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Personalidade e Crescimento Pessoal Cap.1e2

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PERSONALIDADE E CRESCIMENTO PESSOAL

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F145p Fadiman, Jarnes Personalidade e crescimento pessoal / James Fadiman e

Robert Frager; trad. Daniel Bueno - 5. ed. - Porto Alegre : Artmed, 2004.

1. Psicologia - Desenvolvimento - Personalidade. I. Frager, Robert. II. Título.

CDU 159.923.2

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/1023

ISBN 85-363-0207-0

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PERSONALIDADE E CRESCIMENTO PESSOAL

James FADIMAN Robert FRAGER

51 edição

Tradução:

Daniel Bueno

Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:

Bernard Range Doutor cm Psicologia

Instituto de Psicologia, UFRJ

Marta Rezende Cardoso (Cap. 1) Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise

Université Paris VII

Ana lila Lejarraga (Cap. 2) Doutora em Saúde Coletiva

Instituto de Medicina Social, UERJ

Rogério Christiano Buys (Caps. 14 e 15) Doutor em Psicologia

Instituto de Psicologia, UFRJ

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Obra originalmente publicada sob o título

Personality & personal growth

© Prentice Hall, 2002 ISBN 0-13-040961-8

Capa

Gustavo Macri

Preparação do original Josiane Tibursky

Leitura final

Aline Pereira

Supervisão editorial

Mônica Ballejo Canto

Projeto e editoração Armazém Digital Editoração Eletrônica - Roberto Vieira

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A.

Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS

Fone: (51) 3330-3444 Fax: (51) 3330-2378

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.

SÃO PAULO Av. Rebouças, 1073 - Jardins

05401-150 São Paulo SP Fone: (11) 3062-3757 Fax: (11) 3062-2487

SAC 0800 703-3444

* IMPRESSO NO BRASIL PR1NTED IN BRAZIL

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A nossas esposas: Ayhan e Dorothy e filhos: Ariel, Eddie, John, Kenan, Renee e Maria e aos nossos Professores

Nossos sinceros agradecimentos também aos colaboradores: William Brater, Rebecca Caldwell, Jennifer Clements, Franz R. Epting, Judith V Jordan, Larry M. Leitner, Jean Baker Miller, Bernard J. Paris, Kaisa Puhakka, Jonathan D. Raskin, Irene Pierce Stiver, Janet L. Surrey, Eugene Taylor

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AUTORES

James Fadiman Doutorado em Psicologia pela Universidade de Stanford, leciona na San Fran­cisco State University, na Brandeis University e em Stanford. Tem sua própria empresa de consultoria e oferece seminários para executi­vos e educadores nos EUA e no exterior. É au­tor ou organizador de livros sobre saúde holís-tica, estabelecimento de metas e psicologia anormal, além de editor de duas revistas. Tam­bém é membro da diretoria de diversas cor­porações ligadas à preservação dos recursos naturais.

Robert Frager Doutorado em Psicologia Social pela Universidade de Harvard, onde foi professor-assistente de Erik Erikson. Leciona Psicologia na UC Berkeley, na UC Santa Cruz e é fundador e primeiro presidente do Instituto de Psicologia Transpessoal. Também foi Pre­sidente da Associação de Psicologia Transpes­soal. Autor de diversos livros e inúmeros arti­gos em psicologia e áreas afins, atualmente é diretor do programa de orientação espiritual no Instituto de Psicologia Transpessoal em Paio Alto, Califórnia.

Utilizo os conhecimentos psicológicos e clíni­cos que adquiri na escola de pós-graduação em uma variedade de áreas além da psicolo­gia. Embora tenha sido orientador educacio­nal universitário por muitos anos e continue dando aulas de psicologia, tenho me dedica­do mais ao trabalho de consultoria com cien­tistas e homens de negócios. Minhas pesqui­sas iniciais sobre estados alterados de cons­ciência me permitiram descobrir a profunda sabedoria das culturas indígenas e não-ociden-tais. Descobri com prazer que a sabedoria an­tiga revelou-se imensamente prática.

Este livro me ofereceu oportunidade de reu­nir diferentes pontos de vista que me pare­ciam pessoalmente úteis, ainda que os cria­dores destas idéias fossem mutuamente an­tagônicos.

Atualmente dou aulas sobre resolução criati­va de problemas e inventividade para uma im­portante empresa de produtos eletrônicos do Vale do Silício, estou concluindo um segundo romance, continuo escrevendo uma série de contos, além de estar envolvido com diversas empresas ambientais iniciantes.

Tive a sorte de ter conhecido e trabalhado com muitos teóricos e terapeutas notáveis, cujo tra­balho é apresentado neste livro; pessoalmen­te me submeti à análise junguiana, à terapia Gestalt, à terapia reichiana e neoreichiana, e ao grupo de trabalho rogeriano. Também já vivi em templos zens, retiros iogues e centros sufistas; estudei e pratiquei essas tradições.

Além de ensinar psicologia, sou instrutor de aikido, a arte marcial japonesa, a qual pratico há mais de trinta anos. Fui aluno direto do fundador do aikido. Ele foi o primeiro de uma série de professores maravilhosos que me en­sinaram o que Maslow chamava de confins da natureza humana. Em parceria com Jim Fadiman, organizei uma coletânea de históri­as, poesias e ensinamentos sufistas, intitulada Essential sufism (HarperSanFrancisco, 1997), e escrevi Heart, Self, and Soul (Quest, 1999), um livro sobre psicologia sufista.

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PREFÁCIO

Mais uma vez fizemos mudanças para facilitar a leitura do livro, tornando-o útil è mais atual, sem contudo perder a ênfase que mantivemos desde a primeira edição. Apresentamos aos estudantes um livro que os apoia e incentiva a utilizarem a si mesmos como principal modo de avaliar cada teoria. Cada capítulo lhes oferece oportunidades para validar seus insights através da experiência direta e, observando

' suas próprias reações, chegar a suas próprias conclusões sobre a utilidade e o valor de cada teoria.

Cada capítulo continua enfocando os aspectos mais fortes da teoria e os motivos pelos quais ela continua sendo amplamente utilizada, em vez de suas limitações. Que­remos que os estudantes possam testar e retestar a validade ou a utilidade das teorias conforme suas próprias experiências de vida e bom senso.

Sabemos igualmente que a maioria dos estudantes que utilizam este texto não prosseguirão em estudos de pós-graduação, nem se tornarão psicólogos profissionais. Aqueles que o fizeram nos disseram que este volume foi-lhes muito útil como referên­cia em sua formação adicional, enquanto que aqueles que não continuaram nos infor­mam que seu entendimento das questões aqui levantadas enriqueceu suas vidas.

Quase a mesma coisa acontece com professores e autores. Embora os proponentes especializados de cada teoria tenham sido capazes de

nos indicar áreas em que sua teoria tem sido aplicada com êxito, todos eles reconhe­cem que a pesquisa sobre esta, ainda que valiosa e empolgante, não é definitiva o bastante para lhes permitir afirmar que um ponto de vista contrário não poderia ser válido. Por isso, incluímos dados de pesquisa somente quando eles elucidam a teoria em discussão.

Gostaríamos de ter incluído outros autores cujo trabalho fez com que o campo progredisse, mas por motivos de espaço e por nossa inclusão de áreas além do escopo de muitos outros textos, isso não foi possível.

NOVIDADES NESTA EDIÇÃO

Precisamos dizer a verdade: são poucos os autores neste livro que escreveram material original desde nossa última edição. Assim, aproveitamos a oportunidade para examinar o texto propriamente dito. Examinamos cada linha de cada capítulo fazendo duas perguntas:

1. Como isso poderia ser dito de maneira mais clara? 2. Esta linha ou seção é realmente necessária?

Todos os capítulos foram aperfeiçoados e abreviados. A maioria deles, mesmo depois de nossos acréscimos subseqüentes, não ficaram mais longos do que antes.

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X PREFÁCIO

Como seria previsível, descobrimos erros que passaram despercebidos, em nossas quatro edições e revisões, pela leitura de quatro editores e pelo exame completo de quatro revisores. Por favor, informe-nos sobre erros que ainda deixamos passar.

NOVA PEDAGOGIA

Endereços na internet. Como nossos alunos acostumaram-se a utilizar a internet, isso nos permitiu oferecer tarefas muito mais desafiadoras. Os alunos podem perse­guir interesses mais especializados, mesmo dispondo de acesso limitado a bibliotecas acadêmicas convencionais. Eles não tardam em descobrir que alguns sites da internet possuem peculiaridades incríveis que jamais poderiam ser igualadas pelas editoras universitárias. Além disso, existem cada vez mais professores no mundo inteiro que divulgam seu modo particular de trabalhai- com cada um de nossos autores. Os alunos não estão mais limitados a nossas próprias opiniões nem às opiniões de seu professor. Para cada teoria, incluímos endereços suficientes para oferecer um leque inicial de opções.

Os leitores estão convidados a enviar os sites de sua preferência que, por­ventura, não tenhamos incluído. Isso pode ser feito pelos endereços eletrônicos [email protected] ou [email protected].

Novo Capítulo. O capítulo sobre a psicologia de construto pessoal e psicologia cognitiva de George Kelly foi dividido em dois capítulos separados. O novo capítulo sobre Kelly foi escrito por três dos profissionais e pesquisadores mais conhecidos dos Estados Unidos: Franz Epting, da Universidade da Flórida, em Gainsville, Larry Leiter, da Universidade de Miami, em Oxford, Ohio, e Jonathan Raskin, da Universidade Estadual de Nova York, em New Paltz. Eles nos convenceram de que nossa visão ante­rior de Kelly, identificando-o como teórico cognitivo, baseava-se em uma compreen­são insuficiente de seu trabalho. Sabemos agora que Kelly pertence à linhagem de teóricos humanistas, à qual pertencem Rogers e Maslow. Sua obra é profundamente otimista, e a terapia oriunda de seu trabalho é decididamente pragmática.

Alterações por Capítulo. Como assinalamos, todo os capítulos sofreram profun­das alterações: o texto foi alterado, as referências foram atualizadas e sites na internet foram acrescentados. A ordem dos capítulos também foi alterada para que autores mais estreitamente vinculados ficassem mais próximos. Além disso, foram feitas as seguintes mudanças específicas em cada capítulo:

• Capítulo 4 - CarI Gustav Jung e a psicologia analítica. O capítulo foi considera­velmente rescrito para tornar os complexos conceitos junguianos mais compreen­síveis. Particularmente, acrescentamos referências a pesquisas atuais que têm apli­cado a teoria junguiana em novas áreas.

• Capítulo 5 - Alfred Adler e a psicologia individual. Expandimos e reescrevemos o resumo da abordagem teórica básica de Adler, e também incluímos referências a aplicações interculturais da teoria adleriana.

• Capítulo 6 - Karen Horney e a psicanálise humanística. A seção sobre terapia é totalmente nova e incorpora conferências proferidas por Horney a terapeutas em treinamento, descobertas há pouco tempo e nunca publicadas anteriormente.

• Capítulo 7 - A psicologia das mulheres. Na última edição, este era o capítulo mais radical do livro. Ele agora está mais radical ainda. Deixamos de lado nosso estilo usual para poder criar o maior impacto possível sobre os alunos. O conteúdo questiona diretamente algumas das afirmativas feitas em quase todos os outros capítulos. Para dar mais vividez à teoria, incluímos uma descrição do que pode acontecer quando uma mulher aplica estes insights a si mesma. A autora, Rebecca Caldwell, generosamente nos permitiu incluí-la aqui.

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PREFÁCIO XÍ

Além disso, acrescentamos uma seção de Jennifer Clements, membro de um grupo de pesquisadores que têm aplicado os insights desenvolvidos pela equipe do Stone Center na criação de novos modos de se fazer pesquisa. A "investigação orgâ­nica" utiliza os pressupostos básicos de relacionamento e igualdade, os quais influ­enciam não apenas os tipos de pesquisa que podem ser experimentados, mas tam­bém os seus efeitos sobre os indivíduos, o pesquisador e também sobre seus eventu­ais leitores.

• Capítulo 8 - Erik Erikson e o ciclo de vida. Revelamos o papel central desempe­nhado por Joan Erikson como co-autora e colaboradora de seu marido. Ela tem sido subestimada ou completamente ignorada na maioria das discussões sobre o trabalho de Erikson. Também acrescentamos uma nova seção significativa sobre desenvolvimentos recentes, incluindo pesquisa e texto sobre identidade e geratividade.

• Capítulo 9 - Wilhelm Reich e a psicologia somática. Reduzimos o capítulo e acrescentamos novas referências, incluindo uma publicação recente de revistas de Reich e um apanhado geral sobre os princípios e práticas das terapias somáticas.

• Capítulo 10 - William James e a psicologia da consciência. O capítulo inteiro foi aperfeiçoado por Eugene Taylor, da Universidade de Harvard. Taylor, como ele próprio disse, "corrigiu inúmeras pequenas questões", acrescentou várias no­vas seções sobre a orientação básica de James, assim como seções sobre o traba­lho de James com drogas psicodélicas, meditação, parapsicologia e múltipla per­sonalidade.

• Capítulo 11 - B. F. Skinner e o behaviorismo radical. Quando Skinner faleceu, seus inúmeros adversários, por não terem mais com quem brigar, passaram a dis­cutir outras questões. Conseqüentemente, ocorreu uma diminuição do interesse efetivo por Skinner. Demos menos importância às questões pelas quais Skinner lutou e nos concentramos mais em seu tremendo impacto sobre toda a psicologia.

• Capítulo 13 - George Kelly e a psicologia do construto pessoal. Inteiramente novo, como dissemos anteriormente.

• Capítulo 14 - Carl Rogers e a perspectiva centrada na pessoa. Diversas mudan­ças foram feitas para alinhar os conceitos básicos do capítulo com a influência crescente de Rogers, principalmente fora dos Estados Unidos.

• Capítulo 15 - Abraham Maslow e a psicologia transpessoal. Incluímos novo material sobre autores transpessoais, incluindo Stanislav Grof e Ken Wilber.

• Capítulo 16 - Ioga e a tradição hindu. Acrescentamos novo material comparan­do os princípios básicos entre as disciplinas contemplativas.

• Capítulo 17 - Zen e a tradição budista. O capítulo sobre budismo inclui uma discussão que compara o conceito budista do se//com aquele de Karen Horney e da teoria psicológica ocidental em geral, além de uma comparação das teorias budista e psicanalítica.

• Capítulo 18 - Sufismo e a tradição islâmica. O capítulo inclui novas citações do poeta Rumi e de outros destacados poetas sufistas. Todo o capítulo foi remodelado pela inclusão de material de um novo volume sobre sufismo e psicologia.

Comentários, críticas e sugestões serão bem-vindos. Agradecemos aos revisores, cujas sugestões e correções reforçaram partes impor­

tantes do texto. São eles: Beverly J. Goodwin, Doutor da Indiana University of Pennsylvania, Myron M. Arons, Doutor da State University of West Geórgia, e John Robertson, Doutor da North Hennepin Community College. Também expressamos nos­sos sinceros agradecimentos a Sharon Rheinhardt, por seu apoio a esta edição. Somos especialmente gratos pela sabedoria, bom humor e bom senso de Kim Gueterman, nossa editora de produção, que se esforçou para que este volume fosse o mais bem planejado e livre de erros possível. Sua dedicação e seus próprios padrões de exigência nos fizeram trabalhar com muito mais afinco nas revisões e melhorias finais.

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V

SUMÁRIO

Prefácio ix

1. Introdução 19 Uma abordagem construtiva da teoria da personalidade 19 Teorias da personalidade 20 Expandindo o alcance da teoria da personalidade 20 A estrutura dos capítulos 23 Endereços na internet 28 Referências bibliográficas 28

2. Sigmund Freud e a Psicanálise 29 História pessoal 29 Antecedentes intelectuais 32 Principais conceitos 33 A estrutura da personalidade 35 Fases psicossexuais de desenvolvimento 37 As idéias de Freud sobre as mulheres 40 Dinâmica: ansiedade, psicanálise e trabalho do sonho 41 Estrutura 45 Terapeuta/terapia 47 Avaliação 49 A teoria em primeira mão: excerto de Estudos sobre a histeria 51 Destaques do capítulo 54 Conceitos-chave 55 Bibliografia comentada 56 Endereços na internet 57 Referências bibliográficas 58

3. Anna Freud e os Pós-freudianos: Melanie Klein, Donald Winnicott, Heinz Kohut e a Terapia da Gestalt de Fritz e Laura Perls 61 Anna Freud / . 61 Desenvolvimentos adicionais na teoria psicanalítica:

Melanie Klein, Donald Winnicott e Heinz Kohut 67 William Brater

Desenvolvimentos adicionais na teoria psicanalítica: a terapia da gestalt de Fritz e Laura Perls 74

A teoria em primeira mão: três excertos de Anna Freud 81 A teoria em primeira mão: excerto de Fritz Perls, Gestalt therapy verbatim 82 Destaques do capítulo 83

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14 SUMÁRIO

Conceitos-chave 84 Bibliografia comentada 85 Endereços na internet 86 Referências bibliográficas 86

4 Carl Gustav Jung e a Psicologia Analítica 89 História pessoal 89 Antecedentes intelectuais 92 Principais conceitos 94 Dinâmica 106 Estrutura 109 Avaliação 111 Desenvolvimentos recentes: a influência de Jung 113 A teoria em primeira mão: excertos de Psicologia analítica 113 Destaques do capítulo 114 Conceitos-chave 115 Bibliografia comentada 116 Endereços na internet 116 Referências bibliográficas 117

5 Alfred Adler e a Psicologia Individual 120 História Pessoal 120 Antecedentes intelectuais 122 Principais conceitos 124 Dinâmica 131 Estrutura 133 Avaliação 136 Desenvolvimentos recentes: a influência de Adler 137 A teoria em primeira mão: excerto de Interesse social 137 Destaques do capítulo 138 Conceitos-chave 139 Bibliografia comentada 140 Endereços na internet 140 Referências bibliográficas 140

6 Karen Horney e a Psicanálise Humanística 142 BernardJ. Paris

História pessoal .^. 143 Antecedentes intelectuais 146 Principais conceitos 148 O novo paradigma de Horney 151 Dinâmica 158 O processo de psicoterapia 160 Aplicações não-clínicas de Horney 162 Avaliação 164 Conclusão 165 A teoria em primeira mão: excerto de Auto-analise 165 Destaques do capítulo 166 Conceitos-chave 167 Bibliografia comentada 169 Endereços na internet 170 Referências bibliográficas 170

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SUMÁRIO 15

A Psicologia das Mulheres: Jean Baker Milier, Irene Pierce Stiver, Judith V. Jordan, Janet L. Surrey, Rebecca Caldwell e Jennifer Clements 172 Seção 1, Uma abordagem relacionai 172

Jean Baker Milier, Irene Pierce Stiver, Judith V. Jordan, Janet L. Surrey Principais conceitos 173 Dinâmica 177 Terapia relacionai, 181 Avaliação 182 A teoria em primeira mão: excerto de Womeris growth in connection 183 Seção 2. Curando a crise relacionai 184

Rebecca Caldwell Seção 3. Pesquisa orgânica: uma metodologia de pesquisa

transpessoal/feminista 186 Jennifer Clements

Antecedentes intelectuais 186 Uma metáfora fundamental 187 O processo 187 A metodologia em ação 188 Destaques do capítulo 188 Conceitos-chave 190 Bibliografia comentada 191 Endereço na internet 192 Referências bibliográficas 192

Erik Erikson e o Ciclo de Vida 195 História pessoal 195 Antecedentes intelectuais 197 Principais conceitos 198 Dinâmica 211 Estrutura 213 Avaliação 215 A teoria em primeira mão: excerto de Infância e sociedade 216 Destaques do capítulo 217 Conceitos-chave 218 Bibliografia comentada 218 Endereço na internet 219 Referências bibliográficas 219

Wilhelm Reich e a Psicologia Somática 221 História pessoal 221 Antecedentes intelectuais 223 Principais conceitos 224 Dinâmica 227 Estrutura 231 Avaliação 233 Outras abordagens da psicologia somática 234 Avaliação 240 A teoria em primeira mão: excerto de Me and the orgone 241 Destaques do capítulo 242 Conceitos-chave 243 Bibliografia comentada 243 Endereços na internet 244 Referências bibliográficas 244

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16 SUMÁRIO

10. William James e a Psicologia da Consciência 247 História pessoal 248 Antecedentes intelectuais 250 Principais conceitos 251 Dinâmica: forças que favorecem e limitam o crescimento pessoal 260 Estrutura 264 O papel do professor 264 Avaliação 265 A psicologia da consciência 266 Avaliação 275 A teoria em primeira mão: excertos de Palestras para professores

e de Variedades da experiência religiosa 276 Destaques do capítulo 277 Conceitos-chave 279 Bibliografia comentada 280 Endereços na internet 280 Referências bibliográficas 281

11. B. F. Skinner e o Behaviorismo Radical 286 História Pessoal 286 Antecedentes intelectuais 288 Principais conceitos 290 Estrutura 399 Avaliação 307 A teoria em primeira mão: excerto de "Humanismo e behaviorismo" 308 Destaques do capítulo 309 Conceitos-chave 310 Bibliografia comentada 311 Endereços na internet 312 Referências bibliográficas 312

12. Aplicações da Psicologia Cognitiva 315 Kaisa Puhakka

Avaliação 322 A teoria em primeira mão: terapia cognitiva 322 Ciência cognitiva e experiência humana: uma nova parceria 323 Destaques do capítulo 323 Conceitos-chave 323 Bibliografia comentada 324 Endereços na internet 324 Referências bibliográficas 324

13. George Kelly e a Psicologia do Construto Pessoal 327 Franz R. Epting, Larry M. Leitner, Jonathan D. Raskin

Introdução 327 História pessoal 328 Antecedentes intelectuais 329 Principais conceitos 330 Dinâmica 340 Diagnóstico 344 Terapia 345 Avaliação 348

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SUMÁRIO 17

A teoria em primeira mão: excerto de The Psychology ofthe Unknown 348 Destaques do capítulo e Conceitos-chave 349 Bibliografia comentada 350 Endereços na internet 351 Referências bibliográficas 351

14. Carl Rogers e a Perspectiva Centrada na Pessoa 354 História pessoal 354 Antecedentes intelectuais 358 Principais conceitos 359 Dinâmica 364 Estrutura 366 A Pessoa em funcionamento perfeito 369 Terapia centrada na pessoa 370 Grupos de encontro 373 Avaliação 375 A teoria em primeira mão: as idéias de Rogers 377 A ligação com a teoria 378 Destaques do capítulo 379 Conceitos-chave 380 Bibliografia comentada 380 Endereços na internet 381 Referências bibliográficas 381

15. Abraham Maslow e a Psicologia Transpessoal 385 História pessoal 385 Antecedentes intelectuais 387 Principais conceitos 388 Dinâmicas 398 Estrutura 400 Desenvolvimentos recentes: a influência de Maslow 402 Avaliação 402 Psicologia transpessoal 403 A teoria em primeira mão: excerto de 'A experiência de platô" 409 Destaques do capítulo 410 Conceitos-chave 411 Bibliografia comentada 412 Endereços na internet 412 Referências bibliográficas 413

16. loga e a Tradição Hindu 415 História 415 Principais conceitos 417 Dinâmica 431 Estrutura 433 Avaliação 435 A teoria em primeira mão: excertos de Radha: diary of a womarís search 436 Destaques do capítulo 437 Conceitos-chave 437 Bibliografia comentada 439 Endereços na internet 439 Referências bibliográficas 439

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18 SUMÁRIO

17. Zen e a Tradição Budista 441 História 441 Principais conceitos 443 Dinâmica 451 Estrutura 454 Avaliação 460 Desenvolvimentos recentes: a influência do budismo 462 A teoria em primeira mão: excertos de The wild white goose 463 Destaques do capítulo 464 Conceitos-chave 464 Bibliografia comentada 465 Endereços na internet 465 Referências bilbiográficas 466

18. Sufismo e a Tradição Islâmica 468 História 469 Principais conceitos 474 Dinâmica 476 Estrutura 482 Avaliação 487 A teoria em primeira mão: excerto de Forty days: the diary ofa traditional solitary sufi retreat 488 Destaques do capítulo 489 Conceitos-chave 490 Bibliografia comentada 491 Endereços na internet 492 Referências bibliográficas 492

Créditos 495 índice onomástico 497 índice analítico 507

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1 INTRODUÇÃO

Este texto tem por objetivo oferecer a você um conjunto mundial e intercultural de conhe­cimentos para lhe ajudar a explorar a nature­za humana. Em todos os capítulos desta quin­ta edição apresentamos uma variedade de fer­ramentas para que você possa adquirir uma maior compreensão tanto de sua própria per­sonalidade quanto da de outras pessoas.

UMA ABORDAGEM CONSTRUTIVA DA TEORIA DA PERSONALIDADE

Abordamos cada teoria da maneira mais positiva e favorável possível. Cada capítulo foi lido e avaliado por teóricos e praticantes de cada sistema para assegurar que nosso modo de tratá-lo fosse relativamente abrangente e preciso. Em alguns casos, os melhores profissionais dos Es­tados Unidos escreveram o capítulo segundo nossas especificações. Evitamos tanto quanto possível a tendência de criticar ou depreciar qualquer teoria. Ao contrário, procuramos des­tacar as virtudes e a eficácia de cada aborda­gem. Também procuramos não ser partidários nem irrefletidamente ecléticos. Entretanto, nos­sas escolhas foram intencionalmente tendencio­sas. Incluímos os pensadores cuja importância e utilidade são evidentes na psicologia e deixa­mos de lado outros pensadores conhecidos que pareciam menos úteis ou menos compatíveis com o objetivo geral deste volume.

Cada um dos pensadores deste livro ofe­rece algo de especial valor e relevância, iso­lando e esclarecendo diversos aspectos da na­tureza humana. Achamos que cada um deles é essencialmente "correto" em sua própria área de conhecimento. Não obstante, apresentamos algumas divergências cruciais entre os pensa­

dores, cujas disputas muitas vezes se parecem com a conhecida história dos cegos que encon­tram um elefante. Ao tocar uma parte do ele­fante, cada um deles supunha que a parte sob seus dedos continha a chave para a aparência total do animal.

Na versão original da fábula, os cegos eram filósofos enviados a um estábulo com­pletamente escuro por um sábio rei (que pro­vavelmente estava cansado de suas divergên­cias acadêmicas). Cada um dos filósofos in­sistia que sua experiência limitada, e a teoria baseada naquela experiência, era a totalida­de da verdade.

Nós utilizamos uma abordagem diferen­te. Partimos do pressuposto de que cada teo­ria tem algo relevante para cada um de nós. Por exemplo, aqueles que recebem seu salá­rio conforme suas horas de trabalho podem descobrir que o conceito de B. F. Skinner de programas de reforço elucida seu comporta­mento no local de trabalho. Contudo, é pro­vável que a leitura de Skinner não ajude as pessoas a compreender por que participam de serviços religiosos. Para isso, os textos de Carl Jung sobre o poder dos símbolos e o signifi­cado do self provavelmente serão mais úteis. Assim, em momentos diferentes ou em dife­rentes áreas de nossas vidas, cada teoria pode oferecer orientação, elucidação ou clareza.

É provável que você sinta muito mais afi­nidade por alguns pensadores apresentados neste livro do que por outros. Cada pensador está escrevendo sobre determinados padrões básicos da experiência humana; com freqüên­cia, sobre padrões provenientes de suas pró­prias vidas. É possível que você aprecie aque­las teorias que se concentram em padrões que mais se assemelham aos seus.

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20 JAMES FADIMAN & ROBERT FRAGER

Cada capítulo discute uma teoria ou pers­pectiva que contribui para nosso conhecimento geral do comportamento humano. Estamos con­vencidos de que, além de nosso padrão biológi­co inato de crescimento e desenvolvimento, pos­suímos uma tendência para o crescimento e de­senvolvimento psicológico. Esta tendência, des­crita por diversos psicólogos como um esforço para a auto-realização - o desejo de compreen­der a si mesmo e a necessidade de utilizar ao máximo nossa própria capacidade -, é um de nossos pressupostos e caracteriza este texto de modo especial.

TEORIAS DA PERSONALIDADE

Antes de Freud e dos outros grandes pen­sadores da personalidade, não havia, no oci­dente, grande interesse pelas teorias da perso­nalidade. As doenças mentais eram considera­das conseqüências inexplicáveis de possessão "alienígena" ou demoníaca de indivíduos que, em outros aspectos, eram considerados racio­nais e lógicos. De fato, os primeiros médicos especializados no tratamento de doentes men­tais eram chamados de "alienistas".

Uma das maiores contribuições de Freud foi insistir que os eventos mentais são regidos por regras e por uma estrutura de causa e efei­to. Ele observou os pensamentos e comporta­mentos irracionais e inconscientes de seus pa­cientes e percebeu que eles se enquadravam em certos padrões. Freud inaugurou, assim, uma "ciência do irracional". Além disso, ele re­conheceu que a maioria dos padrões de com­portamento observados em pacientes neuróti­cos e psicóticos pareciam ser variantes intensi­ficadas dos padrões mentais observados em pessoas normais.

Jung, Adler e muitos outros desenvolve­ram as idéias de Freud. Na teoria de Jung, o inconsciente do indivíduo inclui não apenas memórias pessoais (como Freud havia enfati­zado), mas também material do inconsciente coletivo de toda a humanidade. Alfred Adler e outros concentraram sua atenção no ego como um sofisticado mecanismo de adaptação ao am­biente interno e externo.

Karen Horney explorou a psicologia do ego e também foi pioneira no desenvolvimen­to da psicologia das mulheres. Em certo sen­tido, expandiu a teoria psicanalítica para in­cluir as mulheres. Seu trabalho foi levado

adiante por várias gerações de pensadoras. Entre as de maior prestígio está o grupo de Stone Center, cujo trabalho teórico de amplo reconhecimento é apresentado no Capítulo 7, "A psicologia das mulheres".

William James, contemporâneo de Freud e Jung, estava mais interessado na própria consciência do que em seus conteúdos. Em sua exploração de como a mente funciona, James foi um precursor dos psicólogos cognitivos. Foi também o fundador dos estu­dos da consciência, campo em que os pesqui­sadores investigam temas como os estados al­terados de consciência, incluindo sonhos, me­ditação e biofeedback.

Pensadores norte-americanos posteriores, tais como George Kelly, Carl Rogers e Abraham Maslow, ocuparam-se com as questões de saú­de e desenvolvimento psicológico. Nas convin­centes palavras de Maslow, "é como se Freud tivesse nos fornecido a metade doente da psi­cologia e agora devêssemos completá-la com sua metade saudável" (Maslow, 1968, p. 5).

EXPANDINDO O ALCANCE DA TEORIA DA PERSONALIDADE

Nos últimos anos, três abordagens da na­tureza e do funcionamento humanos tornaram-se cada vez mais importantes: a psicologia cog­nitiva, a psicologia das mulheres e as aborda­gens não-ocidentais. Nossa inclusão dessas áre­as visa estender os limites e o alcance das pers­pectivas tradicionais sobre a teoria da perso­nalidade.

Psicologia cognitiva

A psicologia cognitiva tornou-se impor­tante em muitas áreas da psicologia, inclusive na teoria da personalidade. Ela oferece tanto um modo de analisar o funcionamento da pró­pria mente quanto um modo de apreciar a ri­queza e complexidade do comportamento hu­mano. Se pudermos melhor compreender como pensamos, observamos, nos ocupamos e lem­bramos, seremos capazes de compreender mais claramente como estes blocos de construção cognitivos acarretam medos, ilusões, trabalhos criativos e todos os comportamentos e eventos mentais que nos fazem ser quem somos.

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O trabalho pioneiro do psicólogo George Kelly salientou a importância de compreender intelectualmente nossa experiência. Para Kelly, todas as pessoas são cientistas, formulando teo­rias e hipóteses sobre si mesmas e os outros.

A psicologia das mulheres

Uma segunda impor tan te abordagem da natureza e do funcionamento humanos , a inda um pouco fora do círculo acadêmico, reconhe­ce as diferenças en t re homens e mulheres . Pa­rece absurdo, mas a maioria das teorias da per­sonalidade e a maior ia dos outros textos didá­ticos cont inuam evi tando essa questão crucial (Madden e Hyde, 1998). Nossa primeira edi­ção, escrita no início da década de 1970, in­cluía um capítulo chamado "A psicologia das mulheres". Naquela época, havia mui to inte­resse, mas pouca pesquisa substancial. Em nos­sa segunda edição, excluímos o capítulo e in­corporamos a ques tão das diferenças sexuais no resto do texto. Em nossas terceira e quar ta edições, embora a inda incorporássemos o as­sunto em mui tos dos capítulos, tivemos o pri­vilégio de t rabalhar com um grupo de estudio­sos e te rapeutas eminentes que generosamen­te se dispuseram a escrever u m a exposição ori­ginal da contr ibuição especial dos estudos fe­mininos ao campo da personal idade. Na pre­sente edição, acrescentamos um longo relato pessoal de u m a a luna sobre sua descoberta de si mesma, bem como u m a seção sobre um novo conjunto de ins t rumentos de pesquisa prove­niente destes novos e n t e n d i m e n t o s . As im­plicações desta m u d a n ç a de foco recém come­çam a ser apreciadas , n ã o apenas no ocidente (Macoby, 1998; Valsiner, 1989) , mas também em suas aplicações mais amplas na compreen­são de modelos de desenvolvimento não-oci-dentais (Korbei, 1998 ; Fadiman, 2000) .

Teorias orientais da personalidade

Os três capítulos finais deste livro são de­dicados aos modelos de personal idade desen­volvidos em três disciplinas psicoespirituais do oriente: Ioga, Zen-budismo e Sufismo. Os Ca­pítulos 16, 17 e 18 representam u m a amplia­ção dos limites tradicionais da teoria da perso­nalidade. A med ida que a psicologia se torna um campo de es tudo mais internacional , me­

nos dependen te dos pressupostos filosóficos e intelectuais dos Estados Unidos e da Europa ocidental, esses outros pontos de vista vão sen­do mais amplamente incorporados em outras partes do sistema educacional.

Essas teorias orientais foram desenvolvi­das em sociedades e sistemas de valor que fre­qüentemente são mui to diferentes da Europa e dos Estados Unidos. As crenças e ideais oriun­dos dessas culturas enriquecem nossas idéias sobre o que é ser um ser h u m a n o .

As tradições religiosas subjacentes a es­tes sistemas - h induísmo, budismo e islamis-mo - representam hoje as perspectivas de qua­se três bilhões de pessoas que vivem em mais de cem países diferentes. Essas três tradições são seguidas pela maioria da população mun­dial e são real idades de vida para seus segui­dores.

I n t e r e s s e c o n t e m p o r â n e o pe los s is te­m a s o r i en ta i s . O interesse pelo pensamento oriental cont inua crescendo. Observa-se u m a proliferação constante de cursos, livros e or­ganizações baseadas em disciplinas orientais diversas. Muitos ocidentais em busca de novos valores e desenvolvimento pessoal e espiritual se dedicam ao es tudo ou à prática intensiva de um sistema oriental.

As teorias orientais incluem conceitos po­derosos e técnicas eficazes de desenvolvimen­to pessoal e espiritual. Tanto a pesquisa quan­to a aplicação prática destas disciplinas têm au men tad o no ocidente.

Existe um reconhecimento crescente de que os psicólogos ocidentais podem ter subestima­do as psicologias e terapias de outras cultu­ras. Algumas disciplinas asiáticas possuem te­rapias sofisticadas, e estudos experimentais comprovaram sua capacidade de induzir efei­tos psicológicos, fisiológicos e psicoterapêu-ticos. Um número cada vez maior de ociden­tais, incluindo profissionais de saúde mental, utiliza hoje terapias asiáticas. Os benefícios incluem novas perspectivas sobre o funciona­mento, potencial e patologia psicológicos, bem como novas abordagens e técnicas. Além dis­so, o estudo de outros costumes e culturas muitas vezes tem o efeito saudável de revelar pressupostos etnocêntricos e crenças limitado­ras que não se supunham, levando assim a uma visão mais ampla da natureza e da tera­pia humana [...].

As psicologias asiáticas se concentram mais nos níveis existenciais e transpessoais e me­nos no patológico. Elas dispõem de mapas de-

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talhados dos estados da consciência, dos ní­veis de desenvolvimento e dos estágios de ilu­minação que vão além dos mapas psicológi­cos ocidentais tradicionais. Além disso, afir­mam possuir técnicas para induzir esses esta­dos e condições. (Walsh, 1989, p. 547-548)

Estes capítulos oferecem a você a oportu­nidade de considerar, avaliar e, em certa me­dida, vivenciar essas perspectivas da persona­lidade no contexto de um curso de psicologia crítico e comparat ivo. Temos muitos indícios do interesse e t empo que os es tudantes já es­tão dedicando a essas questões.

O e s tudo das p s i co log ias o r i en t a i s . Por que es tudar religiões em um curso de psicolo­gia? Para mui tos , a palavra religião tem fortes conotações de d o g m a r ígido, mora l idade con­vencional, etc. Essas idéias não parecem parti­cularmente compatíveis com a psicologia.

É impor t an t e l embrar que, nes te caso, estamos l idando com psicologias orientais e não com religiões orientais. A ioga, o zen-budismo e õ sufismo originaram-se da necessidade co­m u m de explicar a relação entre experiência religiosa e vida cotidiana. Os guias espirituais estavam entre os primeiros psicólogos no oci­dente e no oriente. Eles precisavam compreen­der a dinâmica emocional e pessoal de seus alu­nos, bem como suas necessidades espirituais. A fim de compreender as questões que seus alu­nos defrontavam, os guias utilizavam primeira­mente suas próprias experiências, princípio que vemos respeitado, na atual idade, na análise di­dática à qual os psicoterapeutas se submetem.

Esses sistemas realmente diferem da maio­ria das teorias da personalidade ocidentais por sua maior preocupação com valores e conside­rações morais e por sua ênfase na recomenda­ção de viver-se de acordo com certos modelos espirituais. Devemos viver den t ro de um códi­go moral , a rgumen tam, porque u m a vida mo­ra lmente codificada tem efeitos definidos, re­conhecíveis e benéficos à nossa consciência e bem-estar geral. Ent re tan to , todas as três psi­cologias vêem a moral e os valores de um m o d o pragmático, até m e s m o iconoclasta. Cada u m a dessas tradições enfatiza a futilidade e insen­satez de se valorizar mais a forma exterior do que a função interior.

Essas psicologias, como suas equivalen­tes ocidentais, provêm da observação cuida­dosa da experiência humana . Elas se assentam sobre séculos de observações empíricas dos

efeitos psicológicos, fisiológicos e espirituais de u m a var iedade de idéias, at i tudes, comporta­mentos e exercícios.

Ent re tan to , a v i ta l idade e impor tânc ia dessas psicologias tradicionais repousa na cons­tante testagem, reformulação e modificação de suas idéias iniciais para ajustarem-se a novos contextos e situações interpessoais, bem como a diferentes condições culturais. Em outras pa­lavras, estas psicologias seculares a inda são pert inentes , a inda m u d a m e se desenvolvem.

Carl Jung escreveu, "o conhecimento da psicologia oriental [...] forma a base indispen­sável para uma análise crítica e u m a conside­ração objetiva da psicologia ocidental" (em Shamdasani , 1996, p. x-xi). Acreditamos que o desenvolvimento de uma psicologia comple­ta repousa em nosso es tudo e compreensão do pensamento oriental.

Exper iênc ia t r a n s p e s s o a l . Cada um des­tes sistemas se concentra no desenvolvimento transpessoal, ou desenvolvimento além do ego e da personalidade. Eles partilham com a psico­logia transpessoal (ver Capítulo 15) a crença de que é possível, através da meditação e de outras disciplinas da consciência, entrar em pro­fundos estados de consciência que estão além (trans) de nossa experiência pessoal cotidiana. Em contraste, os psicólogos ocidentais geralmen­te discutem o desenvolvimento em termos de fortalecimento do ego: maior autonomia, auto­determinação, auto-realização, liberdade de pro­cessos neuróticos e um estado mental saudá­vel. Entretanto, os conceitos de desenvolvimento transpessoal e de fortalecimento do ego podem ser mais complementares do que antagônicos.

O pioneiro pensador da personal idade, Andras Angyal (1956, p. 44-46) , discute cada um desses pontos de vista.

Visto de uma dessas perspectivas [o pleno de­senvolvimento da personalidade], o ser hu­mano parece estar se esforçando basicamente para afirmar e expandir sua autodetermina­ção. Ele é um ser autônomo, uma entidade autodesenvolvida, que se afirma ativamente, em vez de reagir passivamente, como um cor­po físico, aos impactos do mundo circundante. Esta tendência fundamental se expressa no empenho da pessoa em consolidar e aumen­tar seu autogovemo, em outras palavras, exer­cer sua liberdade e organizar os elementos per­tinentes de seu mundo a partir do centro au­tônomo de governo que é o seu self. Tal ten­dência - a qual denominei "tendência para a

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maior autonomia" - se expressa na esponta­neidade, na auto-afirmação e na busca de li­berdade e de domínio.

Vista de outro ângulo, a vida humana re­vela um padrão muito diferente do descrito acima. Nesta perspectiva, a pessoa parece pro­curar um lugar para si mesma em uma unida­de maior, da qual procura tornar-se uma par­te. Na primeira tendência, nós a vemos lutan­do em busca de centralidade em seu mundo, tentando moldar, organizar os objetos e even­tos de seu mundo, trazê-los à sua própria ju­risdição e governo [como no desenvolvimen­to do ego]. Na segunda tendência, ela parece entregar-se de bom grado à busca de um lar para si mesma e tornar-se uma parte orgânica de algo que concebe como maior do que ela própria [como no desenvolvimento transpes-soal]. A unidade supra-individual da qual nos sentimos uma parte, ou da qual desejamos nos tornar uma parte, pode ser formulada de for­mas variadas de acordo com nossa experiên­cia cultural e compreensão pessoal.

Esta segunda tendência pareceria ser mais aplicável àqueles que já obtiveram um certo grau de autodomínio, maturidade e auto-rea-lização. O desenvolvimento de uma forte per­sonalidade autônoma e senso de identidade parece ser pré-requisito para este segundo tipo de desenvolvimento.

Os Capítulos 16, 17 e 18 apresentam teorias da personalidade abrangentes e prá­ticas descritas em termos psicologicamente pertinentes. Cada sistema preocupa-se pro­fundamente com as questões de valores fun­damentais, com a experiência transpessoal e com a relação do self individual com um todo maior. Cada teoria recebeu considerável aten­ção no ocidente, e muitos aspectos destes sis­temas já estão sendo aplicados em diferen­tes facetas da psicologia. A avaliação dos sis­temas orientais não difere dos julgamentos pessoais que lhe pedimos para fazer em re­lação às teorias ocidentais neste livro: elas lhe ajudam a compreender a si próprio e aos outros? Em que aspecto elas se assemelham à sua experiência pessoal?

História pessoal Antecedentes intelectuais Principais conceitos Dinâmica

Crescimento psicológico Obstáculos ao crescimento

Estrutura Corpo Relacionamentos sociais Vontade Emoções Intelecto Self Terapeuta/professor

Avaliação A teoria em primeira mão Destaques do capítulo Conceitos-chave Bibliografia comentada Endereços na internet Referências bibliográficas

Uma das maiores dificuldades ao compa­rar e contrastar diferentes teorias da persona­lidade é que não apenas cada teoria deu sua própria contribuição distinta e única à totali­dade do conhecimento humano, como também cada uma delas tem abordagens, definições e dinâmicas próprias. Muitas vezes uma mesma palavra, como, por exemplo, self, tem signifi­cados muito diferentes de teoria para teoria. (Alguns pensadores até utilizaram a mesma pa­lavra de modo distinto em seus próprios escri­tos.) Para facilitar as coisas, procuramos des­crever cada teoria em termos de sua utilidade para a compreensão humana. Abordamo-nas não como um pesquisador, ou como um tera-peuta, nem como um paciente, mas principal­mente como pessoas que procuram compreen­der a si mesmas e aos outros. Felizmente, mui­tas das teorias têm pontos em comum e po­dem ser facilmente comparadas. Exceto quan­do não fazia sentido (por exemplo, em partes do Capítulo 3, "Anna Freud e os pós-freudia-nos", e no Capítulo 7, "A psicologia das mulhe­res"), utilizamos este sistema de organização.

A ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Os capítulos geralmente se dividem nas seguintes seções (os exercícios de Reflexão pes­soal, como o da p. 29, distribuem-se ao longo de cada capítulo):

História pessoal

Cada capítulo apresenta a história pes­soal e os antecedentes intelectuais do pensa­dor. Esboçamos as principais influências sobre o pensamento de cada teórico, influências en-

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raizadas na infância, bem como em experiên­cias posteriores fundamentais.

Aprendemos que é mais fácil compreen­der uma teoria se soubermos mais a respeito de seu criador. Assim, as biografias apresenta­das em cada capítulo permitem que o leitor desenvolva uma idéia sobre a pessoa antes de começar a estudar sua teoria. Você descobrirá que a teoria de Skinner (ou de Freud ou de Rogers, etc.) faz muito mais sentido quando compreendemos sua origem na experiência de vida de seu criador.

Antecedentes intelectuais

Qualquer teoria deve parte de sua gêne­se e de seu desenvolvimento às idéias dos ou­tros. Toda teoria foi desenvolvida em uma de­terminada sociedade, em uma determinada época na história, época em que algumas ou­tras teorias e conceitos influenciaram o pen­samento de praticamente todos os escritores e investigadores. Uma idéia é na verdade parte de um ecossistema de teorias e conceitos re­lacionados. Muitas vezes é mais fácil apreciar o campo de ação de uma teoria se conhece­mos as principais correntes intelectuais de sua época. Por exemplo, a maioria das teorias de­senvolvidas no final do século XIX foram for­temente influenciadas pelos princípios dar-winistas de evolução, seleção natural e sobre­vivência do mais apto.

Principais conceitos

A parte principal de cada capítulo explo­ra a teoria, iniciando-se com um resumo de seus principais conceitos. Estes são a base sobre a qual repousa cada teoria e são os elementos que os psicólogos citam quando distinguem as teo­rias. Os conceitos também são o que cada pen­sador concordaria serem suas contribuições mais importantes para a compreensão humana.

Esta seção é chamada "Principais concei­tos", e não "Principais fatos". Seria estimulan­te dizer que os principais conceitos cobertos neste livro repousam, após muitos anos de pes­quisa, em bases factuais. Infelizmente não é assim. Ainda não existe muita comprovação objetiva para a existência do id, dos arquéti­pos, da sublimação, do complexo de inferiori­dade ou da projeção (principais conceitos dos

próximos cinco capítulos). Entretanto, existem comprovações empíricas de diversas idéias im­portantes, tais como os conceitos de identida­de e desenvolvimento humano, de Erikson, e o conceito de auto-realização, de Maslow.

Mais do que dados empíricos, o campo da teoria da personalidade contém um imenso volume de idéias brilhantes, observações cla­ras, métodos inovadores de tratamento e ex­posições perspicazes de conceitos que nos aju­dam a compreender a complexa realidade de quem somos.

O leitor poderá observar que raramente citamos pesquisas. Praticamente todos os pen­sadores são extremamente críticos quanto à validade e utilidade das pesquisas eventual­mente realizadas sobre suas teorias (Corsini e Wedding, 1989). Em vez disso, utilizamos o espaço limitado de que dispomos para cada teoria para torná-la o mais compreensível, cla­ra e vivida possível.

Dinâmica

Somos sistemas vivos, e não estáticos. Chamamos de crescimento psicológico nossos modos de procurar obter maior saúde e cons­ciência e de obstáculos ao crescimento as for­mas pelas quais o crescimento é retardado, obstruído, desviado, impedido ou corrompido.

Todas as teorias incluídas neste livro de­senvolveram um conjunto de intervenções, cha­madas de terapia, aconselhamento ou práticas espirituais, para ajudar as pessoas a superar os obstáculos e retornar ao crescimento normal. Embora sejam subprodutos fascinantes da teo­ria, estas intervenções não são discutidas mi­nuciosamente, porque este é um texto sobre a teoria da personalidade, e não sobre psicote-rapia.

Estrutura

Procuramos ser consistentes a fim de ajudá-lo a comparar e contrastar as diferentes teorias, sem, contudo, ser rígidos ao ponto de sermos injustos com as teorias. Embora todas as teorias do livro possam afirmar que inclu­em todos os principais aspectos do funciona­mento humano, constatamos que cada uma delas enfoca mais claramente algumas áreas e negligencia quase totalmente outras. Muitas

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vezes o que dizemos sob um determinado títu­lo se resume essencialmente a "Esta teoria não discute isto".

Corpo. Embora este seja um livro sobre teorias psicológicas, todas elas se baseiam no estudo de seres humanos corporificados, que respiram, comem, ficam tensos e relaxam. Al­gumas teorias atentam para o quanto o corpo físico influencia os processos psicológicos, ou­tras nem tanto.

Wilhelm Reich é provavelmente o pensa­dor ocidental mais preocupado com o corpo. Embora em seu trabalho posterior Freud te­nha dado menor relevo à libido, Reich tomou o conceito freudiano de libido como seu prin­cípio central. Para Reich, a liberação da bioenergia bloqueada é a principal tarefa da psicoterapia. Reich afirmava que mente e cor­po são uma coisa só; todos os processos psico­lógicos, pressupôs ele, são parte de processos físicos e vice-versa.

Relacionamentos sociais. Quando dize­mos que os seres humanos são animais sociais, estamos sugerindo que extraímos significado e satisfazemos nossas necessidades básicas es­tando uns com os outros - nas famílias, nos grupos de divertimento, nas amizades, nos gru­pos de trabalho, nos casais e nas comunida­des. Algumas teorias consideram estes grupos sumamente importantes, enquanto outras fo­calizam o mundo interior do indivíduo e ten­dem a ignorar as relações sociais. Por exem­plo, Karen Horney, que estava profundamente interessada nos determinantes culturais da per­sonalidade, definia neurose em termos de re­lacionamentos sociais. Ela analisou três padrões neuróticos clássicos: aproximar-se das pessoas, ir contra as pessoas e afastar-se das pessoas. Embora quase todos os capítulos se concen­trem em torno da questão do desenvolvimen­to individual, o capítulo sobre a psicologia das mulheres examina a centralidade dos relacio­namentos entre indivíduos. As questões levan­tadas nesse capítulo têm repercussão sobre to­dos os demais e devem ser mantidas em men­te durante a leitura do livro.

Vontade. Saint Paul disse: "Aquilo que eu faria, eu não faço. Aquilo que eu não faria, eu faço". Ele estava refletindo sobre a discrepân­cia entre suas intenções e sua capacidade de realizá-las.

Cada um de nós tem um interesse seme­lhante pelo que em nós se interpõe entre nos­

sas intenções ("Vou concluir a tempo a leitura de todo o material das aulas desta semana") e os resultados ("Vi dois filmes, fui a uma festa ótima, li um pouco, e só dei uma olhada no resto"). Muitas teorias tratam desta luta hu­mana fundamental: como transformar inten­ção em ação.

William James fez da vontade um con­ceito central em sua psicologia. Para James, a vontade é uma combinação de atenção e es­forço. Ela é um instrumento importante para concentrar a consciência. Segundo James, a vontade pode ser sistematicamente fortalecida e treinada. Já Skinner considerava a vontade um conceito confuso e irrealista, pois para ele todas as ações são determinadas, mesmo que não saibamos o suficiente para compreender como ou por quê. Portanto, a vontade não tem lugar na teoria de Skinner.

Emoções. Descartes escreveu: "Penso, logo existo". A psicologia acrescenta: "Sinto, logo sou plenamente humano". A teoria psico­lógica possui muitas formas de considerar os efeitos das emoções sobre todas as outras ati­vidades físicas e mentais.

Para Maslow e para as psicologias orien­tais, existem dois tipos de emoções: positivas e negativas. Maslow considera a calma, a ale­gria e a felicidade emoções positivas. Ele es­creveu que elas facilitavam a auto-realização. De modo análogo, a tradição da ioga distingue as emoções que conduzem a maior liberdade e conhecimento daquelas que aumentam a ig­norância.

Intelecto. As teorias da personalidade muitas vezes enfocam os seus aspectos irracio­nais. É interessante observar como os pensa­dores interpretam o funcionamento "racional" de formas muito diferentes e constatar que eles diferem amplamente quanto à importância que dão à racionalidade.

Para o pensador George Kelly, o intelec­to é um elemento importante na construção de nossas concepções da realidade, sendo um conceito central em sua teoria. No sufismo, existem diversos níveis de intelecto, o que inclui a curiosidade, a lógica e a compreen­são empírica. Também existe o intelecto de­senvolvido, que inclui o coração da mesma forma que a cabeça.

Self. O conceito de seífé de difícil compreen­são, nunca totalmente apreendido por nenhum teórico. Ele é mais do que o ego, mais do que o

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somatório dos fatores que constituem o indiví­duo; ele é menos limitado do que a personali­dade, mas a contém. Oselfé o conceito que mais desafiadoramente se afasta do mundo da ciên­cia pura, recusando-se a ser submetido à medi­ção objetiva. Parece confuso? É possível.

O self também pode ser "sentido". Você tem uma sensação clara de quem você é, não importa o quão doente esteja, o quão chatea­do possa ficar, qual seja sua idade. Um dos au­tores perguntou a seu pai, quando este tinha 88 anos, se alguma vez ele se sentira velho. Ele respondeu que, embora tivesse plena cons­ciência do quanto seu corpo estava envelheci­do, sua idéia de si mesmo parecia inalterada desde a infância. Suas atitudes, opiniões, com­portamentos, humores e interesses tinham mu­dado durante o curso de sua vida, mas este algo fugidio continuava igual. Algumas teorias evitam este nosso aspecto "escorregadio", en­quanto outras investem e fazem dele um con­ceito central.

Uma das maiores diferenças entre a ioga e o budismo, por exemplo, é o modo de definir self. Na ioga, oselfé a essência eterna e imutá­vel de cada indivíduo. Segundo o budismo, não existe um self central e imutável no indivíduo. Uma pessoa é simplesmente um conjunto impermanente de traços finitos. (Skinner diz algo muito parecido, porém de uma perspecti­va totalmente diferente.) O self maior, ou na­tureza de Buda, não é individual, mas do ta­manho de todo o universo.

Terapeuta/professor. Cada teoria con­tém idéias para ajudar as pessoas a crescer e obter maior prazer e integridade em suas vi­das. E, de acordo com seus principais concei­tos, cada teoria estabelece o tipo de treinamen­to que uma pessoa precisaria para se tornar um terapeuta profissional, orientador ou guia qualificado. Há uma grande variação em rela­ção ao que se considera uma preparação acei­tável para este trabalho. Um psicanalista (nos Estados Unidos) geralmente é um médico que, depois de formado, se submete a um árduo trei­namento em psicoterapia psicanalítica por vá­rios anos, ao passo que um monge zen-budista aprende através de anos de meditação e ins­trução espiritual. Cada sistema faz exigências específicas a seus praticantes e estimula a evo­lução de diferentes habilidades.

Avaliação

Ao recapitular uma teoria, existe a ten­dência de assumir uma forte opinião em rela­ção ao valor de um conceito ou outro. Em vez disso, procuramos ficar de lado e deixar para você, leitor, a tarefa de avaliar cada pensador, não apenas conforme as normas acadêmicas e psicológicas tradicionais, mas também confor­me a utilidade que cada teoria possui para você pessoalmente, hoje ou no futuro.

A teoria em primeira mão

Sempre que possível, incluímos um lon­go trecho dos textos do próprio pensador, ou uma descrição do sistema em operação. Acha­mos que é importante que o leitor tenha con­tato com o estilo e personalidade de cada pen­sador. Gostaríamos que você lesse por si mes­mo alguma coisa que cada autor escreveu para obter uma idéia da sua "voz" e experimentar diretamente o que tornou seu trabalho impor­tante e procurado. Muitas vezes o estilo com o qual os pensadores apresentam suas idéias é tão singular e significativo quanto as próprias idéias. Além dos excertos, todos os capítulos incluem diversas citações à margem, que apre­sentam idéias úteis e expressivas sobre os prin­cipais pensadores, seus adeptos e, eventual­mente, seus críticos.

Destaques do capítulo

Para ajudá-lo a apreender os elementos essenciais de cada capítulo, incluímos um re­sumo das principais idéias e questões teóricas centrais discutidas em cada teoria.

Conceitos-chave

Um segundo elemento didático é a seção "Conceitos-chave", próxima ao final de cada capítulo. Esta lista, em forma de glossário, apre­senta as definições dos principais termos utili­zados por cada pensador.

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Bibliografia comentada Endereços na internet

Cada capítulo inclui uma bibliografia co­mentada. O capítulo em si é apenas uma intro­dução para um intrincado e complexo sistema de pensamento. Esperamos que você persiga as teorias que achar mais interessantes e valio­sas. Para facilitar este segundo passo, sugeri­mos livros que nos parecem mais úteis para compreender cada teoria.

Uma das melhores coisas que um profes­sor pode fazer pelos alunos é afastá-los de lei­turas de segunda categoria e direcioná-los para os livros mais úteis e/ou melhores de uma de­terminada área. (Despendemos uma enorme quantidade de tempo examinando os livros que são menos úteis sobre cada teoria, e achamos que você não precisa fazer o mesmo.)

Pela primeira vez incluímos alguns, e pos­sivelmente os mais importantes, endereços da internet para cada teoria. Também sugerimos alguns sites que são tão incrivelmente tenden­ciosos e opiniáticos que não pudemos deixar de incluí-los.

Referências bibliográficas

Incluímos as referências bibliográficas ao final de cada capítulo, em vez de reuni-las ao final do volume. Nossos alunos nos disseram que nosso texto lhes serve de referência para outras aulas, bem como para seu estudo pessoal de determinados pensadores. Por isso, manti­vemos as referências neste formato separado.

REFLEXÃO PESSOAL • Questionário de História de Vida

Este é o primeiro de uma série de exercícios para prepará-lo para alguns dos conceitos apresentados. Até certo ponto, desenvolvemo-nos e somos condicionados por nossa experiência passada e, assim, abordamos qualquer material já inclinados a aceitar ou rejeitar algumas partes dele. Antes de ler este livro, talvez seja útil que você recapitule algumas das principais forças em seu próprio desenvolvimento. Registre suas respostas às per­guntas a seguir. Responda as perguntas da maneira mais livre e plena possível, pois este exercício se destina a seu uso pessoal.

1. Qual o significado de seu nome? Você tem o nome de algum parente? Seu nome tem um significado especial para você ou para sua família?

2. Que apelido(s) você prefere? Por quê? 3. Qual é sua identificação étnica e/ou religiosa? Se ela é diferente da de sua família, fale sobre a diferença. 4. Descreva seus irmãos e o que sente em relação a eles. 5. Descreva seus pais (padrasto/madrasta) e o que sente a respeito deles. 6. Com que membro da família você é mais parecido? Em quê? 7. Qual sua situação de vida atualmente - trabalho, moradia, e assim por diante? 8. Você tem sonhos ou devaneios recorrentes? Como são eles? 9. Que homens ou mulheres do passado você mais gosta e admira? Por quê? Quem você considera um

modelo ideal? 10. Que livros, poemas, músicas ou outras obras de arte mais lhe influenciaram? Quando e como? 11. Que acontecimentos ou experiências interiores trouxeram ou lhe trazem mais alegria? 12. Que acontecimentos ou experiências interiores trouxeram ou lhe trazem mais tristeza? 13. Que ocupação você mais gostaria de ter caso pudesse fazer o que quisesse? Por quê? 14. Que ocupação seria a pior possível para você, algo que você detestaria fazer? Por quê? 15. Existe alguma coisa em você mesmo que você gostaria de mudar? 16. O que você mais gosta em você?

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Reflexões pessoais

Além desta estrutura geral, cada capítulo possui uma série de "Reflexões pessoais" para prepará-lo para alguns aspectos da teoria. A aprendizagem experíencial e a aprendizagem intelectual são processos complementares e não-contraditórios. O contato pessoal com um conceito oferece uma dimensão de proximida­de com a teoria que não poderia ser obtida por outros meios. Os exercícios foram testados e aperfeiçoados até que nossos alunos os consi­derassem úteis.

Recomendamos que você experimente o máximo possível de exercícios de reflexão pes­soal. Nossos próprios alunos constataram que isso realmente aprofunda sua compreensão do material, ajudando-lhes a recordar os concei­tos e aperfeiçoando seu conhecimento de si mesmos e dos outros.

ENDEREÇOS NA INTERNET

http:/ /www.psych-central .com/

Recursos on-line para estudantes e professores de psi­cologia. Muitos links talvez lhe interessem.

http:/ /www.findingstone.com/main.htm Um site com uma ampla gama de informações, links e sugestões práticas sobre muitas áreas da psicologia. Ex­perimente o 'Aska therapist" (Pergunte a um terapeuta). Perguntas sérias respondidas por profissionais atuantes. http:/ /www.psywww.com/index.html

Outro site destinado a estudantes e professores de psi­cologia. Muitas informações e links.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Angyal, A. (1956). A theoretical model for personality studies. In C. Moustakas (Ed.), 'lhe sei/. New York: Harper & Row.

Corsini, R., & Wedding, D. (Eds.). (1989). Currentpsy-choüierapies (4a ed.). Itasca, IL: F.E. Peacock. Fadiman, Jeffrey. (2000). South Africas "Black Market": IIow to do business with africans. Yarmouth, ME: Inter-cultural Press.

Korbei, Lore. (1998). Client-cenleredpsychotherapy: 'lhe individual and the socialization process. In S. Madu, & P Baguma, R (Eds.), In Quesífor psychotherapy for modem África. Sovenga, South África: UNIN Press, p. 100-104.

Maccoby, E. (1998). The two sexes: Growing up apart, comüxg together. Cambridge, MA: Belknap Press of Harvard University Press.

Madden, Margaret, &Hyde, Janet (Eds.). (1998). Spe-cial Issue: Integrating gender and ethnicity into psy-chology courses. Psychology ofWomen Quarlerly, 22. Maslow, A. (1968). Toward a psychology of being (2a

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2 SIGMUND FREUD E A PSICANÁLISE

Não é possível dis­cutir todas as contribui­ções de Freud em ape­nas um capítulo. Portan­to, o que se segue é uma deliberada simplifica­ção de um sistema complexo e intricadamen-te construído. Trata-se de um apanhado geral que pretende tornar o posterior contato com as idéias de Freud mais inteligível e permitir uma melhor compreensão dos pensadores cujas obras foram fortemente influenciadas por ele.

HISTÓRIA PESSOAL

Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg, Morávia, atualmente parte da República Checa. Quando tinha 4 anos de idade, sua família sofreu reveses financeiros e mudou-se para Viena, onde Freud permane­ceu a maior parte de sua vida. Em 1938, ele foi para a Inglaterra para fugir da ocupação alemã da Áustria.

Durante sua infância, Freud sobressaiu-se como aluno. Apesar das limitadas condi­ções financeiras de sua família, com todos os oito membros vivendo juntos em um aparta­mento lotado, Freud, o primogênito, tinha seu próprio quarto e até uma lâmpada a querose­ne para estudar, enquanto o resto da família se arranjava com velas. No ginásio, ele conti­nuou tendo um excelente desempenho aca­dêmico. "Fui o melhor aluno de minha turma por sete anos. Ali desfrutava de privilégios es­peciais e quase não precisei fazer exames" (Freud, 1925a, p. 9).

O clima anti-semita predominante de sua época era tanto que, como Freud era judeu, a

O trabalho de Sigmund Freud, desenvol­vido com seus conhecimentos de biologia, neu­rologia e psiquiatria, propôs uma nova com­preensão da vida mental, a qual influenciou

profundamente a cultu­ra ocidental. Sua visão da condição humana, chocando-se violenta­mente contra as opiniões prevalecentes de sua épo­ca, ofereceu um modo complexo e convincente de compreender o fun­cionamento mental nor­mal e anormal. Suas idéias foram como uma explosão que dispersou

as concepções da natureza humana dos vito­rianos em todas as direções. Os aspectos obs­curos da psique humana por ele explorados aju­daram as pessoas a entender alguns dos hor­rores que ocorreram durante a Primeira Guer­ra Mundial e as mudanças traumáticas que ela ocasionou em todos os países envolvidos no conflito.

Freud explorou áreas da psique que ti­nham sido obscurecidas pela moralidade e filosofia vitorianas. Ele criou novas aborda­gens para o tratamento dos doentes mentais. Seu trabalho contestou tabus culturais, reli­giosos, sociais e científicos. Seus escritos, sua personalidade e sua determinação em am­pliar as fronteiras de seu trabalho o manti­veram no centro de um intenso e inconstan­te círculo de amigos, discípulos e críticos. Freud constantemente repensava e revisava suas próprias idéias. É interessante que seus críticos mais severos incluíam pessoas que ele supervisionara pessoalmente em várias etapas de suas carreiras.

Sigmund Freud, pela for­ça de seus escritos e pela amplitude e audácia de suas especulações, revo­lucionou o pensamento, as vidas e a imaginação de uma era. [...] Seria difícil encontrar na história das idéias, até mesmo na his­tória da religião, alguém cuja influência tenha sido tão imediata, tão ampla ou tão profunda. (Wollheim, 1971, p. Ix)

Freud, juntamente com Marx e Darwin, é conside­rado a influência mais sig­nificativa sobre o pensa­mento ocidental moderno. (Nolan, 1999)

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maioria das carreiras profissionais, exceto medicina e direito, não lhe eram permitidas. Ele escolheu ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de Vie­na em 1873, onde per­maneceu por oito anos,

três a mais do que o habitual. Durante este período, Freud trabalhou no

laboratório de fisiologia de Ernst Brücke, onde realizou pesquisas independentes em histolo-gia - o estudo das estruturas minúsculas dos tecidos animais e vegetais - e publicou artigos em anatomia e neurologia. Aos 26 anos, rece­beu seu titulo de médico. Prosseguiu seu tra­balho com Brücke por um ano, enquanto vivia em casa. Aspirava preencher o próximo cargo disponível no laboratório, mas Brücke tinha dois excelentes assistentes à frente de Freud. Ele concluiu: "O ponto de virada foi em 1882, quando meu professor, por quem eu tinha a mais alta estima, corrigiu a generosa imprevi-dência de meu pai, aconselhando-me, em vir­tude de minha má situação financeira, a aban­donar minha carreira de pesquisador" (1925a, p. 13). Além disso, Freud tinha se apaixonado e percebeu que teria que ter um emprego mais bem-remunerado se quisesse se casar.

Embora relutantemente tenha adotado a clínica privada, seus interesses principais con­tinuaram sendo a exploração e observação

científicas. Trabalhan­do inicialmente como cirurgião e depois em clínica geral, Freud tor­nou-se médico residen­te no principal hospital de Viena. Fez um curso de psiquiatria que au­mentou seu interesse pe­las relações entre sinto­mas mentais e enfermi­dade física. Em 1885, Freud havia conquista­do uma posição de pres­

tigio como professor na Universidade de Vie­na. Sua carreira começou a parecer promissora.

De 1884 a 1887, Freud fez algumas das primeiras pesquisas sobre cocaína. Inicialmente ficou impressionado com suas propriedades: "Testei este efeito da coca, o qual repele a fome, o sono e a fadiga e nos fortifica para o esforço

Ele era profundamente Ju­deu, não no sentido dou­trinário, mas em sua con­cepção de moral idade, em seu amor pela ação céptica da razão, em sua desconfiança da ilusão, na forma de seu talento profético. (Bruner, 1956, p. 344)

Não senti naquela época, nem mesmo poster ior­mente em minha vida, uma predileção particular pela carreira de médico. O que me Impulsionou foi, isto sim, uma espécie de curio­sidade, a qual, contudo, di­rigia-se mais às questões humanas do que aos ob­jetos naturais; tampouco eu havia compreendido a Importância da observa­ção como um dos melho­res meios de satlsfazê-la. (Freud, 1935, p. 10)

intelectual, algumas dezenas de vezes em mim mesmo" (1963, p . l l ) . Ele escreveu sobre seus possíveis usos terapêuticos tanto para distúr­bios físicos quanto mentais. Posteriormente fi­cou preocupado com suas propriedades, que levam à dependência e suspendeu a pesquisa (Byck, 1975).

Com o apoio de Brücke, Freud obteve uma bolsa de estudos para trabalhar com Jean-Martin Charcot, em Paris, onde estudou a técnica de hipnotismo e trabalhou como tradutor de Charcot em suas aulas (Carroy, 1991). Charcot lhe deu permissão para traduzir seus artigos para o alemão quando Freud retornou a Viena.

Seu trabalho na França aumentou seu in­teresse pela hipnose enquanto ferramenta te­rapêutica. Com a cooperação do eminente mé­dico mais velho Josef Breuer, Freud (1895) ex­plorou a dinâmica da histeria. Suas descober­tas foram sintetizadas por Freud: "Os sintomas dos pacientes histéricos dependem de cenas marcantes, porém esquecidas de suas vidas (traumas). O tratamento aí inaugurado con­sistia em fazer o paciente recordar e reprodu­zir estas experiências sob hipnose (catarse)" (1914, p. 13). Contudo, ele descobriu que a hipnose não era tão eficaz quanto se gostaria. Ela não permitia que o paciente ou o terapeu-ta trabalhasse com a resistência do paciente à recordação das memórias traumáticas. Mais tarde, Freud abandonou completamente a hip­nose. Em vez disso, estimulava os pacientes a falar livremente expressando todos os pensa­mentos que lhe viessem à cabeça, não impor­tando como estes pensamentos se relaciona­vam com os sintomas dos pacientes.

Em 1896, Freud utilizou pela primeira vez o termo psicanálise para descrever seus méto­dos. Sua própria auto-analise começou em 1897. O interesse de Freud pela compreensão do inconsciente ofereci­da pelos sonhos descri­tos por seus pacientes levou à publicação de A interpretação dos sonhos, em 1900. Sua séria abor­dagem do significado dos sonhos, radical na­quela época, recebeu pouca atenção mas atual­mente muitos a consideram seu trabalho mais importante. No ano seguinte, Freud publicou outro livro importante, Apsicopatologia da vida cotidiana, no qual examina nossos momentos cotidianos, quando revelamos desejos ocultos sem perceber o que estamos fazendo ou dizen-

Até um exame superficial de meu trabalho revelaria meu débito com as brilhan­tes descobertas de Freud. (Jung, em McGuire, 1974)

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do. Com o tempo, Freud adquiriu um séquito de médicos interessados, incluindo Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Carl Gustav Jung, Otto Rank, Karl Abraham e Ernest Jones. Este gru­po fundou uma sociedade. Artigos eram escri­tos e uma revista era publicada. Em pouco tem­po havia grupos psicanalíticos em diversos paí­ses. Em 1910, Freud foi convidado a ir aos Es­tados Unidos para proferir conferências na Clark University, em Worcester, Massachusetts. Seus trabalhos estavam sendo traduzidos para o inglês. Cada vez mais pessoas se interessa­vam por suas teorias.

Freud passou o resto de sua vida desen­volvendo, ampliando e elucidando a psicanáli­se. Ele tentou manter o controle sobre o movi­mento psicanalítico expulsando aqueles que discordavam de suas idéias e exigindo um grau incomum de fidelidade à sua opinião pessoal.

Jung, Adler e Rank, en­tre outros, saíram após repetidas divergências com Freud em torno de questões teóricas e dife­renças pessoais (Kuhn, 1998). Cada um deles, posteriormente, fundou sua própria escola de pensamento.

Freud escreveu mui­to. Suas obras completas

preenchem 24 volumes e incluem ensaios so­bre os aspectos positivos da prática clínica, uma série de conferências que delineiam a teoria na íntegra e monografias especializadas sobre questões religiosas e culturais. Ele tentou cons­truir uma estrutura que com o tempo pudesse reorganizar toda a psiquiatria, pois temia que os analistas que se desviassem dos procedimen­tos por ele estabelecidos diluíssem a força e as possibilidades da psicanálise. Ele queria, so­bretudo, impedir a distorção e a má utilização da teoria psicanalítica. Por exemplo, em 1931, quando Ferenczi subitamente mudou seus pro­cedimentos, fazendo com que a afeição pudes­se ser expressada mais livremente na situação analítica - diferença radical em relação aos seus métodos (Lothane, 1998) -, Freud escreveu-lhe o seguinte:

Quando subi à plataforma de Worcester para profe­rir minhas "Cinco Confe­rências" sobre psicanáli­se, parecia como um de­vaneio Inacreditável: a psicanálise não era mais um produto do delírio, ela tinha se tornado uma par­te valiosa da realidade. (Freud, 1925a, p. 104)

Percebo que as diferenças entre nós chegaram a um ponto crítico num detalhe técnico que vale a pena discutir. Você não fez segredo do fato de que beija seus pacientes e permite que eles o beijem [...].

Ora, eu sem dúvida não sou daqueles que, por pudicícia ou por respeito à tradição bur­guesa, reprovam pequenas gratificações eró­ticas desse tipo [...]. Até aqui, em nossas técni­cas, mantivemo-nos fiéis à conclusão de que os pacientes não devem receber gratificações eróticas.

Agora imagine qual será o resultado de di­vulgar sua técnica. Não existe revolucionário que não seja expulso do campo por alguém ainda mais radical. Diversos pensadores inde­pendentes em questões de técnica dirão a si mesmos: por que recusar um beijo? (Jones, 1955, p. 163-164)

Apesar da má saúde, Freud manteve sua clínica privada, um cronograma completo de escrita e uma correspondência cada vez mais volumosa, chegando a responder cartas de des­conhecidos que lhe pediam ajuda (Benjamin e Dixon, 1996). Entretanto, à medida que seu tra­balho tomava-se mais disponível, aumentavam as críticas. Em 1933, os nazistas, ofendidos por sua franca discussão sobre questões sexuais, queimaram uma pilha de livros de Freud em Berlim. Sobre isso, Freud comentou: "Que pro­gresso estamos fazendo. Na Idade Média eles teriam me queimado; atualmente, contentam-se em queimar meus livros" (Jones, 1957).

Seu último livro, Um esboço da psicanálise (1940, p.l) , começa com uma brusca advertência aos críticos: "Os ensina­mentos da psicanálise se baseiam em um número incalculável de observa­ções e experiências, e so­mente aquele que repetiu estas observações em si mesmo e nos outros está em condições de chegar a uma opinião pessoal sobre ela".

Os últimos anos de Freud foram difíceis. A partir de 1923, ele enfrenta problemas de saú­de, sofrendo de câncer da boca e maxilares. Ele tinha dor praticamente constante e submeteu-se a um total de 33 operações para deter o de­senvolvimento do câncer Quando, em 1938, os alemães que haviam tomado a Áustria ameaça­ram Anna, sua filha, Freud partiu para Londres com ela, onde faleceu um ano depois.

Infelizmente, o primeiro biógrafo de Freud, Ernest Jones, também seu amigo íntimo, escre­veu uma versão "asséptica" de sua vida (Steiner, 2000), deixando a produção de uma versãomais equilibrada para a geração posterior (Gay,

Ninguém que, como eu, in­voca os mais maléficos entre os demônios melo-selvagens que habitam o íntimo do homem, e pro­cura lutar com eles, pode esperar sair dessa luta Ile­so. (Freud, 1905b)

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1988). Outros criticaram Freud por seu possí­vel caso com a irmã de sua esposa (0'Brien, 1991), por falta de honestidade profissional (Masson, 1984; Newton, 1995), e por ostensi­va desconsideração pelo sigilo na psicanálise (Goleman, 1990; Hamilton, 1991). Ele também foi acusado de possivelmente retratar mal al­guns de seus casos mais célebres (Decker, 1991) e até de ser "o falso profeta do mundo das dro­gas" (Thornton, 1984). Somente a importância atual da obra de Freud justifica a publicação desses ataques.

A importância fundamental de Freud pode ser avaliada não apenas pelo atual inte­resse e discussão sobre aspectos da teoria psi-canalítica, mas, em maior medida, pelo núme­ro de suas idéias que se tornaram parte do le­gado comum do ocidente. Todos estamos em dívida com Freud por sua parcial elucidação do mundo que existe abaixo do consciente.

O pensamento de Freud foi uma síntese original de seu contato com idéias filosóficas, de sua formação no rigor da ciência e de seu contato pessoal com o inconsciente.

Filosofia

Enquanto ainda era estudante na Universi­dade de Viena, Freud foi influenciado pelo poeta romântico alemão Qemens Brentano e também conheceu as idéias de Friedrich Nietzsche (Godde, 1991a). Nietzsche achava, por exem­plo, que as convicções morais provinham da agressividade internalizada. As idéias de Freud também se aproximam das de Arthur Scho-penhauer. Elas se sobrepõem na visão da von­tade, na importância da sexualidade na deter­minação do comportamento, no domínio das emoções sobre a razão, e na centralidade da repressão, isto é, na não-aceitação do que ex-perienciamos (Godde, 1991b),

Biologia

Parte da crença de Freud nas origens bio­lógicas da consciência pode ser atribuída às opiniões de Brücke. Brücke certa vez prestou um juramento formal de ser fiel à seguinte

proposição, que era aberta e otimista para sua época:

Nenhuma outra força atua no organismo além das forças físicas e químicas comuns [...]. (Rycroft, 1972, p. 14)

Charcot demonstrou que era possível in­duzir ou aliviar os sintomas histéricos com a sugestão hipnótica. Freud observou, como ou­tros haviam feito, que na histeria os pacientes apresentam sintomas que são fisiologicamen-te impossíveis. Por exemplo, na anestesia em luva, a pessoa não tem sensibilidade na mão, ao passo que as sensações no punho e no bra­ço são normais. Uma vez que os nervos se es­tendem ininterruptamente do ombro para a mão, não pode haver uma causa física para este sintoma. Ficou cla­ro para Freud que a his­teria era um distúrbio cuja gênese exigia uma explicação psicológica.

Às vezes saio de suas au­las (de Charcot) [...] com uma Idéia completamente nova sobre a perfeição [...]. Nenhum outro ser humano me afetou da mesma ma­neira. (Freud, em E. Freud, 1961, p. 184-185)

Freud não descobriu o inconsciente. Os antigos gregos e sufistas, entre outros, já re­comendavam o estudo dos sonhos. Pouco an­tes da época de Freud, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich von Schiller "haviam bus­cado as raízes da criação poética no incons­ciente" (Gay, 1988, p. 128), assim como o ha­viam feito muitos poetas românticos e até o romancista Henry James, contemporâneo de Freud. A contribuição de Freud reside em sua observação das origens e do conteúdo dessa parte da mente com as novas ferramentas da análise científica. Seu trabalho e a atenção que atraiu fizeram do inconsciente uma parte de nosso linguajar público.

A tentativa final de Freud de desenvolver uma psicologia de base neurológica (1895) pode ter surgido a partir de suas experiências pes­soais anteriores e altamente sofisticadas com cocaína (Fuller, 1992). Este modelo, posterior­mente posto de lado por Freud, foi ressuscitado e visto por alguns como um precursor negligen­ciado, porém brilhante, das teorias contempo­râneas que relacionam as mudanças na quími­ca cerebral aos estados emocionais (Pribram, 1962).

ANTECEDENTES INTELECTUAIS

O INCONSCIENTE

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PRINCIPAIS CONCEITOS

• .

A suposição de que o corpo é a única fon­te de toda a energia mental subjaz todo o pen­samento de Freud. Ele ansiava pelo dia em que todos os fenômenos mentais pudessem ser ex­plicados com referência direta à fisiologia ce­rebral (Sulloway, 1979). Trabalhando a partir de um modelo biológico, Freud procurou criar uma teoria que abrangesse toda a atividade mental. Seus principais conceitos incluem uma repartição estrutural das partes da mente, seus

estágios de desenvolvi­mento, o que elas fazem com a energia e o que as impulsiona.

Determinismo psíquico

Freud pressupu­nha que não havia des-continuidade na vida mental e que todo pen­samento e comporta­mento possui significa­do. Ele afirmava que nada ocorre casualmen­te, muito menos os pro­cessos mentais. Existe uma causa, até múlti­plas causas, para todo pensamento, sentimen­to, memória ou ação. Todo evento mental é ocasionado por intenção consciente ou inconsci­ente e é determinado pelos eventos que o pre­cederam. Embora apa­

rentemente muitos eventos mentais ocorram espontaneamente, Freud negava isso e come­çou a procurar e descrever os elos ocultos que ligam um evento consciente a outro.

Consciente, pré-consciente, inconsciente

Freud descreveu a mente como se ela fos­se dividida em três partes.

Certa noite, na semana passada, enquanto traba­lhava arduamente, ator­mentado pela quantidade exata de dor que parece ser o estado Ideal para la­zer meu cérebro funcio­nar, subitamente os obs­táculos desapareceram, o véu foi tirado, e pude ver claramente desde os deta­lhes das neuroses até as condições que tornam a consciência possível. Tu­do parecia se encaixar, tudo parecia funcionar bem junto, e tinha-se a im­pressão de que a coisa era realmente uma máquina que em breve andaria so­zinha [...] tudo Isso estava perfeitamente claro, e ain­da está. Naturalmente não consigo me conter de pra­zer. (Freud, carta a Fliess; em Boina pado, 1954)

Consciente. A consciência é evidente por si mesma, e por isso ela é a parte da mente com a qual a ciência mais se preocupou - an­tes de Freud. Entretanto, o consciente é ape­nas uma pequena porção da mente; ele inclui apenas aquilo de que estamos cônscios em um dado momento. Ainda que estivesse interessa­do nos mecanismos da consciência, Freud esta­va muito mais interessa­do nas áreas menos ex­postas e menos exploradas da consciência, as quais denominou pré-consciente e inconscien­te (Herzog, 1991).

Pré-consciente. Em termos exatos, o pré-consciente é uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode facilmente tornar-se cons­ciente. As porções da memória que são acessí­veis são parte do pré-consciente. Isso poderia incluir, por exemplo, a lembrança de tudo que uma pessoa fez ontem, de nomes intermediá­rios, da data da conquista da Normandia, de alimentos prediletos, do odor das folhas de ou­tono se queimando e do formato particular de uma torta servida em sua festa de aniversário de 10 anos. O pré-consciente é como uma área de reserva para as memórias de uma consciên­cia em funcionamento.

Inconsciente. Quando um pensamento ou sentimento consciente parece não ter rela­ção com os pensamentos e sentimentos que o precederam, segundo Freud, as conexões es­tão presentes, mas inconscientes. Uma vez en­contrados os elos inconscientes, a aparente des-continuidade se resolve.

No inconsciente existem elementos ins-tintuais, que nunca foram conscientes e que nunca são acessíveis à consciência. Além dis­so, existe material que foi excluído - censura­do e reprimido - da consciência. Este material não foi esquecido, mas tampouco é recorda­do; ele ainda afeta a consciência, porém indi­retamente.

Existe certa vivaci-dade e imediação no material inconsciente. "Sabemos por experiên­cia que os processos mentais inconscientes são em si 'atemporais'. Isso significa dizer, para

Não há necessidade de ca­racterizar o que chama­mos de "consciente", pois este é o mesmo que a consciência dos filósofos e da opinião cotidiana. (Freud, 1940, p. 16)

Certas insuficiências de nossas funções psíquicas e certos atos aparente­mente involuntários pro­vam ter clara motivação quando submetidos à in­vestigação psicanalítica. (Freud, 1901)

Muitos dos desvios mais Intrigantes e aparente-mente arbitrários da teoria psicanalítlca [...] são supo­sições biológicas ocultas, ou resultam diretamente de tais suposições. (Halt, 1965, p.94)

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começar, que eles não são cronologicamente organizados, o tempo não os altera em nada, e tampouco a idéia de tempo pode-lhes ser apli­cada" (Freud, em Fodor e Gaynor, 1958, p. 162). Memórias muito antigas, ao serem libe­radas na consciência, não perderam em nada sua força emocional.

nha, escolher uma bebida e bebê-la. Um ponto crítico a lembrar é que a pulsão pode ser total ou parcialmente satisfeita de diversas manei­ras. A capacidade de satisfazer as necessida­des nos animais geralmente é limitada por um padrão de comportamento estereotípico. As pulsões humanas apenas iniciam a necessida­de de ação; elas não predeterminam a ação particular ou como ela será executada. O nú­mero de soluções acessíveis a uma pessoa é a soma do anseio biológico inicial, do desejo mental (que pode ou não ser consciente) e de uma série de idéias, hábitos e opções prévias disponíveis.

Freud presumia que um padrão normal e saudável procura reduzir a tensão a níveis an­teriormente aceitáveis. Uma pessoa com uma necessidade irá continuar procurando ativida­des para reduzir a tensão original. O ciclo com­pleto de comportamento, do relaxamento à ten­são e atividade e de volta ao relaxamento, é denominado modelo de redução de tensão. As tensões são resolvidas restituindo ao corpo o estado de equilíbrio que existia antes do surgi­mento da necessidade.

Pulsões básicas. Freud elaborou duas descrições das pulsões básicas. O modelo ini­cial descrevia duas forças contrárias: a sexual (de modo mais geral, erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Pos­teriormente ele descreveu estas forças de ma­neira mais global como ou favoráveis à vida ou incentivadoras da morte (destruição). Ambas as formulações pressupunham um par de conflitos biológicos, ativos e insolúveis.

Freud impressionou-se com a diversida­de e complexidade do comportamento prove­niente da fusão das pulsões básicas. "As pul­sões sexuais são notáveis por sua plasticidade, pela facilidade com que mudam seus objeti­vos, por sua permutabilidade - pela facilidade com que substituem uma forma de gratifica­ção por outra — e pelo modo com que podem ser mantidas em suspense" (1933, p. 97). O que Freud observou é que o "objeto" pode ser uma ampla variedade de coisas. O desejo se­xual, por exemplo, pode ser aliviado através de atividade sexual, ou também assistindo a filmes eróticos, observando imagens, lendo so­bre outras pessoas, fantasiando, comendo, be­bendo - até mesmo se exercitando. As pulsões são os canais através dos quais a energia pode fluir, mas esta energia segue leis próprias.

Pulsões

O termo pulsão (trieb em alemão) foi incorretamente traduzido por "instinto" em manuais mais antigos (Bettelheim, 1982, p. 87-88). Pulsões são pressões para agir sem pensamento consciente para determinados fins. Estas pulsões são "a causa fundamental de toda atividade" (Freud, 1940, p. 5). Freud chamava os aspectos físicos das pulsões de "necessidades" e os aspectos mentais de "de­sejos". Necessidades e desejos impelem as pessoas a agir.

Todas as pulsões possuem quatro compo­nentes: uma fonte, um alvo, uma pressão e um objeto. A fonte, onde surge a necessidade, po­de ser uma parte do cor­po ou o corpo inteiro. O

alvo é reduzir a necessidade até que a ação não seja mais necessária, isto é, dar ao orga­nismo a satisfação que agora deseja. A pressão é a quantidade de energia, força ou ímpeto uti­lizada para satisfazer ou gratificar a pulsão. Isto é determinado pela urgência da necessidade subjacente. O objeto de uma pulsão é qualquer coisa ou ação que permite a satisfação do de­sejo original.

Considere-se como estes componentes aparecem em uma pessoa com sede. O corpo gradualmente se desidrata até necessitar de mais líquidos; a fonte é a necessidade crescen­te de líquidos. A medida que esta necessidade aumenta, sente-se sede. Se esta não for satis­feita, torna-se mais intensa. À medida que au­menta a intensidade, aumenta também a pres­são ou energia disponível para fazer alguma coisa para aliviar a sede. O alvo é reduzir a tensão. A solução não é simplesmente um lí­quido - leite, água ou cerveja -, mas todos os atos que concorrem para a redução da tensão. Estes podem incluir levantar-se, ir até a cozi-

Nao é possível restringir qualquer uma das pulsões básicas a uma única re­gião da mente. Elas estão necessariamente presen­tes em todas as partes. (Freud,1940)

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Libido e energia agressiva

Cada uma dessas pulsões generalizadas tem uma fonte distinta de energia. Alibido (ter­mo latino para desejo) é a energia disponível às pulsões de vida. "Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento de­

veria nos proporcionar possibilidades para ex­plicar os fenômenos psi-cossexuais observados" (Freud, 1905a, p. 118).

Uma característica da libido é sua "mobilidade" - a facilidade com que ela pode passar de uma área de atenção para outra. Freud imaginou a natureza volátil da sensibilidade emocional como um fluxo de energia, fluindo para dentro e para fora das áreas de preocupação imediata.

A energia agressiva, ou pulsão de mor­te, não tem uma denominação especial. Supõe-se que ela tem as mesmas propriedades gerais da libido.

Catexia

Catexia é o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é concentrada ou investida em uma pessoa, idéia ou coisa. A libido que foi catexiada não é mais móvel e não pode mais se deslocar para novos objetos. Ela se enraiza na parte da psique que a atraiu e a segurou.

A palavra alemã utilizada por Freud, Be-setzung, significa tanto "ocupar" quanto "inves­tir". Se imaginarmos nossa reserva de libido como uma determinada quantidade de dinhei­ro, catexia é o processo de investi-lo. Uma vez que uma porção foi investida ou catexiada, esta ali permanece, deixando-nos com menos esse tanto para investir em outra parte. Por exem­plo, estudos psicanalíticos do luto interpretam a falta de interesse pelas atividades normais e a excessiva preocupação com o falecido como uma retirada de libido dos relacionamentos usuais para concentrá-la no falecido.

A teoria psicanalítica procura compreen­der onde a libido foi inadequadamente catexia­da. Uma vez liberada ou redirecionada, esta mesma energia está disponível para satisfazer outras necessidades correntes. A necessidade de

liberar energias presas também se encontra nas idéias de Carl Rogers e Abraham Maslow, bem como no budismo e no sufismo. Cada uma des­tas teorias chega a dife­rentes conclusões sobre a origem da energia psí­quica, mas todas con­cordam com a alegação de Freud de que a identificação e canalização da energia psíquica é uma questão importante para a compreensão da personalidade.

A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Freud observou em seus pacientes uma sucessão incessante de conflitos e conciliações psíquicas. Ele viu pulsão contra pulsão, proibi­ções sociais bloqueando pulsões biológicas, e modos de enfrentar freqüentemente em con­flito uns com os outros. Foi somente ao final de sua carreira que ele organizou, para si mes­mo, este aparente caos, propondo três compo­nentes estruturais básicos da psique: o id, o ego e o superego. Embora estes termos sejam comuns na atualidade, eles são artificialmen­te abstratos e produzem uma impressão dife­rente daquela pretendida por Freud (Solms, 1998). Suas palavras foram simples e dire­tas: Das es (id) significa apenas "isso", das Ich (ego) significa "eu", e das uber-Ich (superego) significa "acima do eu". É um pouco tarde para corrigir os estragos causados pela tradução ini­cial do trabalho de Freud. Seus escritos foram deliberadamente obscurecidos para que pare­cessem mais científicos, o que era bem ao gos­to da mentalidade norte-americana predomi­nante da época (Bettelheim, 1982).

O id

O id é o núcleo original de onde emerge o resto da personalidade. Ele é biológico por natureza e contém o reservatório de energia para toda a personalidade. O id propriamente dito é primitivo e desorganizado. "As leis lógi­cas do pensamento não se aplicam ao id" (Freud, 1933, p. 73). Além disso, o id não se modifica à medida que crescemos e amadure-

Existem certas condições patológicas que parecem nâo nos deixar outra alter­nativa senão pressupor que o indivíduo utiliza uma quantidade específica de energia, que distribui em proporções variáveis em seus relacionamentos com objetos e consigo mesmo. (LaPlanche e Pontal is, 1973, p. 65) Uma pessoa adoece por

neurose quando seu ego perdeu a capacidade de alocar sua libido de algu­ma forma. {Freud, 1916)

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cemos. O id não muda pela experiência, por­que não está em conta­to com o mundo exter­no. Seus objetivos sãc simples e diretos: redu­zir a tensão, aumentai o prazer e minimizar c desconforto. O id se es­força para fazer issc através de ações reflexas (reações automáticas

como espirrar ou piscar) e pela utilização de outras porções da mente.

O id pode ser comparado a um rei cegc que tem poder e autoridade absolutos, mas cujos conselheiros de confiança, principalmen­te o ego, lhe dizem como e onde utilizar estes poderes.

Os conteúdos do id são quase totalmente inconscientes. Eles incluem pensamentos pri­mitivos que jamais foram conscientes e pensa­mentos que foram negados, considerados ina­ceitáveis à consciência. Segundo Freud, expe­riências que foram negadas ou reprimidas ain­da possuem a capacidade de afetar o compor tamento da pessoa com a mesma intensidade sem estarem sujeitas ao controle consciente.

No id não há nada que corresponda à idéia de tempo, nenhum reconheci­mento da passagem do tempo, e (algo extraordiná­rio que aguarda a devida atenção na reflexão filosó­fica) nenhuma alteração dos processos mentais pela passagem do tempo [...]. Naturalmente o id des­conhece valores, bem e mal ou moralidade. (Freud, 1933, p. 74)

O ego

O ego é a parte da psique que está em contato com a realidade externa. Ele se desen­volve a partir do id, à medida que o bebê toma ciência de sua própria identidade, para aten­der e aplacar as constantes demandas do id. Para realizar isso, como a casca de uma árvo­re, o ego protege o id, mas também obtém ener­gia dele. Ele tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Freud pressupunha que o ego tem diversas funções em relação tanto ao mundo exterior quanto ao mundo interior, cujos anseios ele procura sa­tisfazer.

Suas principais ca­racterísticas incluem o controle do movimento voluntário e as ativida­des que resultam em au-topreservação. Ele se

torna ciente dos eventos externos, relaciona-

Poderíamos dizer que o ego representa a razão e o bom senso, ao passo que o id representa as paixões indômltas. (Freud, 1933)

os aos eventos do passado e, mediante ativida­de, evita a condição, adapta-se a ela ou modi­fica o mundo externo para torná-lo mais segu­ro ou mais confortável. Para lidar com "even­tos internos", ele tenta manter controle sobre "as demandas das pulsões, decidindo se elas podem obter satisfação, adiando esta satisfa­ção para os momentos e circunstâncias favo­ráveis no mundo externo ou suprimindo suas excitações por completo" (1940, p. 2-3). As ati­vidades do ego consistem em regular o nível de tensão produzida pelos estímulos internos e externos. Um aumento de tensão é sentido como desconforto, ao passo que uma diminui­ção de tensão é sentida como prazer. Portanto, o ego busca o prazer e procura evitar ou minimizar a dor.

Assim, o ego é originalmente criado pelo id como tentativa de lidar com o estresse. En­tretanto, para fazer isso, o ego deve, por sua vez, controlar ou modular as pulsões do id, para que a pessoa possa perseguir modos realistas de lidar com a vida.

O ato de namorar serve como exemplo de como o ego controla as pulsões sexuais. O id sente a tensão oriunda da excitação sexual insatisfeita e, sem a influência do ego, reduzi­ria esta tensão através de atividade sexual ime­diata e direta. Dentro dos limites de um namo­ro, contudo, o ego pode determinar quanta ex­pressão sexual é possível e como estabelecer situações em que o contato sexual seja mais satisfatório. O id é sensível às necessidades, ao passo que o ego é sensível às oportunidades.

O superego

Esta última parte da estrutura da perso­nalidade se desenvolve a partir do ego. O superego serve como juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do ego. Ele é o repo­sitório de códigos morais, de padrões de condu­ta e dos construtos que formam as inibições pa­ra a personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observação e for­mação de ideais. Como consciência, o superego atua para restringir, proi-

[O superego] é como um de­partamento de polícia secre­to, detectando Infalivelmente eventuais tendências de pul­sões proibidas, especial­mente do tipo agressivo, e punindo o indivíduo Ine­xoravelmente se elas estive­rem presentes. (Horney, 1939, p. 211)

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bir ou julgar a atividade consciente, mas ele também age inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas, aparecendo como compulsões ou proibições. "O sofredor [...] se comporta como se estivesse dominado por um senso do qual nada sabe" (1907, p. 123).

O superego desenvolve, aperfeiçoa e man­tém o código moral de um indivíduo. "O superego de uma criança, na verdade, se cons­trói sobre o modelo, não de seus pais, mas do superego de seus pais; os conteúdos que o pre­enchem são os mesmos, e isso torna-se o veí­culo da tradição [...], as quais se propagaram dessa forma de geração para geração" (1933, p. 39). Portanto, a criança aprende não ape­nas os reais limites em qualquer situação, mas também as visões morais dos pais.

Relação entre os três subsistemas

O objetivo primordial da psique é man­ter - e quando necessário, recuperar - um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que ma­ximize o prazer da redução de tensão. A ener­gia que é utilizada se origina no id impulsivo primitivo. O ego existe para lidar realistica-mente com as pulsões básicas do id. Ele tam­bém intermedeia as demandas do id, as res­trições do superego e a realidade externa. O superego, oriundo do ego, atua como um freio moral ou força contrária às preocupações prá­ticas do ego. Ele define diretrizes que defi­nem e limitam a flexibilidade do ego.

O id é inteiramente inconsciente, ao pas­so que o ego e o superego o são somente de forma parcial. "Sem dúvida, grandes porções do ego e do superego podem permanecer in­conscientes, sendo, na verdade, normalmente inconscientes. Isso significa dizer que a pessoa não sabe nada de seus conteúdos, e que é ne­cessário despender esforço para torná-la cons­ciente deles" (Freud, 1933, p. 69).

A psicanálise, método terapêutico desen­volvido por Freud, tem por objetivo principal fortalecer o ego, torná-lo independente das pre­ocupações excessivamente severas do supere­go, e aumentar sua capacidade de conhecer e controlar material anteriormente reprimido ou oculto no id.

FASES PSICOSSEXUAIS DE DESENVOLVIMENTO

Quando um bebê torna-se uma criança, uma criança um adolescente, e um adolescente um adulto, ocorrem mudanças claras no que se deseja e em como os desejos são satisfeitos. As mudanças nos modos de satisfação e nas áreas fí­sicas de gratificação são elementos básicos da des­crição de Freud das eta­pas de desenvolvimento. Freud utiliza o termo fi­xação para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de um está­gio para outro e permanece excessivamente en­volvida com um determinado estágio. Uma pes­soa fixada em um determinado estágio terá a tendência de buscar satisfação de modos mais simples ou mais infantis.

A psicanálise é a primeira psicologia a entender se­riamente o corpo humano intei ro como um lugar para viver [...]. A psicaná­lise é profundamente bio­lógica. (Le Barre, 1968)

A fase oral

A fase oral começa no nascimento, quan­do tanto as necessidades quanto a satisfação envolvem principalmente os lábios, a língua e, um pouco mais tarde, os dentes. A pulsão bá­sica do bebê não é social ou interpessoal; é sim­plesmente receber alimento e aliviar as tensões de fome, sede e fadiga. Durante a alimentação e quando vai dormir, a criança é acalmada, acariciada e embalada. A criança associa tanto o prazer quanto a redução da tensão a estes eventos.

A boca é a primeira área do corpo que o bebê aprende a controlar; a maior parte da energia libidinal disponível inicialmente se di­rige ou se concentra nesta área. A medida que a criança amadurece, outras partes do corpo se desenvolvem e tornam-se zonas importan­tes de satisfação. Entretanto, parte da energia permanece afixada ou catexiada aos modos de gratificação oral. Os adultos possuem hábitos orais bem desenvolvidos e um interesse crôni­co pela manutenção de prazeres orais. Comer, sugar, mascar, fumar, morder e lamber ou es­talar os lábios são expressões físicas desses in­teresses. As pessoas que estão sempre mordis-cando alimentos, ou que comem excessivamen-

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te, e os fumantes podem estar parcialmente fi­xadas na fase oral.

A fase oral tardia, após o aparecimento dos dentes, inclui a satisfação de instintos agressivos. Morder o seio, o que provoca dor na mãe e resulta na retirada do seio, é um exemplo desse tipo de comportamento. O sar­casmo adulto, bater na comida e fofocar fo­ram descritos como relacionados a esta etapa de desenvolvimento.

É normal manter algum interesse nos pra­zeres orais. A gratificação oral pode ser consi­derada patológica somente quando é um modo dominante de satisfação, ou seja, se uma pes­soa é excessivamente dependente de hábitos orais para aliviar a ansiedade ou tensão não relacionada à fome ou sede.

A fase anal

À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e satisfação chegam à consciência. Entre as idades de 2 e 4 anos, as crianças ge­ralmente aprendem a controlar o esfíncter anal e a bexiga. A criança presta especial atenção à urinação e à defecação. O treinamento higiê­nico estimula um interesse natural pela auto-descoberta. O aumento do controle fisiológico é acompanhado da percepção de que este con­trole é uma nova fonte de prazer. Além disso, as crianças rapidamente aprendem que o nível crescente de controle gera atenção e elogio dos pais. O inverso também ocorre: o interesse dos pais pelo treinamento higiênico permite à cri­ança demandar atenção tanto pelo controle bem-sucedido quanto por erros.

As características adultas associadas à fi­xação parcial na fase anal são a excessiva dis­ciplina, parcimônia e obstinação. Freud obser­vou que estes três traços geralmente são vistos juntos. Ele fala do "caráter anal", cujo com­portamento pode estar ligado a difíceis expe­riências sofridas durante este período na in­fância.

Parte da confusão que pode acompanhar a fase anal se deve à aparente contradição en­tre o elogio e o reconhecimento generosos, por um lado, e a idéia de que a higiene íntima é "suja" e deve ser mantida em segredo, por ou­

tro. A criança inicialmente não entende que seus movimentos intestinais e sua urina não são valorizados. As crianças pequenas adoram ver as fezes desaparecendo pelo vaso sanitário quando se puxa a descarga, muitas vezes ace­nando ou dizendo adeus às suas evacuações. E comum que uma criança ofereça parte da eva­cuação aos pais como presente. Diante do elo­gio por tê-las produzido, a criança pode ficar surpresa e confusa se os pais reagem com nojo. Nenhum outro aspecto da vida contemporâ­nea é tão sobrecarregado de proibições e ta­bus quanto a higiene íntima e os comporta­mentos típicos da fase anal.

Afasefál ica

A partir dos 3 anos, a criança entra na fase fálica, que se concentra nos genitais. Freud sustentava que esta fase é mais bem descrita como fálica porque é o período em que a crian­ça adquire consciência de ter ou não um pê-nis. Esta é a primeira fase em que as crianças tornam-se conscientes das diferenças sexuais.

Freud tentou entender as tensões que a criança sente durante a excitação sexual - ou seja, prazer com a estimulação das zonas genitais. Na mente da criança, esta excitação está relacionada com a proximidade física dos pais. O desejo por este contato torna-se cada vez mais difícil de satisfazer; a criança luta para conquistar a intimidade que os pais têm entre si. Essa etapa se caracteriza pelo desejo da criança de ir para cama com os pais e pelo ciú­mes da atenção que os pais dão um ao outro. Freud concluiu de suas observações que, du­rante este período, tanto os homens quanto as mulheres desenvolvem temores em torno de questões sexuais.

As reações das crianças aos pais durante a fase fálica foram interpretadas por Freud como possíveis ameaças à satisfação de suas necessidades. Assim, para o menino que dese­ja estar perto da mãe, o pai assume alguns dos atributos de um rival. Ao mesmo tempo, o menino deseja o amor e afeição do pai, pelo qual a mãe é vista como rival. A criança se en­contra na insustentável posição de desejar e de temer ambos os pais.

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REFLEXÃO PESSOAL • Fases Psicossexuais

Os seguintes exercícios e perguntas lhe oferecem a oportunidade de experimentar os sentimentos associa­dos a cada fase de desenvolvimento. (Se estiver correta a suposição de Freud de que as fixações remanescentes de cada fase estão relacionadas à ansiedade, os exercícios a seguir podem parecer difíceis ou constrangedores.)

Fase Oral

Compre uma mamadeira com bico. Encha-a de leite, água ou suco de fruta. Sozinho ou com os outros cole­gas, beba o líquido. O ato de beber, ou mesmo a idéia de beber, da mamadeira traz-lhe lembranças ou sentimen­tos? Se você for em frente e beber, em que posição se sente mais confortável? Permita-se sentir suas reações sem censura. Compartilhe essas reações com a classe. Você acha que existem respostas que são especificas a homens ou a mulheres?

Fase Anal

Observe até que ponto a privacidade é levada em conta na arquitetura dos banheiros públicos, bem como no banheiro de casa. Que papel desempenha a privacidade em seu comportamento no banheiro? Você evita ser olhado ou até olhar outras pessoas quando entra num banheiro público? Você se imagina urinando em público? Num parque? À beira da estrada? Numa floresta?

Muitas pessoas possuem comportamentos íntimos fortemente condicionados. Por exemplo, algumas pessoas precisam ler quando estão sentadas no vaso sanitário. Qual seria o motivo para este comportamento?

Converse sobre suas observações com os outros e preste atenção em como você se sente ao conversar sobre alguns aspectos deste exercício. Brincadeiras ou risinhos poderiam ser um mecanismo de defesa para algum mal-estar que você tem com o assunto.

Fase Fálica

Você se lembra do que seus pais lhe diziam sobre os genitais quando você era pequeno? As mulheres da turma se lembram do que pensavam sobre os meninos e seus pênis? Os homens da turma se lembram de ter tido medo de perder seus pênis? Se você não tem lembrança desse tipo de sentimento, isso é suficiente para achar que não tinha esses sentimentos naquela época?

Fase Genital

Faça uma lista de informações sexuais errôneas que você recebeu e mais tarde foram corrigidas. (Exemplos: Você foi trazido pela cegonha ou encontrado no supermercado. Toda relação sexual resulta em gravidez.)

Você acha que suas primeiras experiências sexuais influenciaram suas atitudes ou crenças sobre sua própria sexualidade? Estas experiências reforçaram suas crenças anteriores? Como você se sentiu em sua primeira experiência sexual? Você se sente diferente agora? Qual a ligação entre suas atitudes atuais sobre questões sexuais e suas atitudes ou crenças anteriores?

Nos meninos, Freud chamou esse confli­to de complexo de Édipo, nome do herói trá­gico na peça do dramaturgo grego Sófocles. Na versão mais conhecida do mito, Édipo mata o pai e depois casa-se com a mãe (sem conhe­cer nenhum dos pais). Quando finalmente fica sabendo a quem matara e com quem se casa­

ra, Édipo desfigura-se arrancando os dois olhos. Freud acreditava que to­da criança do sexo mas­culino repete um drama semelhante em seu inte-

Então você também está ciente de que o complexo de Édipo está na origem do sentimento religioso. Bravo! (Freud, em carta a Jung; em McGuIre, 1974)

rior. Ele deseja possuir a mãe e matar o pai para realizar esta meta. Também teme o pai e receia ser castrado por ele. A ansiedade em tor­no da castração, o medo e o amor pelo pai bem como o amor e o desejo sexual pela mãe nunca se resolvem plenamente. Na infância todo o complexo é recalcado. Uma das primei ras tarefas no desenvolvimento do superego é manter este conflito perturbador fora da cons­ciência e proteger a criança de expressá-lo em ações.

Para as meninas o problema é semelhante, mas sua expressão e solução tomam um rumo

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A fase genital

O período final de desenvolvimento bio­lógico e psicológico, a fase genítal, ocorre com o início da puberdade e com o conseqüente retorno da energia libidinal para os órgãos se-xuais. Meninos e meninas tomam consciência

de suas identidades sexuais separadas e come­çam a procurar formas de satisfazer suas ne­cessidades eróticas e interpessoais. Freud acha­va que a homossexualidade, nesta fase, era re­sultado de uma falta de desenvolvimento ade­quado, opinião ainda expressada por alguns, a despeito do entendimento moderno sobre as variedades de desenvolvimento sexual.

AS IDÉIAS DE FREUD SOBRE AS MULHERES

As idéias de Freud sobre as mulheres, inicialmente baseadas nas diferenças bioló­gicas entre elas e os homens, tem cada vez mais sido alvo de crítica. Capítulos posterio­res deste livro, especialmente o Capítulo 6 ("Karen Horney e a psicanálise humanística") e o Capítulo 7 ("A psicologia das mulheres"), apresentam perspectivas atuais contrastan­tes. Aqui desejamos apenas apresentar a vi­são de Freud para que você entenda o que os outros pensadores estão discutindo. Refuta-ções elaboradas e contundentes de autores feministas, como, por exemplo, Miller (1984) e Sagan (1988), derrubaram praticamente todos os aspectos da teoria freudiana.

A inveja do pênis - o desejo da menina de possuir um pênis e sua percepção de que "carece" de um é uma crise fundamental no desenvolvimento feminino. "A descoberta de que é castrada é um ponto de virada no desen­volvimento da menina. Existem três possibili­dades de desenvolvimento a partir daí: uma leva à inibição sexual e à neurose, a segunda a uma modificação da personalidade para um complexo de masculinidade, e uma terceira para a feminilidade normal" (Freud, 1933, p. 126).

Esta teoria sugere que a inveja do pênis na menina persiste como um sentimento de in­ferioridade e a predispõe ao ciúme. Na mulher madura, o perpetuo desejo por um pênis, ou "dote superior", transforma-se no desejo de ter um bebê, principalmente do sexo masculino, "que traz junto consigo o pênis tão desejado" (1933). A mulher jamais é forçada a renunciar a seus esforços edipianos pela ansiedade de cas­tração. Conseqüentemente, o superego da mu­lher é menos desenvolvido e internalizado do que o do homem.

Freud via a jovem menina como um ser cujos esforços fálicos eram extremamente im-

diferente. A menina de­seja possuir o pai e vê a mãe como sua principal rival. Os meninos recal­cam seus sentimentos um pouco pelo medo de cas­tração. Para as meninas, o recalcamento de seus

desejos é menos severo, menos total. Esta falta de intensidade permite à menina "permanecer na situação edipiana por um período indefinido. Ela só a deixa n u m a fase avançada da vida, mas nunca totalmente" (Freud, 1933, p. 129). As opi­niões de Freud sobre as mulheres e seu desen­volvimento psicológico continuam sendo alta­mente polêmicas e serão discutidas neste e em outros capítulos.

O Pe r íodo de l a tênc ia . Qualquer que seja a forma de resolver a luta, a maior par te das crianças parece modificar sua ligação com os pais em algum m o m e n t o depois dos 5 anos de idade e voltar-se para os re lacionamentos com os amigos, para as at ividades escolares, para os esportes e para outras habilidades. Esta fase, dos 5 ou 6 anos a té o início da puberdade , é denominada per íodo de latência, quando os de­sejos insolúveis da fase fálica são recalcados pelo superego com êxito.

A partir de então, até a puberdade, [...] a se­xualidade não se desenvolve; pelo contrário, os esforços sexuais diminuem de força, e gran­de parte do que a criança praticou ou conhe­ceu anteriormente é abandonado e esqueci­do. Neste período, depois que os primeiros florescimentos da vida sexual murcharam, for­mam-se as atitudes do ego como a vergonha, a repugnância e a moralidade, para fazer fren­te às tempestades posteriores da puberdade e orientar os caminhos dos desejos sexuais re-cém-despertados. (1926, p. 216)

Tanto pa ra pais q u a n t o para filhos, este é um per íodo re la t ivamente calmo e psicologi­camente t ranqüi lo .

Todos os aspectos do complexo de Edipo femi­nino foram efetivamente contestados, utilizando-se dados e métodos empíri­cos que não existiam na época de Freud. (Emmanuel, 1992, p. 27)

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desenvolve a partir de sua feminilidade in­trínseca inata, que passa por seus próprios processos de maturação" (Fliegel, 1973, p. 387). Ele também sugeriu que a ansiedade de castração provém do temor básico de per­der a sexualidade, e que este medo represen­ta para uma menina a mesma ameaça que pa­ra um menino (Jones, 1927).

Talvez seja conveniente reavaliarmos um conceito psicanalítico tradicional que recebeu consideráveis críticas feministas. Em vez de eli­minar a idéia de inveja do pênis como um todo (o que não explicaria suas manifestações clíni­cas freqüentes), podemos rejeitar a idéia de que as mulheres sentem-se inferiores por cau­sa da inveja do pênis e examinar mais profun­damente por que algumas mulheres realmen­te manifestam sentimentos de inferioridade, principalmente no período da adolescência. As recorrentes críticas da literatura feminista in­dicam que as observações de Freud sobre os sentimentos femininos de inferioridade pode­riam ser reavaliadas, mas não descartadas (Richards, 1999), mesmo que a idéia freudiana de como estes sentimentos surgiram não pare­ça realista.

DINÂMICA: ANSIEDADE, PSICANÁLISE E TRABALHO DO SONHO

A psicanálise surgiu de modo natural como fruto de anos de tratamento de clientes. A teoria baseou-se em algumas premissas cen­trais. Uma delas era o papel fundamental da ansiedade na manutenção da neurose (isto é, comportamento inadaptativo repetitivo).

Ansiedade

O maior problema da psique é como li­dar com a ansiedade. A ansiedade é desenca­deada por um aumento de tensão ou desprazer; ela pode se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginária) quando a ameaça a algu­ma parte do corpo ou da psique é forte demais para ser ignorada ou dominada.

Os eventos que podem causar ansiedade incluem, entre outros, os seguintes:

1. Perda do objeto desejado - por exemplo, uma criança privada de

portantes, mas inevitavelmente insatisfeitos, o que a condena a sentimentos de perpétua deficiência e inferioridade. Apesar destas as-serções (que previsivelmente receberam mui­tas críticas na literatura feminista), Freud afir­mou diversas vezes que achava que jamais havia realmente entendido as mulheres ou a psicologia das mulheres. Na verdade, ele rei­terou muitas vezes o caráter e valor experi­mental de sua descrição pessoal da sexuali­dade feminina e suas vicissitudes.

Ele supôs que a sexualidade feminina era constituída de uma sexualidade masculina de­sapontada, em vez de representar o resultado de tendências distintamente femininas. Hoje esta visão talvez seja a mais fraca das suposi­ções da teoria freudiana.

A maioria dos primeiros textos psicana-líticos afirma que a ausência de um pênis na menina conduz não apenas à inveja do pênis do menino e a sentimentos de inferioridade, mas também à real inferioridade, isto é,

inferioridade em ter­mos de seu senso de justiça, curiosidade in­telectual, capacidade de aplicar suas idéias independentemente da aprovação de um ho­mem, etc. A idéia de que a inveja do pênis possa ser um fenômeno clínico muito real e fre­qüentemente observa­

do é descartada porque, na mente de muitas pessoas, ela está muito intimamente ligada à hipótese da inferioridade feminina generali­zada. Isso é lamentável, pois, como sugeriu Karen Horney (1926), a inveja do pênis pode ser uma experiência natural para as mulhe­res da mesma forma que a inveja da gravidez, do parto, da maternidade e da amamentação é uma experiência natural para os homens. Ainda mais importante, sentir inveja não predestina a menina à perpétua inferioridade. Ao contrário, sua ocorrência, diz Horney, pode oferecer-lhe um complexo conjunto de senti­mentos cujo enfrentamento e domínio por par­te da menina são fundamentais para seu cres­cimento e desenvolvimento, certamente não como um ser humano inferior, e sim maduro.

Ernest Jones, o primeiro biógrafo de Freud, foi um dos primeiros psicanalistas a afirmar que "o apego edipiano da menina se

Ainda que a anatomia, é verdade, possa apontaras características de mascu-linidade e feminilidade, a psicologia nâo. Para a psi­cologia, o contraste entre os sexos desaparece gra­dualmente entre atividade e passividade e, com ex­cessiva facilidade, identi­ficamos at iv idade com masculinidade B passivi­dade com femini l idade. (Freud, 1930)

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Psicanálise: a teoria

A intenção de Freud, desde seus primeiros escritos, era melhor compreender os aspectos da vida mental que eram obscuros e aparente­mente inacessíveis. Ele chamou de psicanáli­se tanto a teoria quanto a terapia.

Psicanálise é o nome (1) de um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis de outra maneira, (2) de um método (baseado nessa investigação)

um dos pais, de um amigo íntimo ou de um animal de estimação.

2. Perda de amor - por exemplo, rejei­ção, fracasso em recuperar o amor ou a aprovação de alguém impor­tante para você.

3. Perda de identidade - por exem­plo, medos de castração ou perda do rosto.

4. Perda de amor por si mesmo - por exemplo, desaprovação de traços pelo superego, bem como qualquer ato que resulte em culpa ou ódio de si mesmo.

Existem dois mo­dos de diminuir a ansie­dade. O primeiro é lidar com a situação de modo direto: superando obs­táculos, confrontando ou fugindo de ameaças, e resolvendo ou che­gando a um acordo com os problemas para mini­

mizar seu impacto. Dessa forma, trabalhamos para eliminar dificuldades, diminuir as chances de sua recorrência e também diminuir as pers­pectivas de ansiedade adicional no futuro. Nas palavras de Hamlet, "tomamos armas contra um mar de problemas e por resistência os fin­damos".

A abordagem alternativa defende-se da ansiedade distorcendo ou negando a própria situação. O ego protege toda a personalidade contra a ameaça falsificando a natureza da ameaça. Os modos pelos quais as distorções são empreendidas são chamados de mecanis­mos de defesa (Anna Freud, 1936) e serão mi­nuciosamente discutidos no Capítulo 3.

Se o ego é obrigado a ad­mitir sua debilidade, ele rompe em ansiedade - an­siedade realista com res­peito à aparência do mun­do externo, ansiedade mo­ral com respeito ao supe­rego e ansiedade neuróti­ca com respeito à força das paixões no id. (Freud, 1933)

para o tratamento dos transtornos neuróticos, e (3) de um conjunto de informações psicoló­gicas obtidas desta maneira, as quais se estão gradualmente acumulando para formar tuna nova disciplina científica. (1923, p. 234)

Freud acreditava que o material incons­ciente permanece inconsciente somente com considerável e contínuo dispêndio de libido. Quando este material é tornado acessível, li­bera-se uma energia que pode ser utilizada pelo ego para propósitos mais saudáveis. A liberação de materiais bloqueados pode mini­mizar atitudes autodestrutivas. A necessida­de de ser punido ou a necessidade de sentir-se inadequado podem ser diminuídas trazen-do-se à consciência os primeiros eventos ou fantasias que as ocasio­naram. Por exemplo, muitos americanos se interessam por sua atra-tividade sexual: os pênis são muito curtos ou muito finos, os seios são muito pequenos, muito grandes, mal-formados, etc. A maioria destas idéias surge durante o período da ado­lescência ou antes. Os resíduos inconscientes dessas atitudes são visíveis em preocupações sobre adequação sexual, desejabilidade, eja-culação precoce, frigidez e inúmeras preocu­pações relacionadas. Se estes medos não-ex-pressos são explorados, expostos e aliviados, pode haver um aumento na energia sexual dis­ponível, bem como uma diminuição da ten­são geral.

A teoria psicanalítica sugere que é possí­vel, mas difícil, entrar em acordo com as de­mandas recorrentes do id. A análise procura superar a resistência natural e trazer as me­mórias e idéias dolorosas reprimidas do id de volta à consciência (Freud, 1906). "Uma das tarefas da psicanálise, como você sabe, é le­vantar o véu da amnésia que esconde os pri­meiros anos da infância e trazer as expressões da vida sexual infantil que se escondem atrás dele para a memória consciente" (1933, p. 28). Conforme a descrição de Freud, os objetivos presumem que, ao nos libertarmos das inibi-ções do inconsciente, o ego estabelece novos níveis de satisfação em todas as áreas do fun­cionamento. Conseqüentemente, a resolução de ansiedades enraizadas na primeira infância libera energia bloqueada ou deslocada, para

Quanto mais conhecida se tornara psicanálise, mais médicos incompetentes irão praticá-la amadoris-ticamente e naturalmente fazer dela uma trapalhada. A culpa disso será, então, atr ibuída a você e sua teoria. (Jung, em carta a Freud; em McGuire, 1974)

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uma satisfação mais realista e completa de nos­sas necessidades.

Sonhos e trabalho do sonho

Á partir das associações livres de seus pa­cientes, bem como de sua própria auto-anali­se, Freud começou a examinar os relatos e as lembranças de sonhos. Em A interpretação dos sonhos (1900), ele afirmou que os sonhos aju­dam a psique a se proteger e satisfazer. Obstá­culos e desejos não-mitigados preenchem a vida diária. Os sonhos são um equilíbrio parcial, tanto física quanto psicologicamente, entre anseios instintuais e limitações da vida real. Sonhar é um modo de canalizar desejos insa­tisfeitos, através da consciência, sem desper­tar o corpo físico.

Uma estrutura de pensamentos, geralmente muito complexa, que se construiu durante o dia e não se estabilizou - um fragmento do dia - prende-se com firmeza mesmo durante a noite à energia que assumiu [...] e, assim, ameaça perturbar o sono. Este fragmento do dia transforma-se em um sonho pelo trabalho do sonho e, deste modo, torna-se inofensivo ao sono. (Freud em Fodor e Gaynor, 1958, p. 52-53)

Mais importante do que o valor biológico dos sonhos são os efeitos psicológicos do tra­balho do sonho. O trabalho do sonho é "a to­talidade de operações que transformam os ma­teriais brutos do sonho - estímulos corporais, resíduos do dia, pensamentos oníricos - de modo a produzir o sonho manifesto" (LaPlanche e Pontalis, 1973, p. 125). Um sonho não apa­rece simplesmente. Ele se desenvolve para aten­der necessidades específicas, embora estas não sejam claramente descritas pelo conteúdo ma­nifesto do sonho.

Quase todos os sonhos podem ser com­preendidos como a realização de um desejo. O sonho é uma rota alternativa para satisfazer os desejos do id. Durante a vigília, o ego se

esforça para aumentar o prazer e reduzir a ten­são. Durante o sono, ne­cessidades insatisfeitas são classificadas, combi­nadas e organizadas de modo que as seqüências do sonho permitam sa-

Reconhecemos a consis­tência da teoria da realiza­ção de desejos até certo ponto, mas vamos além dela. A nosso ver ela riflo esgota o signif icado do sonho. (Jung, em carta a Freud, em McGuire, 1974)

tisfação adicional ou redução da tensão. Para o id, não importa se a satisfação ocorre na rea­lidade física sensória ou na realidade onírica interna imaginária. Em ambos os casos, ener­gias acumuladas são descarregadas.

Sonhos repetitivos podem ocorrer quando um evento do dia desen­cadeia o mesmo tipo de ansiedade que ocasio­nou o sonho original. Por exemplo, uma mu­lher ativa e feliz no ca­samento, aos 60 anos, pode ainda sonhar, de tempos em tempos, que está fazendo uma prova de faculdade. Quando chega na sala de aula, descobre que a prova já terminou. Ela chegou tarde demais. Ela tem este sonho quando está ansiosa com alguma di­ficuldade atual; entre­tanto, sua ansiedade não está relacionada nem com a faculdade nem com provas, às quais já deixou para trás há muitos anos.

Muitos sonhos não parecem ser praze­rosos; alguns são deprimentes, alguns pertur­badores, alguns assustadores, e muitos sim­plesmente obscuros. Muitos sonhos parecem reviver eventos passados, enquanto outros pa­recem ser proféticos. Mediante a análise de­talhada de dezenas de sonhos, relacionando-os a eventos da vida do sonhador, Freud con­cluiu que o trabalho do sonho é um processo de seleção, distorção, transformação, inver­são, deslocamento e outras modificações de um desejo original. Essas mudanças fazem com que o desejo modificado seja aceitável para o ego, mesmo que o desejo original seja totalmente inaceitável para a consciência ví-gil. Freud sugeriu motivos para a permissi-vidade nos sonhos em que agimos além das restrições morais de nossas vidas despertas. Em sonhos, matamos, mutilamos ou destruí­mos inimigos, parentes ou amigos; expressa­mos em ação perversões e aceitamos uma ampla gama de pessoas como parceiros sexu­ais. Nos sonhos, misturamos pessoas, lugares e situações que seriam impossíveis em nosso mundo desperto.

Um sonho, portanto, é uma psicose, com todos os ab­surdos, delusões e Ilusões de uma psicose. Sem dú­vida, é uma psicose de cur­ta duração, que é inofensi­va e até desempenha uma função útil. (Freud, 1940)

Os sonhos não devem ser equiparados aos sons des-regulados que emanam de um instrumento musical golpeado por alguma for­ça externa, e não pela mão de um músico; eles não são desprovidos de senti­do, não são absurdos; [...] eles podem ser inseridos na cadeia de atos mentais vígeis inteligíveis; eles são construídos por uma ativi­dade altamente complexa da mente. (Freud, 1900)

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Os sonhos são os ver­dadeiros intérpretes de nossas inclinações, mas é preciso arte para sepa­rá-los e compreendê-los. (Montalgne, 1580, Ensaios)

Os sonhos procuram realizar desejos, mas nem sempre são bem-sucedidos. "Sob certas condições, o sonho só consegue realizar seu objetivo de uma forma muito incompleta, ou tem que abandoná-lo completamente; uma fi­xação inconsciente ao trauma parece encabe­çar a lista desses obstáculos para as funções do sonho" (Freud, 1933, p. 29).

No contexto da psicanálise, o terapeuta auxilia o paciente na interpretação dos sonhos,

para facilitar a recupe­ração do material in­consciente. Freud fez al­gumas generalizações sobre tipos especiais de sonhos (por exemplo, sonhar que se está cain­

do, sonhar que se está voando, sonhar que se está nadando, sonhar com fogo), mas ele dei­xou claro que as regras gerais nem sempre são válidas. As associações pessoais de cada um com seus sonhos são mais importantes do que qualquer conjunto preconcebido de regras de interpretação.

Embora alguns críticos de Freud com fre­qüência sugiram que ele exagerava os com­ponentes sexuais dos sonhos para que se con­

formassem com sua teo­ria geral, a resposta de Freud é clara: "Jamais mantive a asserção, mui­tas vezes atribuída a

mim, de que a interpretação dos sonhos indica que todos os sonhos possuem um conteúdo se­xual ou são derivados de forças motrizes sexu­

Os sonhos são reais en­quanto duram - podemos dizer mais sobre a vida? (Havelock Ellls)

ais" (Freud, 1925a, p. 47). O que ele enfatizava era que os sonhos não são nem aleatórios nem acidentais mas sim um modo de satisfazer de­sejos não-satisfeitos.

Um outro tipo de crítica é que as idéias de Freud foram seriamente limitadas por sua falta de conhecimento sobre sociedades não-européias. Na índia, por exemplo, "oself [e seus sonhos] não são de modo algum tão niti­damente delimitados quanto o são para nós" (0'Flaherty, 1984, p. 22), e, nos grupos ame­ricanos nativos, a função e o entendimento dos sonhos situam-se fora das especulações de Freud. "Na maioria dos modelos americanos nativos, não existe separação distinta entre o mundo sonhado e o mundo vivido [...]. Em contraste, os mode­los ocidentais do sonhar demarcam nitidamente o sonhar da vigília, e vêem o sonhar como um estado alterado de consciência biologicamen-te conduzido, que, não obstante, pode produzir informações úteis nas mãos de um interpretador qualificado" (Krippner e Thompson, 1996). Sand (1999) acusa que a injunção de Freud con­tra o uso de simbolismo, exceto para conteúdo sexual, inibiu a utilização mais livre da inter­pretação de sonhos pelos psicanalistas.

De forma alguma ultrapassada, a pene­tração de Freud no mundo dos sonhos ainda é vital e assunto de interesse e debate (Kramer et ai., 1994).

Freud náo tinha bons mo­tivos para escolher os de­sejos Infantis reprimidos, em relação à emergente pletora de pensamentos onír icos inconscientes, como sendo as principais forças motrizes de nossos sonhos. (Grunbaum, 1994, p.81)

REFLEXÃO PESSOAL • Investigue Seus Próprios Sonhos

Faça uma diário de sonhos mantendo um bloco de anotações ao lado de sua cama. Pela manhã, antes de fazer qualquer coisa, faça alguns apontamentos sobre seus sonhos. Mesmo que jamais tenha lembrado de seus sonhos anteriormente, este método irá ajudá-lo a recordá-los. Está comprovado que aqueles que cumprem estas tarefas recordam-se de seus sonhos regularmente em poucos dias.

Mais tarde, durante o dia, descreva seus sonhos mais minuciosamente. Inclua suas associações com deter­minados aspectos de seus sonhos. Veja se essas associações apontam para possíveis significados. Por exem­plo, seus sonhos poderiam ser tentativas de realizar desejos? Tente adivinhar com o quê os diversos segmentos se relacionam em sua vida. Preste atenção àqueles fragmentos que parecem ser parte de seu "resíduo do dia". Você percebe alguma coisa que reflete seus desejos ou atitudes com as outras pessoas?

Mantenha este diário por diversas semanas. À medida que for lendo outras partes deste livro, você irá apren­der outras formas de analisar os sonhos. De tempos em tempos examine seu diário de sonhos e veja se pode fazer novas interpretações. Atente especialmente para temas ou padrões recorrentes. (Os capítulos sobre Jung, Anna Freud e os pós-freudianos oferecem outras maneiras de registrar os sonhos.)

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ESTRUTURA

Freud estudou praticamente todos os as­pectos da vida mental e social. Entretanto, ele discutiu áreas importantes, incluindo energia, corpo, relacionamentos sociais, emoções, in­telecto, self e o papel especial da terapia, de maneiras diferentes em épocas diferentes de sua vida. O que se segue aqui é uma tentativa de criar alguma ordem a partir de uma imensa complexidade.

Energia

A disponibilidade de energia está no cerne das idéias de Freud sobre o inconsciente, o de­senvolvimento psicológico, a personalidade e a neurose. "Suas teorias sobre as pulsões tra­tam principalmente da origem da energia men­tal; suas teorias sobre o desenvolvimento psi-cossexual e as defesas tratam do desvio de ener­gia; e suas teorias sobre o id, o ego e o superego tratam dos conflitos de energia e dos efeitos desse conflito" (Cohen, 1982, p. 4).

Corpo

O corpo é o núcleo da experiência. Como assinala Sulloway, "foi a constante atração de Freud por hipóteses biológicas que justificou sua convicção pessoal de que havia finalmente

criado uma teoria uni­versalmente válida so­bre o p e n s a m e n t o e comportamento huma­no" (1979, p. 419).

Além disso, os principais centros de ener­gia ocorrem através das diversas formas de ex­pressão sexual (oral, anal e genital). A maturi­dade é, em parte, definida como a capacidade de alcançar qualidade de expressão na sexua­lidade genital. É lamentável que muitos dos críticos de Freud jamais tenham considerado toda a sua teoria, tendo, ao contrário, ficado obcecados por sua reintrodução de questões físicas e sexuais no campo do chamado funcio­namento mental.

Apesar do reconhecimento de Freud da centralidade do corpo, seus escritos sobre te­rapia raramente a discutem. Talvez a negação cultural do corpo que caracterizava a época em

que ele viveu o tenha influenciado em sua apa­rente falta de descrição dos gestos, posturas e expressões físicas de seus pacientes. Muitos dos freudianos posteriores, tais como Erik Erikson e Frederick Perls, bem como pensadores que romperam com Freud, tais como Carl Jung e Wilhelm Reich, prestaram mais atenção ao cor­po físico real, e menos às teorias biológicas.

Relacionamentos sociais

As interações e os relacionamentos adul­tos são grandemente influenciados pelas pri­meiras experiências da infância. As primeiras relações, aquelas que ocorrem dentro da famí­lia nuclear, são freqüentemente definidoras. Todos os relacionamen­tos posteriores são influ­enciados pelos modos como essas primeiras relações se formaram e se mantiveram. Os mo­delos básicos entre crian­ça e mãe, criança e pai, e criança e irmão são os protótipos segundo os quais os contatos subse­qüentes são inconscien­temente avaliados. Os relacionamentos poste­riores são, até certo ponto, recapitulações das dinâmicas, tensões e gratificações que ocorre­ram na família de origem.

Nossas escolhas de vida - de amores, ami­gos, chefes, até de nossos inimigos - são deri­vadas dos laços entre pais e filhos. As rivalida­des naturais são recapituladas em nossos pa­péis sexuais e no modo como acomodamos as demandas dos outros. Repetidas vezes repre­sentamos a dinâmica iniciada em nossos la­res, freqüentemente es­colhendo como parcei­ros pessoas que rein-vocam em nós aspectos não-resolvidos de nossas primeiras necessida­des. Para alguns, estas são escolhas conscien­tes. Para outros, as escolhas são feitas sem co­nhecimento consciente da dinâmica subjacente.

As pessoas rejeitam este aspecto da teo­ria freudiana porque ele sugere que nossas es­colhas futuras estão além de nosso controle. O

A natureza abrangente da energia sexual ainda não foi corretamente compre­endida pelos psicólogos. Na verdade, o próprio ter­mo energia reprodutiva ou sexual é uma designação imprópria. A reprodução é apenas um dos aspectos da energia da vida, da qual o outro palco de atividade é o cérebro. (Krishna, 1974)

Confesso que mergulhar na sexualidade, na teoria e na prát ica, não é do meu agrado. Mas o que tem meu gosto e opinião sobre o que ó decente e o que é indecente a ver com a questão do que é verdadeiro? (Breuer, em Sulloway, 1979, p. 80)

O «go é, antes de mais nada, um ego do corpo, (Freud, 1937)

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problema gira em torno da questão do quanto a experiência da infância determina as esco­lhas adultas. Por exemplo, um período crítico no desenvolvimento dos relacionamentos ocor­re durante a fase fálica, quando ambos os se­xos confrontam seus crescentes sentimentos eróticos pelos pais com a concomitante inca­pacidade de satisfazer estes anseios. Segundo a teoria freudiana, mesmo quando as compli­cações edipianas se resolvem, estas dinâmicas continuam afetando os relacionamentos do indivíduo.

Os relacionamentos são construídos so­bre uma base de efeitos residuais das intensas experiências iniciais. Os encontros amorosos de adolescentes, jovens adultos e adultos, bem como os padrões de amizade e casamento, sâo, em parte, uma reelaboração de questões in­fantis não-resolvidas.

Emoções

O que Freud desvelou, em uma era que havia venerado a razão e negado o valor e o poder da emoção, foi que não somos animais predominantemente racionais, mas somos con­duzidos por forças emocionais poderosas, cuja gênese muitas vezes é inconsciente. As emoções são as vias de liberação da tensão e apreciação do prazer. As emoções também podem servir

ao ego ajudando-o a manter certas memórias fora da consciência. Respostas emocionais for­tes podem, na verdade, encobrir um trauma de infância. Uma sensação de repugnância por al­gum alimento que há muito tempo não come­mos, por exemplo, pode esconder a lembrança de uma época infeliz, quando aquela comida era servida. Uma reação fóbica impede efetiva­mente que uma pessoa se aproxime de um ob­jeto ou classe de objetos que poderia ativar uma fonte mais ameaçadora de ansiedade.

Foi principalmente através da observa­ção, tanto das expressões apropriadas quan­to das expressões inapropriadas da emoção, que Freud descobriu os segredos para revelar e compreender as forças motivacionais do in­consciente.

Intelecto

O intelecto é uma das ferramentas dispo­níveis ao ego. Uma pessoa mais livre é capaz de usar a razão quando conveniente, e sua vida emocional está aberta a exame consciente. Tal pessoa não é guiada por remanescentes incom­pletos de eventos passados e é capaz de res­ponder diretamente a cada situação, equili­brando preferências individuais conforme as restrições impostas pela cultura.

REFLEXÃO PESSOAL • Existem Padrões em Sua Vida?

Eis um modo de examinar a relação entre os seus atuais relacionamentos e o relacionamento com seus pais.

Parte 1

1. Faça uma lista das pessoas de que você mais gostou ou que amou em sua vida - excluindo seus pais. Liste homens e mulheres separadamente.

2. Descreva os aspectos desejáveis e indesejáveis de cada pessoa. 3. Examine, registre e reflita sobre as semelhanças e diferenças nas listas. Existem traços em comum entre

os homens e mulheres?

Parte 2

1. Faça uma lista das características desejáveis e indesejáveis de seus pais. 2. Liste as características desejáveis e indesejáveis de seus pais conforme sua visão deles quando você

era criança. (As duas listas podem ter pontos em comum ou não.)

Parte 3

Compare e contraste a lista de atributos de seus pais com as das outras pessoas importantes em sua vida.

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A mais admirável e provavelmente a mais poderosa força emocional de Freud era sua pai­xão pela verdade e sua fé inabalável na razão. Para ele, a razão era a única capacidade hu­mana que poderia ajudar a resolver o proble­ma da existência, ou pelo menos aliviar o so­frimento inerente à vida humana.

Para Freud, assim

TERAPEUTA/TERAPIA

como para a época em que viveu, o impacto do trabalho de Darwin não pode ser subestimado. Um objetivo incontes-tado da época era pro­var que o pensamento racional colocava os se­res humanos acima dos animais. Grande parte

da resistência ao trabalho de Freud provinha das evidências de que as pessoas, na verdade, eram menos sensatas e tinham menos contro­le de suas emoções do que se suspeitara. A es­perança e crença pessoal de Freud era que a razão era fundamental e que o intelecto era a ferramenta mais importante, senão a única, que a consciência possuía para controlar seu lado mais obscuro.

Freud percebeu que qualquer aspecto da existência inconsciente, trazido à luz da cons­ciência, poderia ser tratado racionalmente: "Onde o id estiver, que lá esteja o ego " (1933, p. 80) foi seu modo sucinto de expressar este insight. Quando os anseios irracionais, instin-tuais, dominarem, façamos com que sejam ex­postos, moderados e dominados pelo ego. Para que a pulsão original não seja suprimida, tor­na-se tarefa do ego, usando o intelecto, conce­ber modos seguros e suficientes de satisfação.

Self

O self é a totalidade do ser: o corpo e os instintos, bem como as partes conscientes e in­conscientes da mente. Para Freud, um seZ/não limitado pelo corpo ou desligado dele não ti­nha lugar em suas crenças biológicas. Quando confrontado com esta imagem metafísica (ou espiritual) da humanidade, Freud afirmou que isso não estava dentro de sua alçada como cien­tista. A psicanálise posteriormente ultrapassou a posição de Freud e escreveu extensamente sobre o self.

Até aqui abordamos sobretudo a teoria geral da personalidade de Freud. Entretanto, o próprio Freud estava envolvido com as apli­cações práticas de seu trabalho - a prática da psicanálise. O objetivo da psicanálise é ajudar o paciente a estabelecer o melhor nível possí­vel de funcionamento do ego, dados os inevi­táveis conflitos oriundos do ambiente externo, do superego e das implacáveis demandas ins­tintivas doid. Kenneth Colby, um ex-formador de analistas, descreve o objetivo do procedi­mento analítico:

Ao falar do objetivo da psicoterapia, o termo "cura" [...] exige definição. Se por "cura" nos referimos ao alívio das atuais dificuldades neu­róticas do paciente, então este é certamente nosso objetivo. Se por "cura" entendemos uma liberdade vitalícia de conflitos emocionais e problemas psicológicos, então esse não pode ser nosso objetivo. Assim como uma pessoa pode sofrer uma pneumonia, uma fratura ou diabete durante sua vida e necessitar de de­terminada medicação e tratamento específico para cada condição, também outra pode so­frer, em diferentes momentos, uma depressão, impotência ou fobia, cada uma delas reque­rendo psicoterapia [...]. (1951, p. 4)

Não devemos nos esquecer de que a tera­pia, como a utilizada por qualquer um dos pen­sadores abordados neste livro, não "cura" pro­blemas passados, mas pode ajudar a prevenir problemas futuros.

O papel do psicanalista

A tarefa do terapeuta é ajudar o paciente a recordar, recuperar e reintegrar materiais in­conscientes para que a vida presente do pa­ciente possa tornar-se mais satisfatória. Freud (1940, p.31) diz:

Ele se compromete diante de nós a obe­decer a regra funda­mental da análise, que é a de, daqui por diante, orientar seu comportamento em nossa direção. Ele

A razão, pensava F r e u d , é o único Instrumento, ou arma, de que dispomos para compreendera vida, para nos l ivrarmos das ilusões [...] para nos tor­narmos Independentes de autoridades cerceadoras, e para, assim, estabelecer nossa própria autoridade. (Fromm, 1959)

Para permanecer firme contra este ataque geral do paciente, é preciso que o próprio analista tenha sido plena e completa­mente analisado [...].O próprio analista [...] deve conhecer e ter controle até sobre as mais recônditas fragllidadesdesua própria personalidade; e isso é im­possível sem uma análise plenamente concluída. (Ferenczi, 1955)

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deve nos dizer não apenas o que pode dizer de maneira intencional e desejosa, o que lhe traria alívio como uma confissão, mas igual­mente tudo que lhe vier à cabeça, mesmo que seja desagradável para ele dizê-lo, mesmo que lhe pareça insignificante ou realmente ilógico.

O analista incentiva estas revelações, sem criticar ou aprovar seu conteúdo. O analista não assume posição moral, e sim serve como uma tela vazia para as opiniões do paciente. O terapeuta mostra o mínimo possível de sua per­sonalidade ao paciente. Isso dá ao paciente li­berdade para tratar o analista de uma infini­dade de maneiras, transferindo ao terapeuta atitudes, idéias, até características físicas que, na verdade, pertencem a pessoas no passado do paciente. Esta transferência é decisiva para o processo terapêutico, porque traz eventos passados a um novo contexto, que favorece a compreensão. Por exemplo, se uma paciente começa a tratar um terapeuta do sexo mascu­lino como trata o pai - aparentemente submis­sa e deferente, mas secretamente hostil e des­respeitosa -, o analista pode esclarecer esses sentimentos para a paciente. Ele pode assina­lar que ele, o terapeuta, não é a causa dos sen­timentos, e sim que eles se originam na pró­pria paciente e podem refletir aspectos de seu relacionamento com o pai que ela reprimiu.

A transferência faz da terapia um proces­so vivo. Mais do que apenas falar sobre a vida, o paciente estabelece um relacionamento de­cisivo com o terapeuta. Para auxiliai" o pacien­

te a fazer estas ligações, o analista interpreta parte do que o paciente está dizendo, sugerin­do elos de ligação que o paciente pode ou não ter reconhecido anteriormente. Esse processo de interpretação é uma questão de intuição e experiência clínica.

Como parte do processo psicanalítico, o paciente é incentivado, nunca pressionado, a revelar idéias, sentimentos e memórias ante­riormente não-expressadas ou esquecidas. Freud via a análise como um processo natural, em que a energia que havia sido recalcada emerge lentamente na consciência, de modo que pode ser usada pelo ego em desenvolvimen­to: "Sempre que conse­guimos decompor um sintoma em seus ele­mentos, que consegui­mos libertar uma pulsão de um nexo, ela não per­manece isolada - ime­diatamente ingressa em outro". A tarefa do tera­peuta é expor, explorar e isolar as pulsões componentes que foram ne­gadas ou distorcidas pelo paciente: "A psicos-síntese é, assim, alcançada durante o tratamen­to analítico, sem nossa intervenção, de manei­ra automática e inevitável" (1919, p. 161). A reforma de antigos hábitos insalubres e o esta­belecimento de novos, mais saudáveis, ocorre sem a intervenção do terapeuta.

O conceito de transferên­cia [...] sustenta que a ob­servação, compreensão e discussão das reações emo­cionais do paciente à si­tuação psicanalítica cons­tituem as formas mais dire­tas de chegar-se a um en­tendimento de sua estrutu­ra de caráter e, conseqüen­temente, de suas dificulda­des. Ele se tornou a mais poderosa, e sem dúvida in­dispensável, ferramenta da terapia analítica. (Horney, 1939, p. 33-34)

REFLEXÃO PESSOAL • Memórias Antigas

Freud constatou que memórias antigas muitas vezes eram indicativas de questões pessoais presentes. Você pode tentar testar essa hipótese fazendo o seguinte exercício:

Encontre um parceiro. Um de vocês irá recordar sua memória mais antiga, enquanto o outro a registra em um papel. (Depois os papéis serão invertidos; portanto, não se preocupe com quem será o primeiro.)

1. O falante deve sentar-se sem que possa ver o registrador. Relembre sua memória mais antiga ou qualquer memória muito antiga. Relate-a ã pessoa que faz o registro. Não fale mais do que cinco minutos. Quanto mais clara e vivida for sua recordação, mais proveito você poderá tirar deste exercício. Se outras memórias surgirem além daquela que você está descrevendo, sinta-se livre para mencioná-las. Lembre-se de que é tarefa do registrador tomar notas enquanto o falante discorre sobre acontecimentos passados. Não inter­rompa. Preste atenção na importância que o falante dá a qualquer aspecto de uma memória.

2. Depois de cinco minutos, parem. Sem qualquer comentário, invertam os papéis. Quem antes era o falan­te agora anota as lembranças do parceiro. Ao final de outros cinco minutos, parem. Silenciosamente por

* • um minuto, ou algo assim, pense sobre o que você disse e o que ouviu. 3. Discutam sobre as notas. Assinale as implicações e conexões que você observa. Observe as diferenças

de sentimentos expressados por seu parceiro. Tente relacionar aspectos destas primeiras memórias a acontecimentos presentes em sua vida.

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Limitações da psicanálise Entretanto, os pós-freudianos ampliaram de tantas formas a gama de clientes e de con­dições que poderiam ser tratadas pela psica­nálise que seus trabalhos merecem um capí­tulo separado. (Ver Capítulo 3.)

AVALIAÇÃO

*N. do T. Cidade no sudoeste da França, santuário católico ao qual se atribuem curas milagrosas.

Apresentamos um apanhado geral da vas­ta e complexa estrutura teórica desenvolvida por Freud. Não procuramos incluir neste capí­tulo as inúmeras variações e desenvolvimen­tos de seus seguidores, discípulos, detratores, críticos e clientes. Ten­tamos organizar e sim­plificar as linhas gerais do que foi, no início, um ponto de vista radical e inovador. Freud fez um desafio que poucos pen­sadores foram capazes de deixar sem contes­tação. A maioria dos pensadores incluídos neste livro reconhecem sua dívida com Freud, tanto aqueles que concordam com ele quanto aque­les que se opõem a ele.

As idéias de Freud continuam influen­ciando a psicologia, a literatura, a arte, a an­tropologia, a sociologia e a medicina. Muitas de suas idéias, tais como a importância dos so­nhos e a vitalidade dos processos inconscien­tes, são amplamente aceitas. Outras facetas de sua teoria, tais como as relações entre o ego, o id e o superego, ou o papel do complexo de Edipo no desenvolvimento adolescente, são amplamente debatidas. Ainda, outras partes de seu trabalho, incluindo sua análise da sexuali­dade feminina e suas teorias sobre as origens da civilização, foram amplamente criticadas.

Uma verdadeira torrente de livros e arti­gos sobre as idéias de Freud continua sendo publicada, bem como uma sucessão de revis­tas e monografias sobre terapia psicanalítica. Mais trabalhos são publicados sobre Freud e suas idéias a cada ano do que sobre todos os outros pensadores ocidentais deste livro soma­dos. Existe uma indústria de crescimento in­ternacional de revistas, institutos e editoras freudianas, um mundo à parte. Embora a maior parte desta comunidade seja independente e isolada, de tempos em tempos a grande pre­sença de Freud ainda se reafirma na cultura geral. Em 1993, por exemplo, ele foi capa da

A análise, como Freud e seus seguidores imediatos a prat icavam, n ã o era adequada a todas as condições menta is .

O campo de aplicação da terapia analítica é o das neuroses de transferência - fobias, histe­ria, neurose obsessiva - e também anormali­dades de caráter que se desenvolveram no lu­gar dessas doenças. Tudo que difere disso, con­dições narcisistas e psicóticas, é, em maior ou menor grau, inadequado. (1933, p. 155)

Alguns analistas disseram que as pessoas que já estão funcionando bem, cuja es t rutura do ego está saudável e intacta, são as melho­res candidatas para a psicanálise. Como qual­quer outra forma de t ra tamento , a psicanálise

tem limitações intrínse­cas, que foram discuti­das sob todos os pontos de vista. Ela foi favora­velmente comparada ao b u d i s m o , po is a m b o s oferecem modos de ali­viar o sofrimento huma­no (Pruett, 1987). A psi­canálise foi minuciosa­men te examinada pa ra ver se pode r i a resist ir t ambém a u m a avalia­ção marxista (Volosinov, 1 9 8 7 ) . E m b o r a F reud desejasse que a psicaná­

lise pudesse explicar toda a consciência huma­na, ele del icadamente repreendia aqueles que tendiam a acreditar que a psicoterapia psica-nalítica era a cura final.

A psicanálise é realmente um método de tra­tamento como outros. Ela tem seus triunfos e suas derrotas, suas dificuldades, suas limita­ções, suas indicações [...]. Gostaria de acres­centar que não acho que nossas curas possam competir com as de Lurdes*. Existem muito mais pessoas que acreditam nos milagres da Virgem Maria do que na existência do incons­ciente. (1933, p. 152)

É quase como se a análi­se fosse a terceira daque­las profissões "impossí­veis", em que antecipada­mente podemos ter certe­za de obter resultados insatisfatórios. As outras duas [...] são a educação e o governo. (Freud, 1937)

A psicanálise é parte íntima da ideologia decadente da burguesia. (Volosinov, 1987, p. 132)

Nenhum outro sistema de pensamento dos tempos modernos, exceto as gran­des religiões, foi adotado por tantas pessoas como explicação do comporta­mento humano. (Kazin, 1956)

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revista Time, e u m a g rande exposição sobre o impacto de suas idéias estava programada pela Biblioteca do Congresso. Pouco depois, entre­tanto, esta exposição foi engavetada em fun­ção d a q u a n t i d a d e d e c r í t i cas v i r u l e n t a s d i r ig idas c o n t r a ela. Mais a d i a n t e , ela foi reedi tada e conquis tou ampla popula r idade (Lussier, 1999).

Não é nossa in tenção prever como a teo­ria freudiana será ju lgada historicamente. Con­tudo, afirmamos que as idéias de Freud não são de preocupação menos urgente hoje do que eram duran te sua vida (Freud, S., 1998). Aque­les que optam por es tudar a men te ou tentam compreender os outros seres humanos devem fazer as pazes com as idéias básicas de Freud através de um exame de sua própria experiên­cia interior.

Reconhecemos que existem épocas na vida de u m a pessoa em que a visão de Freud do papel do consciente e do inconsciente se assemelha a uma revelação pessoal. O impacto formidável de seu pensamen to pode elucidar um aspecto de sua própria personal idade ou da personal idade de out ra pessoa e fazê-la sair cor rendo atrás de outros de seus livros. Exis­tem outros momen tos em que ele n ã o parece ser útil , q u a n d o suas idéias parecem distantes, complicadas e imper t inentes .

Em qualquer um dos momentos , Freud é u m a figura a ser considerada; ele n ã o pode ser t ra tado levianamente , nem descar tado como se estivesse fora de moda . Qualquer que seja sua resposta às idéias de Freud, o conselho dele seria considerar sua resposta como indicativa de seu própr io es tado de espírito, bem como u m a reação racional ao seu trabalho. Nas pa­lavras do poe ta W. H. A u d e n (1945) sobre Freud: "Se mui tas vezes ele estava er rado e às vezes era absurdo , pa ra nós ele já n ã o é mais uma pessoa, mas todo um clima de opinião".

Implicações para o crescimento pessoal

Freud sugere que t odo o compor tamento está vinculado, que n ã o existem acidentes psi­cológicos - que sua escolha de pessoas, luga­res, al imentos e diversões provém de experiên­cias das quais você ou n ã o se recorda ou n ã o irá se recordar. Todo p e n s a m e n t o e t odo com­por tamento possui significado.

Se nossa memór ia de eventos passados é, na verdade, u m a mistura de lembranças pre­

cisas e de lembranças tendenciosas, enviesadas e distorcidas, como saberemos o que realmen­te aconteceu?

Eis um exemplo de como duas pessoas podem lembrar-se do mesmo evento de m o d o distinto:

Lembro-me com clareza do sofrimento pessoal de ser forçado a comer cereal quente pela ma­nhã durante um longo período de minha in­fância. Recordo-me vivida e visceralmente. Lembro-me da sala de jantar, do meu lugar, da mesa, da sensação de repulsa na garganta, das estratégias de atraso, esperando até que os adultos se cansassem de mim e me deixassem sozinho com minha meia tigela de cereal frio e azedo; minhas tentativas de neutralizar o gos­to com todo o açúcar que pudesse acrescentar ainda são claras. Até hoje não consigo olhar para uma tigela de mingau de aveia quente sem ser invadido por essas lembranças de infância. Sei que passei meses brigando com minha mãe por causa disso. Alguns anos atrás falei com ela sobre isso. Ela se lembrava claramente, mas sabia que tinha sido um breve período, de al­guns dias, talvez uma semana ou no máximo duas, e ficou surpresa de que eu pudesse me recordar disso. Coube a mim decidir - a me­mória dela contra a minha.

A leitura dessa história nos revela que ne­n h u m a pessoa estava conscientemente mentin­do; no entanto , as versões eram notavelmente diferentes. Não há como saber o que realmen­te aconteceu. A verdade histórica n ã o está dis­ponível; somente as lembranças, e estas foram "coloridas" de ambos os lados por repressões e distorções seletivas, bem como por elaborações e projeções.

Freud n ã o indica qualquer saída do dile­ma. O que ele revela, todavia, é a percepção de que sua lembrança ou sua versão de seu próprio passado contém pistas de como você se comporta e de quem você é.

A psicanálise utiliza um conjunto de fer­ramentas para análise pessoal, que incluem profunda auto-analise, reflexão e análise de so­nhos, observando também padrões recorren­tes de pensamen to e compor tamento . Freud descreveu como utilizava suas ferramentas, o que descobriu e o que concluiu de suas desco­bertas. Embora as conclusões a inda sejam mo­tivo de debate , as ferramentas estão no cerne de diversos outros sistemas e podem consti­tuir a mais d u r a d o u r a das contribuições de Freud para o es tudo da personal idade.

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A TEORIA EM PRIMEIRA MÃO

EXCERTO DE ESTUDOS SOBRE A HISTERIA

O material a seguir foi extraído de um dos primei­ros trabalhos de Freud. A maior parte dele é auto-explicativa. Trata-se de um vislumbre de como Freud compôs um quadro coerente da causa de um único sin­toma a partir de algumas informações.

Nas férias de verão do ano de 189-, fiz uma excur­são à Hohe Tauern [uma das cordilheiras mais altas dos Alpes do leste], para que pudesse me esquecer por um tempo da medicina e, mais particularmente, das neuro­ses. Eu tinha quase conseguido isso quando, certo dia, desviei-me da estrada principal para subir uma monta­nha que ficava um pouco afastada e que era conhecida por sua pousada de refúgio bem-administrada. Após uma penosa escalada cheguei ao topo e, sentindo-me revigo­rado e descansado, fiquei contemplando profundamente a encantadora vista longínqua. Eu estava tão perdido em pensamentos que, em princípio, não relacionei a mim quando as seguintes palavras chegaram a meus ouvi­dos: "O senhor é médico?" Mas a pergunta fora dirigida a mim, pela moça de aparência meio mal-humorada, de talvez 18 anos, que me servira a refeição e que a senho­ria chamara de "Catarina". A julgar por suas roupas e jei­to, ela não poderia ser uma empregada, devendo certa­mente ser filha ou parente da senhoria.

Voltando a mim respondi: "Sim, sou médico. Mas como você sabia?"

"O senhor escreveu o nome no Livro de Visitas. E pensei que se o senhor dispusesse de alguns minutos [...]. É que meus nervos andam mal. Por isso fui consul­tar um médico em L , e ele me deu alguma coisa para isso; mas ainda não estou bem."

Então lá estava eu com as neuroses mais uma vez -pois nada mais poderia haver de errado com essa moça forte e bem desenvolvida com sua aparência infeliz. Inte­ressei-me ao descobrir que as neuroses poderiam apa­recer a uma altura de mais de seis mil pés; assim, fiz-lhe mais perguntas. Relato a conversa que se seguiu entre nós exatamente como ela ficou gravada em minha me­mória, e não alterei o dialeto da paciente. [Não houve tentativa de imitar esse dialeto na tradução inglesa.]

"Bem, o que é que lhe aflige?" "Eu fico com falta de ar. Não é sempre. Mas às

vezes isso acontece de um jeito que parece que vou ficar sufocada."

Isso não parecia, à primeira vista, um sintoma ner­voso. Mas logo me ocorreu que provavelmente era ape­nas uma descrição do que representava um ataque de ansiedade: ela estava escolhendo a falta de ar dentre o complexo de sensações oriundas da ansiedade e dando indevida ênfase àquele único fator,

"Sente-se aqui. Conte-me como é quando você fica sem ar'."

"Acontece de repente. Primeiro é como se algo aper­tasse meus olhos. Minha cabeça fica tão pesada, ouço um zumbido pavoroso, e fico tão tonta que quase caio. Depois algo me esmaga o peito e não consigo respirar."

"E você não sente nada na garganta?" "Minha garganta fica apertada como se eu fosse

me asfixiar."

"Alguma outra coisa acontece na cabeça?" "Sim, ela fica martelando, o bastante para estou­

rá-la." "E você não fica de modo algum assustada quan­

do isso acontece?" "Eu sempre penso que vou morrer. Em geral sou

corajosa e vou sozinha a qualquer lugar - no porão e por toda a montanha. Mas nos dias em que isso acontece não me atrevo a ir à parte alguma; fico o tempo todo pen­sando que há alguém atrás de mim que vai me agarrar subitamente."

Então era realmente um ataque de ansiedade, in­troduzido pelos sinais de uma "aura" histérica [as sensa­ções premonitórias que precedem uma ataque epiléptico ou histérico] ou, mais precisamente, era um ataque de histeria cujo conteúdo era a ansiedade. Não poderia ha­ver outro conteúdo também?

"Quando você sofre um ataque você pensa em al­guma coisa? E sempre na mesma coisa? Ou você vê alguma coisa a sua frente?"

"Sim, eu sempre vejo um rosto horrível que me olha de um jeito medonho, e daí eu fico assustada."

Talvez isso pudesse oferecer um meio rápido de chegar ao cerne do problema.

"Você reconhece o rosto? Ou seja, é um rosto que você já viu alguma vez?"

"Não." "Você sabe de onde vêm esses ataques?" "Não". "Quando eles ocorreram pela primeira vez?" "Há dois anos, quando eu ainda morava com mi­

nha tia na outra montanha. (Ela tinha uma estalagem lá, e nos mudamos para cá há 18 meses.) Mas eles conti­nuam acontecendo."

Será que eu deveria fazer uma tentativa de análi­se? Não podia arriscar a utilizar hipnose a essas altitu­des, mas talvez pudesse ter êxito com uma simples con­versa. Eu teria que tentar adivinhar. Eu descobrira ser muito comum que, nas moças, a ansiedade era uma con­seqüência do pavor que invade uma mente virginal quan­do se vê pela primeira vez diante do mundo da sexuali­dade.1

Então eu disse: "Se você não sabe, eu vou lhe di­zer como acho que você têm esses ataques. Naquela época, há dois anos, você deve ter visto ou ouvido algu-

1 Citarei aqui o caso em que pela primeira vez reco­nheci essa ligação causai. Estava tratando de uma mulher jovem, casada, que sofria de complicada neu­rose, que, novamente, não estava disposta a admi­tir que sua doença provinha de sua vida de casada. Objetou que enquanto ainda era moça tinha tido acessos de ansiedade, que terminavam em crises de desmaio. Permaneci firme. Quando chegamos a nos conhecer melhor, subitamente me disse um dia: "Contarei agora ao senhor como vim a ter acessos de ansiedade quando era moça. Naquela ocasião dormia num quarto contíguo ao dos meus pais; a porta ficava aberta e costumava haver uma luz ace­sa na mesa. Assim, mais de uma vez vi meu pai ir para a cama com minha mãe e ouvia sons que me excitavam muito. Foi então que meus acessos so­bre viera m".

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ma coisa que muito lhe constrangeu, que você preferiria não ter visto".

"Céus, é mesmo!" respondeu ela, " fo i quando eu peguei meu tio com a menina, com Francisca, minha prima".

"Que história é essa da menina? Você não quer me contar sobre isso?"

"Pode-se contar qualquer coisa a um médico, ima­gino. Bom, naquela época, sabe, meu tio — o marido de minha tia que você viu aqui — mantinha a hospedaria na kogel [o nome da "outra" montanha]. Agora eles estão divorciados, e é por minha culpa que eles estão divorcia­dos, pois foi por meu intermédio que se ficou sabendo que ele andava com a Francisca."

"E como você descobriu?" "Foi assim. Certo dia, dois anos atrás, alguns ca­

valheiros haviam subido a montanha e pediram para co­mer a lguma coisa. Minha tia não estava em casa, e Francisca, que era quem sempre cozinhava, não estava em parte alguma. Meu tio também não estava em parte alguma. Procuramos por tudo, e finalmente o pequeno Alois, meu primo, disse: 'Ora, a Francisca deve estar no quarto do papai! ' . E rimos os dois; mas não estávamos pensando em nada de mau. Fomos então ao quarto de meu tio, mas a porta estava trancada. Isso me pareceu estranho. Então Alois disse: 'Há uma janela no corredor de onde se pode olhar para dentro do quarto'. Fomos até o corredor, mas Alois não queria ir até a janela e disse que estava com medo.Daí eu disse: 'Menino tolo! Eu irei, não estou nem um pouco com medo'. E eu não estava pensando em nada de mau. Olhei para dentro. O quarto estava meio escuro, mas pude ver meu tio e Francisca; ele estava por cima dela".

"E então?" "Afastei-me da janela imediatamente, apoiei-me na

parede e não conseguia resp i rar - jus tamente o que me acontece desde que tudo se apagou, minhas pálpebras se fecharam ã força e minha cabeça começou a martelar e zunir."

"Você contou para sua tia nesse mesmo dia?" "De forma alguma, eu não falei nada." "Então por que você ficou tão assustada quando

os encontrou juntos? Você entendeu? Você sabia o que estava acontecendo?"

"De forma alguma. Eu não entendi nada naquela ocasião. Eu só tinha 16 anos. Não sei com o que fiquei assustada."

"Fráulein Catarina, se você pudesse lembrar ago­ra o que estava acontecendo com você naquele momen­to, quando teve seu primeiro ataque, o que você pensou sobre o fato — isso lhe ajudaria."

"Sim , se eu conseguisse. Mas fiquei tão assusta­da que me esqueci de tudo."

(Traduzido na terminologia de nossa "Comunica­ção preliminar" [...], isso significa: "O próprio afeto criou um estado hipnóide, cujos produtos foram então desliga­dos da ligação associativa com a consciência do ego".)

"Diga-me uma coisa, Fráulein. Não seria possível que a cabeça que você sempre vê quando perde a respi­ração seja a de Francisca, como você a viu então?"

"Oh não, ela não parecia tão horrível. Além disso, é a cabeça de um homem."

"Talvez de seu tio?"

"Eu não vi o rosto dele com tanta clareza. Estava muito escuro. E por que ele estaria com uma expressão tão medonha justamente naquele momento?"

"Você tem toda a razão." (O caminho de repente parecia bloqueado. Talvez

algo pudesse surgir no resto de sua história.) "E o que aconteceu então?" "Bem, os dois devem ter ouvido algum ruído, pois

saíram logo depois. Senti-me muito mal o tempo todo. Eu sempre ficava pensando sobre aquilo. Dai, dois dias depois era domingo e havia muito o que fazer e eu traba­lhei o dia todo. Na segunda de manhã, senti-me tonta novamente e fiquei doente. Acabei ficando de cama e doente por três dias seguidos."

Nós (eu e Breuer) cos tumávamos comparar a sintomatologia da histeria com uma escrita pictogràfica que se tornou inteligível após a descoberta de algumas inscrições bilíngües. Nesse alfabeto, ficar doente signifi­ca repugnância. Então eu disse: "Se você ficou doente três dias depois, creio que isso significa que quando você olhou para dentro do quarto ficou com nojo".

"Sim, tenho certeza de que fiquei com nojo", ela disse pensativamente, "mas com nojo do quê?".

"Talvez você tenha visto alguém nu? Em que tipo de situação eles estavam?"

"Estava escuro demais para ver; além do mais, os dois estavam vestidos. Oh, se pelo menos eu soubesse do que fiquei com nojo!"

Eu também não fazia idéia. Mas pedi-lhe que con­tasse tudo que lhe ocorresse, na confiante expectativa de que ela viesse a pensar exatamente no que eu preci­sava para explicar o caso.

Bem, ela continuou descrevendo como afinal ha­via contado sua descoberta para a tia, que achou que ela estava mudada e ficara desconfiada de que estivesse lhe escondendo algum segredo. Seguiram-se algumas ce­nas desagradáveis entre seu tio e tia, durante as quais as crianças ouviram diversas coisas que lhes abriram os olhos em muitos aspectos, e que teria sido melhor não terem ouvido. Finalmente a tia resolveu mudar-se com os filhos e a sobrinha e tomar conta da presente hospe­daria, deixando o tio sozinho com Francisca, que, nesse meio tempo, ficara grávida. Depois disso, contudo, para minha surpresa, Catarina abandonou esses encadeamen-tos e começou a narrar-me dois grupos de histórias mais antigas, que retrocediam a dois ou três anos antes do momento traumático. O primeiro grupo relacionava-se com ocasiões em que o mesmo tio fizera investidas se­xuais contra ela própria, quando ela tinha apenas 14 anos de idade. Ela descreveu como certa vez fizera com ele uma viagem ao vale, no inverno, e passara a noite na estalagem. O tio ficara no bar bebendo e jogando cartas, mas ela sentiu sono e foi para cama cedo, no quarto que iriam partilhar no andar de cima. Ela ainda não estava inteiramente adormecida quando ele subiu; depois, ador­meceu novamente e de súbito despertou "sentindo o cor­po dele" na cama. Ela deu um salto e protestou: "O que você está fazendo, tio? Por que você não fica em sua própria cama?". Ele tentou acalmá-la: "Ora, sua tola, fi­que quieta. Você não sabe como é bom" - "Eu não gosto de suas coisas 'boas'; você sequer deixa a gente dormir em paz". Ela ficou em pé na porta, pronta para refugiar-se no corredor, até que finalmente o tio desistiu e foi dor-

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mir. Então ela voltou para sua cama e dormiu até de manhã. Pelo modo como contou ter se defendido, pare­ce que Catarina não reconheceu claramente a investida como de natureza sexual. Quando lhe perguntei se sabia o que ele estava tentando fazer com ela, respondeu: "Não naquela ocasião". Disse então que isso tinha ficado claro para ela muito depois; ela tinha resistido porque era de­sagradável ser perturbada durante o sono e "porque não era correto".

Fui obrigado a relatar isso minuciosamente por causa de sua grande importância para compreender tudo que se seguiu. Catarina prosseguiu relatando-me ainda outras experiências ocorridas pouco tempo depois; como novamente tivera que se defender do tio em uma estala-gem quando ele estava completamente bêbado, e his­tórias semelhantes. Em resposta à pergunta de se nes­sas ocasiões ela sentira algo semelhante à sua posterior falta de ar, respondeu resolutamente que sentira todas as vezes o aperto nos olhos e no peito, mas nada se­melhante ã força que havia caracterizado a cena da descoberta.

Logo depois de ter terminado esse grupo de lem­branças, começou a me contar um segundo grupo, que se relacionava com ocasiões em que notara algo entre seu tio e Francisca. Certa vez toda a família passara a noite, sem tirar a roupa, num palheiro, e ela foi desperta­da subitamente por um ruído; pensou ter notado que seu tio, que tinha ficado deitado entre ela e Francisca, estava afastando-se, e que Francisca estava acabando de dei­tar-se. De outra feita eles estavam passando a noite na estalagem do povoado de N—; Catarina e o tio ficaram num aposento, e Francisca em outro contíguo. Desper­tando subitamente durante a noite, viu uma figura alta de branco na porta, prestes a girar a maçaneta: "Deus do céu, é você, tio? O que você está fazendo na porta?" -"Fique quieta. Eu só estava procurando uma coisa." -"Mas a saída é pela outra porta." - "Foi um engano meu" [...] e assim por diante.

Perguntei-lhe se ficara desconfiada naquela oca­sião. "Não, não pensei nada sobre aquilo; apenas notei e não pensei mais sobre o assunto." Quando lhe perguntei se tinha ficado assustada nessas ocasiões também, res­pondeu que achava que sim, mas dessa vez não estava tão segura disso.

Ao final desses dois grupos de lembranças, ela pa­rou. Parecia ter passado por uma transformação. O rosto amuado e infeliz tornara-se animado, os olhos brilhavam, estava leve e exultante. Enquanto isso, a compreensão de seu caso tornara-se clara para mim. A última parte do que me contara, de uma forma aparentemente sem sen­tido, ofereceu uma explicação admirável de seu compor­tamento na cena da descoberta. Naquela ocasião, guar­dara consigo dois grupos de experiências das quais se lembrava, mas não compreendia, e das quais não fizera inferências. Quando vislumbrou o casal no coito, imedia­tamente estabeleceu uma ligação entre a nova impres­são e estes dois grupos de recordações, começou a compreendê-las e, ao mesmo tempo, rechaçá-las. Se­guiu-se, então, um breve período de elaboração, de "in-cubação", depois dos quais os sintomas de conversão se estabeleceram, os vômitos como substitutos para a repugnância moral e f ís ica. Isso resolvia o en igma. Catarina não sentira repulsa pela visão das duas pes­

soas, mas pela lembrança que aquela visão despertara nela. E, levando tudo em conta, esta só poderia ser a lembrança da investida contra ela na noite em que "sen­tira o corpo do tio".

Assim, após ela ter terminado sua confissão, eu lhe disse: "Agora eu sei o que você pensou quando olhou para dentro do quarto. Você pensou: 'Agora ele está fa­zendo com ela o que queria fazer comigo naquela noite e das outras vezes'. Foi disso que você sentiu nojo, por­que recordou a sensação de quando despertou ã noite e sentiu o corpo dele".

"Pode muito bem ter sido", respondeu ela, "que foi isso que me causou nojo e que foi isso que pensei".

"Diga-me apenas mais uma coisa. Você é uma moça crescida agora e conhece todo tipo de coisa [...]"

"Sim, agora eu sou." "Qual a parte do corpo dele que você sentiu na­

quela noite?" Mas ela não me deu mais nenhuma res­posta definida. Sorriu de um jeito constrangido, como se tivesse sido descoberta, como alguém que é obriga­do a admitir que atingiu uma posição fundamental onde não resta muito a dizer. Pude imaginar qual era a sen­sação tátil que ela depois aprendeu a interpretar. Sua expressão facial parecia-me dizer que ela supunha que eu estava certo em minha conjectura. Mas eu não po­deria sondar mais fundo e, de qualquer forma, devo-lhe gratidão por ter tornado a conversa muito mais fácil do que com as senhoras pudicas de minha clínica na cida­de, que consideram tudo o que é natural como vergo­nhoso.

Assim esclareceu-se o caso. - Mas espere um minuto! E que dizer da alucinação periódica da cabeça, que aparecia durante as crises e lhe infundia terror? De onde provinha? Perguntei-lhe sobre isso, e, como se o conhecimento dela também tivesse sido ampliado por nossa conversa, respondeu prontamente: "Sim, agora eu sei. A cabeça é a do meu tio - eu a reconheço agora -mas não daquela época. Posteriormente, quando todas as brigas tinham irrompido, meu tio deu vazão a uma có­lera sem sentido contra mim. Ele ficava dizendo que era tudo culpa minha: se eu não tivesse tagarelado, tudo não teria resultado em divórcio. Ele sempre me ameaçava; e, quando me via à distância, seu rosto se transfigurava de raiva, e ele vinha em minha direção com a mão levanta­da. Eu sempre fugia dele, e sempre ficava apavorada, com medo de que ele me pegasse desprevenida. O ros­to que agora sempre vejo é o dele quando ele estava furioso".

Essas informações me fizeram lembrar de que o primeiro sintoma histérico dela, os vômitos, tinham pas­sado; a crise de ansiedade permaneceu e adquiriu um novo conteúdo. Conseqüentemente, estávamos tratan­do de uma histeria que havia sido ab-reagida em grau considerável. E de fato, ela havia informado a tia sobre sua descoberta logo depois do acontecido.

"Você contou à sua tia as outras histórias - sobre as investidas dele contra você?"

"Sim. Não imediatamente, mas depois, quando já se falava em divórcio. Minha tia disse: 'Manteremos isso de reserva. Se ele causar problemas no tribunal, tam­bém contaremos isso'."

Posso bem compreender que deve ter sido exata­mente esse último período — quando ocorreram cenas cada

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vez mais agitadas na casa e quando o próprio estado dela deixou de interessar a tia, que estava totalmente ocupada com a disputa -, que deve ter sido esse período de acúmulo e retenção que lhe deixou o legado do símbolo mnêmico (do rosto alucinado).Espero que essa moça, cuja sensibili­dade sexual fora agredida em idade tão precoce, tenha tido algum benefício de nossa conversa. Não a vi mais desde então.2 (Breuere Freud, 1895, p. 125-134)

DESTAQUES DO CAPITULO

O corpo é a única origem de toda a consciência. Nada ocorre por acaso, muito menos os processos mentais individuais. To­dos os pensamentos e todos os com­portamentos possuem significado. O consciente é apenas uma pequena parte da mente. O inconsciente e o pré-consciente são os outros componen­tes da consciência, que são menos ex­postos e explorados. Um processo psí­quico é denominado inconsciente quando sua existência é inferida de seus efeitos. O pré-consciente é uma parte do inconsciente, o setor que con­tém as memórias disponíveis. As pulsões humanas não predetermi­nam o resultado de uma ação. As duas pulsões básicas são descritas como a sexual (favorável à vida) e a agressi­va, ou destrutiva (incentivadora da morte).

Nossa estrutura de personalidade é composta pelo id (isso), ego (eu) e superego (acima do eu). O objetivo glo­bal da psique é manter um nível acei­tável de equilíbrio dinâmico que maximize o prazer sentido como redu­ção de tensão. O objetivo primordial da psicanálise é fortalecer o ego, torná-lo independen-

2(Nota de rodapé acrescentada em 1924) Ouso, após tantos anos, levantar o véu da discrição e revelar que Catarina não era a sobrinha, mas a filha da se­nhoria. A moça adoeceu, portanto, como resultado de investidas sexuais por parte do próprio pai. Dis­torções como a que introduzi no presente exemplo devem ser evitadas inteiramente ao relatar-se um caso. Do ponto de vista da compreensão do caso, uma distorção dessa natureza não é, naturalmente, assunto tão indiferente quanto seria deslocar a cena de uma montanha para outra.

te das preocupações excessivamente severas do superego, e aumentar sua capacidade de lidar com material an­teriormente reprimido ou oculto. Freud propôs uma descrição psicosse-xual dos estágios de desenvolvimen­to. Os modos de satisfação e as áreas físicas de gratificação mudam de um estágio de desenvolvimento para ou­tro. Em sua seqüência, o indivíduo pas­saria primeiro pelas fases oral, anal e fálica. As questões da fase edipiana ocorrem dentro do estágio fálico. Se­gue-se o período de latência, até que o indivíduo chegue ao estágio genital de desenvolvimento. Ocorre fixação quando uma pessoa fica excessiva­mente envolvida com um determina­do estágio.

Freud, depois de reconhecer que não compreendia inteiramente as mulhe­res, propôs um motivo biológico para os sentimentos de inferioridade rela­tados por mulheres submetidas à psi­canálise. Suas especulações, principal­mente de que a sexualidade feminina era uma sexualidade masculina "de­sapontada", foram energicamente ata­cadas desde sua primeira publicação. Os sonhos são usados na psicanálise como auxílio para recuperar material inconsciente. Não-aleatórios e tam­pouco acidentais, os sonhos são con­siderados como uma forma de satisfa­zer desejos não-realizados. A ansiedade é o principal problema a ser enfrentado pela psique. Quando ameaças ao corpo ou à psique não são confrontadas diretamente, mecanis­mos de defesa entram em ação. O gas­to de energia necessário para manter as defesas efetivamente limita a flexi­bilidade e força do ego. O conceito de fluxo de energia está no centro das teorias de Freud, ligan­do os conceitos de inconsciente, de­senvolvimento psicológico, personali­dade e neurose.

As respostas à tensão são tanto men­tais quanto físicas. A energia libidinal é derivada da energia física. As pulsões básicas têm origens somáticas. As primeiras experiências da infância influenciam grandemente os padrões

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de interação e relacionamento do ado­lescente, do jovem adulto e do adul­to. Os relacionamentos que ocorrem na família nuclear são definidores durante toda a vida posterior do in­divíduo.

• Não somos animais fundamentalmen­te racionais. Ao contrário, somos mui­tas vezes inconscientemente conduzi­dos por poderosas forças emocionais, que podem proporcionar vias para a liberação de tensão e apreciação do prazer e que podem servir para man­ter determinadas memórias fora da consciência.

• Dados os conflitos que inevitavelmen­te surgem do ambiente externo, do superego e das demandas instintuais implacáveis do id, o objetivo da tera­pia é ajudar a estabelecer o melhor nível de funcionamento do ego.

• O papel do terapeuta é ajudar o pa­ciente a recordar, recuperar e reinte­grar materiais inconscientes, de modo que a vida do paciente possa tornar-se mais satisfatória.

CONCEITOS-CHAVE

Anal. Estágio de desenvolvimento dos 2 aos 4 anos de idade. Tanto o esfíncter anal quanto a bexiga são trazidos à consciência como áreas de tensão e satisfação. O interesse natural pela autodescoberta é estimulado pelo treinamen­to higiênico.

Ansiedade. O principal problema a ser enfren­tado pela psique. A ansiedade é desencadeada por um aumento esperado ou previsto de tensão ou desprazer, real ou imaginário, quando uma ameaça ao corpo ou à psique é grande demais para ser ignorada, descarregada ou controlada.

Catexia. O processo pelo qual a energia libi­dinal disponível na psique é afixado ou inves­tido em uma pessoa, idéia ou coisa. Uma vez liberada, esta mesma energia pode ser redi­recionada e tornar-se disponível para outras necessidades presentes.

Complexo de Édipo. Conflito que ocorre du­rante o estágio fálico de desenvolvimento. Nos meninos, o pai é visto como rival pelo amor e afeição da mãe. Contudo, o menino ainda de­seja o amor e afeição do pai, pelo qual a mãe é

vista como rival. Os sentimentos do menino são reprimidos em parte pelo medo de castra­ção. Nas meninas, o problema é semelhante, mas difere em expressão e solução. Uma vez que a repressão dos desejos é menos completa ou severa, a menina pode permanecer nessa situação por um período indefinido.

Ego (eu). Parte da psique que se desenvolve para garantir a saúde, a segurança e a sanida­de da personalidade ao mediar as demandas do id e a realidade externa. O ego é sensível às oportunidades, ao passo que o id é responsá­vel apenas pelas necessidades.

Energia agressiva. Energia que supostamen­te possui as mesmas propriedades gerais da li-bido. Também denominada de energia da pulsão de morte.

Fálico. Estágio de desenvolvimento que vai dos 3 aos 5 anos. Os genitais são o foco de aten­ção, com a consciência da presença ou ausên­cia de um pênis. As crianças tomam-se consci­entes das diferenças sexuais.

Fixação. Resposta que ocorre quando existe envolvimento excessivo com um determinado estágio de desenvolvimento. Na fixação, exis­te uma tendência a buscar a satisfação das ne­cessidades de modos mais simples ou infantis, em vez de fazê-lo como o adulto.

Genital. Estágio de desenvolvimento que vai da puberdade à idade adulta. A energia libidinal retoma aos genitais. A consciência de suas distintas identidades sexuais e a busca por modos de satisfação de necessidades eróticas e interpessoais ocorre em meninos e meninas.

Id (isso). Núcleo biológico original a partir do qual emerge o resto da personalidade. Em­bora primitivo e desorganizado, o id contém o reservatório de energia para todas as partes da personalidade. Ele não muda pela expe­riência, nem está em contato com o mundo externo. Suas metas são reduzir a tensão, au­mentar o prazer e minimizar o desconforto. Os conteúdos do id são quase inteiramente in­conscientes.

Inveja do pênis. Na visão de Freud, os sen­timentos de inferioridade decorrem do desejo da menina de possuir um pênis e da percepção relacionada à sua ausência. Na mulher ma­dura, esse desejo constante de possuir um pê­nis se converte no desejo específico de ter um filho do sexo masculino, o qual o possui. Na teoria de Horney (Capítulo 6), a inveja do pê-

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nis é vista como complemento da inveja da gra­videz, do parto e da maternidade por parte do menino.

Latência. Período de desenvolvimento que vai dos 5 ou 6 anos até o início da puberdade. A atenção do indivíduo muda dos relacionamen­tos com os pais para os relacionamentos com os amigos, para os esportes, para as atividades escolares e para outras habilidades. O superego reprime com êxito os desejos sexuais insolú-vcis do estágio fálico.

Libido. A energia dos pulsões vitais. Caracte­rizada como um fluxo de energia, ela facilmen­te passa de uma área de atenção para outra, deslocando-se com a natureza volátil da res-ponsividade emocional. Presume-se que a ener­gia agressiva, ou pulsão de morte, possui as mesmas propriedades que a libido. Neurose. Comportamentos de desadaptação repetitivos, formados como produto de impul­sos represados em um ambiente restritivo.

Oral. Estágio de desenvolvimento que vai do nas­cimento ao período de 2 a 4 anos. As necessida­des e a satisfação envolvem predominantemen­te os lábios, a língua e, posteriormente, os den­tes. A pulsão básica é receber nutrição, a fim de aliviar as tensões da fome e da sede.

Psicanálise. Um procedimento de investigação, um método de tratamento e um conjunto acu­mulado de informações psicológicas utilizadas para compreender os aspectos da vida mental que são obscuros e aparentemente inatingíveis. A teoria psicanalítica sugere que, embora seja um processo difícil, pode-se chegar a um acor­do com as demandas recorrentes do id.

PulsÕes (impulsos). Pressões para agir sem pensamentos conscientes com determinados fins. As necessidades são os aspectos físicos, e os desejos são os aspectos mentais das pulsões. Existem quatro componentes em todos as pulsões: fonte, alvo, pressão e objeto.

Realização de desejos. Aspecto dos sonhos que pode ser considerado como rota alternati­va para satisfazer os desejos do id.

Superego (acima do eu). Parte da psique que se desenvolve a partir do ego e que serve como repositório de códigos morais, padrões de con­duta e inibições que funcionam como consciên­cia, auto-observação e formação de ideais. Ele desenvolve, aperfeiçoa e mantém o código mo­ral de um indivíduo, e também estabelece uma série de orientações que definem e limitam a flexibilidade do ego.

Trabalho do sonho. Processo de distorção, se­leção, inversão, deslocamento, transformação ou outras modificações de um desejo original para torná-lo aceitável ao ego, mesmo que o desejo original não o seja.

Transferência. Na terapia, processo pelo qual atitudes, idéias e características físicas que per­tencem a pessoas do passado do paciente são trazidos ao relacionamento com a "tela vazia" do terapeuta. A transferência coloca os even­tos do passado em um novo contexto que pode promover a compreensão.

BIBLIOGRAFIA COMENTADA

Livros de Freud

Freud, S. The interpretation of dreams. Em J. Strachey (Ed. e Trad.) The standard edition ofthe complete psycho-logkal works ofSigmund Freud (Vols. 4, 5 de 24). Hogarth Press, 1953-1966. (Originalmente publicado em 1900.)

A seu respeito, Freud comentou em 1931: "Ele con­tém, mesmo com minha avaliação atual, as mais valiosas de todas as descobertas que tive a sorte de fazer". Nós concordamos. O melhor de Freud. Leia-o para apreciar seu gênio intuitivo e seu estilo de escrita. A maioria dos textos de Freud podem ser encontrados em uma variedade de edições econô­micas.

. Introductory lectures on psycho-analysis. Em Standard edition (Vols. 15 e 16). (Originalmente pu­blicado em 1916.)

Dois cursos de conferências proferidas na Univer­sidade de Viena. A primeira parte do livro não exi­ge nenhum conhecimento do assunto; a segunda parte exige familiaridade com a primeira. Confe­rências para estudantes.

. (1957). A general selection from the works of Sigmund Freud (John Rickman, Ed.) . New York: Doubleday.

Um bom conjunto de leituras extraído de diferen­tes partes da obra de Freud. Outras coletâneas po­dem ser igualmente boas. Gostamos dessa.

(1963). Three case histories. New York: Collier Books.

Três casos analisados por Freud. Ele apresenta ma­terial dos casos, intercalando-o com sua teoria em desenvolvimento. Este é o modo mais preciso de ver Freud em ação a partir de seus escritos.

Livros sobre Freud e suas idéias

Crews, R. (1998). Unaulhorized Freud: Douhters con-front a legend. New York: Viking Penguin.

Se você realmente deseja rejeitar Freud e tudo que ele escreveu ou pensou, esse livro lhe proporcio-

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PERSONALIDADE E CRESCIMENTO PESSOAL 57

nará infindável prazer e todos os argumentos que você precisa para sustentar sua posição.

Gay, P. (1988). Freud: a lifefor our time. New York: W. W. Norton.

A melhor biografia de Freud disponível. Gay não ataca nem defende Freud, evitando a subjetivida­de, que é o defeito da maioria das outras biografias. Ele compreende a época, bem como o homem.

Hall, CS. (1954). A primer of Freudian psychology. New York: New American Library (Mentor Books).

Uma breve, legível e lúcida exposição das principais características das teorias freudianas. Compacta e precisa. A melhor introdução fácil disponível.

Hall, C, e Lindzey, G. (1968). The relevance of Freudian psychology and related viewpoints for the social scien-ces. Em G. Lindzey e E. Arronson (Eds.), lhe handbook of social psychology (2* ed.) . Menlo Park, CA: Addison-Wesley

Um resumo de nível intermediário do pensamento psicanalítico, com ênfase em sua importância para a psicologia social; uma abordagem mais teórica do que clínica.

Rapaport, D. (1959). The structure of psychoanalytic theory. Em S. Koch (Ed.), Psychoíogy: the study of a science: Vol. 3. Formulations of lhe person and Lhe social amiext. New York: McGraw-Hill.

Uma das exposições teóricas mais sofisticadas e completas do pensamento psicanalítico. Não indi­cado para os pusilânimes.

Roazen, Ê (1993). Meeting Freud's family. Amherst: University of Massachusetts Press.

Bom divertimento para aqueles que se interessam pelas estranhas e muitas vezes bobas histórias so­bre os relacionamentos no cerne do mundo psica­nalítico e também no ambiente doméstico de Freud.

Sulloway, F (1979). Freud, biologist of the mind: Deyond the psychoanalytic legend. New York: Basic Books.

Sugere que Freud estava mais alinhado com a bio­logia do que com a psicologia. Uma perspectiva mais humana e menos heróica dele do que o co­mum, firmemente embasada em documentos his­tóricos. Discorda de Ernest Jones em questões de realidade e de opinião. Inúmeras referências.

Livros sobre psicanálise

Bergman, M., e Hartman, F (Eds.). (1976).Theevolution of psychoanalytic lechnique. New York: Basic Books.

Artigos compilados da primeira onda de movimen­tos e mudanças, surgidas a partir do pensamento original de Freud. O trabalho daqueles que acha­vam que tinham permanecido no "rebanho". Os co­laboradores incluem Erikson, Fenichel, Ferenczi, Alexander e Reich.

(1972). Thefallacy of underslanding. An inquiry into the changing structure of psychoanalysis. New York: Basic Books.

Uma reflexão agradável sobre nosso modo de ver e interpretar a obra de Freud com o distanciamento

dos anos e de culturas. Sua reavaliação sensata das idéias básicas de Freud e de como elas foram ex­pressadas e compreendidas pela primeira vez é um novo olhar, que enfatiza a utilidade.

Levenson, E., e Mitchell, S. (1988). Relational concepts in psychoanalysis: An integration. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Uma tentativa corajosa e muitas vezes convincen­te de integrar diversos desenvolvimentos da psica­nálise tradicional, incluindo a psicologia àoself, a psicanálise existencial, as teorias das relações objetais e a psicanálise interpessoal. Não indicado para os pusilânimes.

Schafer, R. (1983). The analytic attitude. New York: Basic Books.

Uma exploração das operações internas da mente do analista durante a própria terapia, de autoria de um professor de psiquiatria do Centro Médico de T re inamen to e Pesquisa Psicanalí t icos da Columbia University. Amplamente lido, utilizado e elogiado por profissionais.

Livros psicanalíticos sobre mulheres

Jordan, J., Kaplan, A., Miller, J., Striver, I., e Surrey, J. (1991) . Woman's growlh in connection. New York: Guilford Press.

Estes são os melhores autores pós-freudianos que escrevem sobre as mulheres. Não restrito a ques­tões psicanalíticas.

Mitchell, J. (1974). Psychoanalysis andfeminism. New York: Pantheon.

Mitchell explora a fundo a utilidade da teoria psica-nalítica como auxílio para a compreensão da psico­logia feminina na sociedade ocidental, dominada pelos homens. Mitchell é decidida e declaradamente feminista, e é enquanto feminista que ela examina a psicanálise como proposta por Freud e por diversos pensadores depois de Freud. Uma análise crítica das diversas críticas feministas destas mesmas teorias -especialmente da psicanálise - é oferecida.

Ruitenbeck, H. (Ed.). (1966). Psychoanalysis andfernale sexuality. NewHaven, CT: College and University Press.

Uma coletânea de textos psicanalíticos sobre se­xua l idade feminina. Inclui ensaios de Jones , Thompson, Horney, Freud, Grenacre, Riviere e, um pouco surpreendentemente, Maslow.

ENDEREÇOS NA INTERNET

R e s u m o s d a s o b r a s p s i co lóg i ca s c o m p l e t a s d e Sigmund Freud http:/ /nyfreudian.org/abstracts/

Versão digital dos resumos da edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Descrições minuciosas. Muito útil.

Sigmund Freud e os Arquivos de Freud http://users.rcn.com/brill/freudarc.html

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58 JAMES FADIMAN & ROBERT FRAGER

Site central com links para a maioria dos outros sites úteis sobre Freud.

Sala de conversa sobre Freud ht tp: / /www.human-nature.com/esterson/index.html

Um site aprazível para ver uma briga entre dois freudianos. Bem-escrito e documentado, é indica­tivo da paixão que ainda cerca grande parte do le­gado freudiano.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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The interpretation of dreams. In Standard edition (Vols. 4,5). (Originalmente publicado em 1900.)

The psychopathology of cveryday life. In Standard edition (Vol. 6). (Originalmente publicado em 1901.)

. Three essays on the theory of sexuality. In Stan-dardedilion (Vol. 7). (Originalmente publicado em 1905a.)

Fragment ofan analysis of a case of hysteria. In Standard edition (Vol. 8). (Originalmente publicado em 1905b.)

. Psycho-analysis and the establishment of the facts in legal proceedings. In Standard edition (Vol. 9). (Originalmente publicado em 1906.)

Obsessive actions and religious practices. In Standai-d edition (Vol. 9). (Originalmente publicado em 1907.)

. Notes upon a case of obsessional neurosis. In Standard edition (Vol. 10). (Originalmente publicado em 1909.)

. Five lectures on psycho-analysis. In Standard edition .(Vol. 11). (Originalmente publicado em 1910.)

Formulations on the two principies of mental functioning. In Standard edition (Vol. 12). (Original­mente publicado em 1911.)

On the history ofthe psycho-analytic movement. In Standard edition (Vol. 14). (Originalmente publica­do em 1914.)

Introductory lectures on psycho-analysis (Part III). In Standard edition (Vol. 16). (Originalmente pu­blicado em 1916.)

On the transformations of instinct, as exempli-fied in anal eroticism. In Standard edition (Vol. 17). (Originalmente publicado em 1917.)

Lines ofadvance in psycho-analytic üherapy In Sro/idard edition (Vol. 17). (Originalmente publicado em 1919.)

Beyond the pleasure principie. In Standard edition (Vol. 18). (Originalmente publicado em 1920.)

Two encyclopedia articles. In Standard edition (Vol. 18). (Originalmente publicado em 1923.)

. An autobiographical study. In Standard edition (Vol. 20) . (Originalmente publicado em 1925a.) (Tam­bém, Autobiography. New York: Norton, 1935.)

Some psychical consequences ofthe anatomical distinctions between the sexes. In Standard edition (Vol. 19). (Originalmente publicado em 1925b.)

The question of lay analysis. In Standard edition (Vol. 20) . (Originalmente publicado em 1926.)

. Civilization and its discontents. In Standard edition (Vol. 21). (Originalmente publicado em 1930.)

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PERSONALIDADE E CRESCIMENTO PESSOAL 59

. New introductory lectures on psycho-analysis. In Standard edition (Vol. 22) . (Originalmente publica­do em 1933.) (Também, New York: Norton, 1949.)

Analysis terminable and interminable. In Standard edition (Vol. 23). (Originalmente publicado em 1937.)

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