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Pestalozzi o Afeto Em Sala de Aula

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Educação

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    Pestalozzi

    Pestalozzi, o terico que incorporou oafeto sala de aulaPara o educador suo, os sentimentos tinham o poder dedespertar o processo de aprendizagem autnoma na criana

    Mrcio Ferrari

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    Para a mentalidade contempornea, amor talvez no seja aprimeira palavra que venha cabea quando se fala emcincia, mtodo ou teoria. Mas o afeto teve papel centralna obra de pensadores que lanaram os fundamentos dapedagogia moderna. Nenhum deles deu mais importnciaao amor, em particular ao amor materno, do que o suoJohann Heinrich Pestalozzi (1746-1827).

    Antecipando concepes do movimento da Escola Nova,que s surgiria na virada do sculo 19 para o 20,Pestalozzi afirmava que a funo principal do ensino levar as crianas a desenvolver suas habilidades naturais e

    inatas. "Segundo ele, o amor deflagra o processo de auto-educao", diz a escritora DoraIncontri, uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil.

    A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser no s uma extenso do lar como inspirar-seno ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurana e afeto. Ao contrrio demuitos de seus contemporneos, o pensador suo no concordava totalmente com o elogioda razo humana. Para ele, s o amor tinha fora salvadora, capaz de levar o homem plena realizao moral - isto , encontrar conscientemente, dentro de si, a essncia divinaque lhe d liberdade. "Pestalozzi chega ao ponto de afirmar que a religiosidade humananasce da relao afetiva da criana com a me, por meio da sensao de providncia", dizDora Incontri.

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    Escola pestalozziana contempornea na Sua: educao integral

    Inspirao na naturezaA vida e obra de Pestalozzi esto intimamente ligadas religio. Cristo devoto e seguidordo protestantismo, ele se preparou para o sacerdcio, mas abandonou a idia em favor danecessidade de viver junto da natureza e de experimentar suas idias a respeito daeducao. Seu pensamento permaneceu impregnado da crena na manifestao dadivindade no ser humano e na caridade, que ele praticou principalmente em favor dospobres.

    A criana, na viso de Pestalozzi, se desenvolve de dentro para fora - idia oposta concepo de que a funo do ensino preench-la de informao. Para o pensador suo,um dos cuidados principais do professor deveria ser respeitar os estgios dedesenvolvimento pelos quais a criana passa. Dar ateno sua evoluo, s suas aptidese necessidades, de acordo com as diferentes idades, era, para Pestalozzi, parte de umamisso maior do educador, a de saber ler e imitar a natureza - em que o mtodo pedaggicodeveria se inspirar.

    Sem notas, castigos ou prmiosAo contrrio de Rousseau, cuja teoria idealizada,Pestalozzi, segundo a educadora Dora Incontri,"experimentava sua teoria e tirava a teoria daprtica", nas vrias escolas que criou. Pestalozziaplicou em classe seu princpio da educao integral- isto , no limitada absoro de informaes.Segundo ele, o processo educativo deveria englobartrs dimenses humanas, identificadas com acabea, a mo e o corao. O objetivo final doaprendizado deveria ser uma formao tambmtripla: intelectual, fsica e moral. E o mtodo de

    estudo deveria reduzir-se a seus trs elementos mais simples: som, forma e nmero. Sdepois da percepo viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, oestudante teria condies de encontrar em si mesmo liberdade e autonomia moral. Comoalcanar esse objetivo dependia de uma trajetria ntima, Pestalozzi no acreditava emjulgamento externo. Por isso, em suas escolas no havia notas ou provas, castigos ourecompensas, numa poc a em que chic otear os alunos er a comum. "A disciplina exterior,na escola de Pestalozzi, era substituda pelo cultivo da disciplina interior, essencial moralprotestante", diz Alessandra Arce.

    Bondade potencialTanto a defesa de uma volta natureza quanto a construo de novos conceitos de criana,famlia e instruo a que Pestalozzi se dedicou devem muito a sua leitura do filsofofranco-suo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminista.

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    Ambos consideravam o ser humano de seu tempo excessivamente cerceado por convenessociais e influncias do meio, distanciado de sua ndole original - que seria essencialmenteboa para Rousseau e potencialmente frtil, mas egosta e submissa aos sentidos, paraPestalozzi.

    "A criana, na concepo de Pestalozzi, era um ser puro, bom em sua essncia e possuidorde uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude", dizAlessandra Arce, professora da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidadede So Paulo, em Ribeiro Preto. O pensador suo costumava comparar o ofcio doprofessor ao do jardineiro, que devia providenciar as melhores condies externas para queas plantas seguissem seu desenvolvimento natural. Ele gostava de lembrar que a sementetraz em si o "projeto" da rvore toda.

    Desse modo, o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo prprio aluno, com basena experimentao prtica e na vivncia intelectual, sensorial e emocional doconhecimento. a idia do "aprender fazendo", amplamente incorporada pela maioria dasescolas pedaggicas posteriores a Pestalozzi. O mtodo deveria partir do conhecido para onovo e do concreto para o abstrato, com nfase na ao e na percepo dos objetos, mais doque nas palavras. O que importava no era tanto o contedo, mas o desenvolvimento dashabilidades e dos valores.

    BiografiaJohann Heinrich Pestalozzi nasceu em 1746 em Zurique, na Sua. Na juventude, eleabandonou os estudos religiosos para se dedicar agricultura. Quando a empreitada setornou o primeiro de muitos fracassos materiais de sua vida, Pestalozzi levou algumascrianas pobres para casa, onde encontraram escola e trabalho como tecels, aprendendo ase sustentar. Alguns anos depois, a escola se inviabilizou e Pestalozzi passou a explorarsuas idias em livros, entre eles Os Crepsculos de um Eremita e o romance Leonardo eGertrudes. Uma nova chance de exercitar seu mtodo s surgiu quando ele j tinha mais de50 anos, ao ser chamado para dar aulas aos rfos da batalha de Stans. Mais duasexperincias se seguiram, em escolas de Burgdorf e Yverdon. Nesta ltima, que existiu de1805 a 1825, Pestalozzi desenvolveu seu projeto mais abrangente, dando aulas paraestudantes de vrias origens e comandando uma equipe de professores. Divergncias entreeles levaram a escola a fechar. Yverdon projetou o nome de Pestalozzi no exterior e foivisitada por muitos dos grandes educadores da poca.

    Um liberal na Era das RevoluesEmbora durante a maior parte de sua vida Pestalozzi tenha escolhido viver em relativoisolamento, com a mulher e um filho que morreu aos 31 anos, ele nunca se alienou dosacontecimentos de sua poca - chamada pelo historiador britnico Eric Hobsbawn de "Eradas Revolues". Na juventude, Pestalozzi militou num grupo que defendia a moralizaoda poltica sua. Mais tarde, por simpatizar com o pensamento liberal e republicano, se

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    A Liberdade Conduzindo o Povo, deDelacroix: Frana exporta revoluo

    alinhou aos defensores da Revoluo Francesa. Em1798, os franceses, em apoio aos republicanos suos,passaram a sufocar os focos de resistncia nova ordemno pas vizinho, e levaram frente um massacre nacidade de Stans. Pestalozzi, embora chocado com osacontecimentos, atendeu convocao do governo emontou uma escola para os rfos da batalha, queacabou sendo uma de suas experincias pedaggicasmais produtivas. Pestalozzi no foi um iluminista tpico,at por ser religioso demais para isso. Por outro lado, aimportncia que dava vivncia e experimentaoaproximam seu trabalho de um pioneiro enfoquecientfico para a educao, num reflexo da defesa darazo que caracterizou o "sculo das luzes". "A arte daeducao deve ser cultivada em todos os aspectos, parase tornar uma cincia construda a partir doconhecimento profundo da natureza humana", escreveu

    Pestalozzi.

    Para pensarA pesquisadora Dora Incontri v na obra dos filsofos da educao anteriores ao sculo 19uma concepo do ser humano "mais integral" do que a que passou a prevalecer ento.Segundo Dora, naquela poca a cincia, incluindo a pedagogia, se tornou materialista."Pensadores como Pestalozzi levavam em conta aspectos hoje negligenciados, como oespiritual. " Ela lamenta a ausncia dessa dimenso. No seu dia-a-dia na escola ou em seusestudos sobre educao, voc j sentiu a sensao de que falta algo teoria pedaggica?Chegou a pensar que carncia essa? De que forma ela se reflete na prtica?

    Quer saber mais?A Pedagogia na Era das Revolues, Alessandra Arce, Ed. Autores Associados, 238 pgs., tel.(19) 3289-5930, 37 reais Histria da Educao: da Antiguidade aos Nossos Dias, Mario Alighiero Manacorda, Ed. Cortez,382 pgs., tel. (11) 3611-9616, 42 reais Pestalozzi: Educao e tica, Dora Incontri, Ed. Scipione, 184 pgs., tel. 0800-161-700, 41,90reais

    O terico que incorporou o afeto sala de aula Inspirao na natureza

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    De A a E De F a M De N a Z

    Bondade potencial Biografia e contexto histrico

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    Grandes pensadoresBiografia e pensamento de educadores que fizeram histria, da Grcia Antiga aos dias de hoje,organizados por ordem alfabtica de sobrenome

    Santo AgostinhoO idealizador da revelao divina

    Hannah ArendtA voz de apoio autoridade do professor

    AristtelesO defensor da instruo para a virtude

    Toms de AquinoO pregador da razo e da prudncia

    Pierre BourdieuO investigador da desigualdade

    douard ClapardeUm pioneiro da psicologia infantil

    ComnioO pai da didtica moderna

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    Auguste ComteO homem que quis dar ordem ao mundo

    Ovide DecrolyO primeiro a tratar o saber de forma nica

    John DeweyO pensador que ps a prtica em foco

    mile DurkheimO criador da sociologia da educao

    Florestan FernandesUm militante do ensino democrtico

    Emilia FerreiroA revoluo na alfabetizao

    Michel FoucaultUm crtico da instituio escolar

    Clestin FreinetO mestre do trabalho e do bom senso

    Paulo FreireO mentor da educao para a conscincia

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    Friedrich FroebelO formador das crianas pequenas

    Howard GardnerO cientista das inteligncias mltiplas

    Antonio GramsciA emancipao das massas subalternas

    Johann F. HerbartO organizador da pedagogia como cincia

    John LockeUm explorador do entendimento humano

    Martinho LuteroO autor do conceito de educao til

    Anton MakarenkoO professor do coletivo

    Karl MarxO filsofo da revoluo

    Michel de MontaigneO investigador de si mesmo

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    Maria MontessoriA mdica que valorizou o aluno

    Edgar MorinO arquiteto da complexidade

    Alexander NeillO promotor da felicidade na sala de aula

    Johann H. PestalozziO terico que incorporou o afeto sala de aula

    Jean PiagetA aprendizagem no microscpio

    PlatoO primeiro pedagogo

    Carl RogersUm psiclogo a servio do estudante

    Erasmo de RoterdO porta-voz do humanismo

    RousseauO filsofo da liberdade como valor supremo

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    Publicado em Especial Grandes Pensadores, Outubro 2008.