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PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA OVINOS Paulo Cesar de Faccio Carvalho Zootecnista, Doutor em Produ9ao Anima/. Professor da Facu/dade de Agronomia - UFRGS Sistemas eficientes de uso da pastagem necessitam de algum grau de planejamento. Para se ter uma ideia do objetivo central do planejamento alimentar em pastagens, fac;amos uma comparac;ao com alguem que fara um churrasco para aJamflia. A partir de uma estimativa de quantas pessoas virao, e de quanto devera comer cad a uma dessas pessoas (demanda), providencia-se uma quantidade de carne que seja suficiente (oferta) para que todos comam a vontade. Exatamente assim deve ser encarado 0 planejamento alimentar na pastagem. Quando pretendemos alimentar algum rebanho, duas questoes basicas tem de respondidas: 1) Quanto pasto eu tenho ? 2) Quantos animais eu alimento com tal quantidade de pasto? o resultado da resposta as questoes 1 e 2 e que direciona as ac;oes de manejo. Se tivermos mais pasto do que precisamos, ou se temos mais demanda do que pasto, temos de tomar uma atitude visando a eficiencia do processo. 0 que 0 planejamento proporciona e a quantifica{:ao da falta ou do excesso de forragem, 0 que torna as ac;oes de manejo menos "artesanais". Portanto, vejamos 0 que e necessario para responder a essas questoes centrais do manejo. Usaremos um exemplo simples para ilustrar os princfpios de um planejamento forrageiro. 1 QUANTO PASTO EU TENHO? o procedimento para quantificar a quantidade de pasto existente num potreiro e, num primeiro momento, simples. E necessario: - Uma balanc;a que pese em gramas.

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PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA OVINOS

Paulo Cesar de Faccio Carvalho Zootecnista, Doutor em Produ9ao Anima/.

Professor da Facu/dade de Agronomia - UFRGS

Sistemas eficientes de uso da pastagem necessitam de algum grau de planejamento. Para se ter uma ideia do objetivo central do planejamento alimentar em pastagens, fac;amos uma comparac;ao com alguem que fara um churrasco para aJamflia. A partir de uma estimativa de quantas pessoas virao, e de quanto devera comer cad a uma dessas pessoas (demanda), providencia-se uma quantidade de carne que seja suficiente (oferta) para que todos comam a vontade. Exatamente assim deve ser encarado 0

planejamento alimentar na pastagem. Quando pretendemos alimentar algum rebanho, duas questoes basicas tem de respondidas:

1) Quanto pasto eu tenho ?

2) Quantos animais eu alimento com tal quantidade de pasto?

o resultado da resposta as questoes 1 e 2 e que direciona as ac;oes de manejo. Se tivermos mais pasto do que precisamos, ou se temos mais demanda do que pasto, temos de tomar uma atitude visando a eficiencia do processo. 0 que 0 planejamento proporciona e a quantifica{:ao da falta ou do excesso de forragem , 0 que torna as ac;oes de manejo menos "artesanais". Portanto, vejamos 0 que e necessario para responder a essas questoes centrais do manejo. Usaremos um exemplo simples para ilustrar os princfpios de um planejamento forrageiro.

1 QUANTO PASTO EU TENHO?

o procedimento para quantificar a quantidade de pasto existente num potreiro e, num primeiro momento, simples. E necessario:

- Uma balanc;a que pese em gramas.

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- Uma tesoura, tesoura de esquila, tesoura de jardim, etc.

- Sacos para recolher a amostra,

- Um quadrado de vergalhao de area conhecida (pode ser em formato de U),

- Forno de microondas, estufa ou fogao, para secar a amostra 1

Digamos que 0 potreiro tenha uma area de 10 ha. Escolha varios lugares da pastagem que Ihe parecem corresponder a media do potreiro2 (FIGURA 1). Com um quadrado de ferro de area conhecida, por exemplo, 0,5 x 0,5 m (0,25 m2

), corte todo 0 pasto contido dentro do quadrado, 0 mais proximo posslvel do solo, mas acima do mantilho (FIGURA 2). Recolha 0 pasto em um saco. Pese a amostra. No caso de ter microondas, ponha um copo de agua junto com a amostra e seque em potencia maxima por tres minutos. Pese novamente a amostra, e novamente a coloque no forno de microondas por um minuto. Pese a amostra. Repita esta ultima operagao ate que se atinja um peso constante (nao altere mais).

Figura 1. Selecione uma area representativa no potreiro

1 No caso de nao ser possivel secar as amostras, informe-se em tabelas de composi~ao bromatol6gica das forragens e desconte 0 valor aproximado de teor em agua. 2 Se 0 potreiro esta sendo manejado em pastejo rotacionado, deve-se fazer 0 mesmo procedimento nos sub-potreiros. Oependendo da quantidade de divis6es, nao ha necessidade de amostrar todos os sub­potreiros, mas e importante que igual numero de amostras seja feito em todos os sub-potreiros amostrados. 40 Praticas em Ovinocultura - SENAR-RS

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Figura 2. Cortar todo a amostra, sem levar solo junto.

Digamos que a amostra tenha pes ado 5 gramas, temos entao que a quantidade de pasto contida no quadrado corresponde a 5 gramas de materia seca3

. Como 0 quadrado tem dimens6es de 0,25 m2

, isto significa 20 gramas de materia seca/m2• Isto corresponde a

2.000 kg de materia secal ha, pois 0 ha tem 10.000 m2. Finalmente,

como 0 potreiro tem 10 ha, respondemos parcialmente a primeira pergunta. Naquele momento, con tam os com 20.000 kg de materia seca.

Algumas dicas sao importantes para esta etapa. Como 0

conteudo de poucos metros quadrados expressara a quantidade de pasto de varios hectares, a representatividade da amostra e fundamental. Sempre se questiona quantas amostras tem que ser feitas. Infelizmente, nao ha res posta objetiva para esta questao. Quanto mais variaveis forem as condi96es do potreiro, maior 0

numero de amostras requeridas. Lembre-se que a ideia e bem representar a area, e deve-se cortar a quantidade de amostras n.ecessarias para tal. Outro ponto importante e que qualquer material estranho a forragem, se for pesado junto, podera induzir a erros enormes. Cada grama no exemplo acima corresponde a quase meia tonelada de pasto. Portanto, uma simples pedrinha,

3 As diferentes especies forrageiras e mesmo uma mesma especie pode ter um conteudo de agua bastante variavel. Por isso, no planejamento devemos sempre trabalhar, com a forragem desprovida de seu teor em agua, 0 que chamamos de materia seca (MS).

Praticas em Ovinocu/tura - SENAR-RS 41

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resfduos de solo, etc., que acompanhem a amostra sao contaminantes que nao podem ser pesados.

Retomemos os 20.000 kg de MS de que dispomos em todo 0

potreiro, que sao os 2.000 kg de MS/ha que determinamos. Este quantificac;:ao da quantidade de pasto, como se viu, e instantanea, ou seja, temos um estoque imediato de forragem da ordem de 2.000 kg de MS/ha, valor este que denominamos, tecnicamente, de massa de forragem. Para responder total mente a primeira pergunta, uma segunda informac;:ao faz-se necessaria. Alem de saber 0 quanto de pasto tenho hoje, qualquer planejamento s6 podera ocorrer se soubermos quanto de pasto terei ao longo de um determinado perfodo. Para isto, temos que medir 0 crescimento das pastagens, ou sua taxa de acumulo. As necessidades de materiais sao as mesmas para amostragem da massa de forragem, acrescidas de uma estrutura que isole uma pequena area (por exemplo, 1 m2

) do pastejo dos animais. A criatividade e livre, mas uma opc;:ao simples, para ovinos, sao telas para cerca que sao atilhadas nas suas extremidades em conjunto com uma trama ou vergalhao que de solidez a estrutura, que fica com um formato redondo, triangular, quadrado ou trapezoidal (FIGURA 3).

Figura 3. Gaiola de exclusao de pastejo para medic;:ao de taxa de acumulo.

o procedimento para quantificar 0 crescimento das pastagens tambem e simples. No mesmo momento em que se escolhe uma area representativa do potreiro para avaliac;:ao da massa de 42 Praticas em Ovinocultura - SENAR-RS

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forragem, escolha um segundo local identico aquele em que voce ira cortar a amostra e 0 proteja com a gaiola. 0 local amostrado, como vimos anteriormente, informa que, neste dia, temos 0

equivalente a 2.000 kg de MS/ha. 0 local protegido com gaiola deve ficar sem pastejo por um perlodo de, por exemplo, 30 dias4

. No final dos 30 dias, retira-se a gaiola e corta-se 0 pasto com 0 mesmo procedimento descrito anteriormente5

. Digamos que 0 peso indique 7 gramas, ou 0 equivalente a 2.800 kg de MS/ha. Isto significa que em 30 dias teria havido um acumulo de 800 kg de MS, equivalente a uma taxa de acumulo de 26,7 kg de MS/ha/dia.

Com isto se tem as duas informa90es fundamentais para realizarmos um planejamento alimentar. Com elas temos que, num mes, contamos com um total de 28 000 kg de MS no potreiro para alimentarmos uma quantidade de animais a ser definida.

3 QUANTOS ANIMAlS EU ALiMENTO COM TAL QUANTIDADE DE PASTO?

Supondo um grupo de cordeiros com 35 kg de peso vivo e utilizando as informa90es do capitulo anterior, onde um cordeiro de 35 kg ingeriria 1,7 kg de MSI dia e que para que consiga ingerir isso plenamente e necessario Ihe oferecer pelo menos 4 vezes mais forragem6

• Isto nos da uma necessidade diaria de oferecimento, por cordeiro, de 6,8 kg de MS (1,7 x 4=6,8). Ao longo de 30 dias sera necessario oferecer 204 kg de MS para cada cordeiro (6,8 x

4 Perfodos muito menores, ou muito superiores a 30 dias aumentam 0 erro da estimativa de crescimento 5 Em pastejo rotacionado nao ha necessidade de exclusao da area, po is a exclusao ja se faz com 0 descanso. Amostre a massa de forragem do sub­potreiro que os animais acabaram de sair, e a massa de forragem do sub­potreiro que os animais estao para entrar. A diferenya de massa entre eles, dividido pelo periodo de descanso nos da a taxa de acumulo. 6 Este oferecimento superior ao consumo e 0 ponto chave do planejamento em pastagens, e 0 grande diferencial com relayao a sistemas de alimentayao em cocho. Nele estao incluidas as necessidades de um residuo permanente na pastagem, perdas por pisoteio, dejeyoes, senescencia, etc. Erros comuns sao observados nesta etapa, e a consequencia invariavelmente e a alocayao excess iva de animais.

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30=204). Se na primeira etapa definimos que dispomos de 28.000 kg de MS ao Ion go do mes, conclufmos que podemos lotar os 10 ha de pastagem com 137 cordeiros (28.000/204=137).

Cordeiros em crescimento tem requerimentos de consumo que podem variar de 2,8 a 6,0 % do peso vivo dependendo do ritmo de crescimento e do potencial genetico. Ovelhas tambem tem variayao de seu potencial de consumo, mas relacionado particularmente as diferentes fases de produyao (FIGURA 4) .

.... -........ -.............. ~ ................ -----..-..... --.. , " 'I D H • 2i '21 » " .. '" .-•

Figura 4. Padr6es anuais (em semanas p6s-encarneiramento) de requerimentos alimentares de ovelhas em produyao e respectivas ofertas de forragem necessarias ao atendimento de tal demanda

(em kg de MS/ovelha/dia). (SEATTlE e THOMPSON, 1989).

Como pode ser visto, ha momentos em que a oferta de apenas 3 kg de MS/ovelha e suficiente para atendimento de seus requerimentos. Isto ocorre quando ela esta vazia ou nos 2/3 iniciais da gestayao. Em outros, a oferta chega a 7 kg de MS/ovelha, situayao esta que ocorre na lactayao.

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4 PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA DlAGNOSTICO DE SISTEMAS PASTORIS

Para se fazer um planejamento ao longo prazo e importante que identificar tanto a oferta quanto a demanda numa escala anual. A FIGURA 5 ilustra essa recomendayao atraves de um sistema de criayao baseado em campo native com lotayao de 4 ovelhasl ha.

I ..... Demanda ~Taxas de crescimento I 30 ............... - .... - ........................ --..... - ..... - ...... ---.......... ...

cu 25 :e ca 20 € ~ 15

-8 10 DI ~ 5

O+-~-.--.-.--.-,--.-.--.-,--~

o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

meses do ano

Figura 5. Perfil alimentar de um rebanho ovino em pastagem nativa no RS.

Note que as taxas de acumulo do campo nativo sao superiores a demanda do rebanho nos meses de verao e outono. Porem, no inverno a elevayao da demanda do rebanho pela pariyao junto com a diminuiyao do crescimento do campo promove um acentuado deficit alimentar que ocorre justamente no final da gestay8.o e todo perfodo de lactayao da ovelha'. Para se atender a uma demanda proxima a 10 kg de MS/haidia neste perfodo seria necessario uma p"astagem que crescesse a uma taxa de 30 kg de MS/haidia, aproximadamente.

C;; Atraves da concepyao da FIGURA 3 consegue-se diagnosticar,

localizar e quantificar os problemas alimentares de uma produy8.o ovina corrente no RS. A Nova Zelandia e 0 pafs que melhor usa esses conceitos para 0 planejamento alimentar dos rebanhos. A sua experiencia indica que a forma mais barata de produzir cordeiros e respeitando a curva de crescimento da pastagem, moldando a

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estayao reprodutiva dos animais de modo a se encaixar da melhor forma os picos de demanda animal aos picos de crescimento da pastagem. 0 "deslocamento horizontal" da curva de demanda dos animais sempre e a alternativa mais barata e simples frente ao "deslocamento vertical" dela.

As taxas de acumulo variam bastante para uma mesma pastagem em diferentes nfveis de fertilizayao, epocas do ano, manejo, etc. Per exemplo, uma mesma pastagem de azevem manejada com ovelhas com cria ao pe, com a mesma fertilizayao de base, mesmo custo fixe de estabelecimento, mas recebendo diferentes doses de nitrogenio, pode produzir 6.000 kg de MS/ha ou 12.000 kg de MS/ha se aplicarmos 25 ou 325 kg de N/ha. Isso e so para ilustrar a magnitude das diferenyas de crescimento que podemos encontrar para uma mesma pastagem. A avaliayao, econ6mica e biologica, de diferentes doses de nitrogenio, neste trabalho, demonstrou que quando 0 custo e pago com crescimento de cordeiro ao pe da mae a dose otima de nitrogenio e em torno de 150 kg/ha.

Um outro exemplo interessante com respeito a taxas de crescimento vem de um experimento de engorda de cordeiros em azevem usando-se pastejo contfnuo ou rotacionado (FIGURA 6).

cu .;: 'cu

:a - 120 1 I o·~ 100 _

~ ~ 80 /+. ;:-."'.. II ,§ ~ 60 .. _" .. . g E 40- .. +

~ ~ 2~ J-t-------r----.-----lj >< i

~ Perlodo 1 Perlodo 2 Perlodo 3 Perlodo 4

Perlodos

- +- Pastejo Continuo - _. Pastejo Rotativo

Figura 6. Taxas de acumulo em azevem manejado em pastejo contfnuo ou rotacionado com cordeiros (CAUDURO et al. , 2004).

Perfodos 1 = julho; 2=agosto; 3=setembro; 4=outubro

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Pode-se observar que, embora a taxa de acumulo media de todo 0 cicio da pastagem tenha side a mesma para ambos os metodos de pastejo (67 kg de MS/haJdia), elas se comportam de forma diferente ao longo do cicio de crescimento da pastagem. Se por um lado exista uma remogao de area foliar mais expressiva no pastejo rotacionado no infcio do uso do azevem, por outr~ lade isto faz com que, no final da estagao de cresci mento, uma menor populagao de perfilhos exista em fase reprodutiva, 0 que faz com que os metodos venham a se equivaler no final.

A taxa de acumulo e uma variavel fundamental no planejamento, pois a magnitude dela e que define em nfvel de lotagao que podemos trabalhar. Se voce nao puder medi-Ia a campo, procure valores aproximados fornecidos pela pesquisa.

5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ROTACIONADOS

Sistemas de utilizagao de pastagens que fazem uso de pastejo rotacionado tem algumas particularidades para 0 planejamento forrageiro. Longe de se pretender esgotar 0 assunto, pretendemos apenas fornecer elementos basicos para iniciar aqueles que, porventura, queiram utiliza-Io.

Antes de abordarmos esse assunto, e importante que se coloquem os metodos de pastejo, continuo e rotacionado, nos seus devidos lugares, ou seja, eles sao apenas ferramentas que escolhemos para fornecer forragem aos animais. Nao se esquega que 0 metodo nao alimenta 0 animal. 0 metoda nao "cria nutrientes". Nao e 0 fato de que 0 animal fique no mesmo potreiro toda a sua vida, ou que "rode pela direita, ou pela esquerda", que fara com ele tenha desempenho adequado. 0 que e fundamental e a quantidade de alimento que disponibilizamos aos animais. 0 metodo, como diz a palavra, e apenas a forma com que fazemos chegar esse alimento ate os animais. Portanto, nao se baseie em discuss6es apaixonadas para se definir por um ou outr~ metodo, po is 0 "time do torcedor" e sempre 0 melhor. Se voce quer uma dica, use aquele que considere ser 0 mais adaptado as caracterfsticas de sua propriedade, que voce se sinta mais a vontade para manejar e, principalmente, aquele que Ihe traga mais

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seguranya para conseguir atingir as metas de oferta de forragem necessarias aos animais. Inumeras informayoes de pesquisa, de varios locais do mundo, nas mais diferentes situayoes, demonstram que os metodos de pastejo sao praticamente identicos em desempenho animal, quando comparados em ofertas de forragem adequadas aos animais.

Para se planejar um sistema rotacionado, uma formula simples para se calcular 0 numero de sub-potreiros necessarios e:

NP = PO/PO + 1

Onde NP e 0 numero de sub-potreiros, PO refere-se ao perfodo de descanso da pastagem, e PO 0 perfodo de ocupayao dos animais no sub-potreiro. Um sistema que se planeje um PO de 4 dias e um PO de 28 dias tem que ser constitufdo de 8 sub-potreiros pois:

NP=28/4 + 1

NP=8

A particularidade do PO quando utilizamos ovinos e que ele nao deve ser superior a 5 dias, caso contrario 0 risco de infecyao parasitaria e bastante elevado, pois as larvas depositadas nos primeiros dias do perfodo de uso do potreiro atingem a forma infectante (L3) neste perfodo. Por outr~ lado, quanto menor 0

perfodo de ocupayao, maior 0 numero de divisoes e maior 0 custo com cercas, etc. Informayoes de pesquisa informam que muito pouco beneflcio ocorre quando 0 numero de potreiros for superior a 12. 00 ponto de vista de flexibilidade, uma estrutura com 28-30 potreiros permite perfodos de descanso de:

- 28 dias, com PO de 1 dia

- 56 dias, com PO de 2 dias

- 84 dias, com PO de 3 dias

Esta flexibilidade pode ser importante em sistemas de cicio completo, pois os ventres em produyao atravessam na pastagem por perfodos de alta produyao de forragem, e outros de pouca produyao ao mesmo tempo em que seus requerimentos podem variar em ate tres vezes. Neste caso, pode ser interessante ter uma estrutura com maior numero de potreiros, po is 0 manejo e facilitado.

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Com relay8.o ao PO, normalmente usa-se perfodos de descanso menores no perfodo de crescimento da pastagem, e maiores no restante do ano. Assim como no pastejo continuo, 0

segredo do bom uso do pastejo rotacionado e 0 acompanhamento da curva de crescimento da pastagem. Para isso, empastejo rotacionado, e necessario algum tipo de flexibilidade no cicio de pastejo. Pastagens de alta produtividade, em situayoes climaticas favoraveis, podem requerer pastejo a cad a tres semanas!

Para ilustrar a possibilidade de definiy8.o do PO, tomemos um exemplo neozelandes de planejamento para ovelhas no infcio da gestay8.o no perfodo de· menor crescimento da pastagem (MATTHEWS et aI., 1999).

Perfil do sistema

Tamanho da propriedade: 100 ha

Rebanho: 1200 ovelhas

Massa de forragem media na propriedade: 1200 kg de MS/ha em 01/04. Meta de se chegar com 1500 kg de MS/ha em 01/08.

Meta de consumo no perfodo: 1 kg de MS/ovelhaidia

Taxa de acumulo media no perfodo de inverno: 10 kg de MS/haidia

No infcio de maio, a massa de forragem pre-pastejo e de 1600 kg de MS/ha, e a massa de forragem p6s-pastejo e de 800 kg de MS/ha.

Calculo

As ovelhas ingerem 800 kg/ha da massa de forragem , pois a massa de forragem pre-pastejo e de 1600 kg de MS/ha, e quando os animais deixam 0 sub-potreiro a massa de forragem p6s-pastejo e de 800 kg de MS/ha. Ha que se repor essa massa.

Alem disso, a massa de forragem media na propriedade e de 1200 kg de MS/ha. Para adequada alimentay8.o das ovelhas na pariY8.o e necessario que essa massa chegue a 1500 kg de MS/ha no infcio de agosto. Tem-se, portanto, a necessidade de um acumulo de 800+300=1100 kg de MS/ha. Como a taxa de acumulo no perfodo e de 10 kg de MS/haidia, para se acumular os 1100 kg

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de MS/ha necessarlos requere-se urn perfodo de descanso de 1100/10=110 dias.

Pode-se usar 0 exemplo acima para se calcular 0 PO, sabendo­se que e necessario uma estimativa da taxa de acumulo e das massas de forragem como acima demonstrado.

Uma dica importante em pastejo rotacionado e que 0 desempenho dos animais e diretamente relacionado a massa de forragem p6s-pastejo. Quanto menor a massa de forragem p6s­pastejo, menor 0 consumo de forragem dos animais e menor 0 desempenho animal. Portanto, se 0 sub-potreiro fica completamente rapado na safda dos animais, isto n8.o e sinal de born manejo.

Por ultimo, prefira formato de potreiro circular e quadrado. Potreiros retangulares, triangulares e outros consomem mais cerca pel a mesma unidade de area.

5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PASTEJO MISTO

A explora98.0 integrada, ou pastejo misto, envolve mais de uma especie de herbfvoro pastejando urn mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em perfodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das especies animais envolvidas (CARVALHO e RODRIGUES, 1997). Praticada em varias partes do mundo, a explora98.0 integrada tern em sua fundamenta98.0 a maximiza98.o da utiliza98.0 da forragem de modo a proporcionar urn aumento de ProdU98.0 animal que ultrapasse a soma do ganho das especies utilizadas de forma isolada.

CARVALHO et al. (2002) resumiram assim as benesses do pastejo misto para 0 manejo da pastagem e produ98.0 das especies envolvidas:

Vantagens sanitarias que resultam na menor incidencia de parasitas de uma especie sobre a outra e da maior limpeza da pastagem, consequencia da remo98.0 de larvas pelo pastoreio com animais resistentes a especies distintas do h6spede normal.

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Aproveitamento de areas inacesslveis, com base na tendencia dos bovinos de utilizarem as areas planas, enquanto que caprinos e ovinos se aproveitam de areas acidentadas.

Complementaridade potencial em pastejo.

Utiliza98.0 de ofertas de alto valor nutritivo aos animais em produ98.0, sem prejulzo do usc correto da pastagem, quando 0 rebanho e dividido em classes de prodU98.0, iniciando-se com 0 grupo mais produtivo.

Aumento da capacidade de suporte em decorrencia das diferentes preferencias alimentares (aumento do numero de itens vegetais que se constituem em forragem).

Diversifica98.0 da ProdU98.0.

Melhor aproveitamento da forragem disponlvel. Em pastagem cultivada, apesar da menor heterogeneidade do recurso forrageiro, uma superioridade na eficiencia de utiliza98.0 da pastagem de no mlnimo 10 % pode ser esperada em se utilizando pastejo misto, sendo que este efeito estaria principalmente associ ado a utiliza98.0 da forragem rejeitada pelos bovinos.

Manipula98.0 da estrutura da vegeta98.o. Nota-se uma menor porcentagem de material morto na forragem em oferta, e uma densidade maior dos perfilhos situados pr6ximos a locais de deje98.0 no pastejo misto bovin%vino. A melhoria no usc deste tipo de forragem facilita a penetra98.o de 'Iuz na base da pastagem, favorecendo 0 aumento do perfilhamento, incrementando, portanto, a ProdU98.0 de forragem.

Estabilidade em ecossistemas complexos.

Controle de especies indesejaveis.

Portanto, 0 pastejo misto e uma tecnica altamente desejavel no manejo de pastagens, particularmente de pastagens naturais. No entanto, ela vem sendo cada vez menos usada pela diminui98.0 do rebanho ovino, e pela "especializa98.0" crescente dos sistemas de prodU98.0.

Se voce quiser fazer usc do pastejo misto para melhorar 0 desempenho de seus ovinos, por exemplo, e importante que saiba como planeja-Io. Para calcularmos a lota98.0 em pastejo misto e

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necessario esclarecermos os conceitos de unidade animal e taxa de substituiyao partindo de uma simples pergunta: Quantas ovelhas equivalem a uma vaca?

Embora existam diferenyas entre indivfduos e especies, 0 peso vivo elevado a potencia 0,75 (PVO.75

) define 0 tamanho metab6lico de um animal. Ele expressa 0 fato de que animais menores produzem mais calor e consomem mais alimento por unidade de peso vivo que animais de porte maior. Por exemplo, uma vaca de 450 kg e uma ovelha de 50 kg tem tamanhos metab6licos da ordem de 97,7 e 18,8, respectivamente. A relayao em peso vivo e de 9:1, mas a c~rreta e, levando em considerayao 0 tamanho metab6lico, de aproximadamente 5:1. Utilizaremos a definiyao empregada pela Society for Range Management, segundo a qual uma vaca adulta de 454 kg , seca ou com cria de mais de 6 meses e com um consumo de 12 kg de materia seca/dia equivale a uma unidade animal (U.A.). Esta definiyao e muito interessante porque define uma unidade de demanda animal de 12 kg de MS/dia que pode ser utilizada para se calcular qualquer taxa de substituiyao. Exemplificaremos este calculo assumindo uma pastagem onde se utiliza uma lotayao de 2 U.A.lha. Para simplificayao do raciocfnio assumiremos que esta pastagem vinha sendo manejada com duas vacas de 450 kg Iha. Pretende-se iniciar 0 emprego de explorayao integrada e decide-se substituir uma das vacas por ovelhas. 0 calculo e 0 seguinte:

1) fazer a equivalencia do animal a ser substitufdo em unidade animal;

1 vaca de 450 kg = 1 unidade animal (U .A.)

2) transformar a quantidade de unidade animal a ser substitufda pelo numero de animais da especie que fara a substituiyao;

1 (U.A.) = 5 ovelhas

3) utilizando os dados contidos em CARVALHO et al. (2002), considerar a taxa de sobreposiyao de dietas entre as especies

No referido trabalho demonstra-se que, em pastagens naturais, o fndice de sobreposiyao de dietas pode ser de apenas 50 %, ou seja, apenas 50 % do que ovinos e bovinos consomem constituem­se nas mesmas plantas. Neste caso:

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n° de animais / taxa de sobreposiyao

5 ovelhas / 0.5 = 10 ovelhas

A taxa de substituiyao de vaca:ovelha nestas condiyoes e de 1/10. A grande limitayao para 0 emprego correto da taxa de substituiyao e que, embora a equivalencia animal possa ser facilmente calculada ou mesmo encontrada em tabelas, a taxa de sobreposiyao e extremamente variavel em funyao da epota do ana e do tipo, abundancia e diversidade da forragem em oferta e esta informayao e praticamente indisponfvel em . nossas condiyoes. Considerando uma pastagem mono-especffica a taxa te6rica de sobreposiyao passa a ser 100 %.

Urn forte apelo do pastejo misto esta no impacto junto a sanidade dos ovinos. Varios trabalhos demonstram a diminuiyao da infestayao parasitaria como produto da reduyao da densidade de ovinos por unidade de area. Varias sao as possibilidades de planejamento do pastejo misto. Aqui ilustramos uma delas onde se observam ovelhas e vacas em pastejo rotacionado "desencontrado" (FIGURA 7).

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L.""- .. ~,.~J .. _ .. I"._ . .L. .. -. Figura 7. Pastejo misto em sistema rotacionado "desencontrado". 0 numero de potreiros e a posiyao dos lotes sao apenas ilustrativos.

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Apesar de haver infesta~ao cruzada, ha menor infesta~ao pela associa~ao do descanso com a diminui~ao da densidade especffica dos ovinos.

Erroneamente se afirma que em pastejo rotacionado a ovelha deve ir ap6s os bovinos para "acertar 0 pasto", como se ela fosse uma ro~adeira qualquer. Deve-se saber que vai na frente (enlra primeiro no potreiro) aquela categoria que, naquele momento, e a mais exigente.

6 REFERENCIAS (PARA SABER MAIS)

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