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PLANO DE AÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA PARCERIA GLOBAL PARA UMA COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO EFICAZ

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PLANO DE AÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA PARCERIA GLOBAL PARA UMA COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO EFICAZ

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Ficha Técnica:

TÍTULO Plano de Ação para a Implementação da Parceria Global para uma Cooperação para o

Desenvolvimento Eficaz

EDIÇÃO Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.

PÁGINAS 11

DATA 20-11- 2012

WEBSITE http://www.instituto-camoes.pt

CONTACTO Av. da Liberdade n.º 270, 1250-149 Lisboa TEL.+351 21 310 91 00

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“Uma ajuda liderada pelo parceiro, harmonizada e alinhada, focalizada nos mais pobres,

previsível, desligada, canalizada através de instituições eficazes e que se focaliza nos

resultados (...)”

COMITÉ DE AJUDA AO DESENVOLVIMENTO / OCDE

1. A AGENDA DA EFICÁCIA DA AJUDA

Desde a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) pela Assembleia-Geral

das Nações Unidas em 2000, os países doadores de ajuda ao desenvolvimento procuraram

aumentar e melhorar a ajuda prestada para que as metas estabelecidas para 2015 sejam

alcançadas. Existe hoje um consenso internacional alargado sobre a importância de uma ajuda

mais eficaz, que tem obrigado a uma revisão de políticas, procedimentos e práticas da ajuda.

Para o efeito contribuíram uma série de eventos de alto nível que moldaram a cooperação para

o desenvolvimento dos nossos dias, nomeadamente: a Conferência sobre o Financiamento do

Desenvolvimento (Monterrey, 2002) e as Reuniões de Alto Nível sobre a Eficácia da A juda:

Roma (2003), Paris (2005), Accra (2008) e Busan (2011) que têm colocado a eficácia da ajuda

no centro do debate internacional.

Das reuniões de Roma, Paris, Accra e Busan resultou a elaboração de quatro documentos

fulcrais: a Declaração de Roma para a Harmonização, a Declaração de Paris para a Eficácia da

Ajuda, a Agenda para a Ação de Accra e a Parceria de Busan para uma Cooperação para o

Desenvolvimento Eficaz1.

Na Declaração de Roma (2003) a tónica foi colocada na questão da harmonização não só das

políticas, procedimentos e práticas institucionais dos doadores com as dos países parceiros ,

mas também nos próprios doadores através da racionalização de práticas e procedimentos. Na

Declaração de Paris (2005) doadores e parceiros identificaram 5 dimensões para uma ajuda

mais eficaz: Harmonização, Alinhamento, Apropriação, Prestação de

Contas/Responsabilização Mútua e Gestão para os Resultados. Na Agenda para a Ação de

Accra (2008) foram identificadas ações prioritárias, algumas de implementação imediata, no

sentido de se acelerarem os resultados frente aos compromissos de Paris.

1 Documentos disponíveis em: http://www.instituto-camoes.pt/cooperacao/2012-09-15-15-44-28/ajuda-publica-ao-desenvolvimento

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A Parceria de Busan para uma Cooperação para o Desenvolvimento Eficaz (2011)2 reafirma os

compromissos anteriormente assumidos sobre os princípios da eficácia da ajuda -

designadamente da apropriação, do foco nos resultados, da transparência e da

responsabilização na prossecução de objetivos comuns - e pela primeira vez estabelece um

enquadramento da cooperação para o desenvolvimento que abrange um leque alargado de

atores que inclui os doadores tradicionais, os atores da cooperação sul-sul, as economias

emergentes, as Organizações da Sociedade Civil e financiadores privados, constituindo um

marco na cooperação para o desenvolvimento.

2. A PARCERIA DE BUSAN PARA UMA COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO EFICAZ

A Declaração de Busan reconhece que os progressos realizados na implementação da agenda

da eficácia da ajuda continuam muito aquém do esperado, e que a arquitetura da ajuda

internacional sofreu mudanças profundas na última década que é preciso incorporar no futuro,

alargando esta agenda da eficácia da ajuda a uma perspetiva mais abrangente de “eficácia do

desenvolvimento”, unindo em torno de objetivos comuns diversos elementos e atores dessa

nova arquitetura como os novos doadores, sociedade civil, sector privado, cooperação sul-sul e

triangular, parcerias público-privadas ou o financiamento às alterações climáticas.

A Parceria de Busan assenta, assim, em 4 princípios partilhados que serão sujeitos a

acompanhamento e monitorização a nível global:

Apropriação das prioridades de desenvolvimento pelos países em desenvolvimento;

Foco nos resultados;

Parcerias de desenvolvimento inclusivas;

Transparência e Responsabilização.

Aos princípios partilhados correspondem, no entanto, compromissos diferenciados para os

diversos atores, sendo na prática vinculativos para os doadores tradicionais e numa base

voluntária para outros como os atores da cooperação sul-sul.

Dos aspetos consagrados na Declaração registe-se também: um maior enfoque na

implementação no terreno, o que implica uma maior descentralização para o terreno; um apoio

reforçado aos Estados em situação de fragilidade consubstanciado nos compromissos FOCUS

e TRUST e nos objetivos de Construção da Paz e Construção do Estado (PSGs) que integram

2 IV Fórum Internacional de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda, Busan, Coreia do Sul, Dezembro de 2011.

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o “Novo Acordo para o Envolvimento em Estados Frágeis” que Portugal endossou; os

compromissos com a igualdade de género e o empoderamento das mulheres, consubstanciado

no “Plano de Ação de Busan para a Igualdade de Género”, igualmente endossado por Portugal;

a partilha de conhecimentos e boas práticas no âmbito da cooperação sul-sul e intensificação

do uso de abordagens triangulares de cooperação para o desenvolvimento; a parceria com o

sector privado; e o financiamento das alterações climáticas.

Não obstante, a Parceria de Busan reitera os compromissos assumidos pelos doadores no

âmbito da Declaração de Paris e da Agenda para a Ação de Accra, os quais deverão ser

cumpridos pelos signatários destes documentos.

3. O PLANO DE AÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE BUSAN

3.1. OS DESAFIOS

A definição de um Plano de Ação para a Eficácia do Desenvolvimento implica para Portugal,

como ponto de partida, a contextualização com a realidade dos países parceiros da

Cooperação Portuguesa, por um lado e, por outro, a identificação das suas limitações enquanto

doador que enfrenta fortes constrangimentos orçamentais no quadro de uma conjuntura

internacional de crise generalizada.

Dos seis principais países beneficiários da Ajuda Publica ao Desenvolvimento (APD)

portuguesa, cinco são Países Menos Avançados e a maioria deles são considerados Estados

em situação de fragilidade. São países que na sua maioria, enfrentam situações de alguma

debilidade governativa, administrativa e institucional, em contextos de conflito persistente ou

intermitente, ou em paz recente, com populações pobres e carenciadas. Por essa razão, são

países que, à partida, revelam grandes dificuldades de apropriação e de liderança do seu

próprio desenvolvimento, tornando por isso o alinhamento da cooperação com as suas

prioridades, estratégias e sistemas, um desafio. Estes constrangimentos impõem,

consequentemente, limitações significativas na implementação de mecanismos de gestão

centrada em resultados e de prestação de contas mútua e obrigam a um esforço acrescido

no sentido da capacitação não só institucional mas também dos seus recursos humanos .

Portugal, por seu lado, como doador, debate-se com problemáticas próprias de um contexto

nacional e internacional desfavorável à cooperação para o desenvolvimento, num momento de

crise económica e financeira globalizada.

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Os ODM definidos em 2000 e compromisso internacional sobre o financiamento do

desenvolvimento assumido em 2002 em Monterrey, que implicaria o incremento da APD para

0,7% do Rendimento Nacional Bruto, até 2015, estão longe de ser atingidos. Em paralelo, as

várias Reuniões de Alto Nível sobre a eficácia da ajuda que se seguiram, culminando na

Declaração de Busan, vieram ainda lançar novos e maiores desafios marcando a questão da

eficácia como elemento fulcral na cooperação para o desenvolvimento.

Portugal assumiu todos os compromissos e tem vindo a orientar a sua estratégia neste sentido.

Os progressos têm sido graduais merecendo os novos desafios um inequívoco envolvimento

político e uma maior coordenação, convergência e complementaridade de esforços por parte

dos múltiplos os atores envolvidos.

3.2. A IMPLEMENTAÇÃO DOS COMPROMISSOS NACIONAIS

Em 2006 a Cooperação Portuguesa elaborou o seu primeiro “Plano de Ação para a Eficácia da

Ajuda”, no seguimento da Declaração de Paris, que foi monitorizado em 2008. Um novo

planeamento foi delineado no ano seguinte através do “Plano de Ação para a Eficácia da Ajuda

– de Paris a Accra”, refletindo já as recomendações emanadas do III Fórum de Alto Nível

realizado na capital do Gana. Seguiu-se o “Relatório de Progresso” em 2010. Estes

documentos permitiram identificar compromissos e avaliar progressos e constrangimentos na

implementação da eficácia da ajuda na cooperação portuguesa. Demonstraram, acima de tudo,

o agendamento efetivo desta problemática na política de cooperação e a preocupação com o

cumprimento dos compromissos assumidos internacionalmente. Em 2010 teve ainda lugar o

Exame do CAD/OCDE à política de cooperação, cujas conclusões nesta matéria apontaram

para progressos na área da apropriação e do alinhamento, e recomendaram sérios esforços

em matéria de harmonização, gestão para resultados e prestação de contas/responsabilização

mútua. Igualmente, os inquéritos internacionais de avaliação da implementação dos

compromissos de Paris salientam que os maiores progressos respeitam à dimensão

alinhamento.

Importa pois dar continuidade às ações que têm demonstrado resultados positivos, e

despoletar outras que se considerem merecer particular enfoque, a saber:

A gestão orientada para os resultados é, claramente, uma das áreas onde se denotam

maiores dificuldades, apesar dos progressos até aqui registados a nível da estabilização de

normas e procedimentos para a elaboração, aprovação, acompanhamento e avaliação das

atividades de cooperação, com uma clara evolução em termos de cultura de avaliação (têm

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sido conduzidas avaliações sectoriais em vários países parceiros, avaliações aos documentos

de programação, sendo ainda de registar a participação em avaliações conjuntas quer no

âmbito do CAD/OCDE e da UE, quer com os países parceiros).

Um dos passos seguintes que o presente Plano procurará monitorizar será o compromisso com

o desenvolvimento de uma matriz de indicadores de resultados (baseada, sempre que

possível, em indicadores do país parceiro) a ser incorporada, tanto na revisão anual dos

Programas Indicativos de Cooperação (PIC), como nos Programas, Projetos e Ações (PPA). A

matriz dos PIC passará a conter informação relativa aos pontos de partida dos sectores onde

se pretende intervir, as metas que se pretende alcançar e os indicadores utilizados. Esta

informação é importante para que se possam cumprir quer as recomendações das diversas

avaliações feitas aos anteriores PIC, quer as recomendações feitas pelo CAD no último exame

à Cooperação Portuguesa. A existência desta matriz permite, a todas as partes, perceber do

real impacto das intervenções da Cooperação Portuguesa no período de vigência dos diversos

PIC.

Sublinhe-se, neste âmbito, a integração da temática da gestão do risco nos PIC assinados em

2012 e a assinar futuramente. A melhoria dos sistemas estatísticos dos países parceiros

continua a ser um desafio e uma aposta sem a qual não se poderão registar avanços na gestão

para os resultados, na transparência ou na prestação de contas e responsabilização.

Os compromissos em matéria de ajuda desligada encontram-se refletidos no presente Plano,

assumindo-se em particular o objetivo de maior utilização do sistema de ofertas de ajuda

desligada da OCDE (Bulletin Board), publicitando os projetos de ajuda desligada na fase ex-

ante – antes do período de abertura dos concursos – e na fase ex-post – os resultados dos

concursos, ou seja, a informação sobre as empresas adjudicatárias.

Dando cumprimento à Recomendação para o Desligamento da Ajuda aos PMA e HIPC3 e

seguindo as orientações de reporte estatístico do Secretariado de Estatística do CAD/OCDE, a

Cooperação Portuguesa tem vindo a realizar uma profunda revisão do estatuto do ligamento de

várias tipologias de ajuda, nomeadamente E02 – Custos imputados com estudantes no país

doador, H01 – Sensibilização para o Desenvolvimento e H02 – Custos com refugiados no país

doador. Desta forma, Portugal assegura uma classificação correta do estatuto de ligamento da

ajuda, contribuindo de forma decisiva para a fiabilidade das análises comparativas do

desempenho dos doadores no âmbito da implementação da Recomendação para o

Desligamento da Ajuda.

3 HIPC – Highly Indebt Poor Countries

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Importa ainda referir que está previsto realizar um trabalho de sensibilização junto do Ministério

das Finanças e da Administração Pública (MFAP) para que este proceda a uma revisão dos

termos e condições das linhas de crédito / empréstimos concedidos , no sentido de se reavaliar

o estatuto das mesmas, dando cumprimento à recomendação que sobre esta matéria consta

do último Exame realizado à Cooperação Portuguesa.

A ajuda prestada através dos sistemas e procedimentos dos países parceiros é uma

preocupação assumida no presente Plano. Reconhecidamente as circunstâncias específicas e

particulares dos principais parceiros da Cooperação Portuguesa impõem constrangimentos

particulares a este nível e devem, por consequência, ter respostas também específicas.

Assim, os sistemas de implementação técnica das instituições da Administração Pública

beneficiária, deverão continuar a ser utilizados como veículos de implementação da APD. Por

sua vez, os sistemas de gestão financeira - que em alguns países frágeis são ainda incipientes

para assegurarem a transparência e a eficiência necessárias - devem ser integrados em

soluções de gestão conjunta. Será também preciso admitir uma maior tolerância ao risco e

promover mecanismos de decisão partilhada que promovam a responsabilidade mútua.

Em segundo lugar, a apropriação nacional, que constitui o resultado do desenvolvimento de

capacidades, requer incentivos adequados que deverão mobilizar os atores políticos e

técnicos.

Neste contexto é essencial continuar o investimento e os esforços no sentido do reforço das

capacidades dos nossos países parceiros, para que, onde não seja possível uma utilização

dos seus sistemas e procedimentos, se dê inicio a um trabalho conjunto com o Governo

parceiro, que deverá incluir a avaliação das instituições nacionais e a identificação dos

obstáculos e das necessidades de capacitação, que permita avançar para uma plena utilização

dos referidos sistemas e procedimentos. Isto é particularmente relevante em contexto de

fragilidade.

Portugal tem vindo a desenvolver ações integradas em projetos de capacitação institucional no

âmbito da promoção da reforma e modernização da administração pública, em áreas

fundamentais como o planeamento, a gestão administrativa, as finanças públicas e a

estatística. A Cooperação Portuguesa pretende continuar a apoiar no futuro ações de

capacitação nos referidos domínios, visando com isso promover a transparência, a prestação

de contas e a responsabilização por parte dos seus principais parceiros.

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A implementação dos compromissos relativos à igualdade de género impõe, desde logo, a

integração da temática nos instrumentos de programação, elaboração e aprovação dos PPA e

a adaptação dos instrumentos internos que permitam monitorizar e avaliar o impacto das

atividades da cooperação em matéria de género.

A aplicação dos princípios da eficácia do desenvolvimento em situações de conflito e de

fragilidade continuará a impor abordagens adaptadas a países com circunstâncias

particulares, pelo que as principais áreas de atuação da Cooperação Portuguesa continuarão a

ser a consolidação do Estado de Direito e o reforço das instituições democráticas, a melhoria

do funcionamento das estruturas nacionais, nomeadamente através da capacitação

institucional, e da promoção da segurança e a estabilidade desses países, incluindo através da

operacionalização da “Estratégia Nacional sobre Segurança e Desenvolvimento”4.

A ação fundamental a ser desenvolvida para a implementação da Declaração de Busan no que

diz respeito aos compromissos assumidos no âmbito do New Deal será o envolvimento ativo

de Portugal no exercício de implementação do New Deal em Timor-Leste, enquanto país piloto

de um grupo de sete países onde será testada a implementação daquele Acordo no terreno, e

a tradução para os sistemas de programação, aprovação, acompanhamento e avaliação dos

compromissos FOCUS e TRUST, por forma a incorporar os objetivos, as metas e os

indicadores sobre Construção da Paz e Construção do Estado no PIC e nos PPA de Timor-

Leste. A nível internacional Portugal procurará influenciar os debates e resultados dos fora

internacionais sobre esta matéria, em particular no contexto da UE, da rede INCAF da OCDE e

do Diálogo Internacional, de modo a que a Parceria Global de Busan assimile aqueles

resultados no seu trabalho e que os objetivos PSB venham a integrar o enquadramento

orientador da ação da comunidade internacional no pós-2015.

Reconhecendo o papel de relevo que a sociedade civil e o sector privado têm no

desenvolvimento, esta é uma das áreas previstas no Plano. Desde logo, os PIC reconhecem

a importância destes atores para os resultados do desenvolvimento, consultando e integrando

sempre que possível as suas sugestões. Por esse motivo, importa manter e reforçar o

relacionamento institucional com a Plataforma Portuguesa das ONGD e com as Fundações

para o estabelecimento de parcerias e a mobilização de fontes financiamento adicionais, em

particular as fontes internacionais. Dever-se-á, por isso, promover sinergias com a sociedade

civil e o sector privado, apresentando-se o Fórum da Cooperação para o Desenvolvimento

como o instrumento de eleição para o efeito.

4

Documento disponívelem:http://icsite.cloudapp.netdna-cdn.com/images/cooperacao/estrategia_seguranca_desenv.pdf

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O mapeamento dos instrumentos e mecanismos para o estabelecimento de parcerias com o

sector privado é um exercício fundamental que deverá ser realizado tendo em vista a sua

revisão. Deverão estabelecer-se mecanismos inovadores que facilitem a operacionalização

eficaz de ações conjuntas, a desenvolver em parceria com entidades privadas no apoio ao

desenvolvimento do sector privado nos países parceiros. Designadamente em áreas ligadas à

inovação, tendo em conta as prioridades daqueles países identificadas nos respetivos planos

nacionais de desenvolvimento.

Em matéria de transparência o Plano coloca especial ênfase na publicação (ou acessibilidade

pública) dos dados sobre as atividades da cooperação. Pelo que, a Cooperação Portuguesa

continuará a participar diretamente nos trabalhos em curso entre o Secretariado de Estatística

da OCDE e da IATI5 com vista à implementação de um standard comum e aberto para a

publicação eletrónica de informação sobre as atividades de cooperação. Este compromisso

impõe uma redefinição profunda do sistema de informação da Cooperação Portuguesa, que

simultaneamente permitirá assegurar o cumprimento integral das diretivas de notificação

estatística do CAD/OCDE e responder aos compromissos que em matéria da eficácia da ajuda

foram assumidos.

Como contributo em matéria de transparência a Cooperação Portuguesa prevê disponibilizar

para consulta on-line os dados da APD portuguesa com recurso a tabelas dinâmicas que

permitem o acesso amigável e intuitivo, em língua portuguesa e inglesa, a toda a informação

que anualmente é reportada ao CAD/OCDE. A este nível encontram-se em fase de preparação

tabelas com informação agregada, nomeadamente, por país parceiro, sector beneficiado,

tipologia da ajuda, canal da ajuda e tipo de financiamento, e tabelas com informação

desagregada ao nível do projeto de cooperação, i.e., com detalhe idêntico ao exigido no

formato CRS++.

No âmbito da previsibilidade da ajuda importa dar continuidade a alguns dos progressos já

alcançados. Em 2006 a Cooperação Portuguesa adaptou a estrutura dos seus PIC às linhas

diretrizes do Quadro Comum da UE para os Programas de Estratégia por País, e tem vindo a

assegurar um calendário dos PIC alinhado temporalmente com as Estratégias de

Desenvolvimento dos parceiros (3 a 4 anos). O maior desafio futuro residirá não só em

continuar a assegurar esta previsibilidade (de médio-prazo), mas também uma previsibilidade

anual, ou seja, sermos capazes de comunicar compromissos sólidos, aos países parceiros, a

fim de lhes permitir a inscrição desses montantes em Orçamento de Estado.

5 Iniciativa Internacional para a Transparência.

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Portugal integrou o restrito grupo de doadores que em 2012 reportou, pela primeira vez,

informação desagregada ao nível do projecto/actividade de cooperação (no formato CRS++) no

âmbito do questionário “Forward Spending and Aid Allocation Survey”, para dar resposta aos

compromissos assumidos pelo Grupo de Estatísticas do Financiamento do Desenvolvimento do

CAD/OCDE em matéria da transparência da ajuda. Portugal irá continuar a assegurar a

resposta a este questionário de forma detalhada, uma vez que corresponde às necessidades

de previsibilidade da ajuda identificadas pelos países parceiros.

A fragmentação e a descentralização são características da Cooperação Portuguesa que

deverão ser minimizadas em abordagens futuras, promovendo-se a coerência e coordenação

das atividades a este nível. A estrutura dos PIC incluirá matrizes de identificação de doadores

presentes no terreno, em linha com os princípios da “Divisão de Trabalho e

Complementaridade de Tarefas”. Operacionalizar estes princípios implica um reforço das

estruturas no terreno que permitam acompanhar as várias iniciativas em matéria de

harmonização e divisão de trabalho. Tendo em conta as suas mais-valias, a Cooperação

Portuguesa está empenhada em aprofundar estes princípios. Nesse sentido, estão em

curso iniciativas de coordenação das ações dos parceiros no terreno, onde Portugal assume o

papel de liderança, nomeadamente em Moçambique, no sector do Ensino Secundário e na

Guiné Bissau, no âmbito do Programa Educação para Todos do Fundo da Parceria Global para

a Educação, gerido pela UNICEF.

O Plano revela uma atenção particular com a adoção de novas abordagens da cooperação:

a cooperação delegada e a cooperação triangular são áreas de aposta futura, assentes nas

mais-valias da cooperação portuguesa. O Plano regista também a preocupação com a

inscrição das atividades de cooperação em programas dos países parceiros (entendendo-se

por programas os PBA6, de acordo com a definição da Declaração de Paris).

A Declaração de Busan reconhece a importância da partilha de conhecimentos e boas práticas

no âmbito da cooperação sul-sul e apela à intensificação do uso de abordagens triangulares de

cooperação para o desenvolvimento. Sendo a cooperação triangular atualmente um tema

prioritário para Portugal os esforços desenvolvidos a nível multilateral no sentido de alargar o

conceito dominante de cooperação triangular (modelo N-S-S) deverão continuar na defesa do

entendimento de que as abordagens triangulares devem abranger a diversidade de

experiências e modelos. Além de que constituem oportunidades para partilhar experiências e

conhecimento decorrentes de diferentes vantagens comparativas e assentes na

complementaridade das ações, assim como na confiança mutua. O potencial de dinamismo do

6 Um PBA é definido como “a way of engaging in development cooperation based on the principle of co-ordinated support for a locally owned programme of development, such as a national poverty reduction strategy, a sector programme, a thematic programme or a programme of a specific organization” (versão inglesa, Declaração de Paris).

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envolvimento de Portugal na cooperação triangular será tanto maior quanto maior for a sua

capacidade para influenciar a agenda internacional nesta linha. A nível da cooperação bilateral

deverá ser prosseguida uma abordagem estratégica orientadora da ident ificação de

oportunidades para o estabelecimento de parcerias triangulares que concorram para o alcance

de resultados eficazes ao nível do desenvolvimento dos países parceiros.

Pretende-se ainda reforçar a coerência das outras políticas públicas em áreas como o

ambiente e clima, a segurança alimentar, a paz e segurança, as finanças e o comércio e

investimento com a política de cooperação para o desenvolvimento, sobretudo no que toca à

minimização dos impactos negativos das referidas políticas públicas sobre o desenvolvimento

de países terceiros. Neste domínio deverá ser reforçada a coordenação interministerial, assim

como a articulação entre as políticas nacionais e os objectivos de desenvolvimento, através da

implementação da Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2010 sobre Coerência de

Políticas para o Desenvolvimento e da operacionalização da “Estratégia Nacional Segurança e

Desenvolvimento”, elaborada numa óptica de coerência das Politicas.

Portugal deverá ainda continuar a assumir um papel ativo no debate internacional sobre esta

matéria, quer ao nível da União Europeia, quer da OCDE. Para o efeito, deve ser assegurado o

trabalho conjunto com os ministérios sectoriais nos Comités e Grupos de Trabalho da OCDE

criados para promover a coerência das políticas para o desenvolvimento, objetivo político

assumido pelo Conselho de Ministros aquando da aprovação da Estratégia de

Desenvolvimento da OCDE.

As alterações climáticas são outra área que impõe desafios particulares ao desenvolvimento

a que os países em desenvolvimento são particularmente vulneráveis. O Plano compromete a

cooperação com esta área prevendo a tradução clara desta preocupação desde logo a nível

dos PIC e dos PPA, mas também na necessidade de se ajustarem mecanismos e instrumentos

que permitam acompanhar e monitorizar os progressos nesta área. De destacar, no que

concerne à persecução dos Objectivos do Rio, a utilização de marcadores que permitem

identificar as atividades que contribuam para a sustentabilidade ambiental (Ambiente Geral,

Biodiversidade, Convenção sobre as Alterações Climáticas – Mitigação, Convenção sobre as

Alterações Climáticas – Adaptação, Convenção sobre o Combate à Desertificação).

O presente Plano pretende incorporar as lições aprendidas na implementação dos planos

anteriores e os resultados dos exercícios de avaliação à Cooperação Portuguesa, tendo como

propósitos a maior qualidade e eficácia da cooperação para o desenvolvimento.