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História

Pernambuco no Contexto da Independência do Brasil

Professor Cássio Albernaz

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História

PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

A Província de Pernambuco no I e II Reinado

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No início do século XIX, uma grande mudança política aconteceu no Brasil: a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em função da ocupação francesa de Portugal. Isso provocou uma grande alteração no status da colônia (primeira e única vez na história em que a sede da metrópole transfere-se para a colônia), além de mudanças econômicas e sociais.

A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, foi um movimento emancipacionista que eclodiu em 6 de março de 1817, na então Capitania de Pernambuco, no Brasil. Dentre as suas causas, destacam-se a influência das ideias Iluministas propagadas pelas sociedades maçônicas (sociedades secretas), a crise econômica regional, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil — o Governo de Pernambuco era obrigado a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento do povo brasileiro. Foi o único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo revolucionário de tomada do poder.

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No começo do século XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades pernambucanas, tinham juntas cerca de 40 mil habitantes (o Rio de Janeiro, capital da colônia, possuía 60 mil habitantes). O porto do Recife escoava a produção de açúcar, das centenas de engenhos da Zona da Mata, e de algodão. Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos tinham participado de diversas lutas libertárias (Insurreição Pernambucana e Guerra dos Mascates).

As ideias liberais que entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros e de outras publicações, incentivavam o sentimento de revolta entre a elite pernambu-cana, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Em Pernambuco as principais foram o Areópago de Itambé, a Patriotismo, a Restauração, a Pernambuco do Oriente e a Pernambuco do Ocidente, que serviam como locais de discussão e difusão das "infames ideias francesas". Nas sociedades secretas, reuniam-se in-telectuais religiosos e militares, para elaborar planos para a revolução.

A fundação do Seminário de Olinda, filiado a ideias iluministas, deve ser levado em conside-ração. Não é por outro motivo que o levante ficaria conhecido como "revolução dos padres", dada a participação do clero católico. Frei Caneca tornar-se-ia um símbolo disso.

Dentre as causas imediatas, podemos destacar a presença maciça de portugueses na liderança do governo e na administração pública; a criação de novos impostos por Dom João VI pro-vocando a insatisfação da população pernambucana. Segundo escritor inglês então residente no Recife, era grande a insatisfação local ante a obrigatoriedade de se pagar impostos para a manutenção da iluminação pública do Rio de Janeiro, enquanto no Recife era praticamente inexistente a dita iluminação; a grande seca que havia atingido a região em 1816 acentuando a fome e a miséria, como consequência, houve uma queda na produção do açúcar e do algodão,

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que sustentavam a economia de Pernambuco, esses produtos começaram a sofrer concorrên-cia do algodão nos Estados Unidos e do açúcar na Jamaica; as influências externas com a divul-gação das ideias liberais e iluministas, que estimularam as camadas populares de Pernambuco na organização do movimento de 1817; a crescente pressão dos abolicionistas na Europa vinha criando restrições gradativas ao tráfico de escravos, que se tornavam mão de obra cada vez mais cara, já que a escravidão era o motor de toda a economia agrária pernambucana. O movi-mento queria a Independência de Pernambuco sob um regime republicano.

O movimento foi liderado por Domingos José Martins, com o apoio de Antônio Carlos de An-drada e Silva e de Frei Caneca. Tendo conseguido dominar o Governo Provincial, se apossaram do tesouro da província, instalaram um governo provisório e proclamaram a República. Mas as tentativas de obter apoio das províncias vizinhas fracassaram.

Tropas enviadas da Bahia, chefiadas por Luís do Rego Barreto, avançaram pelo sertão pernam-bucano, enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias 8000 homens cercavam a província. No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de Ipojuca. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Reci-fe. Em 19 de maio as tropas portuguesas entraram no Recife e encontraram a cidade abando-nada e sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.

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Dominada a revolução, foi desmembrada de Pernambuco, com sanção de João VI de Portugal, a comarca de Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis à Coroa, e como recom-pensa, puderam formar uma província independente. Apesar de sentenças severas, um ano depois todos os revoltosos foram anistiados, e apenas quatro haviam sido executados.

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Em 1818, D. João é proclamado rei (passa a ser D. João VI), em decorrência da morte de sua mãe. Porém o rei permanece no Brasil, deixando o comando de Portugal nas mãos de um general inglês, responsável pela expulsão dos franceses. Essa submissão revolta os portugueses, que em 1820 rebelam-se (Revolução do Porto). As lideranças do movimento constituem um governo provisório e convocam as Cortes, para votar uma Constituição e criar a monarquia constitucional. Diante de tais acontecimentos, D. João VI é obrigado a voltar para Portugal (em 1821).

O rei deixa seu filho, D. Pedro, como príncipe regente. Porém, as Cortes de Lisboa pretendiam “recolonizar” O Brasil, por ser a única colônia que ainda gerava lucros. Por isso, passaram a restringir a autonomia administrativa e os poderes de D. Pedro, além de exigirem o retorno do príncipe a Portugal.

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Muitos latifundiários e comerciantes brasileiros sentem-se prejudicados, e passam a apoiar a desobediência de D. Pedro. Surge o Partido Brasileiro, que tem dentre seus membros, Cipria-no Barata, grande nome envolvido na Insurreição Pernambucana. Um documento elaborado pelo partido reúne mais de 8 mil assinaturas pedindo a permanência de D. Pedro, que gerou o famoso dia do fico (9 de janeiro de 1822) e a determinação de que ordens vindas de Portugal só seriam acatadas mediante sua autorização.

Na sequencia, uma série de medidas adotadas por D. Pedro desagradaram a metrópole e pre-pararam o caminho para a Independência (convocação de uma Assembleia Constituinte, or-ganização de uma Marinha de Guerra, além de obrigar as tropas portuguesas a irem embora). Em 7 de setembro há o famoso Grito do Ipiranga e em 22 de dezembro do mesmo ano, ele é declarado Imperador.

Durante o processo de independência, em Pernambuco, duas alianças se formavam e disputa-vam o poder: centralistas e federalistas. Da disputa pelo poder, resultou a vitória daquela que viria a ser liderada pelos irmãos Cavalcanti de Albuquerque (centralistas), cuja influência foi tal que, na década de 1840, dizia-se que a província se tornara um feudo daquela família, resultan-do daí o citadíssimo soneto, cantarolado na época da Praieira (1848): "Quem viver em Pernam-buco, há de estar desenganado; ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado".

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O processo de maturação e disputa das alianças políticas em Pernambuco teve paralelos em várias outras províncias, onde não era certa a continuação da obediência ao Rio de Janeiro, de onde vinham as ordens desde 1808. O federalismo era uma bandeira extremamente atraente para vários setores das elites locais, que ficaram encantadas com a autorização das cortes revolucionárias em Portugal para que elegessem suas próprias juntas governativas. Esse arremedo de governo local, com o pleno controle das rendas internas das ex-capitanias, era parte da agenda dos liberais "moderados" federalistas.

A revolução do Porto desatou os elos entre as partes constituintes do reino. Em cada uma das províncias havia disputas locais para a formação das juntas governativas. Mas a autonomia fôra concedida pelas cortes reunidas em Portugal. Assim, a liderança carioca passou a ser vista com extrema desconfiança nas antigas capitanias.

A adesão de Pernambuco ao Rio de Janeiro, sob um regime monárquico autoritário, foi conseguida através de um golpe de Estado, urdido com o aval dos Andrada e apoio das tropas do exército. Ali o desejo por maior autonomia, e até separação, já era antigo entre muitos letrados e liberais mais "exaltados". Mas isso não significava aderir ao Rio de Janeiro. Muito pelo contrário. Veio de lá a repressão a 1817, quando as tropas fiéis à Sua Majestade fidelíssima chegaram ao cúmulo de executar até padres. Vista sob este prisma, a Confederação do Equador pode ser entendida como uma radicalização tardia de uma proposta federalista moderada, cujos defensores estiveram no poder em Pernambuco quando governou a província a primeira junta de governo entre 1821 e 1822, eleita de acordo com as provisões exaradas pelas cortes constitucionais do Porto.

Mesmo admitindo-se que a maioria das elites locais era favorável à separação de Portugal (uma proposta no mínimo discutível), não há porque pensar que a alternativa preferida fosse a constituição de um novo país tendo Pedro como Imperador. Havia um verdadeiro descompasso entre a posição do Rio e de algumas capitanias mais antigas, como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Pará.

O resultado prático mais imediato da revolução do Porto foi a demissão dos governadores provinciais, nomeados pelo rei, e a formação de Juntas Provisórias de governo, eleitas pelas Câmaras. As províncias ganharam mais autonomia do que tinham antes, ou mesmo do que viriam a ter durante o resto do período imperial. O governo local foi de fato exercido durante este curto período, entre 1821 e 1822. Não é difícil compreender, portanto, porque houve gente que preferia a manutenção dessa situação à aventura da independência a qualquer custo, muito menos a reboque da nova corte que se constituía em torno do príncipe regente.

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O último governador régio de Pernambuco foi o General Luís do Rego. Provado nos campos de batalha contra Napoleão, era um homem talhado para segurar as rédeas de uma província saída de uma revolta das dimensões de 1817. Como seria de se esperar de um militar experiente, acompanhou com desconfiança e cautela o desenrolar dos acontecimentos em Portugal e no Rio. Os liberais só entraram num clima de euforia a partir do dia 06 de maio de 1821, quando desembarcaram, anistiados, os rebeldes que haviam sido presos em 1817. A maioria deles, todavia, preferiu se instalar na vila de Goiana, perto da fronteira com a Paraíba, do que ficar bem vigiada pelo General no eixo Recife-Olinda. A constituição portuguesa foi jurada no Rio de Janeiro no dia 21 de abril. Mas Luís do Rego só fez o mesmo em Pernambuco no dia 11 de julho.

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Era grande a pressão sofrida pelo governador. As cortes o viam como um representante do Ancién Regime, embora se entendesse a situação peculiar de Pernambuco que precisava de um laço forte, haja vista o que acontecera quatro anos antes. A aristocracia agrária pernambucana, por sua vez, pretendia formar uma junta de governo local, como em outras províncias. Controlando de perto as Câmaras de Recife e Olinda, Luís do Rego procedeu à eleição dos 07 representantes de Pernambuco às cortes, o que deixou profundamente insatisfeita a oposição local. Foi em meio a rumores de todos os tipos que um tresloucado personagem, desses que aparecem de vez em quando para turvar um pouco mais os rumos do mundo, tocaiou e atirou em Luís do Rego no dia 21 de julho. Ninguém nunca soube suas reais motivações, embora de tudo já tenham dito um pouco os cronistas locais ufanistas. Herói, ou maluco simplesmente, na fuga, o infeliz personagem morreu afogado. Mas Luís do Rego fôra ferido. Sem saúde, era mais difícil manter a firmeza de antes. No dia 30 de agosto de 1821, obedecendo às novas diretrizes, o General formou a sua própria junta de governo, e anunciou a medida às outras províncias. Colocou então o cargo à disposição, mas não houve quem assumisse o seu lugar.

Um dia antes, em 29 de agosto, militares, milicianos, plantadores e ex-rebeldes de 1817 mobilizaram-se em Goiana, formando uma outra junta provisória. A "junta de Goiana" enviou um ultimato ao governador no dia 1º de setembro de 1821, ameaçando tomar o Recife, caso o general não entregasse o cargo. Ao contrário do que se poderia esperar de um general bem treinado, Luís do Rego mostrou moderação nesse momento. Ao enviar tropas para investigar o que ocorria em Goiana, deixou claro ao comandante que a sua missão era de paz e não de guerra.

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Os membros da Junta de Goiana começaram a ser tratados como rebeldes. Como sempre acontecia no Brasil escravista, temia-se também que a oportunidade fosse aproveitada pelos negros e pardos para uma insurreição mais ampla. Luís do Rego acusou a Junta de Goiana de armar negros nos subúrbios e insuflá-los contra os habitantes do Recife. No dia 21 de setembro de 1821, houve refregas entre as forças de ambas as Juntas. Uma ao norte, em Olinda, outra em Afogados, ao sul do Recife. As escaramuças repetiram-se no dia 1º de outubro. Luís do Rego acusava os anistiados de 1817 pela agitação.

https://tokdehistoria.com.br/tag/seculo-xix/

Com a província quase em guerra, resolveram dialogar. No dia 05 de outubro de 1821, reuni-ram-se os representantes da Junta de Goiana e do General português na povoação de Beberi-be, na saída para o interior, entre Recife e Olinda. Chegaram a um acordo. A cidade do Recife ficaria com o governador. O resto com a Junta de Goiana. Isso até a eleição de uma nova Junta, conforme as instruções que se esperava de Portugal. É relevante notar, que o "procurador" do Recife nessa reunião foi Gervásio Pires, comerciante de grosso trato, senhor de engenho, e um dos rebeldes de 1817 anistiados. Quem o acompanhava na empreitada era um outro ex-rebel-de de 1817, Luís Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque - um dos irmãos Cavalcanti: o mais brilhante deles, diria anos depois o Marquês de Paraná.

No dia 26 de outubro de 1821, formava-se então a primeira Junta de Governo de Pernambuco. À frente dela estava eleito o próprio Gervásio Pires, o homem que intermediara a negociação entre o governador português e os liberais mais exaltados de Goiana. Com o afastamento do governador português, as disputas internas entre as elites locais tornaram-se mais claras. Dei-xando de lado os "pés de chumbo", sempre opostos à chamada "causa do Brasil", os liberais radicais republicanos, e os negros que queriam haitianizar a América portuguesa, pode-se per-ceber a paulatina cristalização de duas tendências principais entre as elites locais.

Uma delas, melhor articulada com o projeto urdido no Rio de Janeiro, era favorável à união das províncias sob a liderança do príncipe regente. Chamaremos essa tendência de centralista, termo emprestado da historiografia sobre o liberalismo na América Latina muito apropriado quando se olha a construção do Estado nacional de fora do eixo das províncias do sudeste que viriam a deter a hegemonia política a partir do primeiro reinado. Essa tendência congregava muita gente da antiga aristocracia açucareira, e viria a ser liderada pelo Morgado do Cabo, su-cedido pelos irmãos Cavalcanti.

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A outra tendência era a federalista: tanto fazia a sede do reino ser no Rio como em Lisboa - ou até nos dois lugares - desde que fosse mantida a autonomia provincial, conquistada com a Re-volução do Porto. Essa segunda tendência era liderada por Gervásio Pires, que assumiu o go-verno provincial em outubro de 1821.

Vale salientar que essas duas facções obviamente não eram partidos pré-concebidos e coesos.

O grupo centralista, favorável à união das províncias em torno do projeto de José Bonifácio, juntava uma boa parte da aristocracia agrária mais antiga e muitos dos comerciantes de grosso trato bem estabelecidos. Sob o ponto de vista econômico e político, iriam se aliar à corte no Rio de Janeiro justamente por terem se beneficiado do sistema vigente direta ou indiretamente, afinal de contas o sistema colonial não teria durado tanto sem a ajuda de uma oligarquia local, que ganhava dinheiro, poder e status com o regime. Essa elite pagava um preço pelos limites impostos à expansão de seus negócios de exportação. Mas, em troca, ganhava a garantia da permanência das estruturas de poder da qual fazia parte, mesmo como parceiros secundários. Isso incluía todo um conjunto de prerrogativas que, na prática, se traduziam no apoio real ao domínio exercido localmente. Inclusive culturalmente sentiam-se mais como portugueses do Brasil do que com alguma identidade própria, diferenciada, brasileira propriamente dita. O na-cionalismo ufanista da historiografia colonial brasileira costuma disfarçar a colaboração interna ao sistema. Mas esse dado é relevante para entender a dominação portuguesa por tanto tem-po, com tão pouca tropa estacionada no Brasil.

Uma vez mantido o poder no Rio, fosse ou não feita a independência de Portugal, acreditavam, em primeiro lugar, que nada seria mexido. Caso o Brasil adquirisse sua soberania, continuariam ganhando o livre acesso ao comércio externo - que aliás já tinham em 1821-22. Em segundo lugar, ganhariam finalmente o pleno controle das rendas derivadas dos impostos arrecadados.

Socialmente, desejavam títulos de nobreza e fidalguia, que não eram em absoluto irrelevantes, numa época em que o Estado ainda não era esse ente impessoal a que estamos acostumados hoje em dia. Os antigos barões do açúcar não se satisfaziam mais em serem barões apenas (no sentido metafórico da palavra), queriam se tornar efetivamente nobres. A monarquia centraliza-da no Rio poderia assim vir a ser do agrado de muitas famílias fidalgas mais antigas da província, desde que ajustada de forma a conceder-lhes mais alguns privilégios mantendo os que já tinham.

Além dessas vantagens, dentro de uma perspectiva bastante prática, entendiam que o apoio do Rio de Janeiro se traduziria no suporte militar da Coroa quando tivessem que enfrentar seus adversários locais, fossem esses quilombolas, índios ou os vizinhos. Isso não era pouco, como ficou evidente na demonstração de força do exército que esmagou 1817.