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I • j 'l ÍJJ &:1 .• r:, ,:J , ... [11 I I I I í ,, ffl I I :-·· ···, /:: ' M I'' ;.! -;: t] m l·::Í .;< ,. ,.j ' i! !? ,.,., L ti . _r, ''" "' " ''" :.v. ,., Introdução: A pesquisa científica E ste é um livro de introdução à metodologia da pesqui- sa qualitativa, dirigido especialmente a professores em atividade e aos professores em formação inicial e con- tinuada. À medida que o texto foi sendo elaborado, era submetido à apreciação de alunos de pós-graduação em educação e em linguística e a alunos de graduação do curso de pedagogia 1 . Muitos episódios de conversa entre a autora e esses leitores cola- boradores foram gravados, e alguns fragmentos da interação estão· incorporados ao texto para que os leitores possam transitar da re- flexão teórica sobre a pesquisa qualitativa para [Tagmentos de con- versas coloquiais motivadas pelos temas abordados 2 ••• O pensamento científico permeia todos os aspectos da vida moderna: o alimento que consumimos é resultado da pesquisa em agronomia para a produção de cereais, verduras e frutos e da pes- Agmdcço a meus alunos de pós·gmduação em educação c em lingufstica c a meus alunos de graduação em pedagogia, todos da Universidade de Brasflia, que contribuí- ram com comentários ao texto c com a cessão de dados de seus projetos para a ção de temas aqui abordados. · 2 Este tmbalho foi desenvolvido com uma dotação da Universidade de Brasília - Funpe, 2006. Participaram do projeto como assistentes de pesquisa as alunas ciandas em pedagogia: Thafs de Oliveim e Tatiana de Oliveira 9 I

Pesquisa Quantitativa e Interpretativa - Bortoni-Ricardo

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Capítulos do livro da Bortoni-Ricardo

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  • O PROFESSOR PESQUISADOR I Stella Ma ris Bortoni-Ric,udo i 11111 tlllllll1111111

    quisa gentica para a produo de protenas animais; a roupa que vestimos, os meios de transporte que usamos, os cuidados com a sade, os eletrodomsticos de que nos servimos e, em especial, os meios de comunicao- que expeiimentaram uma verdadeira re-voluo no final do sculo passado com o desenvolvimento da in-formtica c o advento da internet -, enfim, tudo o que nos cerca em nossa rotina diria produto da evoluo cientfica.

    O conhecimento do mundo em que vivemos, a TeiTa e para alm dela, alterou-se profundamente com o desenvolvimento da as-trofsica e da tecnologia da explorao espacial. Da mesma forma, o conhecimento de nosso cot-po vem se beneficiando constantemente dos progressos das cincias fsicas e biolgicas e do refinamento da tecnologia que deles decmTe. Tambm nosso conhecimento sobte as mais diversas culturas humanas, sobre as mais diversas etnias que povoam a Terra vem se acumulando.

    A educao e, mais propriamente, o trabalho escolar de ensino e aprendizagem tambm tm sido objeto de pesquisa sistemtica. Por tudo isso, desejvel que os professores c todos os atores en-volvidos com a educao tenham uma postura pr-ativa na produ-o de conhecimento cientfico (c f. G. Spindler & L. Spindle1~ 1987; Bogdan & Biklen, 1998).

    A pesquisa em sala de aula insere-se no campo da pesquisa social e pode ser construda de acordo com um paradigma quan-titativo, que dedva do positivismo, ou com um paradigma qua-litativo, que provm da tradio epistemolgica conhecida como interpretativismo. O positivismo e o interpretativismo so as duas principais tradies no desenvolvimento da pesquisa social. O positivismo comeou a ser empregado nas cincias exatas e foi depois importado pelas cincias sociais, a partir do incio do sculo XIX, desfrutando desde ento de grande prestgio.

    O objetivo deste livro introdutrio pe1mitir que os leitores se apro-pdem dos pdncpios bsicos da metodologia da pesquisa qualitativa e tambm estejam aptos a le1~ com razovel compreenso, relatrios de pesquisa em geral e artigos em peridicos cientficos especializados.

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    i 1! lllliiiiiiiJ[IJJ[JJ[JJJIIJJJIIIJIIINTROOUO: A PESQUISA CIENTfFJCA

    OS OBJETIVOS E O PBLICO LEITOR O. (letra inicial do nome da aluna)- A h, sim, primeiro eu queria saber pra quem ... este texto aqui, o pUblico que vai ser dirigido, se pras alunas de Projeto 3, ou se para pes-quisadoras e qual o objetivo deste texto. Assim, pra quem ele foi dirigido, porque eu acho que ficou meio ...

    ', __ , ,,,,,

    P (professora) -Interlocutor, quem nosso interlocutor? Quem nossoJeitor? O.- E segundo, qual o objetivo deste texto? P. - Perfeito. Todo texto tem que ter ... ele direcionado a algum, nao ? Todo texto direcionado a algum. A ... a carta destinada ao destinatrio da car-ta, o ... jornalista que escreve no jornal j est se dirigindo aos leitores daquele jornal. AI que est, voc faz uma pergunta muito instigante e uma critica muito boa ao texto, porque o texto no, nao ... Quem que eu tinha em mente quando escrevi isso? Ento, ah .. em principio quem vai ler ... Este texto foi direcionado a professores. Agora ah ... o que voc est sugerindo .. . 0.- Que a gente primeiro diga a quem o texto se dirige. P.- Se ele se dirigir a professores, voc acha que est bem como est, merece alteraes? E se ele se dirigir a alunos, pensemos nessa outra possibilidade, se ele se dirigir a alunos, entao quer dizer, professores em formao inicial, alunos que esto em curso inicial de formao de professores. Ento este pode ser um texto lido na formao inicial e pode ser um texto tambm para professores que sejam alunos de formao continuada, ou seja, um texto para professores em formao inicial ou continuada. Entao o que ns vamos fazer definir bem o p-blico leitor e vamos definir objetivos, que ... que vocs acham que eu devo colocar em termo de objetivos? Qual o objetivo deste texto? T. -Acho que seria ensinar como pode fazer pesquisa, n? Acho que ajuda a fazer uma pesquisa A. -Ajuda at mesmo ns a fazer um ps-doutorado. P.- Um ps ... um mestrado, t, um mestrado. T.- E quanto ao pblico, eu acho que interessante a gente fazer isso no inicio, porque a gente j tem uma noo de como fazer. P.- Ah .. Uma sugesto deT., ela acha que ns podemos ... que pode ser no incio da formao inicial, n?

    Durante o sculo XX, a humanidade avanou mais na produ-o de conhecimento cientfico do que em todos os milnios de sua existncia at agora. As cincias, desenvolvidas nas universidades e em centros especializados mantidos pelos governos e pelas grandeS corporaes, esto organizadas em associaes cientficas, guardi-s da tradio e da fidedignidade da produo dos cientistas e res-

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  • O PROfESSOR PESQUISADOR I Stella Maris Bortoni-Ricardo il!llllllllllllllllllll

    pensveis pela intensa divulgao de seus progressos. Mas no se pode imaginar que o nascedouro das cincias seja contemporneo das modernas tecnologias. O conhecimento cientfico tem avanado juntamente com a histria da humanidade. Contudo, h alguns peiio-dos nessa histria em que o avano foi mais rpido e mais intenso.

    H muitos registros de atividade cientfica entre os povos an-tigos. Exemplos so os conhecimentos de astronomia dos maias, pr-colombianos; a tcnica de mumificao e de construo das pirmides no antigo Egito; a tecnologia nutica entre os fencios e outros povos navegadores. Mas foram os gregos, no sculo IV a.C., que usaram extensivamente a escrita para registrar a evoluo de pensamento nas diversas cincias. Essa herana est, praticamente, nas razes de todo o acervo cientfico ocidental. Datam dessa poca os registros escritos sobre a geometria de Euclides (*360-t285 a.C.); a matemtica de Arquimedes (*287-t212 a.C.) e a medicina de Hi-pcrates (*460-t377 a.C.) entre muitos outros.

    Por muitos sculos, o Ocidente permaneceu ignorante dos pro-gressos cientficos entre os povos orientais. Quando o vi'ajante vene-ziano Marco Polo (*1254-tl324 d.C.) visitou a China e pases vizinhos, trouxe consigo informaes e artefatos que surpreenderam a Europa.

    Encerrada a Idade Mdia, as naes europeias experimen-taram um grande desenvolvimento cientfico. Nos sculos XVI e XVII, Galileu Galilei (*1564-t1642 d.C.) construiu telescpios, j de grande preciso, e conduziu experincias sobre movimento, peso, velocidade e acelerao. Nesses dois sculos, foram tambm cons-lludos outros instrumentos para pesquisa, que permitiram o pro-gresso cientfico: microscpios, binculos e instrumentos nuticos, como astrolbios, mapas e barmetros.

    Foi ainda Galileu quem ofereceu evidncias de que a Terra e os demais planetas deste sistema giravam em tomo do Sol e refutou a teoria aristotlica de que os corpos pesados caem mais rapidamente que os leves. Conta-se dele a histria de que havia subido na torre de Pisa e feito sucessivas experincias de lanar do alto objetos de pesos diferentes, observando a rapidez de sua queda. Com esse processo de sistemticas experimentaes, devidamente registradas, Galileu provou que objetos leves e pesados caem na mesma velocidade.

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  • O PROFESSOR PESQUISADOR I Stclla MJri5 BortoniRicMdo I IJllllllllllllllllll

    r-----r-------~-----------~,~~--~, Oirio de bordo r [;)~ Pesquise ev.tl~vros ou. IHl._i~temet ~eji.nies 11ar~ ~~

    .-iJosi.tivismo e nttertJretatwtsmo. Lembre-~e ~e_ r~0tstrar P"&~~~f" suas respostas Cflt um cademo ou arqw~o d10~tal. l-"P --1['1)

    . -

    Entre os precursores intelectuais da tradio cientificista, desta~ cam~se dois nomes: Francis Bacon (*1561-t1621) e Ren Descartes (* 1596-t 1650). Bacon representa a herana adstotlica do empismo como fonte de conhecimento, enquanto Descartes alinha~se tradio racionalista platnica. A partir de Bacon, desenvolve~se uma escola que privilegia a experimentao, a induo e a observao exaustiva. Pertencem a essa escola, entre outros, John Locke (* 1632-tl704), Da-vid Hume (* t 711 ~t1776) e John Stuati-Mill (* 1 806-t 1873).

    ~~ll . M,qt. -----------------------------------------------.--- -- c,~. -: __ - ~ De acordo com o paradigma positivista, a reahdade q:

  • O PROFESSOR PESQUISADOR I Stella Maris Bortoni-Ricardo i 11 !1111111111111111111

    da pelo processo de induo. Dificuldades como essa na produo de evidncia cientfica levaram alguns epistemlogos, como Karl Popper (*1902-tl994) e Thomas Kuhn (*1922-tl996) a repensar a lgica subjacente ao modo de fazer cincia. Sua contribuio co-nhecida como ps-positivismo.

    Segundo eles, a lgica de verificao deve ser trocada por uma lgica de falsificao. Assim, o processo de induo tambm ser substitudo pelo processo de deduo hipOttica (Kamberelis & Di-mitriadis, 2005). Seguindo essa reviso de postulados, seria poss-vel testar cientificamente a hiptese sobre as filas no Brasil. Bas-taria para tal comear a coletar dados em outros pases. Se fosse identificada a existncia de filas em qualquer outro pas, a hiptese restaria "falsificada" e podetia ser descartada.

    POSTULADOS DA PESQUISA QUANTITAiWA-1 . P. - O positivismo foi justamente o que vocs leram: ele tem alguns princfpios, algumas premissas, alguns pressu-postos, um deles, por exemplo, que haja uma total... uma_' .. . .

    ., preciso total e tambm um distanciamento total entre o su,J~.i~?:.

  • O PROFESSOR PESQUISAOOR I Ste>lla Mari5 Bortoni-Ricardo :111111111111111111111

    complicada frmula cientfica (matemtica), que leva em conta a velocidade dos veculos em questo, o seu peso e comprimento, o atrito com a superfcie da via, a velocidade do vento, entre outros fatores. Como no vivel fazer clculos quando estamos no trn~ sito, podemos, alternativamente, prevenir colises com veculos frente usando o senso comum, isto , mantendo um espao razo~ vel entre os dois veculos. medida que se aumenta a velocidade, essa distncia tambm tem de ser aumentada.

    J vimos que o senso comum na vida cOntempornea tambm influenciado pelo pensamento cientfico. J vimos tambm que esses dois tipos de conhecimento so distintos. O ponto que estamos defendendo aqui que o senso comum representa uma dimenso do conhecimento que no deve ser descartada como primitiva ou produto da ignorncia. Pelo contrrio, o senso comum um compo-nente valioso em nosso conhecimento de mundo. O cientista social pode valer-se dele para interpretar as aes socialmente organiza~ das e a forma como os atores sociais as veem, posicionam-se em seu interior e constroem seu sistema de interpretao. Por exemplo, ao examinar como se d a transmisso de conhecimentos de uma gerao para a gerao seguinte, tanto nas famlias quanto nas esco-las, os pesquisadores vo levar em conta evidncias cientificamente comprovadas, mas tambm a influncia do senso comum.

    A pesquisa que segue o paradigma positivista pode ser experimen-tal ou no experimental. Em ambas, o pesquisador est procurando relaes causais entre dois ou mais fenmenos, isto , entre variveis. Ele procura explicar a varivel denominada dependente (ou varivel explicada) estabelecendo uma conexo com uma ou mais-variveis independentes (ou variveis explicao). Podemos dizer tambm que, com essa metodologia, o pesquisador est buscando uma correlao entre os fenmenos, mais propriamente, uma variao concomitante: alter-ando-se o fenmeno antecedente -varivel independente - de se esperar uma alter-ao paralela no fenmeno consequente- va-rivel dependente. Quando se obtm evidncia confivel dessa rela-o, pode-se generalizar a evidncia para casos anlogos.

    Na pesquisa experimental, tambm denominada pesquisa de la-boratrio, h um alto grau de contmle sobre as variveis. O pesquisa-dor tem de controlar as diversas variveis independentes, ou os diver-sos nveis de urna varivel independente, para que possa estabelecer com certeza a relao causal entre eles e o fenmeno pesquisado.

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    Exemplo de pesquisa quantitativa experimental

    TJrtJJ.O L>A l'E~OU!S!I: Reaes de falantes de portugus concordncia ver-bal no-padro'.

    Ju:.TJfiCAT!V,\: no portugus brasileiro contcmporJnco, h uma tendncia a no se fazer com::ordncia entre sujeitos plurais de 3' pessoa c a fmma verbal a dcs relacionada. O fenmcno constitui uma rcgr.J varivel pm-quc convivemos com duas rcali7.aes dessa concordncia: a variante tmdicional, prevista pela gr;tm~tica normativa (por exemplo: "Os cidados do TI mor fomm ontem s

    uma.~ ) c a variante substituta, que muito empregada, piincipaimcnte em nossa5 interaes informais (pm exemplo: "Chegou uns envelopes pra voc").

    A regra varivel de concordncia verbal tem sido mui-to estudada por sociolinguistas em unive1sidadcs brasileiras, como Anthony Naro, Marta SchetTe e Mada Luiza Braga (cf. Scherre, 2005). Esses estu-dos mostram que a escolha entre uma variante ou outra no com-pletamente aleatria. Tendemos a usar mais a variante tradicional quando a forma verbal de 3~ pessoa do plural mais distinta da forma verbal de 3~ pessoa do singular (por exemplo: "ele foi/ eles ' E~emplo baseado na primeira parte da di5sertao homnima de mcstrndo.~prC~nta a p~r St7lla Mari5 Bort~~mi-Ricardo ao programa de ps-graduao em lingus-117 da Umvers1dade de Brasfha em ago5to de 1977. A autora agradece a Luiz Pasquali pc a supetviso dos procedimentos mctodolgico5 da pesquisa .

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  • r p .-:: '!_l ;.j Postulados do paradigma

    i nterpretativista

    N o incio dos anos 1920, um grupo de pensadmcs, entre os quais devemos nomear Theodor Adorno (*1903-tl969) e Jrgen Habcrmas (*1929-), se re-ne na chamada Escola de Frankfurt e apresenta as primeiras crticas sistemticas ao positivismo clssico de Comtc e ao neopositivismo que se constituiu nessa poca em torno de ou-tros pensadores, como Ernst Mach (* 1838-t1916) e Rudolf Carnap (* 1891-t1970), permitindo a emergncia de um paradigma alterna-tivo para se fazer cincia: o paradigma interpretativista.

    Ao desenvolver uma fliosofia positivista, Auguste Com te (* 1798-tl857) props que as cincias sociais e humanas deveriam usar os mesmos mtodos e os mesmos princpios epistemolgicos que guiam a pesquisa das cincias exatas. A reao a essa postura veio, ento, no incio do sculo XX. Argumentavam os crticos de Comte e de seus seguidores que a compreenso nas cincias sociais no poderia ~ ' negligenciar o contexto scio-histrico, como, por exemplo, o grande impacto do desenvolvimento da tecnologia, que alterou as rotinas tradicionais. Citando Eric Vogclin, Hughes (1980, 109) afirma:

    Quando o terico aborda a rea1idade social, encontra o campo anteci:: padamente ocupado pelo que pode ser chamado de autointerpretao da sociedade. A sociedade humana no meramente um fato, ou um

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    I j .i .

    O PROFESSOR PESQUISADOR J Stcll;~ Milris BortoniRic..rdo 1 I 1111[11111\11111111\

    acontecimento do mundo exterior, a ser estudado por um observa-dor como um fcnmcno natural... um pequeno mundo integral, um cosmos, iluminado de significado a partir de seu interior pelos seres humanos que incessantemente o criam e conduzem como forma c condio da sua autorrealizao .

    Na mesma linha de pensamento, rejeitando a sociologia posi-tivista fragmentria, baseada na metodologia das pesquisas de sur-veys (levantamentos), Silverman ( 1972, p. 4) assim apresenta o foco da sociologia:

    Nosso foco particu\mmente o mundo partilhado de significados so-ciais, por meio dos quais a ao social (entendida no sentido de Weber como toda ao que leva em conta os motivos dos outros) gerada e interpretada. Como socilogos/ .. ./, procuramos, entender as regras utilizadas para localizar(fi.xar) significados nas aes, expresses, ges-tos e pensamentos dos outros.

    Segundo o paradigma intcrprctativista, surgido como uma al-ternativa ao positivismo, no h como observar o mundo indepen-dentemente das prticas sociais e significados vigentes. Ademais, e :>rincipalmente, a capacidade de compreenso do observador est enraizada em seus prprios significados, pois ele (ou ela) no um relator passivo, mas um a_gcnte ativo. Esse e outros postulados do paradigma qualitativo sero retomados ao longo deste livro em nossa reflexo sobre a pesquisa qualitativa e, muito particularmen-te, sobre a pesquisa etnogrfica.

    Na rea da pesquisa educacional, o paradigma positivista, de natureza quantitativa, sempre teve maior prestgio, acompanhando o que ocorria nas cincias sociais em geral. No entanto, as escolas, c especialmente as salas de aula, provaram ser espaos privilegia-dos para a conduo de pesquisa qualitativa, que se constri com base no interpretativismo.

    Nos prximos captulos, vamos aprofundar essa reflexo, espe-cialmente a que os professores podero conjugar com seu trabalho pedaggico. O docente que consegue associar o trabalho de pesqui-sa a seu fazer pedaggico, tornando-se um professor pesquisador de sua prpria Prtica ou das prticas pedaggicas com as quais

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    r

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    :i li I[ I I [[I[ I [[[[11111111111 POSTULADOS DO PARADIGMA INTERPRETATMSTA

    convive, estar no caminho de aperfeioar-se profissionalmente desenvolvendo uma melhor compreenso de suas aes como me~ diador de conhecimentos e de seu processo interacional com os educandos. Vai tambm ter uma melhor compreenso do processo de ensino e de aprendizagem.

    CONCILIAC) ENT(l~J:>,~-~g!JI$_JL 0'.: >, .'-:>,:. ,::::ic~:'C:i;",; QUANTITATI\f~EPE$Q!,!l$~QUAuTTIVA'' ~ "'>:'~;; :~;:,:m;:;:::~,:;::,~~~~:'::~r~:=~~~~:~::~~~;E . ~ . : .;~~ . . . ~ . .(l.;'>.-mterpretativista? Porque o interpretalivismo, ns vamos f a .i ' .. ,,./, . lar muito dele, pode complementar dimenses que no fiqum ~>:~'::~:~-:~.-;; .. claras no controle de variveis, principalmente se estiverin~S "fr'bd~i:~d~~in sala

    ' .v- '' -de aula. Por exemplo, se quisermos estabelecer correlao entre piS SeP~hidos, que no vivem juntos, o pai e a me que no vivem juntos, e o desempEuiit/d ~i.\.1-no ... Ser possfvel estabelecer uma correlao entre esses dois fenm~n~~? Pais que so tradicionais, o pai e a me numa casa, e casais que no tm mais esse vlncul ou que se constilulram em novos casais etc. E ai a pessoa quer ver se h uma corr~lao en!re.~ s_taf~s,_ah ... marital dos pais e o desempenho dos filhos. E conipli~.df_SsiniO, illtO~o"it:lplli::adO. Porque se voc ... voc vai. .. talvez, s medir+; ~er.9~a.n_to~~:.:~~.lyei n~ seia m~!to .~conselhvel: uma pesquisa interpretatvis~:) t~p-~@i!!r.l~ 9 :C,i~Z,f,:~trJijtlrJ~~nl.~;y~e;~Utab-alhSSt~ com a .. ~ turma e fosse exami- .:; ~~~.d.~?~,:~-;~c~.rn-~~~h~~,~~--;: ?:~~k~,~~~~-:~~Sfo~~~~-~;c~A9-~t~~ .. ~:r!~nas, em lei- :j W,~;:g~~~~~~-~~0 ~ -~~f.;~l~t~~.~~~s~~?./B~-~~~.p].!.e~~I',P,~1m~/~;;;~_~.?l una Rosa ~i ~~,f-~.~~:~1\~;~!,P.~}~~~~tTM.WJW,~.~~"~!~.~~~~e~~Jl~Tt~~i~e~P:~~~~, ~~i to ruim, mas ,: varr9s_ ver._ que o~tr;~~-.;~~~;-~~~-~~~~~-~~::.--~a~.o~.!~pt~r_.fry_~ere_rElf~i .~.rrentender que ;

    ~u~~~'~ ,_r.~~s~nf~~,~c~~~~~~-~~--~~l~f_,~,_~J~~~I?i n.~.J~ ~'-~~, P}f,~~r~_'! .B-~-~~uisa qua 1 i ta- ; 11 Y:!t:f~f,T:~!~~~u~:!:l~,P~~~~~~H?,W~m~J.~~_grg~rJP{.~:~.~R"!~g:~~~~ a gente filma, ? ~a~~fa_z~~-un;'.a!':n!IS.~, P.~wue ~~~~~.fei!On:!~nos, .c~To pr.ex_eliir)lo, o bom apro- !' v;el~~~-~~~0~ .. 1.~9 ~~: ~~?;~~~Vr~?-@~~~~L~J~~;~~~~~~:-.~~.-~J~~!~i.,:e essa pesquisa~, gu~l.lt~t~_V

  • O PROFESSOR PESQUISADOR [ Stulla Maris Sortoni-Ricardo 'lllllllllllllllllillll

    S~t? ~cral porque todos esses mtodos tm em comum um compro missa com a interpretao das aes sociais e com o significado que as pessoas conferem a essas aes na vida social (cf. Erickson, 1990).

    A pesquisa quantitativa procura estabelecer relaes de causa e consequncia entre um fenmeno antecedente, que a varivel explicao, tambm chamada de varivel independente, e um fen meno consequente, que a varivel depen_dente. J a pesquisa qua litativa no se prope testar essas relaes de causa e consequncia entre fenmenos, nem tampouco gerar leis causais que podem ter um alto grau de generalizao. A pesquisa qualitativa procura en tender, interpretar (enmenos sociais inseridos em um contexto.

    , '

    Oro de bordo f l '

    r: filhos com

    ,.

    r :illlllllllllllll/11111111 POST ULADOS 00 PARADIGMA INTERPRETA TlVISTA bom desempenho nos testes Es a . . sistemtica, e comprovada . s ~esquis~ VaJ constatar de forma por melO de numeras perverso do carter intergeracional d _ . . ~~~s um efeito d 1 r as mJusttas socmts na .

    ac e. sto e, famlias pobres,. . d. . com uni em m 1ces maiS bai d , I , e esse problema tend xos e esco andade

    e a se perpetuar na medida tendero a ter um desempenh I . em que seus filhos

    o escoar menos expressivo.

    Uma pesquisa como essa, de natureza . . complementada com uma . . mactossocral, pode ser

    . pesqwsa qualttativa 1 um n1JCrocosmo uma sala d 1 que se votara para ' eau a, por exemplo A m t' -produzir uma pesquisa qual't 1, I o 1vaao para se . . 1 a Iva vo tada para 0 Ja identificado deriva da con , . d ~ mesmo problema vrcao c que os e f 1 f . racionais da m distribui . d , d er os ne astos mterge-ao e ren a no apro 1 alunos no p - vei amento escolar de

    ars nao oconem nun1 "v " . COITJO e forma a cada minuto d . acudo s~cml. O problema toma

    a aao e ucatJva em sala de aula.

    Uma pesquisa qualitativa no microcosm d , se volte para a ob _ d 0 a sala de aula, que

    servaao o processo de apr d.. d , c da cscl"ita, vai registrar s t . en Jzagcm a lettura rs emattcamente cad . I tos relacionados a essa apr d" ~ a scqucncm c e cven-

    en tzagem Dessa fo . d . corno e por que alg m . _. r ma, po era mostra~

    u as ct mnas avanan1 n . outras so negligenciadas ou se d .

    0 processo, enquanto''

    zido pelo profcssm ou aind esmteressam do trabalho condu ' a veem-se frustradas f

    na tarefa de ler e entender t . porque racassam os extos que lhes so apresentados.

    T

    Oro de bordo

    Para refletirmos mais sobre o b f . -pesquisa qualitativa e uma es ~ ene lCl~S ~e se conjugar uma

    exemplo p d . p qmsa quantitatrva, vejamos outro 0 emas partir da segui 1 -n e questao de pesquisa:

    35

  • . \".

    OR PESQUISADOR l Stella Maris BortoniRicilrdo O PROFESS ; 1111111111111 H\ \11111

    c ensino mdio em uma escola onde os Ser que os alunos d~ . r nas atuam como agentes letradores pro[esso~es de todas as ~~~~o ue os alunos de uma escola onde vo se satr melhor no EN q . de responsabilidade exclu

    Ih leitura compreensiVa

    * 0 traba o com a ? Entendemos por agentes

    ' f . de lngua portuguesa siva do pro essOI d' - de maneira a

    f . uc constroem uma me wao letradores pro essmes q . . dos textos did-facilitar para os alunos uma lettura compreensiva ticos de suas disciplinas I.

    ra responder a p demos delinear uma pesquisa quantttattva pa . o h do duas escolas em funo do compromts-

    cssa pergunta escol en . d h brdades de leitura 0 desenvolvtmento e a 1 1

    so dos pro(essores com I . compromisso assumido por E ma das esco as, esse dos alunos. m u ~ , f ssores acreditam que a rcs-

    d fessorcs Na outra, os pro c to os os pro 1 . d habilidades de compreenso b'.1.,dade no desenvo vtmento e . Ponsa d Na linguagem . , . 1 do professor e portugues. dos tex~os !~dos e cxc ~::~sso dos professores com a compreenso da

    das vanvets, o compt . _ . d, dente 0 desempenho dos . , 1 phcaao ou m epen leitura a vanave ex ' . d d t Uma pesqui-

    l ENEM a varivel exphcada, ou epen en e. l'

    a unos no tema vai deter-se na an tse l. t" voltada para esse mesmo sa qua tta tva t d textos didticos nas duas do processo de tratamen o e d sistcm ttca f . trabalham a atribuio e I . fi ando como os pro essor es

    csco. afis, vden c s textos e como professores e alunos percebem esse signt ca os ao . d 1 trabalho e interpretam as aes que esto relaciona as a e e.

    , ,

    Dirio de bordo . U111. temc::t. Cjt-te poc;te ser dcselwolvido por lneio d~ uma . .,.

    Pel"l.Se ~m "titativc::t. No projeto. voc vc::t.i relc::t.ciovHl.r dms Jc::t.to-pesqul..Sc::t. CJlA.t't ttivel

    to fonrtc::tiio cte professores de lltologtc::t. em res, 11or cxemp . L AS c::tulns

    . ct ctt::Jre~tdiztl.gem dos tl.Lu1to5 de bto ogtc::t tt '""' supenor e . . mo gui.c::t. de Registre c::t. ~tit::Jtese pri~tcipctl que vcuju.ttctDittlr co . .

    squi.sc::t. Em seguidc::t., ctcscrevc::t. uma.pesqui.sct qutl.Ltttl.tWc::t. suc::t pe . ~o'Alemc::t. "t.te .,oc;t.er6t. co.mpleme~ttM..c::t pesqui-sobre o mest11.0 I' u ' ., ~""

    Esta questo de pesquisa foi desenvolvida por Patricia Vieira da Silva Pereira.

    I ! I 1.

    .llf!JIJJf][]jjj]J [[lllllllll POSTULADOS D PARAOIGMA INTERPRETATIVISTA

    l sa quantttati.va c::tnterior; na medtdt::t. em que poder 0 revelar dados da interao dos professores de lologm ~ """ com os seus al"ttos, tflA.e ttiio apareceriam tto5 ~-:-}f:: resultados qua~tti.tativos da primetra pesqlA.tSct P -:I['~ ""'

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    No incio do sculo XX, os princpios da pesquisa positivista de natureza quantitativa j estavam bem consolidados, especial-mente em cincias exatas, ou cincias da natureza. No entanto, alguns pesquisadores colocaram em dvida os pressupostos des-se tipo de pesquisa para as cincias do homem - cincias hu-manas ou sociais. Um deles foi o polons Bronislaw Malinowski (*1884-tl942), que era aluno de antropologia na Universidade de Oxford. Ele foi enviado por seus mestres para as Ilhas Trobriand, hoje oficialmente denominadas como Ilhas Kiriwina, situadas na Papua Nova Guin, no Oceano Pacfico, onde permaneceu um longo perodo. Durante sua permanncia entre os habitantes da ilha, que eram considerados pelos colonizadores britnicos como um povo primitivo, ele procurou descrever o modo de vida na-quela cultura. Procurou tambm entender as crenas e a viso de mundo daquele povo, combinando um longo perodo de ob-servao participante com conversas e entrevistas. Procedendo assim, Malinowski foi capaz de desenvolver uma teoria sobre o conhecimento cultural implcito dos trobriandenses, do qual eles prprios no tinham muita conscincia porque estavam comple-tamente imersos na prpria cultura. Em suma, o jovem antrop-logo conseguiu construir uma interpretao da percepo que os habitantes das ilhas tinham de seus valores culturais, seus cos-tumes, suas crenas, seus ritos, enfim, conseguiu ter acesso s perspectivas interpretativas daquele povo em relao sua vida em sociedade, sua espiritualidade e a todos os demais aspectos constitutivos de sua cultura, que ele descreveu no livro Argonau--~~f;;: lJ.S do Pacfico Ocidental, publicado em 1922.

    ~1:< ... O relatrio da pesquisa de Malinowski foi considerado por muitos :':!-:-:' . .-. como acientfico, por faltar-lhe a objetividade, que um dos preceitos h- .. ....-.

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    37

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    O PROFESSOR PESQUISADOR\ Stell;~ M;~ris Sortoni RieM do ; 111111111111111111111

    sicos da pesquisa cientfica positivista. Mas outros pensadores entende-ram que aquela experincia representava uma maneira alternativa de n-a-balhar com o conhecimento, maneira essa que era, em essncia, intcrpre-tativista e, por isso mesmo, podia levar em conta tambm as impresses subjetivas do pesquisador. Desde ento, outros pesquisadores adotaram o interprctativismo e passaram a conduzir pesquisas qualitativas. Entre eles, devemos citar Margareth Mead (*1901-tl978) da Universidade de Columbia, a quem se auibui a primeira monografia etnogrfica, produ-zida em 1928. DetxJis da Segunda Guerra Mundial, um nmero maior de etngr-afos voltou sua ateno no mais para comunidades isoladas e muito diferentes das comunidades urbanas curopeias, mas sim para ambientes educacionais. Esses pesquisadores fomm diretamente influen-ciados pelos t.tabalhos pioneiros, como os de Malinowski c Mcad.

    ~ll\ AIAVJ'---------------------------------------------------- c.,~~- ,_ :;:;.:/2. O termo etnografia foi cunhado por antroplogos no j!E)~-~~:0 fmal do sculo XIX para se referirem a monografias ~ ~ --~- _ "'.:_/,;- ;;; que vinham sendo escritas sobre os modos de vida de o.- ;~:"--;~::'_:_:~,~i.b. povos at ento desconhecidos na cultura ocidental.

    .S/(/'-./.:':'J~.J:,.~ A palavra se compe de dois radicais do grego: ethnoi, W \\ que em grego antigo significa "os outros", "os no-gre-

    gos" e grapllos que quer dizer "escrita" ou "registro". Para conduzir sua pesquisa, o etngrafo participa, durante extensos perl-odos, na vida diria da comunidade que est estudando, observando tudo o que ali acontece; fazendo perguntas e reunindo todas as infor-maes que possam desvelar as caractersticas daquela cultura, que o seu foco de estudo. Hoje em dia, as pesquisas qualitativas, espe-cialmente as pesquisas conduzidas em instituies, como presidias ou escolas, no so necessariamente desenvolvidas por extensos periodos de tempo. Quando ouvimos meno a "pesquisas etnogrfl-cas em sala de aula", por exemplo, devemos entender que se trata de pesquisa qualitativa, interpretativista, que fez uso de mtodos desen-volvidos na tradio etnogrf1ca, como a observao, especialmente para a gerao e a anlise dos dados. assim que devem ser entendi-das tambm neste livro as referncias a "etapas", "procedimentos" e "mtodos" da pesquisa etnogrfica em sala de aula.

    Antes de concluirmos esta reviso das razes intelectuais da pesquisa qualitativa, vamos ainda mencionar dois pesquisadores:

    l l

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    I

    :11111111\1\11111111111111 POSTULADOS O O PARADIGMA INTERPRETATlV!STA

    CliHord Geertz (*1926- ... 2006) lho de Geertz teve i , . I ~ Dell Hymes (*1927- ). O traba-. I nrcw a partir dos ano 1960 .

    CIC o como antropolo . b . s e ficou conhe-1 gra Sim hca Para I p as e variadas formas simb .,. . e e o estudo das mlti-

    . o 1cas de cultu. d pesquisador uma viso d 16 . d ta po em prover ao de seus membros. a gtca essa cultura do ponto de vista

    ..,_~ll\. M41J' ________________________ _

    ~c,q?:B~~;: E(~9;;1~ ::~,:;:;91~:~:,:~~~~~:;~~~:-,;~~-~;;~,;:;~~-j o- ____r ~ sustentado em redes d . ~ 0 amem um animal : ..r-=----- esiQnlficadosqueel 6 J' ~c., tece; o estudo da cultura em - . e pr prio

    ,'.IVW 111~ dessas redes" paca 1 1 . essenc1a o estudo 1 ' e e a e1tura da cult : a eitura de textos A pro 6 . ura era como : Geertz com as ide ias de p .I _P Sito compare essas ide ias de '

    I . au o Fre1re sobr 1 : e1tura das palavras. e a e1tura do mundo e a , -------

    --------------

    -------------

    Deli Hymes um sociolinguista de f . - -------que, a partir de 1962 c t b I ot maa o antropolgica d . s a e eceu as bas . Imenso da pesquisa 1. . es PIOgramticas de urna qua ltat1va denom d municao, voltada , . ma a etnografia da co-

    para a anahse dos p d - d to comunicativo em uma c lt a roes o comportamen-se sintetizar o objeto d u ura (cf. Saville-Troike, 1982). Pode-. a etnografia da c

    Simples perguntas: o q . . , omumcao com estas . ue um Individuo prec. b

    mcar-se apropriadament Isa sa er para comu-eemumacom "d d

    ou ela adquire esse saber? E um a c de fala? Como ele ssas questes c t-

    conceito educacional m . . s ao associadas a um . . Ulto m1ponante

    n1catiVa A co - . a competncia comu-. mpetencJa comunicativa - .

    o que falar e como fala- . permite ao falante saber 1 com quatsquer int 1 quer circunstncias. er ocutores em quais-

    O principal componente na ro so da noo de adequao - p b"posta de DeU Hymcs a inclu-o noam Jtodac - .. uando faz uso da lfn f - ompctencJa hngustica.

    gua, o alante nao s 1' turais dessa lngua para bt ap tca as regras estm-b b o er sentenas bem f d .

    mo serva normas de d _ onna as, como tam-a equaao definidas em sua cultura.

    "

  • O PROFESSOR PESQUISADOR [ Stclla Maris Sortoni-Ricardo : 111111111\111\111\111\11

    '"

    !.-----------------------------------------------------A competncia comunicativa de qualquer pessoa vai-se ampliando medida que se ampliam tambm o rol de ambientes em que ela interage e as tare-fas comunicativas que tem de desempenhar nesses

    ambientes. Mas na escola que o individuo tem a oportunidade de desenvolv-la de forma sistemtica e

    de agregar novos recursos comunic~tivos que lhe permitiro construir sentenas bem formadas. Sentenas bem formadas so sentenas de acordo com o sistema da Hngua. No devemos enten-der esse conceito como sendo sentenas que seguiram todas as exigncias da gramtica normativa.

    Quer saber mais sobre competncia comunicativa e recursos co-municativos? Quer entender melhor a diferena entre o conceito de sentenas bem formadas e o conceito de correo gramatical de acordo com a gramtica normativa? Ento leia o livro de Stella Maris Bortoni-Ricardo, Educao em /ingua materna. Parbola Edi-torial, So Paulo, 2004, em especial o capitulo 6: "Competncia co-municativa". Quando o aluno avana do ensino fundamental para o ensino mdio, carrega consigo uma competncia comunicativa bem desenvolvida. Mas no mbito de cada disciplina que compe o curr{culo escolar, nas sucessivas fases da escolarizao, ele ter oportunidade de conhecer novas reas de saber e incorporar vocabulrios especificas dessas reas, que agregar a seu acervo de recursos comunicativos. A forma como os professores de cada disciplina introduzem novos conceitos e terminologias, apoiando-se em ilustraes, em experimentao laboratorial ou em outros recursos um bom tema para a conduo de pesquisas qualita-tivas em sala de aula. Pode-se pesquisar, por exemplo, como os professores associam as novas informaes a conhecimentos an-teriores, inclusive os relacionados s rotinas de vida dos alunos. Foi um trabalho dessa natureza que a etngrafa Shirley Brice-He-ath, professora da Universidade de Stanford, desenvolveu com os alunos de cincias nas escolas em que ela e seus alunos de um curso de formao de professores trabalharam, como veremos nos capitulas subsequentes (Brice-Heath, 1983).

    ! I O professor pesquisador

    A ssim como os pesquisadores que pesquisam culturas estranhas sua, os pesquisadores, em especial os etn-grafos que se propem a interpretar as aes que tm lugar ~m uma escola ou em uma sala de aula comeam seu trabalho de pesqUisa procurando responder a trs perguntas:

    I. O que est acontecendo aqui? 2. O que essas aes significam para as pessoas envolvidas ne-

    las? Ou seJ'a - , quats sao as perspectivas interpretativas dos

    agentes envolvidos nessas aes? 3. Como essas aes que tm lugar em um microcosmo como.

    a sala de aula se relacionam com dimenses de naturez . l a

    macrossocta _em ~iversos nveis: o sistema local em que a escola est Insenda, a cidade e a comunidade nacional? (Erickson, 1990) .

    . Quando se volt~m para a anlise da eficincia do lrabalho peda-ggico, esses pesqUisadores esto mais interessados no processo do que no produto. Tambm no esto busca de fenmenos que tenham status de uma varivel-exp!icaa do . .

    . . o, mas s1m s S1gmficados que os ato-~es soc1a1~ envolvidos no trabalho pedaggico conferem s suas aes, tslo , esto busca das perspectivas significativas desses atores.

    Confonn~ e~plica o etngrafo Frederick Erickson (1990),. a i refa_ da pe~qmsa mterpretativa descobrir como padres de O~gahl. zaao SOCial e cultural, locais e no-locais, relacionam-se s ativid~

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