Perrone Musica Popular Romance

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    1/20

    A Msica Popular num Romance Brasileiro de Trinta: Das "Memrias de um Sargento deMilcias a Marafa"Author(s): Charles A. PerroneSource: Latin American Music Review / Revista de Msica Latinoamericana, Vol. 3, No. 1(Spring - Summer, 1982), pp. 73-91Published by: University of Texas PressStable URL: http://www.jstor.org/stable/780244.

    Accessed: 12/04/2014 21:21

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    2/20

    Charles

    A.

    Perrone

    A

    Musica

    Popular

    num

    Romance Brasileiro de

    Trinta: Das Memorias de um

    Sargento

    de Milicias

    a

    Marafa

    A

    preocupa~ao

    fundamental

    que

    informa

    grande

    parte

    da obra

    romanesca brasileira da

    epoca

    de

    trinta

    e a de

    retratar

    a

    brasilidade

    do

    homem nacional e suas

    estruturas

    de

    pensamen-

    to

    e

    comportamento.

    Nao

    e de

    estranhar,

    portanto,

    que

    muitos autores

    daquele

    estagio p6s-Modernista

    se valham

    artisticamente

    do

    riquissimo

    cancioneiro

    folclorico. Pertencem

    quase

    exclusivamente ao chamado ciclo

    nordestino

    aqueles

    ficcionistas

    que

    integram

    cantorias

    e

    velhas

    cantigas

    na sua

    narrative a fim de melhor

    configurar

    os

    espacos

    referenciais

    humanos e

    geograficos

    que

    fundamentam

    a

    visao ficcional.

    Os

    exemplos

    do

    aproveitamento

    literario

    de

    textos

    liricos

    de can?oes de

    fundo

    folclorico

    sao assaz

    abundantes, e,

    alem de

    numerosos

    enfoques

    tradi-

    cionalistas ou

    enumerativos,

    ja

    existem

    estudos

    que

    mostram tanto

    a

    presenca

    quanto

    a funcionalidade

    textual de

    tais

    trechos nos

    romances

    de

    escritores

    exemplares

    como

    Jose

    Americo de

    Almeida,

    Rachel de

    Queir6s,

    e

    Jose

    Lins

    do

    Rego.t

    Em

    termos

    quantitativos

    e

    comparativos,

    os romances brasileiros da

    mesma faixa historica (1928-1945) que podem ser associados a um ciclo

    urbano,

    assim

    como a

    presenca

    da

    musica

    popular

    urbana em

    obras

    de

    ficcao,sao

    muito menos

    freqientes. Apenas

    para

    assinalar

    alguns

    casos

    indicativos,

    poderiam apontar-se

    o romance urbano de

    Amado

    Fontes,

    Rua do

    Siriri

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Jose

    Olympio,

    1937),

    e

    os romances

    in-

    iciais do

    baiano

    Jorge

    Amado.

    Na

    obra do

    primeiro, aparece

    tao so

    um

    trecho

    de

    cancao

    sentimental,

    que

    corresponde,

    alias,

    ao

    designio

    global

    da

    narracao.

    Em

    O

    paz's

    do

    carnaval

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Schmidt,

    1931),

    Jorge

    Amado,

    cuja utilizacao de elementos do lirismo popular da sua terra natal e

    not6ria,

    faz

    figurar,

    para

    fins

    ambientais,

    um

    verso

    da musica car-

    navalesca

    "Da

    nela"-um dos

    primeiros

    sucessos musicals de

    Ary

    Latin American Music

    Review,

    Vol

    3,

    No

    1,

    Spring/Summer

    1982

    ?1982

    by

    the

    University

    of

    Texas Press

    0163-0350/82/010073-19$01.70

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    3/20

    74

    :

    Charles

    A. Perrone

    Barroso,

    compositor

    monumental

    da muisica

    popular

    urbana.2 Em

    Jubiabd

    (Rio

    de

    Janeiro: Jose Olympio,

    1935)

    e

    Capitaes

    da areia

    (Rio

    de

    Janeiro: Jose Olympio,

    1937)

    inclui

    fragmentos

    de letra de samba urbano

    e de valsa

    que

    nao encerram maior

    importancia.

    Em

    contraste

    com

    uma

    serie de romances de trinta nos

    quais

    a

    cancao folclorica nordestina exerce

    uma

    funcao

    apreciavel,

    nestes

    casos do

    aparecimento

    da muisica

    popular

    urbana o

    papel

    que desempenha

    no

    esquema

    narrativo

    e

    pequeno

    e

    relativamente

    insignificante.

    Nesta

    conjuntura

    merece

    especial

    atendao o romance

    Marafa

    de Mar-

    ques

    Rebelo,

    obra

    destacada do ciclo urbano

    do romance

    de

    trinta

    no

    Brasil.3

    A

    presenca

    de

    muisica

    popular

    da

    epoca

    e constante nesta

    hist6ria

    profundamente

    carioca. Um dos elementos mais

    coloridos no

    painel

    social

    que

    Rebelo

    pinta

    e

    precisamente

    o do lirismo

    da

    cancao

    em suas diferentes

    manifestaobes.

    Muito mais do

    que

    um

    componente

    aleat6rio do mundo

    ficticio,

    este

    aspecto

    da

    plasmacao

    revela-se

    como

    um

    fenomeno

    significante

    e

    integrado

    na

    estruturacao

    da obra. Ate certo

    ponto, poderia

    estabelecer-se um

    paralelo

    entre o

    surgimento

    desta obra

    singular

    e o florescimento

    e a

    sistematizaao

    da musica

    popular

    carioca,

    refletidos

    apreciavelmente

    no

    universo

    ficcional

    de

    Marafa.

    Antes de

    proceder

    a

    evidencia textual destas

    asseveragoes, porem,

    convem indicar os

    paradigmas

    da

    historia literaria brasileira nos

    quais

    este romance

    de

    Marques

    Rebelo se

    insere. Tratando-se

    de

    uma

    historia

    que gira

    ao

    redor da vida

    na

    cidade do Rio de

    Janeiro,

    a obra

    pertence

    a

    um ciclo criticamente

    fixado

    desde

    as

    observacoes

    de

    Astrojildo

    Per-

    eira no estudo "Romancistas

    da cidade:

    Macedo,

    Manuel Antonio e

    Lima Barreto."4 Os

    parametros cronologicos

    do livro

    em

    que figura

    este

    artigo

    (1752-1930)

    excluem

    a

    producao

    de

    Marques

    Rebelo;

    a

    ausencia

    do maior

    dos romancistas

    brasileiros,

    Machado de

    Assis,

    teria

    uma outra

    explicagao. Afranio Coutinho, o organizador do mais amplo estudo da

    hist6ria

    literaria

    brasileira,

    apresenta

    Marques

    Rebelo como

    "integrando

    a familia dos ficcionistas

    da vida

    carioca,

    Manuel Antonio de

    Almeida,

    Machado

    e Lima Barreto."5

    No

    que

    se refere

    a

    especificidade

    do

    presente

    enfoque,

    o

    relacionamento

    entre estes antecessores

    e

    o autor de

    Marafa supera

    a coincidencia do

    espago

    narrativo

    escolhido,

    pois

    todos os

    citados

    assinaram romances

    que

    oferecem

    algum

    reflexo das

    praticas

    musicais

    urbanas de

    suas

    respectivas

    decadas.

    O

    recem

    saido estudo

    do

    maestro

    Baptista

    Siqueira,

    Fic;do

    e

    muisica

    Rio

    de

    Janeiro:

    Folha

    Carioca, 1980), particulariza aspectos do gosto musical carioca do seculo

    XIX

    e de

    comecos

    do

    XX,

    conforme

    lhe

    possiblitam

    faze-lo

    passagens

    de romances desde Teixeira

    de Sousa ate Lima Barreto. Feita

    desde o

    angulo

    da

    historiografia

    musicologica-com

    escassos

    julgamentos

    literarios-a

    monografia

    do

    pesquisador

    estabelece

    a

    base,

    delinea a

    materia

    bruta,

    para aqueles

    interessados

    eventuais

    que desejarem

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    4/20

    A

    Mu'sica

    Popular

    num

    Romance

    Brasileiro : 75

    investigar

    a

    funcionalidade

    artistica destes fenomenos musicais

    como

    componentes

    de

    uma

    estrutura

    verbal

    independente

    da esfera

    referencial

    a qual pertencem em termos s6cio-hist6ricos.

    A

    questao

    da

    integracao

    de tradi?5es

    populares,

    como as lirico-mu-

    sicais,

    no

    processo

    narrativo e abordada de

    passagem por

    Antonio

    Can-

    dido,

    um

    dos mais

    distinguidos

    criticos

    do

    Brasil,

    em seu

    estudo

    de

    Manuel Ant6nio

    de

    Almeida,

    "Dialetica da

    malandragem

    (Caracteriza-

    cao das

    Memdrias de

    um

    sargento

    de

    milicias)."6

    Em

    termos

    mais

    especificos,

    o

    evoluido

    sentido critico deste

    artigo

    apresenta

    orienta?oes analiticas

    assaz valiosas

    para

    a

    apreciacao

    dos

    costumes

    populares

    como elementos

    constitutivos

    de

    uma dinamica

    ficcional. Mais

    adiante voltar-se-a

    sobre

    este

    particular.

    Em

    termos

    mais

    gerais,

    o

    trabalho

    do Professor Candido estabelece as

    caracteristicas

    de

    outro

    paradigma

    da hist6ria literaria brasileira:

    o

    ro-

    mance malandro. Elaborado

    a

    partir

    das

    peripecias

    e astuicias de um

    her6i

    que

    opera

    fora

    da ordem social oficializada e

    institucionalizada,

    este conceito critico-analitico oferece ricas

    possibilidades para

    a

    avaliaco

    de

    Marafa,

    continuacao

    de uma serie

    literaria

    gerada pelo

    modelo das

    Memorias de um

    sargento

    de

    mil'cias.

    Se bem

    que

    o

    desenvolvimento

    cuida-

    doso desta

    abordagem

    no caso do romance de

    Marques

    Rebelo

    mereca

    um estudo a

    parte,

    ha de

    imp6r-se

    aqui

    a consideracao do fator da mal-

    andragem

    (como

    fenomeno socio-cultural

    e

    literariamente

    paradigma-

    tico),

    porquanto

    representa

    tambem em

    Marafa parte

    basica da materia

    romanesca,

    e

    porquanto

    esta tematica

    implica

    inexoravelmente a

    pre-

    senca

    da musica

    popular.

    Sendo

    elemento

    constitutivo essencial

    deste

    setor

    socio-cultural,

    conforme elucida

    a

    "sociologia

    do dilema

    brasileiro"

    cabalmente

    desenrolada

    por

    Roberto da Matta

    em

    Carnavais,

    malandrose

    herois,7

    o canto

    representativo

    da

    malandragem

    nao

    poderia

    faltar numa

    criacao

    literaria

    da

    natureza de

    Marafa.

    Em

    qualquer

    caso,

    a

    simples presenca

    de cenas musicais

    ou de trechos

    liricos

    em

    um

    texto

    literario nao

    garante

    sua

    efetividade

    estetica contex-

    tualizada.

    Neste sentido convem

    reproduzir

    os

    juizos

    de

    Antonio

    Can-

    dido sobre o valor

    documentario

    de costumes

    e

    tradi?oes

    populares

    no

    romance celebre de Manuel

    Antonio de Almeida. Considerando

    que

    fazer

    figurar praticas

    sociais reais na

    obra "se

    poderia

    chamar de for-

    malizacao

    ou

    reducao

    estrutural dos dados

    externos,"

    o estudioso

    passa

    a

    verificar tres niveis de

    narracao:

    (1)

    os

    pr6prios

    atos dos

    personagens;

    (2) os

    usos e

    costumes da sociedade; e (3) comentarios judicativos.

    Quando

    Candido observa

    resultados textuais no caso das Memorias de um

    sargento

    de

    milicias,

    oferece no

    processo

    modelos de

    avaliacao

    que poderao

    servir no caso

    de

    Marafa.

    Dirigindo-se

    a

    posicao

    no texto dos usos

    populares

    e

    costumes, diz,

    Quando

    o autor os

    organiza

    de

    modo

    integrado,

    o

    resultado

    e

    satisfat6rio

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    5/20

    76

    : CharlesA.

    Perrone

    e

    n6s

    podemos

    sentir a realidade.

    Quando

    a

    integracao

    e

    menos

    feliz,

    parece-nos

    ver uma

    justaposicao

    mais ou menos

    precaria

    de elementos nao

    suficientemente

    fundidos,

    embora interessantes

    e

    por

    vezes encantad6res

    como

    quadros

    isolados. Neste ultimo caso

    e

    que

    os usos

    e

    costumes

    aparecem

    como

    documento,

    rontos para

    a

    ficha dos

    folcloristas,

    curiosos

    e

    practicantes

    da

    petite

    histoire.8

    Reginaldo

    Guimaraes

    exemplifica

    o

    tipo

    de

    pesquisa

    referido no

    fim da

    citacao,

    havendo assinado

    Ofolclore naficfdo

    brasileira,

    um

    levantamento

    das manifestacoes musicais

    e

    festivas no

    romance analisado

    por

    Candido,

    sem nenhuma

    intencao

    extra-documental.9

    Perante o

    texto

    em

    si,

    a

    distincao entre o documentario e o integrado e significativa. Por um

    lado,

    Candido ressalta

    a

    existencia

    de uma

    "desintegracao

    dos elementos

    constitutivos."

    Esta ocorre no

    capitulo

    17

    das

    Memorias,

    onde

    e

    tematizada

    uma

    procissao

    tradicional como

    bastidor

    para intrigas

    entre

    personagens.

    "Apesar

    de

    interessante,

    tudo

    nele esta

    desconexo,"

    con-

    forme continua

    observando

    o

    critico.

    Em

    contrapartida,

    a

    capoeiragem

    [luta

    corporal

    afro-brasileira]

    do

    capitulo

    15 "e

    parte

    constitutiva

    da

    acao,

    de maneira

    que

    nunca

    parece que

    o

    autor

    esteja

    informando

    ou

    desviando

    a nossa atencao

    para

    um

    traco

    da sociedade."10 Assim o autor

    consegue conciliar intencoes retratistas/costumistas e as exigencias de

    uma

    tecnica narrativa

    consistente.

    Esta

    especie

    de exito artistico identificado

    por

    Antonio

    Candido em

    determinados

    quadros

    deste romance

    e

    modelar,

    por

    assim

    dizer,

    e

    con-

    stitui um

    marco de referencia

    para

    os momentos

    musicalizados

    em

    Marafa,

    romance

    tambem escrito

    a

    base

    de

    uma

    sucess5o

    de

    quadros.

    Sendo

    que

    as

    amplas

    intencoes

    criticas

    de Candido trascendem

    o nivel

    especifico

    da

    musica

    popular,

    nao se

    pode

    senao

    lamentar

    que

    ele nao

    se

    tenha

    debrucado

    em

    particular

    sobre

    alguns

    quadros

    onde

    aparecem

    tex-

    tos de canqoes, para verificar ate que ponto se da ali o feliz encontro da

    funcionalidade

    textual

    e da

    referencialidade

    costumista.

    Se bem

    que

    faltem

    comentarios

    especificos

    dele

    sobre uma

    cena

    em

    que

    a futura

    namorada

    do her6i canta

    uma toada

    sedutora,

    pode

    inferir-

    se

    que

    Candido a consideraria um caso de

    integracao, pois

    pertence

    a

    parte

    do

    romance

    onde

    o

    autor,

    na

    opiniao

    do

    critico,

    supera

    as

    "descric6es

    estaticas,"

    dissolvendo usos

    e

    costumes

    "na

    dinamica

    dos

    acontecimentos'""

    A

    esta altura

    do enredo

    a linha

    narrativa

    se concentra

    na

    mudanca

    afetiva do

    her6i. Assim os

    versos

    que

    lhe canta

    uma

    moca

    cativante nao sao nada arbitrarios:

    Se os

    meus

    suspiros pudessem

    Aos teus ouvidos

    chegar,

    Verias

    que

    uma

    paix.ao

    Ter

    poder

    de

    assassinar.'2

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    6/20

    A

    Musica

    Popular

    num

    Romance

    Brasileiro

    :

    77

    Um

    pouquinho

    antes desta

    apresentasao,

    sugere-se

    que

    ela cante

    a

    composicao

    "Quando

    as

    glorias gozei."

    A

    personagem

    decide

    nao

    canta-la,

    e o texto da

    cancao

    nao e relatado. Se a

    opcao porventura

    parecer

    arbitraria,

    cotejem-se

    os dois textos

    reproduzidos por Baptista

    Siqueira

    e ver-se-a

    que

    o

    sentido

    do

    que

    o

    romancista

    escolheu cor-

    respondia

    muito mais aos

    designios

    do

    quadro

    e da linha

    narrativa em

    vias de

    desenvolvimento.'3

    Ao

    mesmo

    tempo

    este

    quadro

    do romance oferece

    um

    ponto

    de

    refer-

    encia valioso

    para

    quem

    investiga

    a

    realidade musical das

    primeiras

    decadas do seculo

    XIX

    no Brasil. Ambos os titulos mencionados

    por

    Manuel

    Ant6nio

    de Almeida

    sao modinhas-cancoes

    amorosas

    para

    uma

    voz e

    acompanhamento

    de

    viola

    que

    comecaram

    a

    aparecer

    na

    corte de

    Lisboa

    nas uiltimas decadas do seculo

    XVIII,

    executadas

    pelo

    brasileiro

    Domingos

    Caldas

    Barbosa,

    autor e

    interprete

    de

    cantigas

    indecorosas

    para

    seu

    tempo

    que

    ganhavam

    cada vez mais o interesse de

    compositores

    (para

    cravo

    e

    piano),

    de

    consumidores

    de

    salao,

    e eventualmente

    do

    povo

    comum.

    4

    Alem das naturais influencias da

    metr6pole

    sobre a

    colonia-inclusive

    em

    gosto

    musical-circunstancias

    hist6ricas

    im-

    previstas

    criaram

    uma

    situacao s6cio-musical

    que

    seria refletida

    em

    paginas

    literarias.

    O musicologo

    brasileiro

    Bruno Kiefer diz

    ao

    respeito:

    "Certamente

    a vinda da corte

    portuguesa

    muito contribui

    para

    a

    difusao

    da modinha nos sal6es

    da nossa

    terra.

    E

    deu-se

    entao

    um

    fato notavel:

    a

    modinha,

    originalmente

    mulsica

    de

    saldo,

    irradiou-se

    rapidamente

    ara

    as camadas

    populares

    (grifo

    original).

    . . .

    Leiam-se,

    neste

    sentido,

    as Memorias

    de

    um

    Sargent

    de

    Milz'cias

    de Manuel

    Ant6nio

    de

    Almeida,

    notavel

    pela

    descricao

    dos costumes

    na

    epoca

    de D.

    Joao

    VI."'1

    A

    irradiaiao

    da

    modinha fora dos

    saloes,

    exemplificada

    na

    presenca

    de

    "Se

    os meus

    suspiros pudessem"

    e

    "Quando

    as

    glorias

    gozei"

    na

    reuniao dos personagens literarios de estatura humilde, da lugar ao

    chamado

    "folclore de

    absorcao":

    a

    transmissao

    oral e

    a

    variacao

    melodica ou

    lexica de

    cancoes

    de

    compositor

    fixo

    divulgadas

    por

    meios

    escritos.

    A

    ocorrencia hist6rica destes

    fenomenos

    pode

    ser

    colegida

    apresentacao

    literaria das

    praticas

    lirico-musicais do Rio de

    Janeiro

    da

    epoca

    do

    rei,

    marco

    temporal

    do romance

    em

    questao.

    Baptista

    Siqueira

    comenta

    detalhadamente

    as

    passagens

    de modinha

    na

    obra de Manuel

    Antonio.16

    Ha

    outras

    instancias de trechos lirico-musicals

    nas Memdrias

    de

    um

    sargento

    de milicias.

    0 caso das modinhas

    comentadas, todavia,

    e o

    que

    melhor demonstra a riqueza potencial da obra para o pesquisador pro-

    priamente musicologico

    ao lado

    de um

    exemplo

    cabal da

    utiliza(ao

    ar-

    tisticamente

    habil

    do

    repert6rio

    do

    povo

    da

    epoca.

    Entre

    a

    fixacao

    cronologica

    das

    Memdrias

    (comecos

    do seculo

    XIX)

    e a

    de

    Marafa,

    decorrem mais de

    cem

    anos.

    Manuel Antonio de Almeida

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    7/20

    78 : Charles

    A.

    Perrone

    plasma

    um

    Rio de

    Janeiro

    em

    que

    a

    diversao lirico-musical das massas

    se mantinha

    principalmente

    no nivel

    folclorico: o

    batuque

    e cantos afins

    dos escravos africanos17

    (praticamente

    ausentes da narrativa conforme

    cabal

    observacao

    de

    Candido no trabalho

    citado),

    o

    cancioneiro luso-

    brasileiro

    tradicional,

    e

    cantigas

    de

    tipo

    religioso, por

    exemplo.

    A

    musica

    popular

    urbana

    por

    si

    apenas

    esta em fase embrionica no

    que

    se

    diz

    respeito

    a

    definiaio

    de

    generos

    e ao

    amplo

    reconhecimento de

    autores.

    Para

    quando

    Manuel

    Antonio de Almeida escreve seu

    romance

    (1853)

    versos

    de

    modinha

    ja

    circulavam

    em folhetos

    (lyras)

    e

    vendiam-se

    regularmente partituras

    de musicas

    para

    consumo

    geral,

    mas ele retrata

    literariamente

    a

    cidade de

    meio seculo antes.18

    Marques

    Rebelo,

    em

    contraste,

    plasma

    um

    Rio de

    Janeiro

    em

    que

    estao

    caracterizados

    e

    distinguidos

    os

    generos

    da

    muisica

    popular:

    o

    sam-

    ba,

    estilizaao citadina de

    velhas formas de

    remota

    raiz

    africana,

    de

    for-

    magao

    muito

    discutivel mas de

    importancia

    indiscutivel

    para

    as

    camadas

    sociais

    retratadas no

    romance;"9

    a

    marcha,

    derivada da

    polca europeia

    importada

    e

    adaptada

    as

    exigencias

    da

    expressao

    carnavalesca;20

    a

    sen-

    timental valsa de serenata e

    o

    genero

    afin,

    a

    modinha,

    revitalizada nos

    bairros

    urbanos no seculo

    XX

    ap6s

    uma

    ampla

    folclorizaao ao

    longo

    do

    seculo

    XIX.

    Alem

    do

    Inais,

    a

    figura

    e

    concepgao

    do "malandro" e

    qualitativa-

    mente

    mais diferencial

    no ambito

    urbano

    da

    quarta

    decada

    deste seculo.

    Na

    epoca

    das

    Memorias,

    "malandro"

    ja

    conota

    aquele

    que

    nao trabalha

    e

    que

    vive

    deslocadamente,

    conforme

    presencia-se

    no

    comportamento

    do

    personagem principal daquela

    obra.2'

    Mas ate 1930

    efetuam-se

    grandes

    transformao;es

    na

    sociedade

    brasileira-formagao

    da

    republica,

    abolicao

    da

    escravatura,

    emigraao

    massiva

    para

    as

    cidades,

    urbanizacao

    e

    estratificagao

    social

    gerais,

    amplo

    desemprego

    e

    subemprego, surgimento

    de

    subculturas urbanas (nas favelas, por exemplo)-e, como e de se

    esperar,

    a

    imagem

    do malandro vai

    adquirindo

    outras

    associaSoes,

    entre

    elas a de

    certo

    comportamento

    vital

    (ostentagao, despreocupagao,

    sobrevivencia

    pela

    astucia)

    e

    lirico-musical. Esta

    ultima sera

    amplamente

    aproveitada

    por

    compositores

    dos anos vinte e trinta

    e,

    como se con-

    statara

    em

    seguida,

    pelo

    genio

    literario de

    Marques

    Rebelo,

    criador de

    uma

    nova

    "dialetica da

    malandragem"

    em

    seu

    romance

    Marafa.

    Segundo

    o

    vocabulario

    incluido

    na

    segunda

    edicao

    do

    romance,

    "marafa"

    quer

    dizer "vida

    libertina,

    desregrada.

    "

    Desta

    maneira,

    percebe-se a partir do titulo um dos dois eixos fundamentais do livro. Ot-

    to Maria

    Carpeaux qualifica

    Marafa

    como "a

    epopeia

    meio triste do

    homem

    comum,

    do

    povo

    miudo do

    Rio de

    Janeiro"

    (Marafa,

    p.

    18,

    in-

    trodugao).

    Apresentam-se

    em

    quadros

    curtos,

    freqiientemente

    alter-

    nados,

    duas linhas

    de

    desenvolvimento

    fabular:

    por

    um lado as

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    8/20

    A

    Mtsica

    Popular

    num Romance

    Brasileiro :

    79

    peripecias

    urbanas do

    malandrao

    Teixeirinha;

    e

    por

    outro lado as am-

    bicoes

    e

    aspira6ces

    de

    Jose Rodrigues,

    funcionario

    e

    figura represen-

    tativa da classe media.

    O

    magistral

    final do romance esta no cruzamento

    destes estratos

    sociais. Ate

    chegar

    la,

    a

    muisica

    popular

    e

    parte

    essencial

    da

    configuracao

    do mundo

    carioca,

    especialmente

    no

    que

    diz

    respeito

    a

    malandragem

    e

    ao

    meio

    festivo.

    Desde a

    abertura,

    as

    composicoes pop-

    ulares

    desempenham

    um

    papel importante;

    a

    musicalzacao

    da

    primeira

    cena

    ja

    estabelece

    um

    tom

    a

    seguir

    no

    desenvolvimento

    da obra. Esta

    abre

    com

    uma

    valsa

    seresteira cantada

    por

    um

    vadio

    bebado

    a

    porta

    de

    uma

    prostituta,

    a

    quem

    dirige

    a

    serenata:

    Com o vestido de baile das estrelas

    vem a noite dancar no teu

    jardim

    abre

    a

    tua

    janela para

    ve-las

    que

    as

    estrelas

    do

    ceu falam

    de

    nim.

    (Marafa,

    p.

    21)

    Este

    trecho,

    e os

    que

    seguem, plasmam

    o

    apelo

    e o

    humor

    que

    sao

    basicos

    a esta cena

    incial

    e

    tamem

    a

    concepcao

    geral

    do

    romance.

    O

    ex-

    emplo

    foi habilmente escolhido

    do

    repert6rio

    da

    epoca:

    trata-se

    da

    com-

    posicao

    "Romance" de Francisco Alves

    e

    Orestes Barbosa.

    Este,

    poeta-

    letrista,

    assinou textos liricamente

    singulares

    e um

    inusitado livro im-

    pressionista

    sobre a musica

    popular

    e os musicos

    populares

    cariocas. En-

    tre suas observac6es

    sobre

    seu

    tempo,

    declara,

    "Nao

    ha

    exagero

    em

    dizer

    que

    Francisco

    Alves

    e

    o maior cantor de Brasil."22

    Com

    efeito,

    "Chico Viola"

    (seu

    pseudonimo

    de

    palco)

    era

    dono de raro talento

    vocal;

    alem

    do

    mais

    era

    o

    primeiro

    idolo artistico do Rio

    quando

    do

    lancamento

    de

    Marafa.

    A

    apresentacao

    de uma

    musica

    interpretada por

    ele

    tinha,

    naturalmente,

    ressonancias imediatas

    para

    o

    leitor

    da

    epoca.

    Esta

    primeira

    cena da

    comeco

    a

    serie

    que

    compoe

    o livro. Adonias

    Filho dedicou

    consideracoes

    perspicazes

    a

    construcao de

    Marafa

    em seu

    estudo

    da

    narrativa da

    epoca,

    O

    romancebrasileirode trinta.

    Suas reflex6es

    sobre

    a

    "personagem

    social,"

    ao

    mesmo

    tempo,

    sao

    perfeitamente

    aplicaveis

    ao

    fenomeno da cancao

    popular:

    A

    construcao

    se

    realiza em

    cenas,

    que

    na enorme varia5c

    (o

    bordel,

    o car-

    naval,

    a

    batota,

    a

    rua)

    se

    condensam

    afinal

    em

    um

    bloco unico. Reflete-se

    a

    cidade-uma

    parte rigurosamente

    humana

    da

    cidade-em sua

    conduta,

    seus

    sentimentos,

    suas reacoes

    psicol6gicas

    mais livres. ...

    O

    compor-

    tamento

    decorre

    de um ambiente

    que

    envolve

    cada

    personagem

    ....

    Ela,

    a personagem, encarna uma parte da cidade em seus problemas, sua con-

    duta,

    e suas

    paixoes.23

    Como no

    primeiro

    caso,

    as

    cenas liricas

    do romance formam

    parte

    in-

    separavel

    do

    bloco

    uinico

    ideado

    por

    Adonias Filho.

    A

    reflexao

    e a

    encar-

    nacao

    a

    que

    se

    refere

    podem

    encontrar-se na

    expressao

    lirico-musical das

    figuras

    criadas,

    na

    letra

    das

    musicas

    populares

    intercaladas na

    narracao

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    9/20

    80 : Charles

    A.

    Perrone

    desta

    hist6rica

    carioca.

    Uma

    serie de

    exemplos

    ilustra como

    a

    presenca

    de

    composicoes populares

    bem selecionadas

    (ou criadas)

    e

    colocadas,

    e

    capaz de sustentar a particular visao de mundo do romance.

    O

    personagem

    Teixeirinha,

    o seresteiro ebrio

    da

    abertura,

    integra

    tambem clubes carnavalescos

    (gremios recreativos),

    sendo

    compositor

    de

    um samba de

    enredo

    cujo argumento

    e

    baseado

    num

    livro

    de hist6ria ao

    qual

    falta

    grande

    parte

    da

    parte

    introdutoria.

    Ele nao so se desabafa

    atraves

    do

    canto,

    mas evoca

    reacoes

    musicals nos outros.

    A

    procura

    de

    dinheiro

    emprestado

    o leva

    a um

    bordel

    do outro lado da

    cidade,

    onde

    uma

    amiga

    prostituta,

    tendo

    que

    ceder

    inesperadamente

    aos

    desejos

    dele,

    empunha

    o violao e comenta

    sua

    situacao

    nos

    seguintes

    versos:

    Mulher

    e tua sina

    Viver no meio

    vagabundo

    ...

    ...

    .

    nao sei

    pra

    que

    voce

    nasceu assim.

    A

    tua

    vida

    e a

    desgraca

    do mundo.

    (Marafa,

    pp.

    87-88)

    O

    que

    os

    versos

    sugerem

    vai alem

    do

    reduto reduzido

    da

    prostituicao

    e da situacao pessoal da cantora. Implicam-se neste trecho duas quest6es

    que

    permeiam

    o

    romance:

    a

    posicao

    submissa da mulher

    e

    a

    avaliacao

    do destino.

    Em uma

    descricao

    anterior

    apresenta-se

    uma

    personagem

    menor,

    celebre

    pela "graca

    triste com

    que

    cantava

    a

    canao

    'Infeliz,'

    rosario

    das

    desgracas

    duma mulher

    perdida" (p. 27).

    Aqui, porem,

    a

    contextualizacao

    e

    projecao

    de sentido sao

    maiores.

    A

    cantora

    refere seu

    destino

    individual,

    mas os ecos

    da

    cancao

    que

    interpreta

    no

    caso

    atingem

    Rizoleta,

    amasia de

    Teixeirinha,

    e

    Sussuca,

    inocente

    noiva

    de

    Jose Rodrigues,

    na medida em

    que

    tais ecos

    significarao

    os efetos do

    "meio vagabundo" nas suas "desgracas" respectivas. Ate certo ponto,

    todos os

    personagens

    de

    Marafa

    mostram

    preocupa6ces

    fundas

    para

    com

    o futuro

    e a vida

    ja

    vivida-dai

    a

    tensao narrativa-mas

    no caso do

    elemento

    "lumpen," desprovido

    de

    maiores

    expectativas

    na sociedade

    oficial,

    a

    inquietacao

    revela uma

    natureza

    dialetica,

    flutuando entre

    uma

    afliaio

    apreensiva

    e

    uma

    despreocupagao "irresponsavel."

    Esta

    dinamica

    comportamental percebe-se

    no

    "samba triste"

    que

    Aristides,

    vendedor de modinhas

    e

    grande companheiro

    de

    Teixeirinha,

    entoa

    numa outra situacao:

    Fui

    louco

    .

    . .

    (Fui )

    Resolvi tomar

    juizo.

    A

    idade vem

    chegando

    e e

    preciso.

    (Marafa,

    p.

    152)

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    10/20

    A

    Musica

    Popular

    num

    Romance

    Brasileiro

    : 81

    Esta

    musica foi

    composta

    por

    Armando

    Maraal

    e

    Alcebiades

    Barcelos.

    Este,

    apelidado

    Bide,

    foi

    responsavel por

    muitos sambas

    de

    grande

    sucesso

    naquela epoca,

    entre eles "A

    malandragem,"

    tematizaao levada

    a fama

    na

    voz

    de Francisco

    Alves. Por sua

    parte,

    "Fui

    louco"

    chegou

    a

    ser sucesso retumbante

    do carnaval de

    1934,

    um

    ano antes da

    publicacao

    de

    Marafa.

    No

    contexto do

    romance,

    a

    cancao

    forma

    parte

    da

    descricao

    das atividades

    dominicais

    nos

    botequins

    e nas

    esquinas

    da

    cidade,

    descricao

    que

    figura

    tambem

    no

    esforCo

    costumista urbano do autor.

    Um

    outro samba

    apresentado pelo personagem

    Aristides,

    caracteri-

    zado como

    "flor sonora

    da

    malandragem"

    (p.

    152),

    da

    motivo a uma

    discussao sobre

    um

    curioso fenomeno

    comum

    da

    epoca:

    a

    venda de

    musicas. Ilustra-se a necessidade de

    compositores

    populares

    venderem

    os direitos

    a sua obra

    (ou

    colecoes

    de outras

    composicoes

    recentes)

    para

    poder

    sobreviver. Pelo

    menos

    um

    pesquisador

    brasileiro tem-se

    ocupado

    desta

    particularidade,

    no caso relacionando-a

    com

    a

    obra literaria de

    Marques

    Rebelo.24

    Quanto

    ao sentido da canSao em

    relaqao

    ao

    texto em

    que

    se

    encaixa,

    nao e

    obscuro,

    uma vez

    que

    se

    combina muito bem com

    os

    problemas

    emocionais e economicos

    que

    Teixeirinha

    vem

    tendo com

    sua amasia:

    Esta mulher desmoralizao meu nome

    Ela

    anda de

    porta

    em

    porta,

    dizendo

    que

    nao come.

    (Marafa,p.

    162)

    Ja que

    quem

    canta

    declara

    que

    a

    muisica

    e

    de outro

    compositor,

    pode

    suspeitar-se

    que

    a letra foi fabricada

    por Marques

    Rebelo no

    espirito

    do

    quadro

    e

    para

    fins

    especificos

    textuais,

    mas

    nem

    por

    isso deixa de

    refletir

    tipicidade

    nem

    perde

    sua eficacia no contexto.

    O

    relacionamento

    desigual

    entre Teixeirinha e

    Rizoleta

    ja

    e

    temati-

    zado

    num dos

    primeiros capitulos

    do

    romance,

    a

    partir

    tambem duma

    cancao:

    -Canta o

    "Tormento,"

    pedia

    reclinando-se

    sobre

    a

    mesa bamboleante.

    Ele

    abria

    o

    peito:

    "Mulher,

    o teu olhar maltrata tanto

    ..

    ."

    (p. 39)

    ("Tormento"

    de Francisco Alves

    e

    Luis

    Iglesias,

    gravaa5o 1932)

    O

    autor se vale dos versos

    reconheciveis

    dos

    compositores populares para

    ironizar a situacao narrada: na cena o olhar dele evidencia seu egoismo,

    enquanto

    os olhos dela revelam seu

    empolgamento

    no namoro e resul-

    tam

    provocativos

    ate

    dar motivo

    a

    uma

    briga

    cor uma

    outra mulher.

    Verifica-se outra vez

    que

    a

    escolha

    de

    canbces

    representativas

    do

    meio

    e

    da

    epoca

    nao

    e

    arbitraria;

    elas se

    integram

    na

    cena,

    enfocam

    a

    atencao

    do

    leitor

    no

    que

    acontece,

    e

    evitam assim

    o desvio dessa

    atencao

    para

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    11/20

    82

    : CharlesA. Perrone

    algum

    traco

    especifico

    da cultura

    popular

    com

    intengoes

    independentes.

    E

    nalguns

    casos

    pareceria pouco

    arriscado

    sugerir

    que

    determinadas

    musicas servem ate de

    inspiracao primordial para

    a

    pr6pria

    cena.

    O

    escrutinio

    dos

    capitulos

    dedicados ao

    carnaval,

    por

    exemplo, podera

    mostrar

    a

    possibilidade

    de

    que

    alguns

    versos

    de

    musicas

    populares

    tenham

    dado

    ideias narrativas a

    Marques

    Rebelo. Nao

    e

    de

    estranhar

    que

    os

    episodios

    dedicados

    a festa do Rei Momo

    mostrem

    a maior

    quan-

    tidade de musicas

    populares

    no decorrer do

    romance,

    pois

    na

    decada de

    trinta

    grande

    parte

    da

    composiao

    se destinava

    aquele

    acontecimento.

    O

    radio

    ja

    difundia

    musica

    popular

    durante todo o ano no Rio de

    Janeiro,

    e

    a

    vitrola

    ja

    estava no

    mercado

    havia

    tempo,

    mas

    a

    receptividade

    do

    publico,

    quanto

    a

    novas

    musicas,

    estava bastante concentrada

    naqueles

    dias em

    que

    se

    cantava massivamente

    pelas

    ruas.25

    Nestes momentos

    verdadeiramente

    antologicos

    de

    Marafa-os

    capitulos

    em

    questao figuram

    na coletanea de

    Wilson

    Louzada,

    Antologia

    do

    cana-

    val26-citam-se a cada

    passo

    sambas

    e marchas da

    epoca.27

    As letras

    in-

    tercaladas

    guardam

    uma

    relacao

    engracada

    com

    o

    acontecer

    descrito,

    conforme o

    tom e

    espirito

    do momento

    exigem.

    Assim,

    por

    exemplo,

    quando

    o calor

    comega

    a

    castigar

    o

    puiblico,

    ouve-se cantar

    o

    verso

    "Queria

    te ver no

    inferno sem ventarola"

    da

    cancao

    "Boa bola" de

    Lamartine Babo

    (1933).

    Alem da

    associacao

    meteorologica,

    o

    verso

    coin-

    cide com o

    desejo

    reprimido

    de

    Jose Rodrigues

    de

    que

    a

    mae

    da

    noiva,

    que

    os

    acompanha

    na

    rua,

    se

    afaste

    para

    que

    os dois

    jovens possam

    realmente estar

    juntos. Logo

    mais,

    quando

    um cordao frenetico

    ameaca

    machucar varias

    pessoas,

    entoa-se uma marcha

    que

    Plinio

    de Brito

    fez

    sobre motivo folclorico

    mineiro

    em 1930:

    Quebra

    quebra

    gabiroba

    Quero

    ver

    quebrar.

    (Marafa,

    p.

    61)

    A

    presenca

    de musicas

    que

    foram

    verdadeiros sucessos de

    carnaval em

    1933 se

    da em

    "Fita amarela" de

    Noel

    Rosa e em

    "Formosa"

    (Nassara

    e

    J.

    Rui),

    que

    alem

    de

    valor retratista

    sugere

    indiretamente a

    admiracao

    de

    Jose por

    Sussuca. Noel Rosa se destaca como

    um

    dos mais

    requin-

    tados de toda

    a

    hist6ria

    da

    musica

    popular

    brasileira. Ganhou o

    apelido

    do

    "fil6sfo

    do samba"

    compondo

    versos ironicos e

    perspicazes

    tais como

    os

    que

    sao

    relatados

    em

    Marafa:

    Quando

    eu

    morrer

    Nao quero choro nem vela

    Quero

    uma

    fita amarela

    Gravada cor o nome dela.

    (p. 63)

    A

    letra intercalada serve

    como uma

    ligeira prefiguracao

    da

    tragedia

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    12/20

    A

    Musica

    Popular

    num RomanceBrasileiro

    :

    83

    que

    encerra

    o

    romance.

    Quando

    o casal a

    ouve

    recitar,

    repetida para

    maior

    enfase,

    Sussuca

    indica

    que

    seu

    unico

    desejo

    e

    que Jose

    se manten-

    ha

    ao lado dela.

    Assim

    o autor tece elementos de enredo e

    outros cos-

    tumistas

    ao

    apresentar

    uma

    sensacao

    musical

    contemporanea.

    Outros

    versos

    que

    aparecem

    nesta

    parte

    de

    Marafa

    mostram

    um

    lado

    meramente tradicional. Ao

    cair um

    aguaceiro,

    a

    multidao

    urra uma

    "moda de forcada

    rima"

    que,

    segundo

    as

    pesquisas

    de

    Edigar

    de

    Alen-

    car

    era contestaao

    as

    chuvas carnavalescas desde 1905:28

    Sao

    Pedro

    nao

    seja

    mau

    Guarde esta chuva

    para

    depois

    do

    Carnaval.

    (p. 65)

    Em

    seguida

    aparece

    a

    letra de

    "Nao

    paga

    o

    bonde"

    no meio da

    con-

    fusao

    que surge

    quando

    os transeuntes

    procuram

    abrigo

    d chuva

    no

    carro eletrico.

    A

    musica

    que Marques

    Rebelo

    inclui

    aqui

    talvez

    seja

    a

    mais

    conhecida das muitas

    que naquela

    epoca

    tematizavam

    a

    figura

    do

    condutor

    de

    bonde. Esta

    particularidade

    do carnavel carioca

    mereceu

    uma

    serao no

    segundo

    livro de

    assunto

    musical do

    prolifico Jose

    Ramos

    Tinhorao.29

    No fim dos

    quadros

    carnavalescos,

    Marques

    Rebelo ironiza

    mais

    uma

    vez

    quando

    em

    contraste com o cansaco

    das

    pessoas

    e o ambiente

    moribundo,

    observa

    uma

    batucada:

    As

    escolas de samba

    digladiavam

    ao som morto

    dos

    tamborins.

    "Vejam que

    batucada,

    que

    ate

    parece

    metralhadora."

    (p.

    69)

    Este

    conjunto

    de

    musicas

    populares apresentadas

    nestes

    epis6dios

    com-

    poe

    um elemento

    indispensavel

    no

    retrato da

    tipica

    festa

    carioca e

    oferece

    uma

    amostra

    valiosa

    da musica

    popular

    da decada de

    trinta. No

    que

    se refere a seu

    papel

    literario, sao funcionais dentro do

    esquema

    de

    ambientaao

    desejada;

    isto

    e,

    desempenham

    funcao

    referencial. Mas

    tamb6m constituem instancias indicativas

    do

    tom

    ironico-humoristico

    fundamental no texto maior.

    O

    fen6meno

    geral

    da musica

    popular-ninguem

    o

    negaria-e

    de alta

    importancia

    socio-cultural no

    contexto

    brasileiro,

    e mais

    especificamente

    no carioca.

    O

    carnaval

    que

    o autor de

    Marafa

    plasma

    sinteticamente

    representa

    a

    intensificaao

    epocal

    de

    tendencias

    generalizadas

    da

    figura

    do

    malandro,

    conforme elucida a cabal

    visao

    antropologica

    de

    Roberto

    da Matta:

    O

    malandro brasileiro

    parece

    introduzir no

    mundo fechado da nossa

    moralidade

    uma

    possibilidade

    de

    relativizacao. "Sou

    pobre,

    mas tenho

    a

    cabrocha

    (a mulher),

    o luar e

    o

    violao."

    O

    seu mundo

    sendo intersticial

    e

    aquele

    universo

    onde

    a

    realidade

    sempre

    pode

    ser lida e

    ordenada

    por

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    13/20

    84

    : CharlesA. Perrone

    meio de

    multiplos c6digos

    e eixos.

    E

    tais

    relativizacoes

    sempre

    tendem

    a

    incidir

    sobre o

    canto,

    a

    danca,

    a

    alegria

    e a

    brincadeira,

    area

    que

    e

    deix-

    ada aberta para os malandros e rigorosamentecodificadano carnaval.30

    A

    citaao de malandro

    imaginada por

    da

    Matta lembrara a

    primeira

    e

    outras cenas de

    Marafa

    nas

    quais

    estes

    tres elementos se

    conjugam

    tanto

    na

    narracao

    mesma

    quanto

    nos trechos liricos intercalados. Esta

    caracterizacao

    antropologica

    tambem elucida

    as estruturas

    espaciais

    e

    temporais

    do universo ficcional

    de

    Rebelo,

    verificando-se assim

    a

    genial

    captacao

    literaria de

    um

    mundo

    especifico.

    Alem

    das duas linhas

    principais

    do romance-a odisseia

    urbana do

    malandrao Teixeirinha e a carreira ascendente de Jose-Marafa contem

    umas

    poucas

    est6rias

    "independentes,"

    intercaladas no marco

    maior,

    mas consistentes com o

    desfgnio

    geral

    da obra. Entre elas salienta-se

    uma leitura de cronica feita

    por

    um

    personagem

    menor,

    o

    jovem

    escritor: "UM OLHAR DENGOSO

    E

    CHIQUE-Musica

    de

    senti-

    mento e

    pancadaria."

    Merece

    comentario este

    quadro

    porquanto sugere

    aspectos

    s6cio-psicologicos

    do

    fenomeno

    da

    cancao,

    assim

    como

    o

    significado

    da

    etiqueta

    "malandro."31

    Neste

    suposto artigo jornalistico,

    desenrola-se

    a

    hist6ria

    da

    vinganca

    de

    um morador do

    bairro da

    Saude,

    cuja mulher e seduzida por um vizinho lirico a partir de uma modinha

    conhecida:

    O

    seu olhar

    dengoso

    e

    chique

    assim,

    Ha de

    dar cabo

    meu

    anjinho

    s6 de mim.

    (p.

    214)

    Enquanto

    "a

    gente

    da avenida

    gozava

    o

    cantar," Antonio,

    o futuro

    ofendido,

    "se

    indignava":

    "Malandro

    Em vez de

    trabalhar

    vive

    aqui

    a

    cantarolar todo santo dia "

    (p.

    214).

    A

    indignacao

    inicial do marido se

    torna violencia

    quando

    surpreende

    os

    amantes,

    dando-se

    no desenlace

    uma

    correspondencia

    ironico-humoristica

    entre

    a letra da modinha en-

    toada

    e os

    acontecimentos,

    tal

    como

    se observa em muitas outras

    instan-

    cias ao

    longo

    do

    romance. Neste

    caso,

    porem,

    se

    trata

    de

    um

    evento

    tex-

    tualmente

    unico,

    uma

    vez

    que

    acontece em um

    bairro

    pequeno-burgues

    (e

    nao

    na

    favela,

    no

    bordel,

    ou

    no

    botequim

    da

    patota

    do

    centro)

    cuja

    visao

    de

    mundo difere

    da dos

    personagens indigentes.

    A

    cancao

    que inspira

    esta est6ria

    intercalada

    se

    apresenta

    simples-

    mente como "a modinha do Catulo." De facil identificacao

    para

    o leitor

    de

    trinta,

    trata-se do

    compositor

    e

    interprete

    Catulo da Paixao

    Cearense,

    figura

    que

    melhor

    representa

    o

    fato

    da modinha

    continuar sendo

    culti-

    vada

    no

    seculo

    XX.

    Este excelente

    compositor

    de

    cancoes

    romanticas

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    14/20

    A

    Misica

    Popular

    num Romance

    Brasileiro

    :

    85

    era conhecido nos bairros

    mais

    humildes,

    mas

    segundo Jose

    Ramos

    Tinhorao,

    o

    mais

    significante

    era

    que

    "passava

    a oferecer a modinha

    popular

    como um

    espectaculo

    curioso

    ante o

    publico

    das

    grandes

    famil-

    ias dos bairros aristocraticos do Rio

    de

    Janeiro, apresentando-se

    com

    seu

    violao,

    vestido

    de casaca"

    nas

    primeiras

    decadas do seculo XX.32

    Para as

    pessoas

    circunspectas

    entao a

    modinha

    suspirosa

    ainda

    podia

    ser uma

    coisa moralmente

    suspeita;

    a

    atuacao

    de Catulo muito

    influiu

    na

    mudanca dessa situacao.

    Face a

    ocorrencia narrada em

    Marafa

    e cur-

    ioso

    reparar

    nas

    explica6ces

    que

    traziam seus livrinhos

    de

    modinha

    que

    se vendiam na cidade

    naqueles

    anos:

    Lyra

    dos

    Saloes

    (magistral

    colecao

    de

    belissimasModinhas

    Brasileiras,prdpriaspara

    serem

    cantadas

    em

    reunioesamili-

    ares,

    emfestas colegiais,

    concertos,

    etc.).33

    A

    estoria

    da "musica de

    sentimento

    e

    pancadaria"

    termina na vin-

    ganca

    violenta do ofendido. O

    climax

    da

    obra inteira

    tambem

    se

    baseia

    na

    vinganca:

    Teixeirinha reconhece

    que Jose,

    agora

    o

    bem sucedido box-

    eador

    Tommy

    Jaguar,

    e o

    rapaz

    que

    lhe dera

    um soco num

    club

    car-

    navalesco

    mais de um ano antes. Sendo-lhe

    impossivel esquecer

    a

    ofen-

    sa,

    o

    valentao,

    acompanhado

    do

    parceiro

    Aristides,

    mata

    a

    navalhada

    o

    campeao

    e

    destroi o sonho matrimonial dele e da Sussuca.

    A

    respeito

    deste desenlace e dos personagens que a ele sobrevivem, convem con-

    siderar

    as

    observac6es

    agudas

    de

    Jose

    Ramos

    Tinhorao,

    feitas em um

    momento

    de feliz

    percepcao

    literaria:

    Da

    metade do

    seu romance em

    diante,

    um

    dos

    personagens

    mais

    impor-

    tantes e

    mais

    vivamente

    retratados

    e o

    malandro Aristides

    Paixao ....

    E

    seria

    certamente

    pela riqueza

    humana

    da sua

    figura

    de

    vendedor de

    modinhas,

    que

    o romancista

    escolheria,

    afinal,

    esse seu

    personagem

    Aristides

    para

    encerrar o romance num

    lance de

    tragedia,

    deixando-o livre

    para

    continuar sua

    trajet6ria

    de

    personagem representativo

    do

    espirito

    popular da cidade onde se desenrolaraa historia:

    "Aristides

    foi

    detido como

    cuimplice,

    mas como nao havia

    provas

    contra

    ele,

    nao

    pegou

    nada. Livre de

    culpas,

    sem

    inquietao6es,

    sem

    incertezas,

    continua cantando

    e

    vendendo modinhas. As

    esquinas

    se

    movimentam,

    as

    portas

    e as

    janelas

    se

    apinham para

    ouvir o samba do dia na

    cidade:

    'Eu

    quero

    morrer cantando samba . .

    .'

    Faz um

    breque

    de

    estilo,

    estacando

    o chocalho numa

    sincope

    de um

    segundo. Depois prossegue.

    E um desafio:

    'Quero

    zombar da

    propria

    morte.'

    "

    (Marafa,

    p.

    231)34

    Nao

    e

    atrevido

    dizer,

    a

    luz

    das atuao6es

    dos dois

    parceiros, que

    o

    sucesso de

    Marafa

    como

    obra literaria

    carioca

    deve

    muito ao

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    15/20

    86 :

    Charles

    A.

    Perrone

    aproveitamento

    dos malandros

    liricos como

    personagens

    centrais. Nesta

    cena final os versos de samba-alem

    de fazer referencia ironica ao recem

    perpetrado assassfnio e a liberdade do homem que os berra-encerram

    toda uma caracterizacao de atitudes

    e de

    comportamento

    desenvolvida

    ao

    longo

    do romance. Para indicar um s6

    aspecto

    desta

    sintetizaao,

    e

    proveitoso

    recorrer

    mais

    uma

    vez a

    valiosa

    contribuicao

    de Roberto

    da

    Matta.

    Para

    o

    "tipo

    paradigmatico/her6i"

    que

    o malandro

    representa

    na sociedade

    brasileira-e

    na

    (re)criacao

    artistica de

    Marques

    Rebelo-

    o

    canto

    e

    um "instrumento

    de

    relacao

    cor o

    mundo"

    que

    encerra

    certo

    poder compensat6rio.

    Ademais,

    o

    malandro,

    ser deslocado nesse

    mundo,

    nao

    quer

    muda-lo.35

    Quatro

    decadas antes

    da

    publicacao

    do

    ensaio do

    antropologo,

    o autor de

    Marafa

    adivinhava a reaiao de um malandro de

    morro as

    propostas

    de

    melhoramento

    social feitas

    por

    um visitante

    politico:

    "Mais coisas assim nao

    adiantavam. Antes

    ficassem como

    estavam.

    E

    o melhor

    era nao

    pensar.

    Era rir. Era cantar. 0 samba

    alivia,

    consola,

    faz

    esquecer.

    A

    batucada era

    a

    salvagao.

    0 amor

    facil,

    a

    finalidade

    desta vida

    pequenina,

    que

    e

    preciso aproveitar " (p.

    192)

    A

    vista destes

    pensamentos

    anteriores,

    o

    comportamento

    de Aristides

    na ultima cena do romance

    fica esclarecido.

    E

    suas

    ultimas

    palavras

    can-

    tadas

    ganham

    sentido

    paradigmatico.

    Os trechos

    liricos

    atribuidos

    a ele

    se inserem tambem

    num

    paradigma

    lirico-musical

    da

    epoca,

    ja

    aludido

    nos

    quadros

    do

    carnaval cor

    a

    transcricao

    de um

    sucesso

    de Noel Rosa.

    A

    prop6sito

    do

    lendario

    compositor

    e

    do

    tema em

    questao,

    escreveu o

    colunista

    Jota

    Efege (JFG)

    em

    Figuras

    e

    coisas da mutsica

    opular

    brasileira.

    Qual

    o malandro de morro

    que pedia

    o

    enterrassem

    no

    terreiro,

    deixando

    um

    brago

    de fora

    para

    tocar

    o

    pandeiro,

    ou

    que

    expressava

    a

    sua ultima vontade:

    Quando eu morrer nao quero choro nem nada

    Quero

    um belo

    samba ao

    romper

    da

    madrugada

    Ele

    pedia

    tambem como "bacharel"

    saido da

    mesma

    escola:

    Quando

    eu morrer nao

    quero

    choro

    nem vela

    Quero

    uma fita amarela

    gravada

    corn o

    nome dela.36

    Para

    compreender

    mais fundamente o carater

    sintetico e

    tipico

    do

    motivo mortuario

    popular

    utilizado

    por Marques

    Rebelo

    para

    dar

    ponto

    final ao romance Marafa, podem consultar-se outras

    reminiscecias

    de

    JFG.

    Na

    materia

    "Quero

    morrer

    no

    samba"

    chama a

    atencao

    para

    a

    popularizacao

    desta frase tematizadora

    dentro do ambito

    da

    muisica

    popular,37

    e

    nas

    pesquisas

    reunidas sob

    a

    rubrica

    "O

    Quando

    eu morrerno

    folclore,

    no

    Parnaso,

    e

    na

    bienal,"

    JFG

    traca

    as

    origens

    folcloricas do

    mote,

    mostra seu

    espalhamento

    pelos

    bairros

    do

    Rio

    de

    Janeiro

    e

    aponta

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    16/20

    A Musica

    Popular

    num

    Romance

    Brasileiro

    :

    87

    ate

    longinquas

    fontes

    cultas no

    seculo

    XIX,

    que

    incluem um

    verso

    que

    ressoa na

    boca do

    personagem

    de

    Marques

    Rebelo:

    "Quando

    eu

    morrer

    nao chorem minha morte Como agora a zombar me dizem vivo."38

    A

    cita~ao

    deste verso

    irmao

    do seculo

    XIX

    permite,

    por

    um

    retro-

    specto

    ainda

    mais

    largo,

    remeter as

    considerao6es sobre

    Marafa

    de novo

    as

    decadas

    do

    aparecimento

    das Memorias de

    um

    sargento

    de

    miltcias,

    obra

    iniciadora

    do

    paradigma

    literario

    em

    que

    se

    coloca o

    romance

    de Mar-

    ques

    Rebelo. Mas a

    abordagem

    hist6rico-comparativa,

    e

    claro,

    nao

    da

    conta

    da

    solidez

    e da

    eficacia da

    estruturacao

    e

    tensao literarias

    da obra

    em si.

    Marafa,

    romance em

    que

    a

    presenca

    integrada

    da

    musica

    popular

    e

    constante desde a

    abertura

    seresteira ate

    o

    encerramento

    desafiante,

    destaca-se tanto como contribuigao artistica de seu

    tempo

    quanto

    como

    atualizaao

    unica

    de

    paradigmas

    literarios

    profundamente

    brasileiros e

    cariocas.

    Outras obras da

    epoca

    de

    trinta

    tem

    gozado

    de

    maior

    fama-a

    obra de

    Marques

    Rebelo

    esta

    perto

    do

    esquecimento

    quando

    comparada

    com a

    de

    outros

    romancistas

    que

    nem

    sempre

    lograram

    produtos

    con-

    sistentemente

    integrados

    ao tentarem

    fazer

    figurar

    elementos

    da

    cultura

    popular

    na

    narrativa.

    Como se

    espera

    ter

    demonstrado

    aqui,

    nenhum

    escritor soube

    aproveitar-se

    literariamente

    da

    riqueza

    s6cio-cultural

    e das

    potencialidades

    artisticas

    da

    musica

    popular

    urbana,

    melhor

    do

    que

    o

    autor de

    Marafa

    Notas

    1.

    Ver,

    por

    exemplo,

    Charles A.

    Perrone,

    "O cancioneiro

    popular

    no romance

    brasileiro

    de

    trinta,"

    Cultura,

    no. 33

    (novembro-dezembro

    1979):

    40-47.

    Para uma

    introducao

    geral

    a

    epoca

    literaria em

    questao,

    ver Fred

    Ellison,

    Brazil's New Novel

    (Berkeley

    and

    Los

    Angeles:

    University

    of California

    Press,

    1954).

    2.

    Ver

    Nancy

    Baden,

    "Popular

    Poetry

    in

    the

    Novels of

    Jorge

    Amado,"

    Journal of

    Latin

    American

    Lore

    2,

    no.

    1,

    (summer

    1976):

    3-22.

    Apesar

    do

    enfoque

    folcl6rico-

    tradicionalista,

    a

    autora inclui

    algumas palavras

    sobre

    estes

    generos

    urbanos. Ver

    tambem

    nota 30.

    3.

    Marques

    Rebelo,

    Marafa

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Editora

    Nacional,

    1935).

    Esta

    primeira

    edicao

    6

    resultado do

    Grande

    Premio

    de

    Romance

    Machado de Assis

    que

    o

    escritor

    recebera

    por

    esta

    obra

    singular. Aqui

    maneja-se

    a

    re-edicao

    de

    Edicoes

    de

    Ouro de

    1966,

    e todas

    as

    referencias sao

    a

    esta

    edicao.

    4.

    Em

    O

    romancebrasileiro- de 1752 a

    1930,

    ed.

    Aurelio Buarque de Hollanda (Rio de

    Janeiro:

    0

    Cruzeiro,

    1952),

    pp.

    36-73.

    5.

    Afranio

    Coutinho,

    ed.

    A

    Literatura no

    Brasil,

    2d

    ed.

    Vol. 5: 0 Modernismo

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Sul

    Americana,

    1970),

    p.

    224.

    6.

    Em

    Revista do

    Instituto de

    Estudos

    Brasileiros

    da

    USP,

    no. 8

    (1970) (texto reproduzido

    em

    apendice

    a Memdrias de um

    sargento

    de

    milicias,

    ed.

    Cecilia de Lara

    [Rio

    de

    Janeiro:

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    17/20

    88 : Charles

    A. Perrone

    Livros

    T6cnicos

    e

    Cientificos,

    1978]).

    Aqui

    as

    referencias

    sao ao

    trabalho

    original.

    Ver

    em

    especial

    a

    secao

    intitulada

    "Romance

    documentirio?"

    7. Rio de Janeiro: Zahar 1979, passim. Ver especificacoes noutras notas.

    8.

    Candido,

    "Dialetica da

    malandragem," p.

    75.

    9.

    Reginaldo

    Guimaraes,

    O

    folclore

    naficcao

    brasileira.

    Roteiro de

    Memorias

    de

    um

    sargento

    de

    mil'cias

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Cgtedra,

    1968). Segundo

    a

    apresentacao

    de Elizeu

    Maia da

    segunda

    ediaio

    de

    1977,

    o

    estudo

    6

    propositadamente

    antisemiol6gico,

    de

    carater en-

    ciclop6dico.

    Na

    pigina

    15

    apontam-se

    as obras

    do autor de

    Marafa

    como

    "fontes

    documentais da

    tradicionalidade

    popular

    e urbana

    do Rio

    de

    Janeiro." Aqui,

    deseja-

    se

    poder

    desempenhar

    tarefas

    critico-analfticas

    sem excluir

    o lado

    docmental

    preferido

    por

    Guimaraes

    e outros

    pesquisadores.

    No

    que

    se

    refere ao

    relacionamento

    entre Mar-

    ques

    Rebelo e o

    autor das

    Memorias,

    note-se

    que

    em

    1943

    atrav6s do Instituto Na-

    cional

    do

    Livro,

    Rebelo

    publicou

    Vida e obra de

    Manuel

    Antonio

    de

    Almeida.

    10. Candido, "Dialehca da malardragem," p. 75.

    11.

    Ibid.,

    p.

    76.

    12.

    Manuel

    Ant6nio de

    Almeida,

    Memdrias de um

    sargento

    de milicias

    (1854-1855; reprint

    ed.,

    Sao

    Paulo:

    Atica,

    1973), p.

    91

    13.

    Ver

    Baptista

    Sugueira,

    Ficcao

    e

    musica,

    pp.

    41-43,

    179,

    e

    197-200,

    para

    esclarecimen-

    tos

    detalhados

    sobre as duas

    cancoes.

    14.

    Ha

    uma

    extensa

    bibliografia

    sobre

    este

    genero

    e sua

    principal figura.

    O debate

    musicolo6gico

    tem-se

    centrado na

    origem

    lusa ou brasileira da modinha. Mario de

    An-

    drade,

    o ilustre

    escritor

    brasileiro,

    afirmava

    que

    "a

    proveniencia

    erudita

    europeia

    das

    Modinhas 6

    incontestavel"

    (Modinhas imperiais

    [Sao

    Paulo:

    Martins,

    1964],

    p.

    8).

    As

    pesquisas

    modernas,

    por6m,

    tem mostrado

    a

    improbablidade

    dessa

    asseveracao.

    Ver:

    Mozart

    de

    Araujo,

    A

    modinha e

    o lundu no

    seculo

    XVIII

    (Sao

    Paulo:

    Ricordi,

    1963);

    Bruno

    Kiefer,

    A

    modinha e

    o

    lundu,

    duas

    raizes

    da

    musica

    popular

    brasileira

    (Porto

    Alegre:

    Movimento,

    1977);

    Jos6

    Ramos

    Tinhorao,

    Pequena

    hist6ria

    da musica

    popular

    (da

    modinha

    a

    cancao

    de

    protesto)

    (Petr6polis:

    Vozes,

    1974);

    Gerard

    Behague,

    "Biblioteca

    da

    ajuda

    (Lisbon)

    MSS

    1595-1596:

    Two

    Eighteenth-Century Anonymous

    Collections

    of

    Modinhas," Anuario,

    Yearbook

    Tulane University)

    4.

    15.

    Kiefer,

    A

    modinha,

    p.

    18. No estudo

    deJ.

    R. Tinhorao citado

    na

    nota

    anterior,

    afirma-

    se

    que

    a

    modinha

    ji

    existia

    independentemente

    no Brasil a nivel

    popular

    antes da

    vin-

    da da

    corte.

    16.

    Em Modinas

    do

    passdo

    (Rio

    de

    Janeiro: J.

    B.

    Editora,

    1956),

    p.

    23,

    assevera-se

    que

    a

    modinha "Se os meus suspiros pudessem" podia representar um exemplo do

    "principio

    de

    realizacao,"

    isto

    6,

    o

    povo

    adota

    como sua uma

    composicao

    de

    autor

    especifico,

    sendo

    que

    a

    pratica popular

    nao

    reconhece

    quem

    e.

    Na

    verdade,

    mostra

    alguma

    duvida

    no

    que

    se

    refere a

    procedencia

    da modinha

    transcrita,

    mas as

    infor-

    macoes

    apuradas

    para

    Ficcao

    e

    musica sio

    mais

    seguras:

    era versio

    fluminense

    de

    um

    tema

    variavel,

    recolhida e

    divulgada

    em

    1837,

    comentada

    nojornal

    do

    Come'rcio,

    finalmente

    publicada

    no Correio das

    Modas,

    vol.

    1,

    1839.

    Siqueira pergunta

    numa

    nota

    a

    pigina

    43

    de

    Ficcao

    e

    musica sobre a

    probabilidade

    de

    Manuel

    Ant6nio

    de

    Almeida

    ter

    lido dita

    fonte. Identifica

    o outro titulo de modinha como

    produgao

    de

    Candido

    Ig-

    naicio

    da Silva

    (ver

    nota

    13).

    17.

    Destaca-se

    o

    genero incipiente

    do lundu. Ver

    Kiefer,

    A

    modinha;

    Mozart de

    Arauijo,

    A

    modinha;J. R. Tinhorao, Pequenahist6ria, e Musica popular de indios, negros,e mesticos

    (Petr6polis:

    Vozes,

    1975).

    18.

    VerJ.

    R.

    Tinhorao,

    Pequena

    histdria,

    primeiro capftulo,

    e "Da

    valsa,

    da

    polca,

    do

    tango-a

    historia

    do samba"

    Cultura,

    no.

    28

    (janeiro

    1978),

    pp.

    44-54.

    19.

    Abundam

    estudos

    hist6ricos e

    reminiscencias

    sobrfe

    o

    samba;

    entre outras

    monografias

    recomenda-se

    Baptista Siqueira, Origem

    do termo samba

    (Rio:

    IBRASA-INL,

    1977).

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    18/20

    A

    Mu'sica

    Popular

    num

    Romance

    Brasileiro

    :

    89

    20.

    Para uma introducao as can6ces

    carnavalescas,

    ver

    Edigar

    de

    Alencar,

    0

    carnaval

    carioca

    traves

    a

    mzsica

    Rio

    de

    Janeiro:

    Freitas

    Bastos,

    1965).

    21. No seu livro (Carnavais,malandrosherdis),Roberto da Matta discute (pp. 204-205)

    denotao6es

    e

    conotacoes

    do

    termo

    e revela os

    resultados

    de uma

    pesquis

    s6cio-linguistica

    efeituada no

    Rio

    de

    Janeiro.

    22.

    Orestes

    Barbosa,

    O

    Samba,

    ua

    historia,

    eus

    poetas,

    seus

    mzsicos

    seus

    cantores

    1933;

    reprint

    ed.,

    Rio de

    Janeiro:

    FUNARTE,

    1978).

    23.

    Adonias

    Filho,

    O romance

    rasileiro e trinta

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Bloch,

    1969), pp.

    140-142.

    24.

    Ver

    Jose

    Ramos

    Tinhorao,

    Os sons

    que

    vem

    da

    rua

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Edi6ces

    Tinhorao,

    1976),

    parte

    1,

    capitulo

    3,

    e

    nota

    34

    abaixo.

    25.

    Sobre o

    radio,

    a

    ind6stria

    gravadora,

    e

    o ambito

    artistico,

    ver as cronicas de

    Almirante,

    No

    tempo

    de

    Noel

    Rosa

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Francisco

    Alves,

    1963).

    26. Wilson

    Louzada,

    ed.,

    Antologia

    o carnaval

    (Rio

    de

    Janeiro:

    Cruzeiro,

    1945).

    O

    organizador reconhece o valor destas passagens do romance, mas diz erradamenteque

    as

    descri6ces

    sao dos anos

    1927

    e 1930.

    A

    presenga

    de m6sicas do ano 1933

    prova

    o

    equivoco cronol6gico.

    27.

    Roberto

    da

    Matta oferece

    reflex6es

    sobre o

    significado

    generico

    do samba e da marcha

    no

    capitulo

    que

    dedica ao carnaval.

    Ver

    especialmente

    as

    paginas

    110-115

    sobre

    sua

    interpretacao

    das

    implica6ces s6cio-ideol6gicas

    destas formas eminentemente car-

    navalescas

    (Carnavais,

    malandros

    herdis).

    28.

    O

    carnaval

    arioca,

    p.

    78.

    Ver tambem nota 36.

    29.

    As

    opini6es

    do

    autor

    sobre

    a bossa nova e

    seus

    interpretes

    e

    compositores

    deram

    motivo

    a

    muita discussao.

    As

    apuracoes

    hist6ricas do livro Mztsica

    opular:

    Um tema m

    debate ao verdadeiramente

    complementares

    ao

    trabalho

    de

    pesquisadores

    como

    Edigar

    de Alencar. Na

    segunda

    edicao

    (Rio

    de

    Janeiro: JCM,

    1966)

    Tinhorao

    dedica uma

    secao

    hs

    curiosidades carnavalescas associadas

    a

    figura

    do condutor do

    bonde.

    JFG,

    nos

    artigos

    reunidos

    de

    Figuras

    coisasda musica

    opular

    brasileira,

    ol.

    1

    (Rio

    de

    Janiero:

    FUNARTE,

    1978),

    comenta

    o

    "Condutor de

    bonde,

    personagem quase

    classica" nas letras de

    uma

    serie de

    musicas

    da

    epoca.

    Ver

    pp.

    21-23 do livro

    citado.

    Segundo

    a

    mem6ria

    do

    jornalista,

    a cancao carnavalesca da

    dupla

    Cascata e

    Azevedo

    lancada em 1937

    rezava,

    "Nao

    pague

    o

    bonde." As informacoes dadas

    pela

    equipe

    de

    pesquisa

    da Nova

    histdria a musica

    opular

    brasileira

    Sao

    Paulo:

    Abril

    Cultural,

    1971)

    sugerem

    que

    a

    dupla

    gravou

    a musica sob

    o titulo de

    "Nao

    pago

    o

    bonde."

    Marques

    Rebelo nao indica titulo

    quando

    transcreve

    a

    letra

    ("nao

    paga

    . . .

    "),

    mas

    escreve

    dois anos antes do registrooficial da m6sica. Este fato indicaria que o tema era de

    verdade

    parte

    de

    um

    folclore carnavelesco urbano. A nao ser

    que

    tivesse

    algum

    con-

    tato com os

    m6sicos

    profissionais,

    o autor de

    Marafa

    colheria os versos

    na

    boca do

    povo.

    30. da

    Matta,

    Carnavais,

    malandros

    herdis,

    p.

    133.

    Embora

    seja

    material

    para

    um

    outro

    estudo,

    deve

    salientar-se

    aqui

    a

    correspondencia

    entre a

    interpretacao

    s6cio-

    antropol6gica

    de Roberto da

    Matta

    da

    relativizacao

    moral

    e a

    ideol6gico-literaria

    de

    Candido

    em "Dialetica da

    malandragem."

    0

    estudo do

    antrop6logo

    nao

    deixa de

    conter

    algumas

    reflex6es de valor

    comparativo

    para

    um

    investigador

    da

    literatura. A

    pagina

    69 do livro

    citado,

    por

    exemplo,

    reflete

    sobre uma

    caracterizacao

    significativa

    do

    jovem

    Jorge

    Amado:

    A frasee prenhe de significados.

    No

    primeiro

    livro

    de

    Jorge

    Amado

    significativamente

    intitulado Pais

    do

    Carnaval,

    principal personagem

    diz:

    "S6

    me

    senti

    brasileiro

    duas

    vezes:

    uma,

    no

    carnaval,

    quando

    sambei

    na

    rua.

    Outra,

    quando

    surrei

    Julie,

    depois que

    ela

    me traiu."

    31.

    Ver ainda em da

    Matta, Carnavais,

    malandros herdis

    curiosa

    relacao

    entre

    o

    verbo

    "cantar"

    e

    o sentido de

    propor

    relacoes a uma mulher

    (p.

    113),

    assim

    como a

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  • 7/21/2019 Perrone Musica Popular Romance

    19/20

    90 :

    Charles

    A. Perrone

    importancia

    de "voz

    . . .

    sentimento

    . . .

    coracao"

    (p. 205)

    no mundo

    da malan-

    dragem.

    Mais uma

    vez,

    e

    surpreendente

    ate

    que ponto

    a

    analise

    de Roberto da Matta

    elucida as declara6ces e implicacoesdo texto literario de Marques Rebelo.

    32.

    Tinhorao,

    Pequena

    istdria,

    p.

    18. Citado

    por

    Kiefer,

    A

    modinha,

    .

    26.

    33. Ver

    entre

    outras cole6ces

    as

    seguintes:

    O

    cantor

    e modinhas rasileiras

    Rio

    de

    Janeiro:

    Quaresma,

    1927);

    Novoscantares

    or

    Catullo

    da PaixaoCearense

    Rio

    de

    Janeiro:

    Quaresma,

    1927);

    e Modinhas

    Rio

    de

    Janeiro:

    Imperio, 1973),

    organizacao

    de

    Guimaraes

    Martins.

    A

    sensibilidade

    lirica

    evidente

    na modinha transcrita

    em

    Marafa

    filia-se

    a

    um carater

    geral que

    a

    revisao

    de uma s6rie de tais can6ces

    faz

    patente.

    34.

    Tinhorao,

    Os sons

    que

    vem

    da

    rua,

    p.

    46. Sendo Aristides um "vendedor

    de modinhas"

    seria

    preciso

    esclarecer

    que

    os folhetos

    chamados

    de

    "jornals

    de

    modinhas"

    que

    cir-

    culavam

    no Rio

    at6

    a

    decada

    de

    cinqfienta

    (e

    em

    forma modificada ate

    hoje),

    compunham-se

    nos

    fins do seculo

    XIX

    e

    principios

    do

    XX

    principalmente

    de letras do

    genero hom6nimo. Para a decada de Marafa,todavia, este tipo de publicacao mostra

    tambem

    a

    diversificacao

    e

    proliferacao

    de outros

    generos,

    sobretudo

    o samba. Ver

    Os

    sons,

    pp.

    35-48.

    35. da

    Matta, Carnavais,

    malandvos

    herois,

    specialmente pp.

    205-206,

    quando compara

    o

    malandro com outros

    tipos representativos

    do homem brasileiro.

    36.

    JFG,

    P.

    20.

    Sobre o sentido

    filos6fico da misica

    de Noel

    Rosa,

    recomenda-se o com-

    entario

    de

    Edigar

    de

    Alencar,

    p.

    198. Tratando-se de um tema tao

    comum,

    nao

    estranha haver ate acusacoes

    de

    plagio:

    o

    compositor Donga

    ja

    escrevera um

    estribilho

    praticamente

    identico ao

    primeiro

    citado

    por JFG

    e

    protestou

    ao

    ouvir

    o samba

    de

    Noel. No

    entanto,

    ja

    havia

    outros

    refraos muito

    parecidos.

    37. Titulo

    original

    da materia

    de

    OJornal(Setembro 20, 1964), reproduzida

    nas

    paginas

    117-118 de

    Figuras

    coisas.

    Oferece

    outros

    exemplos

    do

    paradigma,

    como este

    de

    Walfrido

    Silva,

    gravada

    em 1935:

    "Quero

    morrer cantando

    um

    samba / no meio de

    uma roda bamba."

    38.

    JFG,

    Figuras

    coisas,

    p.

    235.

    O autor

    atribui os versos

    ao

    poeta

    Laurindo

    Jos6

    da Silva

    Rabelo

    (m. 1864),

    classificando-o de

    "parnasiano"

    quando

    era

    da

    geraqao

    romantica.

    De toda

    fo