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Instituto de Economia da UFRJ Instituto de Economia da UNICAMP Eletrônica 08 Sistema Produtivo Perspectivas do Investimento em

PIB CAPAS SProdutivos A4 - eco.unicamp.br · microeletrônico, o processo de reestruturação do setor de telecomunicações foi também viabilizado por um conjunto de mudanças políticas,

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Instituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP

Eletrnica

08Sistema ProdutivoPerspectivas do Investimento em

EdmarCaixa de textoDocumento No Editorado

Aps longo perodo de imobilismo, a economia brasileira vinha apresentando firmes

sinais de que o mais intenso ciclo de investimentos desde a dcada de 1970 estava

em curso. Caso esse ciclo se confirmasse, o pas estaria diante de um quadro efeti-

vamente novo, no qual finalmente poderiam ter lugar as transformaes estruturais

requeridas para viabilizar um processo sustentado de desenvolvimento econmico.

Com a ecloso da crise financeira mundial em fins de 2008, esse quadro altamente

favorvel no se confirmou, e novas perspectivas para o investimento na economia

nacional se desenham no horizonte.

Coordenado pelos Institutos de Eco nomia da UFRJ e da UNICAMP e realizado com o

apoio financeiro do BNDES, o Projeto PIB - Perspectiva do Investimento no Brasil tem

como objetivos:

Analisar as perspectivas do investimento na economia brasileira em um

horizonte de mdio e longo prazo;

Avaliar as oportunidades e ameaas expanso das atividades produtivas

no pas; e

Sugerir estratgias, diretrizes e instrumentos de poltica industrial que

possam auxiliar na construo dos caminhos para o desenvolvimento

produtivo nacional.

Em seu escopo, a pesquisa abrange trs grandes blocos de investimento, desdobrados

em 12 sistemas produtivos, e incorpora reflexes sobre oito temas transversais, con-

forme detalhado no quadro abaixo.

ESTUDOS TRANSVERSAIS

Estrutura de Proteo Efetiva

Matriz de Capital

Emprego e Renda

Qualificao do Trabalho

Produtividade, Competitividade e Inovao

Dimenso Regional

Poltica Industrial nos BRICs

Mercosul e Amrica Latina

ECONOMIA BRASILEIRA

BLOCO SISTEMAS PRODUTIVOS

INFRAESTRUTURA EnergiaComplexo UrbanoTransporte

PRODUO AgronegcioInsumos BsicosBens SalrioMecnicaEletrnica

ECONOMIA DO CONHECIMENTO

TICsCulturaSadeCincia

COORDENAO GERAL

Coordenao Geral - David Kupfer (IE-UFRJ)

Coordenao Geral Adjunta - Mariano Laplane (IE-UNICAMP)

Coordenao Executiva - Edmar de Almeida (IE-UFRJ)

Coordenao Executiva Adjunta - Clio Hiratuka (IE-UNICAMP)

Gerncia Administrativa - Carolina Dias (PUC-Rio)

Coordenao de Bloco

Infra-Estrutura - Helder Queiroz (IE-UFRJ)

Produo - Fernando Sarti (IE-UNICAMP)

Economia do Conhecimento - Jos Eduardo Cassiolato (IE-UFRJ)

Coordenao dos Estudos de Sistemas Produtivos

Energia Ronaldo Bicalho (IE-UFRJ)

Transporte Saul Quadros (CENTRAN)

Complexo Urbano Cludio Schller Maciel (IE-UNICAMP)

Agronegcio - John Wilkinson (CPDA-UFFRJ)

Insumos Bsicos - Frederico Rocha (IE-UFRJ)

Bens Salrio - Renato Garcia (POLI-USP)

Mecnica - Rodrigo Sabbatini (IE-UNICAMP)

Eletrnica Srgio Bampi (INF-UFRGS)

TICs- Paulo Tigre (IE-UFRJ)

Cultura - Paulo F. Cavalcanti (UFPB)

Sade - Carlos Gadelha (ENSP-FIOCRUZ)

Cincia - Eduardo Motta Albuquerque (CEDEPLAR-UFMG)

Coordenao dos Estudos Transversais

Estrutura de Proteo Marta Castilho (PPGE-UFF)

Matriz de Capital Fabio Freitas (IE-UFRJ)

Estrutura do Emprego e Renda Paul Baltar (IE-UNICAMP)

Qualificao do Trabalho Joo Sabia (IE-UFRJ)

Produtividade e Inovao Jorge Britto (PPGE-UFF)

Dimenso Regional Mauro Borges (CEDEPLAR-UFMG)

Poltica Industrial nos BRICs Gustavo Brito (CEDEPLAR-UFMG)

Mercosul e Amrica Latina Simone de Deos (IE-UNICAMP)

Coordenao TcnicaInstituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP

APOIO FINANCEIROREALIZAO

PIB_IE_UFRJ_programa_GERAL.indd 4 02.06.09 19:20:13

diascarolinaText BoxProjeto financiado com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). O contedo ou as opinies registrados neste documento so de responsabilidade dos autores e de modo algum refletem qualquer posicionamento do Banco.

EdmarCaixa de textoDocumento No Editorado

Documento No Editorado

PROJETO PERSPECTIVAS DO INVESTIMENTO NO BRASIL BLOCO: PRODUO

SISTEMA PRODUTIVO: ELETRNICA COORDENAO: SERGIO BAMPI

DOCUMENTO SETORIAL:

EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAES

Marina Szapiro

Rio de Janeiro, janeiro de 2009

Sumrio

1. Panorama internacional da indstria de equipamentos de telecomunicaes ......................................................................................................... 3

1.1. Introduo ......................................................................................................... 3 1.2. Novos segmentos, servios e tecnologias da indstria de telecomunicaes ..................................................................................................... 5 1.3. A organizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes internacional.......................................................................... 8 1.4. Dinmica recente de investimentos internacionais ......................... 15 1.5. O novo papel do Estado.......................................................................... 19

2. Panorama nacional da indstria de equipamentos de telecomunicaes no Brasil .................................................................................... 22

2.1. Introduo ....................................................................................................... 22 2.2. Principais dimenses da indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes ................................................................................................... 27 2.3. Evoluo recente da indstria brasileira de equipamentos de telecomunicaes ................................................................................................... 33

2.3.1. Evoluo da balana comercial do setor de equipamentos de telecomunicaes ............................................................................................... 34 2.3.2. Desnacionalizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes ............................................................................................... 39 2.3.3. Investimentos em atividades inovativas da indstria de equipamentos de telecomunicaes ........................................................... 42

3. Principais polticas voltadas para a indstria de equipamentos de telecomunicaes ....................................................................................................... 48 4. Perspectivas de mdio e longo prazos para o subsistema de equipamentos de telecomunicaes ................................................................... 54

4.1. Principais Desafios e Oportunidades ..................................................... 54 4.2. O Mdio Prazo: Cenrio possvel para 2012 ...................................... 58 4.3. O Longo Prazo: Cenrio desejvel para 2022 ................................... 61

Referncias Bibliogrficas ....................................................................................... 67

1. Panorama internacional da indstria de equipamentos de telecomunicaes

1.1. Introduo

At o incio dos anos 1980, o modelo de organizao do setor de telecomunicaes predominante em praticamente todos os pases do mundo era de um monoplio pblico na prestao dos servios (com exceo dos EUA, onde o monoplio era privado) e um oligoplio privado na produo e fornecimento de equipamentos, no qual o principal servio prestado era o de voz. Existia uma forte relao entre a indstria fabricante de equipamentos e o monoplio de servios de telecomunicaes, sendo que em alguns casos esta estrutura era caracterizada por uma integrao vertical entre operador da rede e produtor de equipamentos de telecomunicaes e em outros era caracterizada por polticas de campeo nacional1. A articulao dos monoplios de servios com a indstria de equipamentos decorria de fatores como: o alto custo das atividades de P&D em telecomunicaes; o elevado risco de tais investimentos; a incerteza quanto apropriao final das inovaes por parte do operador ou do fabricante; e a necessidade de entrosamento tcnico e operacional entre operador e fabricante. O principal instrumento de poltica industrial utilizado pelo Estado era a poltica de compras das operadoras (monopolistas) de servios.

Os investimentos em capacitao tecnolgica na rea de telecomunicaes nos pases desenvolvidos e em alguns em desenvolvimento eram substanciais, em geral financiados pelos Estados e centralizados nos laboratrios de pesquisa ligados aos monoplios de servios. Os processos de desenvolvimento tecnolgico contavam com a participao de universidades, instituies de P&D, empresas fabricantes de equipamentos e operadoras de servios. A intensa dinmica inovativa da indstria de telecomunicaes durante o perodo do monoplio esteve ligada ao sucesso de pesquisas de longo prazo implementadas no mbito dos sistemas de inovao, onde os laboratrios de P&D dos operadores de servios desempenhavam papel central.

1 A poltica dos Campees Nacionais foi adotada em alguns pases europeus, onde um fabricante de equipamentos nacional era selecionado para atender demanda da operadora nacional e participar, juntamente com o laboratrio central de pesquisa, do desenvolvimento tecnolgico de produtos e servios. Esta poltica deu origem a grandes empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes como NEC, Fujitsu, Nokia, Ericsson, Alcatel e Siemens, entre outras. Estes fornecedores passaram por um processo de diversificao e atualmente se constituem em grandes grupos multinacionais que atuam em outros segmentos do complexo eletrnico e, algumas vezes, ampliam suas atividades alm das fronteiras do complexo eletrnico.

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Alguns pases em desenvolvimento (particularmente o Brasil, a China, a ndia e a Coria do Sul) implementaram polticas voltadas ao desenvolvimento interno de capacitao tecnolgica e industrial em telecomunicaes, investindo em tecnologia nacional e na constituio de empresas nacionais de equipamentos de telecomunicaes.

Em todos os pases que desenvolveram empresas (operadoras de

servios e fabricantes de equipamentos) de telecomunicaes competitivas em nvel internacional, as relaes entre operador e fabricante foram arbitradas ou coordenadas pelo Estado. Nos diversos casos bem-sucedidos, verificou-se que a poltica de compras das operadoras (alm de outros instrumentos de polticas industriais e tecnolgicas implcitas e explcitas) representou elemento fundamental da dinmica da indstria de equipamentos e da constituio de redes de infra-estrutura de servios avanadas. Em tais pases, o poder de compra das operadoras e outros instrumentos de estmulo capacitao tecnolgica (incluindo subsdios para P&D) foram utilizados como mecanismos de promoo dos campees nacionais.

O advento do novo paradigma da microeletrnica e a difuso das tecnologias digitais promoveram um conjunto de mudanas na organizao da indstria de telecomunicaes predominante at ento.

Alm das mudanas tecnolgicas decorrentes da difuso do paradigma microeletrnico, o processo de reestruturao do setor de telecomunicaes foi tambm viabilizado por um conjunto de mudanas polticas, regulatrias e institucionais. A partir de meados da dcada de 1970 o desempenho e a eficincia da estrutura tradicional de monoplio do setor de telecomunicaes passaram a ser questionados diante da difuso das novas tecnologias. Em meados da dcada de 1980 o Japo, os EUA e o Reino Unido (que foram os precursores do processo de reestruturao das telecomunicaes no mundo) passaram a fornecer novas licenas para empresas interessadas em ingressar no mercado de servios de telecomunicaes e competir com as empresas ex-monopolistas. A partir da, observou-se o surgimento de novos atores e segmentos, resultando numa maior complexidade em sua organizao e na multiplicao do nmero de empresas atuando no setor.

Foram implementadas diferentes estratgias de reestruturao e marcos regulatrios no setor de telecomunicaes dos diversos pases, envolvendo graus distintos de liberalizao e concorrncia nos diversos segmentos. Estas diferenas resultaram em variadas formas de organizao do mercado, dinamismo tecnolgico, formas de financiamento das empresas e graus de interveno e participao estatal no setor de telecomunicaes, caracterizando estruturas de mercado e oferta de servios especficas em cada pas.

De forma geral, na Amrica Latina, os processos de reestruturao envolveram prioritariamente a privatizao dos monoplios pblicos de telecomunicaes. No entanto, apesar de o objetivo principal ter sido a abertura do mercado concorrncia, a privatizao do operador monopolista na prtica resultou na passagem de um monoplio pblico para um privado, principalmente

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no segmento de telefonia fixa. Em geral, foi no segmento de servios de longa distncia que se verificou maior sucesso na promoo da concorrncia nos diversos pases da regio. No segmento de telefonia mvel, tambm foi possvel introduzir maior grau de concorrncia, dada a rpida evoluo tecnolgica e o fato de que, neste caso, no era necessria a utilizao das redes das operadoras incumbentes.

O objetivo deste relatrio analisar as perspectivas de investimentos de mdio e longo prazos do subsistema de equipamentos de telecomunicaes no Brasil. Para isso, inicialmente, a primeira seo tratar das transformaes ocorridas na indstria de equipamentos de telecomunicaes e os principais resultados destas transformaes sobre a organizao da indstria em nvel internacional. A seo 2 apresentar um panorama da indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes, buscando detalhar, entre outros aspectos, como as transformaes ocorridas no cenrio internacional rebateram no subsistema produtivo de equipamentos de telecomunicaes. So discutidas nesta seo as principais dimenses do subsistema de equipamentos nacional, bem como a evoluo recente dos principais indicadores (balana comercial, grau de desnacionalizao e nvel de investimentos em P&D e inovao). A terceira seo disponibiliza informaes gerais sobre as polticas e programas existentes e em curso que tm efeito direto ou indireto sobre o subsistema de equipamentos de telecomunicaes. Finalmente, a quarta seo analisa as perspectivas dos investimentos no mdio e no longo prazos, destacando as principais oportunidades e desafios aos investimentos do subsistema de equipamentos de telecomunicaes e sugerindo algumas proposies de polticas.

Esta seo do relatrio tem como objetivo analisar a organizao e a

dinmica recente da indstria de equipamentos de telecomunicaes mundial e estruturada da seguinte forma. Alm desta introduo, a seo 1.2 destaca as principais alteraes na estrutura do setor de telecomunicaes, tais como o surgimento de novos segmentos, servios e tecnologias, que afetaram diretamente a indstria de equipamentos de telecomunicaes. A seo 1.3 analisa as principais caractersticas da nova organizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes internacional, com destaque para as atividades de P&D e as tecnologias que se constituem como vetores de crescimento da indstria e a seo 1.4. apresenta a nova dinmica de investimentos do setor de telecomunicaes. Finalmente, a seo 1.5. apresenta uma discusso sobre o novo papel do Estado no setor de telecomunicaes.

1.2. Novos segmentos, servios e tecnologias da indstria de telecomunicaes

A indstria de telecomunicaes do perodo do monoplio era caracterizada por tecnologias relativamente padronizadas em nvel internacional.

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Estas tecnologias eram ligadas principalmente transmisso de voz, desenvolvidas pelos sistemas de inovao dos pases mais avanados e, em alguns casos, dos pases em desenvolvimento.

O advento do novo paradigma da microeletrnica e a difuso das

tecnologias digitais promoveram a contestao da estrutura de monoplio natural predominante at ento em diversos segmentos do setor de telecomunicaes. Os satlites e diferentes tecnologias de sensoriamento, apoiados num processo de digitalizao crescente, introduziram uma alternativa para a transmisso de voz, dados e imagens longa distncia por um custo relativamente baixo. Acrescente-se a isso a difuso da fibra ptica, que permitiu o aumento significativo da capacidade de transmisso de voz, dados e imagens, alm do surgimento de novos servios e mercados (Sbragia e Galina, 2004). As novas formas de transmisso foram acompanhadas pelo aumento exponencial da capacidade de armazenamento e processamento de informaes.

Os servios oferecidos pelo setor de telecomunicaes, antes restritos

voz, se expandiram e passaram a englobar diversos outros, tais como: servios de internet, servios de telefonia celular, servios de telefonia celular com transmisso de imagem e dados, servios de internet em banda larga, servios de telefonia na internet, servios de acesso mvel a internet, entre outros.

Espera-se que, dentro de algum tempo, uma parte destes novos servios

e tecnologias venham a se tornar substitutos dos servios de telefonia fixa local. neste segmento que vem sendo encontrado o maior nvel de dificuldade para a introduo da concorrncia, em virtude dos obstculos representados pela propriedade da ltima milha por parte das incumbentes. Neste cenrio, destacam-se os servios de voz sobre o protocolo IP (VoIP), que atualmente representam a maior ameaa para a forma tradicional de prestao de servios e para as incumbentes.

De fato, a tecnologia de VoIP constitui-se numa alternativa tecnolgica

promissora tradicional transmisso de voz pela rede pblica de telecomunicaes, uma vez que viabiliza a prestao de diversos servios, entre os quais o de telefonia pblica, sem utilizar, necessariamente, as redes de acesso de concessionrias locais, com qualidade razovel e preos consideravelmente mais baixos.

De forma geral, a expanso da telefonia mvel implicou a estagnao (ou

encolhimento) do mercado de telefonia fixa. As operadoras de telefonia mvel esto roubando parcelas do principal negcio das operadoras incumbentes: os servios fixos de voz. Do total do mercado de servios de telecomunicaes, os servios de telefonia fixa contribuam com uma participao de 56% em 1998, e em 2003 esta participao havia despencado para 41% (Bismut e Pouillot, 2004). Nos pases da OCDE, entre 2003 e 2005 houve um decrescimento de 4%

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no nmero de linhas fixas, enquanto percebeu-se um crescimento de 26% no nmero de linhas mveis (OCDE, 2007).

Este declnio da telefonia fixa est fazendo com que as operadoras

incumbentes busquem alternativas para cobrir parcialmente a reduo de sua principal fonte de receita (os servios de voz), cuja participao no total da receita varia de 55% no caso da Telefonica (incluindo suas subsidirias na Amrica Latina) a 90% no caso da Korea Telecom (incumbente coreana) (The Economist, 2003 e Bismut e Pouillot, 2004).

Com isso, as operadoras incumbentes vm sendo obrigadas a passar por

um processo de diversificao, deixando de se limitar aos tradicionais servios de voz e fax, e expandindo suas atividades para as reas de telefonia celular, TV a cabo, internet e etc.

Dessa forma, para contrabalanar a perda de receita decorrente da

reduo do faturamento com os servios de telefonia fixa, as operadoras incumbentes passaram a adotar diferentes estratgias. A primeira delas foi investir em reas que demonstravam rpido crescimento, como a telefonia mvel. Embora esta tenha se constitudo numa estratgia bem-sucedida para algumas incumbentes, a taxa de crescimento da telefonia celular est se reduzindo e este segmento j apresenta um nvel crescente de concorrncia. Cabe destacar que, em muitos pases europeus e asiticos, os operadores incumbentes so proprietrios das maiores empresas de telefonia mvel.

A outra alternativa encontrada pelas incumbentes foi a entrada no

mercado de internet, particularmente a partir da oferta de servios de banda larga. Com a instalao de um equipamento especial nas centrais telefnicas, os operadores podem fornecer servios de acesso em alta velocidade sobre redes relativamente maduras. Isso feito atravs do uso da tecnologia Digital Subscriber Line (DSL), que o principal meio de prover acesso em banda larga para domiclios e pequenos negcios. O incremento da oferta de servios de banda larga tem sido a forma mais utilizada pelas operadoras de servios de telecomunicaes para manter sua base de clientes e compensar a perda de receita com os servios de telefonia fixa. Neste sentido, uma das reas que tem concentrado grande parte dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes (no Brasil e no mundo) so os servios de banda larga. Estes, embora estejam passando por rpido crescimento, dificilmente compensaro a reduo das receitas com os servios de telefonia fixa.

Alm disso, a alternativa procurada pelas incumbentes foi a oferta de

cestas de servios (que podem combinar a assinatura do servio fixo, servios de longa distncia, servios mveis, acesso em banda larga e servios de transmisso de imagem - atravs de parcerias com outros operadores de telecomunicaes) e o desenvolvimento de novos equipamentos terminais que possibilitam o incremento do trfego atravs da linha telefnica, como, por

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exemplo, videofones que sero capazes de tirar vantagem do progresso no processamento de sinais, das possibilidades de interoperabilidade com aplicaes de computador baseadas em webcams e de videotelefonia. Estes so servios que poderiam concorrer com aqueles disponveis nas redes de celular de 3G.

importante ressaltar que, num perodo mais recente, e como resultado

de todas as mudanas analisadas acima, observa-se tambm um processo de re-concentrao no segmento de servios de telecomunicaes que decorre, entre outras coisas, do avano da convergncia tecnolgica. Dadas as possibilidades derivadas das redes de telecomunicaes baseadas no protocolo IP, onde as operadoras, sejam elas de telecomunicaes ou de TV a cabo, podem oferecer numa mesma plataforma de rede diversos servios (telefonia fixa, telefonia mvel, servios de TV e Internet em banda larga), as estratgias das empresas tm incorporado crescentemente a oferta de pacotes de servios triple play (telefonia fixa, TV por assinatura e internet) ou quadruple play (que acrescenta a telefonia mvel ao pacote anterior). Neste caso, a busca por obteno de ganhos de escala e escopo e de eficincia estimula s empresas a se agruparem ou buscarem parcerias para complementar suas capacitaes.

Assim, aps um perodo de reformas voltadas para a introduo de

concorrncia nos diversos segmentos, o mercado de servios de telecomunicaes apresenta uma tendncia de re-concentrao. Como resultado, os diversos rgos de regulao vm sendo obrigados a enfrentar uma dinmica re-concentradora, inerente infra-estrutura das telecomunicaes. Os processos de fuso e aquisio dos ltimos anos de empresas de servios de telecomunicaes dos Estados Unidos, que constitudo atualmente por trs grandes empresas de servios (AT&T, Verizon e Qwest), marca esta dinmica de re-concentrao (Wohlers, 2008).

O resultado da difuso dos processos de liberalizao,

desregulamentao e reestruturao das telecomunicaes em praticamente todos os pases do mundo, aps um perodo de surgimento e entrada de novos atores e de um processo de ajuste e incio de consolidao, uma estrutura industrial relativamente concentrada e dominada pelas incumbentes.

Todos estes fenmenos que afetaram a indstria de servios de

telecomunicaes tiveram impactos significativos sobre a indstria de equipamentos.

1.3. A organizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes internacional

Uma das caractersticas recentes mais marcantes da indstria de equipamentos de telecomunicaes a concentrao dos esforos de P&D, na

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medida em que a maior parte dos investimentos em P&D passou a se localizar no segmento dos fornecedores de equipamentos de telecomunicaes. Este aspecto se contrape organizao anterior da indstria de telecomunicaes, na qual os gatos em P&D se concentravam nos laboratrios de P&D dos operadores de servios2.

O Quadro 2 apresenta os dados sobre os investimentos em P&D das

empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes, tanto em termos absolutos como em termos de participao na receita total das empresas para os anos de 1997, 1999, 2001 e 2003. Os dados de 2005 referem-se apenas participao dos investimentos em P&D na receita total de empresas de equipamentos de telecomunicaes selecionadas. Pode-se tambm perceber que esta relao apresenta novamente uma tendncia crescente.

2 Para uma discusso mais detalhada sobre a nova diviso do trabalho entre operadores de servios e fornecedores de equipamentos no que se refere s atividades de P&D, ver Szapiro (2005).

Quadro 1: Gastos em P&D dos principais fornecedores de equipamentos de telecomunicaes entre 1997 e 2005 (em US$ milhes)

1997 1999 2001 2003 2005 Empresa Gastos

em P&D

P&D como % da receita total

Gastos em P&D

P&D como % da receita total

Gastos em P&D

P&D como % da receita total

Gastos em P&D

P&D como % da receita total

P&D como % da receita total

Ericsson 3 175 14,5 4 201 16 4 511 20,1 3593 24 16,8

Motorola 2 748 9,2 3 440 11,1 4 300 14,3 3811 14,5 10

Cisco 1 050 12,4 1 663 13,7 3 922 17,6 3135 16,6 13,4 Lucent 3 023 11,5 3 563 13,2 3 520 16,5 1838 21,1 15

Nortel 2 147 13,9 2 724 13,9 3 292 18,8 2024 21,1 17,3

Fujitsu 3 199 7,8 3 520 7,6 2 878 7 2381 6,2 - NEC 2 880 7 2 767 5,5 2 745 6,5 2511 6,1 -

Nokia 879 8,7 1 793 8,9 2 665 9,6 4617 12,3 11,6

Alcatel 2 844 8,9 2 181 9,5 2 589 11,3 2532 13,5 13,6 Siemens1 2 312 - 2 446 18,8 2 461 10,1 943 11,8 -

Samsung Electronics2

1 213 8,3 1 697 6,5 1 690 6,2 2500 5 -

Matsushita Communications

- - 994 12,1 1 128 12,9 4968 7,7 -

GEC Marconi 407 6,5 611 7,1 910 14 462 15,2 -

LG Electronics 457 4,7 353 4 588 4,6 859 5,1 -

Corning1 117 6,5 245 9,8 474 10,6 401 14 -

Qualcom 349 10,4 340 10,6 415 15,5 523 13,2 17,8

3Com 270 12,9 611 14,1 286 19,3 113 12,1 14,5

Juniper Networks - - 42 40,4 156 17,5 176 27 17,2 Total/mdia 27 071 9,5 33 190 12,4 38 529 12,9 37 387 13,7 14,7

Notas: 1. Os dados de gastos em P&D da Siemens so proporcionais s vendas do setor de telecomunicaes. 2. Os gastos em P&D da Samsung para 2001 so dados referentes 2000. Fonte: OCDE, 2003, 2005 e DTI (2006)

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Como pode ser observado no quadro 2, o segmento das empresas

fabricantes de equipamentos de telecomunicaes mostrou uma tendncia de alta dos investimentos em P&D em termos absolutos e relativos. No primeiro caso, os investimentos em P&D deste segmento cresceram de US$ 27.071 milhes em 1997 para US$ 33.190 milhes em 1999 e para US$ 38.529 milhes em 2001. Em 2003 ocorreu uma pequena reduo em tais investimentos, que passaram para US$ 37.387 milhes, possivelmente em decorrncia da crise geral do setor. Em termos relativos, houve grande aumento dos investimentos em P&D entre 1997 e 1999 (9,5% para 12,4% da receita), mas este crescimento foi menor no perodo seguinte, entre 1999 e 2001, neste ltimo ano atingindo em mdia 12,9% da receita total das empresas observadas no quadro 2. No ano seguinte, em 2003, este segmento apresentou novo crescimento da mdia de participao dos investimentos em P&D na receita total das empresas, passando para 13,7%. Embora o nmero de empresas cujos dados esto disponveis para 2005 seja menor, observa-se um novo aumento dos investimentos em P&D como participao das vendas em relao ao ano anterior, que passa para 14,7% em mdia.

Cabe destacar que, no obstante o aumento dos gastos em P&D da

indstria de equipamentos de telecomunicaes, a internacionalizao de tais atividades permanece extremamente limitada, e no se percebe evidncia de movimentos de globalizao da atividades de P&D na indstria de telecomunicaes (Fransman, 2002). Os investimentos no desenvolvimento de novos produtos e sistemas se concentram nos pases de origem das empresas. No entanto, como ser analisado adiante, no perodo mais recente a presso competitiva das empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes chinesas est causando a transferncia de algumas atividades produtivas e de P&D para pases com mo-de-obra mais barata.

Para compreender a dinmica recente da indstria de telecomunicaes

tambm importante considerar que esta indstria passou por uma crise generalizada no incio dos anos 2000. A crise do setor de telecomunicaes foi ainda mais grave porque sucedeu um perodo de rpido crescimento (1996 a 2001), decorrente da acelerao das mudanas tecnolgicas e das transformaes institucionais.

A crise internacional do setor de telecomunicaes atingiu todos os

segmentos e camadas da indstria e teve impactos sobre praticamente todas as empresas que operavam no setor. A perda de valor das empresas no mercado de aes fornece a dimenso de tal crise. Em maro de 2000 o valor total no mercado de aes de todos os operadores e fornecedores de equipamentos era de US$ 6.300 bilhes. Em setembro de 2001, este valor j havia cado para US$ 3.800 bilhes, contabilizando uma perda de US$ 2.500 bilhes (Fransman, 2002).

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As empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes sofreram com a crise do perodo de 2001-2003, basicamente como resultado da reduo dos investimentos dos operadores de servios. Para sobreviver a esta crise, as empresas tiveram que reduzir custos, o que em muitos casos provocou uma reduo do quadro de pessoal das empresas. Este fato, aliado aos crescentes requerimentos de investimentos em P&D, provocou um aumento significativo da presso competitiva neste segmento.

Outro importante aspecto a ser considerado na anlise do processo de

concorrncia na indstria de equipamentos de telecomunicaes o surgimento e rpido crescimento das empresas chinesas fabricantes de equipamentos, principalmente a Huawei e a ZTE. A indstria de equipamentos de telecomunicaes na China se consolidou a partir dos anos 2000. At ento, as necessidades de equipamentos de telecomunicaes daquele pas eram supridas por importaes ou por joint ventures entre grandes fornecedores de equipamentos e empresas locais. Empresas que hoje so internacionalmente conhecidas tais como a ZTE (estatal) e a Huawei (privada) cresceram a partir de altos investimentos e grande parcela de seu quadro de pessoal voltados s atividades de P&D e com um grande suporte do Estado chins. Este apoio do governo se deu no s ao crescimento das empresas no mercado domstico chins, mas tambm internacionalizao destas empresas (Li, 2007)3.

O baixo custo da mo-de-obra na China e as reduzidas margens de lucro

das empresas chinesas fabricantes de equipamentos permitem a essas empresas ofertarem produtos com preos que so, em geral, at 40% inferiores aos oferecidos pelos concorrentes ocidentais (Economist, 2007a).

As estratgias das empresas chinesas inicialmente focaram os pases em

desenvolvimento como destino de suas exportaes, mas nos ltimos anos passaram a vender equipamentos de telecomunicaes para grandes operadoras incumbentes de pases desenvolvidos, tais como: Vodafone, British Telecom, Telefonica, KPN e Orange.

Estas empresas tm exercido grande presso competitiva sobre a

indstria internacional de equipamentos de telecomunicaes, com destaque para a Huawei, que atingiu a sexta posio dentre os maiores produtores de equipamentos de telecomunicaes mundiais em 2006 (Economist, 2007b). Vale notar que esta presso competitiva est fazendo com que algumas empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes desloquem atividades de produo e de P&D para a China. Neste aspecto, destaca-se o caso da Nortel, onde mais de um quarto dos 12.000 engenheiros est atualmente situada na China (Economist, 2007a). O principal objetivo deste deslocamento obter

3 Deve-se mencionar que as principais operadoras de servios de telecomunicaes chinesas so estatais, o que facilita o uso da poltica de compras de equipamentos pelo governo para fomentar o desenvolvimento da indstria local.

12

vantagens de custo e aumentar a competitividade em relao s empresas chinesas.

A nova diviso do trabalho no que se refere s atividades de P&D trouxe

alteraes substantivas para a dinmica da indstria mundial de equipamentos de telecomunicaes. Como se discutiu acima, as empresas ampliaram seus investimentos em P&D e ocorreu um aumento significativo da concorrncia neste mercado. Como resultado, vem sendo observado um processo de consolidao patrimonial no setor de equipamentos de telecomunicaes, a partir de movimentos de fuso e aquisio entre grandes fabricantes de equipamentos, com destaque para a aquisio da Marconi (inglesa) pela Ericsson, a fuso entre a Alcatel e a Lucent , formando a Alcatel Lucent e a formao de uma joint venture na rea de infra-estrutura de redes entre a Siemens e a Nokia, dando origem Nokia Siemens Networks. O resultado dos movimentos de consolidao patrimonial do ponto de vista da diviso do mercado pelos diferentes fabricantes de equipamentos pode ser observado na tabela 1. Pode-se observar que a fuso entre a Alcatel e a Lucent resultou na criao da maior empresa de equipamentos de telecomunicaes do mundo em termos de market share, com 19% do mercado mundial. A Nokia Siemens Networks ocupa a terceira posio, com 17% de market share, atrs da Ericsson, que ocupa a segunda posio, com 18% de participao no mercado de equipamentos de telecomunicaes4.

Tabela 1: Market share dos fabricantes de equipamentos de telecomunicaes em 2005

Empresa Market share (%)

Alcatel-Lucent 19

Ericsson 18

Nokia/Siemens 17

Nortel 7

Cisco 6

NEC 5

Outros 28 Fonte: Fransman, 2006

Alm dos movimentos de consolidao patrimonial, observa-se tambm a tendncia ampliao das reas de atuao das empresas fabricantes de

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equipamentos, para alm da produo de hardware. O aumento da importncia da rea de software e sistemas de gesto de apoio operao das redes das operadoras de servios de telecomunicaes vem sendo apontado por especialistas internacionais como uma tendncia recente do segmento de equipamentos de telecomunicaes. Este aspecto trar mais mudanas na diviso de trabalho entre os diversos agentes do setor de telecomunicaes, afetando no s fabricantes e operadores de servios, mas tambm instituies e centros de P&D e de desenvolvimento de softwares e aplicativos em geral.

Os softwares e sistemas de apoio operao das redes das operadoras

de servios de telecomunicaes so extremamente importantes, j que permitem que elas criem novas ofertas para os consumidores, bem como construam e mantenham suas redes (Economist, 2007a).

Alm deste tipo de atividade, os fabricantes tambm vm assumindo

atividades relacionadas manuteno das redes dos operadores de servios. Neste aspecto, segundo o Anurio Telecom (2008), os fornecedores de equipamentos vm desenvolvendo algumas atividades ligadas manuteno das redes das operadoras que antes eram desempenhadas pelas operadoras de servios5.

A lgica deste tipo de operao (terceirizao da manuteno das redes)

est ligado uma possvel economia de recursos para a operadora na medida em que ela centraliza toda manuteno de sua rede em uma s empresa e, para o fornecedor de equipamentos selecionado, isso representa uma ampliao dos produtos e servios oferecidos.

No grupo Ericsson, esta tendncia se manifesta a partir da reestruturao

organizacional realizada recentemente na qual uma das mudanas adotadas pela empresa uma nova estrutura, onde existem trs reas de atuao: Networks (redes), Professional Services (Servios Profissionais) e Multimdia. A rea de Servios Profissionais vem adquirindo participao crescente na receita total da empresa, sendo que em 2006 ela foi responsvel por 35% do faturamento. esta rea que desenvolve softwares, sistemas de gesto de redes e aplicativos que so incorporados aos equipamentos, bem como ela a responsvel pelos servios de manuteno de redes contratados pelas operadoras. No caso da Alcatel Lucent, a receita com servios (venda de softwares e sistemas) s operadoras foi de 17% em 2006.

5 No Brasil, os exemplos so dados pela Alcatel-Lucent, que ganhou a concorrncia na Brasil Telecom para prestar servios relacionados manuteno das redes internas e externas e da infra-estrutura. O contrato, no qual a Alcatel-Lucent assume toda a parte de gesto e manuteno de toda a infra-estrutura de telefonia fixa da BrT tem durao de dois anos (com incio da vigncia em fevereiro de 2008) e valor de R$ 2 bilhes. Outro exemplo a Ericsson, que criou uma empresa s para assumir os servios das operadoras (a Ericsson Gesto e Servios) com quatro mil funcionrios.

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A tabela 2 mostra a evoluo da receita lquida dos principais fornecedores de equipamentos de telecomunicaes no mundo. Percebe-se que, aps a estagnao das vendas de equipamentos resultante da crise pela qual passou o setor de telecomunicaes no perodo 2001-2003, a receita lquida dos fornecedores de equipamentos voltou a crescer, principalmente em decorrncia da ampliao dos investimentos e vendas de equipamentos para redes de telefonia celular e banda larga. A empresa Nokia Siemens Networks, resultante da formao da joint venture entre a Nokia e a Siemens passou a apresentar em 2007 a maior receita lquida entre os principais fabricantes de equipamentos. Destaca-se ainda o crescimento da Cisco, que ultrapassou a Motorola e a Ericsson em 2007 em termos de receita lquida, tornando-se a segunda maior fabricante de equipamentos.

Tabela 2: Receita Lquida dos maiores fabricantes de telecomunicaes no

mundo 2001-2006 (em US$ bilhes)

US$ Bilhes 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Nokia 28 28 32 36 41 54 73(*)

Cisco 22 19 19 22 25 28 38

Motorola 30 27 27 31 35 43 37

Ericsson 22 15 15 18 19 34 28

Alcatel Lucent - - - - - 24 25

Siemens 21 19 19 22 15 17 -

NEC 17 13 15 17 17 16,5 17

Alcatel 23 15 14 15 16 - -

Nortel 19 11 10 10 11 11,4 10

Lucent 21 12 8 9 9 - -

Huawei 2 2 3 4 6 8,5 12 Fonte: www.teleco.com.br e Fransman (2006)

(*) Esta receita lquida relaciona-se s operaes da empresa Nokia Siemens Networks

1.4. Dinmica recente de investimentos internacionais De forma geral, so trs os grandes vetores de crescimento da indstria

de telecomunicaes, que vm determinando o aumento dos investimentos em telecomunicaes: Banda larga, mobilidade e redes de nova gerao. Neste contexto, a difuso da terceira gerao de telefonia mvel (3G) representa uma oportunidade significativa de crescimento para o mercado de equipamentos de

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http://www.teleco.com.br/vendors/nokia.asphttp://www.teleco.com.br/vendors/cisco.asphttp://www.teleco.com.br/vendors/motorola.asphttp://www.teleco.com.br/vendors/ericsson.asphttp://www.teleco.com.br/vendors/alcatel.asphttp://www.teleco.com.br/

telecomunicaes. Outro segmento que vem sendo ampliado est relacionado aos equipamentos para as Redes de Nova Gerao (Next Generation Networks NGNs). A convergncia tecnolgica (que se revela principalmente a partir da convergncia entre os servios fixo, mvel, de TV e de Internet) e a oferta de cestas de servios fazem com que as operadoras tenham estmulos ao investimento na modernizao de suas redes e na migrao para as redes de nova gerao.

O crescimento da banda larga est associado necessidade de maior

capacidade de transmisso e melhor qualidade das redes para permitir s operadoras ofertar pacotes de servios, que integram voz (Voice Over Internet Protocol - VOIP, telefonia fixa e mvel), dados (Internet) e vdeo (IPTV). Redes de banda larga com alta capacidade de transmisso constituem-se na infra-estrutura necessria para viabilizar o crescente processo de integrao entre os servios e a oferta de pacotes de servios triple play/quadruple play. Nesse aspecto, cabe destacar que os pases da OCDE vm dando uma nfase crescente banda larga como importante infra-estrutura para o crescimento econmico e o desenvolvimento social.

Os investimentos realizados pelos provedores de servios de banda larga

da OCDE em redes de fibra tica esto ligados necessidade de maior capacidade e velocidade da rede para a transmisso de mltiplos canais de HDTV (High Definition Television). Neste aspecto, alguns operadores de telecomunicaes de tais pases esto utilizando as tecnologias de fibre-to-the-node (FTTN) ou fibre-to-the-home (FTTH) para prover melhores conexes ao consumidor final (ltima milha) (OCDE, 2007).

Neste aspecto, no Brasil, o ano de 2006 foi marcado por grandes projetos

de investimentos das operadoras fixas nas redes de alta velocidade, com o objetivo de viabilizar a fidelizao dos clientes atravs da oferta dos pacotes de servios triple play. Num ambiente em que a receita com a telefonia fixa vem declinando ou permanece estagnada, a banda larga e a oferta de servios adicionais, que integram telefonia, Internet e TV paga que tm feito a receita das empresas de telecomunicaes crescer (Anurio Telecom, 2007). As perspectivas de crescimento deste mercado no Brasil tambm so substanciais.

No que concerne mobilidade, existem atualmente duas grandes reas

de investimento: as novas redes de telefonia celular de terceira gerao (3G) e as redes de Wimax (Worldwide Interoperability for Microwave Access - Interoperabilidade Mundial para Acesso de Microondas)6. Nos ltimos anos, o desenvolvimento de terminais e de novos servios por diversos provedores (GPS, envio de vdeos e fotos, etc) tornou viveis (e lucrativos) os investimentos

6 As redes de Wimax so redes de comunicao sem fio que permitem conexes com velocidade de um ou dois megabits por segundo numa distncia de at 40 Km. Um de seus atributos assemelha-se aos das redes celulares, na medida em que numa rede de Wimax um usurio em movimento pode passar de uma estao rdio base para outra.

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nas redes de terceira gerao da telefonia celular. Na OCDE o nmero de usurios de servios mveis da terceira gerao est crescendo rapidamente, mas a maior parte dos usurios ainda utilizam os servios de voz e no aqueles de dados e maior valor agregado. A justificativa para isto so os altos preos dos servios de dados ofertados pelas redes de 3G. No entanto, a tendncia que estes preos se reduzam ao longo do tempo, na medida em que ocorra um aumento da concorrncia e a amortizao dos investimentos.

No que se refere s redes de Wimax, que podem ser de padro fixo ou

mvel, alguns fabricantes de equipamentos e componentes esto apostando nesta tecnologia e desenvolvendo equipamentos. Dentre aqueles que esto apostando no desenvolvimento do padro mvel, pode-se citar: Samsung, Motorola, Intel, Nortel e Alcatel-Lucent. Dentre os fabricantes internacionais de equipamentos de telecomunicaes que esto apostando no desenvolvimento de equipamentos para redes Wimax fixo, pode-se citar: Airspan Networks, Aperto Network e Proxim Wireless (dos Estados Unidos) e Alvarion (de Israel), dentre outras. De qualquer forma, vale ressaltar que a tecnologia de Wimax relativamente nova e os equipamentos esto passando por um processo de padronizao recentemente, o que abre janelas de oportunidade significativas para empresas que resolverem apostar no seu desenvolvimento.

As Redes de Nova Gerao se constituem no terceiro vetor de expanso

dos investimentos no setor de telecomunicaes. Se por um lado o desenvolvimento de NGNs exige mais investimentos das operadoras, a modernizao das redes viabiliza uma reduo dos custos de operao de tais redes. A principal vantagem das NGNs que, sendo desenvolvida sob o Protocolo IP, ela transporta todos os tipos de servios e informao (voz, dados e todos os tipos de mdia tais como vdeo) atravs de pacotes, da mesma forma que ocorre na Internet. Estas redes se constituem na infra-estrutura apropriada para o transporte das cestas e pacotes de servios de telecomunicaes convergentes. A British Telecom (BT) uma das operadoras de servios de telecomunicaes que vem investindo pesadamente no desenvolvimento redes de nova gerao, conhecida como 21st Century Network ou 21CN. Estima-se que seus investimentos nesta rea tenham sido de aproximadamente US$ 5,66 bilhes em 2006 (OCDE, 2007). Para a BT o investimento na nova rede uma forma de promover reduo de custos estrutural de longo prazo atravs da migrao para uma arquitetura de rede mais simples e de menor custo.

Outros investimentos significativos em novas redes de telecomunicaes

so os da Verizon e da NTT. As duas empresas esto instalando fibra tica at o cliente final (FTTH). No primeiro caso, a Verizon anunciou que ela gastar US$ 18 bilhes na implantao de fibra tica em sua rede entre 2004 e 2010. A companhia prev que a partir de 2010 a nova rede de fibra tica ir proporcionar uma economia de aproximadamente US$ 1 bilho anual em despesas operacionais. No caso da NTT, a expectativa que a operadora invista US$ 8,5 bilhes entre 2004 e 2010 na sua rede de servios fixos (OCDE, 2007).

17

De forma geral, a transio para as tecnologias de banda larga baseadas

em fibra tica, comunicaes mveis de alta velocidade e a transio para redes de nova gerao marcou a retomada do crescimento dos investimentos em telecomunicaes. Depois de um declnio acentuado entre 2001 e 2003, o investimento voltou a crescer novamente em 2004 e continuou em 2005. O investimento cresceu 13%, de US$ 142 bilhes em 2003 para US$ 160 bilhes em 2005. No caso dos pases da OCDE, o investimento foi retomado em 2004 em funo do crescimento da demanda por servios de banda larga. As operadoras incumbentes precisaram investir na melhoria de seus servios para poder competir com as ofertas das operadoras de cabo, visando o aumento da receita mdia por usurio (OCDE, 2007). Deve-se ressaltar que as operadoras entrantes tambm contriburam para o aumento dos investimentos.

O grfico abaixo mostra a tendncia dos investimentos das operadoras de

servios de telecomunicaes dos Estados Unidos. Observa-se que, aps intenso crescimento dos investimentos em 2000 (quando ocorreu o boom de investimentos do setor), quando estes atingiram US$ 51,6 bilhes, os investimentos tiveram uma queda, passando para US$ 44,6 bilhes em 2001 e, no ano seguinte, sofrem uma reduo significativa, caindo mais de 50%, para US$ 20,2 bilhes em 2002. No ano seguinte, em 2003, os investimentos das operadoras dos EUA atingiram seu menor valor no perodo (US$ 15,2 bilhes), para em seguida comear a crescer de forma sustentada nos anos subseqentes. Ressalta-se, entretanto, que as projees de investimento para o perodo de 2008 a 2010 foram feitas anteriormente crise financeira internacional, deslanchada na segunda metade de 2008 e, dessa forma, os investimentos realizados em 2008 e a estimativa de investimentos das operadoras norte americanas para os anos de 2009 e 2010 podem mudar.

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Grfico 1: Gastos das operadoras de servios de telecomunicaes em equipamentos nos EUA (em US$ bilhes)

51,6

44,6

20,215,2 17,2

20,122,5 24,4

26,3 27,828,9

0

10

20

30

40

50

60

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: TIA, 2007

1.5. O novo papel do Estado A tendncia concentrao da indstria de telecomunicaes (tanto do

segmento de servios como de equipamentos, no cenrio nacional e internacional) trouxe tona uma nova discusso sobre o papel do estado no setor de telecomunicaes. O discurso e a ideologia que embasaram o processo de reestruturao do setor de telecomunicaes nas duas ltimas dcadas impunham a necessidade de reduo do poder de interveno do estado e de seu afastamento da propriedade direta de empresas de telecomunicaes, passando a desempenhar somente o papel de regulador da infra-estrutura.

Atualmente, a evoluo tecnolgica e a migrao das infra-estruturas para redes de nova gerao, bem como o processo de re-concentrao da indstria de telecomunicaes como um todo, vm trazendo tona uma nova discusso sobre a importncia de uma atuao mais pr-ativa do Estado nesta indstria.

Embora se reconhea a importncia das reformas e das privatizaes implementadas no setor de telecomunicaes para o fim do monoplio e o aumento da eficincia das empresas, o ritmo acelerado de introduo de inovaes nas telecomunicaes observado nos ltimos anos no deve ser necessariamente atribudo s mudanas de poltica. Na China, onde o estado manteve um papel ativo e fundamental na organizao do mercado de telecomunicaes, inclusive com a propriedade direta de empresas, pode-se observar transformaes e avanos similares queles percebidos em pases que promoveram uma ampla abertura da indstria de telecomunicaes. Entretanto,

19

as telecomunicaes na China acompanharam a rpida evoluo das telecomunicaes mundiais, incluindo uma intensa dinmica de surgimento e difuso de novos servios e equipamentos, o que se deve a transformaes derivadas da prpria evoluo da tecnologia. Acrescente-se a isso a criao de grandes empresas de telecomunicaes, que em alguns casos (Huawei e ZTE) se internacionalizaram.

A discusso sobre a necessidade e aumento da importncia da participao e interveno do Estado nas telecomunicaes est associada a um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, a participao ativa dos governos municipais nos investimentos no desenvolvimento e na realizao de melhorias na infra-estrutura de banda larga vem sendo apontada como uma tendncia em diversos pases da OCDE (OCDE, 2007). Tanto em reas metropolitanas de grandes cidades (Amsterd, Paris e Viena, por exemplo), como em localidades que demandam maiores investimentos para a melhoria da infra-estrutura de banda larga, os governos municipais vm investindo diretamente ou atravs de joint ventures em redes municipais de fibra tica. Nos Estados Unidos, os municpios vm oferecendo servios de acesso banda larga em funo de no haver disponibilidade de oferta destes servios ou em funo dos servios disponveis serem ofertados a preos no acessveis a grande parcela dos residentes (TIA, 2007).

Neste aspecto, considera-se que as novas redes geram melhorias para a sociedade como um todo, o que justifica o investimento pblico (Noam, 2007). A lgica da atuao direta do Estado neste tipo de investimento est ligada obteno de benefcios pblicos, principalmente ligados ao processo de incluso digital dos cidados e ao aumento de emprego local altamente qualificado. No caso dos pases em desenvolvimento, a importncia da participao de instncias de governo no investimento pblico voltado para a criao e modernizao das redes de telecomunicaes de fibra tica um aspecto fundamental a ser considerado.

A ampliao do escopo de atuao do estado no setor de telecomunicaes vem tambm sendo discutida em pases desenvolvidos (principalmente Estados Unidos e Europa), em funo das perdas considerveis de capacitaes industriais e tecnolgicas para pases asiticos. Este processo no envolve somente a perda de empregos na produo direta de equipamentos e servios, mas tambm a perda de empregos altamente qualificados envolvidos em atividades de P&D. Nos pases desenvolvidos, o setor de telecomunicaes tradicionalmente se constitui numa pea chave para os esforos de desenvolvimento tecnolgico.

Num estudo que busca avaliar a capacidade de pesquisa dos Estados Unidos, o National Research Council (2006) concluiu que, sem um aumento significativo dos investimentos em pesquisa, a posio do pas como lder mundial no setor est em risco, dada a grande presso competitiva oriunda de pases da sia e da Europa. Neste sentido, este relatrio sugere a criao de um programa de P&D em telecomunicaes para os Estados Unidos, onde o governo e a academia devem desempenhar papis fundamentais, alm do

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direcionamento de um maior volume de recursos pblicos e privados para atividades de pesquisa de longo prazo da indstria de telecomunicaes.

Fransman (2008) afirma que o sistema de inovao de TICs europeu vem perdendo competitividade para outros pases desenvolvidos (EUA e Japo) e asiticos (China e Coria). Como decorrncia, os setores de TICs esto diante de grandes desafios. Um destes desafios est relacionado necessidade de fortalecimento da capacidade de pesquisa bsica de longo prazo europeu em TIC. Os recursos destinados pelas incumbentes para este tipo de pesquisa se reduziram como resultado das presses competitivas oriundas do processo de liberalizao das ltimas dcadas. Apesar de os fabricantes de equipamentos de telecomunicaes terem aumentado seus investimentos em inovao, as pesquisas bsicas de longo prazo voltadas para as inovaes em telecomunicaes no so prioridade para estes agentes. Segundo Fransman (2008), a experincia de alguns pases em desenvolvimento (principalmente asiticos) mostra que este tipo de investimento (em pesquisa bsica de longo prazo) uma forma bem sucedida de aumentar a competitividade em reas de alta tecnologia.

Outro aspecto que traz a tona importncia da interveno do Estado nas telecomunicaes a necessidade de promover o acesso generalizado s novas tecnologias, com vistas a reduzir o digital divide. No caso de diversos pases os operadores de rede (incumbentes) desempenham um papel fundamental no processo de universalizao do acesso s novas tecnologias, em funo de requerimentos de polticas do governo.

A discusso sobre o papel do estado no setor de telecomunicaes tem implicaes fundamentais, principalmente no caso dos pases em desenvolvimento como o Brasil, que implementaram reformas estruturais voltadas, entre outras coisas, para a reduo da capacidade de interveno do Estado. Nos pases desenvolvidos, apesar da implementao de processos de reestruturao e da abertura das telecomunicaes ao capital privado, os Estados nacionais mantm participaes diretas e fortes restries participao do capital estrangeiro em incumbentes locais em funo de seu carter estratgico (OCDE, 2003, 2005 e 2007). No Brasil, o modelo de reestruturao adotado na dcada de 1990 no previu nenhum dispositivo efetivo para garantir a participao e manuteno do capital nacional nas empresas oriundas da Telebrs. Pelo contrrio, a entrada do capital estrangeiro no processo de privatizao foi estimulada pelo governo brasileiro. O mesmo pode ser dito em relao ausncia de instrumentos e dispositivos de poltica voltados para a manuteno e fortalecimento do desenvolvimento de capacitaes industriais e tecnolgicas em telecomunicaes.

21

2. Panorama nacional da indstria de equipamentos de telecomunicaes no Brasil

2.1. Introduo

O processo de desenvolvimento de capacitaes industriais e tecnolgicas em telecomunicaes no Brasil teve incio na dcada de 1970 e resultou de uma ampla estratgia adotada pelo governo brasileiro, principalmente durante o governo militar. No mbito desta estratgia, objetivava-se a criao de empresas nacionais fabricantes de equipamentos de telecomunicaes, bem como o desenvolvimento de tecnologias crticas para a expanso do sistema de telecomunicaes brasileiro. Havia o entendimento de que as telecomunicaes constituam-se em um setor estratgico para o desenvolvimento econmico e para a integrao regional do pas. Assim, durante o perodo de 1970 at meados da dcada de 1990 foram implementados um conjunto de instrumentos e polticas industriais voltadas para a busca de autonomia tecnolgica e criao de capacitao industrial na rea de telecomunicaes.

Com a criao da Telebrs em 1972, teve ento incio um programa de

pesquisa e desenvolvimento, que foi implementado a partir de projetos conjuntos com grupos universitrios, cujos objetivos eram: busca de autonomia tecnolgica, formao de recursos humanos para as telecomunicaes e fortalecimento do parque industrial nacional (Moreira, 1989).

Os objetivos de capacitao tecnolgica e qualificao de recursos humanos foram fortalecidos com a criao, em 1976, do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrs), voltado tanto para o treinamento de pessoal como para o desenvolvimento de tecnologias especficas para a produo de equipamentos e elementos da rede de telecomunicaes. Ligado diretamente Telebrs, o CPqD era um laboratrio de P&D que funcionou durante muito tempo como um importante instrumento de poltica industrial e tecnolgica, constituindo-se num dos componentes centrais do sistema de inovao.

O CPqD foi estabelecido em Campinas em funo da densidade cientfica

e tecnolgica da cidade. Destaca-se a existncia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), criada em meados da dcada de 1960, como um dos fatores que influenciou fortemente na escolha de Campinas para sediar o Centro, que naquela poca (meados da dcada de 1970) j havia acumulado uma base cientfica significativa. A partir da criao do CPqD, a Unicamp (bem como outras universidades brasileiras) passou a atuar no s na formao de profissionais para o setor de telecomunicaes, como tambm participou de projetos conjuntos de desenvolvimento tecnolgico com o Centro e outras empresas. Este processo atraiu um conjunto de empresas fabricantes de

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equipamentos para Campinas, dando origem ao que ficou conhecido como um plo de desenvolvimento e produtor de equipamentos de telecomunicaes durante a dcada de 1970 e 1980.

O conjunto de medidas adotadas pelo governo viabilizou a consolidao e

unificao de uma rede nacional de telecomunicaes, a constituio de uma base produtiva nacional e o desenvolvimento local de recursos humanos e de tecnologias de ponta para o setor de telecomunicaes brasileiro. Este esforo, implementado pelo governo nas dcadas de 1970 e 1980, resultou na constituio e no desenvolvimento do sistema de inovao de telecomunicaes brasileiro, que tinha como principal ator o CPqD.

Como pode ser observado no grfico 2, no incio da dcada de 1980 a

participao da tecnologia do CPqD no mercado nacional de equipamentos de telecomunicaes era de apenas 2,5%. A introduo e difuso das tecnologias de telecomunicaes pelo sistema de inovao brasileiro modificou significativamente este cenrio. Em 1996, aps dois anos de crescimento expressivo, a participao de produtos desenvolvidos com tecnologia nacional no mercado nacional de telecomunicaes alcanou 13,9%.

Grfico 2: Participao dos produtos desenvolvidos localmente no total do

mercado brasileiro de equipamentos de telecomunicaes 1981/1996(*)

2,5

5,3

2,7 2,64,1 4,5 3,7 4,1 3,9

4,75,7

2,8 3,54,8

7,5

13,9

02468

101214

%

81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96

anos

(*) Esta participao foi calculada a partir do valor em dlares do mercado atendido por produtos com tecnologia CPqD dividido pelo mercado total brasileiro de equipamentos de telecomunicaes Fonte: CPqD (1997).

Os resultados do desenvolvimento do sistema de inovao de

telecomunicaes brasileiro abrangem uma srie de segmentos do setor. Incluem-se nestes o rdio e multiplexadores digitais, a comutao de pacotes de dados e telex, as estaes terrestres de baixo custo para comunicao por satlite, entre outros. No entanto, destaca-se entre os resultados do esforo tecnolgico brasileiro as centrais de comutao digital Trpico, a fibra ptica (e outros equipamentos ligados s comunicaes ticas) e o Telefone Pblico a

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Carto Indutivo. Alm do desenvolvimento de tecnologias e produtos especficos, o esforo de capacitao industrial e tecnolgica em telecomunicaes implementado durante as dcadas de 1970, 1980 at meados de 1990 viabilizou a criao de empresas nacionais fabricantes de equipamentos, bem como a formao de recursos humanos e massa crtica no mbito das principais instituies de ensino e pesquisa na rea de telecomunicaes no Brasil.

Em meados da dcada de noventa, teve incio um profundo processo de

reestruturao do setor de telecomunicaes no Brasil. A Emenda Constitucional e a Lei das Concesses, ambas aprovadas em 1995, deram origem s mudanas que marcaram o setor de telecomunicaes na segunda metade da dcada de noventa e culminaram com a privatizao da Telebrs em 1998. Um novo arcabouo regulatrio foi criado a partir da aprovao da Lei Geral de Telecomunicaes em 1997 e do Plano Geral de Outorgas de 19987.

O conjunto de mudanas regulatrias e institucionais implementadas a

partir de 1995 produziu impactos significativos na estrutura e dinmica da indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes.

De forma geral, a dinmica da indstria de equipamentos de

telecomunicaes determinada pelo movimento dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes. At 1998 quando ocorreu a privatizao da Telebrs, a poltica de compras da operadora de servios de telecomunicaes estatal determinava a dinmica e organizao da indstria nacional de equipamentos. Foi a partir do uso deste instrumento de poltica que o governo conseguiu promover o processo de desenvolvimento produtivo e tecnolgico da indstria brasileira de equipamentos de telecomunicaes brasileira. Com a privatizao e a entrada de operadoras estrangeiras que atuam em diversos pases, cada empresa passou a implementar uma poltica de compras diferenciada.

Os dados que sero analisados nesta seo do relatrio mostram que o

subsistema de equipamentos de telecomunicaes passou por dois grandes impulsos de crescimento: o primeiro no perodo de 1996 e 1997, quando o governo promoveu um aumento das tarifas telefnicas para viabilizar o aumento de investimentos da Telebrs e prepar-la para a privatizao8 e o segundo nos

7 Para maiores detalhes sobre o processo de reestruturao do setor de telecomunicaes ver Szapiro (2005), Melo e Gutierrez (1998) e Gutierrez e Crosseti (2003). 8 Em fins de 1995 e incio de 1997, o governo brasileiro determinou dois reajustes tarifrios, incluindo a reduo do subsdio cruzado, para preparar financeiramente as operadoras que compunham a Telebrs para a privatizao, bem como para viabilizar o aumento dos investimentos da Telebrs no perodo anterior privatizao. O primeiro reajuste aumentou a assinatura residencial em 513,6%, o minuto local em 63,7% e o minuto interurbano (mdio) em 8,3%. O segundo reajuste incluiu aumentos de 270,4% na assinatura residencial e 136,6% no minuto local e redues de 31,8% do minuto interurbano (mdio) e 17% do minuto mdio das ligaes internacionais, alm da diminuio mdia de 42% na comunicao de dados (Gazeta Mercantil, 1999).

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trs anos seguintes privatizao (1999 a 2001), quando todas as operadoras (fixas e mveis) concentraram grandes volumes de investimentos para atender demanda reprimida por servios de telecomunicaes. As operadoras mveis realizaram grandes investimentos na implantao das suas redes fsicas e as operadoras fixas investiram para cumprir (e antecipar) as metas de universalizao impostas no Plano Geral de Metas de Universalizao do Servio Telefnico Comutado Prestado no Regime Pblico (PGMU)9. Os indicadores mais baixos no perodo 2002-2003 esto ligados crise internacional do setor de telecomunicaes, discutida na primeira seo deste trabalho, que afetou fortemente a indstria de equipamentos brasileira em 2002 e 2003. Em 2004 as operadoras de servios de telecomunicaes retomaram seus investimentos impulsionando novamente o processo de crescimento da indstria de equipamentos de telecomunicaes. A expectativa de alguns analistas que 2008 seja novamente um ano de crescimento da indstria de equipamentos de telecomunicaes, em funo da implantao da terceira gerao da telefonia mvel (3G), acelerao da implantao das NGNs e expanso dos servios de banda larga.

Esta seo do relatrio tem como objetivo analisar as principais

dimenses do subsistema de equipamentos de telecomunicaes, bem como a evoluo recente dos principais indicadores. A seo 2.2 a seguir apresenta, alm de informaes sobre as maiores empresas de equipamentos de telecomunicaes do Brasil, a evoluo das principais variveis do subsistema de equipamentos de telecomunicaes (emprego, nmero de empresas, faturamento, participao da indstria de equipamentos no total da indstria de transformao e etc). A seo 2.3 discute temas selecionados sobre a indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes, que em grande parte esto associados privatizao da Telebrs e desregulamentao do setor da segunda metade da dcada de 1990. O primeiro est relacionado evoluo da balana comercial e anlise da estrutura da pauta de importaes e exportaes de equipamentos de telecomunicaes. Em seguida, a seo 2.3.2 analisa o processo de desnacionalizao da indstria brasileira de equipamentos

9 Em 1998, o governo criou um plano de universalizao de servios, regulamentado atravs do Decreto 2.592, que deu origem ao PGMU. Ao assinarem os contratos de concesso, as operadoras de telefonia fixa se comprometeram com o cumprimento das metas previstas no PGMU. O PGMU definiu um nmero de instalaes telefnicas para as operadoras em regime jurdico pblico (concessionrias oriundas da fragmentao e venda da Telebrs), estabelecendo metas de universalizao (relativas aos servios de telefonia fixa comutada e de telefonia pblica), para cada estado da federao, de acordo com as caractersticas scio-econmicas locais, para o perodo de 1999 a 2005. Em 2006, quando os novos contratos de concesso foram assinados pelas concessionrias, passou a vigorar um novo PGMU, com durao de 2006 a 2025. A concentrao de um grande volume de investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes em 2001 decorreu do incentivo dado pelo aparato regulatrio quelas operadoras que antecipassem suas metas. O incentivo baseava-se na autorizao para que estas operadoras pudessem passar a operar em segmentos de servios diferentes do fixo, sendo que o principal interesse das empresas era a possibilidade de entrar no segmento de telefonia mvel. Dessa forma, a Telefonica, a Telemar e a Embratel anteciparam para o ano de 2001 as metas de universalizao previstas para o ano de 2003, investindo um grande montante de recursos financeiros na expanso dos servios.

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de telecomunicaes e a entrada de novas subsidirias de empresas multinacionais, que transformou significativamente as estratgias empresariais predominantes neste setor. Finalmente, discute-se na seo 2.3.3 a evoluo dos investimentos em atividades inovativas da indstria de equipamentos de telecomunicaes, luz da experincia internacional analisada na primeira seo do trabalho.

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2.2. Principais dimenses da indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes10

De forma geral, os principais segmentos de produtos do setor de equipamentos de telecomunicaes so: terminais; telefonia mvel; equipamentos para redes; fios e cabos; redes corporativas de comunicao; software; antenas, torres e infra-estrutura; comutao fixa; componentes, partes e peas; instrumentao e testes; suprimentos e acessrios; sistemas de trunking e radiolocalizao; e outros produtos. O quadro 2 apresenta as 10 maiores empresas de equipamentos de telecomunicaes do Brasil e cinco empresas nacionais selecionadas, bem como seus principais segmentos de negcios, segundo o Anurio Telecom (2007; 2008).

Quadro 2: 10 Maiores empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes no Brasil em termos de Receita Lquida Proporcional (*)

e cinco empresas nacionais selecionadas

Empresa Principal segmento de

negcios

Receita Lquida Proporcional em

2006 (US$ mil)

Receita Lquida Proporcional

em 2007 (US$ mil)

Motorola Terminais e telefonia mvel

1.602.000 2.778.345

Nokia Terminais e telefonia mvel

1.300.00 1.814.982

Ericsson Telefonia mvel e Comutao fixa

916.785 997.340

Samsung Terminais 569.600 934.500 LG Electronics Terminais 560.572 385.787 Siemens Enterprise Redes Corporativas de

Comunicao e gerenciamento de redes

445.000 228.545

Alcatel Lucent Equipamentos de rede, gerenciamento de redes, Telefonia mvel, antenas, torres e infra-estrutura, consultoria, projeto e treinamento, Redes Corporativas de comunicao, Comutao fixa e Software

385.400 475.182

Cisco Systems Equipamentos de Rede e Software

360.195 441.200

Nortel Networks Telefonia mvel, Redes 149.520 152.510

10 Esta seo est baseada em informaes oriundas de Szapiro (2008).

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corporativas de comunicao e Comutao fixa

NEC Equipamentos para redes, Redes corporativas de comunicao, Comutao fixa

143.107 166.134

Intelbrs Terminais e redes corporativas de comunicao

78.770 136.772

Trpico Comutao Fixa, software e consultoria, projeto e treinamento

26.524 43.742

Dgitro Tecnologia Desenvolvimento de aplicaes, Redes Corporativas de Comunicao, software, comutao fixa, gerenciamento de redes e equipamentos para redes

26.882 41.587

Digitel Equipamentos para Redes, gerenciamento de redes, antenas, torres e infra-estrutura e fios e cabos

24.402 15.407

AsGa Equipamentos para Redes, gerenciamento de redes e software

17.032 29.634

Fonte: Elaborao prpria a partir de Anurio Telecom, 2007 e 2008 (*) Esta receita lquida refere-se receita obtida pelas empresas no segmento de telecomunicaes.

De acordo com o quadro 2, pode-se observar que as 10 maiores empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicaes em termos de receita lquida so empresas subsidirias de multinacionais. Isso resulta de um processo de desnacionalizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes que vem ocorrendo desde o incio da dcada de 1990, mas que foi agravado com o processo de privatizao da Telebrs em 1998. Por outro lado, observa-se tambm que o pequeno porte das empresas nacionais fabricantes de equipamentos relativamente s subsidirias de multinacionais coloca-se, muitas vezes, como um obstculo competitividade das mesmas. Como ser discutido na ltima seo deste relatrio, este se constitui num dos maiores limitantes capacidade de concorrer, ao crescimento e sustentabilidade das empresas nacionais.

De acordo com dados da RAIS apresentados na tabela 3, o nmero total

de empresas do subsistema de equipamentos de telecomunicaes vem diminuindo como resultado da oscilao dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes, tendo atingido seu pice no perodo de 2001-2002, quando as operadoras concentraram parte significativa de seus

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investimentos no processo de antecipao das metas de universalizao. De 2002 para 2003 houve uma reduo significativa do nmero de empresas deste subsistema, que passou de 543 para 343. Nos anos seguintes o nmero total de empresas se reduziu ainda mais, passando para 333 em 2004 e 320 em 2005.

Da mesma forma, verifica-se que essa reduo foi mais significativa

naqueles segmentos de empresas de micro e pequeno porte. Das empresas com at 4 vnculos ativos, observa-se uma reduo de aproximadamente 50%, caindo de 171 em 2000 para 85 em 2005, sendo que este nmero chegou a 223 em 2002. Das empresas com 5 a 9 vnculos, observa-se uma reduo de 77 empresas em 2000 para 49 em 2005 e das empresas com 10 a 19 vnculos ativos, percebe-se uma reduo de 66 em 2000 para 37 em 2005. Daquelas com 50 a 99 vnculos ativos a reduo foi de 31 em 2000 para 23 em 2005.

O nico segmento de empresas que cresceu ou se manteve estvel foi o de empresas com 100 a 249 vnculos ativos (que praticamente se manteve estvel, passando de 31 empresas em 2000 para 30 empresas em 2005) e o de empresas com 500 a 999 vnculos ativos, que cresceu de 3 empresas em 2000 para 5 em 2005. Cabe destacar que dentre as micro e pequenas empresas, o segmento de empresas com 20 a 49 vnculos ativos foi o nico que passou por um crescimento, passando de 47 em 2000 para 58 em 2005.

Esta reduo praticamente generalizada do nmero de micro e pequenas

empresas (com exceo das empresas com 20 a 49 vnculos ativos) sugere que a oscilao do nvel de investimentos do subsistema de telecomunicaes no perodo posterior antecipao das metas de universalizao das operadoras (aps 2001) e a crise de 2002-2003 tiveram um impacto mais significativo sobre as empresas de menor porte.

Tabela 3: Nmero de estabelecimentos no subsistema de equipamentos de

telecomunicaes no Brasil, por faixa de tamanho, 2000-2005 Brasil Equipamentos de telecomunicaes 2000 2001 2002 2003 2004 2005Nenhum vnculo ativo 57 46 69 40 19 22At 4 vnculos ativos 171 205 223 122 112 85De 5 a 9 vnculos ativos 77 79 72 44 47 49De 10 a 19 vnculos ativos 66 62 70 39 35 37De 20 a 49 vnculos ativos 47 60 58 44 53 58De 50 a 99 vnculos ativos 31 27 23 29 26 23De 100 a 249 vnculos ativos 31 33 18 16 26 30De 250 a 499 vnculos ativos 14 5 2 1 9 8De 500 a 999 vnculos ativos 3 2 5 4 1 51000 ou mais vnculos ativos 5 6 3 4 5 3Total 502 525 543 343 333 320Fonte: RAIS

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Uma caracterstica marcante do subsistema de equipamentos de telecomunicaes a alta escolaridade do pessoal ocupado na indstria. Como pode ser observado na tabela 4, em 2005 aproximadamente 83% do pessoal ocupado no subsistema de equipamentos de telecomunicaes tinha pelo menos o segundo grau completo. Este nmero razoavelmente superior quele encontrado em 2000: neste ano 63,5% do pessoal ocupado na indstria de equipamentos de telecomunicaes no Brasil tinha pelo menos segundo grau completo. Isso mostra que a demanda por (e a participao de) mo-de-obra qualificada nesta indstria vem crescendo nos ltimos anos. Os dados observados na tabela 4 mostram que este subsistema intensivo em mo-de-obra qualificada, o que deve ser considerado no mbito da poltica de competitividade. A qualificao da mo-de-obra um fator de competitividade fundamental nesta indstria.

Tabela 4: Distribuio do emprego no subsistema de equipamentos de telecomunicaes no Brasil segundo grau de instruo (em %)

2000 2001 2002 2003 2004 2005Analfabeto 7,29 0,43 0,52 0,06 0,06 0,024 srie incompleta 1,02 1,13 0,82 0,86 1,53 0,964 srie completa 2,63 2,50 1,92 1,26 1,53 1,668 srie incompleta 5,78 4,61 3,82 2,87 2,53 2,688 srie completa 11,84 11,11 9,31 7,74 7,29 6,962 grau incompleto 8,00 7,04 5,75 5,22 4,47 4,822 grau completo 40,77 42,74 50,47 50,48 54,50 57,25Superior incompleto 4,89 6,52 6,69 6,79 7,15 6,25Superior completo 17,79 23,92 20,73 24,73 20,94 19,40Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00Fonte: RAIS

O grfico 2 apresenta alguns indicadores que mostram a evoluo do peso da indstria de equipamentos de telecomunicaes no total da indstria brasileira no perodo de 1996 a 2005. possvel observar que a participao do Valor da Transformao Industrial (VTI), do Pessoal Ocupado (PO) e da Massa Salarial (W) da indstria de equipamentos e telecomunicaes no total da indstria brasileira tm um movimento relativamente similar, crescendo nos dois anos iniciais da srie (1996 e 1997), passando por uma pequena queda em 1998 (ano da privatizao da Telebrs, quando ocorreu uma queda dos investimentos) e voltando a crescer nos anos seguintes, atingindo seu auge no ano de 2001, quando ocorreu a antecipao das metas de universalizao das operadoras de servios de telecomunicaes. No perodo de 2001 a 2003 a participao do VTI, PO e W da indstria de equipamentos de telecomunicaes no total da indstria brasileira se reduz, atingindo nveis mais baixos em 2003 (ano de crise na indstria de equipamentos de telecomunicaes no Brasil e no mundo). Em 2004 os indicadores de participao crescem como resultado da retomada dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes,

30

voltando a cair no ano de 2005 e se mantendo praticamente estvel no ano de 2006.

A participao relativa do VTI da indstria de equipamentos de telecomunicaes no VTI da indstria brasileira era de 1,4% em 1996, cresceu para 2,2% em 2001, caiu fortemente at 2003, atingindo seu menor valor no perodo (1,1%), subiu novamente em 2004 para 1,5% e em 2005 voltou para 1,3%, permanecendo assim em 2006. A participao relativa do PO da indstria de equipamentos de telecomunicaes no total do PO da indstria brasileira era de 0,4% em 1996, atingiu 0,7% em 2000, oscilou entre 0,3% (2003) e 0,5% (2004), permanecendo assim at o final do perodo. Em relao participao relativa da receita lquida de vendas da indstria de equipamentos de telecomunicaes na receita lquida de vendas da indstria brasileira, observa-se que esta participao, que em 1996 era de 1,1%, cresceu significativamente at 2001, quando atingiu 2,7%, e caiu fortemente at 2003, voltando para 1,5%. Nos anos seguintes (2004, 2005 e 2006) a participao relativa da receita lquida de vendas da indstria de equipamentos de telecomunicaes na receita lquida de vendas da indstria brasileira se estabilizou em torno de 2%.

Grfico 3: Participao relativa do segmento de equipamentos de telecomunicaes no total da indstria de transformao brasileira,

1996-2006 (em %)

3,0% 2,7%

2,5% 2,5%2,4%2,2% 2,2%

2,0% 2,0% 2,0% 1,9%

Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da PIA-IBGE OBS: Valor da Transformao Industrial (VTI), Pessoal Ocupado (PO) e Receita Lquida de

Vendas (RLV)

0,4% 0,5% 0,6% 0,6% 0,7% 0,6%

0,4% 0,3%0,5% 0,5% 0,5%

1,1%

1,7% 1,9% 1,9% 1,9%1,8% 1,8%

1,6%1,5% 1,5% 1,5%1,4% 1,3% 1,3%

1,1%1,0%

0,5%

0,0% 1996 1997 1998 2005 2006 1999 2000 2001 2002 2003 2004

PO -Pessoal Ocupado

RLV - Receita Lquida de Vendas

VTI - -Valor da Transformao Industrial

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O Grfico 4 apresenta a evoluo do Valor Bruto da Produo e do Valor

da Transformao Industrial no subsistema de equipamentos de telecomunicaes em milhes de reais e a relao entre estes dois indicadores. A evoluo destes indicadores (VP e VTI) acompanha a tendncia apresentada nos grficos e tabelas acima (crescimento at 2001, queda em 2002 e 2003 e retomada do crescimento em 2004). Vale notar que a variao decrescente da relao entre o VTI e o VP indica que o crescimento do VTI no acompanhou o crescimento do VP e, portanto, verifica-se uma tendncia permanente de queda na relao entre o Valor da Transformao Industrial e o Valor Bruto da Produo durante praticamente todo o perodo, indicando uma reduo da agregao local de valor. Esta discusso ser retomada na seo 2.3.1. Grfico 4: Valor Bruto da Produo e Valor da Transformao Industrial no

Subsistema de equipamentos de telecomunicaes no Brasil, 1996-2005 (em R$ milhes de 2005)

30.000,00 0,700

0,60025.000,00 0,575 0,540

0,50020.000,00

0,4380,4000,387 0,3800,3720,36515.000,00

0,309 0,289 0,280 0,30010.000,00

0,200

5.000,00 0,100

0,00 0,0001996 1997 1998 2004 2005 1999 2000 2001 2002 2003

VP VTI VTI/VP

Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da PIA-IBGE

Do ponto de vista da receita lquida de vendas total (RLV) do subsistema de equipamentos de telecomunicaes no Brasil, o grfico 4 mostra a mesma tendncia observada nos outros indicadores analisados. A RLV cresce rapidamente de 1996 a 2001, quando atinge seu maior valor no perodo considerado (R$ 27,6 bilhes), cai nos dois anos seguintes (2002 e 2003) para R$ 19,8 bilhes e R$ 16,2 bilhes e sobe no ano de 2004 para R$ 23,8 bilhes. Em 2005, a RLV do subsistema passa por uma pequena queda, caindo para R$ 22,6 bilhes.

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Grfico 5: Receita Lquida de Vendas total do subsistema de equipamentos de telecomunicaes no Brasil, 1996-2005 (em R$ milhes de 2005)

Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da PIA-IBGE

30.000,00

25.000,00

20.000,00

15.000,00

10.000,00

5.000,00

0,00 1996 2005 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

2.3. Evoluo recente da indstria brasileira de equipamentos de telecomunicaes

O processo de reestruturao pelo qual passou o setor de telecomunicaes brasileiro a partir do final da dcada de 1990 produziu impactos significativos sobre a estrutura e a dinmica da indstria nacional de equipamentos de telecomunicaes. Como principais resultados, esta seo destacar o aumento das importaes, a entrada de grandes empresas multinacionais fabricantes de equipamentos (com a conseqente diminuio da participao de empresas nacionais no total de vendas de equipamentos) e reduo dos investimentos em P&D.

No Brasil, a indstria de equipamentos de telecomunicaes passou por

um processo de crescimento acelerado no perodo ps-privatizao, que concentrou investimentos macios por parte das operadoras de servios de telecomunicaes. Desde a privatizao, o ano que concentrou o maior volume de investimentos foi 2001, quando as operadoras de servios de telecomunicaes anteciparam o cumprimento das metas de universalizao e o nvel de investimento do setor de telecomunicaes atingiu o seu pice, totalizando aproximadamente R$ 22 bilhes. Os grandes investimentos em modernizao e ampliao da rede de servios de telecomunicaes impulsionaram o crescimento da indstria de equipamentos. No entanto, o rpido crescimento da demanda por equipamentos no pde ser suprido pela indstria local, o que resultou num grande aumento do volume de importaes no ano de 2001.

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Aps o auge do crescimento dos investimentos em 2001, os anos de 2002 e 2003 foram marcados por reduo significativa de investimentos e conseqentemente, pela estagnao do crescimento. Isso foi resultado, por um lado, da antecipao das metas de universalizao previstas nos contratos de concesso e realizada pelas operadoras de servios e, por outro, pela ampla e profunda crise que marcou o setor de telecomunicaes em nvel mundial neste perodo. Em 2004 percebe-se uma retomada dos investimentos das operadoras e, conseqentemente, do crescimento do setor de telecomunicaes. Em 2005 o crescimento do setor foi puxado pelo crescimento da telefonia celular. Segundo o Anurio Telecom (2006), o faturamento total do setor de telecomunicaes foi 32,8% maior do que no ano anterior, os investimentos das operadoras de telefonia celular atingiram R$ 8,4 milhes e o das operadoras de telefonia fixa somaram R$ 6,1 milhes.

No ano de 2006 o setor de telecomunicaes como um todo apresentou

um crescimento da receita da ordem de 10% (Anurio Telecom 2007), sendo que em termos especificamente do faturamento da indstria de equipamentos de telecomunicaes houve praticamente uma estagnao. Neste ano, os investimentos das operadoras se concentraram na expanso das redes de banda larga. Segundo os dados da Abinee (http://www.abinee.org.br/abinee/decon/decon15.htm), o faturamento da indstria em 2007 cresceu, e a projeo que a implantao das redes de 3G tenha provocado um aumento mais significativo do faturamento da indstria de equipamentos em 2008.

Tabela 5: Faturamento da indstria de equipamentos de

telecomunicaes

R$ milhes 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008*

Telecomunicaes 11.431 7.431 8.760 13.006 16.451 16.742 17.465 21.132* Projeo Fonte: Abinee/Teleco

2.3.1. Evoluo da balana comercial do setor de equipamentos de telecomunicaes

A tabela 6 apresenta os dados da balana comercial brasileira para o

perodo de 1998 a 2008. Os dados mostram que a privatizao da Telebrs em 1998 e o crescimento dos investimentos das operadoras de servios impulsionaram as importaes de equipamentos de telecomunicaes, aumentando significativamente o dficit da indstria at 2001. Neste ano, as importaes de equipamentos de telecomunicaes atingiram o maior valor at ento, totalizando US$ 3,7 bilhes. No ano seguinte as importaes caram para

34

US$ 1,5 bilho como resultado da retrao dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes. Em 2003 as importaes mantiveram-se em patamar semelhante, voltando a subir progressivamente a partir de 2004, at atingir US$ 4,9 bilhes em 2007. Em 2008, os nmeros acumulados at setembro apontavam para uma tendncia preocupante: o valor das importaes alcanou aproximadamente US$ 5,8 bilhes. Embora a informao sobre o valor acumulado de importaes de 2008 ainda no esteja disponvel, considerando a valorizao do dlar e o encarecimento das importaes que resultaram da crise internacional deflagrada em setembro daquele ano, as importaes totais devem ter atingido um valor extremamente alto. Este , sem dvida, um dos principais focos de poltica a ser implementada para melhorar a competitividade da indstria de equipamentos de telecomunicaes.

interessante notar que o aumento das importaes est diretamente

relacionado retomada do crescimento do setor de telecomunicaes brasileiro, que passou por um perodo de estagnao durante os anos de 2002 e 2003 em funo da concentrao dos investimentos das operadoras em 2001 e tambm da crise generalizada pela qual o setor passou no perodo de 2001 a 2003. Pode-se observar que a retomada do crescimento do setor a partir de 2004 e dos investimentos das operadoras de servios de telecomunicaes coincide com o aumento das importaes de equipamentos. Assim, em 2004 as importaes voltaram a crescer atingindo US$ 2,4 bilhes e aumentando ainda mais para US$ 3 bilhes em 2005. Em 2006 as importaes atingiram o valor de US$ 4 bilhes. Em 2007 e 2008, perodo no qual se percebe tambm o crescimento dos investimentos das operadoras, as importaes de equipamentos atingem os maiores valores do perodo.

O aumento das importaes de equipamentos resultante do crescimento

do setor de telecomunicaes aponta para uma fragilidade da indstria brasileira de equipamentos de telecomunicaes. Quando cresce o investimento das operadoras de servios, crescem tambm as importaes. Isto resultado de um amplo processo de desnacionalizao e internacionalizao do setor de telecomunicaes, em curso desde a privatizao da Telebrs.

A tabela 6 tambm mostra que, paralelamente ao aumento das

importaes, a partir de 2000 as exportaes de equipamentos de telecomunicaes cresceram significativamente, viabilizando uma reduo do dficit comercial. Em 1998 as exportaes somaram apenas US$ 329 milhes e em 2000 este valor havia crescido para US$ 1,3 bilho. De 2004 para 2005 as exportaes crescem substancialmente, passando de US$ 1,5 bilho para US$ 3,2 bilhes. Em 2006 as exportaes crescem ainda mais, atingindo US$ 3,6 bilhes. Em seguida, as exportaes diminuem em 2007 (passam para US$ 2,7 bilhes) e at setembro de 2008 o valor das exportaes atinge US$ 2,3 bilhes.

Como pode ser observado na tabela 7, o grande aumento do total das

exportaes a partir de 1999 est relacionado principalmente ao crescimento

35

36

das vendas externas de telefones celulares. Em 1998 a participao das exportaes de telefones celulares no total das exportaes brasileiras de equipamentos de telecomunicaes era de 31,6%. Esta participao cresceu nos anos seguintes, atingindo 75% em 2006. Cabe destacar que o grande problema associado alta participao dos telefones celulares na pauta de exportaes brasileira est ligado ao fato de que os telefones celulares produzidos no Brasil possuem um alto contedo importado de partes e peas, no inferior a 80% (Szapiro, 2005). Ressalta-se que a queda no valor total das exportaes percebida no ano de 2007 est diretamente associada reduo das exportaes de telefones celulares, o que se deveu principalmente mudana de estratgia de duas grandes empresas exportadoras deste tipo de equipamento, a Motorola e a Nokia.

Outro aspecto que as informaes da tabela 7 mostram que a

participao das importaes de partes e peas em geral (para multiplexao, comutao e transmisso) vem crescendo no total da pauta de importaes. Em 1998 a participao das importaes de partes e peas para multiplexao, comutao e transmisso era de 33,3% e em 2006 esta participao tinha mais do que dobrado, atingindo 61,5%. Nos anos seguintes, 2007 e 2008, esta participao se reduziu, situando-se em torno de 55%.

Um dos fatores que pode contribuir para o aumento da participao das

importaes de partes e peas em geral a desvalorizao do dlar que ocorreu em alguns perodos, prvocando o barateamento das importaes. Neste caso, as empresas em geral (e no s do setor de equipamentos de telecomunicaes) tm um estmulo a aumentar as importaes em detrimento da produo nacional. Outro aspecto que tambm pode estimular o aumento da participao das importaes de partes e peas para multiplexao, comutao e transmisso o processo de desnacionalizao da indstria de equipamentos de telecomunicaes, que tem como resultado o aumento de participao das empresas subsidirias de multinacionais no mercado de equipamentos de telecomunicaes. Estas empresas implementam estratgias de diviso de trabalho entre as filiais do grupo,