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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PINTURAS RUPESTRES E GEODIVERSIDADE: Uma análise sobre a Serra da Boa Vista, Prata-MG Lilian Carla Moreira Bento (a) (a) Instituto de Ciências Humanas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia, [email protected] Eixo: Geoarqueologia, Geodiversidade e Patrimônio Natural Resumo/ A Geodiversidade compreende, de modo genérico, os elementos abióticos da natureza e apresenta diversos valores, a saber: intrínseco, científico, funcional, econômico, estético e cultural. No caso deste último, ele revela-se, segundo Mochiutti et al. (2012) nas inúmeras relações que existem entre a sociedade e o mundo natural que a rodeia, no qual ela está inserida e ao qual ela pertence. Existem íntimas relações entre elementos da geodiversidade e as comunidades humanas, sejam no processo de ocupação de determinada região, no uso destes elementos para a sua sobrevivência e desenvolvimento, na toponímia dos lugares, na influência sobre o folclore, a religiosidade e a identidade destas populações. Considera-se que a pintura rupestre pode ser considerada um elemento da Geodiversidade, do ponto de vista do seu valor cultural, porque simboliza a relação dos nossos antepassados com os elementos abióticos para elaboração de suas representações gráficas. O objetivo deste trabalho é retratar as pinturas rupestres encontradas na Serra da Boa Vista, localizada no município de Prata, Minas Gerais, buscando correlacionar essas representações com a Geodiversidade local. Espera-se que os resultados possam subsidiar ações de conservação e o uso da área para fins científicos. Palavras chave: Geoarqueologia. Patrimônio natural. Patrimônio cultural. Geoconservação. 1. Introdução A Geodiversidade é um conceito que começou a ser divulgado a partir de meados da década de 1990 como uma forma de se tentar dar mais visibilidade e proteção aos elementos

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

PINTURAS RUPESTRES E GEODIVERSIDADE: Uma análise

sobre a Serra da Boa Vista, Prata-MG

Lilian Carla Moreira Bento (a)

(a) Instituto de Ciências Humanas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia,

[email protected]

Eixo: Geoarqueologia, Geodiversidade e Patrimônio Natural

Resumo/

A Geodiversidade compreende, de modo genérico, os elementos abióticos da natureza e

apresenta diversos valores, a saber: intrínseco, científico, funcional, econômico, estético e cultural.

No caso deste último, ele revela-se, segundo Mochiutti et al. (2012) nas inúmeras relações que

existem entre a sociedade e o mundo natural que a rodeia, no qual ela está inserida e ao qual ela

pertence. Existem íntimas relações entre elementos da geodiversidade e as comunidades humanas,

sejam no processo de ocupação de determinada região, no uso destes elementos para a sua

sobrevivência e desenvolvimento, na toponímia dos lugares, na influência sobre o folclore, a

religiosidade e a identidade destas populações. Considera-se que a pintura rupestre pode ser

considerada um elemento da Geodiversidade, do ponto de vista do seu valor cultural, porque

simboliza a relação dos nossos antepassados com os elementos abióticos para elaboração de suas

representações gráficas. O objetivo deste trabalho é retratar as pinturas rupestres encontradas na

Serra da Boa Vista, localizada no município de Prata, Minas Gerais, buscando correlacionar essas

representações com a Geodiversidade local. Espera-se que os resultados possam subsidiar ações de

conservação e o uso da área para fins científicos.

Palavras chave: Geoarqueologia. Patrimônio natural. Patrimônio cultural.

Geoconservação.

1. Introdução

A Geodiversidade é um conceito que começou a ser divulgado a partir de meados da

década de 1990 como uma forma de se tentar dar mais visibilidade e proteção aos elementos

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abióticos da natureza. Pode ser considerado um conceito análogo ao de Biodiversidade e, como

tal, de forma geral, compreende toda a diversidade de elementos abióticos como os minerais,

rochas, solos, formas de relevo, entre muitos outros exemplos.

Assim como a Biodiversidade, a Geodiversidade apresenta uma grande importância a

qual foi estruturada em diversos valores por Gray (2004), a saber: intrínseco, científico,

funcional, econômico, estético e cultural. As pinturas rupestres podem ser concebidas como um

exemplo deste último tipo de valor, pois representa a relação da sociedade ao longo do tempo

com os elementos abióticos, no caso, especialmente, os minerais, as rochas, o solo e o relevo.

A pintura rupestre está inserida num contexto mais amplo que é a Arte rupestre e esta

deriva do latim ar rupes “arte sobre a rocha”, englobando as imagens produzidas sobre

estruturas rochasas ao ar livre, como em paredões, lajedos ou em áreas protegidas, como

cavernas (VIANA et al., 2016). Os autores supracitados explicam que a arte rupestre envolve

dois métodos: o de remoção ou abertura da superfície rochosa, denominado de gravado e o

pintado, alvo deste estudo, que é representado por técnicas de adição de pigmentos.

Segundo Prous (1992) quando as pinturas rupestres apresentam as mesmas

características e são feitas por grupos de culturas similares, são reconhecidas como tradição.

Sua principal característica é justamente os grafismos representando cenas ou mitos, inclusive

em lugares diferentes. Relevante citar que existem alguns critérios que contribuem na

identificação dessa classificação, entre eles, o tema grafado, os aspectos gráficos, o tipo de tinta,

a técnica utilizada, a escolha dos sítios, dentre outros.

No Brasil é possível encontrar arte rupestre nos cinco estados e alguns autores

argumentam sobre a existência da Tradição Geométrica, Agreste, São Francisco, Planalto,

Litorânea, Amazônia e Astronômica, havendo ainda subdivisões (JUSTAMOND et al., 2017).

Na área de estudo, as pinturas são associadas a Tradição Planalto, a qual será posteriormente

detalhada.

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O objetivo deste trabalho foi abordar as pinturas rupestres localizadas na Serra da Boa

Vista, dando mais destaque aos elementos da Geodiversidade fundamentais para que essa arte

fosse criada. A metodologia empregada envolveu revisão bibliográfica pertinente ao tema,

essencialmente sobre arte rupestre e caracterização física da área de estudo. Foi realizado

também um trabalho de campo no local, quando foi possível coletar as coordenadas geográficas

e fazer o registro fotográfico do sítio.

Os resultados aqui apresentados fazem parte de um trabalho maior voltado a

inventariação de geossítios da mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Foram

identificados várias categorias de geossítios e neste caso o foco foi apenas as pinturas rupestres

e ressalta-se que se trata, nesse caso, de uma abordagem inicial, por não especialista em

Arqueologia. A justificativa é buscar o entendimento do sítio, mediante um viés mais

geográfico, de forma a estimular novas pesquisas e a proteção do local.

2. Localização e caracterização da área de estudo

As pinturas rupestres são encontradas na Serra da Boa Vista, localizada no município

do Prata, Minas Gerais, mesorregião do Triângulo Mineiro (Figura 1).

Figura 1 – Localização do município onde são encontradas as pinturas rupestres. Fonte: Lopes, 2016,

p. 86.

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Esse município faz parte da Província Sedimentar do Paraná e compreende três tipos

litológicos principais: i- basaltos da Formação Serra Geral encontrados, principalmente, ao

longo dos cursos d’água, ii- arenitos e conglomerados da Formação Marília sustentando as

partes mais elevadas do relevo e iii- arenitos da Formação Vale do rio do Peixe, ao longo das

outras áreas do município, em destaque para as mais rebaixadas em relação à anterior (Figura

2).

Figura 2 – Unidades litológicas da mesorregião do Triângulo e Alto Paranaíba. Fonte:

Bento, 2018, p. 80.

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A Serra da Boa Vista é, na verdade, um relevo residual do tipo tabular que se destaca

topograficamente em relação as áreas vizinhas (Figura 3). Tal realidade deve-se as suas

características litológicas locais, uma vez que esse tipo de relevo, encontrado em grande número

no Alto Paranaíba, está associado à Formação Marília, especificamente em função da

ocorrência de níveis de calcrete e silcrete.

Figura 3 – Vista frontal da Serra da Boa Vista. Autor: Bento, 2016.

Miyazaki e Bento (2018) argumentam que esses residuais são constituídos por arenitos

grossos a conglomerados e que essas rochas apresentam grande quantidade de carbonato que

aparece tanto como concreção (nesse caso recebe o nome de calcrete) ou nódulos, cimento,

fragmentos fósseis ou preenchimento de microfraturas. Associados às calcretes estão as

silcretes (concreção de sílica), ambas são as responsáveis pela manutenção dos residuais por

apresentarem maior resistência à atuação dos agentes intempéricos. Essas concreções formam,

portanto, a feição geomorfológica denominada de cornija típica de relevos tabuliformes.

A explicação para a existência desses dois tipos de concreção, ainda que de composição

química diferente, deve-se a uma série de fatores interligados, tais como as oscilações

climáticas e consequentes alterações no nível do lençol freático, bem como o pH do meio

(RIBEIRO, 2000). Matta et al. (2017) acreditam que nos períodos de maior aridez o pH do meio

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é abaixado, favorecendo a concentração de solutos e a deposição de sílica no ambiente e, em

contrapartida, a diminuição da aridez faz com que o pH fique mais alcalino e favoreça à

precipitação dos carbonatos. Ribeiro (2000) acrescenta que quando ocorre a formação das

calcretes há a dissolução da sílica a qual enriquece os fluídos percolantes e estes se movimentam

de forma ascendente e que, em condições adequadas, geralmente de maior aridez, precipitam-

se na forma de silcrete, na parte superior do pacote.

3. Resultados e discussão

As pinturas rupestres encontradas na Serra da Boa Vista demonstram o modo de vida

dos nossos ancestrais, mas também sua relação com os elementos naturais da Biodiversidade e

da Geodiversidade existentes no local. Essas pinturas, expostas em um único pequeno painel,

têm idade aproximada de 11.000 anos, segundo testes do carbono 14, e sua autoria é atribuída

aos caçadores-coletores da tradição Itaparica, do período pré-cerâmico (OLIVEIRA FILHO;

BRITO; GONÇALVES, 2012).

Beber (1994) explica que estes se protegiam em cavernas e abrigos em rochas calcárias,

areníticas ou quartzíticas na margem de rios e colinas. Além disso, a alimentação incluía

animais variados (aves, mamíferos, répteis, todos de espécies holocênicas), bem como frutos e

castanhas provenientes da coleta.

Na área de estudo, as pinturas são associadas a Tradição Planalto (Figura 4),

[...] caracterizada pela predominância visual e quantitativa de zoomorfos,

sendo o veado uma figura constante e frequentemente associada ao peixe.

Chama a atenção a quase total ausência de cobras e emas. São poucos os

antropomorfos e as figuras geométricas, não havendo cenas (grafismos de

ação), mas sim, a justaposição dos elementos. (VERONEZE, 1992, p. 24).

Quando analisada apenas do ponto de vista de uma representação gráfica, simbolizando

um modo de vida, fica difícil correlacionar as pinturas rupestres com a Geodiversidade. No

entanto, quando incluídos o ambiente e a matéria-prima que foram utilizados nessas

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representações dá-se um importante passo no entendimento dessa interface. Os locais

escolhidos para esse tipo de representação não são aleatórios, correspondem a pontos que

podem ser usados tanto como habitação como substrato para a arte rupestre.

Figura 4 – Pinturas rupestres na Serra da Boa Vista, A e B – Detalhes para imagens de mamíferos em

tons mais claros e C- Sobreposição de imagens, típica técnica da Tradição Planalto. Fonte: A e B –

Miyazaki, 2016 e C - Junqueira, s.d.

A Serra da Boa Vista apresenta todas as características favoráveis, são áreas mais

elevadas e com pequenas cavidades, originadas pela erosão diferencial entre as camadas

sedimentares que apresentam alternância quanto à resistência na Formação Marília, passíveis

de utilização como abrigo e proteção das intempéries e animais. E, além disso, são locais que

apresentam paredes razoavelmente planas e verticais ideais para a confecção das telas (Figura

5).

Figura 5 – Características da Serra da Boa Vista: A e B- Pequenas cavidades formadas pela erosão

diferencial e C- Paredes verticalizadas propícias a arte rupestre. Autor: Miyazaki, 2016.

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As rochas são exemplos de elementos da Geodiversidade e a Formação Marília é

composta, em grande parte, por arenitos e conglomerados, ou seja, por rochas do tipo

sedimentar. A gênese desse tipo de rocha depende da existência de sedimentos (partículas

sólidas originadas do intemperismo) e seu consequente transporte, deposição e transformação

a partir do processo de litificação. Este último é fundamental, pois é ele que faz com que os

sedimentos sejam convertidos em rocha sedimentar, mediante etapas de compactação e

cimentação (WICANDER; MONROE, 2016).

Além da tela, que são as rochas, as pinturas rupestres demandam pigmentos para formar

as tintas que vão dar cor aos desenhos. Esses podem ser de origem orgânica ou inorgânica,

sendo os minerais as principais fontes destes últimos. Cada mineral é reduzido a pó, diluído em

água e dá uma coloração diferente, a hematita, tons avermelhados; óxido de manganês, cor

preta; já os tons marrons, alaranjados ou amarelos resultam de misturas com outros elementos

e vegetais. Os minerais também são elementos da Geodiversidade, sendo considerados, do

ponto de vista espacial, como as menores porções e a base para a formação de outros elementos,

tais como as rochas, solos, formas de relevo etc. (NASCIMENTO; SANTOS, 2013).

Os autores supracitados explicam que o ocre (Figura 5) é a tinta mineral mais usada

nesse tipo de arte e aparece na natureza associada a óxidos ou hidróxidos de ferro, tais como a

hematita e goethita. Esses minerais podem ser encontrados na sua forma primária,

habitualmente em rochas magmáticas básicas como o basalto, comuns também na área de

estudo. Ou, na sua forma secundária e mais fácil de ser usada, a partir de sua transformação em

mineral secundário do solo, as argilas, mediante processos de intemperismo.

Figura 5 – Ocres obtidos de óxidos de ferro naturais. Fonte: Gomes; Rosina; Oosterbeek,

2014, p. 194.

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Tal como verificado por Souza (2005) em pinturas rupestres de abrigos na Reserva

Particular do Patrimônio Natural Pousada das Araras em Serranópolis-GO, o painel da área de

estudo apresenta tons que variam do amarelo claro ao vermelho, porém, o mesmo já apresenta

sinais de alteração naturais, tais como intemperismo químico. Predominam as reações de

oxidação (conferem tons avermelhados a rocha) e hidratação (neste caso é comum a

transformação da hematita e magnetita em limonita, passando a ter cores amareladas), além da

ocorrência de tons esbranquiçados gerados pela evaporação da água e concentração de sais.

Apresenta também problemas físicos, como ruptura de partes da parede, bem como

interferência de fatores biológicos, como ninhos de insetos (Figura 6).

Figura 6 – Fotografias com destaque para processos de alteração naturais: A- seta branca

aponta para possíveis ninhos de insetos; seta azul tons avermelhados retratando possível reação de

oxidação e seta verde apontando para local que ocorreu quebra de parte do painel, com a pintura

incompleta e B- Seta branca apontando ninhos de insetos e Seta amarela tons esbranquiçados com

provável concentração de sais. Autor: Moraes, 2016.

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4. Considerações finais

As pinturas rupestres da Serra da Boa Vista representam um exemplo de valor cultural

da Geodiversidade, retratando a relação dos nossos antepassados com os elementos abióticos

(e bióticos também). Uma relação ditada pelos tipos de minerais, rochas e relevo da região por

onde migravam em busca de comida, abrigo e locais onde pudessem registrar sua arte.

É importante que esse tipo de registro não seja analisado apenas do ponto da

Arqueologia, mas também de disciplinas ligadas às Ciências da Terra, sendo uma forma de se

dar visibilidade aos elementos abióticos da natureza, chamando a atenção da humanidade para

sua importância e necessidade de valorização e conservação. “[...] A “tela” é tão importante

quanto a arte rupestre (exposta sob a forma de pinturas e/ou gravuras) e dessa forma precisa ser

conhecida e conservada.” (NASCIMENTO; SANTOS, 2013, p. 37).

Uma análise integrada das pinturas rupestres, pensando-se do ponto de vista histórico,

mas também geológico e sua interpretação, numa linguagem acessível ao público leigo, seja

por meio personalizados ou não, é uma possibilidade de fazer com que a comunidade e

visitantes reconheçam o local como um patrimônio natural e cultural.

Atualmente as pinturas da área em questão, localizadas numa propriedade privada, não

contam com nenhum tipo de proteção e estão expostas a processos de alteração naturais e

antrópicos, suscitando a necessidade do poder público e instituições de ensino intervirem e

buscarem soluções para que esse importante retrato do nosso passado não seja esquecido.

Espera-se que a divulgação desse trabalho seja o primeiro passo nessa direção.

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