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1 PERMANENTE E EFÊMERO, QUESTÕES E UM EXEMPLO DA RECEPÇÃO EM DANÇA Cássia Navas Observação: Este texto é uma dos capítulos da publicação “Fruição em Dança”, de Alba Pedreira Vieira (org.), Visconde do Rio Branco, MG: Editora Suprema (no prelo). A dança, como fenômeno de comunicação humana, pode ser vislumbrada através de espécies de molduras os espetáculos -, onde presenciamos a vontade revelada de expressão de um artista-coreógrafo concretizadas em corpos de artistas-bailarinos. Quem assiste ao que se passa em cada moldura proposta, estrutura pouco rígida, na maioria das vezes porosa, porque limite de uma obra de arte (e portanto, como ela ação aberta) compartilha um momento, ou instantes comuns, num espaço de recorte quase único: as cenas ou conjunto de cenas se sucedendo diante de nós. Somos partícipes e cúmplices do realizado (performado), enquanto público - unidade provisória em função de algo que se passa a nossa frente - um acontecimento, evento. Unidade que se dissolve quando tudo termina e saímos de frente da cena, individualmente traçando análises ou recolhendo emoções, traços que talvez insistam em nossa memória, na forma de presença e ausência, lembrança e esquecimento. Após um espetáculo, tempo e espaço têm que ser reconstruídos de uma maneira singular, numa tarefa em que as grafias da dança podem ser de grande auxílio texto, foto, vídeo e mesmo os depoimentos sobre cada dança, colhidos em entrevistas onde quase-poemas são anunciados por artistas, flagrados por palavras a respeito do conhecimento que colocam no mundo. A dança em si, a dança que representa algo além da dança e a dança que resta em nós, como descrevê-la a partir dos conteúdos que ela faz circular entre artistas da cena e entre estes e os públicos?

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PERMANENTE E EFÊMERO, QUESTÕES E UM EXEMPLO DA RECEPÇÃO EM DANÇA Cássia Navas Observação: Este   texto  é  uma  dos  capítulos  da  publicação  “Fruição  em  Dança”,   de   Alba   Pedreira   Vieira   (org.),   Visconde   do   Rio   Branco,   MG:  Editora Suprema (no prelo).

A dança, como fenômeno de comunicação humana, pode ser

vislumbrada através de espécies de molduras – os espetáculos -, onde

presenciamos a vontade revelada de expressão de um artista-coreógrafo

concretizadas em corpos de artistas-bailarinos.

Quem assiste ao que se passa em cada moldura proposta, estrutura

pouco rígida, na maioria das vezes porosa, porque limite de uma obra de arte

(e portanto, como ela ação aberta) compartilha um momento, ou instantes

comuns, num espaço de recorte quase único: as cenas ou conjunto de cenas

se sucedendo diante de nós.

Somos partícipes e cúmplices do realizado (performado), enquanto

público - unidade provisória em função de algo que se passa a nossa frente -

um acontecimento, evento.

Unidade que se dissolve quando tudo termina e saímos de frente da

cena, individualmente traçando análises ou recolhendo emoções, traços que

talvez insistam em nossa memória, na forma de presença e ausência,

lembrança e esquecimento.

Após um espetáculo, tempo e espaço têm que ser reconstruídos de uma

maneira singular, numa tarefa em que as grafias da dança podem ser de

grande auxílio – texto, foto, vídeo e mesmo os depoimentos sobre cada dança,

colhidos em entrevistas onde quase-poemas são anunciados por artistas,

flagrados por palavras a respeito do conhecimento que colocam no mundo.

A dança em si, a dança que representa algo além da dança e a dança

que resta em nós, como descrevê-la a partir dos conteúdos que ela faz circular

entre artistas da cena e entre estes e os públicos?

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Estas questões estão no cerne da discussão dos fenômenos da

percepção e recepção do espetáculo de dança, ampliando-se para os mesmos

fenômenos nas artes da cena.

Proponho aqui aspectos introdutórios a este debate e a apresentação de

um estudo de “fala   sobre   dança”.   Trata-se de quatro unidades de pesquisa

sobre espetáculos da 1º Ato Companhia de Dança (Belo Horizonte, MG),

originalmente estruturadas como base do livro publicado quando dos 20 anos

deste grupo mineiro, no ano de 2002.

Como exemplaridade de descrição especializada sobre os conteúdos

apreendidos, a partir da análise de espetáculos deste grupo, nesta segunda

parte a proposta insere-se em questão importante: as palavras (o discurso

verbal organizado  em  uma  língua)  dão  conta  de  uma  “fala  sobre  a  dança”?    

E ainda: podemos falar de dança, sem dizer que não há palavras

suficientes para descrevê-la? Esta é uma questão recorrente entre os públicos

de dança, também aqueles formados, quase que exclusivamente por

profissionais e especialistas deste campo. Uma sentença recorrente,

introdutória de grande parte das conversas que se seguem aos espetáculos.

Por este motivo, não é gratuito que em Les Publiques de La Danse (Jean- Michel,1991) o autor eleja como um dos tópicos de sua discussão, além

de intertítulo de um capítulo da obra, a   frase:  _   “Não  se  pode   falar   da  dança  

sem dizer que não podemos falar da dança”.

Para introduzir, questões de base

1. Efermeridade X permanência 1.1. A obra como topus permanente da arte

Comumente denomina-se  a  dança  como  a  “arte  do  efêmero”,  posto  

acontecer diante de uma platéia que presencia uma determinada forma de sua linguagem, tal afirmação passando a ser, ao longo do tempo, uma espécie de “lugar   comum” partilhado entre muitos, como o também problematizado em Louppe (1991).

Quando do término de cada récita, a dança se foi – passou, e voltará a

se realizar na medida em que se apresente novamente.

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Neste caso, a efemeridade está localizada na presentificação da obra

em si, esta característica apontando para uma de suas bases de origem,

enquanto arte do tempo/espaço, que se perfaz em tempo específico, restando

como memória corporal nos artistas que a interpretaram.

Para a dança estes artistas aportam suas memórias - estruturas já

topologizadas em seu corpo-território (NAVAS, 2010), mediante um longo

processo de aprendizado artístico que, pelos ensaios, lhes faculta assimilar as

estruturas da dança que interpretam, executam, inventam ou recolocam em

cena (reposição de repertório).

O corpo-território de cada bailarino lança-se no espaço - território da

dança, este sim transitório frente a cada unidade de público, construído no

aqui-e-agora a partir de traços - rastro anterior (NAVAS, 1996), dramatrugia,

estrutura de movimento, apresentados pelos intérpretes que em cena estarão.

Neste sentido, a efemeridade que se constrói diante de nossos olhos (e

diante de outros orgãos do sentido, como se verá a seguir) não é tão efêmera

assim, já que no corpo-território de artistas pré-existem as variadas cenas da

linguagem, neles pesentes como bagagem profissional.

A dança permanecerá, desta maneira como estrutura da coreografia,

refazendo-se quando e onde seja dançada outra vez, garantindo-se sua

existência:

1. pelo trabalho do coreógrafo, remontador ou especialista em obras

antigas, geralmente também professor da dança, figuras que

lançarão mão de tudo o que possuem para repassar, recriar, manter

vivo o seu repertório ou o de outro artista. Podem ser considerados

os rapsodos da dança (NAVAS, 1996),   aqueles   que   “relatam   a  

dança”   à   semelhança   dos   contadores   de   histórias,   especializados  

em recriar, através de suas narrativas, mundos imagéticos de poesia

ímpar;

2. pela e na atuação do corpo-território de cada bailarino;

3. pelo que foi, quando isto se fez possível, lançado em notações

coreográficas (Labanotation, por exemplo), notações e descrições

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verbais (cadernos,entrevistas, textos, críticas e estudos), registros

pictóricos (fotos, lito/xilogravura, pinturas), registros eletrônicos

(filmes e vídeos), notações digitais (programas de computador,

registros em DVD e em multimídia).

O  discurso  preponderante  sobre  a  “efemeridade  da  obra  de  dança”,  se  

relativiza frente a existência do tipo de memória específico a este campo, basal

na construção e perpetuação de sua trajetória, apoiada em memória corporal – transmitida por pensamenos, palavras, atos e omissões - de quem cria

(inventa), coreografa, ensina, executa e produz cada obra, e, também,

mediante suportes históricos da linguagem, elaborados a partir desta memória -

textos de natureza verbal, sonora e visual.

A estas informações, acrescem-se os elementos trazidos, pela

intervenção in locu ou por suportes vários, pelos que também estão imbricados

no complexo sistema de encenação coreográfica - cenógrafos, libretistas,

escritores, iluminadores, músicos, figurinistas, e os, atuais, dramaturgos.

1.2. A mediação como topus da efemeridade da arte Se não é tão efêmera assim a arte da dança, quando focamos o pólo

emissor onde se localiza a obra de arte em si, a coreografia sendo encarada,

neste caso, como objeto voltado sobre si mesmo, sobre sua estrutura basal,

onde  localizar  o  “discurso  sobre  a  efemeridade”  desta  arte?

À indagação, uma resposta: nos fenômenos da recepção da obra de

dança, nos quais se estabelece, entre arte e público, um   “exercício   de  

circulação”   (ADOLPHE, 1997), uma mediação ao vivo ao longo do

acontecimento.

Neste caso, diferentemente da visão fenomenológica do espetáculo, que

segundo Pavis (2007) centraliza no público o protagonismo da construção do

sentido da dança, através da percepção de seus conteúdos, a recepção se dá

entre os pólos de emissão (palco/cena/obra/coreografia) e de recepção

(platéia/público/audiência).

Problematizar   as   condições   sobre   este   “entre”,   local   de   mediação  

artística, é falar  da  “efemeridade”  da  obra  de  dança,  como  em  Adorno  (1988),  

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quando o filósofo coloca a ênfase do efêmero nas relações históricas, portanto

de um tempo e lugar, estabelecidas entre obras e seus fruidores.

Tomemos um exemplo: O Lago dos Cisnes (Petipa/Ivanov, 1895). Ele é

efêmero por que dançado a cada noite, ano após ano, à frente de platéias

diversas, que sobre o espetáculo lançam olhares, entendimentos e opiniões

diferentes, posto que conectadas à história e forma específicas de

apreensão/fruição de arte e do mundo.

A efemeridade não está ancorada na obra em si, pois no limite, se assim

fosse, de cada coreografia nada restaria, mesmo quando em versões variadas,

fruto  de  sucessivas  “reposições  em  cena”,  podemos  ter  diferenças  significativas  

entre suas montagens, ao longo da trajetória desta muito dançada coreografia

do século XIX.

A efemeridade, neste caso, se perfaz entre obra e público, isto vindo a

ocorrer não somente em dança, mas em todas as obras de arte do espírito

humano.

Neste sentido, o efêmero não está na criação em si, portadora de suas

estruturas de base, guardadas e recolocadas no mundo mediante o sistema de

memória - enquanto lembrança e esquecimento - que se estrutura a partir de

sua origem basal, na qual se enraízam os traços de sua existência e operação.

2. Percepção e recepção de um espetáculo de dança Para Pavis (2007), os fenômenos da percepção se distinguiriam dos

fenômenos da recepção, posto os primeiros estarem ligados à percepção tout court - órgãos do sentido associados que permitem   a   “ativação   da  

sensorialidade”   de   uma  memória   corporal   própria   de   cada   um   que   assiste   à  

dança, memória construída no trânsito entre biologia e cultura.

Já os fenômenos de recepção estariam no campo dos sistemas signos em

que imersos estão os espectadores, ou seja, os léxicos simbólicos que

dominam (ou não), ou mesmo que pensam dominar, para entender/apreender

o fenômeno cênico – experiências em ver artes da cena – circo, dança,

performance, ópera, teatro, além do acesso que porventura tiveram a outros

tipos de manifestações artísticas e da cultura onde vivem, viveram e trafegam.

E como percebemos uma obra de dança?

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A partir do sistema de percepção/cognição com que

apreendemos/conhecemos qualquer outro fenômeno artístico, articulando-se

os sentidos da visão, audição, olfato, paladar e tato.

Através deles, somos/ficamos imersos na circulação de conteúdos que

se estabelece entre obra e público, articulando-se a recepção de informações

de natureza sonora e visual àquelas ligadas à discursividade verbal

(SANTAELLA, 2000), mediante formas de raciocínio - indução, dedução e

abdução - básicas na formação dos repertórios de léxicos simbólicos que,

como seres da linguagem, construímos, e pelos quais, em permanência, somos

construídos.

2.1. Percepção, um mesmo fenômeno entre artistas, entre público e

entre artistas e públicos Percebemos e somos percebidos a todo tempo. Submetidos à “chuva de

perceptos” (SANTAELLA, 1993), informações nos chegam pelos cinco órgãos

do sentido, transformando-se em conhecimento de natureza amplamente

variada.

Máquinas de processar de alta complexidade, estamos imersos em redes

simbólicas, recebendo-produzindo-recebendo-produzindo informação em

cadeias sígnicas de espiralamento infinito.

Processar informações é forma de sobrevivência, na verdade, sobrevivência

em si e nisto estamos todos, artistas e públicos.

Cada percepto, de natureza sonora, visual, verbal, é colhido pelos órgãos

do   sentido,   percebido,   processado   e   devolvido   na   forma   de   um   “juízo  

perceptivo”,   que   pode   ser   sutil   rumor   de   estômago, bater imperceptível de

cílios, alçamento de sobrancelhas, pequena alteração de pupila, reação de

medo, júbilo, movimento involuntário, movimento voluntário.

Imobilidade, pensamento, sentimento, movimento. Vida se renovando e

repetindo-se em cada ser da espécie.

Todavia do todo percebido, e do todo que este percebido possa ter gerado,

não possuímos lembrança contínua, posto a memória ser constituída de

lembrança e esquecimento (IZQUIERDO, 2004), sem o que seria difícil

avançarmos um passo em uma simples marcha em direção a nosso café da

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manhã. Como poderíamos fazê-lo se lembrássemos de tudo o que já tínhamos

sentido, pensado, visto, desde o primeiro piscar de olhos ao vislumbre da luz

cinza-acobreada de um novo dia de outono?

Artistas e seus públicos encontram-se entre os mesmos processos

perceptivos, que estão na base da estruturação da obra de arte, de nossas

faculdades de recepção e do que se instaura entre público e criadores

(coreógrafos e intérpretes).

O que um artista de dança traz para o seu público? Algo adivinhado,

abduzido (NAVAS, 2008, 2010c),  na  intimidade  de  uma  revelação,  “a  partir  de  

uma experiência estética inaugural, de uma idéia em dança”   que   estará  

impressa no particular de cada corpo.

Todavia, por mais particular que seja a origem de cada coreografia ela

trará em si uma indicialidade composta de elementos da espécie humana

(nossos corpos não são tão diferentes assim) e elementos de uma topologia

cultural de onde provem aquele bailarino.

“Corpos  culturais” (NAVAS, 2010a) são colocados em cena, à frente de

outros  “corpos  culturais”:  o que cada bailarino nos mostra a partir de uma idéia

pensada em sua individualidade, e elaborada entre as quatro paredes de um

estúdio de ensaio ou sala de dança (NAVAS, 2010c), apresenta traços de

nossa corporeidade . O artista dança por nós, a cada dia em que se coloca em cena. Algumas

vezes nos dança, no sentido de mostrar/expressar/comunicar nossos

pensamentos através desta mídia onde a questão do corpo assume uma

centralidade basal.

Por ter este tipo de centralidade (corporal), a dança remete-se, de forma

específica, a certos ritos de uma ancestralidade exacerbada. Expliquemos: na

evolução da espécie há períodos em que a comunicação humana se

estruturava emergentemente em gestualidade quase desprovida de uma língua

verbal mais organizada.

Homens, mulheres e crianças comunicavam-se entre si e com aqueles

que temiam ou reverenciavam (deuses, mortos, ancestrais topologizados em

outros tipos de realidade, entidades) através de gestos e movimentos (NAVAS,

2006b).

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A comunicação de natureza mista, posto que um misto de comunicação

corporal e pára - verbal, paulatinamente vai se circunscrevendo aos rituais,

fontes de atualização de mitos (MELATTI, 1970) de grande importância (por

exemplo, a ontogênese da tribo) ou a rituais de comunicação/coerção entre os

membros das comunidades, como os ritos de passagem (VAN GENNEP,

1978). As artes da cena carregam traços destes rituais, e, particularmente a

dança daqueles em que a palavra joga um papel secundário, em

manifestações onde quem dança e quem assiste são os mesmos atores de

cada momento ritualizado.

Neste caso, os conteúdos circulam entre todos e por todos, a partir de

um protagonismo que se exerce pela e na participação em danças e cenas

dramáticas, aprendidas/ensinadas ao longo da vida em comunidade.

Na arte da cena que se decompõe em dois espaços básicos de

circulação, modernamente falando, em palco e platéia, a mediação de

conteúdos, ancorados em corpos, e concretizada em metáforas corporais, se

dá através de especialistas, artistas da dança, que dançam por nós, nos

dançando.

O que era um espaço, que podemos   descrever   como   “esférico”, de

comunicação entre a comunidade ou dela frente a outras instâncias,

transforma-se em topologia bipolar. Todavia uma mediação mais completa e

plena pode se estabelecer entre os dois pólos. Assim acontece em espetáculos

onde como que suspenso, as pessoas do público juntos estão com aqueles

que dançam por eles.

Nestes casos, têm-se um momento estético, uma suspensão de tempo,

onde um primeiro (SANTAELLA, 1994) cinde o conhecido, o familiar,

estabelecendo-se uma fissura para que a qualidade do sentimento (SILVA,

2006) se instaure, a partir da poderosa mídia-dança (NAVAS, 2010a).

Fecha-se o circuito de uma comunicação ritual, em espaço da

contemporaneidade em arte.

Quando isto se dá, instaura-se um silêncio, e os espectadores parecem

não   sentir   necessidade   premente   de   uma   “explicação”,   em   alguns   casos  

demandada à saída de espetáculos de dança, quando é comum a frase: afinal,

o que esta dança quer dizer com isto?

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Nestes momentos, apesar de devassados corporalmente, pela

exposição do íntimo de cada artista (NAVAS, 2010c), trabalhado em horas e

horas de ensaios e elaboração, o que se quer saber são quais os sentidos que

aquela coreografia carrega, traduzidos por outra linguagem, em geral aquela

traçada através de palavras, ou seja, mediante a linguagem verbal.

Esta é tarefa para pesquisadores, críticos, artistas e poetas: o desafio

das traduções, que não substituem a força da expressão da arte em si e as

mudanças de percepção e de conhecimento que trazem ao mundo.

São instrumentos para a composição em rede dos fenômenos artísticos,

a partir de suportes a ele correlatos, seja em cadeias sígnicas mais conhecidas

- velhas mídias, como o texto escrito, seja mediante novas tecnologias – novas

mídias, como o hipertexto, que ao produzir conteúdos inaugurais, trazem uma

maior complexidade à apreensão e produção dos fenômenos artísticos.

Para  continuar,  “estudo  de  fala  sobre  dança”

Em obra de grande fôlego, Guy (1991), tece reflexões sobre os públicos

da dança, a partir de extensa pesquisa realizada sobre o assunto pelo DEP-Département dês Etudes et de la Prospective/Ministério da Cultura da França.

O sumário da publicação nos traz o mapa dos assuntos tratados, os três

capítulos articulando temas centrais para uma cartografia dos públicos da

dança. Assim no primeiro capitulo temos   as   “estruturas   do   discurso   sobre   a  

dança”,   no   segundo,   a   abordagem  do     “indefinível”   ou   de   como   a     dança   se  

define a si própria através de seus realizadores e públicos, e, finalmente no

terceiro capítulo, aspectos sobre a comunicação em dança.

Nesta última parte, o   autor   enfoca   o   que   denomina   “a cadeia dos

discursos”   sobre   o   campo,   apresentando-se possibilidades de tradução da

dança, a partir do universo pesquisado.

Em 2002, quando convidada a realizar uma investigação sobre vinte

anos da 1º Ato Companhia de Dança, que embasaria a publicação

comemorativa (NAVAS, WERNECK, 2002) da trajetória do grupo, optei por

realizar uma  “cadeia  de  discursos” tendo como base algumas de suas obras,

consideradas unidades de pesquisa. A partir das matrizes cênico-

coreográficas de uma companhia contemporânea do Brasil, estabeleceu-se um

discurso verbal.

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Encarando-se   o   exercício   como   um   “deslimitar   de   fronteiras”,   partiu-se

das obras para a construção da história da companhia, em repertório que

segue em lista ao final deste capítulo.

Fundado em 1982, por Kátia Rabello e Suely Machado, o Centro de Dança 1º Ato, sempre se caracterizou por articular a formação em dança com

a construção da arte, seguindo firme e belamente em nossa cena,

apresentando, no Brasil e no exterior, sua obra de vinte e oito anos de trabalho.

A análise das obras do 1º Ato aqui colocadas recupera parte do

espetáculo total da companhia, na possibilidade de restaurar parte da

circulação de conteúdos entre público e arte (e seus artistas) recuperando-se

as cenas da companhia, a partir da irredutibilidade concreta de seus traços,

nada efêmeros.

1. Carne Viva (1990), de Dudude Hermmann e Arnaldo Alvarenga

1ª parte: Uma solução de asfalto...acrescida de lágrimas 2ª parte: Retalhos do coração tecidos no profundo da alma... sorrisos

Uma mulher vestida de branco percorre, numa linha paralela à boca de

cena, a distância que une os lados direito e esquerdo do palco.

Anda sobre dezenas de pares de sapatos, calçando-os e descalçando-

os sucessivamente.

Quando alcança o canto direito do palco, dá com um bailarino à sua

espera. Ele tira seus sapatos pela última vez, atirando-a descalça, de volta à

cena.

A caminhada da bailarina por sobre os seus (e nossos) pés,

metaforizados pelos muitos pares de sapatos enfileirados numa linha contínua,

é   figura   e   fundo   para   uma   reflexão   sobre   certa   ilusão   de   “progresso”   que  

devemos continuamente procurar (no novo e/ou moderno), em busca de

evolução.

O contemporâneo também nasce sob o signo de uma sociedade

moderna, de cujos símbolos a metrópole, as máquinas e a locomotiva fazem

parte dominante. Mas também renasce sob o signo da celebração do humano,

da festa de vida e morte presente em cada um e no coletivo que se estabelece

em todas e por todas as relações humanas.

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Metáfora do moderno, a bailarina caminha sobre um trilho de sapatos,

direta e reta, como uma máquina que faz e desfaz o movimento de encaixe:

pés dentro de sapatos, pés fora dos sapatos.

No final é brecada por outra força, humana, que a atira ao espaço

coletivo do celebrar, da dança dançada naquele momento, na qual ela vai atuar

em espaços giratórios múltiplos, quase fugas dos outros intérpretes, seus

companheiros de mergulho no vivo da carne.

Carne viva é um espetáculo que se faz e se desfaz, e por cima desta

estrutura pulsante como um organismo vivo, vão se superpondo camadas de

significados, que se alternam como epidermes simbólicas em constante

alternância.

Há momentos frutos de grande trabalho de investigação, outra chave da

dança contemporânea, onde as aléias da experimentação são testadas em

provocações estéticas diuturnas.

Dessa maneira, cenas, nas quais se poderia cair numa interpretação

mais caricatamente teatral, vão se transformando em experiências onde a

circularidade de uma pesquisa mais profunda se nos dá a conhecer, como no

caso em que sucessivamente três intérpretes armam cenas, na primeira delas,

transformando-se os “vestir-se e maquiar-se” em metáfora de urgente

sobrevivência.

Depois temos a segunda intérprete que ao abrir um verde guarda-chuva

suspende o tempo da cena, abrindo espaço para outra artista, que atravessa o

palco   numa   diagonal,   ajoelhada   e   presa   a   uma   “corda de   roupas”,   que  

emendadas entre si, evidenciam nós, dedilhados como se contas de um rosário

fossem.

Ao final deste ato, trajes não vestidos. Metáforas de superfícies

epidérmicas sem conteúdo, são atirados das coxias, para onde voltam,

arremessados pela ação dos intérpretes em cena.

No segundo ato, para a celebração moderna, uma mesa entra em cena.

Ficará pousada entre vestes, espalhadas pelo chão e penduradas atrás,

articuladas num telão imenso.

É centro do ritual coletivo de cada um a sua vez (ritual interno de

pulsação da dança) e de todos envoltos em uma mesma pele, metáfora de

elenco que dança em coletivo real.

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2. Desiderium (1996), de Tuca Pinheiro

O satélite da Terra está presente em Desiderium (1996), de Tuca

Pinheiro, uma reflexão em torno do desejo, em cenas emolduradas por um

telão que reproduz a superfície lunar, vista de perto, com suas crateras, montes

e depressões.

A lua dos amantes, ao invés de ficar distante dos homens e mulheres,

que sideradamente perdem a cabeça pelo desejo, se perde dentro das cenas,

agigantada por lupa de aumento incomensurável, artifício de telescópio

cenográfico.

A partir desta peça, Tuca Pinheiro começa a coreografar para o 1º Ato,

onde atuava como intérprete desde Isto Aqui não é Gotham City (1992).

Em Desiderium, o coreógrafo continua em cena, estabelecendo, com

suas ações, uma moldura de movimentos no quadrilátero imaginário que rodeia

a movimentação, num palco-espaço despido de coxias e ciclorama.

Pinheiro entra e sai do espaço delimitado por sua movimentação e em

nenhum momento se recolhe aos camarins. Em um momento é ovacionado

pelos próprios bailarinos, durante uma dança mais intempestiva, em outros

permanece recolhido numa escuta de si mesmo.

Seu papel, de criador-intéprete em cena, é quase o de um xamã

coreográfico, ora observando, ora intensificando as cores de sua criação, em

pajelança que aproxima a dança contemporânea do grupo a um moderno ritual.

Em Desiderium o ritual é sobre os sentidos do desejo e um dos símbolos

deste universo apresenta-se no palco em forma de maçãs, que ora na boca

dos intérpretes ora atiradas para o alto, vão pontuando algumas das dinâmicas.

Nestas, ainda que dentro de um sistema contemporâneo de dançar,

onde mulheres e homens executam os mesmos gestos e da mesma forma, há

momentos de movimentação feminina em contraste com sequências de

movimentação masculina.

Uma cena onde impera a interpretação feminina é aquela, em que,

sentada, uma das moças dita, com remarcável sensualidade, uma receita de

pão de queijo (típica guloseima mineira) para a platéia.

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Metaforizando uma fase anterior ao desejo - para ser desejado é

necessário ser visto -, muitas vezes os bailarinos atuam como numa exposição,

numa vitrine, em cenas onde matizados rituais de acasalamento entre homens

e mulheres, mulheres e mulheres, homens e homens se espiralam.

Uma delas: uma mulher que carrega maçãs caminha sobre uma ponte

que lhe vai aparecendo à frente, mais à frente de sua caminhada, pinguela de

cadeiras que suas companheiras de elenco, em linha reta, lhe oferecem.

De um golpe, ela atira as maçãs para a moça que a segue neste

pontilhão, atirando-se e sendo agarrada por um rapaz, em pleno vôo.

Neste micro pas de deux (dança de dois) entre eles, o desejo de

contato, rapidamente satisfeito é imediatamente rompido, pois outras moças se

arremessaram ao ar, repetidamente sendo acolhidas pelo intéprete,

intensificando-se os níveis de tensão dramatúrgica.

A dança do novo ritual proposto por Desiderium, se compõe,

sobremaneira, de danças de grupo.

Rituais processados à frente da lua cenográfica, com a utilização de

cadeiras-como-rabos, a apontar para a animalidade do desejar.

Cadeiras que no final de tudo, servirão como toscos capacetes de

astronautas prontos a viajar com os astros ou em sua direção.

Sutilezas de uma humanidade moderna, concretudes de seres que

puxados pela gravidade, sonham (desejam) voar.

A dança de Pinheiro, dirigida por Suely Machado, nos revela

contemporaneamente as matizes do desejo humano, animal ou sofisticado,

apontado para um alvo ou difuso frente à lua, que estabelece-se como polo de

alteridade, objeto outro, a quem desejar.

Contemporaneamente, Desiderium se revela também mediante esta

polaridade estruturada em dois: ponto de saída e ponto de chegada, partida e

meta, objeto do desejo e trajetória de alcance.

Em todas as cenas, resta a sensação de um caminho percorrido, de

uma trajetória/processo a explorar e de um destino, guiado ou não pelos astros

na escuridão dos anseios humanos.

No 1º ato, qual seria este processo ? a experimentação a todo o custo.

E qual o destino? a crescente comunicação da experiência humana, de

aqui e de acolá, experiência de lugares a serem esquadrinhados.

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3. A Breve Interrupção do Fim (1997), de Gerald Thomas e Suely Machado.

No silêncio, as cortinas estão fechadas. Foco de luz sobre um balde no

chão do proscênio. A cortina se abre aos poucos e uma lua cheia se mostra

pendurada ao fundo do palco, como um telão.

Dois pares de refletores pousados no chão, esquadrinham a cena e o

palco.

Começa a soar um texto em off, ditado por Gerald Thomas:

“_  E  começo  aqui,

este começo,

e recomeço, e remeço,

e arremesso.

E aqui me meço.

Quando se vive sob o aspecto da viagem...

O que importa não é a viagem,

Mas  o  começo  da  ....”

Há um corredor diagonal de luz a iluminar o intérprete, com tanga e

coroa de espinhos deitado no meio, à frente do palco. Por este corredor entra

outro ator-bailarino de tanga andando em direção ao intérprete prostado no

chão. Caminha caindo e levantando sem parar, em sucessivas quedas.

Enquanto isto, uma contra-luz sai do ciclorama e bailarinos caminham

para a frente do palco, escondendo-se atrás de cabides de roupas. Outro texto

é enunciado:

“_  O  avesso  da  história,

que pode ser história,

que pode ser cárie,

que pode ser história.

Tudo depende da hora.

Tudo depende da glória.

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E nada, e nus, e neles,

Reles.

E  nem  nada  de  nada...”

Tudo fica escuro. Black out.

Este é o começo de A Breve Interrupção do Fim, de Gerald Thomas e

Suely Machado.

Com ela, a companhia voltaria a trabalhar com um diretor de teatro,

dentro do pulso de alternância entre criadores de teatro e dança, que se

revezam nas obras produzidas pelo grupo.

Quando convidado a criar uma obra para o Grupo de Dança 1º Ato,

segundo o próprio Thomas (Portfolio 1º Ato, 20 anos), os questionamentos

foram inevitáveis:

“Quer   dizer   que   agora   você   está   coreografando?   Como   é   lidar   com  

bailarino? É diferente de dirigir um ator? Como você concebe a dança? E a

palavra? Você sente falta da palavra na dança? E a expressão facial que você

tanto preza, vai trocá-la  pela  expressão  do  corpo?”

Questões às que o diretor respondeu:

“_  Não,  de  jeito  nenhum.  As  regras  do  teatro  são  limitadas  e  depois  

destes anos todos, ainda me causam repugna. Sempre driblei estas

regras, mas nunca cheguei a organizar estes ´dribles´. Em 1989,

quando concebi e dirigi Mattogrosso, em parceria com Philip Glass,

o   que   fiz   foi   justamente   dirigir   uma   “massa   em   movimento”.  

Sugeriram-me na época, chamá-la de teatro-dança, pois esta massa

de 53 atores não falava uma palavra e se movimentava de acordo

com os acordes musicais. Na verdade, nem teatro, nem dança, nem

ópera, nem coisíssima nenhuma. Mattogrosso foi um brado de

guerra  que  reunia  resposta  a  todas  as  minhas  inquietações”.

O discurso de Thomas serve para ilustrar que, se existiam,

exteriormente  ao  grupo,  certas  questões  sobre  a  pertinência  de  sua  “residência  

cênica”  dentro  do  1º  Ato,    junto  aos  artistas  da  companhia  trabalhar  com  “gente  

de  teatro”  não  era  tão  surpreendente  assim.

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Desde sempre, os rumos escolhidos pela direção da companhia incluíam

um forte trabalho dentro do campo, intermediando-se ações mais ligadas a

artistas coreográficos com ações ligadas à artistas teatrais.

Além disto, a busca explícita, e experimental, por novos modelos

cênicos, fez do trabalho da companhia uma constante investigação, na qual

estão imbricados cada um dos intérpretes e principalmente uma de suas

diretoras artísticas - Suely Machado -, que à frente do elenco, atua de maneira

intensa, assinando ou co-assinando a maior parte das direções artísticas das

obras do grupo.

Esta participação se mostra explicitada na fala do diretor Thomas,

quando ao se referir ao trabalho de Machado, diz que desde os primeiros

encontros  com  a  companhia  sentira  “que  o  trabalho  desenvolvido  ao  longo  dos  

anos por Suely Machado se complementaria  harmoniosamente  com  o  meu”.  

A este respeito, acrescenta: “parece teatro. O fato é que não me meti a

coreógrafo. O que fiz foi aquilo que sempre fiz. Tratei os bailarinos como se

fossem  atores.”

Como se fossem atores, sendo bailarinos, que são atores, e assim por

diante, os artistas do 1º Ato se atiraram, literalmente, à proposta de Thomas,

em uma obra, que como na maior parte de suas outras produções, estrutura-se

enquanto uma narrativa de cunho altamente autoral.

Em   “A   Breve”,   não   há   personagens definidos, isto é, personagens

definidos por suas falas, índices verbais de suas características, circunstância,

via de regra, que se constitui em divisor de águas entre um teatro mais

clássico e certas obras do teatro contemporâneo, posto que o discurso verbal

estrutura-se como um sistema de definição de cada personagem em relação

aos outros tantos.

Por isto mesmo, a definição se faz por movimentos, que no caso de A Breve Interrupção do Fim são  executados  por  “gente  de  dança”,  o  que  traz  à  

forma de trabalho de Thomas outras conotações.

Pelas palavras do próprio diretor sua obra Mattogrosso foi quase

nomeada  de  “dança-teatro” ou “teatro-dança”, segundo ele, pela mesma reunir

mais de cinquenta atores que se moviam ao som dos acordes musicais, sem

qualquer enunciação de falas.

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Esta é uma das definições que podemos dar a dança, ainda que o

conceito desta arte complexa apresente sentidos mais amplos.

Por outro lado, a dança não é, privilegiadamente, o domínio artístico

onde os conteúdos dramatúrgicos circulam de forma verbal e onde a

dramaturgia musical, em muitas de suas formas, é uma predominante.

A  ausência  desta  “predominância  verbal”,  não  é  obstáculo,  porém,  para  

que, nas variadas versões da dança-teatro, os artistas falem (vocalmente) de

maneira fragmentária e para que, em algumas criações da mais moderna

dança contemporânea, longos discursos sejam tecidos sobre assuntos

variados.

Neste  caso,  muitas  vezes,  “a  dança  pára  para  falar”.

Podemos refletir sobre o que nos apontam as palavras de Thomas, mais

precisamente em relação à sua atuação de homem de teatro, que ao poder

lidar com a dança fora dos padrões em que um artista da área o teria feito,

conseguiu, juntamente com o trabalho coreográfico de Suely Machado, nos

devolver momentos de inusitado frescor, de quase re-leituras feitas de fora

para  dentro,  no  caso  o  “lugar  de  fora”  ocupado  por  uma  visão  mais  teatral  e  o  

“lugar  de  dentro”  localizando  uma  topologia  mais  coreográfica.  

Num primeiro momento, no que diz respeito à presença de falas (vozes)

verbais, algumas delas são do próprio diretor, dubladas por bailarinos-atores

que  atuam  na  cena  como  espécies  de    seu  “alter  ego”.

Nestes   momentos,   o   “corpo   da   dança”   cede   espaço   para   o   “corpo   da  

palavra”,   reatualizando-se  a  discussão  que  opõe  a   “dança  pela dança ou/e a

dança  que  expressa  a  si  mesma”  contra  a  “dança  que  expressa  algo  para  além  

de  si  mesma”,  num  debate  que  data,  pelo  menos,  de  meados  do  século  XVII,  

tendo seu ápice na estruturação do ballet d´action (balé de ação), descrito por

Jean-Georges Noverre (MONTEIRO,1998), em sua publicação de 1759, as

Cartas sobre a dança. Em segundo lugar, no que toca a certos clichês da dança.

Há a cena (ou sucessão delas) onde o bailarino-penitente, que

chamaremos de bailarino-penitente-Cristo, assumindo a postura de uma

bailarino mais clássico, atravessa uma diagonal do espaço.

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Ele o faz aos pulos, à frente de uma mesa, em um ou dois grands jetés

(grandes pulos, onde o bailarino transfere seu peso de uma perna sobre a

outra).

Pula e pula para cair no chão escorregadio à força do sabão que outro

ator-bailarino aplicara anteriormente.

Este ator, um misto do personagem sádico do cartunista mineiro Henfil –

o Fradinho, capataz nazista de cuecas e depois dublê de Adolf Hitler, assume o

tempo todo uma postura perversa em relação   aos   “pobres   bailarinos”   e   esta  

cena é um bom índice de sua atuação.

O   “Fradinho”   vai   incentivar   o   bailarino-penitente-Cristo, a cair e a cair

muitas vezes, em quedas que são aplaudidas pelo elenco todo.

À primeira vista a cena nos remete diretamente, dentro de circuitos

empobrecedores da dança, à necessidade de uma certa ascese corporal, onde

o salto é a metáfora máxima (e única) da conquista da elevação.

Por isto a dança do bailarino-penitente-Cristo se assemelhar, nestes

momentos, àquela de um intérprete de um mítico pássaro voador, como nas

performances masculinas mal realizadas de um O Corsário (1856, Mazilier) ou

de um O Pássaro de Fogo (1910, Fokine).

Por outro lado, as falas iniciais referem-se, em citações de James Joyce

e Hegel, ao fim da história, e as quedas sucessivas do bailarino-penitente-Cristo (cujo nascimento marca o calendário histórico de uma época: antes e

depois  e  Cristo/AC  e  DC),  ao  escorregar  na  superfície  “ensaboada”  do  palco,  é  

uma imagem forte deste tipo de reflexão.

Assim como também o são as imagens suscitadas pelos personagens

Gandhi, Elvis Presley, Hitler e Napoleão Bonaparte que saindo de uma

televisão imensa colocada no palco, evoluem pelo palco até terminar seus

movimentos  em  um  “arabesque”.

Após a seqüência são abatidos a golpes de punhos pelo grupo de

mulheres, que se estrutura dentro de uma tribalidade feminina muito forte,

estabelecendo-se, durante o espetáculo, e durante longos períodos, uma bi-

polarização entre os universos de homem e de mulher, que muitas vezes se

interpenetram em cenas explicitamente construídas para quebrar ou realçar as

especificidades de cada um dos gêneros: masculino e feminino.

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Dentro disto temos a cena do banho de chuveiro num vestiário

masculino, onde pouco a pouco os jogadores vão se transformando (e

dançando) em quase seres alados esvoaçantes – as sílfides do balé.

Sob o mesmo chuveiro, a tribo de mulheres vai se banhar, se

desnudando pouco a pouco no final do espetáculo, antes de sustentarem

bonecos infláveis de super-heróis: Homem-Aranha, Super Homem, Capitão

América e Batman.

Gandhi, Presley, Bonaparte super-heróis da história convivem com os

super-heróis das histórias de quadrinhos e séries de TV, enquanto as moças

seguem   para   trás   do   palco,   para   compor   uma   imagem   de   “sustentar   a   lua

cheia”,  agora   já  não   tão   inacessível  assim,  posto  que  descida,  mais  baixinho,  

junto ao chão do palco.

Neste ponto, chega ao final A Breve Interrupção do Fim.

Como Atlas despidas, titãs de força e feminilidade, a obra termina com

as mulheres segurando a lua, satélite que em 1996 já havia aparecido no palco

do 1º Ato, onipresente no Desiderium (Tuca Pinheiro)

Lua como um astro, por milênios metáfora de metas a alcançar e, desde

1969, quando o primeiro astronauta pisa seu chão, metáfora do que pode ser

alcançado, posto ser solo possível de ser palmilhado por homens e mulheres.

O teatro pode ser, e é, território palmilhado pelos artistas do 1º Ato.

Neste sentido, A Breve Interrupção do Fim, como também nos conta o seu

título, não é uma obra final: é breve interrupção de algo, síntese de processo. É

passagem preciosa, dura e seca – “ópera  seca”  de  Gerald  Thomas.

4. Beijo nos olhos ... na alma ... na carne (1999), de Tuca Pinheiro

Em   “Beijo”,   o   Brasil   explode   através   dos   personagens   de     Nelson  

Rodrigues e também, como quer seu coreógrafo, mediante o aporte pessoal de

cada um dos intérpretes do 1º Ato, todos eles do Brasil.

Um cenário vermelho como carne, sinuoso em ondas e cheio de

reentrâncias (uma casa-corpo), apresenta-se pesado onipresente sobre o

palco.

No último nicho, à direita, há um vaso sanitário e uma janela, abertura

por onde se espiam coisas, forte imagem de voyeurismo. Estamos convidados

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a espiar o que se passará no palco, onde as estruturas dos personagens da

escrita de Rodrigues se transformam em dança, dança-teatro.

Como em uma vitrine, tudo se dá a ver, para depois se ocultar, o que

ocorre quando se nos apresentam os trechos onde o elenco dança em

conjunto.

Neste momento não há homens, nem mulheres, borrando-se as

características de cada personagem e isto acontece apesar da forte conotação

de gênero (masculino e feminino) dada aos intérpretes, também pelos figurinos

que eles portam.

Se certas partes da dança, muitas vezes, ocultam características

marcantes dos personagens, os entrechos (momentos em que o movimento se

abre para dar passagem às cenas mais dramáticas) , se sucedem de maneira

engraçada, trágica e muito, muito diversificada.

Numa delas, um homem vai ser chamado à cena, por uma voluptuosa

mulher loura, que entrando com uma caixinha de música, pousa-a no chão e a

faz funcionar.

Com um lenço na mão (símbolo de uma feminilidade dos anos 40 e 50)

insta o rapaz, olhos-nos-olhos, a lhe bater na cara.

“_  Me  bate,  Bezerra!”

O pedido não é atendido pelo bailarino-ator e a moça, inconformada

volta  à  carga:   “_  Bate,  eu   tô  pedindo.  Com  a  mão,  Bezerrão!”,  enquanto  sorri  

esfuziante. Nada acontece e exasperadamente a moça se afasta chamando-o

de frouxo.

Ela volta e pede novo tapa. O rapaz aquiesce. Depois do golpe, um grito

de covarde ecoa no ar e o rapaz dança um solo em profunda solidão.

O mesmo bailarino vai protagonizar uma antológica cena de aniversário

de casamento de 25 anos (bodas de prata) onde o espírito da comemoração é

penetrado pelo da tristeza de um amor não vivido com outra mulher.

No geral, as cenas são perpassadas de uma ironia que oscila entre o

pungente e o maroto, múltiplos registros de um país: o nosso.

Como marca de uma graça tragicômica, bordada de perversidade,

presente em certas ocasiões protagonizadas por membros de nossa pequena

burguesia: um chá da tarde, consumido numa chorus line (linha de coro), com

todo o elenco vestido de festa.

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O inusitado das ações frente às xícaras que portam nos pega de

surpresa, resultando num misto de inquietude e graça circense. Há de tudo:

uma bailarina se lava com o chá, um bailarino vira chafariz de praça e outros

dois trocam o líquido entre suas bocas, respingando perdigotos para todos os

lados.

A pungência de uma reflexão sobre o país estará em outra chorus line,

em um outro momento da criação. Ao som de pandeiros tocados ao vivo, uma

bailarina dança puxando seus cabelos, curtos e crespos, como se quisesse

arrancá-los.

A  elas  se  juntam  mais  três  moças  de  biquini,  anunciadas  por  um  “mestre  

de  cerimônias”  que  fala  francês  (“vamos  ver  o  exotismo, a beleza e o charme,

as  mulheres  brasileiras”). É uma cena de   “mulher for export”,  e  entre  solos  e  caminhadas de desfile de modas, as bailarinas dançam um samba, misto de

um sapateadinho pouco malemolente, socando o chão.

Abre-se um corredor de luz na beira do palco e sob o som de uma das

Bachianas de Villa-Lobos, as moças se medem e se apalpam, olhando para a

platéia. Retiram a parte de cima dos biquinis, tampando os seios com as

mãos/braços cruzados, os cotovelos apontados para cima.

Neste momento a luz ilumina somente seus torsos.

A  cena  aponta  para  um  debate  sobre  “as  mercadorias  do  Brasil”,  dentre  

as  quais  muitas  e  infelizmente  se  incluem  as  “gentes  do  Brasil”,  como  algumas  

de suas mulheres.

A genialidade desta solução cênica, que se repete muitas vezes na obra

como um todo, se fecha numa espécie de rito final, o foco se fechando sobre

um bailarino afro-brasileiro,  que  pela  primeira  vez  de  torso  nu,  “passa”  ,  repete  

em e por seu corpo trechos de movimentação de todo o espetáculo.

Este final é um dos únicos momentos em que o trabalho de composição

coreográfica se estrutura por justaposição de cenas ou de dinâmicas.

Referências

1. Referências bibliográficas

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Concepção, coreografia e direção: Suely Machado

Pesquisa e vocabulário coreográfico: Grupo 1º Ato

Trilha Sonora Original: Zeca Baleiro

MUNDO PERFUMADO - 2004 Direção: Suely Machado

Concepção e Direção Coreográfica: Alex Dias

Pesquisa Coreográfica: Grupo 1º Ato

Música Original: André Abujamra

SEM LUGAR - 2002 Direção: Suely Machado

Concepção e Direção Coreográfica: Tuca Pinheiro

Assistente de Direção: Paula Davis

Pesquisa Coreográfica: Grupo 1º Ato

Pesquisa Musical: Tuca Pinheiro

BEIJO NOS OLHOS... NA ALMA... NA CARNE – 1999 Direção: Suely Machado

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Concepção e Coreografia: Tuca Pinheiro

Pesquisa Coreográfica: Grupo 1º Ato

Pesquisa Musical: Tuca Pinheiro

A BREVE INTERRUPÇÃO DO FIM - 1997

Autoria, Direção, Cenografia e Trilha Sonora: Gerald Thomas

Direção Coreográfica: Suely Machado

DESIDERIUM – 1996 Direção: Suely Machado

Concepção e Coreografia: Tuca Pinheiro

Pesquisa Coreográfica: Grupo 1º Ato

Pesquisa Musical: Tuca Pinheiro

O CAVALEIRO DE COPAS – 1994 Direção Artística: Suely Machado

Concepção e Direção: Rodrigo Campos

Trilha Sonora e Edição: Rodrigo Campos

TIGARIGARI – 1993 Direção: Suely Machado

Concepção: Sônia Mota

Coreografia: Sônia Mota e Grupo 1º Ato

Assistente de Direção: Jacqueline de Castro

ISSO AQUI NÃO É GOTHAM CITY – 1992 Direção: Suely Machado

Concepção e Direção Teatral: Paulinho Polika

Coreografia: Paulinho Polika e Grupo 1º Ato

Assistente de Direção: Paula Davis

Pesquisa Musical: Grupo de Dança 1º Ato

CARNE VIVA – 1990 1ª parte: Uma solução de asfalto...acrescida de lágrimas.

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2ª parte: Retalhos do coração tecidos no profundo da alma...sorrisos.

Direção Geral: Suely Machado e Kátia Rabello

Concepção, Direção e Coreografia: Dudude Herrmann e Arnaldo Alvarenga

Assistente de Direção: Jacqueline de Castro

ADEUS - 1990 Coreografia: Luiz Arrieta

Música: Klauier Quartett/Gustav Mahler

Direção: Suely Machado

Assistente de Direção: Jacqueline de Castro

REFLEXÕES DO GESTO – 1990 Coreografia: Dudude Herrmann

Direção: Suely Machado

Assistente de Direção: Jacqueline de Castro

RAVEL – 1989 Coreografia: Arnaldo Alvarenga

Música: Concerto em Sol para piano e orquestra – Maurice Ravel

Figurino: Arnaldo Alvarenga

Direção: Suely Machado

Assistente de Direção: Jacqueline de Castro

QUEBRA CABEÇA – 1989 Concepção e Direção: Paulinho Polika

Figurino e Cenário: Paulinho Polika

Pesquisa Musical: Paulinho Polika e Grupo 1º Ato

CONFIDÊNCIAS PARA UMA 3ª PESSOA – 1988 UÍSQUE COM GUARANÁ Coreografia: Dudude Herrmann

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FELIZ ANIVERSÁRIO Coreografia: Bebeto Cidra

REALEJO DO DIA E DA NOITE Coreografia: Arnaldo Alvarenga

Assistente: Suely Machado

Criação e Roteiro: Eduardo Guimarães Álvares

CORPUS SUTIS Coreografia: Sérgio Funari

Assistente: Suely Machado

Direção: Suely Machado

ILUSÕES – 1986

Direção: Suely Machado e Kátia Rabello

Coreografia: Jairo Sette

TRÊS AVE-MARIAS E UM PAI NOSSO – 1985 (Mãe, que mulher é essa?) Criação e Roteiro: David Mundin

Coreografia: David Mundin e Eusébio Lobo

Direção Artística: Eusébio Lobo

Direção Teatral: Luciano Luppi

Assistente de Coreografia: Suely Machado

BONS MOTIVOS - 1982 O Sonho da Infância

I– Brincando

Coreografia e Texto: Suely Machado

II- Mariana e Gabriela Coreografia: Kátia Rabello

III- Lumiar Coreografia: Suely Machado

Do Sonho à Realidade

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I- Descoberta Coreografia: Suely Machado

II- Encontro Coreografia: Suely Machado

III- Caçador de Mim Coreografia: Janette Vetrolhieth

IV- Os Cavaleiros da Vida Coreografia: Suely Machado

Da Realidade ao Desejo

I- Mudanças Coreografia: Simone Caporali

II- No Corpo e no Coração Coreografia: Suely Machado

III- Cais Coreografia: Jairo Sette

Roteiro e Direção: Suely Machado

Assistentes de Coreografia: Kátia Rabello e Suely Machado