Petinelli Viviane Lins Isabella Faria Claudia Conferencias Politicas Publicas Sistema Integrado Participacao Deliberacao

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    IV Congresso Latino Americano de Opinio Pblica da WAPOR

    04 a 06 de Maio de 2011- Belo Horizonte - Brasil

    AT7 - Participao, Deliberao e Opinio Pblica ;

    Conferncias de Polticas Pblicas: um Sistema Integrado de Participao e

    Deliberao?

    Viviane PetinelliDoutoranda do Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da UFMG.

    ([email protected]);

    Isabella L. Lins - Bolsista de Iniciao CientficaCNPq.

    ([email protected])

    Cludia F. Faria - Professora Adjunta do Departamento de Cincia Poltica da UFMG.

    ([email protected])

    Palavras-chave:Conferncias de Polticas Pblicas, Participao, Deliberao e Sistema

    Integrado

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    A teoria democrtica contempornea abriga hoje pelo menos duas abordagens que vinculam

    a presena de espaos participativos qualidade da democracia1. Ambas, a abordagem

    participativa e a deliberativa, apostam na centralidade destes espaos para conferir, dentre outras

    coisas, legitimidade s decises polticas que vinculam uma coletividade. Assim sendo, umadeciso coletiva s ser legtima na medida em que todos aqueles sujeitos a ela tenham o direito,

    a capacidade e a oportunidade de participar, de forma conseqente, na deliberao sobre o

    contedo desta deciso (Dryzek, 2010, p. 14; Cohen,1997; Benhabib, 1996).

    Tanto a tradio participativa quanto a deliberativa, ao apostarem na centralidade da

    participao e da discusso para a legitimidade do processo decisrio, tornam-se ferramentas

    analticas teis para analisarmos mais uma inovao democrtica no Brasil contemporneo: as

    conferencias de polticas pblicas.As Conferncias de Polticas Pblicas so definidas como espaos institucionais de

    participao e deliberao acerca das diretrizes gerais de uma determinada poltica pblica

    (Brasil, SG-PR/SNAS). Elas so convocadas por decreto presidencial que delimita a temtica e

    delega o dever de organiz-las aos respectivos ministrios. Ao regulament-las, o ministrio em

    questo detalha os temas e objetivos e estabelece as comisses organizadoras, os cronogramas e

    os regulamentos para a implantao das reunies regionais e para as eleies de delegados. Neste

    sentido, as conferncias constituem espaos de participao que requerem esforos diferenciados,

    tanto de mobilizao social quanto de constituio da representao em torno da definio de

    uma determinada poltica pblica.

    Tanto esta diferenciao de formas de ao presentes na dinmica de uma conferncia,

    quanto o problema de escala colocam desafios analticos e prticos importantes para a sua

    operacionalizao.

    Do ponto de vista analtico, embora participao incluso de diferentes vozes -;

    representao agir em nome do outro e deliberao decises tomadas com base em

    justificativas publicamente aceitveisno constituam formas de ao excludentes, a integrao

    das mesmas no trivial, gerando um conjunto de tenses (Warrin, 2002; Fung, 2005).

    Do ponto de vista emprico, tal integrao, em um contexto de grande escala, exige uma

    ateno especial na coordenao dos distintos modos de ao e dos fruns envolvidos.

    Participao, representao e deliberao precisam ser devidamente compatibilizadas para que

    possam servir de input uns dos outros e, assim, alcanar resultados desejveis. Neste caso, as

    Conferncias tornam-se um lcus de pesquisa e anlise singular na medida em que elas no s

    1Alm das duas, uma outra abordagem, filiada tradio da Teoria da Escolha Racional, que enfatiza a importnciado going to public a informacional. Embora reconhecendo sua importncia, no trataremos dela neste trabalho.

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    buscam conectar estas diferentes formas de ao em um mesmo espao, mas tambm o fazem em

    diferentes escalas: do local para o estadual e deste para o nacional. Os policy makers

    brasileiros, ao tentarem operacionalizar uma metodologia participativa e deliberativa em nvel

    nacional, construram, nos dois governos Lula (2002-2009), uma experincia indita que

    envolveu mais de 4 milhes de pessoas em torno de mais de 60 Conferncias (Brasil, SG-PR/SNAS).

    O objetivo deste artigo , portanto, avaliar a estrutura institucional destas conferncias para

    aferir como estes espaos integram estes diferentes tipos de ao e se conseguem formar um

    sistema, denominado aqui desistema integrado de participao e deliberao, entre os diferentes

    nveis da federao.

    Esta idia de sistema tem ganhado proeminncia na teoria democrtica deliberativa como

    decorrncia da necessidade de conectar a deliberao e outras formas de ao e comunicao emcontextos de grande escala. O potencial e os limites desta idia sero desenvolvidos na seo 1

    deste artigo.

    Na seo 2 buscar-se- analisar, brevemente, como a literatura sobre polticas pblicas lida

    com a contribuio destes diferentes repertrios de ao para o processo decisrio das mesmas.

    Na seo 3 deste artigo, buscaremos analisar dois tipos de Conferncias com base no

    modelo proposto, quais sejam, a Conferncia de Poltica para Mulheres e as Conferncias de

    Assistncia Social. Os objetivos, a estrutura institucional, os tipos de atores, e os resultados de

    cada Conferncia, nos diferentes nveis da federao, sero analisados com base na anlise

    documental.

    Na seo conclusiva, buscaremos apontar comparativamente as potencialidades e os limites

    destas Conferncias em se constiturem em um sistema integrado que, segundo Dryzek (2010), s

    ocorrer se ele for capaz de acomodar um tipo de deliberao que seja autntica induza a

    reflexo sobre preferncias de forma no coercitiva;se ele for inclusivooferea oportunidade e

    habilidade para todos os atores afetados (ou seus representantes) participarem e se ele produzir

    resultados polticos, sejam eles na forma de leis ou de polticas pblicas (Dryzek, 2010, p. 10).

    I O turndeliberativo e a idia de sistema integrado de deliberao

    Tornou-se rotineiro encontrarmos, aps o giro deliberativo na teoria democrtica, um

    conjunto de pesquisas e artigos que buscam precisar os elementos da deliberao luz das

    evidncias empricas(Gastil e Levine, 2005; Rosenberg, 2007). Uma das conseqncias positivas

    deste esforo pensar a deliberao enquanto um entre diversos momentos do processo

    polticoe, consequentemente, analisar sua relao com os outros diversos momentos. Autores

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    como Hendrix (1996), Mansbridge (2007) e Goodin (2007) so expoentes importantes desta

    idia, uma vez que buscam localizar a deliberao no interior de um processo poltico mais

    amplo.

    Parte deste esforo analtico tem sua origem no problema da escala (Parkinson, 2003;

    Dryzek, 2010), mas no s. A diferenciao de formas de ao tambm conta. Participao edeliberao, embora sejam atividades que tm como objetivo melhorar a qualidade da vida

    pblica, operam por meios diferentes, tal qual afirmam Papadopoulos e Warin (2007). Segundo

    os autores, a participao pressupe um envolvimento direto, amplo e sustentado dos cidados

    nas questes pblicas. Seus defensores preocupam-se mais com a incluso como condio para a

    efetividade e a legitimidade da poltica do que com a qualidade das razes apresentadas para

    justificar as preferncias dos atores. Os deliberativos, por sua vez, esto mais preocupados com a

    qualidade da discusso e da interao que iro gerar as escolhas polticas (pp. 450-451).Cohen e Fung (2004), assim como Fishkin (1991), identificam tambm diferenas entre

    estas atividades. Segundo os autores, melhorar a qualidade da deliberao e expandir a

    participao constitui objetivos contraditrios. Passeatas, demonstraes, referendos, recall, etc.

    so mecanismos que promovem a participao ampla, mas no a deliberao. Expressam a

    vontade, mas no a razo ponderada. Ao mesmo tempo, fruns menores so mais propcios

    troca de razes por meio da deliberao, mas operam em pequenas escalas e custa do

    insulamento do pblico geral (Cohen e Fung, 2004, pp. 26-27).

    Para dar conta desta tenso e, ao mesmo tempo, produzir uma opinio pblica mais crtica e

    informada, autores como Young (2001) e Fung (2005) apostam em polticas que envolvam tanto

    a dimenso participativa, como a deliberativa, alm da representativa, sem, contudo, precisar a

    forma como deve operar tais atividades2. Ganham destaque, portanto, os modelos oferecidos

    pelos autores j mencionados. A preocupao deles no reside somente na compatibilizao

    destas formas de ao, mas, como j ressaltado, na localizao da deliberao em um processo

    decisrio mais amplo que pode envolver tanto a resistncia e o conflito, prprios participao,

    quanto a cooperao e o dilogo, prprios deliberao. O uso de cada um depender do

    contexto em que operam, assim como da natureza das polticas em questo (Holzinger, 2005;

    Hendrix, 2005).

    O modelo integrado de deliberao de C. Hendrix (2006) constitui a primeira proposta

    aqui analisada de compatibilizar esferas mltiplas de deliberao. Partindo de um conceito

    espacial de deliberao, a autora afirma que tal prtica pode ocorrer em vrios espaos pblicos,

    incluindo parlamentos, partidos, fruns, igrejas, conformando um sistema que envolve um

    2Fung (2005) prope umagovernana democrtica que envolve os trs tipos de atividade, mas no apresenta formassistemticas de integr-las. Young (2001) considera as duas outras atividades, principalmente como forma dequalificar a representao, sem contudo se preocupar em mostrar como elas podem se conectar.

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    conjunto de arenas atravs das quais tipos particulares de atividades ocorrem como, por

    exemplo, as prticas comunicativas que promovem a reflexo crtica e poltica.

    Desta forma, o sistema se caracteriza por mltiplas esferas discursivas que podem ser

    formais, informais ou mistas e cujas formas de comunicao tambm variam, indo desde o

    questionamento, a contestao e a negociao at o consenso. Algumas so mais estruturadas queas outras; algumas so mais pblicas e inclusivas e algumas so promovidas pelo estado ao passo

    que outras pelos atores da sociedade civil.

    Uma vez que os atores possuem disposies variadas para deliberar nas diferentes esferas,

    importante, adverte a autora, que o sistema como um todo promova a diversidade de espaos

    deliberativos. As esferas que combinam modos de deliberao formal e informal so importantes,

    pois, apesar das tenses, podem conectar mundos deliberativos diferentes para os quais a autora

    denomina de macro e micro, povoados por atores diferentes: ativistas, grupos de interesses,corporaes, mdia, no macro e parlamentares, consultores, acadmicos, no micro. Tais espaos,

    ao entrarem em contato entre si e com cidados individuais, podem encorajar a troca de idias

    entre atores com perspectivas diferentes, conectando o discurso pblico mais amplo com

    conversaes e decises das elites polticas. Este intercmbio reflete uma constelao de

    discursos envoltos em um mesmo problema (p. 498). A autora busca, com isto, diferenciar seu

    modelo dos enclaves deliberativos, buscando conectar esferas que podem ser mais ou menos

    inclusivas ou mais ou menos populistas.

    O sistema deliberativo oferecido por Mansbridge (1999; 2007; 2009) composto por

    discursos formais, bem como falas informais e cotidianas entre atores comuns e polticos, tais

    como representados e representantes eleitos e no eleitos, ativistas e no ativistas e os mdia. Sua

    funo permitir que os atores compreendam melhor o que querem e necessitam, tanto individual

    quanto coletivamente. O objetivo da deliberao passa a ser, portanto, clarear o conflito e tentar

    conform-lo.

    Assim como o objetivo da deliberao no se encerra mais na busca do consenso em torno

    do bem-comum, o conceito de deliberao tambm passa por mudanas, abrigando o auto-

    interesse, o conflito decorrente dos interesses materiais e das diferenas de opinies. Formas de

    agregao democrtica, alm de algum grau de informalidade na discusso passam a ser

    consideradas legtimas3.

    Para que as mudanas defendidas faam sentido, o sistema deve ser julgado segundo

    padres mais flexveis, acomodando o carter mais informal das partes no seu interior. No

    obstante, ele no pode perder de vista critrios importantes atravs dos quais se julga a boa

    3Uma crtica a este conceito expandido de deliberao encontra-se em Faria (2010).

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    deliberao. Critrios como publicidade, reciprocidade e controle se mantm, assim como o

    conceito de razo pblica, que, entretanto, deve ser reformulado de modo a envolver a emoo e

    a paixo (p. 222).

    Goodin (2005; 2007) oferece igualmente um sistema seqenciado de momentos

    deliberativos que se contrape verso clssica da democracia deliberativa que considera oagente deliberativo como nico, buscando um objetivo compartilhado por todas as partes

    componentes deste mesmo agente.

    Apoiando-se na mesma motivao de Mansbridge (2009), ou seja, a busca de maior

    realismo para a teoria deliberativa4, o autor argumentar que sendo a poltica composta de

    agentes plurais com interesses conflitantes, desempenhando papis diversificados em todo o

    processo poltico; o processo deliberativo deve ser visto igualmente de forma distribuda, com

    diferentes agentes desempenhando papis deliberativos tambm diferentes. A justificativa para talmodelo repousa na crena, comum na teoria democrtica, de que em grande escala, a deliberao

    interpessoal deve assumir formas delegadas.

    Seu exemplo paradigmtico o Legislativo. Nestes espaos, segundo Goodin, as

    deliberaes so distribudas entre comisses e plenrio, cada um deles com regras prprias em

    funo tanto do tamanho quanto das diferentes funes que desempenham. Mas, como ele,

    possvel pensar outros espaos onde as deliberaes em sub-unidades servem comoinputspara a

    deliberao em grupos maiores, com novas responsabilidades deliberativas. Como as comisses e

    o plenrio no Congresso, nestes outros espaos, as regras e a forma de conduzir a deliberao

    tambm no so as mesmas.

    Goodin (2007) assegura que podemos esperar realisticamente(grifo do autor) que virtudes

    deliberativas diferentes sejam encontradas em diferentes estgios do processo deliberativo,

    embora reafirmando a diferena de seu modelo do ideal deliberativo.

    Assim como Mansbridge (2007), o autor tambm acredita que, apesar de a comunicao

    entre as partes no ser um jogo cooperativo, possvel a formao de um compromisso

    mutuamente aceitvel entre elas, embora nunca o consenso racionalmente motivado. As partes

    buscaro negociar e barganhar interesses e no somente trocar respeitosamente razes. O

    contexto , portanto, caracterizado pelo conflito, embora no s, pois existir sempre espao para

    a concesso recproca e para os argumentos razoveis na construo de deciso vinculantes.

    O quadro 1 abaixo visa oferecer uma sntese destes modelos.

    4Mansbridge (2007) faz, inclusive, uma diferena entre teoria democrtica deliberativa e deliberao democrticaatravs da qual estabelece as diferenas entre os pressupostos clssicos da deliberao e do modelo mais realistaque ela est oferecendo.

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    Quadro 1: Modelos de Deliberao

    Modelos CaractersticasObjetivos da

    deliberaoMeios

    Modelointegrado dedeliberao

    C. Hendrix(2006)

    Mltiplasesferas discursivas,que podem serformais, informais oumistas

    Promover reflexocrtica e poltica

    Formas de

    comunicao variadasindo desde oquestionamento, acontestao, anegociao at oconsenso

    Sistemadeliberativo

    J. Mansbridge(1999; 2007)

    Consiste emdiscursos formais, bemcomo falas informais ecotidianas entre atorescomuns e polticos.

    Clarear o conflito etentar conform-lo, e nomais a busca do consensoem torno do bem-comum.

    Deliberao viarazo, emoo e outrasformas de comunicaotais com a barganha.

    Sistema

    seqenciado demomentosdeliberativos

    R. Goodin(2005; 2007)

    Esferasdiferentes comdiscursos diferentes

    Compromissomutuamente aceitvelentre as partes, emboranunca o consensoracionalmente motivado.

    As partesbuscaro negociar ebarganhar interesses eno somente razes.

    Fonte: Faria, 2010.

    possvel afirmar que os trs modelos apresentados buscam, com maior ou menor

    intensidade, vincular tipos distintos de comunicao e discursos em esferas diferentes que

    conformaro os sistemas propostos. Formas de comunicao mais prximas ao tipo participativo,

    como a contestao, a demonstrao e a negociao devem ser conectadas com formas mais

    consensuais de soluo de conflitos prprias s arenas mais deliberativas. O pressuposto por trs

    deste esforo analtico consiste no reconhecimento de que um sistema integrado de deliberao s

    poder existir se conviver com padres de ao e de comunicao diferentes em espaos que

    sejam mais propcios para um ou outro tipo de ao.

    Antes de aferir como tais formas de ao e de comunicao se apresentam e se vinculam na

    estrutura institucional das Conferncias que sero analisadas (seo 3), uma breve anlise sobrecomo participao e deliberao podem impactar o processo decisrio das polticas pblicas nas

    democracias contemporneas ser apresentada na prxima seo (seo 2).

    II Participao, deliberao e polticas pblicas

    No campo de anlise das polticas pblicas5, tanto participao quanto deliberao dos

    5Este trabalho entende as polticas pblicas como um conjunto de estgios inter-relacionados por meio dos quaisquestes e decises transcorrem de maneira mais ou menos seqencial de inputs (problemas) e outputs (resultados).

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    cidados e/ou de seus representantes nos processos decisrios referentes s polticas pblicas

    tambm constitui varivel relevante para se compreender o processo de formao e de mudanas

    na agenda das mesmas nos governos democrticos. As cinco grandes abordagens que constituem

    esse campo de pesquisa6 consideram, em alguma medida, a influncia dos atores sociais,

    politicamente organizados, sob esses processos. No obstante, as vertentes analticas maisprofcuas nesse sentido so aquelas que combinam interesses e idias7 para explicar esses

    processos. Dentre elas, destacam-se por sua aplicabilidade, sua sofisticao analtica, e

    capacidade de gerar novas pesquisas empricas: (a) a abordagem dos Mltiplos Fluxos (multiple-

    streams), desenvolvida por John Kingdon (1984); (b) os estudos sobre as comunidades

    epistmicas, capitaneados por Peter M. Haas (1993); e (c) a abordagem das advocacy coalitions,

    desenvolvida por Paul A. Sabatier e por Hank Jenkins-Smith (1991) (FARIA, 2003).

    O Modelo de Mltiplos Fluxos de Kingdon (1984) analisa o processo de formao daagenda de polticas pblicas de governos democrticos, com nfase na dinmica das idias e do

    discurso. Tendo como referncia o modelo de comportamento organizacional da Lata de Lixo 8

    De modo simplificado, esse processo inicia-se com a formao da agenda, passa pela formulao e implementaoda poltica e termina na avaliao da poltica implementada.

    6 Quais sejam: (1) a institucional, que atribui s instituies papel chave no processo de elaborao de polticaspblicas; (2) a interessada em perceber, sobretudo, as formas de atuao e o impacto dos grupos e das redes nesse

    processo; (3) as abordagens que do nfase aos condicionantes sociais e econmicos no processo de produo daspolticas; (4) a teoria da escolha racional, para a qual as polticas resultam de escolhas interessadas eestrategicamente feitas; e (5) as abordagens que destacam o papel das idias e do conhecimento no processo detomada de deciso pblica (JOHN, 1999).

    7Por idias, entende-se o conjunto de paradigmas cognitivos e vises de mundo, quadros normativos cultura mundial,quadros cognitivos e idias programticas que condicionam o comportamento dos indivduos. Os paradigmascognitivos e as vises de mundo so descries e anlises tericas pr-concebidas que especificam a causa e oefeito das interaes que acontecem por detrs dos debates polticos e limitam o leque de alternativas e de escolhasdos tomadores de deciso no processo decisrio. Os quadros normativos, por sua vez, compreendem os valores, asatitudes, as identidades e as expectativas coletivamente compartilhadas dos indivduos, que constrangem a ao dosmesmos na medida em que reduzem o conjunto de alternativas que os indivduos concebem como aceitveis elegtimas para solucionar determinado problema sociais. Quando os quadros normativos e cognitivos e os

    paradigmas cognitivos e as vises de mundo so transnacionais, tem-se a cultura mundial. Alm desses elementos,os quadros e as idias programticas tambm compem as idias. Os quadros consistem nas idias normativas e,muitas vezes, cognitivas, nas quais se baseiam os debates polticos, ao passo que as idias programticas so idiascausais precisas que facilitam a tomada de deciso pelos indivduos, na medida em que permitem especificar comocertos problemas podem ser solucionados (CAMPBELL, 2002, pp. 2-8).

    8O Modelo de comportamento organizacional da Lata de Lixo, de Cohen, March e Olsen (1972) busca explicar oprocesso de tomada de deciso em anarquias organizadas, que so organizaes caracterizadas por prefernciasproblemticas (ou conflito de preferncias), tecnologia incerta e participao fluida. Nelas, o processo decisriorepresenta uma lata de lixo na qual os participantes jogam tipos diferentes de problemas e de solues. A misturade problemas e solues no processo decisrio depende da quantidade de processos disponveis no momento, dotema da deciso e da velocidade em que problemas so solucionados. Sendo assim, a deciso resulta dacombinao de mltiplos fluxos, independentes e definidos em funo do tempo, dentro da organizao. No

    modelo da Lata de Lixo, os autores identificam quatro: (1) o fluxo de problemas, (2) o fluxo de escolhas, (3) ofluxo de energia dos participantes e (4) o nvel de fluxo de solues. O fluxo de problemas (1) se caracteriza pelomomento em que o problema se torna visvel, pela energia requerida para resolv-lo, pela estrutura de acesso e pelalista de escolhas possveis para solucion-lo. Este interage com o fluxo de solues (2), que envolve os

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    (1972), Kingdon argumenta que o processo de formao da agenda governamental resulta da

    combinao de trs fluxos: (1) o fluxo de problemas, (2) o de alternativas e (3) o fluxo poltico. O

    fluxo de problemas diz respeito s formas pelas quais os tomadores de deciso fixam sua ateno

    em determinadas questes sociais e as traduzem em problemas sociais. O de alternativas

    corresponde ao processo de gerao de alternativas e propostas de poltica pblica nascomunidades de poltica. J o fluxo poltico compreende os processos polticos desenvolvidos em

    mbito governamental, baseados em barganhas e negociaes polticas.

    No fluxo de problemas (1), Kingdon chama ateno para a importncia da atuao de

    grupos de interesse no sentido de pressionar para que suas questes chamem ateno dos

    tomadores de deciso e ganhem proeminncia na agenda governamental9. No de alternativas (2),

    o autor ressalta ainda mais essa atuao ao mostrar que as alternativas so geradas em

    comunidades de polticas, que so compostas por especialistas pesquisadores, analistas eacadmicos de determinada rea de poltica pblica, que compartilham idias, propostas e

    pesquisas uns com os outros. Quando esses atores investem sua energia no sentido de sensibilizar

    a comunidade de poltica, os governantes e os atores governamentais para suas idias, eles so

    denominados empreendedores de poltica10. Esses so responsveis por propor solues a

    problemas, mobilizar opinies e instituies e assegurar que suas idias entrem na agenda. Alm

    disso, eles se constituem os principais atores no processo de formao da agenda governamental:

    quando o fluxo de problemas, de alternativas e o poltico se encontram, num processo

    denominado coupling,oportunidades ou janelas de poltica (Policy Windows)se abrem e devem

    ser rapidamente aproveitadas por esses atores, defensores de determinadas idias.

    Buscando semelhantemente compreender o processo de formao da agenda de polticas

    pblicas a partir da dinmica das idias e do discurso em comunidades de poltica, diversos

    estudos tm sido desenvolvidos, notadamente por tericos das relaes internacionais, para se

    explicar esses processos em mbito internacional. Essas anlises examinam o papel das

    comunidades epistmicas nos processos decisrios que envolvem diferentes Estados Nacionais.

    participantes elegveis para tomar cada deciso e a estrutura da deciso. Estes participantes apresentam fluxo deenergia distinta (3), o qual determina o nvel do fluxo de solues (4).

    9Kingdon (1984) tambm aponta como determinantes: a vontade poltica dos atores polticos que querem deixar suasmarcas e se reeleger; a vontade dos burocratas, que propem iniciativas para promov-los em seus cargos; e osaltos custos polticos, sociais e oramentrios para solucion-lo. Assim, a definio de um problema e sua inseroe permanncia na agenda governamental dependem da vontade dos atores polticos e burocratas e do poder polticoda sociedade civil envolvida, e so constrangidos pelos custos polticos, sociais e econmicos de sua incorporao.

    10Kingdon aponta para a existncia de dois tipos de empreendedores de poltica: os visveis, que so aqueles querecebem considervel ateno da imprensa e do pblico, e os invisveis, que formam as comunidades nas quais as

    idias so geradas e postas em circulao. Como atores visveis, o autor sugere o Presidente, ou chefe doExecutivo, os ministros e secretrios-executivos, os atores do Poder Legislativo, os partidos polticos, os grupos deinteresse e a mdia. Como atores invisveis, Kingdon indica os burocratas, os analistas, os acadmicos e ospesquisadores.

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    As comunidades epistmicas consistem em redes de profissionais que apresentam

    reconhecida experincia e competncia em um domnio especfico e que apelam, com autoridade,

    para que seu conhecimento seja aplicado em relao determinada poltica pblica (HASS,

    1992:3). Elas se caracterizam por apresentarem (1) um conjunto compartilhado de crenas

    normativas e de princpios, que fornecem uma justificativa lgica baseada em valores para a aosocial dos membros da comunidade; (2) crenas causais comuns, que so derivadas de sua anlise

    das prticas de liderena ou que contribuem para um conjunto central de problemas em seus

    domnios e que, ento, servem como base para elucidar as mltiplas ligaes entre as possveis

    aes polticas e os resultados esperados; (3) noes compartilhadas de validade, isto , critrios

    internamente definidos para pesagem e validao de conhecimentos no domnio das suas

    competncias; e (4) uma poltica empresarial comum, que consiste em um conjunto de prticas

    comuns e de problemas para o qual sua competncia profissional direcionada.Em geral, as comunidades epistmicas atuam em contextos de incerteza e de assimetria de

    informao, nos quais h clara demanda por conhecimento especializado por parte dos governos.

    Nessas conjunturas, elas cumprem o papel de gerar novas idias, prover os elementos necessrios

    para a tomada de deciso e dissemin-los para os tomadores de deciso e para os membros da

    comunidade internacional. Em decorrncia, elas tendem a influenciar os interesses do Estado,

    quer identificando-os diretamente para os tomadores de deciso, quer apontando-lhes as

    dimenses mais importantes de um problema.

    Com o intuito de avanar esse debate no sentido de compreender tambm os momentos de

    mudanas na agenda dos governos, Sabatier e Jenkins-Smith (1991) formularam o Modelo de

    Advocacy Coalitions(ACF) que analisa as interaes entre os tomadores de deciso e entre eles e

    os atores sociais no processo de formao de agendas, ao longo do tempo. O ACF postula que as

    polticas pblicas formuladas em cada subsistema de poltica resultam do tipo de interao

    existente entre burocratas, atores sociais e polticos e, portanto, mudanas de polticas refletem

    alteraes nos padres de relao entre esses atores.

    As interaes dentro de cada subsistema de poltica geram coalizes estveis, que podem

    ser tanto consensuais como dominadas e manipuladas por uma determinada elite. Essas coalizes

    consistem em alianas de grupos que apresentam as mesmas idias e interesses em relao

    determinada poltica, isto , em redes de atores que compartilham valores e conhecimento que os

    distinguem das demais. Em cada subsistema, as coalizes competem entre si e pressionam para

    que suas crenas se tornem propostas de polticas pblicas e entrem na agenda governamental.

    Neste processo, a capacidade de influenciar a deciso governamental depende dos recursos

    financeiros, intelectuais (expertise), polticos (tal como nmero de apoiadores e a capacidade de

    mobilizao) e institucionais (por exemplo, autoridade legal) que as coalizes dispem.

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    A distribuio desses recursos, porm, pode ser afetada (1) por eventos externos ao

    subsistema, que independem da atuao das coalizes, e (2) por mudanas em parmetros

    relativamente estveis, tais como os atributos bsicos do problema, a distribuio bsica dos

    recursos naturais, a estrutura scio-cultural de valores fundamentais, a estrutura social e as regras

    constitucionais bsicas11

    . Como eventos externos, Sabatier e Jenkins-Smith identificam (1) asmudanas nas condies scio-econmicas, que impactam a composio e os recursos das

    coalizes de cada subsistema poltico; (2) as mudanas na estrutura de governo, que alteram a

    composio e os recursos polticos dos atores estatais; e (3) as decises polticas e os impactos de

    outros subsistemas, que afetam a composio e os recursos das coalizes de determinado

    subsistema. Assim, as mudanas na agenda de polticas pblicas resultam de mudanas nos

    padres de interao entre coalizes no interior de subsistemas de poltica, gerados, em maior

    medida, por eventos externos e, em menor, por mudanas em parmetros relativamente estveis.O balano sucinto, apresentado nesta seo, chama ateno para os efeitos da participao e

    da deliberao de atores sociais e governamentais sob o processo de formao e mudana da

    agenda de polticas pblicas, em contextos caracterizados pelo aprofundamento das relaes

    democrticas e pelo fomento gesto mais participativa, como no caso do Brasil.

    Hoje, no possvel mais analisar as polticas pblicas sem se levar em considerao a

    atuao de indivduos e grupos, politicamente organizados, nos processos de tomada de deciso

    pblica. Esses atores buscam influenciar as decises dos governos a partir de suas idias e de seus

    interesses e, at mesmo, participar ativamente da formulao de certas polticas, tais como as

    polticas de Sade e de Assistncia Social no Brasil. No obstante, esta capacidade de influncia,

    como vimos, depende de um conjunto de variveis internas e externas, que vo desde a

    capacidade de mobilizao dos atores sociais, sua influncia sobre os espaos deliberativos, as

    condies institucionais destes espaos at a abertura da burocracia pblica e de seus agentes em

    acatar os resultados da mobilizao e da deliberao.

    Na prxima seo, analisamos, a partir das reflexes apresentadas, se e como as

    Conferncias de Mulheres e as Conferncias de Assistncia Social constituem um sistema

    integrado de participao e deliberaoe, como tal, influenciam, em alguma medida, a agenda

    das polticas pblicas a elas vinculadas.

    11Os atributos bsicos do problema dizem respeito as suas caractersticas fundamentais e podem afetar as opespolticas institucionais e o nvel do aprendizado poltico que se constituir. A distribuio bsica dos recursosnaturais, por sua vez, afeta a riqueza de uma sociedade e a viabilidade de diferentes setores econmicos, alm demuitos aspectos da cultura. J os valores culturais fundamentais e a estrutura social afetam a formulao de

    estratgias de curto e mdio prazo dos atores do subsistema de polticas. Por fim, a estrutura constitucional bsicapode impactar a extenso do aprendizado poltico na medida em que resistente a mudanas. Estveis e poucosuscetveis a mudanas, esses parmetros desencorajam as coalizes de torn-los objeto de seu comportamentoestratgico e limitam o leque de alternativas viveis para ao dos atores em determinado subsistema de poltica.

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    III Conferncias Nacionais, Estaduais e Municipais: um sistema integrado de

    deliberao?

    As Conferncias de Polticas Pblicas foram criadas no governo Vargas, pela Lei n o378, de

    13 de Janeiro de 1937, com o objetivo de facilitar o conhecimento do Governo Federal acerca dasatividades relativas sade e de orient-lo na execuo dos servios locais de sade. Nesta lei,

    ficou definido que os encontros seriam convocados pelo Presidente da Repblica e contariam

    com a participao de representantes do governo dos trs nveis da Federao e de representantes

    dos grupos sociais relacionados rea e tema da Conferncia (Sayd, Vieira Junior e Velandia,

    1998).

    Desde sua criao at 2010, j foram realizadas 102 conferncias nacionais e centenas de

    milhares de conferncias intermedirias, nas esferas municipais e estaduais. Do total de encontrosnacionais, 9 aconteceram entre 1941 e 1988 8 delas referentes ao tema sade e 1 de Cincia e

    Tecnologia; 27 foram organizados entre 1988 e 2002 e debateram polticas de Sade, Assistncia

    Social, Direitos Humanos, Direitos da Criana e do Adolescente e Segurana Alimentar e

    Nutricional; e as outras 67 Conferncias, que correspondem a 66% do total, ocorreram entre 2003

    e 2010, nos governos Lula (BRASIL, 2010). Neste governo, as conferncias tornaram-se a

    principal arena de interlocuo entre governo e sociedade civil com o objetivo de debater e

    deliberar propostas para formulao de polticas pblicas, propor novas aes do governo para

    compor o Plano Plurianual de Ao (PPA) e avaliar as polticas aprovadas em encontros

    anteriores.

    Diante do universo de conferncias j realizadas, optou-se, neste trabalho, por analisar as

    Conferncias da Assistncia Social e de Polticas para Mulheres, mais especificamente a 7

    Conferncia de Nacional de Assistncia Social, a 8 Conferncia Estadual e a 8. Conferncia

    Municipal de Assistncia Social12, bem como a 2 Conferncia de Polticas para Mulheres, todas

    organizadas durante o segundo mandato do governo Lula.

    A poltica de assistncia social garantida constitucionalmente e, portanto, as conferncias

    sobre o tema devem ser realizadas periodicamente e suas resolues tm carter vinculatrio,

    devendo ser transformadas em decises do Executivo. A poltica para mulheres, por sua vez,

    ainda no consiste em uma poltica de Estado e, por isso, as resolues produzidas nas

    Conferncias dependem de um conjunto de variveis para se tornarem decises governamentais.

    12 Em 2009 foram realizadas a 7 Conferncia Nacional de Assistncia Social, a 8 Conferencia Estadual de MinasGerais e a 8 Conferncia Municipal de Belo Horizonte. A poltica de assistncia social no apresenta, como napoltica para as mulheres, a mesma correspondncia entre as Conferncias nos trs nveis da federao.

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    Sabe-se que tal diferena impacta no s as dinmicas participativa, representativa e

    deliberativa13, mas tambm a capacidade das conferncias de produzirem resultados, gerando

    problemas, conseqentemente, para a operacionalizao de um sistema integrado nos moldes

    proposto neste artigo. No obstante, nosso objetivo no analisar tais dinmicas, mas os espaos

    em que elas ocorrem e as regras que os estruturam. Da mesma forma, no avaliaremos aimplementao ou no das resolues das conferncias analisadas, mas somente a coerncia entre

    aquilo proposto nas etapas municipais, estaduais e seu resultado final, nas conferncias nacionais.

    O formato institucional que as Conferncias assumem, bem como as normas que regulam a

    dinmica participativa, deliberativa e representativa so, em geral, reguladas pelas leis que

    convocam as Conferncias e por seus regimentos internos (doravante, RI). Neles, so

    estabelecidos os objetivos do encontro; os eixos temticos a serem debatidos; as etapas e as datas

    de realizao dos debates; o nmero e a composio de atores estatais e no-estatais (delegados)por unidade da Federao; a dinmica de deliberao das propostas; e as orientaes gerais para

    formulao e encaminhamento das propostas aprovadas. Em todos os nveis da federao, este

    documento deve passar pelo crivo da plenria da conferncia, que pode aprov-lo na ntegra,

    aprov-lo com mudanas ou rejeit-lo. Neste ltimo caso, os delegados devem formular e aprovar

    outro regimento antes de dar continuidade aos trabalhos. Sendo assim, este documento torna-se

    uma fonte documental importante para aferirmos a existncia ou no de espaos participativos,

    representativos e deliberativos, bem como a capacidade integrativa dos mesmos em um sistema.

    Nas Conferncias Municipais de Assistncia Social, o regimento interno elaborado pelo

    Conselho Municipal da rea. No nvel estadual, este documento elaborado pelo Conselho

    Estadual de Assistncia Social e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social

    (SEDESE), no caso de Minas Gerais. Por fim, o RI da Conferncia Nacional de Assistncia

    Social de responsabilidade do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome e conta

    com o apoio do Conselho Nacional da rea. Essas instituies tambm so responsveis por

    coordenar e realizar as conferncias nos respectivos nveis da federao, como mostra os dados

    do quadro 2.

    13 Para uma avaliao das variveis que impactam as dinmicas participativa, deliberativa e representativa dasinstituies participativas, ver Avritzer, 2009 e Faria, 2010.

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    Quadro 2: Local, Ano e Coordenao das Conferncias de Assistncia Social

    Varivel Municipal Estadual NacionalAno 2009 2009 2009

    Local Belo Horizonte Belo Horizonte Braslia

    Convocao e Coordenao CMAS CEAS e SEDESEMinistrio do Desenvolvimento

    Social e Combate FomeFonte: Regimento Interno das Conferncias de Assistncia Social.

    O regimento interno da Conferncia Municipal de Polticas para Mulheres formulado pela

    Secretaria Municipal de Polticas Sociais, em parceria com a Secretaria Municipal Adjunta de

    Direitos de Cidadania, da Coordenadoria dos Direitos das Mulheres e do Conselho Municipal de

    Direitos das Mulheres. No nvel estadual, em Minas Gerais, este documento elaborado pela

    SEDESE, pela Coordenadoria Especial de Promoo da Defesa da Mulher, pela Assemblia

    Legislativa de Minas Gerais e pelo Conselho Estadual da Mulher. Por fim, o RI da Conferncia

    Nacional de Polticas para Mulheres elaborado pela Secretaria Especial de Polticas para

    Mulheres, juntamente com a Secretaria Geral da Presidncia da Repblica e contam com o apoio

    do Conselho Nacional da rea. Essas instituies tambm so responsveis por coordenar e

    realizar as conferncias nos respectivos nveis da federao, como atesta os dados do quadro 3

    abaixo.

    Quadro 3: Local, ano e Coordenao das Conferncias de Polticas para MulheresVarivel Municipal Estadual Nacional

    Ano 2007 2007 2007Local Belo Horizonte Belo Horizonte Braslia

    Convocao eCoordenao

    Secretaria Municipal dePolticas Sociais, por meioda Secretaria MunicipalAdjunta de Direitos deCidadania, daCoordenadoria dos Direitosda Mulher e do ConselhoMunicipal de Direitos da

    Mulher.

    SEDESE, CoordenadoriaEspecial de Promoo eDefesa da Mulher, AssembliaLegislativa de Minas Gerais eConselho Estadual da Mulher

    Secretaria Especial dePolticas para as Mulheres,Secretaria Geral daPresidncia da Repblica eConselho Nacional dosDireitos da Mulher

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Assistncia Social.

    O objetivo geral da CAS foi avaliar e propor diretrizes para o aperfeioamento do Sistema

    nico de Assistncia Social (SUAS) na perspectiva da participao e do controle social. Este

    objetivo geral foi desdobrado em objetivos especficos, discutidos e debatidos em cada etapa das

    Conferncias. Da mesma forma, a 2 Conferncia Nacional de Polticas para Mulheres, cujo

    objetivo geral foi a avaliao e o aprimoramento do Plano Nacional de Polticas para Mulheres

    (PNPM) na perspectiva da participao das mulheres em espaos de pode r, discutiu e debateu

    nas etapas municipal, estadual e nacional seus objetivos especficos.

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    Os Quadros 4 e 5 retratam os objetivos e as formas como so estruturadas e organizadas as

    etapas das Conferncias de Assistncia Social, em cada nvel da federao.

    Quadro 4: Objetivos especficos das Conferncias de Assistncia Social

    Varivel Municipal Estadual NacionalObjetivos (1) Avaliar e propordiretrizes para oaperfeioamento do SUASna perspectiva daparticipao e do controlesocial;(2) Avaliar a implementaodas deliberaes da VIIConferncia Municipal deAssistncia Social de BH-MG;(3) Eleger delegados para a

    VIII Conferncia RegionalEstadual de AssistnciaSocial, segundo critriosestabelecidos pelo respectivoConselho

    (1) Discutir e avaliar aparticipao popular e oexerccio do controle social nombito do SUAS; (2) Avaliara dinmica de efetivao dosdez direitos scio-assistenciaisaprovados na IV ConfernciaNacional de AssistnciaSocial, definindo estratgiasde fortalecimento daparticipao popular; (3)Discutir e avaliar a

    participao popular e ocontrole social em relao aooramento e ao co-financiamento, para aimplementao do PlanoDecenal da Assistncia Socialnos trs nveis de governo; (4)Debater a atuao dotrabalhador da AssistnciaSocial na perspectiva daarticulao do protagonismodos usurios naimplementao do SUAS e no

    fortalecimento do controlesocial; (5) Discutir a gesto,instrumentos e processos detrabalho no mbito do SUASna perspectiva dos direitos dostrabalhadores; (6) Discutir eavaliar a representatividade,composio, dinmica eprocesso de escolha dosmembros dos Conselhos deAssistncia Social, visando ademocratizao e efetivaodo controle social e da

    participao popular; (7)Discutir a atuao dasentidades de AssistnciaSocial, sua co-responsabilidade no mbito doSUAS, na execuo dapoltica e na perspectiva dofortalecimento do controlesocial em todos os nveis, daparticipao popular e dademocratizao de sua gestointerna. (8) Conhecer edebater experincias de

    implementao do SUAS, queenvolvam a participaopopular e o controle social.

    Mesmos objetivos especficosda etapa estadual

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Assistncia Social.

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    Como podemos depreender do quadro 4 acima, os objetivos especficos das CAS, em todos

    os nveis, dizem respeito, em primeiro lugar, s formas e/ou lcus de ao para aperfeioar o

    SUAS sob o ponto de vista da participao e o controle social. Neste sentido, prope-se discutir e

    avaliar a participao e o controle dos atores em questes como o oramento e o co-financiamento para a implementao do Plano Decenal da Assistncia Social nos trs nveis de

    governo; discutir a atuao do trabalhador da rea para abrigar melhor a participao dos usurios

    na implementao do SUAS, bem como discutir o papel dos Conselhos e das entidades de

    Assistncia Social. No que diz respeito aos Conselhos, a preocupao est voltada para sua

    composio, representatividade e dinmica, ao passo que no que diz respeito s entidades, a

    preocupao com a atuao das mesmas na execuo da poltica e na democratizao da gesto

    interna do SUAS.

    Quadro 5: Objetivos especficos da 2. Conferncia de Poltica para Mulheres

    Varivel Municipal Estadual NacionalObjetivos 1) Analisar e repactuar os

    princpios e diretrizesaprovados na I CNPM; 2)Avaliar a implementao doPNPM - 2004/2007 nosnveis federal, estadual emunicipal; 3) Apresentar

    propostas de alterao docontedo do PNPM e da suaforma de execuo; 4)Analisar a participaopoltica das mulheres nosespaos de poder e elaborarpropostas para ampliar suainsero; 5) Eleger asdelagadas que representaroo municpio de BeloHorizonte na II ConferenciaEstadual; 6)Elaborar o relatrio final e

    encaminh-lo ComissoOrganizadora da IIConferencia Estadual emcumprimento etapaMunicipal

    1) Analisar e repactuar osprincpios e diretrizesaprovados na I CNPM; 2)Avaliar a implementao doPNPM - 2004/2007 nos nveisfederal, estadual e municipal;3) Apresentar propostas de

    alterao do contedo doPNPM e da sua forma deexecuo; 4) Analisar aparticipao poltica dasmulheres nos espaos depoder e elaborar propostaspara ampliar sua insero; 5)Eleger delegadas querepresentaro o Estado deMinas Gerais na II CNPM; 6)Elaborar relatrio sobre otema proposto e encaminh-lo Comisso Organizadora da

    II CNPM em cumprimento etapa estadual.

    Mesmos objetivos especficosdescritos s que para o nvelnacional e sem eleio dedelegadas(os)

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Polticas para Mulheres.

    No que diz respeito s Conferncias de Polticas para as Mulheres, neste segundo encontro

    realizado em 2007, os objetivos especficos buscaram sistematizar um conjunto de aes que

    viabilizassem o aprimoramento do Plano Nacional de Polticas para Mulheres (PNPM) na

    perspectiva da participao das mulheres em espaos de poder, objetivo geral destas

    Conferncias. Neste caso, tanto na etapa municipal, quanto na estadual, bem como na nacional

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    buscou-se retomar os princpios e diretrizes aprovados na I CNPM; avaliar a implementao do

    PNPM2004/2007nos trs nveis da federao; apresentar propostas de alterao ao contedo

    e forma de execuo do PNPM, sempre tendo como meta a ampliao do espao de

    participao da mulher no poder (Quadro 5).

    Toda esta discusso em torno dos objetivos, geral e especfico, bem como daimplementao dos mesmos ocorre em etapas encadeadas, ou seja, Pr-conferncias,

    Conferncias Municipal, Regional, Estadual e Nacional como mostram os quadros 6 e 7 abaixo.

    Quadro 6: Etapas das Conferncias de Assistncia Social

    Varivel Municipal Estadual NacionalEtapas 9 Pr-Conferncias regionais

    preparatrias;12 Conferncias Regionais14,Conferncias Municipais;

    Conferncias Municipais,Estaduais e do Distrito Federal

    Dinmica interna Plenria Inicial;

    4 Grupos de Trabalho;Plenria Final

    Plenria Inicial;

    20 Grupos de Trabalho;Plenria Final

    Plenria Inicial;

    24 Grupos de Trabalho,Plenria FinalFonte: Regimento Interno das Conferncias de Assistncia Social.

    Em relao Poltica de Assistncia Social (Quadro 6), devem ser realizadas em nvel

    municipal 9 Pr-Conferncias regionais preparatrias, seguidas pela Conferncia Municipal. Esta

    composta por uma dinmica que envolve a Plenria de Abertura, 4 Grupos de Trabalho e a

    Plenria Final cujo produto o Relatrio Final. Ambas, pr-conferncias e conferncias

    municipais, so organizadas pelas Comisses (1) Organizadora, (2) Tcnica (ou temtica); (3)Administrativa e (4) de Comunicao e por (5) Subcomisses.

    No nvel estadual, a Conferncia Estadual deve ser precedida por 12 Conferncias

    Regionais que seguem as 20 regies da SEDESE. Contudo, s participam destas Conferncias os

    municpios que realizaram suas Conferncias Municipais15. Assim como os encontros municipais,

    os estaduais compreendem uma Plenria Inicial, 20 Grupos de Trabalho e Plenria Final. So

    organizados pelas Comisses (1) Organizadora, (2) Tcnica (ou temtica); (3) Administrativa e

    (4) de Comunicao e por (5) Subcomisses.

    A conferncia nacional precedida pelos 27 encontros estaduais e 1 encontro no Distrito

    Federal e segue a mesma dinmica interna das conferncias municipais e estaduais, sendo

    composta pela Plenria Inicial, 24 GTs, cada um composto por no mximo 83 pessoas e Plenria

    Final (Quadro 6).

    14 Entendendo como regional aquela convocada por dois ou mais Executivos municipais, ficando garantido a cada

    municpio participante o nmero de delegados previsto pelo RI.

    15A etapa estadual sempre precedida de 12 conferncias regionais, mas no caso de 2009, por causa da H1N1 asconferencias regionais foram suspensas e o numero de delegados foi reduzido.

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    Quadro 7: Etapas da 2 Conferncia de Polticas para Mulheres

    Varivel Municipal Estadual NacionalEtapas 9 Pr-Conferncias regionais

    preparatriasConferncias Regionais,Conferncias Municipais;

    Conferncias Municipais,Estaduais e do Distrito Federal

    Dinmica Interna Plenria Inicial;12 Grupos de Trabalho;Plenria Final

    Plenria Inicial;5 Grupos de Trabalho;Plenria Final

    Plenria Inicial;24 Grupos de Trabalho,Plenria Final

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Polticas para Mulheres.

    Assim como as CAS, as Conferncias de Polticas para Mulheres ocorrem em etapas

    encadeadas (Quadro 7). No nvel municipal, devem ser realizadas as Pr-Conferncias regionais

    preparatrias, que so abertas a participao de todas as mulheres da comunidade e de

    movimentos onde mulheres participam. Estas so seguidas por Conferncias Municipais,

    compostas por uma dinmica que envolve a Plenria de Abertura, 12 Grupos de Trabalho e a

    Plenria Final cujo produto o Relatrio Final. Todas elas so organizadas pelas Comisses (1)

    Organizadora; (2) Temtica e de Relatoria; (3) de Infra-Estrutura; (4) de Articulao e

    Mobilizao; (5) de Comunicao e Informao.

    No nvel estadual, as Conferncias so precedidas por encontros municipais e, como estes,

    so compostas por uma Plenria Inicial, Grupos de Trabalho - no caso, 5 GTs apenas - e Plenria

    Final. As conferncias estaduais so tambm organizadas pelas Comisses (1) Organizadora, (2)

    Tcnica (ou temtica); (3) Administrativa e (4) de Comunicao e por (5) Subcomisses.

    Do mesmo modo, a Conferncia Nacional precedida por encontros estaduais (27) e no

    distrito federal (1) e segue a mesma dinmica das etapas anteriores.

    O 8 encontro municipal de Assistncia Social mobilizou, em Belo Horizonte em 2009,

    2000 participantes cujos 418 delegados representaram rgos governamentais, entidades de

    classe, conselhos, associaes, sindicatos de profissionais da rea, usurios e interessados no

    tema, alm de convidados e observadores. Estavam presentes delegados eleitos nas Pr-

    Conferncias e observadores. Os delegados das pr-conferncias foram escolhidos seguindo osseguintes critrios: (a) 01 delegado para cada 4 participantes credenciados das pr-conferncias;

    (b) 02 delegados por instituies de base municipal inscritas no CMAS/BH, escolhidos atravs de

    encontros ou reunies realizadas por essas entidades e registradas em ata; (c) at 02 delegados

    representantes do Conselho Estadual de Assistncia Social (CEAS), do Frum Mineiro de

    Assistncia Social, do Conselho Estadual de Segurana Alimentar, do Conselho do Bolsa

    Famlia, do Conselho Regional de Servio Social (CRESS), da Unio dos Conselhos da Grande

    BH e do COGEMAS; (d) at 04 delegados representantes de cada secretaria, autarquia, empresapblica, rgos diretos e indiretos da administrao municipal; (e) at 04 delegados oriundos da

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    SEDESE; e (f) at 02 delegados representantes do MDS, INSS, CNAS, Ministrio Pblico e do

    Poder Judicirio conforme retratado no quadro 8.

    A 8 Conferncia Estadual em Minas Gerais, por sua vez, contou com a participao de

    1.000 pessoas, sendo 896 delegados e 104 convidados. Dos 896 delegados, 91 eram delegados

    natos e 805 foram eleitos nas conferncias municipais, por maioria simples dos delegadospresentes na Plenria final, a partir dos seguintes critrios: 1) paridade entre representao

    governamental e representao da sociedade civil; 2) participao dos usurios ou representantes

    de usurios, em um total correspondente a 40% das vagas destinadas a sociedade civil; 3) simetria

    entre as demais categorias que compem o quadro dos atores da Poltica de Assistncia Social; e

    4) representatividade do delegado, isto , sua ligao com sua categoria de representao.

    Dos 91 delegados natos, 40 eram conselheiros titulares e suplentes do CEAS, 2 eram

    representantes da Secretaria Executiva deste Conselho, 10 eram representantes da SEDESE, 5eram representantes do Colegiado de Gestores Municipais de Assistncia Social e 34 das Unies

    de Conselhos Municipais de Assistncia Social, oficializados no CEAS, sendo duas vagas para

    cada Unio, obedecida a paridade de representao. Dos 805 delegados eleitos segundo os

    critrios supracitados, 50% representavam rgos governamentais, sendo 70% de gestores e 30%

    outros, e 50% eram representantes da sociedade civil, sendo 30% trabalhadores, 30% servidores e

    40% usurios (Quadro 8).

    J a 8 Conferncia Nacional mobilizou 1.902 participantes, sendo 1.422 delegados com

    direito a voz e a voto, 280 convidados do Conselho Nacional de Assistncia Social com direito a

    voz e 200 observadores tambm somente com direito a voz. Dos 1.422 delegados, 36 eram

    conselheiros nacionais, 1.296 eram representantes eleitos nas conferncias municipais e estaduais

    e 88 eram representantes do governo federal. Estes foram escolhidos durante as conferncias

    estaduais e do Distrito Federal, observando a paridade de representao entre governo e

    sociedade civil. Para determinar a quantidade de delegados estaduais e seus respectivos suplentes

    por estado, foram considerados os seguintes parmetros: (a) 4 delegados para cada estado com

    menos de 2% do total da populao brasileira, (b) 6 delegados para os estados com 2% a 5% do

    total da populao brasileira; e (c) 8 delegados para cada estado com mais de 5% do total da

    populao brasileira. Como nas conferncias estaduais, a escolha dos delegados e de seus

    suplentes que representaro os municpios no encontro nacional segue critrios de

    proporcionalidade em relao ao porte do municpio e s categorias de representao dos

    delegados. So eles: a quantidade de municpios existentes no estado; a quantidade de municpios

    em Gesto Bsica ou Plena existentes no estado; e a populao residente no estado (Quadro 8).

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    Quadro 8: Atores e forma de seleo da 8 Conferncia de Assistncia Social

    Varivel Municipal Estadual NacionalTotal de participantes 2.00016 1.000 1.902

    Total de delegados 418 896 1.422

    Composio daparticipao dos

    delegados

    50% Representantes dergos governamentais e50% de representantes dasociedade civil, envolvendoentidades de classe,conselhos, associaes,sindicatos de profissionaisda rea, usurios einteressados no tema.

    805 delegados eleitos nasconferncias municipais

    91 delegados natos, sendo40 conselheiros do CEAS,2 representantes daSecretaria Executiva desteConselho, 10 da SEDESE,5 do Colegiado deGestores Municipais deAssistncia Social e 34representantes das Unies

    de Conselhos Municipaisde Assistncia Social.

    36 conselheiros nacionais.

    1.296 representanteseleitos nas confernciasmunicipais e estaduais

    88 representantes dogoverno federal.

    Forma de seleo dosdelegados para etapa

    seguinte

    Delegados da sociedadecivil: varia de acordo com aquantidade de participantesdas pr-conferncias (1delegado eleito para cada 4participantes)

    Delegados do governo: variade acordo com o nmero derepresentantes eleitos decada instituio pblica

    (entre 2 e 4 por rgo)

    Paritria, sendo 50% dedelegados da sociedadecivil e 50% do governo,obedecida a proporo emrelao ao porte domunicpio e categoria dereferncia do delegado.

    NA

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Assistncia Social, CEAS e SEDESE (2011).

    A 2 Conferncia Municipal de Polticas para Mulheres em Belo Horizonte, em 2007,

    contou com a participao de representantes de entidades pblicas, tais como a Coordenadoria

    Municipal dos Direitos da Mulher, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Belo

    Horizonte, de outros rgos governamentais e do Legislativo, e representantes de movimentos

    sociais de mulheres negras, lsbicas, profissionais do sexo, mulheres com deficincia e jovens, desindicatos, associaes e outras entidades da rea. As delegadas desta Conferncia foram

    escolhidas nas pr-conferncias que ocorrem no mbito das 9 secretarias municipais de gesto

    regional.

    As pr-conferncias so abertas a participao de todas as mulheres da comunidade e de

    movimentos onde as mulheres participam. Podem tambm ser realizadas por segmento da

    sociedade civil, desde que eles solicitem a realizao dentro do prazo previsto pela Comisso

    Organizadora e que no tenham base nas 9 regionais administrativas.

    16Dado informado verbalmente por uma representante do Conselho Municipal da Assistncia Social de BH.

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    As participantes das Pr-conferncias so indicadas como delegadas para a Conferncia

    Municipal e devem, para tal, se inscrever ou anunciar publicamente sua candidatura. Para cada 08

    participantes nas Pr-Conferencias eleita 1 delegada. Total de delegadas para a II Conferencia

    Municipal: 40 delegadas.

    A 2 Conferncia Estadual, em Minas Gerais, reuniu 632 participantes, dentre eles, 532delegados natos (titulares e suplentes do Conselho Estadual da Mulher CEM parlamentares

    mulheres da ALMG) e eleitos nos encontros municipais. Os representantes governamentais foram

    indicados pelo Executivo Municipal, dentre aqueles que participaram da etapa municipal. Os

    delegados da sociedade civil, por sua vez, foram eleitos por maioria simples na Plenria final da

    conferncia municipal, obedecendo os critrios de proporcionalidade territorial, estabelecidos no

    regimento interno da conferncia estadual, de modo que: (a) municpios com at 50.000 teriam

    direito a 1 delegada da sociedade civil e 1 do Poder Publico Municipal, (b) municpios com50.001 a 100.000 seriam respectivamente, 2 e 1, (c) de 100.001 a 150.000 seriam 3 delegadas da

    sociedade civil para 1 do poder publico, (d) de 150.001 a 200.000 , 4 para 1, (e) de 200.001 a

    300.000 habitantes, 6 representantes da sociedade civil para 2 governamentais , (f) de 300.001 a

    500.000, 10 delegadas da sociedade civil e 3 do poder publico, e (g) de 500.001 a 1.000.000

    habitantes seriam 20 para 6. Para os municpios com mais de 100.000 habitantes, como Belo

    Horizonte, so eleitas 50 delegadas que representam a sociedade civil e 15 representantes do

    Poder Publico Municipal, respeitando a proporo de 60% e 40%, respectivamente.

    Por fim, a 2 Conferncia Nacional contou com a participao de 3.000 pessoas, sendo

    2.800 delegados, com direito de voz e voto, e 200 convidados, autoridades e representantes de

    entidades nacionais e internacionais, com direito a voz. Dos 2.800 delegados, 2.306 foram eleitos

    nas conferncias estaduais, 69 delegados natos, integrantes, titulares e suplentes, do Conselho

    Nacional dos Direitos da Mulher e 425 delegadas/os dos diferentes rgos do Governo Federal

    indicadas/os para este fim. Do total de delegados eleitos na etapa estadual, 1.383 (60% do total de

    delegados eleitos) eram representantes da sociedade civil, 690 (30%) dos governos municipais e

    233 (10%) representavam os governos estaduais. Estes foram escolhidos nas conferncias

    estaduais, por maioria simples de votos na Plenria final, obedecendo seguinte proporo: 60%

    de representantes da sociedade civil, 30% de representantes dos municpios e 10% de delegados

    dos estados. O estado de Minas Gerais contou com a participao de 183 delegados, sendo 110

    (60%) de representantes da sociedade civil, 55 (30%) de representantes do poder pblico

    municipal e 18 (10%) de representantes do poder pblico estadual.

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    Quadro 9: Atores e forma de seleo da 2 Conferncia de Polticas para Mulheres

    Varivel Municipal Estadual NacionalTotal de participantes s/dado 632 3.000

    Total de delegados 360 532 2.800

    Composio daparticipao dos

    delegados

    40% representantesgovernamentais e60% representantes demovimentos sociais, desindicatos, associaes eoutras entidades da rea.

    213 representantesgovernamentais (30%municipal e 10% estadual)319 representantes dasociedade civil (60%)

    2.306 oriundos das

    conferncias estaduais,sendo: 1.383 (60%) dasociedade civil, 690 (30%)dos governos municipais e233 (10%) dos governosestaduais.

    69 delegados natos,integrantes do CNDM

    425 delegadas/os dosdiferentes rgos doGoverno Federal.

    Forma de seleo dosdelegados para etapa

    seguinte

    60% de representantes dasociedade civil e 40% dedelegados dos governosmunicipais, obedecendocritrios deproporcionalidadeterritorial.

    60% de representantes dasociedade civil e 40% dedelegados do governo (10%dos governos estaduais e30% dos municipais),obedecendo critrios deproporcionalidade territorial.

    NA

    Fonte: Regimento Interno das Conferncias de Polticas para Mulheres, CMPM, CEM e ALMG (2011).

    Como mencionado anteriormente, os participantes das conferncias de Assistncia Social e

    de Polticas para Mulheres, nos trs nveis da Federao, discutem e deliberam as propostas de

    polticas pblicas em grupos temticos. No caso da Assistncia Social, estas esto organizadas

    em um Caderno de Resolues, formulado pela Comisso Organizadora do encontro, a partir de

    contribuies dos rgos coordenadores das conferncias. Nos GTs, as propostas contidas nesse

    caderno so debatidas, com a mediao de um coordenador, um relator e um cronometrista. Os

    relatores de grupos so responsveis pela consolidao das propostas na Comisso de Relatoria,

    cujo resultado encaminhado para a Plenria Final, na forma de relatrio nico, para ser

    submetido aprovao. No caso da Poltica para Mulheres, debate-se e discute-se recomendaes

    para aprimorar o Plano Nacional de Poltica Para Mulheres.

    A Plenria Final tem carter deliberativo e composta pelos participantes credenciados

    com competncia para discutir, aprovar ou rejeitar, em parte ou totalmente, as concluses e

    propostas consolidadas nos grupos de trabalho, assim como aprovar ou rejeitar as moes. As

    propostas e moes aprovadas, por maioria simples dos delegados presentes, compem o

    Relatrio Final da conferncia, nos trs nveis da federao.

    No caso das conferncias de Assistncia Social, o Relatrio Final das Conferncias

    Municipais, contendo as deliberaes aprovadas na plenria final destes encontros,

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    encaminhado ao CEAS, para que as propostas aprovadas em cada encontro municipal sejam

    sistematizadas em um nico documento para apreciao na Conferncia Estadual.

    Nesta, os participantes analisam o caderno de resolues sistematizado com as

    contribuies das conferencias municipais e regionais. Na plenria final da 8 Conferncia, foram

    debatidas e aprovadas at 3 deliberaes por cada um dos 8 subtemas discutidos no encontro.Como decorrncia, o relatrio final de cada estado continha, no mximo, 24 deliberaes. Estes

    documentos foram enviados para o Conselho Nacional de Assistncia Social, ao qual compete a

    sistematizao das propostas para apreciao na Conferncia Nacional. Nele, as propostas que

    comporo o Caderno de Resolues Nacional so selecionadas obedecendo-se aos seguintes

    critrios: (1) seu contedo deve comparecer em mais de 2 (dois) Estados da federao; (2) as

    demandas e expresses devem ser regionais, isto , devem ser tambm apontadas por outros

    Estados da respectiva regio; e (3) os contedos devem apresentar os princpios, diretrizes eobjetivos da poltica de assistncia social.

    O caderno de resolues final foi discutido nos 24 GTs do encontro e suas propostas

    podiam ser aprovadas integralmente ou com alterao ou ser rejeitadas ou apresentada 1 nova

    proposta por eixo. Para compor o documento final que apreciado na Plenria, as propostas

    devem ser aprovadas por 50% mais um dos delegados presentes em cada GT no momento da

    votao e ainda serem aprovadas por, no mnimo, 20% dos GTs (no caso da 8 Conferncia de

    Assistncia Social, por 5 Grupos de Trabalho).

    O documento consolidado pela Comisso de Relatoria discutido na plenria final, cuja

    dinmica compreende: (1) a leitura das propostas oriundas das Conferncias dos Estados e do

    Distrito Federal, (2) a leitura do Relatrio consolidado das propostas dos grupos de trabalho; (3) a

    apresentao dos destaques solicitados; e (4) a apresentao de uma defesa a favor e uma

    contrria, quando for o caso. As propostas de destaque so encaminhadas mesa Diretora, por

    escrito ou atravs do microfone, sendo permitidas uma defesa e uma rplica, respeitando o limite

    de tempo de 3 minutos. Esclarecidas, as propostas so submetidas votao pela Plenria, sendo

    aprovada aquela que obtiver a maioria simples dos votos por contraste, recorrendo-se contagem

    em caso de dvida. As propostas que no forem destacadas so consideradas como aprovadas por

    unanimidade da Plenria. Encerrada a fase de apreciao e aprovao das propostas, o

    coordenador da mesa colocar as moes em votao pela Plenria. Cada moo dever ser

    aprovada pela maioria simples dos grupos de trabalho. As deliberaes aprovadas na plenria

    final so publicadas no Dirio Oficial da Unio pelo CNAS, no prazo de 90 dias, a contar do seu

    encerramento e disponibilizadas na pgina eletrnica deste rgo.

    No caso das Conferncias de Polticas para Mulheres, embora as etapas da dinmica

    decisria sejam semelhantes, as regras so ligeiramente distintas. Nas conferncias municipais, os

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    GTs so compostos por uma coordenao e por relatores que so escolhidas pelo prprio grupo.

    Estes relatores integram, ao final do processo de discusso e de deliberao das propostas nos

    GTs, a equipe de redao do documento sntese que ser debatido na Plenria Final. Para

    aparecer neste documento, a proposta dever ter aprovao de, no mnimo, 20% das participantes

    de cada GT.Todas as propostas aprovadas so consolidadas em um documento nico para apreciao da

    Plenria final. Nela, cada proposta votada e deve ser aprovada por maioria simples dos

    delegados presentes. O Relatrio Final de cada conferncia municipal deve ser elaborado a partir

    do roteiro previamente definido pela Comisso Organizadora Estadual e Comisso de Relatoria e

    deve ser encaminhado, em verso resumida de no mximo 3 laudas, para Comisso Organizadora

    da II Conferncia Estadual de Polticas para as Mulheres.

    A Conferncia Estadual segue a mesma dinmica da Conferncia Municipal. Nos GTs,tem-se uma breve exposio, pelo Coordenador do Grupo, do documento consolidado pela

    Comisso de Relatoria, a partir das propostas apresentadas nos Relatrios Finais das

    Conferncias Municipais ou Regionais; escolhe-se a relatora do grupo de trabalho; debate-se os

    temas com a mediao da coordenadora. Quando for o caso, apresentam-se por escrito novas

    propostas que podero ser defendidas oralmente e, por fim, votam-se as propostas discutidas no

    grupo que so aprovadas por maioria simples dos votos e comporo o Relatrio Final.

    Na plenria final, as propostas aprovadas pelos grupos de trabalho so discutidas e

    aprovadas por: 15 integrantes da Comisso Organizadora da II Conferncia Estadual de Polticas

    para as Mulheres; 20 conselheiras titulares do Conselho Estadual da Mulher; delegadas da

    sociedade civil eleitas nas etapas municipal ou regional, delegadas indicadas pelo poder pblico

    municipal; delegadas indicadas pelo Executivo Estadual, observado o limite de 10% do total da

    delegao; parlamentares da ALMG; convidadas indicadas por entidades da sociedade civil e por

    rgos pblicos inscritas previamente a critrio da Comisso Organizadora Estadual. As

    propostas aprovadas so reunidas em um nico documento, com no mximo 10 laudas, e

    encaminhado para a Secretaria Especial de Polticas para Mulheres. Sero aceitas propostas novas

    e moes, desde que subscritas por, no mnimo, 30% das(os) delegadas(os) presentes e

    apresentadas at o incio do processo de votao. Iniciado o regime de votao, no ser

    permitida proposio de questes de ordem. Sero votadas, preliminarmente, todas as propostas

    dos grupos na plenria e, posteriormente, as moes.

    Semelhantemente, na conferncia nacional, o documento final, consolidado a partir das

    contribuies dos encontros precedentes, discutido em GTs, nos quais as propostas devem ser

    aprovadas por 20% dos participantes do grupo para que seja encaminhada para a Comisso de

    Relatoria. Esta comisso rene todas as propostas aprovadas nos GTs em um documento nico,

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    que ser discutido na plenria final.Nesta, as propostas e as moes so apresentadas e

    deliberadas por maioria simples dos delegados presentes. As propostas que obtiverem aprovao

    em 70% do total dos grupos de trabalho sero consideradas aprovadas pela Conferncia, mediante

    referendo do plenrio. As recomendaes aprovadas em 1 ou mais grupos sero deliberadas em

    plenrio, desde que no contrariem as recomendaes j aprovadas por referendo, por meio doseguinte encaminhamento: as recomendaes apresentadas em plenrio e no destacadas sero

    consideradas aprovadas; as recomendaes destacadas tero uma interveno a favor e uma

    interveno contra, com o tempo mximo de 3 minutos cada. Caso o plenrio no se sinta

    devidamente esclarecido, ser aberta uma nova rodada de intervenes, sendo uma a favor e outra

    contra, por igual tempo. Aps a discusso, sero submetidas votao no plenrio e aprovadas

    por maioria simples dos votos das/os delegadas/os presentes.

    As moes sero apresentadas exclusivamente por delegadas/os, devendo ser de mbito ourepercusso nacional e devem ser encaminhadas, por escrito, Secretaria da II CNPM, cada

    moo dever ser assinada por, no mnimo, 10% do total de delegadas/os. A Comisso Temtica

    e de Relatoria organizar as moes recebidas, classificando-as e agrupando-as por tema. As

    moes so apreciadas aps a votao das recomendaes vindas dos grupos. As moes so

    lidas pela coordenao da mesa e as que no tiverem destaques do plenrio sero votadas em

    bloco. As demais sero submetidas discusso em plenrio e votadas, sendo aprovadas por

    maioria simples. Em caso de divergncia, haver uma interveno a favor e uma contra, com o

    tempo mximo de 3 minutos cada. Caso o plenrio no se sinta devidamente esclarecido, ser

    aberta uma nova rodada de intervenes, uma a favor e outra contra, por igual tempo.

    O Relatrio Final, que contm propostas e moes aprovadas, elaborado pela Comisso

    Temtica e de Relatoria, coordenada pela Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, em

    at 45 dias aps o trmino da II Conferncia Nacional de Polticas para as Mulheres. Ele deve ser

    referendado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), antes de sua divulgao,

    sendo, posteriormente, encaminhado s delegaes estaduais e municipais.

    No que diz respeito s resolues, na Conferncia Municipal de Assistncia Social em BH

    foram aprovadas 23 deliberaes referentes aos 4 eixos propostos. Na etapa estadual, as

    deliberaes tiveram como referncia a sntese dos relatrios das conferncias municipais e,

    como decorrncia, diversas propostas aprovadas na etapa municipal estavam presentes entre as

    deliberaes aprovadas na etapa estadual. Nesta etapa, foram aprovadas e encaminhadas para o

    CNAS 24 deliberaes. Na etapa nacional, aps a discusso e deliberao de 383 propostas,

    foram aprovadas 57, sendo 15 delas relativas ao primeiro eixo temtico, 10 ao segundo eixo, 10

    ao terceiro eixo, 11 ao quarto eixo e 11 relativas aos princpios, diretrizes e objetivos da poltica

    de assistncia social (Quadro 10). Destas, algumas delas foram estabelecidas nas etapas estadual

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    e municipal das Conferncias como, por exemplo, (1) a demanda por promoo de capacitao

    permanente, com o co-financiamento nas trs esferas de governo para gestores, entidades de

    assistncia social, trabalhadores da rea, conselheiros e usurios, respeitando as diferenas

    regionais; (2) metas prevendo uma participao mais efetiva da sociedade civil, publicizao das

    informaes e aes da poltica de assistncia social para o pblico alvo, ampliao dos recursosfinanceiros e oramentrios da poltica de assistncia, (3) a ampliao dos CRAS para melhorar o

    atendimento aos usurios e fortalecer as relaes institucionais entre gestores, usurios e

    trabalhadores. Todas estas propostas estavam de acordo com os objetivos geral e especficos da

    8. Conferncia de Assistncia Social. (Quadro 10).

    Quadro 10: Processo decisrio e resolues das Conferncias de Assistncia Social

    Varivel Municipal Estadual Nacional

    Processo decisrio

    A aprovao do RelatrioFinal contendo a sntesedos trabalhos realizados

    pelos Grupos de Trabalhomediante o voto da maioriasimples dos delegados.

    A aprovao do RelatrioFinal contendo a sntese dostrabalhos realizados pelos

    Grupos de Trabalhomediante o voto da maioriasimples dos delegados.

    Na Plenria Final teremos:I. leitura das propostas

    oriundas das Confernciasdos Estados e do DistritoFederal,II. leitura do Relatrioconsolidado das propostasdos grupos de trabalho;III. apresentao dosdestaques solicitados;IV. apresentao de umadefesa a favor e uma

    contrria, quando for ocaso;V. esclarecidas aspropostas, essas serosubmetidas votao pelaPlenria Final;VI. aprovao daspropostas por seroaprovadas as propostas queobtiverem a maioriasimples dos votos de os(as)Delegados(as)Presentes.

    Resolues

    Aprovadas 23 deliberaesdistribudas em 4 eixostemticos.

    Aprovadas 3 deliberaespor sub-tema, num total de24 deliberaes.

    Aprovadas 57deliberaes, sendo 15relativas ao primeiro eixotemtico, 10 do segundoeixo, 10 do terceiro eixo, e11 do quarto eixo e 11deliberaes relativas aosPrincpios, diretrizes eobjetivos da poltica deassistncia social.

    Fonte: Relatrio final das Conferncias de Assistncia Social.

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    No que diz respeito s resolues da II Conferncia Municipal de Belo Horizonte,foram

    aprovadas cerca de 210 deliberaes.Os grupos apresentaram sugestes a partir de cinco eixos

    temticos: (1) Autonomia e igualdade no mundo do trabalho, (2) Educao inclusiva e no

    sexista, (3) Sade das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos, (4) Enfrentamento da

    violncia contra as mulheres e (5) Mulher e poder: participao social na poltica.Na II Conferncia Estadual de Polticas para as Mulheres foram analisadas, pelos grupos de

    trabalhos, 315 propostas presentes no documento consolidado contendo as propostas recebidas

    das conferncias municipais e/ou regionais. Dessas, 49 foram votadas como prioritrias, para

    serem encaminhadas Conferncia Nacional. As demais foram enviadas aos governos estadual e

    federal como contribuies do Estado. Os grupos apresentaram sugestes a partir dos cinco eixos

    temticos j mencionados.

    Na etapa Nacional, foram incorporadas as resolues e propostas das ConfernciasEstaduais no texto-sntese que norteou os debates da II Conferencia Nacional de Poltica para as

    Mulheres. Na Plenria Final dessa etapa, foram aprovadas prioridades nos cinco eixos do Plano

    Nacional de Poltica para Mulheres e a criao de mais seis novos eixos, alm de avaliao e

    identificao de avanos e obstculos sua implementao. Os novos eixos implementados ao

    PNPM foram: (1) participao poltica das mulheres e igualdade em todos os espaos de poder;

    (2) desenvolvimento sustentvel; (3) direito das mulheres a terra e moradia; (4) cultura,

    comunicao e mdia no discriminatria; (5) enfrentamento de todas as formas de discriminao,

    entre elas o racismo, o sexismo e a lesbofobia; (6) enfrentamento das desigualdades que atingem

    as mulheres jovens, idosas, em suas especificidades e diversidades.

    A elaborao do II PNPM envolveu diretamente cerca de 200 mil mulheres brasileiras em

    conferencias municipais e regionais realizadas em todo pas. Suas propostas refletem os

    resultados da II Conferencia Nacional de Poltica para as Mulheres, o Plano Plurianual 2008-2011

    e a Agenda Social do governo, sob a coordenao da Secretaria Especial de Polticas para as

    Mulheres, 18 rgos da administrao pblica federal, em parceria com representantes

    governamentais estaduais e municipais vinculadas s polticas para as mulheres e do Conselho

    Nacional dos Direitos da Mulher. O Plano conta com 91 metas, 56 prioridades e 394 aes

    distribudas em 11 grandes reas de atuao.

    Ao analisamos as deliberaes de cada um dos 5 eixos propostos na etapa nacional,

    encontramos propostas que tambm estavam presentes entre as deliberaes das etapas municipal

    e estadual, como por exemplo (1) o apoio solicitado pelos estados e municpios para a construo

    de equipamentos sociais, para facilitar a insero e permanncia das mulheres no mercado de

    trabalho (creches, restaurantes e lavanderias pblicas), (2) a promoo ou apoio realizao de

    cursos de capacitao tcnica e gerencial para as mulheres, em parceria com outros setores do

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    governo, setor privado e organizaes da sociedade civil, a ampliao do nmero de Delegacias

    Especializadas de Atendimento Mulher e implantao de Ncleos Especializados nas delegacias

    existente, (3) a instituio de redes de atendimento s mulheres em situao de violncia em

    todos os Estados brasileiros, englobando os seguintes servios: Delegacia Especializada de

    Atendimento Mulher, Polcia Militar e Unidades Mveis do Corpo de Bombeiros, Centro deReferncia, Casa Abrigo, Servios da sade, Instituto Mdico Legal, Defensoria Pblica,

    Defensoria Pblica da Mulher, a promoo de aes preventivas em relao violncia

    domstica e sexual e a capacitao dos profissionais das reas de segurana pblica, sade,

    educao e assistncia psicossocial na temtica da violncia de gnero (Quadro 11).

    Quadro 11: Processo decisrio e resolues da 2. Conferncia de poltica para Mulheres

    Varivel Municipal Estadual Nacional

    Processo decisrio

    Na plenria final serovotadas as propostas dosgrupos de trabalho cujaaprovao depende damaioria simples dos votos.

    Na plenria final serovotadas as propostas

    aprovadas pelos grupos detrabalhos. A aprovao depropostas ser obtida pela

    maioria simples dos votos.

    A Plenria Final deverdebater e votar asrecomendaesoriundasdos grupos de trabalho e asmoes apresentadas.A redao do RelatrioFinal, a cargo da ComissoTemtica e de Relatoria,coordenada pela SecretariaEspecial de Polticas paraas Mulheres, serelaborada em at 45 diasaps o trmino da II

    Conferncia Nacional.O Relatrio Final serreferendado pelo ConselhoNacional dos Direitos daMulher (CNDM).eposteriormente enviadopara as delegaes estaduale municipal

    Resolues

    Na II ConfernciaMunicipal foram

    analisadas as propostasaprovadas nas 9 Pr

    conferencias regionais.Dessas propostas

    analisadas, cerca de 210deliberaes foram

    aprovadas.

    Na II Conferncia Estadualde Polticas para as

    Mulheres foram analisadas,pelos grupos de trabalhos,

    315 propostas oriundas dasconferncias municipais ouregionais. Dessas, 49 foramvotadas como prioritrias,

    para serem encaminhadas conferncia nacional.

    Os grupos debateram eapresentaram sugestes com

    base em cinco eixostemticos.

    Foram incorporadas asresolues e propostas dasConferncias Estaduais notexto-sntese que norteouos debates da II CNPM.Na Plenria Final dessaetapa foram aprovadasprioridades nos cinco eixosdo Plano e a criao demais seis novos eixos,alm de avaliao eidentificao de avanos eobstculos suaimplementao.

    Fonte: Relatrio final das conferncias de Polticas para Mulheres

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    O quadro 12 abaixo sintetiza comparativamente para as Conferncias Nacionais as

    principais variveis analisadas neste artigo.

    Quadro 12: Conferncias Nacionais

    Varivel Assistncia Social Polticas para MulheresAno 2009 2007Total de participantes 2052 2 800

    Objetivos Avaliar, propor e deliberar diretrizesSUAS

    Avaliar, deliberar e propor alteraesPNPM

    Etapas Conferncias Municipais, Regionais,Estaduais e Distrital

    Conferncias Municipais, Regionais,Estaduais e Distrital

    Dinmica interna Plenrias e 24 GTs com no mximo83 participantes por grupo.

    Plenria e 20 GTs com at 150participantes por grupo

    Seleo de delegados Ocorre na etapa estadual, sendoeleitos 50% representantesgovernamentais, desses 70% do rgogestor e 30% outros, e 50% sociedade

    civil sendo 40% usurios, 30%prestador e 30% e 30% trabalhador.

    Ocorre na etapa estadual, sendo dosdelegados eleitos 60% da sociedadecivil, 30% dos governos municipais e10% do estadual

    Composio de delegados porsegmento

    36 delegados natos e conselheirosnacionais;1296 representantesmunicipal, estaduais, distrital88 governo federal.50% representantes da sociedade civil710 delegados50% representantes do governo - 710

    60% representantes da sociedade civil-1383 delegadas30% representantes dos governosmunicipais690 delegadas10% representantes dos governosestaduais233

    Processo decisrio Plenria final com a aprovao pormaioria simples dos votos dosdelegados credenciados

    Plenria final com a aprovao pormaioria simples dos votos dosdelegados credenciados.

    Asrecomendaesque obtiverem

    aprovao em 70% do total dos gruposde trabalho sero consideradasaprovadas pela Conferncia, mediantereferendo do plenrio.

    Resolues 57deliberaes e 32 moes O II PNPM com 91 metas, 56prioridades e 394 aes, alm de 33moes e 28 recomendaes.

    Fonte: RI das Conferncias Nacionais de Assistncia Social e de Polticas para Mulheres e Boletim Informativo da2. CNPM

    Notas Conclusivas:

    Este artigo avaliou comparativamente as Conferncias de Assistncia Social e de Polticas

    para Mulheres, buscando aferir se e como estes espaos formam um sistema integrado de

    participao e deliberao entre os diferentes nveis da federao.

    Com o intuito de precisar os elementos deste sistema, analisamos na primeira seo deste

    artigo como a teoria democrtica deliberativa vem lidando com esta idia. Mostramos que este

    novo turnno interior desta abordagem (Faria, 2010) tem como preocupao central localizar adeliberao no interior de um processo decisrio mais amplo, buscando compatibilizar aquilo que

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    Hendrix (2006) denominou, por exemplo, de espaos macro e micro, cujos atores e tipos de

    ao so diferentes.

    A anlise da literatura sobre polticas pblicas (seo 2) visou mostrar igualmente como

    parte da literatura deste campo tem se preocupado com o papel da participao e da deliberao

    nos determinantes do processo decisrio, particularmente na elaborao e mudana da agendagovernamental. Neste caso, uma possibilidade de coordenar atores diferentes atuando em espaos

    tambm diferentes oferecida pela idia de comunidades de polticasou de coalizes de defesa

    (advocay coalitions)que permitem a construo de uma identidade comum em torno de idias,

    discursos e interesses sobre uma determinada poltica pblica. Tais comunidades ou coalizes,

    uma vez formadas, podem influenciar a agenda decisria do governo.

    Em que pese s diferenas nas abordagens analisadas, possvel perceber que todas elas

    atribuem participao e deliberao um papel singular nas discusses acerca dosdeterminantes das polticas pblicas em suas diferentes etapas - elaborao, implementao,

    gesto e controle.

    Ironicamente, parece ter sido esta mesma percepo que balizou o governo Vargas ao

    propor a primeira Conferncia de Sade em 1937, cujo objetivo era facilitar o conhecimento do

    Governo Federal acerca das atividades relativas sade e de orient-lo na execuo dos servios

    locais de sade. A disseminao de idias, opinies e experincias da comunidade de atores

    vinculados rea de sade nestes espaos racionalizaria, acreditava-se, as aes governamentais

    nesta rea e, deste modo, geraria decises mais eficazes. Em um contexto poltico radi