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Pesquisa científica (Nísia Martins do Rosário) Existe em todos nós - seres humanos - uma necessidade latente que tem nos impulsionado através dos séculos. Essa necessidade é “conhecer”. Lembremos que conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que busca conhecimento e o objeto ou fenômeno que ele quer conhecer. Conhecer, portanto, pressupõe envolvimento, conexão e será ainda mais prazeroso se se utilizar um pouco de paixão. Cada geração recebe da anterior os conhecimentos adquiridos, bem como os resultados conseguidos com a atividade intelectual e existencial – a experiência. Assim, “naturalmente cavador de respostas, o homem nega-se quando se acomoda à rotina de uma ciência já desenvolvida. (...) Nenhuma geração pode dar-se por satisfeita com um mundo de segunda mão...” 1 . Encontrar respostas para as novas questões, ou solução para aquelas que vêm desenvolvendo-se é um convite aos homens e mulheres que trazem consigo a curiosidade, a vontade de desvendar objetos, teorias, campos, disciplinas, áreas. Tal convite leva, muitas vezes, à pesquisa científica. É através dela que, realmente, conseguem-se avanços em todas as áreas, inclusive na área da comunicação social. Assim, as novas técnicas, os novos programas que surgem, os usos e efeitos das novas tecnologias partem, sem dúvida de planejamento e de verificação, enfim, de pesquisa criteriosa. Necessário, portanto, encarar a pesquisa como uma preciosa aliada. Inevitável, muitas vezes, apaixonar-se pelo tema que se está pesquisando e perceber o quanto se pode conhecer mais sobre ele. Projeto de pesquisa A maioria dos cursos de graduação e pós-graduação tem exigido que seus alunos envolvam-se com a pesquisa de forma cada vez mais direta. Esse envolvimento não requer apenas a prática da pesquisa, mas exige um refletir antecipado: um planejamento. 1 - SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 2ª ed., 1999. p. 22.

Pesquisa científica - Nísia Rosário

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Pesquisa científica

(Nísia Martins do Rosário)

Existe em todos nós - seres humanos - uma necessidade latente que tem nos

impulsionado através dos séculos. Essa necessidade é “conhecer”. Lembremos que

conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que busca conhecimento e o objeto

ou fenômeno que ele quer conhecer. Conhecer, portanto, pressupõe envolvimento, conexão

e será ainda mais prazeroso se se utilizar um pouco de paixão.

Cada geração recebe da anterior os conhecimentos adquiridos, bem como os

resultados conseguidos com a atividade intelectual e existencial – a experiência. Assim,

“naturalmente cavador de respostas, o homem nega-se quando se acomoda à rotina de uma

ciência já desenvolvida. (...) Nenhuma geração pode dar-se por satisfeita com um mundo de

segunda mão...”1.

Encontrar respostas para as novas questões, ou solução para aquelas que vêm

desenvolvendo-se é um convite aos homens e mulheres que trazem consigo a curiosidade, a

vontade de desvendar objetos, teorias, campos, disciplinas, áreas. Tal convite leva, muitas

vezes, à pesquisa científica. É através dela que, realmente, conseguem-se avanços em todas

as áreas, inclusive na área da comunicação social. Assim, as novas técnicas, os novos

programas que surgem, os usos e efeitos das novas tecnologias partem, sem dúvida de

planejamento e de verificação, enfim, de pesquisa criteriosa. Necessário, portanto, encarar a

pesquisa como uma preciosa aliada. Inevitável, muitas vezes, apaixonar-se pelo tema que se

está pesquisando e perceber o quanto se pode conhecer mais sobre ele.

Projeto de pesquisa

A maioria dos cursos de graduação e pós-graduação tem exigido que seus

alunos envolvam-se com a pesquisa de forma cada vez mais direta. Esse envolvimento não

requer apenas a prática da pesquisa, mas exige um refletir antecipado: um planejamento.

1 - SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 2ª ed., 1999. p. 22.

Planejar, contudo, nem sempre faz parte dos nossos hábitos e das nossas convicções acerca

da pesquisa. Quem já pesquisou, entretanto, sabe que – da mesma forma que na construção

de moradias – sem um planejamento detalhado, a casa pode cair.

Assim, a pesquisa científica prevê, no mínimo, duas grandes etapas. A primeira,

que antecede a sua execução, é o momento – necessário – de refletir sobre o que se quer

conhecer mais, que dúvidas se quer resolver, qual a abrangência daquilo que se vai estudar.

Esse é o momento do projeto de pesquisa. A segunda etapa, refere-se à execução da

pesquisa em si, com base em tudo aquilo que se planejou. Esse é o momento de construir a

casa, ou seja, do desenvolvimento da pesquisa.

2.1 - O que é projeto de pesquisa

Um projeto de pesquisa é, grosso modo, um planejamento detalhado de uma

pesquisa científica que se pretenda realizar. E planejar, é decidir antecipadamente o que

deve ser feito.

É preciso, sem dúvida, dar um passo após o outro. Os primeiros deles referem-

se à determinação das inquietações que movem o pesquisador, à definição de suas áreas de

interesse, ao desenvolvimento de leituras preliminares, à organização das idéias e à redação

de um projeto. Esse permitirá que a execução da pesquisa seja facilitada pelo fato de se ter

em mente – e no papel – um quadro mais claro e coerente daquilo que se quer fazer, bem

como considerações sobre as dificuldades que se poderá encontrar. No dizer de Santos2, o

projeto de pesquisa “... traça o caminho intelectual inicial de todo o processo posterior”.

Usando, ainda, a metáfora da construção de uma casa, antes de levantar as

paredes é preciso elaborar uma planta que apresente o estilo, as medidas, as divisões, os

cálculos, as previsões de materiais, entre outros. O mesmo ocorre com a pesquisa, e esse é o

papel de um projeto. Ele deve apresentar, principalmente, o objeto de estudo, as metas que

se pretende alcançar, a problematização do tema, a proposta de desenvolvimento do

trabalho, as bases de sustentação teórica.

2.2 - Por que fazer um projeto de pesquisa

Como já foi dito, a elaboração de um projeto de pesquisa facilita o trabalho do

2 - SANTOS, Antônio Raimundo. Op. Cit. P. 59

próprio executor dessa, além de permitir que outras pessoas possam entender com clareza

aquilo que se pretende estudar. O projeto permite o desenvolvimento da pesquisa dentro de

padrões científicos, de forma racional, lógica, criteriosa, com métodos e procedimentos

adequados. Assim, esse planejamento ajuda a garantir que os resultados sejam mais

confiáveis, fruto de um pensamento analítico, crítico e questionador.

É interessante lembrar-lhe que muitos estudantes, ao se depararem com a

necessidade de elaborar um projeto de pesquisa, sentem-se bastante ansiosos e até mesmo

indecisos. Enfim, bate um certa insegurança. Isso pode acontecer não por que o estudante

não saiba fazê-lo, mas por que não tem noção clara de como fazê-lo e, às vezes, por não

estar familiarizado com a pesquisa e por não ter descoberto nela uma grande aliada.

Uma vez conhecendo como fazer um projeto e tendo consciência do quanto ele

pode simplificar a trajetória da pesquisa, auxiliando na vida profissional, tudo fica mais

fácil.

2.3 - Antes de iniciar um projeto de pesquisa

Antes de iniciar a redação do projeto de pesquisa é necessário refletir.

Literalmente, reservar tempo para pensar sobre as inquietações, as dúvidas, os

questionamentos que tem permeado seu cotidiano e que estão interrelacionados com a área

de concentração do pós-graduação a que você pretende candidatar-se. Paralelamente, é

preciso refletir sobre as delimitações que vai-se dar a essas inquietações, definir a

abrangência que vai ter a pesquisa, determinar qual será o seu objeto, como ele será

estudado e onde se quer chegar. É um período transpassado por dúvidas, incertezas,

leituras, reorganização de idéias até se conseguir ter aquela idéia brilhante e executável.

Esse é, portanto, um tempo em que é preciso paciência para ‘amarrar’ bem o tema e o

problema da pesquisa, ou seja, chegar ao foco.

2.4 – A elaboração de um projeto de pesquisa

Um projeto de pesquisa pode ser elaborado a partir de diversas etapas. Em

geral, esses documentos divergem muito quanto a forma, ao ordenamento e a disposição

das etapas. Assim, é preciso estar atento: o mais importante não é o roteiro que você vai

seguir, tampouco o número de etapas que vão compor o projeto. O fundamental é que o seu

projeto deixe claro o que vai ser pesquisado, o que se quer saber com a pesquisa, quais os

propósitos da pesquisa, como ela será feita e com que base teórica.

O que facilmente pode ocorrer com muitos dos ‘arquitetos’ de projetos de

pesquisa científica é o apego a um roteiro e suas etapas, em detrimento da sistematização

das idéias. Por outras palavras, fazer um projeto não significa preencher etapas de um

roteiro – que muitas vezes nem se sabe direito do que se trata –, mas, sim, elaborar um

plano de estudos claro, organizado, fruto de reflexão e de conhecimento.

Abaixo estão apresentados alguns roteiros para projeto de pesquisa, contudo,

lembre que o conteúdo e a explicitação de sua proposta são mais relevantes. Você poderá

observar que há etapas que se repetem em todos os exemplos; há, também, etapas que são

bastante semelhantes.

EXEMPLO 1 EXEMPLO 2 EXEMPLO 3 EXEMPLO 4 EXEMPLO 4

1 – Delimitação do tema

1- Tema 1 - Título 1 – Título 1 – Resumo da proposta

2 – Problema 2 – Problema 2 – Introdução e justificativa

2 – Súmula 2 – Problematização

3 – Hipóteses 3 – Objetivos 3 – Objetivos 3 – Objeto e justificativa

3 – Objetivos

4 – Objetivo 4.1 – Geral 4.2 – Específicos

4 – Justificativa 4 – Definição do objeto de estudo

4 – Objetivos e resultados esperados

4 – Base teórica

5 – Justificativa 5 – Contexto 5 – Metodologia 5 – Métodos, materiais e cronograma

5 – Metodologia

6 – Revisão bibliográfica

6 – Metodologia 6 – Plano de atividades

6 – Condições científicas do proponenete

6 – Referências bibliográficas

7 – Metodologia 7 – Esboço 7 – Bibliografia de referência

7 – Referências bibliográficas

8 – Cronograma 8 – Cronograma 9 – Roteiro 9 – Referências

bibliográficas 10 – Levantamento bibliográfico inicial