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1 Plano de Governo Cesar Souza Junior / João Amin Coligação por uma Cidade Mais Humana (Inclusiva e Sustentável) Linhas Gerais da Proposta de Plano de Governo para ser discutida com as entidades representativas da comunidade florianopolitana

Plano de Governo - clicrbs.com.br · Numa definição mais popularizada na cidade, ... classe média e a alta sociedade freqüentavam dois clubes: o Lira, ... b) De 1970 a meados

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Plano de Governo Cesar Souza Junior / João Amin

Coligação por uma Cidade Mais Humana

(Inclusiva e Sustentável)

Linhas Gerais da Proposta de Plano de Governo para ser discutida com as entidades

representativas da comunidade florianopolitana

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Apresentação

Este documento apresenta as linhas gerais da proposta

que queremos discutir com a comunidade florianopolitana, por

meio de suas entidades representativas que, ao longo da

campanha, juntamente com os candidatos a vereador de nossa

coligação e com a participação de técnicos especialistas das

diversas áreas da administração pública, serão chamados para

construir conosco um Plano de Governo por uma Cidade Mais

Humana, uma cidade mais inclusiva e mais sustentável.

Portanto, trata-se de um documento preliminar, que

procura atender as exigências legais da Justiça Eleitoral, para o

registro de nossa candidatura à prefeitura municipal de

Florianópolis, o qual será utilizado como referência nos debates e

nas reuniões com a população de nossa cidade e com as suas

entidades representativas, para a nossa trajetória rumo ao Paço

Municipal nas eleições de 2012.

Cesar Souza Junior / João Amin

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Contextualização para a construção e implementação de um novo projeto para Florianópolis:

Por uma Cidade Mais Humana

O município de Florianópolis vem sofrendo profundas modificações em

diversas dimensões. Algumas delas são muito visíveis, como o crescimento

populacional que saltou de 115.547 habitantes em 1970 para 427.298 habitantes em

2011, segundo dados do IBGE. Outro dado facilmente percebido é o número de veículos

automotores nas ruas da cidade, que passou de 159.423 em 2002 para 291.216 em maio

de 2012, segundo dados do DETRAN, o que significa quase o dobro num período de

apenas 1o anos. Muitas outras transformações ainda são visíveis, como o surgimento

de favelas e a explosão da construção de prédios no Centro e Bairros mais próximos

dessa região. No entanto, outras não são tão facilmente percebidas ou quantificadas,

como as mudanças nos hábitos e comportamentos dos cidadãos, as transformações na

cultura florianopolitana, resultante da inter-relação entre a tradicional cultura local com

a trazida por tantos migrantes do interior de Santa Catarina, de outros Estados e,

também, de outros países. Todas essas modificações implicaram na formação de uma

cidade muito mais complexa, que adquire características de um grande centro urbano,

hoje exposto na vitrine nacional e internacional, graças a diversas características

singulares. Além disso, a proximidade de municípios como São José, Biguaçú e Palhoça,

faz com que Florianópolis ganhe uma configuração de região metropolitana, na medida

em que há uma intensa relação entre esses municípios, fazendo com que compartilhem

problemas e oportunidades. Este processo de transformações se deu muito

rapidamente e, muitas vezes, as transformações ambientais, econômicas, sociais e

culturais foram ocorrendo sem que houvesse um maior aprofundamento sobre essa

trajetória e o debate sobre o interesse que a população tem de preservar seu

patrimônio, seja ele ambiental, cultural ou social. Atualmente a população se sente

assustada com essa velocidade das mudanças e se questiona para onde vai o Município

de Florianópolis, fazendo perguntas como:

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1. Como promover um desenvolvimento sustentável, estabelecendo relações

adequadas entre os aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais?

2. Como devem ser estas relações no município?

3. Como garantir a inclusão social das pessoas que vivem à margem deste

desenvolvimento?

4. Como promover a modernização sem perder elementos tradicionais importantes

de sua cultura e de suas características ecológicas?

5. Como crescer sem repetir os erros das grandes cidades?

6. Enfim, como garantir uma qualidade de vida para a nossa população e para a

nossa população futura?

Para compreender todo esse processo e propor estratégias adequadas para

questões como essas, é necessário analisar toda sua trajetória de desenvolvimento,

para que a análise dos problemas atuais seja feita de forma a levar em consideração

todos os elementos que compõem sua formação.

O passado e o presente são a base da

projeção do nosso futuro:

Existem alguns estudos que analisam os diferentes momentos que o município

viveu, organizados a partir das principais características que marcaram os períodos. Por

exemplo, o Centro de Estudos e Cultural e Cidadania – CECA apresenta a ideia de que

existiram três períodos:

1. O primeiro do início da colonização até 1926, designado de Modo de Vida Ilhéu;

2. O segundo, denominado de Desenvolvimentista, ocorreu de 1926 até 1981;

3. O terceiro denominado Ilha da Magia, que começou em 1981 e vem até os dias

atuais.

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Numa definição mais popularizada na cidade, analisando-se mais propriamente

os séculos XX e XXI, o município teria também três momentos:

1. O primeiro deles iria do início do século até os anos 1960-1970, quando se

estabeleceram na cidade a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e a

Eletrosul;

2. A chegada dessas duas organizações mudou de forma acentuada a vida social e

econômica local, e o início de suas instalações formou o segundo momento da

vida do município, dos anos 1970 a meados de 1980. A construção da Rodovia BR

101, inaugurada em 1967, também teve um papel importante a partir dos anos

1970, porque deslocou para a região litorânea o fluxo principal de riquezas, entre

o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o centro do país. Isto trouxe uma grande

repercussão sobre investimentos, adensamento demográfico e sobre a economia

da microrregião de Florianópolis;

3. O terceiro momento seria o do surgimento de forma expressiva do turismo, que

pode ter sua marca inicial em meados dos anos 1980 até os dias atuais, e da

presença de uma nova indústria, a de tecnologia da informação, principalmente

nos anos 2000.

Essa divisão é mais útil para entender melhor os problemas atuais da cidade, a

fim de se definir uma estratégia mais adequada para enfrentá-los. Neste sentido, a

titulo de contribuição para definirmos uma agenda de reuniões com as entidades

representativas da comunidade florianopolitana, apresentaremos brevemente algumas

características principais do passado mais recente do nosso município, um panorama

da situação atual e dos conflitos que assolam a cidade, e descreveremos alguns

cenários futuros para os quais poderemos caminhar, dependendo das decisões que

sejam tomadas pela futura gestão municipal. Ao final, apresentaremos, em linhas

gerais, nossos posicionamentos para que o Município de Florianópolis possa ajustar sua

trajetória no rumo de um desenvolvimento inclusivo e sustentável, enfrentando ponto

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a ponto os problemas que dificultam a construção da Florianópolis dos nossos sonhos

para os nossos filhos.

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O passado:

Apresentamos nesta etapa os dois primeiros momentos, caracterizando-se

principalmente os períodos que vão de 1950 a 1970, de 1970 a meados de 1980, e de

meados de 1980 aos dias atuais:

a) De 1950 a 1970 – a cidade possuía uma característica provinciana em seu jeito de

ser e pelo tipo de seus problemas. Com uma população muito menor que a atual,

entre os anos de 1950 e 1970, possuía menos riqueza, porém com menos

problemas sociais, e era conservadora em seus costumes, por suas características

específicas e pela própria época. A construção e inauguração da BR 101 causaram

uma alteração sensível no modo de vida e de investimentos na capital do Estado,

que não ocorria antes pelo isolamento viário, até então existente. As pessoas de

classe média e a alta sociedade freqüentavam dois clubes: o Lira, marcado por

diretorias ligadas à União Democrática Nacional – UDN, e o Clube XII de Agosto,

com diretorias ligadas ao Partido Social Democrático – PSD, partidos que

rivalizavam a política nacional e a política local. Em 1962, chega a surgir o Clube

Santa Catarina, de acesso restrito a cerca de 500 sócios, considerado altamente

elitizado e palco para festas com autoridades locais, nacionais e internacionais. A

praia da moda era a da Saudade, em Coqueiros, e freqüentavam também os

cinemas Ritz e São José. Outro ponto de destaque era o Hotel Querência, com

seu barzinho e restaurante, localizado muito próximo ao Mercado Municipal, e

muito freqüentado por essa parte da população. Um hábito característico desta

época era o “footing”, praticado na maior parte das cidades do País, onde os

jovens se encontravam caminhando por ruas do centro da cidade e pela praça XV

de Novembro. Mas havia uma clara separação do footing da classe média, que

ocorria do Palácio Cruz e Souza até a Rua Felipe Schmidt, freqüentado por

pessoas que estudavam, ou haviam estudado, no Colégio Catarinense ou no

Coração de Jesus. Do outro lado da Praça XV ocorria o footing das pessoas que

tinham menos renda, cujo principal colégio de referência era o Instituto Estadual

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de Educação. Nesse período, a economia era fundamentalmente movida pela

administração pública, de onde vinha a maior parte dos empregos da população.

Isso conferia ao florianopolitano uma imagem ruim junto aos outros municípios

de Santa Catarina, que viam a sua população com o preconceito de serem

pessoas que viviam às custas do Estado, enquanto o interior produzia riquezas.

Os municípios do interior mantinham mais contato econômico e social com as

capitais dos Estados vizinhos, Porto Alegre e Curitiba, do que propriamente com

Florianópolis. Com isso, não se percebia entre os moradores um sentimento de

orgulho em relação às características do município, que somente se fortaleceria

mais tarde. Por outro lado, não havia a presença nem de favelas nem do que se

chama atualmente de bolsões de pobreza, cuja qualidade de vida costuma ser

degradante. Por outro lado, o preconceito dos moradores do município de

Florianópolis que moravam na Ilha em relação aos que moravam no continente

era visível e cresceu com o passar dos anos;

b) De 1970 a meados de 1980 – esse período começa em meados dos anos de 1960,

mas se torna mais visível nos anos 1970. Nesse momento, a UFSC começa um

processo de crescimento e de sua consolidação, criando novos cursos e atraindo

professores e alunos de várias partes do País. Por outro lado, a instalação da

Eletrosul trouxe consigo uma leva de funcionários, a maioria do Rio de Janeiro,

com um nível salarial superior ao praticado no município. Com a Eletrosul também

vieram empresas satélites, aumentando a renda e a população local. Essas

pessoas também trouxeram outra cultura e comportamento, muito distintos do

local, colidindo com a característica conservadora que predominava na maioria da

população. Um impacto econômico importante foi a elevação dos preços locais,

que subiram rapidamente, inflacionados por uma demanda com maior poder

aquisitivo que, porém, incrementou o desenvolvimento do comércio. Nesse

período iniciou-se também, a instalação de um Pólo Médico e um Pólo

Odontológico no Município, decorrente da maior oferta de profissionais

especializados formados pelas Faculdades e pela natural atratividade da condição

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de capital do Estado e condições logísticas que começavam a ser favoráveis. É

nessa época que se iniciou a pavimentação de algumas importantes estradas no

interior da Ilha, particularmente para a região Norte. Com isso, começaram a

surgir as casas de veraneio pertencentes à população que vivia no Centro, entre

20 e 30 Km de distância de sua residência permanente, um comportamento típico

de Florianópolis. Isso proporcionou uma mudança da paisagem com a ocupação

por uma classe média crescente de áreas tradicionalmente utilizadas por

agricultores e pescadores. No setor turístico, nesse período foram dados os

primeiros passos para o financiamento de uma rede hoteleira capaz de atender a

demanda que se iniciava, surgindo o Hotel FLOPH como uma inovação para a

cidade. O comportamento social seguiu sofrendo importantes transformações,

seja numa maior liberalidade de costumes, seja nas roupas e hábitos. Mas o

choque econômico entre o padrão de renda local e dos novos moradores levou a

haver resistência por parte dos moradores tradicionais a essa leva de migrantes,

já que a diferença de renda era, por vezes, percebida como um elemento de

diferenciação entre o local e o migrante, de forma depreciativa em relação aos

considerados “nativos”;

c) De meados de 1980 ao início dos anos 2000 – as transformações desse período

foram muito mais marcantes no setor privado do que nas instâncias

governamentais, como foram os períodos anteriores. Esse período é

caracterizado pelo surgimento do turismo e da construção civil de forma

expressiva o que, como conseqüência, veio novamente proporcionar um

dinamismo no comércio local. Um dos marcos iniciais mais importantes deste

período foi a construção do Costão do Santinho Resort e SPA, que ajudou

decisivamente na transformação do conceito de turismo existente até então no

município, modernizando-o e atraindo turistas ilustres, o que começou a colocar a

cidade na mídia nacional. Já nos anos 1990, quando cresceu acentuadamente o

turismo gaúcho, o paranaense, o paulista e, particularmente, o argentino, houve a

construção de novos hotéis, pousadas e restaurantes, e a cidade, finalmente,

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começa a assumir sua característica de pólo turístico nacional. Outro

empreendimento que se tornou um referencial para a cidade foi Jurerê

Internacional, atraindo pessoas de várias partes do país e do próprio município.

Também nessa época começou uma corrida desenfreada para a construção de

casas e apartamentos que pudessem ser alugados para os veranistas, tornando-

se uma importante fonte de renda para essa parcela da população. Para as

camadas mais pobres, no entanto, apesar da ampliação de postos de trabalho

sazonais, os preços dos produtos nos supermercados subiam com o crescimento

da demanda no período de verão, afetando-os de forma desigual em relação às

outras classes sociais, que buscavam auferir ganhos com o turismo crescente.

Dessa forma, algumas regiões do município cresceram aceleradamente sem

planejamento e de forma irregular, origem de uma série de problemas atuais.

Começou a nascer a importante indústria da tecnologia da informação, que já

assume um importante papel no desenvolvimento econômico da cidade, que vem

atraindo a formação de muitas pequenas e médias empresas no setor. Isso está

fazendo com que haja uma busca por mão-de-obra especializada para atuar no

desenvolvimento de novas ferramentas para o setor da informática. Por outro

lado, o crescimento econômico acabou também atraindo trabalhadores de baixa

renda, que fugiam da falta de empregos e oportunidades no interior do Estado,

principalmente. Essa migração iniciada neste período, e também associada à

migração de outros estados, acabou por ser o embrião das principais áreas de

concentração de pobreza no município. A cidade passou a conhecer o que eram

as favelas presentes nas grandes cidades brasileiras. E elas estão proporcionando,

pela ausência do poder público, um espaço de surgimento de todos os problemas

conhecidos das grandes metrópoles: degradação ambiental; aumento do risco a

catástrofes por deslizamento de terra, enchentes e alagamentos; surgimento do

crime organizado; pobreza degradante.

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O presente:

Todo esse conjunto de transformações da sociedade florianopolitana foi

caracterizado, principalmente, por um forte movimento migratório, levando a que

cerca de 25% da população atual tenha menos de 10 anos de moradia na cidade. Em

números gerais, segundo o IBGE, o crescimento populacional dos últimos sete anos

atingiu cerca de 16%. Segundo dados publicados pelo Projeto “Sinais Vitais – Check up

Anual da Cidade”, 62% do crescimento populacional desse período foi proveniente do

processo de migração. Esse processo migratório para moradia permanente levou a

cidade a ter um perfil onde cerca de metade de sua população não nasceu no

município. Destes, metade tem origem no próprio Estado de Santa Catarina e o

restante, basicamente, é proveniente dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São

Paulo, nesta ordem. Além disso, possui uma população jovem, onde 25% têm menos de

25 anos de idade, e cerca de 50% menos de 34 anos. Isso faz com que sua população

tenha origens diversificadas, provocando um encontro de culturas, não só regionais,

mas relativa ainda à migração européia e açoriana ocorrida para a região sul do País.

Com isso, a identidade da população vem sendo formada pela interação das culturas

que foram trazidas mais recentemente e a cultura ilhéu, muito valorizada pela

qualidade de vida que costuma representar. Uma qualidade muito ligada às praias e às

belezas naturais que o município oferece. Essa identidade predominante faz com que

áreas como o Mercado Público e a Praça XV de Novembro sejam vistas por mais da

metade da população como os lugares mais tradicionais da cidade, e a ponte Hercílio

Luz como o seu símbolo principal por quase 40% dos seus habitantes. Esses números

também são indicativos de uma forte relação com o patrimônio cultural e afetivo

representado por esses símbolos. Apesar dessa diversidade da formação da população,

o cidadão percebe a cultura açoriana como a que representa com maior expressão o

Município de Florianópolis. Essa identidade tem favorecido o surgimento da figura do

“manezinho da ilha” como uma representação positiva, sendo que metade da

população o identifica com a pessoa que nasceu na ilha, que preserva sua cultura, onde

a simplicidade, a linguagem e a cordialidade são características marcantes. Supera-se

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gradativamente a visão preconceituosa inicialmente relacionada a essa identidade

cultural. O processo de formação da população do município foi acompanhado por um

crescimento e diversificação da economia. O PIB de Florianópolis evolui de cerca de 1

bilhão e novecentos e quarenta e cinco milhões em 1991 para 8 bilhões, 287 milhões e

oitocentos e noventa reais. Este crescimento não ocorreu apenas com o turismo. O

crescimento da população e da renda média dos moradores permitiu o surgimento de

um comércio moderno e estável para todo o ano, além de restaurantes, cinemas e

outros empreendimentos de lazer. Também se estabeleceram no município

empreendimentos industriais não poluentes, como diversos setores da indústria de

softwares, no campo da informática, além do surgimento expressivo da maricultura.

Além disso, estão presentes empresas de serviço que atendem demandas de outras

empresas e de pessoas físicas como: bancos; escritórios de engenharia, arquitetura,

decoração e paisagismo; empresas de marketing e comunicação; rede hoteleira,

agências de viagens e locadoras de automóveis, dentre outras. Desse modo, a cidade

se consolida como um pólo de negócios de Santa Catarina. No entanto, o documento

do Projeto “Sinais Vitais – Check up Anual da Cidade” mostra que, enquanto houve um

crescimento do PIB per capita em Santa Catarina de 5,28% entre 2000 e 2004, em

Florianópolis houve uma redução de 6,57%, o que demonstra sérios problemas no

equilíbrio entre crescimento populacional e crescimento de sua renda total. Agrava-se

esta situação analisando-se os dados de concentração de renda que mostram que em

1991 os 20% da população mais rica detinham 58,85% da renda da cidade, e passaram a

ter 60,5% em 2000. Além disso, os 20% mais pobres, no mesmo período, tiveram sua

participação reduzida de 2,8% para 2,5% (Projeto “Sinais Vitais – Check up Anual da

Cidade”). Segundo este mesmo documento, o número de Áreas de Interesse Social

(que não possuem adequadas condições de infra-estrutura, regularização fundiária,

habitação e renda) cresceu de 29 para 65, entre 1987 e 2006. Atualmente, totalizam

cerca de 65 mil pessoas vivendo nessas áreas, sendo 42% na região central e 34% no

continente, predominantemente em áreas de encosta (60%). Apesar dos investimentos

realizados pela atuação gestão no projeto Maciço do Morro da Cruz, em parceria com

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os Governos Estadual e Federal, as áreas de risco social, ainda, são um grave problema

que a administração pública de nossa cidade tem que encarar de forma decisiva, pois a

capital de melhor qualidade de vida do país não pode conviver com esta realidade. A

população de Florianópolis possui um elevado nível de escolaridade, onde não mais

que 2% são considerados analfabetos. No outro extremo, cerca de 28% possui nível

superior e 37% possui o ensino médio. Essa característica da população confere à cidade

uma capacidade importante para investimentos que exigem qualificação. A cidade

também se tornou um centro de formação de capital intelectual, com diversas

Instituições de Ensino Superior (IES), públicas e privadas, além de centros de formação

técnica. A própria migração conferiu características específicas à cidade. Os

trabalhadores menos qualificados que migraram, vieram em busca de melhores

condições de trabalho, de moradia e de rede de serviços. Entre os que possuem maior

qualificação, a busca foi no sentido de encontrar novas perspectivas de vida,

principalmente em relação ao mercado de trabalho. Outro grupo importante que

escolheu a cidade para viver, o fez devido as suas próprias condições econômicas,

como o caso de executivos de empresas internacionais, empresários e aposentados.

Todo esse processo de mudança do perfil socioeconômico da população fez com que o

serviço público seja hoje responsável por apenas cerca de 13% dos empregos, o que é

uma significativa mudança em relação ao passado, quando a cidade era apenas a

capital administrativa do Estado. Tudo isso transformou o perfil socioeconômico da

cidade, dotando-a de uma forte capacidade competitiva em diversas áreas que exigem

qualificação. Mas, essas transformações contrastam com o surgimento de problemas

que antes eram pouco percebidos: trânsito, favelas, insegurança, perda de patrimônio

natural e cultural são exemplos dos problemas mais citados por seus habitantes. Além

disso, parte da população, formada pelo cidadão comum, nascido no município, possui

ainda uma visão saudosista de uma cidade pequena, com boa qualidade de vida e

tranqüilidade, aumentando as dúvidas sobre as vantagens de seu crescimento e

modernização, e em relação a seu futuro. Alguns dos principais aspectos que mais são

sentidos pelos habitantes de Florianópolis são:

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a) Atendimento médico na saúde pública: apesar do avanço ocorrido neste setor,

nas duas últimas administrações, de Ângela Amin e do atual prefeito Dário

Berger, que deve ser reconhecido por todos, ainda existe uma forte demanda

pela melhoria da qualidade do atendimento público de saúde, tais como uma

adequada atenção ao paciente, melhoria da disponibilidade de horário de

atendimento, de disponibilidade de médicos e de pontualidade, além da

distribuição eficiente de medicamentos;

b) Habitação: um dos problemas mais premente de nossa cidade, manifestado pelos

seus habitantes, que precisa ser enfrentado de forma definitiva, é a carência de

habitação para as famílias de baixa renda. De fato, já são mais de 60 favelas no

município de Florianópolis. Algumas são mais antigas, caso das localizadas nos

morros do Centro da cidade. Todavia, nos últimos anos surgiram muitos bolsões

de pobreza, sobretudo no norte da ilha, decorrentes do crescimento populacional

e da elevação dos preços no mercado imobiliário. Infelizmente, as políticas

públicas para atender as necessidades de carência habitacional existentes têm

sido tratadas em escala individual. Além disso, não atendem às características

específicas de nossa cidade. Tais instrumentos são, acima de tudo, mecanismos

de punição e de restrições aos projetistas e construtores interessados na arte de

bem construir para toda a população. Isso sem falar da ignorância em relação aos

usos de energias alternativas (solar, eólica, etc.), que seriam extremamente

desejáveis em áreas onde as redes convencionais de serviços e de infraestrutura

não estão presentes. Ou seja, exatamente onde se imagina que serão

desenvolvidos os empreendimentos habitacionais para as famílias mais carentes.

É por isso que os ditos "planos habitacionais" até hoje implementados em nossa

cidade não tiveram um resultado definitivo, mas apenas paliativo. Não estão

vinculados à estratégia de ocupação do solo. As normas edilícias de Florianópolis,

por exemplo, poderiam exigir, incentivar e reconhecer a rica paisagem da cidade

– um esquema de permanente aceitação e atualização de equipamentos,

materiais, métodos construtivos e tecnologias inovadoras. Seriam novos

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repertórios para a composição arquitetônica e urbanística, agregando valor

intrínseco ao produto construído. O tratamento artesanal para resolver a questão

habitacional em nossa cidade reforça algumas outras idéias: (i) que todos são

capazes sozinhos de construir suas casas, como o João-de-barro. Ideia que vem se

consolidando pela eleição dos defeitos e não das virtudes do processo, (ii) que

todos terão casa própria e o dinheiro para adquiri-la ou construí-la. Tais ideias

afastam a discussão de habitabilidade, entendida como a existência do

transporte, dos serviços e equipamentos. Afastam a discussão das possibilidades

dos custos de manutenção de uma vida urbana, fatalmente agregados à "casa

própria". E afastam a tal ponto que a "casa própria" se transformou em

prioridade e não a moradia, entendida em outros parâmetros de relações

urbanas. Em resumo, se discute mais o dinheiro para a habitação do que as

soluções propriamente ditas. Tudo em função de uma falsa prioridade do que seja

"casa própria"; (iii) que existe uma "habitação popular" e logicamente uma "não

popular." Tal classificação esconde a noção de produtos piores e melhores,

menores e maiores e, também, atrapalha a discussão do que se poderia ser a

solução definitiva para este problema crônico de nossa cidade.

c) Assistência Social: a população de Florianópolis tem criticado a forma como a

assistência social vem sendo tratada pela atual administração municipal. De fato,

historicamente, a assistência social tem sido vista como uma ação

tradicionalmente paternalista e clientelista do poder público, associada às

primeiras Damas, com um caráter de "benesse", transformando o usuário na

condição de "assistido", "favorecido" e nunca como cidadão, usuário de um

serviço a que tem direito. Da mesma forma confundia-se a assistência social com

a caridade da igreja, com a ajuda aos pobres e necessitados. Assim,

tradicionalmente a assistência social era vista como assistencialista. É preciso

diferenciar os conceitos de assistência social e assistencialismo. O

assistencialismo reproduzido nas políticas sociais que, ao contrário de caminhar

na direção da consolidação de um direito de equidade social, reforçam os

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mecanismos de dependência e acentua o caráter eventual e fragmentado das

respostas dadas à problemática social. As políticas sociais governamentais devem

ser entendidas como um movimento multiderecional resultante do confronto de

interesses contraditórios e, também, enquanto mecanismos de enfrentamento da

questão social, resultantes do agravamento da crise sócio-econômica, das

desigualdades sociais, da concentração de renda e da agudização da

pauperização da população. Assim, a assistência social tem sido implementada

pela administração pública municipal de forma dicotomizada, com caráter

residual, próxima das práticas filantrôpicas, um espaço de reprodução da

exclusão e privilégios e não como mecanismo possível de universalização de

direitos sociais. É essencial tornar claro que a prestação de serviços assistenciais

não é o elemento revelador da prática assistencialista. A assistência social deve

ser orgânica às demais políticas sociais e públicas. Ela é um mecanismo de

distribuição de todas as políticas. Mais do que isso, é um mecanismo de

deselitização e consequente democratização das políticas sociais. A assistência

social tem um corte horizontal, isto é, atua no nível de todas as necessidades de

reprodução social dos cidadãos excluídos, enquanto as demais políticas sociais

tem um corte setorial (educação, saúde,...). Em outras palavras, é possível dizer

que à assistência social compete processar a distribuição das demais políticas

sociais e, também, avançar no reconhecimento dos direitos sociais dos excluídos

de nossa cidade.

d) Tratamento de água e esgoto: uma das maiores críticas da população se refere à

localização da central de tratamento de esgoto, localizada na entrada da cidade. E

mais da metade da população acredita na necessidade de ampliação da rede de

água e esgoto nos bairros. Quando ocorre o grande fluxo de turistas no verão, a

situação se agrava a ponto de a população estar sempre ameaçada por cortes de

abastecimento de água e aumento da poluição das praias;

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e) Qualidade de creches e das escolas municipais: da mesma forma que na área da

saúde, apesar do avanço que é reconhecido pela população de nossa cidade, nas

duas últimas administrações, da ex-prefeita Ângela Amin e do atual prefeito Dário

Berger, este tema ainda está ligado à insuficiência de vagas em creches e escolas

do primeiro grau e, também, relacionado à necessidade de melhores salários para

os profissionais da educação, de sua qualificação, de melhores equipamentos de

apoio às aulas e de material para pesquisa;

f) Segurança pública: o crescimento da cidade trouxe um grande aumento da

sensação de insegurança. Cerca de 72% da população percebem um aumento da

violência e cerca de 52% acreditam na necessidade de investimento e aumento do

policiamento para conter a criminalidade. A população tem reagido aumentando

a altura dos muros das residências e estabelecimentos comerciais, colocação de

alarmes, cercas elétricas e grades, enquanto aguarda uma ação mais efetiva do

Poder Público. De fato, a atual administração pública municipal pouco ou nada fez

nesta área. Salienta-se que o número de homicídios em Florianópolis, entre 2000

e 2010, praticamente duplicou;

g) Mobilidade urbana e sistema de transporte: apesar de alguns esforços

desenvolvidos nas duas últimas administrações, para a melhoria de grandes

corredores de escoamento – como são os casos da Beira Mar Norte e Sul – de

modo geral, as vias públicas não têm acompanhado o crescimento da cidade.

Possuem concepções de fluxo de trânsito incompatíveis com o volume de

veículos. A presença de automóveis é crescente, sendo que quase 50% da

população afirmam que usam rotineiramente este veículo, e cerca de 65%

afirmam que utilizam o ônibus como transporte principal. Mas o crescimento da

presença de motocicletas é significativo, chegando a 7% de usuários, inclusive

com a chegada da prática de uso de “motoboys” para apoio a serviços de tele-

entrega ou burocráticos. A utilização de transportes alternativos, como a

bicicleta, é percebida como uma opção concreta, porém de alcance limitado

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atualmente pela ausência de ciclovias. Os acidentes com motos e bicicletas

representam 45% dos acidentes de trânsito. Os atropelamentos já representam

30% das mortes por acidente de trânsito e mais da metade das vítimas de

acidentes são pessoas com menos de 30 anos de idade. A violência do trânsito

precisa ser enfrentada com rigor da fiscalização também pela Guarda Municipal.

Mas esta deve contribuir com maior ênfase no processo educacional e

transformador do trânsito em algo mais humano, do que priorizar apenas a

arrecadação municipal;

h) Desenvolvimento econômico e geração de empregos: a grande maioria da

população acredita que a cidade deve atrair empreendimentos não-poluentes

como empresas de tecnologia (um pouco mais de 80% da população) ou de

turismo, que não causem danos ambientais (cerca de 3/4 da população), sendo

que este último é percebido como a principal atividade econômica do município,

seja o turismo de lazer ou de negócios. Vamos revitalizar o Instituto de Geração

de Oportunidades de Florianópolis (IGEOF) para cumprir a função para o qual ele

foi criado. Da mesma forma, de uma vez por todas, é preciso viabilizar o Sapiens

Parque, como um parque de inovação, concebido para promover o

desenvolvimento de segmentos econômicos que já são vocações de

Florianópolis, como o turismo, a tecnologia, o meio-ambiente e serviços

especializados. Definitivamente, este parque que incorpora conceitos e diretrizes

presentes nos mais ousados e inovadores projetos do mundo nesta área, como a

economia da experiência, a sociedade do conhecimento, o desenvolvimento

sustentável, a convergência digital e a das ciências e tecnologias, a globalização

econômica e a adoção de um ciclo contínuo de inovação, tem que ser

transformado em uma realidade econômica para a nossa cidade.

i) Proteção do meio ambiente: há uma séria preocupação nesse campo que passa

por temas como a coleta seletiva do lixo, a poluição das praias pelo lixo e pelo

esgoto, a ocupação irregular de áreas. Apenas 1/4 da população acredita que o

19

meio ambiente da cidade está sendo bem preservado. Esse tema está

diretamente ligado ao tipo de desenvolvimento que se pretende para a cidade e

como deve ser considerado o seu crescimento econômico e da população. Vamos

dar a devida importância para o Plano Municipal de Resíduos Sólidos que já está

em curso, mas em uma velocidade que não atende às expectativas da nossa

população;

j) Equipamentos para o lazer e a cultura: as praias são consideradas o principal

espaço de lazer, embora sem contar ainda com serviços como banheiros públicos

e áreas de estacionamento. No entanto, há uma forte demanda pela oferta de

equipamentos que permitam lazer alternativo à praia, tais como parques e ruas

destinadas ao passeio e à diversão, em especial nas áreas de risco social deve ser

uma prioridade da administração pública municipal. A grande mobilização popular

em torno do projeto do Jardim Botânico do Itacorubi é uma clara demonstração

desta demanda. A grande maioria da população, cerca de 70%, acredita que o

atual número de habitantes não deveria crescer, sendo que outros 16% acreditam

que não deveria passar de 500 mil habitantes. Esta é uma clara sinalização sobre a

preocupação com o crescimento populacional da cidade. Isso enseja um debate

sobre caminhos para um crescimento quantitativo ou para um crescimento

qualitativo. Recentemente tem crescido um sentimento saudosista, onde a

população percebe perdas de diversos tipos de patrimônio com o crescimento da

cidade: patrimônio cultural, patrimônio arquitetônico e patrimônio natural. A

grande questão que se coloca se refere ao caminho para a construção do que

deve ser uma nova Florianópolis, onde a modernização e o crescimento

preservem diversos valores importantes para a cidade. As referências das grandes

metrópoles brasileiras, como seu conjunto de problemas no trânsito, violência,

bolsões de pobreza, falta de espaços de lazer, alto custo de vida, transporte

público deficiente, dentre outros, são mais úteis para se verificar o que não deve

ser feito. Florianópolis ainda não se enquadra completamente entre essas

metrópoles, mas deve cuidar para não seguir inercialmente nesse sentido. Do

20

ponto de vista do desenvolvimento econômico, o turismo se defronta com o

problema de falta de mão-de-obra especializada. Possui algumas características

atualmente, como o trabalho sazonal ser o primeiro emprego para muitas

pessoas ou apenas um complemento de renda. Isso faz com que se torne mais

difícil oferecer um serviço de qualidade, e os salários se tornam pouco

compensadores. O mesmo se refere à indústria de tecnologia, que muitas vezes

importa mão-de-obra, devido à carência de direcionamento de pessoal local para

atuar na área. Um problema enfrentado para o avanço do turismo tem a ver com

a questão da deficiência do saneamento nas praias, além da falta de drenagem

nas ruas e deficiência das redes fluviais. Tudo isso torna o ambiente, quando

cheio de pessoas, inadequado a um turismo de qualidade, além de afetar a vida

dos moradores. Outro problema importante a ser enfrentado é o do grande

informalidade do setor, o que reduz seu papel na sua contribuição para a

arrecadação pública que poderia ser revertida à melhoria da infra-estrutura.

Ênfase será dada na busca de trazer todo o setor para a formalidade. O desafio da

Administração Pública Municipal é o de enfrentar os problemas que afligem seus

moradores atualmente, apresentando soluções imediatas, mas coerentes com a

construção de uma cidade que atenda essas expectativas sobre seu futuro. Uma

nova administração terá que estar com as mãos no presente, mas com os olhos

no futuro, desenhado em amplo debate com toda a população. Considerando

que mais de 80% dos moradores afirmam que não gostariam de se mudar de

Florianópolis, é certo que podemos contar com a grande maioria da população

para fazer de Florianópolis o melhor lugar para se viver.

21

Possibilidades de cenários futuros:

Para que as decisões tomadas no presente resolvam os problemas atuais e, ao

mesmo tempo, orientem a construção da Florianópolis do futuro, inclusiva e

sustentável, é preciso conhecer quais as possibilidades de caminhos e de estratégias

que podem ser adotadas, e que tipo de cidade elas ajudarão a construir. Desse modo,

apresentamos a seguir duas situações futuras possíveis, que poderão ser encontradas a

partir das decisões políticas que serão tomadas pela população de Florianópolis nas

próximas eleições, no âmbito do Poder Público Municipal.

Cenário com a manutenção das estratégias atuais:

As estratégias e ações de desenvolvimento implementadas nos últimos 8 anos

indicam o apoio ao crescimento desordenado da cidade, cujos impactos se traduzem

de diferentes formas. Mantendo-se as atuais estratégias de desenvolvimento, algumas

características deverão se consolidar, a saber:

1. Elevação da renda total do município, porém com agravamento da concentração

da riqueza, proporcionada pela ausência de estratégias que incentivem a

formação da população de menor renda para atuar em áreas econômicas que se

fortalecem no município, como o turismo, a indústria tecnológica e novos

espaços de comércio. Produção de crescimento econômico com alta

concentração de renda. Reprodução das desigualdades existentes nos grandes

centros urbanos;

2. Ampliação da implementação de empreendimentos na área de turismo e

comércio, com fortes impactos ambientais, degradando áreas verdes e poluindo

as praias, tanto em relação ao problema do crescente volume de lixo e esgotos,

como pela poluição visual, com a destruição da paisagem. Nesse caso, a

tendência de aumento dos problemas de falta de saneamento básico e de

abastecimento de água torna-se cada vez mais concreta. Continuaria a haver

22

predomínio do interesse econômico sem respeito ao meio ambiente e à qualidade

de vida, colocando em risco todo o socioambiente do município;

3. Crescimento da insegurança fortalecida tanto pelo aumento da desigualdade

social, como pela falta de ação decisiva sobre o crime organizado. A reação

individual a este problema tenderá a crescer, fazendo com que a população se

cerque de diversos aparatos de segurança privada devido à omissão do Poder

Público. Crescerá a ocorrência de crimes, e a população mais carente, sem

recursos para a autoproteção, termina por sofrer de forma mais acentuada as

conseqüências mais graves. Criação de um ambiente de desconforto, afetando

inclusive a imagem turística do município;

4. Aumento das dificuldades para o deslocamento por vias públicas, já que o

crescimento do número de automóveis e motocicletas que circula não vem sendo

acompanhado por uma modernização da gestão do fluxo de veículos e pela

melhoria do transporte público. A falta de disponibilidade de horários de ônibus,

tendo como conseqüência o elevado tempo para deslocamento para quem usa

este transporte torna mais difícil a mudança da opção do uso do transporte

individual para o coletivo. Os congestionamentos tenderão a crescer e a solução

exclusivamente através de grandes obras, de elevado valor, permanece como

única estratégia, cujos esforços se tornam obsoletos em poucos anos;

5. Enfraquecimento das festas tradicionais pela valorização exclusiva de alguns

poucos eventos como o Carnaval e o Réveillon na Beira Mar. Isso leva, no longo

prazo, a perda de elementos importantes de identidade cultural, que ajudam a

tornar Florianópolis uma cidade única, e que são muito valorizados pela

população, e percebidos pelos turistas. Também este processo acabará

descaracterizando a imagem positiva da cidade, desfavorecendo o turismo de

qualidade e fazendo com que a cidade perca importantes valores de sua

formação histórica;

23

6. Ausência de investimento na profissionalização dos funcionários públicos

municipais, reduzindo a eficiência da máquina pública e prestando um serviço de

qualidade que não atende as expectativas e as necessidades do cidadão. O

crescimento da demanda por serviços públicos diante da falta de capacitação e

de investimentos tecnológicos manterá o serviço público muito distante do

padrão de vida da cidade;

7. Investimento em obras desconectadas de planos de curto, médio e longo prazos,

nas áreas da saúde, educação e infra-estrutura viária, principalmente, reduzindo a

eficácia da aplicação desses recursos. A falta de um projeto de longo prazo, na

medida em que o Plano Diretor em construção se torna um instrumento de

negociações que nada tem a ver com o interesse público, impede que as decisões

de investimentos sejam tomadas tendo como referencial como será a cidade num

prazo de, pelo menos, 10 a 20 anos. Com isso, muitos investimentos demonstram,

em pouco tempo, a sua inadequabilidade ou ineficiência;

8. Manutenção de um clima de desconfiança quanto ao comportamento ético e

moral das instituições ligadas ao Poder Público, com desdobramento sobre o

comportamento de muitos segmentos sociais que se aproveitam da falta de uma

conduta adequada de autoridades, denegrindo o ambiente social. O

comportamento político, social e ético do principal dirigente público do município

cria um efeito importante como exemplo para a população. O bom exemplo

fortalece novos tipos de comportamento em cada cidadão.

24

Cenário por uma Florianópolis mais Humana,

Inclusiva e Sustentável:

Decisões que venham a ser tomadas pelo Poder Público Municipal, tendo

como referência a construção de um projeto mais humano, inclusivo e sustentável para

a nossa cidade, podem reduzir os impactos negativos do crescimento econômico e

equilibrar o conjunto de interesses da população em relação aquilo que lhe

proporciona bem-estar e qualidade de vida. Dessa forma, é importante definir qual o

cenário futuro que se pretende construir para o município e, a partir dele, e tendo

como alvo de intervenção o conjunto dos problemas de momento, serem tomadas as

decisões que vão ao encontro das grandes expectativas atuais e futuras da população.

Num município que se transforma rapidamente, esse tipo de procedimento é

extremamente importante para que a sociedade não fique à mercê de impactos que

poderiam ter sido reduzidos ou evitados se houvesse planejamento e ações baseados

na cidade que se quer construir. Abaixo são apresentadas algumas linhas gerais que,

entendemos, devem orientar as próximas decisões político-administrativas de nosso

município. A partir delas, apresentaremos as propostas que queremos discutir com a

população de nossa cidade, por intermédio de suas entidades representativas, para

definirmos conjuntamente um Plano de Governo para o enfrentamento dos principais

problemas atuais, por uma Cidade Mais Humana. São elas:

1. Em uma “Cidade Mais Humana” o Plano diretor deve ser baseado no

planejamento socioambiental: O planejamento socioambiental é um instrumento

recente, que tem demonstrado crescente importância, porque tem assegurado

que, tanto as demandas do crescimento econômico e social como a demanda por

espaço físico territorial, podem ocorrer de maneira ambientalmente sadia. A base

natural da vida constituída pelo solo, água, ar, plantas e animais é indispensável

para o bem estar físico, emocional e espiritual do ser humano e para os demais

seres vivos, cujo direito de viver e proliferar no ambiente deve estar assegurado.

Esta base natural da vida vem sendo colocada em risco pela atividade humana

25

que tem causado a degradação dos recursos naturais. Para minimizar esta

tendência é proposto um planejamento preventivo, orientado para que a

capacidade do ecossistema, a disponibilidade de recursos naturais, as espécies,

flora e fauna, a diversidade, caráter e beleza da paisagem do ecossistema local,

devam ser mantidas de uma forma duradoura. O principal escopo é salvaguardar

a capacidade do ecossistema local. O planejamento ambiental leva em

consideração que a estrutura de ocupação espacial tem fortes implicações sobre

as funções econômicas, sociais e ambientais do espaço territorial, e por esta

razão a análise antecipada do potencial de uso do espaço físico conduz à

verificação das possibilidades de desenvolvimento municipal e formulação de

alternativas de uso que seja, ambiental e economicamente viáveis. Este

planejamento é à base de informação para a legislação ambiental e regulação do

impacto ambiental da atividade humana no território local. Projetos setoriais

(drenagem, construção de estradas, instalações de infra-estrutura, industriais,

expansão urbana, outras) precisam ser submetidas à análise, segundo sua

adequação a orientações descritas no Plano Socioambiental. Este plano passa a

ser a base para o futuro plano diretor de nossa cidade e o processo de tomada de

decisão, e em relação a projetos públicos e privados de uso do espaço físico

territorial local. O que decorre de planos diretores, até então propostos para o

Município de Florianópolis, é que estão insuficientemente alicerçados no

planejamento ambiental, que antecede as propostas de critérios de expansão

urbana, sobre os quais tem-se detido. Antes de qualquer discussão sobre os

processos de gestão a serem priorizados, o plano diretor deve conter uma base

tecnológica, expressa na forma de um Sistema de Informações Geográficas

Municipal, que caracterize com precisão, acuidade e atualização, os recursos

ambientais naturais e construídos do município, o cadastro imobiliário, mapas

biofísicos, políticos, econômicos, infra-estrutura, sociais, entre outros.

2. Em uma “Cidade Mais Humana” o desenvolvimento deve ocorrer em

consonância com a preservação dos diferentes ecossistemas que compõem o

26

Município de Florianópolis, o seu patrimônio natural – as praias, as matas nos

morros, as dunas, as lagoas, a fauna nativa e os mangues: Toda e qualquer

iniciativa, ou empreendimento, que não leve em consideração a proteção desse

conjunto que faz a imagem ambiental da cidade, e que apóia a manutenção de

uma boa qualidade de vida, deve sofrer importantes restrições, a partir do

princípio de precaução, para que os impactos não se tornem irreversíveis. É

preciso incorporar a compreensão de que o ser humano e a natureza são partes

de um mesmo todo, deixando de lado a idéia de que se pode separá-los, e fazer

uma gestão independente para cada um. Ao contrário, essa gestão da sociedade

e da natureza deve ser feita considerando ambos como partes de um sistema

único, em que o que se faz sobre um, tem impacto sobre o outro, às vezes

irreversíveis. Instrumentos como o Plano Diretor da cidade devem passar a

incorporar efetivamente esta perspectiva de desenvolvimento, e a participação

social, envolvendo amplos segmentos da população, deve ser a base de toda a

estratégia de planejamento. O uso de sistema eletrônico de monitoramento, via

satélite, da ocupação das áreas da cidade facilitam a ação da fiscalização, de

modo a impedir a destruição de áreas importantes para a cidade. Fiscalização e

monitoramento devem ser considerados instrumentos essenciais de gestão. Isto

significa a inadiável necessidade da imposição de uma Política Ambiental que seja

efetiva, estruturada através de alguns pontos principais: (i) um marco regulatório

na forma de Código Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis; a implantação

de um sistema administrativo de execução da política ambiental representado

pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, já que a FLORAM não dispõe de

estrutura legal e administrativa adequada para assumir esta tarefa complexa; o

Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro, que é fundamental para coordenar e

orientar o uso da parte terrestre da orla marinha e espaço aquático próximo, até

de 10m profundidade; a instituição do Fundo Municipal do Meio Ambiente – com

recursos do orçamento municipal, contribuições e subvenções, patrocínio de

pessoas físicas e jurídicas, convênios e contratos ligados ao tema, acordos

27

nacionais e internacionais, impostos e multas derivados da atuação dos

instrumentos da política ambiental – é essencial para captar e administrar

recursos nacionais, internacionais a serem aplicados na operacionalização da

política ambiental do Município. Torna-se, nesse contexto, essencial a

descentralização da cidade. Isso significa o estabelecimento de incentivos

(através do IPTU e de formação de estrutura básica) para a instalação de novos

empreendimentos nos bairros do continente e da ilha, evitando a continuação da

concentração no centro da cidade.

3. Em uma “Cidade Mais Humana” a educação pública deve ser em tempo

integral: a questão central do papel da Administração Pública Municipal na

condução da educação é o de cuidar da educação a partir do nascimento da

criança, principalmente no apoio às populações mais carentes. É preciso ir mais

além do que cuidar da rede municipal de educação e verdadeiramente implantar

uma visão mais ampla de educação. A Educação Infantil, como primeira etapa da

educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6

anos de idade, em seus aspectos, físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade. A instalação de creches

para atender o conjunto da população ainda é uma necessidade. Há filas para

vagas em creches e, por outro lado, essas creches ficam distantes dos locais de

trabalho das famílias. O problema da qualidade da educação, por sua vez, nem

sempre é percebido pela população, que muitas vezes está satisfeita com o

mínimo que é o de obter uma vaga para seus filhos. A preocupação da

Administração Pública Municipal deve estar dividida entre não só proporcionar

mais vagas para alunos ou vagas em creches, mas estabelecer uma política

educacional que tenha como conseqüência a formação do cidadão e a inclusão

social. É preciso considerar que o investimento em capital humano é cumulativo e

que o investimento desde o nascimento da criança é o maior investimento em

capital humano, e com grande alcance de mudança de comportamento da

sociedade, com impacto de curto e longo prazo. Nesse sentido, a própria creche

28

nem sempre consegue ser a solução como elemento educador. O maior problema

na formação básica de uma criança na idade entre 0 e 6 anos, e particularmente

nos primeiros meses de vida, é a necessidade do afeto. A creche nem sempre

representa um ambiente que corresponde ao afeto necessário para a formação

básica da criança, pouco representando um papel significativo para a

transformação da sociedade através da formação da criança. Apenas creches

excelentes conseguem assumir esse papel complementar ao da família. Portanto,

ainda que sejam necessárias vagas em creches, e isso será oferecido pela política

educacional, a melhor política é a de apoio à família, que será apresentado mais à

frente na Rede de Proteção Social. Por outro lado, para que o Município possa

superar as dificuldades encontradas atualmente nas Escolas Básicas Municipais, e

a educação seja um dos pilares da construção do desenvolvimento sustentável de

nossa cidade, propõe-se a implementação da educação pública integral. Dessa

forma, a criança e o adolescente disporão de atividades complementares,

extracurriculares, ao longo de todo o dia, proporcionando opções educativas,

esportivas e culturais. Isso favorecerá a formação de uma nova geração com uma

nova atitude como cidadão de Florianópolis. As atividades complementares não

necessitarão, necessariamente, de investimentos em obras. Serão realizados

contratos com inúmeros espaços que a cidade possui (principalmente clubes de

diversas naturezas), que se encontram ociosos, principalmente ao longo do dias

de semana. Isso vai requerer, no entanto, um esforço adicional de investimento

em salas de aula e na qualificação de professores, para que ao longo de quatro

anos de governo a escola integral possa virar uma realidade. Estudos recentes

apontam para a grande diferença existente na qualidade da escola pública entre

diferentes países, colocando como uma grande responsável, a falta de

qualificação adequada dos professores. Desse modo, a nova escola pública

integral de Florianópolis estará baseada numa forte capacitação de seus

professores.

29

4. Em uma “Cidade Mais Humana” o patrimônio cultural deve ser valorizado:

Nesse sentido, deve haver uma forte ação para a recuperação da arquitetura

tradicional, como, por exemplo, na área central da cidade – em torno do Mercado

Municipal e da Praça XV de Novembro, transformando-a em amplo espaço de

lazer e cultura. Nas praias deve ser orientada a definição de padrões de

construções, tanto modernas como tradicionais, que estabeleçam harmonias

visuais com a natureza, fortalecendo o patrimônio paisagístico da cidade. Ao

longo do ano, as festas tradicionais devem ser resgatadas (Festa da Laranja, Festa

do Divino Espírito Santo, Festa da Tainha, Festa Nosso Senhor dos Passos),

fazendo com que haja uma permanente valorização da cultura tradicional,

integrando-a com eventos modernos (Congressos e Simpósios nacionais e

internacionais, Fenaostra, Planeta Atlântida), além da desconcentração dos

eventos no tempo, já que atualmente a preocupação gira basicamente em torno

do Carnaval e do Réveillon na Beira Mar Norte. Além disso, espaços de oferta de

produtos artesanais, com a expressão maior da pluralidade cultural da cidade,

devem ser oferecidos no próprio Mercado Municipal e arredores, além da oferta

de novas áreas de lazer com equipamentos de recreação, construção de centros

culturais e de esporte. Toda essa ação fortalece a identidade do município,

diferenciando-o de outros, o que favorece sua própria estratégia de valorização

da atividade turística como um de suas mais importantes atividades econômicas;

5. Em uma “Cidade Mais Humana” o desenvolvimento econômico sustentável

deve visar a valorização das seguintes atividades: (i) qualificação do turismo com

a construção ou consolidação de importantes equipamentos, que além de

fortalecer a imagem turística também podem fornecer importantes espaços para

o lazer, para a cultura, e para o exercício físico (como, por exemplo, o Jardim

Botânico do Itacorubi, o Parque Florestal do Rio Vermelho, Marina na Baía Sul),

que se integrem ao patrimônio das praias, rede hoteleira, hotéis e pousadas.

Esses investimentos devem ser apoiados num amplo programa de capacitação da

população para o relacionamento com o turista; (ii) fortalecimento da cidade

30

como um centro de compras, favorecendo a integração desta atividade comercial

com diversas modalidades de turismo; (iii) maiores esforços para a abertura da

cidade para o mar, tanto com a promoção de eventos náuticos como pela criação

de novos espaços para embarcações, que não comprometam o meio ambiente ou

as populações que vivem da pesca ou da maricultura; (iv) criação de um cluster

tecnológico como decorrência natural do parque tecnológico já instalado e,

sobretudo, com a viabilização definitiva do Sapiens Parque, utilizando a

proximidade de centros de educação universitária, como forma de se estimular a

inovação das empresas em geral e, em especial, das micro e pequenas, a grande

maioria e de se obter sinergia com melhoria da competitividade empresarial. A

criação do cluster enseja a necessidade de se unir academia e organizações

tecnológicas ao tecido empresarial constituído em grande parte de micro e

pequenas empresas e ocorrerá pela concessão de um “voucher da inovação”,

premiando os melhores projetos com parceria entre mercado, organizações

tecnológicas e academia. O cluster tecnológico é uma tendência da economia

moderna e vem ao encontro da valorização de atividades industriais que

fortaleçam a imagem de uma cidade tecnológica, com a atração e consolidação

de empresas produtoras de softwares e hardwares e outras empresas de

tecnologia, não poluidoras, o que requer parcerias (por exemplo, com SENAI,

SEBRAE) para a formação de empreendedores e de força de trabalho qualificada,

amparando-se nos centros de excelência de construção do conhecimento (por

exemplo, UFSC, UDESC, IFESC, UNISUL, UNIVALI) voltado para a inovação e para

a criação de incubadoras deste tipo de empresas. Desconcentração da geração de

empregos, através de incentivos fiscais, para a formação de pequenos, médios e

grandes empreendimentos no Norte e Sul da Ilha de Santa Catarina, e na parte

Continental da cidade. Uma proposta inovadora para a cidade é assumir como

estratégia empresarial a chamada Economia do Conhecimento, que será a mais

importante estratégia em parceria com o setor empresarial e a sociedade de

modo geral;

31

6. Em uma “Cidade Mais Humana” a saúde pública deve atender as necessidades

dos seus cidadãos: algumas ações são fundamentais para que o sistema de saúde

possa atuar voltado para a sustentabilidade do desenvolvimento. Há, atualmente,

um acúmulo de consultas em espera, o que inviabiliza qualquer planejamento de

médio e longo prazo. É necessário, portanto, eliminar essas condenáveis filas,

fazendo-se um mutirão, bairro a bairro, com o conjunto de médicos necessários.

Essa desobstrução permitirá não só atender a pessoas que estão aguardando há

muito tempo na fila, como permitirá que os novos procedimentos venham a ter

eficácia. Porém, para manter a população com um atendimento preventivo,

buscando-se valorizar a saúde e não as doenças, equipes médicas visitarão

periodicamente órgãos públicos, escolas e empresas, fazendo exames

preventivos, como exames básicos de sangue, câncer na próstata, câncer de colo

de útero, AIDS, dentre outros. Isso evitará o desenvolvimento desse tipo de

enfermidades, melhorando a qualidade de vida das pessoas e reduzindo os custos

de internação hospitalar. Considerando o rápido crescimento populacional, o

avanço da demandas decorrentes de estatísticas de internações hospitalares, o

alto índice de mortalidade causado por acidentes de trânsito, violência e avanço

da epidemia de AIDS e da gripe A, além da potencialidade do surgimento da

dengue, a falta de eficiência no atendimento e na disponibilidade de

medicamentos, o sistema de saúde municipal precisa atuar de forma a atender as

necessidades da população de nossa cidade.

7. Em uma “Cidade Mais Humana” a inclusão social deve ser uma preocupação

permanente, o que deve significar uma política de assistência social efetiva de

maneira que os pólos de concentração de pobreza possam ter uma adequada

urbanização e condições adequadas de habitação. Da mesma forma, deve haver

um forte investimento na qualificação da força de trabalho, para que ela possa

ser absorvida pelo comércio, indústria tecnológica e empreendimentos

turísticos, saindo de sua eterna condição de dependência e de necessidade de

assistencialismo: O risco de crescimento da desigualdade é significativo se o

32

crescimento qualitativo da cidade, em termos econômicos, não for acompanhado

pelo investimento no capital humano (qualificação das pessoas) e do capital

social (fortalecimento das redes de relações entre pessoas e organizações).

Programas de ocupação do tempo da juventude de baixa renda, como o esporte

ou acesso a recursos tecnológicos (inclusão digital), devem ser permanentes,

criando momentos de lazer e de construção de novas perspectivas de vida. Nesse

sentido, implantar a Escola Pública de Tempo Integral é uma proposta muito

importante. Isso pode ser feito sem grandes obras, centralizando os

investimentos na qualificação do ensino, através de parcerias com espaços já

existentes, como clubes e parques esportivos, cuja utilização é bastante ociosa.

Nesse sentido, as atividades educacionais e esportivas devem aglutinar as famílias

dos alunos em torno das escolas, de modo a criar uma responsabilidade mútua

em relação à escola. Quanto maior a participação da família, melhor a gestão do

ensino. Outra proposta é a formação de parcerias com a importante indústria

tecnológica da cidade para promover a inclusão digital entre jovens da população

mais carente, podendo-se, inclusive, transformar essas comunidades em pólos de

avaliação de uso de novos programas, como videogames;

8. Em uma “Cidade Mais Humana” a segurança deve ser prioritariamente uma

ação do Poder Público, e não deve ser transferida em quase sua totalidade para

uma ação individual e privada: Nesse sentido, uma maior ação das Polícias Militar

e Civil, como o FORÇATUR, complementadas por uma Guarda Municipal com

características de policiamento comunitário, principalmente voltado para o

trânsito e a educação, são condições essenciais para qualquer perspectiva de um

cenário de tranqüilidade social. A formação de um Fundo de Segurança, onde

empresas e indivíduos contribuam e participem das decisões da ação de

policiamento comunitário pode assegurar um complemento importante em

relação às ações das Polícias, que são tarefas do Governo do Estado. A radical

intolerância com o crime organizado deve ser estabelecida para que este não

submeta a rotina da população aos seus interesses. O apoio à formação e à

33

manutenção dos CONSEG’s (Conselhos Municipais de Segurança) nos diferentes

bairros da cidade deverão ser priorizados com vistas a cooperação das

comunidades;

9. Em uma “Cidade Mais Humana” a mobilidade urbana deve melhorar e não

somente obras para melhorar o escoamento de veículos: Requer uma ação

integrada entre essas obras, com a melhoria da gestão do fluxo dos veículos e a

melhoria da oferta de transporte público. Exemplo de medidas que não requerem

muito investimento é a criação de faixa exclusiva para ônibus, nas grandes vias da

cidade, o que torna o transporte público mais eficiente e mais atraente, e

desafoga o fluxo de automóveis (sistema já praticado nas cidades mais modernas

do Brasil e do mundo), além da adoção do sistema de transporte marítimo,

aproveitando o potencial das baías norte e sul – atenderá os moradores da região

norte, sul e do continente. Outra medida de baixo custo é a inversão da mão de

uma faixa nas pontes, no horário de maior movimento, com exclusividade para

ônibus, no sentido em que o fluxo é maior. Essa melhor gestão está também

relacionada à organização dos semáforos – já existem sistemas inteligentes de

semáforos que regulam o melhor fluxo do trânsito – de rótulas, de adequadas

sinalizações e de um rígido sistema que obrigue o motorista ao cumprimento do

Código de Trânsito, além de revitalização das passagens para pedestres. Nesse

sentido, deve-se priorizar a orientação e a fiscalização antecipada ao

descumprimento de normas, impedindo que elas ocorram, em substituição à

simples aplicação de multas, cujo objetivo, muitas vezes, não é o de promover a

melhoria do trânsito, mas de favorecer a arrecadação financeira. Para apoiar essa

proposta, a Guarda Municipal deverá cumprir papel fundamental, seja nas vias

públicas, seja educando nas escolas e em outros espaços comunitários. Deve-se

buscar impedir que o trânsito não paralise a cidade, mas impedir ainda que ele

seja um fator de tensão e agressividade. É preciso humanizar também o trânsito;

34

10. Em uma “Cidade Mais Humana” deve descentralizar a gestão pública para as

diversas comunidades (Centro e Bairros), buscando o diálogo direto com a

população e o envolvimento da Câmara de Vereadores, é o principal mecanismo

para melhor administrar os interesses locais, voltados para um desenvolvimento

sustentável: A profissionalização da administração municipal e a implantação de

sistemas modernos e informatizados de gestão é um ponto básico para fazer com

que a população tenha um serviço público de alta qualidade. Além disso, para

tornar mais eficiente a administração municipal, devem ser criados indicadores de

desempenho para avaliação da atuação do Secretariado Municipal, que deverá

ser composto a partir de critérios de qualificação profissional e conduta ética na

vida pública e privada. Por fim, a transparência da gestão pública deve ser

absoluta, colocando-se as contas públicas à disposição, on-line, através da

Internet, de forma a que qualquer cidadão possa controlar os gastos da

administração municipal;

11. Em uma “Cidade Mais Humana” a prática de esporte e lazer devem ser

valorizadas: O esporte deve estar ligado ao desenvolvimento econômico

sustentável do município e estar diretamente relacionado às propostas de

educação, saúde e inclusão social. Florianópolis possui características que a

podem consolidar como a “Capital do Esporte” da região sul do Brasil. Para isso,

além de fortalecer esportes onde já há tradição local, como o surf e o tênis,

estimular o desenvolvimento de esportes náuticos e apoiar inovadores, que

podem atrair jovens para novas modalidades. Por outro lado, a cidade pode

estabelecer programas que favoreçam a prática rotineira de atividades físicas,

promovendo o bem-estar geral da saúde de sua população.