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189 Resumo Objetiva discutir alguns aspectos do processo de implantação de políticas de ação afirmativa, por meio do sistema de cotas para estudantes negros aprovado no ano de 2006, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Para o desenvolvimento da pesquisa, além de levantamento bibliográfico e coleta de dados quantitativos, foram realizadas entrevistas abertas com dois dos principais sujeitos envolvidos na aprovação do sistema: o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) e a Pró-Reitoria de Ensino/UFMA. As noções de racismo, raça e ações afirmativas são centrais nas reflexões aqui apresentadas. Ao final, sinaliza que a adoção de políticas de ação afirmativa requer inúmeras transformações nos ambientes em que se instalam, pois a sua aprovação, por mais “consensual” que seja, não garante a efetivação dos seus objetivos. Palavras-chave: ação afirmativa; negros; universidade; cotas. Ações afirmativas na Universidade Federal do Maranhão* Regimeire Oliveira Maciel R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 93, n. 233, p. 189-214, jan./abr. 2012. RBEP ESTUDOS * Este artigo, com algumas mo- dificações, é parte integrante da dissertação de mestrado “Ações afirmativas e universidade: uma discussão do sistema de cotas da UFMA”, defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2009.

Pesquisa quantitativa INEP - raça

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Publicação do INEP sobre as questões raciais no Brasil

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    Resumo

    Objetiva discutir alguns aspectos do processo de implantao de polticas de ao afirmativa, por meio do sistema de cotas para estudantes negros aprovado no ano de 2006, na Universidade Federal do Maranho (UFMA). Para o desenvolvimento da pesquisa, alm de levantamento bibliogrfico e coleta de dados quantitativos, foram realizadas entrevistas abertas com dois dos principais sujeitos envolvidos na aprovao do sistema: o Ncleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) e a Pr-Reitoria de Ensino/UFMA. As noes de racismo, raa e aes afirmativas so centrais nas reflexes aqui apresentadas. Ao final, sinaliza que a adoo de polticas de ao afirmativa requer inmeras transformaes nos ambientes em que se instalam, pois a sua aprovao, por mais consensual que seja, no garante a efetivao dos seus objetivos.

    Palavras-chave: ao afirmativa; negros; universidade; cotas.

    Aes afirmativas na Universidade Federal do Maranho*

    Regimeire Oliveira Maciel

    R. bras. Est. pedag., Braslia, v. 93, n. 233, p. 189-214, jan./abr. 2012.

    RBEPESTUDOS

    * Este artigo, com algumas mo-dificaes, parte integrante da dissertao de mestrado Aes afirmativas e universidade: uma discusso do sistema de cotas da UFMA, defendida na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo em 2009.

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    AbstractAffirmative action program in the Federal University of Maranho

    (UFMA)

    The present article aims to discuss some aspects of the process of affirmative action program policies at the Maranho State Federal University (UFMA), which culminated with the implementation of racial quotas for black students approved in 2006. In the development of the research, besides the bibliographical search and quantitative data collection, were performed open interviews with two of the main players involved in the systems approval: the Afro-Brazilian Studies Centre (NEAB), and the Undergraduate Studies Council/UFMA members. The notion of race, racism and affirmative actions are key concepts in this study. The conclusion seems to be that the implementation of affirmative action programs requires several changes in the environment where they are to be implemented because their approval, however consensual they may be, does not ensure the effectiveness of their intended goals.

    Keywords: affirmative action; black people; college; quotas.

    Os debates sobre polticas de ao afirmativa so intensificados no contexto brasileiro a partir da dcada de 1990: por mais que suas bases tenham sido lanadas por muitas aes do movimento negro brasileiro ao longo da sua trajetria, decisivamente nessa dcada que se concentra grande parte dos aspectos norteadores da elaborao e da implementao de polticas especficas em beneficio da populao negra.1

    No Brasil, as aes afirmativas podem ser caracterizadas a partir de dois aspectos: o primeiro localiza essas polticas enquanto elemento integrante da pauta de reivindicaes das diversas organizaes do movimento negro nacional; e o segundo situa tais medidas enquanto mecanismo que potencialmente pode contribuir na transformao das relaes tnico-raciais no seio da sociedade brasileira. As aes afirma-tivas adquirem esse carter quando garantem a ampliao dos debates sobre as condies nas quais se encontra a populao negra e, nesse sentido, propem-se a combater os efeitos do racismo, elemento fun-damental na definio de oportunidades e no acesso a bens e direitos por parte dessa populao.

    Nessa perspectiva, duas noes so fundamentais: a de racismo e a de aes afirmativas. A primeira abrange todas as dimenses das mani-festaes racistas na sociedade brasileira, referindo-se principalmente atuao das instituies na criao, reproduo e manuteno de prticas

    1 O deputado federal Abdias Nascimento, em 1983, props o projeto de Lei n 1.332, que pre-via uma ao compensatria para o afro-brasileiro (Moehle-cke, 2002).

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    e valores capazes de expor a populao negra a graves desigualdades. Segundo Munanga (2000, p. 24), o racismo

    [...] uma crena na existncia das raas naturalmente hierarquizadas pela relao intrnseca entre o fsico e o moral, o fsico e o intelecto, o fsico e o cultural. O racista cria a raa no sentido sociolgico, ou seja, a raa no imaginrio do racista no exclusivamente um grupo definido pelos traos fsicos. A raa na cabea dele um grupo social com traos culturais, lingusticos, religiosos, etc. que ele considera naturalmente inferiores ao grupo ao qual ele pertence. De outro modo, o racismo essa tendncia que consiste em considerar que as caractersticas intelectuais e morais de um dado grupo so consequncias diretas de suas caractersticas fsicas ou biolgicas.

    Dessa forma, o racismo no toma negativamente apenas as diferenas, mas principalmente mantm-se como mecanismo de exposio das suas vtimas a desvantagens no mundo social. A noo de aes afirmativas, por sua vez, relaciona-se explicitao dos efeitos do racismo e dos caminhos necessrios sua alterao. Neste artigo, fizemos opo pela definio de Joaquim Barbosa Gomes (2003, p. 27), que as compreende como

    [...] um conjunto de polticas pblicas e privadas de carter compulsrio, facultativo ou voluntrio, concebidas com vistas ao combate discriminao racial, de gnero, por deficincia fsica e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminao praticada no passado, tendo por objetivo a concretizao do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educao e o emprego.

    Quando pensadas para o contexto acadmico, tais polticas tm suscitado inmeros debates, e sua modalidade denominada cotas raciais tem questionado discursos e prticas dentro e fora das universidades brasileiras no que tange aos indicadores e s formas de participao da populao negra nessas instituies.

    Aqui nos propomos a discutir alguns dos aspectos relativos a essa questo a partir da experincia da Universidade Federal do Maranho (UFMA). A inteno analisar a disputa entre os sujeitos envolvidos na implementao do programa de aes afirmativas da UFMA, as articu-laes e concesses necessrias sua aprovao e os elementos que contriburam para a configurao atual do sistema de cotas na institui-o mencionada. Iniciaremos essa discusso pela exposio de alguns dados relativos presena de estudantes negros na UFMA, seguida da apresentao do contexto em que surge a proposta para a implantao das aes afirmativas, e chegaremos s repercusses da aprovao e da implantao dessas polticas.

    A presena negra na Universidade Federal do Maranho

    De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2007, o Estado do Maranho tinha uma populao estimada

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    em 6.118.995 habitantes e possua uma taxa de analfabetismo de 21,5% na faixa etria de 15 anos ou mais. Na populao considerada branca, nessa mesma faixa etria, essa taxa era de 14,8%; j para os pretos e pardos os percentuais eram de 27,9% e 22,7%, respectivamente (IBGE, 2008). No mbito do ensino superior, havia 71.898 matrculas distribudas em 28 escolas de nvel superior, sendo duas estaduais, uma federal e 25 pertencentes iniciativa privada.2

    Ao apresentar tais dados, no temos a inteno de aprofundar as inmeras questes por eles suscitadas; nosso objetivo apenas tom-los com a finalidade de chamar a ateno para a reduzida oferta de ensino superior pblico e o alto ndice de analfabetismo da populao negra. Podemos aludir que a elevada taxa de analfabetismo representa, entre outros aspectos, uma acentuada precarizao do ensino pblico sob o ponto de vista da expanso e da melhoria das escolas em todas as regies do Estado, da prpria qualidade do ensino oferecido e da falta de valorizao dos pro-fissionais da rea. Da mesma forma que as altas taxas de analfabetismo podem estar relacionadas s questes citadas anteriormente, os indicadores sobre a educao superior no Estado pautam a abrangncia reduzida da iniciativa pblica, retomando tambm o debate acerca das condies sob as quais as instituies privadas de ensino superior se instalam, permanecem e disponibilizam servios educacionais.3

    A UFMA a maior instituio pblica federal de ensino superior do Estado: tem aproximadamente 10.438 estudantes matriculados em 46 cursos de graduao, conta com 375 alunos em 11 cursos de mestrado e um de doutorado e a grande maioria dos cursos est concentrada no campus da capital So Lus. A questo da interiorizao uma cons-tante nos debates sobre a necessidade de expanso dessa instituio para outras localidades do Estado. A ampliao da sua presena nos diversos municpios vista pela administrao como uma condio essencial para a efetivao dos seus objetivos enquanto instituio financiada por toda a populao. No texto do projeto da UFMA de adeso ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (Reuni), do Ministrio da Educao, a universidade faz aluso recente poltica de incluso sociorracial adotada enquanto mecanismo de expanso:4

    [...] propomos que os investimentos no sistema pblico de ensino superior devem prever tanto polticas de ampliao do acesso quanto o fomento da permanncia de estudantes em situao de vulnerabilidade. Nosso Programa mostra que as IES, ao implementarem polticas e aes afirmativas consistentes, habilitam-se para enfrentar o secular sistema de desigualdades scio-raciais, comeando a combater sua reproduo j na dimenso do acesso Universidade, mas ampliando o combate, correspondentemente, a todos os espaos acadmicos. (UFMA, 2007, p. 39).

    A partir dessa referncia, podemos considerar que a UFMA reconhece no programa de aes afirmativas, adotado a partir de 2007, a possibi-lidade de expanso de seus campi e cursos com o intuito de atender aos diversos setores da sociedade maranhense. Entretanto, mesmo diante da

    2 Dados do IBGE a partir dos n-meros divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep) no Resumo Tcnico do Censo da Educao Superior 2007. 3 No pretendemos entrar na questo da qualidade da forma-o nas universidades privadas, mas preciso frisar que a lgica que orienta algumas dessas ins-tituies parece desconsiderar a necessidade de formao uni-versitria para alm de formao profissional. Esse um tema que tambm est presente nas dis-cusses sobre a reestruturao das instituies pblicas.4 Dados do ano de 2006 encon-trados no texto Reuni UFMA (UFMA, 2007). Atualmente, a universidade conta com 13 cursos de mestrado, trs de mestrado e doutorado e um de doutorado em rede.

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    possibilidade de seu crescimento, acreditamos que se tornam necessrios alguns questionamentos acerca da forma adquirida pelo programa aps sua aprovao. Voltaremos a essa questo na ltima seo deste artigo, antes, porm, apresentaremos alguns dados relativos presena negra na UFMA.

    No que diz respeito sua composio racial, essa universidade apre-sentava em 2002 42,8% de estudantes negros e 47% de brancos; a popu-lao negra no Estado, na poca, estava em torno de 75,1%. Esses dados so parte de uma pesquisa realizada pelo programa A Cor da Bahia, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no ano de 2002, e foram recolhidos nas Universidades Federais da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranho, do Paran e de Braslia. A anlise da distribuio dos estudantes segundo a cor e a universidade (Tabela 1) demonstrou que os brancos represen-tavam em 2002 mais da metade dos estudantes na grande maioria das universidades investigadas, enquanto o segmento populacional negro estava sub-representado, considerando seu percentual no conjunto da populao em cada Estado (Queiroz, 2004).5

    Tabela 1 Distribuio Percentual de Estudantes segundo a Cor e a Universidade

    Cor UFRJ UFPR UFMA UFBA UnB

    Branca 76,8 86,8 47,0 50,8 63,7

    Parda 17,1 7,7 32,4 34,6 29,8

    Preta 3,2 0,9 10,4 8,0 2,5

    Amarela 1,6 4,1 5,9 3,0 2,9

    Indgena 1,3 0,8 4,3 3,6 1,1

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: Pesquisa direta (Queiroz, 2004).

    Apenas na UFMA os estudantes brancos no constituem a metade do corpo discente, no entanto ultrapassam o seu percentual de representao na populao geral do Estado (Tabela 2).

    Tabela 2 Participao dos Brancos no Conjunto da Populao do Estado e sua Presena na Universidade

    Estado 1. Populao (%) Universidade 2. Populao (%)

    Rio de Janeiro 61,7 UFRJ 76,8

    Paran 76,2 UFPR 86,8

    Maranho 24,8 UFMA 47,0

    Bahia 22,1 UFBA 50,0

    Distrito Federal 45,9 UnB 63,7

    Fonte: IBGE/Pesquisa direta (Queiroz, 2004).

    5 Utilizamos os dados do ano de 2002 devido inexistncia de dados mais recentes sobre a presena de estudantes negros na UFMA. A populao negra do Maranho hoje de 73,4%, segundo o IBGE (2008).

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    Tabela 3 Participao de Negros no Conjunto da Populao do Estado e sua Presena na Universidade

    Estado 1. Populao (%) Universidade 2. Populao (%)

    Rio de Janeiro 38,2 UFRJ 20,3

    Paran 22,4 UFPR 8,6

    Maranho 75,1 UFMA 42,8

    Bahia 77,5 UFBA 42,6

    Distrito Federal 53,6 UnB 32,3

    Fonte: IBGE/Pesquisa direta (Queiroz, 2004).

    Observando a Tabela 3, verificamos que significativa a distncia na representatividade dos brancos em relao aos negros no conjunto geral da populao em cada Estado e sua participao na instituio de ensino superior. Em sntese, nas universidades pesquisadas, os estudantes negros representam um nmero bem menor se levarmos em conta a sua participao na populao de cada Estado.

    Apesar da inexistncia de dados quantitativos e qualitativos atualizados que demonstrem os nveis de participao da populao negra na UFMA, identificando, por exemplo, em quais reas de conhecimento ela est mais representada nos ltimos anos, necessrio levar em conta que a participao dessa populao continua inferior sua proporo na populao do Estado e est concentrada nas reas consideradas de baixo prestgio social e de mais rpido acesso ao mercado de trabalho.6

    Os dados anteriormente mencionados serviram para subsidiar a discusso das polticas de ao afirmativa na UFMA, por isso, nesta reflexo, levaremos em considerao suas contribuies para a implan-tao dessas polticas na referida instituio.

    De maneira geral, para a compreenso da dinmica das aes afirmativas na UFMA, partimos da hiptese de que foi estabelecida uma disputa entre os principais atores envolvidos e que preciso apreender o grau de investimento de cada um na conduo dos debates e no encaminhamento final da proposta. Assim, discutiremos, de um lado, a forma e o carter de algumas aes empreendidas pelo Ncleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) enquanto proponente das polticas de ao afirmativa e, de outro, os desdobramentos da reao dos vrios se-tores da administrao universitria proposta apresentada. A inteno , portanto, verificar o resultado dessa disputa na caracterizao final do projeto aprovado e implementado.

    O contexto das aes afirmativas na UFMA

    Em 2004, a exemplo de outras universidades pblicas, iniciou-se na UFMA o processo de discusso para a adoo de medidas que

    6 Esta suposio tem por base o trabalho de Queiroz (2004).

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    contribussem, de forma geral, para a alterao de desigualdades raciais no interior da instituio e permitissem, entre outros aspectos, o aumento do percentual de estudantes negros nos seus cursos de graduao.7 A elaborao da proposta foi conduzida por pesquisadores que integram o Neab, ncleo formado, em sua maioria, por professores e estudantes dos cursos de graduao e ps-graduao da UFMA e que se caracteriza como um grupo que desenvolve pesquisas acadmicas voltadas para os estudos das populaes afro-brasileiras em suas diversas perspectivas. A dinmica dos estudos desenvolvidos pelo Neab e o papel poltico por ele assumido na referida universidade o aproximou dos debates sobre polticas focalizadas para a populao negra e contribuiu para a definio dos eixos do programa de aes afirmativas da UFMA.

    Os pressupostos para elaborao da proposta do programa de aes afirmativas para a UFMA esto, na nossa avaliao, em dois fatores que sustentam os principais argumentos favorveis e as justificativas para implantao dessas polticas na sociedade brasileira: o primeiro envolve a noo de compensao, referindo-se aos prejuzos causados populao negra no decorrer da histria do Pas, e o segundo chama a ateno para a necessidade de enfrentar as diversas facetas do racismo cotidianamente experimentado por essa populao.

    No primeiro, temos as discusses sobre o papel do passado na configurao atual da sociedade brasileira; trata-se da compreenso do perodo escravocrata enquanto processo que subjugou amplamente a populao negra. A escravido e os demais processos desencadeados por ela seriam, dessa forma, responsveis pelos danos materiais e simblicos causados a essa populao. Esse aspecto faz referncia, sobretudo, din-mica adquirida por esse passado nas condies atuais de vida da populao brasileira. Todavia, passa a considerar tambm outros prejuzos causados no presente no necessariamente atrelados ao passado escravocrata.

    O segundo fator apresenta-se como um desdobramento do primeiro. A compreenso do racismo tomado como foco para anlise das condies de vida da populao negra no pode ignorar as repercusses do passado para essa populao, entretanto preciso identificar as condies que permitem ao racismo atuar cotidianamente na definio das trajetrias dos sujeitos negros. No se trata de uma relao simples de causa e efeito, mas de um fenmeno que tem nos aspectos que definem o pertencimento racial a principal razo para se desenvolver. As polticas de ao afirmativa, nesse caso, tomam como ponto de referncia a necessidade de minimizar a atuao do racismo na definio de oportunidades, como no acesso ao ensino superior, por exemplo.

    Dessa forma, as discusses que abarcam os dois fatores apresentados localizam as desigualdades e passam a relacion-las conotao negativa atribuda aos elementos que referenciam o pertencimento racial. O que justificaria a adoo de aes afirmativas, em diversas instncias, seria a existncia de uma estrutura de poder que produz e alimenta o racismo, provocando desigualdades que no podem ser amenizadas por meio das chamadas polticas universalistas ou de medidas que apenas probam a

    7 A Universidade do Estado da Bahia, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universi-dade do Norte Fluminense foram as primeiras a adotar polticas de ao afirmativa para estudantes negros.

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    discriminao racial. Podemos encontrar parte desse raciocnio em Gomes (2003, p. 29), quando considera que:

    Em regra geral, justifica-se a adoo das medidas de ao afirmativa com o argumento de que esse tipo de poltica social seria apta a atingir uma srie de objetivos que restariam normalmente inalcanados caso a estratgia de combate discriminao se limitasse adoo, no campo normativo, de regras meramente proibitivas de discriminao.

    As aes afirmativas tm sua validade atestada, assim, pela necessidade de desmantelamento ou pelo menos de enfrentamento de uma estrutura que impe a um importante segmento da sociedade brasileira oportunidades desiguais de todas as ordens. A formalizao jurdica da proibio do racismo no impediu a sua manifestao e, principalmente, no impediu a produo de resultados desvantajosos para esse segmento.

    H, ainda, um fator, com alguns desdobramentos, que se soma aos anteriores na caracterizao das aes afirmativas na sociedade brasi-leira: a intensificao da luta antirracista no Pas (Carvalho, 2003, 2006). Essa intensificao pode ocorrer na medida em que o debate sobre a importncia das polticas de ao afirmativa retoma alguns elementos sobre o entendimento do carter das relaes entre negros e brancos no Brasil, recolocando os seus aspectos, na maioria das vezes, a partir de dois questionamentos: a abrangncia do racismo e as possibilidades de identificao dos beneficirios dos programas de ao afirmativa.

    De forma geral, a frequncia com que essas questes tm sido tratadas confirma que o reconhecimento da existncia do racismo enquanto fenmeno que estrutura relaes ainda problemtico. Nesse debate, dois pontos devem ser considerados: primeiro, questionar a existncia do racismo no admitir que foram designados aos negros os piores lugares na esfera social, como tm apontado, inclusive, diversos indicadores socioeconmicos; depois, alegar dificuldade para identificar os beneficirios das aes afir-mativas ignorar os aspectos nos quais a discriminao racial se inscreve. Porm, esses questionamentos tm dado novo vigor s lutas empreendidas para superao do racismo medida que as aes afirmativas foraram a explicitao e o enfrentamento de tais questes.

    Essas motivaes, argumentaes e questionamentos compuseram os debates instaurados internamente no Neab acerca da necessidade de aes afirmativas na UFMA. Alm dos aspectos apresentados, que se tornaram referncias importantes para esse processo, h ainda marcos especficos para a discusso, a elaborao e a implantao dessas polticas no interior da UFMA, entre eles a discusso das experincias acumuladas por algumas instituies ao implantarem programas de ao afirmativa para estudantes negros e os debates desencadeados pelo III Congresso de Pesquisadores(as) Negros(as) (Copene), realizado em So Lus em 2004.

    Em relao ao primeiro aspecto, h pelo menos duas experincias de aes afirmativas em universidades que estimularam o Neab a fomentar os debates na UFMA: as experincias da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e as da Universidade de Braslia (UnB).8

    8 Os(as) professores(as) Jos Jorge de Carvalho (UnB), Joclio Santos (UFBA), Valter Silv-rio (UFSCar), Andria Lisboa (Secad-MEC), Ana Lucia Valente (UnB), Wilson Matos (Uneb), entre outros(as), estiveram em atividades organizadas pelo Neab a respeito das polticas de ao afirmativa na UFMA.

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    A Uneb, juntamente com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universidade do Norte Fluminense, considerada pioneira na discusso e aprovao de um sistema de reservas de vagas para estudantes negros. Em 18 de julho de 2002, o Conselho Universitrio aprovou um percentual mnimo de 40% das vagas dos cursos de graduao e ps-graduao da Uneb para candidatos afrodescendentes oriundos de escola pblica, e o primeiro vestibular com cotas foi realizado no ano de 2003. Mattos (2004, p. 191), tomando como referncia esse processo seletivo e na tentativa de discutir os argumentos que questionam a capacidade dos estudantes cotistas para acompanhar as atividades acadmicas, informa-nos que:

    Com exceo do Departamento de Tecnologia e Cincias Campus III, departamento em que, no cmputo geral, os estudantes que ingressaram atravs do Sistema de Cotas obtiveram um rendimento mdio 0,3 pontos abaixo de 7,0 (sete) nota mnima exigida individualmente para a aprovao nas disciplinas -, em todos os demais departamentos as mdias das notas obtidas pelos estudantes em todos os cursos e respectivas disciplinas posicionaram-se ligeiramente acima da nota mnima.

    A realizao de um levantamento ratificando que os estudantes cotistas atendem s condies para fazer um curso de nvel superior integra um conjunto de indicadores para programas de ao afirmativa em outras instituies, possibilita a avaliao do desenvolvimento dessas polticas na Uneb, alm de sinalizar o quanto as cotas podem alterar as distores no acesso universidade pblica: [...] o mais importante a possibilidade de confirmarmos atravs de dados objetivos que o sis-tema de cotas tem se demonstrado acertado como um eficaz corretor da desigualdade racial de acesso ao ensino superior (Mattos, 2004, p. 193).

    Na UnB, o processo de discusso acerca da necessidade de polticas especiais para a populao negra na universidade foi intenso, contudo a instituio decidiu em 2003, e passou a adotar a partir de 2004, que 20% das suas vagas seriam destinadas a estudantes negros por meio do Plano de Metas de Integrao Social, tnica e Racial da UnB, definido como

    [...] um conjunto de medidas que pretendem gerar na UnB uma composio social, tnica e racial capaz de refletir minimamente a situao do Distrito Federal e a diversidade da sociedade brasileira como um todo. O fundamento supremo do Plano de Metas o propsito de promover a incluso social de negros e indgenas por meio do acesso ao ensino superior, em um contexto de Polticas de Ao Afirmativa. (Unb, [2003]).

    A UnB foi a primeira universidade federal a adotar polticas desse cunho. O processo de discusso e aprovao das aes afirmativas ga-nhou repercusso nacional e estimulou o debate para alm da esfera acadmica, chamando a ateno para os ndices elevados de desigualdade entre negros e brancos no ensino superior brasileiro. No texto submetido aprovao do conselho essas questes esto amplamente colocadas, com a argumentao de que

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    [...] no mais possvel, em 2002, continuar discutindo a questo da ausncia dos negros do ensino superior como se o assunto girasse exclusivamente em torno de qualificao e mrito pessoal. Ns, membros da comunidade acadmica que nos guiamos pelas evidncias da pesquisa emprica, possumos agora conhecimento objetivo de que os negros esto ausentes da universidade como consequncia de um mecanismo estrutural de privilegiar os brancos. E onde h privilgio racial no h universalismo. Diante disso, ou modificamos nossos critrios de acesso para inverter esse mecanismo automtico de favorecimento aos brancos ou contribuiremos - agora sem a desculpa do desconhecimento - para a perpetuao da excluso secular do negro do ensino superior no Brasil. (Carvalho, Segato, 2002, p. 17).

    Outro aspecto que marcou a implantao das aes afirmativas na UFMA foi a organizao e realizao do III Copene. Na fala do professor doutor Carlos Benedito Rodrigues da Silva, coordenador do Neab, observamos a referncia ao congresso como importante marco para as discusses das aes afirmativas na UFMA:

    [...] aqui, em 2003, ns comeamos a discutir a organizao do III Congresso de Pesquisadores(as) Negros(as) Copene. [...] em 2000, comeam a acontecer os Congressos de Pesquisadores(as) Negros(as) e a as propostas. Uma das propostas do Copene era exatamente de ampliar a presena negra, de intelectuais negros nas universidades atravs de um programa de ao afirmativa, e as discusses giravam no s em torno da graduao, mas tambm da ps-graduao, dos concursos para professores, etc. Ento algumas universidades comeam a elaborar programas pra implementao de cotas nas graduaes [...].9

    Portanto, alm da anlise das repercusses das aes afirmativas nas primeiras universidades a adot-las, as discusses que envolveram a organizao e a realizao dos Congressos de Pesquisadores(as) Negros(as) (Copene) a partir de 2000 impulsionaram os primeiros passos dos debates sobre aes afirmativas na UFMA. Mais precisamente, a realizao do III Copene em So Lus, de 5 a 8 de setembro de 2004, com o tema Pesquisa social e polticas de ao afirmativa para afrodescendentes, que passa a responsabilizar o Neab pelo processo de intensificao das discusses internas sobre tais polticas. A mobilizao para a organizao do III Copene e as atividades transcorridas durante o evento possibilitaram aos pesquisadores do Neab contato com outros estudiosos das relaes tnico--raciais, alm do aprofundamento de questes relativas necessidade e s justificativas das aes afirmativas no contexto brasileiro.

    Aps o III Copene, o Neab passou a desenvolver aes internas e externas com a finalidade de expor as razes e os objetivos das aes afirmativas na UFMA. Nesse processo, o ncleo realizou seminrios, props mini-cursos e mesas-redondas nos eventos locais, alm de solicitar reunies setoriais com a finalidade de apresentar universidade a estrutura geral do programa de ao afirmativa.10

    Entre essas aes destaca-se o seminrio realizado para apresentao da verso final da proposta de ao afirmativa. O evento, intitulado Aes afirmativas para alm das cotas: seminrio para implantao de

    9 Entrevista concedida em 6 de fevereiro de 2009, na sede do Neab/UFMA, em So Lus, Estado do Maranho.10 Alm de realizar mesas envol-vendo os segmentos docente, discente e administrativo da universidade, o Neab apresentou a proposta em alguns rgos colegiados dos Centros de Cin-cias Humanas, Sociais, Exatas e da Sade.

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    um programa de ao afirmativa na UFMA, realizado com o apoio do Departamento de Sociologia e Antropologia dessa instituio, ocorreu de 29 a 31 de agosto de 2006 e teve como objetivo a apresentao do contedo geral da proposta j debatida em alguns setores da universidade. Para a exposio das questes relativas ao projeto, foram escolhidos palestrantes representando o Neab, a administrao superior e o sindicato de professores da UFMA. O evento tambm contou com as contribuies do professor Joclio Santos, da Universidade Federal da Bahia, e da pro-fessora Andria Lisboa, poca representando a Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad), do Ministrio da Educao. O seminrio teve cerca de 600 participantes e, do ponto de vista da quantidade de ouvintes, foi considerado o maior.

    [...] ns organizamos esse seminrio, Aes Afirmativas para alm das cotas, com a inteno de elaborar um programa que no fosse s as cotas percentuais; que fosse um programa de ao afirmativa com acesso e permanncia, com melhorias no sistema de transporte, na alimentao, com bolsas para pesquisa. Enfim, que os estudantes que entrassem pelo sistema de cotas tivessem possibilidade de permanecer na universidade e sair dela com qualificao, com uma formao qualificada.11

    Paralelamente a esse processo e de forma mais intensa aps o seminrio do ms de agosto de 2006, o Neab passou a dialogar diretamente com a administrao da universidade na preparao para a votao do projeto no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso (Consepe). nesse momento que a administrao da UFMA apresenta a inteno de incluir no programa de ao afirmativa vagas especficas para indgenas e para pessoas portadoras de necessidades especiais. Essa incluso ocorreu aps alguns ajustes no texto do projeto.12

    Em geral, a proposio de aes afirmativas na UFMA orientou-se pelo teor do debate em mbito nacional, que parte do reconhecimento dessas iniciativas como mecanismos de correo de distores histricas as re-ferncias que marcaram o processo da UFMA sintetizam essa perspectiva. O Neab, ao levantar e defender os principais aspectos que justificaram a formulao do programa de aes afirmativas, precisou lidar, ao mesmo tempo, com a necessidade de contemplar essas motivaes mais amplas e com os desafios de escolher estratgias que garantissem a efetivao dos objetivos desse tipo de poltica, respeitando as especificidades da UFMA e do Estado do Maranho.

    A aprovao das cotas na UFMA

    Aps quase trs anos de intenso debate nas esferas administrativa e acadmica, o Neab sistematizou, na segunda metade do ano de 2006, uma proposta de programa de aes afirmativas caracterizada por [...] um conjunto de aes necessrias ao acesso, permanncia e convivncia de alunos egressos de escola pblica, negros, indgenas e portadores de

    11 Professor Carlos Benedito Rodrigues da Silva, entrevista concedida em 6 de fevereiro de 2009. 12 Nessa fase de mobilizao para aprovao de um programa de ao afirmativa para a UFMA, um aspecto se sobressai: a qua-se ausncia das organizaes do movimento negro do Estado no referido processo. Apenas a Organizao Conscincia Negra (Cnegra) participou de forma mais direta das discusses e depois passou a constituir a co-misso encarregada do desenvol-vimento das etapas necessrias implementao do programa.

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    necessidades especiais na Universidade Federal do Maranho. Nessa perspectiva, os objetivos do programa foram assim estabelecidos:

    I - promover as condies institucionais necessrias ao acesso, permanncia e convivncia dos estudantes de escola pblica, negros, indgenas e portadores de necessidades especiais por meio do ingresso pelo sistema de cotas, alm de otimizar as condies socioeconmicas e acadmicas que lhes permitam o aproveitamento integral do espao universitrio.II - fornecer critrios objetivos de avaliao e acompanhamento do Programa institudo e, sobretudo, oferecer condies concretas construo de cultura universitria democrtica e pluralista no Estado do Maranho.13

    Em outubro de 2006, a UFMA aprovou, no seu processo seletivo, percentuais especficos para as seguintes categorias: negros, indgenas, portadores de necessidades especiais e oriundos de escola pblica. Do total de vagas disponveis em cada processo, 50% deveriam ser destinadas modalidade cotas, sendo 25% para alunos que se autodeclarem negros, sem considerar a sua origem escolar, e 25% para os egressos de escolas pblicas, independentemente do seu pertencimento racial.14 Para os indgenas e para os portadores de necessidades especiais foi reservada uma vaga por curso e por semestre em cada vestibular. Essa foi a configurao do sistema de cotas aprovado unanimemente pelo Consepe em 31 de outubro de 2006.15 Entretanto, ao analisar essa etapa do processo de aprovao, o professor Carlos Benedito Rodrigues da Silva considera que,

    [...] pelo fato de existir uma predisposio, pelo menos uma sensibilizao maior do reitor Fernando Ramos, que defendia o programa, acho que isso mexeu muito com os outros conselheiros; a votao se deu um pouco por conta do Fernando Ramos, acho que por uma leitura equivocada dele de que a gente estava muito apoiado pelo movimento negro [...] Eles tinham a temeridade de que, caso no aprovassem, acontecesse uma reao muito grande do movimento negro contra a universidade. Era uma leitura equivocada, porque a gente no tinha esse apoio, mas foi com o que a gente jogou. Na verdade o movimento negro no estava presente, a gente estava sozinho como continuamos at agora. Enfim, o que estamos vivendo agora o reflexo da; o pessoal aprovou talvez por constrangimento, com certeza no por concordar com o programa, especialmente na rea da sade, l a reao sempre foi maior. [...] o fato de ter sido aprovado a gente considerou um fato muito importante [...] sem duvida foi uma vitria da gente, mas que ficou pela metade porque o programa, a proposta no era cota percentual, os percentuais foram aprovados, mas no era s isso que a gente queria, ns queramos a aprovao de um programa e ns elaboramos um programa detalhado com ampliao das bibliotecas, de discusso e reformulao curricular, de incluso da discusso sobre relaes raciais nos currculos, nas licenciaturas principalmente, enfim a gente fez uma proposta bastante ampla. Mas a no aprovao [...] refletiu nos encaminhamentos do processo que at hoje est emperrado. Ns j tivemos vrias discusses sobre a minuta de resoluo e essa resoluo no foi reformulada, avaliada [...] A gente j respondeu a vrias questes e ela nunca foi submetida aprovao nos conselhos.16

    Assim, na etapa de aprovao das cotas na UFMA, um elemento se destaca: a forma, j anunciada desde o momento de discusso, como a

    13 Trecho retirado da proposta de minuta que ainda hoje tramita pela universidade.14 No texto da proposta do Neab e no edital do primeiro vestibular, o percentual deveria ser destinado aos negros passveis de sofrerem discriminao racial. A partir do terceiro vestibular, a universida-de passou a exigir que os candi-datos s vagas da categoria negro tivessem cursado os trs anos do ensino mdio em escola pblica ou tivessem estudado ou fossem estudantes de escola privada com mensalidade de at R$ 150,00.15 Nessa mesma sesso, a UFMA extinguiu o Processo Seletivo Gradual (PSG) e aprovou trs no-vos cursos, alm da ampliao do nmero de vagas para todos os cursos de graduao oferecidos.16 Entrevista concedida em 6 de fevereiro de 2009.

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    universidade negociou o encaminhamento da proposta. As discusses foram intencionalmente conduzidas pela administrao superior para que resultassem na aprovao parcial do projeto original. Com a votao unnime no conselho, aprovou-se somente o acesso, ficando assegurado que, no vestibular seguinte, no ano de 2007, os percentuais ali definidos seriam aplicados de maneira a permitir o acesso dos estudantes mencio-nados anteriormente. Mesmo considerando que na seo de aprovao do acesso tenha sido criada uma comisso para estudar a aprovao do programa na sua totalidade, a avaliao era de que no se avanou exatamente nas outras aes que, em tese, garantiriam o sucesso das aes afirmativas.

    Porm, antes de seguir analisando os primeiros rumos da implementao das aes afirmativas na UFMA, gostaramos de discutir duas questes a partir das informaes j explicitadas enquanto marcos e subsdios para a definio do contedo da proposta apresentada.

    O Copene, como j demonstramos, torna-se um marco importante para o processo acima descrito. Todavia, mesmo reconhecendo a impor-tncia dos desdobramentos desse congresso reunio poltica e cientfica composta por pesquisadores de todo o Pas , necessrio avaliar que a aprovao das cotas raciais na UFMA, na forma exposta, representou o esforo de um grupo restrito de professores e estudantes em torno de uma questo que deveria interessar comunidade acadmica em geral esse o primeiro ponto. Nesse sentido, parece interessar s instituies de ensino superior mesmo com contribuies, numa perspectiva contrria, prestadas por intelectuais negros e brancos ao longo de dcadas um distanciamento dos principais elementos que configuram os conflitos e as demandas relacionadas formao da sociedade brasileira. Permitir o acesso de um determinado nmero de estudantes negros s instituies pblicas de ensino superior, marcadas pela quase ausncia desses e produ-toras de um conhecimento cientfico indiferente aos aspectos sociorraciais responsveis pela formao do Pas, significa dar um passo mnimo para a alterao dessas condies.

    As polticas de ao afirmativa so atacadas, portanto, principalmente por contestarem uma histria que incentiva o Pas a tornar-se indiferente aos seus prprios construtores. De forma mais profunda, a negao do racismo, dos seus efeitos e dos elementos que o produzem que devemos tomar para analisar a resistncia s aes afirmativas e, consequetemente, essa indiferena necessidade de repensar, de modo especfico, a es-truturao da universidade no Brasil. As cotas raciais, desse modo, vo contra uma composio acadmica que legitima a existncia apenas de uma verso da histria brasileira.

    Uma outra questo, enquanto marco para a definio do contedo da proposta de aes afirmativas na UFMA, diz respeito forma adotada na discusso das polticas de ao afirmativa nessa universidade. Seguindo o caminho de outras instituies, esse processo foi orientado principalmente pelas justificativas histricas para a sua implantao. Nesse sentido, ob-servamos que os debates sobre tais medidas quase sempre assumem um

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    carter explicativo. Os expositores tomam a responsabilidade de apresentar os elementos que justificam a necessidade das polticas e de discutir os argumentos favorveis e contrrios sua implementao. A forma de lidar com essa complexa discusso parece uma resposta antecipada aos vrios ataques enfrentados por tais iniciativas. Reconhecemos que, considerando o curto espao de tempo em que se intensificaram os debates e certo grau de alheamento por parte da grande maioria da populao em relao s aes afirmativas no Brasil, torna-se necessria tal dinmica. Notamos, porm, a partir da experincia da UFMA, que a deciso de discutir poltica de cotas para estudantes negros, por exemplo, seguindo essa orientao, pode resultar num efeito distinto do esperado pelos seus agentes h de se considerar a necessidade de discusso minuciosa nesses casos.

    Entretanto, a insistncia por parte de alguns setores para a compreenso de determinados aspectos da poltica proposta pode ser tomada como uma tentativa de protelar um processo que pode seguir mais rapidamente. Assim, argumentar contrariamente s polticas de ao afirmativa pode ser um caminho encontrado, inclusive pelas direes das universidades pblicas, para adiar o cumprimento de uma responsabilidade historicamente colo-cada. O que argumentamos que algumas das dificuldades encontradas nos processos de adoo de cotas no ensino superior tm a ver com esse adiamento intencionalmente construdo. A necessidade de discusso das motivaes para adoo de polticas de ao afirmativa no deve ser confun-dida com a inteno de comprovar exaustivamente que a populao negra est exposta a um quadro de injustias e de desigualdades.

    No queremos, no entanto, com essas observaes, julgar desnecessrias as vrias investidas para a divulgao e discusso das justificativas e dos argumentos relativos s aes afirmativas, mas apenas chamar a ateno para o fato de nos encontrarmos numa fase decisiva para a implantao e o pleno desenvolvimento dessa poltica, inclusive avaliando seus primeiros impactos. Porm, muitas vezes, empreendemos esforos para responder aos sujeitos interessados apenas no atraso da implantao dessas medidas.

    Ainda tomando como referncia essa segunda questo, podemos dizer que nos encontramos num momento de intensificao da discusso acerca dos efeitos das aes afirmativas a partir da seguinte pergunta: Quais so as principais transformaes do contexto acadmico, a partir das experincias j implementadas, possibilitadas pela poltica de cotas para estudantes negros? Mais ainda: Em quais limites essas experincias tm esbarrado do ponto de vista oramentrio, curricular, etc.? Essas so questes fundamentais para pensar a efetivao da ao afirmativa enquanto iniciativa fortemente compromissada com a reviso das bases do saber acadmico e com a produo de saberes voltados minimizao dos efeitos do racismo existente no Pas.

    Essas indagaes, portanto, ilustram os principais desafios a serem enfrentados no atual contexto dos estudos das relaes raciais no Brasil e, especificamente, na adoo de aes afirmativas. Para Zoninsein (2006, p. 72-73),

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    a maximizao dos benefcios lquidos das AA ser restringida pela magnitude das preferncias dadas aos afrodescendentes (o tamanho das cotas, por exemplo), pela extenso das suas desvantagens socioeconmicas e educacionais, pelo grau de resistncia das comunidades acadmicas, pelo volume do investimento que o governo e a sociedade civil querem e so capazes de mobilizar, assim como pela natureza dos procedimentos institucionais usados para implementar tais polticas.

    Nesse sentido, as estratgias utilizadas para discusso e implantao de aes afirmativas devem fazer frente s resistncias que se antecipam na forma de argumentaes tericas e polticas e s tentativas de desqua-lificao pela negao dos meios necessrios efetivao dessas polticas. No contexto acadmico, por exemplo, a sua adoo deve ser encarada como um mecanismo que possibilite a alterao desse ambiente, pois parece no fazer sentido implantar aes afirmativas nas universidades e manter estruturas financeiras, curriculares, etc., incompatveis com os seus objetivos e as demandas.

    A implantao das cotas na UFMA

    O contedo do sistema de cotas adotado pela UFMA, de forma geral, ficou restrito s alteraes no vestibular. Os percentuais de 25% para negros, outros 25% para oriundos de escola pblica e as vagas por curso e por semestre para indgenas e portadores de necessidades especiais so resultados da disputa entre os proponentes e a administrao da universidade. O ento reitor, declarando-se favorvel adoo das aes afirmativas, assumiu o papel de conciliador entre os interesses do Neab e as resistncias dos demais membros da administrao superior o resultado dessa disputa atendeu, em certo sentido, aos dois lados. A incorporao das cotas para negros no vestibular simbolizou para os defensores das aes afirmativas um avano no processo de democra-tizao da UFMA; por outro lado, a no aprovao do programa de ao afirmativa proposto representou para a universidade, na nossa avaliao, a possibilidade de redirecionamento dos principais eixos do projeto a partir dos seus interesses.

    Assim, para o Neab, o vestibular com cotas passou a simbolizar, em parte, um dos aspectos da chamada expanso do ensino superior: o aumento do percentual de estudantes social, tnico e racialmente des-favorecidos em uma universidade pblica. Outra leitura aceitvel a de que a atuao da administrao da UFMA nesse processo resultou na concesso apenas de parte do que era indispensvel; o possvel parece ter sido obtido por constrangimento, apenas com o objetivo de inserir a universidade no contexto da chamada incluso sociorracial. Entretanto, em entrevista, o pr-reitor de ensino, professor Aldir Arajo Carvalho Filho, respondendo sobre os significados das cotas na UFMA, assegura que essas iniciativas

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    significam identificar e proclamar publicamente que a universidade valoriza a diversidade. Ela reconhece as injustias sociais e se empenha em alterar esse estado de coisas. Resgata as dividas histricas da sociedade brasileira com os desfavorecimentos, seja por razes de etnia, de cor de pele, seja por origem tnica, no caso indgena, seja desfavorecimento por deficincia fsica ou de qualquer outra natureza, e, principalmente o desfavorecimento econmico. Ento a universidade federal proclama republicanamente o direito universal educao e que, portanto, todos tm que ter igualdade de oportunidades no acesso. Ento polticas de cotas na universidade so fundamentalmente uma afirmao inequvoca nessa crena no direito igualdade de oportunidade de acesso educao, no s no ingresso, mas tambm na permanncia.17

    Com essa referncia, queremos destacar a forma como o pr-reitor de ensino, representante da UFMA, trata a questo das aes afirmativas e os aspectos que contriburam para sua aprovao parcial. No trecho anterior da entrevista parece no existir dvida quanto necessidade de medidas especficas para determinados segmentos da sociedade brasileira. Porm, observada a trajetria das aes afirmativas na UFMA, conclumos que no se efetivaram as impresses a respeito dessas iniciativas enquanto polticas que podem nivelar oportunidades.

    luz desses aspectos, passemos apresentao das caractersticas do sistema de cotas aprovado pela UFMA. Da seo de aprovao saiu uma comisso formada por representantes do Neab, da Pr-Reitoria de Ensino (Proen), da Organizao Conscincia Negra (Cnegra), da Associao de Professores da UFMA (Apruma), do Diretrio Central dos Estudantes (DCE) e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso (Consepe) para elaborar uma proposta de resoluo a partir daquela apresentada pelo Neab. Essa comisso foi oficialmente instituda pela reitoria da universidade, e das discusses travadas resultou uma minuta que, por diversas razes, ainda no foi posta em votao.18

    Na ausncia de uma norma permanente como consta na proposta de minuta no aprovada que oriente a etapa do ingresso, a cada ano a universidade tem acrescentado ou retirado elementos quase sempre sem qualquer discusso prvia com os segmentos interessados no acompanhamento do sistema.19

    De maneira geral, os vestibulares tm ocorrido com as seguintes orientaes: no ato da inscrio, o candidato indica em qual categoria de-seja concorrer; caso indique que deseja concorrer a vagas destinadas aos estudantes negros, deve declarar-se enquanto tal e apresentar fotografia, alm de concordar em participar de uma entrevista com a Comisso Especial de Validao de Opo, a fim de efetivar a sua inscrio. Essa comisso , no que diz respeito avaliao dos candidatos negros, geral-mente composta por representantes do Neab, do movimento negro e do Ncleo de Eventos e Concursos (NEC), rgo responsvel pela execuo do vestibular, averiguao da documentao enviada pelo candidato e sua convocao para entrevista, que tem por objetivo expor aos candidatos convocados o carter das aes afirmativas na UFMA, bem como suas motivaes e objetivos.

    17 Entrevista concedida em 4 de fevereiro de 2009. No perodo de aprovao do sistema de cotas, o professor Aldir ainda no era o pr-reitor de ensino da UFMA.18 A mudana na administrao da UFMA, associada ao fato da aprovao parcial do projeto inicial, parece ter comprometi-do o processo de aprovao da minuta.19 No primeiro vestibular, por exemplo, a universidade se sentiu autorizada a exigir dos candidatos negros uma suposta declarao escrita que compro-vasse a experincia de discri-minao racial. Tendo nos anos seguintes rendido inmeros problemas, essa declarao, sob a presso do Neab, deixou de ser uma exigncia. Na descrio da forma como ocorre o acesso, nos deteremos aos aspectos que en-volvem o acesso dos estudantes que se declaram negros.

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    Nesse contexto reside a argumentao de que as aes afirmativas, no caso da UFMA, so polticas voltadas para as vtimas da discriminao racial. A entrevista, dessa forma, no cumpre a funo de examinar se o candidato negro ou no, mas de assegurar que os estudantes ne-gros vtimas da discriminao racial sejam os beneficirios das cotas no vestibular. O papel da comisso, portanto, o de tentar conciliar auto e heteroclassificao, levando em conta, por exemplo, os elementos a partir dos quais a discriminao racial se manifesta.20

    Com a finalidade de discutir alguns elementos relativos ao perfil dos estudantes negros ingressantes pelo sistema de cotas, tomaremos alguns dados do vestibular do ano de 2008.21 A inteno no avaliar as repercusses provocadas pelo vestibular com um percentual destinado a estudantes negros, mas apenas indagar alguns itens que orientaram as reivindicaes por cotas na universidade em questo.

    No processo seletivo dos alunos ingressantes em 2008, conforme a Tabela 4, de um total de 13.208 candidatos para todas as categorias, 3.041 se inscreveram para concorrer s vagas destinadas aos estudantes negros nesse mesmo ano. No entanto, apenas 1.995 tiveram suas ins-cries efetivadas, de acordo com as exigncias do edital que orientou o processo, e 444 foram aprovados para um total de 313 vagas disponveis em todos os campi da universidade.22

    Tabela 4 Origem Escolar dos Estudantes Cotistas Negros

    Candidatos inscritos

    Candidatos efetivados

    Candidatos aprovados

    Origem Escolar

    3.041 1.995 444

    Escola Inscritos Aprovados

    Pblica 1.118 238

    Privada 848 199

    Fonte: Universidade Federal do Maranho Ncleo de Eventos e Concursos 2009.

    No que diz respeito origem escolar, h uma ligeira maioria de ins-critos e aprovados provenientes da escola pblica. Entre os aprovados, cerca de 54,46% so oriundos de escola pblica, e, na verificao de sua renda familiar, observamos que 53,09% possuem renda na faixa de 1 a 3 salrios mnimos (Tabela 5).

    Tabela 5 Renda Familiar dos Estudantes Cotistas Negros

    Renda

    Faixa (salrios mnimos) Inscritos Aprovados

    De 1 a 3 1.140 232

    De 3 a 5 465 118

    De 5 a 10 256 62

    De 10 a 20 74 19

    Acima de 20 31 06

    Fonte: Universidade Federal do Maranho Ncleo de Eventos e Concursos 2009

    20 Com a adeso da UFMA ao Exame Nacional do Ensino Mdio (Enem), em 2009, esse processo passou por alteraes.21 Fizemos opo por esse pro-cesso considerando uma signifi-cativa sobra de vagas no primeiro vestibular por conta, entre outros aspectos, da divulgao incipien-te do novo formato do vestibular.22 Dados disponibilizados pelo Ncleo de Eventos e Concursos (NEC) aps solicitao. H uma divergncia nos dados: o total de aprovados para o percentual destinado aos estudantes negros (444) no coincide com o total de aprovados considerando a discriminao por renda e ori-gem escolar. Segundo o NEC, esses nmeros foram tirados do questionrio socioeconmico e consistem em uma aproxima-o, pois nem todos os registros dos candidatos inscritos foram armazenados com sucesso no processo de inscrio.

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    A partir dos dados apresentados, levantamos algumas questes. Em primeiro lugar, o nmero de inscritos pode ser considerado baixo se verificarmos o percentual da populao negra no Estado e o nmero de matriculados do ensino mdio no Maranho no perodo analisado 327.197 matrculas (IBGE, 2008). Temos, aparentemente, uma ampla demanda e uma procura pouco expressiva. Sobre este aspecto, podemos elaborar duas consideraes: a dificuldade de alguns potenciais candidatos em identificar-se ao sistema enquanto negros e a falta de divulgao e esclarecimento acerca da existncia e do funcionamento do sistema de cotas.

    Ao tomar as duas tabelas e observar que mais da metade dos aprovados so oriundos de escola pblica e esto na faixa de renda de 1 a 3 salrios mnimos, supomos, mesmo desconhecendo os dados dos outros processos, que o sistema de cotas para negros est absorvendo, entre os estudantes negros, aqueles que se encontram na zona conside-rada mais precarizada do ponto de vista das oportunidades educacionais e do acesso renda.23

    De forma geral, a implantao de um recorte tnico-racial no vestibular da UFMA na forma apresentada retoma um importante tema: a dificuldade de institucionalizao da questo racial por parte da sociedade brasileira. Alguns dados apresentados na Tabela 5 revelam elementos dessa questo (o nmero de inscritos, por exemplo), mais nitidamente colocada nas estratgias utilizadas no processo de discusso e negociao para aprovao do sistema, que, na nossa compreenso, contribuiu para a sua atual configurao. A no aprovao do programa de aes afirma-tivas em sua totalidade caracteriza o principal aspecto dessa resistncia institucionalizao da questo racial, traduzida na ausncia de projetos relacionados permanncia dos estudantes cotistas.

    O processo de institucionalizao a que nos referimos se relaciona, inicialmente, ao reconhecimento da presena negra no Brasil com todas as suas contribuies e, principalmente, ao reconhecimento da exposio da populao negra ao racismo e s suas consequncias. Nesse sentido, no contexto acadmico, essa questo deve significar mais do que o estabeleci-mento de um recorte racial nos processos seletivos. A instituio universit-ria deve passar por uma imprescindvel discusso acerca das formas que a constituram e a sustentam; necessrio, sobretudo, pensar que princpios constituem a sua base, que prerrogativas tm acumulado, sob quais refe-renciais atua e produz conhecimento e para quais segmentos est voltada. As aes afirmativas devem estimular esse processo enquanto elemento indispensvel concretizao dos seus objetivos. Dito isso, a adoo de aes afirmativas nesse ambiente no pode efetivamente acontecer sem:

    [...] Garantir a permanncia fsica dos(as) alunos(as) ingressos(as) atravs do sistema de cotas.

    Institucionalizar a autonomia oramentria do programa, isto , garantir a destinao especfica de recursos para o programa, dentro do quadro oramentrio da Universidade Federal do Maranho [...]

    Promover a reformulao dos currculos incluindo elementos que faam referncias historia da frica e das contribuies

    23 Essa questo refere-se, de for-ma especifica, a uma inquietao da fase de discusso do sistema: argumentava-se que, se defini-dos percentuais especficos para negros sem recorte de renda, entrariam na universidade os estudantes negros provenientes de escola privada e com renda mais elevada.

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    dos negros para a formao social brasileira, de acordo com a Lei n 10.639/03 [...]24

    O no cumprimento de exigncias mnimas para a implantao de aes afirmativas nas instituies universitrias implica ter um nmero significativo de estudantes negros e pobres sem condies de nelas permanecerem por meio de seus prprios recursos. Aqui o foco do debate deve ser quanto cada universidade est disposta a investir, em todos os aspectos, para garantir a sustentabilidade dos programas de ao afirmativa. Segundo Zoninsein (2006, p. 64), os patrocinadores e promotores de polticas desse tipo

    [...] conceberam equivocadamente as AA [aes afirmativas] como um mero processo burocrtico de realocao dos recursos disponveis, em que os resultados das oportunidades educacionais e as realizaes acadmicas so supostamente automticos e os custos dos investimentos so insignificantes; [...] esses agentes no analisaram a gesto das instituies nem propuseram mecanismos institucionais especficos para maximizar os benefcios lquidos potenciais das AA para seus beneficirios e para a sociedade brasileira como um todo.

    Em sntese, o debate central instaurado nos processos de adoo de aes afirmativas no ensino superior deve assentar-se em seu potencial transformador. Essas iniciativas isoladas no podem responder a um conjunto de desigualdades historicamente estruturadas em funo do racismo, mas passam a enfrent-lo quando produzem ou estimulam a criao de mecanismos que deem conta desse desafio. Por conta dessa prerrogativa, as cotas, como modalidade de ao afirmativa, devem no s integrar um esforo para permitir a ampliao do percentual de estu-dantes negros nas universidades pblicas, mas tambm possibilitar uma formao adequada a esses estudantes. Essa discusso parte do princpio de que essas instituies j no possuem mecanismos voltados a esse fim, e, com as cotas, a demanda por essas condies aumentar. Assim, ao tomarem a deciso de incluir quantitativamente estudantes discriminados social e racialmente, as universidades passam tambm a incluir novas demandas por assistncia acadmica, financeira, etc., que reclamam mais que reorientaes oramentrias e exigem redefinio de prioridades.

    No caso da UFMA, como adiantamos, os desafios se ampliam pela inexistncia de novas iniciativas de apoio aos estudantes que ingressaram pelo sistema de cotas nos trs vestibulares j realizados. Questionado sobre os primeiros impactos das cotas na UFMA, o professor Aldir Arajo Carvalho Filho afirma que:

    Do ponto de vista do custo para realizao dessa poltica, para o ingresso ela no altera fundamentalmente muita coisa; o custo, um custo maior exige, por exemplo, a questo da acessibilidade, no ? Na medida em que ns, a instituio, no nos encontramos ainda razoavelmente estruturados para atender com qualidade a acessibilidade, a necessidade da acessibilidade. Mas tudo isso ta sendo equacionado, [...] mas causa um impacto, causa um impacto tambm do ponto de vista da assistncia

    24 Trecho retirado da proposta de minuta apresentada uni-versidade.

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    estudantil, mas para isso a universidade tem recebido algum apoio do governo federal, dos rgos de fomento, no sentido de fornecimento de alimentao atravs do restaurante universitrio, de outras aes de assistncia especifica [...].25

    O apoio do governo federal, mencionado pelo pr-reitor de ensino, materializa-se na disponibilizao de verbas para o Plano Nacional de Assistncia Estudantil nas universidades federais. Na UFMA, por exemplo, os recursos so direcionados para aes como alimentao, moradia, programas de estgio, etc., conforme a Tabela 6, relativa ao ano de 2008.

    Tabela 6 - Programas e Projetos Realizados pelo Ncleo de Assuntos Estudantis (NAE) - 2008

    Programas/Projetos Atendidos/ms

    Programa de Residncia Universitria 80 estudantes

    Programa Bolsa Alimentao 528 estudantes (em mdia)

    Programa de Encaminhamento Mdico/Odontolgico

    116 encaminhamentos

    Programa de Apoio Psicolgico 306 atendimentos

    Projeto Psicopedaggico Oficinas de Motivao

    94 estudantes atendidos

    Programa Bolsa Trabalho 204 estudantes (em mdia)

    Programa de Bolsa de Lngua Estrangeira do NCL

    44 estudantes

    Projeto INCLUIR de Acesso a Lngua Estrangeira

    1.800 estudantes

    Programa de Bolsas, Recurso Reuni 46 estudantes (em mdia)

    Programa de Apoio e Assessoramento a Eventos Estudantis de Carter Acadmico-Cientficos e ao Movimento Estudantil

    260 estudantes

    Programa de Estgio No Obrigatrio 450 estudantes (em mdia)

    Fonte: Ncleo de Assuntos Estudantis (NAE), 2009.

    Mesmo reconhecendo a importncia e a abrangncia das aes de-senvolvidas e catalogadas pelo NAE, consideramos que no possvel observar uma relao entre os servios oferecidos e a procura por parte dos discentes. Sabemos quantos estudantes foram atendidos nos pro-gramas encaminhados pelo ncleo no ano de 2008, por exemplo, mas no visualizamos quantos efetivamente precisaram desse tipo de apoio.

    A partir dessas consideraes, podemos inferir que a UFMA aprovou, mas no institucionalizou os aspectos que integram as aes afirmativas na sua dimenso poltica, isto , a possibilidade de alterao do contexto acadmico a partir da incluso de novos sujeitos e, principalmente, a necessidade de recursos financeiros para assegurar tais alteraes.

    Dessa forma, a resistncia em aprovar os projetos complementares ao sistema de cotas, a ausncia de avaliaes sobre os vestibulares j

    25 Entrevista concedida em 4 de fevereiro de 2009.

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    realizados e a invisibilidade imposta aos cotistas por meio da inexistncia de um sistema de acompanhamento que aponte os aspectos da sua trajetria acadmica revelam as dificuldades da UFMA para sustentar e ampliar as polticas de ao afirmativa internamente aprovadas, mas ainda voltadas exclusivamente para a ampliao quantitativa do acesso dos grupos beneficirios do sistema de cotas.

    Os desafios esto, portanto, para alm da urgncia na adoo de medidas que garantam a sustentabilidade das aes afirmativas nas uni-versidades, tambm na necessidade de construo de referenciais que permitam a anlise da atuao de tais polticas por meio da avaliao dos principais impactos para os seus beneficirios e para as instituies nas quais tm sido implantadas.

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    Regimeire Oliveira Maciel doutoranda em Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUCSP).

    [email protected]

    Recebido em 20 de abril de 2011.Aprovado em 21 de dezembro de 2011.