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Artigo no jornal Hoje, de Cascavel )PR)
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5/11/2018 Perseguidos por fazer o bem: esp ritas na fronteira em 1920 - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/perseguidos-por-fazer-o-bem-espiritas-na-fronteira-em-1920
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Perseguidos por fazer o bem:
espíritas na fronteira em 1920
Da esquerda para a direita: 1) Eduardo Olmedo; 2) Otto Friedrich; 3) Pedro Garcia; 4) José Remi Pietsch (Cascavel); 5)
Francisco Ferreira da Motta; 6) José Vicente Ferreira; 7) Idalino Favassa; 8) Preceolino Favassa; 9) Ângelo Favassa; 10) Neusa Favassa Pietsch (Cascavel); 11) Eugênio Venson
Quem hoje vê os espíritas plenamente integrados à comunidade,
respeitadíssimos por seus princípios humanitários e caritativos, não
imagina que eles já enfrentaram perseguições, como se fossem
criminosos ou terroristas.
Quando se completam os 90 anos da primeira entidadebeneficente do Oeste paranaense, a Sociedade Espírita Paz, Amor e
Caridade, fundada em Foz do Iguaçu a 6 de janeiro de 1922, vale a
pena recordar alguns momentos marcantes desse quase centenário.
Em abril de 1918, ao ser destacado para servir em Foz do Iguaçu,
o soldado José Vicente Ferreira, da Força Policial do Paraná, hoje
Polícia Militar do Paraná, era médium no Centro Espírita Paz, Amor
e União, de Curitiba.
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Uma novidade positiva em região na qual o atendimento médico
era extremamente precário, luxo reservado a quem podia se deslocar
via aérea ou fluvial para Curitiba ou Posadas, a “cura espiritual peloamor” encantava a comunidade fronteiriça, tão carente de cuidados e
manifestações desinteressadas de humanismo e amizade. Mas
incomodou alguns interesses rancorosos, que orquestraram uma
armadilha para pôr os espíritas em dificuldades e tentar bani-los de
Foz do Iguaçu.
A polícia foi notificada de que os espíritas faziam “macumba”.
Nas primeiras décadas do século XX, as religiões afro-brasileiras
eram ilegais ou controladas pela polícia. Foi preciso que umaemenda do deputado comunista baiano Jorge Amado assegurasse o
direito à liberdade religiosa, na Constituinte de 1946.
Mesmo assim, até 1976 os ritos africanos ainda permaneciam
abaixo de controle policial e sob a pressão dos intolerantes, que
associavam as crenças dos índios e dos negros a demônios,
feitiçarias e maldades.
Aos 23 anos, sair da capital para se apresentar no remoto interior, já com família constituída, pareciaum castigo para esse jovem
alagoano que veio tentar a sorte no Paraná. Mas Ferreira, a esposa e uma cunhada logo seintegraram às atividades
na fronteira, passando a divulgar a doutrina espírita por sua “arma” que mais se destacava: a mediunidade de cura.
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José Vicente, um policial honrado, caiu na clandestinidade, comose fosse um bandido. Para não interromper o atendimento aos
desvalidos, viu-se obrigado a transferir as reuniões para fora da
cidade e em lugar secreto, para evitar dissabores.
Ele e os demais adeptos tinham que fazer um percurso de seis
quilômetros de ida e volta a pé. Quando a perseguição diminuiu, o
grupo voltou a trabalhar na cidade, em casas particulares, até
conseguir fundar sua associação, em 6 de janeiro de 1922.
Em setembro de 1924, quando Foz do Iguaçu foi ocupada pelasforças revolucionárias paulistas, os médiuns José Vicente, Etelvina e
Celestina optaram por fugir para Puerto Aguirre, na Argentina, pois
ele era soldado do governo e poderia ser fuzilado.
Em abril de 1925, quando a Coluna Prestes partiu de Foz,
retornam os soldados do governo e a partir de então o clima de
ameaça e temor foi substituído por um constante desenvolvimento
das atividades comunitárias dos espíritas.
Em 1945 começou a funcionar sua Escola Jorge Schimmelpfeng,com 70 alunos, dentre os quais 40 órfãos e as demais vagas
ocupadas por alunos pobres sem recursos.
Depois, voltou-se também ao atendimento à gestante carente,
alfabetização de adultos, cursos profissionalizantes e decidiu
expandir as atividades pela região. Cascavel, cidade que passa a se
formar em 1930, seria uma das beneficiadas por esse trabalho.
**Alceu A. Sperança
Pode-se imaginar, por volta de 1920, oque representava a acusação de praticar
“macumba” na fronteira. Dependendo de quem denunciasse, a própria acusação já era a prova e o julgamento. Assim, sem investigar a veracidade da denúncia, a polícia proibiu os trabalhos de cura desenvolvidos pelos espíritas, condenando-os como prática de“macumba”.