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01 PLANETA DESIGN É difícil apontar quem não fica admirado com a beleza intrigante dos barcos repousando sobre a água. Ao lon- go da história, eles deixaram de ser simples ferramentas de transporte – ou para a busca por alimentos – e alcan- çaram o status de objetos de desejo. De tão cobiçados, tornaram-se protagonistas de diversas produções da sé- tima arte, como nos filmes do agente James Bond. Desde as primeiras embarcações até o século 21, no en- tanto, muita coisa mudou. A madeira deixou de ser a única matéria-prima utilizada na construção e deu lugar a itens como aço, alumínio e fibras de carbono e de vidro. “O ma- terial varia conforme o tamanho e o uso do barco. A fibra de vidro passou por uma evolução brutal e hoje domina o setor de lanchas de passeio”, conta o yacht designer Fer- nando de Almeida. Quem se depara com os belos traços de uma lancha, não imagina os inúmeros quesitos que devem ser levados em conta ao criar um projeto. “O gran- de desafio é transformar o sonho do cliente em realida- de, pois se trata de uma superestrutura. O barco deve ser autossuficiente e ainda conciliar beleza, funcionalidade e segurança”, afirma o profissional. FLUTUAM Traços que Da canoa aos iates de luxo, as embarcações passaram de meros meios de transporte a verdadeiras obras de design TEXTO Alessandro Guimarães AQUI, O BARCO PRO BOAT POWER CAT 70 SF, PLANEJADO PELO DESIGNER FERNANDO DE ALMEIDA PLANETA DESIGN16 2.indd 2-3 10/10/12 12:41 PM

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É difícil apontar quem não fica admirado com a beleza

intrigante dos barcos repousando sobre a água. Ao lon-

go da história, eles deixaram de ser simples ferramentas

de transporte – ou para a busca por alimentos – e alcan-

çaram o status de objetos de desejo. De tão cobiçados,

tornaram-se protagonistas de diversas produções da sé-

tima arte, como nos filmes do agente James Bond.

Desde as primeiras embarcações até o século 21, no en-

tanto, muita coisa mudou. A madeira deixou de ser a única

matéria-prima utilizada na construção e deu lugar a itens

como aço, alumínio e fibras de carbono e de vidro. “O ma-

terial varia conforme o tamanho e o uso do barco. A fibra

de vidro passou por uma evolução brutal e hoje domina o

setor de lanchas de passeio”, conta o yacht designer Fer-

nando de Almeida. Quem se depara com os belos traços

de uma lancha, não imagina os inúmeros quesitos que

devem ser levados em conta ao criar um projeto. “O gran-

de desafio é transformar o sonho do cliente em realida-

de, pois se trata de uma superestrutura. O barco deve ser

autossuficiente e ainda conciliar beleza, funcionalidade e

segurança”, afirma o profissional.

FLUTUAMTraços que

Da canoa aos iates de luxo, as embarcações passaram de meros

meios de transporte a verdadeiras obras de design

TEXTO Alessandro Guimarães

aqui, o barco pro boat power cat 70 sf, planejado pelo designer fernando de almeida

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AÇÃO

tecidos resistentes à água salgada e ao sol também possibilitou uma

infinidade de combinações, que agradam até mesmo os comandan-

tes mais exigentes. “Atualmente, não faltam estampas e texturas, como

couro e camurça, para compor os ambientes”, conta Casé.

Outra novidade que tem chamado atenção dos apaixonados por

embarcações são as áreas dedicadas à gastronomia. Muitas delas não

devem nada aos projetos residenciais e contam com itens como fo-

gão elétrico, geladeira, micro-ondas, churrasqueira, pias e armários

amplos. “Pesquisas feitas com nossos clientes apontaram diversas ne-

cessidades, inclusive a de dar maior destaque aos espaços gourmet”,

ressalta Allysson Yamamoto, diretor de marketing da Intermarine, em-

presa que desenvolve embarcações de luxo.

As inovações sempre andaram lado a lado do mundo náutico, por

isso as novidades da tecnologia são absorvidas de forma mais rápida

no setor. “Devido ao baixo consumo de energia e dimensões reduzi-

das, as televisões e lâmpadas de LED, por exemplo, se tornaram mais

conhecidas nos barcos antes mesmo das residências”, conta Casé.

tranquilidade a bordo

A segurança é um dos poucos itens que nunca saem de moda quan-

do o assunto é o design da embarcação. “Ela é prioridade absoluta. O

design se aplica a tudo, até aos itens de segurança, o que não significa

favorecer a estética sobre a funcionalidade”, ressalta o yacht designer

Luiz DeBasto.

Um ponto importante é o tipo de vidro usado na embarcação. “Os

laminados são ideais para evitar acidentes. Preferivelmente, devem ser

equipados com uma película que impede a entrada de raios ultravio-

leta e infravermelhos, para garantir conforto térmico e a durabilidade

dos móveis”, afirma Almeida.

Peças de decoração e utensílios domésticos, como copos e garrafas,

também não passam despercebidos. “Quando elaboramos um projeto,

indicamos objetos feitos de resina, acrílico, titânio ou qualquer outro ma-

terial que não quebre. Já para os revestimentos, é imprescindível optar por

aqueles que não propaguem chama ou fumaça”, recomenda Casé.

abaixo, o banheiro do barco planejado pelos profissionais do escritório unacasa, de recife: o ambiente foi equipado com metais da linha docolcity. à direita, o living da embarcação com direito a tv de lcd. no alto, mais um detalhe do barco planejado pelos arquitetos do unacasa e, à direita, sala de jantar do barco pro boat power cat 71, desenhado pelo designer fernando de almeida

acima, o barco intermarine 55. desenhado pelo estúdio de design do grupo bmw. abaixo, reedição do barco feito em parceria entre a empresa riva e a gucci: a embarcação foi usada nos filmes de james bond; e o barco oceanco dp 009, criação do designer luiz debasto.

tecnologia para projetar

Assim como influenciaram os métodos construtivos dos barcos, as

novas tecnologias também criam tendências na área do design – essa

evolução é perceptível nos traços externos e também na parte inter-

na das embarcações. “Os para-brisas estão mais amplos para melhor

aproveitamento da luz natural e as janelas deixaram de ser ovais para

ganhar novas formas”, diz Almeida. O interior ficou mais elaborado:

os profissionais da área buscam fugir do estilo navy – o clássico azul-

-marinho e branco. “Linhas retas e sóbrias estão em alta. Boa parte dos

clientes procura reproduzir um ambiente similar ao da casa, como se o

barco fosse uma extensão da morada”, conta o arquiteto George Casé,

do escritório de arquitetura Unacasa. O desenvolvimento de novos

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acima e abaixo, as formas orgânicas da marine research center, criação do estúdio de design solus4. embaixo (à esquerda), o barco sustentável bioyot, que funciona movido a energia solar, e, à direita, a ousadia do utopia, inspirado em um condomínio residencial

embarcações futuristas

Deixar o convencional de lado e apostar em embarcações com

formas e propostas ousadas está entre os objetivos de diversos pro-

fissionais pelo mundo. Um bom exemplo é a embarcação batizada de

Marine Research Center, planejada pelos profissionais do escritório

de design Solus4. O projeto-conceito conta com 2.500 metros qua-

drados e terá laboratório de pesquisas, piscina de água salgada, bi-

blioteca e até mesmo mirantes com vista para o fundo do mar.

Traços inovadores também estão presentes no barco Bioyot, cria-

do pelo designer britânico Ross Lovegrove. As formas orgânicas flu-

tuam sobre a água e são movidos a energia solar, um presente para os

amantes da natureza.

Outro projeto de destaque é o Utopia, desenhado pela empresa

de engenharia naval BMT Nigel Gee em parceria com a Yacht Island

Design, que desenvolve barcos de luxo. A embarcação, que conta com

100 metros de largura, tem formas e a divisão de um condomínio resi-

dencial – a ideia era produzir algo que lembrasse um prédio de apar-

tamentos. O projeto-conceito fica sobre uma plataforma com quatro

colunas que sustentam o peso da embarcação e pode se deslocar, sem-

pre em baixa velocidade.

“O setor náutico atravessa uma fase de crescimento sem precedentes”, diz AlmeidaJá o SeaOrbiter foi criado com um propósito diferente: estudar a

vida marinha. Projetada pelo oceanógrafo e arquiteto francês Jacques

Rougerie, a embarcação irá oferecer aos estudiosos uma oportunida-

de única de conhecer a fundo as espécies que vivem no mar. Cerca de

três anos depois da criação do projeto, o profissional conseguiu finan-

ciamento para construí-lo – a previsão é de que o navio esteja pronto

até o final de 2013.

maior evento do setor

A 15ª edição do São Paulo Boat Show aconteceu entre os dias 28

de setembro e 3 de outubro na capital paulista e apresentou as prin-

cipais novidades do setor. Segundo a organização do evento, o maior

salão náutico da América Latina atraiu mais de 43 mil pessoas; cerca

de R$ 267 milhões em negócios foram gerados durante os seis dias

de feira. “As vendas neste ano foram pulverizadas. Os barcos médios, dfoto

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AÇÃO

principalmente aqueles que têm entre 26 e 40 pés, foram muito pro-

curados”, explica Ernani Paciornik, presidente e idealizador do São

Paulo Boat Show.

O evento reuniu mais de 150 expositores, distribuídos em 40 mil

metros quadrados, 25% a mais do que em 2011. “O setor náutico bra-

sileiro atravessa uma fase de crescimento sem precedentes. Diversos

estaleiros internacionais acreditam em nosso potencial e decidiram

investir no Brasil”, ressalta Almeida.

Um dos destaques foi a Intermarine 55, barco feito pelo estaleiro

brasileiro Intermarine. O motivo de tanta curiosidade é a lancha de 55

pés, fruto de uma parceria inédita entre a empresa e a BMW Group

DesignworksUSA. “Pela primeira vez, o escritório de design criou

uma embarcação e o produto não poderia ser melhor. O resultado não

ficou apenas bonito, certamente elevou o nível em sua categoria”, afir-

ma Yamamoto, da Intermarine.

acima, detalhe da são paulo boat show, maior feira náutica da américa latina. abaixo, o grande destaque do evento: a intermarine 55, fruto de uma parceria entre a empresa e a bmw group designworks usa. à esquerda, a inusitada seaorbiter: a embarcação foi criada com o intuito de estudar a vida marinha

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