Piranha Carneiro

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  • 7/25/2019 Piranha Carneiro

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    Revista Brasileira de Geocincias Joseli Maria Piranha & Celso Dal R Carneiro 39(1): 129-137, maro de 2009

    Arquivo digital disponvel on-line no site www.sbgeo.org.br 129

    O ensino de geologia como instrumento formador de umacultura de sustentabilidade

    Joseli Maria Piranha1& Celso Dal R Carneiro2

    Resumo A disciplina Cincia do Sistema Terra ocupa um lugar particular dentro das Cincias Naturais.Constitui rea do conhecimento essencial na compreenso do equilbrio e da complexidade do Sistema Ter-restre, do qual todos dependemos. Neste contexto, preconiza-se que uma melhor integrao das Cincias daTerra nos diversos sistemas educativos pode contribuir para a formao de cidados informados, participativose comprometidos com a gesto responsvel do planeta e seus recursos. O papel da educao cientca, notada-mente em Cincias da Terra, constitui instrumento fundamental de uma educao para a sustentabilidade. A ini-ciativa sugere profundas reorientaes nos sistemas educativos vigentes e desaa os educadores a implementar

    abordagens educativas inovadoras, que no se connem ao conhecimento substantivo de Geocincias, mas que

    permitam dotar os cidados de valores e competncias necessrias para um modo de vida sustentvel. O mdu-lo Geo-Escola So Jos do Rio Preto evidenciou que o emprego desses recursos, no tratamento de contedos de

    Cincias do ensino formal, constitui mediao pedaggica valiosa para desenvolver, no indivduo, uma posturacomprometida com a sustentabilidade. Em paralelo, ao se promover maior interao com professores, revelam-

    se oportunidades promissoras de difuso das Geocincias.

    Palavras-chave:Educao, Geologia, Cincia do Sistema Terra, cidadania, educao bsica, sustentabilidade.

    Abstract Geology teaching as a tool for developing a culture of sustainability. The Earth SystemScience discipline occupies a particular place within the Natural Sciences, as an essential area of knowledge forunderstanding the balance and complexity of the Earth System, from which we all depend. In this context, im-

    proving the integration of Earth Sciences in the various educational systems can help the formation of informed

    citizens, more involved and committed to a responsible management of the planet and its resources. The roleof science education, particularly in Earth Sciences, is a fundamental tool to education for sustainability. The

    initiative points out for the need of deep changes in the existing education systems; it dees the educators to

    improve their educational approaches as well. It allows citizens to value and to develop skills needed for a sus-

    tainable way of life. The module Geo-School Sao Jose do Rio Preto showed that for education in schools theseresources when adopted for developing contents of Sciences can reach a differentiated educational practice,which is useful to develop citizenry. In parallel, while promoting greater interaction with teachers, there are

    promising opportunities for the dissemination of Geosciences.

    Keywords:Education, Geology, Earth System Science, citizenry, basic education, sustainability.

    1 - UNESP, Instituto de Biocincias, Letras e Cincias Exatas, Depto. Qumica e Cincias Ambientais, So Jos do Rio Preto (SP), Brasil.E-mail: [email protected]

    2 - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geocincias, Depto. Geocincias Aplicadas ao Ensino, Campinas (SP), Brasil.

    E-mail: [email protected]

    fundamental para a sustentabilidade, a educao do ci-dado deve capacitar os indivduos para a participaona tessitura social, de forma motivada e competente,assumindo responsabilidades quanto aos interesses edestino da coletividade.

    A idia de desenvolvimento sustentvel, cons-truda como uma situao de justia social, para toda ahumanidade, onde o desenvolvimento scio-econmicoseria atingido em harmonia com os sistemas de suporteda vida na Terra (Cordani 2000), convida reexo ereforma dos modelos e paradigmas de desenvolvimentoe ainda de comportamento humano.

    No mbito da Sociedade do Conhecimento(no sentido proposto por Adam Schaff 1995), os avan-os da Cincia, a facilidade de acesso em tempo real e a

    INTRODUO A contribuio das Geocincias naformao de uma Cultura de Sustentabilidadetem sido re-forada em diferentes oportunidades. A prpria deniodoAno Internacional do Planeta Terra(Berbert 2007, Fi-gueiredo 2007) sinal armativo de que o conhecimento

    da Cincia do Sistema Terra constitui embasamento cadavez mais necessrio na formao dos cidados.

    Diversos autores assinalam a necessidade deenvolvimento mais efetivo da prpria pesquisa em edu-cao em cincia na formao das pessoas em geral.Em diferentes contextos, estudos revelam embaraospara que a educao contribua na construo de cida-dania, entendida como participao total na xao dosentido da vida coletiva e na deliberao acerca do des-tino comum da sociedade (Valle 2000, p. 26). Aspecto

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    rapidez com que as informaes so veiculadas denun-ciam os impactos da presena humana no planeta. Aomesmo tempo, so capazes de tornar as pessoas maiscientes de sua natureza terrena. A velocidade dos avan-os cientcos, tecnolgicos e culturais introduz mu-danas conceituais na humanidade do sculo XXI.

    Nesse contexto, a Dcada das Naes Unidas daEducao (Literacy), 2003-2012, expressa uma vontadecoletiva da comunidade internacional na promoo deum ambiente literado para todos, tanto nos pases desen-volvidos como nos pases em desenvolvimento. Para al-canar os objetivos e propsitos da Dcada da Educaoa UNESCO criou, como estratgia global e mecanismooperacional, uma campanha de 10 anos de ao colabo-rativa aLiteracy Initiative For Empowerment (LIFE)(UNESCO 2006). Dentre outras estratgias a campanhadestaca a importncia de inovar. As polticas e prticaseducacionais inovadoras implicam tanto o suporte s

    prticas de qualidade existentes, como o acesso infor-

    mao e construo de um novo conhecimento.Em justa sintonia, tem-se desenvolvido inves-

    tigaes relativas importncia do ensino de Cinciado Sistema Terra, com a nalidade de explorar a re-lao homem-natureza, buscando respostas prticassobre a utilidade e efetividade dos conhecimentos deGeocincias para formao de cidados cultos do pontode vista da cincia. Com esse propsito, o Projeto Geo-Escola (Carneiro & Barbosa 2005, Carneiro et al. 2007),desenvolvido na forma de mdulos regionais, disponi-biliza material didtico a professores de educao bsi-ca, compreendendo informaes geolgicas, imagens e

    mapas de uma dada regio. O projeto fomenta o uso docomputador no ensino, permitindo explorar sobretudoa linguagem visual, fortemente vinculada ao raciocniogeolgico, com base nos quais os alunos podem formaruma idia acerca dos mecanismos evolutivos do plane-ta e da permanente interao entre as esferas terrestres.Os materiais e recursos produzidos nos diversos mdu-los do Projeto valorizam procedimentos metodolgicos

    tpicos das Geocincias e da Geologia, e estimulam ainterpretao e a imaginao.

    O mdulo Geo-Escola desenvolvido em SoJos do Rio Preto (SP) (Piranha & Carneiro no prelo)evidenciou que o emprego desses recursos no tratamen-to de contedos do ensino formal constitui diferenciadamediao pedaggica, valiosa para desenvolver, no in-divduo, uma postura cidad, comprometida com a sus-tentabilidade (Piranha 2006). Pode-se assim aquilatar oalcance dos trabalhos educacionais na formao da cul-tura prossional docente e, simultaneamente, avaliar suainuncia em mudanas de comportamento individual ecomunitrio dos educandos (Piranha & Carneiro 2007).

    Neste artigo sero focadas algumas anidadesdos referenciais tericos da investigao realizada nombito do Modulo So Jos do Rio Preto do ProjetoGeo-Escola (Fig. 1), com questes de interesse educa-cional para o fomento de uma cultura de sustentabili-dade.

    Objetivos A carncia de conceitos geolgicos e geo-cientcos na populao constitui barreira quase intrans-

    ponvel capacitao do indivduo para opinar, decidir,escolher e inuir em uma srie de decises adotadas pelacomunidade para se desenvolver. Assim, o interesse poranalisar o alcance de prticas educativas para formaode uma cultura de sustentabilidade leva a investigar apertinncia dos conhecimentos geolgicos para promo-o de mudanas de costumes, atitudes e valores noseducandos, no processo de ensino-aprendizagem.

    Sem pretender discutir questes relativas ao

    antropocentrismo, importa considerar a noo de res-ponsabilidade que compete ao indivduo, como agentetransformador.

    Considerando-se que o saber cientco ine-rente natureza humana, entende-se que formar cida-dos cienticamente cultos signica possibilitar que osindivduos agreguem tal conhecimento aos saberes co-tidianos que os constituem. Busca-se aqui tratar de al-

    Figura 1 - Mapa de localizao do municpio de So Jos doRio Preto.

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    gumas contribuies prprias do ensino-aprendizagemde Geologia, capazes de contribuir para a promoo dereexes e de mudanas, individuais e coletivas, quefavoream a sustentabilidade.

    A NATUREZA SISTMICA DA GEOLOGIACOMO INTEGRADORA DO ENSINO DE CIN-CIA A Geologia, a cincia histrica da natureza(Potapova 1968), ao ocupar-se do entendimento dosmateriais, processos e produtos da evoluo planet-ria em suas mltiplas relaes, estabelece interfacessistmicas com os ramos das Geocincias. Moderna-mente denominada Cincia do Sistema Terra, integraas diferentes esferas em que a matria se organiza e nasquais todas as formas de energia provocam mudanas medida que so permutadas. Esta condio permite, deforma peculiar,reconhecer o signicado da ao huma-na no planeta, o que parece ser, no momento, questocentral da idia de sustentabilidade.

    Assim, a Cincia do Sistema Terra busca abran-ger e compreender as relaes entre as esferas rochosase as demais esferas do planeta (atmosfera, hidrosfera,

    biosfera, tecnosfera). Nesse contexto, a partir da dca-da de 1990, a abordagem geolgica trouxe nova luz histria da Terra, na medida em que permite examinaros processos terrestres como um todo e em suas par-tes, conforme registrados na organizao, disposio ecomposio das esferas rochosas.

    Tal convergncia de tendncias abriu amplocampo de pesquisa integrada que considera a Terracomo um todo. Temas tipicamente geolgicos como a

    teoria da Tectnica de Placas e geologia planetria pas-saram a ser associados aos processos atuais da atmos-fera e hidrosfera, para reconceituar os impactos am-bientais e os acidentes naturais. Nesse modo realista dever a cincia, que enfatiza aspectos ticos, loscos ehistricos, diversos problemas gerais do ambiente e te-mas como mudana climtica global e desaos globaisrelacionados com a sustentabilidade da vida, so trata-dos como diferentes aspectos da interao dinmica dohomem com o planeta.

    O aprofundamento da crise ambiental, muitasvezes contestado (ver p. ex. Sowell 2007), pe em ris-co a preservao da espcie humana e seu nvel atual de

    civilizao, requerendo tratamento interdisciplinar dosproblemas e aprofundamento dos estudos nas diversasreas de conhecimento. Isso revela a clara necessidadede uma atitude tica frente sociedade e natureza, paracontemplar os direitos e as potencialidades do homem

    para interagir com a natureza (Carneiro et al.2005).A perspectiva de estudo da Cincia do Sistema

    Terra procura dar importncia aos ciclos biogeoqumicosda natureza (Mackenzie & Mackenzie 1995), ao tratarprocessos das esferas naturais. A viso sistmica, apoia-da em elementos aplicados da Geologia, ajuda a explicaros padres dinmicos dos processos naturais. Frodeman

    (2000) destaca que o uso do termo geologia (do grego,Gou Gaia) permite abarcar o conceito de Terra-me,fonte da vida ou o planeta que ns chamamos de lar,evidenciando os vnculos da vida matria planetria.

    Em paralelo e provavelmente sem conexo dire-ta com tal conhecimento, mas relacionadas a um cresci-mento da conscincia ambiental, alteraes de toda or-dem comeam a surgir, aqui e ali, e acabam por permearas comunidades humanas, nos diferentes continentes.Fenmenos relacionados ao das sociedades tornam-se relevantes na abordagem sistmica da biosfera, comoa mudana climtica global, alteraes do efeito estufa,precipitao cida, degradao do solo etc. Aspectos re-gionais podem exemplicar fenmenos e transformaese passam a fazer parte da abordagem global.

    Formar um cidado responsvel e sensvel squestes afetas Vida e ao planeta pode advir de umaeducao que permita ao indivduo reconhecer o que o planeta, como ele funciona e como, nesse espao eao longo do tempo, se processam as relaes da Vida.So estes alguns atributos singulares da Geologia queconcebe de forma sistmica a entidade planetria e seushabitantes. Tal corpo de conhecimentos, somados

    noo de globalizao, facilita que o indivduo reco-nhea sua identidade/cidadania terrena, entendendo-sepor cidado terreno o indivduo responsvel pelo uso eocupao do meio natural e sensvel aos problemas am-

    bientais e importncia da Vida (Morin & Kern 2002).Em ateno importncia da formao de ci-

    dados cienticamente cultos, Cachapuz et al. (2002,p. 61) estudaram contributos epistemolgicos, da his-tria da cincia e da psicologia da aprendizagem emtransposio para o campo da educao em cincia, econcentraram a ateno na busca e apropriao crticade elementos fundamentadores de uma teorizao para

    a educao em cincias, por sua vez, tambm ela capazde orientar prticas educacionais.Com tais pressupostos e em ateno ao quadro

    de emergncia planetria com que se depara a humani-dade (Praia et al.2007), cumpre considerar o alcancedo ensino da Geologia por uma sociedade mais culta eatenta idia da sustentabilidade, como novo paradig-ma de desenvolvimento.

    CINCIA DO SISTEMA TERRA COMO BASEDA EDUCAO VOLTADA PARA A SUSTENTA-BILIDADESustentabilidade Princpio difundido juntamentecom a idia de globalizao, a sustentabilidade emergedo sculo XX como uma ordem ou conduta humanavoltada para a permanncia da vida no planeta.

    Reunies, documentos, tratados e programasinternacionais ressaltam a importncia dessa con-cepo (Cordani 1995); entretanto, o histrico evo-lutivo do conceito de sustentabilidade marcadopor crescente entendimento da estreita dependnciaentre os constituintes geolgicos e a evoluo davida no planeta.

    Os seres humanos dispem do poder de de-ciso e a capacidade tecnolgica para parar e reverter

    os impactos individuais e coletivos do homem sobre aTerra (Williams Jr. 2000). Em oposio s extinesem massa naturais ocorridas no passado terrestre, amais recente delas, que atualmente se processa, pos-

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    sui causas denitivamente relacionadas s modica-es humanas da geosfera e da biosfera (Carneiro &Gonalves 2006).

    O ensino de Geologia/Geocincias pode e deveparticipar desse processo formador de uma cultura desustentabilidade. Ele deve beneciar-se at mesmo dorecurso das representaes, termo que implica um tipode exibio teatral destinada a fazer ver e a fazer valerum certo modo de ver (Bordieu 2003, p. 33).

    Uma maior ateno ao funcionamento dos pro-cessos naturais pode sugerir maior ateno sustenta-bilidade da vida e assim, estimular o desenvolvimentode uma cultura planetria inovadora que, ao compre-ender e dimensionar o planeta em seus constituintesfsicos e nos processos que os promovem e sustentam,incorpore a compreenso da vida (e, nesta, do humano)como elemento natural e indispensvel ao incessanteequilbrio dinmico da matria planetria. Uma culturaque evidencie quo terrenos somos.

    Ao se conceber terreno, o ser humano podemudar, inovar e reconstruir idias e paradigmas. Podeainda entender-se responsvel pela desconstruo demodelos que reconhece imprprios, e se lanar ao insu-pervel propsito de construir seu lugar em um futurodesejvel (Morin 2003). Dessa ao pode resultar o es-boo de novos caminhos para a vida.

    Viso Planetria e a Cultura Cientfca A viso sis-tmica da Cincia da Terra permite excepcional apro-ximao do conceito de sustentabilidade aos princpiosda Educao, ao destacar a pertinncia dos saberes

    cientcos condio humana e planetria.Esta evoluo do conhecimento cientco, re-exo do atual contexto social, tecnolgico e ambien-tal, permite compartilhar as preocupaes e valoresexpressos na Declarao da Conferncia Mundial so-bre a Cincia para o sculo XXI: um novo compro-misso (UNESCO 1999, apudCachapuz et al.2002),bem como no Project 2061 em sua primeira verso,entitulada Science for All Americans, organizada pela

    American Association for the Advancement of Science(AAAS 1989) e ainda nos Parmetros Curriculares

    Nacionais para o Ensino Mdio (Brasil 1999), em al-guns aspectos que interessa ressaltar:

    SOBRE O FUNCIONAMENTO DO UNIVERSO E DOSSERES VIVOS (a) Considera-se um sistema todo con-

    junto de elementos materiais ou ideais, entre os quais sepossa encontrar ou denir alguma relao. Assim, o uni-verso tem uma organizao sistmica, expressa em seutodo e em suas partes; (b) A vida na Terra mantm-sefundamentalmente por meio de transformaes e uxosde energia. O complexo funcionamento dos organismosvivos, e at mesmo a interdependncia de diferentes es-

    pcies, obedecem, na qualidade de sistemas naturais,aos princpios fsicos de conservao e transformao

    de matria e energia; (c) O moderno conceito de evolu-o oferece um princpio unicante para entender a his-tria da vida na Terra, as relaes entre os seres vivos ea dependncia da vida ao ambiente fsico.

    SOBRE CINCIA, COMUNICAO E MTODOCIENTFICO (a) A cincia presume que as coisas eos acontecimentos no universo ocorrem em padresconsistentes, que podem ser compreendidos por meiodo estudo cuidadoso e sistemtico. Por intermdio dointelecto e com o auxlio de instrumentos que estendamos sentidos, as pessoas podem descobrir registros emtoda a natureza; (b) A investigao cientca e o usodo conhecimento cientco devem respeitar os direitoshumanos e a dignidade humana; (c) A contribuio dacincia indispensvel causa da paz, do desenvol-vimento e segurana mundial; (d) A cincia algomais que um corpo de conhecimentos e uma forma deacumular e validar esse conhecimento. Tambm umaatividade social que incorpora valores humanos; (e) Aspessoas comunicam-se com freqncia, ainda que nemsempre com preciso. A comunicao implica um meiode representar a informao, meios para transmiti-la ereceb-la e ainda certa garantia de delidade entre o

    que se manda e o que se recebe. A Educao deve asse-gurar-se disso para comunicar o saber cientco.

    SOBRE EDUCAO E O HOMEM (a) O ensino decincias deve ir alm da sala-de-aula, na educao for-mal ou no-formal, em processo de educao perma-nente, ou de desenvolvimento continuado do saber; (b)Dentre as nalidades da Educao Bsica, destaca-se opleno desenvolvimento do educando, seu preparo parao exerccio da cidadania e aprimoramento como pes-soa humana, incluindo a formao tica e o desenvolvi-mento da autonomia intelectual e do pensamento crti-

    co (Brasil 1999); (c) O ensino deve ser til vida e aotrabalho, no qual as informaes, o conhecimento, ascompetncias, as habilidades e os valores desenvolvi-dos sejam instrumentos reais de percepo, satisfao,interpretao, julgamento, atuao, desenvolvimento

    pessoal ou de aprendizado permanente (Brasil 1999).Tais concepes destacam a importncia da ci-

    ncia, da educao em cincia e especialmente do en-sino de cincias, na formao humana desde o serindividual ao ser coletivo. Ressaltam o carter singularda educao como elemento de maturao social e deformao de cidados. Cumpre lembrar que no con-ceito de cidadania que a responsabilidade individual seconjuga ao coletivo da populao e denota o poder cria-tivo do homem.

    No por decreto que os homens se transformam emcidados: preciso que tenham interiorizado o valor de-mocrtico, que tenham descoberto seu poder criador, afora instituinte do poder criador coletivo. preciso quesejam capazes de considerar como sua tarefa mais essen-cial construir e reconstruir o que deve ser a sociedade, oque deve signicar justia, igualdade, democracia, cida-dania para sua sociedade (Valle 2000: 30).

    Contribuies do conhecimento da Cincia do Siste-ma Terra ao currculo de Cincias Uma mudanacurricular do ensino de cincias na educao bsica, emnvel mundial, deveria ser baseado no objeto de estudo

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    de todas as disciplinas de cincias o Sistema Terra eseu ambiente no espao (Mayer 2002).

    A viso sistmica do planeta, ao permitir a iden-ticao das diferentes esferas em que a matria plane-tria se organiza, esclarece as inter-relaes desenvolvi-das pelos constituintes destas esferas ao longo do TempoGeolgico. Essa abordagem dinmica permite exploraruma viso holstica do planeta (Anguita 1994), fun-damental para a compreenso deste e da vida, desde osprimrdios de sua formao, no presente e num futuroincerto. A perspectiva holstica, que a Cincia do SistemaTerra proporciona, constitui autntica plataforma para acincia integrada e potencial facilitadora da compreen-so do desenvolvimento do conhecimento ambiental eda construo de um conhecimento do mtodo cient-co: hiptese observao concluso (Orion 2001).

    As dimenses de tempo e espao tambm cons-tituem importante diferencial proporcionado pelo ensinode Geocincias (Compiani 2005), que permitem aos es-

    tudantes o desenvolvimento de habilidades cognitivasessenciais e de viso espacial, na medida em que envolveas dimenses locais, regionais e planetrias do espao.

    O carter interdisciplinar da geologia, que emer-ge da compreenso da Terra como um sistema comple-xo e dinmico, ressalta a responsabilidade que recaisobre os geocientistas, os que possuem o conhecimento

    principal dos problemas que aigem o planeta:

    (...) so eles portanto que tm a responsabilidade de

    fazer chegar aos detentores de poder, aos legisladores,aos educadores, bem como s comunidades em geral, a

    sua viso, e as possveis propostas para enfrentar os de-saos relacionados com o ambiente em que vivemos,

    e com o desenvolvimento scio-econmico regional(Cordani 2000, p. 34).

    A educao em cincias contextualizada pormeio do ensino da Cincia do Sistema Terra emergecomo valioso instrumento para construo de uma cul-tura voltada para a paz mundial. Esta condio singu-lar do conhecimento da geologia para a formao e apreparao de cidados e cidads capazes de participarde decises fundamentadas, exige dos educadores umaadequada percepo destes problemas e uma viso glo-

    bal da situao de emergncia planetria.Entende-se que Cincia do Sistema Terra

    cabe, em grande parte, o compromisso elementar deampliar e difundir os conhecimentos relativos aos re-cursos naturais da Terra. O conhecimento dos consti-tuintes geolgicos do meio fsico e dos processos geo-lgicos fornece bases para implementao de prticasde desenvolvimento sustentvel, no tocante ao uso derecursos naturais e apropriao do espao disponvel.De maneira crescente, a difuso destes conhecimentostem dado suporte ao desenvolvimento de outros ramosda cincia (biologia, fsica, engenharias, arquitetura,

    geograa, medicina, agricultura, dentre outros); temapoiado ainda a evoluo das medidas de uso, contro-le, recuperao e melhor aproveitamento ou explotaosustentvel dos recursos do meio fsico.

    Assim que se reconhece Cincia do SistemaTerra como uma cincia integradora das demais cin-cias naturais, e com enorme poder articulador destascom as cincias humanas. Tais caractersticas permitemtrat-la como elemento mpar para a construo de umsistema educacional inovador e necessrio para a hu-manidade nesse milnio.

    A educao por uma cultura de sustentabilidade Aidenticao de um objetivo comum para a educaodos indivduos pode constituir estratgia aglutinado-ra de interesses, culturas e prticas, to diversicadasquanto complexas, em torno da sustentabilidade davida. O ato de educar para a sustentabilidade, assumidocomo um processo complexo, deve ser balizado por umconjunto de estratgias fundamentais.

    O conhecimento que se transmite, que se comunica,pressupe em si alguma universalidade, a existncia de

    algo que os indivduos diferentes possuem em comum.No entanto, antes mesmo de poder ensinar, o sujeito

    vive uma experincia peculiar na construo do seuconhecimento: seu saber tem sempre as marcas e limi-taes que lhe so impostas pelas condies singularesem que foi adquirido (Konder 2001: 25).

    As palavras acima soam inspiradoras ao chamar aateno para algo que a humanidade compartilha: a Terra.

    Tratar do ensino da Cincia do Sistema Terracomo estratgia no processo educacional permite avanarno reconhecimento do qu-fazer responsvel que a educa-

    o, como prtica de liberdade (Freire 1992, p. 94) exige.A conscincia do mundo, que me possibilita apreendera realidade objetiva, se alonga em conscincia moral do

    mundo, com que valoro ou desvaloro as prticas reali-zadas no mundo contra a vocao ontolgica dos sereshumanos ou em seu favor (Freire 1992, p. 94).

    Ao reetir sobre a condio humana e a ame-aa de autodestruio, Morin (2002, p. 114) evidenciaresponsabilidades individuais e coletivas:

    A Humanidade deixou de constituir uma noo ape-

    nas biolgica e deve ser, ao mesmo tempo, plenamentereconhecida em sua incluso indissocivel na biosfe-ra; a Humanidade deixou de constituir uma noo sem

    razes: est enraizada em uma Ptria, a Terra, e a

    Terra uma Ptria em perigo. A Humanidade deixoude constituir uma noo abstrata: realidade vital, pois

    est, doravante, pela primeira vez, ameaada de morte;

    a Humanidade deixou de constituir uma noo somenteideal, tornou-se uma comunidade de destino, e somentea conscincia desta comunidade pode conduzi-la a umacomunidade de vida; a Humanidade , daqui em diante,

    sobretudo, uma noo tica: o que deve ser realizado

    por todos e por cada um [Grifos do original].

    Formar indivduos responsveis tarefa atualpara todas as sociedades. Tais responsabilidades s po-

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    dem advir se houver cuidado e ateno na formao cul-tural dos indivduos e, por extenso, das coletividades.

    No obstante se reconhea que, mais do que umconjunto de valores que devem ser defendidos ou idiasque devam ser promovidas, a cultura tem hoje a cono-tao de um trabalho que deve ser realizado em toda aextenso da vida social (Certeau 2001); evidente que,

    ao reconhecer o valor intrnseco do conhecimento deCincia do Sistema Terra, se considere imprescindveldedicar especial ateno gesto e transmisso dos sa-

    beres na escola, conforme destaca Forquim (1993: 28):

    A escola no apenas, com efeito, um local onde cir-culam uxos humanos, onde se investem e se geram

    riquezas materiais, onde se travam interaes sociais erelaes de poder; ela tambm um local o local por

    excelncia nas sociedades modernas de gesto e detransmisso de saberes e smbolos.

    O desao de uma educao para a cidadania ea sustentabilidade evidente e respalda-se nas comple-xas realidades presentes em trs nveis: na escola, comoambiente mais favorvel ao ensino/aprendizagem, na

    famlia, um ambiente formador de valores afetivos e nasociedade, um ambiente de integrao de diferentes in-divduos por uma causa comum. A prpria complexida-de uma evidncia de que o educar para a cidadaniase faz necessrio. Freire (1992, p. 90) ao considerar ascomplexas relaes sociais, destaca a importncia deuma educao diferenciada, somente possvel sob umclima de rigor tico a ser criado com necessrias e ur-

    gentes transformaes sociais e polticas.Nesse contexto, as sociedades tm reconhecidoa escola como o local onde se d a produo e (re)cons-truo de saberes, onde as solues para os conitoscotidianos devem ser geradas, ensinadas e aprendidas.

    Na escola, os saberes cientcos, eruditos e cotidianosso tratados, sob mediao didtica, e assim se tornamensinveis, assimilveis (Lopes 2001) e efetivos, ento,

    por meio do processo de ensino-aprendizagem. Diantede tamanha responsabilidade, sempre atual a preocu-pao com a qualidade do trabalho educativo na insti-tuio escolar. Perrenoud (1999, p. 32-33) reconhecea necessidade de transformaes dos programas, das

    didticas, da avaliao, do funcionamento das classese dos estabelecimentos, do ofcio de professor e do of-cio de aluno, no contexto de mudanas do processoeducacional. As transformaes despertam resistnciaspassivas ou ativas de todos aqueles a quem a ordemgerencial, a continuidade das prticas ou a preservaodas vantagens adquiridas importam muito mais do quea eccia da formao (Perrenoud op. cit.).

    Reconhecer tais resistncias no signica queseja preciso atrelar-se a elas, de tal forma que se inu-tilize qualquer esboo de ao para modic-las. Aocontrrio, preciso vencer adversidades e encontrar,

    pelo prprio desenvolvimento do saber, uma condiocultural mais favorvel. Nesse sentido, Rios (2002, p.39) adverte que:

    Devemos ento considerar que a idia de crise aponta

    para duas perspectivas a deperigoe a de oportunida-de. Se consideramos apenas o perigo, corremos o riscode nos deixarmos envolver por uma atitude negativa,ignorando as alternativas de superao. importanteconsiderar a perspectiva de oportunidade, que nos re-mete crtica, como um momento frtil de reexo e

    de reorientao da prtica.

    Entende-se que, por compreender e assimilara perspectiva das oportunidades, que todo momentocrtico oferece, os especialistas em educao tm sus-tentado a busca da qualidade na evoluo do trabalhoeducativo.

    (...) a cultura escolar um conjunto particular de nfases

    e omisses, sujeito a grandes variaes histricas, por ser

    fruto de um processo de seleo de uma cultura maior,seleo essa que constantemente reinterpretada, cons-tantemente feita e refeita (Lopes 2001, p. 34).

    Depreende-se portanto que currculo, conheci-mento e cultura constituem construes sociais, cujo panode fundo se faz, indiscutivelmente, nas relaes estabele-cidas entre contedo do ensino e relao pedaggica.

    A EXPERINCIA EDUCACIONAL DO PROJE-TO GEO-ESCOLA EM SO JOS DO RIO PRE-TO Partindo-se dos pressupostos tericos acima, bus-cou-se na investigao desenvolvida com os professo-res da educao bsica do municpio de So Jos do RioPreto, experimentar, com base nos recursos do projeto

    Geo-Escola, a importncia e o signicado do uso dosconhecimentos geolgicos e da informao geolgicalocal para um ensino diferenciado de cincias.

    Os conceitos de Geocincias foram tratados soba perspectiva integradora da Cincia do Sistema Terra,buscando-se ressaltar os vnculos e as relaes que seestabelecem entre os componentes biticos e abiticosdo planeta, ao longo do tempo.

    As abordagens conceituais e tericas foramdesenvolvidas com forte vinculao ao uso de infor-maes geolgicas locais e regionais, propiciando acontextualizao do ensino realidade do municpio,regio e Estado onde vive a comunidade escolar. Neste

    sentido pode-se utilizar amplo banco de dados mapas,fotograas, dados inventariados em Diagnstico Geo-Ambiental do Municpio (Piranha et al. 2004) comofonte de informao e ilustrao da geologia e do de-senvolvimento ocorrido no municpio e regio. Estesreferenciais permitiram que todas as apresentaesinformatizadas, utilizadas para o ensino do contedode Cincias do Sistema Terra, ganhassem a condiode representarem o ambiente onde vive a comunidadede aprendizagem. Isso possibilitou demonstrar a perti-nncia ao objeto de estudo, ao mesmo tempo em queconvidou os aprendizes ao exerccio de reexes sobre

    a importncia, o signicado e o alcance das responsa-bilidades individuais e coletivas que lhes compete, nacondio de agentes do desenvolvimento ocorrido.

    Tais estratgias permitiram aos professores

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    Joseli Maria Piranha & Celso Dal R Carneiro

    participantes o reconhecimento de relaes sistmicasexistentes entre os indivduos e o meio fsico e ainda osmecanismos de interveno, controle, regulao, ges-to, interao positiva ou negativa que estas potenciam.Permitiu o reconhecimento da interdependncia exis-tente entre os constituintes do meio fsico geolgico eos organismos, ao longo do tempo, destacando a impor-tncia do conhecimento cientco para a compreensoda evoluo do planeta e da vida neste.

    O convite ao exerccio de compreenso dos me-canismos diversos que sustentam a condio de equil-brio dinmico, que se opera a todo tempo no planeta,levou a que os professores participantes relativizassemvalores, condutas e oportunidades. As reexes promo-vidas pelos mecanismos de ensino-aprendizagem pos-sibilitaram mudanas comportamentais, e assim pude-ram ser concretizadas dentro do prprio grupo de par-ticipantes e para alm deste, nas relaes estabelecidaspelos educandos e suas comunidades de origem.

    Uma vez que a comunidade de aprendizagemtrabalhada foi, por sua vez, constituda por educado-res, pode-se ainda aquilatar junto aos participantes assuas prprias e especcas consideraes relativas aosignicado do ensino de Cincia do Sistema Terra paraa elaborao e planicao de atividades de ensino deCincias. Vericou-se que estes passaram a reconhecero carter singular da geologia como integradora dossaberes de Cincias que cumpre ensinar na educaobsica, e que a partir da formao alcanada se sentirammais capacitados e motivados paro o exerccio da tarefade educadores em Cincias.

    DISCUSSO No obstante o desenvolvimento daCincia do Sistema Terra venha provendo novos ecrescentes conhecimentos relativos ao melhor e maisracional uso dos recursos naturais do planeta, isso sno basta para que se construa uma condio de susten-tabilidade para o desenvolvimento. preciso que a mu-dana de modelos desenvolvimentistas se d, e esta spoder ocorrer quando a sociedade global se incumbirda responsabilidade e do compromisso de alterar suasprticas, seus costumes e sua cultura extrativista, emprol de uma cultura tica e solidria.

    Nessa cultura inovadora, a sustentao da vida

    se processa sob o reconhecimento de diferenciais dequalidade e no mediante a busca incessante de lucrose riquezas. Nessa tica, pode-se considerar que tal mu-dana de paradigma constitua mesmo uma utopia e queo conceito de sustentabilidade seja insustentvel, comoinsistem alguns autores.

    Esse o ponto em que mais claramente o co-nhecimento da Cincia do Sistema Terra pode constituirreferencial privilegiado para a construo da cultura desustentabilidade. Ao se constatar a natureza cclica, ede constante busca de equilbrio dinmico, que se operaem toda a matria planetria aspecto que a natureza

    sistmica da Cincia da Terra comporta de forma in-contestavelmente superior as perspectivas de mudan-a emergem como condio natural e essencial para abusca constante do equilbrio.

    Nesse sentido que o conhecimento da Cinciado Sistema Terra deve ser mais bem explorado em pr-ticas educacionais de ensino-aprendizagem. Os saberesgeolgicos podem e devem constituir referencial curri-cular multi, trans, pluri e interdisciplinar, capaz de agre-gar valor intrnseco ao ensino efetivo, por proporcionara formao integral do cidado planetrio.

    A construo deste salto conceitual e cogni-tivo no ensino de Cincias requer forte compromissodos geocientistas, para profuso do ensino da Cinciado Sistema Terra no mbito da sociedade globaliza-da. Neste sentido ganha reforo e acuidade a aten-o formao dos prossionais de educao bsica.Responsveis pela multiplicao e difuso dos saberesescolares, estes prossionais sero artces de uma cul-tura inovadora. Devero, compreender a complexidadedos conceitos, processos e materiais geolgicos a mde orientar a prtica pedaggica interdisciplinar quevalorize a compreenso da interdependncia existente

    entre os componentes do Sistema Terra. Assim poderoconduzir ao desenvolvimento de uma educao com-promissada com a vida e com um desenvolvimento quepossa ser sustentvel.

    Marques & Praia (2001, p. 12) auxiliam a ex-por o potencial e a amplitude do compromisso que aEducao em Geocincias tem a desempenhar na so-ciedade atual e futura. A preservao do Planeta Azul,

    planeta vivo e dinmico, a preocupao primeira,exigindo uma mudana cultural e de mentalidades que preciso desde j levar por diante, marcadamente dendole educacional. O currculo, para alm da sua for-

    te integrao e transdisciplinaridade, transfere, rompemesmo, com a idia de um ensino estritamente disci-plinar, de sentido instrucional, passando agora a ganharnovos sentidos na lgica de uma Educao Para Todos,de qualidade, em que a responsabilidade individual esocial so exigncias constantes. Claramente, o queest em jogo, no limiar do sculo XXI, um novo com-promisso com a Terra planeta de rara beleza e dopapel que a Educao em Geocincias pode e deve adesempenhar.

    COMENTRIOS FINAIS Na relao dinmicado ensino-aprendizagem, o ensino de Geocincias

    essencial para o desenvolvimento cultural do cidadoterreno, uma vez que as contribuies das Geocinciasao desenvolvimento cognitivo promovem a conscin-cia do indivduo planetrio, ainda que esta envolva altograu de abstrao.

    O uso de informaes geolgicas de carter re-gional e local constitui forte elo integrador da aprendi-zagem. Convida os aprendizes/participante reexo,porque lhes mostra a realidade do local onde vivem,estimulando a conscincia reexiva de cada um. Enm,apresentam razes e evidenciam meios de inovar asprticas letivas, o tratamento interdisciplinar e trans-

    disciplinar de temas relacionados a recursos naturais.Finalmente, o envolvimento pessoal com questes dacoletividade despertar certo senso comum de solida-riedade.

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    O ensino de geologia como instrumento formador de uma cultura de sustentabilidade

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    Referncias

    Os participantes desse movimento dinmi-co sentem-se motivados a inovar criativamente e aexperimentar mudanas de postura, de engajamentosocial e de compromisso humano, alimentando a per-cepo de que mudanas so possveis mesmo emcurto prazo.

    A conscincia propiciada pela insero ativade temas geolgicos no ensino permite evocar o papelmultiplicador da educao, ao mesmo tempo em queresgata sentimentos de segurana, conana, motiva-o, auto-estima, autonomia, liberdade, interesse pela

    educao continuada e permanente, reconhecimentoda prpria capacidade de intervir, vivncia colabora-tiva, satisfao pessoal e senso comum de integrar acoletividade terrena que se pretende sustentvel.

    Em sntese, da experincia de aplicao do co-nhecimento de Cincia do Sistema Terra no ensino, so-bressaem vrios indicadores de terem sido alcanadosobjetivos inerentes a uma educao voltada para a ree-xo crtica, desenvolvimento de valores sociais e ticosrelevantes e construo de cidadania.

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    Revista Brasileira de Geocincias, volume 39 (1), 2009 137

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