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2 GEOLOGIA 2.1 Trabalhos Anteriores e Contexto Geológico Regional As primeiras referências geológicas sobre a re- gião norte do estado do Tocantins e sul/sudeste do estado do Pará, são atribuídas a Lisboa (1940), Mo- raes Rego (1933), Lofgren (1936) e Oliveira & Leo- nardos (1940). Investigações sistemáticas de cu- nho regional e por vezes prospectivas, tiveram iní- cio na década de sessenta, a partir dos trabalhos de Barbosa et al. (1966), Almeida (1965, 1967 e 1968) e dos geólogos da Cia. Meridional de Minera- ção (1967), que identificaram os depósitos ferrífe- ros da região. Nas décadas de 70 e 80 foram realizados inúme- ros trabalhos, geralmente restritos às áreas adja- centes à província mineral da serra dos Carajás (Tolbert, 1970; Rezende & Barbosa, 1972; Amaral, 1974; DOCEGEO, 1981, 1988; Martins et al., 1982; Hirata, 1982; Montalvão et al., 1984; Medeiros Neto & Villas, 1984 e Huhn et al., 1986), voltados para a prospecção de depósitos minerais mas, também, com incursões nos campos de datações geocrono- lógicas e definições de unidades estratigráficas. Com base nesses levantamentos, a maioria des- ses autores admitia que a Amazônia oriental possuía organização tectônica sob a forma de províncias estruturais, fato este modificado a partir da caracte- rização de cinturões móveis proterozóicos, cons- tante da proposta original de Cordani & Brito Neves (1982) e deTassinari et al. (1987). Hasui et al. (1984) e Hasui & Haralyi (1985), utili- zando-se de dados geofísicos (gravimetria e mag- netometria) e apoiados nas informações geológi- cas disponíveis à época, propuseram para o Arqueano da Amazônia Oriental uma estruturação regional composta de blocos crustais denomina- dos de: Belém, Araguacema, Juruena e Poranga- tu, em cujas bordas ocorreriam os cinturões Ita- caiúnas, Alto Tapajós e Araguaia (figura 2.1). Estas faixas marginais aos blocos seriam caracte- rizadas por anomalias gravimétricas positivas, por forte linearização das unidades rochosas e por do- mínios magnéticos fortemente perturbados; os nú- cleos conteriam granitóides e seqüências vulca- no-sedimentares do tipo greenstone belts não ali- nhados tectonicamente, em domínios magnéticos pouco perturbados e sem anomalias gravimétri- cas significativas. Esta configuração foi interpreta- da como tendo sido estruturada no Arqueano e modificada ao longo do Proterozóico, com o aloja- mento de novas seqüências vulcano-sedimenta- res e granitos. Na área de ocorrência do Cinturão Araguaia, dentro dos estudos realizados pela Universidade Federal do Pará, destacam-se os de Hasui et al. –7– SB.22-Z-B (Xambioá)

Petrologia da Formação Mosquito 2

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GEOLOGIA

2.1 Trabalhos Anteriores e Contexto GeológicoRegional

As primeiras referências geológicas sobre a re-gião norte do estado do Tocantins e sul/sudeste doestado do Pará, são atribuídas a Lisboa (1940), Mo-raes Rego (1933), Lofgren (1936) e Oliveira & Leo-nardos (1940). Investigações sistemáticas de cu-nho regional e por vezes prospectivas, tiveram iní-cio na década de sessenta, a partir dos trabalhosde Barbosa et al. (1966), Almeida (1965, 1967 e1968) e dos geólogos da Cia. Meridional de Minera-ção (1967), que identificaram os depósitos ferrífe-ros da região.

Nas décadas de 70 e 80 foram realizados inúme-ros trabalhos, geralmente restritos às áreas adja-centes à província mineral da serra dos Carajás(Tolbert, 1970; Rezende & Barbosa, 1972; Amaral,1974; DOCEGEO, 1981, 1988; Martins et al., 1982;Hirata, 1982; Montalvão et al., 1984; Medeiros Neto& Villas, 1984 e Huhn et al., 1986), voltados para aprospecção de depósitos minerais mas, também,com incursões nos campos de datações geocrono-lógicas e definições de unidades estratigráficas.

Com base nesses levantamentos, a maioria des-ses autores admitia que a Amazônia oriental possuíaorganização tectônica sob a forma de provínciasestruturais, fato este modificado a partir da caracte-

rização de cinturões móveis proterozóicos, cons-tante da proposta original de Cordani & Brito Neves(1982) e deTassinari et al. (1987).

Hasui et al. (1984) e Hasui & Haralyi (1985), utili-zando-se de dados geofísicos (gravimetria e mag-netometria) e apoiados nas informações geológi-cas disponíveis à época, propuseram para oArqueano da Amazônia Oriental uma estruturaçãoregional composta de blocos crustais denomina-dos de: Belém, Araguacema, Juruena e Poranga-tu, em cujas bordas ocorreriam os cinturões Ita-caiúnas, Alto Tapajós e Araguaia (figura 2.1).Estas faixas marginais aos blocos seriam caracte-rizadas por anomalias gravimétricas positivas, porforte linearização das unidades rochosas e por do-mínios magnéticos fortemente perturbados; os nú-cleos conteriam granitóides e seqüências vulca-no-sedimentares do tipo greenstone belts não ali-nhados tectonicamente, em domínios magnéticospouco perturbados e sem anomalias gravimétri-cas significativas. Esta configuração foi interpreta-da como tendo sido estruturada no Arqueano emodificada ao longo do Proterozóico, com o aloja-mento de novas seqüências vulcano-sedimenta-res e granitos.

Na área de ocorrência do Cinturão Araguaia,dentro dos estudos realizados pela UniversidadeFederal do Pará, destacam-se os de Hasui et al.

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SB.22-Z-B (Xambioá)

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(1977 e 1989), Abreu (1978), Costa (1980), Gora-yeb (1981), Santos (1983), Teixeira (1984) e Souza(1984). A partir destes, assume grande importânciaa tentativa de caracterizar as inter-relações entre oCinturão Araguaia, o Cráton Amazônico e o BlocoPorangatu e o arranjo geométrico resultante, preo-cupações estas observadas especialmente nostrabalhos de Costa (1985), Costa et al. (1984, 1985e 1988a, b), Hasui et al. (1984), Hasui & Haralyi(1985) e Hasui e Costa (1988).

A partir de 1956 os sedimentos da Bacia do Par-naíba foram estudados pela PETROBRAS, comdestaque para a Revisão Geológica da Bacia Paleo-zóica do Maranhão (Aguiar, 1971). A CPRM reali-

zou levantamentos estratigráficos e prospectivosnestes sedimentos (Lima & Leite, 1978 e Scislewskiet al., 1983).

O arcabouço tectônico regional delineado (figu-ra 2.1) é entendido como o produto de colisão con-tinental associado a regime tectônico compressivode baixo ângulo, que propiciaram através de desla-minações e/ou imbricamentos das diversas fatiascrustais (figura 2.2), o desenvolvimento de nappes,além de permitir a exposição, lado a lado, de unida-des de graus metamórficos diferenciados. A FolhaXambioá encontra-se no contexto da articulaçãodos blocos Araguacema e Porangatu, contendo in-ternamente parte dos cinturões Araguaia e Itacaiú-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

0 120km

54º00’ 50º00’ 46º00’

54º00’ 50º00’ 46º00’

4º00’

8º00’

12º00’

4º00’

8º00’

12º00’

FOLHA XAMBIOÁ

1 BLOCO BELÉM

2 CINTURÃO ITACAIÚNAS

3 BLOCO ARAGUACEMA

4 CINTURÃO ALTO TAPAJÓS

5 BLOCO JURUENA

6 BLOCO PORANGATU

7 CINTURÃO ARAGUAIA

ÁREAS DE TERRENOS GRANITO-PRESERVADOS

COBERTURAS

GREENSTONES

ARAGUAÍNARIO MARIA

REDENÇÃO

PORANGATU

CRIXÁS

2

5

7

6

4

1

3

Figura 2.1 – Estruturação regional da Amazônia Oriental.

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nas. Na parte leste, em faixa alongada segundo omeridiano, dispõem-se os sedimentos da Bacia doParnaíba. As formações superficiais, na forma delateritos e aluviões, ocupam indiscriminadamentepartes pouco significativas do terreno.

2.2 Arranjo Tectono-Estratigráfico

Araújo et al. (1991) propuseram um modelo tec-tono-estrutural para explicar a compartimentaçãoregional dos terrenos da Amazônia Oriental. Estemodelo fundamenta-se em domínios crustais com-binado com a atuação de regimes tectônicos, propici-ando a elaboração de um novo arranjo espacial/tem-poral das unidades. Este modelo é adotado nestetrabalho e o quadro 2.1 sintetiza a geologia da áreaem estudo.

Ao Arqueano foram atribuídos os complexos Xin-gu e Colméia, na qualidade de representantes dos

típicos Archaean TTGs. São formados por rochasde composição tonalítica, trondhjemítica e granodio-rítica, gnaissificadas e migmatizadas, com fraçõesde rochas supracrustais e granitóides associados.O Grupo Rio Novo, interno ao Complexo Xingu, estásendo interpretado como parte de uma seqüênciavulcano-sedimentar gerada a partir do desenvolvi-mento de uma bacia na porção terminal do grandeSistema Transcorrente Cinzento (Costa & Siqueira,1990, in Araújo et al., 1991). Esta unidade tambémfoi incluída nos terrenos arqueanos e, juntamentecom o Complexo Xingu, representa na área o Cintu-rão Itacaiúnas; interpretado como desenvolvido ci-nematicamente em um regime compressivo oblí-quo.

As rochas atribuídas ao Grupo Baixo Araguaia, àAssociação Máfica-Ultramáfica Serra do Tapa e aoGranito Ramal do Lontra, consideradas como deidade proterozóica, formam ao lado dos litótipos doComplexo de Colméia (Arqueano), o Cinturão Ara-

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SB.22-Z-B (Xambioá)

A

D

B

COBERTURA SEDIMENTAR

ASSOCIAÇÃO MÁFICA-ULTRAMÁFICA

COBERTURA METASSEDIMENTAR DOBRADA

GRANITÓIDES E MIGMATITOS

GRANULITOS FÉLSICOS

GRANULITOS MÁFICOS E ULTRAMÁFICOS

100

50

(Km)

100 200 MPa

Crosta superior rúptil

Crosta média hidratada

Crosta inferior desidratada

Moho

Lito

sfe

ra

Manto litosférico

Astenosfera

300ºC

700-800º

C

Figura 2.2 – Diagrama esquemático do desenvolvimento de nappes na crosta, segundo Weber (1985) - (A, B, C).Em D, perfil esquemático da Folha Xambioá.

Page 4: Petrologia da Formação Mosquito 2

guaia, marcado cinematicamente por um regimecompressivo oblíquo.

Segundo Hasui & Costa (1990), as estruturaspresentes no Cinturão Araguaia são produtos deestágio avançado de colisão continental, e seus li-tótipos correspondem a uma seqüência marinhatransgressiva, depositada em uma depressão assi-métrica do tipo hemigraben, com orientação sub-meridiana. Consideram que a fase distensiva al-cançou altas taxas de estiramento litosférico, emvirtude da expressiva contribuição máfica-ultramá-fica, não concluindo, porém, se foi alcançado o es-tágio de formação de crosta oceânica. Na fasecompressiva registrada, os sistemas de cavalga-mentos e de transcorrências, aliados à posição es-pacial da lineação de estiramento e à movimenta-ção sinistral associada, dentre outros indicadorescinemáticos, permitiram que apresentasse um mo-delo segundo o qual o Bloco Leste (Porangatu) teriacavalgado obliquamente o Bloco Oeste (Araguace-ma).

No presente trabalho, adota-se um modelo se-melhante para a evolução tectono-estratigráfica daárea, no qual o Grupo Baixo Araguaia teria sido de-positado inicialmente em ambiente continental a li-torâneo, admitido para a Formação Morro do Cam-po e para parte da Formação Couto Magalhães

(conglomerados, arcóseos e arenitos), gradandopara um ambiente marinho raso com planícies car-bonáticas (formações Xambioá e Pequizeiro) atéatingir um ambiente marinho profundo (pelitos daFormação Couto Magalhães).

Com base nos dados litogeoquímicos (Souza &Marques, 1993) que indicam uma suíte de compo-sição toleiítica (tipo P-Morb) com alto teor de ferropara as rochas basálticas com estruturas do tipopillow-lava da Associação Máfica-Ultramáfica Ser-ra do Tapa, admitem que tal unidade correspondaa parte do assoalho oceânico incorporado tectoni-camente aos metassedimentos do Grupo BaixoAraguaia. Tal hipótese, no entanto, não elimina apossibilidade de que esta associação e outros cor-pos de filiação básico-ultrabásica que ocorrem es-parsamente distribuídos ao largo do Cinturão Ara-guaia, representem restos de terrenos arqueanosdo tipo greenstone belts ou corpos magmáticos dederivação mantélica, alojados pré-tectonicamenteem níveis crustais mais profundos ou nos metasse-dimentos do Grupo Baixo Araguaia (Gorayeb,1989).

O Granito Ramal do Lontra é considerado comocorpo granitóide do tipo pré a sincolisional, por es-tar alojado em zona de transcorrência oblíqua, emmeio a litótipos da Formação Xambioá 1.

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

CINTURÃO ITACAIÚNAS CINTURÃO ARAGUAIA

ARQUEANO/

PROTEROZÓICO

NÍVELCRUSTAL

SUP.

MED.

I N F.

DOMÍNIO IMBRICADO DOMÍNIO TRANSCORRENTE

REGIME COMPRESSIVO OBLÍQUO (SW - NE) REGIME COMPRESSIVO OBLÍQUO (SE - NW)

DOMÍNIO IMBRICADO COM TRANSCORRÊNCIASASSOCIADAS

A c x A c c

P r l P m c P x b P p q P c m P s tA r n

COBERTURAS SUPERFICIAIS

REGIME DISTENSIVO (ENE - WSW) - PLUTONISMO BÁSICO

REGIME DISTENSIVO (NW - SE)BACIA DOPARNAÍBA

MESO.

QUAT.

PALEO/MESO.

Q a l

K r b

Q l a

M d b

FANEROZÓICO

POSIÇÃO CRONOLÓGICAPOSSÍVEL

CAVALGAMENTO OBLÍQUOENTRE PROVÍNCIAS GEOTECTÔNICAS

INTRUSÃO EM FASE DISTENSIVA

SUPERPOSIÇÃO DE DOMÍNIO TRANSCORRENTESOBRE O DOMÍNIO IMBRICADO

DISCORDÂNCIA

Quadro 2.1 – Arranjo espacial/temporal/crustal das unidades.

Page 5: Petrologia da Formação Mosquito 2

No Fanerozóico, a deposição dos sedimentos daBacia do Parnaíba e da Formação Rio das Barreirasassocia-se a dois eixos distensivos: um de idadecarbonífera (NW-SE) e o outro do Jurássico(ENE-WSW), Costa et al. (1991), (figura 2.3). Os ba-saltos da Formação Mosquito são correlacionadosao evento geotectônico que proporcionou o rompi-mento do Supercontinente Gondwana.

As coberturas lateríticas são resultantes de pro-cessos de pediplanação pleistocênica e as alu-viões produto do entalhe erosivo dos rios atuais eda deposição localizada de seus produtos.

2.3 Cinturão Itacaiúnas

Ocorre de maneira restrita na parte oeste da fo-lha, ocupando estreita faixa alongada meridiana-mente, com boas exposições ao longo da rodoviaPA-275.

O Cinturão Itacaiúnas foi caracterizado por umregime compressivo oblíquo (Araújo et al., 1991),exibindo dois domínios estruturais distintos: um im-bricado, ligado a uma cinemática essencialmentecompressiva, cuja evolução esta associada às ro-chas do Complexo Xingu e um transcorrente, comuma cinemática predominantemente oblíqua, im-pressa nos litótipos do Grupo Rio Novo.

Uma estreita faixa de rochas, com orientaçãoaproximada E-W, atribuída ao Grupo Sapucaia(Araújo et al., 1991), estende-se para a Folha Xam-bioá, em sua porção oeste, não tendo sido carto-

grafada em razão da ausência de afloramentos eda restrita área de ocorrência (menos de 6km2).

2.3.1 Complexo Xingu – Acx

As primeiras referências a estes litótipos datamde Oliveira (1928), Guimarães (1928) e Barbosa etal. (1966), Menezes Filho (1970), Tolbert et al.(1970), Pinheiro & Jorge João (1970), Puty et al.(1972), Marinho (1973) e Amaral (1974), entre ou-tros, que os descreveram, denominando-os deEmbasamento Cristalino ou de Pré-Cambriano Indi-ferenciado. Silva et al. (1974) introduziram o termoComplexo Xingu, que, a partir de então, passou ater aceitação geral.

Tentativas de subdivisão foram sugeridas porMartins & Araújo (1979), Cordeiro (1982) e JorgeJoão et al. (1987). Araújo et al. (1991) restringemseu uso aos domínios do Cinturão Itacaiúnas.

Na Folha Xambioá, os litótipos do Complexo Xin-gu têm distribuição restrita a pequenas faixas des-contínuas no extremo-oeste. No geral, afloramcomo morrotes isolados sob uma superfície arrasa-da, à exceção do extremo-noroeste onde estão ex-postos.

As rochas do Complexo Xingu encontram-se en-cimadas tectonicamente pelos metassedimentosdo Cinturão Araguaia, enquanto que com as supra-crustais do Grupo Rio Novo o contato é concordan-te (Araújo et al., 1991).

Os litótipos do Complexo Xingu são predominan-temente tonalíticos. Trondhjemitos, granodioritos e

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SB.22-Z-B (Xambioá)

Coberturas fanerozóicas

Falhas normais

Falhas de transferência

Eixo extensional

ORDOVICIANO/TRIÁSSICO

COMPARTIMENTOORIENTAL

COMPARTIMENTOOCIDENTAL

OCEANOATLÂNTICO

52º 44º 36º

JURÁSSICO/MIOCENO

OCEANOATLÂNTICO

52º 44º 36º

Figura 2.3 – Evolução tectônica da Bacia do Parnaíba, segundo Costa et al. (1991).

Page 6: Petrologia da Formação Mosquito 2

granitos ocorrem em quantidades subordinadas;anfibolitos formam encraves de restos não digeri-dos. Exibem diferentes taxas de deformação e demigmatização; as cores variam de cinza a rosa, e agranulação de média a grossa; em geral, apresen-tam textura ineqüigranular porfiroclástica, comocelos de quartzo e feldspatos envolvidos por ma-triz granolepidoblástica.

A assembléia mineral é composta por plagioclá-sio, quartzo, microclina, biotita, hornblenda, opa-cos, zircão, apatita, clorita, muscovita e epídoto,em ordem decrescente de abundância. O plagio-clásio é do tipo albita-oligoclásio e exibe gemina-ção polissintética e Albita-Periclina. Ocorre em cris-tais tabulares, apresentando em geral: sericitiza-ção, epidotização e carbonatação. O quartzo é xe-nomórfico, apresenta extinção ondulante e tembandas de deformação. Por vezes desenvolveagregados policristalinos com formação de sub-grãos, em decorrência de deformação superposta.O microclínio é límpido, inalterado e deformado emestágio protomilonítico a milonítico. A biotita ocorregeneralizadamente em quantidades variadas. Ge-ralmente altera-se para clorita e está distribuída se-gundo a orientação preferencial da foliação super-posta. Encontra-se, via de regra, associada à horn-blenda verde, fortemente pleocróica. Titanita, zir-cão, apatita, allanita e opacos são os acessóriosmais comuns.

Em razão da paragênese foram consideradascomo edificadas em condições de metamorfismode fácies anfibolito, com regressões localizadas àfácies xisto-verde alto.

Segundo Araújo et al. (op. cit.), estas rochas sãoortoderivadas e têm natureza sódica. Exibem am-pla dispersão composicional, dentro da série calci-alcalina.

Observações diretas indicam que as deforma-ções impressas são variáveis, nas quais são exibi-dos elementos estruturais diversos, como dobrasintrafoliais rompidas, lineação de estiramento e zo-nas de cisalhamento dúctil (AJ-48, rodoviaPA-275). Destaca-se uma proeminente estrutura-ção E-W que identifica de maneira inconfundível osterrenos arqueanos do Complexo Xingu.

O padrão geofísico é o de domínios magnéticoscom relevos altos a muito altos.

A idade admitida é arqueana, por analogia comterrenos semelhantes em diversas partes da Terra.Além do mais, dados isotópicos U/Pb de migmati-tos da divisa entre as folhas Xambioá e Serra dosCarajás acusaram idade de 2.851 � 4 Ma (Machadoet al., 1988).

2.3.2 Grupo Rio Novo – Arn

Sob o nome de Seqüência Rio Novo, Hirata et al.(1982), descreveram, na estrada que liga Serra Pe-lada à PA-275, anfibólio-clorita xistos associados arochas félsicas, formações ferríferas bandadas emetacherts, e admitiram a possibilidade de se tra-tar de um greenstone belt.

Tal indicação é mantida por Meireles et al.(1984). A DOCEGEO (1988) apud Araújo (op. cit.),passa a denominá-la de Grupo Cabeça, engloban-do-o no Supergrupo Andorinhas, posição esta cor-roborada posteriormente, quando procedeu, em1988, a revisão litoestratigráfica do Distrito de Cara-jás, e passou a agrupar todas as seqüências dotipo greenstone belt da região no SupergrupoAndorinhas.

Araújo et al. (1991) associam os litótipos estuda-dos por Hirata et al. (1982), ao que anteriormente foichamado de Grupo Pujuca (DOCEGEO, op. cit.),restaurando a designação inicial, porém com a hie-rarquia de grupo, o que também é aqui adotado.

Esta unidade ocupa aproximadamente 10km2 noextremo-noroeste da área, onde encontram-se emcontato com as rochas do Complexo Xingu.

Segundo Araújo et al. (1991) o Grupo Rio Novo éconstituído por anfibolitos, quartzitos ferríferos ban-dados e quartzo micaxistos. Os anfibolitos têm corverde-escuro a cinza, textura granonematoblásti-ca, estrutura foliada e são constituídos por horn-blenda, em cristais tabulares e prismáticos, orienta-dos e entremeados por cristais de plagioclásio in-tensamente saussuritizado e clinopiroxênio incolor.Os quartzitos ferríferos bandados e lenticulariza-dos ocorrem intercalados nos anfibolitos, exibemforte bandamento milonítico, têm granulação fina àmédia e compõe-se essencialmente de quartzo eóxidos de ferro. Os metassedimentos são repre-sentados por micaxistos compostos por biotita,muscovita, quartzo e feldspato, exibindo arranjotextural lepidoblástico eqüigranular.

Esta seqüência metavulcano-sedimentar é con-siderada como equivalente aos greenstones ar-queanos (Araújo et al., 1991) e encontra-se engas-tada nos gnaisses do Complexo Xingu.

A deformação superposta, em regime dúctil, pro-piciou o desenvolvimento de uma foliação miloníti-ca de caráter anostomótico, gerada em condiçõesde fácies xisto-verde alto (Araújo et al., op. cit.).

Apresenta um padrão de anomalias aeromagne-tométricas de intensidade alta a muito alta, dispos-tas segundo orientação E-W, direção esta que é a“assinatura magnética” em especial dos terrenos

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Page 7: Petrologia da Formação Mosquito 2

arqueanos do sul do Pará, retrabalhados em regi-me de cisalhamento dúctil.

2.4 Cinturão Araguaia

O Cinturão Araguaia é caracterizado por um esti-lo estrutural compatível com um regime compressi-vo oblíquo, com predomínio de cavalgamentos im-bricados associados a zonas de transcorrências.Ocupa cerca de 2/3 dos terrenos da Folha Xambioáe abrange diversas unidades litoestratigráficas, deidades arqueanas a proterozóicas, incluindo os or-tognaisses do Complexo Colméia, os granitóidesdo Ramal do Lontra e os metassedimentos do Gru-po Baixo Araguaia, constituído pelas formaçõesMorro do Campo, Xambioá, Pequizeiro e Couto Ma-galhães, além da Associação Máfica-UltramáficaSerra do Tapa.

2.4.1 Complexo Colméia – Acc

Gnaisses e migmatitos são os constituintes es-senciais expostos nos núcleos das estruturas dômi-cas do Lontra e de Xambioá, na região centro-nortedo estado do Tocantins. Foram primeiramente estu-dados por Barbosa et al. (1966), que os engloba-ram na Série Araxá. Silva et al. (1974), Guerreiro &Silva (1976) e Abreu (1978), correlacionaram-nosao Complexo Xingu. Montalvão et al. (1979) deno-minaram esses terrenos gnáissicos de FormaçãoColméia, posicionando-a estratigraficamente nabase do Grupo Xambioá, este, por sua vez, inclusono Supergrupo Baixo Araguaia.

Costa (1980) introduziu o termo Complexo Col-méia para designar as rochas aflorantes na estrutu-ra dômica localizada próximo a esta cidade. Corre-lacionou-o ao Complexo Xingu, considerando-omais antigo que os metassedimentos do Supergru-po Baixo Araguaia. Tal denominação e posiciona-mento estratigráfico foi adotado por Santos et al.(1984) e por Dall’agnol et al. (1988), conceito esteaqui aceito e mantido.

Tanto na estrutura do Lontra quanto na de Xam-bioá, os litótipos predominantes são gnaisses decomposição trondhjemítica, sendo comum, tam-bém, a presença de migmatitos e gnaisses graníti-cos.

Os gnaisses trondhjemíticos apresentam cor cin-za, granulação média, textura granoblástica a lepi-doblástica; são constituídos essencialmente dequartzo, oligoclásio, microclínio e biotita; acessóriospredominantes são muscovita, apatita, epídoto e

opacos; ao passo que clorita, sericita e carbonatosão os secundários mais comuns.

Os gnaisses graníticos são compostos por quartzo,microclínio, muscovita e biotita e apresentam o oli-goclásio, opacos e zircão como acessórios.

Os migmatitos apresentam estruturas pitigmáti-cas, estromáticas e nebulíticas. Segundo Macam-bira (1983), as melhores exposições situam-se naparte norte da estrutura dômica do Lontra, ondeexibem paleossoma de cor cinza, granulação fina,textura granoblástica e lepidoblástica e quartzo,oligoclásio, microclínio e biotita como mineraisacessórios. O neossoma apresenta textura grano-blástica, granulação fina a média com microclínio,quartzo, oligoclásio e muscovita como minerais es-senciais.

Encraves de seqüências metavulcano-sedimen-tares são comuns, sendo compostos predominan-temente por anfibolitos, serpentinitos, metacherts equartzitos ferruginosos. As rochas máfico-ultramá-ficas estão transformadas em talco e clorita xistos.

Estudos petrológicos, desenvolvidos por Santoset al. (1984) e Dall’agnol et al. (1988) nos gnaisses emigmatitos, permitiram-Ihes interpretá-Ios comopertencentes à família dos ortognaisses, semelhan-tes a trondhjemitos continentais.

Ainda segundo estes autores, os migmatitos se-riam formados por paleossomas trondhjemíticos,com variações composicionais e petrográficas atri-buídas à diferenciação metamórfica e por leucos-somas quartzo-feldspáticos, empobrecidos emmica, originados, ou por fusão parcial de granitosdo Complexo de Colméia, ou por líquidos relacio-nados a corpos graníticos não aflorantes. As tem-peraturas atingidas no desenvolvimento destas ro-chas teriam sido entre 600 e 650°C, com pressõesda ordem de 5 a 8kbar.

Segundo Costa (1980), as rochas do ComplexoColméia teriam sofrido metamorfismo regional dafácies anfibolito alto.

Em decorrência do cavalgamento em baixo ân-gulo dos metassedimentos sobre os gnaisses doComplexo Colméia, estes foram fortemente afeta-dos, desenvolvendo-se neles extraordinárias fei-ções de natureza dúctil. A interface entre o emba-samento e a cobertura metassedimentar é caracte-rizada por uma superfície de descolamento de bai-xo ângulo com foliações totalmente transpostas,que obliteram parcialmente uma foliação E-W pree-xistente. Nessa superfície encontra-se bem impres-sa, uma lineação de estiramento mineral (Lx), con-cordante com a observada nos metassedimentossobrepostos.

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SB.22-Z-B (Xambioá)

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Duas isócronas Rb/Sr indicam arranjos isotópi-cos de idades geocronológicas de 2.591 � 64Ma(razão inicial 0,75) e 1.834 � 39Ma (razão inicial0,715) (Tassinari, 1980). Araújo et al. (1991), inter-pretaram as rochas do Complexo Xingu como gera-das no Arqueano Superior, embasados em dadosobtidos por Machado et al. (1988), que datou mig-matitos no limite oeste desta folha pelo métodoU/Pb, para os quais obteve idade de 2.851 � 4Ma.Assim, admite-se que as rochas do Complexo Col-méia tenham sido geradas no Arqueano e constitu-em uma crosta ensiálica primitiva típica e represen-tativa de um nível crustal intermediário.

2.4.2 Granito Ramal do Lontra – Prl

Nas margens da estrada que dá acesso à fazen-da Marinheiro, ocorrem granitos foliados embuti-dos tectonicamente na parte oriental dos metasse-dimentos do Grupo Baixo Araguaia.

Os diversos autores que têm estudado a região,os posicionam estratigraficamente de diversas ma-neiras: Puty et al. (1972) interpretaram que os grani-tos do Ramal do Lontra estariam superpostos aosquartzitos do Grupo Araxá, por falha de empurrãode direção N-S; Abreu (1978) admite que tenhamdesenvolvido contato tectônico no limite oeste, as-sociando a ascensão desses granitos à evoluçãodiapírica das branquianticlinais do LontraeXambioá,enquadrando-os, em conseqüência, como intru-sões tardi-tectônicas do Grupo Estrondo; Macam-bira (1983) refere-se a estes granitos como intrusi-vos nos micaxistos e quartzitos da Formação Morrodo Campo.

Dall’agnol et al. (1988) indicaram que seriam de-rivados do manto, associando-os a processos ana-téticos, que teriam ocorrido, provavelmente, duran-te o ápice do metamorfismo que afetou o Grupo Bai-xo Araguaia.

A área de exposição destas rochas é de aproxi-madamente 8km2 embora os dados aerocintilomé-tricos sugiram que possa prolongar-se por mais al-guns quilômetros na direção nordeste, sob a capalaterítica.

Apresentam cor rosa, granulação fina a média,estrutura foliada, tendo por componentes: quartzo(30%), microclínio (33%), plagioclásio (30%), bioti-ta (5%) e muscovita (2%). Os acessórios mais co-muns são opacos, zircão, apatita, rutilo e titanita.

Macambira (op. cit.) datou este granito obtendouma isócrona mal-alinhada (teores de Rb e Sr muitohomogêneos), que acusou razão inicial de 0,7053 �

0,0002 e idade de 496,7 � 46,4Ma (brasiliana). Pon-

dera-se, contudo, que a rocha original poderia tersido gerada em época anterior ao desenvolvimentodo Grupo Baixo Araguaia, em cuja orogênese foievidentemente deformada. Interpreta-se que o atu-al posicionamento deste corpo granítico se deuatravés de zona de transpurrão de direção subme-ridiana.

Um pequeno corpo de granito, não mapeável naescala deste trabalho, é descrito por Macambira &Kotschoubey (1981) na parte interna do flanco lesteda estrutura do Lontra (serra da Ametista) e possi-velmente apresente o mesmo posicionamento tec-tônico do Granito Ramal do Lontra.

2.4.3 Grupo Baixo Araguaia

As primeiras referências a respeito desta se-qüência metassedimentar são atribuídas a MoraesRêgo (1933), que a denominou de Série Tocantins,correlacionando-a à Série Minas. Barbosa et al.(1966) incluiram-na na Série Araxá e Hasui et al.(1975) utilizaram a denominação Grupo Estrondoem substituição a Série Araxá. Hasui et al. (1977),introduziram o termo Grupo Baixo Araguaia para osmetamorfitos que ocupam a região do baixo rio Ara-guaia, dividindo-o nas formações Estrondo, Pequi-zeiro e Couto Magalhães. Abreu (1978) propôs umanova coluna estratigráfica elevando à categoria deSupergrupo o Grupo Baixo Araguaia, subdividin-do-o nos grupos Estrondo (formações Morro doCampo e Xambioá) e Tocantins (formações CoutoMagalhães e Pequizeiro). Costa (1980), manteve aestratigrafia de Abreu (op. cit.) e inseriu no topo doGrupo Estrondo, a Formação Canto da Vazante.Cunha et al. (1981) mantiveram as denominaçõesGrupo Estrondo e Grupo Tocantins como subdivi-sões do Supergrupo Baixo Araguaia, mas não ossubdividiram em formações. Montalvão (1985) revi-sou o Supergrupo Baixo Araguaia, sugerindo onome de Grupo Serra das Cordilheiras, com as for-mações Serra do Lontra, São Geraldo e Serra dosMartírios, em virtude destes locais apresentaremseções-tipo mais completas. Araújo & Olivatti(1990), apresentaram uma nova coluna estratigráfi-ca para a região, na qual o Grupo Estrondo englo-baria as formações Morro do Campo, Xambioá ePequizeiro, ficando o Grupo Tocantins limitado àFormação Couto Magalhães, sugerindo, por último,o abandono do termo Supergrupo Baixo Araguaia.

Neste trabalho, todos os litótipos acima são inter-pretados como depositados em um único ciclo se-dimentar e com evolução tectônica única e comuma todos os seus membros. Por serem termos já con-

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sagrados na literatura geológica, foram mantidasas denominações Morro do Campo, Xambioá, Pe-quizeiro e Couto Magalhães, apesar desta divisãose fundamentar somente em características quantoao metamorfismo e aos litótipos atuais, e não quan-to aos ambientes deposicionais originais. Ado-tou-se a designação Baixo Araguaia (Hasui et al.,1977), com a hierarquia de grupo, para englobarestas formações.

2.4.3.1 Formação Morro do Campo – Pmc

A Formação Morro do Campo foi definida porAbreu (1978), englobando gnaisses e quartzitos.Costa (1980), incluiu os gnaisses no embasamento(Complexo Colméia), restringindo a designaçãoaos quartzitos.

As melhores exposições situam-se em torno dasestruturas dômicas do Lontra e de Xambioá e nasserras das Andorinhas, Martírios e Bodocó, situa-das na parte centro-Ieste da folha. Uma superfíclede descolamento suborizontal e outros imbrica-mentos tectônicos similares de baixo ângulo, deli-mitam o contato com o Complexo Colméia.

É constituída essencialmente por muscovitaquartzitos e ortoquartzitos, com intercalações demuscovita-biotita-quartzo xistos e conglomeradosoligomíticos.

Os quartzitos apresentam tonalidades esbran-quiçadas a creme, granulação fina a média, grãosbem selecionados, estrutura orientada e texturagranoblástica com cristais xenoblásticos de quart-zo e palhetas de muscovita orientadas segundo oplano da foliação. Níveis métricos e decimétricos,ricos em magnetita, são freqüentes.

Biotita-muscovita-quartzo xistos apresentam-secomo intercalações nos quartzitos. Mostram textu-ra granolepidoblástica formada por cristais xeno-blásticos de quartzo e agregados lamelares de bio-tita, orientados e deformados, e em parte substituí-dos por muscovita e clorita. Plagioclásio xenomórfi-co, tabular e, às vezes, geminado é freqüente, epode representar processo de feldspatização pos-terior. Carbonatos, epídoto e sericita são mineraissecundários.

Santos (1983) descreve, próximo à Chapada,lentes de cianita quartzito conglomerático interca-ladas em ortoquartzitos. Intercalações lenticulares,de espessura decimétrica a métrica, de conglome-rados formados por seixos de quartzo leitoso comaté dois centímetros de diâmetro, foram tambémobservadas nas bordas das estruturas de Xambioáe Lontra (foto 3).

2.4.3.2 Formação Xambioá – Pxb

A denominação Formação Xambioá foi introduzi-da por Abreu (1978), ao descrever, ao longo da es-trada Xambioá-Vanderlândia, um espesso pacotede xistos que jaziam sobre os litótipos da FormaçãoMorro do Campo, para os quais passavam gradacio-nalmente. Estas litologias foram estudadas por di-versos outros autores, destacando-se Silva (1980),Macambira (1983), Santos et al. (1984) e Montalvão(1985).

Ocorre em toda a parte centro-leste da folha, en-volvendo as rochas da Formação Morro do Campo,com as quais mantém contatos normais e tectôni-cos. Na parte leste está recoberta discordantemen-te pelos sedimentos da Bacia do Parnaíba. Com aFormação Pequizeiro, o contato é tectônico e de di-fícil discriminação em virtude, sobretudo, de reati-vações no Mesozóico por falhas normais, que pro-piciaram as estruturas do tipo graben, que abrigamsedimentos da Bacia do Parnaíba e da FormaçãoRio das Barreiras.

Dentro desta formação foram separadas duas as-sociações litológicas, com caracteres petrográficose assinaturas magnetométricas distintas: uma, de-nominada de Formação Xambioá 1, composta pormicaxistos de composição variada, grafita xistos,anfibolitos, metarenitos, quartzitos ferruginosos, si-lexitos e metacórseos, dispostos em forma de um“Y” invertido, envolvendo parcialmente as estruturasdômicas do Lontra e de Xambioá; e outra, designa-da como Formação Xambioá 2, com maior área deocorrência, constituída, predominantemente, pormuscovita-biotita-quartzo xistos feldspáticos apre-sentando, subordinadamente, mármores, quartzitose metaconglomerados polimíticos.

Nesta última associação, os xistos apresentamtonalidades cinzentas a esverdeadas, textura gra-nolepidoblástica a milonítica e granulação fina amédia. Localmente, ocorrem termos mais grossos,que os tornam assemelhados a estruturas gnáissi-cas típicas. Têm como constituintes majoritáriosquartzo, plagioclásio, biotita e muscovita. O quart-zo (40 a 60%), normalmente ocorre sob a forma demosaicos de cristais xenomórficos, deformados ecom extinção ondulante. A biotita exibe-se sob aforma de lamelas, geralmente associada a musco-vita (5 a 10%), clorita (1 a 5%), epídoto e sericita,formando agregados que definem a foliação miloní-tica. O plagioclásio (10%) é tabular xenomórfico,ocorrendo, por vezes (sul de Araguanã), sob a for-ma de porfiroclastos poiquilíticos deformados, comporcentagens mais elevadas (20 a 35%) e desen-

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volvendo, internamente, inclusões orientadas queevidenciam possível geração tardia. Processos decarbonatação (RO-31) e níveis ricos em cristais xe-nomórficos de granada são freqüentes. A clorita,possivelmente, desenvolveu-se por processo retro-metamórfico superposto, ocorrendo em maioresquantidades para oeste, o que, por conseguinte,permite presumir-se terem sido mais intensos osprocessos retrometamórficos nessa região. Opa-cos, turmalina, zircão, apatita e rutilo são os aces-sórios mais comuns.

Os mármores têm cor cinza-esbranquiçado, tex-tura cristaloblástica e granulação média a grossa.Em nível de afloramento, notam-se níveis submili-métricos de opacos, provavelmente relacionados aum bandamento primário.

Os metaconglomerados polimíticos exibem clas-tos de quartzo, gnaisses, quartzitos, mármores,granitos e rochas básicas, com dimensões varian-do de milimétrica a métrica, dispersos em uma ma-triz de biotita-quartzo xisto feldspático. Na margemdo rio Araguaia (LM-95; perímetro urbano de Xam-bioá), os seixos exibem diferentes graus de defor-mação pós-sedimentar, observando-se o eixo demaior dimensão orientado na direção do estiramen-to mineral regional e o plano de achatamento para-lelizado ao da foliação milonítica.

Na Formação Xambioá 1, os micaxistos apresen-tam textura granolepidoblástica a milonítica e mos-tram composição variada. São as rochas mais fre-qüentes e contêm, normalmente, quartzo, plagioclá-sio, biotita e muscovita, além de clorita, granada, ci-anita, estaurolita, andaluzita, carbonatos e opacos.

Os grafita xistos possuem cor cinza-escuro apreta, estrutura foliada e compõem-se predomi-nantemente de muscovita, quartzo e grafita.

Os anfibolitos têm cor verde-escuro e texturagranoblástica fina. Os minerais essenciais sãohornblenda, plagioclásio e quartzo. Associadosaparecem talco-clorita xistos e clorita xistos, comoprodutos da atuação de processos hidrotermais.

Quartzitos ferruginosos mostram textura grano-blástica fina e são compostos essencialmente dequartzo, sob a forma de cristais poligonais agrega-dos em mosaicos, formando bandas separadaspor “filmes” de opacos.

Metarcóseos (LM-07) com textura granoblásticafina, compostos por quartzo (52%), granada (15%),plagioclásio (15%), muscovita (10%) e clorita (5%)e silexitos ocorrem restritamente.

Boas exposições desta associação são observa-das a sul de Araguanã, entre as fazendas Sagaranae Vale do Sonho, e sul de Xambioá, nas estradas

para Araguanã e fazendas Bela Vista e Indepen-dência. Nas adjacências da Fazenda Independên-cia (figura 2.4), observa-se uma seqüência interes-tratigráfica entre rochas vulcânicas, químicas e se-dimentares, fortemente cisalhadas, com traços deorientação WNW-ESE a E-W, e mostrando interca-lações de corpos gabróicos de granulação grossa,não metamorfizados, posicionados ao longo daszonas de transcorrências e interpretados comoprodutos da fase distensiva do Mesozóico.

Entre Xambioá e Araguanã, além dos litótiposacima, ocorrem diversos afloramentos de anfiboli-tos finos, cisalhados, além de freqüentes intercala-ções de rochas subvulcânicas de natureza bási-ca-ultrabásica (JO-41), cujo conjunto evidencia aatuação de processo de feldspatização superposto(foto 4). Como regra geral, nesta seção é muito fre-qüente a alternância entre rochas com diferentesgraus de deformação: às faixas com alto strain, ondesão comuns mini e mesodobras intrafoliais, foliaçãode transposição, estiramento mineral, dobras comeixos encurvados e rompidas etc. , seguem-se zo-nas quase não deformadas que foram poupadas daatuação dos processos tangenciais de naturezadúctil-rúptil.

A sul de Araguanã, grafita xistos, por vezes mos-trando processos de feldspatização, encontram-seassociados a anfibolitos finos cisalhados e a cor-pos gabróicos não metamorfizados.

A 2km a norte de São Geraldo do Araguaia(RO-01), próximo ao córrego Jaó, aflora uma se-qüência de xistos, com textura de granolepidoblás-tica a granular, exibindo porfiroblastos de andaluzi-ta nodular, dispersos em uma matriz fina, constituí-da dominantemente por quartzo, plagioclásio eagregados de biotita. A textura fina, o aspecto reco-zido da matriz e a presença de andaluzita sugerema existência de metamorfismo térmico.

2.4.3.3 Formação Pequizeiro – Ppq

Formação Pequizeiro foi a designação dada porHasui et al. (1977), para os clorita xistos aflorantesnas proximidades de Pequizeiro, atribuídos ao topodo Grupo Tocantins.

Ocorre em uma faixa de orientação submeridia-na, localizada na parte central da folha. Mostra con-tatos tectônicos com as formações Xambioá, a les-te, e Couto Magalhães, a oeste. Está encimada porsedimentos da Bacia do Parnaíba que preenchemgrabens também orientados submeridianamente,originados por reativações anisotrópicas antigasno Fanerozóico.

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É constituída dominantemente por clorita-quart-zo xistos e clorita xistos.

Os clorita-quartzo xistos, que ocupam a parteleste da faixa, próximo ao contato com a FormaçãoXambioá, mostram cor cinza-claro, estrutura folia-da (anastomosada e/ou crenulada) e textura grano-lepidoblástica fina. São constituídos por mosaicosde cristais poligonais de quartzo, entremeados porplagioclásio subidiomórfico, com intercalações mi-limétricas de agregados lamelares deformados declorita, muscovita e sericita. A quantidade de quart-zo varia de 40 a 60% da rocha. A biotita encontra-sesubstituída por clorita e muscovita, como resultadode eventos retrometamórficos.

Os clorita xistos, que afloram na porção ociden-tal, próximo ao contato com a Formação Couto Ma-galhães, exibem cor cinza-esverdeado, textura le-pidoblástica fina, estrutura foliada e crenulaçãobem marcante. São formados, predominantemen-te, por clorita, muscovita e sericita.

2.4.3.4 Formação Couto Magalhães – Pcm

Hasui et al. ( 1977) utilizaram a designação For-mação Couto Magalhães para descrever os metas-sedimentos aflorantes na Rodovia TO-376, nas pro-ximidades da cidade de Couto Magalhães.

Ocorrem em toda a parte oeste da área, onde en-contram-se posicionados tectonicamente sobre asrochas do Complexo Xingu. A passagem para aFormação Pequizeiro é o tipo tectônico com imbri-camentos na região de contato.

É constituída predominantemente por filitos, me-tassiltitos e metargilitos, correspondendo a uma as-sociação de litofácies caracteristicamente pelítica.Faixas consideráveis de conglomerados polimíti-cos e metarcóseos aparecem na parte ocidental,associados a zonas de cisalhamento, e possivel-mente correspondem à sedimentação da fase riftdo desenvolvimento inicial da bacia.

Os filitos têm cores variadas, textura lepidoblásti-ca fina a milonítica, estrutura orientada e quartzo,plagioclásio e sericita como constituintes majoritá-rios. Os metassiltitos têm cor cinza-esverdeado,textura granolepidoblástica fina, estrutura foliada eminúsculos grãos de quartzo e plagioclásio envol-vidos por palhetas de sericita associadas à clorita eargilominerais. Os metargilitos mostram-se mais ri-cos em argilominerais e sericita.

Extensa faixa de metaconglomerados desorga-nizados e alterados, afloram a leste da fazenda Po-rangiaí (JO-96). São formados por clastos de gnais-ses, rochas básicas, quartzitos, minério de ferro(especularita), quartzo, siltito etc., variando de grâ-

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CIANITA - QUARTZO MICAXISTO, ALTERADOS, EXIBINDO BANDAMENTO COMPOSICIONAL E CISALHAMENTO

GABRO COM TEXTURA GROSSA, HOMOGÊNEO, SEM DEFORMAÇÃO DÚCTIL

CLORITA XISTOS COM FELDSPATIZAÇÃO SUPERIMPOSTA

GRAFITA XISTOS COM INTERCALAÇÕES DE METARCÓSEOS (?)

QUARTZITOS FERRÍFEROS BANDADOS (BIF)

ANFIBOLITOS FOLIADOS PARCIALMENTE ALTERADOS

0 100 200km

Obs: Sem escala vertical

FazendaIndependência Ribeirão

XambicaSN

Figura 2.4 – Perfil geológico esquemático da fazenda Independência.

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nulos a blocos, e suportados por uma matriz arco-siana fina. Blocos soltos de metaconglomeradosalgo organizados, de cor cinza, estrutura maciça,formados por grânulos e seixos arredondados, decomposição variável, em matriz arcosiana (JO-89)afloram no limite com a Folha Serra dos Carajás erepresentam fácies de leques aluviais.

Metarenitos feldspáticos de cor cinza com níveisavermelhados, textura granolepidoblástica fina eestrutura foliada, e metarcóseos de cor cinza-es-verdeado e textura granoblástica fina, afloram inter-calados aos filitos, a norte da Vila Rio Vermelho, aolongo da PA-150.

Algumas referências a respeito do ambiente desedimentação do Grupo Baixo Araguaia foram fei-tas por Silva et al. (1974), Abreu (1978), Santos(1983) e Hasui & Costa (1988), os quais sugeriramum ambiente marinho, variando de raso a profun-do.

Estruturas primárias, tais como estratificaçõesplano-paralelas, sand waves, estratificações cru-zadas tangenciais e herringbone, foram preserva-das nos quartzitos da Formação Morro do Campo,e em metarcóseos da Formação Couto Magalhães(fotos 5 a 8). Intercalações lenticulares de quartzi-tos dentro da seqüência dos xistos da FormaçãoXambioá, com estruturas wavy e linsen asseme-lham-se a barras de offshore. Metaconglomeradospolimíticos suportados pela matriz (LM-85, RO-83 eJO-96), posicionados tectonicamente dentro, res-pectivamente, das formações Xambioá e CoutoMagalhães, representam fluxos gravitacionais e,provavelmente, estariam correlacionados à fase derift da bacia. Metaconglomerados oligomíticos, su-portados por grãos arredondados de quartzo, emregime de fluxo confinado (RO-07), intercaladosnos quartzitos da Formação Morro do Campo,possivelmente estariam associados a leques alu-viais.

Assim, com base nos litótipos, na geometria enas estruturas primárias, admite-se que os metas-sedimentos das formações Morro do Campo, Xam-bioá e Pequizeiro tenham se depositado em um am-biente marinho raso com praia e plataformas restri-tas, enquanto a Formação Couto Magalhães teriase depositado em um ambiente marinho mais pro-fundo (offshore).

Estudos petroquímicos, com número reduzidode amostras, foram efetivados por Santos (1983) eMacambira (1983), entre outros. Souza et al.(1988), ao analisarem 36 amostras deste grupo su-gerem uma cogeneticidade entre as formaçõesXambioá e Pequizeiro, indicando serem as mes-

mas derivadas de sedimentos imaturos, e ressal-tam sua composição predominantemente ácida.

As assembléias mineralógicas correspondentesaos litótipos do Grupo Baixo Araguaia mostram umaumento gradual no grau metamórfico, inician-do-se com os anquimetamorfitos da FormaçãoCouto Magalhães, situados na parte oeste e alcan-çando a fácies xisto-verde alto a anfibolito baixo,nas rochas das formações Xambioá e Morro doCampo. Processos metamórficos tardios, relacio-nados à evolução tectono-termal, propiciaram apercolação de fluidos hidrotermais, ao longo dedescontinuidades estruturais, consubstanciadossob a forma de cloritização, saussuritização, epido-tização, muscovitização etc., além do alojamentode veios e vênulas de quartzo.

2.4.4 Associação Máfica-Ultramáfica Serrado Tapa – Pst

A designação Associação Máfica-UltramáficaSerra do Tapa é atribuída a uma faixa com orienta-ção submeridiana que acompanha a topografia daserra homônima e aflora em meio aos metassedi-mentos do Cinturão Araguaia.

Esta associação e outras semelhantes com mes-mo posicionamento estratigráfico, expostas a suldesta folha, foram abordadas por diversos autores,tais como: Almeida (1974), Almeida et al. (1986),Puty et al. (1972), Silva et al. (1974), Hasui et al.(1977), Abreu (1978), Cunha et al. (1981) e Hasui &Costa (1988), dentre outros. Estudos mais detalha-dos foram publicados por Gorayeb (1989), quandoos considerou corpos magmáticos essencialmenteultramáficos e de derivação mantélica.

Na Folha Xambioá, suas melhores exposições si-tuam-se nas serras do Tapa e dos Castanhais, enas fazendas Escondida, Maringá e Jandaia, ondeencontram-se imbricadas tectonicamente nos me-tassedimentos da Formação Couto Magalhães.Excelentes afloramentos são encontrados nas fa-zendas Escondida (AJ-34) e Maringá (LM-108), (fo-tos 9 a 11) (onde estruturas do tipo pillow-lavasmostram-se preservadas), ao longo da estradaPontão-Xinguara e nas fazendas Rio Vermelho(LM-106) e Visagem (JO-108 e JO-110).

É formada predominantemente por serpentini-tos, metabasaltos e silexitos, com quantidades su-bordinadas de talco xistos, clorita xistos, quartzitosferríferos bandados e filitos.

Os serpentinitos têm cor verde-escuro a claro,textura fibrolamelar a fibrosa, estrutura maciça a fo-liada e constituem-se predominantemente de ser-

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pentina e opacos. Os metabasaltos são verde-es-curos a claros, têm textura fina e maciça e mantêmpreservadas estruturas do tipo pillow-lava constituí-das de tremolita/actinolita, epídoto e clorita; eviden-ciam processos de epidotização, cloritização, albi-tização e silicificação. Remanescentes cristais ori-ginais de clinopiroxênios e plagioclásios podem,contudo, ainda ser observados no meio desse con-junto transformado.

Talco xistos e clorita xistos associam-se aos ser-pentinitos, ocorrendo, em geral, fortemente miloniti-zados. Os silexitos, responsáveis pelo destaque to-pográfico da unidade, têm coloração marrom-aver-melhada, estrutura variando de maciça a intensa-mente foliada, com vênulas irregulares de quartzo,e estão, também, associados aos serpentinitos.

Quartzitos ferruginosos bandados associados afilitos ocorrem com freqüência entre as faixas dasrochas básico-ultrabásicas e entre a serra do Tapae as fazendas Escondida e Maringá. Extensas co-berturas lateríticas ferruginosas, que formam clarei-ras, bem identificáveis em fotos aéreas, desenvol-veram-se sobre estes litótipos.

A associação foi deformada em regime dúc-til-rúptil, o que gerou o desenvolvimento de faixasestreitas de alto strain, caracterizadas por intensafoliação milonítica, lineação de estiramento mine-ral, dobras em bainha, dobras rompidas, rotaçãode elementos planares preexistentes, boudins etc.Estas, intercalam-se com faixas mais amplas debaixo strain, nas quais as rochas encontram-se pra-ticamente indeformadas.

As condições de temperatura e pressão atuan-tes propiciaram o desenvolvimento de paragênesemineral sugestiva de metamorfismo de baixo grau(fácies xisto-verde) com variação para tipos anqui-metamórficos.

2.5 Bacia do Parnaíba e Grabens Associados

A Bacia do Parnaíba, considerada como do tipoDepressão Interior por Kingston et al. (1983), exibeforma elipsoidal e área aproximada de 600.000km2,ocupando partes dos estados do Maranhão, Piauí,Tocantins, Pará e Ceará. Caputo et al. (1983) suge-rem continuidade entre esta bacia e a do Amazo-nas, somente interrompida a partir do Triássico,com a instalação da Bacia do Marajó.

Segundo Mesner & Wooldridge (1964), esta baciaapresenta três megassítios deposicionais, separa-dos por duas grandes discordâncias erosivas corre-lacionadas ao início do Carbonífero e ao final do Ju-

rássico. O primeiro ciclo, desenvolvido em climatemperado e úmido, estaria representado pela For-mação Pimenteiras; o segundo, em condições declima semi-árido a quente, englobaria, dentro daárea estudada, as formações Piauí, Pedra de Fogo,Motuca e Sambaíba; e o terceiro estaria evidenciadopelos sedimentos cretácicos da Formação Itapecu-ru. Os basaltos da Formação Mosquito, de idademesozóica, possivelmente estariam correlaciona-dos ao rompimento do Supercontinente Gondwana.

Costa et al. (1991), ao analisarem a evolução tec-tônica da Bacia do Parnaíba, mostram que seu arca-bouço geométrico foi fortemente influenciado por fei-ções estruturais pré-cambrianas e sua evolução ci-nemática marcada pelo registro de dois eventos tec-tônicos (figura 2.3). O primeiro, de idade paleozóicae ligado a um eixo extensional NW-SE, induziu movi-mentação ao longo de falhas normais, formadas apartir de reativações de estruturas do embasamentoda bacia e concentradas nas bordas W, E, SE e naparte central, originando compartimentos triangula-res. O segundo, com início no Jurássico, é associa-do a um eixo extensional ENE-WSW e incorporoumovimentação extensional às estruturas das bordasW, E e N e transcorrente àquelas com orientação NE.

Na Folha Xambioá a Bacia do Parnaíba ocupatoda a parte leste. Estruturas em graben, de orien-tação submeridiana da porção central, estão tam-bém preenchidas por sedimentos.

Dos dados aerogeofísicos utilizados, a magneto-metria registra apenas a presença de rochas doembasamento em profundidade, enquanto a ga-maespectrometria separa as diversas unidades li-tológicas, devido aos diferentes níveis de radiaçãoapresentados por cada uma delas (figura 2.5).

As unidades estratigráficas, individualizadascom base nos dados coletados em campo, em da-dos aerogeofísicos, imagens de radar e satélite, fo-tos aéreas convencionais e nos levantamentos geo-lógicos anteriores (quadro 2.2), mostram a Forma-ção Pimenteiras, de idade devoniana, como a maisantiga, enquanto a mais nova é representada pelaFormação Rio das Barreiras, correlacionável à For-mação Itapecuru.

Pedreira (1991) interpreta a sucessão dos siste-mas deposicionais desta bacia como provenientede oscilações do nível do mar em ambiente conti-nental (fluvial e desértico) (figura 2.6).

2.5.1 Formação Pimenteiras – Dp

Esta denominação foi inicialmente utilizada porSmall (1914) para identificar os folhelhos cinza-ar-

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SB.22-Z-B (Xambioá)

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roxeados aflorantes nas proximidades da vila de Pi-menteiras. Diversos autores têm estudado esta uni-dade, dentre os quais destacam-se: Plummer(1946), Kegel (1952), Rodrigues (1967), Carozzi etal. (1975), Aguiar (1971), Lima & Leite (1978), den-tre outros.

Neste trabalho, foram considerados desta for-mação os sedimentos aflorantes ao longo de umafaixa com largura aproximada de 7km e orientaçãosubmeridiana, que ocupa a parte centro-leste dafolha; também, parte dos sedimentos que preen-chem grabens, da porção norte, foram assim carto-grafados. Dispõem-se em contato discordante so-bre os metassedimentos do Cinturão Araguaia;com os sedimentos da Formação Piauí o contato étectônico. Na parte norte, em região praticamentesem afloramentos, observam-se estes sedimentosem contato com areiões apresentando níveis de si-

lexitos oolíticos atribuídos à Formação Pedra deFogo. As melhores exposições localizam-se emcortes de estrada nas proximidades da fazendaCastanhal (JO-71, JO-72 e JO-73).

Foram identificadas três associações de litofá-cies, descritas a seguir:

a) Associação de Litofácies Arenitos Conglome-ráticos

Normalmente esta associação encontra-se posi-cionada diretamente sobre os xistos da FormaçãoXambioá, tendo sido melhor observada na EstaçãoJO-73, onde apresenta espessura superior a 1m egeometria lenticular. É caracterizada por conglo-merados e arenitos. Os conglomerados são supor-tados por grãos organizados e mostram clastossub a bem arredondados, de quartzo e xistos (ra-ros), com tamanho máximo de 30cm. Os arenitosapresentam granulação média a grossa, granode-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

KrbFm. Rio das Barreiras(<300cps)

TRs +TRJm

Fm. Sambaíba e Mosquito(<100cps)

PTRmFm. Motuca(100 a 300cps)

Ppf Fm. Pedra de Fogo(300 a 500cps)

Cpi Fm. Piauí(<300cps)

Dp Fm. Pimenteiras(500 a 700cps)

0 10 20km

Dp

Dp

Dp

Dp

CpiTRs

TRs +

TRm

PTRm TRJm

Ppf

Dp

Krb

Figura 2.5 – Relação entre as unidades fanerozóicas mapeadas e os dadosaerogamaespectrométricos - contagem total.

Page 15: Petrologia da Formação Mosquito 2

crescência e grânulos bem arredondados dequartzo. É interpretada como originada a partir dedunas subaquosas, em ambiente fluvial de altaenergia.

b) Associação de Litofácies PelitosÉ caracterizada por uma seqüência de argilitos e

siltitos de cor marrom-amarelado a cinza-claro,com tonalidades avermelhadas, arroxeadas e es-branquiçadas, com intercalações de arenitos finosa muito finos.

Os argilitos e siltitos geralmente são dominantes,como na fazenda Castanhal (JO-72), onde a espes-sura é superior a 20m. Mostram laminações pla-no-paralelas e acamamento maciço.

c) Associação de Litofácies Arenitos Ferrugino-sos

Os arenitos mostram tonalidades arroxeadas eamareladas; são geralmente ferruginosos, de geo-metria lenticular, com laminação incipiente; normal-mente aparecem com espessura variando de centi-

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SB.22-Z-B (Xambioá)

PELITOS

ESTRAT. PLANO-PARALELA

OÓLITOS

HUMMOCKY

CONGLOMERADOS

ESTRAT. CRUZADA ACANALADA

GRANODECRESCÊNCIA

SILICIFICAÇÃO

ARENITOS

ESTRAT. CRUZADA PLANAR

GRANOCRESCÊNCIA

DISCORDÂNCIA

ADAPTADO DE PEDREIRA (1991)

CR

ET

ÁC

EO

JUR

ÁS

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O

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VO

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PIMENTEIRAS

PIAUÍ

PEDRADE FOGO

MOTUCA

SAMBAÍBA

MOSQUITO

RIO DASBARREIRAS FLUVIAL

DESÉRTICO

DESÉRTICO

FLUVIAL A LACUSTRE

FLUVIAL A LACUSTRE

FLUVIAL A LACUSTRE

PLATAFORMAL MARINHO RASO

PLATAFORMAL MARINHO RASO

CRONOESTRATI-GRAFIA FORMAÇÃO INTERPRETAÇÃO AMBIENTALLITOLOGIAS/ESTRUTURAS

TEXTURASAREIA

F M GARG CAS

C

Figura 2.6 – Sistemas deposicionais das unidades da Bacia do Parnaíba, mapeadas dentro da Folha Xambioá.

Page 16: Petrologia da Formação Mosquito 2

métrica a métrica. Localmente, na fazenda Casta-nhal (JO-71), notam-se intercalações de arenitofino com marcas truncadas por ondas.

Neste trabalho, esta formação é interpretadacomo depositada em uma plataforma marinha rasa,afetada episodicamente por tempestades, origi-nando barras de costa afora. Os dados de aeroga-maespectrometria mostram um alto nível de radia-ção (500 a 700cps), possivelmente devido à pre-sença de arenitos ferruginosos associados ao pro-cesso de laterização que ocorre na borda da bacia,destacando-a das demais formações.

Caster, in Blankennagel (1952), com base nafauna encontrada em folhelhos na região de Pi-cos, estado do Piauí, inclui os sedimentos da For-mação Pimenteiras no Devoniano, idade estaconfirmada por diversos outros autores. SegundoAguiar (1971), esta unidade é correlacionável àparte basal da Formação Curuá, da Bacia Ama-zônica e à Formação Ponta Grossa da Bacia doParaná.

2.5.2 Formação Piauí – Cpi

Small (op. cit.) designou de Série Piauí a seçãopaleozóica da Bacia do Parnaíba. Duarte (1936) eOliveira & Leonardos (1940) utilizaram o termo For-mação Piauí restritamente aos sedimentos carboní-feros. Em 1948, Dequech & Kegel estabeleceramos atuais limites desta formação, no que foram se-guidos pelos demais autores que estudaram estessedimentos.

Na Folha Xambioá ocorre como uma faixa alon-gada submeridianamente, de largura em torno de4km, localizada na sua porção centro-leste. Encon-tra-se em contato com a Formação Pimenteirasatravés de falhamentos normais. O contato superiorcom a Formação Pedra de Fogo é gradacional,mostrando mudança lenta e constante. Foi utilizadoo critério de Lima & Leite (1978) para a separaçãoentre ambas, segundo o qual a presença dos pri-meiros níveis de silexito marcariam a passagempara a Formação Pedra de Fogo. Suas melhores

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Quadro 2.2 – Coluna estratigráfica da Bacia do Parnaíba na Folha Xambioá.

CronoestratigrafiaUnidade

Litoestratigráfica

Associação deLitofácies

Descrição Ambiente Potencial MineralEon Era Sist. Série Do-

min. Subord.

Cretáceo Superior FormaçãoItapecuru A, Cg Pv

Arenitos finos a médios e con-glomerados com intercalaçõesde argilitos e siltitos averme-lhados.

Depósitos fluviais derios entrelaçados.

Jurássico Inferior FormaçãoMosquito

Basaltos, maciços, amigdaloi-dais, com textura ofítica e al-teração esferoidal.

Continental. Extrusãofissural. Brita.

SuperiorFormaçãoSambaíba Ae

Arenitos fino a médio, bimo-dais com estratificação cru-zada de grande porte, linhasde grãos e línguas de grãos.

Continental eólico.Areia (fraturamen-to em poços depetróleo.Médio

InferiorFormação

Motuca Pv, Ac Ae

Argilitos e siltitos vermelhoscom intercalações de areni-tos finos, transicionando paraarenitos eólicos no topo.

Continental fluvial compossíveis contribuiçõesmarinhas, trancionandopara eólico.

Superior

MédioFormação

Pedra de FogoPv,Aac Cm, Sil

Seqüência cíclica de argili-tos, arenitos, vermelhos e es-verdeados, com níveis de sile-xitos, calcários e margas.

Continental lagunar amarinho.

Corretivo de solos,brita, cal.Inferior

Carbonífero Superior Formação Piauí Pv, Afi Ac

Argilitos vermelhos com in-tercalações de arenitos finose raras lentes de conglome-rados.

Depósitos fluviais asso-ciados a ambiente de-sértico.

Devoniano Médio FormaçãoPimenteiras P, Afe Ac

Argilitos e siltitos com inter-calações de arenitos ferrugi-nosos e apresentando níveisde conglomerados lenticula-res basais.

Marinho raso, com tem-pestades episódicas.

Ae - Arenitos eólicosAc - Arenitos conglomeráticosAac - Arenitos e arenitos calcíferosAfi - Arenitos finosAfe - Arenitos ferruginosos

A - ArenitosCm - Calcários e margasP - PelitosPv - Pelitos vermelhosSil - Silexitos

Fane

rozó

ico

Triá

ssic

o

Pal

eozó

ico

Mes

ozói

co

Per

mia

no

Page 17: Petrologia da Formação Mosquito 2

exposições situam-se em cortes na estrada deacesso para a Agropecuária São Francisco, logoapós o ribeirão Curicacas, NE da folha mapeada.

Os litótipos predominantes foram separados emtrês associações de litofácies distintas:

a) Associação de Litofácies Pelitos VermelhosÉ formada por argilitos com níveis siltosos, com

estrutura maciça a laminada, de cor vermelha comtonalidades esbranquiçadas e esverdeadas. É ca-racterizada por morrotes isolados, com até 20m dealtura (em região arenosa e plana) e revestida porsolo avermelhado.

b) Associação de Litofácies Arenitos FinosÉ constituída por arenitos finos, bem seleciona-

dos, friáveis, com tonalidades amarronzadas e aver-melhadas, com estratificações cruzadas tangenciaise plano-paralelas. Normalmente ocorre intercaladanos pelitos vermelhos e forma extensos areiões.

c) Associação de Litofácies Arenitos Conglome-ráticos

É particularizada por uma seqüência de arenitosfinos a grossos, mal selecionados, com grãos sub abem-arredondados e apresentando níveis conglo-meráticos e de material argiloso. Exibe gradaçãonormal e inversa, camadas lenticulares e estratifi-cações cruzadas acanaladas de pequeno e médioporte. Ocorre de maneira isolada, chegando a atin-gir espessura superior a 2m (JO-62).

Esta formação mostra níveis de radiação inferiora 300cps, bem contrastante com o nível apresenta-do pelas formações Pimenteiras e Pedra de Fogo,com as quais encontra-se em contato.

A natureza dos litótipos e das estruturas presen-tes nesta folha e as descritas na Folha Marabá (de-pósitos eólicos), (Almeida et al., no prelo), permi-tem caracterizar deposições em ambientes conti-nentais fluviais de planície de inundação ou lagu-nares em um contexto geral de ambiente desértico.

Estudos palinológicos realizados por Kegel(1952), Mesner & Wooldridge (1964), Müller (1964)e Aguiar (1971), permitiram posicionar a FormaçãoPiauí no Carbonífero Superior, idade esta tambémadotada neste trabalho.

Segundo Almeida et al. (no prelo) esta formaçãoé correlacionável às formações Monte Alegre e Itai-tuba, da Bacia Amazônica.

2.5.3 Formação Pedra de Fogo – Ppf

Formação Pedra de Fogo foi a denominação ori-ginalmente utilizada por Plummer (1946), para par-ticularizar uma seqüência de siltitos, folhelhos, are-nitos e calcários, com chert e Psaronius, aflorante

no riacho Pedra de Fogo, entre Pastos Bons e NovaIorque, no estado do Maranhão. Diversos outrosautores estudaram-na, dentre os quais desta-cam-se: Barbosa & Gomes (1957), Oliveira (1961),Mesner & Wooldridge (1964), Moore (1963), Aguiar(1964), Cunha (1964), Northfleet & Neves (1966),Ojeda & Perillo (1967), Lima & Leite (1978) e FariaJúnior (1979).

Ocorre na parte leste, sob a forma de faixa comorientação aproximada norte-sul, com largura entre3 e 7km e mergulho suave para leste. Neste local,as melhores exposições aparecem próximo aocontato com a Formação Piauí, associadas a pe-quenas escarpas sustentadas pelos níveis de sile-xitos (JO-68, JO-78 e JO-79). As ocorrências, rela-cionadas a grabens, localizam-se nas proximida-des do vilarejo Dois Irmãos, onde camadas hori-zontalizadas de silexitos, oolíticos e criptocristali-nos intercalam-se com arenitos. Nas imediaçõesde Araguanã (JO-47) observam-se bons aflora-mentos de calcário com silexitos, nas margens dorio Araguaia.

Foram distinguidas quatro associações de litofá-cies, descritas a seguir:

a) Associação de Litofácies Pelitos e ArgilitosÉ caracterizada por siltitos e argilitos com tonali-

dades avermelhadas e esverdeadas; são físseis etêm estrutura maciça e freqüentes níveis de marga.

b) Associação de Litofácies SilexitosÉ formada por silexitos, oolíticos e criptocristali-

nos, distribuídos por toda a unidade sob a forma deleitos, lentes delgadas e nódulos com espessuravariando de 1mm a 30cm.

c) Associação de Litofácies CalcáriosCompõe-se de calcários de cor marrom-claro a

marrom-avermelhado, com textura fina e geometriatabular. A espessura varia de 1 a 30cm. Nódulos decalcita e processos de silicificação são freqüentes.Nas margens do rio Lontra (LM-63), os calcários es-tão intercalados em arenitos finos, pelitos verme-lhos, silexitos e margas.

d) Associação de Litofácies Arenitos e ArenitosCalcíferos

São arenitos de cor cinza-claro a cinza-esverde-ado, com tonalidades avermelhadas, friáveis, argi-losos, de granulação fina a média, com raros níveisde granulação grossa, laminados incipientementee, aparentemente, com estratificação plano-parale-la. Alternam-se com camadas normalmente delga-das e, às vezes, lenticulares de arenitos calcíferosde granulação fina a média, intercalações essas,que ocorrem em repetições cíclicas ao longo detoda a coluna desta formação.

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SB.22-Z-B (Xambioá)

Page 18: Petrologia da Formação Mosquito 2

As camadas carbonáticas indicam uma deposi-ção marinha em ambiente de planície de maré, en-quanto que os arenitos e os pelitos, possivelmente,representam um ambiente fluvial com planícies deinundação e/ou lagunas. A repetição cíclica sugereoscilações do nível do mar com incursões marinhassobre superfícies aplainadas. A ocorrência de eva-poritos citada na bibliografia (não observados nes-se levantamento), indica a presença de mares fe-chados remanescentes, característicos de condi-ções climáticas áridas, enquanto que a existênciade vegetação de grande porte (Psaronius) estariacorrelacionada a um clima úmido. Os dados aero-gamaespectrométricos mostram uma variação donível de radiação entre 300 e 500cps, demarcandouma faixa anômala para as rochas desta formação,em relação às formações Piauí e Motuca, as quaismostram níveis entre 100 e 300cps.

Estudos palinológicos e da fauna, efetuados pordiversos autores como Mesner & Wooldridge(1964), Cruz et al. (1973), Lima & Leite (1978) eScislewski et al. (1983), dentre outros, têm confir-mado uma idade permiana para esta formação.

Mesner & Wooldridge (op. cit.) correlaciona-ram-na à Formação Sucunduri, da Bacia Amazôni-ca, e Aguiar (1971) associou-a à seção Paler-mo-lrati-Teresina, do nordeste da Bacia do Paraná.

2.5.4 Formação Motuca – PTRm

Formação Motuca foi a denominação utilizada porPlummer (1948) para caracterizar os folhelhos decor vermelho-tijolo, com lentes de calcário e anidrita,aflorantes nas proximidades da fazenda Motuca, en-tre São Domingos & Benedito Leite, no estado doMaranhão. Campbell (1949) ampliou-a, acrescen-tando o Membro Pastos Bons. Aguiar (1971) divi-de-a em três membros, ratificando sua concordân-cia com as formações Pedra de Fogo e Sambaíba, econsiderando-a de idade permo-triássica.

A formação ocorre na parte leste como faixa sub-meridiana e contínua que margeia as escarpas for-madas pela Formação Sambaíba. Tem relevo bas-tante arrasado, impedindo a avaliação de sua es-pessura, que é estimada em torno de 50m na FolhaMarabá, vizinha a norte (Almeida et al., no prelo).

O contato com a Formação Pedra de Fogo é gra-dacional, cuja separação baseou-se, principal-mente, na ocorrência ou não das intercalações desilexito. O contato superior, com a Formação Sam-baíba, também é transicional tendo sido delimitadoem função da implantação definitiva do sistema eó-lico nessa unidade mais jovem.

Os litótipos foram agrupados em três associa-ções de litofácies:

a) Associação de Litofácies Pelitos VermelhosÉ formada por argilitos vermelhos, com tonalida-

des esbranquiçadas, quebradiços e com estruturamaciça. Apresenta níveis de siltitos de coloraçãoavermelhada e, localmente, finas intercalações desilexito. Representa depósitos continentais fluviaisde planície de inundação ou lagunas.

b) Associação de Litofácies Arenitos Conglo-meráticos

Constitui-se predominantemente por arenitos fi-nos, de cor marrom, com tonalidades esbranquiça-das e avermelhadas; bem selecionados, friáveis, ealgo feldspáticos. Apresenta estratificações pla-no-paralelas e cruzadas, de pequeno a médio por-te com gradação normal. É comum a presença delentes centimétricas de conglomerados suporta-dos por grãos bem arredondados de quartzo. Pos-sivelmente corresponde a depósitos fluviais de riosentrelaçados.

Esta característica distribui-se por toda a coluna,notadamente nas suas porções basais e interme-diárias, onde intercala-se aos pelitos vermelhos.Medidas efetuadas nas imediações de Ananás(AJ-17) indicam paleocorrentes orientadas prefe-rencialmente no sentido oeste.

c) Associação de Litofácies Arenitos EólicosÉ representada por arenitos de granulação fina a

média, cor marrom-amarelado com tonalidadesavermelhadas, friáveis, às vezes feldspáticos ecom grãos bem selecionados. Apresenta estratifi-cações cruzadas de grande porte e estrutura tipo li-nhas de grãos que ocorrem na parte superior, inter-calados aos arenitos fluviais e representam o inícioda implantação dos depósitos eólicos. Algumasmedidas efetuadas (JO-80 e RO-17) indicam paleo-correntes no sentido oeste e sudoeste.

Apesar da escassez de fósseis, alguns gastró-podes e peixes, de idade permiana foram descritospor Mesner & Wooldridge (1964). Outros autorescomo Aguiar (1971), Lima & Leite (1978), entre ou-tros, com base na sua posição estratigráfica consi-deram-na como de idade permo-triássica.

É correlacionada à parte superior da FormaçãoSucunduri, da Bacia Amazônica (Mesner & Wool-dridge, 1964) e ao Grupo Rio do Rastro, da Baciado Paraná (Aguiar, 1971).

2.5.5 Formação Sambaíba – TRs

O termo Formação Sambaíba foi introduzido porPlummer (1948) para designar os arenitos formado-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Page 19: Petrologia da Formação Mosquito 2

res das mesetas que ocorrem nas proximidades deSambaíba, estado do Maranhão.

Afloram no extremo-Ieste sob a forma de escar-pas bem marcadas, com boas exposições. Carac-terizam-se por formar extensos bancos de areiasnas partes mais elevadas.

É formada por uma única associação de litofácies,constituída por arenitos de cor marrom-amareladoa marrom-avermelhado, granulação fina a média,bimodais. Apresentam estratificação cruzada degrande porte, linhas e línguas de grãos em arranjogranocrescente. Corresponde a depósito continen-tal eólico sob a forma de campos de dunas. É bemdelimitada pelos dados de aerogamaespectrome-tria, apresentando níveis de radiação inferior a100cps.

Intercalações basálticas na parte superior destaformação levaram Barbosa et al. (1966) e Lima &Leite (1978) a aceitarem uma contemporaneidadecom a Formação Mosquito.

Devido à ausência de fósseis, as relações estra-tigráficas que apresentam, possibilitam admití-lacomo do Triássico Médio a Superior.

2.5.6 Formação Mosquito – TRJm

As primeiras referências a rochas básicas na re-gião tem por fonte Lisboa (1914) que descrevem osderrames basálticos de Grajaú, no estado do Mara-nhão. Northfleet & Melo (1967) utilizaram a denomi-nação Mosquito para designar os derrames basálti-cos com intercalações de arenitos, no vale do rioMosquito, localizado a sul da Fortaleza dos Noguei-ras, estado do Maranhão. Aguiar (1971), nestamesma região, divide esta unidade em cinco mem-bros.

A Folha Xambioá é constituída por derrames in-tercalados nos arenitos eólicos da Formação Sam-baíba. Suas melhores exposições situam-se naparte sudeste. São formadas por basaltos de cormarrom-arroxeado a cinza-escuro, textura ofíticafina, estrutura maciça e com freqüentes níveisamigdaloidais. São formados dominantemente porplagioclásio e clinopiroxênio e apresentando opa-cos como acessório principal. Ao alterarem-se de-senvolvem estruturas esferoidais.

Lima & Leite (1978), com base em dataçõesK/Ar, atribuem o extravasamento ao período entre oTriássico e o Jurássico, idade esta também já admi-tida por Mesner & Wooldridge (1964). Caldasso &Hama (1978) identificaram também por K/Ar, trêsdiferentes estágios de derrames. Caputo (1985),confirma estes cicIos magmáticos, aludindo que a

manifestação mais antiga, data de 215Ma, correlacio-nando-os ainda com os diabásios na área costeirado estado do Amapá.

2.5.7 Formação Rio das Barreiras – Krb

Sob a designação de Unidade Rio das Barreiras,Guerreiro & Silva (1976) descrevem uma faixa res-trita de conglomerados, localizados entre Pequizei-ro e Couto Magalhães. Hasui et al. (1977), Abreu(1978) e Gorayeb (1981), entre outros, também utili-zam este termo, porém hierarquizando-o como for-mação. Coimbra (1983), Figueiredo et al. (1990) eAraújo & Olivatti (1990) associam esses sedimen-tos à Formação Pedra de Fogo, e Barbosa et al.(1966) e Aguiar (1969) incluem-nos na FormaçãoPiauí.

Na Folha Xambioá, uma seqüência de arenitos econglomerados com intercalações de argilitos e sil-titos, preenchendo estrutura do tipo graben comorientação submeridiana, largura média de 27km elocalizada a oeste do rio Muricizal, é considerada,neste trabalho, como pertencente à Formação Riodas Barreiras. Esta seqüência apresenta seme-lhanças quanto a litologias, ambiente deposicionale posicionamento tectônico e estratigráfico, tam-bém com a Formação Itapecuru, aflorante a norte,da qual encontra-se separada pelo Arco de Xambioá,alto estrutural do embasamento iniciando-se emXambioá e se dirigindo para Teresina-PI e ativodesde o Siluro-Devoniano (Aguiar, 1969). É tam-bém correlacionável à Formação Urucuia e à Uni-dade Conglomerado Cipó (Souza, 1984).

As rochas desta formação encontram-se emcontato com os metassedimentos do Grupo BaixoAraguaia, através de falhamentos normais ou os re-cobrem em discordância angular. Sobrepõe tam-bém sedimentos da Formação Pedra de Fogo, aflo-rantes nas cercanias de Araguanã, borda leste deestrutura em graben. Apresenta nível de radiaçãomenor que 300cps, em contraste com os litótiposdo Grupo Baixo Araguaia que exibem nível médiode radiação superior a 400cps.

Boas exposições foram registradas na estradapara a fazenda Ilha Branca (RO-59) e na rodoviaPontão-Piçarras (JO-58), porém sua área de ocor-rência caracteriza-se por formar extensos areiões,com raros afloramentos.

Seus litótipos principais foram agrupados emtrês associações de litofácies distintas:

a) Associação de Litofácies ArenitosÉ formada por arenitos de cor cinza-claro, com

tonalidades avermelhadas, friáveis, às vezes arco-

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SB.22-Z-B (Xambioá)

Page 20: Petrologia da Formação Mosquito 2

sianos, de granulação fina a média. Apresentamestratificações plano-paralelas e cruzadas tangen-ciais de pequeno porte. Assemelham-se a depósi-tos fluviais de rios entrelaçados.

b) Associação de Litofácies Pelitos VermelhosÉ constituída por argilitos e siltitos de cor verme-

lha, com estratificação plano-paralela, intercaladosaos arenitos. Corresponde a depósitos de planíciede inundação ou lagos, em ambiente de rios entre-laçados.

c) Associação de Litofácies ConglomeradosÉ composta predominantemente por conglome-

rados organizados, com estratificação plano-para-lela, gradação normal e inversa e clastos sub abem-arredondados de quartzo, variando, predomi-nantemente, de grânulos a seixos. Correspondem,provavelmente, a barras conglomeráticas de rio en-trelaçado com fluxo desconfinado. Com menor fre-qüência, são também observados conglomeradospouco organizados, suportados pela matriz, comestratificações planares e tangenciais incipientes emostrando níveis lenticulares de arenitos conglo-meráticos correspondendo a leques aluviais emsua fase mais proximal.

Em correlação com os sedimentos da FormaçãoItapecuru, estes sedimentos foram consideradoscomo de idade cretácea.

2.6 Formações Superficiais

2.6.1 Coberturas Lateríticas – Qla

São representadas por lateritos imaturos resultan-tes de processos de pediplanação pleistocênica.

Ocorrem sobre as diversas unidades geológicasaflorantes na folha e mostram perfis mais comple-tos e espessos em cima dos litótipos da Associa-ção Máfica-Ultramáfica Serra do Tapa e da Forma-ção Pimenteiras. Apresentam horizonte ferruginosoconstituído por concreções esferoidais e nodularese estruturas colunares, envolvidas por minerais ar-gilosos e mostrando coloração marrom-avermelha-do com tonalidades amareladas. O horizonte mos-queado e os saprólitos são bastante variados, de-pendendo das rochas que os originaram.

Devido à escala do mapeamento optou-se porcartografar apenas o horizonte ferruginoso, queocorre sob a forma de crostas endurecidas, com-pondo pequenos platôs entre as principais baciashidrográficas. Ocorrem principalmente nos domíniosdo Cinturão Araguaia e sustentando a topografia daborda oeste da Bacia do Parnaíba.

2.6.2 Depósitos Aluvionares – Qal

São constituídos essencialmente por areias, cas-calhos, siltes e argilas, em proporções variáveis, deacordo com as litologias que os originaram. As alu-viões dos rios Muricizal, Corda e Lontra, (foto 12),que cortam sedimentos fanerozóicos, mostrampredominância de areias; enquanto nas do rio Ver-melho, que correm sobre metassedimentos da For-mação Couto Magalhães, sobressaem-se os ter-mos argilosos. As aluviões do rio Araguaia sãoconstituídas por cascalhos limoníticos, lateritos, ar-gilas e arenitos com estratificação plano-paralela ecruzada, consolidados a semiconsolidados, e porcascalhos, areias e argilas, inconsolidados de gra-nulação variável.

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