12
VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 PLANO DE GESTÃO OPERACIONAL DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO CAMPUS I DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, COM ÊNFASE NA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HIDRÁULICA Paulo Sergio Oliveira de Carvalho 1 ; Daniela da Silva Santos 2 ; João Silvino Oliveira Paiva da Silva 2 ; Saulo de Tarso Marques Bezerra 3 ; Leonardo Leite Brasil Montenegro 4 Resumo – Formulação e apresentação de um modelo otimizado para a Gestão Operacional para Sistemas Mistos de Abastecimento de Água, com fulcro na eficientização hidráulica e energética, utilizando como estudo de caso o Sistema de Abastecimento de Água do Campus I da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. O modelo compreende avaliações econômicas de consumo do sistema, cadastramento da rede hidráulica utilizando um Sistema de Informação Geografia - SIG, medições de vazão e pressão, simulações através do software EPANET e proposição para a automatização do sistema, baseado no modelo de Controle Supervisório e Aquisição de dados - SCADA. O presente trabalho apresenta resultados parciais e objetiva a implementação das proposições estudadas em sistemas de abastecimento misto, em particular na rede de abastecimento de água do Campus I da UFPB. Palavras-Chave: Gestão; eficiência hidráulica e energética; sistemas de abastecimento de água; SCADA. Abstract - Formulation and presentation of a model optimized for the Operational Administration for Mixed Systems of water supply, with fulcrum in the hydraulic and energy efficiency, using as case study the System of water supply of the Campus I of the Federal University of Paraíba - UFPB. The model understands economical evaluations of consumption of the system, register of the hydraulic network using a System of Information Geographical - SIG, flow and pressure measurements, simulations through the software EPANET and proposition for the automation of the system, based on Supervisory Control and Data Acquisition - SCADA. The present work presents partial results and aims at the implement of the propositions studied in systems of mixed provisioning, in matter in the network of water supply of the Campus I of UFPB. Keywords: Administration; hydraulic and energy efficiency; Systems of water supply; SCADA. 1 Engenheiro Civil e Tecnólogo de Nível Superior em Processamento de Dados. Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB – Fone: 0xx83-88217007. E-mail: [email protected] 2 Aluno de Graduação do Curso de Engenharia Civil – Bolsista PIBIQ – Laboratório de Recursos Hídricos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected] ; [email protected] . 3 Doutorando do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB – Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento – CT – UFPB – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected] 4 Engenheiro Civil da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba. Mestrando (aluno especial) do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected]

PLANO DE GESTÃO OPERACIONAL DO SISTEMA DE … · de abastecimento de água eficaz que garanta qualidade e quantidade adequadas, dada a importância deste componente para o atendimento

  • Upload
    dothien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

PLANO DE GESTÃO OPERACIONAL DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

DO CAMPUS I DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, COM ÊNFASE NA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HIDRÁULICA

Paulo Sergio Oliveira de Carvalho1; Daniela da Silva Santos2; João Silvino Oliveira Paiva da Silva2; Saulo de Tarso Marques Bezerra3; Leonardo Leite Brasil Montenegro4

Resumo – Formulação e apresentação de um modelo otimizado para a Gestão Operacional para Sistemas Mistos de Abastecimento de Água, com fulcro na eficientização hidráulica e energética, utilizando como estudo de caso o Sistema de Abastecimento de Água do Campus I da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. O modelo compreende avaliações econômicas de consumo do sistema, cadastramento da rede hidráulica utilizando um Sistema de Informação Geografia - SIG, medições de vazão e pressão, simulações através do software EPANET e proposição para a automatização do sistema, baseado no modelo de Controle Supervisório e Aquisição de dados - SCADA. O presente trabalho apresenta resultados parciais e objetiva a implementação das proposições estudadas em sistemas de abastecimento misto, em particular na rede de abastecimento de água do Campus I da UFPB. Palavras-Chave: Gestão; eficiência hidráulica e energética; sistemas de abastecimento de água; SCADA. Abstract - Formulation and presentation of a model optimized for the Operational Administration for Mixed Systems of water supply, with fulcrum in the hydraulic and energy efficiency, using as case study the System of water supply of the Campus I of the Federal University of Paraíba - UFPB. The model understands economical evaluations of consumption of the system, register of the hydraulic network using a System of Information Geographical - SIG, flow and pressure measurements, simulations through the software EPANET and proposition for the automation of the system, based on Supervisory Control and Data Acquisition - SCADA. The present work presents partial results and aims at the implement of the propositions studied in systems of mixed provisioning, in matter in the network of water supply of the Campus I of UFPB. Keywords: Administration; hydraulic and energy efficiency; Systems of water supply; SCADA.

1 Engenheiro Civil e Tecnólogo de Nível Superior em Processamento de Dados. Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB – Fone: 0xx83-88217007. E-mail: [email protected] 2 Aluno de Graduação do Curso de Engenharia Civil – Bolsista PIBIQ – Laboratório de Recursos Hídricos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected]; [email protected]. 3 Doutorando do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB – Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento – CT – UFPB – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected] 4 Engenheiro Civil da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba. Mestrando (aluno especial) do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa/PB. E-mail: [email protected]

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

JUSTIFICATIVA Uma cidade não pode ser concebida sem os equipamentos infra-estruturais que dão suporte a sua habitabilidade e conseqüente sustentabilidade. Neste contexto, a gestão dos recursos hídricos potenciais ao abastecimento da população, remete a necessidade de disponibilizar este recurso com garantia quanto a sua potabilidade, vazão, pressão de serviço e continuidade no fornecimento. Disponibilizar o recurso simplesmente já não basta. O mercado e a natureza exigem que os sistemas atuais utilizem técnicas que propiciem uma gestão baseada na eficiência hidráulica e energética, levando em consideração a análise econômica do custo de implantação e manutenção destes sistemas. Por outro lado, hoje com o desenvolvimento da informática dispomos de ferramentas softwares que simulam sistemas, além de outros avanços tecnológicos que foram implementados em equipamentos que são mais eficientes e consomem menos energia elétrica, bem como o uso da automação, possibilitando o gerenciamento em tempo real. Diante do exposto, verifica-se que os sistemas de abastecimento de água em funcionamento, que foram concebidos e dimensionados numa época em que estas técnicas de otimização não eram avaliadas, necessitam passar por uma readequação urgente, de forma a contemplar esta nova filosofia de projeto. INTRODUÇÃO Com a industrialização, modernização e expansão das cidades, os centros urbanos tornam-se a cada dia mais compactos e consumidores ávidos de recursos, necessitando da readequação e ampliação dos seus sistemas de infra-estrutura básica. Culturalmente fomos acostumados a tratar os recursos naturais como sendo abundantes e inesgotáveis. Hoje já conhecemos os efeitos desastrosos causados pela má administração destes recursos, a exemplo do racionamento de energia elétrica que enfrentamos há poucos anos atrás. Até então, os sistemas de abastecimento não levavam em consideração as perdas de água, visto que este insumo era abundante e possuía boas características físicas e químicas. Por outro lado não se tinha muita preocupação com o insumo energia elétrica, porque o mesmo era subsidiado e não era de sobremaneira representativo na matriz orçamentária. No contexto atual, para conseguimos suprir os centros de consumo temos de ir cada vez mais longe para captar a água, e torná-la potável está ficando a cada dia mais difícil e oneroso, devido à enorme carga de poluentes despejados nos nossos mananciais, havendo a necessidade do uso de produtos químicos e sistemas de tratamento mais elaborados. Por outro lado, a energia elétrica tem ao longo dos últimos anos acumulado aumentos tarifários sucessivos, transformando-se na grande vilã do sistema. Historicamente nunca se cobrou pelo produto água. Com a consolidação e aplicação da Lei da Outorga da Água (direito de uso da água) e a tendência de privatização em médio prazo das concessionárias de fornecimento de água, certamente fará com que as tarifas incorporem novos custos, assim, elevando o preço do metro cúbico para os consumidores. Face ao exposto, estamos sendo impelidos a desenvolver e implementar urgentemente novas técnicas para projeto e gestão dos sistemas de abastecimento existentes, sob pena de literalmente estarmos jogando “dinheiro pelo ralo” e o que é pior, desperdiçando recursos naturais preciosos. Acompanhando o processo de expansão das cidades, o ensino superior no Brasil teve um desenvolvimento expressivo, de sobremaneira na década de 70. Assim, a estrutura da UFPB cresceu consideravelmente até meados da década de 80. No entanto, os sistemas de infra-estrutura do

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

Campus I da UFPB, não foram implementados de maneira sistemática, não sendo vinculados a este desenvolvimento, desencadeando atualmente uma série de problemas e deficiências estruturais e não estruturais nestes sistemas. Destarte, o modelo de gestão a ser desenvolvido, será uma ferramenta de apoio à decisão, que poderá ser aplicada em sistemas mistos de abastecimento de água, a exemplo do estudo de caso da UFPB. REVISÃO DE LITERATURA Pode-se afirmar que uma das principais prioridades das populações é ser atendida por um sistema de abastecimento de água eficaz que garanta qualidade e quantidade adequadas, dada a importância deste componente para o atendimento das suas necessidades básicas relacionadas à sua sobrevivência e propiciar o desenvolvimento industrial (TSUTIYA, 2005). Os Sistemas de Abastecimento de Água são rotulados como sendo grandes sistemas dimensionados e destinados ao abastecimento urbano, compostos de maneira geral por unidades de captação, tratamento, estação elevatória, adução, reservatórios, rede de distribuição e ligações prediais (GOMES, 2004). Segundo Tsutiya (2005), tendo em vista a importância de um sistema de abastecimento adequado de água, grandes investimentos foram realizados nas últimas décadas do século passado, levando água de boa qualidade à população. O maior desenvolvimento destes sistemas de abastecimento de água se deu nas décadas de 1970 e 1980 com a implementação do PLANASA – Plano Nacional do Saneamento – que permitiu ao Brasil atingir níveis de atendimento de cerca de 90% da população urbana. Hoje, os centros urbanos mais desenvolvidos sofrem com a deficiência dos seus sistemas de abastecimento de água, principalmente devido à deterioração dos sistemas mais antigos, em particular no que tange a distribuição de água, tubulações antigas apresentam freqüentes vazamentos e rompimentos, ou mesmo em determinados casos há déficit/interrupção no abastecimento de determinadas áreas urbanas que apresentam rápido e desordenado crescimento. Segundo Gomes (2004), os sistemas de abastecimento devem ter o seu dimensionamento e concepção realizados de forma integrada, apesar de cada parte possuir as suas especificidades em termos técnicos do ponto de vista da engenharia, exigindo uma equipe multidisciplinar de profissionais especializados. Para o dimensionamento de cada componente, o fator econômico a ser considerado deve levar em conta os custos de investimento e de operação do sistema, de sobremaneira em sistemas em que a água conduzida ao longo de tubulações, provocam perdas consideráveis de energia no seu transporte. Finalmente, um estudo econômico se faz necessário já que o dimensionamento hidráulico de sistemas de tubulações é hidraulicamente indeterminado, ficando a mercê da experiência do projetista, podendo admitir inúmeras soluções de cálculo, bem como alternativas de projeto. No entanto, existirá apenas uma alternativa de custo mínimo, correspondente à solução ótima em termos econômicos, que será determinada pelos métodos de dimensionamento disponíveis atualmente.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

Até pouco tempo atrás, tinha-se como prioridade simplesmente fazer a água chegar à população em quantidade e com qualidade. Hoje as exigências são bem maiores, pois além de atender a estes princípios básicos, devido à escassez do recurso água associado às elevadas tarifas elétricas, os sistemas passaram a se preocupar com mais estes componentes. Chegamos a um ponto em que ou os sistemas se adaptam a nova ordem ou entrarão em colapso devido as suas baixas eficiências. Segundo Tsutiya (2001), em 1983, com o aumento nos custos de energia elétrica devido a retirada gradativa do subsídio nas tarifas para os serviços públicos de saneamento básico aliado ao aumento das tarifas acima dos índices inflacionários, levou as companhias de abastecimento a criarem programas para a redução de despesas com energia elétrica. Diante da perspectiva de crise no fornecimento de energia elétrica, o custo da tarifa tem atingido valores elevados, forçando o consumidor a buscar novas formas de conservação capazes de promover o seu uso eficaz. Devido aos elevados valores gastos com água e energia elétrica a iniciativa privada e até órgãos públicos passaram a se preocupar com os gastos destes insumos já que os mesmos vêm a cada dia se tornando mais impactantes na matriz orçamentária. Diante desta realidade em ambos os casos, seja ele privado ou público, uma das alternativas encontradas para aliviar o orçamento, foi de sobremaneira a instalação de poços tubulares onde existem aqüíferos subterrâneos. Esta alternativa funcionou bem até que a componente energia se tornasse a nova vilã. Com os altos custos atuais da energia elétrica, percebe-se claramente que para se retirar água do subsolo o investimento não se resume simplesmente ao custo de implantação dos poços, mas sim dos custos operacionais necessários ao seu funcionamento. Outro ponto a considerar é que as concessionárias de água passaram a cobrar pelo esgoto proporcional ao consumo estimado da água, onerando mais ainda as contas de água. Finalmente, num futuro não muito distante o Estado cobrará também pela água, o que elevará mais ainda os níveis tarifários das concessionárias além da possibilidade de também cobrar pela água que está sendo retirada do subsolo. Com base na atualidade e nas previsões que não são nada animadoras, necessitamos urgentemente mudar a nossa cultura de uso, bem como readaptar os sistemas atuais existentes considerando estes novos componentes e variantes, além de ter o cuidado de planejar os novos sistemas de forma a contemplar todas estas novas variáveis existentes e que ainda estão por vir. Segundo Gomes (2005), em todo o mundo, no setor de saneamento básico, principalmente nos segmentos de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, ocorrem perdas significativas e energia e água, que são inerentes às suas atividades de engenharia e gestão. As perdas de água nos sistemas de abastecimento no Brasil, que correspondem às físicas e por consumos não contabilizados, são da ordem de 40%, chegando a alcançar 70% em algumas cidades do país. Para facilitar a gestão dos sistemas, uma vez que comprovadamente ocorrem perdas significativas de ordem operacional, pode-se lançar mão da tecnologia existente, no sentido de automatizá-los. Segundo Tsutyia (2001), com o avanço na engenharia eletrônica, foi possível o desenvolvimento de computadores e equipamentos sofisticados para serem utilizados na automação de sistemas de abastecimento de água. Embora estes equipamentos aumentem os custos do sistema, a comparação técnica-econômica, normalmente é satisfatória, pois além da redução com pessoal, melhoram a eficiência dos processos como um todo, além do aumento da segurança na operação do sistema. Um dos sistemas mais difundidos e utilizados é o sistema de Controle Supervisório e Aquisição de Dados - SCADA (supervisory Control and Data Acquisition). Este sistema executa duas funções

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

distintas: controle remoto de dispositivos como bombas e válvulas e obtenção de informações como vazão ou pressão de sensores. As perdas com energia elétrica são menos representativas, pois ocorrem majoritariamente nas estações elevatórias dos sistemas de distribuição de água e de esgotamento sanitário. São perdas decorrentes da baixa eficiência dos equipamentos eletromecânicos, aliados a procedimentos operacionais inadequados e até por falha na concepção dos projetos. Isto posto, mostra que os sistemas de abastecimento contemplam a possibilidade de melhoria, pois certamente os sistemas que estão em funcionamento apresentam problemas de concepção de projeto, uma vez que os mesmos quando foram projetados não levaram em consideração estas novas condições e limitações. Além do mais a falta de investimento, sobretudo no setor público levou os seus sistemas infra-estruturais ao total abandono, sem que os mesmos acompanhassem através das adaptações necessárias as expansões implementadas nas últimas décadas. METODOLOGIA O processo de reabilitação de uma rede de abastecimento de água passa necessariamente por duas fases: diagnóstico e implantação de correções e/ou melhoramentos. O diagnóstico é sem sombra de dúvidas a parte que demanda mais tempo e esforço, pois normalmente os sistemas em sua grande maioria são carentes de cadastro atualizado e mesmo aqueles que possuem tais informações não estão em completa sintonia com a situação real. No caso da UFPB, nosso Estudo de Caso, a parte cadastral encontra-se totalmente desatualizada. Inicialmente será feito um estudo econômico, levando-se em consideração a evolução do consumo medido nos últimos anos, aumento de tarifa e será levantada a relação da componente água e energia em relação a verba de custeio contabilizada pela UFPB. Antes de começar o trabalho de cadastramento, deve-se realizar um passeio de reconhecimento por todo o sistema, incluindo os pontos de distribuição de água. Em seguida, munido de toda a informação cadastral existente disponível, sistematizar tudo em formato digitalizado. Após a sistematização das informações disponíveis, deve-se auferir “in-loco” todas as informações passíveis de aferição, utilizando para isso aparelho do tipo GPS (Sistema de Posicionamento Global) para locar geograficamente os pontos. Após a coleta destes dados, as informações serão lançadas em Sistema de Informação Geográfica – SIG Spring que é um software de livre distribuição. Por outro lado, serão realizadas simulações com o modelo existente utilizando o software EPANET que também é de livre distribuição. Para uma melhor avaliação e controle do sistema, de acordo com a geografia territorial associada aos diversos usos, o sistema será dividido em centros de consumo. Complementando o sistema de setorização, serão instalados controles de medição. Desta forma ficará mais fácil avaliar o consumo e detectar vazamentos. Após exaustivos testes e simulações em “laboratório”, finalmente serão dimensionados todos os equipamentos elétricos necessários ao funcionamento e automação do sistema se for o caso. Se for necessário o sistema elétrico poderá ser redimensionado e uma medição individual deverá ser instalada.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

Após os estudos de aprendizagem, as conclusões oriundas destes comporão um plano para o gerenciamento e funcionamento do sistema. Além do sistema básico pretende-se propor sistemas alternativos que propiciem manobras quando forem necessários reparos, minimizando ao máximo o tempo de interrupção de abastecimento. Também será avaliado e proposto uma automatização para o sistema de abastecimento, no todo ou em parte, baseado no modelo SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition). ESTUDO DE CASO Diagnóstico Inicial O campus I da UFPB é freqüentado por uma população diária de aproximadamente 25.000 pessoas a qual chamamos de comunidade universitária. A dimensão do campus que é de aproximadamente 1 milhão de metros quadrados, aliada a distribuição física das diversas unidades e setores que o compõe, com os seus diversos usos e especificidades, são responsáveis por uma grande demanda de recursos. No que diz respeito ao sistema de abastecimento de água, ele pode ser representado pela figura esquemática a seguir:

Figura 1 – Esquema do sistema de abastecimento de água do Campus I da UFPB

Conforme apresentado na Figura 1, o sistema de abastecimento recebe a denominação de sistema misto, pois é alimentado de duas formas, ou seja, pela água fornecida pela concessionária e pela água captada do subsolo através de poços tubulares profundos. O sistema de abastecimento de água da UFPB é formado em parte por uma rede antiga estruturada com tubos de cimento amianto (antigo anel) que está conectada a uma outra rede mais recente estruturada com tubos de PVC, cujas ligações entre elas são desconhecidas. A rede antiga de tubos de cimento amianto, vem apresentando vazamentos sistemáticos nas junções o que segundo as investigações realizadas por ocasião destes reparos, indica que a vida útil da tubulação chegou ao seu limite. Segundo informações passadas por funcionários que operam o sistema, os mesmos são orientados a utilizarem o mínimo possível da água adquirida da concessionária, por medida de economia, priorizando a água proveniente do bombeamento dos poços.

ÁGUA DA CONCES-SIONÁRIA

SISTEMA UFPB

CAMPUS I

ESGOTO ÁGUA DE POÇOS

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

139.548

166.239

117.458

71.31961.517

71.435

45.520

020.00040.00060.00080.000

100.000120.000140.000160.000180.000

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

ANOS

(m³)

Foi constatado que inexiste qualquer controle de medição do consumo do sistema como um todo, sendo apenas conhecido o consumo de água comprada junto à concessionária, consumo este possível de ser levantado através da contas de água. Análise Econômica e Consumo O sistema misto de abastecimento de água em estudo compreende o abastecimento de água proveniente da concessionária associado à captação de água do subsolo através de poços tubulares profundos. Para obter as informações referentes a concessionária, foi realizado um levantamento das contas de água no período compreendido entre os anos de 1999 a 2005. Após uma análise criteriosa destas informações, obtiveram-se os seguintes resultados em relação à evolução do consumo e da tarifa de água durante o período estudado. Tabela 1 – Consumo de água anual

Ano Consumo (m³) 1999 139.548 2000 166.239 2001 117.458 2002 71.319 2003 61.517 2004 71.435 2005 45.520

Figura 2 – Consumo de água anual

A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam a evolução de consumo proveniente da concessionária. Constatou-se que o consumo vem decrescendo de maneira substancial. Este decréscimo acentuado do consumo, não significa uma redução real no consumo como um todo, uma vez que este consumo reprimido de forma proposital está sendo compensado pela captação de água do subsolo, através dos poços tubulares existentes.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

19,5 21,510,3 14,7 8,2

25,519,5

45,257,7

83,3

110,9

73,9

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005ANOS

(%)

AUMENTO

ACUMULADO

Tabela 2 – Evolução da tarifa de água

Anos Aumento

(%) Acumul.(%

) 1999/2000 19,5 19,5 2000/2001 21,5 45,2 2001/2002 10,3 57,7 2002/2003 14,7 73,9 2003/2004 8,2 83,3 2004/2005 25,5 110,9

Figura 3 – Evolução da tarifa de água

A Tabela 2 e a Figura 3 apresentam a evolução do aumento tarifário. Se por um lado o consumo foi reprimido ao longo dos últimos anos, priorizando o consumo de água proveniente dos poços, por outro lado a tarifa da concessionária teve um aumento acumulado da ordem de quase 111% no período estudado. Quando o assunto é de ordem econômica, o orçamento institucional deve ser considerado. Sabe-se que as instituições públicas nos últimos anos tiveram uma previsão orçamentária modesta, carente de recursos para investimentos. A UFPB em números globais possui um orçamento considerável, no entanto a maior parte destes recursos é destinado ao pagamento dos funcionários, portanto não são gerenciáveis. Por outro lado, a verba de custeio pode e deve ser otimizada. Considerando estas afirmações, foi realizada uma análise do orçamento da UFPB, baseado em informações publicadas pela instituição. Datado de 19 de dezembro de 2005, a Proposta de Diretrizes para o Orçamento Interno da UFPB de 2006, está prevista uma dotação orçamentária total para a UFPB de R$ 457.306.793,00: R$ 455.420.382,00 do Tesouro Nacional e R$ 1.886.411,00 de Receitas Próprias. A distribuição desses recursos por fontes, tipos de despesas e níveis de ensino superior e médio foram estabelecidos conforme demonstração da Tabela 3 a seguir.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

Tabela 3 - Recursos orçamentários para a UFPB por fontes, exercícios 2005-2006 (Fonte: UFPB).

Fontes Tesouro Próprios

Total R$ Despesas

2005 2006 ▲% 2005 2006 ▲% 2005 2006 ▲% PESSOAL 411.131.414 419.787.650 2,11 411.131.414 419.787.650 2,11

Ativo 232.528.691 249.643.607 7,36 232.528.691 249.643.607 7,36Inativo 178.375.158 170.144.043 -4,61 178.375.158 170.144.043 -4,61

*Sent. Judicial 227.565 -100,00 227.565 0 -100,00OCC 35.129.909 35.632.732 1,43 1.402.168 1.886.411 34,54 36.532.077 37.519.143 2,70

Outros Custeio 33.324.035 32.236.500 -3,26 1.202.168 1.636.411 36,12 34.526.203 33.872.911 -1,89Benefícios 11.048.736 10.787.442 -2,36 11.048.736 10.787.442 -2,36Manutenção 22.275.299 21.449.058 -3,71 1.202.168 1.636.411 36,12 23.477.467 23.085.469 -1,67

Ens. Superior 21.433.724 20.554.029 -4,10 1.202.168 1.636.411 36,12 22.635.892 22.190.440 -1,97Ens. Médio 841.575 895.029 6,35 841.575 895.029 6,35

Capital 1.805.874 3.396.232 88,07 200.000 250.000 25,00 2.005.874 3.646.232 81,78Ens. Superior 1.405.000 2.981.624 112,22 200.000 250.000 25,00 1.605.000 3.231.624 101,35Ens. Médio 400.874 414.608 3,43 400.874 414.608 3,43

TOTAL 446.261.323 455.420.382 2,05 1.402.168 1.886.411 34,54 447.663.491 457.306.793 2,15

Com base no gasto anual de 2005, o desembolso com a concessionária de água CAGEPA foi de R$ 692.404,94. Como o sistema de abastecimento possui uma componente elétrica, estima-se que 5% do valor gasto foram para operar os centros de abastecimento, portanto o valor gasto estimado com energia elétrica para esta finalidade no ano de 2005 foi de R$ 104.618,31. Desta forma, perfazendo um total gasto de R$ 797.023,25 no exercício 2005. A representação a seguir, reflete a representatividade em termos percentuais deste custeio na matriz orçamentária no ano de 2005, bem como a previsão para o ano de 2006, considerando que a evolução tarifária apurada é da ordem de 16,61% ao ano.

Tabela 4 – Impacto do gasto anual com o sistema de abastecimento no orçamento da UFPB. ANO ORÇAMENTO CUSTEIO ÁGUA+ENERGIA % Relação Orçam. % Relação Custeio

2005

447.663.491,00

71.058.280,00 797.023,25 0,18 1,12

2006

457.306.793,00

71.392.054,00 924.546,97 0,20 1,30 Apesar de a primeira vista ser um valor percentual pequeno, ele se torna bastante significativo quando se verifica que o aumento percentual no orçamento da UFPB do ano de 2005 para 2006, foi de apenas 2,2%, valor bem inferior ao aumento tarifário para a água e energia elétrica. Centros de Abastecimento O sistema de abastecimento do Campus I da UFPB está distribuído geograficamente conforme apresentado na figura a seguir.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

Figura 4 – Mapeamento dos pontos de distribuição de água do Campus I da UFPB

A Figura 4 apresenta o mapa da UFPB com os quatro centros de abastecimento existentes. As setas indicam as entradas de acesso ao campus. O principal centro de abastecimento 1-RU, é alimentado pela água da concessionária e por dois poços tubulares. O centro 2-Esportes, é alimentado por um poço tubular. O centro 3-CCSA, é alimentado por um poço tubular. O centro 4-HU, é alimentado por um poço tubular. Nas visitas preliminares realizadas nestes locais, foi constatado que eles não oferecem condições satisfatórias de segurança no que se refere ao acesso de pessoas, bem como a correta proteção na vedação das cisternas e proteção dos sistemas elétricos.

Figura 5 – Falta de vedação da cisterna e presença de animais no Centro 3 - CCSA Na composição apresentada, constatou-se a completa falta de cuidados básicos com o Centro 3 - CCSA de abastecimento. O Campus I da UFPB está localizado dentro de uma reserva de Mata Atlântica rica em animais silvestres. Por este motivo, os cuidados deveriam ser redobrados em relação à vedação dos sistemas, evitando o acesso indesejável destes animais. Sem a devida

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

vedação e limpeza destes locais, existe um risco potencial de um animal cair na cisterna e contaminar a água fornecida a comunidade universitária. Também constatou-se a falta de preocupação com as instalações elétricas. Para ligar as bombas ao quadro elétrico, foi feito um furo na parede da casa de operação e a fiação foi lançada na superfície do solo, caracterizando o que vulgarmente é chamado de “gambiarra”. Ainda em relação aos Centros de Abastecimento, as figuras a seguir ilustram vazamentos, falta de proteção no acesso e a falta de cloração obrigatória das águas provenientes dos poços. No Centro de Abastecimento 3 – CCSA inexiste cloração, pois não existe equipamento instalado para este fim.

Figura 6 – Poço sem proteção Figura 7 – Vazamento em registro Centro 2 – Esportes Centro 1 - RU

Figura 8 – Flagrante da falta de cloro no dosador

Centro 1 - RU CONCLUSÕES Embora o trabalho apresente apenas resultados parciais, ele trás a tona evidências da necessidade de investimentos e melhoramentos no sistema de abastecimento de água em estudo, que apresenta problemas de ordem estrutural e não estrutural, ratificando a importância do estudo de redes de abastecimento desta natureza, onde se verifica desde a falta de cuidados básicos quanto à integridade física dos centros de abastecimento até o iminente colapso provocado pela vida útil da tubulação. Através da aplicação criteriosa de novas tecnologias e métodos apresentados, será possível a formulação de um modelo adequado de gestão, que será tema de uma dissertação de mestrado.

VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006

REFERÊNCIAS GOMES, Héber Pimentel. Eficiência hidráulica e energética em saneamento. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental: Rio de Janeiro, 2005. TSUTIYA, Milton Tomoyuki. Abastecimento de água. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2005. GOMES, Héber Pimentel. Sistemas de abastecimento de água. Editora Universitária - UFPB: João Pessoa, 2004. TSUTIYA, Milton Tomoyuki. Redução do custo de energia elétrica em sistemas de abastecimento de água. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental: São Paulo, 2001. VIEIRA, Sônia. Como escrever uma tese. Pioneira Thomson Learning Ltda: São Paulo, 1991. ABNT NBR 10520: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – Citação em documentos – Apresentação: Rio de Janeiro, ago. 2002. ABNT NBR 14724: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação: Rio de Janeiro, ago. 2002. ABNT NBR 6023: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – Referências – Elaboração: Rio de Janeiro, ago. 2002. ABNT NBR 6027: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – Sumário – Apresentação: Rio de Janeiro, mai. 2003. ABNT NBR 6028: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – Resumo – Apresentação: Rio de Janeiro, nov. 2003.