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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NÍVEL DE MESTRADO DANIELE INÊS DE MORAES PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA PROPOSTA DE USO CONSERVACIONISTA FRANCISCO BELTRÃO PR 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

NÍVEL DE MESTRADO

DANIELE INÊS DE MORAES

PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE

TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS

FLORESTAIS: UMA PROPOSTA DE USO

CONSERVACIONISTA

FRANCISCO BELTRÃO – PR

2014

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DANIELE INÊS DE MORAES

PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE TRILHAS

ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA

PROPOSTA DE USO CONSERVACIONISTA

Dissertação de mestrado apresentada como

requisito parcial à obtenção do grau de

mestre em Geografia na Universidade

Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE,

campus de Francisco Beltrão.

Área de concentração: Dinâmica, Utilização

e Conservação do Meio Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa

Candiotto

FRANCISCO BELTRÃO – PR

2014

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Dedico este trabalho a meus pais Juscelino e Maria Salete e

ao meu esposo Leandro.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador Luciano Candiotto, por acreditar na pesquisa e por

todo apoio, paciência e dedicação prestados em todos os momentos dessa trajetória.

Aos professores Fabrício Pedroso Bauab e Fernando César Manosso pelas

contribuições dadas no exame de qualificação e pelo aceite em participar da banca de

defesa.

Aos professores Rosana Biral Leme, Roseli Alves dos Santos, Fabrício

Pedroso Bauab e Beatriz Rodrigues Carrijo pelos ensinamentos desde o período de

graduação.

A professora Marga Elis Pontelli pela disposição em me ajudar nos estudos no

laboratório.

Aos proprietários do Recanto Renascer Adelino e Assunta Menegatti, por

permitirem a realização dos estudos em sua propriedade, e pela amizade,

disponibilidade e carinho prestados.

A UNIOESTE pela oportunidade de graduação e mestrado.

A CAPES pela bolsa concedida.

Aos meus pais Juscelino e Maria Salete de Moraes pelo amor, carinho e

incentivo.

Ao meu esposo Leandro Moos, pela paciência, dedicação e companheirismo.

A minha amiga Leila Pazolini, pela paciência e por sempre ter uma palavra de

apoio e carinho nos momentos de angustia e desanimo.

A minha Tia Maria Helena, que sempre me ajudou com os problemas de saúde

de minha mãe, permitindo que eu realizasse meus estudos.

A minha amiga Clariana Bressiane pelo incentivo no início da pesquisa.

A minha amiga e colega de mestrado Veridiane da Silva, grande companheira

em todos os momentos da pesquisa.

Ao meu amigo e colega de mestrado Luiz Barcelos pelo apoio na elaboração

dos mapas.

A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o desenvolvimento

desta pesquisa, meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo principal conhecer os procedimentos

necessários para a implantação e manejo de trilhas ecológicas em áreas florestais,

considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos estabelecimentos

rurais. Através da revisão bibliográfica e dos estudos empíricos realizados, foi possível

fazer um levantamento dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo das

trilhas em áreas florestais, além de avaliar as condições físico-ambientais, o perfil dos

usuários e as atividades interpretativas desenvolvidas em duas trilhas ecológicas

localizadas em um pequeno estabelecimento rural aberto à visitação, denominado

Recanto Renascer, no município de Francisco Beltrão-PR. Para o levantamento dos

impactos nas trilhas, foi utilizada a metodologia Monitoramento do Impacto da

Visitação (MIV). Para a análise dos atrativos de cada trilha, utilizou-se a metodologia

Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI). Também foram realizadas

análises de solo, para verificação da compactação dos solos nas trilhas. Os resultados

obtidos com a pesquisa permitiram desenvolver propostas de adequação físico-

ambiental e interpretativa das duas trilhas do Recanto Renascer, além da elaboração de

um material técnico-informativo destinado a proprietários de estabelecimentos rurais

interessados em implantar trilhas ecológicas ou adequar as já existentes.

Palavras – chave: Trilhas ecológicas, fragmentos florestais, usos conservacionistas.

ABSTRACT

This research aimed to identify the procedures required for nature trails in

forested areas´ deployment and management, considering benefits and problems of its

use in small farms. Through literature review and empirical studies, it was possible to

survey the methods and techniques of deployment, use and management of trails in

forested areas, and to evaluate physical and environmental conditions, the user profile

and interpretative activities in two ecological trails located in a small farm open to

visitors, called Recanto Renascer, located in the municipality of Francisco Beltrão,

state of Parana, Brazil. To assess the impact on the trails, the methodology Monitoring

the Impact of the Visitation (IVM) was used. For the analysis of the attractiveness of

each track, we used the methodology of Interpretative Attractiveness Index Points

(IAPI). Soil analysis for verification of soil compaction on the trails were also done.

The results obtained from the research used to develop proposals for physical-

environmental and interpretive adequacy of the two tracks of Recanto Renascer,

beyond the preparation of a material with technical information to owners of farms

interested in establishing nature trails or in adapting existing trails.

Key words: Nature trails, forest fragments, conservation uses.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha............................................

Gráfico 2 Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos..................................................

Gráfico 3 Faixa etária dos visitantes.........................................................................

Gráfico 4 Grau de escolaridade dos visitantes...........................................................

Gráfico 5 Ocupação dos visitantes............................................................................

Gráfico 6 Município de procedência dos visitantes...................................................

Gráfico 7 Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento da

existência das trilhas..................................................................................

Gráfico 8 Frequência dos visitantes nas trilhas.........................................................

Gráfico 9 Motivação para a visita nas trilhas............................................................

Gráfico 10 Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas

ecológicas..................................................................................................

Gráfico 11 Percepção dos visitantes nas trilhas...........................................................

Gráfico 12 Contribuição do visitante na minimização de impactos nas

trilhas.........................................................................................................

Gráfico 13 Elementos para maior atratividade nas trilhas...........................................

Gráfico 14 Resultado da Experiência Vivenciada.......................................................

Gráfico 15 Resultado MIV por parcelas na Trilha da Estrada

Velha..........................................................................................................

Gráfico 16 Resultado MIV por parcelas na Trilha dos Sentidos ................................

Gráfico 17 Densidade Aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha.................

Gráfico 18 Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos.......................

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localização geográfica da área de Estudo................................................

Mapa 2 Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco

Beltrão- PR................................................................................................

Mapa 3 Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR...

Mapa 4 Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR...........

Mapa 5 Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha da

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Estrada Velha.............................................................................................

Mapa 6 Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha

dos Sentidos...............................................................................................

Mapa 7 Proposta de pontos interpretativos para a Trilha da Estrada Velha...........

Mapa 8 Proposta de pontos interpretativos para a Trilha dos Sentidos.................

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Ficha de campo MIV................................................................................

Figura 2 Ficha de campo IAPI................................................................................

Figura 3 Passos para uma abordagem integrada de trilhas.....................................

Figura 4 Exemplos de formatos de trilhas ecológicas............................................

Figura 5 Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas......

Figura 6 Anatomia de trilha ecológica em área florestal........................................

Figura 7 Marcando o talude superior da trilha.........................................................

Figura 8 Corte do piso da trilha...............................................................................

Figura 9 Corte do talude superior da trilha..............................................................

Figura 10 Inclinação lateral e molde da borda crítica...............................................

Figura 11 Modelos de degraus em madeira...............................................................

Figura 12 Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha.....

Figura 13 Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos.............

Figura 14 Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 Identificação do tipo de solo em campo...................................................

Quadro 2 Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas.................................

Quadro 3 Exemplos de pontos de controle e sua potencialidade/limitações para as

trilhas.........................................................................................................

Quadro 4 Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas..........................

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Quadro 5 Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais..............................

Quadro 6 Planilha de campo MIV.............................................................................

Quadro 7 Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na

Trilha da Estrada Velha.............................................................................

Quadro 8 Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da

Estrada Velha.............................................................................................

Quadro 9 Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na

Trilha dos Sentidos....................................................................................

Quadro 10 Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos

Sentidos.....................................................................................................

Quadro 11 Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada

Velha..........................................................................................................

Quadro 12 Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos..

Quadro 13 Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a

Trilha da Estrada Velha a partir da metodologia MIV..............................

Quadro 14 Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha.

Quadro 15 Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a

Trilha dos Sentidos a partir da metodologia MIV....................................

Quadro 16 Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos.........

LISTA DE FOTOS

Foto 1 Piso natural – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR......................

Foto 2 Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista – Foz do Iguaçu

– PR...........................................................................................................

Foto 3 Piso pavimentado com concreto – Parque Nacional do Iguaçu.................

Foto 4 Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Biológico Bela

Vista – Foz do Iguaçu – PR.......................................................................

Foto 5 Bueiro em área de encosta – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –

PR..............................................................................................................

Foto 6 Ponte em trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –

PR..............................................................................................................

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Foto 7 Ponte pênsil – Parque Nacional do Iguaçu – PR.......................................

Foto 8 Passarela com corrimões – Horto Florestal do Litoral Norte de

Tamandaí – RS..........................................................................................

Foto 9 Placa na trilha da Figueira - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –

PR..............................................................................................................

Foto 10 Painel explicativo sobre relações ecológicas do palmito Jussara –

Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.............................................

Foto 11 Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu–PR................

Foto 12 Barreira de drenagem com bueiro - Reserva Salto Morato -

Guaraqueçaba – PR...................................................................................

Foto 13 Trilha com degraus – Estação Ecológica Juréia – Peruíbe – SP...............

Foto 14 Degraus com rochas – Trilha da Onça – Marechal Candido Rondon –

PR..............................................................................................................

Foto 15 Barreira de contenção com tela – Parque Nacional do Iguaçu – PR.........

Foto 16 Elevação de piso em área plana com rochas – Reserva Salto Morato –

Guaraqueçaba – PR...................................................................................

Foto 17 Piso elevado coberto com geotêstil – Reserva Salto Morato –

Guaraqueçaba – PR...................................................................................

Foto 18 Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer-

Francisco Beltrão-PR.................................................................................

Foto 19 Ponto de entrada Trilha dos sentidos – Recanto Renascer- Francisco

Beltrão-PR.................................................................................................

Foto 20 Placa de Identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha – Recanto

Renascer– PR.............................................................................................

Foto 21 Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer –

PR..............................................................................................................

Foto 22 Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos Sentidos-

Recanto Renascer......................................................................................

Foto 23 Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer – PR.......

Foto 24 Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto

Renascer - Francisco Beltrão – PR............................................................

Foto 25 Pinguela sob curso d’água – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer -

PR..............................................................................................................

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Foto 26 Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha.......................................

Foto 27 Afundamento do piso e perda da borda crítica- Trilha da Estrada Velha

Foto 28 Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha..............................

Foto 29 Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada

Velha..........................................................................................................

Foto 30 Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300m) -

Trilha da Estrada Velha.............................................................................

Foto 31 Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos................

Foto 32 Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos............................................

Foto 33 Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos....................

Foto 34 Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos..

Foto 35 Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha...............................

Foto 36 Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha....................................

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante...............

Tabela 2 Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas.................

Tabela 3 Grau de dificuldade de acordo com a declividade....................................

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LISTA DE SIGLAS

APP Área de preservação Permanente

APPs Áreas de Preservação Permanentes

CC Capacidade de Carga

CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CRESOL Cooperativa de Crédito Solidário

ECO Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

EIA Estudo Prévio de Impacto Ambiental

EMATER Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

FOM Floresta Ombrófila Mista

GPS Sistema de Posicionamento Global

IAPI Índice de Atratividade de pontos Interpretativos

IAP Instituto Ambiental do Paraná

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

LAC Limite Aceitável de Câmbio

MIV Monitoramento do Impacto da Visitação

ONGs Organizações não-governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

PR Paraná

RJ Rio de Janeiro

RL Reserva Legal

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

ROS Expectro de Oportunidade de Recreação

RS Rio Grande do Sul

SAFs Sistemas Agroflorestais

SEMA/SP Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de São Paulo

SIG Sistema Geográfico de Informação

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNUC Sistema Nacional de Unidade de Conservação

SP São Paulo

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IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos

Naturais

UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

UPVFs Unidades de Produção e Vida Familiar

VAMP Processo de Gerenciamento da Visitação

VERP Experiência do visitante e proteção dos recursos

WWF Fundo Mundial da Natureza

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................

3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS................................

3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental.......................

3.2 Breve Trajetória da Preocupação Ambiental: do Preservacionismo ao

Conservacionismo.............................................................................................................

3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais:

modificando percepções, criando possibilidades..............................................................

3.4 As Trilhas Ecológicas.................................................................................................

3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades

recreativo educativas em trilhas ecológicas..........................................................

3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potenciais e

Problemáticas....................................................................................................................

4 PLANEJAMENTO, CONSTRUÇÃO E MANEJO DE TRILHAS

ECOLÓGICAS EM ÁREAS FLORESTAIS..............................................................

4.1 Planejamento..............................................................................................................

4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica................................................................

4.1.2 Usuários........................................................................................................

4.1.3 Análise de Sítio............................................................................................

4.1.3.1 Solo................................................................................................

4.1.3.2 Hidrografia....................................................................................

4.1.3.3 Vegetação......................................................................................

.1.3.4 Fauna..............................................................................................

4.1.3.5 Geomorfologia...............................................................................

4.1.3.6 Regime Climático..........................................................................

4.1.3.7 Pontos de Controle........................................................................

4.1.3.8 Contexto socioeconômico.............................................................

4.1.3.9 Mapeamento..................................................................................

4.1.4 Design...........................................................................................................

4.1.4.1 Forma.............................................................................................

4.1.4.2 Grau de Dificuldade......................................................................

4.1.4.3 Cabeceira da Trilha e Áreas de Estacionamento...........................

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4.1.4.4 Piso................................................................................................

4.2 Construção..................................................................................................................

4.2.1Termologia Básica de Trilhas.......................................................................

4.2.2 Limpeza do corredor....................................................................................

4.2.3 Estruturas para cruzamento d’água..............................................................

4.2.3.1 Bueiros...........................................................................................

4.2.3.2 Pontes............................................................................................

4.2.3.3 Passarela e Corrimões ...................................................................

4.2.4 Sinalizações..................................................................................................

4.2.5 Construção de Trilhas em Áreas Declivosas................................................

4.2.5.1 Canais Laterais de Escoamento.....................................................

4.2.5.2 Valas de Drenagem........................................................................

4.2.5.3 Barreiras de Drenagem..................................................................

4.2.5.4 Degraus..........................................................................................

4.2.5.5 Barreiras de Contenção de Contenção...........................................

4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas.......................................................

4.3 Manejo........................................................................................................................

4.3.1Manutenção...................................................................................................

4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos ...................................................

4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas............................................

4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos....................................................................

4.4.1Capacidade de Carga.....................................................................................

4.4.2 Limite Aceitável de Cambio (LAC).............................................................

4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação (VAMP).....................................

.4.4 Experiência do Visitante de Proteção dos Recursos (VERP)........................

4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação (ROS)..........................................

4.4.6 Manejo do Impacto da Visitação (MIV)......................................................

4.4.7 Índice de Avaliação de Impactos (IAP).......................................................

5 TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE

PEQUENOS ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO

RENASCER, MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR.................................

5.1 Localização e caracterização geográfica da área de Estudo........................................

5.1.1 Aspectos Abióticos.......................................................................................

5.1.2 Aspectos Bióticos.........................................................................................

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5.1.3 Aspectos Socioeconômicos......................................................................................

5.1.4 As Trilhas: caracterização físico-ambiental.................................................

5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha.................................................................

5.1.4.2 Trilha dos Sentidos........................................................................

5.2 Perfil dos visitantes e sua percepção sobre os impactos e conservação das

trilhas.................................................................................................................................

6 DIAGNÓSTICO FÍSICO-AMBIENTAL, ÍNDICE DE ATRATIVIDADE E

PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCER-

PR.....................................................................................................................................

6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV.............................................................

6. 1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada

Velha....................................................................................................................

6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos....

6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto

Renascer............................................................................................................................

6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da

Estrada Velha........................................................................................................

6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos

Sentidos.................................................................................................................

6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação.............................

6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade...............................................

6.4 Proposta de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer ........................................

6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer..............

6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer......

6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha.................................................................

6.4.2.2 Trilha dos Sentidos........................................................................

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................

8 REFERÊNCIAS...........................................................................................................

9 APÊNDICES.................................................................................................................

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista realizada com o casal de proprietário do

Recanto Renascer.........................................................................................................

APÊNDICE B – Questionário aplicado aos visitantes das trilhas ecológicas do

Recanto Renascer..............................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

As trilhas ecológicas apresentam-se como um dos principais instrumentos da prática

recreativa em áreas naturais, atraindo um grande número de adeptos, especialmente de

procedência urbana, que buscam a proximidade e a vivência com ambientes pouco

transformados, para lazer, práticas de esporte, estudos do ambiente ou simplesmente para

descanso e contemplação.

Criadas com diferentes formas, larguras e comprimentos, as trilhas ecológicas têm

sido utilizadas tanto como um atrativo secundário aos objetivos principais da visitação em

áreas naturais (visitar uma cachoeira, lago, afloramento rochoso, etc.) quanto sendo o próprio

sentido da caminhada ou mesmo da visitação. Nas áreas protegidas (unidades de conservação)

são também utilizadas como instrumento de manejo, deslocamento da comunidade,

fiscalização e em programas de educação ambiental.

Apesar de poderem ser implantadas em diferentes ambientes, é nas áreas florestais que

o uso público das trilhas tem ganhado maior destaque. Isso se deve ao fato das trilhas

possibilitarem o acesso e o contato direto do visitante com esses ecossistemas, que devido ao

atual estágio de antropização, são cada vez mais raros e distantes dos ambientes cotidianos.

Nas áreas florestais - sejam elas pertencentes a Unidades de Conservação, Áreas de

Preservação Permanente, Reserva Legal ou em áreas não protegidas pela legislação - as trilhas

ecológicas são tidas como uma alternativa de uso conservacionista, por permitir através da

visitação, a utilização socioeconômica desses ecossistemas e de seus elementos, sem que suas

especificidades e potencialidades primitivas sejam comprometidas ou afetadas de forma

significativa.

A possibilidade de uso conservacionista, aliada à crescente demanda pelas áreas de

floresta para a prática recreativa, coloca as trilhas ecológicas como uma alternativa

interessante de renda e de conservação e recuperação de áreas florestais em estabelecimentos

rurais, especialmente os minifúndios, onde diante do modelo agrícola consolidado e da pouca

disponibilidade de terra para as práticas agrícolas convencionais, é comum que as áreas de

floresta sejam encaradas como espaços perdidos em termos de uso do solo e produtividade

agrícola. Essa percepção, aliada a políticas ambientais ineficientes, tem contribuído para uma

constante perda das áreas florestais nos diversos estabelecimentos rurais, bem como para o

descumprimento da legislação ambiental.

Na região Sudoeste do Paraná, alguns pequenos estabelecimentos rurais abertos à

visitação turística, têm utilizado as trilhas em áreas florestais como uma forma de atrair

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visitantes e diversificar a oferta de atrativos na propriedade. É o caso da propriedade rural

denominada Recanto Renascer, localizada no município de Francisco Beltrão- PR. No local,

existem duas trilhas implantadas no fragmento de floresta que pertence a uma Área de

Preservação Permanente. Uma das trilhas é denominada “Trilha da Estrada Velha” e possui

1.500m de extensão. A outra se chama “Trilha dos Sentidos” e possui uma extensão de 500m.

Essas trilhas apresentam tanto atrativos paisagísticos vinculados à beleza cênica, quando a

aspectos referentes ao potencial educativo/pedagógico, que podem contribuir para o

desenvolvimento de interpretação ambiental.

Porém, apesar se ser considerada uma alternativa de uso conservacionista, o uso

público de trilhas em áreas florestais acaba gerando preocupações, pois, quando mal

planejadas, mal estruturadas e sem uma manutenção eficiente, as trilhas podem trazer riscos

aos visitantes e funcionar como indutoras de impactos negativos sobre os diferentes elementos

do meio biofísico (solo, vegetação, fauna, hidrografia e declividade). Trabalhos realizados por

diferentes profissionais, entre eles geógrafos, têm tratado dos impactos gerados pelo uso

público de trilhas em áreas naturais. Destaque para os trabalhos de Costa (2006) no Parque

Estadual Pedra Branca-RJ; Takahashi (1998) no Parque Estadual do Marumbi-Pr; Magro

(1999) no Parque Nacional de Itatiaia-RJ; e Feola (2009) no Parque Estadual Pico Marumbi-

Pr. Para esses pesquisadores, o uso público de trilhas ecológicas afeta diretamente o solo

através do pisoteio, ocasionado sua compactação, erosão e consequentemente, o afundamento

e alterações de largura da trilha. A visitação também pode contribuir para afugentar animais e

destruir ou dificultar o desenvolvimento da vegetação, entre outros impactos.

De forma geral, esses trabalhos tratam do uso de trilhas em Unidades de Conservação,

porém, ao analisar a atividade nos pequenos estabelecimentos rurais, verifica-se a existência

de um agravante, uma vez que as áreas onde geralmente as trilhas são implantadas nesses

locais, correspondem a pequenos fragmentos de floresta circundados pela agricultura, e que

pelo histórico de perturbação, tamanho e dispersão, já se encontram potencialmente

fragilizados pela ação antrópica. Tal fato reforça a necessidade de se ter um maior

esclarecimento sobre esse tipo de atividade, de modo que suas potencialidades e limitações

sejam identificadas e se evite situações de riscos aos usuários e o acirramento de processos de

degradação ambiental.

Outro aspecto diz respeito ao potencial das trilhas como instrumento didático para

estudos do meio ambiente e de conscientização ambiental, que se devidamente utilizado pode

ser uma importante ferramenta para atividades educativas e de manejo para as trilhas.

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Assim, considerando o potencial da trilha ecológica como uma alternativa de uso

conservacionista para as áreas de floresta em estabelecimentos rurais e como ferramenta para

estudos do meio ambiente e de educação ambiental, juntamente com os possíveis impactos

negativos que uma implantação e uso inadequado podem acarretar, o objetivo geral dessa

pesquisa esteve em conhecer os procedimentos necessários para a implantação e manejo de

trilhas em áreas florestais, considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos

estabelecimentos rurais.

Já os objetivos específicos foram os seguintes:

Discorrer, com base na literatura utilizada, sobre os usos conservacionistas em

fragmentos florestais, com destaque para as trilhas ecológicas;

Avaliar as possibilidades e restrições do uso de trilhas em pequenos

estabelecimentos rurais (considerados aqui aqueles com área de até 50

hectares);

Identificar as técnicas de implantação e manejo de trilhas ecológicas em

fragmentos florestais;

Realizar diagnóstico físico-ambiental em duas trilhas ecológicas, localizadas

no Recanto Renascer, município de Francisco Beltrão- PR, visando identificar:

a) ocorrências de impactos ambientais; b) problemas relacionados a

infraestruturas; c) perfil socioeconômico dos visitantes e sua percepção em

relação ao ambiente e aos impactos ambientais; d) potencial das trilhas para

atividades de educação ambiental;

Apresentar a partir dos estudos realizados, alternativas de manejo para as

trilhas estudadas, a fim de minimizar a ocorrência de possíveis impactos

negativos e potencializar as trilhas como instrumento recreativo-pedagógico no

local.

Organizar material informativo (manual) para agricultores que tenham

interesse em implantar trilhas em fragmentos florestais ou em realizar a

manutenção correta em trilhas já existentes.

Desta forma, a dissertação está organizada conforme a seguinte estrutura: os itens 1 e

2 correspondem à introdução e apresentação dos procedimentos metodológicos. O item 3,

intitulado “Usos Conservacionistas de Áreas Florestais”, apresenta uma análise da

apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista, e da conservação ambiental a partir

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da dualidade existente entre preservacionismo e conservacionismo, consideradas correntes do

movimento ambiental ou ambientalismo. Apresenta-se também o levantamento de algumas

possibilidades de uso conservacionista de áreas florestadas nas propriedades rurais, enfocando

as trilhas ecológicas no contexto.

No item 4, com o título “Planejamento, Construção e Manejo de Trilhas Ecológicas

em Áreas Florestais” foi realizado um levantamento das técnicas de implantação e manejo de

trilhas. O item 5, denominado “Trilhas Ecológicas em Fragmentos Florestais de Pequenos

Estabelecimentos Rurais: Um Estudo no Recanto Renascer, Município de Francisco Beltrão-

PR” apresenta a caracterização geográfica da área escolhida para a pesquisa empírica, a

caracterização geral das trilhas ecológicas do local e o perfil de seus visitantes.

No item 6, intitulado “Diagnóstico Físico-Ambiental, Índice de Atratividade e

Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer-PR”, apresentamos os resultados

dos estudos realizados em campo e as propostas de manejo para as trilhas.

Por fim, nas considerações finais, buscamos desenvolver uma avaliação geral dos

resultados obtidos com a pesquisa e de suas possíveis contribuições.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa analisa as trilhas ecológicas como uma alternativa de uso

conservacionista para fragmentos florestais localizados em pequenos estabelecimentos rurais

e como instrumento recreativo-pedagógico.

Nessa perspectiva, para o desenvolvimento da pesquisa emprega-se o método

dialético1, baseado no materialismo histórico, onde por meio de dados quantitativos e

qualitativos, busca-se analisar o uso das trilhas ecológicas a partir de um contexto social,

cultural, político, econômico e ambiental. É a partir de sua percepção e do uso em relação aos

espaços florestais que o homem modifica tais espaços, mesmo com usos conservacionistas, e

influencia a própria percepção dos usuários das trilhas, através das informações disponíveis,

do manejo das trilhas, entre outros fatores.

Para o aporte teórico da pesquisa, buscamos realizar uma análise das formas de

apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista e de como a preocupação ambiental

vai sendo estruturada a partir das duas principais correntes do movimento ambientalista:

preservacionismo e conservacionismo. Como base, utilizamos Smith (1988), Porto-Gonçalves

(1990 e 2006), Moreira (1990), Mc Cormick (1992), Bressan (1996), Cavalcanti (1997),

Diegues (2001), Ferreti (2002), Bernardes e Ferreira (2003), Cunha e Coelho (2003), Leff

(2001 e 2006), Wendel (2005), Boff (2012), entre outros.

Para fundamentar a abordagem sobre a relevância ambiental, econômica e social das

trilhas ecológicas e dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo, utilizamos como

principal suporte os estudos de Vasconcellos (1997, 2003, 2006), Andrade (2003), Takahashi

(1998, 2001 e 2004), Lechener (2006), Costa (2006), Manual da Secretaria do Meio

Ambiente/SP (2006) e Andrade e Rocha (2008). Outro suporte importante para o

levantamento das técnicas de implantação e manejo de trilhas foi a visita de estudo realizada

durante o mês de novembro de 2012 nas trilhas da Reserva de Salto Morato, em

Guaraqueçaba – PR. Na ocasião foi possível verificar as estruturas e planos de manejo

adotados para a visitação nas trilhas do local, bem como, os métodos e técnicas utilizadas no

desenvolvimento da interpretação ambiental.

Como um dos objetivos do trabalho corresponde à organização de um material

destinado a agricultores e proprietários de estabelecimentos rurais interessados em implantar

1 De acordo com Gil (2008, p. 14) “[...] a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante

da realidade, uma vez que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados

isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc.”.

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trilhas ou adequar as já existentes em suas propriedades, essas informações também foram

utilizadas para a elaboração desse material.

Para realizar a análise do uso de trilhas ecológicas em pequenos estabelecimentos

rurais, selecionamos uma propriedade vinculada ao roteiro de turismo rural do município de

Francisco Beltrão/PR denominada Recanto Renascer, que entre outros atrativos possui duas

trilhas ecológicas implantadas na área de floresta da propriedade.

A escolha dessas trilhas para a investigação empírica se deu em função de estarem

localizadas em um estabelecimento rural com menos de 50 hectares de terra, possuírem um

volume de visitação significativo e por sua importância no fomento da oferta de lazer e

turismo da localidade.

Buscamos avaliar nas trilhas selecionadas o histórico de sua implantação, as atividades

de manejo desenvolvidas, as características físicas das trilhas (forma, largura, comprimento,

grau de dificuldade, tipo de piso, estruturas e atrativos), suas condições ambientais (referentes

ao leito, borda, solo, vegetação, saneamento, fauna, som e riscos), seu potencial para o

desenvolvimento de atividades interpretativas, além do perfil e da percepção ambiental dos

visitantes.

Como subsídio para os estudos empíricos foram levantados e analisados estudos que

tratam da avaliação ambiental e interpretativa de trilhas em áreas naturais. Dentre eles,

destacam-se algumas dissertações, teses e artigos, como o estudo de doutorado de Costa

(2006), intitulado “Proposta de Manejo e Planejamento Ambiental de Trilhas Ecoturísticas:

Um Estudo no Maciço da Pedra Branca - Município do Rio de Janeiro (RJ)” desenvolvido na

Universidade Federal do Rio de Janeiro; O trabalho desenvolvido por Ikemoto et. al (2009),

com o título “Avaliação do potencial interpretativo da trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos

Três Picos, Rio de Janeiro” publicado pela Revista Sociedade & Natureza; e o estudo de

mestrado de Feola (2009) com o título “Análises do processo erosivo em trilhas: subsídio ao

planejamento e manejo” desenvolvido na Universidade Federal do Paraná.

Para o desenvolvimento da pesquisa empírica, foram utilizadas informações primárias

e secundárias para a coleta de dados. Entre as informações primárias, foram realizadas

entrevistas com o proprietário, questionário com visitantes, observações e coleta de dados em

campo (sinalização, obstáculos, traçado com GPS, fotos), medições nas trilhas, além da coleta

e análise de amostras de solo em laboratório. As fontes de informações secundárias foram

concentradas no levantamento bibliográfico e na análise de dados físico-ambientais e

socioeconômicos da área estudada.

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O procedimento inicial da pesquisa empírica foi à solicitação de autorização junto aos

proprietários do estabelecimento selecionado para a realização dos estudos de campo. Na

ocasião foram apresentados os objetivos da pesquisa e quais os estudos que seriam realizados.

Em seguida, foi feita uma entrevista semiestruturada juntos aos proprietários (APÊNDICE A)

para obter informações referentes ao histórico e processo de implantação, uso e manejo das

trilhas no estabelecimento rural.

Para realizar o diagnóstico físico-ambiental nas trilhas selecionadas, foi utilizada a

metodologia Monitoramento do Impacto da Visitação-MIV, onde inicialmente foram

selecionados os indicadores de impacto, e em seguida, determinados os parâmetros de análise

(condições desejadas para cada indicador). Para tanto, foi utilizado como subsídio o estudo de

Costa (2006) que aplicou a metodologia em três trilhas ecológicas do Parque Nacional Pedra

Branca – RJ.

Porém, para obter uma compreensão mais direta e específica das condições de uso e

manejo das trilhas do Recanto Renascer, os indicadores e parâmetros utilizados por Costa

(2006) passaram por algumas adaptações, tanto no tipo de indicador quanto do parâmetro de

análise.

Nesta perspectiva, os indicadores de impactos analisados nas trilhas, através do MIV

foram os seguintes:

a) Largura: medida (em metros) tomada com uma trena entre duas estacas fixadas

nas extremidades da trilha, para verificar a eventual ocorrência de alargamento do

seu corredor.

b) Afundamento: medida (em centímetros) da ocorrência de rebaixamento do piso

da trilha, comparado com as áreas marginais.

c) Erosão: análise visual da presença de algum tipo de erosão no solo: erosão laminar

(superficial); erosão em sulcos (mais profunda com fissuras no solo -

ravinamento).

d) Alagamentos: Análise visual de pontos alagados ou passiveis de sofrer

alagamentos em períodos chuvosos.

e) Perda da borda crítica: medida (em centímetros) da ocorrência de perda de solo

na parte inferior do piso da trilha.

f) Desbarrancamento de encosta: medida (em centímetros) da ocorrência de perda

de solo na parte superior do piso da trilha, localizado em área declivosa.

g) Manutenção de estruturas: análise visual das condições de conservação das

estruturas nas trilhas.

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h) Atalhos: medida do número de bifurcações (caminhos secundários) existentes

interligadas ao traçado principal da trilha.

i) Solo exposto: através de análise visual, avaliar a área do corredor das trilhas (em

cm) que apresentam: solo exposto, ou seja, sem vegetação.

j) Aclives/declives: Observação visual de áreas com aclives ou declives acentuados,

que oferecem dificuldade na caminhada e susceptibilidade a ações erosivas.

k) Rochas aflorantes: Percepção visual da existência de rochas sobre o piso da trilha.

l) Raízes expostas: medida (em centímetros) da exposição de raízes sobre o piso da

trilha.

m) Vandalismos: presença de fogueiras, desmatamento, pichações em árvores, rochas

e sinalizações, depredação de infraestruturas (bancos, pontes e placas), animais

mortos ou vestígios de caça.

n) Lixo: número de materiais inorgânicos (latas, sacolas plásticas, garrafas pet,

garrafas de vidro, etc.) encontrados no corredor da trilha.

o) Espécies domésticas: análise visual da presença de animais domésticos

(cachorros, gatos, aves, etc.) no leito da trilha ou em áreas próximas.

p) Som: percepção auditiva de barulhos provenientes de aparelhos eletrônicos e de

visitantes que podem interferir na dinâmica faunística local.

q) Riscos: análise visual de situações que oferecem riscos aos visitantes (escorregar,

cair ou fatal).

A avaliação dos indicadores de impacto se deu através da observação direta de

alterações visíveis nas trilhas. A partir da marcação das seções equidistantes de 100 metros,

essa observação foi realizada sobre o piso e áreas marginais da trilha. Algumas ferramentas

também se fizeram necessárias, tais como: fita métrica; câmera fotográfica; estacas de

madeira com fita colorida para identificar as seções de análise e ficha de campo (Figura 1).

Figura 1 - Ficha de campo MIV

Fonte: COSTA (2006).

Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013).

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A fim de obter uma análise mais detalhada dos impactos do uso sobre o solo, também

foi realizada coleta e análise de solo em cinco seções nas trilhas, sendo que em cada seção,

foram coletadas três amostras de solo, uma na área central do piso e uma em cada área

marginal. A partir da análise da densidade e porosidade destas amostras, buscou-se identificar

a possível ocorrência de compactação, e se a área afetada pelo pisoteio, estava restrita

somente ao piso das trilhas ou abrangia também suas áreas marginais.

Para avaliar o potencial interpretativo das trilhas analisadas, foi utilizada a

metodologia Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos – IAPI. Para tanto, as trilhas

foram inicialmente classificadas quanto a:

Temática: presença de eixo temático para a interpretação;

Pontos interpretativos; caracterização quantitativa dos pontos;

Presença ou não de recursos interpretativos variados: conteúdo, harmonia com o meio,

relevância.

Sinalização: conteúdo, clareza, harmonia com o meio, relevância.

Modalidade: guiadas ou autoguiadas.

Diferenciação: oferta de atividades para vários tipos de público.

Após o levantamento inicial das características da trilha e o pré-levantamento de seus

atrativos, foram selecionados com base nos estudos de Ikemoto et al. (2009) e Magro e

Freixêdas (1998) os indicadores de atratividade. Sendo eles:

Visibilidade (inferior, médio e superior): refere-se à posição do atrativo em relação aos

olhos do observador.

Estímulo sensorial: Corresponde aos estímulos visuais, auditivos, táteis e olfativos que

os atrativos proporcionam.

Escala e Distância: (primeiro pano, médio pano e pano de fundo). O primeiro pano

corresponde aos atrativos que permitem o contato direto ou toque pelo visitante. O

médio pano é o atrativo que está próximo do leito da trilha, mas não permite o contato

direto pelo visitante. O pano de fundo são os atrativos distantes do leito da trilha,

como um pano de fundo na paisagem.

Recursos observados: Observação de recursos variados a partir do ponto

interpretativo:

- Água: Visual (cursos d’água são visualizados a partir do ponto); Som (apenas o som

da água é perceptível).

- Rocha: Identificação de rochas em tamanhos e formas variadas.

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- Epífitas: (bromélia, orquídeas e outras plantas sob o tronco e galho das árvores).

Para a escolha do peso dos indicadores, utilizamos os mesmos parâmetros utilizados

por Ikemoto et al. (2009), no qual, posição superior, som da água, presença de rochas e

epífitas receberam peso 2, enquanto os indicadores pano de fundo e visual da água receberam

peso 3; os demais indicadores receberam peso 1. Para determinar a intensidade ou abundância

dos atrativos foram utilizados os parâmetros de Costa (2006), no qual 1= presente, 2= grande

quantidade e 3= predominante. Como “presente”, é considerado os elementos pouco

expressivos visualmente e quantitativamente; “grande quantidade” os elementos visualmente

e quantitativamente em destaque; e “predominante” os elementos que dominam e se destacam

na paisagem. Para marcar a intensidade dos recursos analisados, foi utilizado o símbolo “X”,

no qual X = presente; XX = grande quantidade; XXX = predominância.

A intensidade anotada para cada indicador foi revertida em números de 1 a 3. O valor

da atratividade de cada ponto selecionado foi determinado através da multiplicação do peso

dos indicadores com a intensidade ou abundância do atrativo.

Seguindo as indicações de Magro e Freixêdas (1998), a análise das trilhas, por ser

mais subjetiva, foi realizada em duplas a fim de evitar mudanças de critérios. O levantamento

da presença ou ausência destes indicadores em cada um dos pontos selecionados foi

computado em planilha de campo (Figura 2).

Figura 2– Ficha de campo do IAPI.

Legenda: inf.- inferior; sup.- superior; vis.- visual; ta.- tato; ol- olfato

Fonte: IKEMOTO ET AL. (2009)

Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013).

Também foram aplicados questionários com questões objetivas aos visitantes das duas

trilhas estudadas (APÊNDICE B) com o objetivo de identificar o perfil desses visitantes e a

sua percepção em relação aos atrativos e impactos ambientais nas trilhas.

Após a aplicação desses procedimentos metodológicos foi realizada uma avaliação dos

resultados, com o intuito de verificar aspectos que estão corretos e que devem ser mantidos,

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bem como, os aspectos problemáticos relacionados às duas trilhas existentes e analisadas no

estabelecimento rural. Essa avaliação foi divulgada e debatida com o proprietário do

estabelecimento, com o intuito de orientá-lo para a melhoria de suas trilhas, reduzindo

possíveis riscos ambientais e para os visitantes e otimizando determinados atrativos potenciais

que não vêm sendo utilizados.

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3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS

3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental

Estabelecer relações com a natureza faz parte das estratégias de sobrevivência da

humanidade desde suas primeiras formas de organização. Porém, as características dessa

relação se alteraram significativamente a partir da Revolução Industrial e consolidação do

modo de produção capitalista.

Segundo Wendel (2005) o período que corresponde ao final do século XVIII marca

definitivamente a incorporação da natureza a vida social¸ seja em função das técnicas

desenvolvidas e aperfeiçoadas, seja pela cultura vigente, na qual a natureza passa a ser tida

como um recurso utilizado em benefício da produção e reprodução da vida social e dos

interesses de riqueza de uma minoria.

Dois sistemas de ideias conhecidos como Higienismo e Esteticismo, foram bastante

significativos para o processo de incorporação social da natureza e também para as ideias a

ela atribuídas que perduram até os dias atuais.

No esteticismo, a natureza selvagem é considerada feia e hostil e por isso precisa ser

primeiramente domesticada e padronizada, para depois ter sua beleza e grandiosidade

ressaltadas em jardins, praças e parques. A natureza tida como sinônimo de paisagem passa a

ser medida e valorada a partir dos padrões estéticos impostos pela classe dominante.

[...] a natureza, imbuída e valorada pelo seu conteúdo estético irá

ser altamente incorporada à vida econômica da sociedade. A

apropriação da natureza, uma apropriação e apreciação estética

da natureza, constituindo numa salva guarda das suas belezas

como forma de agregação de valor a uma propriedade privada,

passa também pela privação de sua componente estética,

separando-a dos olhares dos homens, através de cercas ou

muros, definitivamente ou impondo uma única forma de

apreciação através da compra de um ingresso (WENDEL, 2005,

p.168).

No Higienismo, a natureza selvagem é tida como algo sujo e letal. Por isso, deve ser

“limpa” e padronizada para se tornar algo agradável e habitável. Esse sistema de ideias

fundamentou as ações de saneamento das cidades, eliminando áreas como brejos e mangues,

tidos como sinônimo de sujeira e estagnação. A higienização da natureza tornou-se possível

através de técnicas que surgem para esta finalidade, “entretanto, seu uso é determinado pelo

poder econômico e consequentemente político, pois somente a nobreza e a burguesia têm

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acesso a estas técnicas, enquanto as classes mais pobres continuam em meio à natureza hostil

e insalubre” (WENDEL, 2005, p.164-165).

Tanto o higienismo quanto o esteticismo são concepções pautadas na separação

homem-natureza, na qual a natureza é tida como objeto a ser dominado e manipulado pelo

sujeito, o homem. Essa ruptura é originária da tradição judaico-cristã (SMITH, 1998) e

tornou-se com o advento das ciências naturais e do modo de produção capitalista a concepção

predominante, tanto em nível do pensamento quanto da realidade objetiva, construída pelo

homem.

A necessidade de domesticação de tudo que era natural e selvagem, aliada à

capacidade de dominar e manipular a natureza permitida pela ciência e pela técnica, fez com

que o homem passasse a criar uma segunda natureza, socializada, artificializada e inserida no

território. Um recurso, medido e valorizado “de acordo com a escala de valores estabelecidos

pela sociedade para aqueles bens que antes eram chamados de naturais” (SANTOS, 2000,

p.18).

Domesticada e incorporada ao modo de produção capitalista, a natureza tornou-se um

objeto de produção utilizado em escala ampliada (SMITH, 1988), e com a vida material

totalmente dependente da produção de excedente, o ritmo do homem passou a não ser mais o

ritmo da natureza, mas o ritmo do próprio capital (PORTO-GONÇALVES, 2006).

O aumento exponencial na capacidade de produção decorrente do desenvolvimento

técnico-científico fez surgir a “ilusão de crescimento ilimitado de produtos materiais numa

mesma unidade de tempo abstrato” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 328), na qual as coisas

passam a serem produzidas, consumidas e descartadas em uma escala de tempo da qual a

natureza não consegue acompanhar, pois, além da exploração excessiva dos recursos naturais,

há também a geração de uma série de resíduos decorrentes do processo produtivo, que

impedem a capacidade de regeneração natural do equilíbrio ecossistêmico.

Como destaca Porto-Gonçalves (2006), o capital não só se apropria do tempo que o

trabalhador dedica na produção de riquezas através da extração da mais-valia, como também

“de todo um tempo materializado na energia fóssil, que não tem como restituir porque não é

tempo abstrato, mas tempo do ser, tempo das coisas na sua materialidade” e mesmo que o

conhecimento sobre a matéria possibilite uma maior exploração de sua potencialidade, “o

conhecimento da matéria não produz a matéria enquanto tal, que é produzida pela natureza”

(p.329).

Assim, o modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade capitalista e o ritmo

conferido a este processo, no qual as coisas surgem tão rapidamente como são devoradas e

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abandonadas “sem jamais durarem o tempo suficiente para conter em seu meio o processo

vital” (ARENDT, 1997, p.147), afetam diretamente o meio ambiente, provocando impactos

de difícil recuperação ou até mesmo irreversíveis, como a fragmentação de habitats,

empobrecimento da fertilidade dos solos, erosões, deslizamentos, desertificação,

assoreamentos de cursos d’água, alterações climáticas, proliferação de pragas e espécies

exóticas, desertificação, comprometimento na qualidade e disponibilidade dos recursos

hídricos, excesso de lixo, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, entre várias outras

consequências danosas, que comprometem a qualidade ambiental do planeta e a maioria da

população, especialmente das classes menos favorecidas. Estas, longe de lucrar com os

benefícios obtidos através da exploração capitalista da natureza, acabam, na maioria das

vezes, obtendo apenas o ônus resultante da degradação ambiental.

Conforme ressaltado por Porto-Gonçalves (1990, p. 26-27):

A natureza é, em nossa sociedade, um objeto a ser dominado por um

sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são

proprietários da natureza. Assim, são alguns poucos homens que dela

verdadeiramente se apropriam. A grande maioria dos outros homens não

passa, como ela também, de objeto que pode até ser descartado.

No capitalismo, a “natureza converte-se assim num meio de produção, objeto de uma

apropriação social, atravessado por relações de poder” (LEFF, 2001, p. 66), onde quem se

apropria e se beneficia dessa apropriação, geralmente corresponde a uma pequena minoria de

indivíduos e grupos (empresas e instituições) que concentram o poder econômico e também

político.

A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a

interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico

dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões

tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo

propósito de maximizar os lucros e os excedentes econômicos a curto prazo,

numa ordem econômica mundial marcada pela desigualdade entre nações e

classes sociais (LEFF, 2006, p.62).

Em meio a essa ótica insustentável de produção e consumo, que tende a acirrar as

contradições e desigualdades socioespaciais, o antagonismo de classes e os problemas

ambientais decorrentes desse processo, emerge a preocupação ambiental, conhecida também

como movimento ambiental ou ambientalismo, que em sua trajetória vai apresentar diferentes

interesses, intencionalidades, contradições e concepções da relação sociedade-natureza.

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3.2 Breve Trajetória da Preocupação Ambiental: do Preservacionismo ao

Conservacionismo

Para Mc Cormick (1992), o movimento ambientalista2 não teve início definido. Ele

“emergiu em lugares diferentes, em tempos diferentes e geralmente por motivos diferentes (p.

21)”. Isso se deve ao fato de que as primeiras ações relacionadas aos problemas ambientais

eram locais, mas com o passar do tempo, o que era local se tornou um movimento nacional,

internacional e por fim, global.

Em sua trajetória, o ambientalismo apresenta duas grandes correntes ideológicas com

concepções de proteção da natureza bastante distintas e que ao longo dos últimos anos, vêm

influenciando a racionalidade ambientalista e as diferentes ações desenvolvidas em prol das

questões ambientais. Essas correntes se dividem entre aqueles que defendem a proteção da

natureza a partir do isolamento de áreas sem a presença humana, denominados

preservacionistas, e aqueles que acreditam em estratégias de uso sustentável dos recursos

naturais, denominados de conservacionistas (CUNHA; COELHO, 2003).

Ambas as correntes se mantém nos dias atuais atuando em conjunto ou de forma

paralela, porém, a corrente conservacionista tornou-se predominante, especialmente pelo fato

de ser a mais coerente com as descobertas científicas mais recentes e com as concepções de

meio ambiente da atualidade, onde existe uma busca pela visão holística da relação sociedade-

natureza, em detrimento da dicotomia imposta pelas concepções cientificistas tradicionais.

A corrente preservacionista emergiu no início do século XIX, como um movimento

que defendia a proteção da natureza a partir do isolamento de áreas pelo seu valor cênico, e

conforme as possibilidades de usos atuais e futuros (BRESSAN, 1996). Nessa abordagem, o

natural seria algo que prescindisse da ação humana, devendo manter-se isolado e intocado

para ser utilizado como reduto da diversidade biológica do planeta.

O homem considerado um destruidor do mundo natural deveria, portanto, ser mantido

separado das áreas naturais, que para manterem-se preservadas, necessitariam de uma

“proteção total” (DIEGUES, 2001).

2Casstells (1999 apud BERNARDES; FERREIRA, 2003, p. 31) define o ambientalismo como “as

formas de comportamento que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas

destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e

institucional atualmente predominante”.

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A concepção de proteção da natureza mediante o isolamento de espaços e espécies, foi

materializada com a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, em

meados do século XIX nos Estados Unidos. Nesse país, o preservacionismo teve como maior

representante John Muir, que defendia a proteção das áreas naturais a partir da exclusão de

qualquer atividade humana que não fosse para a visitação e atividades recreativas. Segundo

Diegues (2001), Muir foi considerado um preservacionista ativista por definir os valores

intrínsecos da natureza selvagem e por lutar pela implantação de Parques Nacionais nos

Estados Unidos, tendo êxito na criação do Parque Nacional de Yosemit (1890). Ele também

fundou o Sierra Club, uma das mais influentes organizações ambientalistas deste período. Sua

teoria estava fundamentada na ideia de uma natureza fruto da criação divina, na qual o

homem era tão importante quanto qualquer outra espécie de animal e, por isso, não poderia ter

direitos superiores sobre eles.

A partir da criação do parque de Yellowstone, as concepções preservacionistas

passaram a serem transferidas para diversos países do mundo, influenciando a criação de

Parques Nacionais no Canadá (1885), Nova Zelândia (1984), Austrália, África do Sul e

México (1898), Argentina (1903), Chile (1929), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937)

(DIEGUES, 2001).

Porém, embora o preservacionismo tenha sua origem geralmente associada ao século

XIX nos EUA, Mc Cormik (1992) afirma que o movimento ambientalista surgiu muito antes

na Europa, ganhando maior notoriedade a partir do século XVIII. Para o autor, os europeus

tiveram três grandes influencias sobre o início do movimento: 1) o estudo da história natural,

associado a concepções de artistas românticos e primitivistas, contrários as mudanças

realizadas na paisagem pela agricultura; 2) o movimento contra a crueldade com os animais,

sendo apoiado pelas classes médias e altas e pelos naturalistas; 3) a reação contra a miséria

associou-se ao anseio por espaços abertos e natureza, resultando na criação de parques e

reservas naturais para a visitação pública.

Thomas (1983, apud DIEGUES 2001) também atribui o início do movimento ao

continente europeu, onde a poluição atmosférica gerada pelas atividades fabris no início da

Revolução Industrial e o crescimento acelerado das cidades inglesas contribuíram para

sentimentos antissociais. A vida nas áreas urbanas até então tida como sinal de civilização e

superioridade frente à rusticidade da vida no campo, passou a ser criticada e desvalorizada,

gerando sentimentos e atitudes de retorno à vida selvagem como lugar de reflexão e

isolamento espiritual. Essas ideias tiveram grande contribuição dos escritores românticos

europeus deste período, que tinham no contato com a natureza primitiva o lugar da descoberta

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da alma humana, da inocência infantil, da espiritualidade, do paraíso perdido e da intimidade

com o belo e o sublime. A exemplo, Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), em sua obra

“Devaneios do caminhante solitário” descreve:

Moro no centro de Paris. Saindo de casa, desejo ardentemente o campo e a

solidão, mas é preciso ir procurá-lo tão longe que antes de poder respirar à

vontade, encontro em meu caminho mil objetos que me comprimem o coração

e a metade do dia se passa em angústias, até ter atingido o refúgio que vou

procurar. Sou feliz quando pelo menos me deixam terminar meu caminho. O

momento em que escapo ao cortejo dos maus é delicioso e logo que vejo sob

as árvores, em meio à verdura, cério estar no paraíso terrestre e saboreio um

prazer íntimo tão vivo quanto se fosse o mais feliz dos mortais (ROUSSEU,

1995, p.111-112).

Aliada às concepções românticas de natureza, a criação das áreas protegidas como

locais intocados e intocáveis também tiveram a influência das grandes religiões, em especial a

cristã, através do mito do paraíso terrestre, ou seja, de um lugar onde era possível contemplar

as maravilhas da natureza fruto da criação divina, mas pelo qual o homem está fisicamente

separado desde a saída do Éden (DIEGUES, 2001).

Segundo Diegues (2001), a proteção da natureza a partir da concepção de

externalidade e intocabilidade trouxe efeitos negativos e também contradições. Isso porque,

ao mesmo tempo em que as populações tradicionais que ocupavam os locais destinados à

preservação, foram totalmente marginalizadas pela restrição ao uso da terra. Esses espaços

tiveram o acesso facilitado para a classe burguesa, através das práticas ecoturísticas.

Outro fator importante a ser considerado na criação dessas áreas protegidas é a forma

como a relação sociedade-natureza foi compreendida nesse processo. Nela, a “influência das

relações entre os homens sobre as relações entre estes e a natureza” é desconsiderada

(BRESSAN, 1996, p. 23), numa compreensão “naturalista” de meio ambiente, compreendido

em seus aspectos físicos e biológicos como dissociado da sociedade, o que reforça a

dicotomia homem/natureza, típica de concepções científicas e economicistas tradicionais.

Em outras palavras, o enfoque dominante é o do controle de parcelas do

meio natural, apartadas do processo geral de desenvolvimento da sociedade

e, por conseguinte, distantes das concepções que expressam a conveniência

de gestão do espaço em sua totalidade, ou seja, como base física (natural,

territorial etc.) e como realidade social (BRESSAN, 1996, p. 45).

Observa-se, porém, que no final do século XIX, houve uma mudança de foco nas

questões ambientais, que passaram a incorporar preocupações com a manutenção dos recursos

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naturais para atividades econômicas e para as futuras gerações. O movimento ambientalista

americano dividiu-se então em dois grupos: de um lado os preservacionistas, tendo como

maior representante John Muir, e do outro, os conservacionistas, com o principal expoente

Grifford Pinchot (DIEGUES, 2001).

Pinchot era engenheiro florestal e pregava o uso racional dos recursos naturais e

defendia a conservação da natureza a partir de três princípios básicos: uso dos recursos

naturais pela geração presente; prevenção de desperdícios; e uso dos recursos naturais para

benefícios da maioria dos cidadãos (DIEGUES, 2001).

De acordo com Diegues (2001), Pinchot agia dentro de um contexto de natureza

enquanto mercadoria, que devido ao seu processo lento de regeneração deveria ser utilizada

de forma eficiente pelo manejo, com o objetivo de obter níveis ótimos de produção sem

ameaçar a reposição de seus estoques, para benéficos das gerações presente e futuras. Estas

ideias são tidas como precursoras do desenvolvimento sustentável e estiveram presentes na

concepção de ecodesenvolvimento da década de 1970; nos debates da conferência de

Estocolmo em 1972; nas publicações internacionais Estratégias para a Conservação da

UICN/WWF (1980) e Nosso Futuro Comum (1986); bem como nos debates da conferência

Eco-92 e Rio +20, ambas realizada na cidade do Rio de Janeiro.

Os conservacionistas acreditam ser possível a exploração dos recursos naturais de

forma racional e duradoura. Para isso, defendem as ações de proteção, conservação e

manutenção (MC CORMIK, 1992).

Na concepção conservacionista, as ações de preservação compreendem o resguardo de

elementos da biosfera que não admitem interferências de natureza antrópica, seja pela

fragilidade dos ecossistemas que abrigam, seja pelas funções ecológicas que desempenham.

Como exemplo, têm-se as Áreas de Preservação Permanente, que devido à importância para o

equilíbrio ecossistêmico local precisam manter-se protegidas, devendo ter usos bem restritos.

Já as ações de manutenção, compreendem a utilização de elementos da biosfera, mediante a

manutenção de suas especialidades e a correção de suas deficiências, sem reduzir suas

potencialidades primitivas. As ações de restauração ou recuperação envolvem a reabilitação

de elementos da biosfera a exercerem suas funções primitivas, eliminando os fatores que

contribuem para sua degradação (DENARDIN, s/d).

Mesmo emergindo a partir da análise racional e econômica da natureza, a corrente

conservacionista trouxe novas perspectivas na análise da relação sociedade-natureza,

passando de uma perspectiva “naturalista” que reforça a dicotomia entre ambas, para uma

perspectiva “socioambientalista” na qual a questão ambiental passa a ser integrada à questão

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social e econômica, a fim de se buscar a partir das relações entre o homem e os elementos da

biosfera, condições ideais para o bem estar de toda a vida no planeta.

Essa busca por um caráter holístico na relação homem-natureza tornou-se mais

contundente após a Segunda Guerra Mundial, período marcado por críticas ao modo de vida

das sociedades capitalista e socialista, e por profecias alarmistas quanto ao futuro incerto do

planeta frente à superpopulação mundial, ao esgotamento dos recursos naturais, as guerras

nucleares, a poluição e as tecnologias opressivas (BRESSAN, 1996).

Conforme destaca Ferreti (2002), após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade

passou a perceber que o modelo de acumulação e consumo realizado por meio da exploração

indiscriminada dos recursos naturais, gera efeitos perversos ao funcionamento de ciclos da

natureza e ao próprio homem. Surgem então, movimentos ativistas que passam a propagar

uma nova forma de análise da relação sociedade-natureza, na qual a questão ambiental é

integrada à questão econômica e social e o meio ambiente passa a ser compreendido como o

resultado das interrelações entre sociedade e natureza.

Bernardes e Ferreira (2003) apontam alguns acontecimentos que foram bastante

significativos para a tomada de consciência da sociedade, frente aos riscos impostos pela

industrialização e ao uso indiscriminado das tecnologias. São eles:

a) O Lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki: com um total de

105 mil mortos a humanidade pode acompanhar o potencial destrutivo do avanço técnico–

científico;

b) Os grandes acidentes ambientais: no período entre 1950 e 1990 houve diversos

acidentes de grande repercussão, como a contaminação da água na Baía de Minamata no

Japão, provocada pela indústria Chisso Corporation no final da década de 1950; e o

vazamento de 40 milhões de litros de petróleo no Alasca em 1989, ocasionado pelo navio

Exon Valdez, que ao se chocar com um rochedo, espalhou o óleo atingindo 250 km²;

c) O livro Silent Spring publicado em 1962, da autora americana Rachel Carlson. A

obra detalhou os perigos dos inseticidas e pesticidas para o meio ambiente e para a saúde das

pessoas. O livro vendeu meio milhão de cópias e o debate suscitado resultou na proibição das

substâncias mais tóxicas listadas pela autora.

A partir destes e de outros acontecimentos que marcaram o século XX como o período

dos desastres ambientais, ampliou-se a percepção de que existe limite à dominação da

natureza e que a produção e consumo ilimitado sob a ótica de uma natureza de recursos

limitados, colocam em risco a vida humana e do planeta como um todo.

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Essa nova percepção da realidade influenciou a formulação de políticas

públicas nacionais, primeiro nos países desenvolvidos e depois nos países

em desenvolvimento, voltadas a resolução de problemas ambientais que se

multiplicavam e a estabelecer novos padrões de uso dos recursos naturais.

Tratados internacionais começam a ser negociados para encaminhar soluções

para problemas ambientais globais, ao mesmo tempo em que um número

cada vez maior de organizações não-governamentais passou a se interessar

pelo tema e em que os organismos internacionais reorientaram suas

estratégias de ação, incorporando as preocupações com a degradação

ambiental (CUNHA; COELHO, 2003, p. 56).

No início da década de 1970, o movimento ambientalista ganha força com o apoio

científico, através de publicações que alertavam sobre os riscos da produção e consumo

acelerada de mercadorias e a exploração indiscriminada dos recursos naturais. Destacam-se o

Relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972, denominado Os Limites do Crescimento,

que alertava para o caráter finito dos recursos naturais e os custos que as poluições colocavam

à vida do planeta; e a teoria do “ecodesenvolvimento” de Ignacy Sachs, que propunha novas

formas de desenvolvimento a partir das características e potencialidades dos ecossistemas e

no manejo sensato dos recursos naturais. Leff (2009) aponta que Sachs propõe que o

desenvolvimento deveria abranger seis aspectos fundamentais: satisfação das necessidades

básicas; solidariedade com as futuras gerações; participação da população envolvida;

preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que

garanta emprego, segurança e respeito com outras culturas; programas de educação.

Ainda na década de 1970, o movimento ambientalista é marcado pela maior

manifestação ecológica da história: o Dia da Terra, ocorrido em 22 de abril de 1970 nos

Estados Unidos, envolveu cerca de 300 mil pessoas nos diferentes estados americanos. A

partir de então, o ecologismo se tornou um movimento de massa e encontrou o caminho para

a incorporação da questão ambiental na agenda das políticas públicas tanto nacionais quanto

globais (MC CORMICK, 1992).

Cunha e Coelho (2003) destacam que dentro do próprio paradigma conservacionista

emergente, surgem duas diferentes abordagens filosóficas e epistemológicas: uma

denominada ecocêntrica, que considera a Terra como um organismo vivo, o qual só poderá

ser salvo do processo de degradação mediante mudanças radicais nas bases produtivas da

sociedade capitalista; e a outra, denominada corrente instrumental (antropocêntrica), onde o

planeta é visto como um sistema gigante de recursos, que devem ser protegidos pelo seu valor

econômico, sem que isso comprometa os fundamentos filosóficos da sociedade industrial.

Nela, os seres humanos são considerados capazes de utilizar os recursos naturais de maneira

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controlada e equilibrada, através de técnicas eficientes de manejo, inclusive para as áreas

protegidas.

A hegemonia da corrente instrumental sob a ecocêntrica é tida por Cunha e Coelho

(2003) como o resultado da crescente institucionalização das questões ambientais, onde as

instituições políticas, econômicas e sociais existentes são tidas como capazes de proteger o

meio ambiente por meio de um programa de direcionamento de políticas públicas. Assim,

mesmo reconhecendo o caráter estrutural da problemática ambiental, não há uma oposição às

causas estruturais da insustentabilidade, o que torna o discurso ambiental, em sua maioria,

funcional ao sistema capitalista.

Sob a ótica da corrente instrumental, a problemática ambiental passa a ser discutida

em nível mundial através de grandes conferências internacionais, a começar pela Conferência

das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada na cidade de Estocolmo em 1972.

Um dos pontos mais marcantes da conferência de Estocolmo foi o embate entre

ambientalistas e desenvolvimentistas, impulsionada pelas propostas do Clube de Roma, de

“crescimento zero”, que sugere o congelamento do crescimento da população global e do

capital industrial. Foi também a primeira vez que aspectos políticos, sociais e econômicos do

ambiente global foram discutidos em um fórum intergovernamental. Como resultado, a

agenda da conferência foi ampliada para incluir questões como deterioração do solo,

desertificação, administração do ecossistema tropical, suprimento de água e assentamentos

humanos. A conferência também criou alguns programas e comissões importantes no debate

da problemática ambiental, como o Programa das nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA), o Earthwatch3, e a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e desenvolvimento

(CMMAD) (BERNARDES; FERREIRA, 2003).

Bressan (1996) destaca que a Conferência de Estocolmo além de lançar as bases para

uma legislação internacional de meio ambiente, propunha também a ideia de articulação entre

desenvolvimento e proteção da natureza, que posteriormente resultou na proposta intitulada

ecodesenvolvimento.

A partir desse conceito o processo de desenvolvimento local e regional deve

ser compatibilizado com as características das áreas em questão,

considerando o uso adequado e racional dos recursos naturais e a aplicação

de tecnologias e de formas de organização que respeitem os ecossistemas

naturais e os padrões sócio-culturais (BRESSAN, 1996, p.28).

3 Plano de Ação relativo à avaliação do meio ambiente mundial, denominado “Plano Vigia”

(Earthwatch) (SOARES, 2003, p. 44).

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O movimento ambientalista passa a influenciar crescentemente as políticas públicas

mundiais a partir da Conferência de Estocolmo. Além disso, o período após a convenção é

caracterizado por um grande crescimento do número e da profissionalização de organizações

não-governamentais ambientalistas (BERNARDES; FERREIRA, 2003).

No Brasil, em consonância com as tendências globais, o movimento ambientalista

ganha maior força no final da década de 1970, quando são desenvolvidas diversas campanhas

importantes, como o movimento para salvar as Sete Quedas, o movimento de defesa da

Amazônia, e o movimento contra a construção de usinas nucleares (VIOLA, 1992).

Segundo Viola (1992), na década de 1980 a principal característica do movimento

ecológico esteve no processo de discussão sobre o desenvolvimento sustentável, que ganhou

força no campo teórico, com a publicação da União Internacional de Conservação da

Natureza (UICN), intitulada Estratégia Mundial para a Conservação de 1980. Essa

publicação apresentou como meta principal a integração entre conservação e desenvolvimento

e conclamou cada país a estabelecer suas diretrizes de ação baseadas em três princípios:

manutenção dos processos ecológicos; preservação da diversidade genética; e uso sustentável

dos recursos naturais.

A década de 1980 também é um marco importante para a questão ambiental no Brasil,

especialmente no que se refere à legislação ambiental e sua repercussão sobre a sociedade

quanto à necessidade de cuidados ao meio ambiente. Desatacam-se o estabelecimento da

Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em 1981 (Lei 6.938/81), que organiza o

sistema para a conservação ambiental e cria o SISNAMA (Sistema Nacional de Meio

Ambiente) – órgão gerenciador, o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) –

conselho deliberativo, e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) – órgão executor e

fiscalizador. Essa Política institui no Brasil o início do planejamento ambiental integrado

como forma de orientação ao ordenamento territorial. Como resultados surgem a partir de

1986 diversas resoluções do CONAMA, que vieram a se tornar leis posteriormente. Entre elas

destaca-se a Resolução n. 001/CONAMA, que instituiu a obrigatoriedade da elaboração de

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a

realização de obras geradoras de impactos no ambiente físico, social e/ou biológico (CUNHA;

COELHO, 2003).

Influenciada pela grande popularização das questões ambientais que se deu na década

de 1980, a Constituição Brasileira de 1988 também atribuiu grande destaque à proteção dos

principais ecossistemas brasileiros, incumbindo aos estados e municípios poderes para legislar

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sobre seus recursos e ordenar seus espaços. Outras duas ações importantes em termos de

legislação ambiental foram o estabelecimento de penalidades aos crimes ambientais instituída

em 1998 pela Lei n. 9.605 e a organização das unidades de conservação que ocorreu por meio

da instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em julho de 2000

(Lei Federal 9.985) (CUNHA; COELHO, 2003).

Em 1987 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU

publicou o Relatório Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum, lançando o conceito

de desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as necessidades do presente sem

comprometer as capacidades das gerações futuras para satisfazer as suas” e para o qual, “não

há limites absolutos, mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da

organização social, no tocante aos recursos ambientais e pela capacidade da biosfera de

absorver os efeitos da atividade humana” (CMMAD, 1988, p. 09).

Moreira (1999), Leff (2001) e Cavalcanti (1997) são alguns dos autores que criticam

esse conceito. Para eles, trata-se de um conceito que tende a camuflar as referências

históricas, as contradições e as relações de poder que estão no interior do processo de

construção e reprodução do espaço geográfico e que são responsáveis pelo processo de

degradação ambiental.

Outro aspecto questionado é a utilização do termo “necessidade”, uma vez que não há

uma clareza de que necessidades seriam essas. Necessidade de obter as condições básicas de

sobrevivência ou a necessidade de consumir uma quantidade demasiada de mercadorias cuja

produção, consumo e descarte são realizados em um ritmo cada vez mais rápido e mais

degradante? E ainda, quais as necessidades das gerações futuras? Essas são algumas das

questões que demostram o caráter vago, alienado e alienante desse conceito, que ao ocultar as

causas estruturais da problemática ambiental acaba tornando-se mais um instrumento de

apropriação e interesse do capital.

Na retórica do desenvolvimento sustentável, a década de 1990 é marcada pela

publicação conjunta da UICN/PNUMA/WWF denominada Cuidando do Planeta Terra, e

com a Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em

1992 (ECO 92) que simbolizou um marco da discussão da problemática ambiental em escala

global, tendo a participação de 179 chefes de Estado e de Governo, bem como de uma inédita

participação da sociedade civil por meio do Fórum das ONGs. Na ocasião, foram aprovados

os documentos: a Convenção da Mudança Climática; a Convenção da Diversidade Biológica;

a Agenda 21; o Protocolo de Florestas; e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio

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Ambiente e Desenvolvimento. Esses documentos passaram a ser constantemente avaliados

nas posteriores discussões ambientais globais (BERNARDES; FERREIRA, 2003).

Também ganha destaque a Carta da Terra, proposta na Eco 92 e ratificada pela

UNESCO no ano de 2000. Ela teve como função a regulação das relações entre

desenvolvimento e meio ambiente. Como destaca Boff (2004, p.60) “o mérito principal da

Carta é colocar como eixo articulador a categoria da inter-retro-relação de tudo com tudo”, o

que “lhe permite sustentar o destino comum do Planeta e da humanidade” reafirmando o

paradigma holístico da ecologia.

Ferreti (2002) aponta que apesar dos discursos articulados dentro e fora da Eco 92

terem contribuído para a conscientização de problemas agudos como a pobreza, a exclusão

social e as desigualdades socioeconômicas entre os países, eles partem de empresas

responsáveis pela degradação socioambiental em países mais pobres, mostrando que esse

debate surge a partir de intencionalidade e interesses dos atores hegemônicos ligados ao

capitalismo globalizado.

Em 2002 na 3º Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Rio+10) realizada em Johanesburgo na África do Sul, foram revistas as

metas estabelecidas na Eco 92 e avaliados os resultados alcançados pelos diversos países no

decorrer dos últimos 10 anos. Na ocasião, foi constatado que os compromissos firmados para

minimizar a degradação ambiental global e impulsionar o desenvolvimento sustentável não se

transformaram em ações efetivas e em alguns casos houve retrocessos, como o da Convenção

sobre Mudanças Climáticas, com a recusa dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de

Kyoto (1997), apesar de ser o país mais poluidor e causador do efeito estufa (BERNARDES;

FERREIRA, 2003).

Vinte anos após a Cúpula da Terra (Rio 92), é realizada em junho de 2012 na cidade

do Rio de Janeiro a mais nova Conferencia das Nações Unidas sobre o desenvolvimento

sustentável (chamada Rio + 20). Nela, as discussões estiveram focadas em dois temas

principais: como desenvolver uma economia verde de forma a alcançarmos um

desenvolvimento sustentável e eliminar a pobreza global; e como ampliar a coordenação

internacional para o desenvolvimento sustentável.

Boff (2012, p 04), ao analisar o documento resultante da Conferência, conclui:

O documento final, entretanto, não nos fornece o mapa nem os meios de

percorrê-la. Ele é medroso, sem ambições e sem sentido ético e espiritual da

história humana. Refém de uma visão reducionista e até materialista da

economia, não forjou um novo e necessário software social e civilizacional

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que nos desse esperança de um futuro que não fosse simplesmente o

prolongamento do passado e do presente. [...] Levá-lo teimosamente avante é

empurrar-nos para a borda de um abismo que se abre lá na frente, num

tempo não muito distante. [...] Há um complexo de crises em curso,

particularmente a do aquecimento global, da insustentabilidade do planeta

Terra e ultimamente a econômico-financeira, atingindo o coração dos países

opulentos, sem saber como saírem dela. Há ainda o crescimento do número

de pobres e miseráveis que em 2008 eram 860 milhões e que agora, devido à

crise global, passaram a um bilhão e duzentos milhões. Muitos analistas

desenham cenários dramáticos para o próximo futuro da Terra e da

Humanidade. Há uma guerra total, movida contra a Terra viva (Gaia) pelas

elites mundiais e pelas mega empresas multilaterais, pela forma como

produzem e acumulam, pondo em risco o sistema-vida e o sistema-

civilização. Há poucas chances para uma paz duradoura e uma globalização

solidária.

Como salienta Leonardo Boff, o documento resultante da conferência é carente

justamente dos meios de implementação das ações pretendidas, pois, não há o

estabelecimento de decisões práticas. O que existe nele são apenas intenções, metas, que

representam muito mais os interesses dos atores hegemônicos do capitalismo globalizado, do

que a busca por um modelo de desenvolvimento coerente com as questões socioambientais

globais.

O fato é que a realidade ainda é de uma produção e consumo da economia mundial

ecologicamente insustentável, socialmente injusta e depredadora do meio ambiente. A tão

sonhada sustentabilidade ambiental nos parece no cenário atual, um sonho distante e como

ponderam Lazzarini e Gunn (2004, p 24), só poderá ser alcançada quando houver o

“equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente

atingível” reconhecendo a insustentabilidade dos padrões de produção e consumo

hegemônicos e estabelecendo um novo paradigma de desenvolvimento.

Porém, apesar do discurso ambiental estar fortemente incorporado na atualidade por

organizações econômicas e políticas que buscam, sob a retórica da sustentabilidade, fortalecer

o modelo econômico hegemônico, o movimento ambientalista e a crise ambiental vivenciada

sobretudo a partir da década de 1960 (PORTO-GONÇALVES, 2006), contribuíram na

inclusão da questão ambiental em decisões sociais importantes nas diferentes escalas espaciais

(global, nacional, regional, local), mudando valores e perspectivas no entendimento da relação

sociedade/natureza, questionando a racionalidade econômica dominante e apontando para

uma utilização equilibrada dos recursos naturais e para uma melhor distribuição dos

benefícios sociais e econômicos decorrentes desses usos.

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Como aponta Leff (2008), a crise ambiental da atualidade marca uma ruptura e

renovação da racionalidade econômica, na qual os paradigmas de conhecimento e modelos

societários são questionados e se propõe a construção de uma nova racionalidade, pautada em

novos valores e saberes e em modelos produtivos sustentados em bases ecológicas e

significações culturais.

Esse paradigma de desenvolvimento no qual a natureza e a cultura são integradas

como forças produtivas (LEFF, 2009), acabou influenciando entre outras ações, a adoção de

formas ativas de manejo nas áreas naturais protegidas, nas quais “as comunidades locais, com

suas práticas e valores, deixam de ser vistas como “saqueadoras da natureza” e passam a

serem encaradas como atores sociais importantes para a conservação dos recursos” naturais

(CUNHA; COELHO, 2003). É o caso das Unidades de Conservação de Uso Sustentável no

Brasil, que são divididas em sete categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante

Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de

Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Nessas unidades,

são permitidas atividades que envolvam coleta e uso dos recursos naturais, desde que ocorram

de forma responsável, sem exaurir esses recursos ou comprometer os processos ecológicos

existentes.

Na perspectiva do uso conservacionista, as Unidades de Conservação passam a ter

além da função ecológica, uma função social, já que através de práticas de manejo buscam

conciliar o objetivo de manutenção de serviços ambientais com a exploração dos recursos

naturais pelas populações locais. Esse fato é um indicador do predomínio da corrente

conservacionista no final do século XX e início do século XXI.

Outra ação desenvolvida são os modelos de gestão ambiental pautados no conceito de

totalidade, no qual se busca integrar os diferentes interesses que envolvem o uso dos recursos

naturais e a conservação ambiental. Um exemplo é o manejo integrado de bacias

hidrográficas, cujo propósito é adequar a interferência antrópica às características biofísicas

dessas unidades naturais (ordenamento do uso/ocupação da paisagem, observadas as aptidões

de cada segmento e sua distribuição espacial na respectiva bacia hidrográfica) de forma a

promover a sustentabilidade ambiental e a equidade social (BRESSAN, 1996).

Todavia, para que esses modelos de gestão ambiental possam ser efetivados, se faz

necessário entre outras ações, o estabelecimento de práticas voltadas à intensificação de usos

conservacionistas dos ecossistemas e de seus recursos, seja em áreas protegidas (unidades de

conservação, áreas de preservação permanente e reservas legais), mas também em áreas

urbanas e rurais não protegidas pela legislação.

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Considerando que nossa pesquisa tem seu objeto em pequenos estabelecimentos

rurais, enfocaremos na sequência, algumas das possibilidades de usos conservacionistas em

áreas de florestas situadas nesses estabelecimentos.

3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais:

modificando percepções, criando possibilidades.

A intenção de preservar áreas de floresta em estabelecimentos rurais esteve presente

no primeiro Código Florestal brasileiro aprovado em 1934, no governo de Getúlio Vargas. A

lei previa que os proprietários de terras cobertas por matas, não poderiam cortar mais do que

75% da vegetação nativa existente. Essa primeira versão do código instituiu também as

“florestas protetoras”, que embora com conceito bastante semelhante às Áreas de Preservação

Permanente (APPs), não previa no caso de corpos d’água, as distâncias mínimas de vegetação

destinadas à proteção (INSTITUTO REFLORESTA S/D).

De acordo com o Instituto Refloresta (s/d, p. 17) o código de 1934 praticamente

passou despercebido, pois “os fazendeiros viam a lei como uma restrição incompatível, que

limitaria a exploração econômica da produção agrícola” e por isso “quase ninguém a cumpriu,

e não houve quem a fizesse cumprir”.

Em 1965 foi sancionado um novo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), em

vigor até o ano de 2012. Nele, criam-se dois mecanismos de proteção das áreas de floresta nas

propriedades rurais: as áreas de Reserva Legal (RL) e as Áreas de Preservação Permanente

(APPs).

O código de 1965 determina que a reserva legal seja averbada à margem da inscrição

da matrícula do imóvel e que a recomposição da vegetação tenha de ser feita com espécies

nativas. Fixa a possibilidade da compensação da reserva legal por outra área equivalente em

importância ecológica e extensão, desde que no mesmo ecossistema e na mesma microbacia.

Pelo código, essa cobertura vegetal corresponde a uma porcentagem de vegetação

independente das APPs, que varia de 20% até 80% dependendo da Unidade Federativa, e

deve ser conservada ou utilizada sustentavelmente, mediante plano de manejo florestal, com o

objetivo de assegurar a reprodução da biodiversidade (fauna e flora), além da regulação do

clima local, regional e global (BORGES et al., 2011).

As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são definidas pela Lei 4.771/65, como

áreas protegidas com objetivo de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade

ecológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem

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estar das populações. Essas áreas correspondem à faixa de mata ciliar nas margens de cursos

d’água e entorno de nascentes dependendo da largura do rio, abrangendo também, as áreas ao

redor das lagoas, lagos, reservatórios d’água, nascentes d’água, topo de morros, encostas com

declividade superior a 45°, restingas, bordas de tabuleiros ou chapadas, em altitude superior

a1.800 metros (BRASIL,1965).

Ocorre, no entanto, que mesmo com as determinações impostas pela legislação

ambiental, elas não têm sido suficientes para assegurar a manutenção dessas áreas nas

propriedades, tendo em vista, que diante do modelo agrícola consolidado no campo brasileiro,

isto implica inviabilizar economicamente uma parcela significativa da propriedade

(BORGES, et al., 2011).

Esse sentimento anti-florestal, como destacam Rodrigues et al. (2007), deve-se em

grande parte a percepção de que as florestas não possuem valor econômico, que são áreas

improdutivas e verdadeiros obstáculos ao processo de desenvolvimento.

Sob essa perspectiva, se deparam as polêmicas disputas entre ambientalistas e

ruralistas, sobre a regulamentação entre a manutenção florestal e o uso agropecuário do solo

nas propriedades. Em meio a esse conflito de interesses, encontram-se os pequenos

estabelecimentos rurais, que devido a pouca disponibilidade de terra para a prática agrícola

convencional, são utilizados como argumento pela bancada ruralista nas constantes pressões

para mudanças no código florestal do país. Ocorre que, por traz desse discurso estão os

interesses dos atores hegemônicos ligados ao agronegócio, que ao colocar as áreas de floresta

como “causa” dos problemas socioeconômicos na pequena propriedade, tenta mascarar as

causas estruturais dessa problemática, decorrentes de um modelo produtivo alicerçado na

concentração fundiária, no sistema monocultor, no uso indiscriminado de agrotóxicos, no

trabalho degradante e na degradação ambiental.

Nesse sentido, o Novo Código Florestal aprovado pela Lei 12.651 de 25 de maio de

2012 e modificado pela Lei 12.727 de outubro de 2012, demonstra claramente a forma com

que as áreas de florestas são tratadas por aqueles que buscam o desenvolvimento econômico a

qualquer custo. Entre anistias a crimes ambientais e um prazo de até 20 anos para a

recomposição das áreas desmatadas, a Lei determina que propriedades de até quatro módulos

fiscais4 com largura de rio de até 10 metros recomponham a mata ciliar numa faixa que vai de

4 O Módulo Fiscal corresponde a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada

município, considerando fatores como tipo de exploração predominante no município e renda obtida

com a mesma. No Paraná a média para cada módulo fiscal corresponde a 18 hectares (FAEP, 2012, p.

06).

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5 a 20 metros, dependendo do tamanho da propriedade. (Pelo Código de 1965 a faixa mínima

para essa largura de rio era de 30 metros). Com o novo código, as propriedades de até quatro

módulos fiscais também não precisam mais recompor as reservas legais, pois, passa a valer o

percentual de vegetação nativa existente na propriedade até o dia 22 de julho de 2008. O

código também determina que propriedades maiores de quatro módulos fiscais, poderão

incluir as Áreas de Preservação Permanente no cálculo da Reserva Legal (BRASIL, 2012).

Essas são algumas das mudanças ou “conquistas” como chamam os representantes do

modelo desenvolvimentista, mas que na verdade, representa um retrocesso para a conservação

florestal do país. Essas mudanças devem levar a uma redução significativa de áreas que

deveriam ser recuperadas diante da importância que possuem para a manutenção e qualidade

dos recursos hídricos, conservação dos solos, regulação climática, manutenção da

biodiversidade, entre várias outras funções ambientais, que afetam diretamente a qualidade de

vida da população e da própria produtividade agrícola.

Nesse cenário, a viabilização econômica das áreas de floresta nas propriedades rurais é

uma forma de quebrar esse paradigma dicotômico entre floresta e desenvolvimento, pois,

através de práticas conservacionistas, os proprietários têm a possibilidade de gerar renda,

diversificar as atividades produtivas e manter uma relação diferenciada com as áreas florestais

nesses espaços. Passando de uma perspectiva de enclave econômico, para uma alternativa -

especialmente para os pequenos estabelecimentos rurais da agricultura familiar - de

enfrentamento dos problemas sociais, econômicos e ambientais, gerados pelas práticas

agrícolas convencionais (RODRIGUES et al., 2007).

As possibilidades de uso conservacionista para essas áreas são bastante diversificadas

e segundo Ahrens (2005), devem ser praticadas de modo a manter os mecanismos de

sustentação do ecossistema, ou seja, manter os processos ecológicos essenciais ao equilíbrio

ecossistêmico local, como por exemplo, a polinização, a dispersão e a germinação de

sementes, a regeneração natural e a diversidade da fauna e flora.

Destaca-se nesse contexto, o manejo florestal sustentável, em que é possível extrair

espécies madeireiras, medicinais, recursos alimentícios, matéria-prima para artesanato e

ornamentação, óleos, resinas, gomas e sementes; a apicultura, que disponibiliza além de

produtos alimentícios o aumento da produtividade em culturas agrícolas através da

polinização; os Sistemas Agroflorestais (SAFs), no qual espécies lenhosas perenes são

cultivadas juntamente com espécies herbáceas de ciclos curtos, médios e longos; e o uso

recreativo, onde as florestas são utilizadas turisticamente, geralmente por visitantes de

procedência urbana (BORGES et al., 2011).

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Vale destacar que nas áreas de preservação permanente o uso econômico inicialmente

era restrito, porém, a partir da Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006, alguns

tipos de intervenção passaram a ser permitidos, tais como a abertura de trilhas para as práticas

de ecoturismo, e no caso de pequenos estabelecimentos rurais, o manejo florestal sustentável.

Todavia, apesar de existirem diferentes alternativas para viabilizar economicamente as

áreas de floresta de forma conservacionista, essas práticas têm sido pouco desenvolvidas pelos

proprietários rurais, fato que segundo Rodrigues et al. (2007) ocorre principalmente pela falta

de incentivos das políticas governamentais, falta de informações e de assessoria técnica por

parte de órgãos ambientais e extensionistas, além da própria dificuldade do produtor rural em

fazer a manutenção e compreender os benefícios biológicos e econômicos que essas áreas

proporcionam.

As dificuldades apontadas acima estão vinculadas a um contexto político onde

predomina o modelo agropecuário do agronegócio, estruturado na produção em larga escala,

na redução das variedades produzidas, no uso de agroquímicos e em grandes propriedades

rurais, tendo como consequências ambientais a eliminação da cobertura florestal, o aumento

de processos erosivos e perda da fertilidade dos solos, assoreamento e contaminação dos

cursos d’ água, redução da biodiversidade local, entre outros impactos que,

consequentemente, se refletem na redução da produtividade agrícola, no aumento dos custos

requeridos à produção e em dificuldades para a sobrevivência e manutenção dos agricultores

familiares/camponeses em seus estabelecimentos rurais.

Contudo, ainda que as práticas conservacionistas nas áreas de floresta ainda não sejam

tão difundidas, é importante salientar que elas representam para os agricultores

familiares/camponeses, uma oportunidade de viabilização ecológica e econômica dessas

áreas, diversificando e elevando a renda da população local e contribuindo para a

permanência no campo com qualidade, levando também a benefícios diretos e indiretos

proporcionados pela conservação florestal.

Entre o usos conservacionistas apresentados por Borges et al. (2011), o uso recreativo,

tem sido uma atividade potencial para o desenvolvimento de atividades de lazer e turismo nas

propriedades. Isso se deve ao crescente desejo especialmente de moradores das áreas urbanas

pelo contato com as áreas florestais, sejam para atividades de caminhada, práticas de esporte,

conhecimento ou somente contemplação.

Conforme destaca Lima (1972), as florestas tendem a oferecer o oposto da rotina

massificada e artificializada da vida moderna. O silêncio, quebrado somente por ruídos

produzidos pelos seres que ali habitam; o ar puro, livre de poeiras, fumaça e substâncias

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tóxicas; a amenização da temperatura e as belezas cênicas são alguns dos fatores que as

diferenciam dos espaços cotidianos e as tornam tão atrativas para a visitação.

Para viabilizar esse uso, uma das alternativas é a implantação de trilhas/caminhos para

serem percorridos pelos visitantes e que podem tanto ser utilizados como um atrativo

secundário aos objetivos principais – visitar uma cachoeira, caverna, corredeira, etc.- quanto

ser o próprio sentido da caminhada ou mesmo da visitação (SALVATI, 2003).

3.4 As Trilhas Ecológicas

Andar em trilhas é uma habilidade antiga do ser humano, motivada principalmente

pela necessidade de deslocamento. Contudo, nos últimos anos, a caminhada incorporou um

novo significado. De simples meio de deslocamento, elas passaram a ser um novo meio de

contato e integração com a natureza (ANDRADE, 2003).

O desejo pelo contato e fruição da natureza preservada, fez das trilhas caminhos

construídos com o objetivo de aproximar o visitante com o ambiente natural e atuar como um

espaço de interação e familiaridade com o meio ambiente (KROEFF; VERDUM, 2011).

Em termos conceituais, as trilhas em áreas naturais recebem várias definições e

significados. Para Menezes (1998, p. 12) a trilha é “um corredor linear, na terra ou na água,

com status de proteção e acesso público para recreação e transporte”. Vasconcellos (2006,

p.46) as vê como caminhos “através de um espaço geográfico, histórico ou cultural, traçados

pelo homem para a sua mobilidade física ou intelectual”.

Guillaumon (1977) acredita que a trilha é um percurso em um sítio natural e/ou

artificial que consegue promover um contato mais estreito entre o homem e a natureza,

tornando-se um instrumento pedagógico importante que possibilita o conhecimento de fauna,

flora, geologia, dos processos biológicos, das relações ecológicas do meio ambiente e de sua

proteção.

Na definição apresentada por Salvati (2003, p. 1):

Trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com diferentes

formas, comprimentos e larguras, que possuem o objetivo de

aproximar o visitante ao meio natural, ou conduzi-lo a um atrativo

específico possibilitando seu entretenimento ou educação, através de

sinalizações ou recursos interpretativos.

Sabendo que existem definições para o termo “trilha”, Costa (2006, p. 23) chama a

atenção para o fato de todas elas apresentarem duas características em comum: “o fato dela

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permitir ao caminhante o contato com a natureza e que é através dela que se pratica o

ecoturismo5”.

No fomento da prática recreativa, as trilhas possuem diferentes tipologias, tais como:

trilhas ecológicas, ecoturística, geoturísticas, interpretativas, entre outras. Das tipologias

apresentadas, as que são utilizadas no decorrer deste estudo são as trilhas ecológicas e as

trilhas interpretativas. A diferença entre ambas está no fato da trilha ecológica permitir uma

contemplação passiva do ambiente, enquanto que a trilha interpretativa busca através de

elementos originais e ilustrativos, traduzir fatos e fenômenos que estão além das aparências,

ou que mesmo aparentes, não são comumente percebidos pelos visitantes, por isso, são

consideradas importantes instrumentos para as atividades de educação ambiental (COSTA,

2006).

Atualmente a caminhada em trilhas é uma das principais atividades do ecoturismo

(KROEFF; VERDUM, 2011), muito embora, elas tenham sido corriqueiramente utilizadas

apenas como meio de deslocamento para determinado atrativo de alto valor estético, e não

como o sentido próprio da caminhada. Isso faz com que o indivíduo, na ânsia de chegar ao

atrativo principal, geralmente utilizado como ponto final da trilha, deixe de apreciar e

vivenciar o ambiente como um todo, fazendo com que a caminhada na trilha não tenha um

valor em si (VASCONCELLOS, 2003).

Nas Unidades de Conservação além de ser um instrumento da prática recreativa, as

trilhas também são consideradas importantes ferramentas de manejo e de deslocamento da

população residente dentro e no entorno da unidade, para realizar atividades de subsistência

tais como agricultura, extrativismo, pesca, etc.(MAGRO; TALORA, 2006).

As trilhas também têm sido uma ferramenta utilizada no desenvolvimento de

atividades de educação ambiental. Autores como Andrade e Rocha (1990); Guillaumon

(1997); Schellhas (1986); Vasconcellos (1997); Andrade (2003); Menguini (2005); Magro

(1999); Salvati (2003); Bedim (2004); Lechener (2006); Feola (2006); Costa (2006), entre

outros, têm destacado o potencial educativo/pedagógico das trilhas. Eles acreditam que o uso

de trilhas permite desenvolver e praticar a observação, percepção, contemplação e

5De acordo com órgão responsável pelo setor turístico no Brasil, a EMBRATUR, “ecoturismo é um

segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural,

incentiva a conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do

ambiente, promovendo o bem estar das populações (...). (EMBRATUR, 1994, apud SERRANO, 1997,

p.17).

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interpretação de elementos naturais observados. Trata-se de uma oportunidade de integração

com a natureza, conhecimento de diversas funções ambientais de espécies e ecossistemas e

sensibilização dos visitantes para as causas conservacionistas.

Porém, como destaca Vasconcellos (1997) as trilhas ecológicas por si só, não se

concretizam como um instrumento para sensibilizar ou conscientizar ambientalmente os

visitantes. Para isso, é necessária a adoção de recursos interpretativos que instiguem a

percepção dos indivíduos, de forma criativa, atrativa e motivadora, por meio de pontos

estratégicos para paradas e interpretação.

Nessa perspectiva, apresentamos na sequência, a importância da percepção e

interpretação ambiental como método para difundir a educação ambiental nas trilhas

ecológicas.

3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades recreativo-

educativas em trilhas ecológicas

A percepção e a interpretação ambiental têm sido comumente utilizadas como

instrumentos para a educação ambiental. Como enfatiza Melazo (2005), conhecer o modo

como os indivíduos percebem e entendem o ambiente contribui na construção de

metodologias capazes de despertar a tomada de consciência frente aos problemas ambientais e

estimular ações conservacionistas.

A percepção ambiental também tem sido um instrumento utilizado pela ciência

geográfica, como forma de analisar a interrelação do homem com o meio e o modo como os

indivíduos percebem e entendem o espaço em que habitam (COSTA; MELLO, 2005).

Nas trilhas, a percepção e a interpretação ambiental são utilizadas como instrumentos

de manejo, de sensibilização e de educação dos visitantes. Através delas, os indivíduos são

instigados a desenvolver reflexões, sensações e emoções, frente às ocorrências, fatos,

fenômenos e realidade dos sistemas ambientais observados (VASCONCELLOS, 1997).

A percepção ambiental é definida por Costa e Mello (2005), como a maneira pela qual

cada indivíduo sente e compreende o meio ambiente, através da apreensão de objetos e

sentidos dentro do campo sensorial.

Na percepção, os sentidos, principalmente a visão, são partes necessárias e

fundamentais (OLIVEIRA; MACHADO, 2004). Entretanto, a percepção também está

associada a processos mentais, cognitivos e a uma série de simbolismos existentes em cada

indivíduo e em cada grupo social, com suas diferenças culturais e até limites fisiológicos ou

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biológicos, que acabam influenciando na interrelação e percepção da natureza (MELAZO,

2005).

Oliveira e Machado (2004) destacam que o processo de percepção ocorre em dois

momentos. Em um primeiro momento ela é individual e seletiva, sujeita a valores e

experiências prévias e memórias. Em seguida, entram em ação os filtros culturais, sociais e

ainda, individuais, tendo como papel importante os aspectos econômicos e as vivências e

experiências que cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade.

Fatores como presença de outros visitantes, encontro entre grupos e tipo de atividade

desenvolvida, também influenciam no processo de percepção, bem como, na qualidade da

experiência vivenciada (TAKAHASHI, 2004).

Para Tuan (1980, apud COSTA, 2006) a percepção do indivíduo sobre o ambiente

visitado é puramente estética, e por isso, a necessidade de desenvolver medidas que

provoquem no visitante a empatia em relação à vida e aos valores dos habitantes do local,

bem como, a consciência dos possíveis impactos que podem ser desencadeados pela visitação.

Takahashi (2004) ressalta que a percepção dos impactos nas trilhas é algo bastante

limitado por parte do visitante, que geralmente se reduz a presença ou não de lixo. A autora

relata que em estudos realizados em parques norte-americanos, constatou-se que a maioria dos

visitantes classificou a condição das áreas visitadas como boas ou excelentes, mesmo em

locais onde mais de ¾ do solo se encontrava compactado em razão do excessivo pisoteio. Os

poucos visitantes que perceberam a presença do impacto, responderam, entretanto, que essa

condição não afetava a qualidade de sua visitação.

Esse fato pode ser explicado pela pouca ou nenhuma consciência ecológica por parte

do visitante, que na grande maioria, sob a ótica do “consumo do verde”, busca somente a

satisfação e o bem estar individual, abdicando de qualquer responsabilidade ou preocupação

com o ambiente visitado.

Apesar disso, a percepção ambiental tem sido bastante utilizada como instrumento de

manejo das trilhas, especialmente por meio de metodologias ligadas a interpretação ambiental

que tendem a proporcionar ao visitante o conhecimento do local e a motivação de interagir

com o ambiente visitado, bem como, de tomar “consciência não só de suas belezas cênicas,

mas de seus problemas (sociais, econômicos, políticos e ambientais)” (COSTA, 2006, p. 24).

Conforme enfatiza Vasconcellos (1997), as pessoas que buscam atividades de lazer

como caminhada em trilhas, geralmente não estão à espera de leituras e ensinamentos. Por

isso, faz-se necessário desenvolver a arte e a técnica da interpretação ambiental, na qual os

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visitantes são instigados a perceber, conhecer e compreender o ambiente através da

experiência direta e de meios ilustrativos.

A interpretação ambiental surge, assim, como “um instrumento de comunicação, que

favorece as conexões intelectuais e emocionais entre os interesses da audiência e os

significados inerentes aos recursos” (VASCONCELLOS, 2006, p. 23). Ela é uma forma

estimulante de fazer com que as pessoas entendam o seu entorno ecológico, para em seguida,

sensibilizá-las a uma nova postura ética em prol das questões ambientais. A linguagem da

natureza traduzida para a linguagem comum das pessoas - para que percebam um mundo que

nunca tinham visto antes - e o modo como essa tradução é feita, são fatores que diferenciam a

interpretação ambiental da simples comunicação de informações (VASCONCELLOS, 1997).

Milano (1997) define a interpretação ambiental como:

[...] uma atividade educativa, cujo propósito é dar a conhecer o significado

dos recursos através de aspectos originais, por experiência direta ou por

meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar de sua significância ou

importância. As técnicas de interpretação em áreas naturais silvestres

objetivam confundir as atividades de recreação e educação,

imperceptivelmente, de maneira que o visitante desenvolva sua Educação

Ambiental sem se perceber disso. (MILANO, 1997 apud COSTA, 2006, p.

27-28).

Para Silva et al. (2006, p.195) a interpretação ambiental é uma “oportunidade de

desenvolvimento humano que estimula a capacidade investigadora, levando o homem a

repensar seu modo de ver e sentir o planeta como um todo, a partir da leitura e da percepção

da realidade ambiental”.

Nesta perspectiva, Melazo (2005) explica que a junção entre a percepção e a

interpretação ambiental tem por objetivos proporcionar ao indivíduo e a comunidade, uma

maior sensibilização em relação ao meio ambiente visitado, fortalecendo a cidadania, as

relações interpessoais com a natureza e acelerando o desenvolvimento de atitudes “capazes de

produzirem novas ações coerentes com a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica,

social e espacial” (p. 51).

Boff (2003) destaca que enquanto intérprete da paisagem, o homem sente a vida a

partir de sua própria experiência e busca novas sensações através de uma prática sinestésica

própria, interiorizando-a por meio de imagens, memórias e significações. Esta internalização

por sua vez, contribui para consolidar uma nova postura ética em relação ao meio ambiente,

concomitante à tomada da consciência de seus limites e ao desenvolvimento de uma

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espiritualidade ecológica capaz de promover o respeito aos humanos e a todos os demais seres

da natureza.

Kroeff e Verdum (2011) chamam a atenção para o fato de que as potencialidades de

percepção e interpretação ambientais das trilhas ecológicas normalmente não são

aproveitadas, sendo as trilhas utilizadas apenas como um meio de deslocamento para um

atrativo de valor estético e não para a reflexão, questionamento e compreensão da relação

homem-natureza. Para esses autores, as trilhas devem ser o próprio sentido da caminhada,

onde o indivíduo é chamado a interagir com o ambiente visitado, descobrir novas paisagens,

entender os processos ambientais que a formam e adquirir maior familiaridade com o

ambiente natural.

Para Vasconcellos (1997), ao estimular a percepção e a interpretação ambientais, as

trilhas se tornam caminhos geográficos capazes de traduzir fatos e fenômenos além das

aparências, e que comumente, olhos distraídos não conseguem enxergar.

Ao invés de simplesmente transmitir informações de forma literal, as trilhas

interpretativas buscam revelar os significados e as relações com o meio ambiente. Aliando

entretenimento, significado, organização e também uma mensagem a ser comunicada

(ANDRADE; ROCHA, 2008). Para isso, a interpretação ambiental deve estar organizada em

torno de um tema, ser prazerosa, apresentar informações relevantes, significativas

(VASCONCELLOS, 2006), e principalmente, utilizar informações a partir de investigações

científicas (MOREIRA, 2011).

Nas trilhas, a interpretação ambiental pode ser realizada com a presença de guias

(trilhas guiadas) ou sem a presença de guia (trilhas autoguiadas) (ANDRADE; ROCHA,

2008). Em trilhas guiadas, o condutor desempenha um importante papel na experiência do

visitante, pois é através dele, que o indivíduo é conduzido a observar, sentir, descobrir e

questionar sobre fatos e fenômenos relacionados ao tema em questão. Por isso, a qualidade da

interpretação ambiental depende muito da capacidade, preparo e interesse desse profissional

(MOREIRA, 2011).

Nas trilhas autoguiadas, nas quais a interpretação é estimulada por meios de placas,

painéis e folders, folhetos ou oralmente antes do visitante dar início ao percurso, a eficiência

da interpretação ambiental depende fundamentalmente da qualidade do material

interpretativo, o qual deve adotar uma linguagem amena, organizada e temática, de modo a

instigar no visitante o interesse pelo tema estabelecido (VASCONSCELLOS, 2003).

No geral, as áreas florestais oferecem inúmeras possibilidades interpretativas. Os

temas para a interpretação são bastante variados, podendo ter como enfoque a história local,

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antropologia, relação homem-natureza, relações alimentares, vida social dos animais,

biodiversidade, comunicação com animais, relação de tamanho das plantas (altura, diâmetro e

volume), uso dos sentidos (cores, tons, som dos pássaros e do vento nas árvores), entre vários

outros (VASCONCELLOS, 1997).

Silva e Junior (2010) destacam que em áreas de floresta, as árvores são os elementos

mais importantes a serem considerados no processo de interpretação, pois na medida em que

estruturam a floresta, dão característica ao ecossistema e são os elementos mais visíveis na

paisagem. Por isso, muitas vezes a caracterização florística, o grau de beleza e o destaque no

ambiente, são utilizados como referência para determinar o traçado original das trilhas e para

definir os pontos interpretativos. Além disso, os autores destacam que fragmentos mais

densos passam uma sensação de mistério, de algo a ser descoberto, e isso acaba instigando a

curiosidade e a aspiração do visitante em fazer o percurso.

Silva e Junior (2010) acreditam que a interpretação ambiental em área de floresta é

capaz de promover: a) sensibilização ambiental: obtida quando a abordagem do guia ou de

materiais interpretativos permitem ao visitante perceber as interações ecológicas existentes na

floresta com mais facilidade, internalizar a importância da conservação desta e se emocionar

com a maneira destrutiva com que o ser humano interage com ela; b) compreensão ambiental:

obtida na medida em que o visitante entende a dinâmica dos sistemas naturais na floresta e a

forma com que o ser humano participa dessa dinâmica; e c) a responsabilidade ambiental:

alcançada ao criar laços afetivos com a floresta por meio da sensibilização e ao compreender

melhor o efeito de suas ações nesse ambiente, a tomada das responsabilidades é facilitada.

A responsabilidade ambiental e a verdadeira compreensão das relações de um

ecossistema, para Silva e Junior (2010) são facilitadas, mas dificilmente serão alcançadas,

devido ao curto tempo da visita e outras questões de ordem subjetiva. Contudo, estimular a

percepção e a interpretação ambiental, pode ser uma maneira eficiente de instigar a

consciência ambiental dos visitantes, de modo que eles primem pela sustentabilidade,

melhorando inclusive a qualidade da visitação, uma vez que, estando mais sensibilizados para

as causas conservacionistas, os visitantes podem agir de maneira mais responsável em relação

ao ambiente visitado.

Considerando que nos pequenos estabelecimentos rurais, devido ao tamanho do

fragmento de floresta, as trilhas são geralmente de curta distância, o desenvolvimento de

atividades interpretativas pode ser uma estratégia eficiente para aperfeiçoar a experiência

vivenciada nas trilhas, aumentar o tempo gasto na realização do percurso e atrair um maior

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número e diversidade de visitantes. Neste contexto, Apresentamos a seguir, alguns dos

benefícios e problemáticas do uso de trilhas ecológicas nesses estabelecimentos.

3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potencias e Problemáticas

Consideradas intervenções de baixo impacto ambiental, as trilhas ecológicas são

permitidas tanto para a Reserva Legal quanto para as Áreas de Preservação Permanente, que

legalmente, possuem uma possibilidade de intervenção econômica mais restrita (CONAMA

nº 369/2006).

Nos pequenos estabelecimentos rurais, as trilhas têm sido uma alternativa para

desenvolver ou incrementar a oferta turística local e gerar renda, seja diretamente cobrando

uma taxa de visitação, ou indiretamente, por meio de refeições servidas por adesão ou

comercialização de produtos locais e regionais (SILVA, 2006).

A viabilização social e econômica através das trilhas, para Jesus e Ribeiro (2005)

acaba se refletindo em ações de preservação, manutenção e recuperação das áreas de floresta

nas propriedades, tendo em vista, que quanto mais preservado estiver o fragmento de floresta,

maior será sua atratividade para a visitação.

Através das trilhas, as áreas legalmente protegidas deixam de serem espaços

economicamente perdidos na propriedade e passam a ser uma oportunidade de renda e

qualidade ambiental. Ao conservar ou recuperar áreas anteriormente degradadas por outras

formas de apropriação e uso do solo nas propriedades, os proprietários acabam obtendo

benefícios não apenas econômicos, mas também socioambientais, já que a manutenção dessas

áreas afeta diretamente qualidade do ambiente local e, consequentemente, a qualidade de vida

da população residente no entorno.

As trilhas também podem promover a cooperação da comunidade local para que

fragmentos florestais de diversas propriedades sejam integrados através de um circuito de

trilhas, possibilitando a geração de renda e conservação de áreas florestais em diferentes

localidades e o aumento no potencial atrativo das trilhas, através de elementos naturais,

arquitetônicos e humanos que se diferem de uma propriedade para outra e podem

proporcionar experiências ricas à visitação (LECHENER, 2006).

No Recanto Renascer, onde se localizam as duas trilhas ecológicas utilizadas como

foco da investigação empírica dessa dissertação, é possível afirmar que essa integração

ressaltada por Lechener (2006) existe, pois uma das trilhas do local possui boa parte de seu

traçado no fragmento de floresta da propriedade vizinha, o que possibilita uma maior

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diversidade de atrativos na trilha e um percurso de maior distância. Contudo, a renda obtida

com a visitação ainda permanece apenas com o proprietário do Recanto Renascer.

Porém, apesar dos benefícios socioeconômicos e ambientais, o uso das trilhas

ecológicas também pode trazer uma série de impactos indesejáveis tanto ao ambiente quanto

aos visitantes e gestores da atividade. Esses impactos, segundo Barros e Dines (2000),

geralmente estão associados à falta de planejamento, aumento no número de visitantes e

intensidade das visitações.

É importante considerar que as áreas de fragmentos florestais em estabelecimentos

rurais são geralmente pequenas, em virtude da ocupação do entorno e possuem maior

suscetibilidade a impactos, se comparados aos fragmentos de maior porte pertencentes às

Unidades de Conservação. Assim, impactos ambientais comumente atribuídos à implantação

e uso das trilhas, tendem a ser intensificados nesses locais.

Dentre os possíveis impactos proporcionados ao ambiente natural através das trilhas,

autores como Takahashi (1998), Feola (2006), Andrade e Rocha (1990), Takahashi (2004),

Costa (2006), Lechener (2006) e Magro (1999) destacam: erosão e transporte de solos;

contaminação de rios e outros corpos d’água por assoreamento; perda da vegetação ao longo

da trilha; introdução de espécies invasoras; aumento do acesso às áreas por espécies

predadoras ou indesejáveis; perturbações/deslocamento da vida selvagem; fragmentação de

habitats; alargamento do corredor e do piso da trilha; usos múltiplos/sobreposição de usos;

perda da borda crítica; ruptura no talude; aprofundamento do leito da trilha; entupimento por

sedimentos em drenos, barragens de água, drenagens e bueiros; inundação do piso da trilha;

redução do banco de sementes do solo; e o uso indevido, não ordenado ou intensivo da trilha

por comunidades locais.

Barros e Dines (2000) indicam que os impactos se dão sobre o solo, água, vegetação e

fauna local. Conforme os autores, o impacto sobre o solo tem início com a destruição da

serrapilheira, seguido pela compactação decorrente do pisoteio, causando alterações no

processo de aeração, temperatura, umidade, nutrição e organismos. A redução da capacidade

de infiltração causada pela compactação tende a aumentar o escoamento superficial e

consequentemente acelerar os processos erosivos.

Magro (1999) ressalta que a compactação no solo afeta diretamente o crescimento de

novas plantas e o desenvolvimento das já existentes, pois, suas taxas de crescimento e

capacidade reprodutiva são diminuídas na medida o comprimento da sua haste é reduzido por

sua base apresentar dificuldade em se expandir no solo compactado. Além disso, as perdas da

cobertura vegetal e da matéria orgânica intensificam os processos erosivos, reduzindo o banco

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de sementes do solo e consequentemente, a propagação das plantas. Outra ação impactante na

vegetação destacada por Andrade e Rocha (2008) é a retirada de espécies nativas ou exóticas

pelos visitantes, como bromélias, orquídeas, entre outras.

Neste contexto, a fauna também é afetada principalmente pela mudança em seu

habitat, causado, entre outros fatores, pela compactação do solo e retirada da vegetação. Os

impactos, também podem ser de forma direta através da morte de animais, da caça, da pesca,

da introdução de espécies e distúrbios alimentares provocados por restos de alimentos

deixados ou fornecidos pelos visitantes (COSTA, 2006).

Segundo Pontes (2006), a intensa visitação em áreas próximas a corpos d’água

(cachoeiras, córregos, rios e poços) situadas ao longo da trilha, pode provocar impactos sobre

espécies aquáticas raras ou pouco conhecidas, que não toleram aumento da turbidez da água e

modificação do leito dos corpos hídricos.

A utilização das trilhas pode provocar a morte de pequenos vertebrados terrestres, ou

então, no caso de espécies taxonômicas como as serpentes, o encontro com os visitantes pode

gerar riscos a ambos, pois, tanto o visitante pode ser atacado pelo animal quanto matá-lo,

principalmente por vê-lo como um elemento de risco e não como um ser que está em seu

habitat natural (FARIA; MORENI, 2000).

O lixo gerado pela visitação, especialmente plásticos se não devidamente descartado é

também um problema para a fauna local, pois causa poluição do habitat e, se ingeridos,

podem causar intoxicação e morte. Mesmo quando as áreas da trilha oferecem lixeiras para o

descarte de materiais, elas podem ser utilizadas pelos animais como uma fonte fácil de

alimentos, alterando o comportamento natural de algumas espécies e sendo armadilhas fatais

para outras. Galões altos e sem tampas podem ser facilmente escalados durante a noite por

animais que depois não conseguem sair e acabam morrendo ou pela falta de água e comida,

ou afogadas pela água da chuva (PONTES, 2006).

Em relação aos recursos hídricos, Pontes (2006) destaca que os impactos são

provenientes da sedimentação gerada pela erosão do solo, do lixo lançado por visitantes, da

contaminação patogênica, entre outros fatores, que acabam por diminuir a quantidade de

oxigênio dissolvido na água, afetando sua qualidade e alterando o desenvolvimento e a

sobrevivência de plantas e animais.

Quanto aos impactos sociais, Andrade e Rocha (2008), Barros e Dines (2000),

Takahashi (2004), Lechener (2006), Magro (1999) e Costa (2006) destacam como os mais

corriqueiros: os congestionamentos, excesso de lixo, vandalismos (pichações, depredações,

etc.), choque cultural, perda da autenticidade e integridade das tradições culturais, conflito

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entre visitantes e moradores da comunidade local, conflito entre os visitantes e sua

insatisfação com a experiência vivenciada.

O número de pessoas que o visitante pode encontrar ao longo das trilhas torna-se um

impacto, quando este interfere diretamente na qualidade da experiência da visitação, uma vez

que, algumas pessoas valorizam a sensação de isolamento, de modo que o encontro com os

demais visitantes pode diminuir a qualidade de sua experiência (BARROS; DINES, 2000).

Candiotto (2010) destaca que nas diversas modalidades de turismo, o convívio entre

visitantes e moradores do local nem sempre corresponde a uma relação harmônica e

construtiva, pois muitas vezes o comportamento de superioridade frente aos hábitos e cultura

da população local por parte dos visitantes, leva a conflitos, desvalorização cultural e ao

denominado efeito demonstração, no qual a população residente busca incorporar o

comportamento e o estilo de falar e de vestir dos visitantes, por acreditarem que estes, são

melhores e mais modernos.

Candiotto (2010) e Oliveira e Melo (2012) também apontam a apropriação predatória

do ambiente por parte do visitante/turista, que busca nesse espaço um lugar idealizado,

bucólico e com os mesmos padrões de qualidade e conforto ofertados na cidade, não

considerando nesta relação, as especificidades do ambiente e o modo de vida já existente no

local.

Entre os possíveis impactos econômicos, Costa (2006) destaca a especulação

imobiliária com sobrevalorização de terras e imóveis rurais, o aumento do custo de vida e a

concentração e/ou perda de renda da comunidade local.

O aumento no número de visitantes pode exigir investimentos extras em

infraestruturas e atividades de manutenção nas trilhas, elevando as despesas e diminuindo a

renda obtida com a atividade. Além disso, no caso dos pequenos estabelecimentos, cujos

gestores das atividades são os membros da família e geralmente agricultores familiares, a

intensa visitação nas trilhas pode demandar a necessidade de contratar empregados,

descaracterizando a essência de uma unidade de produção e vida familiar (UPVF).

Todos esses fatores demostram que o uso de trilhas ecológicas em práticas recreativas

exige planejamento e um plano de manejo coerente às especificidades tanto ecológicas quanto

socioeconômicas locais. O objetivo do planejamento e do plano de manejo está em evitar ou

minimizar impactos indesejáveis desencadeados por uma construção e visitação inadequadas,

que podem tanto afetar o equilíbrio ambiental local, quanto à qualidade da experiência

vivenciada e o contentamento de visitantes e moradores do local.

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Nesse sentido, considerando o objeto e o objetivo geral dessa pesquisa, o próximo

item abordará as principais técnicas para a implantação e o manejo de trilhas ecológicas em

áreas florestais.

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4 PLANEJAMENTO, CONSTRUÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS

EM ÁREAS FLORESTAIS

4.1 Planejamento

O planejamento em um sentido amplo pode ser entendido como um processo racional,

contínuo e permanente de ordenação e previsão, destinado a resolver os problemas que afetam

uma sociedade em determinada época e espaço. Ele é, portanto, uma ferramenta fundamental

de gestão (FLORIANO, 2004).

Quando a ação planejada corresponde à implantação de uma trilha ecológica, o

planejamento tem a função de garantir a integridade do meio físico e biológico, controlar e

limitar o uso dos recursos naturais e atrativos, e a qualidade e segurança da visitação

(SIMIQUELI et al., 2009).

Para Costa et al. (2003), o planejamento de trilhas deve ser uma atividade

interdisciplinar, na qual diversos especialistas ligados à pesquisa ambiental (geógrafos,

ecólogos, biólogos, engenheiros florestais, etc.) devem estar envolvidos, a fim de avaliar e

minimizar as alterações físicas e biológicas do meio.

Na linha da interdisciplinaridade, o americano Larry Lechener desenvolveu em 2006 o

Material: “Planejamento, Implantação e Manejo de Trilhas Ecológicas”, publicado na série

Cadernos de Conservação da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza, propõe a

abordagem integrada para o planejamento de trilhas a fim de garantir a sustentabilidade das

trilhas e a satisfação daqueles que as utilizam (Figura 3).

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Figura 3: Passos para uma abordagem integrada de trilhas

.

Fonte: LECHENER (2006).

Lechener propõe nessa abordagem integrada que todas as fases de manejo (planejar,

construir, monitorar e manter), estejam vinculadas por intermédios de retorno e interações

contínuas, demonstrando uma interdependência entre elas e a necessidade de que sejam

desenvolvidas de forma integrada e também conjunta.

Seguindo os passos da abordagem integrada proposta por Lechener (2006), Simiqueli

et al. (2009) destacam que o planejamento de trilhas deve respeitar o deslocamento e hábitos

dos animais silvestres, controlar os processos erosivos, organizar um sistema de drenagem da

água, sinalizar vias de acesso e considerar os impactos provenientes do uso público das

trilhas, sejam eles positivos ou negativos. Os objetivos da trilha, o perfil dos usuários e o

contexto e características biofísicas e sociais da área pretendida, também são elementos que

devem ser considerados e compreendidos.

Com um planejamento adequado, Lechener (2006) ressalta que as trilhas podem

potencialmente alcançar objetivos conservacionistas, aumentando as oportunidades sociais

com baixo impacto ambiental e garantindo a satisfação e a segurança de seus usuários.

Andrade e Rocha (1990) destacam que quando bem planejadas e devidamente

mantidas, as trilhas oferecem impactos mínimos ao ambiente, que raramente excedem 2% do

total da área utilizada e concentram-se geralmente em 1 metro de cada lado, no corredor da

trilha e nos locais de acampamento, abrigos e demais espaços de agrupamento de visitantes.

Entretanto, por ser considerada uma atividade de baixo impacto ambiental, é comum

que as trilhas sejam implantadas sem um planejamento formal ou sem que as condições e

características naturais e humanas da área sejam compreendidas. Isso faz com que impactos

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indesejáveis ao ambiente, a população local e aos próprios visitantes sejam potencializados,

aumentando riscos de acidentes, custos de construção, manutenção e em alguns casos a

própria inutilidade da trilha.

Assim, Andrade (2003) destaca que o planejamento se mostra uma etapa

extremamente importante no processo de implantação e manejo das trilhas ecológicas. Sua

eficácia garante a proteção dos recursos naturais, minimiza impactos indesejáveis, maximiza a

qualidade da experiência da visitação, oferece segurança aos usuários e reduz gastos

desnecessários com infraestruturas e atividades de manutenção.

Nas seções seguintes, apresentamos os principais elementos que devem ser

considerados para o planejamento de uma trilha ecológica, no sentido de integrar o uso e

proteção dos recursos naturais, a segurança e satisfação dos usuários, e atender aos objetivos

dos proprietários rurais.

4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica

A primeira etapa do planejamento começa com a definição dos objetivos da trilha, que

posteriormente nortearão as decisões tomadas à implantação e à manutenção das mesmas. Por

isso, os objetivos devem ser claros e coerentes às características sociais, econômicas e

ambientais da área, de modo a evitar as ações e os impactos indesejáveis (ANDRADE, 2003).

Lechener (2006) propõe algumas questões que podem contribuir para a definição dos

objetivos e também, para que o planejador verifique se as intenções estabelecidas para a trilha

estão coerentes ao uso conservacionista. São elas: Porque implantar uma trilha nesta área? O

que queremos e o que podemos alcançar com essa trilha? Qual é o público alvo? O que vai ser

construído? Onde vai ser construído? Quem vai construir? Porque vai ser construído? Quando

vai ser construído?

É importante que os objetivos priorizem a integridade do ecossistema, o senso de

responsabilidade e compromisso com ambiente visitado e a melhoria da qualidade de vida da

população residente. Caso contrário, diversos elementos podem ser acrescentados para o

conforto e satisfação daqueles que o visitam, mesmo que isso traga artificialidade à paisagem

e impactos negativos ao ambiente local.

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4.1.2 Usuários

Identificar o perfil do visitante, se idoso, jovem, criança, portador de necessidades

especais, entre outros, é um elemento importante para o planejamento, principalmente para

que a trilha possa ser segura, acessível e atrativa.

Implantar uma trilha incoerente ao perfil dos visitantes pode gerar situações

indesejáveis tanto para quem à visita, quanto ambientais. Um exemplo é quando a largura do

piso não condiz com as características do visitante, que acaba utilizando as áreas marginais

como passagem, alargando o corredor da trilha e acelerando as ações erosivas. Ou então,

devido à falta de estruturas adequadas, o visitante se depara com situações de risco,

desconforto e insegurança na realização do percurso (LECHENER, 2006).

Quando planejadas para atender crianças em idade escolar, as trilhas devem ser curtas

(100 a 500 m), apresentar equipamentos de segurança, sinalização, pavimentação (pedras,

tijolos ou madeira), ter mais de 170 cm de largura e permitir o acesso aos portadores de

necessidades especiais. Idosos também necessitam de trilhas bem estruturadas e de fácil

acesso e locomoção. Se os visitantes forem preferencialmente jovens e adultos, a trilha pode

ser mais longa, ter um nível maior de dificuldade em seu percurso, manter seu piso original,

ser mais estreita e com menos equipamentos de segurança e sinalização (ANDRADE;

ROCHA, 2008).

Lechener (2006) aponta algumas diretrizes gerais para o planejamento de acordo com

o perfil do visitante, conforme exposto na tabela 1.

Tabela 1 – Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante.

Perfil do

visitante

Largura

do piso

Altura do corredor Largura do

corredor

Pedestre 60 - 95 cm 2,5 m 1,2 - 1,5 m

Cavaleiro 60 - 95 cm 3,73 m 1,8 m

Ciclista 60 - 95 cm 2,5 m 1,2 – 1,5 m

Portadores de

necessidades

especiais

60 - 95 cm 2,5 cm 1,2 – 1,5 m

Multiuso 60 - 95 cm 2,5– 3,75m 1,8 – 5 m

Fonte: LECHENER, 2006.

Org. MORAES, D. I. de (2012)

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Os dados da tabela mostram que o perfil do visitante influencia diversas características

da trilha, como largura e altura do corredor e largura. São indicações que não garantem apenas

a segurança do visitante, mas também a integridade do ambiente natural e da própria trilha.

Por isso, identificar o perfil dos visitantes (atuais e futuros) é uma forma de garantir a

eficiência da trilha enquanto atrativo e enquanto prática conservacionista.

4.1.3 Análise de Sítio

A análise de sítio consiste em examinar o local onde a trilha pretende ser implantada,

de modo que as características e potencialidades dos recursos naturais e humanos e as

fragilidades do ambiente natural sejam identificadas.

Antes de ir a campo, a análise de sítio deve ocorrer com o levantamento de dados e

materiais como mapas, fotografias aéreas, escrituras e documentos legais, ocupação e uso,

entre outros. Estes, além de economizar tempo e energia, também possibilitam uma visão

geral das características e condições biofísicas e socioeconômicas do local e podem contribuir

para um esboço preliminar de uma possível rota para a trilha (LECHENER, 2006).

Em campo, o planejador deve observar a paisagem e identificar os elementos naturais

e humanos que a caracterizam. Tendo como pressuposto, que essa paisagem não é estática,

sendo então, o “resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos,

biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem

um conjunto único e indissociável, em perpetua evolução” (BERTRAND, 1971, p.2).

Ross (2006) considera que a análise estática e descritiva da paisagem torna-se

insuficiente quando o objetivo é a utilização racional e conservacionista dos recursos

ecológicos. Para isso, é necessário entender sua totalidade, partindo do que é facilmente

perceptível (formas e fisionomias), seguindo pelo que é estático (estruturas), dinâmico

(funcionalidade) e por último, identificando as fragilidades do ambiente diante das

intervenções humanas.

Esse tipo de avaliação exige do planejador um bom conhecimento da funcionalidade

do ecossistema local e uma análise integrada de todos os seus elementos que o compõem.

Como destaca Ross (2006, p.54) a integração e interdependência entre os fluxos de energia e

matéria nos ecossistemas:

[...] não permitem, por exemplo, o entendimento da dinâmica e da gênese

dos solos sem que se conheça o clima, o relevo, a litologia e seus

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respectivos arranjos estruturais, ou, ainda a análise da fauna sem associá-la

à flora – e esta lhe proporcione suporte –, que, por sua vez não pode ser

entendida sem o conhecimento do clima, da dinâmica das águas, dos tipos

de solos, e assim sucessivamente.

Essa análise integrada não abrange apenas elementos naturais, mas também humanos,

tendo em vista que o homem e suas dinâmicas também interferem nos fluxos de energia e

matéria dos ecossistemas, geralmente, em ritmos bem mais intensos do que aqueles

produzidos normalmente pela natureza (ROSS, 2006).

Ross (2006, p. 50), destaca que quando todos os componentes naturais e sociais são

analisados e entendidos no contexto das interações e interdependências, tem-se a

possibilidade de compreender “a complexidade da totalidade de um determinado espaço

territorial, enquanto forma, estrutura, funcionalidade e dinâmica”.

Para Lechener (2006), uma das formas de compreender essa dinâmica e

interdependência é visitar a área em diferentes períodos do ano e em diferentes situações

atmosféricas. Fazer uma visita logo após uma tempestade, por exemplo, quando os padrões de

drenagem estão mais evidentes, pode ser uma importante estratégia para na identificação dos

locais mais suscetíveis a alagamentos e deslizamentos e que oferecem riscos aos visitantes na

travessia de cursos d’água.

A interação entre as forças que fluem no local faz com que os impactos causados pela

intervenção humana tragam consequências não apenas no local, mas também no sentido do

fluxo. Um exemplo é quando a trilha implantada nas proximidades de um riacho apresenta

compactação e erosão do solo. Isso acaba afetando não apenas a trilha, mas também o riacho,

através do assoreamento e do transporte de sedimentos (LECHENER, 2006).

Em meio a todas essas complexidades e especificidades que o local apresenta, tanto

em termos ambientais quanto sociais e econômicos, a análise de sítio mostra-se uma etapa

difícil, porém, imprescindível para o planejamento das trilhas, pois todas as informações

produzidas irão fornecer bases para muitos detalhes do designer, construção, manutenção e na

definição de estratégias de manejo.

Lechener (2006) destaca alguns elementos essenciais a serem considerados na análise

de sítio, tais como:

Tipo de solo;

Regime climático;

Topografia;

Padrões de drenagem;

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Distribuição de água superficial e subsuperficial;

Padrões de vegetação (o que está crescendo aqui e por que);

Fauna local e presença de espécies invasoras;

Usos históricos;

Uso já implantado na área;

Situação da terra (zoneamento, se pública ou privada, incentivos, etc.);

Relação com outras infraestruturas, estradas, oportunidades de recreação, etc.;

Considerações quanto à segurança.

De acordo com o manual da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo –

SEMA/SP (2009) a análise de sítio também tem por objetivos:

Verificar pontos de controle e identificar pontos adicionais que não tenham sido

percebidos ao estudar mapas e fotos aéreas;

Verificar se a rota esboçada é praticável;

Identificar pontos de controle que enriqueçam a experiência do usuário.

Verificar que a rota pretendida seja razoável.

Diante de todas as especificidades que uma análise de sítio exige, analisaremos a

seguir, alguns dos principais elementos que devem ser considerados, destacando suas

características, importâncias ambientais e como podem interferir ou influenciar a implantação

e utilização das trilhas ecológicas.

4.1.3.1 Solos

Os solos, como todos os elementos naturais, são dinâmicos na natureza e sofrem

influência direta ou indireta de diversos fatores, como o clima, organismos, topografia, ação

antrópica, material original e tempo. Sua composição básica provém de partículas minerais,

matéria orgânica, água e ar (FEOLA, 2006).

As partículas minerais são as principais componentes do solo (50 a 80%) e variam

muito de tamanho, podendo ser extremamente finas como a argila, finas como o silte ou

grossas como a areia e cascalho. O tamanho das partículas minerais é denominado “textura do

solo” e exerce enorme influência sobre a drenagem e propensão do solo à erosão e

compactação (FEOLA, 2006).

De acordo com o manual da SEMA/SP (2009), as partículas pequenas tendem a dar ao

solo uma textura barrenta quando molhada e empoeirada quando seca, e geralmente não

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oferecem boa drenagem. Já as partículas grandes que não se ligam umas as outras, são muito

soltas e, portanto, mais suscetíveis à erosão. Por outro lado, são mais resistentes ao transporte

devido à necessidade de maior força desprendida para o seu deslocamento. O mesmo não

ocorre com as partículas menores, que devido a sua maior coesão, são mais resistentes ao

desprendimento, mas menos resistente ao transporte.

Para Montovani (1987), o tamanho das partículas influencia também no processo de

compactação, pois, as partículas de diâmetro diferentes, quando submetidas à pressão, tendem

a se arranjar e preencher os poros dificultando a infiltração e deixando o solo compactado.

Além dos teores de silte, argila e areia, Guerra (2001) destaca que outras propriedades

também devem ser consideradas, como por exemplo, o teor de matéria orgânica que também

contribui na agregação das frações granulométricas e, portanto, na suscetibilidade do solo aos

processos erosivos.

Segundo alguns autores, a textura do solo pode ser identificada durante a análise de

sítio através de técnicas simples realizadas em campo. Em alguns casos, a identificação

somente é possível com análises laboratoriais ou pequenas escavações para examinar seus

horizontes.

Para a identificação em campo, Lechener (2006) apresenta uma técnica na qual a

textura pode ser identificada comprimindo uma porção de solo entre as mãos e criando três

formas básicas:

a) Bloco: Torrão formado ao pressionar na mão fechada uma amostra de solo.

b) Cilindro: Formado ao rolar a amostra de solo na palma da mão.

c) ”Panqueca”: Formada ao apertar uma pequena amostra de solo entre o polegar e o

indicador.

O quadro 1 demonstra como essas três formas (bloco, cilindro e “panqueca”)

permitem ao planejador identificar o tipo de solo encontrado.

Quadro 1 - Identificação do tipo de solo em campo.

Teste de

campo

Tipo de Solo

Médio-arenoso Médio-

siltoso

Médio Médio- argiloso Argiloso

Bloco

Pode ser

cuidadosamente

manipulado

sem quebrar

Pode ser

manipulado

sem

quebrar

Pode ser

facilmente

manipulado

sem quebrar

Sólido,

facilmente

manipulado.

Pode ser

moldado sem

quebrar

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Cilindro

Denso, friável,

facilmente

quebrável.

Denso,

macio,

facilmente

quebrável.

Pode ser

finamente

moldado;

facilmente

quebrável.

Cilindro forte

pode ser

facilmente

enrolado

Cilindro

forte e

plástico,

facilmente

enrolado.

“Panque

ca”

Não forma uma

“panqueca”

Não forma

uma

“panqueca”

Forma

“panquecas”

pequenas e

grossas que se

quebram por

seu próprio

peso

Forma

“panquecas”

finas que se

quebram por seu

próprio peso

“Panqueca”

longas e

flexíveis que

não se

quebram por

seu próprio

peso

Fonte: LECHENER (2006).

Org. MORAES, D. I. de (2012)

Para Andrade (2003), Lechener (2006), Feola (2006) e Costa (2006), os solos mais

adequados à implantação das trilhas ecológicas são aqueles que oferecem maior possibilidade

de drenagem e apresentam quantidades moderadas de areia, argila e conteúdo minerais. Solos

argilosos, siltosos, areia pura, alto teor de matéria orgânica, finos ou delicados, devem ser

evitados, pois estão mais suscetíveis ao processo de erosão e compactação, como mostra o

quadro 2.

Quadro 2– Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas.

Tipo de solo Descrição Adequabilidade para as

trilhas

Siltoso

Partículas finas; pobremente drenados. Pouca, quase sempre indica

uma subestrutura fraca, que

deve ser evitada por

apresentar maior propensão à

compactação do solo. Isso se

deve a uma maior dificuldade

de drenagem, que pode

também ocasionar em dias

chuvosos o alagamento do

piso da trilha.

Argiloso Partículas finas; pobremente drenados;

pulverulento quando seco; altamente

erosivos em encostas inclinadas.

Pouca, especialmente em

áreas de grande declividade, e

moderado quando misturado a

outros tipos de solos.

Geralmente a uma

suscetibilidade a processos

erosivos e a compactação.

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Arenoso Partículas maiores com estrutura

granulosa mais grosseira; muito bem

drenado; sujeito a erosão eólica e

hídrica.

Pouca, devido a sua

suscetibilidade à erosão, que

em áreas declivosas pode

levar a ruptura do talude e a

perda da borda crítica,

exigindo gastos elevados com

estruturas e manutenção.

Textura

Média

Uma mistura de areia, silte e argila em

variadas quantidades; suas

características dependem das

proporções desta mistura, mas

geralmente são bem drenados.

Desejável, especialmente

quando as proporções da

mistura conferem coesão,

drenagem e estabilidade. Isso

faz com que os processos

erosivos e os gastos com

estruturas nas trilhas sejam

minimizados. Fonte: LECHENER (2006).

Org. MORAES, D. I. de (2012)

Andrade e Rocha (2008) destacam que a umidade do solo também é um fator

importante. Solos muito úmidos podem indicar a presença de nascentes, olhos d’água, rios

intermitentes e escoamento superficial, o que leva ao aceleramento das ações erosivas,

afundamento do piso, alagamento das áreas marginais e uma possível inundação da trilha em

períodos chuvosos.

4.1.3.2 Hidrografia

A distribuição da água na superfície e no subsolo (rios, córregos, lagos, zonas úmidas,

açudes, represas, entre outros) e os padrões de drenagem, influenciam diretamente nas

decisões tomadas quanto à localização, o designer e o número e tipo de estruturas a serem

implantadas nas trilhas (ANDRADE, 2003).

Trilhas que atravessam corpos d’água necessitam de infraestruturas para a segurança

dos usuários e proteção do recurso hídrico, como pontes, passarelas, bueiros, entre outras, que

tornam mais elevados os custos com a implantação e a manutenção da trilha.

Outro elemento importante são os padrões de drenagem, que conforme Feola (2006)

são influenciados principalmente pelo tipo de solo e pela topografia do terreno e podem

indicar quais as áreas estão em maior e menor suscetibilidade aos processos de erosão. Áreas

com encostas longas e acentuadas contribuem para o grande e rápido fluxo de água e podem

causar erosões rápidas e severas no piso da trilha.

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Para Lechener (2006) um das melhores formas de compreender os padrões de

drenagem do local é visitar a área durante o período chuvoso, ou durante e logo após uma

tempestade, pois é possível identificar quais as áreas são mais suscetíveis a deslizamentos e

alagamentos.

Porém, apesar dos problemas que a hidrografia local pode representar à construção e

manutenção da trilha, ela também pode ser um instrumento de grande atratividade, na medida

em que rios, riachos, e cachoeiras geralmente são locais que atraem e instigam o visitante a

fazer o percurso e podem ser utilizados como pontos limitadores, destinos desejáveis, locais

de recreação e interpretação ambiental (ANDRADE; ROCHA, 2008).

4.1.3.3 Vegetação

A vegetação tem importantes funções no equilíbrio ecossistêmico e nas forças que nele

atuam. Tem as funções de amenizar a ação erosiva das águas pluviais, influenciar os fluxos

naturais da água e contribuir no processo de infiltração.

De acordo com Guerra (2001) a cobertura vegetal pode atuar de duas formas: na

diminuição da quantidade de água que chega ao solo e na energia cinética das gotas de agua

da chuva, por meio da intercepção e da alteração de sua distribuição e tamanho.

A vegetação atua como uma capa protetora ou de amortecimento entre a atmosfera e o

solo. As folhas, galhos e troncos absorvem parte da energia das gotas, do movimento da água

e da ação do vento, de modo que o processo erosivo seja reduzido em relação ao solo desnudo

(FEOLA, 2006).

Ross (2006, p. 42) destaca que:

No nível do solo, a presença de cobertura vegetal densa, com vários extratos

vegetais, favorece o processo de infiltração da água no solo e proporciona

fornecimento de matéria orgânica vegetal, que contribui para a pedogênese,

ao mesmo tempo protege os solos contra os processos erosivos laminares e

lineares.

A inexistência de cobertura vegetal, “além de não condicionar a infiltração das águas

pluviais no solo, contribuindo para o seu ressecamento, favorece o escoamento superficial,

facilitando a atividade erosiva” (ROSS, 2006, p. 41-42).

Ao retirar a vegetação que fica no corredor da trilha, os padrões naturais de fluxo e

infiltração da água são alterados, tornando-se necessárias ações mitigadoras, que sejam

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capazes de diminuir a velocidade da água superficial e minimizar os processos erosivos, como

por exemplo, a construção de canaletas e barreiras de drenagem, degraus entre outras

estruturas (ANDRADE, 2003).

Além de sua importância ambiental, a vegetação também é um elemento de grande

atratividade para a trilha. Flores, folhagens, árvores de maior porte e com características

peculiares, chamam a atenção e instigam o visitante a observar e interagir com o ambiente.

Para que as potencialidades e restrições da flora local sejam identificadas e utilizadas

como um elemento de atratividade a visitação, Proudman (1977 apud ANDRADE; ROCHA,

2008) destaca que a implantação da trilha deve ser um misto de técnica e sensibilidade, pois,

construir uma trilha ambientalmente correta não necessariamente à torna atrativa. Por isso, o

planejador deve ter um olhar sensível à paisagem, identificando os elementos que podem ser

apreciados durante a caminhada ou nos locais de descanso.

4.1.3.4 Fauna

A fauna local pode tanto ser um elemento de atratividade para a trilha, através dos

sons dos pássaros, da observação de espécies, dos ninhos, entre outros, ou representar um

risco à visitação, principalmente através do encontro com animais como cobras, abelhas,

aranhas, formigas, entre outros (ANDRADE; ROCHA, 2008).

A fauna também tem funções extremante importante para as áreas florestais,

especialmente na dispersão e polinização de semente. Além disso, como parte integrante de

um mesmo ecossistema, qualquer interferência em seu habitat ou em determinada espécie,

pode provocar desequilíbrios sobre todas as outras espécies e sobre o ecossistema como um

todo (COSTA, 2009).

O manual da SEMA/SP (2009) destaca que a fauna local contribui na fragmentação do

solo que compõe o seu piso, e pode deixá-lo mais suscetível ao processo de erosão. Tal fato

ocorre por que os “animais escavam através da trilha, perambulam ao redor dela, cruzam-na

descendo, introduzem atalhos, tombam pedras sobre a trilha, mastigam o piso, ou escavam

raízes ao longo do caminho” (p.33).

Para evitar riscos aos visitantes e a fauna local, Andrade e Rocha (2008) enfatizam que

a trilha não deve interferir nas rotas, nos locais de criadouros, alimentação e descanso dos

animais. Por isso, o trajeto e as estruturas implantadas devem ser pensados a partir das

características e comportamentos dos animais que habitam o local.

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O comportamento e a reprodução especialmente de pequenos anfíbios, mamíferos e

aves, é também um bom indicador da qualidade ambiental da área, pois, a fragmentação do

habitat pode tanto levar a reprodução desordenada de determinada espécie, quanto à redução

da população e o abandono da área por outras (ANDRADE, 2003).

4.1.3.5 Geomorfologia

As características geomorfológicas do terreno tanto podem facilitar a implantação de

uma trilha e o manejo dos fluxos de água, quanto tornarem-se um grande desafio para o

planejador, principalmente nos locais onde a declividade é muito acentuada, a precipitação

pluviométrica é grande e as condições do solo são suscetíveis a processos de erosão

(LECHENER, 2006).

As áreas planas e áreas com inclinação maior que 20% devem ser evitadas como

passagem para a trilha, pois podem potencializar a compactação e erosão do solo, representar

riscos e desconfortos aos visitantes e tornar a trilha inutilizável (ANDRADE; ROCHA, 2008).

Segundo Andrade (2003), para utilizar a topografia em favor da implantação e do

manejo, a trilha deve ser desenhada acompanhando os contornos naturais da área e

atravessando as curvas em ângulos oblíquos, para que os padrões naturais de drenagem

possam ser facilmente restabelecidos. As trilhas que sobem perpendicularmente até o topo da

elevação são facilmente utilizadas como caminhos dos fluxos de água, resultando em erosões

severas, alterações no padrão de drenagem e assoreamento de cursos d’água.

Medir o ângulo de inclinação do terreno (declividade) é variável considerada

“essencial para a determinação de vulnerabilidade a erosão, grau de dificuldade da trilha e

descrição de trabalhos de correção” (ANDRADE; ROCHA, 2008, p. 17). Nas declividades

acima de 12° é necessário utilizar infraestruturas que facilitem o acesso dos usurários e

minimizem as ações erosivas. Para os trechos mais curtos é indicada a construção de escadas,

e para os trechos mais longos, as trilhas em formato de ziguezague ou curvilíneas

(LECHENER, 2006).

A declividade é classificada por Lemos e Santos (1996 p. 57) como:

a) Plana: declividade abaixo de 2o;

b) Baixa: de 2 a 5o;

c) Média: de 5 a 11o;

d) Alta: de 11 a 24o; e

e) Muito alta: acima de 24o.

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No item “Construção de Trilhas em Áreas Declivosas” trataremos algumas das

técnicas e procedimentos adequados à implantação de trilhas em locais com declividades mais

acentuadas.

4.1.3.6 Regime Climático

O clima é determinado pelo conjunto de condições meteorológicas que caracterizam

uma região – precipitação, temperatura, pressão atmosférica, umidade do ar e ventos. Seu

estudo é considerado um elemento essencial para o uso racional dos recursos naturais

(SANTOS, 2004).

No planejamento de trilhas ecológicas, o estudo do clima se faz necessário para que a

potencialidade das ações erosivas das chuvas, os períodos de estiagem e geadas possam ser

identificados. Essas informações são obtidas através de alguns dados climáticos como

temperatura média, amplitude térmica e índice pluviométrico anual, mensal e diário (COSTA,

2006).

Padrões de passagem do sol e dos ventos, são destacados por Lechener (2006) como

fatores importantes na localização da trilha, pois podem auxiliar na secagem da superfície do

piso e proporcionar brisas mais refrescantes aos visitantes.

Locais de climas chuvosos exigem estruturas específicas para as trilhas, que evitem

tanto o encharcamento do piso em áreas mais planas, quanto o rápido fluxo da água em áreas

de declive, de modo a contribuir para a segurança dos usuários e proteção do ambiente,

especialmente, no que refere ao controle de ações erosivas que podem em algumas situações,

levar a destruição total do piso da trilha.

4.1.3.7 Pontos de controle

Os pontos de controle correspondem aos elementos naturais que podem representar

pontos limitadores ou destinos desejáveis para as trilhas, como brejos, rochas, cachoeiras,

riachos e vistas.

O manual da SEMA/SP (2009) destaca alguns dos pontos de controle tidos como

positivos e negativos na implantação e uso das trilhas ecológicas. Os positivos são atrações

como mirantes de especial beleza cênica, lagos e cachoeiras. Já os negativos são áreas com

solos pobres, habitats críticos para a vida selvagem ou que abriguem espécies ameaçadas de

extinção, que devem ser evitados como passagens da trilha ou como destino final.

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O quadro 3 apresenta os pontos de controle mais comuns em sistemas de trilhas,

destacando suas características e como contribuem ou dificultam sua implantação e utilização.

Quadro 3 - Exemplos de pontos de controle e suas potencialidades/limitações para as trilhas.

Pontos de

controle

Descrição Considerações

Afloramento

rochoso

Geralmente inadequados para a construção de

trilhas, pois dependendo do perfil dos

visitantes (principalmente crianças e idosos)

pode representar riscos. Pode ser uma

possível área de destino,

Evitá-los como ponto de

passagem da trilha;

podem ser procurados

como destino.

Topografia É geralmente o ponto de controle decisivo

para a localização de trilhas.

Evitar declividades muito

acentuadas (>20%) e

áreas completamente

planas.

Brejos Estão entre as áreas mais difíceis de construir

e manter trilhas; essas áreas devem ser

identificadas pela vegetação e condições do

solo durante a análise de sítio.

Evitar sempre que

possível.

Outras

trilhas

Quando compatível com o plano da trilha

principal, a ligação destas com outras trilhas

pode aumentar as oportunidades de visitação

e a gama de experiências.

Desejáveis.

Rodovias A interseção de trilhas com rodovias devem

ser cuidadosamente consideradas,

especialmente se não existirem projetos para

implantar uma cabeceira de trilha ou uma área

de estacionamento.

Pode abrir novas

oportunidades para o

manejo e para visitantes;

facilitar o acesso não

esperado; representar um

riso a segurança dos

visitantes.

Corpos

d’água

Uma zona-tampão deve ser mantida no

entorno de corpos d’água para evitar

perturbações a vida silvestre e degradação do

corpo d’água.

Evitar como passagem de

trilha, procurar como

possível área de destino.

Rios Manter uma zona-tampão entre a trilha e o

riacho. Só atravessar o leito quando

necessário, em ângulos retos, nos pontos mais

estreitos.

Evitar como local de

passagem, procurar como

possível local de destino.

Fonte: LECHENER (2006).

Org. MORAES, D. I. de (2012)

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O quadro 3 demostra que os pontos de controle são elementos que influenciam no

formato, na direção e nas estruturas da trilha, e podem ser tanto um desafio para quem

constrói e maneja a trilha, quanto um elemento de grande atratividade para a mesma.

4.1.3.8 Contexto socioeconômico

O contexto socioeconômico se remete ao processo de desenvolvimento e organização

do espaço em um determinado lugar. Sua compreensão permite analisar o quanto a trilha pode

interferir nas particularidades do lugar, ou seja, no espaço de vivencia, das relações diárias e

de experiências formadoras da identidade cultural (COSTA, 2006).

No caso de trilhas implantadas em estabelecimentos rurais de base familiar, ou seja,

onde os gestores da atividade são os componentes da família (geralmente agricultores

familiares), é importante avaliar a viabilidade econômica e social do uso das trilhas como um

atrativo para a visitação no local. Isso porque, as trilhas podem contribuir para a geração de

renda na propriedade e para a valorização das características culturais locais, costumes,

hábitos de vida, culinária, entre outros. Mas também, podem levar a impactos negativos a

esses moradores, como conflitos com visitantes, elevação do custo de vida e desvalorização

do estilo de vida e da cultura local.

4.1.3.9 Mapeamento

O mapeamento da trilha quando acurado, torna-se uma ferramenta bastante útil para o

planejamento, monitoramento e manejo da visitação, oferecendo informações sobre o traçado,

a direção, à distância, os atrativos, o grau de dificuldade, entre outras, que são importantes

não apenas para o bem estar e a satisfação do visitante, mas também para sua segurança.

O mapa da trilha pode ser gerado através de:

a) Desenho da trilha fazendo sobreposição em carta topográfica já existente;

b) Medição da distância, rumo e declividade dos segmentos da trilha a partir de um

ponto já conhecido: Pode ser feito durante a demarcação da rota em campo;

c) Uso de GPS para estabelecer as coordenadas da trilha e um Sistema Geográfico de

Informações (SIG) para organizar os dados;

d) Incorporação de dados recolhidos durante a análise de sítio (LECHENER, 2006).

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Os mapas geralmente são expostos em banners, placas, folder e folhetos, como forma

de informação, orientação, divulgação e atratividade ao visitante, que ao conhecer as

características do percurso pode sentir-se instigado a percorrê-lo.

4.1.4 Design

O design corresponde ao desenho do traçado da trilha e compreende elementos como

forma, comprimento, grau de dificuldade, largura e infraestruturas.

De acordo com o manual da SEMA (2009, p.29) trilhas bem desenhadas:

[...] valem-se de elementos naturais de drenagem, reduzindo a manutenção

que acabaria sendo necessária, ao mesmo tempo em que vai de encontro às

necessidades dos usuários. [...] As melhores trilhas quase não apresentam

evidências nos esforço nela investidos.

Lechener (2006, p.47) também considera um bom design aquele que busca reduzir ou

evitar conflitos entre os visitantes, separando-os de acordo com as experiências que buscam

vivenciar na trilha, principalmente em trilhas onde são admitidas múltiplas atividades. Nesses

casos, o autor enfatiza:

Nas trilhas multiusos, onde a observação da vida silvestre é uma atividade

comum, pode ser estratégico incluir desvios como pontos de observação ou

de descanso. Isso permitirá aos usuários parar e observar a vida selvagem

sem estar no caminho de outros caminhantes ou sem ter que sair da trilha

para permitir que outros usuários passem por eles.

Proudman (1997 apud ANDRADE; ROCHA) considera que desenhar uma trilha que

se harmonize na paisagem e ao mesmo tempo traga segurança e satisfação aos usuários e

proteção aos recursos exige um balanço entre beleza e objetivo, no qual, as características

naturais e cênicas da paisagem são combinadas de forma harmônica e criativa. Para isso, o

levantamento de algumas questões é fundamental, como: Qual a forma da trilha mais

adequada às características da paisagem? Os visitantes devem voltar pelo mesmo caminho? O

traçado proposto pode trazer conflitos entre os usuários? Onde e como serão instalados o

estacionamento e os sanitários? Qual será a largura da trilha e o seu comprimento? Que tipo

de superfície e material será utilizado? Quais infraestruturas são necessárias? Qual o grau de

dificuldade que essa trilha vai apresentar? Como os pontos de controle poderão ser utilizados?

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Segundo o manual da SEMA/SP (2009), os elementos que influenciam diretamente no

design de uma trilha correspondem às atividades recreativas que se pretende oferecer, a

intensidade do uso, as características físicas do terreno, as considerações ecológicas e também

as características estéticas da paisagem.

Para Andrade (2003), outro elemento que influencia o design é a categoria da trilha

(guiada ou autoguiada) principalmente no que se refere ao grau de dificuldade e às

sinalizações.

Nas trilhas guiadas, a capacidade de interpretação do guia/condutor é fundamental

para o sucesso da trilha. A função do guia é estabelecer um canal de comunicação e uma

relação afetiva entre o intérprete e os visitantes. Por isso, sua preparação física, experiência

técnica e conhecimentos ecológicos são elementos bastante importantes na qualidade da

interpretação ambiental.

Os passeios guiados podem ser desenvolvidos de diversas formas, tais como: a) O

intérprete pode fixar previamente os locais de parada e os temas trabalhados, sem que o

público possa designar novas investigações; b) As observações vão acontecendo conforme os

eventos aparecem (animais, floração etc.); c) A interpretação ocorre de acordo com as

motivações dos usuários (MOREIRA, 2011).

As trilhas autoguiadas permitem o contato dos visitantes com o ambiente sem a

presença do guia. Nelas, os recursos visuais e gráficos indicam a direção a seguir, os

elementos a serem destacados (árvores nativas, plantas medicinais, ninhos de pássaros etc.) e

temas desenvolvidos (mata ciliar, recursos hídricos, etc.). A condução dos visitantes pode se

dar através de placas numeradas ou meio ilustrativos dispostos na trilha (MOREIRA, 2011).

Conforme o manual da SEMA/SP (2009), o design tem início com o reconhecimento e

a demarcação da rota que foi previamente esboçada durante a análise de sítio, para em

seguida, definir a largura do piso, o comprimento do trajeto, o grau de dificuldade, as áreas de

estacionamento, as infraestruturas e as sinalizações.

4.1.4.1 Forma

O formato de uma trilha é influenciado por fatores como: características físicas do

terreno; intensidade do uso; perfil do visitante; considerações ecológicas e estéticas da

paisagem e características recreativas que a trilha pretende oferecer (MANUAL SEMA/SP,

2009).

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A figura 4 traz alguns dos formatos mais comuns às trilhas ecológicas, com suas

respectivas características.

Figura 4 – Exemplos de formato de trilhas ecológicas.

Forma Característica

Capazes de oferecer ao visitante a

possibilidade de retornar ao ponto de

partida sem repetir o trajeto ou encontrar

outros visitantes no sentido contrário.

Possibilita o aumento no uso dos espaços,

sendo ideais em áreas pequenas. Tornando-

se mais interessantes para o uso turístico,

pois auxiliam na dispersão dos impactos

ambientais, onde o turista não volta pelo

mesmo caminho, ampliando as

oportunidades de visitação.

São utilizadas com intuito de interligar o

caminho principal a um ponto de destino,

como cachoeiras, cavernas, lagos, etc. Sua

desvantagem está no retorno ser o mesmo

trajeto da ida, permitindo o encontro entre

visitantes no sentido contrário.

Tem início e fim em diferentes pontos de

uma trilha, porém o objetivo não é cortar

caminho, mas sim mostrar áreas

alternativas.

Ferradura

Começa e termina em locais diferentes,

evitando o encontro entre visitantes, que

pode ser um fator de conflito e também de

experiências desagradáveis aos visitantes,

especialmente para aqueles que preferem o

silencio e o isolamento durante a realização

do percurso.

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Ziguezague ou em “S”

Utilizadas em áreas declivosas, possuem

um traçado com seções curtas que

continuam a subir quando a trilha muda de

direção, diminuindo a sensação de subida.

Exige estruturas de drenagem e de

sustentação do piso, e a manutenção ou

construção de barreiras naturais (rochas ou

galhos) entre as curvas, com intuito de

evitar que os visitantes criem atalhos.

Fonte: ANDRADE (2003); LECHENER (2006).

Org. MORAES, D. I. de (2012)

As trilhas também podem conter bifurcações ou interseções, ou seja, divisões de uma

via de acesso em dois ou mais ramais que se afastam do acesso à trilha principal. Tal fato

pode ser problemático, se as bifurcações terminarem em outras interseções, podendo

confundir os usuários. Além disso, quando uma bifurcação termina em uma estrada

movimentada, pode representar um risco a segurança da visitação (COSTA, 2006).

4.1.4.2 Grau de dificuldade

Segundo Andrade (2003) o grau de dificuldade de uma trilha é diferenciado entre as

trilhas guiadas e autoguiadas. É também algo subjetivo, devido a fatores associados ao perfil

do visitante, como idade, condicionamento físico e peso da mochila.

Mitraud (2003) classificou o grau de dificuldade nas trilhas de acordo com a escala de

declividade, como mostra a tabela 2.

Tabela 2 - Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas.

Grade Grau de Dificuldade

Declividade < 10% Sem dificuldade

10% < Declividade < 20% Dificuldade mediana

Declividade > 20% Grande dificuldade

Fonte: MITRAUD (2003).

Org. MORAES, D. I. de (2012).

Dias et al. (1986) também define o grau de dificuldade com base na rampa média ao

longo do percurso (Tabela 3).

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Tabela 3 – Grau de dificuldade de acordo com a declividade.

Declividade Grau de dificuldade

0 –10%- leve Leve

10–20%- média Média

20–50%- difícil Difícil

50–100% - muito difícil Muito difícil

> 100% - alpinismo Alpinismo

Fonte: DIAS et al. (1986).

Org. MORAES, D. I. de (2012).

Andrade e Rocha (2008) apresentam a classificação realizada pela prefeitura

Municipal de Brotas (SP) que regulamentou em 2003 o grau de dificuldade de acordo com a

distância a ser percorrida e com a presença ou não de obstáculos. Determinando da seguinte

maneira:

a) Trilha leve: com distancia de até 500 m, exigindo pouco esforço físico, sem

apresentar obstáculos e não exigindo qualquer técnica específica.

b) Trilha Moderada: com distância de até 1.500 m, exigindo esforço físico moderado,

apresentando pequenos obstáculos, como desníveis, escadas, pedras, troncos, riachos, mas não

exige técnica especifica.

c) Trilha avançada: distancia superior a 1.500 m, exigindo esforços físicos intensos,

apresentando obstáculos e exigindo o uso de técnicas especificas como natação e escaladas.

4.1.4.3 Cabeceiras de Trilha e Áreas de Estacionamento

A cabeceira de uma trilha corresponde ao (s) ponto(s) de acesso ao início do sistema

de trilhas e deve(m) estar localizadas em áreas de boa visibilidade e conter orientações

referentes à rota, distância, atrativos, regras e regulamentos. Essas informações permitem que

o visitante tenha um conhecimento prévio sobre as características gerais da trilha e o tempo

gasto para executar o seu percurso (LECHENER, 2006).

A área demarcada para estacionamento de (cavalos, bicicletas, carros, etc.) bem como

sua capacidade e piso, também devem ser consideradas, pois segundo Lechener (2006)

quando inadequadas, podem proporcionar problemas de segurança, degradação ambiental,

abertura de caminhos informais e conflito entre visitantes. Um exemplo são os veículos

automotivos, que se conter vazamentos de óleos e combustíveis podem contaminar o solo e as

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águas superficiais e subterrâneas. Por isso, o autor recomenda que as áreas de estacionamento

estejam localizadas no mínimo a 30 m da margem de córregos, rios, lagos e brejos.

4.1.4.4 Piso

O piso corresponde à área por onde os visitantes devem caminhar na trilha. Devido a

circunstâncias adversas, como o grande número de visitantes, o perfil do usuário, a

suscetibilidade a erosão e os recursos financeiros disponíveis, o piso da trilha pode ser natural

no qual o pisoteio se dá diretamente no solo, ou pavimentado, quando materiais com madeira,

pedras, concreto entre outros, são utilizados para recobrir a superfície da área de

pisoteamento.

Para Lechener (2006) os materiais utilizados na construção do piso de uma trilha

devem ser naturais e harmônicas ao ambiente, de forma a não causar alterações dos padrões

visuais de elementos naturais e artificialidade na paisagem.

As fotos 1, 2 e 3 demonstram tipos distintos de piso em trilhas ecológicas. A foto 1

corresponde a um piso com características naturais, onde a única intervenção foi à retirada da

cobertura vegetal no corredor. A foto 2 demonstra um piso que recebeu uma fina camada de

pó de rocha e está separado das áreas marginais por rochas basálticas. A foto 3 apresenta um

piso com superfície de concreto e com estruturas de segurança, devido ao fato desta trilha

estar implantada em uma área bastante íngreme e apresentar intensa visitação.

Foto 1 – Piso natural – Recanto Renascer - Francisco Beltrão- PR

Autor: MORAES, D. I. de, março/2012.

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Foto 2 – Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista, Foz do Iguaçu - PR

Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.

Foto 3 – Piso pavimentado com concreto - Parque Nacional do Iguaçu – PR.

Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.

A largura do piso de acordo com Andrade (2003) pode variar conforme o terreno, a

vegetação, o uso e o perfil do usuário. Entretanto, o autor destaca que quanto menor for à

largura da trilha, menor será o pisoteio e consequentemente, o impacto ambiental.

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Quando as trilhas forem, por exemplo, destinadas a caminhadas de aventura, Lechener

(2006) recomenda uma largura de 75 cm, ou então, quando planejadas para crianças em idade

escolar e cadeirantes, a largura deve ser de aproximadamente de 1,20 cm a 1,80 cm.

4.2 Construção

4.2.1 Termologia básica de trilhas

Como destaca Costa (2006), muitos dos termos utilizados para as trilhas são

adaptações do vocábulo inglês ou espanhol, por serem os estrangeiros os pioneiros na

elaboração de manuais de construção, manutenção e avaliação dos impactos decorrentes da

atividade.

Para Lechener (2006) embora não exista um vocábulo oficial e universalmente aceito para

as trilhas, a compreensão de alguns termos é necessário para o design e a comunicação

adequada. Os termos mais utilizados são: Piso ou leito da trilha, corredor, zona de influência,

zona tampão, áreas marginais, inclinação natural, talude superior, borda crítica, ponto crítico e

linha central (Figura 5).

Figura 5 – Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas.

Fonte: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I de, 2012.

O piso ou leito da trilha corresponde à área de pisoteio e normalmente é uma

superfície natural, mas pode ser também pavimentada com materiais como cascalho, areia, pó

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de pedra, asfalto, madeira, entre outros. O corredor compreende a toda a área que circundam

a trilha, ou seja, suas bordas, a zona tampão e o piso, compondo a chamada zona de

influência. As Bordas denominadas de áreas marginais correspondem à porção continua à

superfície de pisoteio. A zona tampão é a vegetação que fica ao entorno da trilha.

Quando a trilha possui em seu traçado áreas que sobem e descem em função da

topografia do terreno denominamos de inclinação natural. A borda que se localiza na parte

superior da encosta e que é cortada na construção da trilha é chamada de talude superior. O

lado oposto do talude é denominado de borda crítica, denominada algumas vezes de ponto

crítico por ser considerada uma área crítica quando não devidamente implantada e mantida. A

linha central corresponde ao centro da trilha, que pode ficar reduzida de acordo com a

largura da trilha e ser prejudicada pelas ações erosivas.

4.2.2 Limpeza do corredor

O primeiro passo da construção da trilha é a limpeza do seu futuro corredor, que inclui

o piso e os espaços que estão acima e em suas laterais, denominadas áreas marginais. A figura

6 apresenta o corredor e seus componentes (piso e áreas marginais) de uma trilha implantada

em área florestal.

Figura 6 – Anatomia de trilha ecológica em área florestal.

Org.: MORAES, D. I de (2012).

Zona Tampão

Área marginal

Piso

Corredor da Trilha

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A limpeza do corredor é realizada com a retirada de galhos, troncos caídos, rochas,

solos, serrapilheira, pequenas plantas e arbustos no piso e a poda de árvores nas áreas

marginais. Existem algumas trilhas que mantém árvores de maior porte sobre o piso como

demonstra a foto 4. Entretanto, como salienta o manual da SEMA/SP (2009) o pisoteio pode

danificar raízes e prejudicar o desenvolvimento da planta. Nesse caso, é recomendada a

retirada total da planta, ou então, a mudança no traçado da trilha.

Os materiais e a serrapilheira removida do piso devem ser depositados em locais onde

não provoquem impactos visuais ou possam bloquear a drenagem da água. Além disso,

conforme destaca Lechener (2006) quando ocorrer a remoção total de árvores, os troncos

retirados podem ser reaproveitados em estruturas como escadas, pontes, canais de contenção,

entre outras estruturas, dando-lhes um aspecto mais natural e diminuindo o custo com a

aquisição se materiais.

A matéria orgânica do solo não deve ser totalmente retirada, pois sua presença

diminuir o impacto mecânico e o rápido escoamento superficial causador da erosão

(ANDRADE, 2003).

Foto 4 - Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Ecológico Bela Vista – PR

Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.

Nas áreas marginais a poda da vegetação, especialmente aquela de grande porte, deve

ser uniforme e não ultrapassar 40 % da planta, caso isso ocorra, o ideal é remover a árvore

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totalmente, pois “deixar de pé árvores radicalmente podadas é desagradável visualmente e cria

necessidades de trabalho extra no futuro” (LECHENER, 2006 p. 59).

As dimensões do corredor (largura e altura) são determinadas pelas necessidades do

público alvo e pelo uso pretendido da trilha. “Trilhas de caminhada são limpas até 2,5 metros

de altura e até uma largura total de 2 metros. Já trilhas para cavaleiros e tropas de animais são

limpas até 3 metros de altura e 2,5 metros de largura” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 48-49).

4.2.3 Estruturas para Cruzamento d’ água

A travessia de cursos d’água apresenta um desafio aos planejadores de trilhas, “que

precisam equilibrar os níveis de dificuldade, a segurança, a conveniência, os custos, eventuais

consequências ambientais, e naturalmente a estética” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 95).

As opções de estruturas para os cruzamentos d’água são variadas e dependem de

fatores como a disponibilidade de recursos financeiros, o perfil dos usuários e as condições

ambientais do local. Algumas estruturas podem estar mais direcionadas a rusticidade e ao

desafio, como exemplo, o uso de uma corda ou cabo de aço suspenso e ancorado em árvores

ou estacas, ou então, o uso de troncos de madeira alojados de uma margem a outra do curso

d’água.

Entretanto, quando o perfil dos visitantes são crianças, idosos e portadores de

necessidades especiais, essas estruturas devem primordialmente garantir a segurança, por isso

sua construção requer maior conhecimento e disponibilidade de recursos financeiros.

As estruturas mais comuns na travessia dos cursos d’água em trilhas ecológicas são:

bueiros, pontes e passarelas.

4.2.3.1 Bueiros

Os bueiros são utilizados em lugares onde a trilha corta nascente, olhos d’água,

pequenos riachos ou então em áreas de encosta onde os fluxos de água tendem a ser intensos

nos períodos chuvosos (Foto 5). Seu diâmetro deve ser grande o suficiente para desafogar a

máxima vazão prevista durante a época das chuvas, ter pelo menos 25 cm (MANUAL

SEMA/SP, 2009) e conter uma inclinação de 3% para que drenagem e os sedimentos possam

ser facilmente escoados (LECHENER, 2006).

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Foto 5 – Bueiro em área de encosta - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba - PR.

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.

4.2.3.2 Pontes

As pontes podem ser construídas de diversos materiais, desde as mais simples como

torras rolada ou rochas sobre o córrego, até estruturas mais sofisticadas de madeira, concreto e

ferro.

Lechener (2006) salienta que essas estruturas devem estar adequadas às características

do ambiente e ao perfil do visitante, por isso, sua construção deve levar em consideração

fatores como: regime hidrológico do curso d’água, para evitar que as pontes sejam submersas

pela água durante os períodos de cheia; características das margens do córrego para evitara

erosão do solo e possível queda da estrutura construída; e número e perfil dos usuários para

que a largura, resistência e material utilizado, estejam adequados as necessidade e

característica desse público.

Para trilhas com características de aventura e desafios recomenda-se o uso de

pinguelas feitas com troncos de árvores, que podem ser usadas para cruzar pequenos riachos

ou garantir o acesso durante o período das cheias. A construção dessa estrutura utiliza apenas

um ou dois troncos e dormentes de apoio. O tronco deve estar na horizontal e apoiado sobre

os dormentes em cada extremidade, pois se colocado diretamente sobre o solo apodrecerá

com maior facilidade. A pinguela deve ter pelo menos 45 cm de diâmetro e sua parte superior

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deve ser aplainada para oferecer uma superfície trafegável e plana, contendo pelo menos 25

cm de largura (MANUAL SEMA/SP, 2009).

As fotos 6 e 7 demonstram pontes que utilizam diferentes matérias e apresentam

diferentes graus de dificuldade.

Foto 6- Ponte em Trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.

Foto 7 - Ponte pênsil – Parque Estadual de Campos do Jordão – SP.

Fonte: ANDRADE; ROCHA (2008).

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4.2.3.3 Passarelas e Corrimões

Geralmente as passarelas são estruturas utilizadas em áreas planas, onde “o chão é tão

encharcado que uma trilha não consegue ser nivelada, e não existe maneira de drenar a água”

(MANUAL SEMA/SP, 2009, p.104).

A passarela de madeira consiste em um tablado, ripado ou piso de madeira montado

sobre vigas de madeira tratada ou troncos locais, colocadas sobre dormentes para elevar a

trilha.

O ripado é um tipo primitivo de passarela feito com troncos deitados na terra

assentados transversalmente sobre troncos mais finos e pregados como uma esteira. Essas

estruturas apesar de ter uma aparência mais rústica e natural, consomem uma quantidade

elevada de materiais e apodrecem rapidamente, por isso não devem ser construídas como uma

estrutura permanente, mas apenas como estruturas temporárias (MANUAL SEMA/SP, 2009).

Os corrimões são estruturas construídas para oferecer segurança aos visitantes que

caminham sobre o piso da trilha, especialmente para aquelas que perpassam em seu trajeto

área de encosta e cursos d’água. Os materiais utilizados nos corrimões são variados como

tábuas, ferro, galhos, bambu e cordas.

A foto 8 mostra uma passarela de madeira com corrimões de bambu, construída em

área plana e de densa cobertura vegetal.

Foto 8 - Passarela com corrimão - Horto Florestal do Litoral Norte de Tramandaí/RS.

Fonte: http://matasnativas.wordpress.com/category/administracao-publica/

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4.2.4 Sinalizações

As sinalizações na trilha têm por objetivos garantir a segurança, a orientação dos

visitantes e a proteção dos recursos naturais. Por isso, devem ser “compreensíveis,

sistemáticas e a prova de vandalismos” (ANDRADE, 2003, p.256).

Agate (1983) destaca que a sinalização em trilhas tem por vantagens:

Evitar custos aos usuários com aquisição de mapas;

Possibilitar que os caminhos em áreas florestais sejam facilmente encontrados;

Reduzir invasões acidentais;

Encorajar o uso de trilhas pouco conhecidas.

Os sinais de sinalizações de acordo com Andrade e Rocha (2008) podem ser:

Indicação: Orienta os visitantes quanto ao sentido do percurso;

Interpretação: Busca explicar aos visitantes aspectos ambientais, históricos e culturais;

Aviso de segurança: Busca através de sinais e mensagens alertar uma postura indicada

do visitante, para que os impactos ao ambiente e o risco de acidentes sejam evitados.

Conforme Agate (1983) os instrumentos utilizados para a sinalização podem ser

variados e conter maior ou menos grau de informações, sendo as placas, os banners, as

marcações a tinta e as fitas coloridas as mais utilizadas nas áreas de floresta. Os principais

instrumentos de sinalização são os seguintes:

a) Placas e Painéis: Podem ser confeccionados em pedra, madeira ou metal. Construídas ao

longo da trilha elas podem conter informações diversas sobre distância, grau de dificuldade,

atalhos, pontos de controle, fauna, flora, entre outros.

A foto 9 apresenta uma placa implantada no início da trilha ecológica da Figueira, na

Reserva de Salto Morato em Guaraqueçaba- PR, que contém um mapa identificando o trajeto

e os pontos de controle (atrativos), o tempo médio de caminhada e a distância a ser percorrida.

Os painéis geralmente são interpretativos, com informações sobre os elementos

naturais do local, como flora, fauna, recursos hídricos, entre outros. Estas informações

contribuem para o maior conhecimento e apreciação dos recursos naturais disponíveis no

local, bem como o conhecimento e a reflexão dos possíveis impactos causados pela ação

humana e pela visita sobre tais recursos (Foto 10).

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Foto 9 – Placa na Trilha da Figueira – Reserva Salto Morato Guaraqueçaba – PR.

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.

Foto 10 - Painel explicativo sobre as relações ecológicas do Palmito Jussara – Reserva

de Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.

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Os tamanhos e as espessuras das placas são variáveis de acordo com o comprimento

da mensagem e sua localização. Placas no início de trilha geralmente apresentam um maior

número de informações e por isso devem ter aproximadamente 1 m de largura por 0,90 cm de

altura e 3,5 cm de espessura. As demais placas instaladas no trajeto da trilha podem ter

espessura de 1 a 2 cm (ANDRADE; ROCHA, 2008).

As placas e painéis podem ser instalados em postes de madeira, troncos, galhos e

arbustos, ou ainda, ser apoiada sobre pilhas de pedra (tótem). Os materiais utilizados em sua

fixação devem ser arames ou fios de nylon. Utilizar pregos fixados diretamente em árvores é

inconveniente, tanto do ponto de vista ético quanto estético (LECHENER, 2006).

b) Marcações a tinta: São colocadas em troncos de árvores ou rochas. As cores mais

utilizadas são o amarelo, azul, vermelho branco e laranja. O uso de cores primárias é indicado

para a trilha principal e as cores secundárias para as trilhas secundárias (ANDRADE;

ROCHA, 2008).

c) Fitas: Utilizam-se fitas coloridas, de plástico ou tecido, amarrados em troncos, galhos,

arbustos ou no alto de estacas de madeira ou bambu. Cada cor representa uma determinada

informação como, por exemplo, a direção do traçado da trilha principal e das trilhas

secundárias. Entretanto o significado da coloração das fitas deve ser apresentado aos

visitantes no início do percurso através de folhetos informativos, banner ou oralmente,

evitando com isso que o visitante se confunda e acabe percorrendo caminhos que não fazem

parte da trilha (ANDRADE; ROCHA, 2008).

4.2.3 Construção de Trilha em Áreas Declivosas

A principal preocupação de construir trilhas em áreas declivosas é o manejo da água,

que deve ser eficiente o bastante para mantê-la fora do piso, caso contrário, este será

facilmente erodido, podendo contaminar cursos d’água e criar condições escorregadias para

os visitantes, que possivelmente para evitar as áreas encharcadas contornaram a trilha pelas

áreas marginais alargando o seu piso e potencializando a degradação ambiental.

Para Lechener (2006), o manejo adequado da água começa durante a análise de sítio

com a compreensão dos padrões naturais de drenagem do local identificando sua origem e

fluxo. Ao conhecer os padrões de drenagem e a origem da água de escoamento, a situação

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pode ser mitigada desviando a água da trilha através de estruturas ou afastando a trilha da

fonte de água.

A ação erosiva da água também pode ser mitigada com a construção da trilha em

formato de “S” ou em ziguezague que devem seguir os contornos naturais do relevo. A ideia

básica é quebrar a declividade incluindo rampas curtas “subindo numa trilha que está

descendo” a cada 10 ou 20 metros de distância. A inversão da declividade impede que a água

escoe pelo piso e comece a erodi-lo e também, possibilita realçar a experiência do visitante,

na medida em que a trilha contorna grandes pedras ou se curva para cima e ao redor de

grandes árvores (MANUAL SEMA/SP, 2009).

O método para construir uma trilha em área declivosa é apresentado por Lechener

(2006, p. 60) em quatro etapas, de acordo com o Manual do Líder de Equipes -1992

desenvolvido pela Instituição Norte Americana Volunteers for Outdoor Colorado.

Etapa 1- Estabelecer horizontalmente a linha central da trilha de acordo com a largura já

especificada nas anotações. Com um enxadão, picareta ou outra ferramenta, raspar uma linha

demarcando o lado superior da trilha que deve corresponder a metade de sua largura, e retirar

o material superficial e a serrapilheira necessário apenas para definir o limite superior da

trilha, como ilustra a figura 7.

Figura 7 - Marcando o talude superior da trilha.

Fonte: LECHENER (2006).

Org.: MORAES, D. I de (2012).

Etapa 2- Definir o limite inferior da trilha, que é a metade da largura do piso. Remover a

serrapilheira e as raízes de dentro dos limites definidos para a borda externa da trilha. Cavar

lentamente em direção ao cento da trilha, dispersando o material retirado para fora da linha

visual da trilha e onde não danifique a vegetação, corpos d’água ou outras áreas frágeis. Nesta

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etapa apenas a vegetação, a serrapilheira, raízes e solo mineral contendo matéria orgânica

devem ser removidos. Depois de retirado os restos orgânicos é dado forma ao nível do piso,

de um lado a outro, sem escavar muito profundamente. O material retirado nesta etapa pode

ser utilizado para preencher buracos deixados pela retirada de troncos ou restabelecer o piso

em áreas que se fazem necessário (Figura 8).

Figura 8 - Corte do piso da trilha.

Fonte: LECHENER (2006).

Org.: MORAES, D. I de (2012).

Etapa 3- Cortar o talude superior, mantendo seu formato original sempre que possível. Além

da função estética o corte do talude é importante para prevenir deslizamentos ou erosões.

Iniciar com a definição do limite superior para o talude para em seguida remover a vegetação

e o solo esculpindo o talude de forma que se harmonize ao piso da trilha. Evitar transições

abruptas no topo e na base do talude para possibilitar o fluxo de água e criar um efeito natural.

Embora o talude possa parecer rústico no início, ele será rapidamente recoberto pela

vegetação. Em áreas muito íngremes o talude deve ser reforçado com paredes de rocha ou

madeira (Figura 9).

Figura 9- Corte do talude superior da trilha.

Fonte: LECHENER (2006).

Org. MORAES, D. I de (2012).

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Etapa 4- A etapa final consiste em dar forma à vertente abaixo da trilha, a partir de sua borda.

Uma inclinação natural de 7 a 10% (ou seja, de 7 a 10 cm por metro de largura do piso) de um

lado a outro é adequada para a drenagem do piso da trilha e também é confortável para

caminhadas. A inclinação lateral do piso permite que a água saia da trilha lateralmente em vez

de correr trilha abaixo ou encharcá-la, e pode ser medida utilizando um nível ou uma garrafa

com água. Depois de implantar a inclinação lateral do piso, é necessário limpar e arredondar a

borda crítica, ou seja, o limite inferior da trilha, pois com o tráfico dos visitantes, o piso da

trilha tende a ser compactado e a borda crítica tende a tornar-se mais alta do que a parte

externa do piso. Além disso, os sedimentos transportados pela água tendem a se acumular ao

longo da borda crítica impedindo o escoamento da água. Por isso, a borda crítica necessita de

planos de manutenção contínuos e eficientes (Figura 10).

Figura 10- Inclinação lateral e molde da borda crítica.

Fonte: LECHENER (2006).

Org.: MORAES, D. I de (2012).

4.2.5.1 Canais laterais de escoamento

Para evitar que a água pluvial ganhe velocidade e utilize o piso da trilha como um

canal de escoamento, uma das formas mais utilizadas em áreas declivosas é a construção de

canais laterais em toda a extensão do piso da trilha.

Os canais laterais de escoamento podem ser construídos de concreto, como podemos

observar na foto 11, ou apenas ser uma escavação feita no solo com uma inclinação e

profundidade adequada ao montante de água que possivelmente irá escoar.

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Foto 11 - Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu – PR.

Autor: MORAES, D.I de abril/2012.

4.2.5.2 Vala de Drenagem

São escavações feitas sobre o piso da trilha com o objetivo de drenar a água antes que

ela ganhe velocidade e volume suficiente para causar erosão. A construção da vala de

drenagem consiste em escavar uma seção mais baixa na trilha conhecida como dreno, que

deve ser estendido da parte superior do piso da trilha até a sua parte mais baixa, constituindo

assim o vertedouro, que deve conter tamanho e largura suficiente para direcionar a água para

fora do piso da trilha. Para conter a velocidade da água, o dreno deve apresentar uma

inclinação de 30 a 45 graus em relação ao piso da trilha, possuir uma entrada gradual

denominada de rampa superior para o desvio da água, e uma seção inclinada mais profunda

com uma altura suficiente para embolsar o fluxo d’água, denominada de rampa inferior

(LECHENER, 2006).

Apesar de serem estruturas bastante eficientes na contenção dos fluxos d’água, as

valas de drenagem não devem ser construídas em locais onde possam transportar sedimentos

para dentro de lagos, rios e riachos.

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4.2.5.3 Barreiras de drenagem

As barreiras de drenagem são estruturas assim como as valas de drenagem, construídas

para evitar que o piso da trilha seja erodido pelas águas superficiais. Entretanto, ao invés de

escavar uma rampa sobre o piso, é feita uma barreira de pedra ou madeira elevada na lateral

do piso da trilha (Figura 12).

Foto 12 – Barreira de drenagem com bueiro– Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba -

PR.

Autor: MORAES, D. I de, 2012.

Segundo o manual da SEMA/SP (2009) as barreiras de drenagem são mais eficientes

para declividades menores que 5%, por terem uma menor probabilidade de entupir com os

sedimentos. Já em declividades de 15 a 20% existe uma maior propensão ao entupimento,

principalmente se a barreira estiver em um ângulo menor que 45 graus em relação ao eixo da

trilha. Em declividades acima de 20 % as barreiras de drenagem tornam-se estruturas inúteis

devido à alta propensão de entupimento do seu escoadouro.

Quando mal construídas e mal mantidas, as barreiras de drenagem acabam tornando-se

obstáculos para os usuários, que ao desviá-la provocam o alargamento do piso da trilha.

Assim, para serem eficientes, as barreiras de drenagem devem ser instaladas com um ângulo

correto, atravessar de um lado a outro o piso da trilha, possuir inversão de declividade e

utilizar preferencialmente pedras para a sua construção (MANUAL SEMA/SP, 2009).

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Quando o material utilizado for pedras, Lechener (2006) recomenda que estas devem

ser grandes, estarem enterradas no mínimo 2/3 do seu tamanho, e apresentar um ângulo

apropriado à declividade do terreno, evitando que a água ultrapasse a estrutura e continue

trilha abaixo. Para o autor, as barreiras também podem ser construídas fora da trilha em áreas

mais instáveis, com intuito de estabilizar a erosão e evitar danos ao piso.

Apesar de serem estruturas eficazes na contenção da água em declividades baixas, as

barreiras de drenagem também pode representar riscos aos visitantes, principalmente quando

os visitantes são idosos, crianças, portadores de necessidades especiais ou ciclistas.

4.2.5.4 Degraus

Os degraus são estruturas recomendadas para as inclinações do leito da trilha iguais ou

superiores a 12 % (ANDRADE, 2003) ou quando se pretende ganhar considerável elevação

em curta distância. Os componentes do degrau são: a altura (medida vertical da face de cada

degrau), a passada (distância da borda de um degrau ao pé do degrau seguinte), uma rampa ou

plataforma (extensão de trilha plana logo acima dos degraus) e muitas vezes troncos de

contenção (utilizados em locais onde a plataforma consiste de terra compactada para a

contenção do aterro) (MANUAL SEMA/SP, 2009).

Para que os degraus sejam estruturas confortáveis, Lechener (2006) recomenda que

deva haver um equilíbrio entre sua largura e altura, as quais quando somadas, devem estar

entre 38 a 46 cm. Por exemplo, se a altura for de 20 cm a largura deve estar entre 18 e 26 cm.

Os degraus também devem estar inclinados para baixo ou apresentar suave caimento para um

dos lados, permitindo que a água escoe para fora da estrutura.

Os materiais utilizados na construção dos degraus devem ser naturais e harmônicos ao

ambiente, por isso é recomendável utilizar preferencialmente rochas, troncos e pranchas de

madeira e rochas.

Para Lechener (2006), o melhor material para construir degraus são as rochas, devido

a sua durabilidade e estabilidade no terreno. As rochas devem pesar de 90 a 100 quilos e

serem enterrada no solo no mínimo 2/3 de seu tamanho. Os degraus são construídos

sobrepondo rochas achatadas uma sobre a outra e em alguns casos, utilizando concreto para

estabilizar as rochas menores.

Ao utilizar madeira como matéria prima, os degraus podem ser feitos de várias

maneiras, como mostra a figura 11.

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Figura 11 - Modelos de degraus em madeira.

Fonte: ANDRADE; ROCHA, 2008.

Org. MORAES, D. I de (2012).

As fotos 13 e 14 apresentam degraus em trilhas feitos de diferentes materiais. A

primeira utiliza tábuas e torretes de madeiras alternados e fixados com dormentes. A segunda,

uma sobreposição de rochas.

Foto 13 - Trilha com degraus - Estação Ecológica Juréia-Itatins, Peruíbe - SP.

Fonte: http://www.blogcaicara.com/2010/07/gestao-turistica-em-uc-e-capacidade de.html.

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Foto 14 - Degraus com rochas - Trilhas da Onça – Marechal Candido Rondon – PR.

Fonte: MORAES, D. I. de, outubro/ 2012.

4.2.5.5 Barreiras de Contenção

São construídas para fazer a estabilidade estrutural da encosta evitando e/ou

amenizando os processos erosivos e a deposição de materiais provenientes da encosta no piso

da trilha. Podem ser feitas de pedras, troncos, sacos de areia ou solo, telas, entre outras

(ANDRADE, 2003).

De acordo com Lechener (2006) as barreiras feitas com pedras são bastante úteis para

manter o piso no lugar, construir ziguezagues e estabilizar o talude em áreas muito íngremes.

Para conseguir a estabilidade da estrutura, o autor recomenda não utilizar rochas quebradiças

ou então utilizá-las dentro da parede e não na parte externa. As pedras devem ser sobrepostas

e encaixadas contra a encosta utilizando as pedras maiores na parte da frente.

A foto 15 apresenta uma barreira de contenção feita com tela fina em área de encosta.

Porém, não é a mais recomendada, por dar um aspecto mais artificial à paisagem (MANUAL

SEMA/SP, 2009).

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Foto 15- Barreira de contenção com tela - Parque Nacional do Iguaçu- PR

Autora: MORAES D. I. de, abril/2012.

Quando feitas com troncos de madeira sobrepostos, estes devem ser transpassando

com longos pinos metálicos ou entalhados nas juntas e sustentados por alguns dormentes com

ângulo perpendicular a parede. Cada fileira deve ser assentada um pouco mais para dentro da

encosta, para que possa resistir à pressão do escorregamento da encosta (MANUAL

SEMA/SP, 2009).

4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas

As áreas planas são entendidas como mais problemáticas para a construção e manejo

das trilhas ecológicas, pois tendem a ser mal drenadas, suscetíveis a compactações e em

climas chuvosos são úmidas ou pantanosas.

Em áreas baixas o acúmulo de água no leito da trilha pode gerar diversos tipos de

problemas, como a destruição e o alargamento do piso e deslizamentos.

Poças que se formam em trilhas planas provocam diversos tipos de estragos

no piso. O tráfego que começa a contornar uma poça alarga a trilha (e

eventualmente a própria poça). Água parada geralmente enfraquece o piso e

o talude [...]. O pisoteamento da borda inferior de uma poça pode induzir ao

colapso da borda critica, já que os andarilhos também pisam além da borda

da trilha, desfazendo-a. Colapsos da borda externa são uma das principais

causas de deslizamentos de trilhas. (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 38).

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Para evitar os impactos causados pelo acúmulo de água no piso da trilha, as principais

ações são: construção de deques ou passarelas de madeira; elevação do piso da trilha; e

construção de valas de drenagem ligeiramente arredondadas em toda a lateral da trilha. Para a

elevação do piso, é necessário utilizar material de aterro retirado das valas de drenagem ou de

outras áreas. Podem ser utilizadas também madeira serrada, torras, rochas, argila entre outros

materiais de preenchimento (Foto 16).

Foto 16 – Elevação do piso em área plana com rochas - Reserva Salto Morato –

Guaraqueçaba –PR.

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.

Os pisos elevados são mais baratos e mais fáceis de construir do que as passarelas de

madeira, sendo recomendados principalmente em trilhas com inclinação de até 10 %, que

apresentem lençol freático alto e solos mal drenados (MANUAL SEMA/SP, 2009).

Além da elevação, existem também materiais que contribuem para manter o piso da

trilha com pouca umidade. É o caso do geotêxtil, uma manta bastante resistente que impede o

acúmulo de água sobre o piso da trilha e facilita sua secagem (Foto17).

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Foto 17 - Piso elevado coberto com geotêxtil - Reserva Salto Morato- Guaraqueçaba –

PR

Autor: MORAES, D. I. de, dez./2013.

4.3 Manejo

O manejo das trilhas corresponde ao estabelecimento de ações que são necessárias

para prevenir, controlar, compensar e corrigir possíveis impactos negativos causados pela

construção e uso público das trilhas. Por isso, é um elemento fundamental mesmo para trilhas

implantadas sem planejamento.

Para Barros e Dines (2000) o manejo deve estar voltado à integração dos visitantes aos

objetivos de cada área, de modo a influenciar o comportamento do visitante de maneira

positiva. Para isso, a acessibilidade, integração com o ambiente natural e a possibilidade de

vivenciar plenamente o ambiente visitado, são fatores que devem ser considerados. Nesse

processo, existe um conjunto de princípios importantes tanto para nortear a escolha do método

de manejo, quanto para as ações desenvolvidas. São eles:

Princípio 1: O Manejo adequado depende dos objetivos da área.

Princípio 2: A área deve ser manejada de modo a respeitar a variedade de condições

em cada local e a diversidade de expectativas de cada visitante.

Princípio 3: O manejo deve ser realizado de modo a influenciar a redução das

alterações induzidas pela ação humana.

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Princípio 4: Os impactos sobre os recursos naturais e sobre as condições sociais são

consequências inevitáveis do uso público.

Princípio 5: Os impactos podem ser temporal e/ou espacialmente descontínuos.

Princípio 6: A relação entre uso e impacto não é linear e pode ser influenciada por

diversas variáveis.

Princípio 7: Muitos problemas de manejos não dependem da intensidade de uso.

Princípio 8: Limitar o uso é apenas uma das varias opções de manejo.

Princípio 9: O monitoramento é essencial ao manejo eficiente.

Princípio 10: O processo de tomada de decisões deve separar as decisões técnicas do

julgamento de valores.

Princípio 11: É necessário atingir o consenso entre os grupos afastados/interessados

pelas ações propostas para que as estratégias de manejo em áreas naturais tenham sucesso

(BARROS; DINES, 2000).

O manejo envolve ações de manutenção, monitoramento e avaliação dos impactos

causados pela visitação.

4.3.1 Manutenção

Andrade e Rocha (2008) destacam que os planos de manutenção das trilhas devem ser

projetados em um espaço de cinco a dez anos e devem ter como prioridade, a proteção dos

recursos, a segurança e necessidades dos usuários, o nível de uso e os custos e benefícios das

intervenções.

As atividades de manutenção mais comuns em sistemas de trilhas correspondem à

remoção da vegetação, arbustos, galhos e entulhos no corredor, nas valas de drenagem, nas

barreiras de água e nos bueiros. Os acúmulos de materiais nessas estruturas e no corredor da

trilha acarretam impactos como o alargamento do seu piso, provocado principalmente pelo

desvio de obstáculos e pela aceleração dos processos erosivos, na medida em que o fluxo de

drenagem é alterado ou interrompido (Quadro 4).

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Quadro 4 – Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas.

Operação Ferramentas Trabalho Requerido

Limpeza do corredor da

trilha

Serra de mão, motosserras,

machado, facão, enxadão,

picareta.

Limpeza de arbustos e

restabelecimento do

corredor; remoção de

pequenas árvores e arbustos

ao longo dos limites da

trilha; verificação tanto da

altura, quanto da largura do

corredor.

Limpeza das estruturas de

escoamento e drenagem

Pás, picareta, enxadão. Remoção de sedimentos e

entulhos das estruturas e

escoadouros; aprofundar as

valas quando necessário.

Piso da trilha Pás, picaretas, enxadão,

machadinha.

Restabelecer bordas críticas

e talude, remover

obstruções como raízes,

rochas, etc.; checar as

condições gerais.

Escadas e degraus Alavancas, pás, colher de

pedreiro, cortador de

pedras, luvas, martelo.

Manter sustentação e

drenagem, reconstruir

degraus.

Sinalização e estruturas Martelo, pincéis, chaves de

fenda, chave inglesa,

alavancas.

Repara o que for necessário,

remover qualquer sinal de

vandalismo, removera a

sinalização se necessário.

Lixo Sacos de lixo e luva Remover o lixo. FONTE: LECHENER (2006, P. 97).

Org. MORAES, D. I de (2012).

A manutenção do piso abrange desde a retirada de detritos caídos sobre o piso até a

remoção de raízes e pedras que estejam salientes e possam oferecer riscos aos visitantes. A

manutenção também inclui o restabelecimento de estruturas, nova forma ao talude, entre

outras (MANUAL SEMA/2009).

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4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos

O objetivo principal do monitoramento e da avaliação de impactos é melhorar o

desempenho da trilha, minimizando ou evitando os impactos socioambientais e de uso e

permitir aos gestores, analisar e avaliar o nível de impactos decorrentes da visitação.

Para Takahashi (2004) o monitoramento ambiental cumpre duas funções básicas. A

primeira é permitir que os administradores mantenham um registro formal das condições

sociais e ecológicas da área. A segunda consiste em avaliar a efetividade das ações de manejo,

auxiliando os administradores a compreender se as ações foram suficientes para a resolução

dos problemas.

Para que o programa de monitoramento das trilhas seja eficaz, Lechener (2006, p. 91)

destaca que seus objetivos devem ser claramente definidos, considerando questões como:

Porque estamos monitorando?

O que iremos monitorar?

Qual é a frequência deste monitoramento?

Quem fará o monitoramento?

Que recursos essa pessoa terá?

Que variáveis serão monitoradas?

Que padrões podem ser utilizados para avaliar os dados coletados em campo?

Como as informações derivadas da atividade em campo serão armazenadas?

Como a informação obtida com a atividade de monitoramento será utilizada?

De acordo com Cole (1983, apud LECHENER 2006), o levantamento dos impactos

em trilhas pode ocorrer a partir de três bases técnicas:

a) Técnica replicável de medida: são estudos quantitativos de pontos amostrais, selecionados

em um determinado intervalo de tempo. Geralmente os pontos amostrados são somente

realizados nas áreas com alto nível de deterioração ou sítios com potencial para apresentar

problemas. São estabelecidos transectos e medidos na trilha onde são vistas as suas principais

variáveis, tais como: tipo e perda de solo, profundidade da trilha, vegetação, regime

hidrológico, tipo de usuários, entre outros. Este método pode ser pouco útil para os programas

de manejo, mas é útil para as atividades de manutenção, pois, permite a obtenção de

conhecimentos sobre os padrões de uso, materiais utilizados, estrutura da trilha, entre outros.

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b) Levantamentos Expeditos: Consiste na realização de observações rápidas sobre as

condições gerais da trilha e como ela vem mudando ao longo do tempo. Um grande número

de pontos de levantamentos comparativos, que tenham sofrido modificações ao longo do

tempo, pode ser selecionado. Também alguns parâmetros podem ser levantados sobre um

conjunto de variáveis a cada 50 metros na trilha, tais como: largura, profundidade, presença

de umidade, raízes, condições da vegetação e da estrutura da trilha em um raio de 3 metros, a

partir do ponto de amostragem. As variáveis dependerão da disponibilidade de recursos, do

propósito do levantamento e das condições ambientais.

c) Técnicas de censo: Corresponde a identificação e a descrição, em detalhes das condições da

trilha. A trilha é subdividida em segmentos que podem ser identificados como: sem danos,

danos pequenos, danos moderados, e danos severos. Podem ser utilizados números que

correspondem às condições gerais do segmento, tais como:

0= sem danos

1= danos pequenos

2= danos moderados

4= danos severos

Para Lechener (2006) o censo dos problemas apresentados, é talvez a ferramenta mais

comum e eficiente para o monitoramento e a avaliação de impactos voltados ao manejo de

trilhas.

4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas

A necessidade de fechar ou realocar uma trilha pode ocorrer devido a fatores ligados

principalmente à erosão e/ou compactação do solo, perturbação da vida selvagem, segurança

dos visitantes, conflitos entre visitantes, ou entre estes e os moradores locais, entre outros.

O fechamento da trilha pode ser temporário, quando a intenção é permitir que a área se

recupere da degradação ambiental, ou definitivo, quando o acesso é impedido por meio de

barreiras naturais através da transplantação de árvores de grande porte nos pontos de entrada

da trilha.

Quando a realocação for necessária, todos os procedimentos tomados a respeito do

planejamento, design e construção, devem ser os mesmos que os de uma nova trilha. Além

disso, na análise de sítio, as causas dos problemas encontrados na trilha antiga, devem ser

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identificadas, com intuito de prevenir ou evitar que estes problemas ocorram novamente na

trilha realocada.

Para recuperar uma trilha degradada, além do fechamento e isolamento da área,

algumas técnicas de recuperação ambiental, também podem ser desenvolvidas, tais como:

a) Estabilização do piso da trilha com toras, pedras e pequenas barragens de

contenção, que aprisionam sedimentos e impedem a erosão;

b) Escarificação do solo compactado permitindo sua aeração, infiltração e introdução

das sementes;

c) cobertura do solo com arbustos ou restos de vegetais, para impedir que o solo seja

erodido pelo vento ou pela chuva (LECHENER, 2006).

Para Andrade e Rocha (2008), um bom indicador na recuperação de trilhas é avaliar o

potencial do ambiente local em se recuperar sozinho, como por exemplo, as áreas planas,

úmidas e com solos férteis, que possui um potencial de recuperação maior que as áreas muito

acidentadas, áridas e com solo pobre. Depois de analisar esses aspetos, a recuperação pode

ocorrer de forma passiva ou ativa. A recuperação passiva consiste em deixar o solo em

pousio, para que se recupere sozinho. Tal procedimento é eficaz especialmente em locais em

que o impacto é pequeno e não sofre invasões de gramíneas e lianas (cipós) (fatores agravados

pelo efeito de borda).

Já a recuperação ativa, consiste em uma intervenção direta que pode ser realizada

através do plantio de mudas cultivadas, ou pelo transplante de vegetação vizinha. Em ambos

os casos, as espécies utilizadas devem ser nativas e autóctones da região, podendo aproveitar

o potencial de cada espécie no processo de recuperação, por exemplo, o ingazeiro que é

eficiente para a contenção de encostas, a aroeira pimenteira, eficaz na minimização do efeito

de borda, entre outras.

Vale lembrar que a recuperação, realocação ou fechamento das trilhas é decorrente de

um planejamento de implantação e manejo ineficientes, que muitas vezes, não levam em

conta as condições e características biofísicas e sociais da área e o perfil dos usuários. Por

isso, planejar uma trilha não é uma tarefa simples, tampouco banal. Ela depende de

conhecimentos específicos, de planejamento detalhado e plano de monitoramento e avaliação

eficazes e condizentes com um uso efetivamente conservacionista.

Nessa perspectiva apresentamos algumas metodologias utilizadas para avaliar os

impactos decorrentes da visitação e o seu potencial interpretativo das trilhas. São

metodologias norte americanas, que têm sido aplicadas em diferentes estudos realizados em

trilhas de áreas protegidas no Brasil.

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4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos

De acordo com Costa (2006), as metodologias mais utilizadas na avaliação físico-

ambiental e interpretativo das trilhas de áreas protegidas são: Capacidade de Carga (CC);

Limits of Acceptable Charge (Limite Aceitável de Câmbio - LAC); Visitor Activity

Management Process (Processo de Gerenciamento da Visitação - VAMP); Visitor Experience

and Resource Protection (Experiência do Visitante e Proteção de Recursos - VERP);

Recreacional Oportunities Spectrum (Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS);

Visitor Impact Management (Monitoramento de Impacto da Visitação - VIM/MIV); e Índice

de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI).

Na sequência, apresentamos elementos básicos de cada uma dessas metodologias.

Como estaremos trabalhando com as metodologias MIV - Monitoramento do Impacto da

Visitação e IAPI – Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos, para avaliação dos

impactos e do potencial interpretativo das trilhas escolhidas para a pesquisa empírica,

detalharemos essas duas.

4.4.1 Capacidade de Carga – CC

O conceito de capacidade de carga foi primeiramente utilizado pela biologia e pela

pecuária. A primeira fazia referência ao número de animais que podiam ser mantidos em

determinado habitat sem a ocorrência de impactos de ordem biológica e ecológica. A segunda,

tinha por objetivo estabelecer o número de animais que poderiam utilizar uma área de

pastagem, sem causar danos irreversíveis ao meio ambiente (TAKAHASHI, 2004).

No contexto das recreações ao ar livre, em especial nas trilhas ecológicas, a

capacidade de carga, começou a ser utilizada a partir da década de 1950 nos EUA, onde a

visitação em unidades de conservação, principalmente em parques nacionais era crescente.

Neste período, o conceito era atribuído ao número de visitantes que um lugar poderia receber,

sem considerar suas experiências e comportamentos (COSTA, 2006).

Um dos métodos mais utilizados no cálculo da capacidade de carga em ambientes

naturais é proposto por Miguel Cifuentes (1992) que em seu manual “Determinación de

capacidad de carga turística em áreas protegidas”, apresenta os procedimentos

metodológicos aplicados a reserva Biológica de Caracas na Costa Rica. O cálculo da

capacidade de carga desenvolvido por Cifuentes busca estabelecer o número máximo de

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visitas que uma área protegida pode receber durante um dia, de acordo com as condições

físicas, biológicas e de manejo que se apresentam no momento do estudo.

4.4.2 Limite Aceitável de Câmbio – LAC

Criado na década de 1980 pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, o LAC se

preocupa com as condições desejadas e o quanto de mudanças pode ser tolerado pelo

ambiente natural, considerando como parâmetros de análise a infraestrutura da trilha, a

interpretação ambiental e o perfil do visitante (TAKAHASHI, 2004).

O sistema LAC permite decidir onde e quais modificações são aceitáveis, a fim de que

sejam controladas por um adequado plano de monitoramento (COSTA, 2006).

Takahashi (2004) destaca as dez etapas necessárias para selecionar os indicadores de

impactos através do limite aceitável de câmbio. São elas:

Etapa 1 - Definir os objetivos e as condições desejadas.

Consiste em reunir os mandatos legais e políticos, que guiarão as ações de manejo,

desenvolvendo uma perspectiva sobre a importância da área, suas características e sua

abrangência local e regional.

Etapa 2 - Identificar valores, preocupações e limitações.

Considerando os objetivos da categoria de manejo, as características ou qualidades

especiais que necessitam de atenção devem ser identificadas, de forma a unificar o

entendimento sobre os valores e as questões importantes.

Etapa 3 - Identificar e descrever as zonas.

A partir das informações coletadas na etapa 2, o número de zonas será definido,

descrevendo as condições ecológicas, recreativas e administrativas adequadas para cada uma.

Elas devem estar compatíveis aos objetivos a área pretendida.

Etapa 4 - Selecionar os indicadores de impactos.

Os indicadores consistem em elementos específicos que representam as condições

julgadas adequadas e aceitáveis para cada zona. Estes devem ser fáceis de serem medidos e

passiveis de controle e manejo. Entretanto a escolha de apenas um indicador não é suficiente

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para descrever as condições de uma área em especial, sendo necessário, a utilização de um

grupo de indicadores.

Etapa 5 - Inventariar os recursos e as condições existentes.

O inventário é orientado por meio dos indicadores selecionados na etapa quatro. Os

dados são mapeados, de forma que as condições e localização dos indicadores sejam

conhecidos. A constatação do nível de impacto norteará onde e quais ações de manejo devem

ser tomadas. Além disso, as informações do inventário auxiliarão na avaliação das

consequências das ações de manejo e no estabelecimento de limites ou padrões de uso.

Etapa 6 - Especificar os limites dos indicadores.

A definição dos limites dos indicadores representa o nível máximo de impacto

aceitável para cada indicador em cada zona. Entretanto, o limite não é um objetivo buscado

pelo manejo.

Etapa 7 - Identificar as condições para cada zona.

Tem por objetivos definir quais indicadores de impacto devem ser mantidos para cada

zona.

Etapa 8 - Identificar as ações de manejo para cada opção.

Ao comparar as condições existentes (etapa 5) com os limites aceitáveis (etapa 6), é

possível identificar os locais onde os problemas existem e quais ações de manejo são

necessárias. Quando as condições existentes são menores que os limites, há pouca

necessidade para mudanças no manejo.

Etapa 9 - Avaliar e selecionar a melhor opção.

As opções de manejo selecionadas devem considerar o tipo de custo e o benefício a ela

associado, sendo necessária a participação não só dos administradores, como também dos

demais grupos envolvidos.

Etapa 10 - Implementar ações e monitorar as condições.

A partir da seleção das melhores opções, as ações de manejo são executadas

juntamente com a instituição de um programa de monitoramento, o qual irá comparar os

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indicadores selecionados na etapa quatro e as condições identificadas nos limites. Quando as

condições não estão melhorando, novas ações de manejo devem ser instauradas.

4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação – VAMP

Devido à crescente demanda por atividades recreativas nas áreas protegidas do Canadá

no final da década de 1970, o Parks Canada Policy buscou incentivar às atividades que

promovessem a compreensão, interpretação e a sensibilização dos visitantes, com o mínimo

de instalações construídas. Concomitante a esse processo, na década de 1980, é desenvolvido

a metodologia VAMP, que contribuiu para a seleção de critérios para o estabelecimento de

atividades apropriadas a serem realizadas nestas áreas (GUIMARÃES, 2009).

O método VAMP tem como objetivo priorizar os exercícios de interpretação e

sensibilização dos visitantes, a fim de promover as oportunidades recreativas. Ao contrário

dos métodos ROS e LAC, que focam o gerenciamento dos recursos, o VAMP possui enfoque

voltado para o usuário destes recursos e aos serviços de interpretação que são oferecidos.

Deste modo, faz-se necessário desenvolver perfis de atividades que estejam conectados com

as características sociais e demográficas dos participantes, as condições presentes no ambiente

e as tendências que afetam estas atividades (STIGLIANO, 2004).

Por focar nos visitantes, o VAMP possibilita o desenvolvimento de dados e

informações relativas aos hábitos dos usuários, compreendendo seus comportamentos, para se

necessário, modificá-lo.

As etapas do Método são:

1. Elaboração dos principais conceitos (termos de referência);

2. Criação de base de dados e análise da situação;

3. Organização, identificação e priorização de oportunidades;

4. Estabelecimento dos objetivos e estratégias;

5. Implantação, monitoramento e atualização de planos (STILGLIANO, 2004).

Guimarães (2009) considera o método VAMP como um dos métodos mais completos

de gerenciamento da visitação. O seu potencial mais significativo está no foco voltado para o

entendimento dos visitantes, de forma que as expectativas dos usuários possam ser

equilibradas com as da administração do parque e com os princípios de proteção do ambiente.

A partir disso, podem ser desenvolvidas atividades especificas para determinados públicos,

estimando novas práticas de interpretação ambiental.

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111

4.4.4 Experiência do visitante de Proteção de Recursos – VERP

Desenvolvido pelo Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos na década de

1990, o VERP é uma metodologia que tem por objetivos descrever o potencial de

experiências da visitação e as condições dos recursos, através do zoneamento e

monitoramento dos recursos e indicadores sociais.

De acordo com Takahashi (2001), o método VERP é baseado em elementos e técnicas

do LAC e do VIM, e é constituído em de nove etapas. As seis primeiras são requisitos gerais

ao planejamento da área natural (parque) e as três últimas requerem revisão e manejo anuais.

Etapa 1. Reunir uma equipe interdisciplinar para o projeto.

Etapa 2. Desenvolver uma estratégia para envolver o público.

Etapa 3. Desenvolver propostas referentes aos objetivos primários da área protegida,

importância e temas interpretativos.

Etapa 4. Analisar o recurso natural e uso publico existente.

Etapa 5. Descrever o nível de experiência dos visitantes e as condições do meio

natural.

Etapa 6. Determinar a localização de possíveis áreas de uso.

Etapa 7. Selecionar indicadores e especificar padrões para cada área; desenvolver um

programa de monitoramento.

Etapa 8. Monitorar indicadores ecológicos e sociais.

Etapa 9. Implementar ações de manejo.

4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS

O ROS é uma metodologia fundamental no manejo baseado em experiências, porque

propõe que as experiências recreacionais e os benefícios dela derivados aconteçam dentro de

um conjunto de eventos particulares, vistos a partir de um gradiente (espectro) que vai do

primitivo ao urbano. Seu método de análise consiste em dividir a área em classes de

oportunidades de recreação em termos locais, qualificadas pelos tipos de condições sociais e

de recursos que são aceitáveis para aquela classe, bem como, o tipo de ação administrativa

considerada apropriada. Isso significa que os elementos como design, instalação e

características sociais, podem ser relacionados com o tipo de satisfação que o visitante

procura ter na área protegida (LECHENER, 2006).

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O ponto negativo do ROS segundo Stigliano (2004) é o fato de ser baseado na

determinação da capacidade de carga, que por si só já apresenta uma capacidade limitada e

ineficiente. Os pontos positivos segundo o autor correspondem à união entre oferta e

demanda, a possibilidade de integração com outros métodos e a diversificação das

oportunidades de lazer propiciada aos visitantes.

4.4.6 Manejo de Impacto da Visitação – MIV

Proposta por Kuss (1990 apud Castro e Stipp, 2003), esta metodologia abrange três

categorias de indicadores – sociais, físicas e biológicas – e tem como objetivos promover a

observação dos impactos e analisá-los de acordo com suas possíveis origens e causas, de

forma a estabelecer ações de manejo capazes de minimizar ou reverter o quadro negativo

encontrado (COSTA, 2006).

O MIV (VIM em inglês), parte do princípio de que toda e qualquer tipo de visitação

em ambientes naturais causa impactos. Portanto, não busca o impacto “zero”, mas sim, mantê-

lo em níveis aceitáveis, conforme os critérios estabelecidos e os objetivos da área.

A partir de suas três proposições iniciais - 1. Condição do impacto; 2. Causa do

impacto; e 3. Estratégias de manejo potenciais, Freixêdas et. al (2000) propuseram oito etapas

complementares e de fácil entendimento e aplicação para o MIV. As cinco primeiras são

voltadas à identificação das condições dos impactos e as etapas seguintes, à identificação das

causas e estratégias de manejo.

Etapa 1: Pré-avaliação e Revisão de Informações

Tem por objetivos levantar todas as informações já existentes sobre a área protegida.

Os planos de manejo, o Código Florestal e a legislação ambiental, podem ser ferramentas

importantes no entendimento e escolha das atividades e estruturas adequadas para a área a ser

monitorada.

Etapa 2: Revisão dos Objetivos de Manejo

Nesta etapa serão realizados levantamentos e revisão dos objetivos de manejo da área,

de modo a verificar quais as atividades previstas para o local e se estas estão ocorrendo de

modo planejado. É fundamental que os objetivos estabelecidos para a área estejam de acordo

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com as informações obtidas na Etapa 1, evitando com isso, conflitos entre o uso proposto e as

restrições e condições impostas pelos documentos oficiais.

Etapa 3: Seleção dos indicadores de Impacto

Os indicadores de impactos escolhidos devem permitir a avaliação efetiva de

alterações no ambiente em função da visitação. Esses indicadores devem permitir, através de

sua análise, a observação das condições da trilha e a experiência da visitação. Para isso,

devem ser:

1. Facilmente observáveis e mensuráveis (evitando subjetividade na leitura);

2. Compatíveis com os objetivos de manejo da área;

3. Relacionados ao uso (visitação);

4. Responder a ações de manejo ou intervenção.

O quadro 5 apresenta alguns dos indicadores que podem ser utilizados como

parâmetros para avaliar os impactos nas trilhas.

Quadro 5 - Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais.

Indicador Verificadores

Leito

Superfície descoberta (incidência solar)

Alteração de largura

Afundamento

Erosão em sulcos

Erosão em canais

Erosão laminar

Canal de drenagem (água pluvial ou fluvial)

Borda

Atalhos

Manutenção de infraestruturas (bancos, sinalizações)

Desbarrancamento de encosta

Perda da borda critica

Solo

Compactação

Solo exposto (sem litter)

Rochas aflorantes

Raízes expostas

Alagamentos

Vegetação

Árvores caídas

Espécies exóticas

Vegetação danificada na borda (mortas)

Incêndios

Saneamento Inscrições (pichação rochas, árvores ou sinalização)

Lixo (visualização)

Risco

Fatal

Cair de encosta

Escorregar

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Fauna Espécies domésticas

Som Percepção de música

Percepção de gritos de pessoas Fonte: COSTA; MELO (2005).

Org. MORAES, D. I. de (2012)

Etapa 4: Seleção de padrões para indicadores de impactos

Uma vez definidos os indicadores e as metodologias de medição e avaliação destes, é

possível determinar os padrões máximos de impactos aceitáveis para cada indicador. Os

resultados obtidos com o monitoramento serão comparados com os padrões, de modo a

verificar se a situação da trilha ou do atrativo está dentro do ideal, ou se apresenta algum tipo

de impacto acima dos limites aceitáveis.

Etapa 5: Comparação dos padrões com as condições verificadas

Nesta etapa, a situação verificada será comparada com os padrões estabelecidos com

base nos indicadores de impactos selecionados. Se os valores obtidos forem inferiores ou

igual ao padrão estabelecido, pode-se considerar que a trilha ou o atrativo apresenta uma

condição adequada e que a visitação não esta alterando o ambiente de forma significativa.

Entretanto, se o valor for superior ao determinado pelo padrão, então é entendível que o

impacto existe, e uma ação de manejo deve ser realizada para minimizá-lo.

Etapa 6: Identificação das prováveis causas dos impactos

Para os indicadores de impactos que tenham seus padrões excedidos, é necessário que

as causas que estão levando a tal situação sejam identificadas. É importante considerar todos

os aspectos da visitação que podem influenciar tal situação, relacionado os indicadores de

impactos com aspectos específicos do uso, como tipo de uso, tamanho dos grupos, tempo de

uso, período de permanência, concentração de uso, frequência do período de alta temporada,

quantidade total de uso e comportamento dos visitantes. É necessário também considerar se a

causa do impacto não está relacionada a uma falha de manejo e gestão da visitação.

Etapa 7: Identificação das estratégias de manejo

Nesta fase, é importante que o foco de análise não esteja voltado nas condições dos

impactos, mas sim, nas suas prováveis causas. As estratégias de manejo podem incluir

abordagens diretas que regulam ou restringem atividades de visitação e que busquem alcançar

o resultado desejado, influenciando o comportamento do visitante.

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Etapa 8: Implementação

Depois de estabelecidas a estratégia de manejo, sua aplicação deve ocorrer o mais

rápido possível para que o quadro de impacto da área seja revertido. A constante avaliação

dos indicadores de impactos é fundamental para determinar a eficiência dessas ações,

verificando se os resultados são os desejados e se outras características do local e a

experiência do visitante não foram alteradas.

Atualmente o MIV é uma das metodologias mais utilizadas em áreas protegidas

(COSTA, 2006). Além de permitir a identificação dos impactos, a metodologia possibilita

estabelecer mecanismos para promover o manejo e o monitoramento da visitação como um

processo dinâmico para diagnóstico de seus impactos e de sua qualidade. Carvalho (2003),

Costa e Mello (2005), Costa (2006), Ribeiro e Castro (2006) são alguns dos autores que

utilizaram a metodologia MIV para avaliar os impactos gerados pelo uso público em trilhas de

Unidades de Conservação.

4.4.7 Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos – IAPI

O Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos (IAPI) é um método que tem por

objetivos facilitar a definição de pontos de interpretação ao longo de trilhas para finalidades

educativas e interpretativas. Pode ser utilizado tanto na definição de pontos estratégicos de

interpretação, quanto em trilhas interpretativas já implantadas, permitindo avaliar as formas

de condução da visitação à interpretação ambiental e levantar os atrativos e as temáticas

interpretativas (IKEMOTO, et al., 2009).

De acordo com Magro e Freixêdas (1998), o IAPI é composto por cinco fases, sendo

elas:

Fase 01: Levantamento de pontos potenciais para a interpretação

Corresponde a um diagnóstico geral dos atrativos naturais e culturais. É basicamente

um exercício de observação, onde se define que temas podem ser trabalhados. Determinado o

tema de interesse, inicia-se a seleção dos pontos que estarão no roteiro previsto. É

recomendado identificar e numerar os pontos com fitas coloridas que aceitem escritas e que

possam ser retiradas posteriormente.

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Fase 02: Levantamento e seleção de indicadores

Consiste no levantamento dos recursos naturais visíveis a partir dos pontos pré-

selecionados. Caracterizam-se pela facilidade de identificação em campo e sua repetição por

um segundo observador (como filtro da subjetividade das impressões). A atratividade do local

é percebida e, geralmente, relacionada a: corpos d’água, variedade de vegetação, relevo, áreas

históricas, entre outros. Pode ocorrer da atratividade ser definida pela combinação de dois ou

mais fatores, como por exemplo água e relevo.

Aspectos negativos, tais como presença de insetos, riscos para fauna e exposição ao

perigo podem também ser contabilizados para garantir a qualidade da visitação.

Fase 03: Elaboração de ficha de campo

Em uma ficha de campo relaciona-se a ausência ou presença dos indicadores a serem

avaliados em cada um dos pontos selecionados. É importante haver uma ficha para cada área

analisada contendo os elementos considerados mais importantes.

Fase 4: Uso da ficha de campo

Para utilizar a ficha de campo, usamos uma graduação para facilitar a identificação dos

recursos analisados no local (1 = presente; 2 = grande quantidade; 3 = predominante). Embora

subjetiva, podemos buscar uma padronização através da análise de cada trilha, por duplas de

apontadores, para que analisem seus pontos do início ao fim criando consenso e evitando

mudanças de critérios. Na prática, é uma segunda visita a trilha, onde de posse da listagem de

atrativos dentro do tema eleito, busca-se padronizar os critérios de avaliação dos indicadores

escolhidos. A intensidade anotada deve ser multiplicada pelo seu respectivo peso. Estes

valores somados permitem chegar à pontuação final dos sítios. A atribuição de valor numérico

para o indicador objetiva facilitar a contagem de pontos para cada local analisado.

Fase 5: Seleção final

Os pontos interpretativos com maior pontuação são selecionados de maneira

definitiva, após uma checagem final em campo. O mesmo procedimento pode ser utilizado

para a escolha de locais de descanso (colocação de bancos) ao longo da trilha.

No Brasil, o IAPI tem sido utilizado principalmente em unidades de conservação, para

avaliar o potencial de trilhas interpretativas já existentes. É o caso das pesquisas

desenvolvidas por Ikemoto et al. (2009) que aplicou a metodologia nas trilhas do Jequitibá,

localizadas no Parque Estadual dos Três Picos/RJ; Costa (2006) em três trilhas do Parque

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Estadual Pedra Branca/RJ e Costa e Mello (2005) na trilha do Rio Grande no Parque Estadual

Pedra Branca/RJ.

Contudo, após abordar os principais elementos que envolvem o processo de

implantação e manejo de trilhas ecológicas em fragmentos florestais, passamos no item

seguinte, a trabalhar com a situação empírica, na qual, analisamos duas trilhas ecológicas

localizadas em um pequeno estabelecimento rural denominado Recanto Renascer. Buscamos

nessa experiência, relacionar a situação empírica com os elementos teóricos aqui apresentados

sobre as técnicas de implantação e manejo das trilhas e também na perspectiva da trilha como

uma alternativa de uso conservacionista para as áreas florestais. O objetivo foi desenvolver

uma análise das trilhas do local, com intuito de conhecer suas características e condições

ecológicas, identificar os possíveis impactos atuais e futuros, as potencialidades

interpretativas e o perfil de seus visitantes, para posteriormente, oferecer subsídios a um

manejo eficiente, visando reduzir os impactos ambientais e otimizar o potencial turístico e

educativo das trilhas.

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5 TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PEQUENOS

ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO RENASCER

MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR

5.1 Localização e Caracterização Geográfica da Área de Estudo

O Recanto Renascer é um estabelecimento rural com 43,5 hectares, localizado na

comunidade de Água Vermelha, município de Francisco Beltrão. As coordenadas geográficas

são 26º 08’ 04” latitude Sul, e 53º 06’ 46” longitude Oeste (Mapa 1), e as altitudes variam

entre 580 a 682 metros. A propriedade está a 13 km do centro urbano de Francisco Beltrão e

se destaca como um dos poucos estabelecimentos rurais no município a oferecer lazer e

atividades recreativas em área de floresta. Ele faz parte do Roteiro de Turismo Rural do

município, denominado “Caminho do Marrecas”.

Mapa 1 – Localização geográfica da área de Estudo.

Org.: PEREIRA, L. S. B (2013).

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5.1.1 Aspectos Abióticos

A área de estudo se insere na zona climática subtropical mesotérmica úmida, Cfa na

classificação de Köeppen. Possui verões quentes e com ocorrência de frequentes geadas no

inverno. A média de temperatura dos meses mais quentes é superior a 22° e dos meses mais

frios, inferior a 18º. A média pluviométrica anual é de 2.000 mm, com chuvas bem

distribuídas ao longo do ano (IPARDES, 2004).

O relevo da região é caracterizado como ondulado e também escarpado nas encostas

das maiores elevações. Apresenta altitudes que variam de 500 m nas margens do rio Marrecas

a 948 metros na cabeceira do rio Jacutinga (MINEROPAR, 2002).

O solo da região de acordo com a empresa de serviços geológicos do Paraná-

MINEROPAR (2002) é classificado como predominantemente latossolo roxo, com

profundidade elevada principalmente nas partes plainas do relevo. Nas áreas íngremes e

escarpadas, ocorre grande quantidade de afloramentos de rocha, cobertas por delgada camada

de solo novo.

Os latossolos constituem uma categoria de solos maduros que apresentam horizonte B

bem desenvolvido. Possuem composição argilosa, são homogêneos, porosos e de cor

arroxeada. Sua principal característica física é a grande espessura de geralmente 3 metros,

podendo passar os 10 metros nas regiões de relevo plano. Apresentam estrutura granular

muito pequena. São macios quando secos e altamente friáveis quando úmidos. O teor de silte

é inferior a 20% e a argila varia entre 15% e 80%. São solos com alta permeabilidade à água e

bastantes resistentes a erosão (EMBRAPA, 2007).

A área estudada pertence à bacia hidrográfica do Rio Marrecas, o qual é afluente do

rio Chopim e drena uma área aproximada de 846 Km. O Rio Marrecas tem sua nascente nos

municípios de Flor da Serra do Sul e Marmeleiro, possui seu médio curso no município de

Francisco Beltrão e se caracteriza como bacia hidrográfica assimétrica, com maior

desenvolvimento de afluentes na margem esquerda (PAISANI et al., 2008).

5.1.2 Aspectos Bióticos

O fragmento de floresta da área de estudo pertence à região fitogeográfica da Floresta

Ombrófila Mista, popularmente conhecida como “mata de araucária” ou “pinheiral”. Esta

formação florestal é típica do planalto meridional, em regiões de clima pluvial subtropical

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com altitudes que variam de 500 a 1200 m. Ocorre com maior frequência nos Estados do

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (VELOSO et al., 1991).

No Estado do Paraná, a Floresta Ombrófila Mista é encontrada nos três planaltos,

ocorrendo também na região dos campos na forma de capões ou no vale dos rios. A

característica básica desta floresta é o fato do pinheiro araucária (Araucária angustifolia) ser a

espécie predominante e formar o andar superior, dando a impressão de uniformidade à

paisagem. Entretanto, junto à araucária estão associadas várias outras espécies, que variam de

acordo com as condições microclimáticas e de solo locais (VELOSO, et al, 1991).

A Floresta Ombrófila Mista pode ser dividida em três formações distintas: Floresta

Ombrófila Mista Aluvial; Floresta Ombrófila Mista Montana; Floresta Ombrófila Mista Alto

Montana (FERRETTI, et al, 2006), que serão descritas a seguir:

a) Floresta Ombrófila Mista Aluvial

Esta floresta, também denominada de florestas ciliares ou de galeria, se desenvolve às

margens de rios que percorrem terrenos de geomorfologia plana até suave-ondulada.

Suportam frequentes inundações dos rios e podem chegar até 15 metros de altura, sendo

constituída principalmente por Araucária angustifolia, Luehea divaricata (Açoita-Cavalo) e

mirtáceas no estrato emergente e por Sebastiania commersoniana (Branquilho) no estrato

arbóreo contínuo.

Segundo Ferretti et al. (2006), a Floresta Ombrófila Mista Aluvial está associada a

ambientes campestres importantes em termos de diversidade florística e espécies endêmicas,

que são os campos de inundação (várzeas) e lagos, muitas vezes originados de meandros

abandonados dos rios.

b) Floresta Ombrófila Mista Montana

Esta formação ocupava originalmente quase que inteiramente os planaltos acima de

500 metros de altitude dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo

encontrada atualmente, em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Iguaçu.

Em estágios iniciais essa floresta apresenta apenas um estrato arbóreo de até 15 metros

de altura e com troncos de diâmetros reduzidos. A árvore emergente é a araucária (Araucária

angustifolia) com cerva de 30 metros de altura nas associações maduras.

c) Floresta Ombrófila Mista Alto Montana

Conhecida também como “florestas nebulares”, “florestas altimontanas” ou “matinhas

nebulares”, a Floresta Ombrófila Mista Alto Montana é encontrada no Paraná nas altitudes

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acima dos 1.000 metros. Apresenta diferenças estruturais significativas se comparada às

florestas de patamares altimétricos menores, das quais se destacam o pequeno porte das

árvores (em torno de 4 metros), a formação de somente um estrato com copas entremeadas

formando um dossel denso e sem a presença de árvores emergentes, troncos e galhos

retorcidos, folhas pequenas, abundância de epífitas, redução da diversidade de espécies com a

elevação da altitude e alto grau de endemismo (SCHEER; MOCOCHINSKI, 2009).

A partir das características das três formações pertencentes à floresta Ombrófila Mista,

a formação vegetal existente na área de estudo pode ser identificada como Ombrófila Mista

Aluvial, pelo fato de estar localiza as margens do Rio Marrecas e apresenta em seu extrato

superior a Araucária Angustifólia e nos extratos inferiores árvores mais baixas e/ou arbustos

em grande parte pertencente às mirtáceas (pitanga, uvaia, cereja, guabiroba, entre outras

espécies), que dão à paisagem vegetativa, a fisionomia característica desta formação.

5.1.3 Aspectos Socioeconômicos

A propriedade rural utilizada como instrumento de investigação é composta por 43,5

hectares, dos quais, 9,8 ha são utilizados em atividades agropecuárias, com cultivo de

produtos para a comercialização (soja e milho) e também frutas, legumes e hortaliças,

juntamente com a e criação de animais para a subsistência. O restante da propriedade, cerca

de 33 hectares, é utilizada em atividades não agrícolas voltadas ao lazer e turismo rural. As

atividades desenvolvidas caracterizam uma unidade familiar pluriativa6.

A espacialização do uso do solo no estabelecimento rural que abriga o Recanto

Renascer encontra-se no mapa abaixo.

6 Sacco dos Anjos (2003, p. 90-91) define a pluriatividade como: “[...] um fenômeno no qual os

componentes de uma unidade familiar executam diversas atividades com o objetivo de obter uma

remuneração pelas mesmas, que tanto podem desenvolverem-se no interior como no exterior da

própria exploração, através da venda da força de trabalho familiar, da prestação de serviços a outros

agricultores ou de iniciativas centradas na própria exploração (industrialização a nível da propriedade,

turismo rural, agroturismo, artesanato e diversificação produtiva) que conjuntamente impliquem no

aproveitamento de todas as potencialidades existentes na propriedade e/ou em seu entorno.”

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Mapa 2 – Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco Beltrão-

PR.

Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.

A oferta de lazer e turismo teve início em 2002, motivada principalmente pela

necessidade de diversificar e elevar a renda familiar. A suinocultura até então praticada,

estava passando por um momento de crise e tornou-se uma atividade inviável na propriedade.

Diante disso, os proprietários buscaram orientações inicialmente com técnicos da Cooperativa

de Crédito Rural Solidário (CRESOL) e, posteriormente, com técnicos do Instituto

Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), que incentivaram a família

a aproveitar o espaço às margens do rio Marrecas, composto por um vasto bosque com

árvores nativas de diversas espécies, para a oferta de lazer e turismo rural.

Assim, desde 2004 a oferta turística compõe a principal renda da família (cerca de

70%), que em virtude do aumento do fluxo de visitantes e da diversidade nas atividades

ofertadas, acabaram por reduzir a dedicação às atividades agropecuárias.

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A área destinada ao lazer e turismo possui atualmente as seguintes infraestrutura e

atrativos: duas casas para locação; lanchonete na qual são servidas refeições para grupos;

quiosque; churrasqueiras; banheiros; playground; cancha de bocha; campo de futebol; área de

camping e duas trilhas ecológicas. A taxa de visitação é de R$ 2,00 a partir de oito anos de

idade, R$ 5,00 para acampar e, R$ 40,00 por dia no aluguel das casas.

O recanto está no fragmento de floresta da propriedade, porém, na área destinada ao

camping, a cobertura vegetal é mais esparsa, contendo apenas espécies de grande porte e

cobertura do solo com gramíneas. Nas áreas de cobertura vegetal mais densa, se inserem as

trilhas ecológicas.

O número de visitantes na alta temporada (meses mais quentes) é em média de 150

pessoas por fim de semana, dos quais, 60% em média visitam as trilhas. No inverno, a

redução no número de visitantes é compensada pela oferta de jantares para grupos e aluguéis

das casas e do campo de futebol.

Oliveira e Melo (2012) destacam que a oferta de lazer e turismo é cada vez mais

realizada por agricultores familiares, “que buscam nesta prática uma maneira de continuar

vivendo e trabalhando em suas propriedades”, mas como “qualquer outra atividade

econômica, tanto pode provocar impactos positivos quanto negativos” (p.09).

Candiotto (2007) faz uma ampla discussão das mudanças e permanências ocorridas em

unidades rurais familiares que passaram a receber visitantes, dentro do Circuito Italiano de

Turismo Rural (CITUR), no município de Colombo-PR. Além disso, aborda teoricamente a

questão do turismo rural na agricultura familiar, considerando o discurso vigente e as

implicações socioespaciais da inserção na atividade turística.

Através da entrevista com o proprietário do Recanto Renascer e com sua esposa, o

casal apontou como aspecto positivo da abertura do estabelecimento à visitação, o fato de a

atividade ser menos cansativa que a anteriormente realizada; de ter aumentado

significativamente a renda familiar; e possibilitado o contato e a interação com pessoas de

diversos locais. Como pontos negativos, apontam o desgaste em trabalhar nos finais de

semana, muitas vezes sem poder dormir para cuidar do camping à noite; o distanciamento de

vizinhos e da comunidade devido à dedicação que a atividade exige; e a falta de mão-de-obra

para trabalhar nos períodos de maior fluxo de visitantes.

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5.1.4 As Trilhas Ecológicas: Caracterização Físico-ambiental

Entre os principais atrativos do Recanto Renascer, estão as duas trilhas ecológicas, que

juntas, somam 2 km de extensão. A implantação dessas trilhas se deu pela necessidade de

diversificar a oferta de atrativos na propriedade e foi realizada pelos próprios proprietários.

Como critério para a escolha do traçado utilizaram as espécies arbóreas que mais se

destacavam pelo tamanho e/ou aspecto cênico na paisagem.

A primeira trilha foi construída no ano de 2002 e é denominada Trilha da Estrada

Velha (Foto 18). A segunda se chama Trilha dos Sentidos e foi construída no ano de 2010

(Foto 19).

Foto 18- Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer-PR

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

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Foto 19- Ponto de entrada da Trilha dos sentidos – Recanto Renascer-PR

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

As trilhas apresentam em seu percurso, algumas estruturas como pinguelas para

travessias de curso d’água com corrimões, placas de sinalização, orientação e interpretativas e

bancos para parada e observação da paisagem. Todas essas estruturas estão em harmonia com

o ambiente e foram construídas, com exceção das placas com identificação nas árvores e da

distância do percurso, reutilizando materiais do próprio ambiente, como troncos de árvores

caídas durante tempestades. O piso é natural e coberto com serrapilheira.

Algumas atividades educativas também são desenvolvidas por meio de placas

interpretativas, com dizeres de sensibilização e conscientização ambiental e de informações

sobre espécies da flora local.

A sazonalidade na atividade de lazer e turismo na propriedade faz com que a

manutenção das trilhas seja realizada somente três vezes ao ano. No período próximo a época

de temporada (final do inverno), os proprietários realizam a “limpeza” do corredor, retirando

troncos e galhos caídos e pequenos arbustos e plantas, mas mantendo a serrapilheira. Nas

áreas marginas, é feita a poda de galhos que crescem sobre o corredor e que acabam

interferindo no fluxo dos visitantes. Durante os períodos de maior visitação, os proprietários

realizam periodicamente a retirada de lixo, principalmente embalagens plásticas deixadas

pelos visitantes, e também retiram galhos sobre o piso oriundos de tempestades.

O casal de proprietários destacam as trilhas ecológicas como um diferencial na

propriedade e por isso, acreditam que elas contribuem significativamente para atrair visitantes

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que buscam o contato e apreciação da natureza preservada. Entretanto, também destacam que

o atrativo possui alguns pontos negativos, relacionados ao uso indevido de alguns visitantes

que insistem em percorrer a trilha de moto, jogam lixo no ambiente e depredam árvores e

infraestruturas. Outra dificuldade apontada é a falta de subsídios técnicos para a manutenção e

adequação ambiental das trilhas, que são realizadas de acordo com o conhecimento empírico

dos proprietários.

5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha

Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha possui parte de seu traçado no

fragmento de floresta da propriedade vizinha, que pertence à mesma família do proprietário

do Recanto. A escolha do nome se remete a uma antiga estrada já desativada, pela qual

trafegavam os primeiros colonizadores da região e por onde a trilha traspassa em alguns

pontos. O mapa 3 apresenta a forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem e

de árvores identificadas.

Mapa 3 – Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR.

Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.

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A trilha possui uma área de pisoteio que permite apenas um caminhante de cada vez.

Seu traçado em forma de “ferradura” tem início e fim em pontos diferentes, que evitam o

encontro entre visitantes. Suas estruturas são: dezenove placas de identificação em árvores,

com o nome popular, nome científico e idade aproximada; cinco placas de orientação, duas no

início do percurso, informando a extensão e proibindo a entrada de motos, e três no decorrer

da trilha, duas delas com frases de conscientização ambiental, com os dizeres: “não jogue

lixo. A natureza agradece” e “Tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”, e a última indicando

o sentido da trilha. A trilha também atravessa um canal de drenagem intermitente, sem

estrutura para sua travessia.

Utilizando a classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade da trilha é

moderado, devido a sua distância de 1.500m e por apresentar em seu percurso alterações na

declividade que dão a caminhada um grau maior de dificuldade.

As árvores identificadas com placas possuem o nome científico, o nome popular e a

idade aproximada e estão descritas da seguinte maneira: Angico Vermelho (110 anos); Açoita

Cavalo (190/200 anos); Cerejeira (25 anos); Sete Capote (25 anos); Açoita Cavalo (60 anos);

Ingá (20 anos); Canela Lora (25 anos); Guajuvira (130 anos); Gabiroba (25 anos); Guajuvira

(130 anos); Gabiroba (120 anos); Camboatá Vermelho (200 anos); Canela do Brejo (50 anos

); Xaxim (50 anos); Cabriúva vermelha (50 anos); Carrapicho do Mato (70 anos); Araucária

(55 anos); Carrapicho do Mato (120 anos) e Maria Preta (100 anos)(Foto 20).

Foto 20 - Placa de identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha– Recanto Renascer–PR.

Autor: MORAES, D. I. de (2012).

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Ao longo do percurso, os visitantes têm a oportunidade de apreciar a beleza cênica do

local, como por exemplo, o rio Marrecas, que fica à esquerda e a poucos metros da trilha, a

vegetação secundária intercaladas com árvores centenárias, apresentando vários estratos de

dossel, além da fauna, que em alguns casos pode ser observada diretamente, especialmente

pássaros, ou então, indiretamente por meio de pegadas, ninhos, tocas, entre outras (Foto 21).

Foto 21 – Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer –PR.

Autor: MORAES, D. I. de (2012).

Embora apresente variações de declividade, sobretudo na transição das margens do rio

Marrecas com as partes de altitude mais elevada, que dão um maior grau de dificuldade na

caminhada e uma maior suscetibilidade a processos erosivos (Gráfico 1), essa trilha não

possui estruturas de drenagem e de segurança aos visitantes, como canais laterais de

escoamento, barreiras de contenção, degraus, corrimões, etc.

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Gráfico 1 - Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha.

Fonte: Trabalho de Campo (junho/2013).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

Através do perfil topográfico é possível verificar que dos 700 aos 1100 metros de

distância, há uma elevação significativa, de 575 a 610 metros de altitude, ou seja, de 45

metros em um intervalo de 400 metros. Consequentemente, essa parte da trilha é a mais

difícil, e também aquela que apresenta maior susceptibilidade aos processos erosivos.

5.1.4.1 Trilha dos Sentidos

A trilha dos sentidos possui 500 m de extensão e tem esse nome por apresentar em seu

percurso pontos de interpretação que sugerem a utilização dos sentidos olfativo, auditivo,

sonoro e visual. A largura do piso é bastante variável. Em alguns pontos chega a 1,20 metros

permitindo que duas pessoas caminhem lado a lado, e em outros, uma largura de 70

centímetros (0,70 m), que permite somente um caminhante por vez. Seu traçado, apesar de ter

início e fim em pontos diferentes, permite a visualização entre os visitantes em alguns locais,

devido à proximidade dos caminhos e à vegetação de pequeno porte. O mapa 4 apresenta a

forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem, de estruturas para travessia de

curso d´água e de árvores identificadas.

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Mapa 4 – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR.

Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.

Pela classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade desta trilha é

leve, devido a sua curta extensão e por exigir pouco esforço físico.

As estruturas existentes são: local com bancos para que os visitantes possam sentar e

apreciar a paisagem; placa sobre a distância e nome da trilha no início do percurso; oito placas

de identificação nas árvores (nome científico, nome popular e idade aproximada); quatro

pinguelas para travessia de curso d’água; local para apreciação do rio Marrecas; e sete placas

com frases de estímulo à percepção e interpretação ambiental.

A trilha apresenta oito árvores identificadas com placas, expostas da seguinte maneira:

Canela Amarela (30 anos); Marmeleiro (60 anos); Angico Vermelho (150 anos); Branquilho

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(20 anos); Gabiroba (80 anos); Açoita Cavalo (80 anos); Uvaia (20 anos) e Rabo de Bugio (25

anos).

A vegetação na trilha, apesar de também possuir árvores centenárias, apresenta um sub

bosque menos desenvolvido que a trilha da Estrada Velha, devido a outras práticas

anteriormente desenvolvidas no local. Como relatam os proprietários, parte da mata utilizada

para implantar essa trilha não é original, pois há cerca de 20 anos atrás a área era ocupada pela

suinocultura e bovinocultura e somente com o abandono dessas atividades e isolamento da

área, é que a vegetação foi se reconstituindo e regenerando o fragmento de floresta atual.

Informações que podem ser comprovadas através foto 22, que mostra uma parte desta trilha,

cujas áreas marginais e zona tampão apresentam espécies em diferentes estágios de

regeneração. Isso indica que a atual atividade de lazer e turismo, tem contribuído para a

recuperação de áreas de floresta anteriormente degradadas por outras formas de apropriação e

uso do solo na propriedade.

Foto 22 – Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos Sentidos – Recanto

Renascer- PR.

Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.

As placas de estímulo à percepção e conscientização ambiental na trilha contêm as

seguintes frases: “Não jogue lixo, preserve o meio ambiente”, “Tire apenas fotos, deixe

apenas pegadas”, “Meditação”, “Odor, sentir o cheiro da mata”; “Visão: contemplar a

exuberância da natureza” e “Audição: ouvir o vento, a água, os pássaros” (Foto 23).

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Foto 23 – Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer - PR.

Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013.

As fotos 24 e 25 apresentam outras estruturas da trilha. A primeira corresponde ao

local onde os visitantes podem sentar e apreciar a paisagem e a segunda mostra uma das

pinguelas utilizadas para cruzar o curso d’água, pelo qual a trilha transpassa quatro vezes.

Foto 24 – Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer-PR.

Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013.

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Foto 25 - Pinguela sobre curso d’água– Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer-PR.

Autor: MORAES, D. I. de (2012).

Além de possuir uma pequena extensão, seu perfil topográfico torna o percurso suave,

sem grandes oscilações de declividade (Gráfico 2). Porém, em alguns pontos a dificuldade de

drenagem da água superficial deixa o piso constantemente úmido e escorregadio, oferecendo

riscos à segurança dos visitantes que podem escorregar e cair, além de formar uma crosta na

camada superficial do solo que favorece a compactação.

Gráfico 2 – Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos.

Fonte: Trabalho de campo (junho/2013).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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134

Apesar da baixa dificuldade na realização do percurso, a trilha não está adequada a

todos os tipos de público, uma vez que não possibilita a travessia de portadores de

necessidades especiais (cadeirantes) principalmente devido a largura, obstáculos no piso e

tipo de estrutura utilizada na travessia dos cursos d’água.

5.2 Perfil do visitante e sua percepção sobre impactos ambientais e conservação das

trilhas

Para avaliar o perfil e a percepção dos visitantes das trilhas do Recanto Renascer,

foram aplicados no ano de 2013, 70 questionários, da seguinte maneira: 20 questionários

aplicados nos dia 6 e 20 de janeiro; 14 questionários no dia 23 de abril; e 24 no dia 1º de maio

(Apêndice B).

Através do questionário buscamos obter as seguintes informações:

- Características da visita: informações que descrevem atributos relevantes da visita

entre elas:

a) Objetivos da visita: Dados obtidos através das Questões 3 e 10, as quais descrevem

o motivo e aspirações da visita. Esse dado é importante porque permite verificar se as

trilhas satisfazem os objetivos e expectativa do visitante e se estes estão coerentes a

um uso conservacionista do fragmento florestal.

- Características do Visitante: demonstra as características pessoais dos visitantes,

como dados demográficos, preferências e experiências. Os atributos analisados foram: a) local

de procedência, idade, sexo e grau de escolaridade (Questão 1 a 6); b) Histórico das visitas

(Questão 8).

- Percepção ambiental do visitante: dados obtidos através da questão 11, na qual os

visitantes foram questionados sobre sua avaliação das condições ambientais da trilha. A

percepção do visitante gera informações importantes para o monitoramento e manutenção, na

medida em que expõe o modo como o indivíduo percebe e interage com o ambiente visitado.

- Grau de responsabilidade e compromisso ambiental: obtido através da questão 14, na

qual os visitantes foram questionados sobre as ações de mínimo impacto que devem ser

realizadas durante a visitação.

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- Satisfação com a visita: obtida através das questões 16, 18, 19 e 20, nas quais os

visitantes puderam expressar o contentamento com a visita realizada nas trilhas.

Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e transformados em

gráficos com a utilização do software Excel para a análise dos resultados, como se segue.

Do total de visitantes analisados, 46 são do sexo feminino e 24 do sexo masculino,

com faixa etária (Gráfico 3) composta predominantemente por adultos, na sua maioria de

pessoas jovens e até meia idade (67% entre 21 e 55 anos) e com renda familiar média

predominante de 2 a 4 salários mínimos.

Gráfico 3–Faixa etária dos visitantes.

Fonte: pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Conforme o levantamento feito, apesar da maior parte dos usuários ser composta por

jovens e adultos, 14,3% possuem mais de 51 anos. Isso mostra que a trilhas precisam estar

adequadas também a esse público, que necessitam de estruturas que facilitem a travessia e

proporcionem maior segurança durante a realização do percurso, como por exemplo os

degraus e corrimões.

A análise do grau de escolaridade (Gráfico 4) e ocupação exercida pelos visitantes

(Gráfico 5), permitiu identificar que a maioria dos frequentadores são estudantes com Ensino

Médio incompleto ou Ensino Superior incompleto. Esses dados demonstram que o

desenvolvimento de atividades educativas voltadas à sensibilização ambiental e a informações

sobre o ambiente local, sejam dos elementos biofísicos (tipo de solo, vegetação, fauna, relevo,

hidrográfica, clima, entre outros) ou do histórico da propriedade e de suas características

0

10

20

30

menos de20 anos

21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 mais de 60anos

de

visi

tan

tes

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136

socioeconômicas, pode ser um elemento importante de atratividade a esse público nas trilhas.

Para isso, é necessário utilizar técnicas de interpretação ambiental que permitam transmitir

essas informações de forma criativa, atrativa e motivadora.

Gráfico 4 - Grau de escolaridade dos visitantes.

Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013).

Gráfico 5 - Ocupação dos visitantes.

Fonte: pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

A análise da procedência dos visitantes (Gráfico 6) permitiu constatar que a maioria

(75%) reside no município de Francisco Beltrão e 22% em Marmeleiro, município vizinho.

Esse dado, juntamente com a análise do meio pelo qual os visitantes tiveram conhecimento

0 5 10 15 20

ens. Fundamental completo

ens. Fundamental incompleto

ens. Médio incompleto

ens. Médio completo

Superior incompleto

Superior completo

pós graduação incompleta

pós graduação completa

Nº de visitantes

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das trilhas (Gráfico 7) demonstra que a maioria dos usuários do Recanto e das trilhas residem

nos municípios mais próximos ao local, indicando que a divulgação do Recanto deve buscar

atrair esse público, que caracteriza mais uma atividade de lazer do que propriamente de

turismo (considerando que o turista necessariamente pernoita no local).

Gráfico 6 - Município de procedência dos visitantes.

Fonte: pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Gráfico 7 –Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento das trilhas.

Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013).

Para a maioria dos visitantes, a primeira vez que haviam percorrido as trilhas ocorreu

na ocasião da entrevista (Gráfico 8), de modo que a percepção deles sobre as trilhas estava

sendo construída através daquele experiência. Para os outros, o fato de já conhecerem as

0

10

20

30

40

50

60

Francisco Beltrão Marmeleiro Saudade do Iguaçu

0

10

20

30

40

50

60

70

Indicação de família/amigos Outros meios

de

vis

itan

ts

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trilhas contribui nessa percepção e em uma observação mais detalhada dos aspectos positivos

e negativos dessas trilhas.

Gráfico 8–Frequência dos visitantes nas trilhas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

O interesse dos visitantes nas trilhas está em sua maioria na possibilidade de realizar a

atividade de caminhada, desfrutanto das belezas cênicas do local e mantendo um contato mais

próximo com os ambiente preservado (Gráfico 9). Por isso, consideram a conservação

ambiental das trilhas o fator mais importante em uma trilha ecológica (Gráfico 10), seguido

pela diversidade de atrativos para apreciação. No entanto, para 23 entrevistados, a sinalização

e a segurança devem ser prioritários.

Gráfico 9 – Motivação para a visita nas trilhas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013).

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Gráfico 10 – Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas ecológicas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Os motivos pelos quais os indivíduos visitam as trilhas e o que consideram como

relevante nessa visitação é um indicativo importante para a análise do modo como a sociedade

contemporânea pensa e se relaciona com a natureza. Isso porque, enquanto produto pensado e

construído historicamente a partir das relações sociais (LENOBLE, 1969), o que os visitantes

entendem por natureza, faz parte de um conjunto de conceitos e ideias que foram sendo

construídos e moldados em diferentes épocas e sociedades e que se manifestam na atualidade

de maneira complexa, interrelacionada e também contraditória.

Segundo Smith (1989), apesar de existir uma variedade e uma complexidade no

entendimento da natureza pela sociedade atual, essas concepções estão organizadas em um

dualismo entre a natureza externa e a natureza universal. A primeira corresponde a um mundo

primitivo que existe fora da sociedade. A segunda, a um ambiente no qual o homem é tido

como um ser biológico, além de um ser social.

Como considera Smith (1989, p. 28):

De um lado a natureza é externa, uma coisa, o reino dos objetos e dos

processos que existem fora da sociedade. A natureza exterior é

primitiva criada por Deus, autônoma; é a matéria-prima da qual a

sociedade é constituída, a fronteira que o capitalismo industrial

frequentemente faz recuar. Como árvores e rochas, rios e tempestades, a

natureza está esperando para ser internalizada no processo de produção

social. Por outro lado a natureza é claramente percebida como

universal. Ao lado da natureza externa nós também temos a natureza

humana, na qual está explicito que os seres humanos e seu

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comportamento social são absolutamente tão naturais quanto os

aspectos ditos “externos” da natureza.

A ideia de natureza como elemento externo é uma característica típica do pensamento

moderno, onde o desenvolvimento científico e tecnológico permitiu ao homem dominar a

natureza primeira, criando uma segunda natureza, humanizada, artificializada e onde

elementos naturais praticamente inexistem. Essa capacidade de domínio e transformação fez

com que o homem, mesmo inserido na natureza, passasse a não tê-la mais como parte

integrante e significativa de seu meio ambiente.

Assim, o contato com as áreas naturais é, segundo Smith (1989), uma experiência que

vai da externalidade da natureza para a universalidade da natureza, onde o indivíduo passa “de

um agir sobre a natureza a um trocar gestos recíprocos com a natureza” (BRANDÃO, 1994,

p. 76).

Essa experiência, segundo Brunhs (2007, p. 136), em alguns casos expressa “uma

busca de reconhecimento do espaço ocupado por esse corpo na sua relação com o mundo,

uma revisão de valores, bem como um encontro muito particular do homem com ele mesmo”.

Porém, a experiência da externalidade para a universalidade da qual se refere Smith

(1989), também acaba por reforçar a ideia de natureza enquanto objeto externo, já que ela é

tida somente quando se tem o contato com o ambiente preservado e não através das matérias e

formas da qual a sociedade se constitui e sobrevive. Isso faz com que os conceitos de

externalidade e universalidade da natureza sejam consideradas pelo autor como

interrelacionados e mutuamente contraditórios.

Atrelado ao conceito de natureza externa e universal, a visão estética de natureza

também é um elemento importante a ser analisado na visitação de áreas naturais. Isso porque,

existe uma tendência em medir e valorizar o ambiente visitado a partir daquilo que a classe

dominante considera belo e passível de admiração. Tal fato contribui muitas vezes, para que o

indivíduo deixe de apreciar o ambiente como um todo, dando valor apenas a determinados

elementos de alto valor estético ou somente a partir do momento em que elementos humanos

são acrescentados. Isso, em alguns casos, contribui para a introdução de estruturas que

proporcionam artificialidade à paisagem, causam impactos ambientais e fortalecem a

percepção de que a beleza da natureza está justamente em sua domesticação (BRUHNS,

1997).

Essas diferentes ideias de natureza (estética, externa e universal) podem ser verificadas

entre os visitantes das trilhas do Recanto, já que os dados apresentados pelo Gráfico 9

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indicam que para a grande maioria dos indivíduos, o interesse em percorrer as trilhas está na

possibilidade de contato com a natureza e na possibilidade de apreciar a paisagem local. Isso

mostra que os visitantes buscam apreciar esteticamente e integrar-se a uma natureza da qual

se sentem fisicamente separados, seja em função da artificialidade de seus espaços cotidianos,

seja da própria ideia que atribuem ao conceito de natureza.

Esses dados, mostram que vivenciar a experiência do contato com as áreas naturais

está muito além da condição físico-biológica que permite ao ser humano ver, ouvir, cheirar

sentir e pensar. Ela está vinculada a aspectos econômicos e a vivências e experiências que

cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade, as quais acabam

fornecendo “o rosto de suas visões, de seus sentimentos e pensamentos, criando novos

cheiros, novos sons e novas visões, construindo novos universos – e novos corpos”

(RODRIGUES, 1979 apud BRUNHS, 1997, p. 131).

Bruhns (1997) destaca que algumas pessoas ao visitarem as áreas naturais, buscam

vivenciar a realidade e captar as coisas, num total descompromisso com o tempo. Outras, no

entanto, na ânsia em vencer o tempo, não se conectam com o lugar, de modo que o

indivíduo não percebe nada além daquilo que está explicitamente exposto na paisagem. Isso

mostra que a experiência vivenciada no contato com os ambientes naturais está intimamente

ligada a questões subjetivas e também culturais, que podem tanto conduzir o indivíduo a

uma postura ética e de conexão com o meio, quanto a um total descompromisso com o

ambiente visitado, vendo-o apenas como mais uma mercadoria a ser consumida de forma

alienada.

Essas diferenças nas formas de integração com o ambiente visitado também podem ser

percebidas na análise da percepção dos visitantes das trilhas do Recanto, tanto no que se

refere a existência de determinadas ocorrências nas trilhas quanto a intensidade das mesmas.

Conforme mostra o Gráfico 11, os impactos relacionados a vandalismos (em placas,

árvores, estruturas, etc) foram percebidos por 70% dos entrevistados, sendo que 48%

declarou ter notado poucas ocorrências e 22% muitas. Os acessos secundários foram

percebidos por 65%, dos quais, 48% declararam pouca quantidade e 12% muita. A falta de

segurança em alguns pontos nas trilhas foi notada por 81%, sendo que 67% consideram a

possibilidade de escorregar, sofrer queda ou se machucar pequena, e 14% consideram alta.

A maioria (74%) não percebeu a presença de animais domésticos. Destes, 58% declararam

observar poucos animais silvestres, enquanto 42% não preceberam se avistaram animais.

Os impactos relacionados a salubridade (lixo) foram percebidos por 64% dos

visitantes e a presença de solo compactado e erosões foram notados por 58%, dos quais 51%

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142

declarou ter observado pouco e 7% muito. Áreas sem vegetação foram percebidas por 30% e

raízes expostas por 90%, sendo que, 64% declarou pouca ocorrência deste impacto.

Gráfico 11- Percepção dos visitantes nas trilhas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Embora para uma parcela de visitantes a ocorrência de determinadas situações não seja

percebida ou então não represente um impacto para sua experiência e ao meio, a maioria

identificou a existência de alterações. Isso desmostra a necessidade de ações de manejo,

especialmente no que se refere a minimização de ações erosivas, concientização dos usuários

para evitar vandalismos e descarte inadequado de lixo, e adequação em estruturas de

segurança.

Quando questionados sobre a contribuição dos visitantes na minimização dos impactos

percebidos (Gráfico12), 62% acreditam que o descarte correto do lixo é o fator mais

importante; 18% destacam a não depredação da vegetação e de estruturas; 14% o barrulho

emitido pelo visitante de modo a não impactar sobre a fauna e a experiência de outros

usuários; enquanto 6% apontam a permanência do visitante no leito da trilha.

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143

Gráfico 12 - Contribuição do visitante na minimização de impactos nas trilhas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Sobre os fatores que poderiam contribuir para uma maior atratividade das trilhas

(Gráfico 13), 47% destacou a existência de um maior número de elementos da fauna e flora.

Muito embora, para a maioria (53%) a melhoria da experiência estaria ligada a

disponibilidade de informações sobre a fauna e flora do local (31%), sinalizações (23%) e

estruturas adequadas (6%). Esses dados, juntamente com a análise do perfil do visitante (faixa

etária, grau de escolaridade e profissão) reforçam a necessidade de aperfeiçoar as atividades

de interpretação ambiental enquanto instrumento de atratividade nas trilhas, já que existe um

interesse não somente em apreciar o ambiente visitado mas também em conhecer suas

características e elementos, potencializando o desenvolvimento de atividades de educação

ambiental no local.

Gráfico 13 –Elementos para maior atratividade das trilhas.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

0

10

20

30

40

50

60

70

não jogar lixo não fazer barulho não entrar em atalhos

de

vis

itan

tes

0 10 20 30 40

mais vegetação e animais silvestres

mais sinalização

mais informações sobre a fauna eflora local

estruturas

Nº de Visitantes

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144

O grau de dificuldade das trilhas foi considerado de leve (46%) a moderado (54%), e o

tempo necessário para percorrer as duas trilhas, dividiu-se entre até uma hora (53%) e de uma

a duas horas (47%). A rápida realização do percurso demonstra que a maioria dos visitantes

pratica a atividade da caminhada fazendo poucas paradas para observar e apreciar o ambiente.

Por isso, a interpretação ambiental se mostra de fundamental importância para essas trilhas, de

modo que através dela, o visitante se sinta instigado a parar, apreciar, conhecer e integrar-se

ao ambiente visitado, o que consequentemente, vai se refletir em um maior tempo de

permanência nas trilhas e no enriquecimento da experiência vivenciada.

Sobre a experiência vivenciada nas trilhas (Gráfico 14) a grande maioria destacou

como positiva, proporcionando além de tranquilidade e bem estar pela proximidade com a

natureza, o incentivo a ações de preservação. Para todos os visitantes as espectativas iniciais

foram satisfeitas, sendo que 35% declararam-se muito satisfeitos, e 65% satisfeitos. Desse

modo, todos demonstraram interesse em retornar às trilhas para novas visitas, recomendando-

as também para outas pessoas.

Gráfico 14- Resultado da experiência vivenciada.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

Org. MORAES, D. I. de (2013).

A análise do perfil e da percepção do visitante mostrou elementos importantes para

fins de planejamento e monitoramento da visitação nas trilhas, como por exemplo, o interesse

do visitante em obter mais informações sobre o ambiente local, potencializando o

desenvolvimento de atividades educativas que possibilitem aos visitantes conhecimentos e

0 10 20 30 40 50 60 70

Outros

Desconforto pela contato com plantas eanimais

Desconforto pela falta de infraestruturasadequadas

Tranquilidade e bem estar

Incentivo a preservação ambiental

Nº de visitantes

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145

sensibilização quanto à importância ecológica e socioeconômica de áreas como a existente no

Recanto.

Também foi possível constatar que existem algumas situações de impactos ambientais

e riscos para os visitantes, demonstrando que as trilhas precisam de adequações e de um plano

de manejo especifico e coerente às condições ambientais locais e ao perfil de seus usuários.

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146

6 DIAGNÓSTICO FISICO-AMBIENTAL, ÍNDICE DE ATRATIVIDADE E

PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCER-PR

6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV

Os indicadores de impactos em trilhas correspondem aos elementos ou parâmetros que

fornecem a situação específica de determinado aspecto na trilha. Sua análise e monitoramento

podem ocorrer de forma quantitativa (representado em escala numérica) ou qualitativa

(classificado em categorias ou níveis) (COSTA, 2006).

O trabalho relacionado aos indicadores de impactos é geralmente constituído de três

fases e pode apresentar diferentes ordens dependendo da metodologia utilizada. São elas:

determinação dos indicadores (quais aspectos serão analisados na trilha), determinação de

padrões (níveis aceitáveis de impacto para cada indicador) e monitoramento das condições da

área por meio dos indicadores previamente determinados (COSTA, 2006).

Das metodologias anteriormente apresentadas no item 4, que se encarregam de medir

os indicadores de impactos de uma trilha, utilizamos como estudo de caso nas trilhas do

Recanto Renascer, a Metodologia MIV, por permitir através do diagnóstico dos impactos

ambientais, o desenvolvimento de mecanismos para um manejo eficiente, capaz de minimizar

impactos atuais e futuros e potencializar o uso conservacionista das trilhas.

O quadro 6 apresenta a ficha de campo utilizada na aplicação da metodologia. Nela,

estão contidos os indicadores de impactos analisados (leito, borda, solo, vegetação,

saneamento, som e riscos) juntamente com seus respectivos parâmetros de análise.

Quadro 6 – Planilha de campo MIV.

MIV

LOCAL: Recanto Renascer Nº

TRILHA: DATA:

Indicador/verificador Número de Seções

(100m de distancia entre os pontos)

Objetivos:

Diagnóstico físico-ambiental

LEITO DA TRILHA

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Parâmetros:

Ocorr. na Parcela

% na trilha Referencial

Alterações de largura

01 a 03

30

<0,8 m ou

>1,30 m

Afundamento

01 a 03

25

< 0,05 m

Erosão Laminar

(superficial)

01 a 03

15

< 0,3 m

Erosão em Sulcos (mais profunda com

ravinamento)

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147

01 a 03 15 <0,3 m

Canais de drenagem

01 a 05

20

< 5,0 m

Alagamento (ou passível de

alagar)

01 a 02 00 00

BORDA

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha Referencial

Perda de borda crítica

01 a 03

35

<0,5m

Desbarrancamento de Encosta

Ma01 a 03 15 <0,5 m

Manutenção

de estruturas

Sinalização

1

10

Dano

Bancos

1

10

Falta de

manutenção

Atalhos 00 00 00

SOLO

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha Referencial

Solo exposto (sem

serrapilheira)

S- sim ou

N- não

30 N- não

Raízes expostas < 10 m 20 <10 m

Rochas aflorantes 1 a 10m 20 <10m

Aclives/declives acentuados S-sim ou N-

não

00 00

VEGETAÇÃO

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha Referencial

Árvores caídas

1-3(causas naturais)

15 1

Espécies exóticas

S – Sim ou

N – Não

20 N- Não

Vegetação danificada na

borda (morta)

S – Sim ou

N – Não

00

N – Não

SANEAMENTO

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha Referencial

Inscrições (pichações em

rochas, árvores ou

sinalizações)

S – Sim ou

N – Não

00

N – Não

Lixo na trilha 01 a 03 15 (Ocorrência

visual)

FAUNA 1 2 3 4 5

6 7 8 9 10 Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha

Referencial

Espécies domésticas S – Sim ou N – Não

00 N –Não

SOM 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Parâmetros:

Ocorr. na

Parcela

% na trilha Referencial

Percepção de música 1 a 3 10 00

Percepção de gritos de

pessoas

1 a 3 10 00

RISCOS

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 Parâmetros:

Ocorr. na Parcela

% na trilha Referencial

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148

De escorregar <2 10 00

De cair da encosta < 1 00 00

Fatal S – Sim ou N – Não

00 N – Não

Fonte: Costa (2006).

Adaptado por: MORAES, D. I. De (2013).

Os parâmetros de ocorrência e o referencial utilizado foram importantes para verificar

se as alterações identificadas nas trilhas estavam dentro do limite tolerável para cada

parâmetro. Um exemplo é o indicador riscos de escorregar, onde o parâmetro utilizado para

cada parcela foi o de declarar < que duas ocorrências e detalhar o percentual máximo para a

existência suportada, que nesse caso, foi considerado 10% do total de parcelas na trilha.

6.1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada Velha

Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha foi dividida em 15 seções de

análise, onde através do exercício do olhar, buscou-se verificar as condições dos indicadores

selecionados, a fim de identificar possíveis impactos ambientais locais e também as condições

de uso e manejo visitação na trilha (Quadro 7).

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149

Quadro 7- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha da

Estrada Velha.

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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150

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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151

A partir do levantamento feito em campo, os parâmetros foram comparados entre si

com o objetivo de verificar quais apresentam maior e menor situação problemática na trilha.

Para isso, foi utilizado o método adaptado de Costa (2006), no qual cada um dos indicadores

recebeu um percentual mínimo e máximo suportável na trilha. Para avaliar os parâmetros que

excederam esses percentuais, foi utilizada a classificação: baixo (até 30%), médio (de 30 a

60%) e alto (de 60 a 100%) em relação ao nível de impacto geral na trilha. Um exemplo é o

indicador alterações de largura, cujo percentual mínimo de ocorrência é de 10% e máximo de

30%. Porém, ao ser analisado na trilha da Estrada Velha, esse indicador esteve presente nas

quinze seções analisada, totalizando 100% de ocorrência na trilha e consequentemente, um

alto impacto ambiental (Quadro 8).

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152

Quadro 8– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha.

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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153

A comparação entre os parâmetros mostrou que a Trilha da Estrada Velha possui duas

situações de alto impacto, relacionada a solo exposto, provocado pelo escoamento da

superficial e a alterações de largura do leito, decorrentes da falta de manutenção e uso

indevido das áreas marginais pelo visitante. Existem também várias outras ocorrências que

precisam ser corrigidas, pois se encontram numa situação de médio e baixo impacto ambiental

e se não receberem a devida manutenção, podem em pouco tempo, tornar-se uma situação de

alto impacto ambiental na trilha.

Para verificar quais pontos (parcelas) apresentam situações mais problemáticas e que

precisam ser mitigadas a partir de um plano de manejo mais eficiente na trilha, foi elaborado

um gráfico (Gráfico 15) com os dados mostrados pelos principais indicadores (leito, borda,

solo, vegetação, saneamento e riscos).

Gráfico 15– Resultado MIV por parcelas - Trilha da Estrada Velha.

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

Com relação ao leito da trilha, as parcelas que apresentam impactos mais

significativos são as parcelas 8 (de 700 a 800 m) e 14 (de 1.300 a 1.400 m). Estas parcelas

estão em uma área de aclive (parcela 8) e declives (parcela 14) acentuados e não possuem

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Ind

ica

do

res

(%

)

Parcelas (Nº)

LEITO BORDA SOLO VEGETAÇÃO SANEAMENTO RISCOS

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154

canaletas de drenagem que facilitem o escoamento superficial. Isso faz com que a água da

chuva utilize o leito da trilha como um canal de drenagem, gerando perda de serrapilheira e

consequentemente favorecendo as ações erosivas.

Outro aspecto ligado ao leito está relacionado a alterações de largura, que foram

observadas em todas as parcelas analisadas na trilha. Em alguns trechos a largura é de 20 cm e

em outros chega a medir 1,20 cm (Fotos 26a e b).

Uma área de pisoteio muito estreita ou muito larga é sempre vista como propícia a

impactos, que podem tanto afetar o ambiente visitado quanto a experiência vivenciada e a

segurança do visitante. Isso porque, é comum a presença de animais nas áreas marginais da

trilha, e se a área de pisoteio for muito estreita eles podem entrar em contato direto com o

visitante, oferecendo riscos para ambas as partes. O estreitamento do leito também contribui

para a compactação do solo, já que o pisoteio é concentrado em uma pequena parcela do

terreno. Por outro lado, o alargamento do leito contribui para a perda da vegetação e para o

aumento da área afetada pelo pisoteio.

Fotos 26 a e b- Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

Com relação à borda, os maiores problemas estão associados à perda da borda crítica

que foram identificados nas seções 11 (de 1.000 a 1.100 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) (Foto 27).

A perda da borda crítica promove a perda de solo do próprio leito da trilha, que

consequentemente, tende a ficar cada vez mais estreito e mais propenso a situações de risco

aos visitantes que podem escorregar e cair da encosta.

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155

Foto 27 – Afundamento do piso e perda da borda crítica-Trilha da Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

Outro fator impactante relacionado à borda é a existência de bifurcações/atalhos que

foram registrados em 50% das parcelas analisadas e que na maioria das vezes levam às

margens do rio Marrecas (Foto 28). Essas bifurcações/atalhos contribuem principalmente para

a perda da vegetação nativa gerada pelo aumento da área de pisoteio e consequentemente,

para o aumento da área afetada pelo uso recreativo.

Foto 28– Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

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156

Os maiores impactos relacionados ao solo estão na seção 8 (de 700 a 800 m) e nas

parcelas de 1.100 a 1.400 metros de distância. Nesses trechos, há uma grande quantidade de

solo exposto (sem serrapilheira) e de ações erosivas facilitadas pela declividade. A seção 8

apresenta ainda uma grande quantidade de rochas aflorantes, algumas delas expostas

naturalmente sobre o leito da trilha. Outras, foram colocadas no intuito de formar degraus

para facilitar a caminhada e minimizar a sensação de subida. Porém, pela falta de manutenção,

algumas dessas rochas encontram-se soltas sobre o piso e representam riscos aos visitantes.

As seções 10 (900 a 1000 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) apresentam a situação mais

problemática relacionada à vegetação, principalmente pela presença de árvores caídas sobre o

piso e danificadas (mortas) na borda. Essas duas seções também apresentaram a ocorrência de

material inorgânico (lixo) na área marginal da trilha (Fotos 29 a e b).

Fotos 29 a e b– Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

Situações de riscos aos visitantes foram identificadas em boa parte das seções da

trilha. Isso ocorre principalmente pela falta de estruturas adequadas como os corrimões, que

além de servir de apoio ao visitante também evitam que este ultrapasse os limites do leito da

trilha e se coloque em situações de perigo, como demonstra a foto 30, na qual se o visitante

escorregar, pode cair dentro do rio que margeia a trilha. Outro fator que contribui para

situações de risco é a falta de manutenção de estruturas existentes, especialmente degraus

colocados sobre o piso sem os torretes. Isso faz com que estas estruturas fiquem soltas e

passíveis de deslocamento quando pressionadas pela ação do pisoteio e do escoamento

superficial.

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157

Foto 30 – Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300 m) - Trilha da

Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. (2013).

6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos

Na Trilha dos Sentidos foram selecionadas cinco seções de análise, e da mesma forma

que na Trilha da Estrada Velha, a avaliação físico-ambiental se deu através da observação

direta de alterações visíveis na trilha (Quadro 09). Esses indicadores também foram

comparados entre si (Quadro 10), permitindo identificar as situações mais problemáticas, e

que representam um alto e médio impacto na trilha.

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158

Quadro 9- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha dos

Sentidos.

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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159

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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160

Quadro 10– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos.

FONTE: COSTA (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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161

A comparação entre os parâmetros permitiu identificar três situações de alto impacto

na trilha, ligadas ao risco de escorregar, alterações de largura e solo exposto. Outras situações

problemáticas estão relacionadas ao afundamento, lixo e riscos de escorregar e cair da

encosta.

O gráfico 16 demonstra a relação dos impactos mostrados pelos principais indicadores

(leito, borda, solo, vegetação, saneamento e riscos), onde é possível verificar quais seções

apresentam situações mais problemáticas na trilha e que precisam ser mitigadas através de

ações de manutenção e monitoramento do seu uso.

Gráfico 16– Resultado MIV por parcelas - Trilha dos Sentidos.

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

Nos primeiros 100 metros analisados, os impactos estão relacionados a alterações de

largura da trilha, que em alguns trechos apresenta 40 cm e em outro chega a 1,40 cm. Essa

seção também possui pontos com solo exposto, raízes expostas, presença de lixo na borda e

risco de escorregar e cair devido a falta de manutenção nas estruturas existentes (degraus).

Na seção 2 (de 100 a 200 metros de distância) a situação mais problemática está no

leito da trilha que apresenta trechos de solo exposto, afundamento do piso e erosão. Ocorre

também a incidência de raízes expostas, atalho, alterações de largura e falta de manutenção

em estruturas (Foto 31).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 2 3 4 5

Ind

icad

ore

s (%

)

Parcelas (Nº)

LEITO BORDA SOLO VEGETAÇÃO SANEAMENTO RISCOS

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162

Foto 31 – Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

Os mesmos impactos foram encontrados na seção seguinte (de 200 a 300 m), porém, a

situação mais problemática na seção 3 se refere ao rebaixamento do piso e à perda da borda

crítica, ocasionada pela falta de estruturas de contenção. O material erodido se direciona para

o córrego próximo, que em períodos chuvosos transborda e alaga o leio da trilha (Foto 32).

Foto 32- Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

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163

Na seção 4 (de 300 a 400 m) existem pontos com perda de serrapilheira que

contribuem para ações erosivas e de compactação do solo. São visíveis também raízes

expostas, atalho, vegetação danificada na borda (morta) e lixo (Fotos 33a e b).

Fotos 33a e b - Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos.

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

A seção 5 (de 400 a 500m) é um dos pontos mais problemáticos da trilha. Isso porque

esse trecho não apresenta canaletas de drenagem que facilitem o escoamento da água

superficial, fazendo com que o leito fique alagado em períodos chuvosos. Esse constante

alagamento do leito acaba retirando a serrapilheira e criando uma crosta na camada superficial

do solo que favorece a compactação e deixa o piso da trilha escorregadio. A alteração de

largura também é um fator de impacto no leito nesse trecho, que varia de 30 cm até 2,10 m

(Fotos 34a e b).

Fotos 34a e b – Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos.

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

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164

Juntamente com a identificação das áreas de impacto, outro elemento importante a ser

analisado para fins de manejo é se esses impactos afetam os pontos interpretativos nas trilhas.

Como destaca Takahashi (2004), trilhas mal construídas e mal mantidas tendem a afetar

diretamente a experiência vivenciada pelo visitante e consequentemente, as atividades de

interpretação ambiental.

Para avaliar se as áreas de impacto determinadas pelo MIV estão comprometendo de

algum modo à interpretação ambiental no local foi preciso primeiramente identificar qual a

atividade interpretativa desenvolvida, os pontos interpretativos existentes e quais são seus

índices de atratividade. Esse levantamento também se mostrou importante para o

melhoramento da atividade interpretativa desenvolvida e consequentemente, na

potencialização das trilhas como ferramenta para as atividades de educação ambiental.

6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto Renascer

Conforme já exposto no item 3, a interpretação ambiental é considerada um

importante instrumento para as atividades educativas em trilhas ecológicas. Através dela, as

trilhas deixam de serem caminhos voltados somente à contemplação passiva do ambiente e

passam a ser espaços cheios de significados históricos, sociais e ecológicos. A interpretação

também pode ser utilizada como um importante instrumento de manejo da visitação nas

trilhas.

6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da Estrada

Velha

A trilha da Estrada Velha apresenta como eixo temático para a interpretação ambiental

a flora local. Por ser uma trilha autoguiada o recurso interpretativo utilizado são placas,

algumas de madeira e outras de metal nas cores verde claro e branco. As estruturas estão em

harmonia com o ambiente e suas informações apesar de bastante limitadas, instigam o

visitante a parar e observar as características da espécie identificada, algumas delas, bastante

raras na região devido ao processo de ocupação territorial e ao uso indiscriminado da madeira.

No total, a trilha possui 21 pontos interpretativos e a atividade interpretativa desenvolvida está

acessível a vários tipos de público.

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165

Devido à sua distribuição e relevância para a atratividade da trilha, dos 21 pontos

interpretativos existentes, foram escolhidos 15 para a análise. O quadro 11 apresenta os

pontos selecionados e o resultado da análise dos indicadores de atratividade.

Quadro 11 - Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada Velha.

Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Conforme demostra o quadro 13, dos quinze pontos analisados, nove possuem uma

pontuação maior que 10 e destes, quatro somam mais de 15 pontos. Isso mostra que existem

na trilha quatro pontos com grande potencial atrativo e que podem ser utilizados para o

aprimoramento da atividade interpretativa, uma vez que as atividades desenvolvidas se

limitam apenas a informações referentes ao nome científico, popular e idade aproximada de

algumas espécies da flora local.

Considerando como baixa atratividade os pontos com somatória menor que 10; média

atratividade de 11 a 15; e alta atratividade acima de 15, é possível verificar a existência de

uma desproporção na distribuição desses pontos, na qual os três pontos mais atrativos estão

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166

concentrados no início da trilha, enquanto o restante de seu trajeto apresenta pontos de média

e baixa atratividade (Mapa 5).

Mapa 5- Distribuição entre pontos de maior e menor atratividade na Trilha da Estrada Velha.

Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.

Org. MORAES, D. I. de (2013).

Entre os pontos de maior atratividade, o ponto 13 merece destaque, pois, sua

localização antecede um grande trajeto de pontos de baixa atratividade e por isso ele se mostra

um ponto estratégico para o desenvolvimento da atividade interpretativa no local.

Outro fator importante constatado através do IAPI é que a trilha da Estrada Velha

possui uma grande variedade de temas que podem ser abordados pela interpretação ambiental.

Juntamente com uma variedade de espécies nativas centenárias, existem vários outros

elementos ecológicos e sociais que podem ser aproveitados, como por exemplo, a estrada que

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167

existia no local e que era um importante meio de deslocamento para os primeiros

colonizadores da região; a fauna que mesmo não tendo uma visibilidade facilmente acessível

deixa sinais de sua existência e diversidade através de ninhos, tocas e pegadas; o rio Marrecas,

que é utilizado no abastecimento da área urbana do município; o tipo de solo; fitofisionomia

vegetativa, entre outros.

Quanto à relação entre os impactos determinados pelo MIV e a localização dos pontos

interpretativos na trilha, verificou-se que embora existam em alguns pontos interpretativos a

ocorrência de impactos relacionados a solo exposto, rebaixamento do piso e raízes expostas,

estes, de modo geral, não interferem na qualidade da experiência vivenciada pelo visitante,

como foi anteriormente constatado na avaliação de sua percepção em relação aos impactos

ambientais. Apesar disso, é importante que haja a adequação físico-ambiental da trilha, pois

se não devidamente corrigidos, esses problemas podem ser propagados e trazer impactos mais

severos ao ambiente e riscos ao visitante, o que consequentemente, se refletirá na experiência

vivenciada e na atividade interpretativa desenvolvida.

6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos Sentidos

A Trilha dos Sentidos apresenta como eixo temático para a interpretação os sentidos

do corpo humano. No total são 14 pontos interpretativos e os recursos utilizados são placas de

metal e de madeira nas cores verde claro e branca. Estas estruturas estão em harmonia com o

ambiente e buscam estimular o visitante a contemplar e sentir através do olfato, audição e

visão o ambiente visitado. A trilha é autoguiada e a atividade interpretativa desenvolvida esta

adequada para vários tipos de público. Porém, as informações apresentadas se limitam a

dizeres de conscientização ambiental e ao nome popular, científico e idade aproximada de

algumas espécies da flora local.

Devido à proximidade dos pontos interpretativos, a análise foi realizada em 10 pontos

da trilha, conforme mostra o quadro 12.

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168

Quadro 12- Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos.

Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.

Org. MORAES, D. I. de (2013).

A aplicação da metodologia permitiu constatar que, dos dez pontos analisados, cinco

possuem alta atratividade (>15 pontos), dois de média atratividade (de 11 a 15 pontos) e três

de baixa atratividade (<10 pontos). Quanto à distribuição dos pontos de maior atratividade na

trilha é possível verificar através do mapa 6, que existe uma distribuição uniforme entre eles,

o que acaba contribuindo para a utilização desses pontos no desenvolvimento da interpretação

ambiental. Isso porque quando bem distribuída, especialmente quando os recursos utilizados

forem painéis ou banner, a atividade interpretativa se torna menos cansativa e mais atrativa

para o visitante, que vai ter entre um ponto interpretativo e outro, o tempo necessário para

receber as informações, refletir sobre elas e também contemplar o ambiente visitado.

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169

Mapa 6 - Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha dos Sentidos.

Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.

Org. MORAES, D. I. de (2013).

No que se refere à relação dos pontos interpretativos e os impactos identificados pelo

MIV, foi possível constatar que em três destes pontos, os impactos existentes afetam direta ou

indiretamente na atividade interpretativa. No ponto de alta atratividade onde se localiza o

espaço destinado à “meditação”, o comprometimento está na falta de manutenção nas

estruturas existentes, que dificultam a passagem dos visitantes e impedem que estes se sentem

para apreciar o ambiente. O outro ponto identificado como de média atratividade apresenta

problemas relacionados à perda da borda crítica e erosão que contribuem para o risco do

visitante escorregar e cair da encosta. O último ponto interpretativo na trilha também é

prejudicado pela crosta que se formou sobre o solo devido à falta de serrapilheira e aos

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170

constantes alagamentos. Isso faz com que o piso fique liso e escorregadio e o visitante

preocupado em não escorregar, deixe de apreciar a espécie identificada no local.

Tal situação reforça a necessidade de elaboração de um plano de manejo e

monitoramento para essa trilha, no sentido de adequá-la ambientalmente e potencializá-la

como instrumento de recreação e educação ambiental.

6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação

6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade

Para verificar as alterações nas propriedades do solo provocadas pela sobrecarga do

pisoteio, optou-se por coletar material com uma profundidade máxima de 10 cm. Como

destaca Feola (2009), são nas profundidades superficiais que se dão as alterações como o

adensamento e a compactação do solo.

As amostras foram coletadas em cinco pontos das trilhas, escolhidos por apresentarem,

devido à localização e características físicas, uma maior propensão à compactação. No total

foram selecionados três pontos na trilha da Estrada Velha, sendo que o ponto 1 localiza-se em

uma área mais plana, próxima ao Rio Marrecas (a 100 metros de distância do início da trilha);

o ponto 2 em uma área de maior declividade (a 800 metros de distância do início da trilha); e

o ponto 3 em outra área plana, porém de maior altitude, situada na parte final da trilha (a

1.300 metros de distância do início da trilha) (FIGURA 12). Na Trilha dos Sentidos, foram

selecionados dois pontos, sendo o ponto 1 situado em uma área plana (a 200 metros de

distância do início da trilha); e o ponto 2, também em uma área plana e que possui um

rebaixamento do piso (a 400 metros de distância do início da trilha) ( FIGURA 13).

Figura 12 - Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha.

Org.: MORAES, D. I. de (2014).

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171

Figura 13- Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos.

Org.: MORAES, D. I. de (2014).

Em cada um dos pontos selecionados, foram coletadas três amostras de solo, uma na

área central do leito e uma em cada área marginal, como ilustra a figura 14.

Figura 14 – Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade.

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

As amostras foram coletadas com anel volumétrico de 92,4259 g/cm³ e depositadas em

sacos plásticos devidamente identificados. Em seguida, essas amostras foram levadas para as

análises em laboratório.

As propriedades físicas do solo avaliadas foram: densidade real, densidade aparente e

porosidade. Para tanto, foi utilizada a metodologia do Manual de Métodos de Análises físicas

do solo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (1997). As análises

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172

foram desenvolvidas no Laboratório de Análises de Formações Superficiais da UNIOESTE,

campus de Francisco Beltrão.

A densidade aparente foi obtida pela divisão do peso da amostra seca a 100°C pelo

volume do anel, segundo a fórmula descrita abaixo:

Onde:

A densidade real foi calculada por meio da desagregação de 20 g de amostra seca a

100ºC, onde se utilizou a seguinte fórmula:

Onde:

A porosidade total foi calculada através da densidade aparente e da densidade real, de

acordo com a fórmula descrita a seguir:

Onde:

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173

Segundo Feola (2009), a densidade aparente é um meio utilizado para avaliar a

compactação do solo e quando apresenta valores elevados, contribui para uma menor

infiltração da água da chuva fazendo com que o escoamento superficial seja acelerado e com

isso, contribua para a formação de sulcos, ravinas e erosão laminar no solo da trilha. Assim,

quanto mais elevada for a densidade aparente, menor será a porosidade, ou seja, a capacidade

do solo em absorver e drenar a água pluvial.

Os valores que acompanham essa relação podem ser observados nas cinco seções

analisadas, sendo que três delas ficam na Trilha da Estrada Velha (Gráfico 17) e duas na

Trilha dos Sentidos (Gráfico 18).

Gráfico 17- Densidade aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha.

Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C - Centro.

Org.: MORAES, D.I. de (2013).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0

20

40

60

80

100

A1 - LE A1 - C A1 - LD A2 - LE A2 - C A2 - LD A3 - LE A3 - C A3 - LDD

en

sid

ad

e A

pare

nte

g

/cm

³

Po

ros

ida

de

(%

)

Nº de seções analisadas

Densidade Aparente X Porosidade - Trilha da Estrada Velha

Porosidade

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174

Gráfico 18- Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos.

Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C – Centro. Org.: MORAES, D.I. de (2013).

Os valores mais elevados de densidade aparente estão localizados nas áreas que

pertencem ao piso e começam a serem visíveis a partir da seção 1. Os valores mais elevados

de densidade aparente estão na área central das seções 1 (1,29 g/cm³) e 2 (1,28 g/cm³), o que

demostra uma maior compactação nessas seções, que provavelmente, se devem a presença se

solo exposto (seção 1 e 2) e à alta declividade (seção 2). Respectivamente, a porosidade

nessas seções apresenta índices relativamente baixos (38,87% na seção 1 e, 39,33 na seção 2).

Outra alteração identificada se refere à densidade aparente apresentada pelas áreas

marginas das trilhas. As maiores alterações estão na seção 2 que apresenta 0,70 g/cm³ na área

marginal esquerda e 1,12 g/cm³ na direita e, na seção 5, onde o lado esquerdo apresenta 0,85

g/cm³ e o direito 0,66 g/cm³. Essas alterações possivelmente se devem pelo fato dos visitantes

ultrapassarem os limites do leito da trilha e percorrer com maior intensidade por uma das

áreas marginais, ocasionando o aumento da área afetada pelo pisoteio. A compactação nessas

áreas também pode estar relacionada à largura da trilha, uma vez que as áreas marginais com

maior compactação possuíam um leito mais estreito.

Na Trilha dos Sentidos, os maiores problemas relacionados à compactação estão nas

áreas centrais das duas seções analisadas (seção 4 e 5) que apresentam uma densidade

aparente de 2,63 g/cm³ e 2,32 g/cm³. Essas alterações provavelmente se devem à presença de

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0

20

40

60

80

100

A4 - LE A4 - C A4 - LD A5 - LE A5 - C A5 - LD

Den

sid

ad

e A

pare

nte

g

/cm

³

Po

ros

ida

de

(%

)

Nº de seções analisadas

Densidade Aparente X Porosidade - Trilha dos Sentidos

Porosidade Densidade Aparente

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175

solo exposto, a alterações de largura e falta de canaletas de drenagem que conduzam o

escoamento da água pluvial para fora do leito da trilha.

A partir desses dados fica evidente a necessidade de manutenção e monitoramento

para as duas trilhas, de modo que os problemas relacionados à compactação possam ser

corrigidos e também evitados, pois geralmente esse impacto está associado ou conduz a outras

situações impactantes nas trilhas, tais como: rebaixamento do piso; dificuldade de

desenvolvimento de plantas; dificuldade de drenagem da água superficial; e erosões.

As análises comprovam a hipótese de que o leito da trilha apresenta solos mais

compactados que as bordas, em virtude da circulação de pessoas nesse espaço. Certamente,

essa compactação influencia o escoamento das águas pluviais e o transporte de matéria

orgânica e sedimentos no trecho das trilhas.

Considerando a realização do diagnóstico físico-ambiental e interpretativo das trilhas

do Recanto Renascer, procuramos elaborar algumas propostas de manejo para essas trilhas,

que serão apresentadas a seguir.

6.4 Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer

As discussões teórico-conceituais apresentadas, as análises desenvolvidas e os

resultados obtidos, serviram de base para propor algumas ações de manejo para as trilhas do

Recanto Renascer. Com o objetivo de não contribuir somente para o uso conservacionista das

trilhas do local, mas também, de melhorar as oportunidades de recreação e o potencial

educativo das trilhas, as propostas sugeridas estão divididas em dois grupos. O primeiro grupo

reúne propostas de ações de cunho geral, que permitem minimizar impactos e maximizar o

uso recreativo-educativo das duas trilhas analisadas. O segundo incorpora ações pontuais de

conservação e uso dos recursos naturais específicas para cada uma das trilhas.

6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as trilhas do Recanto Renascer

As análises desenvolvidas mostram que as trilhas do Recanto Renascer não possuem

impactos que necessitem de ações mais drásticas, como seu fechamento. No entanto, existe

uma série de situações ligadas ao manejo que precisam ser corrigidas para que não ganhem

proporções maiores e acabem proporcionando impactos mais severos ao ambiente e ao uso

recreativo das trilhas. Outro aspecto está ligado ao uso das trilhas para atividades educativas,

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176

que precisa ser mais bem aproveitado através do desenvolvimento de atividades de

interpretação ambiental.

Nessa perspectiva, as propostas gerais de manejo para as duas trilhas do Recanto são as

seguintes:

Exposição dos mapas das trilhas na área de camping, de modo a orientar e instigar os

visitantes a realizarem o percurso. Essa ação se faz necessária pelo fato de que muito

dos visitantes do Recanto não sabem da existência das trilhas. Esses mapas também

contribuem para mostrar que as trilhas não são simples caminhos abertos em meio à

vegetação, mas um atrativo criado e mantido a partir de critérios específicos e de um

planejamento.

O fato de termos elaborado os mapas das trilhas é um elemento que pode contribuir

para o proprietário realizar essa ação, que seria a de mandar fazer duas placas na

entrada das trilhas, indicando o trajeto mapeado e os atrativos existentes;

Obter parcerias com Universidades e órgãos governamentais para o desenvolvimento

da interpretação ambiental, especialmente no que se refere aos recursos financeiros

para as estruturas necessárias (painéis, banners, etc.) e para o levantamento científico

dos conteúdos expostos. Como o Recanto Renascer faz parte do Roteiro de Turismo

Rural “Caminho do Marrecas”, o Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal

de Francisco Beltrão poderia contribuir nesse processo, complementando a

experiência lúdica dos visitantes, com uma experiência pedagógica, de aprendizado

sobre o processo de interpretação e de sensibilização ambiental;

Realizar parceria com Universidades para o levantamento das espécies nativas da flora

local, com o objetivo de identificar novas espécies e corrigir erros de identificação e

idade em espécies já identificadas. Durante o desenvolvimento da pesquisa, foi

possível conduzir um grupo de discentes do curso de Geografia para um trabalho de

campo nas trilhas. Um dos discentes, com conhecimentos em botânica, informou que

haviam alguns erros nas placas de identificação das árvores. Posteriormente, esse

discente fez um levantamento fitogeográfico de algumas árvores, que pode ser

utilizado para adequar as placas e ampliar a identificação das árvores de grande porte

existentes nas trilhas;

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177

Obter parcerias com a secretaria municipal de educação de Francisco Beltrão, para a

utilização das trilhas por grupos escolares, no desenvolvimento de práticas

pedagógicas voltadas à educação ambiental;

Procurar minimizar ou mitigar os impactos identificados nas trilhas, através de ações

como a melhoria do piso (redução da compactação do solo, construção de degraus em

áreas de maior declividade, redução do escoamento de água nas trilhas); melhorias na

acessibilidade e mobilidade nas trilhas (cordas, corrimões), entre outras;

Realizar o monitoramento contínuo do uso das trilhas, com o objetivo de mitigar

impactos reais e potencias ocasionado pela visitação;

Efetuar um diagnóstico físico-ambiental das trilhas pelo menos a cada dois anos

através da metodologia MIV, com o objetivo de identificar áreas mais vulneráveis e a

ocorrência de impactos.

6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer

Os resultados obtidos através do MIV, IAPI e das análises de solo também permitiram

elaborar propostas de conservação e de aproveitamento dos recursos naturais especificas para

cada uma das trilhas, a fim de mitigar impactos reais e potenciais e maximizar as

oportunidades recreativas e educativas existentes.

6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha

Antes da exposição das possíveis estratégias de manejo para a Trilha da Estrada Velha,

é importante destacar que algumas ações já foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, no

intuito de coibir situações de impactos visivelmente percebidos na trilha. Essas estratégias

foram inicialmente expostas e debatidas com proprietário do local, que prontamente se

disponibilizou a realizar as duas ações propostas. Uma delas diz respeito a duas áreas mais

vulneráveis da trilha devido ao declive/aclive acentuado, localizadas nas seções 7 (de 700 a

800 metros de distância do início da trilha) e 5 (de 1.400 a 1.500 metros de distância). Para

minimizar a ação erosiva decorrente do escoamento superficial, foi sugerido à construção de

degraus utilizando como material torretes de madeira, conforme ilustrado na foto 35.

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178

Foto 35 – Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

Outra ação sugerida e já desenvolvida na trilha foi a colocação de estrutura de

contenção na seção 11 (de 1.000 a 1.100 m), devido a uma acentuada perda da borda crítica

que oferecia riscos do visitante cair da encosta e impactos sobre o solo ligados a erosão. Esta

estrutura, apesar de bastante rudimentar e de utilizar matérias de reaproveitamento do próprio

ambiente, mostrou-se bastante eficiente, dando sustentação ao piso da trilha e coibindo a ação

impactante no local (Foto 36).

Foto 36- Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha.

Autor: MORAES, D. I. de (2013).

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179

Expostas as ações já realizadas na trilha, o quadro 13 traz a sintetização dos impactos

verificados, suas possíveis causas e as estratégias de manejo que precisam ser desenvolvidas

no local.

Quadro 13 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha da

Estrada Velha a partir da metodologia MIV.

Impacto Contatado

Estratégia de Manejo Indicador Verificador Possíveis causas

LEITO

Alto Impacto:

Alteração de

largura na trilha.

Médio Impacto:

Afundamento do

piso;

Alagamentos;

Erosão laminar.

A falta de manutenção das áreas

marginais faz com que a vegetação

rasteira avance sobre o piso da

trilha;

A falta de canaletas de drenagem

faz com que a água superficial

(chuva) provoque a retirada da

cobertura superficial gerando

erosão, afundamento do piso e em

algumas situações o alagamento da

trilha.

Construção de canaletas

de drenagem;

Nivelamento do piso e

padronização da largura

da trilha (1m).

BORDA

Médio Impacto:

Atalhos/

Bifurcações.

Baixo Impacto:

Canais de

drenagem;

Perda de borda

crítica;

Manutenção de

estruturas.

A utilização das trilhas por

pescadores contribui para a criação

de atalhos que ligam a trilhas as

margens do rio Marrecas.

O formato retilíneo da trilha em

uma área de declive/aclive

acentuado contribui para que

ocorra o desbarrancamento do

talude superior e inferior e para

que a água superficial utilize o

leito da trilha como um canal de

drenagem, provocando retirada da

cobertura vegetal e acelerando as

ações erosivas.

Falta de manutenção nas

estruturas existentes.

Construção de barreiras

de contenção com troncos

de árvores

(reaproveitamento de

árvores caídas);

Fechar e reflorestar

atalhos;

Mudar traçado da trilha

para o formato de

ziguezague em áreas de

declive/aclive acentuados.

SOLO

Alto Impacto:

Solo exposto.

Baixo Impacto:

Raízes expostas;

Aclives/declives

acentuados;

Geradas pelo escoamento

superficial que transporta a

serrapilheira para as áreas

marginais da trilha.

Formato inadequado da trilha.

Nivelar o solo e

acrescentar serrapilheira

retirada de locais não

utilizados pela visitação.

Mudar o formato da trilha

para ziguezague.

VEGETAÇÃO

Médio Impacto:

Árvores caídas.

Baixo Impacto:

Vegetação

danificada na

Falta de manutenção, poda

incorreta das áreas marginais e

introdução de espécies pelos

visitantes.

Retirada da vegetação

caída sobre o leito e evitar

podas drásticas e

desnecessárias nas áreas

marginais.

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180

borda (morta);

Espécies

exóticas.

SANEAMENTO

Médio Impacto:

Lixo.

Descarte inadequado realizado

pelo visitante.

Realizar vistoria

periodicamente para

retirada de materiais

inorgânicos da trilha;

Instigar a sensibilização

ambiental do visitante;

Implantar lixeiras para

depósitos dos materiais

descartáveis.

RISCOS

Médio Impacto:

Escorregar;

Cair da encosta.

Presença de declive/aclive

acentuados, perda da borda crítica

provocando o estreitamento do

piso e falta de estruturas e de

manutenção nas estruturas

existentes.

Modificar traçado da

trilha;

Construir degraus,

corrimões e barreiras de

contenção.

Fonte: Adaptado de Costa (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

No que se refere à interpretação ambiental, é importante considerar que pelo fato desta

trilha ser autoguiada, a eficácia da atividade interpretativa depende essencialmente do

interesse do visitante, de sua capacidade de percepção e integração, e da qualidade das

informações apresentadas. Por isso, é fundamental que os materiais e as informações sejam

colocados de forma criativa, atrativa e motivadora, de modo que os visitantes se sintam

instigados a receber essas informações, refletir sobre elas e ao mesmo tempo apreciar e

integrar-se ao ambiente visitado.

Outro aspecto diz respeito à localização dessas estruturas, as quais devem estar

distribuídas de forma que não sobrecarreguem o ambiente e nem o visitante, com o excesso de

informações sem o devido tempo para sua análise e reflexão.

Diante disso, as propostas para essa trilha estão ligadas à implantação de painéis

ilustrativos com informações sobre as características socioambientais locais. Considerando

que a trilha possui quatro pontos de alta atratividade, mas três deles estão concentrados no

início da trilha, propomos a utilização de dois pontos de alta atratividade, de um ponto de

média e dois pontos de baixa atratividade, de modo que haja um distribuição regular dessas

estruturas interpretativas na trilha (Mapa 7).

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181

Mapa 7- Proposta de pontos interpretativos para a trilha da Estrada Velha.

Org. MORAES, D. I. de, 2013.

Dos cinco pontos interpretativos propostos, um deve oferecer informações aos

visitantes quanto às características do percurso e os outros quatro informações referentes

às características biofísicas e socioculturais locais, conforme exposto no quadro 14.

Quadro 14– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha.

Ponto

Interpretativo

Localização Conteúdo apresentado Objetivos

P1

Início da

trilha

- Mapa da trilha com as seguintes

informações:

- Objetivo/tema: Apresentar

noções básicas das características

ambientais e socioculturais locais.

- Atrativos principais: Espécies

centenárias identificadas com

placas e a antiga estrada utilizada

pelos colonizadores da região.

- Extensão: 1.500 metros.

Orientar os visitantes

sobre as características

físico-ambientais da

trilha.

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182

- Duração: 1 hora.

- Acessibilidade: parcial (não está

acessível a portadores de

necessidades especiais, como

cadeirantes).

- Grau de dificuldade: moderado

- Indicação de público: Indicada ao

público em geral, inclusive

crianças e idosos, desde que em

bom estado de saúde e preparo

físico.

- Acompanhamento: Autoguiada

- Formato: em ferradura

P2

Árvore

Açoita

Cavalo

Identificação de três espécies da

fauna local:

- Capivara7 (Hydrochoerus

hydrochaeris).

-Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus).

- Cutia (Dasyprocta leporina).

Com as seguintes informações:

nome científico, nome popular,

distribuição geográfica,

características físicas, alimentação

e reprodução e grau de ameaça de

extinção.

Contribuir para a

percepção do visitante

na identificação direta

ou indireta dessas

espécies no ambiente,

através de tocas,

ninhos, pegadas, canto,

etc.

Promover a

compreensão do

visitante sobre a

importância do local

para a existência e

sobrevivência dessas

espécies.

P3

Árvore Ingá

Informações sobre o histórico da

antiga estrada existente no local

(época em que foi utilizada e

importância como meio de

deslocamento na região).

Promover a

valorização histórico-

cultural do local.

P4

Xaxim

Informações sobre a espécie de

Xaxim existente (sua importância

ecossistêmica, utilização

econômica e riscos de extinção).

Instigar a percepção do

visitante sobre a

espécie identificada e

mostrar que se trata de

uma espécie ameaçada

de extinção, em razão

da sua intensa

exploração comercial

destinada à jardinagem

7 As espécies da fauna foram selecionadas em conjunto com os proprietários do Recanto, utilizando como

critério a facilidade na percepção direta e indireta desta espécie no ambiente das trilhas.

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183

e floricultura.

P5

Árvore

Maria Preta

Informações sobre o tipo de solo e

relevo da região.

Promover o

conhecimento do

visitante referente às

características

geomorfológicas e

pedológicas da área

visitada.

Org. MORAES, D. I. de, 2013.

6.4.2.2 Trilha dos Sentidos

Diferentemente da Trilha da Estrada Velha, em que algumas ações de manutenção

foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, na Trilha dos Sentidos nenhuma ação prévia foi

realizada. Isso porque as situações mais problemáticas da trilha exigem ações que demandam

recursos financeiros e maior planejamento, uma vez que estão ligadas a ações de contenção de

encosta, estruturas de segurança e elevação do piso em alguns pontos da trilha. Por isso,

optou-se em desenvolver todos os estudos de campo, para depois propor e debater junto aos

proprietários do local a implementação dessas estruturas.

Os impactos constatados, suas possíveis causas e as propostas de manejo para a Trilha

dos Sentidos estão expostos no quadro 15.

Quadro 15 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha dos

Sentidos a partir da metodologia MIV.

Impacto Contatado

Estratégia de Manejo Indicador Verificador Possíveis causas

LEITO

Alto Impacto:

Alteração de

largura na

trilha.

Médio

Impacto:

Afundamento

do piso;

Baixo

Impacto:

Erosão

laminar;

A falta de manutenção das

áreas marginais faz com

que a vegetação rasteira

avance sobre o piso da

trilha;

A falta de canaletas de

drenagem faz com que a

água superficial (chuva)

provoque a retirada da

cobertura superficial

gerando erosão,

afundamento do piso e em

Construção de canaletas de

drenagem;

Nivelamento do piso e

padronização da largura da

trilha (1m).

Elevação do piso com

material de empréstimo (solo

e rochas) para facilitar o

escoamento superficial.

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184

Alagamentos. algumas situações o

alagamento da trilha.

BORDA

Baixo

Impacto: Canais de

drenagem;

Perda de

borda crítica;

Manutenção

de estruturas;

Atalhos/

bifurcações.

A utilização das trilhas por

pescadores contribui para a

criação de atalhos que

ligam a trilhas as margens

do rio Marrecas.

O formato retilíneo da

trilha em uma área de

declive/aclive acentuado

contribui para que ocorra o

desbarrancamento do talude

superior e inferior e para

que a água superficial

utilize o leito da trilha

como um canal de

drenagem, provocando

retirada da cobertura

vegetal e acelerando as

ações erosivas.

A falta de manutenção em

estruturas de contenção

também contribui para essa

ação impactante.

Construção de barreiras de

contenção com troncos de

árvores (reaproveitamento de

árvores caídas);

Fechar e reflorestar atalhos.

SOLO

Baixo

Impacto:

Solo exposto;

Raízes

expostas.

Geradas pelo escoamento

superficial que transporta a

serrapilheira para as áreas

marginais da trilha.

Formato inadequado da

trilha.

Nivelar o solo e acrescentar

serrapilheira retirada de locais

dentro da floresta não

utilizados pela visitação.

VEGETAÇÃO

Baixo

Impacto:

Vegetação

danificada na

borda (morta).

Falta de manutenção, poda

incorreta das áreas

marginais.

Retirada da vegetação caída

sobre o leito e evitar podas

drásticas e desnecessárias nas

áreas marginais.

SANEAMENTO

Alto

Impacto:

Lixo.

Descarte inadequado de

materiais pelo visitante.

Realizar vistoria

periodicamente para retirada

de materiais inorgânicos da

trilha;

Instigar a sensibilização

ambiental do visitante para

que não deposite esses

materiais no ambiente;

Implantar lixeiras para

depósitos dos materiais

descartáveis.

Alto

Impacto:

Presença de declive/aclive

acentuados, perda da borda

Construir degraus, corrimões

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185

RISCOS Escorregar.

Médio

Impacto:

Cair da

encosta.

crítica provocando o

estreitamento do piso e

falta de estruturas e de

manutenção nas estruturas

existentes.

e barreiras de contenção.

Fonte: Adaptado de Costa (2006).

Org.: MORAES, D. I. de (2013).

Em relação à atividade interpretativa, as sugestões para essa trilha são a exposição de

painéis fixados em madeira, com informações que proporcionem o conhecimento e a

sensibilização do visitante através dos estímulos sensoriais (tato, olfato, odor e visão). Diante

das características físicas e das estruturas já implantadas na trilha, propormos a exposição

dessas informações em quatro pontos na trilha. Um deles determinado como de média

atratividade e os outros três, de alta atratividade (Mapa 8).

Mapa 8 - Pontos interpretativos propostos para a Trilha dos Sentidos.

Org. MORAES, D. I. de, 2013.

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186

Os conteúdos propostos para cada um dos pontos estão expostos no quadro 16.

Quadro 16– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos.

Ponto

Interpretativo

Localização Conteúdo apresentado Objetivo

P1

Início da

trilha

- mapa da trilha com as seguintes

informações:

- Objetivo/tema: Apresentar noções

básicas de ecologia, da

biodiversidade da floresta

Ombrófila-mista e hidrografia local.

- Atrativos principais: pinguelas

sobre córregos, pontos de parada

para contemplação da flora e fauna

local, árvores nativas centenárias

identificadas com placas.

- Extensão: 500 metros.

- Duração: 30 minutos.

Acessibilidade: parcial (não está

acessível a portadores de

necessidades especiais, como

cadeirantes).

- Grau de dificuldade: leve.

- Indicação de público: Indicada ao

público em geral, inclusive crianças

e idosos.

- Acompanhamento: Autoguiada.

- Formato: em ferradura.

- Orientar o visitante

sobre as características e

atrativos da trilha e

instigá-lo a realizar o

percurso.

P2

Local de

meditação

(audição)

Identificação de três espécies da

fauna local:

- Maitaca (Pionus maximiliani)

- Tucano (Ramphastos toco).

-Sabiá-Laranjeira (Turdus

rufiventris).

Com as seguintes informações:

nome científico, nome popular,

distribuição geográfica,

características físicas, alimentação e

reprodução e grau de ameaça de

extinção.

Contribuir para a

percepção do visitante na

identificação direta ou

indireta (tocas, ninhos,

canto, etc.) dessas

espécies no ambiente.

Promover o

conhecimento sobre a

biodiversidade local.

P3

Placa

“Olfato:

Informações sobre a floreta

Ombrófila mista aluvial, suas

características, espécies

predominantes, área de abrangência

Instigar o visitante a

contemplar e reconhecer

no ambiente as principais

espécies dessa tipologia

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187

sentir o

cheiro da

mata”

e importância ecossistêmica. florestal.

P4

Placa Visão

Informações sobre o rio Marrecas

(nascente, municípios que abrange,

foz e importância para Francisco

Beltrão).

Promover o

conhecimento sobre as

características do rio

Marrecas e sua

importância

socioambiental. Org. MORAES, D. I. de (2013).

Enfatiza-se que todas as propostas de manutenção e manejo desenvolvidas para as

duas trilhas do Recanto Renascer serão expostas e debatidas junto aos proprietários do local,

de modo que os resultados obtidos com a pesquisa possam contribuir para a adequação

ambiental destas trilhas e também para o aprimoramento de seu potencial recreativo-

educativo.

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188

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura acerca da implantação e uso das trilhas ecológicas em áreas florestais

mostra que atividade exige planejamento, conhecimento técnico e uma constante manutenção

e monitoramento de impactos. Ao contrário do comumente entendido, as trilhas implantadas

nessas áreas não são simples caminhos abertos em meio à vegetação, mas percursos, que

devem ser criados a partir de técnicas e critérios específicos e coerentes às potencialidades e

limitações socioambientais locais.

Ao fazer o levantamento dos estudos desenvolvidos sobre o uso público de trilhas em

áreas naturais, verificou-se que apesar de existirem uma variedade de pesquisas sobre a

temática, elas estão concentradas nas Unidades de Conservação, enquanto que nos

estabelecimentos rurais, o uso de trilhas ecológicas mostra-se uma atividade ainda pouco

conhecida e difundida, tanto entre os atores vinculados ao ecoturismo e turismo rural, quanto

de estudos científicos relacionados ao uso e manejo das trilhas nesses estabelecimentos.

Ao analisar o uso público das trilhas em fragmentos de floresta de pequenos

estabelecimentos rurais, tendo como objeto de pesquisa o Recanto Renascer, foi possível

obter informações bastante significativas em relação ao uso público das trilhas nesses

estabelecimentos, especialmente no que se refere ao desconhecimento, tanto por parte dos

visitantes quanto dos gestores da atividade, em relação aos impactos ambientais que uma

implantação e uso inadequados podem desencadear e, também, do real potencial da trilha

como um atrativo.

No caso do Recanto Renascer, as trilhas ecológicas, apesar de serem diferenciais em

relação a outras propriedades vinculadas ao Roteiro de Turismo Rural do município de

Francisco Beltrão, apresenta-se como um atrativo ainda pouco explorado, já que muitos dos

visitantes da área de camping do local não ficam sabendo da existência das trilhas. Outro

aspecto está relacionado a dificuldade que o produtor rural possui em realizar a manutenção e

o manejo correto dessas trilhas, principalmente devido à falta de conhecimento técnico para

fazê-lo.

Mesmo passando 11 anos desde a implantação da primeira trilha no local, o único

suporte oferecido ao produtor rural para o desenvolvimento da atividade foi à identificação de

algumas espécies da flora local feita por um funcionário da EMATER.

O uso das trilhas como elemento educativo também se encontra pouco explorado e

difundido, dado ao potencial apresentado pelo local. Para desenvolver esse potencial é

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189

preciso, no entanto, que haja apoio de profissionais especializado sejam eles geógrafos,

biólogos, engenheiros florestais, entre outros, que através de investigações científicas sobre as

características físico-ambientais locais, possam orientar os proprietários sobre os

procedimentos para desenvolver atividades educativas nas trilhas. Se houvesse interesse por

parte dos órgãos educativos do munícipio, esse potencial também poderia ser uma ótima

opção para desenvolver atividades com grupos escolares voltadas à educação ambiental e

demais estudos ambientais.

Parcerias também poderiam ser desenvolvidas com universidades e escolas da rede

pública e privada para utilizar esse local como um laboratório para estudos ambientais e

também em outras atividades educativas. Trabalhos de campo geralmente são realizados em

ambientes distantes da vivência dos alunos, enquanto locais como o existente no Recanto,

com suas características físicas (relevo, hidrografia), fitogeográficas, zoogeográficas e

históricas, muitas vezes não são valorizados e aproveitados em visitas de estudo e no

desenvolvimento de pesquisas científicas.

Acreditamos que o local possui um rico potencial educativo a ser explorado, que pode

tanto oportunizar conhecimentos e contribuir na conscientização ambiental dos visitantes,

quanto colaborar nas ações de manutenção e conservação desse ambiente.

Nesse sentido, os estudos desenvolvidos sobre o perfil e a percepção ambiental dos

visitantes e o tipo de atividade interpretativa existente nas trilhas do Recanto Renascer,

permitiram verificar que o desenvolvimento da interpretação ambiental é uma alternativa

importante de manejo e de atratividade para essas trilhas. Isso se dá porque existe o interesse

do visitante em conhecer mais detalhadamente o ambiente visitado e também devido à

ocorrência de impactos ambientais que podem ser minimizados através da atividade

educativa, especialmente no que se refere ao depósito inadequado de lixo e vandalismos.

O perfil e a percepção dos visitantes também se mostraram elementos importantes de

análise das diferentes relações e interações que os indivíduos estabelecem com o ambiente

durante a visitação. Dos visitantes analisados, muitos não perceberam a ocorrência de

impactos ou situações de riscos. Há também a falta de consciência ecológica de alguns, que

depositam lixo e depredam estruturas e elementos do ambiente. Essa falta de compromisso

com o ambiente muitas vezes está atrelada a uma visão de natureza como mercadoria, no qual

o visitante ao pagar o ingresso, abdica-se de qualquer responsabilidade e cuidado com o

ambiente visitado, vendo-o somente como um produto a ser consumido em benefício da sua

satisfação e bem estar individual. Por outro lado, existem também aqueles que buscam se

integrar ao ambiente, observar e entender os elementos e processos que o compõe, mantendo

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190

uma relação de responsabilidade e zelo com o local. Isso ocorre em função de uma

consciência ambiental já formada no visitante, que mesmo utilizando esse espaço para o seu

lazer e entretenimento, entende e reconhece sua importância ambiental.

As observações em campo juntamente com as análises desenvolvidas mostraram que

as duas trilhas estudadas – Trilha da Estrada Velha e Trilha dos Sentidos - apresentam

características, potencialidades e situações de impactos distintas e em diferentes níveis (baixo,

médio e alto), ocasionadas principalmente pela falta de conhecimento técnico por parte dos

proprietários sobre como realizar as ações de manejo e manutenção corretos e específicos para

cada situação impactante. Essas alterações, apesar de não afetarem diretamente a experiência

vivenciada pelo visitante, conforme foi constatado durante a investigação de sua percepção

em relação aos impactos ambientais, mostram-se relevantes para a segurança dos usuários e

para a qualidade ambiental das trilhas.

A Trilha dos Sentidos, que possui uma pequena extensão, uma topografia plana e cujo

fragmento de floresta encontra-se em vários estágios sucessionais de regeneração decorrentes

da degradação gerada pela atividade anteriormente praticada, apresenta alguns impactos

ocasionados principalmente pela falta de estruturas adequadas e também de manutenção. Por

outro lado, essa trilha possui um rico potencial recreativo-interpretativo, em virtude de sua

proximidade com o Rio Marrecas, de seu formato curvilíneo que transpassa o córrego do local

e também por possuir espécies vegetativas centenárias e raras na região.

Já a Trilha da Estrada Velha, além de possuir um maior percurso, percorre ambientes

mais preservados, com uma área florestal em estágio sucessional de médio a alto. Porém, sua

variação topográfica a torna mais susceptível as ações erosivas e riscos aos usuários, o que

demanda a implantação de estruturas que minimizem a ação do escoamento superficial e

proporcionem maior sustentação ao piso da trilha.

Ao analisar o impacto do pisoteio sobre o solo nas trilhas, também foi possível

identificar que as alterações relacionadas à compactação estão presentes não somente no leito,

mas também em boa parte das áreas marginais analisadas. Isso demonstra uma maior

abrangência da área afetada pelo pisoteio e a necessidade de ações de manejo que minimizem

a ocorrência destes impactos, através de uma padronização na largura do piso das trilhas e

também de sua cobertura com serrapilheira.

Assim, para que as adequações físico-ambientais das duas trilhas ocorram, conforme

as ações sugeridas no item 6, propõe-se duas frentes principais de atuação. A primeira diz

respeito à padronização da largura do piso, no qual se indica a largura de 1 metro e também a

redução da velocidade do escoamento superficial nas áreas de declive e aclive, através de

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191

estruturas que reduzam a velocidade da água como degraus feitos de rochas ou torretes de

madeira com dormentes e de estruturas que reduzam a distância do fluxo, como pequenos

canais de drenagem voltados para o interior da mata.

Após estabilizar a velocidade do escoamento superficial sobre o piso da trilha,

recomenda-se a construção de estruturas de sustentação em locais com perda de borda crítica

e cobertura do solo com serrapilheira extraída do interior da floresta, para que os impactos

relacionados à erosão e compactação possam ser minimizados. Uma terceira frente de atuação

indicada estaria na construção de painéis ilustrativos com os conteúdos interpretativos

anteriormente propostos.

No que se refere às metodologias utilizadas para realizar o diagnóstico físico-

ambiental das trilhas, estas se mostraram de suma importância para identificar situações de

impactos atuais e potenciais, que além de trazer prejuízos ambientais também acabam

prejudicando o desempenho das trilhas como instrumento recreativo no local. A identificação

desses impactos através do MIV e das análises de solo, permitiram o desenvolvimento de

propostas de manejo gerais e específicas para cada trilha e também iniciar as primeiras ações

de mitigação e controle de impactos, realizadas na Trilha da Estrada Velha, em parceria com

os proprietários do local. No mesmo segmento, a metodologia IAPI possibilitou avaliar a

atividade interpretativa desenvolvida e identificar potencias ainda não explorados, que podem

ser elementos importantes de atratividade nas trilhas.

No entanto, a falta de dados sobre o número mensal e anual de visitantes nas trilhas

impediu uma análise comumente desenvolvida em estudos sobre o uso publico de trilhas em

áreas naturais, que é o estudo da capacidade de carga. Essa análise permite identificar o

número ideal ou suportável de visitantes nas trilhas, e pode ser um elemento relevante para

que impactos gerados pela intensificação do uso sobre o ambiente e sobre a experiência

vivenciada possam ser evitados ou minimizados.

Contudo, apesar das dificuldades e limitações relacionadas à utilização das trilhas

como um atrativo turístico no Recanto Renascer, é importante considerar que a atividade tem

se mostrado bastante significativa para a preservação ambiental local, bem como, para a

atratividade do estabelecimento. Com a utilização das trilhas ecológicas, o fragmento de

floresta degradado por práticas agrícolas convencionais, passou a ser preservado e recuperado,

tornando-se um espaço importante de manutenção de espécies da vegetação nativa, que são

consideradas raras pelo grau de desenvolvimento em que se encontram no local e pela

escassez na região. A manutenção dessa área florestal contribui também para a diversidade de

espécies da fauna, com diferentes espécies de pássaros, mamíferos, répteis, etc.. Outro aspecto

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192

está relacionado à importância dessa área na proteção dos recursos hídricos existentes, já que

corresponde a uma mata ciliar que protege além do rio Marrecas, outros córregos e nascentes

existentes no local.

A realidade existente no Recanto é um exemplo de que o desenvolvimento de

alternativas menos degradantes dos ecossistemas e de seus elementos é uma ação possível. E

mesmo que correspondam a ações pontuais dentro de uma lógica social e ambientalmente

degradantes, elas tem se mostrado relevantes na busca por uma relação mais equilibrada entre

o uso socioeconômico dos recursos naturais e a proteção ambiental. O local comprova ainda,

que as áreas de floresta nas propriedades rurais não são espaços economicamente perdidos,

mas áreas que juntamente com a importância ambiental, podem ser uma alternativa

importante de geração e diversificação de renda nas propriedades e também de melhoria na

qualidade de vida da população (moradores e visitantes).

É importante considerar, no entanto, que mesmo vendo o uso das trilhas ecológicas

como uma iniciativa positiva de conservação florestal e geração de renda nas propriedades

rurais, elas por si só, não garantem o uso conservacionista, o qual só poderá ser alcançado a

partir de um planejamento detalhado das vantagens e riscos socioeconômicos e ambientais do

uso público das trilhas nesses locais e também, de conhecimentos técnicos sobre sua

implantação e manejo. Para tanto, é preciso um maior incentivo e apoio por parte dos órgãos

governamentais para o desenvolvimento correto da atividade, juntamente com o

desenvolvimento de mais estudos científicos sobre a viabilidade social, econômica e

ambiental do uso público das trilhas nesses estabelecimentos.

Espera-se, contudo, que esta pesquisa e a elaboração do material técnico-informativo,

possam oferecer subsídios para o desenvolvimento de outros estudos relacionados à temática

que envolve o uso público das trilhas ecológicas, bem como, para o desenvolvimento correto

da atividade no Recanto Renascer e em outros estabelecimentos rurais da Região Sudoeste do

Paraná e de outras regiões, que desejam utilizar as trilhas como um atrativo a visitação e como

uma alternativa de uso das áreas florestais, efetivamente conservacionista.

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202

9 APÊNDICES

APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista com o casal de proprietário do Recanto Renascer

1- Como se encontrava a área de floresta destinada às trilhas quando o senhor passou a morar

na propriedade? Em que ano isso aconteceu? Tratava-se de uma mata nativa? Haviam

clareiras?

2- A área de floresta destinada às trilhas sofreu alguma modificação depois que o senhor

passou a morar na propriedade? Algo foi retirado ou plantado?

3- As trilhas foram construídas desde o início da abertura de sua propriedade para o lazer e o

turismo rural?

4- A ideia de implantar trilhas na propriedade partiu da família ou de terceiros?

5-Quais as intenções com a implantação das trilhas?

6- Quem abriu e organizou as trilhas?

7- Na construção das trilhas foi utilizado algum material técnico ou assistência de profissional

especializado?

8- Houve custos na construção? Quanto?

9- As trilhas são os atrativos principais ofertados na propriedade?

10- A manutenção das trilhas é realizada:

( ) diariamente ( ) a cada seis meses

( ) semanalmente ( ) uma vez por ano

( ) mensalmente ( ) outras __________________

11- Dos visitantes na propriedade, os que percorrem o trajeto das trilhas são:

( ) todos

( ) grande maioria

( ) poucos

12- Quais os pontos positivos que o senhor destaca no uso das trilhas ecológicas em sua

propriedade?

13- Quais os pontos negativos?

14- Os objetivos iniciais buscados com a implantação das trilhas foram alcançados?

15 – O senhor está satisfeito com a utilização das trilhas como atrativo na propriedade?

16 – Há intenções de investir em infraestruturas na trilha? Quais?

17- As trilhas contribuíram para que o fragmento de floresta na propriedade fosse preservado?

18 – As trilhas contribuíram para que áreas de mata fossem recuperadas na propriedade?

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203

APÊNDICE B – Questionário Socioambiental aplicado aos visitantes das trilhas

ecológicas do Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR.

QUESTIONÁRIO SOCIOAMBIENTAL

Data:___/_____/____

PERFIL DO VISITANTE

1) Gênero: ( ) M ( ) F

2) Idade: ____________

3) Escolaridade:

( ) ens. fundamental completo ( ) ens. fundamental incompleto

( ) ens. médio completo ( ) ens. médio incompleto

( ) ens. superior completo ( ) ens. superior incompleto

( ) pós-graduação completa ( ) pós-graduação incompleta

4) Ocupação: __________________________________________

5) Cidade onde mora: ___________________________________

6) Renda familiar:

( ) até 1 salário mín. (R$622,00) ( ) 1 a 2 sal.mín. (R$623 a R$1.244)

( ) 2 a 4 sal. mín. (R$1.245 a R$2.490) ( ) 5 a 10 sal.mín. (R$3.111 a R$6.22)

( ) mais de 10 sal.mín. ( acima de R$6.220)

AVALIAÇÃO DA VISITA

7) Como você tomou conhecimento sobre as trilhas?

( ) já conhecia

( ) indicação de amigos/família

( ) guias de viagens, jornais, revistas

( ) internet / rádio

( ) outro meio. Qual: ______________________________

8) Já visitou as trilhas antes?

( ) não ( ) sim - quantas vezes? _____

9) Qual o motivo que te levou a percorrer as trilhas? (você pode assinalar mais de uma

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204

alternativa).

( ) contato com a natureza ( ) aventura

( ) caminhar ( ) lazer e diversão

( ) estudo (aprendizagem) ( ) apreciar a paisagem

( ) descanso ( ) interesse em conhecer a flora local

( ) outro. Qual? ___________________________________________

10) O que você considera mais importante em uma trilha ecológica?

( ) conservação ambiental

( ) sinalização

( ) estruturas de segurança (pontes, degraus e corrimões)

( ) atrativos para a apreciação ( cachoeiras, plantas, animais)

( ) conforto e segurança

11) Ao percorrer as trilhas você percebeu a ocorrência de:

a) árvores danificadas ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

b) raízes expostas ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

c) áreas sem vegetação ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

d) solo compactado/sem cobertura vegetal ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

e) lixo: ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

f) animais silvestres: ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

g) animais domésticos (gatos, cachorro ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

h) riscos (de escorregar, machucar, ...) ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

i) atalhos ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

j) vandalismo (placas, árvores, ...) ( ) pouco ( ) muito ( ) não percebeu

12) O grau de dificuldade da caminhada na trilha é:

( ) leve ( ) moderado ( ) elevado

13) O ambiente na trilha lhe proporcionou: ( pode ser assinalado mais de uma alternativa)

( ) tranquilidade e bem estar.

( ) incentivo a preservação ambiental

( ) desconforto pelo contato com espinhos, galhos e animais como formigas, mosquitos, etc.

( ) desconforto pela falta de infraestruturas adequadas ( pontes, sinalizações,...)

( ) outros _______________________

14) Na sua opinião como os visitantes poderiam contribuir para diminuir ou evitar impactos

ambientais nas trilhas?

( ) não jogar lixo

( ) não fazer barulho

( ) não entrar em atalhos

Page 207: PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE ...tede.unioeste.br/bitstream/tede/1117/1/Daniele Moraes.pdfA minha amiga Clariana Bressiane pelo incentivo no início da pesquisa. A minha

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( ) outros

15) A trilha poderia ser mais atrativa se possuísse:

( ) mais vegetação e animais silvestres

( ) mais sinalizações

( ) mais informações sobre a fauna e flora do local

( ) outro. Qual? _____________________________

16) Suas expectativas iniciais com as trilhas foram satisfeitas?

( ) sim ( ) não

17) Quanto tempo durou a visita nas trilhas?

( ) até 1 hora ( ) de 1h a 2 h ( ) de 2h a 3h ( ) acima de 3h

18) No geral, qual é seu grau de satisfação em relação à visita nas trilhas?

( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito insatisfeito

19) Considerando a experiência vivenciada nas trilhas, você pretende fazer outras visitas?

( ) Sim ( ) não

20) Recomendaria a visita nas trilhas a outras pessoas?

( ) sim ( ) não