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Pires de Almeida: Reduto da Alma Encantadora das Ruas do Rio de Janeiro Paulo Afonso Rheingantz Arquiteto, Doutor, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ Av. Pedro Calmon, 550 sala 433 – Cidade Universitária – Rio de Janeiro – RJ – CEP 21941-901 Tel.: (21) 2598-1663 Fax: (21) 2598-1890 e-mail: [email protected] Denise de Alcantara Arquiteta, Doutoranda/Proarq, Professora Substituta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ Rua Viúva Lacerda, 249 –bl 3 – 608 – CEP 22261-050 Rio de Janeiro – RJ Tel/fax.: (21) 25373430 email: [email protected] Alexandre Luiz Barbosa Estudande de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, Bolsista IC-Balcão/CNPq. Av. Pedro Calmon, 550 sala 433 – Cidade Universitária – Rio de Janeiro – RJ – CEP 21941-901 Tel.: (21) 2598-1663 Fax: (21) 2598-1890 e-mail: [email protected]

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Pires de Almeida: Reduto da Alma Encantadora das Ruas do Rio de Janeiro Paulo Afonso Rheingantz

Arquiteto, Doutor, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ Av. Pedro Calmon, 550 sala 433 – Cidade Universitária – Rio de Janeiro – RJ – CEP 21941-901

Tel.: (21) 2598-1663 Fax: (21) 2598-1890 e-mail: [email protected]

Denise de Alcantara Arquiteta, Doutoranda/Proarq, Professora Substituta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ

Rua Viúva Lacerda, 249 –bl 3 – 608 – CEP 22261-050 Rio de Janeiro – RJ Tel/fax.: (21) 25373430 email: [email protected]

Alexandre Luiz Barbosa

Estudande de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, Bolsista IC-Balcão/CNPq. Av. Pedro Calmon, 550 sala 433 – Cidade Universitária – Rio de Janeiro – RJ – CEP 21941-901

Tel.: (21) 2598-1663 Fax: (21) 2598-1890 e-mail: [email protected]

Paciencia
CAB
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Pires de Almeida: Reduto da Alma Encantadora das Ruas do Rio de Janeiro Resumo

Incrustado na fronteira entre Laranjeiras e Cosme Velho, o quase octogenário conjunto de edifícios art déco e o desenho urbano da rua Pires de Almeida podem ser caracterizados como um legítimo reduto de resistência de um sentimento consagrado por João do Rio em seu delicioso livro-manifesto de amor pela rua, A alma encantada das ruas. A curta frase inicial “eu amo a rua” representa o sentimento de um expressivo número de moradores que, geração após geração, ali habita. Reconhecido pela grande imprensa e pela população carioca como um lugar de qualidade para morar, este pequeno conjunto de 23 edifícios e 158 unidades de 1 a 4 quartos em torno de uma pequena praça foi construído inicialmente para abrigar os empregados de uma companhia de seguros. A explícita hierarquia funcional de sua concepção, que se destinava a abrigar os diversos níveis de funcionários, favorece a diversidade social que caracteriza o quadro atual de moradores. Neste ensaio procuramos analisar sua morfologia e espacialidade, bem como suas formas e relações dimensionais, para servir de base para o resgate de concepções que precederam o movimento moderno cujas qualidades não se resumem apenas à sua aparência. Sua importância histórica também é reconhecida por acolher, entre seus moradores e freqüentadores, artistas e personalidades de renome, e, nos “Anos de Chumbo”, ter servido de refúgio para diversos críticos do regime militar. Outro aspecto que merece ser melhor estudado, em função dos atuais problemas de violência urbana nas grandes metrópoles e, particularmente, no Rio de Janeiro, é a sensação de segurança proporcionada por sua morfologia urbana, caracterizada por habitações com janelas também no térreo e pela inexistência de elementos de segurança ostensivos, responsável pelos baixíssimos índices de criminalidade. Curiosamente, e a exemplo das vilas residenciais características do início do século XX, sua concepção tem sido preterida até mesmo nas escolas de arquitetura, em favor dos condomínios fechados, cercados, privatizados e segregadores.

Palavras-chave: Pires de Almeida; Art déco; Projeto

Abstract

Pires de Almeida: redoubt of the charming soul of Rio de Janeiro streets

Located in the border of Laranjeras and Cosme Velho, the quasi octogenary set of art déco buildings and urban design of Pires de Almeida Street can be characterized as a legitimate redoubt of resistance of a feeling acclaimed by Joao do Rio in his delightful manifest-book as a street lover, The enchanted soul of the streets. The short initial sentence “I love the street” represents the feeling of an expressive number of residents that, generation after generation, inhabit there. Recognized by the media and by cariocas as a quality place for living, this small set of 23 buildings and 158 units with 1 to 4 bedrooms that surround a square, was first built to shelter employees of an insurance company. The explicit functional hierarchy of its conception, aiming the different employee’s levels, favors the social diversity that characterizes the current group of residents. This article aims to analyse its morphology and spaciality, as well as its forms and dimentional relations, to serve as base to the recovery of the conceptions that preceeded modern movement, which qualities are not restricted to its visual aspects. Its historical importance is also recognized for having had among its residents and users, artists and personalities, and, in the “Lead Years”, served as refuge to many military regime critics. Another aspect that deserves a deeper study, because of today urban violence problems in big cities, and particularly in Rio de Janeiro, is the safety sensation provided by its urban morphology, characterized by windowed ground floor units and by the inexistence of ostensive safety elements, and responsible for the very low levels of criminality. Curiously, its conception, resembling the begining of the 20th Century residential ‘vilas’, have been supplanted, even in the schools of architecture, in favor of the gated, fenced, privatized and segregated communities.

Key words: Pires de Almeida, art déco; design

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Pires de Almeida: Reduto da Alma Encantadora das Ruas do Rio de Janeiro

Introdução “A rua era para eles (dicionários e enciclopédias) apenas um alinhado de fachadas por onde se anda nas povoações ... Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator de vida das cidades, a rua tem alma! ... a rua é agasalhadora da miséria. ...é generosa. O crime, o delírio, a miséria não os denuncia ela. ... a rua denuncia para o animal civilizado todo o conforto humano”.

João do Rio (1995: 4)

Este artigo é fruto dos estudos realizados pelo grupo Projeto e Qualidade do Lugar (ProLUGAR)

relacionados com a cognição experiencial1 e a avaliação da qualidade do lugar. Nasceu da

curiosidade em testar as possibilidades de entrelaçar um conjunto de fundamentos até aqui

trabalhado –- cognição atuacionista de Varela, Thompson e Rosch (2003), ciência e vida cotidiana

de Maturana (2001), empatia de Thompson (1999), eco-sofia de Guattari (2004), topofilia de Tuan

(1983), morfologia urbana e análise visual – com a perspectiva do conhecimento como “rede de

interfaces sóciotécnicas” de Bruno Latour. Nela, cada objeto ou evento é concebido como uma

mistura ou “coletivo” de homens, coisas e técnicas cujo movimento “apaga” as fronteiras entre

sujeito e objeto (Pedro; 1998); onde os fatos se tornam “objetivos” pela reapropriação local, em

diferentes pontos ou conexões da rede, por diferentes atores (Pedro 2003).

Mas a compreensão da complexa articulação dos mecanismos que regem as relações homem-

ambiente (ou sociedade-natureza, ou humanos-não-humanos) implica superar os obstáculos que

a dicotomia provoca nestas relações pela lógica moderna, cujas categorizações não são

suficientes para dar conta de uma Atualidade, que nossa condição de atores e observadores nos

impele a compreender. Como exemplo desta dificuldade, citamos as incompatibilidades entre

desenvolvimento e conservação da natureza, entre renovação e preservação.

Para compreender o significado desta Atualidade é necessário entender a Modernidade e,

sobretudo, o significado da transição Modernidade-Atualidade. Neste artigo entendemos

Modernidade como uma “atitude” caracterizada pela busca incessante da ordem, estruturação

(Bauman,1999), que envolve a “operação conjunta de dois conjuntos de práticas distintas” (Pedro

2003: 30): a “hibridação”, ou conjunto de práticas responsáveis pela criação de misturas entre

gêneros, híbridos de natureza e sociedade; e a “purificação” condiciona a evolução da ciência à

eliminação de todas as influências ‘externas’ (a subjetividade humana). Latour atribui a “crise da

1 Designação adotada pelo grupo ProLUGAR para caracterizar a experiência do homem no lugar, ou seja, o modo como a um só tempo cada lugar influencia a ação humana, e como a presença humana dá sentido e significado a cada lugar. As capacidades sensório-motoras do homem são parte integrante do seu processo cognitivo e incluem a linguagem verbal e não-verbal. Inseridas em um contexto biológico, psicológico e cultural mais amplo, estas capacidades não podem existir sem a interação com o meio a ser experienciado; por sua vez, o meio inexiste se não houver a presença do indivíduo para o experienciar. Ambos são aspectos bi-unívocos e indissociáveis da abordagem experiencial da cognição

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Modernidade” ao fato das práticas de purificação deixarem de cumprir seu papel em função do

desequilíbrio provocado pela proliferação dos híbridos, que se tornam cada vez mais numerosos.

Os novos e numerosos híbridos provocam

“a necessidade de novas práticas de purificação que, por sua vez, colocam em cena uma

nova categoria, estranha ao pensamento moderno: o artifício. Este não se reduz apenas

ao conceito de arte-fato cultural, na medida em que nos oferece a possibilidade de

produção artificial/maquínica de nossa ‘natureza’, abrindo a possibilidade de alterar e

redefinir nossa humanidade e os contornos do mundo dito ‘natural.’’’ (Pedro 2003: 31)

Quem aceita este cenário de contínua mistura de natureza2, sociedade3 e tecnologia, deixa de ser

moderno; quem ainda acredita que estas práticas são realmente separadas e independentes

continua moderno.

A separação entre natureza e cultura se deve ao acordo moderno sobre a necessidade de

distinção entre ciência e sociedade, que separa humanos e não-humanos, sociedade e natureza.

Para evitar as distinções sociedade-natureza e sujeito-objeto, Latour propõe a substituição do

termo “organismo” por “coletivo”4, mais adequado para fazer referência à associação de humanos

e não-humanos5 em um processo de mediação cuja responsabilidade deve ser dividida entre

todas as partes envolvidas.

A noção de coletivo permite transformar o pressuposto de que nosso mundo é construído com os

outros com base em nossa experiência no ambiente (Maturana e Varela 1995) e reforça a

pregnância do sentimento de topofilia (Tuan 1983), ao explicitar os entrelaçamentos e os papéis

de todos os atores implicados na compreensão e na produção do conhecimento dos lugares.

O reconhecimento das vantagens da substituição do termo “organismo” por “coletivo” para

corporificar um lugar urbano implica em reduzir a assimetria em favor dos humanos em relação

aos não-humanos presente em estudos anteriores (Rheingantz 2004; Alcantara e Rheingantz

2004; Alcantara et al 2006; Rheingantz e Alcantara 2007).

2 Cf. Latour (2001: 352), “como a sociedade, a natureza não é considerada como o palco racional externo da ação humana e social, mas como resultado de um acordo altamente problemático... As palavras “não-humanos” e “coletivo” referem-se a entidades libertadas do fardo político que as obrigava a usar o conceito de natureza para atalhar o devido processo político” . 3 Cf. Latour (2001: 355), “palavra (que) não se refere a uma entidade existente em si mesma, governada por suas próprias leis, oposta a outras entidades como a natureza; significa o resultado de um ‘acordo’ que, por razões políticas, divide artificialmente as coisas em esfera natural e esfera social. Para me referir, não ao artefato sociedade, mas às muitas conexões entre humanos e não-humanos prefiro a palavra ‘coletivo’”. 4 Cf. Latour (2001: 346), “ao contrário de sociedade, que é um artefato imposto pelo acordo modernista, esse termo se refere às associações de humanos e não-humanos. Se a divisão entre natureza e sociedade torna invisível o processo político pelo qual o cosmo é coletado num todo habitável, a palavra ‘coletivo’ torna esse processo crucial“. 5 Cf. Latour (2001), conceito que só tem significado na diferença entre o par ‘humano-não-humano’ e na dicotomia sujeito-objeto

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Em nossa experiência como observadores-atores6, ao considerarmos determinado ambiente

“adequado”, não explicitamos com clareza que a “adequação” é uma apreciação na perspectiva

do observador e não a partir de algum ponto ‘objetivo’ e independente do observador. Assim como

para Antônio Lobo Antunes, vencedor do Prêmio Camões 2007, um livro só funciona ao tornar-se

um “organismo vivo” que começa a se mexer, multiplicar e mover fora do controle do escritor7,

entendemos que o conhecimento resultante do entrelaçamento tecnologia-natureza-sociedade

produzido no lugar adquire “vida” e “emoções” próprias que escapam ao controle do observador.

Este “conhecimento não reflete um mundo exterior real, ao qual se assemelha por mimese, mas

sim um mundo interior real, cuja coerência e continuidade ajuda a garantir.” (Latour 2001: 75) Ele

está diretamente relacionado com a consciência, que é produto da capacidade do organismo

humano perceber suas emoções, e do ambiente reagir a elas (Damásio 1996). O conhecimento é

um juízo de valor sobre uma realidade que é, sempre, um argumento explicativo (Maturana 2001).

Como o lugar é um fechamento cultural8 que transcende seus aspectos físico-sociais, é possível

que a realidade da experiência seja diferente dos conceitos utilizados para interpretá-la, que

“podem ser rígidos ou limitados demais para expressar a natureza dinâmica dos sentidos do corpo

e da mente” (Tulku 1997: 229). Ao se adaptar ao meio urbano, determinado grupo humano molda

seus ambientes, que provocam alterações nas lógicas relacionais desse grupo, em um processo

de circularidade dinâmico e recorrente.

Questões como agradabilidade, imageabilidade, noção de pertencimento ao lugar, comportamento

humano frente às condições ambientais e posturas corporais, que são influenciadas pela herança

cultural dos habitantes de um determinado lugar (Rheingantz et al 2002), reforçam o risco de

inadequação do discurso “científico”9 – que reflete um mundo exterior real, em lugar de um mundo

interior real (Latour 2001) – para avaliar a qualidade do lugar. “Não existe um mundo lá fora, não

porque inexista um mundo, mas porque não há uma mente lá dentro” (Latour 2001: 338).

Entendendo que os aspectos sociais do entrelaçamento tecnologia-natureza-sociedade já foram

suficientemente abordados por Alcantara et al (2006), neste estudo enfatizamos os atributos

morfológicos, re-significados em função da mudança de atitude do observador. E, para dar conta

disto, recorremos a um conjunto de referências de desenho urbano (Lynch 1960; Alexander et al

1980; Ashihara 1982; The Greather London Council, 1982; Tuan 1983; Lamas 1993).

6 Designação adotada para explicitar a diferença do observador incorporado com relação ao observador distanciado do “objeto” da observação. 7 In Prêmio Camões 2007 vai para o autor português António Lobo Antunes, O Globo, 16 de março de 2007, Segundo Caderno, p.2 8 Reconhecemos cultura como um conjunto de sistemas de significados representativos , diretivos e afetivos compartilhados por grupos socio-culturais que se reconhecem como membros de uma comunidade interativa que compreendem e se articulam a partir de lógicas próprias de comportamentos, expectativas e crenças. 9 Cf. Boaventura Santos (1995: 52), “a ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia.”

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A materialidade e as características dos atributos morfológicos foram analisadas e seus

resultados, confrontados com os de Alcantara et al (2006) com um duplo intuito: verificar a

natureza do entrelaçamento de humanos e não-humanos na configuração do caráter deste lugar e

testar a hipótese de que o mundo mistura cultura e natureza no seu cotidiano (Latour 1994).

Os resultados desta mistura possibilitam o resgate da dimensão cultural do projeto – ainda hoje

obliterado pelas certezas e ideais modernos e pelas fragmentações e descontinuidades pós-

modernas – e podem ser indicativos da contribuição deste estudo para o ensino de Projeto de

Arquitetura e Desenho Urbano.

Sobre a escolha do Lugar Rua Pires de Almeida

A Rua Pires de Almeida pode ser reconhecida como legítimo reduto de resistência de um

sentimento consagrado por João do Rio em seu manifesto de amor pela rua, A alma encantada

das ruas (1995).

Em diversas reportagens e artigos de jornais locais e de bairro10 os títulos deixam clara a imagem

positiva e o alto nível de valorização do lugar, quanto aos aspectos materiais, imateriais,

sentimentais e subjetivos, presente no relato de uma jovem moradora:

“a tranqüilidade e a segurança da vila fazem com que crianças e jovens possam brincar e

conversar até altas horas na pracinha, eleita o point do lugar. “Todos os meus amigos estão

aqui. Todo mundo se conhece e eu posso ficar até uma, duas horas da madrugada na

pracinha. Aqui é muito tranqüilo”.” 11

A frase inicial de João do Rio, “eu amo a rua”, expressa o sentimento de moradores que, geração

após geração, habitam este pequeno conjunto cuja importância histórica não se resume à

qualidade de sua arquitetura. A Pires de Almeida também acolheu entre seus moradores e

freqüentadores, artistas e personalidades de renome, bem como serviu como refúgio para críticos

do regime militar durante os “Anos de Chumbo”.

Outro aspecto relevante na escolha – especialmente em função dos atuais problemas de violência

urbana nas grandes metrópoles e, particularmente, no Rio de Janeiro – é a sensação de

segurança proporcionada por sua morfologia, pela presença de janelas a partir do andar térreo,

bem como pela inexistência de elementos ostensivos de segurança.12 Curiosamente, sua

10 Ver: Endereços Especiais, in Jornal do Brasil. Caderno Domingo, no 1190, 21/02/1999, p.24; Na fronteira entre Laranjeiras e Cosme Velho, um pedacinho da antiga Europa. O Globo 10/05/1998, Caderno Morar Bem, p. 2; O ‘ouvinte’das árvores. O Globo 13/07/1991, O Meu Rio/Paulo Gracindo; Uma rua tranqüila, como em 1927. O Globo 20/09/1988. Botafogo, p. 5; Longe da telinha, prevalece a tranqüilidade. O Globo, 23/05/1999; Um pedacinho da Europa preservado na fronteira de Laranjeiras com Cosme Velho. O Globo, 31/09/2001. Morar Bem, p. 2; Uma praça pública quase particular. O Globo, 6/08/2000, Morar Bem, p.25. 11 Vila Pires de Almeida: Marselha é aqui. Folha da Laranjeira, junho/2001, p. 8 12 Exceção feita à presença da guarita instalada em função de um assalto ocorrido durante a Copa do Mundo de 1994

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concepção tem sido preterida, inclusive nas escolas de arquitetura, em favor dos condomínios

fechados, cercados, privatizados e segregadores.

Fatores geradores de qualidade urbana Dentre as principais referências sobre atributos e fatores geradores de qualidade urbana, foram

adotados alguns padrões de linguagem definidos por Alexander et al (1980) e recomendações de

Ashihara (1982) e do Greather London Council (1982). Para facilitar a leitura e a fluência do texto,

evitou-se fragmentar sua estrutura, integrando a análise dos aspectos formais e espaciais em um

único conjunto, ordenando a descrição e a análise de cada um dos fatores trabalhados.

Para falar das ruas, calçadas e do espaço público urbano recorremos ao manifesto antimodernista

Morte e Vida nas Grandes Cidades, de Jane Jacobs (2001), que analisa o cotidiano do bairro

Greenwich Village em Nova York com um olhar jornalístico etnográfico. Também foram

considerados sua analogia das janelas com os olhos da rua, e seu reconhecimento da riqueza de

significados, segurança e qualidade de vida proporcionados pela diversidade combinada de usos

e pela densificação não ordenada da cidade tradicional.

Na linguagem de padrões de Alexander – que associa seu significado às distinções entre a prosa

e a poesia – “a diferença entre prosa e poesia não está no uso de diferentes linguagens, mas no

uso distinto da mesma linguagem” (Alexander et al 1980: 27) . A linguagem gráfica também

possibilita a geração de ambientes prosaicos (Fig. 1) ou poéticos (Fig. 2)13. Deste trabalho

selecionamos os padrões: vizinhança identificável, pequenas praças públicas, edifícios ou

complexos de edifícios.

Figuras 1 e 2 – Exemplos de arquitetura: prosaica (moderna) e poética (não-moderna): Av. Chile com os Edifícios BNDES e Petrobrás em primeiro plano e fachadas da Rua do Lavradio durante a Feira do Rio Antigo

13 Esta abordagem mostra-se congruente com o viés experiencial e com a assertiva “somos seres linguagantes” de Maturana (2001).

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De Ashihara (1982), utilizamos os conceitos e elementos básicos de composição de espaços

exteriores como escala, textura, espaço positivo/negativo e hierarquia, e a relação entre as

dimensões de uma praça local e a acuidade visual.14

Do Greather London Council (1982), utilizamos os fatores exteriores e de integração com

ambientes circundantes, organização e fechamento espacial, tipos de fechamento, escala e

proporção, contrastes, unidade de conjunto, detalhes das edificações e territorialidade.

Contextualizando o Lugar Inserida entre os limites dos bairros de Laranjeiras e Cosme Velho, a Rua Pires de Almeida foi a

primeira das principais intervenções de grande porte neles realizadas15.

De origens aristocráticas, com diversas mansões e chácaras situadas ao longo do Rio Carioca,

estes bairros sofreram intensa urbanização e verticalização no século XX, principalmente ao longo

da Rua das Laranjeiras. Em 1965, transformada em corredor viário com a abertura do Túnel

Rebouças, esta movimentada via de mão dupla apresenta uma visível distinção tipológica e

volumétrica que espelha os momentos e tendências de evolução urbana carioca sem, entretanto,

ter perdido completamente seu caráter original.

Figura 3 - Modelo tridimensional do conjunto da Pires de Almeida e sua inserção topográfica.

Desenho de Alexandre Barbosa

Originalmente denominado Jardim Sul América, em alusão à Companhia Sul Amérida de Seguros,

sua idealizadora, o projeto aprovado em 1927, envolve um conjunto art dèco de 23 edifícios

residenciais multi-familiares com 158 unidades residenciais de 1 a 4 quartos, configurado em torno

de uma pequena praça, em terreno com 15.000 m2 (Fig. 3). As obras, a cargo da Construtora

Monteiro Aranha, foram concluídas em três anos e os apartamentos, alugados para funcionários

14 Alexander et al (1980) sugerem a dimensão máxima de 21 metros, enquanto Ashihara (1983) admite até 25 metros. 15 O fechamento da Fábrica de Tecidos Aliança, em 1938, deu lugar ao segundo empreendimento de vulto no bairro, o Jardim Laranjeiras, que originou a Rua General Glicério. O Parque Guinle foi o terceiro grande empreendimento comercial da região – contratado pela família Guinle ao arquiteto Lucio Costa – já no final da década de 40.

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dos diversos escalões da Sul América e para executivos da Fábrica Aliança. Em 1956, a Sul

América vende todos os imóveis. Diversos apartamentos ainda hoje são habitados por seus

primeiros proprietários ou por seus descendentes.

A implantação configura três trechos distintos, ordenados em conformidade com a hierarquia dos

seus moradores (Figs. 4 e 5) .

Figura 4 – Localização do conjunto e hierarquia viária. (digitalização sobre ortofoto Folha 287C - Acervo IPP)

Figura 5 – Delimitação dos trechos identificados na Rua Pires de Almeida (digitalização sobre cadastral Folha

287C)

O trecho “A” é composto por quatro blocos de seis pavimento, dos quais dois possuem fachadas

laterais voltadas para a Rua das Laranjeiras (Fig. 6). Como eles deveriam abrigar os funcionários

mais graduados, suas entradas, escadas e circulações possuem pisos em mármore importado

(Fig. 7), elevadores e escadas, separados para uso social e de serviço, além de sacadas com

gradis em ferro fundido. A área dos apartamentos, de quatro quartos, é de 180 m2.16

Ao longo da Praça Múcio Leitão (trecho “B”), foram dispostos seis edifícios de quatro pavimentos

em fita com apartamentos de três quartos e aproximadamente 100 m2 de área. (Fig. 8) Nos

fundos, as áreas de estacionamento, que foram incorporadas aos seus apartamentos no primeiro

processo de venda .

16 A qualidade arquitetônica e urbanística do conjunto motivou , em 1986, o tombamento dos quatro primeiros blocos (Lei Municipal 1258/85). Em 1991, o conjunto tornou-se uma das sete sub-áreas de preservação da cidade (Lei Municipal 1784/91).

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Figura 6 – Edifício do trecho “A” da Rua Pires de Almeida com Rua das Laranjeiras ao fundo: maior nível hierárquico do conjunto

Figura 7 – Interior da portaria de edifício do trecho “A” da Rua Pires de Almeida

Figura 8 – Praça Múcio Leitão - trecho “B” conformado pelo fechamento dos edifícios em seu entorno.

Na parte final, o terceiro trecho composto por treze edifícios de quatro pavimentos em fita

alinhados ao longo da rua, mais estreira e em suave aclive com inflexão pouco acentuada que

confere uma sensação de sinuosidade (Fig. 9) De aparência mais simples, mas mantendo a

identidade com o conjunto, os edifícios abrigam apartamentos de 1, 2 e 3 quartos. A rua termina

em um pequeno largo ou cul-de-sac delimitado por muros de arrimo em pedras (Fig. 10). Durante

os dias da semana o largo hoje serve de estacionamento para os moradores e, nos finais de

semana, é utilizado como área esportiva e de lazer.

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Figura 9 – Trecho “C” caracterizado pelo suave aclive e inflexão da rua. Note-se o Corcovado e o verde da

pracinha ao fundo.

Figura 10 – Cul de sac no final da rua: espaço apropriado e usado pela população local em diferentes formas.

A concepção dos apartamentos também reflete a forte hierarquia social, com a localização das

dependências de serviço no último pavimento em todos os edifícios. Em função do foco interesse

deste estudo pela configuração do ambiente espaço público não serão analisados os

apartamentos nem os demais elementos específicos de cada edificação.

As fachadas o art-déco são marcadas por desenhos decorativos geométricos, ritmos de vãos e

aberturas emoldurados por reentrâncias e relevos também geométricos, balcões que avançam no

alinhamento frontal e dinamizam o conjunto com suas sombras projetadas. As entradas de todos

os edifícios são claramente definidas e ornamentadas por elementos que enfatizam sua

verticalidade.

O conjunto de edifícios, além de seu reconhecido valor histórico e arquitetônico do Bairro de

Laranjeiras, têm servido de cenário para filmagens cinematográficas e televisivas de época. A

mais recente, a mini-série sobre Juscelino Kubitcheck (Fig. 11), ocupou a rua e a pracinha – Praça

Múcio Leitão, cuja última reforma foi patrocinada por uma rede de televisão.

Figura 11 – Filmagens do seriado JK (março de 2006)

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Análise da morfologia e espacialidade A seguir são analisados os aspectos formais e espaciais do conjunto, reforçados pelas

correspondências dos atributos e fatores definidos, que apresentam semelhanças entre si.

Inicialmente relacionamos os aspectos gerais do conjunto urbano, utilizados na análise visual

para a seguir, apresentar as questões relativas aos elementos e pormenores que caracterizam e

enriquecem as fachadas dos edifícios.

Identificação com a vizinhança

Uma vizinhança identificável - padrão 14 (Alexander et al, 1980) – é aquela onde pequenos

grupos humanos criam a sinergia e o caráter que conferem vitalidade aos agrupamentos maiores.

A identificação da população com sua vizinhança e a distinção desta com as demais confere um

sentido de territorialidade e de apropriação, e são claramente identificadas no lugar. O conjunto,

apesar de sua configuração diferenciada, se integra ao contexto urbano maior. Um dos principais

elementos geradores desta integração é a Praça Múcio Leitão, tratado no item pequenas praças

públicas.

O raio de um bairro (ou vizinhança) para 500 habitantes não deve ter mais de três quarteirões ou

o diâmetro de 300 metros. Este cuidado assegura um sentido de orgulho pessoal aos moradores,

valorizando sua individualidade, na medida em que personalizam seu “território”. Como uma rua

com movimento intenso e tráfego pesado pode destruir a noção de vizinhança, convém priorizar a

circulação de pedestres (Appleyard apud Alexander et al, 1980: 97).

A apropriação do território está presente na clara distinção entre os espaços públicos (rua e

praça), semi-privados (garagens e pátios de serviço) e privados (apartamentos). O cul-de-sac

pode ser considerado um espaço semi-público, pois ele é apropriado, controlado e utilizado pelos

moradores. Na rua, a sensação de estar sempre sendo vigiado é reforçada pelas janelas que se

voltam para a rua e para a praça, inclusive no nível do térreo – cuja privacidade é garantida pelo

desnível de aproximadamente 1 m dos apartamentos em relação aos passeios (Fig. 12).

O sentimento de pertencimento está presente em pequenas intervenções, como os vasos de

plantas que decoram alguns passeios, impedem o estacionamento irregular e dificultam a

circulação de pedestres, que preferem circular pela rua (Fig.13).

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Figura 12 – Janelas voltadas para a rua que vigiam o

movimento enquanto preservam a privacidade dos apartamentos pelo desnível de um metro.

Figura 13 – Exemplo de apropriação e sentimento de pertencimento da população com efeitos negativos na

circulação de pedestres.

Pequenas Praças Públicas

A definição de pequenas praças públicas – padrão 64 (Alexander et al, 1980) – quando

conformadas pelo alargamento dos principais percursos de pedestres, configuram núcleos

geradores de de atividades ou de circulações,. A dimensão adequada da praça garante sua

vitalidade, seu uso e sua apropriação. As modernas praças de dimensões e aspectos coerentes

com os grandes planos modernistas, “na vida real acabam sempre desoladas e mortas”

(Alexander et al, 1980: 290). Os autores sugerem 30m2 de área por pessoa como parâmetro para

o desenho de uma praça pequena para um grupo pequeno, que gera ambientes mais confortáveis

e atraentes, ambiências favoráveis ao uso e à permanência e funcionam melhor do que grandes

áreas verdes e desertas. Também recomendam a distância limite de 20 m para a identificação

visual das feições das pessoas ou da voz humana, fatores relacionados com a sensação de

segurança. Assim, uma praça pública de pequenas dimensões deve ter entre 14 e 18 metros de

largura por até 21m de comprimento.

Ashihara relaciona a distância máxima para a acuidade visual com a sensação de fechamento,

proteção e intimidade presente em pequenos espaços exteriores. “Em um espaço com estas

dimensões [22 a 27m x 22 a 27m] todas as pessoas podem ver perfeitamente as feições de

qualquer outra, pois a distância máxima que pode separá-las não supera os 20 ou 25m de modo

que a identificação seja fácil e o espaço obtido seja suficientemente compacto e íntimo” (Ashihara,

1982:46). Ao demonstrar que certos elementos das fachadas e as feições das pessoas tornam-se

indefinidos a partir dos 30m Ashihara 1982: 52-55) confirma Alexander et al (1980).

Ashihara (1982) também relaciona a altura dos edifícios com o ângulo de visão humano. O

campo visual vertical abrange aproximadamente 60º, dos quais 20º correspondem ao campo

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visual inferior (abaixo do plano horizontal de visão) e 40º, ao campo visual superior (acima do

plano horizontal). Ele sugere que a altura do edifício não deva ultrapassar 2/3 do campo visual

superior, para garantir a integração do conjunto com a paisagem de fundo e com o céu (Fig. 14).

A Praça Múcio Leitão - a pracinha da Pires de Almeida como é conhecida – também contribui com

a identificação da vizinhança com as ações das pessoas a freqüentam. Sua localização central

em relação aos edifícios e o fato de estar no percurso diário da maioria dos moradores, ela se

torna um ponto nodal e marco referencial do conjunto (Lynch, 1960). Nela os usos cotidianos se

sobrepõem e as apropriações ocorrem em todos os momentos do dia: pelas crianças e suas

atividades lúdicas, pelos mais velhos que tranquilamente conversam, descansam ou apenas

contemplam o lugar, ou pelos mais jovens que à tarde ou à noite, interagem em divertidos (e

ruidosos) encontros e flertes à meia-luz.

A configuração da praça gera um ambiente envolvente. A sensação de recinto fechado e

protegido pelos edifícios que a circundam e pelas copas das árvores, que formam um “teto verde”,

garantem um microclima mais ameno e a sensação de frescor e acolhimento (Figs. 14 e 15).

Como as pessoas também vivem fora das habitações, o ambiente externo deve ser o mais

agradável e cômodo possível (Greater London Council, 1985). Em função de sua organização

espacial, os espaços do conjunto se integram à trama urbana existente; (b) os espaços são

agradáveis e acolhedores; (c) a relação entre as pessoas e os espaços confere um sentido de

identidade ao ambiente.

Figura 14 – Corte esquemático transversal da praça com indicação de angulação visual conforme Ashihara (1982).

Figura 15 - Sentido de fechamento provocado pelos ângulos fechados que envolvem a praça conforme

Greater London Council (1985).

Com relação aos tipos de fechamento, uma praça delimitada por um conjunto de edifícios pode

ser considerada como uma variação menos rígida de um pátio comunitário ou uma grande

habitação e, a exemplo desta, simboliza um lugar de repouso, visualmente estático. A

configuração da pracinha evidencia a facilidade de contato social entre os vizinhos e um certo

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isolamento de seus usuários com relação aos “estranhos”. Também atenua a sensação de

isolamento de outras atividades, em função da proximidade com a Rua das Laranjeiras, em parte

fortalecida pela configuração da rua, sem saída. Diferentemente da rua tradicional, que simboliza

movimento, a Pires de Almeida tem movimento reduzido, seja no aspecto físico, seja no visual.

Edifícios ou Complexos de Edifícios

Edifícios ou complexos de edifícios – padrão 95 (Alexander et al 1980) – devem conter partes

identificáveis, especialmente em se tratando de habitações, de modo a humanizar o conjunto e

que sejam capazes de manifestar as relações sociais internas dos seus habitantes. Baixa

densidade habitacional por bloco, três ou quatro pavimentos para manter a escala humana,

decomposição em blocos estreitos, geminados e altos, com acessos independentes e alinhados à

rua, são algumas das indicações sugeridas como ideais para um conjunto residencial, todas e

presentes na Pires de Almeida.

Os autores indicam as fachadas no alinhamento frontal do lote, desde que a insolação e a

aeração sejam garantidas pela relação entre a altura dos edifícios e a largura da rua (1/2,5 < L/H >

1), como a melhor solução para a criação de caminhos e espaços sociais positivos. Devem ser

evitados os recuos que não valorizam o espaço público e destroem o caráter das áreas livres

intermediárias. As suaves angulações intermediárias, a ausência de recuos e as aberturas no

térreo remetem à forma da cidade tradicional, conferindo bem-estar e conforto dos moradores e

usuários. As fachadas são enriquecidas com nichos, reentrâncias, pequenas entradas, vãos e

aberturas ritmados, uma fenestração interessante e dinâmica.

Estas relações estão presentes e reforçam a identidade e o significado do conjunto e favorecem o

contato humano entre os seus freqüentadores (Alexander et al 1980).

No espaço linear dos edifícios em fita, a relação entre largura da via e altura dos edifícios produz

uma sensação de bem estar e de tranqüilidade, em que pese ela ser inferior ao mínimo

recomendado – enquanto os autores recomendam 2,5 < R/L > 117, no trecho A, R/L = 0,65

(sensação de fechamento é atenuada pelo afastamento entre os blocos) e no C = 0,7. Na praça, a

relação de L/H = 1,93 no sentido transversal e 4,6 no longitudinal, ultrapassa a recomendação do

Greater London Council (1985) de R/L ≤ 4, mas é atenuada pela sensação de “teto verde”

produzida pela copa das árvores (Figs. 16 e 17)

17 Cf. Alexandre et al, (1980), L/H < 1 aumenta a sensação de fechamento/claustrofobia, enquanto L/H > 1/2,5, produz sensação de insuficiência de fechamento.

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Figura 16 – Campo de visão da rua no trecho A

Análise visual com base em Ashihara (1982: 42). Desenho de Alexandre Barbosa

Figura 17 – Campo de visão da rua no trecho C Análise visual com base em Ashihara (1982: 42).

Desenho de Alexandre Barbosa

Quanto aos fatores exteriores [integração com os ambientes circundantes]: (a) o conjunto de

edificações alinhadas pela fachada possui harmonia de escala e proporção; (b) o fechamento

realça as qualidades espaciais dos edifícios e reforça a qualidade visual do conjunto; (c) a

configuração facilita a orientação dos transeuntes; (d) a circulação de pedestres é claramente

definida, em paralelo às vias de tráfego de veículos, apesar do conflito decorrente da tolerada

invasão de veículos sobre os passeios, decorrente da insuficiência de vagas.

Os espaços entre os edifícios (fechamento espacial) devem estimular os sentidos humanos, pois a

qualidade de cada espaço tem características próprias relacionadas às emoções e reações

humanas. Na Pires de Almeida, o fechamento produz a sensação de abrigo, de proteção e de

lugar singular; a praça Múcio Leitão produz uma sensação de privacidade e vigilância (território).

Sua configuração potencializa o sentido de pertencimento a um lugar onde o vandalismo

inexistente e o sentido de preservação contrastam com a maior parte dos ambientes da cidade. A

disposição dos edifícios e a centralidade da praça também favorecem o contato social entre

moradores e freqüentadores.

A eventual falta de contraste do espaço primário – definido pelos elementos fundamentais que

configuram o espaço –, decorrente da unidade volumétrica e dos próprios elementos construtivos,

é atenuada pela escala do conjunto, pela cor dos edifícios, pelo recuo do último pavimento e pela

arborização da praça – elementos secundários que tendem a reduzir a escala, humanizando o

espaço.

Em lugares com diferentes ambientes e configurações espaciais, a continuidade e o contraste

são importantes e instigadores e induzem as pessoas a seguirem naturalmente adiante. Desde a

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esquina até o trecho final, com sua suave inflexão, caminhar na Pires de Almeida é sempre

agradável e o contraste é garantido pela mudança de tipos espaciais identificados (trechos A, B e

C); pela variação do tamanho e da escala dos edifícios e ambientes; pela variação do grau de

fechamento e dos elementos que os configuram (sacadas, beirais, portas de entrada , etc); e pela

altura dos edifícios, que no trecho C é favorecida pelo suave aclive do terreno (Fig. 18).

Figura 18 - Corte esquemático com o grade da rua com o suave aclive (8o) a partir da pracinha.

Desenho de Alexandre Barbosa

Acessos e entradas

A localização da Entrada Principal – padrão 110 (Alexander et al, 1980) – define e controla o

caráter dos edifícios e os movimentos de entrada e saída. Quando bem inserida destaca-se de

maneira natural e simples; se mal situada, isto se refletirá negativamente em toda unidade. Deve

estar disposta de maneira que seja vista com clareza, seja legível e oriente a posição e o

movimento de aproximação das pessoas. Sua visualização imediata torna automática a ação de

caminhar em direção a ela, permitindo que o transeunte pense em outros assuntos ou desvie a

atenção para outros elementos interessantes pelo caminho. Sua forma deve torná-la claramente

visível e identificável – . Elementos como a cor, a presença de molduras e ornamentos, criam um

jogo de luz e sombra, e auxiliam a diferenciar seu papel funcional.

As entradas dos edifícios são claramente identificadas no conjunto e são destacadas por linhas

verticais em alto relevo, pelas molduras geométricas e pelas pesadas portas de em ferro e cor

escura, em contraste com as paredes claras. Nos quatro blocos do trecho A, as marquises e

balcões sobrepostos à fachada emolduram e reforçam sua verticalidade e sua separação destes

acentua ainda mais sua localização.

O conjunto apresenta homogeneidade em sua volumetria, ritmo e dimensão de vãos e aberturas,

bem como na simetria e nos elementos decorativos, em que pese a sutil variação nos detalhes

construtivos e ornamentais. Os pisos dos passeios também apresentam diferenciações de

texturas e cores, apesar dos desníveis no trecho A, que estão em desacordo com os critérios de

acessibilidade atual. Não foram observadas facilidades como rampas para vencer estes

obstáculos em nenhuma situação, à exceção do cul-de-sac ao final da rua, onde há uma rampa

para o acesso dos veículos que lá estacionam.

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A unidade do conjunto é garantida pela sucessão coerente de espaços, de detalhes, pelo uso dos

mesmos materiais, elementos construtivos e variedade de conexão/enlace entre os espaços

produzindo um certo grau de dramaticidade associado à sensação de acolhimento e atração

proporcionados pelo ambiente.

Para não dizer que (só) falei das flores...

Mesmo encantadora, a Rua Pires de Almeida não é um paraíso. Os problemas e aspectos

negativos observados merecem ser comentados, tanto no planejamento das edificações, quanto

na manutenção e conservação do conjunto residencial. Também foram observados alguns

problemas relacionados com o sentido de coletividade.

O mais grave deles está relacionado com as intervenções realizadas sem critério ou planejamento

nos edifícios. Nos quatro blocos do trecho A, como a área de serviço originalmente era coletiva, –

localizada no terraço acima do pavimento de serviço – foram construídos anexos ou “puxados”

que hoje ocupam toda a área do recuo de fundos18.

Nos blocos do trecho B, as intervenções são ainda mais evidentes. No terraço da área de serviço

coletiva, que originalmente ocupava a metade frontal do pavimento, foram construídos telhados

com diferentes configurações, em sua maioria com telhas de fibrocimento, aumentando a área

privativa das unidades e descaracterizando suas fachadas frontais (Fig. 19). As intervenções nas

fachadas posteriores, menos visíveis, merecem menção em função da substituição das janelas

antigas, a modificação dos vãos e aberturas e a elevação do último pavimento sem qualquer

preocupação com as características originais do edifício ou com a unidade do conjunto

arquitetônico (Fig. 20).

Fig. 19 – Acréscimo no terraço de um bloco do trecho B Fig. 20 – Descaracterização da fachada dos

fundos de bloco do trecho B

18 À exceção do bloco que faz esquina com a pracinha

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Deve ser mencionada a posição aleatória dos aparelhos de ar-condicionado de janela nos blocos

do trecho A, que desconsidera seus elementos e sua composição. Provavelmente em função do

processo de tombamento ainda em curso19 estes são os blocos que menos sofreram

descaracterizações em sua forma e aparência originais.

O estacionamento irregular é outro problema de difícil solução. Como o número de vagas nas

áreas de estacionamento é restrito, limitando-se aos edifícios do trecho B, os moradores

estacionam seus carros na rua e, no trecho A, também no passeio, dificultando a circulação de

pedestres (Fig. 21). Uma empresa estatal e uma escola de teatro nas proximidades agravam o

problema, pois seus empregados e visitantes costumam estacionar nesta rua, o que ocasionou a

instalação da cancela para inibir o estacionamento de não moradores.

Figura 21 - Carros estacionados na calçada do setor A. Figura 22 – Lixo à espera da coleta em frente à praça.

O lixo também provoca problemas, pois o conjunto não dispõe de um local apropriado para seu

depósito até que seja recolhido pela concessionária. Assim, se acumula na esquina da pracinha à

espera do caminhão que nem sempre cumpre os horários de coleta (Fig. 22), ficando exposto por

várias horas, atraindo insetos e animais e produzindo mal-cheiro.

Ainda outros problemas, relacionados com o comportamento dos moradores e usuários, são

apontados, como o grande o número de cachorros na vizinhança, especialmente de pequeno

porte, mais barulhentos, que geram uma interferência negativa durante o dia. Este problema,

entretanto, não se resume aos moradores, pois a pracinha é apreciada por proprietários de

19 Apenas um edifício do trecho A foi tombado pelo Município.

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cachorros que moram nas redondezas e os trazem para ali atender às suas necessidades

fisiológicas, sem o cuidado de recolher os vestígios orgânicos dos animais.

Em um dos edifícios há uma maritaca – espécie de papagaio pequeno e muito barulhento – que

diariamente exercita seus dotes musicais incomodando a vizinhança. Depois de muita

reclamação, o animal foi tirado do terraço, e levado para o interior do apartamento, reduzindo

sensivelmente o barulho gerado.

À noite, a conversa freqüente dos adolescentes na pracinha até a madrugada incomoda o sono

daquele entorno. Sobre este problema, existe uma história pitoresca, do início dos anos 70. Um

senhor muito educado e calmo, morador de um apartamento térreo da pracinha, invariavelmente a

partir das 9:30 horas da noite, abria sua janela em intervalos regulares e educadamente dizia “são

nove e meia!” .... “são dez horas” .... seu apelido, logicamente, era Cuco.

Ainda sobre barulhos, um clube e uma casa de eventos das redondezas promovem animados

bailes nas noites de sextas-feiras e festas infantis com animadores e muita música infantil nas

tardes de fins de semana. Por outro lado e digno de nota, são os belíssimos e animados saraus

de chorinho promovidos por um morador, cujo filho integra o Água de Moringa20, nos finais de

tarde de sábado, se estendendo noite a dentro.

Finalmente, a rua e a pracinha, cuja manutenção e conservação é de responsabilidade da

administração municipal, sofrem com o descaso inerente aos espaços públicos cariocas. A

aparência da praça transmite a sensação de abandono e falta de cuidado com o mobiliário urbano

(Figs. 23 e 24)

Figura 23 – Estado de descaso espaço público: afloramento de cabos de iluminação pública

Figura 24 – Detalhe de cabeamento de energia elétrica exposto sobre o piso da praça.

20 O Água de Moringa é um conhecido conjunto carioca de chorinho.

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... Mas também surgem faixas e flâmulas

Em meio ao atual quadro de individualismo, privatismo e globalização desenfreada, a alma

encantada das ruas prevalece na Rua Pires de Almeida.

Os vizinhos se reúnem para promover festas juninas – que duram três dias e três noites (Fig. 25)

– para protestar contra descasos e desmandos político-administrativos – como na recente

epidemia local de dengue (Fig. 26) – para resolver problemas e questões cotidianas, ou para

simplesmente jogar conversa fora no meio da tarde. O espaço público e comum da rua e da

pracinha é o palco destes eventos de congregação. Os sinais visíveis que a vizinhança deixa

nestas ocasiões denotam o espírito de coletividade e o sentimento de topofilia deste pequeno

reduto da memória da cidade.

Figura 25 – Bandeirinhas enfeitam a rua durante os festejos juninos.

Figura 26 – A rua protesta frente a omissão de ações preventivas contra a dengue.

A detecção dos problemas de barulho na vizinhança, ainda que por vezes incômodo, parece

indicar a vitalidade e a apropriação cotidiana que seus moradores e apreciadores fazem do lugar.

Não podemos esquecer que estes pequenos inconvenientes, assim como os ruídos produzidos

pelas crianças na pracinha, são sonoridades inerentes ao coletivo residencial urbano.

No estudo anterior, verificamos a aplicabilidade da abordagem experiencial e da observação

incorporada para análise dos aspectos sociais do entrelaçamento tecnologia-natureza-sociedade,

o que indicou uma avaliação preliminar positiva do lugar.

Neste estudo, entrelaçamos os resultados da análise perceptivo-cognitiva anteriormente obtidos

aos aspectos objetivos da relação humanos e não-humanos, ou seja, a análise física e

morfológica possibilitou confirmar os resultados qualitativos e estabelecer atributos e fatores que

refletem a qualidade deste lugar residencial.

O entrelaçamento tornou possível verificar que o “mundo” Pires de Almeida é uma construção

coletiva de homem e objetos – seus moradores e admiradores e seus elementos arquitetônicos e

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urbanísticos. Juntos, com suas interferências, perturbações e estímulos recíprocos, engendram

este lugar significativo e valorizado por todos.

É importante enfatizar que as lições aprendidas no estudo da Pires de Almeida, tanto a partir dos

elementos arquitetônicos e urbanísticos, quanto a partir dos aspectos subjetivos presentes no

conjunto, são indicativos de sua qualidade projetual e devem ser estimulados no ensino de projeto

e na concepção de novos empreendimentos.

“Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue ... “

João do Rio (1995: 7)

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