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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1065 Dezembro/2013 Coronel Murta A casa é simples, a energia elétrica ainda não chegou. Mas força de vontade, otimismo e dedicação têm de sobra na casa de Juarez Gonçalves dos Santos e Maria Lúcia Pereira Mendes. Casados há 17 anos, o casal vive com seus três filhos, Diego, Lucas e Luan na comunidade Pinho, Município de Coronel Murta. Às 05 horas da manhã, Juarez e Lucia já estão de pé para começar os afazeres do dia- a -dia. Maria Lúcia diz que todo dia levanta esse horário, para fazer o almoço. Os filhos almoçam bem cedo às 08h da manhã, as 08h30min saem de casa para pegar o ônibus escolar, eles andam cerca de 4 km, fazem esse trajeto todos os dias. Diego e Lucas são os dois mais velhos e estudam na cidade de Coronel Murta, já Luan, estuda na comunidade vizinha, (Vereda). A aula deles termina as 04h30min da tarde, mas eles só conseguem chegar em casa por volta as 7h30min da noite. “É assim todos os dias, eles não faltam a aula, só se estiverem doentes, quando ônibus não vem, eles vão a pé mesmo, sempre falo que é o único compromisso que eles têm”, declara Juarez. Maria Lucia diz que até tentou morar na cidade, para facilitar a ida na escola para os meninos, mas não conseguiu se adaptar. “A vida na cidade é muito difícil, pra quem sempre lidou no campo, eu e meus filhos só vivíamos doentes, e não era fácil deixar o Juarez aqui cuidando de tudo sozinho, resolvi vir embora, e apesar da distância sou muito mais feliz aqui”, diz Maria Lúcia. Juarez conta que antes morava na comunidade de Olhos D'água, Município de Araçuaí, e sempre trabalhou com lavouras de feijão, milho, arroz. Com o passar dos anos trabalhou e conseguiu comprar a pequena propriedade em que vive hoje. Ele conta que quando mudou para sua propriedade, não tinha nem estrada, carro não chegava até sua casa, e ele cansado de esperar por ajuda para abrir uma estrada, foi lá e fez tudo a mão, só depois de algum tempo veio uma “m quina” da Prefeitura e terminou o serviço. Depois da estrada pronta ele disse que sentiu uma necessidade muito grande de continuar a trabalhar com a terra, garantir alimentação para sua família. A água era pouca, existia apenas um minador, e não era o suficiente para o consumo da família. A terra era muito fértil, tudo que ele plantava colhia com abundância, as lavouras de feijão, milho, e mandioca eram fartas todos os anos ele colhia muita verdura, mas ele tinha medo que a água do minador secasse. Então, foi quando ele teve a ideia de fazer um reservatório de água para ajudar a suprir suas á Perseverança, trabalho e muita dedicação. Casal em frente a casa da família. Juarez e Lúcia no quintal.

Perseverança, trabalho e muita dedicação

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Page 1: Perseverança, trabalho e muita dedicação

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1065

Dezembro/2013

Coronel Murta

A casa é simples, a energia elétrica ainda não chegou. Mas força de vontade, otimismo e dedicação têm de sobra na casa de Juarez Gonçalves dos Santos e Maria Lúcia Pereira Mendes. Casados há 17 anos, o casal vive com seus três filhos, Diego, Lucas e Luan na comunidade Pinho, Município de Coronel Murta.

Às 05 horas da manhã, Juarez e Lucia já estão de pé para começar os afazeres do dia- a -dia. Maria Lúcia diz que todo dia levanta esse horário, para fazer o almoço. Os filhos almoçam bem cedo às 08h da manhã, as 08h30min saem de

casa para pegar o ônibus escolar, eles andam cerca de 4 km, fazem esse trajeto todos os dias. Diego e Lucas são os dois mais velhos e estudam na cidade de Coronel Murta, já Luan, estuda na comunidade vizinha, (Vereda). A aula deles termina as 04h30min da tarde, mas eles só conseguem chegar em casa por volta as 7h30min da noite. “É assim todos os dias, eles não faltam a aula, só se estiverem doentes, quando ônibus não vem, eles vão a pé mesmo, sempre falo que é o único compromisso que eles têm”, declara Juarez. Maria Lucia diz que até tentou morar na cidade, para facilitar a ida na escola para os meninos, mas não conseguiu se adaptar. “A vida na cidade é muito difícil, pra quem sempre lidou no campo, eu e meus filhos só vivíamos doentes, e não era fácil deixar o Juarez aqui cuidando de tudo sozinho, resolvi vir embora, e apesar da distância sou muito mais feliz aqui”, diz Maria Lúcia. Juarez conta que antes morava na comunidade de Olhos D'água, Município de Araçuaí, e sempre trabalhou com lavouras de feijão, milho, arroz. Com o passar dos anos trabalhou e conseguiu comprar a pequena propriedade em que vive hoje.

Ele conta que quando mudou para sua propriedade, não tinha nem estrada, carro não chegava até sua casa, e ele cansado de esperar por ajuda para abrir uma estrada, foi lá e fez tudo a mão, só depois de algum tempo veio uma “m quina” da Prefeitura e terminou o serviço.Depois da estrada pronta ele disse que sentiu uma necessidade muito grande de continuar a trabalhar com a terra, garantir alimentação para sua família. A água era pouca, existia apenas um minador, e não era o suficiente para o consumo da família. A terra era muito fértil, tudo que ele plantava colhia com abundância, as lavouras de feijão, milho, e mandioca eram fartas todos os anos ele colhia muita verdura, mas ele tinha medo que a água do minador secasse. Então, foi quando ele teve a ideia de fazer um reservatório de água para ajudar a suprir suas

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Perseverança, trabalho e muita dedicação.

Casal em frente a casa da família.

Juarez e Lúcia no quintal.

Page 2: Perseverança, trabalho e muita dedicação

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

necessidades, com ajuda da sua esposa um carrinho de mão, uma picareta e muito suor ele começou a escavar um buraco, que segurasse água por algum tempo. Começou a escavar em uma área mais alta, de maneira que a água tivesse uma queda maior para molhar as plantas na parte de baixo onde seria sua plantação. “Eu percebi que a terra era barrenta, e seguraria água, não medi esforços e comecei com muito cuidado fazer a escavação, tinha ajuda da Maria Lúcia do carrinho de mão e da minha própria vontade, houve dias que a gente saia de lá altas horas da noite, apesar do cansaço e do desgaste a gente não desistiu”, conta Juarez

A escavação durou bastante tempo a ideia dele era ter água para as plantas, para beber e para os animais separadamente.

PerseverançaQuando terminou de escavar o reservatório maior, ele escavou mais dois, uma para consumo da casa, e outra para os animais. Plantou pés de bananas, cipós nativos em volta para proteger contra o deslizamento da terra. Como não tem energia elétrica ele fez tudo estrategicamente para ter uma caída de água para sua casa e seu quintal. “Eu gosto de observar as coisas, analiso e imagino se vai dar certo, depois

coloco em prática”, conta Juarez. Hoje ele produz de tudo, na porta da sua casa, seu jardim é recheado de estaleiros de chuchu, maracujá, mandioca, mamão, beterraba, cenoura, abacaxi, laranjas, café, milho e pés de coqueiro. Além disso, perto das barraginhas ele plantou hortaliças, coentro, cebolinha, alface, couve, entre outras.

Ele conta que esse ano ele conseguiu colher 15 sacos de feijão só do quintal dele, cenoura, beterraba e as hortaliças deram com muita abundância.

“Nós consumimos, doamos, vendemos, e ainda perdeu”, conta Juarez. A produção dele garante soberania alimentar para sua família e para seus vizinhos. Maria Lúcia diz que nunca faltam verdura ou frutas em sua casa, para alimentar seus filhos, e quem chegar para partilhar da sua mesa farta. O resto da produção Juarez leva para as escolas, e vende na cidade de Coronel Murta.

“Tudo que planto é sem uso de agrotóxico, a terra trata tudo, não coloco nada, além do meu trabalho. Meu sonho é aumentar minha produção, sei que ainda vou conseguir”. Diz Juarez Apesar dos desafios esse casal persistiu e conseguiu com muito trabalho, esforço e força de vontade garantir para os filhos alimentação digna e saudável. Eles não mediram esforços para trabalhar, e mostrou que o Semiárido é um lugar rico de pessoas, inteligentes, criativas e perseverantes que acreditam em seus sonhos, e faz de tudo para realizá-los com muita força de vontade.

ApoioRealização

Primeiro reservatório de água que Juarez abriu.

Estaleiro de chuchu do quintal do casal.

Estaleiro de maracujá.

Plantação de feijão, irrigada com águado reservatório.