado, a pobreza absoluta e a desigualdade de renda vm caindo, embora num quadro social preocupante, ainda marcado por elevado desemprego, por baixo poder aqui-sitivo dos salrios e pela proliferao de habitaes prec-rias. Devem ser considerados os efeitos demogrfi cos para a diminuio da pobreza, na medida em que a reduo do

tamanho das famlias mais pobres ajuda a elevar a renda familiar per capita. Por sua vez, se as polticas sociais tm oferecido algum grau de proteo social e os programas de transferncia de renda tm amenizado a situao de parcelas mais vulnerveis da populao, no se pode ne-gar que os elevados ndices de criminalidade tm alguma relao com a enorme desigualdade social e o sentimento de insegurana e impotncia. Sem dvida, a queda da po-breza e a reduo da desigualdade teriam um signifi cado mais substantivo se fossem combinadas com um cresci-mento vigoroso do PIB, que efetivamente criasse oportu-nidades de insero ocupacional para todos, assim como permitisse ao Estado ampliar o sistema de proteo social, reduzir as desigualdades sociais e diminuir a criminalidade para nveis tolerveis.

TENDNCIAS SOCIOECONMICAS PAULISTAS

Com uma rea de aproximadamente 247,8 mil km2 e

pouco mais de 40 milhes de habitantes (1/5 da popula-o nacional), o Estado de So Paulo responde por 1/3 do PIB nacional. Apresenta atualmente uma taxa de urbaniza-o de 93,4%. E rene algumas das estruturas econmicas e urbanas mais densas e complexas do Pas. Contudo, importante mencionar que h uma profunda desigualdade regional no conjunto do Estado: na rede urbana paulista (645 municpios), h cidades com alta primazia no cenrio nacional e grande poder de comando sobre as que se loca-lizam no seu entorno inclusive, h trs reas metropoli-tanas , assim como h muitas cidades de pequeno porte, que possuem uma vocao agrcola e encontram difi cul-dades para acompanhar as transformaes econmicas e sociais que caracterizam o incio do sculo 21.

Algumas das principais tendncias paulistas referen-tes anlise demogrfi ca acompanham as tendncias nacionais, tais como: queda da natalidade e da fecun-didade das mulheres; diminuio relativa da populao jovem (menor de 15 anos), de 30,8% em 1991 para 24% em 2007; aumento da populao em idade potencial-mente ativa (de 15 a 64 anos), de 64,3% em 1991 para 69,2% em 2007; aumento da populao mais idosa (65 anos ou mais), de 4,9% para 6,8% no mesmo perodo; aumento do ndice de envelhecimento da populao, de 18,62 em 1980 para 41,90 em 2007; reduo dos n-veis de mortalidade geral e, principalmente, da taxa de mortalidade infantil (de 27 bitos por mil nascidos vivos em 1991 para 13 por mil em 2006) como conseqncia da melhoria das condies de higiene, do melhor acesso ao atendimento mdico e dos programas de vacinao; e aumento da esperana de vida ao nascer associada queda da mortalidade infantil.

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA14

A taxa de crescimento demogrfi co no Estado de So Paulo, entre 1991 e 2000, foi de 1,8% ao ano (superior mdia nacional de 1,6% a.a.). Na dcada atual, estima-se que a taxa mdia de crescimento populacional no Es-tado seja de 1,7% a.a. (contra uma mdia nacional de 1,5% a.a.). Ou seja, tem havido uma reduo no ritmo de crescimento. Projeta-se que, at 2020, a populao pau-lista ser de 47,2 milhes de habitantes (a taxa de cresci-mento vai se reduzir para menos de 1% a.a. na segunda metade da prxima dcada). Assim, a densidade demo-grfi ca estadual vai elevar-se de 149 hab/km2 em 2000 para 190 hab/km2 em 2020. De acordo com projeo da Fundao Seade, a distribuio etria vai indicar um au-mento percentual expressivo dos segmentos com mais de 30 anos de idade, confi rmando a tendncia de enve-lhecimento da populao paulista. Acrescente-se que, em todas as regies administrativas do Estado, o ritmo de crescimento demogrfi co ser reduzido, ao passo que os municpios devero apresentar taxas de crescimento mais uniformes (510 municpios tero taxas mdias entre 0% e 1,5% a.a., entre 2010 e 2020).

Alm disso, na dcada atual, o Estado de So Paulo continua desempenhando o papel de receptor nacional dos fl uxos migratrios interestaduais (cujo estoque na dcada passada foi de 8,8 milhes de nacionais no-paulistas, ou cerca de 24% de sua populao). E conti-nua apresentando signifi cativos fl uxos migratrios intra-estaduais. Em geral, os municpios que contam com um mercado de trabalho mais favorvel atraem novos habi-tantes, ao passo que municpios com economia estag-nada acabam lentamente perdendo populao (proble-ma que preocupa as autoridades, em especial, no oeste paulista). Outro aspecto que chama ateno a elevada migrao pendular (cerca de 2,3 milhes de pessoas se deslocam com freqncia entre municpios prximos para trabalhar ou estudar).

Com respeito economia, na primeira metade da d-cada atual observou-se tendncia de crescimento mode-rado do PIB. De acordo com a nova metodologia do IBGE para o clculo do PIB (incorporada pela Fundao Seade), entre 2003 e 2005, o PIB estadual cresceu a uma taxa de aproximadamente 3,1% ao ano. Isso signifi ca que tambm ocorreu um crescimento do PIB per capita, j que a taxa de crescimento populacional tem apresentado um ritmo bem menor de crescimento anual. Nos ltimos anos, o ritmo de crescimento econmico para o conjunto do Estado de So Paulo vinha se mantendo num patamar elevado, mas ainda no h informaes mais recentes do IBGE sobre a variao ofi cial do PIB estadual.

A despeito da perda relativa de participao econmi-ca devido ao fato de a economia paulista, de maneira

geral, ter crescido menos que as dos demais Estados, nos ltimos 30 anos (em perodos de recesso, contraiu-se mais do que o restante do Pas) , o Estado de So Paulo ainda concentra a maior parcela do PIB brasileiro. im-portante ressaltar que, reforando seu papel de liderana no plano nacional, a economia estadual passou por uma reestruturao e uma modernizao em muitos segmentos da indstria, da agropecuria, do comrcio e dos servios.

Dentro da indstria, os principais segmentos com-ponentes do valor agregado fi scal paulista no registra-ram grandes mudanas entre 2000 e 2005. A indstria de material de transportes manteve sua participao ao redor de 12%; a indstria de combustveis registrou au-mento de 14,5% para 16,3%; e a indstria de produ-tos alimentcios tambm manteve em torno de 12% de participao. Os principais aumentos percentuais foram observados no segmento de metalurgia bsica ferrosos, de 2,32% para 4,47% entre 2000 e 2005.

Outro aspecto que merece destaque a perda de participao da Regio Metropolitana de So Paulo no PIB estadual, cuja contrapartida o aumento do peso do interior do Estado, em especial das regies administrati-vas de Campinas e de So Jos dos Campos.

So Paulo exportou US$ 38 bilhes, em 2005, o que correspondeu a 30% das exportaes brasileiras, sendo que cerca de 35% desse valor foi gerado por 15 pro-dutos, entre eles avies, automveis, acar e suco de laranja. Do total de produtos exportados, 91% so in-dustrializados e destinados para Estados Unidos (21%), Unio Europia (16%), Associao Latina-Americana de Desenvolvimento e Intercmbio (Aladi) (17%), Mercosul (14%) e sia (8%). A boa infra-estrutura do Estado, que concentra a melhor malha rodoviria do Pas, o maior porto da Amrica Latina e dois aeroportos internacionais, contribui para tornar a economia paulista competitiva no comrcio exterior.

Por sua vez, as informaes sobre o desempenho do mercado de trabalho paulista na dcada atual confi rmam a tendncia de recuperao do emprego e dos rendimen-tos. De acordo com a Pnad/IBGE, a taxa de desemprego elevou-se de 11,1% para 12,3% entre 2001 e 2003, mas depois se reduziu de forma signifi cativa, alcanando 9,9% em 2006 (pouco menos de 2,2 milhes de pessoas). Note-se que, tambm no Estado de So Paulo, o problema do desemprego mais grave entre os trabalhadores jovens (de 15 a 24 anos), uma vez que atinge 20,7% neste seg-mento etrio. E acrescente-se que a taxa de desemprego maior no meio metropolitano do que no meio urbano no-metropolitano (11,9% contra 8,2% em 2006).

Em termos absolutos, a informalidade no mercado de trabalho (somando-se os empregados sem carteira de

15TENDNCIAS GERAIS: BRASIL E SO PAULO

trabalho assinada, os empregadores e trabalhadores por conta prpria sem contribuio para a previdncia social, os trabalhadores domsticos, os trabalhadores no-re-munerados e os trabalhadores na produo para consu-mo prprio) aumentou de 6,2 milhes para 7,3 milhes, entre 1999 e 2006. Contudo, a proporo de ocupados informais no Estado de So Paulo reduziu de 39,7% para 37,3% no mesmo perodo.

No tocante evoluo do emprego formal, no Esta-do de So Paulo houve um crescimento de 28,2% entre 2000 e 2006. segundo a Rais/MTE, neste intervalo de tempo, a indstria de transformao destacou-se com o maior crescimento (45%), enquanto a agropecuria apresentou a menor expanso (14,5%), pouco abaixo do crescimento do comrcio (16,5%). na construo civil e nos servios, os aumentos do nvel de emprego formal foram de 27,8% e 24,8%, respectivamente.

Em termos absolutos, o maior acrscimo do volume de emprego formal ocorreu na prestao de servios, que acrescentou mais de 1 milho de postos de trabalho com carteira assinada, quase 50% do total desse tipo de em-prego no Estado de So Paulo, entre 2000 e 2006. No en-tanto, esse desempenho pouco alterou a distribuio do emprego formal por setores de atividade econmica no Estado de So Paulo neste perodo. A formalizao dos vn-culos de emprego foi mais intensa a partir de 2004, num contexto favorvel de crescimento econmico, e tem se mantido como um sinal positivo do mercado de trabalho desde ento. Porm, ainda muito expressiva a informa-lidade (tanto de assalariados como de trabalhadores por conta prpria), que continua sendo uma questo priorit-ria para as polticas pblicas no Estado.

Em termos de rendimento mdio do emprego formal, no Estado de So Paulo, em todos os setores considera-dos ocorreram aumentos signifi cativos em termos nomi-nais. No conjunto do emprego formal, o rendimento m-dio passou de R$ 951,00 para R$ 1.441,00 (variao de 51,5%) entre dezembro de 2000 e dezembro de 2006. Porm, descontando a infl ao acumulada no perodo, no houve aumento real dos salrios no ncleo melhor estruturado do mercado de trabalho paulista, uma vez que, de acordo com o ndice Nacional de Preos ao Con-sumidor (INPC), a infl ao no perodo foi de 59,8%.

No campo educacional, o Estado de So Paulo apresen-ta tendncias similares quelas apontadas para o quadro nacional, tanto em relao ampliao da cobertura escolar, paulatina reduo do analfabetismo e lenta melhoria do grau de instruo da populao adulta quanto em relao s precrias condies da rede pblica de ensino situada nas periferias urbanas, em comparao com experincias inter-nacionais. A qualidade do ensino fundamental e do ensino

mdio nas escolas pblicas poderia ser bem melhor, consi-derando o estgio de desenvolvimento econmico paulista. Nas ltimas dcadas, houve uma migrao das crianas e adolescentes pertencentes a famlias de classe mdia alta para escolas privadas, onde a qualidade do ensino costuma ser bem maior.

Os ndices educacionais em So Paulo so relativa-mente superiores aos do conjunto do Pas. A populao paulista de 15 a 64 anos possui, em mdia, mais de oito anos de estudo completo. A qualidade do ensino funda-mental supera a mdia nacional, assim como ocorre no ensino mdio, embora fi que muito aqum dos padres internacionais. O Estado tambm um importante centro de ensino superior, com instituies de alta qualidade, reconhecidas no Pas e no exterior. E isto contribui para que os trabalhadores paulistas apresentem nveis de ins-truo mais elevados do que a mdia nacional, a qual muito baixa numa comparao com pases do mesmo porte econmico.

Com relao ateno sade, o Estado de So Pau-lo possui uma oferta de servios bastante razovel (situa-o mais favorvel que a da grande maioria dos Estados brasileiros). Por exemplo, tem elevada taxa de cobertura vacinal e bons indicadores de ateno bsica, o que se refl ete na reduo persistente da taxa de mortalidade in-fantil (de 24,58 para 13,28 por mil nascidos vivos, entre 1995 e 2006). O Estado concentra boa parte da estrutura mdica do Pas: mais de 105 mil leitos clnicos, cirrgicos e hospitalares, o que representa mais de 20% do total de leitos no Brasil e mdia de praticamente 2 leitos para cada mil habitantes. Contudo, ainda h muitos segmen-tos da populao que tm difi culdade de acesso a servi-os hospitalares e pronto atendimento ambulatorial em razo da concentrao desses servios nos municpios de mdio e grande porte, assim como por causa da espera para agendar o atendimento.

Outro indicador importante, nesta rea, a morta-lidade proporcional, isto , a distribuio dos bitos por grupos de causas da morte. Em 2005, as principais cau-sas de morte no Estado de So Paulo foram: doenas do aparelho circulatrio (32%), neoplasias (18%), causas ex-ternas (12%) e doenas do aparelho respiratrio (11%). As doenas infecciosas e parasitrias responderam por menos de 5% das mortes, o que indica um quadro sa-tisfatrio dos servios mdicos para combater esse tipo de morbidade, (tpico de reas subdesenvolvidas), bem como nas condies de saneamento ambiental.

So Paulo apresenta ndices de desenvolvimento so-cial superiores mdia nacional. Em 2000, o ndice de Desenvolvimento Humano estadual j era relativamente alto (IDH = 0,820). Em 2005, o IDH paulista alcanou o

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA16

valor de 0,850 inferior ao de pases como Argentina e Chile, mas superior ao de Cuba e Mxico. Estima-se que a esperana de vida ao nascer da populao paulista tenha ultrapassado os 73 anos, situando-se acima dos 71,7 da mdia nacional brasileira, mas abaixo dos 76 anos da mdia dos pases mais desenvolvidos. De qualquer forma, importante mencionar que os indicadores de qualidade de vida no Estado apontam diferenas municipais expres-sivas, conforme se pode verifi car pela anlise do ndice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), elaborado pela Fundao Seade1.

Segundo a Pesquisa de Condies de Vida (PCV), tambm da Fundao Seade, cerca de 8,7% das fa-mlias paulistas tinham acesso aos programas gover-namentais de transferncia de renda, em 2006. Entre as famlias com renda per capita mensal de at 1/4 do salrio mnimo, apenas 36,1% tinham acesso a esses benefcios governamentais. Embora os registros do MDS indiquem que a cobertura dos programas fe-derais de transferncia de renda, no Estado de So Paulo, tem crescido nos ltimos dois anos, ainda h muitas famlias em situao de vulnerabilidade social que permanecem sem acesso a tais programas, em es-pecial nos maiores municpios paulistas.

A situao da infra-estrutura urbana no Estado de So Paulo , em geral, satisfatria nos municpios de mdio e grande porte, em especial no que se refere aos meios de transporte e s telecomunicaes. Por sua vez, h indicaes de que boa parte das populaes de baixa renda nesses municpios apresenta precrias condies habitacionais (inclusive, no desprezvel a parcela que reside em favelas e cortios). Nos pequenos municpios, grande parte da populao tem difi culdades de acesso a equipamentos culturais, esportivos e de lazer.

Os servios de saneamento bsico atingem a grande maioria da populao urbana no Estado de So Paulo e apresentam mdias bem superiores s nacionais. O abaste-cimento de gua, por exemplo, atinge 97,4% dos domiclios

paulistas. A rede de esgoto sanitrio atende 85,7% dos do-miclios do Estado. E 98,9% dos mesmos so atendidos pelo servio de coleta de lixo. Porm, a falta de tratamento do esgoto permanece sendo um problema srio na maioria dos municpios paulistas. E h problemas graves com relao destinao do lixo domiciliar e qualidade dos aterros sani-trios. De qualquer forma, deve-se destacar que tem havido, no Estado, uma maior preocupao com relao a polticas municipais destinadas a combater a poluio das guas e proteo do meio ambiente.

Com respeito segurana pblica, a situao estadual apresenta preocupaes similares quelas verifi cadas para o plano nacional. De fato, entre 1997 e 2006, o total de ocorrncias de crimes registrados no Estado de So Paulo cresceu 42%. E note-se que os crimes contra o patrimnio cresceram 54%, enquanto os crimes contra a pessoa tive-ram um acrscimo de 39%, no mesmo perodo.

No que diz respeito ao comportamento da taxa de mortalidade por causas externas no Estado, que est rela-cionada violncia, segundo dados da Fundao Seade, observou-se uma queda signifi cativa entre 1995 e 2006 (89,9 para 65,4 mortes por causas externas para cada 100 mil habitantes). Melhoria semelhante foi verifi cada na taxa de mortes por agresses (33,9 em 1995 e 19,7 mortes por 100 mil habitantes em 2006). Frise-se que um dos ndices mais representativos do elevado grau de vio-lncia no Estado a taxa de mortalidade da populao entre 15 e 34 anos por 100 mil habitantes, uma vez que os adolescentes e os adultos jovens esto entre os mais afetados pela violncia urbana, que uma das principais causas de mortalidade nesta faixa etria. Seguindo a ten-dncia indicada anteriormente, houve uma reduo de 236,6 em 1995 para 130,4 mortes por 100 mil habitan-tes em 2006. Ou seja, pelo menos neste aspecto, houve melhoria nos indicadores de segurana pblica em So Paulo, embora nas maiores cidades do Estado o problema da violncia urbana continue sendo apontado como uma das principais preocupaes da populao.

1 O IPRS adota uma metodologia para medir os nveis de desempenho dos municpios paulistas em relao a trs dimenses de anlise: riqueza, longevidade e educao.

DEMOGRAFIA 17

Para construir um perfi l scio-demogrfi co do municpio, devem ser abordados, entre outros, os seguintes aspectos:

- Crescimento Populacional;- Migrao;- Estrutura Etria;- Natalidade e Mortalidade.O crescimento da populao pode ser positivo ou ne-

gativo, em funo de vrios fatores sociais, econmicos, histricos e culturais , podendo variar diferentemente em cada faixa etria.

A anlise da migrao desempenha papel signifi cati-vo, pois, ao identifi car tendncias de crescimento demo-grfi co e de fl uxos de pessoas (interestaduais, intra-esta-duais e pendulares1), possvel compreender ou mesmo prever, por um lado, uma maior demanda por habitaes e, por outro, as presses sobre o sistema virio.

A estrutura populacional por idade e sexo (repre-sentada grafi camente pela pirmide etria) fornece uma idia clara das caractersticas da populao, auxiliando no dimensionamento e na focalizao das polticas pbli-cas, uma vez que as demandas sociais variam conforme a idade e sexo das pessoas.

Por exemplo, as demandas em educao concentram-se nas idades de 7 a 19 anos, a demanda por emprego cresce a partir dos 15 anos e passa a declinar prximo aos 40 anos, na rea da sade, so elevadas na infncia e na idade adulta, principalmente acima dos 60 anos. Da mesma forma, o ndice de Envelhecimento relao entre as pessoas com 60 ou 65 anos e mais e a popula-o com menos de 15 anos informao relevante na estruturao de polticas para jovens e idosos, no que se refere continuidade e/ou ampliao dessas.

fundamental conhecer a composio da popula-o do seu municpio, ou seja, o nmero de homens, de mulheres, de crianas, de jovens, de adultos e de idosos; e, somando-se a esses dados, as informaes relativas dinmica dessa populao, quanto aos fatores deter-minantes do seu crescimento (natalidade, mortalidade, fecundidade, migrao) em cada uma de suas faixas etrias, e s condies socioeconmicas do seu conjunto (renda, escolaridade, moradia, trabalho, sade, educao, etc.). Com isto, obtm-se as condies para realizar um dimensionamento adequado das aes, focalizando e priorizando aquelas que propiciem a efetiva melhoria da qualidade de vida dessa populao.

Assim, podemos afirmar que a demografia ofere-ce um conjunto de dados essenciais para a realizao de um diagnstico municipal que norteie as aes do Poder Pblico.

As principais tendncias demogrfi cas observadas para a populao do Pas nos ltimos anos referem-se diminuio relativa da populao jovem (menor de 14 anos), ao aumento da populao em idade potencialmente ativa (de 15 a 64 anos) e da mais idosa (mais de 64 anos), conseqncia da reduo dos nveis de fecundidade e mor-talidade. Em particular, destaca-se a queda contnua das taxas de mortalidade infantil repercutindo positivamente nos nveis de expectativa de vida da populao.

Mas, em cada municpio, essas tendncias assumem particularidades oriundas de sua realidade local e regio-nal, da a necessidade de que o gestor conhea o perfi l scio-demogrfi co de seu municpio, como subsdio para a tomada de decises nas vrias reas de atuao da administrao municipal.

Toda a ao do Poder Pblico municipal tem por objetivo atender populao no seu conjunto, ou a demandas especfi cas de determinados grupos, ou ainda de parcelas que se encontrem em situaes de risco social

1

1 Os movimentos pendulares referem-se ao deslocamento dirio de indivduos para exercer atividades de trabalho e/ou educao em localidades diferentes de seu lugar de residncia. Via de regra, considera-se um fenmeno urbano concentrado em grandes cidades ou em reas de maior concentrao da populao, refl etindo aspectos da organizao e da alocao das atividades econmicas, revelando desigualdades sociais, heterogeneidade espacial e tambm as oportunidades e/ou os obstculos existentes nas cidades.

DEMOGRAFIA

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA18

As taxas de natalidade e mortalidade, ao lado da fecundidade, so componentes essenciais na carac-terizao da dinmica populacional; por meio delas pode-se avaliar as tendncias de seu crescimento fu-turo; tambm so muito importantes no diagnstico de sade do municpio.

A taxa de natalidade indica o nmero de nascidos vivos por mil habitantes em um determinado ano. A taxa de mortalidade infantil corresponde ao nmero de bitos ocorridos entre as crianas menores de 1 ano por mil nas-cidos vivos, em um determinado ano.

O termo mortalidade refere-se s mortes como um componente do movimento da populao. Todos os indivduos de uma populao morrem, mas a propor-o em que isto ocorre depende de muitos fatores, tais como idade, sexo, raa, ocupao e classe social, e sua incidncia pode proporcionar grande quantidade de in-formao sobre o nvel de vida e dos servios de sade de uma populao.

Quanto obteno de dados demogrfi cos, as prin-cipais fontes de informao populacional so os Censos Demogrfi cos; no Brasil, o Censo Demogrfi co realiza-do a cada dez anos pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE); um levantamento estatstico nacio-nal, regido por lei, que visa prover a contagem de toda a populao do Pas.

Os resultados do censo so utilizados como refern-cia para inmeras aes em todas as esferas institucio-nais, entre elas:

- Pelo Tribunal de Contas da Unio, na distribuio das verbas do Fundo de Participao do Estado (FPE) e Fundo de Participao do Municpio (FPM);

- Pela Previdncia Social, na defi nio de quem paga o benefcio e que faixa da populao ter direito a ele;

- Pelo Poder Legislativo, na defi nio da represen-tao poltica (nmeros de vereadores, deputados federais e estaduais).

Como os Censos Demogrfi cos ocorrem a cada dez anos, torna-se necessrio realizar projees populacio-nais para que, nos intervalos, seja possvel dimensionar o tamanho de uma populao, de forma a subsidiar o pla-nejamento na anlise de transformaes futuras, prever as conseqncias destas mudanas e, se possvel, interfe-rir nos rumos previstos.

Em So Paulo, a Fundao Seade Sistema Estadual de Anlise de Dados disponibiliza estimativas populacio-nais e informaes scio-demogrfi cas para todos os mu-

nicpios do Estado, com diversos nveis de detalhamento, fornecendo estatsticas vitais com periodicidade anual.

As informaes scio-demogrfi cas orientam todas as polticas pblicas e devem ser detalhadas de acor-do com a natureza das aes; por exemplo, na sade, so especialmente relevantes as informaes relativas natalidade e mortalidade, assim como na educao prioritrio conhecer a populao em idade escolar, e assim sucessivamente, em todas as reas. Muitas infor-maes no so disponibilizadas na escala e no tempo necessrio ao planejamento municipal, e tero de ser complementadas ou detalhadas por meio de levan-tamentos e coleta de dados no prprio municpio.

Sendo assim, importante que a administrao muni-cipal providencie uma boa cartografi a de pequenas reas e um Sistema de Informaes Geogrfi cas (SIG)2 que per-mitam organizar dados de origens diversas (demogrfi cos e administrativos), considerando que a realidade municipal apresenta variaes em seu territrio e que muitos dos da-dos disponveis nos rgos ofi ciais no permitem a desa-gregao necessria por bairros, por exemplo.

Com as informaes municipais organizadas em um SIG, o gestor poder trabalhar com diferentes bases de dados numa escala geogrfi ca detalhada, agregando dife-rentes informaes que permitiro uma caracterizao da populao e sua distribuio no territrio municipal.

Os equipamentos pblicos, como escolas, postos de sade, creches e centros comunitrios, so servios que levam em conta, para sua adoo, alm das faixas et-rias, aspectos relacionados distribuio espacial dos usurios potenciais. O gestor precisar, ento, identi-fi car os locais com demanda potencial no-atendida. Nesse caso, as informaes scio-demogrfi cas podem auxiliar na defi nio dos locais de implementao des-ses equipamentos considerando, por exemplo, quantas vagas sero necessrias nos prximos anos em creches, em determinado bairro.

O gestor tambm necessitar de informaes scio-demogrfi cas no momento de planejar a expanso de redes de infra-estrutura urbana, bem como no que diz res-peito ao volume e localizao dos novos investimentos, habitacionais. Essas redes (como a de saneamento bsico, por exemplo) demandam notvel volume de investimento, e sua expanso precisa ser planejada com alguma antece-dncia. Nesses casos, importante identifi car reas de ex-panso demogrfi ca recente, sem acesso a servios e no necessariamente captadas pelo ltimo censo.

2 Sistema de Informao Geogrfi ca (SIG): sistema de computador (composto de hardware, software, dados e procedimentos) construdo para permitir captura, gerenciamento, anlise, manipulao, modelamento e exibio de dados referenciados geografi camente para solucionar, planejar e gerenciar problemas.

DEMOGRAFIA 19

As polticas focalizadas como as de transfern-cia de renda dependem em grande medida de infor-maes scio-demogrficas, seja na identificao do pblico-alvo, seja no processo de avaliao desse tipo de poltica.

importante lembrar que, ao desagregar as infor-maes no nvel local por bairros, por exemplo e ao represent-las espacialmente, o gestor ganha elementos para refl etir sobre onde agir. Via de regra, essa deciso passa pela intermediao de representantes polticos ou

QUESTES RELEVANTES: Demografi a

Informao Fonte*

Qual a populao do municpio, e sua taxa anual de crescimento?

Quais as taxas de natalidade e mortalidade do municpio?

Qual a taxa de urbanizao do municpio?

Quais as taxas de mortalidade infantil e esperana de vida do municpio?

Qual a densidade demogrfi ca?

Qual a populao em idade escolar?

Ocorre migrao signifi cativa no municpio?

Como se distribui a populao do municpio conforme o sexo e a idade? (Pirmide etria)

Qual o ndice de envelhecimento do municpio?

Os movimentos pendulares (mobilidade diria de indivduos para exercer atividades de trabalho e/ou educao em localidades diferentes de seu lugar de residncia) so signifi cativos no municpio?

Fundao IBGEFundao Seade

Fundao SeadeMinistrio da Sade

Fundao Seade

Fundao Seade

Fundao Seade

Fundao Seade

Fundao Seade

Ministrio da Sade

Fundao Seade

Fundao IBGE

* Os sites das fontes esto contidos no CD-ROM, no tpico Roteiro de Diagnstico.

de movimentos sociais. Mas, com informaes e indica-dores adequados, o gestor ter condies de identifi car a demanda por meios prprios e de prioriz-las conside-rando tambm critrios tcnicos.

Para uma compreenso preliminar das condies da populao em seu municpio, podero ser levantadas algumas questes bsicas que permitam identifi car as caractersticas dessa populao, que sero a base para a formulao de uma estratgia orientadora das aes do executivo municipal.

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA20

CRESCIMENTO POPULACIONALAnalisando os dados do Quadro 1, verifi camos que o Municpio de Birigi aumentou de forma considervel seu

volume populacional na dcada de 90 (25,5%), e em menor grau (12,3%) entre 2000 e 2007, aumentando inclusive sua participao em relao RG Araatuba. Com relao urbanizao, Birigi j tinha 94% de sua populao nas reas urbanas em 1991 e, em 2007, esse percentual aumentou para 97%.

importante notar que o crescimento da populao tambm foi acompanhado pelo aumento da taxa de urbaniza-o e da densidade demogrfi ca. Provavelmente isso implicou a necessidade de ampliao de vrios servios urbanos. Importa verifi car se atualmente os servios esto dimensionados adequadamente para atender a populao e trabalhar com novas projees que indiquem a necessidade ou no de ampliaes.

As taxas mdias de crescimento anual da populao de Birigi em ambos os perodos considerados foram bem maiores do que as da RG Araatuba e do Estado de So Paulo (Figura 1). Isso se explica em grande parte pelo com-ponente migratrio, como veremos a seguir.

EXEMPLO DE DIAGNSTICO Municpio: Birigi

Regio e Localidade

QUADRO 1 Populao total, participaes relativas e taxas de urbanizao

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1991, 2000 e 2007

Populao Birigi% RG Araatuba% Estado de So PauloTaxa de Urbanizao

1991 2000 2007

75.12516,95

0,2493,9

94.300 19,09 0,2596,5

106.36420,09

0,2697,4

Fontes: Fundao IBGE e Fundao Seade.

Figura 1 Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo

1991-2000 e 2000-2007

Taxas anuais de crescimento

00/91 07/00Birigi RG Araatuba Estado de So Paulo

2,60

1,82 1,77

1,01

1,50

1,25

Fonte: Fundao IBGE.

DEMOGRAFIA 21

MIGRAO O componente migratrio tem desempenhado um papel importante no crescimento da populao de Birigi3. O

saldo migratrio (diferena entre os imigrantes e emigrantes) foi positivo e superior aos apresentados pela RG Araa-tuba e pelo Estado de So Paulo nos anos considerados.

Mais da metade do crescimento populacional de Birigi deveu-se migrao na dcada de 1990. Pode-se verifi car que o Municpio de Birigi ganhou populao nos anos 1990 e nos anos 2000, e esse ganho foi relativamente elevado se comparado com o da RG Araatuba e do Estado de So Paulo (Quadro 3).

A taxa lquida de migrao o saldo migratrio dividido pela populao, indicando se o municpio perdeu (negativo) ou ganhou (positivo) populao em funo dos movimentos migratrios.

Pode-se concluir que Birigi teve um papel importante na atrao de fl uxos migratrios, e estes fl uxos tiveram uma maior participao no crescimento populacional que o componente vegetativo. A carncia de informaes mais detalhadas sobre a origem dos fl uxos migratrios na regio nos impede de aprofundar melhor este processo.

Outro aspecto importante que mereceria uma anlise mais profunda so os movimentos pendulares, ou seja, a mo-bilidade diria de um indivduo para exercer atividades de trabalho em determinada localidade que no seu local de residncia, mas no se dispe de informaes sobre esses movimentos.

Regio e Localidade

QUADRO 2 Densidades demogrfi cas

Birigi, RG Araatubae Estado de So Paulo 1991, 2000 e 2005

BirigiRG Araatuba Estado de So Paulo

1991 2000 2005

140,9139,67

126,45

177,5444,36

148,73

194,9546,72

160,70

Fonte: Fundao Seade.

3 O crescimento populacional depende dos nascimentos, dos bitos e do saldo migratrio.

QUADRO 3 Saldos migratrios, participao no crescimento absoluto (%) e taxa de migrao lquida

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1980,1991 e 2000

Saldo Migratrio

Participao no

Crescimento Absoluto da

Populao (%)

Taxa de Migrao

Lquida por Mil

Habitantes

BirigiRG Araatuba Estado de So Paulo

1980-91 1980-91 19911991-00 1991-00 2000

12.0561.606

586.872

49,12,19,1

17,730,361,90

11.1518.208

1.326.987

58,215,724,0

14,681,954,31

Fonte: Fundao Seade.

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA22

ESTRUTURA ETRIAA populao de Birigi teve modifi caes importantes na sua estrutura etria, destacando-se a importante perda

relativa da populao menor de 14 anos e aumentando, em contrapartida, o peso da populao adulta (de 15 a 64 anos) e o peso da populao idosa (de 65 anos e mais), acompanhando a tendncia do Estado, no mesmo perodo.

A taxa de dependncia demogrfi ca medida pela razo entre a populao em idade de dependncia se jovem, menor de 15 anos e, se idosa, acima de 65 anos em relao populao em idade ativa, de 15 a 65 anos. Com a tendncia de queda da populao jovem e aumento da populao idosa, a taxa de dependncia (quando calculada para a populao idosa) sinalizar o processo de envelhecimento da populao.

Essas informaes fornecem indcios das profundas alteraes nas demandas sobre o sistema de sade, o emprego e a seguridade social, entre outras (Quadro 4).

O ndice de envelhecimento (quociente entre a parcela de idosos acima de 65 anos e a parcela de jovens menores de 15 anos) mostra o processo de envelhecimento da populao (Quadro 5), seguindo a mesma tendncia do Estado.

Pode-se constatar o rpido crescimento da parcela da populao idosa, o que aponta para a necessidade de imple-mentao de polticas pblicas voltadas a esse segmento, para garantir a sua qualidade de vida.

2000 2007

52,0444,8934,05

54,7060,2341,90

Regio e Localidade

QUADRO 5 ndice de envelhecimento

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1980, 1991, 2000 e 2007

BirigiRG AraatubaEstado de So Paulo

1980 1991

28,5219,3818,62

39,9729,3624,98

Fonte: Fundao Seade.

Birigimenores de 15 anos15 a 64 anos65 anos e maisTaxa de dependncia

28,266,5

5,350,4

23,969,6

6,543,7

20,072,5

7,437,8

Regio e Localidade

QUADRO 4 Populao por grandes grupos de idade e taxas de dependncia

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1980,1991 e 2000

1991 2000 2007

Estado de So Paulomenores de 15 anos15 a 64 anos65 anos e maisTaxa de dependncia

30,864,3

4,955,6

26,367,6

6,148,0

24,069,2

6,844,5

RG Araatubamenores de 15 anos15 a 64 anos65 anos e maisTaxa de dependncia

29,864,4

5,855,2

24,468,8

7,546,4

20,770,6

8,741,7

Fonte: Fundao Seade.

DEMOGRAFIA 23

As mudanas no padro etrio do Municpio de Birigi entre os anos 1991 e 2007 so mostradas nas pirmides etrias de 1991 e 2007 (Figura 2).

A base mais estreita da pirmide de 2007 refl ete a queda da fecundidade nas dcadas passadas. Fica evidente na com-parao das duas pirmides o processo de envelhecimento da populao de Birigi bem como a maior proporo relativa de mulheres entre os idosos.

Figura 2 Estrutura etria da populao de Birigi

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1991 e 2007

Masculino Feminino

Pirmide Etria Birigi, 2007

70 a 74

60 a 64

50 a 54

40 a 44

30 a 34

20 a 24

10 a 14

0 a 4

6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0

Masculino Feminino

Pirmide Etria Birigi, 1991

70 a 74

60 a 64

50 a 54

40 a 44

30 a 34

20 a 24

10 a 14

0 a 4

6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0

Fontes: Fundao IBGE (1991) e Fundao Seade (2007).

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA24

Essas mudanas na estrutura etria da populao explicam a reduo generalizada no contingente populacional em idade escolar em todas as faixas etrias entre 2000 e 2007 (Quadro 6), mesmo tendo havido crescimento da populao neste perodo.

Como conseqncia da queda da fecundidade, tendncia que acompanha o Estado e o Pas, a populao de zero a seis anos apresenta a maior reduo entre todas as faixas.

Essas so informaes muito importantes, por exemplo, para a rea de Educao, no que se refere a ampliao ou construo de escolas e creches, e para as polticas pblicas para idosos, em especial s mulheres.

Por outro lado, o crescimento da populao jovem, de 20 a 30 anos, aponta a necessidade de se pensar em polti-cas pblicas para essa faixa de populao como polticas de esporte, lazer, cultura e educao mdia profi ssionalizante, ou mesmo educao superior e trabalho.

Birigi0 a 67 a 1415 a 19Total

RG Araatuba0 a 67 a 1415 a 19Total

Estado de So Paulo0 a 67 a 1415 a 19Total

1991

9.438 11.657

7.604 28.699

58.019 73.585 43.535

175.139

41.501 61.196 43.386

146.083

2007

7.998 11.934

8.421 28.353

41.501 61.196 43.386

146.083

2000

9.947 12.572

8.888 31.407

52.308 68.255 46.855

167.418

4.436.564 5.290.994 3.634.347

13.361.905

3.995.112 5.181.980 3.388.982

12.566.074

00/07

-3,07-0,74-0,77-1,45

-3,25-1,55-1,09-1,93

91/00

0,590,841,751,01

-1,14-0,830,82

-0,50

0,040,082,430,65

1991

32,940,626,5100

33,142

24,9100

35,141,723,2100

2007

28,242,129,7100

28,441,929,7100

2000

31,740,028,3100

31,240,8

28100

33,239,627,2100

31,841,2

27100

-1,49-0,30-0,99-0,87

QUADRO 6 Populao em idade escolar, distribuio percentual e taxas anuais de crescimento

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo 1991, 2000 e 2007

Distribuio %Populao em

idade escolar

Taxas anuais

de crescimento

Fonte: Fundao Seade.

NATALIDADE E MORTALIDADEA tendncia de reduo da natalidade uma caracterstica geral do Pas que tambm se verifi ca para o Municpio

de Birigi. As taxas de natalidade foram sempre declinantes e as taxa de fecundidade total atingiram, em 2000, o nmero de dois fi lhos (em mdia) por mulher, valor idntico ao do Estado de So Paulo (Quadro 7).

A mortalidade o componente demogrfi co mais relacionado s condies sociais do Pas. A melhora nos nveis de expectativa de vida deve-se principalmente ao declnio da mortalidade infantil. As polticas de sade, as campanhas de vacinao e o acesso aos servios de sade so fatores que explicam as quedas na mortalidade. O Municpio de Birigi reduziu sua taxa de mortalidade infantil de 16,54 para 14,35 bitos por mil nascidos vivos entre 1991 e 2000. Essa queda repercutiu na esperana de vida ao nascer que, entre esses dois anos, aumentou de 69,2 para 75 anos (Quadro 8).

Em resumo, o Municpio de Birigi apresentou, nos ltimos 17 anos, transformaes importantes na sua dinmica demogrfi ca, com crescimento signifi cativo de sua populao na dcada de 90 e arrefecimento desse crescimento entre 2000 e 2007. Os movimentos migratrios tiveram um papel mais importante no crescimento populacional de Birigi que o crescimento vegetativo. Analogamente ao restante da regio, apresentou diminuio de sua populao jovem e aumento da idosa. As taxas de natalidade e fecundidade so menores que as da RG Araatuba e Estado de

DEMOGRAFIA 25

So Paulo, sinalizando um estgio avanado nestes quesitos. A mortalidade infantil em 2007 era menor que a da RG Araatuba, mas superior do Estado de So Paulo, sinalizando que ainda h uma importante demanda em termos de sade e infra-estrutura bsica para melhorar ainda mais este indicador. Entre 1991 e 2000, sua populao teve um ganho, em mdia, de seis anos de vida.

BirigiMortalidade infantilEsperana de vida ao nascer

RG AraatubaMortalidade infantilEsperana de vida ao nascer

Estado de So PauloMortalidade infantilEsperana de vida ao nascer

16,5469,2

21,8871,2

27,0568,9

14,3575

16,0373,1

16,9771

14,83-

15,86-

13,28-

Regio e Localidade

QUADRO 8 Mortalidade infantil e esperana de vida ao nascer

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo anos selecionados

1991 2000 2006

Fonte: Fundao Seade.

BirigiTaxa de natalidade (por mil habitantes)Taxa de fecundidade total

RG AraatubaTaxa de natalidade (por mil habitantes)Taxa de fecundidade total

Estado de So PauloTaxa de natalidade (por mil habitantes)Taxa de fecundidade total

17,82,14

18-

20,82,28

14,82,01

15-

18,92,05

12,2-

12,2-

14,9-

Regio e Localidade

QUADRO 7 Natalidade e fecundidade

Birigi, RG Araatuba e Estado de So Paulo anos selecionados

1991 2000 2006

Fonte: Fundao Seade.

ECONOMIA 27

,692,40804,20973,50684,00771,90666,90702,40828,30959,30738,60

606,701.696,501.028,101.114,501.672,60

,1,011,181,421,001,050,900,951,121,301,00

0,401,120,680,741,11

,716,70833,40

1.091,80838,80786,75741,40739,92742,30

1.116,95869,71

701,501.698,001.007,801.043,501.557,80

,0,850,991,301,000,900,850,850,851,281,00

0,491,180,700,721,08

Um papel importante de indutor da economia local pode, sem dvida, ser creditado ao prefeito e s polticas pblicas municipais

2

1 Essas aglomeraes setoriais de empresas, dependendo de sua confi gurao, podem receber diferentes deno-minaes: Arranjos Produtivos Locais (APL), sistemas locais de inovaes, sistemas produtivos locais, cadeia pro-dutiva, clusters, entre outras. Essas diversas denominaes tm em comum a nfase na importncia dos aspectos locais para o desenvolvimento e a competitividade das empresas.

2 importante aqui reforar a necessidade de avaliao dos possveis resultados de uma poltica agressiva de captao de investimentos e promoo de incentivos tributrios. Precisa ser avaliado se as atividades que se quer incentivar no municpio efetivamente trazem o desenvolvimento pretendido. Existem casos de empresas que se instalam em municpios, obtendo iseno de tributos por vrios anos, mas gerando poluio do meio ambiente, poucos postos de trabalho e pouca renda. Portanto, deve-se procurar defi nir a relao custo/benefcio de promover incentivos para determinados tipos de atividades ou empreendimentos.

H um enorme potencial de desenvolvimento econmi-co local que pode ser incentivado pelas autoridades munici-pais, cujos resultados podem se mostrar muito positivos.

Embora as grandes polticas de desenvolvimento eco-nmico sejam de mbito federal e, s vezes, estadual, h tambm um espao para que o governo municipal de-senvolva aes relevantes nesta rea. O prefeito de viso pode vislumbrar as tendncias de crescimento de setores e de ramos de atividade, por intermdio no s de estudos da economia local e regional, mas, sobretudo, do conhe-cimento e da proximidade da realidade. O conhecimento da economia local e sua insero na economia regional e estadual ajudam a confi gurar os possveis cenrios futuros e permitem a defi nio de polticas pblicas municipais adequadas e com maior possibilidade de sucesso.

Alguns municpios podem estar despontando para se conformarem como importantes plos regionais de desenvolvimento tecnolgico e necessitam de alguns in-centivos e investimentos para darem esse salto. Outros podem estar inseridos em uma regio onde se verifi ca a ocorrncia de um Arranjo Produtivo Local (APL). Isto , os diversos empreendimentos da regio esto voltados produo de determinado produto ou de uma cadeia de um ou mais produtos de grande demanda existen-te fora da regio1. Ou ainda, h municpios que detm algumas vantagens produtivas (mo-de-obra altamente qualifi cada, abundncia de determinada matria-prima importante, localizao privilegiada ou beleza natural) que os qualifi cam para o desenvolvimento de determi-

nadas atividades econmicas. preciso, pois, conhecer as caractersticas locais e regionais para detectar os ra-mos de atividade econmica cujo incentivo trar bons resultados. Baseado neste conhecimento, o prefeito pode induzir o desenvolvimento de determinadas atividades ou setores em seu municpio, tanto diretamente com as polticas pblicas municipais quanto com parcerias com os poderes estadual e federal, com o setor privado e mes-mo com agncias internacionais de desenvolvimento e fi nanciamento.

De fato, o prefeito, como lder poltico natural do mu-nicpio e muitas vezes da prpria regio, tem grande poder de articulao das lideranas locais empresrios, sindica-tos de trabalhadores, polticos e demais setores infl uentes da sociedade civil para buscar solues e propor aes acordadas por todos. Dentre estas aes, podem-se citar a propaganda e divulgao dos potenciais econmicos, dos produtos locais e das oportunidades existentes no munic-pio, a realizao de feiras e exposies da produo local e os contatos com empresrios de outras regies para a atrao de investimentos produtivos2.

A percepo do papel indutor do prefeito aumenta sobremaneira sua responsabilidade na conduo das polticas pblicas municipais. O gestor pode ter uma po-ltica pr-ativa, no sentido de se antecipar e direcionar o desenvolvimento local, no se restringindo a resolver problemas existentes, que so os efeitos indesejveis de um desenvolvimento local desequilibrado ou de uma eco-nomia estagnada.

ECONOMIA

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA28

Assim, possvel propor, por um lado, polticas de in-centivo a determinadas atividades econmicas passveis de desenvolvimento no municpio e, por outro, polticas preventivas no sentido de antecipar solues aos proble-mas que estas tendncias traro nos prximos anos. O conhecimento da dinmica econmica local e regional contribui para o planejamento de aes municipais de mdio e longo prazo, como, por exemplo, o disciplina-mento do uso do solo, a interveno no sistema virio, investimentos no saneamento, defesa do meio ambiente e adequao das polticas de educao, sade, etc., em conformidade com os cenrios futuros esperados. Portan-to, todas as polticas pblicas municipais devem consi-derar as demandas sociais resultantes das previses de desenvolvimento econmico local.

A anlise do PIB3 municipal, da sua composio se-torial (agropecuria, indstria e servios), da evoluo das principais atividades produtivas, mostra a realidade econmica do municpio e permite inferir importantes tendncias de seu desenvolvimento.

A questo, entretanto, ultrapassa a anlise apenas da economia formal, pois proliferam nas diversas regies do Pas atividades informais e autnomas como forma de sobrevivncia e gerao de renda, cujo valor adiciona-do no contabilizado adequadamente nas estatsticas ofi ciais relativas aos municpios. Por esta razo, ateno especial deve ser dedicada verifi cao da existncia das atividades informais no municpio, desenvolvidas por mi-croempresas, empreendimentos familiares ou individuais, trabalho autnomo e outras atividades sem registro.

Para muitos municpios brasileiros, em funo de sua localizao geogrfi ca, do tamanho, da qualifi cao da populao, da presena de determinados recursos naturais, entre outros aspectos, a estrutura produtiva fundamentalmente conformada pela presena de micro e pequenas empresas ou empreendimentos, aspecto que pode ainda ser acentuado com a promoo de deter-minadas polticas de desenvolvimento econmico.4 Ou seja, em muitos municpios no se pode esperar que as polticas de desenvolvimento consigam facilmente atrair grandes empresas, principalmente em ramos de ativida-de dinmicos e tecnologicamente avanados, mas um impulso importante pode ser alcanado com estmulos expanso de pequenos ou mdios negcios.

O gestor municipal, portanto, deve dedicar especial ateno a este grupo de empreendedores, dadas as re-percusses positivas na economia local, seja na gerao

de postos de trabalho locais,5 seja na gerao de renda. Dentre as aes em parceria, visando ao desenvolvimento de programas de estmulo gerao de produo e renda, podem-se destacar algumas j desenvolvidas com outras esferas de governo, como o microcrdito, em particular a instituio do Banco do Povo Paulista com o Estado de So Paulo, que concede microcrdito a pequenos empreende-dores.6 Diversas atividades podem ser desenvolvidas no mbito dos programas desenvolvidos pelo Sebrae.

A oferta de servios adequados a empreendedores de pequenos negcios, de baixa renda, pode ter importantes efeitos multiplicadores de emprego, renda, arrecadao, impulsionando tanto a economia como a melhoria das condies sociais na regio abrangida.

Por isso, o interesse do municpio no desenvolvi-mento de sua economia, procurando atrair atividades geradoras de riqueza, deve considerar no s as mdias e grandes empresas, mas tambm as micro e pequenas, inclusive aquelas que se encontram na informalidade. Nesse sentido, apesar da insufi cincia das pesquisas e das informaes sobre as atividades informais no mbi-to municipal, importante que os tcnicos do municpio desenvolvam esforos junto aos diversos rgos muni-cipais, estaduais e federais, assim como para a realiza-o de pesquisas pelo prprio Poder Pblico municipal para ampliar o conhecimento sobre o setor informal. importante saber o nmero de negcios informais esta-belecidos no municpio; sua distribuio por setor, ramo de atividade e tamanho; e sua importncia na estrutura produtiva, relativamente s mdias e grandes empre-sas. No caso do setor formal, muitas informaes so fornecidas pela Relao Anual de Informaes Sociais (Rais) e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desem-pregados (Caged), do Ministrio do Trabalho e Empre-go, e pela Fundao Seade (Valor Adicionado Fiscal). No caso da agropecuria, informaes sobre produo e valor da produo agropecuria so fornecidas pelo IBGE, pelas Divises Regionais Agrcolas (Diras) ou pela Secretaria de Agricultura do Estado.

Alm disto, conforme a dinmica do comrcio exte-rior na gerao de riqueza no municpio, o conhecimento do valor de mercadorias ou de servios exportados pode trazer informaes importantes para inferir tendncias de desenvolvimento local e regional. Da mesma forma, se houver previso de investimentos em empresas situadas no municpio, a identifi cao do volume e do tipo de ati-vidade anunciada ser de grande valia.

ECONOMIA 29

Pelas razes acima expostas, necessrio investigar principalmente as seguintes variveis econmicas: o mon-tante de riqueza gerado no municpio (PIB), seu ritmo de crescimento (variao peridica do PIB) e a relao dessa riqueza com o nmero de habitantes que dela depende (PIB per capita); a distribuio da riqueza segundo os setores de atividade econmica (agropecuria, indstria e servios) que a originam e suas taxas de crescimento e modifi caes na estrutura setorial de gerao de rique-za; os principais ramos de atividade (no interior destes

grandes setores) que contribuem para dinamizar a eco-nomia no municpio, assim como suas modifi caes, ao longo do tempo, e as tendncias da estrutura produtiva.

Em todas essas variveis deve-se comparar a impor-tncia do municpio em relao Regio de Governo em que se situa e em relao ao Estado de So Paulo.

Finalmente, deve-se alertar que as informaes dis-ponveis nas fontes utilizadas vo at 2005, o que gera uma defasagem temporal dos indicadores e sinaliza para a necessidade de certa cautela em sua anlise.

3 O Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma (em valores monetrios) de todos os bens e servios fi nais produzidos numa determinada regio (quer seja, pases, Estados ou municpios), durante um perodo determinado (ms, trimestre, ano, etc.). O PIB um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia, com o objetivo de mensurar o nvel da atividade econmica em uma regio.

4 Para se ter uma idia da importncia da microempresa na economia latino-americana, so ilustrativos alguns dados apresentados no seminrio sobre microcrdito promovido em 2003 pelo Banco Central do Brasil. Havia 59 milhes de microempresas em 18 pases da Amrica Latina, das quais 83% eram unipessoais e 17% empregavam de um a cinco pessoas. A microempresa empregava 50% da Populao Economicamente Ativa (PEA) no Brasil.

5 Ver a seo sobre Mercado de Trabalho e Rendimentos, nesta pesquisa, que discute a situao de ocupao e rendimentos nos municpios.

6 A atividade de microfi nanas pode ser conceituada como a oferta de servios fi nanceiros para a populao de baixa renda que, normalmente, no tem acesso e nem condies de acessar os servios no sistema fi nanceiro tradicional. O conceito amplo de servios fi nanceiros inclui emprstimo, poupana, seguro, etc. No caso do BPP, trabalha-se apenas com o crdito ao empreendedor. H basicamente duas destinaes ao crdito concedido a empreendedores: para realizar investimentos e para fi nanciar o capital de giro. A importncia do mercado de cr-dito para o desenvolvimento econmico tem sido amplamente enfatizada, e o acesso a fontes de fi nanciamento considerado como um fator determinante do ritmo desse crescimento econmico. A concesso de microcrdito imensa quantidade de potenciais empreendedores pode trazer importantes conseqncias na renda e no emprego das regies. No curto prazo, este programa contribui para a gerao de renda e, no mdio e longo prazos, dinamiza e potencializa a formalizao de parcela informal da economia.

CONSTRUINDO O DIAGNSTICO MUNICIPAL: UMA METODOLOGIA30

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