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Pesquisa sem frescura Jeferson Selbach Cachoeira do Sul 2005

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Pesquisasem

frescuraJeferson Selbach

Cachoeira do Sul2005

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Copyright © 2005 by Jeferson Selbach

Direitos reservados à Jeferson Francisco SelbachRua General Portinho, 1701 - térreo

Cachoeira do Sul/RS - CEP [email protected]

Capa: fotografia anônima, com efeito de afresco.

Dados Internacionais deCatalogação na Publicação (CIP)

S464p Selbach, Jeferson Francisco. Pesquisa sem frescura / Jeferson FranciscoSelbach. – Cachoeira do Sul : Ed. do Autor,2005. 80 p. : il. ISBN 85905426-3-7 1. Pesquisa. 2. Metodologia Científica. I. Título.

CDU 001.891CDD 001.42

Bibliotecária Responsável:Simone Costa da Silva CRB/10-1564Revisão: Ivouny Dargelio Maciel

SumárioLadies and gentlemen, com vocês...Afinal, o que é pesquisa e para que ela serve?Desmistificando o projeto de pesquisaO que você quer, afinal?Atraído pelo títuloDefinição do tema ou IntroduçãoVocê tem problema? Não? Arranje o seu!Minha hipótese é...Quais são seus objetivos?Justificando...Os teóricos, sempre eles!Entrando na bibliotecaFazendo fichas de leituraOrganizando o materialAvaliando a bibliografiaComo fazer a pesquisa?Prevendo as fontesQuanto vai custar?EsqueletoDe acordo com a Lei n.10.994, de 14/12/2004, foi feito

depósito legal na Biblioteca Nacional.

Este livro foi autorizado para domínio públicoatravés do site http://www.dominiopublico.gov.br, comLicença Creative Atribuição-Uso Não-Comercial-Nãoa obras derivadas 2.5 Commons, licenciado no sitehttp://creativecommons.org/license/?lang=pt.

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Prevendo as etapasGuia dos autoresClipesDicas de formataçãoRelatório de PesquisaCalculando a percentagemResumoMontagem visualMontagem para apresentação oralEncarando o públicoEscrevendo um artigoRodapé ou autor/dataA técnica do escritor em treze tesesPara pensar na camaBibliografia citada e sugerida

Ladies and gentlemen, com vocês...Este livro pretende ser mais um pequeno

guia para o viajante que vai conhecer pela primeiravez o país chamado “pesquisa”. Ele foi montadoa partir das minhas experiências na área.

Conheci pesquisa na universidade, nocurso de Sociologia. Não foram poucas asdisciplinas que exigiram algum tipo de trabalhode campo, seja na antropologia, na política, naprópria sociologia ou nas específicas demetodologia de pesquisa. Meu trabalho deconclusão foi em cima das experiências que tiveem sala de aula, no período de estágio. Fiz umtrabalho com os alunos em que eles tiveram deobservar a cidade (Novo Hamburgo), fotografá-la, desenhá-la e criar mapas com os pontos quemais chamavam a atenção. No mestrado, realizadona UFRGS, em Planejamento Urbano e Regional,analisei a mesma cidade a partir do discursoconstruído pelo jornal local. Agora no doutorado,sigo na mesma linha, só que analisando Cachoeirado Sul.

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Como professor universitário, sempreprocuro fazer algum tipo de pesquisa com osacadêmicos dos mais diversos cursos em queministro aula. A sistematização das experiênciasaqui relatadas vem, principalmente, das aulas deMetodologia Científica, na qual a pesquisa é ocerne. Assim, pretendo mostrar um pouco destasexperiências aqui. Que elas possam auxiliar dealguma maneira. Se isso acontecer, terá valido apena relatá-las...

Afinal, o que é pesquisae para que ela serve?Pesquisa, segundo o amansa-burro

(dicionário), é o ato ou efeito de pesquisar, buscarcom diligência algo que se tem dúvida, inquirir,perquirir, investigar, informar-se a respeito dealgo, indagar, esquadrinhar, devassar. Pesquisaré realizar uma indagação ou busca minuciosa paraaveriguação da realidade, uma investigação eestudo sistemático, com o fim de descobrir ouestabelecer fatos ou princípios relativos a umcampo qualquer do conhecimento. Pesquisar étudo isto e muito mais. É a base para o sujeitoque quer construir um conhecimento, seja elecientífico (com regras claras e objetivas) oupopular. Sem esta pesquisa se vive de achismo,eu acho que...

Pesquisar não é privilégio dos sábios oudoutores, está presente em toda nossa vida.Recém-nascidos se descobrem e descobrem omundo que os rodeia pesquisando. Crianças,adolescentes, adultos e idosos também.Teoricamente, o que difere a pesquisa científica éo fato de poder comprová-la, através de regras oumétodos, de poder repeti-la, alcançando osmesmos efeitos. Teoricamente porque, embora omeio científico não admita (principalmente o daschamadas ciências mais exatas ou duras), a maiorparte das pesquisas não comprova muita coisa ese fossem repetidas alcançariam outros resultados,em muitos casos contraditórios aos encontradosinicialmente.

Assim como a água que corre em um rionunca é a mesma, o contexto da pesquisa tambémdifere de um instante para outro. Em uma pesquisarealizada em determinada época com determinadomeio (social ou físico) encontram-se maisdiferenças do que regularidades. O próprioinvestigador influencia no olhar o objeto depesquisa. A neutralidade científica é uma ficçãotão ou maior que filmes produzidos emHollywood.

A pesquisa, como dito acima, serve parao sujeito construir um conhecimento sobre algo

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ou determinada situação. Através da pesquisaconhecemos aquilo que só poderia ser conhecidose fosse contado por outros, portanto passível deerros e inverdades. Partir deste princípio éentender o mundo que nos rodeia como umarealidade inteligível num primeiro olhar, umarealidade que existe, obviamente, mas que éexplicada sob os mais variados prismas, nos maisdiversos pontos de vista.

Portanto, quem explica não é o senhorpossuidor absoluto da verdade, mas alguém quecontribui para entendermos uma pequena fraçãodeste mundo. Logo, seu olhar é passível dedistorções. O sentido figurativo do caleidoscópio– pequeno instrumento cilíndrico, em cujo fundohá fragmentos móveis de vidro colorido, os quais,ao refletirem-se sobre um jogo de espelhosangulares dispostos longitudinalmente, produzemum número infinito de combinações de imagensde cores variegadas – dá uma idéia precisa desteentendimento. Assim como o olhar docaleidoscópio é uma rápida e cambiante sucessãode impressões e sensações, o olhar do pesquisadorsempre é superficial e mutável frente à realidade.

E aqui está a graça em fazer pesquisa. Elanunca é finita nas suas conclusões. Por isso a

necessidade de pesquisar incessantemente. A cadamundo que se desvenda, abrem-se vários outrosmundos a desvendar...

Umberto Eco, em seu livro Como se fazuma tese, diz que podemos preparar um trabalhode pesquisa digno, mesmo que se esteja numasituação difícil. Algo do tipo ter todas as noitestomadas com disciplinas do curso superior,trabalhar todos os dias úteis desde cedo até atardinha e aos finais de semana dedicar à família,igreja e amigos, não necessariamente nesta ordem.Para estes, a pesquisa vai servir no mínimo parasair um pouco da rotina, ver o mundo sob outrosolhos. Isto, por si só, já terá valido o esforço.

Para Eco, a pesquisa pode auxiliar numresgate positivo e progressivo do estudo,entendido não como coleta de noções, mas comoelaboração crítica de uma experiência, aquisiçãode uma capacidade de identificar problemas,encará-los como método e expô-los segundo certastécnicas de comunicação. Em outras palavras, apesquisa serve como uma ampliação do estudo,ampliação esta que proporciona o uso da crítica,aqui entendida como ato ou efeito de examinar e/ou julgar algo. É ela que traz experiências valiosasao educando/pesquisador. Com ela, o sujeito

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cognitivo, que adquire conhecimento, aprende outreina seu olhar perceptivo, observador, inquisidor,problematizador. Pela pesquisa, sistematiza,ordena, metodiza seu objeto de análise. Eapresenta, ao final, os resultados de determinadaforma que outros pesquisadores entendam.

Como pesquisar não é um ato simples,complexo não complicado, muitos prefereminvestir numa quantia razoável para que outrosfaçam a pesquisa e compilem num trabalho oucopiam trabalhos já prontos, principalmente dainternet, adaptando-os ou não. Ambosprocedimentos são ilegais. No primeiro, oindivíduo não merece reconhecimento pois nadacriou. O segundo é caso de apropriação mesmo,passível de punição legal. Um argumento plausívelpara convencer a fazer de fato a pesquisa é queatravés dela o sujeito aprende. Se mandar fazerou copiar, nada aprenderá, portanto, o dinheirogasto com mensalidades de nada valerá, até porqueo mercado exige muito mais do que o diploma,exige que se saiba fazer, pensar e agir.

De uma maneira geral, elaborar umapesquisa significa, ainda segundo Umberto Eco,identificar um tema preciso, recolherdocumentação sobre ele, ordenar estes

documentos, reexaminar em primeira mão o temaà luz da documentação recolhida, dar formaorgânica a todas as reflexões precedentes,empenhar-se para que o leitor compreenda o quese quis dizer e possa, se for o caso, recorrer amesma documentação a fim de retomar o temapor conta própria. É algo como “pôr ordem naspróprias idéias e ordenar os dados”.

Por isso, “não importa tanto o tema dapesquisa mas sim a experiência de trabalho queela comporta”. Sua cientificidade reside no fatode que: o estudo debruça-se sobre um objetoreconhecível e definido de tal maneira que sejareconhecível igualmente pelos outros; dizer doobjeto algo que ainda não foi dito ou rever sobuma ótica diferente; deve ser útil aos demais;fornecer elementos para a verificação e acontestação apresentadas; todo trabalho científico,na medida que contribui para o desenvolvimentodo conhecimento geral, tem valor positivo;delimitar com precisão o âmbito geográfico ecronológico do estudo; estabelecer critérios deescolha da amostra; explicar critérios (por queexcluir este e não aquele?).

Assim como o viajante que vai para umaregião desconhecida, o sujeito que se aventura no

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mundo da pesquisa deve primeiro definir o quequer conhecer e, a partir daí, passar a recolherinformações básicas sobre o tema.

A chamada fase exploratória da pesquisa,ou trajetória de investigação, se inicia com aescolha do tópico de investigação, ou com o pontoprincipal do tema ou assunto a ser pesquisado. Éuma delimitação do objeto, a princípio ampla. Àmedida em que se avança em seu conhecimento,circunscreve-se o tema. Nesse momento éimportante tentar definir os objetivos. Elesservirão de base para os questionamentos futuros.

Na fase de exploração do objeto a serpesquisado entra uma construção do marco teóricoe conceitual, realizado através de uma pesquisabibliográfica, ou estudo de livros sobre o tema.Os livros teóricos estão para o pesquisador assimcomo os guias de viagem estão para o viajante.Eles dão subsídios para conhecer onde se vai.

Um passo seguinte é a escolha dosinstrumentos de coleta de dados, do tipo depesquisa que se vai realizar. Esta escolha não podeser aleatória, deve ser bem trabalhada e pensada,antes de ser utilizada. Cada instrumento depesquisa tem uma finalidade específica, comoveremos mais adiante. Portanto, gaste tempo nesteitem, para depois não se arrepender.

Todos esses itens vão auxiliar naelaboração do projeto de pesquisa, que nada maisé do que a sistematização das idéias colocadas nopapel, a fim de tornarem-se legíveis. Como opróprio nome diz, projeto é uma idéia que se formaa fim de realizar ou executar algo no futuro, umplano de trabalho. Ele nos permite mapear ocaminho a ser seguido, esclarecendo não só aopesquisador, mas a quem vai avaliar o projeto,como a pesquisa será feita. Acima de tudo, oprojeto deve responder aos quesitos o que? porque? para que? como? quando? com que recursos?por quem?

Desmistificando o projeto de pesquisaUm projeto de pesquisa é constituído de

partes que variam segundo uma série de fatores.Deve-se levar em conta sua finalidade, para queou para quem ele vai servir? Cada instituição temsuas regras próprias e a única maneira é ver o queelas exigem.

De uma maneira geral, ele se compõe dasseguintes partes, algumas pouco exigidas, outrasmais: definição do tema, problema de pesquisa,hipótese, objetivos, referencial teórico,metodologia de pesquisa, previsão das fontes depesquisa, custos e orçamentos, plano preliminarde conteúdos, cronograma, bibliografia e anexos.

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O que você quer, afinal?A primeira coisa a ser feita é definir de

maneira clara a temática, indicar a área deinteresse a ser investigada. Esta é sempre umadelimitação ampla, embora com um recorteconcreto. Não adianta dizer que se vai pesquisarsobre história. Qual história? Qual período? Dapré-história aos dias de hoje? Nessa definição opesquisador encontra a primeira dificuldade.Muitas vezes nem ele sabe especificamente o quedeseja pesquisar, só sabe que quer fazer algumtipo de pesquisa, seja por necessidade fisiológica(é um cacoete que ele tem) ou coerção externa (ochefe ouviu dizer que pesquisa é importante emandou os subordinados organizarem uma).

Umberto Eco sugere algumas regras nahora de escolher um tema de pesquisa. Primeiro,que responda aos interesses do pesquisador.Alguém apaixonado por botânica terá imensadificuldade em pesquisar física quântica. Só setrabalhar com plantas e vegetais sentirá “tesão”.Se o tema for mal escolhido, é possível que faltedisposição para se chegar até o fim.

Segundo, que as fontes de pesquisaestejam acessíveis. Um brasileiro que querpesquisar sobre a história oral chinesa vai

encontrar dificuldades se não dominar omandarim, o idioma mais falado na China, e senão tiver verbas para viajar até lá. Também nãoadianta propor uma pesquisa sobre olimpíadasestudantis numa cidade que não tenha talatividade.

Terceiro, que as fontes sejam manejáveis,isto é, de fácil manuseio. Há muitos documentoshistóricos só acessíveis para determinadospesquisadores ou a pessoas que se dispõem a pagardeterminada quantia. Para escrever um livro sobreas Exposições Universais, a historiadora gaúchaSandra Pesavento precisou se deslocar a Chicago,Paris e Londres, atrás de fontes originais. Paraquem não dispõe de tais meios, é preferível proporalgo mais simples, que seja possível cumprir. Épreferível adequar o tema às fontes que estão àmão.

Quarta regra, que o quadro metodológicoesteja ao alcance da experiência do pesquisador.Se o sujeito está acostumado a trabalharbasicamente com questionários, ele vai terdificuldades para conseguir realizar uma pesquisade laboratório ou antropológica, observandoíndios lá no meio do Amazonas.

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Por fim, que o professor que orienta otrabalho seja adequado. O professor titular dadisciplina Direito do Trabalho terá dificuldadespara orientar um trabalho na área de Direito Penal.É bom sempre lembrar que a escolha do orientadornão deve se dar por afinidade pessoal, mas porafinidade intelectual.

Na escolha do tema, ainda segundoUmberto Eco, é perigoso cair na tentação de fazeruma pesquisa que fale de muitas coisas. É melhortrabalhar com um tema preciso, limitado, tentandoconhecer a fundo seu objeto de pesquisa.Obviamente, devemos inseri-lo no panorama geraldo conhecimento, a fim de explicá-lo e entendê-lo. Por essas razões, quanto mais restringimos ocampo, melhor e com mais segurança vamostrabalhar. “É melhor que a pesquisa se assemelhea um ensaio do que a uma história ou a umaenciclopédia”, afirma Eco.

Para o acadêmico, sugere-se escolher otema de pesquisa, com a ajuda do orientador, jána metade do curso. Isto possibilita conciliar asmatérias cursadas e os trabalhos nelas exigidoscom o tema de pesquisa. Assim, ao invés de falarde mil e uma coisas ao longo do curso, o alunoque já escolheu o tema do seu trabalho de

conclusão pode direcionar seu tempo ao que lheinteressa. Quando chegar ao final do curso, eleterá mais segurança em tratar do seu tema e haverápouca probabilidade em mudar na última hora,resultando num trabalho melhor desenvolvido.

Aos que desejam seguir estudando,cursando algum tipo de pós-graduação, comoespecialização, mestrado ou até doutorado, estatática cai como uma luva. Isto porque, na hora demontar um projeto de pesquisa para os programasde pós, o aluno saberá o que quer fazer. Como aseleção destes programas é extremamentecompetitiva, ele estará mais habilitado do queoutros candidatos que, como se diz, “acordaramde manhã com vontade de fazer um mestrado einscreveram um projeto sem saber, afinal decontas, o que realmente querem”.

Voltando ao tema, escolher o que se querbem antes do término do curso possibilita tambémdiscutir passa a passo com o professor orientador,algo imprescindível num trabalho que se querdecente, até porque temas de última hora obrigamtanto o formando a produzir rapidamente quantoo orientador a “devorar” o escrito.

Ainda que o período de um ano sejasuficiente para a realização de uma pequena

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pesquisa, o maior obstáculo fica por conta daorganização deste tempo. Um exemplo: asmatrículas em quase todas universidade são feitasno início do ano, mas o aluno acaba pensando noque fazer só no início das aulas, que ocorremnormalmente em março. Daí para escolher umprofessor que lhe oriente vai mais uns 15 a 30dias. Até conversar com ele e decidir algumasestratégias de pesquisa, correm mais 45 a 60 dias.Já na metade do ano (em junho), se inicia otrabalho de campo propriamente dito. Nestelevantamento de dados são gastos no mínimo 30dias. Sua organização exige outros 30 dias, se tudocorrer bem. Quando as flores estiveremdesabrochando na primavera, o aluno estaráiniciando a escrita. Se for sistemático eorganizado, conseguirá finalizar em 45 dias. Comoem final de outubro ele deve entregar o texto jápronto na secretaria, o orientador terá pouco maisde 15 dias para ler e palpitar. Qualquermodificação necessária será feita às pressas.Agora imaginem uma falha estrutural, que requernovas leituras e escritas? Ou elas não serão feitasou serão feitas de forma superficial ou ainda porterceiros. Aí não se admire chegar na hora dadefesa e ouvir críticas contundentes ou o trabalhobaixar em diligência.

Atraído pelo títuloOnde melhor se define o tema é no título.

Para um trabalho de pesquisa não adianta querercolocar título de livro de sucesso, de fácilmemorização, como “O alquimista” ou “Brumasde Avalon”. É preciso especificar detalhadamente,“tim-tim” por “tim-tim”, aquilo que se quer fazer.

Exemplo: “A importância da desinfecçãoda água por cloração, na rede de EscolasMunicipais de Ensino Fundamental, do interiorde Restinga Seca” e “Egressos do Curso deEducação Física da Ulbra, Campus Cachoeira doSul/RS: levantamento das CondiçõesProfissionais” (específicos) ao invés de“Matemática: calculando para aprender” (vago).

Definição do tema ou IntroduçãoDepois de definido o tema, deve-se

explicá-lo, contextualizando-o, conceituando suasprincipais partes. Nesta hora lance mão de algoque deve ser indispensável a todo ser humano, aolongo de toda sua vida: o dicionário, comumentechamado de “amansa-burro” (não sem razão).Com ele, você vai poder conceituar de um modoclaro aquilo que deseja estudar. Procure sempreiniciar do geral para o específico. É comoaterrissar um avião, vem perdendo altura e

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diminuindo a velocidade até tocar as rodas nochão, suavemente.

Exemplo:A Educação Física trabalha cientificamente

com o bem estar físico, saúde, força, velocidade,resistência, aperfeiçoamento das funções fisiológicas.Ela vem atualmente ocupando novos e importantesespaços nas áreas biológicas, psicológicas, fisiológicas,sociais e, principalmente, na área educacional, comoresultado efetivo de pesquisas, estudos e aplicaçõesteórico-práticas visando ao desenvolvimento integraldo ser humano geral.

Para o crescimento profissional torna-se afundamental conhecer a estrutura e o trabalhodesenvolvido nos cursos de graduação. Os egressosdeste curso apreendem as mudanças da profissão eencontram chances para aprender mais sobre suavocação.

Cabe a cada profissional dentro de sua áreade atuação ter conhecimento, gostando do que faz.Buscar a qualificação em sua área para futuramenteobter boa remuneração com boas condiçõesprofissionais.

É nosso intento realizar um levantamento dascondições profissionais dos egressos de EducaçãoFísica da Ulbra Campus Cachoeira do Sul / RS.

Você tem problema? Não?Arranje o seu!Este item é meio questionável. Para

alguns, como o pessoal das ciências mais “duras”ou “exatas”, é indispensável ter um problema depesquisa. Se este for seu caso, procure formularperguntas ao assunto proposto, construir suaproblematização. Descreva o problema,especulando sobre seu campo de observação emrelação a algumas variáveis. Formule-o comopergunta, sendo claro e preciso, delimitado-o auma dimensão variável. Indague se o problema éoriginal, relevante, adequado, se há possibilidadesreais para executar o estudo. Existem recursosfinanceiros e físicos?

Para o pessoal das ciências ditas maishumanas, o problema de pesquisa tem um carátermeio positivista. Algo que se chama deinevitabilidade, que vem de inevitável. Isto porqueacredita-se que propondo uma questão, e tendouma hipótese para responder, o pesquisador faráde tudo para prová-la. Este “tudo” pode incluirdesde formular perguntas que só respondam aquiloque se quer “provar” até a exclusão de respostascontrárias a sua hipótese, o que não é nada éticomas acontece.

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Assim, quando perguntarem a você qualseu problema, diga que você não tem nenhum, queé uma pessoa de bem com a vida, etceterá e tal.Eu prefiro procurar definir claramente os objetivosao invés de achar um problema, até porque assim,uma vez indo a campo pesquisar, se colheinformações semelhantes e contraditórias e nãosó as que se deseja.

Mas fica a sugestão de montar o projetoconforme a instituição ou o professor que se vaiencaminhar. É melhor verificar os itens exigidosdo que quebrar a cabeça.

Em todo caso, segue um exemplo deproblema de pesquisa, bem simples, obviamente:

“Quais são as condições profissionais dosegressos do curso de Educação Física da Ulbra,Campus Cachoeira do Sul?”

Minha hipótese é...Para os que optaram em achar um

problema de pesquisa, é necessário levantarhipóteses, ou melhor, possíveis respostas que opesquisador irá encontrar. É muito comum seperguntar a um pesquisador qual sua hipótese, oque ele acredita que vai encontrar. Nestes casos,o pesquisador responde: “trabalho com a hipótesede que...” e tira todo tesão da pesquisa. É como

estar na fila do cinema e alguém passarcomentando que no final o mocinho morre.

Como viajante de primeira viagem, éóbvio que sempre se busca informações sobre olocal, mune-se de mapas e dicionário, coisasassim. Se o viajante descobrisse tudo sobre o localdesta forma, não haveria necessidade em viajar.O choque entre o antes e o depois é enorme. Poristo, não dê a importância que a hipótese nãomerece. Preocupe-se como fazer a pesquisa, quetipos de dados levantar, essas coisas.

Mesmo assim, se sua tarefa é construirhipóteses, veja seu problema de pesquisa eresponda, num típico exercício de futurologia.

Seguindo no exemplo citadoanteriormente, teríamos as seguintes hipóteses:

Os egressos do curso de Educação Físicaatuam profissionalmente em sua área, desde que existacampo de trabalho e boa remuneração;

Não havendo campo de trabalho ou sendo aremuneração não satisfatória, muitos dos egressosacabam atuando em outras áreas afins à sua formação;

Egressos atuantes em sua área de formação,realizando um trabalho que não condiz com asexpectativas almejadas no decorrer do curso, tornam-se profissionais frustrados.

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Quais são seus objetivos?No item objetivos, você deve tentar

responder de uma forma bem clara e simples oque pretende com a pesquisa, quais metas almejaalcançar ao término da investigação. Para isto éfundamental que elas sejam possíveis de se atingir.

Tem muito projeto de pesquisa queobjetiva uma coisa e acaba analisando outra. Étipo político em véspera de eleição: prometemundos e fundos, mas depois de eleito não cumpremetade (já vi candidato ao legislativo prometendocoisas que compete tão somente ao executivo).Tem também muito livro no mercado que traz naapresentação ou na introdução uma plêiade dequestões que diz analisar, mas não analisa, ouquando a faz é de maneira superficial.

Separe seus objetivos em geral eespecíficos. O primeiro é muito parecido com otítulo. Entretanto, procure explicitar o quepretende analisar ou investigar. Nos específicos,procure colocar em tópicos tudo aquilo que vocêdeseja investigar. Fique atento para o fato de quesão os objetivos específicos que vão proporcionaros questionamentos, qualquer que seja o métodoutilizado na pesquisa.

Assim, seriam objetivos:GeralLevantar as condições profissionais dos

egressos de Educação Física da Ulbra, CampusCachoeira do Sul / RS.

EspecíficosVerificar em qual área os egressos estão

atuando.Verificar o nível de satisfação com relação à

remuneração.Delinear um perfil dos egressos e sua área de

atuação profissional após conclusão do curso.Justificando...O item justificativa e relevância é pra lá

de complicado. Isto por uma razão bem simples:muitas vezes não sabemos porque fazerdeterminada pesquisa é importante. Até porque,em matéria de ciência, não se faz pesquisa comum interesse imediatista, mas sempre a longoprazo (talvez resida aqui as dificuldades deconseguir verbas e financiamentos para pesquisasque não tragam benefícios pragmáticos,imediatos). De qualquer forma, devemos pensarno que ela poderá contribuir para a compreensãodo objeto a ser pesquisado.

E fique atento, projeto de pesquisa nuncapropõe intervenção no meio. Pode dar o nome que

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quiser, projeto de extensão ou social, mas pesquisanão é modificar o meio. Ela vai, observa e vemembora. Pode parecer meio frio ou insensível, maseste é seu modo de operar. Quando e se voltar aomeio pesquisado, não será mais pesquisa. Claroque isto não invalida propor realizarposteriormente uma intervenção, até para mostrarum retorno à comunidade ou grupo socialanalisado.

Procure, neste item, justificar por que talpesquisa deve ser realizada, quais motivos ajustificam. Articule a relevância intelectual e aprática do problema investigado a sua experiência.Sei lá, invente, tente, faça uma pesquisa diferente.

Exemplo de justificativa:Nos dias atuais, uma das preocupações que se

tem ao escolher uma profissão é justamente saber seesta vai suprir as expectativas em relação ao campo detrabalho. Como a competição para entrar no mercadode trabalho é grande, torna-se grande também a procurapelos cursos superiores. Muitos são os casos de pessoasque não seguem a vocação, mas procuram um cursoque as coloquem mais rápido no mercado de trabalho.Por este motivo, podem tornar-se profissionaisfrustrados, não conseguindo realizar-seprofissionalmente.

Os teóricos, sempre eles!Para que servem os teóricos? Esta é uma

pergunta que se tornou freqüente nos últimos anos.Havia tempo em que metade ou mais de umtrabalho era gasto com descobrir quais autorespoderiam ser utilizados para embasar a pesquisa.Normalmente se fazia uma grande discussãoteórica antes de se analisar os dados da pesquisa.

Hoje em dia, com a escassez de tempo e aquantidade de trabalhos publicados, se procuralimitar o número de páginas. Dissertações demestrado, que antes saíam com 450 a 600 páginas,hoje são escritas com no máximo 200 páginas.Teses de doutorado com 3 ou 4 volumes (algumasultrapassavam 1.000 páginas!!!) hoje são escritascom 350 páginas. Limitam-se os próprios artigoscientíficos em 5.000 palavras, o que dá mais oumenos 10 páginas. Em termos de trabalhosuniversitários, é melhor fazer um pequeno ensaiode 3 ou 4 páginas do que um de 10 ou 15 páginascom conteúdo duvidoso, baixado da internet oucopiado de algum outro lugar.

Em ambos os casos, o pesquisador precisaescolher bem o que vai colocar num texto, sobrisco de que ninguém o leia. Alguns entendem quese pode fazer uma discussão teórica junto com os

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dados. Isto elimina a necessidade de um capítuloespecífico para discutir os autores com que se vaitrabalhar.

No projeto, uma pequena mostra distoentra bem, ainda mais se o pesquisador conseguefazer um diálogo interessante entre seu tema eaquilo que os autores disseram. Desta formaconseguirá contextualizar seu objeto de pesquisasem necessariamente trazer uma discussãoenfadonha e estéril. Estará fazendo aquilo quesempre foi necessário, mas que não se deveria terdado tanta ênfase: uma pequena revisãobibliográfica ou, como queiram alguns, um“estado da arte”.

Entretanto, ter, por exemplo, 80% dediscussão sobre a teoria que embasa tal coisa e20% para se discutir a tal coisa é no mínimo desviode foco. Acreditem, ainda há muitas disciplinasde pós-graduações em que esta disparidade ocorre,provavelmente devido aos costumes e à própriatradição arcaica dos ministrantes. O engraçado éque muitos discutem magnificamente uma teoriae na hora de mostrar na prática são vazios deconteúdo, uma “mala vazia” como diriam osfranceses. Trazem toda uma metodologiainovadora na teoria e no “vamos ver” não

acrescentam nada de novo. Transvestem de umanova roupagem modos de fazer pesquisa antigos.Só falta o menino exclamar que “o rei está nu!”

Para os que não querem “encher lingüiça”,como se diz na prática, sugere-se definirclaramente os pressupostos teóricos, as categoriase conceitos utilizados na pesquisa. É necessárioser sintético e objetivo; realizar um diálogo entreteoria e o problema a ser investigado.

Veja a seguir algumas dicas de como fazerum levantamento teórico.

Entrando na bibliotecaPara quem curte ler, entrar numa

biblioteca é algo mágico. A biblioteca é para oaficionado em livros o que filmes são para ocinéfilo. Criar o hábito de leitura não tem idade,pode começar no berço ou na velhice. Escrevertambém não. Quantos escritores são temporãos?Luis Fernando Veríssimo ou o imortal PauloCoelho se revelaram tardiamente, só para ficar emdois exemplos.

Através do livro, o leitor usa suaimaginação, algo que o cinema e a televisão nãoproporcionam. Umberto Eco sugere que nãodevemos ir à biblioteca com uma bibliografia pré-estabelecida. Devemos organizar uma quando lá

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estivermos. Nos “perdendo” nela, encontraremoslivros que não procurávamos. Como um fio deAriadne, entraremos no labirinto a procura doMinotauro e de lá sairemos são e salvos.Obviamente, com o auxílio do orientador,poderemos ir buscar alguns livros, levar umabibliografia básica.

O importante é não cair na comodidadede ficar só nos indicados, mas ir atrás de outrasleituras, outros autores, outros conhecimentos.Tem muito professor que ao invés de orientar umaluno dá tudo mastigado a ele; ao invés de mostraro caminho de como fazer uma pesquisabibliográfica, chega ao cúmulo de passar os textos.Tem outros que vão além, indicando os livros edestacando as citações que os alunos devem retirardo texto. Azar de quem aceita isto, pois pagoupara aprender e aprendeu pela metade.

O bom pesquisador é aquele capaz deentrar numa biblioteca sem a mínima idéia sobreum tema e sair dela sabendo um pouco mais sobreele. Para isto é necessário dar liberdade de ação àintuição.

A primeira coisa a se fazer é procurarconhecer como funciona a biblioteca e decidir emconformidade. Ver como estão dispostas as

prateleiras, como nela estão organizados os livros,quais assuntos existem. Ver também se há umcatálogo dos livros em fichários, organizados porordem alfabética ou por assunto.

Nunca caia na tentação de assim queentrar pedir à bibliotecária ou às atendentes livrossobre o assunto que se quer. Isto é o cúmulo dopesquisador-preguiçoso. Peça a elas somente queexpliquem como a biblioteca está disposta; nãoabdique de seu direito de procurar os livros. Amaior parte das bibliotecas já estãoinformatizadas. Por isto, é necessário conhecer oprograma utilizado.

Pelo computador, além dos livrosdisponíveis nas prateleiras, você pode pesquisaro SCUD, um sistema que inter-liga as bibliotecasparticipantes e permite a troca de artigoscientíficos. Assim, por uma pequena taxa de envio,você pode ter acesso a periódicos de todo país.Ou ainda pesquisar em páginas como owww.scielo.com.br, que busca artigos emperiódicos científicos reconhecidos nacional einternacionalmente.

E um cuidado. Não baseie seu referencialteórico em qualquer página da internet. Lembre-se que 99% das páginas disponíveis no mundo da

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web são pessoais, portanto sem valor científico.Para diferenciar, é necessário que seja um artigocientífico, com autor e seus dados comprovandoque ele é profissional e atua em alguma instituiçãoou similar, partes definidas como resumo,introdução, referencial teórico citações de outrospesquisadores, metodologia, resultados, conclusãoe bibliografia. Faltando algum destes itens, fiqueatento; faltando muitos, descarte a página.

Qualquer uma das hipóteses, fichários ouvia computador, não exclui a procura nasprateleiras. Aliás, esta sempre foi e vai continuarsendo a melhor forma de descobrir algum livro. Emais, uma visita não bastará. Não é preciso sernenhum “rato de biblioteca”, mas visitá-la trêsvezes ou mais é importante.

Fazendo fichas de leituraFichas de leitura são tão antigas quanto o

próprio livro. Elas são imprescindíveis eindispensáveis para quem estuda ou pesquisa algo.Elas substituem as anotações nas bordas daspáginas dos livros. Isto porque, à medida que selê, vai-se pensando sobre aquilo que está escrito,surgindo novas idéias; as idéias literalmenteexplodem na sua cabeça.

Lembre-se, “não deixe nenhumpensamento passar incógnito”, como escreveuWalter Benjamin. Mantenha suas anotaçõesrigorosamente atualizadas. “Quanto maisrefletidamente você retarda a redação de uma idéiaque ocorre, mais maduramente desdobrada ela seoferecerá a você”. As fichas são a materializaçãodestas idéias pois nelas você pode colocar tudoaquilo que pensou, mesmo que mais adiante nãovenha a utilizar.

Um catatau de material procede a escritade qualquer artigo que se preze. Algo como 90%de transpiração (trabalho braçal e cansativo) e10% de inspiração. Até porque é necessário tornar“sua pena esquiva à inspiração, e ela a atrairá coma força do ímã”. Não adianta querer que o santoajude na hora da escrita. É com você mesmo.

Uma ficha de leitura é montada de acordocom sua finalidade. O que importa é que elacontenha dados que serão posteriormenteindispensáveis na hora de passar à redação. Nelase registra resumos, opiniões, citações e tudo omais que puder servir para referir o livro.

Um dos itens fundamentais é a indicaçãocompleta dos dados bibliográficos, com autor,título do livro, editora, local da edição, página,

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etc. Isto para não precisar sair procurando depoisestes dados, ainda mais se você trabalhar comlivros que não lhe pertencem e que podem estarindisponíveis quando você precise consulta-losnovamente.

Um primeiro modelo de ficha sugerido éo de “citações diretas”. Após os dadosbibliográficos (mais adiante mostraremos as váriasmaneiras de referenciar os livros), se transcreveliteralmente, sem mudar nenhuma palavra ouestrutura daquilo que o autor escreveu. Por istose utilizam aspas, para lembrar que aquilo é cópiaexata do que estava escrito. Caso seja necessáriosuprimir uma parte do parágrafo ou da frase,utilize o “(...)” ou “[...]”, sempre tendo o cuidadopara não tirar o sentido do texto.

Este modelo é o mais recomendadoporque na hora da redação, as palavras exatas doautor podem ser modificadas (sem mudar osentido, obviamente), fazendo de uma citaçãodireta uma citação indireta. O contrário não éverdadeiro. Uma citação indireta (onde se mudamas palavras do autor) não pode ser transformadanuma citação direta (mais adiante também vamossugerir como escrever uma artigo).

Após a citação, podem ser colocadasaquelas idéias que se teve ao ler. São as mesmasidéias que se costuma anotar nas bordas daspáginas dos livros. Este tópico pode ser chamadode “comentários”. Nele são colocados tudo aquiloque se pensou, lembrou ou imaginou, mesmo quenão sejam utilizados na escrita. Por esta razão,sugerimos que a ficha de leitura seja construída àmedida que se esteja lendo e não ao término, umavez que depois os pensamentos se foram e podemnão mais voltar ou voltar de forma distorcida efragmentada.

O segundo modelo de ficha de leitura é oda “citação indireta”. Como dito anteriormente,nela se modificam as palavras do autor sem tiraro sentido. São aconselháveis para textos longosonde se quer abarcar o ponto central da idéia doautor, não escritas num só parágrafo. Como noprimeiro modelo, pode-se separar a citaçãoindireta do comentário ou fazê-los de formaconjunta.

Ao final de ambos modelos, sugerimosainda colocar as palavras-chave. Elaspossibilitarão organizar melhor as várias fichasposteriormente em assuntos, algo necessário parase analisar os dados.

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A seguir, os dois modelos:Modelo citação direta1. Referência bibliográfica: BERMAN,

Marshall. Aventuras no Marxismo. São Paulo:Companhia das Letras, 2001. capítulo 13, MelodiaLivre (resenha do Manifesto)

2. Citação: “Essa expansão global põe a nude maneira espetacular as ironias da história. Essesburgueses são banais em suas ambições, mas sua buscaincansável por lucro incute neles o mesmo impulsoinsaciável e horizonte infinito característico dosgrandes heróis românticos. [...] Eles podem só pensarnuma coisa, mas seu raio de mira estreito abre as maisamplas integrações; sua perspectiva rasa forja as maisprofundas transformações; sua atividade econômicapacífica devasta como uma bomba toda e qualquersociedade humana”. p. 283

3. Comentário pessoal: relacionar influênciada modernidade burguesa no modo de vida global, aoqual todos estamos inseridos;

4. Palavras-chave: modernidade –globalização - destruição

Modelo B – citação indireta1. Referência bibliográfica: BERMAN,

Marshall. Aventuras no Marxismo. São Paulo:Companhia das Letras, 2001. capítulo 13, MelodiaLivre (resenha do Manifesto)

2. Resumo: O autor diz que a expansão globalpôs a nu de maneira espetacular as ironias da história.Para ele, os burgueses são banais em suas ambições,“mas sua busca incansável por lucro incute neles omesmo impulso insaciável e horizonte infinitocaracterístico dos grandes heróis românticos”. Eleentende que os capitalistas só podem pensar numacoisa: o lucro. Em compensação, acredita que essapequena visão abriu as mais amplas integrações. Talperspectiva rasa teria forjado as mais profundastransformações. E conclui dizendo que “a atividadeeconômica pacífica devasta como uma bomba toda equalquer sociedade humana”. p. 283

3. Comentário pessoal: relacionar influênciada modernidade burguesa no modo de vida global, aoqual todos estamos inseridos;

4. Palavras-chave: modernidade –globalização - destruição

Organizando o materialDepois de levantado o material, organize-

o por assunto ou conceito. Fica fácil se nas fichasde leitura você pôs o item 4, as palavras-chave.São elas que, de uma maneira geral, sintetizarãoo assunto da ficha. Assim, na hora da escrita,reorganize as fichas por assunto e comece aescrever, alternando citações com comentáriopróprios (o item 3 das fichas, comentários, podee deve ser utilizado nesta hora). Lembre-se de

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fazer sempre a ligação das citações com seu temade pesquisa.

Na escrita, procure colocar as idéias dosautores de forma encadeada. Uma citação deveter algo a ver com outra. Caso contrário, vai ficarparecendo um amontoado de idéias desconexas.Pode-se alternar citações diretas e indiretas. Evitecitações diretas em bloco, aquelas que no textoaparecem com letra menor e recuo de parágrafo.Isto porque, a maioria dos leitores acabasimplesmente pulando tais citações. E por umarazão bem simples: o interesse no trabalho é sobreo que a pessoa escreveu de fato, pensou e analisou,e não o que outros escreveram.

Para que sua escrita não se tornedesconexa, procure “quebrar” as citações diretas.Isto é possível com o uso de palavras de ligação,muito vistas em textos de jornal, onde a fala dosentrevistados é posta de maneira inteligível.

Segue um exemplo de texto teórico feitocom a montagem:

[...] Se apropriar da história não exclui aanálise sociológica. O historiador Peter Burke (2002,p.37) diz que “vivemos em uma era de linhasindefinidas e fronteiras intelectuais abertas, uma eraintrigante e, ao mesmo tempo, confusa”. No livroHistória e Teoria Social traça os caminhos que levaram

ao surgimento do discurso compartilhado entre Históriae Sociologia, ou para empregar sua própria expressão,“teoria social” (que inclui “teoria cultural”). Segundoele, historiadores e teóricos sociais nunca perderamcontato por completo, mas este discurso compartilhado,longe de convergir a um denominador comum, jáapresenta-se como uma relação de constante mudançasentre ambas ciências, apesar de ainda ser consideradoum “diálogo de surdos”, para ficar nas palavras deFernand Braudel (apud Burke, 2002, p.14). TambémPaul Veyne (1983, p.43-46) diz que a verdadeirahistória é sociológica, não se limitando a narrar ou aentender os fatos passados, mas a estruturá-los a partirde conceitos. Assim, a história seria definida como oinventário explicativo daquilo que há de social nohomem, das diferenças manifestadas por este aspectosocial. Numa história da ou das leituras, há de se levarem conta a existência de técnicas ou de modelos deleitura que organizam as práticas da comunidade e oprincípio de organização da diferenciação, algo difíciltanto para historiadores quanto para sociólogos(Chartier, 1998, p.92).

O exemplo de “quebrar” a citação empedaços pode ser visto também aqui:

Max Weber (1968, p.227-257), em seu textoBurocracia e Direito, enumera dez pontos tornadosimportantes na administração burocrática: precisão,velocidade, clareza, conhecimento dos arquivos,continuidade, discrição, unidade, subordinação

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rigorosa, redução do atrito e dos custos de material epessoal. Diz que “em comparação com todas as formascolegiadas, honorificas e avocacionais deadministração, a burocracia treinada é superior, emtodos esses pontos”. E mais: “no que se relaciona comtarefas complicadas, o trabalho burocrático assalariadonão só é mais preciso, mas, em última análise,freqüentemente mais barato do que até mesmo o serviçohonorífico não-remunerado formalmente”, explica.

Enfim, procure tornar sua escrita umaforma de raciocínio inédito e não, volto a dizer,uma bricolagem de citações alheias.

Avaliando a bibliografiaAlguns programas de pós-graduação

exigem que se faça uma avaliação da bibliografia,ou resenha resumida dos autores teóricos que sevai trabalhar. Como muitos sugerem umabibliografia básica (dentro das diversas linhas depesquisa que trabalham os professores), é de bomalvitre ler alguns dos livros sugeridos e incluí-losneste item. Isto vale também para o referencialteórico, obviamente.

Livros bem escritos trazem normalmentena introdução ou na apresentação um interessanteapanhado, especificando ligeiramente do que tratacada parte ou capítulo. Isto não exclui aobrigatoriedade de se ler o livro mas auxilia no

seu entendimento. Costuma-se utilizar no máximoum parágrafo por autor. Isto quer dizer que se vocêvai resenhar mais de uma obra de um mesmo autor,deverá fazer de modo mais do que resumido(lembre-se que o próprio projeto de pesquisa nãopode ser muito extenso).

Como fazer a pesquisa?Metodologia de pesquisa é o modo de

fazer a pesquisa. É uma descrição formal dosmétodos e técnicas a ser utilizadas. A metodologiatalvez seja o item mais importante da pesquisa,afinal de contas, ela vai ser o cerne do trabalho.Nosso sucesso dependerá de como fizermos apesquisa. Podemos ter um temaextraordinariamente interessante e utilizarmos ummétodo simples demais; podemos ter um tema jábatido mas olharmos ele sob outro ângulo.

Antes de propormos uma metodologia, énecessário uma pequena inserção no local a serpesquisado, até para ver se aquilo quepretendemos conhecer e analisar de fato existe.Feito esta exploração de campo, devemos definiruma amostragem da nossas pesquisa, levando emconsideração que nunca conseguiremos pesquisara totalidade daquilo que pretendemos. Mesmonuma micro-pesquisa entre professores municipais

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de uma pequena localidade, pode acontecer de nãoobtermos os dados totais. Esta amostra, como opróprio nome diz, é uma pequena parcela do todo.Por isto, é importante ela ser de alguma formarepresentativa, apresentar os mais diversos pontosde vista. Isto vale para qualquer tipo de métodoadotado, desde a análise de discurso (exemplo:uma análise só dos discursos de posse de umpresidente) até a aplicação de um questionário.

O passo seguinte é definir os instrumentosde pesquisa ou a técnica da coleta de dados.Podemos utilizar um ou mais modo de buscar estasinformações. Para aqueles que têm tempo,recomenda-se a segunda opção, como forma acruzar dados obtidos.

Há vários tipos de metodologia que podemser empregadas de acordo com a situação e opçãopessoal. Elas se dividem em experimental, quepermite ao pesquisador provocar e produzirfenômenos em condições de controle, e não-experimental, onde não se manipula variáveis, masas isola, não se provoca eventos, mas observa-see registra-se.

Na experimental, se tem a de laboratório,onde pode-se experimentar uma entidade física(líquidos, bactérias, animais) ou objetos sociais

(pessoas, grupos ou instituições). No segundocaso, é necessário ser aprovado antes, muitasvezes, por um conselho de ética.

As não-experimentais podem ser de váriasmaneiras:

A bibliográfica é constituídaexclusivamente por fontes bibliográficas, comolivros, artigos, resenhas, etc. Este tipo permitecobrir amplamente um tema, mas pode reproduzirerros, uma vez que se analisa a partir da visão deoutros autores. Praticamente todos tipos depesquisa se utilizam de fontes bibliográficas paraescrever o referencial teórico, portanto realizamtambém uma pesquisa bibliográfica. As dicas decomo proceder neste tipo de metodologia sãoidênticas ao como montar um referencial teórico(uso da biblioteca, fichas de leitura, organizaçãodo material por assunto, etc.). Uma sugestão paraaqueles que querem fazer uma pesquisabibliográfica é consultar, além de obras sobre otema pesquisado, um especialistas na área. Porexemplo, num trabalho sobre Machado de Assis,fica interessante entrevistar um crítico literárioespecialista em obras deste escritor. É uma formabem simples de cruzar métodos para melhor cercaro objeto de pesquisa.

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Uma pesquisa semelhante à bibliográficaé a Documental. Ela difere pelas fontes que utiliza.Na pesquisa documental, os materiais ainda nãoreceberam tratamento analítico (ou, se já, podemser reelaborados). Diz-se que são de primeira mãoos documentos históricos: atas do poder executivo;leis do legislativo; sentenças do judiciário;reportagens, crônicas, charges, editoriais emanchetes de jornal; correspondência de pessoascomuns, etc. Estas são muito utilizadas por aquelesque trabalham com história, recebendo novasleituras ao longo dos anos. As fontes de segundamão são os dados estatísticos, levantadosperiodicamente pelas mais diversas entidadespúblicas e privadas (exemplo: dados do censo doIBGE). Estes dados são mais utilizados porestatísticos e economistas, que baseiam muito suaanálise em algo quantificável.

Para as áreas ditas “humanas”, a entrevistaé o método mais recomendado. Ela consiste numdiálogo realizado entre pesquisado e pesquisador.Ela é sempre feita com descrição. Para tanto,procure um ambiente propício. Se você estádesenvolvendo um trabalho na área da saúde epropôs entrevistar um médico, não o faça na salade cirurgia ou em seu plantão. Procure marcar uma

hora na agenda do entrevistado (neste caso, 1 horaé um bom tempo para realizá-la). Se for noconsultório, certifique-se de que ele nãointerromperá a entrevista para conversar com ospacientes, a fim de não perder o fio da conversa(desligar o telefone já é pedir demais). Isto valepara todos profissionais, independente de quão sãoocupados.

Na conversa, procure não desviar doassunto em pauta, não discuta com o entrevistadonem coloque suas opiniões sobre o assunto (jápresenciei entrevistadoras que começaram a contarproblemas de sua vida pessoal, literalmente“desabafaram” com o entrevistado); procure falarpouco, limite-se a perguntar. Uma forma educadade fazer ele repetir um pensamento, isso se elefalar muito rapidamente, é retomar uma parte daconversa, enfatizando-a: “então quer dizer que osenhor acredita que...” Esta técnica permite que aentrevista tome rumos inesperados, siga porassuntos não pensados inicialmente. Procuresempre explorar o que diz o entrevistado. Ouçatudo com atenção e anote tudo que for possívelou utilize um gravador (pergunte antes se podegravar a entrevista e esteja pronto para ouvirrespostas negativas).

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Para ir bem preparado para umaentrevista, o ideal é levar um bloco de anotações/rascunho. Na folha de capa, anote os tópicos aserem questionados. A medida que o entrevistadofor falando, procure ir anotando frases-chave,poucas palavras que resumam o que ele disse, oupalavras-chave, palavras que permitamposteriormente lembrar do que ele quis dizer.

Outra técnica comumente utilizada é a doquestionário. Este método permite que se pesquiseum grande número de pessoas, pois é mais fácilde ser respondido. Ele também permite oanonimato daqueles que o respondem, o que tornamais cômodo para alguns. Em compensação, aotornar impessoal a pesquisa, perde-se as atitudes,o modo como o entrevistado responde, seucomportamento, seu nervosismo ou segurança, aexpressão de seu rosto, seu olhar, enfim, todocontexto em que está envolvido. Esta técnica nãoé recomendada para um pequeno número depessoas, por exemplo, menos de dez.

O questionário pode ser montado comrespostas abertas e/ou fechadas. Abertas sãoaquelas em que a pessoa pode responderlivremente. Nas fechadas ela tem algumas opçõese deve escolher uma delas (na análise de dados

sugerimos algumas formas de trabalhar com asrespostas). Em ambas, as perguntas devem serclaras e bem articuladas. A própria disposiçãodeve seguir uma seqüência lógica, do assunto maissimples ao mais completo. No início, pode-secolocar os dados pessoais (exceto nome), comoidade, profissão, sexo, bairro onde mora, etc.Também é de bom alvitre colocar um pequenotexto antes das perguntas, explicando do que trataa pesquisa, quais suas finalidades, como preenchero questionário, e dizendo que as informações aliserão confidenciais. Isto principalmente quandose deixe o questionário para as pessoasresponderem. Quando se faz pessoalmente, deve-se explicar verbalmente esses itens.

Uma variante do questionário é a chamadapesquisa de opinião ou atitude. São mais utilizadaspara se ver especificamente quais atitudes, pontosde vista e preferências têm as pessoas. Podemaparecer como pesquisa de motivação e pesquisapara análise de trabalho. Outra variante é olevantamento, que nada mais é do que umainterrogação direta, a exemplo do censo, onde seseleciona uma amostra da população para projetara totalidade do universo investigada. Comoaspecto positivo tem-se a economia e rapidez, pois

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permite quantificar os dados. Suas limitações são:percepção subjetiva da realidade por parte dosentrevistados, pouca profundidade no estudo daestrutura e dos processos sociais e limitadaapreensão do processo de mudança.

Para determinadas áreas do conhecimento,uma metodologia em voga é o Estudo de caso.Nele, se faz uma indagação em profundidade paraexaminar aspectos particulares. Busca-se casostípicos, extremos ou marginais, selecionados combase em critérios pré-estabelecidos. Quem utilizatal método, fica impossibilitado de generalizar osresultados.

Um tipo de pesquisa que apareceu nasciências humanas, enxertado das ciênciasexperimentais, é a pesquisa-ação. Quem dela seutiliza, acompanha as modificações do processoestudado, voltando sua atenção para a solução deum problema real e concreto. É um processocircular de indagação e análise, que parte deproblemas práticos. Tem-se uma intervençãoparticipativa, onde os próprios pesquisadosdeterminam rumo do trabalho, cabendo aopesquisados interpretar. A proximidade deste tipode metodologia com a pesquisa experimental sedeve ao fato de que, de alguma forma, o

pesquisador pode fazer experimentos com o grupopesquisado.

Da antropologia vem dois tipos demétodos. O descritivo, que busca interpretar arealidade sem nela interferir, e o etnográfico, queé uma técnicas para coletar dados sobre valores,hábitos, crenças, práticas e comportamentos, emsuma, uma descrição cultural de determinadogrupo social. Em ambas, há uma interação entre opesquisador e os pesquisados. Procura-secontextualizar o fenômeno estudado, enfatizandoo processo e não o resultado. Busca-se, acima detudo, retratar a visão dos pesquisados. Por isso anecessidade de se ter um contato direto eprolongado com os pesquisados. Este tipo depesquisa necessita uma grande quantidade dedados descritivos. Sua vantagem é ser flexível.Sua desvantagem é o tempo e a disposiçãonecessários.

Qualquer que seja o método adotado,convém sempre realizar pré-testes, principalmenteem projetos de maior duração.

E fique atento! Para qualquer tipo depesquisa será necessário buscar subsídios emleituras teóricas, autores que se utilizaram de

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determinada forma de pesquisar e que embasama futura pesquisa. Isto deve estar escrito no projeto.

Por fim, não esqueça de elaborar umaespécie de documento que comprove que vocêinformou o sujeito da pesquisa sobre seus direitos.Isto poderá ser útil caso alguém não goste dosresultados apresentados e escolha o caminhojudicial para pleitear indenização.

Prevendo as fontesUm item exigido por alguns programas de

pós-graduação é o da previsão de fontes depesquisa. Importante, diga-se de passagem, umavez que quem se candidata deve, no mínimo,mostrar que sabe onde vai realizar sua pesquisa eque tais dados estarão acessíveis. Imagine proporum belo de um projeto, ser aprovado e, na hora“H”, as fontes não estarem disponíveis!

Tive dois alunos que, em determinadosemestre, propuseram uma pesquisa comdeterminado tema. Por serem um tantoacomodados, levaram metade do semestre sem sepreocupar com a acessibilidade das fontes. Nahora de aplicar os instrumentos de pesquisa,descobriram não ser possível. E só tentaramresolver este problema quando o prazo paraentrega do relatório já havia expirado. Aí era tardedemais, pelo menos para aquele semestre.

Sempre ao propor uma pesquisa, dêatenção especial para as fontes. Veja se estão àmão. Evite dores de cabeça futuras.

Quanto vai custar?O orçamento é um item necessário para

projetos que exigem financiamento especial paramaterial permanente, como laboratório ou clínica.Em algumas áreas, há necessidade de pessoas paraaplicar os instrumentos de pesquisa (por exemplo,questionários). Se assim for, é preciso prever osgastos, se não se quer ver a iniciativa naufragarou “morrer na praia”.

EsqueletoO Plano preliminar de conteúdos é o

esqueleto da monografia. Nele se procura mostrarcomo será abordado o tema escolhido, quantaspartes e capítulos terá o resultado final.Obviamente, isto é um tanto complicado emdeterminadas áreas, onde a construção final sedará a partir do que se encontrar na pesquisa.

Prevendo as etapasCronograma é a representação gráfica da

previsão da execução de um trabalho, na qual seindicam os prazos em que se deverão executar assuas diversas fases ou o tempo necessário pararealização de cada uma das etapas propostas,exposto em forma de gráfico.

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Guia dos autoresReferências bibliográficas ou

simplesmente Bibliografia é a parte do trabalhoonde se dispõe em ordem alfabética a lista doslivros, periódicos ou artigos citados. Eles podemser postos separadamente ou juntos. A própriaordem varia, sendo o mais comum da seguinteforma:

LivrosSOBRENOME, Nome. Título (em

itálico). Tradutor (quando houver), Edição (se fora primeira não precisa aparecer), local da edição:editor, data da edição, nº pgs (opcional)

Exemplos:SILVA. João da. Fausto em Copacabana.

Tradução de João Araújo, 2a ed., Porto Alegre/RS: Jameson, 1988, 385 p.

RIBEIRO, Lara J. Entre as cidadessagradas: o possível e o desejo, In: RIBAS,Leonardo (org.). Cidade de Deus. Rio de Janeiro:Lamir, 1996, p.23-36

LAVI, Georg. A desilusão. In: VELHO,Luiz. O farol. Salvador/BA: Louvados, 1987,p.12-54

O “In” significa que determinado artigoestá dentro do livro citado posteriormente. Assim,

o texto de Ribeiro pode ser encontrado no livrode Ribas. Não confunda com “apud” que significaque o autor citou um trecho de uma citação quenão a do original. Por exemplo. Ribas citouSilveira. Ribeiro gostou da citação e quis utilizá-la também. Como quem afirmou aquilo foi Silveirae não Ribas, Ribeiro utilizará a expressão “Silveiraapud Ribas”, que significa que a afirmaçãooriginal é de Ribas, mas foi utilizada pelo Silveira,de quem Ribeiro retirou. Difícil, leia de novo eveja se entenda.

Artigos de RevistaSOBRENOME, Nome. Título do artigo

(em itálico). In: Título da Revista, volume e nº dofascículo, mês/ano, nº pgs.

PALOCI, Fátima de. Tensões eambigüidades: a modernidade. In: Revista Plus.Departamento de Literatura. São Paulo: Papil, 1ºsemestre, nº 1, 2ª ed., 1994, p.45-78

Significa que o artigo de Paloci estápublicado dentro da Revista Plus.

InternetPara citar páginas na internet, procure

copiar, além do autor e do título, o endereçocompleto que você está acessando. Não só apágina inicial, por exemplo www.scielo.com.br,

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mas todo endereço. O mais fácil é copiar dopróprio link do programa. Em seguida, coloqueentre < > a data que foi acessado.

ClipesEm determinados projetos, é possível

incluir o item Anexos. Nele, colocamos os modelosde instrumento que utilizaremos na pesquisa e todaoutra informação que julgarmos necessário paramelhor compreensão do projeto. Podemos anexar,por exemplo, o questionário a ser aplicado ou asperguntas da entrevista. Ou ainda o modelo defichas de observação.

Dicas de formataçãoPenso que um texto deve ter, antes de tudo,

apresentação estética. Para tanto, sugiro as duasfontes mais usadas: Times New Roman, tamanho12, para o corpo do texto, e 10 para citações embloco; ou Arial, tamanho 10, corpo, e 9, citação.Adotando uma delas, usa-se, obviamente, até ofinal. No título do artigo pode ser usado umtamanho um pouco maior, 16 ou 18, em negrito.Para os sub-títulos, mesmo tamanho do corpo detexto, só em negrito. As margens, para nãocomplicar, use 3 cm em ambos os lados.

Nos parágrafos, sugiro centralizado paraa capa do projeto de pesquisa. No artigo,

centralizado para o título, direito para os autorese justificado para os demais. No resumo, fica bemapresentado colocá-lo em itálico, sem recuo ouavanço na primeira linha. No restante do texto,avance 1,25 cm na primeira linha, inclusive nossub-títulos e nas referências bibliográficas. Emparágrafos de citação em bloco (letra menor), userecuo do lado esquerdo de 3 cm e sem avanço naprimeira linha. O espaçamento entre linhas podeser duplo ou 1,5. Este último é o mais utilizadoatualmente. Para parágrafos de citação em blocouse sempre espaçamento simples. Por fim, oespaçamento depois do parágrafo pode ser de 6pontos.

O artigo não vai capa. Use somente parao projeto. Bem acima, escreva o nome daUniversidade e o curso ou programa. Um poucoacima do centro da página, vai o título em negrito,e um pouco abaixo o nome do autor, também emnegrito. Mais abaixo, a que o projeto se destina.Ao final da página vai a cidade e a data (mês/ano).

Relatório de PesquisaApós realizar a pesquisa, partimos para a

fase seguinte, que é a de analisar o que foipesquisado e apresentar tais resultados de formaque outras pessoas compreendam.

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A análise dos resultados pode serapresentada através de tabulação, gráficos,quadros, mapas, estatísticas para análise,interpretações e/ou conclusões.

A primeira forma de que dispomos osdados é de maneira bruta, não lapidada outrabalhada. Se gravamos e transcrevemos umaentrevista com determinada pessoa, teremos emmãos um relato completo. Neste exemplo, nãodivisamos tudo aquilo que a pessoa falou pois orelato ainda está embaralhado. É necessárioorganizá-lo. Uma forma de organizar os dados depesquisa é a utilização de fichas, as mesmas usadasna construção do referencial teórico do projeto.Não se trata simplesmente de dividir as perguntase respostas em fichas, pois o que o entrevistadofalou sobre determinado tema pode estarespalhado em vários lugares da entrevista. Trata-se de retirar partes da fala do entrevistado,juntando-a com outras partes que sejam do mesmoassunto, e, em seguida, procedermos decomentários pessoais, que constituem-se em nossaprópria análise. Um modo de fazer isto é imprimira entrevista e recortar, literalmente, as partes quefalam de determinado tema. Feito isto, organize omaterial, copiando e colando as partes

semelhantes. Junte análise, palavras-chave ecabeçalho com iniciais do entrevistado e está feitaa ficha. Imprima-as novamente e terá em mãos osdados bem organizados e de fácil acesso.

Tais fichas podem ser de várias formas.Eu divido-as em fonte primária citada oucomentada, fonte secundária citada ou comentadae arquivo de idéias (idéias que surgem à medidaque se desenvolve o trabalho).

Fonte primária citadaEntrevista com 26 crianças da escola Bahia

do CobrePergunta: Quais atividades realizam durante

o tempo de convívio em família?Resposta:a) Realizam tarefas domésticas, sem ter tempo

para os filhos: 16b) Olham televisão: 9c) Acompanham a aprendizagem dos filhos:1Comentários pessoais: apesar da maioria

auxiliar os pais, grande parte se limita a olhar TVPalavras-chave: família - atividadesFonte primária comentadaEntrevista com 5 professores da Escola Bahia

do CobreResumo: Perguntamos se eles percebiam

diferença no desenvolvimento da criança, a partir doacompanhamento dos pais na sua vida escolar? Um se

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limitou a responder que “Sim”; outro disse que éimportante para a criança saber da participação dospais, pois elas sente-se mais segura. Um terceiroexplicou que as crianças que têm pais envolvidosapresentam um maior desenvolvimento na escola. Oquarto professor disse perceber que toda a criança queos pais são atuantes ficam mais seguras, menos carentee mais interessadas. O último ressaltou que os pais queincentivam e conversam reflete na forma como acriança faz seus trabalhos e participa das atividades.

Comentários pessoais: ambos professoresentrevistados acreditam ser importante a participaçãodos pais no desenvolvimento escolar dos filhos

Palavras-chave: família – desenvolvimentoeducacional

Fonte secundária citadaROHDE, Geraldo Mário. Cachoeira do Sul:

uma perspectiva ambiental. Canoas: ULBRA, 1998,268p.

“O abatimento em que mergulhou Cachoeirado Sul, iniciado na década de 40, foi agravado eaprofundado especialmente na década de 80. na décadade 90, atingiu a sua intensidade maior, como um círculovicioso de incapacidade e inércia, paralisação e faltade iniciativa”. p. 21

Comentário: Decadência: imaginei que o ciclotinha começado no final dos anos 70, começo dos 80,como em toda agricultura. Acentuado pela importaçãode arroz (principalmente chinês???). Pode ser que o

autor adote esta perspectiva histórica para, maisadiante, mostrar que a agricultura não é a saída, oualgo parecido.

Palavras-chave: crise econômica - agriculturaFonte secundária comentadaROHDE, Geraldo Mário. Cachoeira do Sul:

uma perspectiva ambiental. Canoas: ULBRA, 1998,268p.

Em 1993, o IPEA registrou que Cachoeira doSul era a cidade com mais miséria per capita. Aspercentagens não batem, 38% da população total eraindigente (publicado no JP), ou 26% (publicado na ZH).Consideraram indigente aquele cujo poder aquisitivolhe permitia comprar apenas a cesta básicamensalmente. Outros dados: 65% da população infantilvivem em situação de miséria e 76% de crianças entre0 e 6 anos vivem em domicílios urbanos com esgotosanitário inadequado. Nova pesquisa em 1995: CS tem89 mil habitantes, dentre estes 30 mil são consideradosindigentes (superpobres). 1996: pesquisa FEE, CSocupa a colocação 239 quanto à qualidade de vida. Ograu de indigência atinge 30,02% da população. 1997:“Cachoeira do Sul tem uma das piores distribuições derenda do Rio Grande do Sul, concentrando a renda deforma injusta e distribuindo miséria de forma gritante”(JP). P. 45

Palavras-chave: indigentes

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Arquivo de idéiasNovo Hamburgo - o olhar do habitante na

cidade: a transformação no uso da rua ocasionada pelasinovações tecnológicas

Em 05/05/97 durante a leitura de “Relaçãoentre história e literatura...” de Sandra Pesavento,especificamente na página 123 - “o malandro ganhavastatus, travestido na figura do dandy ou do boêmio” -surgiu a idéia de utilizar o dandy de Benjamin paratentar explicitar e até explicar o nuveo-richiehamburges, encontrado principalmente após a explosãode crescimento da cidade, e tornando-se figurasimplória entre o meio social. O dandy sobre duasfacetas: 1) os novos-ricos que esbanjam símbolos deriqueza e são, de certa forma, desprovidos de um“charme” da classe privilegiada, identificam-se com aclasse econômica alta, pelos símbolos de riqueza, masnão pela educação, boas maneiras; 2) os ricos de outroraque atualmente despossuídos de seu padrão econômicoque os colocaram como tal (não são pobres, mas ariqueza já está dilacerada), ainda procuram ostentarsímbolos de riqueza. Possuem estilo, status, mas nãomais o poderio econômico. Ambos podem sermostrados por esta figura...o dandy.

Palavras-chave: dandy – novos ricos – estilo- decadência

Calculando a percentagemPara calcular a percentagem ou

porcentagem de uma pesquisa, sugiro a Fórmulade Jeferson. Numa calculadora simples é só pegaro número de determinada resposta dividido pelototal de respostas e apertar tecla %. Exemplo: 5 /30% = 16,6.

Se quiser calcular de outra forma, sugiroa regra de 3.

ResumoNormalmente elaboramos o resumo

depois de termos escrito o artigo. Em que peseesta ordem natural das coisas, acredito quepodemos escrevê-lo antes, uma vez que já sabemosdos principais resultados encontrados.

As partes que o compõe são: título,autores, introdução, objetivo, metodologia,resultados obtidos e conclusão, palavras-chave eidentificação dos autores. O tamanho é de, nomáximo, 300 palavras.

O título é o mesmo usado no projeto e nopróprio artigo. A disposição do nome dos autoresvai variar de acordo com a área. Nas ciênciashumanas, usa-se normalmente o nome completo.Nas ciências exatas, adota-se comumente osobrenome em caixa alta procedido das iniciais.

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Em ambos, é possível identificar os autores comasteriscos ou números sobrescritos, colocando nofinal suas habilitações e as instituições de quefazem parte. Estes dois itens são postos deparágrafos separados.

Após, em parágrafo único, colocamos oresumo propriamente dito. Iniciamos com aintrodução, normalmente uma pequena frase quepode ser retirada do projeto e que sintetize o tema.Em seguida, colocamos somente o objetivo geral,nunca os objetivos específicos, pois queremosmostrar o âmago do que pesquisamos. Após, ametodologia utilizada na pesquisa, também deforma resumida, limitando-se ao tipo ou tipos deinstrumentos usados e o público-alvo. Osresultados obtidos, postos em seguida, são a partemais importante do resumo. É com eles quedevemos gastar mais espaço. Sempre colocadosde forma sucinta, devem mostrar em poucaspalavras o que foi encontrado na pesquisa. Tal sefossem tópicos, pode ser utilizado ponto-e-vírgulapara separá-los. Por fim, a conclusão que limita-se numa pequena frase, concluindo de maneirageral o pesquisado.

Num parágrafo seguinte, coloca-se de trêspalavras-chave, resumindo os temas pesquisado.

Após, num último parágrafo, a identificação dosautores.

Teríamos como exemplo:Abstinência na prática da Educação Física em

escolas municipais públicas de Cachoeira do Sul eFaxinal do Soturno/RS.

João da Silva Moura, Lucilda Osmarina,Rômulo Farias* e Kleber Polent (orient.)**

[introdução] Nos dias atuais, várias são ospretextos apresentados pelos alunos para se absteremda prática de Educação Física. [objetivo] Nossoobjetivo foi investigar as causas que levam os alunos anão praticar atividades físicas em algumas escolasmunicipais de Cachoeira do Sul e Faxinal do Soturno/RS, procurando verificar a infra-estrutura, metodologiade ensino, relacionamento professor-aluno, entreoutros. [metodologia] Para obteremos tais respostas,aplicamos questionário aberto em quatro diretores, seisprofessores e 30 alunos das respectivas escolas.[resultados obtidos] Pudemos verificar que aabstinência da atividade física nas escolas se dá pelainfra-estrutura precária e da impossibilidade dos alunosrealizarem as atividades com o devido uniforme. Ametodologia empregada nas aulas e o inter-relacionamento professor-aluno é satisfatório. Ascondições financeiras, tanto por parte dos alunos quantopor parte da escola, é o fator determinante para a nãoprática de atividades físicas. [conclusão] Como

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conclusão, podemos ressaltar a importância vista naprática de atividades físicas na escola, justificando-seassim, maiores investimentos na área, uma vez queencontra-se debilitada. [total: 161 palavras]

Palavras-chave: Educação Física – escolasmunicipais – abstinência física

Identificação:Universidade Luterana do Brasil, Campus

Cachoeira do Sul/RS* Acadêmicos do curso Educação Física** Licenciado em Educação Física, professor

da ULBRAObserve que no resumo as palavras

introdução, objetivo, metodologia, resultadosobtidos e conclusão aparecem em colchetesporque elas não vão no texto, a menos que sejamcolocadas no contexto da frase, como no exemplo.O mesmo vale para o número total de palavras.

Duas dicas: para contar as palavras, noeditor de texto Word for Windows®, selecione otexto, clique na barra de tarefas em “ferramentas”e “contar palavras”. A letra e o espaçamentoutilizados varia conforme o evento. As maiscomuns são Times New Roman 12 ou Arial 11,espaçamento simples ou 1,5.

Montagem visual(painel auto-explicativo)Há basicamente duas formas de se

apresentar os dados pesquisados. A primeira é deforma simples, utilizando as informações dopróprio resumo; a segunda é de forma completa,utilizando todas informações, a partir do próprioartigo (veja mais adiante como escrever o artigo)

No primeiro modelo, simples, você podemontar seu painel auto-explicativo (cartaz oubanner) com algumas modificações feitas a partirdo resumo enviado para o evento. Normalmente,se usam as letras Times New Roman ou Arial, istoporque elas facilitam a leitura. Se a opção for pelocartaz, utilize o editor de texto que você estáacostumado. Neste caso, crie um documento,salve-o antes de tudo, e divida as partes do resumo(título, componentes e instituição, introdução eobjetivos, metodologia, resultados, conclusão) empáginas (às vezes duas partes cabem numa mesmapágina). O título pode ter letra tamanho entre 60 e72, numa linha ou duas. A letra utilizada para osautores e a instituição e curso é proporcionalmentemenor, entre 52 e 64. No texto, o título pode tertamanho entre 42 e 54 e o corpo entre 38 e 50.

As dimensões mais solicitadas para opainel são 1 metro de altura por 70 centímetros de

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largura. Nas livrarias, comumente encontram-secartolinas com alguns centímetros menos, queservem perfeitamente. Uma sugestão é comprarcores bem contrastantes, que tornem o painelchamativo. Um exemplo é cartolina em amareloe folhas para impressão em laranja, além dealguma folhas em vermelho para fazer bordasfalsas. Outra sugestão é colocar fotos, gráficos outabelas.

Caso você opte por elaborar um banner(aqueles cartazes impressos em gráficasespecializadas, normalmente cobertos por umplástico/adesivo transparente), procure antes umaempresa que faça a impressão para saber qual tipode arquivo deve ser entregue (se .doc ou outraextensão). Embora o banner seja o mais práticona hora de transportar e dê uma aparência mais“moderna” ao trabalho, lembre-se que eles custamcaro (entre R$ 40 a R$ 120), valor dispensávelpara a maioria dos trabalhos feitos poracadêmicos.

Este tipo de painel é mais utilizado porpesquisadores que têm algum tipo definanciamento (instituições públicas ou privadas),que necessitam transportá-lo para várias eventoscientíficos. Assim, o painel “se paga”. Se vocêdispõe de pouco dinheiro para empregar na

apresentação da sua pesquisa ou vai utilizar opainel para poucos eventos, vale mais a pena usarum cartaz bem elaborado. Para disfarçar, coloque“contact” transparente por cima.

No caso do painel ser o completo, procuremontar a estrutura do artigo num programa deslides, como o PowerPoint®, dividindo em 8partes: Dados de identificação (Título, autores einstituição); Resumo (completo); Introdução(definição do tema, problema de pesquisa,hipóteses, objetivos geral e específicos ejustificativa); Referencial teórico; Metodologia;Resultados e Conclusão; Fotos, gráficos outabelas; e por fim Bibliografia.

Montagem para apresentação oral (lâminas ou data-show)Na apresentação oral você tem entre 10 a

15 min para expor e mais 5 min para responderperguntas. Com esta escassez de tempo, você deveaproveitar o máximo para passar as informaçõesda pesquisa. A pior coisa que você pode fazer ése fiar no improviso. Quem assim o faz acaba“levantando sem saber o que vai dizer e sentandosem saber o que disse”. Ao invés disto, utilize umroteiro seguro, o mesmo usado no resumo e nocartaz.

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A forma de montá-lo, se em lâminas oudata-show, vai da disponibilidade da aparelhagem.Por questões financeiras, recomenda-se o segundo,pois o custo limita-se a um disquete. Se você tiverque usar as lâminas, compre as utilizadas emxerográficas, imprima em papel comum seusoriginais e peça para xerografar. Além de maisbaratas do que as recomendada para impressoras,você elimina o risco de danificar uma lâmina.

Você tem a opção de imprimir a partir doprograma mais utilizado para apresentação, oPowerPoint®, ou montar a partir de um editor detexto. Em ambos os casos, a base será a mesma: oresumo.

Na montagem das lâminas, você podeutilizar o próprio arquivo do cartaz, com asmesmas especificações quanto a tamanho da fontee tipo de letra. Assim como no cartaz, nas lâminasas partes do resumo (título, componentes einstituição, introdução e objetivos, metodologia,resultados, conclusão) podem ser colocadas emduas páginas se houver espaço. Ajustado oconteúdo, resta imprimi-las.

No caso de optar em utilizar oPowerPoint®, abra conjuntamente o programacom o editor de texto onde você tem o resumo.

Isto evitará reescrever o texto, pois poderásimplesmente colar as partes do resumo. Assimcomo quando você escreveu o resumo, salve oarquivo para evitar perdas em caso de pane nocomputador ou queda de luz.

O PowerPoint® tem tutorial próprio evários modelos de apresentações. Você podeescolher um deles ou partir de uma apresentaçãoem branco. Fica a seu critério. Qual for sua opção,a montagem deve sempre ser feita na seqüência:título, componentes e instituição na primeiralâmina, introdução e objetivos na segunda (ou nasegunda e na terceira), metodologia na quarta,resultados na quinta (aqui você pode usar mais deuma lâmina) e conclusão na última lâmina.

Na apresentação oral, você pode colocartambém no final a bibliografia utilizada napesquisa. Cuide para não usar modelos com muitasfiguras que nada tem a ver com o trabalho. O quenão impede de você colocar fotos, gráficos outabelas da pesquisa, até para ilustrar.

Encarando o públicoNa hora da apresentação é normal o

nervosismo. Isto porque falaremos para pessoasestranhas. Lembre-se, por serem estranhas nãosabem seu passado, suas fraquezas, seus defeitos,

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etc. Uma dica: imagine mergulhar numa piscinafunda de água fria; ou você nada e vai em frenteou perece ali mesmo. Numa apresentação ésemelhante: entre, dê seu recado e encare comose tivesse dado tudo certo. Não fique pensando“será que estou agradando?”

Se você vai usar lâminas na hora daapresentação, passe uma a uma, na seqüência,lendo ou explicando-as. Não caia na tentação decolocá-las no retroprojetor mas falar as coisastrocadas, como os resultados antes de explicar oque você queria com a pesquisa ou a metodologiasó lá no final da apresentação (muitosapresentadores acabam trocando os pés pelas mãosna hora e já na introdução explicam todo trabalho,aí repetem falas e esquecem outras, caracterizandoa exposição como uma atrapalhação).

A parte onde você pode e deve gastar maistempo explicando é nos resultados. Como vocêconhece o tema e aquilo que pesquisou, terátranqüilidade de divagar sobre ele (obviamente,se você “comprou” o trabalho de terceiros, terádificuldade de apresentá-lo).

Para o data-show vale a mesma coisa;passe um a um os slides e explique-os calmamente.Como prevenção, leve o conteúdo numa folha

impressa. Caso a aparelhagem dê problema nahora da apresentação, você não se sentirá perdidopara falar.

Em muitos eventos científicos háavaliadores ou debatedores na exposição oral. Sea banca for “avaliar” seu trabalho, você terá maiordificuldade pois, neste caso, tentarão mostrarserviço e encontrar defeitos. Há avaliadores que,por vaidade (querem aparecer para a platéia, seremvistos como os mais inteligentes, etc.), se portamcomo verdadeiros “inquisidores”. Querem, aqualquer custo, destruir sua pesquisa e seusresultados. Lembre-se que nenhum trabalhocientífico é perfeito; todos têm ênfases num pontoque talvez não seja a mesma que o avaliadorgostaria que fosse. Isto é questão pessoal e procurenão entrar em atritos. Explique calmamente oporquê de ter optado por um caminho ao invés deoutro, de ter enfatizado uma coisa ao invés deoutra. Se você fez o trabalho com dedicação eempenho, não há o que temer.

Obviamente, nem todos na banca seportam assim. Há quem prefira levantar questõesrelevantes ou até apontar erros mas por umaquestão de aperfeiçoamento. Esses fazem críticasconstrutivas. São os “debatedores”, aqueles quefomentam um debate. Normalmente exploram

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pontos importantes do seu trabalho, pontos estesque às vezes passam despercebidos ou nãoreceberam a justa importância por você.

Escrevendo um artigoA concretização de uma pesquisa

científica se dá, normalmente, através de um artigocientífico. Este artigo pode ser montado em partesque variam segundo os critérios utilizados pelasdiversas áreas da ciência. De maneira geral, osseguintes itens são necessários: título,componentes, resumo/abstract, introdução,referencial teórico, metodologia de pesquisa,resultados, conclusão e bibliografia.

Como este artigo é fruto do projeto depesquisa, várias das partes que o compõem serãotiradas dele, com algumas modificações. Acomeçar pelo título que somente sofrerá algumacorreção caso a própria pesquisa tenha sidomodificada. Componentes também só serãoincluídos ou excluídos caso isso tenha ocorrido.

O resumo poderá ser aquele enviado paraos eventos científicos. Para o abstract, que é atradução do português para o inglês, sugere-se nãoutilizar os tradutores eletrônicos pois eles colocampalavras que, no contexto do texto, não seencaixam. Custa pouco mandar para um professor

de inglês traduzir (mais ou menos R$ 5 porpágina).

A introdução do artigo (ou definição dotema) é a mesma do projeto de pesquisa. Lembre-se de passar para o tempo verbal passado, quandonecessário (principalmente naquelas partes ondecolocamos nossa pretensão com a pesquisa). Nelavocê poderá acrescentar seu problema de pesquisae suas hipóteses (caso houver), seu objetivo gerale os específicos, além da justificativa de pesquisa.Procure, caso opte em agregar estas partes,transformá-las num texto conciso e claro. Não façauma simples colagem das partes nem coloque ostópicos utilizados nos objetivos específicos ou emoutra parte.

A parte seguinte é a do referencial teóricoou também chamado discussão teórica. Ela poucodifere da escrita no projeto, ficando asmodificações para o caso de se ter realizadoalguma leitura teórica durante a pesquisa e sequeira complementar no texto do artigo.

Isto vale para a metodologia de pesquisa,que pode tanto ser modificada pela ampliação deautores teóricos de métodos de pesquisa quantopela inclusão/exclusão de atores pesquisados ounão. Neste item pode ser feito um pequeno relato

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de como foi pesquisar: dificuldades encontradas,mudanças necessárias quanto a escolha de pessoasou locais, etc.

Após estas partes, vem a análise dapesquisa propriamente dita. Os resultadoscolocados no “resumo” são exploradosexaustivamente aqui. A própria disposição dosresultados não segue a mesma ordem do resumo.A melhor forma de se escrever os resultados dapesquisa é pegando as fichas de fontes (verRelatório de Pesquisa). Nelas, todos os dadosestão organizados, divididos por temas ou assuntos(classificação feita a partir das palavras-chave).

Comece a escrever por algum destestemas. Leia todas as fichas novamente, duas outrês vezes se julgar necessário. O início vai variarmuito, depende da personalidade literária de cadaum (o modo de escrever). Você pode iniciar comum comentário seu e colocar em seguida uma frasedo seu entrevistado. A regra é a mesma damontagem do referencial teórico.

Um exemplo, extraído de um artigo deacadêmicos sobre portadores de HIV:

A família desempenha um papel fundamentalnessa hora, o carinho, a compreensão, são fundamentaispara que um portador do vírus HIV sinta -se amparado

pelas pessoas com as quais mantém um convívio diário.Muitas pessoas mantém um contato direto com essasituação, é o caso dos funcionários dos hospitais.Conforme afirma o enfermeiro M., “temos que conviverdiariamente com essa realidade, inclusive os familiaresdessas pessoas, devemos aprender a aceitá-las, e elastambém devem se aceitar, vivendo da melhor formapossível, tentando levar uma vida normal”.

Por fim, escreve-se a conclusão ou, comoprefiro chamar, as considerações finais. Istoporque em toda pesquisa, o que se tem ao final émuito mais uma ponderação, um exame, umaobservação e apreciação, do que um resultadofinal, uma verdade pronta e acabada.

Uma outra forma de escrever um artigo éjuntando resultados com referencial teórico.Entendo que esta seja a forma mais correta, umavez que isto possibilita um diálogo entre teoria erealidade. Parece obviedade afirmar isto masdesvincular ambas acarreta, muitas vezes, numadiscussão oposta. Explico: se um artigo científicodiscute a teoria separada de seus resultados podeincorrer em falar uma coisa primeiro e outratotalmente oposta em seguida. Como estãoseparadas, o leitor desatento não perceberá. Se,do contrário, discute-se conjuntamente, é possívelperceber de imediato esta relação, que não pode

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ser inversa mas caminha junta e se entrecruzaconstantemente. A isso dá-se o nome de diálogo.

A estrutura de escrever nesta forma oartigo é parecida: o título idêntico ao do projetode pesquisa; autores com identificação em notade rodapé; resumo e abstract (quando exigido);introdução do artigo ou definição do tema. Após,insere-se a discussão dos resultados encontradoscom a reflexão teórica. Por fim, as consideraçõesfinais. Neste tipo de artigo, ter sub-títulos éirrelevante. Pode-se tranqüilamente escrever umtexto único.

Um exemplo de diálogo entre teoria eresultados, num artigo de acadêmicos sobre aterceira idade:

Durkheim (Rodrigues, 2000) afirma que “aspessoas não estão juntas porque fazem juntas asmesmas coisas, mas ao contrário: estão juntas porquefazem coisas diferentes e, portanto, para viverdependem das outras, que fazem coisas que elas nãoquerem ou não são mais capazes de fazer”. No caso daterceira idade, a idéia da solidariedade orgânicacomprova a necessidade do idoso de viver emsociedade, pois eles tendo uma caminhada mais longae cheia de experiências com pessoas mais jovens quepossam pô-las em práticas. O depoimento de O.,integrante do grupo de terceira idade, revela que amesma convidaria outras pessoas a participarem deste

grupo para que o mesmo continue crescendo e parapoder conviver com pessoas diferentes.

Rodapé ou autor/dataDepende do professor ou da revista. No

primeiro caso, pergunte; no segundo, leia asnormas de publicação. Usando notas de rodapé, otexto fica mais limpo. Além disso, é possível fazeralgum tipo de comentário que não caberia no textoprincipal.

No caso de usar o autor/data, é possívelcolocar nota de rodapé explicativa, mas nunca decitação bibliográfica. Isto vale tanto para o projetode pesquisa quanto para o artigo.

Mas fique atento, uma vez adotado omodelo autor/data ou as notas de rodapé, deve-seusá-los até o fim, não pode ficar alternando.

Para pensar na camaLembre-se sempre que pesquisar não é

tarefa fácil. Exige muito do indivíduo que, porsua própria natureza, é acomodado. O que omotiva a procurar auxílio para enxergar o mundoatravés da pesquisa é a, também natural,inquietação. Tem pessoas que são maisacomodadas; outras mais inquietas. Algumas sãoacomodadas por um tempo e, em determinadotempo, tornam-se incomodadas. Já outras sãoinquietas quando jovem e se acomodam na medida

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que a velhice chega. Enfim, acomodação,inquietude e incomodação não têm idade.

Para se ter uma atitude de pesquisador ouinquisidor da realidade é necessário ser um poucoinquieto com o mundo, incomodado com verdadesprontas. A opção sempre é pessoal e intransferível.Não adianta querer meter goela abaixo. Outracoisa que não adianta é se tornar fascinado, querertransformar tudo em pesquisa. Discernimentosempre é o melhor remédio.

Portanto, para os que se aventuram nomundo da pesquisa, lembre-se de buscar antesrazão e sensibilidade. Junte a isso uma pitada deperseverança e um bocadinho de sorte.

O resultado final é de dar água na boca...Bibliografia citada e sugeridaARMANI, Domingos. Como elaborar

projetos: guia prático para elaboração e gestão deprojetos sociais. Porto Alegre/RS: Tomo Editorial,2003

BACHELARD, Gaston. Novo EspíritoCientífico. Coleção Os Pensadores, São Paulo: AbrilCultural, 1974

BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola. O queé, como se faz. 18o ed. São Paulo: Loyola, 2004

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas II.Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho de JoséCarlos Barbosa. 5ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1995

BOURDIEU, Pierre et al. A profissão desociólogo: preliminares epistemológicas. TraduçãoGuilherme João de Freitas Teixeira. 2a ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, PedroAlcino. Metodologia Científica. 5a ed. São Paulo:Prentice Hall, 2002

DEMO, Pedro. Metodologia Científica emCiências Sociais. São Paulo: Atlas, 1989

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