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A PERSONALIDADE JURÍDICA DOS GRANDES PRIMATAS DANIELA MARQUES CARAMALAC – OAB/MS 13024 CICLO DE ESTUDOS SOBRE DIREITO DOS ANIMAIS

Personalidade jurídica dos grandes primatas

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Palestra do Ciclo de Estudos Sobre Direito dos Animais promovido pela Comissão do Meio Ambiente da OAB/MS, pela Dra Daniela Marques Caramalac, ministrada no dia 15 de setembro de 2012.

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  • 1. CICLO DE ESTUDOS SOBRE DIREITO DOS ANIMAISA PERSONALIDADE JURDICA DOS GRANDES PRIMATASDANIELA MARQUES CARAMALAC OAB/MS13024

2. TEXTO-BASEPetio de habeas corpusem favor da chimpanzSua 3. Heron Jos de SantanaGordilhoPromotor do meio ambiente junto ao Ministrio Pblico doEstado da BahiaProfessor de Direito Ambiental e Direito Constitucional naUniversidade Federal da Bahia Presidente doInstitutoAbolicionista Animal 4. Alfredo Domingues Barbosa MiglioreAdvogado e professor Defesa da tese em 2010Orientador: na Universidade de SoRui Geraldo Paulo.CamargoViana Matria: Direito Civil 5. DAVID FAVREAdvogadoProfessor de DireitoCriador e Editor-chefe: Animal Legal and Historical Web Center www.animallaw.info 6. DA ESCOLHA DO OBJETO DEESTUDO GRANDE S PRIMATA 7. PRIMATAS Polegares opositores aos demais dedos; Garras modificadas em unhas chatas; Reduo do aparato olfatrio; Complexo visual com alta acuidade; Crebro relativamente grande comparado ao corpo; Aumento considervel do crtex cerebral; Somente duas glndulas mamrias; Um filhote por gravidez, com infncia eadolescncia; Tendncia de ereo do tronco bipedalismo 8. Quem so os grandesprimatas? Orangotango, gorila, chimpanz, bonobo No possuem rabo Esto mais a frente na escala evolutiva 9. POR QUE ESCOLHER OS GRANDE S PRIMATA S? 10. Caractersticas especiais dos grandesprimatas Compartilham grande carga gentica com oshumanos chimpanz (88,6%-99,4%) Estudos e a convivncia com estes animaismostram suas similares com os homens Comportamental Inteligncia 11. Caso 1 - Nim Chimpsky Chimpanz criado na Universidade de Columbia em1970 com o objetivo de estudar a aquisio delinguagem Liderado por Herbert S. Terrac Com 2 semanas de vida foi tiradode sua me para um ambientefamiliar humano Objetivo: derrubar a tese de NoamChomsky - de que a linguagem capacidade restrita apenas ao serhumanoNoam Chomsky 12. Seria incrvel se comunicar com um chimpanz esaber o que ele estava pensando. Por que noensinar linguagem de sinais? Nim, ainda filhote, foi levado a casa de StephaneLafarge, para cri-lo comoum de seus filhos. 13. Laura- Ann Petitto seria ento a professora deNim, responsvel em ensin-lo a lingua desinais Nim foi levado a uma escola, e aos poucosfoi se tornando cada vez mais evidente suacapacidade de aprendizado 14. 125 palavrasPalavra favorita:BRINCAR 15. Nim Chimpsky: The chimpWho Would Be Humam Project Nim - 2011 16. Caso 2 Vozes da florestaJulho de 1969 : Neil Armstrong, Edwin Buzz Aldrin e MichaelCollins Abril de 1961 : Yuri GagarinFevereiro de 1962 :John Glenn 17. Ham e Enos Chimpanzs do programaaeroespacial norte-americano Ham: 1ser vivo a pilotar umanave a entrar em rbita(31/01/1961) Enos: 2 a faz-lo, logo depoisde Gagarim (29/11/1961)Enos Ham 18. Enos Treinamento: estimulos eltricos e recompensas alimentares - reflexo condicionado (Pavlov) Suposio: mostrou-seequivocada! Nave de Enos: sofreu avaria sria - saiu da rota - problema no sistema de recompensas Enos, mesmolevandoseguidoschoques persistiu os comandos corretose conseguiu fazer a reentrada da nave naatmosfera 19. Caso 3 - Koko Uma gorila da planicie (nascida em 1971)Aprendeu mais de 1000 palavras na linguagemamericana de sinaisCompreende outras 2000 da lngua faladaInventou a palavraanel 20. DA PERSONALIDADEJURDICA 21. Conceito-SUJEITOS a aptido genrica para ser titularDE DIREITOde direitos e contrair obrigaes.Pessoa fsica-Pessoa jurdica-Incio: nascimento com vida (conceito prprioda pessoa fsica).-Entesdespersonalizado CDIGO CIVILs- feto/nascituro Art. 2 Apersonalidade civil da- Massa falidapessoa comea do nascimento com- Espliovida; mas a lei pe a salvo, desde aconcepo, os direitos do nascituro. 22. PERSONALIDADE JURDICACAPACIDADE DE AGIRAtributo daqueles quePoder dado quelespodem ser titulares deque a lei julga terem direitos. condies deexercer essesdireitos. 23. Roma Antiga pessoa somente nascido comdeterminados atributos - nascimento com vida (viabilidade fetal) e formahumana (perfeio orgnica) - exclui como cidado mulheres, crianas, escravos, estrangeiros eanimais (coisa) 24. No Direito o processo dehumanizao se consolidoucom John Locke, que definiapessoa como todo serinteligente epensante, dotado derazo, reflexo, e capaz deconsiderar a si mesmocomo uma mesma coisapensante em diferentestempose lugares. 25. Limitaes capacidade deagirCDIGO CIVILArt. 3o So absolutamente incapazes de exercerpessoalmente os atos da vida civil:I - os menores de dezesseis anos.Art. 4oPargrafo nico. A capacidade dos ndiosser regulada por legislao especial. 26. CONSTITUIO FEDERAL DE 1988CAPTULO IV - DOS DIREITOS POLTICOSArt. 14. 2 - No podem alistar-se como eleitores osestrangeiros e, durante o perodo do serviomilitar obrigatrio, os conscritos. 4 - So inelegveis os inalistveis e osanalfabetos. 27. Por que alguns tem direitos? (e outros no) Pela discricionariedade do legislador ou do monarca O homem um ser escolhido por Deus -antropocentrismo Em razo da natureza humana razo, linguagem Vontade de se relacionar com as outraspessoas, relacionamento este que precisa ser regrado Pela existncia de interesses juridicamente passveisde proteo inclui a proteo aos interesses dosincapazes 28. DIREITO NATURAL 29. Uma lei de justia fundada na ORIGEMnatureza e superior ao arbtrio DOShumano. (Del Vecchio) DIREITOS Conjunto de regras inexorveis aos quais o ser humano tambm obedece, juntosaos demaisnatural Direito elementos danatureza abrigo, alimento, procriao. Exemplo: disputa entre machos noperodo de acasalamento. Herbert Hart: perseverare in esse suo. 30. ULPIANO (170-228)O direito natural o que anatureza inculca em todosos animais. De fato, o direitono prprio apenas dognero humano, mas detodo o animal, quer tenhaele nascido no cu, quer naterra, quer no mar. 31. DIREITO HUMANO Moradia Expresso VidaAssociao DignidadeLocomoo AlimentaoDIREITO P ONATURALO S I T I V A 32. Como feita a escolha? Filosofia Cultura Religio Valores da sociedade Interesses polticos Interesses econmicos 33. A vontade cria Direito 34. A vontade do Homem cria oDireito TEORIA DA PERSONIFICAOPara que um ente venha a ter personalidade, preciso apenas que incida sobre ele uma normajurdica outorgando-lhe status jurdico.(Santana)Pessoa jurdicaH muito tempo o Direito desenvolveu a teoria dapessoa jurdica, permitindo que mesmo seresinanimados possam ser sujeito de direito(Laurence Tribe). 35. Conceito de vida Morte biolgica Morte cerebral para fins de transplante conceito de pessoa maior que o de vida vegetativa A vida vegetativa possui valor, mas no direitos O funcionamento do crebro fundamental para que o ser vivo seja considerado pessoa 36. Entes que a lei no considera pessoa Feto AnencfaloVontade do Morto cerebrallegislador Feto de mulher vtima de estupro 37. CONCLUSO Viabilidade da tese:A lei pode admitir a outros entes o status jurdicode pessoa. Adequao legal no Cdigo Civil 2002HOMEMPESSOA 38. A proteo animal No pensamento jurdico 39. TRV AI DS I CO IONALFUNDAMENTOS DA PROTEO ANTROPOCENTRISMO 40. Living property, by David Favre Classifica a propriedade em 4 categorias:- Real property- Personal property- Intellectual property- Living property Fundamento: funo socialda propriedade www.animallaw.info 41. Funo social da propriedade O interesse social qualificava os interesses individuais e impe suas regras autonomia de cada um (Gianni Baget-Bozzo, Dicionrio de Poltica, Volume 2, p. 921).Previso constitucional:artigo 5, inciso XXIII - A propriedade atender a sua funo social. 42. Retira da noo de propriedade o carter marcadamente individualAutoriza a interveno estatal na propriedade Presena do conceito de funo social diante das propriedadesvivas: conceito de posse responsvel polticas de bem-estar animalAbate humanitrioComisses de tica no Uso de Animais (CEUAs) 43. EQUITABLE SELF- OWNERSHIP Retomada da discusso propostapor Gary Francione POSSVEL Proposta: reconhecer os animais CRIAR, DENTROcomo donos de seus prpriosDO CONCEITO DE PROPRIEDADE, interesses UM NOVOSTATUS, NOo Self-directionQUAL OS ANIMAIS POSSUAM DIREITOS?o Self-controlDavid Fraveo Self-ownership 44. Todos os animais tem interesses vitais queprecisam ser respeitados (locomoo,alimentao) No se pode ter a propriedade possui interessesque lhe so inerentes Exemplos:- A me no proprietria do beb- O senhor no dono do escravo 45. Consequncias civis da tese: Animal: ainda que em posse do humano, temo direito de que seus interesses vitais sejamconsiderados humano: dever de zelar pelo bem-estar doanimal, na condio de seu guardio Assim, a propriedade no plena(gozar, fruir, dispor) Exemplo: o melhor interesse do animal emcaso de divrcio. 46. Efeito processual da tese Como os direitos so inerentes, qualquerinteressado pode propor ao visando a suaproteo, e no apenas o Estado. 47. EQUITABLE SELF-OWNERSHIP naconstituio alem 20 - O Estado protege os fundamentos naturais da vida e os animais 10 anos para a aprovao. 48. EQUITABLE SELF-OWNERSHIP no direito civilalemoPargrafo 90-A Animais no so coisa. Esto protegidospor leis especiais. As disposies acerca das coisas se lhesaplicaro de forma anloga sempre e quando no estiverestabelecido de outro modo. CRTICAS: O Poder Judicirio alemo no vem aplicando o novo conceito. Ainda no se trata de uma nova qualificao jurdica, pois o pargrafo est no captulo Das Coisas. 49. Poodle access caseNa partilha de bens do divrcio os interesses doanimal de estimao devem ser considerados Direito de visita Visita com acompanhamento de psiclogoespecializado em comportamento animal. 50. Caso Rheiland-Pfalz Guarda do animal ao cnjuge quepermaneceu na residncia do casal, evitandodificuldades de adaptao com a mudanapara outro local. 51. Outros pasesUSTRIASUAESPANHA FRANA 52. Ley de adhesion al proyecto gransimio Autoria: Frente Parlamentar Izquierda Unida e Iniciativa perCatalunya Verds Projeto de proteo aos grandes primatas, adequando alegislao Equiparao ao inimputvel Tratamento como adulto dependente Proteo grandes simios del maltrato, la esclavitud, latortura, la muerte e la extincin. 53. E POR QUE ELES ACHAMQUE OS CHIMPANZSSO PESSOAS? 54. A ORIGEM 55. Extenso dos direitos humanosaos Grandes Primatas Em 1993, um grupo de cientistascomeou a defender a extenso dosdireitos humanos para os grandesprimatas, dando incio ao movimentoProjeto Grandes Primatas (TheGreat Ape Project)PeterSinger ePaolaCavalieri, primatlogos como JaneGoodall, etlogos como RichardDawkins e intelectuais como EdgarMorin. *ponto de vista do projeto 56. Richard Dawkins Se nossa me segurar na mo de nossa av e assim por diante, em menos de 500km, encontraremos uma ancestral comum com os chimpanzs, e isto em termos evolutivos no um tempo muito longo. com base neste argumento evolucionista que Singer e Cavalieri reclamam- o direito vida- liberdade individual- integridade fsica objetivo: fima todasortedeaprisionamento emzoolgicos, circos, fazendas ou laboratrios cientficos. capacidade jurdica: outorga de capacidade jurdica semelhante concedida aos recm nascidos ou deficientes mentais. 57. Modelo TradicionalAdotado pela maioria dos cientistas taxonomia tradicional de Linneus Foco: diferenas entre as espcies: Homem = famlia Hominidae, o gnero Homo e a espcie Homosapiens.Antropides, como os chimpanzs = famlia Pongidae, ao gneroPan e s espcies Pan troglodytes (chimpanz comum) e Panpaniscus (bonobos) 58. Modelo cladstico Foconas inferncias sobre a histriaevolucionria vem antes da classificao Existem provas cientficas suficientes paraafirmar que o homem e os grandes primataspertencem mesma famlia (hominidae) e aomesmo gnero (Homo).Na verdade, alm de caractersticasanatmicas fundamentais, como o peitoliso, um particular caminho dos dentesmolares, a ausncia de rabo v.g, revelam queno faz muito tempo eles tiveram umancestral comum com os homens. 59. NOVO PARADIGMA A humanidade no evoluiu a partir de umancestral primata, dando origem famliahominidae. O homem um primata. Por que razo ns concedemos personalidadejurdica at mesmo a universalidades debens, como a massa falida, e nos recusamos aconced-la a seres que compartilham at 99,4%da nossa carga gentica? (Santana) 60. A cincia demonstra que algumas dasqualidades reconhecidas como prprias danatureza humanaSOEM VERDADECOMPARTILHADAS COM OS GRANDESPRIMATAS: Fsicas evolutivas Intelectuais Capacidade de comunicao Emocionais 61. Os animais possuem interesses inatosque merecem ser juridicamenteprotegidosA cinciajurdica caminhahistoricamente para a incluso de novascategoriasde pessoas(mulher, criana, escravo, minorias, entes despersonalizados) 62. Elementos da personalidade inteligncia mnimaJoseph auto-conscincia auto-controleFletcher noo de tempo (passado e futuro) capacidade de se relacionar e se preocupar com outros comunicabilidade curiosidade mudana e mutabilidade racionalidade e sentimento idiossincrasia funcionamento neocortical 63. DIREITO X MORAL DworkinAo defender a separao absoluta entre o Direito ea moral, o positivismo acabou por desprezar adistino lgica entre normas, diretrizes eprincpios, a partir de uma hermenutica quesubmete as normas a uma lgica do tudo ounada, posio esta que deve ser superada pelosoperadores do Direito. 64. A prpria idia de igualdignidade moral entre oshomens foi fruto de um longoprocesso de desenvolvimentohistrico, que somente seconsolidou com o advento daconcepo da lei escrita comoregrageraleuniforme,aplicvelindistintamente a todos osmembros de uma sociedadeorganizada.Ainda hoje, muitos povosdesconhecem o conceito deser humano como umacategoria geral, e acreditam 65. O conjunto das normas jurdicas no sistema fechado. Princpios Poltica Cincia Transformaes sociais 66. Fundamentos da personalidadejurdica e dos direitos subjetivos Princpio da igualdade Senso de justia Senso de equidadeDar a cada um o que justo e o que seu.Ulpiano 67. Sierra Club v. MortonDa mesma forma que nosEUA um navio ou umacorporaopodem sertitulares de direitos, nadaimpede que a naturezaThurgood Marshall tambm o seja. (Santana)(1908-1993) 68. A Jurisprudncia mudaAssim como as idias, a jurisprudncia tambm muda: - at a abolio, os escravos ainda eram registrados noscartrios como um bem semovente. - Quando a opinio pblica fica de um lado, dificilmente oJudicirio se ope a ela.Kelsen, no considerava absurdoque os animaisfossemconsiderados sujeitos de direito,pois:-a relao jurdica no sed entre o sujeito do devere o sujeito de direito- mas entre o prprio deverjurdico e o direito reflexo 69. Ordem de habeas corpus 70. Em favor de Sua, chimpanz Aprisionada no Parque Zoobotnico Getulio Vargas (Salvador, BA)Jaula com rea total de 77,56 m2 (altura de 4 m do solrio e rea deconfinamento de 2,75 m de altura privada portanto do direito delocomooSegundo Dra Clea Lcia Magalhes, mdica veterinria Eles so animaissociais e geneticamente programados para vida e grupo. 71. Relatrio de Vistoria n 005/2005 - NUFAU/BA problemassrios deinfriltraes na estrutura fsica dajaula sugere-se a instalao detroncos verticais exerccio emovimentao estrutura fsica sem condiesde abrigar um Chimpanz, fatoque constitui crueldade 72. Da admissibilidade do habeascorpusAo judicial de rito simplificado que busca garantiro direito de locomoo ir e vir.Constituio Federal de 1988 Art. 5. LXVIII-conceder-se- "habeas-corpus" sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder. 73. WritPor que a utilizao desse instrumento e no de outros disponveis emnosso ordenamento jurdico? - O habeas corpus, desde o seu aparecimento histrico o writadequado quando se trata de garantir a liberdade ambulatorial (Freedomof Arrest).O motivo fulcral desse writ: - no busca evitar possvel dano aomeio ambiente e proteger o interesse difuso dasociedade na preservao da fauna(Lei7.347/85)- mas possibilitar o exerccio maisldimo da expresso liberdade ambulatorial, odeslocamento livre de obstculos a parcializar asua locomoo. 74. HABEAS CORPUS N 833085-3/2005. Resultado do Importncia: salvojulgamento:melhor juzo, esterecebido o HC, o foi o primeiromrito restoujulgado queprejudicado, poisreconheceu aSua veio a falecer personalidadeantes de sua jurdica dos grandeapreciao.primatas em razoPortanto, extintode seu parentescosem julgamento docom os humanos.mrito. 75. P SERGUNTA