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Perspectivas do território 1 Boa vizinhança? Relações Brasil-Bolívia e os desafios de uma parceria assimétrica Boa vizinhança? Relações Brasil-Bolívia e os desafios de uma parceria assimétrica Por Laura Waisbich e Melissa Pomeroy Perspectivas do território Número 2 Maio 2015 As relações entre Brasil e Bolívia são bastante antigas, constitutivas de um Estado e de outro, tal como ocorre em países fronteiriços. A fronteira comum, delimitada e pacificada no século XIX, é de fato o primeiro traço fundante deste relação bilateral 1 . A maior fronteira terrestre brasileira compreende hoje mais de 3.400 km ao longo dos estados brasileiros do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com os departamentos de Santa Cruz de la Sierra, Beni e Pando do lado boliviano. As fronteiras são também o marco para importantes fluxos humanos e migratórios de ambos os lados, O Perspectivas do Território é um informativo do Observatório Brasil e o Sul que pretende contribuir com informações e análises sobre o engajamento internacional brasileiro a partir de uma perspectiva territorial, buscando abarcar as diversas dimensões da presença brasileira no Sul Global. Créditos: Marco Arnez além de incentivar iniciativas conjuntas no campo da segurança pública, do controle do tráfico de entorpecentes e da gestão dos recursos ambientais amazônicos. Somam-se à palheta de relações outras modalidades de intercâmbios políticos, sociais, culturais e econômicos, marcados pelas trocas comerciais, com ênfase nos recursos energéticos, pelo adensamento das relações políticas impulsionado pelo processo de integração regional e pelo aumento da cooperação 1 O primeiro acordo bilateral entre os dois países é assinado em 1867. Hoje há mais de 180 acordos vigentes, sendo que 50 deles entraram em vigência a partir de 2002, durante os sucessivos mandatos do Partido dos Trabalhadores (Fonte: SIC Sistema Atos Internacionais do MRE). Sobre as negociações com a Bolívia que culminaram na incorporação do Acre ao Brasil, ver Cervo e Bueno (2002) e para o papel do Brasil na Guerra do Chaco entre Bolívia e Paraguai, ver Bandeira (1998). As relações bilaterais no início do século XXI: afinidades e atritos

Perspectivas Do Territorio Bolivia

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Sobre as assimetrias na relação Brasil-Bolívia

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  • Perspectivas do territrio 1

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Por Laura Waisbich e Melissa Pomeroy

    Perspectivasdo territrio

    Nmero 2Maio 2015

    As relaes entre Brasil e Bolvia so bastante antigas, constitutivas

    de um Estado e de outro, tal como ocorre em pases fronteirios. A

    fronteira comum, delimitada e pacificada no sculo XIX, de fato o

    primeiro trao fundante deste relao bilateral1. A maior fronteira

    terrestre brasileira compreende hoje mais de 3.400 km ao longo

    dos estados brasileiros do Acre, Rondnia, Mato Grosso e Mato

    Grosso do Sul com os departamentos de Santa Cruz de la Sierra,

    Beni e Pando do lado boliviano. As fronteiras so tambm o marco

    para importantes fluxos humanos e migratrios de ambos os lados,

    O Perspectivas do Terr itrio um informativo do Observatrio Brasil e o Sul que pretende contribuir com informaes e anlises sobre o engajamento

    internacional brasileiro a partir de uma perspectiva terr itorial, buscando abarcar as diversas dimenses da presena brasileira no Sul Global.

    Crditos: Marco Arnez

    alm de incentivar iniciativas conjuntas no campo da segurana

    pblica, do controle do trfico de entorpecentes e da gesto dos

    recursos ambientais amaznicos.

    Somam-se palheta de relaes outras modalidades de

    intercmbios polticos, sociais, culturais e econmicos, marcados

    pelas trocas comerciais, com nfase nos recursos energticos,

    pelo adensamento das relaes polticas impulsionado pelo

    processo de integrao regional e pelo aumento da cooperao

    1 O primeiro acordo bilateral entre os dois pases assinado em 1867. Hoje h mais de 180 acordos vigentes, sendo que 50 deles entraram em vigncia a partir de 2002, durante os sucessivos mandatos do

    Partido dos Trabalhadores (Fonte: SIC Sistema Atos Internacionais do MRE). Sobre as negociaes com a Bolvia que culminaram na incorporao do Acre ao Brasil, ver Cervo e Bueno (2002) e para o papel do

    Brasil na Guerra do Chaco entre Bolvia e Paraguai, ver Bandeira (1998).

    As relaes bilaterais no incio do sculo XXI: af inidades e atritos

  • Perspectivas do territrio 2

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    2 Um extenso panorama das relaes entre os dois pases foi sistematizada recentemente por Monica Hirst em estudo publicado pelo IPEA em 2013 (ver seo de referncias). Nesta publicao buscamos

    atualizar os pontos levantados pela autora, bem como explorar outras dimenses sobretudo no nvel societrio e da cooperao no-governamental at ento menos abordadas na literatura existente.

    3 Sobre o carter nacionalista dos governos de Evo Morales, ver Molina, 2006 e Gil, 2008

    4 Segundo o Banco, o acordo estruturaria operaes de financiamento, totalizando no mximo USD 600 milhes em 2 anos, para a aquisio de bens e servios brasileiros pela Bolvia, no mbito de projetos

    de integrao regional. A parceria previa que o BNDES e o governo boliviano identificassem projetos de integrao e infraestrutura a serem executados pela Bolvia, viabilizando a aquisio de bens e de

    servios oferecidos por empresas brasileiras (BNDES, 2004).

    5 Ver Hirst (2012) e Hirst (2013).

    6 Para uma anlise, feita pelo Diplomata, Ministro de Primeira Classe, Alfredo Jose Cavalcanti Jordo de Camargo e publicada pela FUNAG, acerca do novo modelo de gesto de recursos naturais na Bolvia

    ver Camargo (2006).

    7 Segundo Hirst (2013), no Brasil, desde 1995, a importao do gs boliviano tem adquirido valor estratgico para a meta de diversificao da matriz energtica, prevendo-se que a participao no total de

    fontes utilizadas passaria de 7,7%, em 2005, para 12%, em 2010. Como medida para solucionar sete anos de divergncias, em setembro de 2014 a Petrobras pagou estatal boliviana Yacimientos Petrolferos

    Fiscales Bolivianos (YPFB) um montante de US$ 434 milhes, referentes cobrana retroativa da Bolvia por componentes nobres misturados ao gs fornecido entre 2008 e 2013. O acordo havia sido firmado

    feito entre Lula e Morales em 2007, mas na poca havia encontrado resistncias dentro da Petrobras (Maisonnave e Landim, 2014). Tal acordo aproxima o caso com a Bolvia do tipo de soluo encontrada com

    o Paraguai acerca de Itaip, revelando as complexidades das negociaes energticas entre o Brasil e seus vizinhos de menor porte e a vontade do Brasil de arcar cada vez mais com os custos da integrao

    regional. O caso ainda no est encerrado no Brasil, dado que em outubro o Tribunal de Contas da Unio decidiu abrir investigao acerca do pagamento feito (Amato, 2014).

    8 Para uma discusso mais aprofundada sobre percepes dos vizinhos latino-americanos ver: Leite et al (2014), Lima (2013), REBRIP (2010), Garcia (2011) e Beghin (2012). Ver tambm matria da BBC que

    traz uma entrevista com o socilogo Eduardo Lohnhoff a este respeito (Schreiber, 2015a).

    tcnica horizontal em setores tais como sade, educao,

    agricultura e defesa2.

    Ainda que a parceria energtica tenha sido discutida por primeira

    vez na dcada de 50 e o gasoduto Bolvia-Brasil entrado em

    funcionamento em 1999 (MRE, 2015), a chegada de Evo Morales

    do partido Movimiento al Socialismo (MAS) ao poder, em 2006,

    que impulsiona uma srie de mudanas poltico-sociais no pas

    e d fora cooperao Sul-Sul, sobretudo latino-americana. A

    intensificao desses laos na regio se d em um marco misto

    de apoio poltico e tcnico ao primeiro lder indigenista da Bolvia.

    O momento Evo concomitante com uma onda de governos de

    esquerda e centro-esquerda em outros pases da regio, incluindo

    o Partido dos Trabalhadores no Brasil (Lima, 2013). Uma Bolvia

    mais nacionalista3 e aberta regio coincide com a estratgia da

    Poltica Externa Brasileira (PEB) de fortalecimento da presena

    regional do Brasil, abrindo caminhos para o adensamento das

    relaes em suas mltiplas dimenses e para a ruptura com a

    tradicional postura brasileira, em relao Bolvia, de distncia

    poltica, desinteresse econmico e no-interveno (Hirst, 2012).

    So muitas as aes que ilustram este cmbio. Em 2004, o

    Brasil sob comando de Luiz Incio Lula da Silva perdoou a dvida

    boliviana, um total de USD 53 milhes, e abriu uma linha de crdito

    junto ao BNDES - no marco do chamado Acordo-Quadro BNDES

    para a Bolvia4 viabilizando a realizao de projetos regionais de

    infraestrutura (BNDES, 2004; MRE, 2015).

    Paralelamente, o Brasil passa a investir no fortalecimento da

    democracia boliviana, no apenas ao apoiar politicamente a

    chegada ao poder de setores sociais antes marginalizados,

    mas tambm - contrariando o princpio de no-interveno nos

    assuntos internos de outros Estados - ao participar ativamente, via

    instituies regionais multilaterais e bilateralmente, de esforos

    de mediao de crises polticas no pas vizinho em 2003 e em

    20085. No haveria como ser diferente, no apenas pela sinergia

    poltico partidria entre o PT e o MAS, mas tambm pela crena

    - cada vez mais compartilhada pelos estrategistas nacionais - de

    que a prosperidade e estabilidade regionais so pilares para o

    desenvolvimento brasileiro. Trata-se portanto de uma mediao

    pragmtica que aliou aspectos de solidariedade entre partidos no

    poder e proteo dos interesses econmicos do Brasil na Bolvia,

    sobretudo no setor energtico.

    Entretanto, apesar das aparentes sinergias, as relaes polticas

    com o vizinho na ltima dcada no transcorreram sem atritos

    diplomticos. Embates ocorreram quando interesses materiais

    brasileiros conflitaram com o modelo de gesto de recursos

    naturais estabelecido na Bolvia de Evo6, evidenciando

    assim os limites da camaradagem poltica (Hirst,

    2013)7. As tenses, sobretudo aps a nacionalizao dos

    hidrocarbonetos e a expropriao dos ativos da estatal

    brasileira Petrobras em 2006, trouxeram consigo desafios de

    ordem diplomtica e poltica ao governo brasileiro, tendo que

    mediar demandas do vizinho e dos setores nacionais, alm

    de deliberar entre os - nem sempre conciliveis - requisitos

    da integrao regional e da proteo dos investimentos

    brasileiros no exterior. Por um lado, por conta das atividades de

    suas empresas, o Brasil passa a ser percebido como imperialista8

    por seu vizinho. Por outro, o governo brasileiro sofre internamente

    com a presso do setor privado e da oposio, sobretudo no

    Congresso, para endurecer sua posio.

  • Perspectivas do territrio 3

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    9 Discursos de partidos de oposio, como o PSDB e o PFL, podem ser vistos em: PSDB (2006), Para anlises e opinies na mdia ver, entre outros: editorial da Gazeta do Povo Passividade com as estatizaes

    (Gazeta do Povo, 2012) e no jornal Estado de So Paulo o editorial A capitulao do Planalto(Estado de So Paulo, 2006).

    10 Importante lembrar tambm que a matriz energtica majoritariamente hidreltrica do Brasil (Milani et al, 2014) e a recente descoberta do Pr-Sal so fatores a serem considerados ao analisar a real

    dependncia que o Brasil tem do gs boliviano. O Brasil , por sua vez, um dos principais parceiros comerciais da Bolvia, cuja pauta de exportao ao pas se configura quase que exclusivamente de gs.

    11 De acordo com previso do Banco Mundial, o PIB boliviano crescer em 2014 5,3% e em 2015, 4.3%. (Banco Mundial, 2014). Sobre reduo nos ndices de pobreza ver Vierecke e Peter (2014).

    12 Brasil est sem embaixador na Bolvia desde 29 de agosto de 2013. Novo Embaixador foi indicado pelo MRE, mas CRE do Senado se recusa a Sabatinar e chancelar o nome at que se esclarea o caso do

    Senador Roger Pinto. Ver: Murakawa (2014), e Senado Federal (2014).

    13 A primeira viagem de Dilma Bolvia seu deu apenas em janeiro de 2015, j no segundo mandato da Presidente, para a posse do terceiro mandato de Evo. Em comparao, o ex-presidente Lula da Silva

    visitou nove vezes a nao em seus dois mandatos entre 2003 e 2010 (Schreiber, 2015a).

    14 Ver repercusses em Estado de So Paulo (2006), Pereira (2010), Estado de So Paulo (2011).

    15 As divergncias no se resumem a relao Brasil-Bolvia, se estendendo tambm a projetos distintos de integrao regional e, portanto de relacionamento com os pases vizinhos. Uma anlise destas vises

    concorrentes, pode ser lida em Lima (2013). Especificamente sobre Bolvia, ver como ilustrao o requerimento de Audincia Pblica na CRE do Senado em 2013, convocada entre outros por Ricardo Ferrao

    (PMDB), para discutir estado das relaes bilaterais (Senado Federal, 2013a). Ver tambm, discurso no Senado, do lder do PSDB na Casa, Alvaro Dias, no contexto de debates sobre torcedores brasileiros

    presos na Bolvia, em 2013: (...) a Bolvia das refinarias invadidas pelos militares; a Bolvia dos carros roubados no Brasil e comercializados naquele pas; a Bolvia de agricultores brasileiros, que l trabalham

    perseguidos; a Bolvia do narcotrfico, que infelicita famlias no Brasil. E o Governo brasileiro se comportando com a passividade e a covardia que no se recomenda a qualquer governo de qualquer pas

    (Senado Federal, 2013b). Ver ainda artigo de opinio de um dos maiores crticos atual poltica sul-americana do PT, Embaixador Rubens Barbosa (Barbosa 2014) e nota do PSDB 2013).

    16 Segundo declaraes da ministra da Comunicao da Bolvia, Amanda Davila (Schreiber, 2015a).

    A nacionalizao do gs boliviano elevou seus preos e afetou

    a Petrobras gerando crticas, sobretudo da oposio, mas

    tambm de alguns veculos da mdia, sobre o que chamaram

    de passividade brasileira9. Tampouco h consenso entre

    pesquisadores, para alguns a soluo governamental de superar

    assimetrias e empoderar os governos da regio foi conciliadora

    (Lima, 2013), para outros foi ambgua (Fuser, 2013)10. Apesar das

    crticas chamada lenincia do governo brasileiro, h quem avalie

    o processo de maneira distinta. Desde uma perspectiva boliviana,

    a iniciativa de nacionalizao promovida por Evo acabou, de

    fato, por retirar os concorrentes internacionais da Petrobras do

    jogo e deixou a estatal brasileira como um quase monoplio das

    exploraes no pas vizinho.

    Tenses e ambiguidades tambm existem do lado boliviano. No fim

    de 2014, Morales foi eleito para um terceiro mandato, governando

    um pas que tem crescido economicamente e cujos ndices de

    pobreza tm cado significativamente11. Parte deste crescimento

    tem sido alcanado por meio de investimento estrangeiro em

    setores estratgicos da economia boliviana (sobretudo na

    explorao de recursos naturais). Tal opo tem dado frutos, mas

    no livre de contradies. Para o ex-Presidente boliviano Carlos

    Mesa Gisbert, a aposta neste modelo convive com frequentes

    discursos do atual mandatrio contra a explorao das grandes

    empresas estrangeiras (Gisbert, 2013 apud Baptista e Pigatto,

    2014). Paralelamente, setores crticos da sociedade boliviana,

    tanto na sociedade civil, quanto na academia, tambm apontam

    para os limites do atual modelo de desenvolvimento, pautado na

    exportao de commodities, no sentido de promover os cmbios

    estruturais necessrios para elevar o nvel de bem-estar no pas.

    Mais recentemente, outras tenses bilaterais majoritariamente

    de natureza jurdico diplomtica - ganharam significativa

    repercusso nacional no Brasil: a revista ao avio do ento

    Chanceler Celso Amorim por Foras Armadas na Bolvia (2012), o

    caso dos torcedores brasileiros presos em Ururo (2013) e o asilo

    e vinda ao Brasil do Senador Roger Pinto Molina, opositor de Evo

    Morales (2013). Este ltimo acaba por criar um imbrglio que

    teve por consequncia final a troca de Chanceleres no Brasil e

    a no nomeao, at o momento de um novo Embaixador para a

    Bolvia12. H quem some a este quadro j frgil o desinteresse

    poltico da atual Presidente Dilma Rousseff em relao Bolvia13

    e o temor dos investidores nacionais quanto insegurana jurdica

    no vizinho (Murakawa, 2014).

    No entanto, estes casos, amplamente debatidos e mediatizados14,

    parecem apontar menos para uma crise profunda no

    relacionamento entre Brasil e Bolvia e mais para a falta de

    consenso interno, sobretudo entre a classe poltica brasileira,

    sobre qual deve ser o modus operandis da relao bilateral15. A

    escolha da Presidente Dilma de participar da posse de Evo Morales

    que ocorreu concomitantemente ao foro de Davos, em janeiro de

    2015, aponta para uma possvel retomada do aprofundamento

    das relaes diplomticas, inclusive com pronunciamentos

    que indicam que as crises bilaterais ficaram no passado16.

  • Perspectivas do territrio 4

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Outra importante rea de relao entre o Brasil e Bolvia acontece

    no mbito dos arranjos multilaterais. Ambos os pases formam

    parte da Organizao dos Estados Americanos (criada em 1948),

    do Banco Interamericano de Desenvolvimento (1959), da

    Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica (1978), da

    Associao Latino-Americana de Integrao (1980), da Unio

    de Naes Sul-Americanas - Unasul (2008) e da Comunidade de

    Estados Latino-Americanos e Caribenhos (2011). Ainda a Bolvia

    est em processo de adeso como membro do Mercado Comum do

    Sul - Mercosul (1991).

    Para o Brasil, a opo de insero na globalizao econmica

    via integrao regional est consagrada na Constituio Federal

    de 1988 e balizou a PEB e diplomacia presidencial nos ltimos 20

    anos, como pressuposto para autonomia nacional e da regio no

    17 Para uma discusso aprofundada sobre as transformaes na significao do princpio de autonomia e sua relao com integrao regional, ver Vigevani e Ramanzini (2014).

    18 Hoje a Unasul conta com 12 conselhos que versam sobre: Defesa, Sade, Eleies, Energia, Cincia e Tecnologia, Cultura, Desenvolvimento Social, Economia e finanas, Educao, Infraestrutura e

    Planejamento, Drogas, Segurana Cidad e Justia.

    19 Para uma breve anlise sobre as diferenas nas abordagens da IIRSA e do COSIPLAN segundo a imprensa boliviana , ver IPEA (2012).

    20 Soln (2008), registra histrico das negociaes sobre a relao CAN-Mercosul no artigo Reflexiones a mano alzada sobre el Tratado de Unasur.

    Dilogo multilateral no marco da integrao regional

    Unasul

    A Unasul se configura como sntese do processo regional de integrao sul-americana. Formada pelos 12 pases da Amrica do Sul, seu desenho

    institucional baseado em conselhos temticos, permite a concertao setorial dos pases e busca propiciar a cooperao regional18. Entre eles,

    destacam-se por seus avanos:

    . O Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN) foi criado em substituio Iniciativa para a Integrao da

    Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA)19. Seu Programa de Ao Estratgica prev a construo de 31 projetos de infraestrutura na regio

    at 2022 ao custo de US$ 16 bilhes.

    . O Conselho de Defesa Sul-americano avana com a criao do Centro de Estudos Estratgicos da Defesa (Buenos Aires); o projeto de Escola de

    Defesa da Unasul, assim como o projeto de criao de um avio monomotor para as foras areas da regio (Unasul I).

    . O Conselho de Sade Sul-americano, por sua vez, consolidou iniciativas como o Instituto Sul-Americano de Governo em Sade (Rio de Janeiro),

    a Rede dos Institutos Nacionais de Sade e a Rede de Escolas Tcnicas de Sade da Unasul. (Vigevani, 2014).

    sistema internacional17. Entretanto, a partir dos anos 2000, com a

    ascenso dos governos de esquerda e centro-esquerda na Amrica

    do Sul, que o regionalismo sul-americano comea a ganhar

    contornos que vo alm dos modelos tradicionais de integrao

    via liberalizao dos mercados. Caracterizado por alguns autores

    como ps liberal (Veiga e Rios, 2007), o atual regionalismo sul-

    americano enfatiza a dimenso poltica e questes sociais,

    erradicao da pobreza, fortalecimento da democracia,

    enfrentamento da assimetria estrutural entre os pases do

    subcontinente e papel do Estado na coordenao econmica

    (Sanahuja, 2010 apud Lima, 2013). Entretanto, ainda no parece

    estar claramente definido, na prtica, o papel de acordos regionais

    que, para alm da liberalizao comercial, promovam um modelo

    regional sul-americano de integrao produtiva e insero na

    economia global (Badin, 2015).

    Vale destacar que esse processo no resultado exclusivo de

    consenso e sinergias. Por exemplo, por ocasio da constituio

    da Unasul, a definio das relaes entre Mercosul e Comunidade

    Andina (Bolvia, Colmbia, Equador e Peru) no foi isenta de disputas

    quanto ao significado sobre o que deveria ser a convergncia entre

    ambos blocos, principalmente no que se refere liberalizao e

    aos acordos comerciais. No final, as negociaes apontaram para

    as linhas de menor resistncia que enfatizam a possibilidade de

    cooperao em busca do desenvolvimento econmico, superao

    de assimetrias e bem-estar da populao, incluindo o investimento

    em infraestrutura para integrao energtica e produtiva20.

    O Banco do Sul outro exemplo de agenda no consensual, cujas

    negociaes se estendem desde 2007 e ainda no h previso

    de incio de suas operaes. Em debate, se encontram questes

    relacionadas sua misso, seus objetivos especficos e questes

    operacionais, permeadas por distintas concepes sobre qual

  • Perspectivas do territrio 5

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    21 Uma Nova Arquitetura Financeira Regional discutida, no mbito da Unasul, em torno de trs pilares: Fundo Regional de Contingncia, Banco de Desenvolvimento e unidade de conta regional. Para um

    panorama os debates que permeiam as truncadas negociaes do Banco ver Carcanholo (2011).

    22 Projeto do Grupo de Pesquisa Imprensa, Opinio Pblica e Poltica Externa do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento. Mais informaes em http://beta.cebrap.org.br/v3/index.php?r=observatorio.

    Acesso em Abril de 2015

    23 Iniciou suas operaes de 1996, com a criao da Petrobras Bolvia SA. Entre 1994 e 2005, Petrobras respondeu por 20% dos investimentos estrangeiros na Bolvia e 40% no setor de petrleo e gs

    (Baptista e Pigatto, 2014).

    deve ser o papel do Banco na construo de esquemas alternativos

    de financiamento regional21. Finalmente se questiona, desde a

    sociedade civil dos diversos pases, o modelo de desenvolvimento

    que o projeto de integrao de infraestruturas promove, ao criar

    corredores de exportao de commodities e recursos naturais e

    gerar tenses no que diz respeito ao modo de vida de populaes

    tradicionais e equilbrio ambiental.

    A liderana do Brasil no regionalismo sul-americano decisiva

    e alguns dos desafios que se impem dizem respeito vontade

    e capacidade do pas de produzir bens coletivos, ao risco de ser

    visto como imperialista e ao frgil equilbrio entre seus interesses

    na regio e para acordos alm dela, como potncia emergente.

    Ainda, domesticamente, no h consenso sobre qual deve ser o

    formato da estrutura de governana regional e o papel do Brasil

    na mesma (Souza, 2009). Nesse cenrio, as relaes bilaterais

    no se desvinculam do papel do Brasil no capitalismo global.

    Assim, apesar das sinergias polticas, novas desigualdades so

    geradas no que diz respeito s pautas de exportao dos pases

    sul-americanos e reconfigurao da diviso de trabalho regional.

    A imprensa e a integrao regional no Brasil

    Segundo levantamentos feitos pelo Observatrio da Poltica Externa na Imprensa22, entre janeiro e agosto de 2014 e setembro e dezembro de 2014,

    a cobertura da imprensa de maior circulao (Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Valor Econmico) foi predominantemente negativa

    poltica externa brasileira no perodo (86,9% de posies contrrias em um universo de 170 menes no primeiro quadrimestre e 80,9% de artigos

    desfavorveis dentre 174 menes no segundo quadrimestre).

    Entre as preferncias dos meios, mapeou-se uma tendncia negativa frente ao Mercosul (74,2% do total publicado sobre o assunto no 1o

    quadrimestre e 57,9% no 2o), equilibrada ou favorvel com relao a Unasul (49% de posies contrrias no 1o quadrimestre e 66,7% no seguinte)

    e positiva para com as relaes entre Brasil e Estados Unidos (84,4% de posies favorveis na primeira mostragem e 93,9% da segunda).

    possvel encontrar em veculos de menor circulao, como a Carta Capital, um panorama editorial oposto, com tendncia a um olhar mais

    positivo, ainda que sem perder a dimenso crtica e analtica, acerca do tema da integrao regional.

    O trao que marca as dimenses econmica e comercial das relaes

    bilaterais Brasil-Bolvia o da interdependncia assimtrica. Se

    por um lado a interdependncia se explica pelos laos construdos

    ao longo dos sculos entre os vizinhos, a assimetria por sua vez

    est intimamente ligada s diferenas econmicas entre eles: de

    um lado o Brasil, a 7a maior economia do mundo, de outro a Bolvia

    na 92a posio, segundo dados do FMI de 2014.

    Sendo a internacionalizao de empresas um dos sinais mais

    visveis do incremento das relaes do Brasil com seu entorno

    Interdependncia assimtrica: investimentos pblicos e privados brasileiros na Bolvia

    (Fuser, 2011), o caso da Bolvia no foi diferente, com uma

    expanso do investimento pblico e privado a partir dos anos

    2000. Aqui a importncia se d menos em termos numricos de

    montante investido - e mais pelo perfil estratgico do investimento

    estrangeiro direto brasileiro (Baptista e Pigatto, 2014), envolvendo

    neste caso, a explorao de hidrocarbonetos e a estatal Petrobras23,

    bem como as grandes empresas nacionais de construo civil e o

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES).

  • Perspectivas do territrio 6

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    24 Em 2006, 60% do gs utilizado no Brasil havia sido suprido pela Bolvia.

    Setor energtico e relaes comerciais

    Em 2010, o gs natural perfazia aproximadamente 9% da matriz

    energtica brasileira. No mesmo ano, 83% das vendas externas

    da petrolfera boliviana foram ao Brasil24. Vale ressaltar que o gs

    natural ocupa 97,3% do total das exportaes de bens primrios,

    que por sua vez representam 99,6% da pauta exportadora da

    Bolvia ao Brasil (MRE, 2014; APEX, 2014).

    Ator central neste jogo a estatal brasileira Petrobras, presente

    na Bolvia desde 1996, criando a Petrobras Bolvia S.A. Desde

    ento estima-se que j foram investidos no pas cerca de US$ 1,5

    bilho (Baptista e Pigatto, 2014) em atividades que para alm da

    explorao, produo e comercializao do gs natural incluem

    sistema de transporte por dutos, unidades de processamento de

    gs natural, refino, unidade de lubrificantes e distribuio de

    derivados. O contrato da estatal na Bolvia, assinado em 2000

    para o suprimento de 21,8 milhes de m3 por dia de gs natural

    ao Brasil expira em 2019. O desejo de renegociar este contrato e

    manter a oferta do gs boliviano ao Brasil aps este prazo j foi

    sinalizado pela presidncia da Petrobras (Gaier e Lorenzi, 2013).

    A presena da estatal brasileira na Bolvia ao mesmo tempo

    ativo estratgico e fonte de atritos ao Brasil. Parece cada vez

    mais evidente que os desgastes da imagem da estatal perante a

    opinio pblica boliviana tem um potencial de afetar as relaes

    entre os dois pases. Entretanto, do ponto de vista boliviano no

    parece haver amlgama necessrio e/ou imediato entre o governo

    brasileiro e a estatal petrolfera. Ao longo das ltimas dcadas

    houve vezes em que Morales responsabilizou Braslia por aes da

    Petrobras, bem como houve outras vezes em que oficiais bolivianos

    expressamente dissociaram ambas as entidades, alegando que

    sua crtica Petrobras era uma crtica ao capital privado, que no

    compartilharia dos valores de amizade existente entre os dois

    governos (Murakawa, 2014).

    Crditos: Brasil de fato

  • Perspectivas do territrio 7

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    25 Os pases do continente absorveram 82,2% do total exportado em 2013. Seguiram o Brasil, Argentina (16,6%); Estados Unidos (12,4%); Colmbia (5,2%); e Venezuela (3,6%).

    26 Exportao de maquinrio para minerao e construo civil so setores identificados pela APEX como incipientes, mas de grande potencial.

    Infraestrutura e integrao

    Comrcio Brasil Bolvia

    Dados do Departamento de Inteligncia Comercial do Itamaraty para 2013 mostram a Bolvia como o 21 parceiro comercial brasileiro, com

    participao de 1,1% no total do comrcio internacional nacional daquele ano (MRE, 2014).

    Inversamente, em 2013, o Brasil foi o principal destino das exportaes bolivianas, com 37,7% do total ou US$ 3.938 milhes25. J no campo das

    importaes bolivianas, o principal fornecedor em 2013 foi o Chile (com 22,7% do total), seguido do Brasil (20,5%), o que em 2013 significou US$

    1.534 milhes importados do Brasil (MRE, 2014). Os bens importados pela Bolvia do Brasil so sobretudo produtos manufaturados (96,2% do

    total de 2013), com destaque para a venda de mquinas mecnicas (sobretudo para indstria e agricultura e pecuria26) e automveis. Segundo a

    Agncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos, a pauta exportada pelo Brasil tem variado e produtos de maior valor agregado e

    de maior intensidade tecnolgica tm ganhado espao (APEX, 2014).

    Adicionalmente, ainda que o intercmbio comercial tenha quase que dobrado entre 2009 e 2013, passando de US$ 2,57 bilhes para US$ 5,47

    bilhes, o saldo da balana comercial foi favorvel Bolvia em todo o perodo (MRE, 2014).

    Crditos: Szymon Kochaski

  • Perspectivas do territrio 8

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    A infraestrutura outro setor que tem recebido bastante ateno

    na Bolvia, em termos de investimento pblico por parte de La Paz,

    que conta com parcerias brasileiras de natureza pblica e privada

    em diversas reas, como rede viria, servio postal, suporte para

    minerao e gerao de energia hidroeltrica.

    No marco de um projeto regional, cuja integrao da infraestrutura

    sul-americana um dos principais expoentes, o Brasil promoveu

    nos ltimos anos algumas iniciativas - bilateralmente e

    multilateralmente27 - em trs eixos principais que envolvem

    territrio boliviano: (i) o interocenico central, que visa aperfeioar

    a rede de transportes e acelerar a exportao de produtos agrcolas

    e minrios tanto pelo Oceano Pacfico, como pelo Oceano

    Atlntico, envolvendo Bolvia, Brasil, Chile, Paraguai e Peru; (ii) a

    interligao Peru-Brasil-Bolvia, que busca facilitar a logstica de

    transporte das regies Sul do Peru, Acre e Rondnia no Brasil e

    Beni e Santa Cruz na Bolvia; e da (iii) Hidrovia Paraguai-Paran

    que visa integrao dos transportes fluviais, produo de energia

    hidreltrica, utilizao compartilhada das redes de distribuio

    de energia eltrica e envolve Argentina, Bolvia, Brasil, Paraguai

    e Uruguai.

    Exemplos de projetos que contaram com recursos oriundos de

    instituies brasileiras foram: a Rodovia Rurrenabaque-Riberalta

    (pavimentada pela Lume com dinheiro do BNDES e do Banco

    do Brasil/Proex), a Rodovia Tarija-Bermejo (no Eixo Andino da

    IIRSA, construda pela Queiroz Galvo com financiamento do

    Proex), o Projeto rodovirio Hacia el Norte Rurrenabaque El

    Chorro (tambm a cargo da Queiroz Galvo com apoio do BNDES)

    e a Rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos (obra da OAS com

    financiamento do BNDES, nunca finalizada)28.

    Considerado por alguns como um fiasco poltico e diplomtico29,

    o caso da rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos rota que

    visava ser um corredor interocenico de escoamento rumo sia

    - particularmente emblemtico das tenses e desafios a serem

    considerados pela integrao em infraestrutura. O contrato inicial,

    de 2008, entre La Paz e a construtora brasileira OAS havia sido

    avaliado em US$ 415 milhes, dos quais 80% seriam financiados

    com crditos do BNDES30. Em 2012, o projeto foi suspenso por

    Evo aps denncias de superfaturamento e, sobretudo, dada

    resistncia dos povos indgenas da regio31. Alguns grupos

    locais protestavam contra o impacto socioambiental de parte da

    rodovia que atravessaria o Territrio Indgena e Parque Nacional

    Isiboro-Secure (TIPNIS) habitado por cerca de 13 mil indgenas.

    Crticas ao projeto tambm foram feitas por entidades brasileiras,

    capitaneadas pela Plataforma BNDES32. Ainda que o presidente

    boliviano quisesse manter o projeto33 e que o Brasil tenha feito

    gestes diplomticas para que isso ocorresse, o governo da Bolvia

    indenizou a construtora brasileira pela anulao do contrato em

    201334. Apesar da anulao do contrato, a estrada ainda figura

    entre os projetos prioritrios de integrao no mbito da Unasul.

    Outro projeto que levantou questionamentos foi o da resciso de

    contrato e ameaa de expulso da construtora Queiroz Galvo,

    em 2007, por descumprir especificaes em um projeto de

    construo de duas rodovias ao sul da Bolvia (acordado em 2003

    com financiamento do Banco do Brasil) e no aceitar arcar com os

    custos do conserto uma vez que as mesmas passaram a apresentar

    fissuras e rachaduras. Na poca, a tentativa de mediao do

    ento Presidente Lula fracassou. No ano seguinte, o contrato

    foi assumido pela concorrente OAS35. A Queiroz Galvo j tinha

    imagem desgastada na Bolvia, pois no incio de 2007 um tnel

    recm-construdo pela empresa em outra estrada havia desabado.

    Finalmente, em maio de 2015, espera-se o incio de dilogos

    acerca da construo de uma usina hidreltrica binacional no lado

    boliviano do rio Madeira, para exportao de energia para o Brasil,

    com custo estimado em R$ 15 bilhes, com provvel financiamento

    do BNDES.36

    27 Aqui os principais parceiros multilaterais no financiamento de obras de infraestrutura, no mbito da IIRSA (hoje subordinada ao COSIPLAN), so o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a

    Corporao Andina de Fomento (CAF). No mbito bilateral, o principal ator tem sido o prprio BNDES.

    28 Obras referenciadas em estudo de 2013 da organizao peruana DAR Derecho, Ambiente y Recursos Naturales. O estudo aponta ainda duas hidroletricas atualmente em negociao: UHE Binacional

    Mamor e UHE Cachuela Esperanza, a primeira a ser construda, de acordo com o estudo, pela Odebrecht e a segunda pela Eletrobras.

    29 Ver detalhada cobertura da obra em Fonseca e Mota (2013a).

    20 Segundo Fonseca e Mota (2013a) o contrato financiado pelo BNDES era de US$ 332 milhes e a Bolvia arcaria com os US$ 80 milhes complementares.

    31 Um relato das diferentes formas de protesto realizadas por grupos indgenas para conter o avano da rodovia no parque nacional pode ser visto em Korosi, 2013.

    32 A Plataforma BNDES rene, desde 2007, um conjunto de organizaes e movimentos sociais com o objetivo de democratizar o BNDES. Ver carta da entidade pedindo a suspeno das obras em Plataforma

    BNDES (2011b).

    33 Para alm do governo de La Paz, outros setores sociais apoiaram Evo para seguir adiante com o projeto, como grupos de produtores de coca na regio. Ver relatrio do Centro de Informacin de Bolvia

    Cedib em Jimnez (2011).

    34 Ver cobertura em Israel (2013).

    35 Ver cobertura em Fonseca e Mota (2013b), Maisonnave e Landim (2008), Maisonnave (2007).

    36 possvel conjeturar que o governo brasileiro tenha reduzido o ritmo de incentivo de projetos via BNDES como consequncia do caso TIPNIS, j que no se tem conhecimento sobre novas iniciativas na

    Bolvia desde ento.

  • Perspectivas do territrio 9

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Ambos os casos so exemplos da associao de investimento

    pblico e privado brasileiros na Bolvia, atestando no apenas para

    o grau de interdependncia de ambos os setores e da complexidade

    trazida por esta associao, mas tambm do impacto negativo

    de tenses geradas por estas grandes obras cofinanciadas no

    apenas nas relaes bilaterais, mas tambm na poltica regional

    do Brasil (Hirst, 2013) e na imagem que o pas passa a ter perante

    outros parceiros.

    Adicionalmente, muito se discute, sobre o financiamento do

    BNDES, o banco pblico brasileiro de desenvolvimento, no exterior.

    Afora os conhecidos dficits de transparncia37, prestao de

    contas e polticas socioambientais do banco - tanto em projetos

    implementados no Brasil e ainda mais no exterior - preciso

    clarificar que o financiamento dos projetos na Bolvia (bem

    como em outras localidades do continente) so condicionados

    contratao pelo governo vizinho de empresas brasileiras para

    execuo das obras. Ou seja, no h transferncia direta de fundos

    ao governo boliviano. Os acordos bilaterais intergovernamentais

    so, portanto, formas alternativas pelas quais as empresas

    37 Todos os contratos do BNDES no exterior so sigilosos. Segundo Fonseca e Mota (2013b), o Banco disponibiliza em sua pgina da internet apenas os dados referentes modalidade Exim Ps-Embarque,

    em que financia bens e servios para exportao. Os valores individualizados no so fornecidos em razo de sigilo assegura por lei (art. 6, I, do decreto 7.724/2012). Tambm no so divulgados critrios,

    valores acordados, nem datas e quantias dos desembolsos realizados. Sobre transparncia no BNDES ver tambm Conectas (2014).

    brasileiras tm recebido apoio financeiro para comercializar

    seus bens e servios e internacionalizar-se, nas modalidades

    j existentes na carteira do Banco: o BNDES Exim (Pr e Ps-

    Embarque), o BNDES Finem (linhas de apoio internacionalizao

    de empresas brasileira e de aquisio de bens de capital) e o

    BNDES Automtico.

    Crditos: Szymon Kochaski

    Como visto, os investimentos externos so componente

    importante da presena brasileira na Bolvia. O perfil

    do investimento brasileiro no vizinho , contudo,

    bastante marcado pela presena do setor pblico

    (por meio das estatais) e de diferentes modalidades

    de parcerias pblicos privadas, tais como: os grupos

    privados financiados por bancos pblicos ou as empresas

    exportando ou se internacionalizando com importante

    auxlio e/ou subsdios pblicos.

  • Perspectivas do territrio 10

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Agendas de convergncia da Sociedade Civil por outro modelo de desenvolvimento

    Organizaes e movimentos da sociedade civil brasileira e boliviana tm convergido em pautas concretas de articulao que questionam os

    impactos, ambientais e no modo de vida de populaes tradicionais, gerados pelas grandes infraestruturas de transporte e energticas.

    As organizaes convergem em pautas domsticas comuns em diversos aspectos, como a crtica ao modelo de desenvolvimento baseado em

    projetos de infraestrutura e explorao de recursos naturais; demandas pela realizao de consultas e consentimento prvio com base em critrios

    estabelecidos pelas legislaes nacionais e internacionais, respeito aos direitos de terra adquiridos pelos povos tradicionais; denncias de

    superfaturamento e de represso aos movimentos de resistncia e defesa de direitos. No caso especfico de obras de infraestrutura, demanda-

    se tambm maior transparncia e respeito s salvaguardas previstas na poltica socioambiental do BNDES, bem como a adoo de uma poltica

    de direitos humanos por parte da instituio (Conectas, 2014). Alm de reforar pautas domsticas, o intercmbio promovido no mbito dessas

    articulaes tem como objetivo o fortalecimento de alternativas sustentveis, social e ambientalmente, assim como a incidncia poltica nos

    espaos de integrao regional.

    Articulaes crticas aos investimentos em infraestrutura de integrao e, mais especificamente, a estrada que corta o territrio TIPNIS so

    paradigmticas dessa convergncia. Durante o auge das mobilizaes ocorridas na Bolvia em 2011, que incluram protestos diante da embaixada

    brasileira em La Paz, diversos grupos da sociedade civil se mobilizaram e demandaram posies ao governo brasileiro, para demonstrar apoio s

    reinvindicaes dos movimentos bolivianos. Organizaes da Plataforma BNDES e parceiras da Amrica Latina, protocolaram no Banco uma carta

    ao presidente da instituio, Luciano Coutinho, exigindo a suspenso imediata do financiamento ao projeto, pois este viola marcos legais bolivianos

    e internacionais (Plataforma BNDES, 2011a). Ainda, o Comit Brasileiro de Direitos Humanos e Poltica Externa expressou ao ento Ministro de

    Relaes Exteriores Antnio Patriota preocupaes relacionadas posio brasileira frente aos protestos. Segundo carta enviada ao chanceler, a

    preocupao pela garantia dos direitos fundamentais deveria ter pautado o posicionamento brasileiro diante da represso contra manifestao

    pacfica de povos indgenas atingidos pela construo da estrada38.

    Ainda, destacam-se as articulaes em redes como a Coalizo Regional por Transparncia e Participao, que trabalha com temas relacionados

    participao cidad regional no COSIPLAN, transparncia e acesso a informao junto ao BNDES, salvaguardas socioambientais e investimentos

    de infraestrutura na Amaznia39 e a Articulao Regional Amaznica que busca facilitar a troca sobre a construo de uma nova viso amaznica e

    novos modelos de desenvolvimento, atravs do monitoramento florestal e atividades econmicas sustentveis40.

    Entretanto, a maior ateno dos movimentos sociais brasileiros conjuntura domstica - a partir das mobilizaes de 2013 e principalmente em

    2014, por conta do Mundial de Futebol e das eleies presidenciais percebida por parte dos parceiros da sociedade civil boliviana, que sentem

    um arrefecimento das articulaes que buscam incidir politicamente nos temas em comum.

    38 Ver MRE (2011) e Comit Brasileiro de Direitos Humanos e Poltica Externa (2011).

    39 O Ibase participante da Coalizo Regional pela Transparncia e Participao, que congrega organizaes da Bolvia, Colmbia, Equador e Peru. Mais informaes em http://coalicionregional.net/. Acesso

    Dezembro, 2014.

    40 Participam da Articulacin Regional Amazonica organizaes da Bolvia, Brasil, Colmbia, Venezuela, Equador e Peru. As seguintes organizaes brasileiras so membros da rede: Instituto Socioambiental,

    Instituto Centro de Vida, Instituto de Conservao e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas, Fundo Amaznia e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia. Mais informaes em:

    https://araregional.wordpress.com/. Acesso Dezembro, 2014.

  • Perspectivas do territrio 11

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    A Bolvia um pas fortemente inserido no sistema internacional

    de cooperao para o desenvolvimento. A importncia da ajuda

    externa para o desenvolvimento nacional elemento reconhecido

    dentro e fora do pas (ODI, 2010). Em 2006, foi criado o Grupo

    de Scios para o Desenvolvimento da Bolvia (Grus)41, com 23

    cooperantes atuando na Bolvia e do qual o Brasil observador

    (junto com a Colmbia, Costa Rica e Reino Unido). A partir da

    chegada ao poder de Evo, a relao com parceiros externos

    tem sofrido alteraes, almejando maior harmonizao com as

    prioridades governamentais (Hirst, 2013; Vedia, 2011). Em 2013,

    o governo boliviano expulsou a agncia americana de USAID,

    cessando suas atividades no pas. Entre 1964 e maio de 2013,

    os Estados Unidos desembolsaram quase 2 bilhes de dlares

    na Bolvia (USAID, 2014). Segundo anlise de Hirst (2013) a

    Bolvia enfrenta problemas de gesto da cooperao recebida,

    apresentando resultado dspares de acordo com as capacidades

    disponveis e planejamento de cada setor.

    O fosso entre a vontade poltica e os recursos

    institucionais representa um aspecto problemtico na

    cotidianidade da relao entre doadores e/ou parceiros e

    suas contrapartes bolivianas

    (Hirst, 2013, p. 17-18).

    Enquanto o Brasil se configura como importante parceiro da

    cooperao na Bolvia, a Bolvia no consta entre os principais

    destinos da Cooperao Tcnica para o Desenvolvimento (CTPD)

    brasileira em termos de gastos. De acordo com Hirst (2013), o

    Brasil oscila entre o segundo e o terceiro lugar, como parceiro da

    Bolvia em 2006, 2008, 2010 e 2012 atrs de Argentina, Cuba

    e Venezuela. Em 2011, as parcerias brasileiras representaram

    13,3% do total das aes da cooperao Sul-Sul latino-americana

    oferecida Bolvia. No caso da assistncia humanitria brasileira,

    a Bolvia figurou como o 7o maior destino com 3,94% dessa

    modalidade para o perodo de 2005 a 2009 (aproximadamente

    R$ 6 milhes).

    Per f il da cooperao tcnica horizontal

    Em 2010, gastos com a Cooperao Brasileira para o

    Desenvolvimento Internacional na Bolvia (somadas todas as

    modalidades) alcanaram um total de R$ 4.4 milhes. No panorama

    regional, isto equivale a 2,3% do total destinado cooperao

    bilateral entre pases da Amrica Latina e Caribe, ocupando a 9a

    posio no ranking regional de pases42. S em CTPD, a Bolvia

    recebeu em 2010 R$ 1.9 milhes, o que a deixou na 12a posio

    na lista de pases43. Nesse ano, os trs principais setores da CTPD

    na Amrica Latina foram sade (39,7%), educao (27,9%) e

    segurana e defesa (16,6%).44

    O relatrio COBRADI (Brasil, 2010) aponta tambm que, das

    2083 bolsas concedidas em 2010, 53 (2,5%) contemplaram a

    estudantes bolivianos no Brasil (35 para estudantes em graduao

    e 18 para a Ps-Graduao). Ainda na cooperao educacional,

    afirma que a Bolvia participou, ainda que minoritariamente do

    programa MARCA (Programa de Mobilidade Acadmica Regional

    em Cursos Acreditados), executado desde 2006 com recursos

    do governo federal.

    No entanto, tendo em conta as insuficincias da atual metodologia

    para contabilizar gastos com a Cooperao Brasileira para o

    Desenvolvimento Internacional, possvel que o montante

    gasto em cooperao bilateral educacional seja maior, dado a

    existncia de programas que operam no mbito de fronteiras,

    como o Escola de Fronteiras, no mbito do Mercosul45, do qual

    a Bolvia participante. Ainda, entre 2005-2010 a principal

    modalidade da cooperao brasileira foi a contribuio a

    organizaes multilaterais, com especial destaque para o Fundo

    para a Convergncia Estrutural e Fortalecimento Institucional do

    Mercosul FOCEM (Leite et al, 2014), do qual a Bolvia um dos

    principais beneficirios. Entretanto, a forma como as atividades

    realizadas no marco da integrao regional se relacionam sob a

    tica da coerncia de projetos e tambm sob a tica contbil dos

    recursos empregados com as demais atividades de cooperao

    horizontal segue um campo a ser melhor explorado e entendido.

    Segundo dados da Agncia Brasileira de Cooperao (ABC),

    h atualmente sete projetos ativos na Bolvia (cinco no setor

    41 Ver maiores informaes sobre o Grus em: http://www.grus.org.bo/. Acesso Dezembro, 2014.

    42 Naquele ano, o Haiti sozinho recebeu 47,4% do total gasto pelo Brasil. Em segundo lugar ficou o Chile com 16,3%. Ambos os pases sofreram com terremotos no ano de 2010, o que explica o montante de

    recursos recebidos naquele ano e sua posio relativa em relao aos demais pases da regio.

    43 Para dados de 2005 a 2009, ver IPEA/ABC (2010) e para dados de 2010 ver IPEA/ABC (2013).

    44 Para maiores informaes sobre a Cobradi na Amrica Latina ver Souza (2014).

    45 Ver mais sobre o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) do Mercosul, entre cidades brasileiras fronteirias e suas respectivas cidades-gmeas nos pases vizinhos em: http://educacaointegral.

    mec.gov.br/escolas-de-fronteira. As duas escolas de fronteiras entre Brasil e Bolvia ficam em Corumb-Puerto Suarez e em Guajar Mirim- Guayaramerim.

  • Perspectivas do territrio 12

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    da agricultura e dois em meio-ambiente). De 2001 at 2014,

    a ABC lista ainda 55 projetos concludos com a Bolvia, trs dos

    quais foram feitos de maneira triangular (um com Japo, outro

    com o Canad e um terceiro com a Organizao Internacional

    do Trabalho).

    Em relao aos atores governamentais e no governamentais

    brasileiros atuando como cooperantes, em projetos oficiais de CTPD

    brasileira, coordenados pela ABC percebe-se a preponderncia

    de agncias governamentais e organizaes da sociedade civil,

    Para alm dos nmeros, um olhar mais atento aos setores revela

    dinmicas interessantes ocorrendo no territrio. Em mbito

    bilateral, destacam-se iniciativas de cooperao sul-sul entre

    Brasil e Bolvia nos campos da agricultura, meio ambiente e sade

    (ABC, 2014; Hirst, 2013; Leite et al, 2014).

    20

    18

    16

    14

    12

    10

    8

    6

    4

    2

    Agric

    ultu

    ra

    Defe

    sa

    Trab

    alho

    e em

    preg

    o

    Com

    unica

    es

    Ind

    stria

    e co

    mr

    cio

    Meio

    ambi

    ente

    Dese

    nvol

    vimen

    to so

    cial

    Adm

    inist

    ra

    o pb

    lica

    Sad

    e

    Educ

    ao

    Cultu

    ra

    Tran

    spor

    tes

    19

    11

    7 7

    54

    32

    1 1 1 1

    Grfico 1. Iniciativas da Agncia Brasileira de Cooperao na Bolvia, por setor desde 200146

    Grfico 2. Atores atuantes da cooperao tcnica brasileira na Bolvia

    Fonte: Elaborao prpria com dados da ABC (Acesso em dezembro, 2014)

    Fonte: Elaborao prpria com dados da ABC (Acesso em dezembro, 2014)

    tais como a Pastoral da Criana do Brasil, a Universidade Gama

    Filho, a Universidade Federal de Viosa, o Instituto Amaznico de

    Manejo Sustentvel dos Recursos Ambientais, o Instituto Elos e a

    Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre outros.

    Agncias Governamentais brasileiras

    Universidades

    Agncia de cooperao de pas desenvolvido

    Organismo Multilateral

    Organizaes ou Movimentos de Sociedade civil

    28

    3

    4

    5

    8

    46 Mais detalhes sobre a natureza das iniciativas no Anexo 1.

  • Perspectivas do territrio 13

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    As iniciativas de cooperao sul-sul em agricultura, no s engajam

    tradicionais atores, como a ABC, a Embrapa, o IBAMA, o Ministrio

    da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) e o Ministrio

    de Desenvolvimento Agrrio (MDA), mas tambm dialogam com

    questes tradicionalmente conflituosas que estiveram na raiz

    poltica de recentes tenses polticas internas Bolvia. Alm da

    alta concentrao fundiria, raiz de conflitos entre proprietrios e

    trabalhadores rurais, h tambm modelos de cultivo distintos e por

    vezes conflitantes: como o agronegcio e o cultivo comunitrio de

    povos tradicionais.

    A presena brasileira, por sua vez, complexifica o cenrio. Em Santa

    Cruz de la Sierra existem parcerias entre produtores fronteirios

    (sobretudo de soja) em uma espcie de fronteira associada

    expanso da produo agroexportadora do Mato Grosso. Parte no

    negligencivel destes produtores so em realidade proprietrios

    brasileiros que detm terras na Bolvia. Segundo Hirst (2013),

    55% da soja boliviana produzida por grandes proprietrios

    estrangeiros, sendo que 40% deles so brasileiros. A questo

    da insegurana jurdica e do tratamento dispensado a estes

    proprietrios que muitas vezes tm suas terras confiscadas

    - tem sido objeto de tratativas diplomticas frequentes entre os

    dois pases. Sendo esta regio responsvel pela maioria das terras

    arveis disponveis na Bolvia, a concentrao fundiria nesta

    regio do pas, por sua vez, relega ao altiplano, aonde vivem as

    comunidades indgenas tradicionais e os pequenos proprietrios,

    Um olhar por setores

    Agricultura

    poucas possibilidades socioeconmicas de acesso e uso da terra

    (Urioste, 2011). Soma-se a este cenrio a dimenso tnica, que

    contribui para uma tenso ainda maior entre os modelos produtivos

    e conflitos sobre a propriedade da terra.

    Neste sentido, ainda que hajam alguns projetos de cooperao

    intergovernamental no mbito do fortalecimento da agricultura

    familiar e de programas de seguridade social (como o cadastro

    rural), iniciativas brasileiras no Altiplano ainda so pontuais

    (como a possibilidade de parceria da Embrapa para a produo

    da Quinoa, por exemplo). H portanto, espao, no futuro, para

    uma atuao governamental brasileira diversificada que possa

    tambm fortalecer estas modalidades alternativas de uso da terra,

    reduzindo as assimetrias regionais e as tenses ligadas terra

    na Bolvia.

    Para isso, ambos os governos podem incluso fazer uso das

    experincias de cooperao horizontal, como a experincia

    existente no mbito da Reunio Especializada no mbito da

    Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf) ou articular iniciativas

    com movimentos sociais de camponeses e indgenas de ambos os

    pases (no caso brasileiro capitaneado pela Via Campesina). Estes

    tm de fato interagido com mais frequncia nas zonas do Altiplano

    e podem trazer aprendizados importantes para o Brasil e sua

    cooperao em agricultura em regies dominadas por populaes

    camponesas tradicionais.

    Crditos: Marco Arnez

  • Perspectivas do territrio 14

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Outro setor primordial da cooperao bilateral entre Brasil e

    Bolvia se d em temas de segurana pblica e combate ao trfico

    de entorpecentes47 em reas de fronteiras. Este um tema que

    tem crescido na pauta bilateral, sobretudo em um contexto de

    retirada da Drug Enforcement Agency norte-americana da Bolvia

    e de diminuio da cooperao da Unio Europeia (Hirst, 2013).

    Do lado brasileiro, esto envolvidas nestas atividades atores como

    a Polcia Federal, o Ministrio da Justia, as Foras Armadas e o

    Itamaraty em programas como a Comisso Mista de Enfrentamento

    ao Narcotrfico e as atividades de combate lavagem de dinheiro

    no mbito da Unasul, entre outros (Hirst, 2013). Em 2012, o

    Brasil doou quatro helicpteros de combate Bolvia no intuito

    A cooperao bilateral apresenta tambm vasta gama de projetos

    de proteo e conservao ambiental. Encontram-se em primeiro

    plano as aes de cooperao horizontal em reas naturais

    compartilhadas - com foco na vasta rea amaznica comum entre

    ambos pases - que inclui projetos como o Amaznia sem Fogo

    (de 2008), que desde 2012 se tornou um projeto trilateral que

    envolve tambm a Itlia50.

    Segurana Pblica e Combate ao trfico de entorpecentes

    Conservao Ambiental

    de fortalecer a vigilncia de plantaes de coca e o combate ao

    trfico nas fronteiras (Defesanet, 2012), em transao aprovada

    quatro anos antes entre Morales e Lula48.

    Dada a interdependncia assimtrica entre os dois pases e os

    mltiplos desafios institucionais que existem no mbito do combate

    ao trfico de drogas nos dois lados da fronteira49, permanece o

    desafio de criar um dilogo efetivo e horizontal entre os parceiros,

    garantindo solues coletivas a problemas compartilhados e

    evitando trocar a dependncia boliviana dos EUA por uma outra

    dependncia, desta vez do grande irmo sul-americano: o Brasil.

    No caso da questo ambiental, entra em jogo tambm desafios

    de cunho menos gerencial-administrativo e mais poltico, como

    as diferentes concepes entre atores brasileiros e bolivianos

    sobre conservao51 e, mais recentemente, a gesto e mitigao

    dos impactos socioambientais das grandes obras de infraestrutura

    financiadas e/ou executadas pelo Brasil e por empresas brasileiras.

    47 Segundo estimativas da Polcia Federal, a Bolvia fonte de aproximadamente 55% da cocana consumida hoje no Brasil (Folha de So Paulo, 2012; Defesanet, 2012).

    48 Ver cobertura em Terra (2012).

    49 As fragilidades em ambos os lados so reconhecidas e isso levou , segundo Hirst, aos dois pases Brasil e Bolvia a firmarem um acordo tripartite com os EUA de assistncia para erradicao de

    excedentes de cultivo de coca em territrio boliviano. Uma iniciativa triangular, no setor da inteligncia.

    50 Outros projetos so feitos em parceira com a Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica, criada em 1998, a partir da assinatura (em 1978) - por Bolvia, Brasil, Colmbia, Equador, Guiana, Peru,

    Suriname e Venezuela - de tratado de mesmo nome. O Brasil coopera com cerca de 3,5% do oramento anual de cerca de U$ 1,15 milhes da OTCA (cerca de U$40 mil). Ver Organizao do Tratado de

    Cooperao Amaznica (sd).

    51 Um elemento comumente citado para exemplificar as diferenas nas concepes se refere ao conceito de Pachamama das comunidades tradicionais bolivianas, que seria mais abrangente do que o conceito

    de desenvolvimento sustentvel na base de alguns projetos de cooperao tcnica ofertados pelo Brasil.

  • Perspectivas do territrio 15

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Dado as fronteiras comuns, no surpreende que o fluxo migratrio

    entre ambos os pases seja uma dimenso importante das relaes

    bilaterais. No obstante, a tradicional migrao de fronteira52 no

    eixo Santa Cruz/Bolvia-Corumb/Brasil ou em Guajar-Mirim

    (RO), tem dado lugar a outras dinmicas migratrias, com a vinda

    crescente de bolivianos rumo s metrpoles do Brasil.

    Brasileiros na Bolvia, Bolivianos no Brasil

    Ainda que os nmeros sejam bastante imprecisos, em

    2000, o censo indicava que a Regio Metropolitana de

    So Paulo (RMSP) era o lugar de residncia de 44% dos

    10.222 imigrantes bolivianos (Rizek e Georges, 2010) do

    Estado de Estado de So Paulo. Na poca, a Polcia Federal

    contabilizava 18.408 bolivianos no Estado, enquanto o

    Centro de Estudos Migratrios (CEM), considerava que

    haviam de 60 mil a 80 mil s na cidade de So Paulo,

    dos quais 25% em situao ilegal (Calixto et al, 2012),

    J o censo de 2010, contabilizou 27.754 bolivianos no

    estado e na capital paulista. Para o consulado da Bolvia,

    no entanto, o nmero de bolivianos na capital seria bem

    maior; aproximadamente 350 mil (Estado de So Paulo,

    2013). Apenas como ilustrao, nas eleies presidenciais

    da Bolvia de 2014, 35,7 mil bolivianos se cadastraram

    para votar em distritos eleitorais na Regio Metropolitana

    de So Paulo (Pasqualino, 2014).

    52 Sobre migrao de fronteira ver Sochaud e Baeninger (2008).

    53 A organizao Reprter Brasil, atuante entre outros na temtica do combate ao trabalho escravo, documentou muitos dos flagrantes de abusos contra trabalhadores de origem boliviana na cidade de So

    Paulo., envolvendo incluso grandes marcas nacionais e interacionais, como Bo.B, Le Lis Blanc, Marisa, Pernambucanas, Renner, Zara, entre outras. Ver Reprter Brasil, 2012. Sobre o trfico de pessoas ver

    trabalho do Centro de Apoio ao Migrante CAMI (Illes et al, 2008). Ver ainda o premiado documentrio de Lcio De Castro, Escravos do Sculo XXI (De Castro, 2011).

    54 Para a mdia, ver, por exemplo, De Castro (2013); Giraldi (2013). Ver tambm os trabalhos de Silva (2005); Kempfer e Martins (2013).

    55 Ver Ventura e Reis (2014). Uma breve anlise dos atuais gargalos na questo migratria no Brasil, a partir do caso dos haitianos, pode ser vista em Waisbich e Pomeroy (2014).

    56 Sobre a bancarizao ver Caixa Federal, 2014. Segundo a entidade CDHIC de defesa dos migrantes, sobre flexibilizar regras para acesso servios bancrios, este convnio considerado um marco para

    a integrao social e econmica dos imigrantes procedentes do Mercosul e Associados (CDHIC, 2013). Sobre o Pacto, ver Reprter Brasil (2010).

    So Paulo, conhecida por acolher sucessivos grupos de migrantes,

    j tem nos bolivianos o grupo mais significativo desta nova onda

    migratria. Concentrados sobretudo na regio central da cidade,

    os bolivianos chegam a partir da dcada de 50 (sobretudo na

    figura de jovens estudantes) e se tornam mais numerosos a partir

    de 1980 (Silva, 2005). O boom ocorre a partir da dcada de 1990,

    com uma mudana no perfil dos migrantes: trabalhadores que se

    destinam principalmente, ainda que no exclusivamente, ao setor

    txtil (Silva 2006).

    Economicamente importante na indstria da confeco na

    cidade, a mo-de-obra boliviana suscita desafios complexos

    como as problemticas do trfico de pessoas e do trabalho

    escravo contemporneo (Illes et al, 2008; Reprter Brasil, 2012),

    amplamente documentadas por entidades atuando na temtica53

    e frequentemente objeto da ateno tanto da academia quanto da

    mdia54. Soma-se a estas questes, outros desafios ligados ao novo

    papel do Brasil como destino migratrio e a falta de legislao

    e polticas adequadas a este novo cenrio55, tais como garantir

    o acesso a servios pblicos, sobretudo de sade a imigrantes,

    levando em considerao tanto as barreiras lingusticas como a

    falta de documentao de alguns dos migrantes (Madi et al, 2009).

    Dado as propores da presena boliviana em So Paulo

    e a precariedade na qual alguns destes migrantes se encontram,

    h inovaes nas polticas pblicas de mbito local, como a

    parceria entre a Prefeitura de So Paulo e a Caixa Econmica

    Federal para a bancarizao de migrantes e as novas estratgias de

    combate ao trabalho escravo, como o Pacto Contra a Precarizao

    e Pelo Emprego e Trabalho Decentes em So Paulo - Cadeia

    Produtiva das Confeces56. Ainda, vale destacar o trabalho

    de diversas organizaes da sociedade civil que trabalham em

    defesa dos direitos dos migrantes como o Centro de Direitos

    Humanos e Cidadania do Imigrante, Centro de Apoio e Pastoral do

    Migrante, a Caritas e a Reprter Brasil, com suas aes contra o

    trabalho escravo.

    Ainda assim e embora hajam inmeros desafios a serem superados,

    a importncia econmica das remessas enviadas a Bolvia por

    imigrantes residentes no Brasil tem crescido a cada ano. Segundo

    dados do Banco Central boliviano, divulgados pelo jornal Folha de

    So Paulo, dentre o total de remessas que chegaram Bolvia, em

    2013, 4,5% eram provenientes do Brasil, enquanto que em 2014

    este nmero cresceu para 7,6% (Fagundes e Fagundez, 2015).

  • Perspectivas do territrio 16

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    57 H uma controvrsia quanto a aplicao de uma lei boliviana que impediria estrangeiros de possuir terras a menos de 50 km da fronteira. Como a lei nem sempre cumprida, h certa insegurana jurdica.

    Brasileiros no s proprietrios de terras, mas tambm a empresa EBX - j foram alvos de ameaas e despejos em algumas ocasies. Para uma anlise jurdica contrria ao despejo ver De Albuquerque (2007).

    Segundo de Albuquerque, os despejos seriam polticos-eleitorais, o que constituiria uma injustia contra os proprietrios brasileiros.

    58 Ver Carmo (2008).

    Se, felizmente, a migrao boliviana no Brasil um tema de cada

    vez mais interesse da sociedade brasileira (mdia, academia e

    sociedade civil incluso), o revs da moeda os brasileiros na

    Bolvia um assunto menos conhecido e explorado.

    Dois so os grupos de brasileiros que se destacam na paisagem

    do vizinho. O primeiro, so os estudantes brasileiros de medicina

    - aproximadamente 25 mil, segundo o jornal Folha de So Paulo

    (Maisonnave, 2013) - que, atrados pelo baixo custo da matrcula e

    a inexistncia de vestibular de ingresso, completam seus estudos

    na Bolvia, sobretudo no departamento de Santa Cruz de la Sierra.

    Neste mesmo Departamento e em outras faixas fronteirias em

    Beni e Pando, encontram-se tambm os aproximadamente 30

    mil produtores rurais, cuja situao controversa nas fronteiras os

    torna alvo da ateno de distintos atores. Objeto de recorrentes

    tentativas de expulso por parte do governo de La Paz no passado

    recente57, os brasileiros detentores de terra na Bolvia fazem parte

    da pauta diplomtica entre os dois pases. Uma vez transformado

    em contencioso bilateral, a questo ganhou tambm alguma

    alincia na mdia.

    De forma mais global, a expanso do latifndio nas reas

    fronteirias compreendido de forma distinta pelas diferentes

    foras polticas nacionais no Brasil. De um lado, tornou-se mais

    uma bandeira de setores da elite poltica brasileira, especialmente

    de partidos hoje na oposio, para criticar a chamada passividade

    do atual governo em relao ao governo de La Paz, segundo eles

    em detrimento dos interesses nacionais brasileiros na Bolvia58. No

    espectro oposto, tornou-se smbolo da oposio de movimentos

    sociais rurais que buscam denunciar conflitos agrrios, cada vez

    mais globalizados.

    Este duplo panorama - dos brasileiros na Bolvia e dos bolivianos

    no Brasil revela, portanto, que h desafios importantes a serem

    enfrentados de ambos os lados da fronteira. So desafios perenes

    que entrelaaro cada vez mais interesses e relaes diplomticas,

    com complexas dinmicas politicas e de governana local.

    Crditos: Marcel Maia

  • Perspectivas do territrio 17

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Consideraes f inais

    Vizinho, parceiro econmico-comercial, cooperante: o Brasil

    hoje ator importante em todos os temas de relevncia da agenda

    boliviana. A presena brasileira torna-se fonte de influncia e

    portanto acarreta responsabilidades, simbolizadas no apenas

    pelo fato do pas ser o principal parceiro comercial boliviano, mas

    pela natureza estratgica das parcerias energticas, securitrias e

    em infraestrutura, e pelos crescentes fluxos humanos de ambos os

    lados da fronteira.

    Parte destas responsabilidades advm da interdependncia

    regional. Apesar da integrao sul-americana apresentar hoje

    uma identidade prpria, que enfatiza questes sociais e o papel

    do Estado na promoo do desenvolvimento, ainda subsiste uma

    srie de debates em aberto sobre seus rumos futuros e sobre a

    concretizao dos ideais polticos que a orientam. Muitos destes

    debates encontram salincia e relevncia no contexto boliviano.

    Por um lado, questiona-se, desde a sociedade civil, sua capacidade

    de render bem-estar ao conjunto da populao sul-americana.

    Em outras palavras, questiona-se em que medida o atual

    modelo de integrao estaria orientado predominantemente a

    um desenvolvimento que privilegia alguns setores em prol do

    crescimento econmico e em detrimento do meio ambiente e

    direitos das populaes tradicionais. Por outro, no deve-se

    perder de vista o que significa a integrao da regio na economia

    mundial. Se o fantasma da Alca rea de Livre-Comrcio das

    Amricas - parece ficar no passado, um modelo voltado para

    exportao de commodities e explorao de recursos naturais,

    com uma crescente aproximao da economia chinesa e baseado

    em assimetrias entre os pases da regio tambm pode apresentar

    riscos a longo prazo.

    Assim, impe-se o desafio de fortalecer economicamente a regio

    para que esta se insira de maneira competitiva na economia

    global, sem desconsiderar a necessidade e a potencialidade sul-

    americana de criar modelos alternativos que respeitem os direitos

    e diversidade de suas populaes, promovam a justia social

    e faam frente aos emergentes desafios provocados pelas

    mudanas climticas.

    A posio brasileira parte fundamental da resposta a esse

    desafio. O governo brasileiro e a nova gesto de Dilma Rousseff vm

    sendo cobrados para retomar o mpeto do projeto de integrao.

    Nesse sentido, o perigo de promover aes que aprofundem

    assimetrias dentro do continente (e no interior de cada Estado)

    no deve ser desconsiderado, tanto no que diz respeito tendncia

    expansionista do capital brasileiro na Amrica do Sul, como na

    necessidade de facilitar outros instrumentos que financiam o

    desenvolvimento da regio, para alm dos atuais protagonistas

    (Banco Interamericano de Desenvolvimento, Corporao Andina

    de Fomento, Banco Mundial e BNDES). Hoje as alternativas no

    papel seja no mbito do Banco do Sul, seja no futuro Banco

    dos BRICS so por demais incertas. certo, no entanto, que a

    questo do financiamento do desenvolvimento revela algumas

    das contradies que o Brasil dever equacionar para firmar seu

    papel de parceiro e vizinho solidrio e no como o grande irmo

    sub-imperialista.

    Por outro lado necessrio tambm considerar os interesses

    e contextos poltico e econmicos da Bolvia nessa relao. O

    polmico caso da estrada Villa Tunari-San Ignacio Moxos um bom

    exemplo dessa complexidade: o traado da estrada faz parte de um

    projeto de integrao nacional boliviano com legislao que data

    da dcada de 1980, apoiado por setores da base do atual governo e

    que visa facilitar a explorao do petrleo e outras jazidas minerais

    do territrio. Alm disso, representa a convergncia de modelos

    neodesenvolvimentistas apoiados por ambos Estados.

    Mesmo com a melhora da performance dos indicadores

    econmicos na ltima dcada, na Bolvia persistem profundos

    desafios relacionados ao desenvolvimento nacional. O recente

    crescimento econmico do pas, fortemente concentrado na

    exportao de bens primrios, no foi acompanhado por um

    movimento de reestruturao e diversificao produtiva. Ainda,

    apesar na melhora dos ndices de pobreza, a maior parte da fora

    trabalhadora encontra-se no setor informal e o sistema de proteo

    social pouco presente; o sistema pblico de sade sobrevive

    com dificuldades e o sistema educacional apresenta dificuldades

    estruturais como, por exemplo, no que se refere formao de

    seus profissionais.

    Assim, a cooperao horizontal tem o potencial de converter-se

    em pauta estratgica, que viabilize um desenvolvimento inclusivo

    e mtuo. Entretanto, com exceo de alguns setores, no h

  • Perspectivas do territrio 18

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    indcios empricos ou discursivos que apontem para uma estratgia

    consolidada e compartilhada por parte do Estado brasileiro -

    sobre o papel da cooperao brasileira no projeto de integrao

    sul-americana. Soma-se a essa situao, uma tendncia de

    reduo do investimento da cooperao brasileira em geral, que j

    bastante restrita no caso da Bolvia.

    Entender melhor o que significa o papel da cooperao tcnica em

    um projeto de integrao refora a demanda, por parte de distintos

    setores nacionais, de maior participao na poltica externa

    brasileira (atravs, por exemplo, de um Conselho Nacional de

    Poltica Externa) e maior coerncia entre as diferentes polticas.

    Por um lado, evidencia-se o risco do modelo atual de reforar de

    maneira desbalanceada alguns setores ou interesses presentes nos

    pases parceiros e com isso aprofundar desigualdades. Por outro,

    enfatiza-se a necessidade de debate sobre uma poltica pblica

    de cooperao, que aumente o dilogo social na construo de

    projetos democrticos.

  • Perspectivas do territrio 19

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Aes da ABC Durao Implementador / Parceiros Setor

    Ativos

    Fortalecimento do Sistema de Recursos Genticos do Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)

    agosto de 2010 a dezembro de 2016Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA; Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)

    Agricultura

    Amaz sem Fogo - Programa de Cooperao Trilateral "AMAZNIA SEM FOGO" em Favor da Bolvia

    dezembro de 2010 a dezembro de 2016Ministrio do Meio Ambiente - MMA; Corporao Andina de Fomento - CAF; Direo Geral da Cooperao Italiana da Embaixada da Itlia

    Meio Ambiente

    Construo de estratgias pblicas para o desenvolvimento rural do Norte Amaznico da Bolvia com foco na promoo da agricultura familiar e do extrativismo

    maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura

    Apoio ao estabelecimento de instituio nacional de abastecimento interno na Bolvia

    maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura

    Fortalecimento do Sistema de Informaes Agropecurias da Bolvia

    maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura

    Curso Internacional de Capacitao Em Sistemas de Tecnologia Agroflorestal

    setembro de 2011 a dezembro de 2016EMBRAPA - Amaznia Oriental; Agncia de Cooperao Internacional do Japo - JICA

    Agricultura

    Projeto Amazonas: Ao Regional na rea de Recursos Hdricos

    julho de 2012 a julho de 2016Agncia Nacional de guas - ANA; Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica - OTCA

    Meio Ambiente

    Concludos

    Capacitao de Funcionrios do Instituto Nacional de Laboratrios de Salud (INLASA) da Bolvia sobre o Processo de Produo de Velas de Andiroba

    abril de 2010 a abril de 2014Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ/MS; Instituto Nacional de Laboratrios de Salud (INLASA)

    Sade

    Intercmbio de Experincias e Conhecimentos para a Gesto das Culturas.

    abril de 2010 a dezembro de 2014Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - IPHAN; Ministrio da Cultura (Brasil) - MinC

    Cultura

    Anexo 1. Aes de Cooperao da ABC.

  • Perspectivas do territrio 20

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Apoio Implementao do Banco de Leite Humano outubro de 2009 a maro de 2014 Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ/MS Sade

    Fortalecimento da Gesto Pblica Florestal junho de 2009 a janeiro de 2014Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA

    Meio Ambiente

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso de Comando e Estado Maior (ECEME)

    fevereiro de 2013 a dezembro de 2013 Exrcito brasileiro Defesa

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso de Formao de Oficiais (AMAN) 4 ano

    janeiro de 2013 a dezembro de 2013Exrcito Brasileiro - EXBR; Ministrio da Defesa do Brasil - MD

    Defesa

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa - Curso de Adaptao de Vo de Aeronave e Transporte

    dezembro de 2012 a janeiro de 2014 Exrcito brasileiro Defesa

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa - Curso de Adaptao de Pilotos e Mecnicos de Helicptero

    outubro de 2012 a maro de 2013 Exrcito brasileiro Defesa

    Fortalecimento e Capacitao na rea de Sade, Nutrio, Cidadania e Educao na Bolvia

    abril de 2012 a fevereiro de 2013Pastoral da Criana - PC; Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB

    Desenvolvimento Social

    Curso sobre planejamento e gesto integrada de recursos hdricos

    maro de 2012 a junho de 2012 Secretaria de Recursos Hdricos - MMA/SRH Meio Ambiente

    Visita Tcnica para apoio ao treinamento de lderes de Instituies Sociais da Bolvia

    janeiro de 2012 a julho de 2012 Instituto Elos Desenvolvimento Social

    Misso tcnica para apoio ao registro e ao financiamento em agricultura familiar

    agosto de 2011 a novembro de 2011Secretaria de Agricultura Familiar do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (SAF/MDA)

    Agricultura

    Apoio Elaborao do Plano de Infraestrutura do Setor Postal da Bolvia

    julho de 2011 a setembro de 2011 Correios Comunicaes

    Misso para Apoio Tcnico Implementao do Seguro Agrrio Universal Boliviano

    maro de 2011 a junho de 2011Secretaria de Agricultura Familiar do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (SAF/MDA)

    Agricultura

  • Perspectivas do territrio 21

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso Avanado de Inteligncia para Oficiais

    maro de 2011 a setembro de 2011 Exrcito brasileiro Defesa

    Peixes Amaznicos-Povo Amaznico outubro de 2010 a fevereiro de 2011Instituto Amaznico de Manejo Sustentvel dos Recursos Ambientais - IARA; Ministrio da Pesca e Aqicultura - MPA; Canadian International Development AID

    Meio Ambiente

    V Curso Internacional de Capacitao em Tecnologias Agroflorestais

    outubro de 2010 a dezembro de 2010Agncia de Cooperao Internacional do Japo - JICA; Consrcio Iniciativa Amaznica - IA; Centro Mundial Agroflorestal ICRAF

    Agricultura

    Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa (Curso de Auxiliar Comunicao Social)

    setembro de 2009 a fevereiro de 2011 Exrcito brasileiro Defesa

    Fortalecimento da Ateno Integral e Vigilncia Epidemiolgica em DST/HIV/AIDS na Bolvia

    dezembro de 2009 a dezembro de 2011Ministrio da Sade - Secretaria de Polticas de Sade - Cn de Dst/aids - MS/DST-AIDS

    Sade

    Capacitao de tcnicos bolivianos para o uso de ferramentas de cadastro e georreferenciamento de imveis rurais

    novembro de 2009 a janeiro de 2011 Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA Agricultura

    Contribuio ao Desenvolvimento de Polticas e Programas Nacionais de preveno e eliminao das piores formas de Trabalho Infantil na Bolvia

    outubro de 2009 a junho de 2012

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE; Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS; Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE; Organizao Internacional do Trabalho - OIT

    Trabalho e Emprego

    Fortalecimento do Sistema de Sementes do Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)

    outubro de 2009 a dezembnro de 2013 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA Agricultura

    Capacitao em Segurana e Sade no Trabalho e em Programas de Emprego

    setembro de 2009 a novembro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego

    Transferncia da Metodologia do Projeto Rondon para Instituio de Ensino Superior da Bolvia

    abril de 2009 a junho de 2009 Associao Nacional dos Rondonistas - ANR Educao

    Apoio ao Programa Multisetorial Desnutrio Zero dezembro de 2008 a novembro de 2010Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS

    Desenvolvimento Social

    Apoio ao desenvolvimento do Programa de Alimentao Escolar Boliviano

    julho de 2008 a maio de 2009 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao - FNDE Educao

  • Perspectivas do territrio 22

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Reunio de Implementao do Comit Intergovernamental do Programa "Apoio Tcnico Implantao da Rede Ibero-Americana de Bancos de Leite Humano"

    junho de 2008 a julho de 2008 Ministrio da Sade - MS Sade

    II Curso Intenacional de Treinamento para capacitao em Tecnologia Agroflorestal - TCTP

    outubro de 2007 a maro de 2008Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amaznia Oriental 3 - EMBRAPA/CPATU

    Meio Ambiente

    Intercmbio de conhecimentos na rea de segurana alimentar e nutricional

    julho de 2007 EMBRAPA Sede - EMBRAPA Desenvolvimento Social

    Treinamento de Militares Sul- Americanos no mbito de defesa

    maio de 2007 a maio de 2009 Exrcito brasileiro Defesa

    Misso para treinamento de tcnicos agrnomos bolivianos em produo e comercializao de caf

    abril de 2007 a maio de 2007Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais - EPAMIG

    Agricultura

    Apoio criao de uma Instituio Pblica de Pesquisa Agropecuria na Bolvia

    abril de 2007 a abril de 2009 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA Agricultura

    Cultivo do palmito em Chapare - implantao do projeto piloto

    maro de 2007 a maio de 2007Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC

    Agricultura

    Misso para fortalecimento da cooperao tcnica entre as instituies responsveis pela rea dos transportes rodovirios no Brasil e na Bolvia

    maro de 2007Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes - DNIT

    Transportes

    Apoio Administrao do Trabalho: Estrutura e Gesto da Inspeo do Trabalho

    fevereiro de 2007 a fevereiro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego

    Apoio Administrao do Trabalho: Programas em matria de Polticas Pblicas de Emprego e Economia Solidria Fortalecimento das Instituies

    fevereiro de 2007 a fevereiro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego

    Curso Internacional de Treinamento para Capacitao em Tecnologia Agroflorestal - TCTP

    dezembro de 2006 a maro de 2007 Embrapa Meio-Norte - Embrapa - CPAMN Meio Ambiente

    Capacitao em Soluo de Controvrsias na OMC dezembro de 2006Coordenao Geral de Contenciosos do Ministrio das Relaes Exteriores - CGC/MRE

    Administrao Pblica

  • Perspectivas do territrio 23

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Capacitao em Avaliao da Conformidade dezembro de 2006 a janeiro de 2007Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial - INMETRO

    Indstria e Comrcio

    Capacitao sobre cultivo do Palmito (bactris gasipaes) em Chapare -Fase Final

    novembro de 2006 a dezembro de 2006Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC

    Agricultura

    Estruturao do Centro de Referncia para Queimados em La Paz

    novembro de 2006 a maio de 2008 Universidade Gama Filho - UGF Sade

    Intercmbio de Conhecimentos na rea de Educao Profissional e Tecnolgica entre os Pases Partes e Associados do Sistema Educacional do Mercosul

    outubro de 2006 a janeiro de 2007 Ministrio da Educao - MEC Educao

    Controle do Bicudo do Algodo e Caraterizao da rea Livre de Praga

    setembro de 2006 a maio de 2008 Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA Agricultura

    Assessoria Pastoral da Criana na Bolvia outubro de 2005 Pastoral da Criana - PC Desenvolvimento Social

    Preveno e controle de DST/HIV/AIDS na Bolvia abril de 2003 a abril de 2004

    Ministrio Britnico de Desenvolvimento Internacional - DFID; Organizao Panamericana de Sade - OPAS; Organizao Mundial da Sade - OMS; Programa nacional de DST/AIDS

    Sade

    Legislao dos recursos hdricos abril de 2003 a abril de 2004 Agncia Nacional de guas - ANA Meio Ambiente

    Projeto sistema eletrnico de contrataes estatais abril de 2003 a abril de 2004Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao - SLTI/MPOG

    Administrao Pblica

    Controle do bicudo-do-algodoeiro e caracterizaco de rea de praga.

    fevereiro de 2002 a dezembro de 2003 Departamento de Defesa e Inspeo Vegetal - DDIV/Mapa Agricultura

    Gesto integrada de recursos hidricos na alta bacia do rio Paraguai

    janeiro de 2002 a dezembro de 2003 Agncia Nacional de guas - ANA Meio Ambiente

    Capacitao e transferncia de tecnologia de cultivo do Palmito (Bactris Gasipaes) em Chapare

    janeiro de 2002 a dezembro de 2003Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC

    Agricultura

  • Perspectivas do territrio 24

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Apoio ao programa nacional de erradicao da febre aftosa janeiro de 2002 a dezembro de 2003Departamento de Defesa Animal-Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - DDA/MAPA

    Sade

    Capacitao e transferncia de tecnologia de cultivo e processamento de frutas tropicales em chapare e Yungas de La Paz

    janeiro de 2002 a dezembro de 2003Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa Alimentos; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

    Agricultura

    Transferncia de tecnologia para apoiar a competitividade do circuito produtivo do caf na regio dos Yungas

    novembro de 2001 a novembro de 2005Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais - EPAMIG; Universidade Federal de Viosa - UFV

    Agricultura

    Sistema de alerta e monitoramento de incndios florestais novembro de 2001 a junho de 2003Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA; Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

    Meio Ambiente

    Manejo de fauna silvestre novembro de 2001 a novembro de 2005Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA

    Meio Ambiente

  • Perspectivas do territrio 25

    Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica

    Agradecimentos

    Ceclia Crdova, Christian Aid Bolvia

    Gerardo Cerdas, Ibase - Brasil

    Javier Gmez, Centro de Estudios para el Desarrollo Laboral y Agrario (CEDLA) - Bolvia

    Marina Biancalana, Economista - Brasil

    Werner Hernani-Limanino, Fundacin Aru - Bolvia

    Almeida, C. M., Campos, R. P., Buss, P. B., & Ferreira, J. R. (2010). A concepo brasileira de cooperao Sul-Sul estruturante em sade.

    Revista Eletrnica de Comunicao, Informao & Inovao em Sade, 4 (4), 25-35.

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    do M