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Sobre as assimetrias na relação Brasil-Bolívia
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Perspectivas do territrio 1
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Por Laura Waisbich e Melissa Pomeroy
Perspectivasdo territrio
Nmero 2Maio 2015
As relaes entre Brasil e Bolvia so bastante antigas, constitutivas
de um Estado e de outro, tal como ocorre em pases fronteirios. A
fronteira comum, delimitada e pacificada no sculo XIX, de fato o
primeiro trao fundante deste relao bilateral1. A maior fronteira
terrestre brasileira compreende hoje mais de 3.400 km ao longo
dos estados brasileiros do Acre, Rondnia, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul com os departamentos de Santa Cruz de la Sierra,
Beni e Pando do lado boliviano. As fronteiras so tambm o marco
para importantes fluxos humanos e migratrios de ambos os lados,
O Perspectivas do Terr itrio um informativo do Observatrio Brasil e o Sul que pretende contribuir com informaes e anlises sobre o engajamento
internacional brasileiro a partir de uma perspectiva terr itorial, buscando abarcar as diversas dimenses da presena brasileira no Sul Global.
Crditos: Marco Arnez
alm de incentivar iniciativas conjuntas no campo da segurana
pblica, do controle do trfico de entorpecentes e da gesto dos
recursos ambientais amaznicos.
Somam-se palheta de relaes outras modalidades de
intercmbios polticos, sociais, culturais e econmicos, marcados
pelas trocas comerciais, com nfase nos recursos energticos,
pelo adensamento das relaes polticas impulsionado pelo
processo de integrao regional e pelo aumento da cooperao
1 O primeiro acordo bilateral entre os dois pases assinado em 1867. Hoje h mais de 180 acordos vigentes, sendo que 50 deles entraram em vigncia a partir de 2002, durante os sucessivos mandatos do
Partido dos Trabalhadores (Fonte: SIC Sistema Atos Internacionais do MRE). Sobre as negociaes com a Bolvia que culminaram na incorporao do Acre ao Brasil, ver Cervo e Bueno (2002) e para o papel do
Brasil na Guerra do Chaco entre Bolvia e Paraguai, ver Bandeira (1998).
As relaes bilaterais no incio do sculo XXI: af inidades e atritos
Perspectivas do territrio 2
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
2 Um extenso panorama das relaes entre os dois pases foi sistematizada recentemente por Monica Hirst em estudo publicado pelo IPEA em 2013 (ver seo de referncias). Nesta publicao buscamos
atualizar os pontos levantados pela autora, bem como explorar outras dimenses sobretudo no nvel societrio e da cooperao no-governamental at ento menos abordadas na literatura existente.
3 Sobre o carter nacionalista dos governos de Evo Morales, ver Molina, 2006 e Gil, 2008
4 Segundo o Banco, o acordo estruturaria operaes de financiamento, totalizando no mximo USD 600 milhes em 2 anos, para a aquisio de bens e servios brasileiros pela Bolvia, no mbito de projetos
de integrao regional. A parceria previa que o BNDES e o governo boliviano identificassem projetos de integrao e infraestrutura a serem executados pela Bolvia, viabilizando a aquisio de bens e de
servios oferecidos por empresas brasileiras (BNDES, 2004).
5 Ver Hirst (2012) e Hirst (2013).
6 Para uma anlise, feita pelo Diplomata, Ministro de Primeira Classe, Alfredo Jose Cavalcanti Jordo de Camargo e publicada pela FUNAG, acerca do novo modelo de gesto de recursos naturais na Bolvia
ver Camargo (2006).
7 Segundo Hirst (2013), no Brasil, desde 1995, a importao do gs boliviano tem adquirido valor estratgico para a meta de diversificao da matriz energtica, prevendo-se que a participao no total de
fontes utilizadas passaria de 7,7%, em 2005, para 12%, em 2010. Como medida para solucionar sete anos de divergncias, em setembro de 2014 a Petrobras pagou estatal boliviana Yacimientos Petrolferos
Fiscales Bolivianos (YPFB) um montante de US$ 434 milhes, referentes cobrana retroativa da Bolvia por componentes nobres misturados ao gs fornecido entre 2008 e 2013. O acordo havia sido firmado
feito entre Lula e Morales em 2007, mas na poca havia encontrado resistncias dentro da Petrobras (Maisonnave e Landim, 2014). Tal acordo aproxima o caso com a Bolvia do tipo de soluo encontrada com
o Paraguai acerca de Itaip, revelando as complexidades das negociaes energticas entre o Brasil e seus vizinhos de menor porte e a vontade do Brasil de arcar cada vez mais com os custos da integrao
regional. O caso ainda no est encerrado no Brasil, dado que em outubro o Tribunal de Contas da Unio decidiu abrir investigao acerca do pagamento feito (Amato, 2014).
8 Para uma discusso mais aprofundada sobre percepes dos vizinhos latino-americanos ver: Leite et al (2014), Lima (2013), REBRIP (2010), Garcia (2011) e Beghin (2012). Ver tambm matria da BBC que
traz uma entrevista com o socilogo Eduardo Lohnhoff a este respeito (Schreiber, 2015a).
tcnica horizontal em setores tais como sade, educao,
agricultura e defesa2.
Ainda que a parceria energtica tenha sido discutida por primeira
vez na dcada de 50 e o gasoduto Bolvia-Brasil entrado em
funcionamento em 1999 (MRE, 2015), a chegada de Evo Morales
do partido Movimiento al Socialismo (MAS) ao poder, em 2006,
que impulsiona uma srie de mudanas poltico-sociais no pas
e d fora cooperao Sul-Sul, sobretudo latino-americana. A
intensificao desses laos na regio se d em um marco misto
de apoio poltico e tcnico ao primeiro lder indigenista da Bolvia.
O momento Evo concomitante com uma onda de governos de
esquerda e centro-esquerda em outros pases da regio, incluindo
o Partido dos Trabalhadores no Brasil (Lima, 2013). Uma Bolvia
mais nacionalista3 e aberta regio coincide com a estratgia da
Poltica Externa Brasileira (PEB) de fortalecimento da presena
regional do Brasil, abrindo caminhos para o adensamento das
relaes em suas mltiplas dimenses e para a ruptura com a
tradicional postura brasileira, em relao Bolvia, de distncia
poltica, desinteresse econmico e no-interveno (Hirst, 2012).
So muitas as aes que ilustram este cmbio. Em 2004, o
Brasil sob comando de Luiz Incio Lula da Silva perdoou a dvida
boliviana, um total de USD 53 milhes, e abriu uma linha de crdito
junto ao BNDES - no marco do chamado Acordo-Quadro BNDES
para a Bolvia4 viabilizando a realizao de projetos regionais de
infraestrutura (BNDES, 2004; MRE, 2015).
Paralelamente, o Brasil passa a investir no fortalecimento da
democracia boliviana, no apenas ao apoiar politicamente a
chegada ao poder de setores sociais antes marginalizados,
mas tambm - contrariando o princpio de no-interveno nos
assuntos internos de outros Estados - ao participar ativamente, via
instituies regionais multilaterais e bilateralmente, de esforos
de mediao de crises polticas no pas vizinho em 2003 e em
20085. No haveria como ser diferente, no apenas pela sinergia
poltico partidria entre o PT e o MAS, mas tambm pela crena
- cada vez mais compartilhada pelos estrategistas nacionais - de
que a prosperidade e estabilidade regionais so pilares para o
desenvolvimento brasileiro. Trata-se portanto de uma mediao
pragmtica que aliou aspectos de solidariedade entre partidos no
poder e proteo dos interesses econmicos do Brasil na Bolvia,
sobretudo no setor energtico.
Entretanto, apesar das aparentes sinergias, as relaes polticas
com o vizinho na ltima dcada no transcorreram sem atritos
diplomticos. Embates ocorreram quando interesses materiais
brasileiros conflitaram com o modelo de gesto de recursos
naturais estabelecido na Bolvia de Evo6, evidenciando
assim os limites da camaradagem poltica (Hirst,
2013)7. As tenses, sobretudo aps a nacionalizao dos
hidrocarbonetos e a expropriao dos ativos da estatal
brasileira Petrobras em 2006, trouxeram consigo desafios de
ordem diplomtica e poltica ao governo brasileiro, tendo que
mediar demandas do vizinho e dos setores nacionais, alm
de deliberar entre os - nem sempre conciliveis - requisitos
da integrao regional e da proteo dos investimentos
brasileiros no exterior. Por um lado, por conta das atividades de
suas empresas, o Brasil passa a ser percebido como imperialista8
por seu vizinho. Por outro, o governo brasileiro sofre internamente
com a presso do setor privado e da oposio, sobretudo no
Congresso, para endurecer sua posio.
Perspectivas do territrio 3
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9 Discursos de partidos de oposio, como o PSDB e o PFL, podem ser vistos em: PSDB (2006), Para anlises e opinies na mdia ver, entre outros: editorial da Gazeta do Povo Passividade com as estatizaes
(Gazeta do Povo, 2012) e no jornal Estado de So Paulo o editorial A capitulao do Planalto(Estado de So Paulo, 2006).
10 Importante lembrar tambm que a matriz energtica majoritariamente hidreltrica do Brasil (Milani et al, 2014) e a recente descoberta do Pr-Sal so fatores a serem considerados ao analisar a real
dependncia que o Brasil tem do gs boliviano. O Brasil , por sua vez, um dos principais parceiros comerciais da Bolvia, cuja pauta de exportao ao pas se configura quase que exclusivamente de gs.
11 De acordo com previso do Banco Mundial, o PIB boliviano crescer em 2014 5,3% e em 2015, 4.3%. (Banco Mundial, 2014). Sobre reduo nos ndices de pobreza ver Vierecke e Peter (2014).
12 Brasil est sem embaixador na Bolvia desde 29 de agosto de 2013. Novo Embaixador foi indicado pelo MRE, mas CRE do Senado se recusa a Sabatinar e chancelar o nome at que se esclarea o caso do
Senador Roger Pinto. Ver: Murakawa (2014), e Senado Federal (2014).
13 A primeira viagem de Dilma Bolvia seu deu apenas em janeiro de 2015, j no segundo mandato da Presidente, para a posse do terceiro mandato de Evo. Em comparao, o ex-presidente Lula da Silva
visitou nove vezes a nao em seus dois mandatos entre 2003 e 2010 (Schreiber, 2015a).
14 Ver repercusses em Estado de So Paulo (2006), Pereira (2010), Estado de So Paulo (2011).
15 As divergncias no se resumem a relao Brasil-Bolvia, se estendendo tambm a projetos distintos de integrao regional e, portanto de relacionamento com os pases vizinhos. Uma anlise destas vises
concorrentes, pode ser lida em Lima (2013). Especificamente sobre Bolvia, ver como ilustrao o requerimento de Audincia Pblica na CRE do Senado em 2013, convocada entre outros por Ricardo Ferrao
(PMDB), para discutir estado das relaes bilaterais (Senado Federal, 2013a). Ver tambm, discurso no Senado, do lder do PSDB na Casa, Alvaro Dias, no contexto de debates sobre torcedores brasileiros
presos na Bolvia, em 2013: (...) a Bolvia das refinarias invadidas pelos militares; a Bolvia dos carros roubados no Brasil e comercializados naquele pas; a Bolvia de agricultores brasileiros, que l trabalham
perseguidos; a Bolvia do narcotrfico, que infelicita famlias no Brasil. E o Governo brasileiro se comportando com a passividade e a covardia que no se recomenda a qualquer governo de qualquer pas
(Senado Federal, 2013b). Ver ainda artigo de opinio de um dos maiores crticos atual poltica sul-americana do PT, Embaixador Rubens Barbosa (Barbosa 2014) e nota do PSDB 2013).
16 Segundo declaraes da ministra da Comunicao da Bolvia, Amanda Davila (Schreiber, 2015a).
A nacionalizao do gs boliviano elevou seus preos e afetou
a Petrobras gerando crticas, sobretudo da oposio, mas
tambm de alguns veculos da mdia, sobre o que chamaram
de passividade brasileira9. Tampouco h consenso entre
pesquisadores, para alguns a soluo governamental de superar
assimetrias e empoderar os governos da regio foi conciliadora
(Lima, 2013), para outros foi ambgua (Fuser, 2013)10. Apesar das
crticas chamada lenincia do governo brasileiro, h quem avalie
o processo de maneira distinta. Desde uma perspectiva boliviana,
a iniciativa de nacionalizao promovida por Evo acabou, de
fato, por retirar os concorrentes internacionais da Petrobras do
jogo e deixou a estatal brasileira como um quase monoplio das
exploraes no pas vizinho.
Tenses e ambiguidades tambm existem do lado boliviano. No fim
de 2014, Morales foi eleito para um terceiro mandato, governando
um pas que tem crescido economicamente e cujos ndices de
pobreza tm cado significativamente11. Parte deste crescimento
tem sido alcanado por meio de investimento estrangeiro em
setores estratgicos da economia boliviana (sobretudo na
explorao de recursos naturais). Tal opo tem dado frutos, mas
no livre de contradies. Para o ex-Presidente boliviano Carlos
Mesa Gisbert, a aposta neste modelo convive com frequentes
discursos do atual mandatrio contra a explorao das grandes
empresas estrangeiras (Gisbert, 2013 apud Baptista e Pigatto,
2014). Paralelamente, setores crticos da sociedade boliviana,
tanto na sociedade civil, quanto na academia, tambm apontam
para os limites do atual modelo de desenvolvimento, pautado na
exportao de commodities, no sentido de promover os cmbios
estruturais necessrios para elevar o nvel de bem-estar no pas.
Mais recentemente, outras tenses bilaterais majoritariamente
de natureza jurdico diplomtica - ganharam significativa
repercusso nacional no Brasil: a revista ao avio do ento
Chanceler Celso Amorim por Foras Armadas na Bolvia (2012), o
caso dos torcedores brasileiros presos em Ururo (2013) e o asilo
e vinda ao Brasil do Senador Roger Pinto Molina, opositor de Evo
Morales (2013). Este ltimo acaba por criar um imbrglio que
teve por consequncia final a troca de Chanceleres no Brasil e
a no nomeao, at o momento de um novo Embaixador para a
Bolvia12. H quem some a este quadro j frgil o desinteresse
poltico da atual Presidente Dilma Rousseff em relao Bolvia13
e o temor dos investidores nacionais quanto insegurana jurdica
no vizinho (Murakawa, 2014).
No entanto, estes casos, amplamente debatidos e mediatizados14,
parecem apontar menos para uma crise profunda no
relacionamento entre Brasil e Bolvia e mais para a falta de
consenso interno, sobretudo entre a classe poltica brasileira,
sobre qual deve ser o modus operandis da relao bilateral15. A
escolha da Presidente Dilma de participar da posse de Evo Morales
que ocorreu concomitantemente ao foro de Davos, em janeiro de
2015, aponta para uma possvel retomada do aprofundamento
das relaes diplomticas, inclusive com pronunciamentos
que indicam que as crises bilaterais ficaram no passado16.
Perspectivas do territrio 4
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Outra importante rea de relao entre o Brasil e Bolvia acontece
no mbito dos arranjos multilaterais. Ambos os pases formam
parte da Organizao dos Estados Americanos (criada em 1948),
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (1959), da
Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica (1978), da
Associao Latino-Americana de Integrao (1980), da Unio
de Naes Sul-Americanas - Unasul (2008) e da Comunidade de
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (2011). Ainda a Bolvia
est em processo de adeso como membro do Mercado Comum do
Sul - Mercosul (1991).
Para o Brasil, a opo de insero na globalizao econmica
via integrao regional est consagrada na Constituio Federal
de 1988 e balizou a PEB e diplomacia presidencial nos ltimos 20
anos, como pressuposto para autonomia nacional e da regio no
17 Para uma discusso aprofundada sobre as transformaes na significao do princpio de autonomia e sua relao com integrao regional, ver Vigevani e Ramanzini (2014).
18 Hoje a Unasul conta com 12 conselhos que versam sobre: Defesa, Sade, Eleies, Energia, Cincia e Tecnologia, Cultura, Desenvolvimento Social, Economia e finanas, Educao, Infraestrutura e
Planejamento, Drogas, Segurana Cidad e Justia.
19 Para uma breve anlise sobre as diferenas nas abordagens da IIRSA e do COSIPLAN segundo a imprensa boliviana , ver IPEA (2012).
20 Soln (2008), registra histrico das negociaes sobre a relao CAN-Mercosul no artigo Reflexiones a mano alzada sobre el Tratado de Unasur.
Dilogo multilateral no marco da integrao regional
Unasul
A Unasul se configura como sntese do processo regional de integrao sul-americana. Formada pelos 12 pases da Amrica do Sul, seu desenho
institucional baseado em conselhos temticos, permite a concertao setorial dos pases e busca propiciar a cooperao regional18. Entre eles,
destacam-se por seus avanos:
. O Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN) foi criado em substituio Iniciativa para a Integrao da
Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA)19. Seu Programa de Ao Estratgica prev a construo de 31 projetos de infraestrutura na regio
at 2022 ao custo de US$ 16 bilhes.
. O Conselho de Defesa Sul-americano avana com a criao do Centro de Estudos Estratgicos da Defesa (Buenos Aires); o projeto de Escola de
Defesa da Unasul, assim como o projeto de criao de um avio monomotor para as foras areas da regio (Unasul I).
. O Conselho de Sade Sul-americano, por sua vez, consolidou iniciativas como o Instituto Sul-Americano de Governo em Sade (Rio de Janeiro),
a Rede dos Institutos Nacionais de Sade e a Rede de Escolas Tcnicas de Sade da Unasul. (Vigevani, 2014).
sistema internacional17. Entretanto, a partir dos anos 2000, com a
ascenso dos governos de esquerda e centro-esquerda na Amrica
do Sul, que o regionalismo sul-americano comea a ganhar
contornos que vo alm dos modelos tradicionais de integrao
via liberalizao dos mercados. Caracterizado por alguns autores
como ps liberal (Veiga e Rios, 2007), o atual regionalismo sul-
americano enfatiza a dimenso poltica e questes sociais,
erradicao da pobreza, fortalecimento da democracia,
enfrentamento da assimetria estrutural entre os pases do
subcontinente e papel do Estado na coordenao econmica
(Sanahuja, 2010 apud Lima, 2013). Entretanto, ainda no parece
estar claramente definido, na prtica, o papel de acordos regionais
que, para alm da liberalizao comercial, promovam um modelo
regional sul-americano de integrao produtiva e insero na
economia global (Badin, 2015).
Vale destacar que esse processo no resultado exclusivo de
consenso e sinergias. Por exemplo, por ocasio da constituio
da Unasul, a definio das relaes entre Mercosul e Comunidade
Andina (Bolvia, Colmbia, Equador e Peru) no foi isenta de disputas
quanto ao significado sobre o que deveria ser a convergncia entre
ambos blocos, principalmente no que se refere liberalizao e
aos acordos comerciais. No final, as negociaes apontaram para
as linhas de menor resistncia que enfatizam a possibilidade de
cooperao em busca do desenvolvimento econmico, superao
de assimetrias e bem-estar da populao, incluindo o investimento
em infraestrutura para integrao energtica e produtiva20.
O Banco do Sul outro exemplo de agenda no consensual, cujas
negociaes se estendem desde 2007 e ainda no h previso
de incio de suas operaes. Em debate, se encontram questes
relacionadas sua misso, seus objetivos especficos e questes
operacionais, permeadas por distintas concepes sobre qual
Perspectivas do territrio 5
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
21 Uma Nova Arquitetura Financeira Regional discutida, no mbito da Unasul, em torno de trs pilares: Fundo Regional de Contingncia, Banco de Desenvolvimento e unidade de conta regional. Para um
panorama os debates que permeiam as truncadas negociaes do Banco ver Carcanholo (2011).
22 Projeto do Grupo de Pesquisa Imprensa, Opinio Pblica e Poltica Externa do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento. Mais informaes em http://beta.cebrap.org.br/v3/index.php?r=observatorio.
Acesso em Abril de 2015
23 Iniciou suas operaes de 1996, com a criao da Petrobras Bolvia SA. Entre 1994 e 2005, Petrobras respondeu por 20% dos investimentos estrangeiros na Bolvia e 40% no setor de petrleo e gs
(Baptista e Pigatto, 2014).
deve ser o papel do Banco na construo de esquemas alternativos
de financiamento regional21. Finalmente se questiona, desde a
sociedade civil dos diversos pases, o modelo de desenvolvimento
que o projeto de integrao de infraestruturas promove, ao criar
corredores de exportao de commodities e recursos naturais e
gerar tenses no que diz respeito ao modo de vida de populaes
tradicionais e equilbrio ambiental.
A liderana do Brasil no regionalismo sul-americano decisiva
e alguns dos desafios que se impem dizem respeito vontade
e capacidade do pas de produzir bens coletivos, ao risco de ser
visto como imperialista e ao frgil equilbrio entre seus interesses
na regio e para acordos alm dela, como potncia emergente.
Ainda, domesticamente, no h consenso sobre qual deve ser o
formato da estrutura de governana regional e o papel do Brasil
na mesma (Souza, 2009). Nesse cenrio, as relaes bilaterais
no se desvinculam do papel do Brasil no capitalismo global.
Assim, apesar das sinergias polticas, novas desigualdades so
geradas no que diz respeito s pautas de exportao dos pases
sul-americanos e reconfigurao da diviso de trabalho regional.
A imprensa e a integrao regional no Brasil
Segundo levantamentos feitos pelo Observatrio da Poltica Externa na Imprensa22, entre janeiro e agosto de 2014 e setembro e dezembro de 2014,
a cobertura da imprensa de maior circulao (Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Valor Econmico) foi predominantemente negativa
poltica externa brasileira no perodo (86,9% de posies contrrias em um universo de 170 menes no primeiro quadrimestre e 80,9% de artigos
desfavorveis dentre 174 menes no segundo quadrimestre).
Entre as preferncias dos meios, mapeou-se uma tendncia negativa frente ao Mercosul (74,2% do total publicado sobre o assunto no 1o
quadrimestre e 57,9% no 2o), equilibrada ou favorvel com relao a Unasul (49% de posies contrrias no 1o quadrimestre e 66,7% no seguinte)
e positiva para com as relaes entre Brasil e Estados Unidos (84,4% de posies favorveis na primeira mostragem e 93,9% da segunda).
possvel encontrar em veculos de menor circulao, como a Carta Capital, um panorama editorial oposto, com tendncia a um olhar mais
positivo, ainda que sem perder a dimenso crtica e analtica, acerca do tema da integrao regional.
O trao que marca as dimenses econmica e comercial das relaes
bilaterais Brasil-Bolvia o da interdependncia assimtrica. Se
por um lado a interdependncia se explica pelos laos construdos
ao longo dos sculos entre os vizinhos, a assimetria por sua vez
est intimamente ligada s diferenas econmicas entre eles: de
um lado o Brasil, a 7a maior economia do mundo, de outro a Bolvia
na 92a posio, segundo dados do FMI de 2014.
Sendo a internacionalizao de empresas um dos sinais mais
visveis do incremento das relaes do Brasil com seu entorno
Interdependncia assimtrica: investimentos pblicos e privados brasileiros na Bolvia
(Fuser, 2011), o caso da Bolvia no foi diferente, com uma
expanso do investimento pblico e privado a partir dos anos
2000. Aqui a importncia se d menos em termos numricos de
montante investido - e mais pelo perfil estratgico do investimento
estrangeiro direto brasileiro (Baptista e Pigatto, 2014), envolvendo
neste caso, a explorao de hidrocarbonetos e a estatal Petrobras23,
bem como as grandes empresas nacionais de construo civil e o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES).
Perspectivas do territrio 6
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
24 Em 2006, 60% do gs utilizado no Brasil havia sido suprido pela Bolvia.
Setor energtico e relaes comerciais
Em 2010, o gs natural perfazia aproximadamente 9% da matriz
energtica brasileira. No mesmo ano, 83% das vendas externas
da petrolfera boliviana foram ao Brasil24. Vale ressaltar que o gs
natural ocupa 97,3% do total das exportaes de bens primrios,
que por sua vez representam 99,6% da pauta exportadora da
Bolvia ao Brasil (MRE, 2014; APEX, 2014).
Ator central neste jogo a estatal brasileira Petrobras, presente
na Bolvia desde 1996, criando a Petrobras Bolvia S.A. Desde
ento estima-se que j foram investidos no pas cerca de US$ 1,5
bilho (Baptista e Pigatto, 2014) em atividades que para alm da
explorao, produo e comercializao do gs natural incluem
sistema de transporte por dutos, unidades de processamento de
gs natural, refino, unidade de lubrificantes e distribuio de
derivados. O contrato da estatal na Bolvia, assinado em 2000
para o suprimento de 21,8 milhes de m3 por dia de gs natural
ao Brasil expira em 2019. O desejo de renegociar este contrato e
manter a oferta do gs boliviano ao Brasil aps este prazo j foi
sinalizado pela presidncia da Petrobras (Gaier e Lorenzi, 2013).
A presena da estatal brasileira na Bolvia ao mesmo tempo
ativo estratgico e fonte de atritos ao Brasil. Parece cada vez
mais evidente que os desgastes da imagem da estatal perante a
opinio pblica boliviana tem um potencial de afetar as relaes
entre os dois pases. Entretanto, do ponto de vista boliviano no
parece haver amlgama necessrio e/ou imediato entre o governo
brasileiro e a estatal petrolfera. Ao longo das ltimas dcadas
houve vezes em que Morales responsabilizou Braslia por aes da
Petrobras, bem como houve outras vezes em que oficiais bolivianos
expressamente dissociaram ambas as entidades, alegando que
sua crtica Petrobras era uma crtica ao capital privado, que no
compartilharia dos valores de amizade existente entre os dois
governos (Murakawa, 2014).
Crditos: Brasil de fato
Perspectivas do territrio 7
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
25 Os pases do continente absorveram 82,2% do total exportado em 2013. Seguiram o Brasil, Argentina (16,6%); Estados Unidos (12,4%); Colmbia (5,2%); e Venezuela (3,6%).
26 Exportao de maquinrio para minerao e construo civil so setores identificados pela APEX como incipientes, mas de grande potencial.
Infraestrutura e integrao
Comrcio Brasil Bolvia
Dados do Departamento de Inteligncia Comercial do Itamaraty para 2013 mostram a Bolvia como o 21 parceiro comercial brasileiro, com
participao de 1,1% no total do comrcio internacional nacional daquele ano (MRE, 2014).
Inversamente, em 2013, o Brasil foi o principal destino das exportaes bolivianas, com 37,7% do total ou US$ 3.938 milhes25. J no campo das
importaes bolivianas, o principal fornecedor em 2013 foi o Chile (com 22,7% do total), seguido do Brasil (20,5%), o que em 2013 significou US$
1.534 milhes importados do Brasil (MRE, 2014). Os bens importados pela Bolvia do Brasil so sobretudo produtos manufaturados (96,2% do
total de 2013), com destaque para a venda de mquinas mecnicas (sobretudo para indstria e agricultura e pecuria26) e automveis. Segundo a
Agncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos, a pauta exportada pelo Brasil tem variado e produtos de maior valor agregado e
de maior intensidade tecnolgica tm ganhado espao (APEX, 2014).
Adicionalmente, ainda que o intercmbio comercial tenha quase que dobrado entre 2009 e 2013, passando de US$ 2,57 bilhes para US$ 5,47
bilhes, o saldo da balana comercial foi favorvel Bolvia em todo o perodo (MRE, 2014).
Crditos: Szymon Kochaski
Perspectivas do territrio 8
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
A infraestrutura outro setor que tem recebido bastante ateno
na Bolvia, em termos de investimento pblico por parte de La Paz,
que conta com parcerias brasileiras de natureza pblica e privada
em diversas reas, como rede viria, servio postal, suporte para
minerao e gerao de energia hidroeltrica.
No marco de um projeto regional, cuja integrao da infraestrutura
sul-americana um dos principais expoentes, o Brasil promoveu
nos ltimos anos algumas iniciativas - bilateralmente e
multilateralmente27 - em trs eixos principais que envolvem
territrio boliviano: (i) o interocenico central, que visa aperfeioar
a rede de transportes e acelerar a exportao de produtos agrcolas
e minrios tanto pelo Oceano Pacfico, como pelo Oceano
Atlntico, envolvendo Bolvia, Brasil, Chile, Paraguai e Peru; (ii) a
interligao Peru-Brasil-Bolvia, que busca facilitar a logstica de
transporte das regies Sul do Peru, Acre e Rondnia no Brasil e
Beni e Santa Cruz na Bolvia; e da (iii) Hidrovia Paraguai-Paran
que visa integrao dos transportes fluviais, produo de energia
hidreltrica, utilizao compartilhada das redes de distribuio
de energia eltrica e envolve Argentina, Bolvia, Brasil, Paraguai
e Uruguai.
Exemplos de projetos que contaram com recursos oriundos de
instituies brasileiras foram: a Rodovia Rurrenabaque-Riberalta
(pavimentada pela Lume com dinheiro do BNDES e do Banco
do Brasil/Proex), a Rodovia Tarija-Bermejo (no Eixo Andino da
IIRSA, construda pela Queiroz Galvo com financiamento do
Proex), o Projeto rodovirio Hacia el Norte Rurrenabaque El
Chorro (tambm a cargo da Queiroz Galvo com apoio do BNDES)
e a Rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos (obra da OAS com
financiamento do BNDES, nunca finalizada)28.
Considerado por alguns como um fiasco poltico e diplomtico29,
o caso da rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos rota que
visava ser um corredor interocenico de escoamento rumo sia
- particularmente emblemtico das tenses e desafios a serem
considerados pela integrao em infraestrutura. O contrato inicial,
de 2008, entre La Paz e a construtora brasileira OAS havia sido
avaliado em US$ 415 milhes, dos quais 80% seriam financiados
com crditos do BNDES30. Em 2012, o projeto foi suspenso por
Evo aps denncias de superfaturamento e, sobretudo, dada
resistncia dos povos indgenas da regio31. Alguns grupos
locais protestavam contra o impacto socioambiental de parte da
rodovia que atravessaria o Territrio Indgena e Parque Nacional
Isiboro-Secure (TIPNIS) habitado por cerca de 13 mil indgenas.
Crticas ao projeto tambm foram feitas por entidades brasileiras,
capitaneadas pela Plataforma BNDES32. Ainda que o presidente
boliviano quisesse manter o projeto33 e que o Brasil tenha feito
gestes diplomticas para que isso ocorresse, o governo da Bolvia
indenizou a construtora brasileira pela anulao do contrato em
201334. Apesar da anulao do contrato, a estrada ainda figura
entre os projetos prioritrios de integrao no mbito da Unasul.
Outro projeto que levantou questionamentos foi o da resciso de
contrato e ameaa de expulso da construtora Queiroz Galvo,
em 2007, por descumprir especificaes em um projeto de
construo de duas rodovias ao sul da Bolvia (acordado em 2003
com financiamento do Banco do Brasil) e no aceitar arcar com os
custos do conserto uma vez que as mesmas passaram a apresentar
fissuras e rachaduras. Na poca, a tentativa de mediao do
ento Presidente Lula fracassou. No ano seguinte, o contrato
foi assumido pela concorrente OAS35. A Queiroz Galvo j tinha
imagem desgastada na Bolvia, pois no incio de 2007 um tnel
recm-construdo pela empresa em outra estrada havia desabado.
Finalmente, em maio de 2015, espera-se o incio de dilogos
acerca da construo de uma usina hidreltrica binacional no lado
boliviano do rio Madeira, para exportao de energia para o Brasil,
com custo estimado em R$ 15 bilhes, com provvel financiamento
do BNDES.36
27 Aqui os principais parceiros multilaterais no financiamento de obras de infraestrutura, no mbito da IIRSA (hoje subordinada ao COSIPLAN), so o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a
Corporao Andina de Fomento (CAF). No mbito bilateral, o principal ator tem sido o prprio BNDES.
28 Obras referenciadas em estudo de 2013 da organizao peruana DAR Derecho, Ambiente y Recursos Naturales. O estudo aponta ainda duas hidroletricas atualmente em negociao: UHE Binacional
Mamor e UHE Cachuela Esperanza, a primeira a ser construda, de acordo com o estudo, pela Odebrecht e a segunda pela Eletrobras.
29 Ver detalhada cobertura da obra em Fonseca e Mota (2013a).
20 Segundo Fonseca e Mota (2013a) o contrato financiado pelo BNDES era de US$ 332 milhes e a Bolvia arcaria com os US$ 80 milhes complementares.
31 Um relato das diferentes formas de protesto realizadas por grupos indgenas para conter o avano da rodovia no parque nacional pode ser visto em Korosi, 2013.
32 A Plataforma BNDES rene, desde 2007, um conjunto de organizaes e movimentos sociais com o objetivo de democratizar o BNDES. Ver carta da entidade pedindo a suspeno das obras em Plataforma
BNDES (2011b).
33 Para alm do governo de La Paz, outros setores sociais apoiaram Evo para seguir adiante com o projeto, como grupos de produtores de coca na regio. Ver relatrio do Centro de Informacin de Bolvia
Cedib em Jimnez (2011).
34 Ver cobertura em Israel (2013).
35 Ver cobertura em Fonseca e Mota (2013b), Maisonnave e Landim (2008), Maisonnave (2007).
36 possvel conjeturar que o governo brasileiro tenha reduzido o ritmo de incentivo de projetos via BNDES como consequncia do caso TIPNIS, j que no se tem conhecimento sobre novas iniciativas na
Bolvia desde ento.
Perspectivas do territrio 9
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Ambos os casos so exemplos da associao de investimento
pblico e privado brasileiros na Bolvia, atestando no apenas para
o grau de interdependncia de ambos os setores e da complexidade
trazida por esta associao, mas tambm do impacto negativo
de tenses geradas por estas grandes obras cofinanciadas no
apenas nas relaes bilaterais, mas tambm na poltica regional
do Brasil (Hirst, 2013) e na imagem que o pas passa a ter perante
outros parceiros.
Adicionalmente, muito se discute, sobre o financiamento do
BNDES, o banco pblico brasileiro de desenvolvimento, no exterior.
Afora os conhecidos dficits de transparncia37, prestao de
contas e polticas socioambientais do banco - tanto em projetos
implementados no Brasil e ainda mais no exterior - preciso
clarificar que o financiamento dos projetos na Bolvia (bem
como em outras localidades do continente) so condicionados
contratao pelo governo vizinho de empresas brasileiras para
execuo das obras. Ou seja, no h transferncia direta de fundos
ao governo boliviano. Os acordos bilaterais intergovernamentais
so, portanto, formas alternativas pelas quais as empresas
37 Todos os contratos do BNDES no exterior so sigilosos. Segundo Fonseca e Mota (2013b), o Banco disponibiliza em sua pgina da internet apenas os dados referentes modalidade Exim Ps-Embarque,
em que financia bens e servios para exportao. Os valores individualizados no so fornecidos em razo de sigilo assegura por lei (art. 6, I, do decreto 7.724/2012). Tambm no so divulgados critrios,
valores acordados, nem datas e quantias dos desembolsos realizados. Sobre transparncia no BNDES ver tambm Conectas (2014).
brasileiras tm recebido apoio financeiro para comercializar
seus bens e servios e internacionalizar-se, nas modalidades
j existentes na carteira do Banco: o BNDES Exim (Pr e Ps-
Embarque), o BNDES Finem (linhas de apoio internacionalizao
de empresas brasileira e de aquisio de bens de capital) e o
BNDES Automtico.
Crditos: Szymon Kochaski
Como visto, os investimentos externos so componente
importante da presena brasileira na Bolvia. O perfil
do investimento brasileiro no vizinho , contudo,
bastante marcado pela presena do setor pblico
(por meio das estatais) e de diferentes modalidades
de parcerias pblicos privadas, tais como: os grupos
privados financiados por bancos pblicos ou as empresas
exportando ou se internacionalizando com importante
auxlio e/ou subsdios pblicos.
Perspectivas do territrio 10
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Agendas de convergncia da Sociedade Civil por outro modelo de desenvolvimento
Organizaes e movimentos da sociedade civil brasileira e boliviana tm convergido em pautas concretas de articulao que questionam os
impactos, ambientais e no modo de vida de populaes tradicionais, gerados pelas grandes infraestruturas de transporte e energticas.
As organizaes convergem em pautas domsticas comuns em diversos aspectos, como a crtica ao modelo de desenvolvimento baseado em
projetos de infraestrutura e explorao de recursos naturais; demandas pela realizao de consultas e consentimento prvio com base em critrios
estabelecidos pelas legislaes nacionais e internacionais, respeito aos direitos de terra adquiridos pelos povos tradicionais; denncias de
superfaturamento e de represso aos movimentos de resistncia e defesa de direitos. No caso especfico de obras de infraestrutura, demanda-
se tambm maior transparncia e respeito s salvaguardas previstas na poltica socioambiental do BNDES, bem como a adoo de uma poltica
de direitos humanos por parte da instituio (Conectas, 2014). Alm de reforar pautas domsticas, o intercmbio promovido no mbito dessas
articulaes tem como objetivo o fortalecimento de alternativas sustentveis, social e ambientalmente, assim como a incidncia poltica nos
espaos de integrao regional.
Articulaes crticas aos investimentos em infraestrutura de integrao e, mais especificamente, a estrada que corta o territrio TIPNIS so
paradigmticas dessa convergncia. Durante o auge das mobilizaes ocorridas na Bolvia em 2011, que incluram protestos diante da embaixada
brasileira em La Paz, diversos grupos da sociedade civil se mobilizaram e demandaram posies ao governo brasileiro, para demonstrar apoio s
reinvindicaes dos movimentos bolivianos. Organizaes da Plataforma BNDES e parceiras da Amrica Latina, protocolaram no Banco uma carta
ao presidente da instituio, Luciano Coutinho, exigindo a suspenso imediata do financiamento ao projeto, pois este viola marcos legais bolivianos
e internacionais (Plataforma BNDES, 2011a). Ainda, o Comit Brasileiro de Direitos Humanos e Poltica Externa expressou ao ento Ministro de
Relaes Exteriores Antnio Patriota preocupaes relacionadas posio brasileira frente aos protestos. Segundo carta enviada ao chanceler, a
preocupao pela garantia dos direitos fundamentais deveria ter pautado o posicionamento brasileiro diante da represso contra manifestao
pacfica de povos indgenas atingidos pela construo da estrada38.
Ainda, destacam-se as articulaes em redes como a Coalizo Regional por Transparncia e Participao, que trabalha com temas relacionados
participao cidad regional no COSIPLAN, transparncia e acesso a informao junto ao BNDES, salvaguardas socioambientais e investimentos
de infraestrutura na Amaznia39 e a Articulao Regional Amaznica que busca facilitar a troca sobre a construo de uma nova viso amaznica e
novos modelos de desenvolvimento, atravs do monitoramento florestal e atividades econmicas sustentveis40.
Entretanto, a maior ateno dos movimentos sociais brasileiros conjuntura domstica - a partir das mobilizaes de 2013 e principalmente em
2014, por conta do Mundial de Futebol e das eleies presidenciais percebida por parte dos parceiros da sociedade civil boliviana, que sentem
um arrefecimento das articulaes que buscam incidir politicamente nos temas em comum.
38 Ver MRE (2011) e Comit Brasileiro de Direitos Humanos e Poltica Externa (2011).
39 O Ibase participante da Coalizo Regional pela Transparncia e Participao, que congrega organizaes da Bolvia, Colmbia, Equador e Peru. Mais informaes em http://coalicionregional.net/. Acesso
Dezembro, 2014.
40 Participam da Articulacin Regional Amazonica organizaes da Bolvia, Brasil, Colmbia, Venezuela, Equador e Peru. As seguintes organizaes brasileiras so membros da rede: Instituto Socioambiental,
Instituto Centro de Vida, Instituto de Conservao e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas, Fundo Amaznia e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia. Mais informaes em:
https://araregional.wordpress.com/. Acesso Dezembro, 2014.
Perspectivas do territrio 11
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
A Bolvia um pas fortemente inserido no sistema internacional
de cooperao para o desenvolvimento. A importncia da ajuda
externa para o desenvolvimento nacional elemento reconhecido
dentro e fora do pas (ODI, 2010). Em 2006, foi criado o Grupo
de Scios para o Desenvolvimento da Bolvia (Grus)41, com 23
cooperantes atuando na Bolvia e do qual o Brasil observador
(junto com a Colmbia, Costa Rica e Reino Unido). A partir da
chegada ao poder de Evo, a relao com parceiros externos
tem sofrido alteraes, almejando maior harmonizao com as
prioridades governamentais (Hirst, 2013; Vedia, 2011). Em 2013,
o governo boliviano expulsou a agncia americana de USAID,
cessando suas atividades no pas. Entre 1964 e maio de 2013,
os Estados Unidos desembolsaram quase 2 bilhes de dlares
na Bolvia (USAID, 2014). Segundo anlise de Hirst (2013) a
Bolvia enfrenta problemas de gesto da cooperao recebida,
apresentando resultado dspares de acordo com as capacidades
disponveis e planejamento de cada setor.
O fosso entre a vontade poltica e os recursos
institucionais representa um aspecto problemtico na
cotidianidade da relao entre doadores e/ou parceiros e
suas contrapartes bolivianas
(Hirst, 2013, p. 17-18).
Enquanto o Brasil se configura como importante parceiro da
cooperao na Bolvia, a Bolvia no consta entre os principais
destinos da Cooperao Tcnica para o Desenvolvimento (CTPD)
brasileira em termos de gastos. De acordo com Hirst (2013), o
Brasil oscila entre o segundo e o terceiro lugar, como parceiro da
Bolvia em 2006, 2008, 2010 e 2012 atrs de Argentina, Cuba
e Venezuela. Em 2011, as parcerias brasileiras representaram
13,3% do total das aes da cooperao Sul-Sul latino-americana
oferecida Bolvia. No caso da assistncia humanitria brasileira,
a Bolvia figurou como o 7o maior destino com 3,94% dessa
modalidade para o perodo de 2005 a 2009 (aproximadamente
R$ 6 milhes).
Per f il da cooperao tcnica horizontal
Em 2010, gastos com a Cooperao Brasileira para o
Desenvolvimento Internacional na Bolvia (somadas todas as
modalidades) alcanaram um total de R$ 4.4 milhes. No panorama
regional, isto equivale a 2,3% do total destinado cooperao
bilateral entre pases da Amrica Latina e Caribe, ocupando a 9a
posio no ranking regional de pases42. S em CTPD, a Bolvia
recebeu em 2010 R$ 1.9 milhes, o que a deixou na 12a posio
na lista de pases43. Nesse ano, os trs principais setores da CTPD
na Amrica Latina foram sade (39,7%), educao (27,9%) e
segurana e defesa (16,6%).44
O relatrio COBRADI (Brasil, 2010) aponta tambm que, das
2083 bolsas concedidas em 2010, 53 (2,5%) contemplaram a
estudantes bolivianos no Brasil (35 para estudantes em graduao
e 18 para a Ps-Graduao). Ainda na cooperao educacional,
afirma que a Bolvia participou, ainda que minoritariamente do
programa MARCA (Programa de Mobilidade Acadmica Regional
em Cursos Acreditados), executado desde 2006 com recursos
do governo federal.
No entanto, tendo em conta as insuficincias da atual metodologia
para contabilizar gastos com a Cooperao Brasileira para o
Desenvolvimento Internacional, possvel que o montante
gasto em cooperao bilateral educacional seja maior, dado a
existncia de programas que operam no mbito de fronteiras,
como o Escola de Fronteiras, no mbito do Mercosul45, do qual
a Bolvia participante. Ainda, entre 2005-2010 a principal
modalidade da cooperao brasileira foi a contribuio a
organizaes multilaterais, com especial destaque para o Fundo
para a Convergncia Estrutural e Fortalecimento Institucional do
Mercosul FOCEM (Leite et al, 2014), do qual a Bolvia um dos
principais beneficirios. Entretanto, a forma como as atividades
realizadas no marco da integrao regional se relacionam sob a
tica da coerncia de projetos e tambm sob a tica contbil dos
recursos empregados com as demais atividades de cooperao
horizontal segue um campo a ser melhor explorado e entendido.
Segundo dados da Agncia Brasileira de Cooperao (ABC),
h atualmente sete projetos ativos na Bolvia (cinco no setor
41 Ver maiores informaes sobre o Grus em: http://www.grus.org.bo/. Acesso Dezembro, 2014.
42 Naquele ano, o Haiti sozinho recebeu 47,4% do total gasto pelo Brasil. Em segundo lugar ficou o Chile com 16,3%. Ambos os pases sofreram com terremotos no ano de 2010, o que explica o montante de
recursos recebidos naquele ano e sua posio relativa em relao aos demais pases da regio.
43 Para dados de 2005 a 2009, ver IPEA/ABC (2010) e para dados de 2010 ver IPEA/ABC (2013).
44 Para maiores informaes sobre a Cobradi na Amrica Latina ver Souza (2014).
45 Ver mais sobre o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) do Mercosul, entre cidades brasileiras fronteirias e suas respectivas cidades-gmeas nos pases vizinhos em: http://educacaointegral.
mec.gov.br/escolas-de-fronteira. As duas escolas de fronteiras entre Brasil e Bolvia ficam em Corumb-Puerto Suarez e em Guajar Mirim- Guayaramerim.
Perspectivas do territrio 12
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
da agricultura e dois em meio-ambiente). De 2001 at 2014,
a ABC lista ainda 55 projetos concludos com a Bolvia, trs dos
quais foram feitos de maneira triangular (um com Japo, outro
com o Canad e um terceiro com a Organizao Internacional
do Trabalho).
Em relao aos atores governamentais e no governamentais
brasileiros atuando como cooperantes, em projetos oficiais de CTPD
brasileira, coordenados pela ABC percebe-se a preponderncia
de agncias governamentais e organizaes da sociedade civil,
Para alm dos nmeros, um olhar mais atento aos setores revela
dinmicas interessantes ocorrendo no territrio. Em mbito
bilateral, destacam-se iniciativas de cooperao sul-sul entre
Brasil e Bolvia nos campos da agricultura, meio ambiente e sade
(ABC, 2014; Hirst, 2013; Leite et al, 2014).
20
18
16
14
12
10
8
6
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19
11
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32
1 1 1 1
Grfico 1. Iniciativas da Agncia Brasileira de Cooperao na Bolvia, por setor desde 200146
Grfico 2. Atores atuantes da cooperao tcnica brasileira na Bolvia
Fonte: Elaborao prpria com dados da ABC (Acesso em dezembro, 2014)
Fonte: Elaborao prpria com dados da ABC (Acesso em dezembro, 2014)
tais como a Pastoral da Criana do Brasil, a Universidade Gama
Filho, a Universidade Federal de Viosa, o Instituto Amaznico de
Manejo Sustentvel dos Recursos Ambientais, o Instituto Elos e a
Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre outros.
Agncias Governamentais brasileiras
Universidades
Agncia de cooperao de pas desenvolvido
Organismo Multilateral
Organizaes ou Movimentos de Sociedade civil
28
3
4
5
8
46 Mais detalhes sobre a natureza das iniciativas no Anexo 1.
Perspectivas do territrio 13
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
As iniciativas de cooperao sul-sul em agricultura, no s engajam
tradicionais atores, como a ABC, a Embrapa, o IBAMA, o Ministrio
da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) e o Ministrio
de Desenvolvimento Agrrio (MDA), mas tambm dialogam com
questes tradicionalmente conflituosas que estiveram na raiz
poltica de recentes tenses polticas internas Bolvia. Alm da
alta concentrao fundiria, raiz de conflitos entre proprietrios e
trabalhadores rurais, h tambm modelos de cultivo distintos e por
vezes conflitantes: como o agronegcio e o cultivo comunitrio de
povos tradicionais.
A presena brasileira, por sua vez, complexifica o cenrio. Em Santa
Cruz de la Sierra existem parcerias entre produtores fronteirios
(sobretudo de soja) em uma espcie de fronteira associada
expanso da produo agroexportadora do Mato Grosso. Parte no
negligencivel destes produtores so em realidade proprietrios
brasileiros que detm terras na Bolvia. Segundo Hirst (2013),
55% da soja boliviana produzida por grandes proprietrios
estrangeiros, sendo que 40% deles so brasileiros. A questo
da insegurana jurdica e do tratamento dispensado a estes
proprietrios que muitas vezes tm suas terras confiscadas
- tem sido objeto de tratativas diplomticas frequentes entre os
dois pases. Sendo esta regio responsvel pela maioria das terras
arveis disponveis na Bolvia, a concentrao fundiria nesta
regio do pas, por sua vez, relega ao altiplano, aonde vivem as
comunidades indgenas tradicionais e os pequenos proprietrios,
Um olhar por setores
Agricultura
poucas possibilidades socioeconmicas de acesso e uso da terra
(Urioste, 2011). Soma-se a este cenrio a dimenso tnica, que
contribui para uma tenso ainda maior entre os modelos produtivos
e conflitos sobre a propriedade da terra.
Neste sentido, ainda que hajam alguns projetos de cooperao
intergovernamental no mbito do fortalecimento da agricultura
familiar e de programas de seguridade social (como o cadastro
rural), iniciativas brasileiras no Altiplano ainda so pontuais
(como a possibilidade de parceria da Embrapa para a produo
da Quinoa, por exemplo). H portanto, espao, no futuro, para
uma atuao governamental brasileira diversificada que possa
tambm fortalecer estas modalidades alternativas de uso da terra,
reduzindo as assimetrias regionais e as tenses ligadas terra
na Bolvia.
Para isso, ambos os governos podem incluso fazer uso das
experincias de cooperao horizontal, como a experincia
existente no mbito da Reunio Especializada no mbito da
Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf) ou articular iniciativas
com movimentos sociais de camponeses e indgenas de ambos os
pases (no caso brasileiro capitaneado pela Via Campesina). Estes
tm de fato interagido com mais frequncia nas zonas do Altiplano
e podem trazer aprendizados importantes para o Brasil e sua
cooperao em agricultura em regies dominadas por populaes
camponesas tradicionais.
Crditos: Marco Arnez
Perspectivas do territrio 14
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Outro setor primordial da cooperao bilateral entre Brasil e
Bolvia se d em temas de segurana pblica e combate ao trfico
de entorpecentes47 em reas de fronteiras. Este um tema que
tem crescido na pauta bilateral, sobretudo em um contexto de
retirada da Drug Enforcement Agency norte-americana da Bolvia
e de diminuio da cooperao da Unio Europeia (Hirst, 2013).
Do lado brasileiro, esto envolvidas nestas atividades atores como
a Polcia Federal, o Ministrio da Justia, as Foras Armadas e o
Itamaraty em programas como a Comisso Mista de Enfrentamento
ao Narcotrfico e as atividades de combate lavagem de dinheiro
no mbito da Unasul, entre outros (Hirst, 2013). Em 2012, o
Brasil doou quatro helicpteros de combate Bolvia no intuito
A cooperao bilateral apresenta tambm vasta gama de projetos
de proteo e conservao ambiental. Encontram-se em primeiro
plano as aes de cooperao horizontal em reas naturais
compartilhadas - com foco na vasta rea amaznica comum entre
ambos pases - que inclui projetos como o Amaznia sem Fogo
(de 2008), que desde 2012 se tornou um projeto trilateral que
envolve tambm a Itlia50.
Segurana Pblica e Combate ao trfico de entorpecentes
Conservao Ambiental
de fortalecer a vigilncia de plantaes de coca e o combate ao
trfico nas fronteiras (Defesanet, 2012), em transao aprovada
quatro anos antes entre Morales e Lula48.
Dada a interdependncia assimtrica entre os dois pases e os
mltiplos desafios institucionais que existem no mbito do combate
ao trfico de drogas nos dois lados da fronteira49, permanece o
desafio de criar um dilogo efetivo e horizontal entre os parceiros,
garantindo solues coletivas a problemas compartilhados e
evitando trocar a dependncia boliviana dos EUA por uma outra
dependncia, desta vez do grande irmo sul-americano: o Brasil.
No caso da questo ambiental, entra em jogo tambm desafios
de cunho menos gerencial-administrativo e mais poltico, como
as diferentes concepes entre atores brasileiros e bolivianos
sobre conservao51 e, mais recentemente, a gesto e mitigao
dos impactos socioambientais das grandes obras de infraestrutura
financiadas e/ou executadas pelo Brasil e por empresas brasileiras.
47 Segundo estimativas da Polcia Federal, a Bolvia fonte de aproximadamente 55% da cocana consumida hoje no Brasil (Folha de So Paulo, 2012; Defesanet, 2012).
48 Ver cobertura em Terra (2012).
49 As fragilidades em ambos os lados so reconhecidas e isso levou , segundo Hirst, aos dois pases Brasil e Bolvia a firmarem um acordo tripartite com os EUA de assistncia para erradicao de
excedentes de cultivo de coca em territrio boliviano. Uma iniciativa triangular, no setor da inteligncia.
50 Outros projetos so feitos em parceira com a Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica, criada em 1998, a partir da assinatura (em 1978) - por Bolvia, Brasil, Colmbia, Equador, Guiana, Peru,
Suriname e Venezuela - de tratado de mesmo nome. O Brasil coopera com cerca de 3,5% do oramento anual de cerca de U$ 1,15 milhes da OTCA (cerca de U$40 mil). Ver Organizao do Tratado de
Cooperao Amaznica (sd).
51 Um elemento comumente citado para exemplificar as diferenas nas concepes se refere ao conceito de Pachamama das comunidades tradicionais bolivianas, que seria mais abrangente do que o conceito
de desenvolvimento sustentvel na base de alguns projetos de cooperao tcnica ofertados pelo Brasil.
Perspectivas do territrio 15
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Dado as fronteiras comuns, no surpreende que o fluxo migratrio
entre ambos os pases seja uma dimenso importante das relaes
bilaterais. No obstante, a tradicional migrao de fronteira52 no
eixo Santa Cruz/Bolvia-Corumb/Brasil ou em Guajar-Mirim
(RO), tem dado lugar a outras dinmicas migratrias, com a vinda
crescente de bolivianos rumo s metrpoles do Brasil.
Brasileiros na Bolvia, Bolivianos no Brasil
Ainda que os nmeros sejam bastante imprecisos, em
2000, o censo indicava que a Regio Metropolitana de
So Paulo (RMSP) era o lugar de residncia de 44% dos
10.222 imigrantes bolivianos (Rizek e Georges, 2010) do
Estado de Estado de So Paulo. Na poca, a Polcia Federal
contabilizava 18.408 bolivianos no Estado, enquanto o
Centro de Estudos Migratrios (CEM), considerava que
haviam de 60 mil a 80 mil s na cidade de So Paulo,
dos quais 25% em situao ilegal (Calixto et al, 2012),
J o censo de 2010, contabilizou 27.754 bolivianos no
estado e na capital paulista. Para o consulado da Bolvia,
no entanto, o nmero de bolivianos na capital seria bem
maior; aproximadamente 350 mil (Estado de So Paulo,
2013). Apenas como ilustrao, nas eleies presidenciais
da Bolvia de 2014, 35,7 mil bolivianos se cadastraram
para votar em distritos eleitorais na Regio Metropolitana
de So Paulo (Pasqualino, 2014).
52 Sobre migrao de fronteira ver Sochaud e Baeninger (2008).
53 A organizao Reprter Brasil, atuante entre outros na temtica do combate ao trabalho escravo, documentou muitos dos flagrantes de abusos contra trabalhadores de origem boliviana na cidade de So
Paulo., envolvendo incluso grandes marcas nacionais e interacionais, como Bo.B, Le Lis Blanc, Marisa, Pernambucanas, Renner, Zara, entre outras. Ver Reprter Brasil, 2012. Sobre o trfico de pessoas ver
trabalho do Centro de Apoio ao Migrante CAMI (Illes et al, 2008). Ver ainda o premiado documentrio de Lcio De Castro, Escravos do Sculo XXI (De Castro, 2011).
54 Para a mdia, ver, por exemplo, De Castro (2013); Giraldi (2013). Ver tambm os trabalhos de Silva (2005); Kempfer e Martins (2013).
55 Ver Ventura e Reis (2014). Uma breve anlise dos atuais gargalos na questo migratria no Brasil, a partir do caso dos haitianos, pode ser vista em Waisbich e Pomeroy (2014).
56 Sobre a bancarizao ver Caixa Federal, 2014. Segundo a entidade CDHIC de defesa dos migrantes, sobre flexibilizar regras para acesso servios bancrios, este convnio considerado um marco para
a integrao social e econmica dos imigrantes procedentes do Mercosul e Associados (CDHIC, 2013). Sobre o Pacto, ver Reprter Brasil (2010).
So Paulo, conhecida por acolher sucessivos grupos de migrantes,
j tem nos bolivianos o grupo mais significativo desta nova onda
migratria. Concentrados sobretudo na regio central da cidade,
os bolivianos chegam a partir da dcada de 50 (sobretudo na
figura de jovens estudantes) e se tornam mais numerosos a partir
de 1980 (Silva, 2005). O boom ocorre a partir da dcada de 1990,
com uma mudana no perfil dos migrantes: trabalhadores que se
destinam principalmente, ainda que no exclusivamente, ao setor
txtil (Silva 2006).
Economicamente importante na indstria da confeco na
cidade, a mo-de-obra boliviana suscita desafios complexos
como as problemticas do trfico de pessoas e do trabalho
escravo contemporneo (Illes et al, 2008; Reprter Brasil, 2012),
amplamente documentadas por entidades atuando na temtica53
e frequentemente objeto da ateno tanto da academia quanto da
mdia54. Soma-se a estas questes, outros desafios ligados ao novo
papel do Brasil como destino migratrio e a falta de legislao
e polticas adequadas a este novo cenrio55, tais como garantir
o acesso a servios pblicos, sobretudo de sade a imigrantes,
levando em considerao tanto as barreiras lingusticas como a
falta de documentao de alguns dos migrantes (Madi et al, 2009).
Dado as propores da presena boliviana em So Paulo
e a precariedade na qual alguns destes migrantes se encontram,
h inovaes nas polticas pblicas de mbito local, como a
parceria entre a Prefeitura de So Paulo e a Caixa Econmica
Federal para a bancarizao de migrantes e as novas estratgias de
combate ao trabalho escravo, como o Pacto Contra a Precarizao
e Pelo Emprego e Trabalho Decentes em So Paulo - Cadeia
Produtiva das Confeces56. Ainda, vale destacar o trabalho
de diversas organizaes da sociedade civil que trabalham em
defesa dos direitos dos migrantes como o Centro de Direitos
Humanos e Cidadania do Imigrante, Centro de Apoio e Pastoral do
Migrante, a Caritas e a Reprter Brasil, com suas aes contra o
trabalho escravo.
Ainda assim e embora hajam inmeros desafios a serem superados,
a importncia econmica das remessas enviadas a Bolvia por
imigrantes residentes no Brasil tem crescido a cada ano. Segundo
dados do Banco Central boliviano, divulgados pelo jornal Folha de
So Paulo, dentre o total de remessas que chegaram Bolvia, em
2013, 4,5% eram provenientes do Brasil, enquanto que em 2014
este nmero cresceu para 7,6% (Fagundes e Fagundez, 2015).
Perspectivas do territrio 16
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
57 H uma controvrsia quanto a aplicao de uma lei boliviana que impediria estrangeiros de possuir terras a menos de 50 km da fronteira. Como a lei nem sempre cumprida, h certa insegurana jurdica.
Brasileiros no s proprietrios de terras, mas tambm a empresa EBX - j foram alvos de ameaas e despejos em algumas ocasies. Para uma anlise jurdica contrria ao despejo ver De Albuquerque (2007).
Segundo de Albuquerque, os despejos seriam polticos-eleitorais, o que constituiria uma injustia contra os proprietrios brasileiros.
58 Ver Carmo (2008).
Se, felizmente, a migrao boliviana no Brasil um tema de cada
vez mais interesse da sociedade brasileira (mdia, academia e
sociedade civil incluso), o revs da moeda os brasileiros na
Bolvia um assunto menos conhecido e explorado.
Dois so os grupos de brasileiros que se destacam na paisagem
do vizinho. O primeiro, so os estudantes brasileiros de medicina
- aproximadamente 25 mil, segundo o jornal Folha de So Paulo
(Maisonnave, 2013) - que, atrados pelo baixo custo da matrcula e
a inexistncia de vestibular de ingresso, completam seus estudos
na Bolvia, sobretudo no departamento de Santa Cruz de la Sierra.
Neste mesmo Departamento e em outras faixas fronteirias em
Beni e Pando, encontram-se tambm os aproximadamente 30
mil produtores rurais, cuja situao controversa nas fronteiras os
torna alvo da ateno de distintos atores. Objeto de recorrentes
tentativas de expulso por parte do governo de La Paz no passado
recente57, os brasileiros detentores de terra na Bolvia fazem parte
da pauta diplomtica entre os dois pases. Uma vez transformado
em contencioso bilateral, a questo ganhou tambm alguma
alincia na mdia.
De forma mais global, a expanso do latifndio nas reas
fronteirias compreendido de forma distinta pelas diferentes
foras polticas nacionais no Brasil. De um lado, tornou-se mais
uma bandeira de setores da elite poltica brasileira, especialmente
de partidos hoje na oposio, para criticar a chamada passividade
do atual governo em relao ao governo de La Paz, segundo eles
em detrimento dos interesses nacionais brasileiros na Bolvia58. No
espectro oposto, tornou-se smbolo da oposio de movimentos
sociais rurais que buscam denunciar conflitos agrrios, cada vez
mais globalizados.
Este duplo panorama - dos brasileiros na Bolvia e dos bolivianos
no Brasil revela, portanto, que h desafios importantes a serem
enfrentados de ambos os lados da fronteira. So desafios perenes
que entrelaaro cada vez mais interesses e relaes diplomticas,
com complexas dinmicas politicas e de governana local.
Crditos: Marcel Maia
Perspectivas do territrio 17
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Consideraes f inais
Vizinho, parceiro econmico-comercial, cooperante: o Brasil
hoje ator importante em todos os temas de relevncia da agenda
boliviana. A presena brasileira torna-se fonte de influncia e
portanto acarreta responsabilidades, simbolizadas no apenas
pelo fato do pas ser o principal parceiro comercial boliviano, mas
pela natureza estratgica das parcerias energticas, securitrias e
em infraestrutura, e pelos crescentes fluxos humanos de ambos os
lados da fronteira.
Parte destas responsabilidades advm da interdependncia
regional. Apesar da integrao sul-americana apresentar hoje
uma identidade prpria, que enfatiza questes sociais e o papel
do Estado na promoo do desenvolvimento, ainda subsiste uma
srie de debates em aberto sobre seus rumos futuros e sobre a
concretizao dos ideais polticos que a orientam. Muitos destes
debates encontram salincia e relevncia no contexto boliviano.
Por um lado, questiona-se, desde a sociedade civil, sua capacidade
de render bem-estar ao conjunto da populao sul-americana.
Em outras palavras, questiona-se em que medida o atual
modelo de integrao estaria orientado predominantemente a
um desenvolvimento que privilegia alguns setores em prol do
crescimento econmico e em detrimento do meio ambiente e
direitos das populaes tradicionais. Por outro, no deve-se
perder de vista o que significa a integrao da regio na economia
mundial. Se o fantasma da Alca rea de Livre-Comrcio das
Amricas - parece ficar no passado, um modelo voltado para
exportao de commodities e explorao de recursos naturais,
com uma crescente aproximao da economia chinesa e baseado
em assimetrias entre os pases da regio tambm pode apresentar
riscos a longo prazo.
Assim, impe-se o desafio de fortalecer economicamente a regio
para que esta se insira de maneira competitiva na economia
global, sem desconsiderar a necessidade e a potencialidade sul-
americana de criar modelos alternativos que respeitem os direitos
e diversidade de suas populaes, promovam a justia social
e faam frente aos emergentes desafios provocados pelas
mudanas climticas.
A posio brasileira parte fundamental da resposta a esse
desafio. O governo brasileiro e a nova gesto de Dilma Rousseff vm
sendo cobrados para retomar o mpeto do projeto de integrao.
Nesse sentido, o perigo de promover aes que aprofundem
assimetrias dentro do continente (e no interior de cada Estado)
no deve ser desconsiderado, tanto no que diz respeito tendncia
expansionista do capital brasileiro na Amrica do Sul, como na
necessidade de facilitar outros instrumentos que financiam o
desenvolvimento da regio, para alm dos atuais protagonistas
(Banco Interamericano de Desenvolvimento, Corporao Andina
de Fomento, Banco Mundial e BNDES). Hoje as alternativas no
papel seja no mbito do Banco do Sul, seja no futuro Banco
dos BRICS so por demais incertas. certo, no entanto, que a
questo do financiamento do desenvolvimento revela algumas
das contradies que o Brasil dever equacionar para firmar seu
papel de parceiro e vizinho solidrio e no como o grande irmo
sub-imperialista.
Por outro lado necessrio tambm considerar os interesses
e contextos poltico e econmicos da Bolvia nessa relao. O
polmico caso da estrada Villa Tunari-San Ignacio Moxos um bom
exemplo dessa complexidade: o traado da estrada faz parte de um
projeto de integrao nacional boliviano com legislao que data
da dcada de 1980, apoiado por setores da base do atual governo e
que visa facilitar a explorao do petrleo e outras jazidas minerais
do territrio. Alm disso, representa a convergncia de modelos
neodesenvolvimentistas apoiados por ambos Estados.
Mesmo com a melhora da performance dos indicadores
econmicos na ltima dcada, na Bolvia persistem profundos
desafios relacionados ao desenvolvimento nacional. O recente
crescimento econmico do pas, fortemente concentrado na
exportao de bens primrios, no foi acompanhado por um
movimento de reestruturao e diversificao produtiva. Ainda,
apesar na melhora dos ndices de pobreza, a maior parte da fora
trabalhadora encontra-se no setor informal e o sistema de proteo
social pouco presente; o sistema pblico de sade sobrevive
com dificuldades e o sistema educacional apresenta dificuldades
estruturais como, por exemplo, no que se refere formao de
seus profissionais.
Assim, a cooperao horizontal tem o potencial de converter-se
em pauta estratgica, que viabilize um desenvolvimento inclusivo
e mtuo. Entretanto, com exceo de alguns setores, no h
Perspectivas do territrio 18
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
indcios empricos ou discursivos que apontem para uma estratgia
consolidada e compartilhada por parte do Estado brasileiro -
sobre o papel da cooperao brasileira no projeto de integrao
sul-americana. Soma-se a essa situao, uma tendncia de
reduo do investimento da cooperao brasileira em geral, que j
bastante restrita no caso da Bolvia.
Entender melhor o que significa o papel da cooperao tcnica em
um projeto de integrao refora a demanda, por parte de distintos
setores nacionais, de maior participao na poltica externa
brasileira (atravs, por exemplo, de um Conselho Nacional de
Poltica Externa) e maior coerncia entre as diferentes polticas.
Por um lado, evidencia-se o risco do modelo atual de reforar de
maneira desbalanceada alguns setores ou interesses presentes nos
pases parceiros e com isso aprofundar desigualdades. Por outro,
enfatiza-se a necessidade de debate sobre uma poltica pblica
de cooperao, que aumente o dilogo social na construo de
projetos democrticos.
Perspectivas do territrio 19
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Aes da ABC Durao Implementador / Parceiros Setor
Ativos
Fortalecimento do Sistema de Recursos Genticos do Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)
agosto de 2010 a dezembro de 2016Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA; Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)
Agricultura
Amaz sem Fogo - Programa de Cooperao Trilateral "AMAZNIA SEM FOGO" em Favor da Bolvia
dezembro de 2010 a dezembro de 2016Ministrio do Meio Ambiente - MMA; Corporao Andina de Fomento - CAF; Direo Geral da Cooperao Italiana da Embaixada da Itlia
Meio Ambiente
Construo de estratgias pblicas para o desenvolvimento rural do Norte Amaznico da Bolvia com foco na promoo da agricultura familiar e do extrativismo
maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura
Apoio ao estabelecimento de instituio nacional de abastecimento interno na Bolvia
maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura
Fortalecimento do Sistema de Informaes Agropecurias da Bolvia
maio de 2011 a dezembro de 2016 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB Agricultura
Curso Internacional de Capacitao Em Sistemas de Tecnologia Agroflorestal
setembro de 2011 a dezembro de 2016EMBRAPA - Amaznia Oriental; Agncia de Cooperao Internacional do Japo - JICA
Agricultura
Projeto Amazonas: Ao Regional na rea de Recursos Hdricos
julho de 2012 a julho de 2016Agncia Nacional de guas - ANA; Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica - OTCA
Meio Ambiente
Concludos
Capacitao de Funcionrios do Instituto Nacional de Laboratrios de Salud (INLASA) da Bolvia sobre o Processo de Produo de Velas de Andiroba
abril de 2010 a abril de 2014Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ/MS; Instituto Nacional de Laboratrios de Salud (INLASA)
Sade
Intercmbio de Experincias e Conhecimentos para a Gesto das Culturas.
abril de 2010 a dezembro de 2014Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - IPHAN; Ministrio da Cultura (Brasil) - MinC
Cultura
Anexo 1. Aes de Cooperao da ABC.
Perspectivas do territrio 20
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Apoio Implementao do Banco de Leite Humano outubro de 2009 a maro de 2014 Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ/MS Sade
Fortalecimento da Gesto Pblica Florestal junho de 2009 a janeiro de 2014Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA
Meio Ambiente
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso de Comando e Estado Maior (ECEME)
fevereiro de 2013 a dezembro de 2013 Exrcito brasileiro Defesa
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso de Formao de Oficiais (AMAN) 4 ano
janeiro de 2013 a dezembro de 2013Exrcito Brasileiro - EXBR; Ministrio da Defesa do Brasil - MD
Defesa
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa - Curso de Adaptao de Vo de Aeronave e Transporte
dezembro de 2012 a janeiro de 2014 Exrcito brasileiro Defesa
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa - Curso de Adaptao de Pilotos e Mecnicos de Helicptero
outubro de 2012 a maro de 2013 Exrcito brasileiro Defesa
Fortalecimento e Capacitao na rea de Sade, Nutrio, Cidadania e Educao na Bolvia
abril de 2012 a fevereiro de 2013Pastoral da Criana - PC; Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB
Desenvolvimento Social
Curso sobre planejamento e gesto integrada de recursos hdricos
maro de 2012 a junho de 2012 Secretaria de Recursos Hdricos - MMA/SRH Meio Ambiente
Visita Tcnica para apoio ao treinamento de lderes de Instituies Sociais da Bolvia
janeiro de 2012 a julho de 2012 Instituto Elos Desenvolvimento Social
Misso tcnica para apoio ao registro e ao financiamento em agricultura familiar
agosto de 2011 a novembro de 2011Secretaria de Agricultura Familiar do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (SAF/MDA)
Agricultura
Apoio Elaborao do Plano de Infraestrutura do Setor Postal da Bolvia
julho de 2011 a setembro de 2011 Correios Comunicaes
Misso para Apoio Tcnico Implementao do Seguro Agrrio Universal Boliviano
maro de 2011 a junho de 2011Secretaria de Agricultura Familiar do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (SAF/MDA)
Agricultura
Perspectivas do territrio 21
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa Curso Avanado de Inteligncia para Oficiais
maro de 2011 a setembro de 2011 Exrcito brasileiro Defesa
Peixes Amaznicos-Povo Amaznico outubro de 2010 a fevereiro de 2011Instituto Amaznico de Manejo Sustentvel dos Recursos Ambientais - IARA; Ministrio da Pesca e Aqicultura - MPA; Canadian International Development AID
Meio Ambiente
V Curso Internacional de Capacitao em Tecnologias Agroflorestais
outubro de 2010 a dezembro de 2010Agncia de Cooperao Internacional do Japo - JICA; Consrcio Iniciativa Amaznica - IA; Centro Mundial Agroflorestal ICRAF
Agricultura
Treinamento de Militares Sul-Americanos no mbito da Defesa (Curso de Auxiliar Comunicao Social)
setembro de 2009 a fevereiro de 2011 Exrcito brasileiro Defesa
Fortalecimento da Ateno Integral e Vigilncia Epidemiolgica em DST/HIV/AIDS na Bolvia
dezembro de 2009 a dezembro de 2011Ministrio da Sade - Secretaria de Polticas de Sade - Cn de Dst/aids - MS/DST-AIDS
Sade
Capacitao de tcnicos bolivianos para o uso de ferramentas de cadastro e georreferenciamento de imveis rurais
novembro de 2009 a janeiro de 2011 Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA Agricultura
Contribuio ao Desenvolvimento de Polticas e Programas Nacionais de preveno e eliminao das piores formas de Trabalho Infantil na Bolvia
outubro de 2009 a junho de 2012
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE; Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS; Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE; Organizao Internacional do Trabalho - OIT
Trabalho e Emprego
Fortalecimento do Sistema de Sementes do Instituto Nacional de Inovao Agropecuria e Florestal (INIAF)
outubro de 2009 a dezembnro de 2013 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA Agricultura
Capacitao em Segurana e Sade no Trabalho e em Programas de Emprego
setembro de 2009 a novembro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego
Transferncia da Metodologia do Projeto Rondon para Instituio de Ensino Superior da Bolvia
abril de 2009 a junho de 2009 Associao Nacional dos Rondonistas - ANR Educao
Apoio ao Programa Multisetorial Desnutrio Zero dezembro de 2008 a novembro de 2010Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS
Desenvolvimento Social
Apoio ao desenvolvimento do Programa de Alimentao Escolar Boliviano
julho de 2008 a maio de 2009 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao - FNDE Educao
Perspectivas do territrio 22
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Reunio de Implementao do Comit Intergovernamental do Programa "Apoio Tcnico Implantao da Rede Ibero-Americana de Bancos de Leite Humano"
junho de 2008 a julho de 2008 Ministrio da Sade - MS Sade
II Curso Intenacional de Treinamento para capacitao em Tecnologia Agroflorestal - TCTP
outubro de 2007 a maro de 2008Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amaznia Oriental 3 - EMBRAPA/CPATU
Meio Ambiente
Intercmbio de conhecimentos na rea de segurana alimentar e nutricional
julho de 2007 EMBRAPA Sede - EMBRAPA Desenvolvimento Social
Treinamento de Militares Sul- Americanos no mbito de defesa
maio de 2007 a maio de 2009 Exrcito brasileiro Defesa
Misso para treinamento de tcnicos agrnomos bolivianos em produo e comercializao de caf
abril de 2007 a maio de 2007Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais - EPAMIG
Agricultura
Apoio criao de uma Instituio Pblica de Pesquisa Agropecuria na Bolvia
abril de 2007 a abril de 2009 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA Agricultura
Cultivo do palmito em Chapare - implantao do projeto piloto
maro de 2007 a maio de 2007Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC
Agricultura
Misso para fortalecimento da cooperao tcnica entre as instituies responsveis pela rea dos transportes rodovirios no Brasil e na Bolvia
maro de 2007Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes - DNIT
Transportes
Apoio Administrao do Trabalho: Estrutura e Gesto da Inspeo do Trabalho
fevereiro de 2007 a fevereiro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego
Apoio Administrao do Trabalho: Programas em matria de Polticas Pblicas de Emprego e Economia Solidria Fortalecimento das Instituies
fevereiro de 2007 a fevereiro de 2009 Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE Trabalho e Emprego
Curso Internacional de Treinamento para Capacitao em Tecnologia Agroflorestal - TCTP
dezembro de 2006 a maro de 2007 Embrapa Meio-Norte - Embrapa - CPAMN Meio Ambiente
Capacitao em Soluo de Controvrsias na OMC dezembro de 2006Coordenao Geral de Contenciosos do Ministrio das Relaes Exteriores - CGC/MRE
Administrao Pblica
Perspectivas do territrio 23
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Capacitao em Avaliao da Conformidade dezembro de 2006 a janeiro de 2007Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial - INMETRO
Indstria e Comrcio
Capacitao sobre cultivo do Palmito (bactris gasipaes) em Chapare -Fase Final
novembro de 2006 a dezembro de 2006Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC
Agricultura
Estruturao do Centro de Referncia para Queimados em La Paz
novembro de 2006 a maio de 2008 Universidade Gama Filho - UGF Sade
Intercmbio de Conhecimentos na rea de Educao Profissional e Tecnolgica entre os Pases Partes e Associados do Sistema Educacional do Mercosul
outubro de 2006 a janeiro de 2007 Ministrio da Educao - MEC Educao
Controle do Bicudo do Algodo e Caraterizao da rea Livre de Praga
setembro de 2006 a maio de 2008 Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA Agricultura
Assessoria Pastoral da Criana na Bolvia outubro de 2005 Pastoral da Criana - PC Desenvolvimento Social
Preveno e controle de DST/HIV/AIDS na Bolvia abril de 2003 a abril de 2004
Ministrio Britnico de Desenvolvimento Internacional - DFID; Organizao Panamericana de Sade - OPAS; Organizao Mundial da Sade - OMS; Programa nacional de DST/AIDS
Sade
Legislao dos recursos hdricos abril de 2003 a abril de 2004 Agncia Nacional de guas - ANA Meio Ambiente
Projeto sistema eletrnico de contrataes estatais abril de 2003 a abril de 2004Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao - SLTI/MPOG
Administrao Pblica
Controle do bicudo-do-algodoeiro e caracterizaco de rea de praga.
fevereiro de 2002 a dezembro de 2003 Departamento de Defesa e Inspeo Vegetal - DDIV/Mapa Agricultura
Gesto integrada de recursos hidricos na alta bacia do rio Paraguai
janeiro de 2002 a dezembro de 2003 Agncia Nacional de guas - ANA Meio Ambiente
Capacitao e transferncia de tecnologia de cultivo do Palmito (Bactris Gasipaes) em Chapare
janeiro de 2002 a dezembro de 2003Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC
Agricultura
Perspectivas do territrio 24
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Apoio ao programa nacional de erradicao da febre aftosa janeiro de 2002 a dezembro de 2003Departamento de Defesa Animal-Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - DDA/MAPA
Sade
Capacitao e transferncia de tecnologia de cultivo e processamento de frutas tropicales em chapare e Yungas de La Paz
janeiro de 2002 a dezembro de 2003Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa Alimentos; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Agricultura
Transferncia de tecnologia para apoiar a competitividade do circuito produtivo do caf na regio dos Yungas
novembro de 2001 a novembro de 2005Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais - EPAMIG; Universidade Federal de Viosa - UFV
Agricultura
Sistema de alerta e monitoramento de incndios florestais novembro de 2001 a junho de 2003Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA; Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
Meio Ambiente
Manejo de fauna silvestre novembro de 2001 a novembro de 2005Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA
Meio Ambiente
Perspectivas do territrio 25
Boa vizinhana? Relaes Brasil-Bolviae os desafios de uma parceria assimtrica
Agradecimentos
Ceclia Crdova, Christian Aid Bolvia
Gerardo Cerdas, Ibase - Brasil
Javier Gmez, Centro de Estudios para el Desarrollo Laboral y Agrario (CEDLA) - Bolvia
Marina Biancalana, Economista - Brasil
Werner Hernani-Limanino, Fundacin Aru - Bolvia
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