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Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Grande – PIRH-Grande

PRODUTO PARCIAL PP-06 AVALIAÇÃO E PROPOSTA DE APERFEIÇOAMENTO DO ARRANJO INSTITUCIONAL,

RECOMENDAÇÕES PARA OS SETORES USUÁRIOS, ESTRATÉGIAS E ROTEIRO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

ELABORADO: APROVADO:

Marcos Oliveira Godoi

A.P.A. / M.L.G / M.A.P. ART Nº 92221220160586822

CREA Nº 0605018477-SP

VERIFICADO: COORDENADOR GERAL:

A.P.A. Danny Dalberson de Oliveira

ART Nº 92221220160583716

Nº (CLIENTE):

CREA Nº 0600495622-SP

DATA: 04/08/2017

FOLHA:

Nº ENGECORPS:

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AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

ANA

Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Grande – PIRH-

Grande

PRODUTO PARCIAL PP-06

AVALIAÇÃO E PROPOSTA DE

APERFEIÇOAMENTO DO ARRANJO

INSTITUCIONAL, RECOMENDAÇÕES PARA OS

SETORES USUÁRIOS, ESTRATÉGIAS E ROTEIRO

PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

ENGECORPS ENGENHARIA S.A.

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Agosto / 2017

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Agência Nacional de Águas – ANA

Setor Policial - SPO, Área 5, Quadra 3, Bloco “M”

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Segundo Contrato nº 021/2016/ANA, Cláusula Terceira, Inciso II, alínea n), durante a elaboração do trabalho, a

CONTRATADA deverá abster-se de veicular publicidade ou qualquer outra informação acerca do Contrato, sem prévia

autorização da CONTRATANTE.

Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio

Grande – PIRH-Grande, Produto Parcial PP-06. Avaliação e

Proposta de Aperfeiçoamento do Arranjo Institucional,

Recomendações para os Setores Usuários, Estratégias e

Roteiro para a Implementação do Plano

109p

Agência Nacional de Águas - Brasília: ANA/SPR,

ENGECORPS ENGENHARIA S.A., 2017.

1. Recursos Hídricos 2. Produção de Água I. Agência

Nacional de Águas (Brasil). II. Superintendência de

Planejamento de Recursos Hídricos. III. Engecorps

Engenharia S.A.

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ÍNDICE

PÁG.

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5

2. AVALIAÇÃO DO ARRANJO INSTITUCIONAL EXISTENTE E PROPOSTA DE

APERFEIÇOAMENTO PARA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO

GRANDE ................................................................................................................................. 6

2.1 PREMISSAS DO ESTUDO .............................................................................................................. 6

2.2 O DOMÍNIO DAS ÁGUAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL .................................................................... 9

2.3 POLÍTICAS DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................................. 9

2.4 INSTRUMENTOS DE GESTÃO ...................................................................................................... 11

2.4.1 Plano de Recursos Hídricos..................................................................................................... 11

2.4.2 Sistema de Informações .......................................................................................................... 13

2.4.3 Outorgas de Direito de Uso de Recursos Hídricos ................................................................... 16

2.4.4 Enquadramento dos Corpos Hídricos ...................................................................................... 21

2.4.5 Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos ................................................................................ 27

2.5 AVALIAÇÃO DA MATRIZ INSTITUCIONAL VIGENTE E PROPOSTAS DE MELHORIAS............................... 30

2.5.1 Âmbito Federal ....................................................................................................................... 30

2.5.2 Âmbito Estadual: São Paulo .................................................................................................... 36

2.5.3 Âmbito Estadual: Minas Gerais .............................................................................................. 41

2.5.4 Propostas de Articulação Institucional ..................................................................................... 45

2.6 AGÊNCIA DE BACIA HIDROGRÁFICA ............................................................................................ 47

2.6.1 Relação entre Agência e o Comitê .......................................................................................... 48

2.6.2 Figuras Jurídicas Passíveis de Constituir Agência ...................................................................... 50

2.6.3 A Questão Legislativa Vigente ................................................................................................. 54

2.6.4 Âmbito Federal ....................................................................................................................... 55

2.6.5 São Paulo ............................................................................................................................... 57

2.6.6 Minas Gerais .......................................................................................................................... 59

2.6.7 Propostas ............................................................................................................................... 62

3. RECOMENDAÇÕES PARA OS SETORES USUÁRIOS E GESTORES ......................................... 63

3.1 A VISÃO DA BACIA DO RIO GRANDE .......................................................................................... 63

3.2 AVALIAÇÃO DOS USOS SETORIAIS DO SOLO E DOS RECURSOS HÍDRICOS ....................................... 71

3.2.1 O Uso e Ocupação do Solo e as Interfaces das Políticas Públicas Municipais com a Gestão dos

Recursos Hídricos na Bacia do Rio Grande .............................................................................. 71

3.2.2 Saneamento e Manejo de Águas Pluviais na Bacia do Rio Grande ............................................ 72

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3.2.3 Macrozoneamento do Território da Bacia do Rio Grande ........................................................ 75

3.3 PROPOSTA DE AJUSTES E ADEQUAÇÕES NAS POLÍTICAS, PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS SETORIAIS

.............................................................................................................................................. 77

3.3.1 Recomendações para a Efetiva Participação dos Setores Usuários nos Colegiados Gestores e na

Futura Agência de Bacia ......................................................................................................... 77

3.3.2 Propostas para o Setor da Irrigação e Agropecuária ................................................................. 78

3.3.3 Propostas para o Setor de Saneamento ................................................................................... 80

3.3.4 Propostas para os Usuários Industriais..................................................................................... 81

3.3.5 Propostas para o Setor Energético ........................................................................................... 82

3.3.6 Propostas para os Setores de Pesca, Turismo e Lazer ............................................................... 84

4. ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS INSTITUCIONAIS E ROTEIRO METODOLÓGICO

PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PIRH-GRANDE .................................................................... 86

4.1 ANÁLISE DA ESTRUTURA PROGRAMÁTICA ESTABELECIDA FRENTE À REALIDADE POLÍTICO-INSTITUCIONAL

DA BACIA ................................................................................................................................ 86

4.2 DEFINIÇÃO DE PRÁTICAS E METODOLOGIAS PARA GERENCIAMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PIRH-

GRANDE ................................................................................................................................. 87

4.2.1 Estratégias Institucionais para Implementar o PIRH-Grande ..................................................... 88

4.2.2 Metodologia de Controle e Acompanhamento do PIRH-Grande .............................................. 91

4.3 ESTABELECIMENTO DOS CAMINHOS A SEREM PERCORRIDOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO ... 100

4.3.1 Articulação entre os Órgãos Gestores ................................................................................... 100

4.3.2 Inserção do PIRH-Grande na Agenda Política e Institucional da Bacia .................................... 101

4.3.3 Alocação e Execução Orçamentária ...................................................................................... 102

4.3.4 Financiamento de Programas Contínuos do PIRH-Grande ..................................................... 103

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 108

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1. INTRODUÇÃO

O presente documento é parte integrante da etapa de elaboração do Plano de Ações do PIRH-

Grande e, atendendo ao Termo de Referência e ao Plano de Trabalho da ENGECORPS, está

estruturado nos seguintes capítulos, após esta Introdução:

Capítulo 2: Avaliação do Arranjo Institucional Existente e Proposta de Aperfeiçoamento

para a Gestão de Recursos Hídricos na Bacia do Rio Grande;

Capítulo 3: Recomendações para os Setores Usuários e Gestores;

Capítulo 4: Estabelecimento de Estratégias Institucionais e Roteiro Metodológico para

Implementação do PIRH-Grande; e

Capítulo 5: Referências Bibliográficas, relacionando as fontes de consulta utilizadas para

elaboração do presente relatório.

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2. AVALIAÇÃO DO ARRANJO INSTITUCIONAL EXISTENTE E PROPOSTA DE

APERFEIÇOAMENTO PARA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO

RIO GRANDE

2.1 PREMISSAS DO ESTUDO

Na elaboração de uma análise dos aspectos jurídicos e institucionais em vigor na Bacia

Hidrográfica do Rio Grande cabe definir, como base conceitual do estudo, os seguintes

objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos previsto na Lei nº 9.433/1997, quais sejam,

o de 1. assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões

de qualidade adequados aos respectivos usos; 2. a utilização racional e integrada dos recursos

hídricos, com vistas ao desenvolvimento sustentável e 3. a prevenção e a defesa contra eventos

hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.1

Esse desafio pressupõe que um Plano de Recursos Hídricos para essa bacia hidrográfica, com

suas propostas devidamente explicitadas e aprovadas no âmbito do Comitê de Bacia

Hidrográfica, deverá constituir um plano de ação para todos os diversos atores, com vistas a

promover um verdadeiro diferencial nos aspectos qualitativos e quantitativos das águas.

A gestão de recursos hídricos em bacias que possuem corpos hídricos de domínios distintos,

como é o caso da bacia hidrográfica do rio Grande, pressupõe que exista uma convergência

relevante tanto nas normas operativas, relacionadas com a implementação dos instrumentos de

gestão, como no estabelecimento de uma articulação institucional e um sistema de governança

sistemáticos e permanentes.

Essa necessidade de convergência se fundamenta na Lei nº 9.433/1997, que estabelece a bacia

hidrográfica como a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos2

. Desse

dispositivo decorrem dois resultados: o primeiro é que, quando da aplicação dos diversos

instrumentos de gestão legalmente previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos, se

estabeleça o maior nível de compatibilização possível, de forma a facilitar a compreensão dos

procedimentos e o seu respectivo resultado. O segundo é que, para garantir essa

compatibilização, é necessário um grande esforço de articulação e cooperação institucional,

considerando os três entes federativos envolvidos: a União e os estados de Minas Gerais e São

Paulo.

A articulação institucional, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos, é fator relevante e necessário para a atuação dos atores e para o alcance de suas

finalidades. A gestão de uma bacia hidrográfica deve ser orgânica, ainda que vários órgãos e

entidades, inclusive aquelas privadas, exerçam competências legais sobre esse espaço

(GRANZIERA, 2015).

1 Lei nº 9.433/1997, art. 2º.

2 Lei nº 9.433/1997, art. 1º, V.

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Observa-se, por oportuno, que o arcabouço jurídico nacional a respeito da gestão de recursos

hídricos estabelece em diversas normativas a necessidade de integração e articulação entre os

órgãos envolvidos na gestão de uma bacia hidrográfica, tanto na compatibilização qualitativa e

quantitativa de instrumentos como, também, nas bases de dados.

Importante salientar que não se espera uma uniformização total das normas e dos

procedimentos aplicáveis, mas que se empreendam esforços visando à compatibilização nos

fatores relevantes para a gestão integrada da bacia.

No que se refere ao Sistema de Gerenciamento, a lei prevê que a atuação dos órgãos e

entidades na bacia hidrográfica esteja em sintonia, o que deve ter início já durante a

elaboração do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Rio Grande – PIRH-Grande,

buscando-se uma governança capaz de assegurar um avanço real na gestão desse espaço

geográfico.

As diretrizes gerais de ação para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos,

previstas no art. 3º da Lei nº 9.433/1997, constituem outra base conceitual para a análise dos

aspectos jurídicos e institucionais. A seguir serão destacadas aquelas que se relacionam mais

diretamente com o Plano de Bacia Hidrográfica e sua implementação.

A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e

qualidade, e a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental têm como

significado que os órgãos e entidades com atribuições relacionadas com recursos hídricos e

com meio ambiente devem atuar em sintonia, e utilizando-se de procedimentos compatíveis e

coordenados. Isso vale principalmente para o enquadramento de corpos hídricos em classes de

uso preponderantes, como será visto adiante.

A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo pressupõe que os municípios

da bacia hidrográfica são atores de fundamental importância na gestão da água, muito embora

não detenham seu domínio e possuam apenas uma parcela de participação no Comitê de

Bacia Hidrográfica. A implementação do Plano de Recursos Hídricos deve ocorrer em

articulação com o planejamento municipal, sobretudo os planos diretores e os planos

municipais de saneamento básico. Isso pressupõe a necessidade de trazer os municípios para as

discussões acerca da implementação do plano.

Além disso, a Lei nº 9.433/1997 estabelece, em seu art. 4º, que a União articular-se-á com os

Estados tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum. Esse

dispositivo estabelece uma diretriz para os entes federados, no que se refere à necessidade de

articulação e cooperação, no âmbito de todos os Comitês de Bacia Hidrográfica que compõem

a bacia do rio Grande.

A partir das observações efetuadas, importa definir, para o presente trabalho, que os temas a

serem objeto de análise terão como enfoque básico, a articulação institucional e a governança

como instrumentos de implementação do PIRH- Grande.

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Articular, para os fins ora propostos, consiste no entendimento, na discussão, na troca de

informações entre os órgãos e entidades públicas e privadas, voltados a proteção dos recursos

hídricos e à implementação do plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica. O objetivo

seria buscar, na medida do possível, a padronização e a simplificação dos procedimentos

administrativos, conferindo maior segurança jurídica tanto aos usuários quanto à sociedade,

como aos próprios representantes das entidades públicas ou privadas encarregadas de

implementar os instrumentos de gestão, incluindo o Plano de Bacia Hidrográfica.

É também importante incluir o conceito de governança nos processos decisórios de cunho

governamental, em que se implantam padrões de articulação e cooperação entre atores sociais

e políticos e arranjos institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das

fronteiras do sistema econômico (SANTOS, 1997).

Segundo o Banco Mundial, em seu documento Governance and Development, de 1992, a

definição geral de governança é o exercício da autoridade, controle, administração, poder de

governo. Precisando melhor, trata-se da maneira pela qual o poder é exercido na administração

dos recursos sociais e econômicos de um país visando ao desenvolvimento, implicando ainda a

capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções

(GONÇALVES, 2005).

Destacam-se ainda duas questões no que concerne à governança. Em primeiro lugar, uma

‘boa’ governança é um requisito fundamental para um desenvolvimento sustentado, que

incorpora a equidade social e os direitos humanos ao crescimento econômico. Em segundo

lugar, os procedimentos e práticas governamentais na consecução de suas metas adquire

relevância, incluindo aspectos como o formato institucional do processo decisório, a articulação

público-privada na formulação de políticas ou ainda a abertura maior ou menor para a

participação dos setores interessados ou de distintas esferas de poder (BANCO MUNDIAL,

1992).

Pode-se afirmar que a governança aplicada aos processos decisórios relativos aos recursos

hídricos diz respeito, inicialmente, à implementação dos planos de recursos hídricos,

instrumento chave para que se desencadeiem todas as ações necessárias para modificar a

situação atual da bacia hidrográfica, introduzindo uma nova forma de gestão, com impactos

positivos na qualidade e quantidade dos recursos hídricos.

Essa alteração passa pela capacidade de todos os atores de estabelecer uma articulação

permanente, no que se refere tanto à formulação do plano e à fixação das metas, como à sua

implementação, na busca de recursos e projetos que possam responder às necessidades locais.

Importa lembrar o papel dos Comitês de Bacia Hidrográfica nessa questão, pois a eles compete

acompanhar a execução e aprovar o Plano.

Ainda sobre a governança, os Princípios da OCDE para a Governança da Água visam contribuir

para políticas públicas claras e orientadas para resultados, com base em três dimensões que se

complementam e reforçam mutuamente: 1. Eficácia: diz respeito à contribuição da governança

para a definição de objetivos e metas claros e sustentáveis para as políticas da água a todos os

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níveis de governo, para a prossecução desses objetivos e para o cumprimento das metas

desejadas; 2. Eficiência: diz respeito à contribuição da governança para a maximização dos

benefícios de uma gestão sustentável da água e bem-estar associado ao menor custo para a

sociedade e 3. Confiança e Compromisso: dizem respeito a contribuição da governança para o

reforço da confiança da sociedade e para garantir a inclusão das partes interessadas através de

mecanismos de legitimação democrática e de equidade para a sociedade como um todo.3

Esses princípios constituem uma base lógica de ação, a ser incorporada às atividades

relacionadas com a implementação do PIRH-Grande.

2.2 O DOMÍNIO DAS ÁGUAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A questão do domínio hídrico é aqui introduzida na medida de sua importância no que se

refere à gestão dos recursos hídricos. A partir da Constituição de 1946, o domínio das águas no

Brasil ficou distribuído entre a União e os Estados Federados (e Distrito Federal), suprimindo o

domínio dos municípios e de particulares, vigente nas constituições anteriores. Consagrada nas

demais cartas editadas desde então, essa distribuição de poder e responsabilidade vem

obrigando União e Estados a se articular em praticamente 75% do território nacional para a

gestão das águas em bacias com múltiplos domínios (GONTIJO JR.; TRIGO, 2013).

Vale lembrar que a bacia hidrográfica do rio Grande é caracterizada, de acordo com o

Diagnóstico, por conter 12,4% dos corpos hídricos sob domínio da União, 36,2% sob domínio

do estado de São Paulo e 51,4% sob domínio do estado de Minas Gerais. Diante desse

cenário, faz-se essencial a articulação entre as entidades envolvidas nas três esferas para a

efetiva gestão da bacia hidrográfica, uma vez que os recursos hídricos nela presentes são de

interesse comum4

.

Essa divisão de domínio entre duas esferas de poder coloca-se como um dos grandes desafios

do modelo atual e implica que deve haver elevado esforço de articulação entre os diversos

stakeholders envolvidos com a gestão das águas.

Importante salientar que essa situação jurídica, determinada pela Constituição Federal, em

nenhuma hipótese deve ser considerada como um entrave para a gestão da bacia hidrográfica,

mas sim como uma parte do problema a ser solucionado, o que será efetuado mediante a

articulação permanente entre os atores envolvidos. Não se trata de tarefa simples. Mas sem

ultrapassar os obstáculos colocados pela questão do domínio das águas no Brasil, fica

comprometido o alcance dos objetivos previstos nas Políticas Nacional e Estaduais de Recursos

Hídricos.

2.3 POLÍTICAS DE RECURSOS HÍDRICOS

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433/1997, é responsável por

instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH,

3 OCDE. Princípios da OCDE para a Governança da Água. Direção de Governança pública e desenvolvimento territorial, 2015.

4 Lei nº 9.433/1997, art. 4º.

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ENGECORPS

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regulamentando o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e introduzir os fundamentos,

diretrizes gerais e instrumentos aplicáveis em todo o território nacional na gestão de recursos

hídricos.

A articulação entre os Poderes Executivos na implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos diz respeito não apenas às políticas e aos planos específicos de recursos hídricos, mas

deve levar em consideração, também, a sua integração com as políticas locais de saneamento

básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente5

. Daí a importância da

participação dos municípios no processo, no que se refere ao uso e à ocupação do solo e aos

planos municipais de saneamento básico, e dos órgãos e entidades de controle ambiental, no

que diz respeito ao enquadramento dos corpos hídricos.

A Política Estadual de São Paulo, Lei nº 7.663/1991, que antecede a própria Política Nacional,

já estabeleceu como um de seus princípios o gerenciamento participativo e integrado de

recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos quantitativos e qualitativos6

. A respeito da

atuação do Estado, é prevista a atuação articulada com a União, Estados vizinhos e municípios

para aproveitamento e controle dos recursos hídricos presentes em seu território7.

A Política Estadual de Minas Gerais reforça os princípios já estabelecidos na norma federal,

segundo os quais o gerenciamento de recursos hídricos deve ser integrado e sua gestão

sistemática, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade8

. Além disso, a Lei do

estado de Minas Gerais nº 13.199/1999 prevê que, com vistas ao aproveitamento, ao controle

e ao monitoramento dos recursos hídricos em seu território, o estado deve articular-se com a

União, com os Estados e municípios, inclusive firmando convênios para o uso de recursos

hídricos compartilhados9

.

No que se refere às leis que estabeleceram as políticas de águas, não há dúvida quanto à

necessidade de articulação entre todos os atores envolvidos com a gestão das águas, como

forma de alcançar os objetivos estabelecidos nessas políticas.

Considerando o presente momento, marcado pela elaboração, aprovação e, posteriormente,

pela necessária implementação do PIRH- Grande, é preciso colocar essa questão em pauta de

modo concreto, como forma de garantir que esse documento técnico possa vir a constituir um

instrumento de efetiva transformação da bacia, em relação à melhoria da qualidade e da

quantidade dos recursos hídricos.

A seguir, serão objeto de análise os instrumentos de gestão de recursos hídricos, com ênfase na

sua implementação e eventual compatibilização, em relação às normas federal e estaduais de

São Paulo e Minas Gerais. Em cada um deles são expostos os aspectos conceituais relevantes,

as características das legislações federal e desses estados e as propostas para uma possível

compatibilização e implantação.

5 Lei nº 9.433/1997, art. 31.

6 Lei Estadual de São Paulo nº 7.663/1991, art. 3º.

7 Lei Estadual de São Paulo nº 7.663/1991, art. 8º.

8 Lei Estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 3º.

9 Lei Estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 8º.

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2.4 INSTRUMENTOS DE GESTÃO

2.4.1 Plano de Recursos Hídricos

2.4.1.1 Aspectos Conceituais

Em um conceito de ciência econômica, o planejamento consiste em uma forma de conciliar

recursos escassos e necessidades abundantes. Em matéria atinente aos recursos hídricos, pode

ser definido como o conjunto de procedimentos organizados que visam ao atendimento das

demandas de água, considerada a disponibilidade restrita desse recurso (BARTH, 1987).

No que diz respeito aos recursos hídricos, o planejamento opera-se não na economia, mas por

meio do estabelecimento de metas de gestão e de natureza física a serem alcançadas e que

podem ser traduzidas em melhoria dos aspectos de quantidade e qualidade das águas.

Todavia, não deixa de haver uma interface com os aspectos econômicos e financeiros, à

medida que são necessários recursos dessa natureza para atender aos objetivos propostos, de

melhoria dos recursos hídricos e manutenção dos usos, para as atuais e futuras gerações

(GRANZIERA, 2014).

O gerenciamento de uma bacia hidrográfica envolve, além de objetivos, um grupo de diretrizes

e instrumentos. Antes que qualquer plano de gestão possa ser desenvolvido, os objetivos

devem ser objeto de acordo: quais usos serão protegidos, quais índices de qualidade serão

buscados, quais compromissos devem ser acertados entre os usos conflitantes. Uma vez que os

objetivos são conhecidos, é necessário buscar um caminho para concretizá-los. Assinale-se que

nesse momento conflitos poderão surgir, sobretudo no que se refere aos usos, devendo esse

tema ser objeto de negociação e acordo, garantindo o avanço das propostas.

Nessa ordem de ideias, o Plano de Recursos Hídricos, instrumento das Políticas de Recursos

Hídricos possui as seguintes características: 1. Deve constituir um pacto e, portanto, 2. Deve

ser cumprido.

A caracterização de pacto, na concepção do plano, pode ser traduzida na sua aprovação pelo

Comitê de Bacia Hidrográfica, do qual participam os representantes de vários segmentos

interessados nos recursos hídricos. Daí a importância do acompanhamento da sua execução.

2.4.1.2 Normas Aplicáveis

Segundo a Lei nº 9.433/1997, os planos de recursos hídricos têm por objetivo fundamentar e

orientar a implementação da política e o gerenciamento dos recursos hídricos. O cumprimento

do plano é, pois, a garantia de efetividade de toda a política de recursos hídricos. Coloca-se,

nesse passo, a questão acerca de como fazer o plano ser cumprido ou dos mecanismos legais

que obrigam o cumprimento do plano.

No que se refere à integração, cabe destacar que a Resolução CNRH nº 145/2012, que

estabelece diretrizes para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos, estabelece, como uma

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das atribuições do Comitê de Bacia Hidrográfica, promover a articulação do arranjo técnico,

operacional e financeiro necessário à elaboração do Plano de Recursos Hídricos.10

A citada norma dispõe que as condições de exutório definidas no Plano de Recursos Hídricos de

uma Sub-Bacia Hidrográfica deverão estar compatibilizadas com o Plano de Recursos Hídricos

da Bacia Hidrográfica do Rio Principal.11 Esse tema é relevante, na medida em que demanda o

exercício de governança no âmbito de toda a bacia hidrográfica, com vistas a estabelecer

acordos exequíveis acerca das condições de quantidade e qualidade a serem entregues de uma

sub-bacia ao rio principal. É digno de nota que o consenso em algumas decisões pode

ultrapassar o período de elaboração do Plano. Nesse caso, ficam as propostas efetuadas para

posterior discussão e encaminhamento.

Ainda sobre a elaboração de Planos de Recursos Hídricos, o CNRH estabelece que devem ser

consideradas as diretrizes do Plano Nacional, os Planos Estaduais de Recursos Hídricos e outros

Planos de Recursos Hídricos de Bacia Hidrográfica existentes na sua área de abrangência12

. Isso

inclui a compatibilização a respeito das definições sobre o regime das águas e os parâmetros

quantitativos e qualitativos13

, como é o caso do enquadramento de corpos de água em uma

mesma bacia hidrográfica14

.

A Resolução CNRH nº 15/2001 estabelece que no Planos de Recursos Hídricos deverão

constar, no mínimo, os dados e informações necessários ao gerenciamento integrado das águas

superficiais, subterrâneas e meteóricas, em atendimento ao art. 7° da Lei n° 9.433/1997.15

.

Nessa linha, a Resolução CNRH nº 22/2002, que estabelece diretrizes para inserção das águas

subterrâneas no instrumento Planos de Recursos Hídricos determina que esses instrumentos

devem considerar os usos múltiplos das águas subterrâneas, as peculiaridades de função do

aquífero e os aspectos de qualidade e quantidade para a promoção do desenvolvimento social

e ambientalmente sustentável 16

e promover a caracterização dos aquíferos, definindo as inter-

relações de cada um com os demais corpos hídricos superficiais e subterrâneos e com o meio

ambiente, visando à gestão sistêmica, integrada e participativa das águas. 17

E a Resolução CNRH nº 92/2008, que estabelece critérios e procedimentos gerais para

proteção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro, estabelece que os

planos de recursos hídricos devem delimitar as áreas de recarga de aquíferos e definir suas

zonas de proteção, devendo ser propostas diretrizes específicas de uso e ocupação do solo.18

10 Resolução CNRH nº 145/2012, art. 3º, II.

11 Resolução CNRH nº 145/2012, art. 7º.

12 Resolução CNRH nº 145/2012, art. 7º.

13 Resolução CNRH nº 145/2012, art. 9º.

14 Resolução CNRH nº 91/2008, art. 11.

15 Resolução CNRH nº 15/2001, art. 3º, I,

16 Resolução CNRH nº 12/2002, art. 1º.

17 Resolução CNRH nº 22/2002, art. 2º.

18 Resolução CNRH nº 92/2008, art. 3º.

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2.4.1.3 Propostas para a Implementação do PIRH-Grande

A implementação do PIRH-Grande, como já foi dito, depende fundamentalmente da

articulação entre os diversos atores, sobretudo aqueles que possuem atribuições a respeito da

implementação dos demais instrumentos de gestão. Para tanto, é necessário que exista uma

instância específica que cuide desse tema.

A Câmara Técnica de Integração (CTI) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Grande possui a

seguinte atribuição, no que se refere à implementação do Plano: além de acompanhar a

elaboração e a implementação do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia (PIRH) e dos

respectivos Planos de Ação de Recursos Hídricos (PARH) nas bacias hidrográficas de rios

afluentes, a ela cabe sugerir providências necessárias ao cumprimento de suas metas. Essa

atribuição pressupõe um fortalecimento institucional dessa Câmara Técnica, conforme será

abordado adiante.

2.4.2 Sistema de Informações

2.4.2.1 Aspectos Conceituais

Antecipando uma evidente necessidade de integração de informações para possibilitar a gestão

compartilhada das águas, a Lei nº 9.433/1997 estabeleceu, entre os instrumentos da PNRH, o

Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), como um sistema de

coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e

fatores intervenientes em sua gestão. Seus objetivos são: 1. reunir, dar consistência e divulgar os

dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil; 2.

atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos

hídricos em todo o território nacional; e 3. fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de

Recursos Hídricos.

Os princípios a serem observados na implementação desse instrumento são: 1.

descentralização da obtenção e produção de dados e informações; 2. coordenação unificada do

sistema e 3. acesso aos dados e informações garantido a toda a sociedade.19

O Produto PP-04 já destacou a importância de vincular o Banco de Dados do PIRH-Grande ao

SNIRH, tendo em vista a relevância de viabilizar a divulgação de informações atualizadas sobre

aspectos técnicos e de gestão de recursos hídricos para a sociedade da bacia e demais

interessados. Outro ponto de destaque é a possibilidade de monitoramento contínuo dos

objetivos e metas do PIRH-Grande.

É digno de nota que o estado de Minas Gerais, por intermédio do IGAM, passará a incorporar

as informações de disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade geradas pelo PIRH ao

seu Sistema de Informações. Segundo informação disponibilizada pela Gerência de Gestão da

Informação em Recursos Hídricos do IGAM, Minas Gerais está em transição do CNARH 1.0

para um sistema interno de informações; para análise de outorgas e armazenamento de

informações de monitoramento de qualidade da água também são utilizados sistemas internos.

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Eles não são integrados ao SNIRH, porém as informações extraídas desses sistemas são

compatíveis com o SNIRH e podem ser utilizadas para alimentá-lo.

Já o estado de São Paulo possui suas informações de disponibilidade hídrica em seu Sistema

Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SIGRH, sendo consideradas adequadas

pelo DAEE.

Cabe destacar que a Resolução CNRH nº 15/2001 estabelece que os Sistemas de Informações

de Recursos Hídricos no âmbito federal e estadual deverão conter, organizar e disponibilizar os

dados e informações necessários ao gerenciamento integrado das águas.19

2.4.2.2 Normas Aplicáveis

Considerando os dispositivos contidos na Lei nº 9.433/1997, acerca desse sistema, a Política

Nacional reforça a necessidade de os órgãos integrantes do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos – Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Agência

Nacional de Águas, Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e do Distrito Federal, Comitês de

Bacia Hidrográfica os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal, cujas

competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos, e as Agências de Água20

unificarem o sistema, para que o acesso aos dados e informações seja garantido a toda

sociedade e forneça subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos21

.

Elemento essencial para o intercâmbio de informações, o Cadastro Nacional de Usuários dos

Recursos Hídricos (CNARH), instituído pela Resolução ANA nº 317/2003, contém informações

sobre a vazão utilizada, local de captação, denominação e localização do curso d’água,

empreendimento do usuário, sua atividade ou a intervenção que pretende realizar, como

derivação, captação e lançamento de efluentes. O CNARH foi desenvolvido de forma a acolher

tanto o cadastramento espontâneo do usuário quanto os registros dos gestores estaduais, que

podem inclusive utilizar o sistema e a base de dados para efetuar diretamente os seus

cadastros.

Até outubro de 2016 haviam aderido ao CNARH 1.0 os estados de Espírito Santo, Goiás,

Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,

Roraima e Tocantins. Atualmente esses estados estão adotando estratégias para a migração dos

dados para a nova versão do Cadastro, o CNARH 40, que consiste em uma nova plataforma na

qual os usuários se cadastram de maneira mais fácil e os gestores dispõem de mecanismos mais

atualizados para gerir dados22

.

O CNRH, visando à gestão integrada de recursos hídricos, no âmbito do Sistema Nacional de

Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), estabelece, na Resolução CNRH nº 13/2000,

art. 2º, que a ANA deve articular-se com órgãos e entidades estaduais, distritais e municipais,

19 Resolução CNRH nº 15/2001, art. 3º, V.

20 Lei nº 9.433/1997, art. 33.

21 Lei nº 9.433/1997, arts. 25-30.

22 ANA. Agência apresenta novo sistema para cadastramento de usuários de água para órgãos estaduais. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/ Paginas /imprensa /noticia.aspx? List=ccb75a86-bd5a-4853-8c76-cc46b7dc89a1&ID=13106 Acesso em 10 mai.

2017.

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públicas e privadas, inclusive as agências de água ou de bacias visando a implantação e

funcionamento do SNIRH. Dentro do SNIRH, o Cadastro Nacional de Usuários de Recursos

Hídricos (CNARH), por exemplo, deve permitir o intercâmbio de dados mínimos que permitam

o suporte à implementação dos instrumentos das Políticas de recursos hídricos e a fiscalização

dos usos e interferências nos recursos hídricos23.

Nos termos da Resolução CNRH nº 216/2011, o órgão gestor ou a autoridade outorgante de

cada Unidade da Federação deverá aderir ao CNARH ou instituir seu sistema para

armazenamento e integração dos dados de usuários de recursos hídricos, cabendo à ANA

disponibilizar o devido acesso ao Sistema. Essa é a regra geral, fundamentada no princípio da

Política Nacional de Recursos Hídricos que define a bacia hidrográfica como a unidade

territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

A citada resolução admite, também, a hipótese de o órgão gestor ou a autoridade outorgante

possa optar por desenvolver sistema próprio. Nesse caso, a integração das bases de dados de

usuários de recursos hídricos em rios de domínio da União com os de domínio das Unidades da

Federação, dar-se-á por intercâmbio de dados mínimos para suporte à implementação dos

instrumentos das Políticas de Recursos Hídricos e a fiscalização dos usos e interferências nos

recursos hídricos. Segundo a norma, a ANA disponibilizará aplicativo que permita sincronizar as

bases de dados do CNARH e das Unidades da Federação24

.

Segundo a resolução em tela, o acesso às informações e aos dados do cadastro de usuários de

recursos hídricos deverá ser garantido aos integrantes do SINGREH e ao público em geral,

devendo ser criados níveis de acesso.25

Em realidade, o cadastramento de usuários das águas não tem sido censitário. Alguns fatores

induzem sua realização, tais como a implementação da cobrança pelo uso da água. Em outras

situações, o cadastro e a outorga são motivados menos pela realidade hídrica do que pela

imposição burocrática às diferentes políticas setoriais, como no caso de financiamentos para o

setor de saneamento, hidrelétrico ou de projetos de agricultura irrigada (GONTIJO JR. e TRIGO,

2013).

O Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos foi considerado na Política

Estadual como fator de integração. A norma mineira estabelece que a coleta, o tratamento, o

armazenamento, a recuperação e a divulgação de informações sobre recursos hídricos e fatores

intervenientes devem ser compatíveis com o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos

Hídricos26.

Nos termos da Resolução CNRH nº 15/2001, nos Planos de Recursos Hídricos deverão constar,

no mínimo, os dados e informações necessários ao gerenciamento integrado das águas, em

23 Resolução CNRH nº 126/2011, art. 4º.

24 Resolução CNRH nº 126/2011, art. 4º.

25 Resolução CNRH nº 126/2011, art. 8º.

26 Lei Estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 12.

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atendimento ao art. 7° da Lei n° 9.433/1997.27

Além disso, os Sistemas de Informações de

Recursos Hídricos no âmbito federal e estadual deverão conter, organizar e disponibilizar os

dados e informações necessários ao gerenciamento integrado das águas.28

O Produto PP-04 já definiu como objetivo estratégico implementar a Gestão do Banco de

Dados da Bacia do Rio Grande integrada ao SNIRH. Entre as referências do documento,

destaca-se consolidar as bases de dados geradas pelo PIRH-Grande utilizadas pelos órgãos

gestores estaduais de São Paulo e Minas Gerais, de modo a obter uma homogeneidade de

informações, facilitando seu manuseio e interpretação.

2.4.2.3 Proposta: Compatibilização dos Sistemas de Cadastro

De acordo com a legislação em vigor, e com a própria lógica da gestão de recursos hídricos por

bacia hidrográfica, os cadastros de usuários e os sistemas de informação devem ser

compatíveis.

Esse ajuste deve fazer parte do conjunto de discussões a serem levadas à Câmara Técnica de

Integração (CTI), tendo em vista a necessidade de se buscarem alternativas de compatibilização

para os Sistemas, em observância aos termos da Política Nacional de Recursos Hídricos e,

especificamente, à Resolução CNRH nº 126/2011. À ANA cumpre exercer um papel relevante

nessa tarefa, nos termos da Resolução CNRH nº 13/2000, acima citada.

O PP-04 já incorporou, entre as metas do PIRH-Grande, a integração das bases de dados das

outorgas estaduais do IGAM e do DAEE ao Sistema CNARH 40. Para isso, entende-se que deve

ser identificado o conteúdo mínimo dos diversos dados para integração e unificação; os dados

devem ser compilados em um relatório anual de outorgas emitidas pelos órgãos gestores, para

divulgação em plataforma de acesso público.

2.4.3 Outorgas de Direito de Uso de Recursos Hídricos

2.4.3.1 Aspectos Conceituais

Inicialmente, o objetivo primordial das outorgas consistiu na necessidade de efetuar o controle

das quantidades derivadas e lançadas aos corpos d’água, o que, juntamente com as vazões

naturais e as demandas, proporciona o cálculo do balanço hídrico. Era preciso conhecer e

controlar as vazões dos rios, a fim de calcular o potencial hidráulico de cada queda, com vista a

obter maiores garantias na exploração dos potenciais hidráulicos, objetivo primordial do uso da

água durante décadas no País. A outorga, era, pois, um instrumento de controle da quantidade

de água, até porque a geração de energia elétrica não exigia qualidade. Ao longo do tempo,

com a edição da Política Nacional de Recursos Hídricos e das políticas estaduais, adequadas às

normas ambientais, a natureza das outorgas modificou-se.

27 Resolução CNRH nº 15/2011, art. 3º, I.

28 Resolução CNRH nº 15/2011, art. 3º, V.

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A outorga é hoje um instrumento de controle quantitativo e qualitativo dos usos da água.

Quantitativo porque controla os volumes retirados e lançados no corpo de água. Qualitativo

pelo fato de, em princípio, as autoridades concederem a outorga de lançamento somente

quando a qualidade dos efluentes a serem lançados for compatível com o enquadramento do

corpo receptor no trecho determinado. Essa regra se coaduna com as diretrizes gerais de ação

para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, destacando a integração da

gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

2.4.3.2 Normas Aplicáveis

Como forma de se integrar às políticas ambientais no Brasil, a Lei nº 9.433/1997,

regulamentada pela Resolução CNRH nº 16/2001, estendeu a função das outorgas, além do

controle das quantidades, para o controle qualitativo. A outorga de lançamento de efluentes

para diluição será condicionada, assim, não apenas à capacidade de suporte do corpo

receptor, definido pela Resolução CONAMA nº 430/2011 como ao valor máximo de

determinado poluente que o corpo hídrico pode receber, sem comprometer a qualidade da

água e seus usos determinados pela classe de enquadramento. Há que verificar, assim, a classe

em que o corpo hídrico está enquadrado.

Essa regra associa-se ao processo de licenciamento ambiental, em que o órgão ou entidade

licenciadora somente concederá as licenças ambientais se os lançamentos previstos no projeto

estiverem em conformidade com a classe do corpo hídrico.

Nos termos da Resolução CONAMA nº 430/2011, os efluentes não poderão conferir ao corpo

receptor características de qualidade em desacordo com as metas obrigatórias progressivas,

intermediárias e final, do seu enquadramento, sendo que as metas obrigatórias para corpos

receptores serão estabelecidas por parâmetros específicos. No caso de os parâmetros não

estarem incluídos nas metas obrigatórias e na ausência de metas intermediárias progressivas, os

padrões de qualidade a serem obedecidos no corpo receptor são os que constam na classe na

qual o corpo receptor estiver enquadrado. Essa regra reforça o critério vinculante do

enquadramento para a concessão das outorgas de lançamento de efluentes.

Os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos coadunam-se perfeitamente com o

fundamento das outorgas, considerando que se trata do instrumento básico de controle do uso

dos recursos hídricos, justamente com o objetivo de garantir disponibilidade às futuras gerações

em qualidade e quantidade e evitar os eventos hidrológicos críticos, sobretudo a escassez

provocada pelo uso excessivo.

Já a racionalidade do uso é muito mais um meio que um objetivo. Cabe à entidade responsável

pelas outorgas de direito de uso de água exigir do usuário a utilização racional e integrada dos

recursos hídricos, garantindo a sua sustentabilidade. Além disso, cabe ressaltar a importância do

reúso da água, lembrando que a Resolução CNRH nº 54/2005 dispõe sobre o reúso direto não

potável de água.

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Na decisão administrativa sobre as outorgas, devem ser consideradas, ainda, como referência,

as prioridades de uso da água fixadas no Plano de Bacia Hidrográfica, devidamente aprovado

pelo respectivo Comitê. No que se refere às captações, deve ser observada a vazão de

referência, definida como a vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de

gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do

Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos (SINGRH).

A expressão usos múltiplos pode ser entendida como uma utilização equilibrada da água entre

os vários tipos de usos: saneamento, indústria, navegação, geração de energia elétrica,

irrigação, pesca e aquicultura, recreação e turismo, controle de cheias. A ideia é garantir que

várias categorias de usos sejam contempladas, evitando-se ou minimizando-se, assim, o conflito

no âmbito das bacias hidrográficas. Com base no princípio do uso equitativo dos recursos

naturais, e nos preceitos da Lei nº 9.433/1997, o uso múltiplo é um dos fundamentos da

Política Nacional de Recursos Hídricos.

Cabe verificar o significado da expressão “necessária articulação das instâncias do Sistema

Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (SINGRH), objeto da Resolução CONAMA nº 357/2005. Segundo a Lei nº

6.938/1981, os órgãos e entidades das várias esferas do Poder Público responsáveis pela

proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituem o Sistema Nacional do Meio

Ambiente (SISNAMA). Em termos de águas, está-se falando da melhoria, da manutenção e da

recuperação da qualidade desse recurso.

A Lei nº 9.433/1997 criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com

destaque para os seguintes objetivos: 1. coordenar a gestão integrada das águas; 2.

implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; 4. planejar, regular e controlar o uso, a

preservação e a recuperação dos recursos hídricos. A Lei de Águas trata precipuamente da base

legal para a organização dos usos da água, de modo a garantir o acesso dos usuários ao

recurso, de forma equilibrada e com o mínimo de conflitos, o que remete à quantidade.

Embora a outorga de direito de uso de recursos hídricos seja um instrumento de controle

quantitativo e qualitativo da água, essa segunda função refere-se à legislação ambiental

(Resoluções CONAMA nº 357/2005 e 430/2011).

Tem-se, pois, normas distintas incidindo sobre as águas, seja com foco na qualidade, seja com

foco na gestão. Ambas são necessariamente complementares, o que significa que, ao garantir

os usos múltiplo (quantidade) deve-se garantir também a qualidade dos corpos hídricos, não

apenas para os usos outorgados, mas para os processos ecológicos que se desenvolvem no

meio aquático ou que dele dependam.

A outorga de direito de uso de recursos hídricos constitui, pois, importante instrumento de

gestão, servindo como ferramenta de apoio para a elaboração do Plano de Recursos Hídricos.

A relevância da outorga pode ser medida quando se projetam as consequências da falta de

implantação ou implantação insuficiente desse instrumento. Essas duas situações interferem

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diretamente no planejamento da bacia hidrográfica, que corre o risco de perder consistência

acerca dos cenários de disponibilidade hídrica e caracterização dos usos.

Trata-se de um processo contínuo, estreitamente vinculado ao cadastro de usuários, que se

alimenta do sistema de informações da bacia hidrográfica e ao mesmo tempo é passível de

fornecer novas informações a ele, na medida em que novos usos são outorgados, explicitando

a necessária integração que deve haver entre os diversos instrumentos de gestão.

Em vista disso, em bacias hidrográficas com corpos hídricos de domínios distintos, não apenas a

implantação do instrumento é estratégica, como a harmonização dos procedimentos e as

informações acerca dos usos outorgados. Há que considerar que é a partir das atividades de

cadastramento pela entidade competente ou por via induzida, (no caso dos processos de

implantação da cobrança pelo uso de recursos hídricos, em que se emitem editais para a

regularização dos usos), que os usos das águas devem ser submetidos à outorga de direito de

uso.

2.4.3.3 Proposta sobre Usos Insignificantes

A definição de usos insignificantes é uma discussão longa, que deve ser conduzida como um

processo de articulação e governança permanente, até que se chegue ao acordo no âmbito do

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Grande. De qualquer modo, ainda dispensados da

outorga e da cobrança, quando aplicável, os usos devem ser devidamente cadastrados, tendo

em vista a necessidade de registrar as respectivas informações, para constar dos cálculos

relativos ao balanço hídrico.

Conforme apontado no Quadro 2.54 do Diagnóstico, os limites para a dispensa de outorga de

direito de uso de recursos hídricos são distintos nas normas federais e de ambos os estados.

Cabe salientar que tanto a Resolução CNRH nº 16/2001 como a legislação paulista preveem

que tal decisão cabe ao Comitê de Bacia Hidrográfica, em sua atribuição de acompanhar a

elaboração e aprovar o respectivo Plano.

Não havendo tal fixação, a competência fica com o órgão ou entidade outorgante, ANA em

nível federal e DAEE, no estado de São Paulo. Todavia, no estado de Minas Gerais, a Lei nº

13.199/1999 remete a competência para estabelecer os critérios e as normas gerais para a

outorga dos direitos de uso de recursos hídricos não para os Comitês de Bacia Hidrográfica,

mas para o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MG).

A compatibilização dos limites de usos insignificantes, no que se refere aos corpos hídricos de

domínio da União e de domínio do estado de São Paulo soluciona-se na elaboração do Plano

ou em suas revisões. No que se refere ao estado de Minas Gerais, uma vez fixados os usos

insignificantes no Plano de Recursos Hídricos, caberia a edição de uma Deliberação Normativa

do CERH-MG específica para a bacia hidrográfica do rio Grande, compatível com a decisão do

Comitê.

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A Resolução CNRH nº 184/2016 estabelece diretrizes e critérios gerais para definição das

derivações e captações de recursos hídricos superficiais e subterrâneos, lançamentos de

efluentes em corpos de água e acumulações de volumes de água de pouca expressão,

considerados insignificantes, os quais independem de outorga de direito de uso de recursos

hídricos. Nos termos de seu art. 2º, os critérios específicos de derivações, captações,

lançamentos de efluentes ou acumulações de volumes de água de pouca expressão,

considerados insignificantes, serão estabelecidos no respectivo plano de recursos hídricos,

propostos pelos Comitês de Bacia Hidrográfica e aprovados pelos Conselhos Estaduais ou

Conselho Nacional de Recursos Hídricos, respeitados os domínios. Na ausência de propostas

pelo comitê, os critérios específicos de derivações, captações, lançamentos de efluentes ou

acumulações de volumes de água de pouca expressão, considerados insignificantes, serão

definidos, em caráter provisório, pelas respectivas autoridades outorgantes.

2.4.3.4 Proposta de Implementação das Outorgas

Na implantação da cobrança pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Grande,

uma das questões a serem enfrentadas consiste na regularização das outorgas, tendo em vista

que, nos termos da Lei nº 9.433/1997, serão cobrados os usos sujeitos à outorga, no âmbito do

princípio do usuário pagador.

Nessa linha, caberá a edição de editais de convocação de usuários, com vistas a declarar os

usos de recursos hídricos: 1. em desconformidade com a outorga concedida ou 2. não

outorgados. Esses editais, publicados pelos entes outorgantes, estabelecerão prazos para essas

declarações, sem a incidência das penalidades, seja pelos usos em desconformidade, seja pela

falta de outorga. Esse procedimento vem sendo adotado nas bacias hidrográficas quando da

implantação da cobrança pelo uso de recursos hídricos, a exemplo do que já ocorreu nas

bacias hidrográficas dos rios Paraíba do Sul29

, São Francisco30

e Piracicaba, Capivari e Jundiaí

(PCJ)31

.

Os editais de convocação preveem o preenchimento de formulário com dados dos usuários

diretamente no endereço eletrônico do Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos

(CNARH) ou em sistema próprio elaborado para gestão da Bacia Hidrográfica. A partir do

cadastro são identificados os usos sujeitos à outorga conforme os limites previstos e, portanto,

passíveis da cobrança pelo uso de recursos hídricos. Trata-se da forma mais eficiente de obter

as necessárias informações acerca dos usos de recursos hídricos, alimentando os sistemas de

informação acerca do cadastro de usuários, conforme indicado no Produto PP-04.

Para os casos de bacias em situações mais críticas, o PP-04 traz que a experiência da ANA em

processos de cadastros de usuários mostra que as ações de campo são mais efetivas, gerando

maior acurácia nas informações de demanda e, com isso, possibilitando conferir e adequar os

resultados do balanço hídrico quanti-qualitativo.

29 Resoluções ANA nº 210/2002 e nº 327/2004,

30 Resolução ANA nº 267/2010.

31 Resolução Conjunta ANA, DAEE, IGAM nº 499/2005.

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Nesse sentido, com o objetivo de Ampliar a Regularização dos Usos dos Recursos Hídricos, o

PP-04 já estabeleceu metas como por exemplo realizar o chamamento dos usuários para

atualização de seus cadastros e sistematizar e consistir as informações e integrar as bases de

dados de outorgas estaduais ao Sistema CNARH-40, por meio da, entre outras, harmonização

das informações cadastrais entre as autoridades outorgantes dos estados e a ANA.

Cabe, também, à Câmara Técnica de Integração (CTI): propor normativas relativas aos

instrumentos de gestão de recursos hídricos, de forma integrada e harmonizada, observada a

legislação pertinente. Ressalta-se, ainda uma vez, a necessidade de fortalecimento técnico-

institucional dessa Câmara Técnica para executar tal missão.

Como forma de iniciar as discussões sobre a regularização das outorgas, sugere-se que esse

procedimento já seja realizado de forma integrada entre ANA, IGAM e DAEE, como um modo

de dar início ao processo de articulação institucional, com vistas à implementação do Plano. Os

mecanismos a adotar consistem em reuniões permanentes, com a participação de

representantes de cada entidade. As pautas dessas reuniões devem ser definidas

conjuntamente, iniciando-se pela discussão acerca do estado atual das outorgas em cada ente

federado, para que então se possam estabelecer metas e estratégias de regularizar os usos dos

recursos hídricos.

2.4.4 Enquadramento dos Corpos Hídricos

2.4.4.1 Aspectos Conceituais

Enquadrar um corpo hídrico em classes de uso significa estabelecer patamares de qualidade

(metas ou objetivos) da água relacionados com os usos pretendidos, seja para os lançamentos –

padrões – seja para os corpos receptores – classes –, conforme fixado nas Resoluções

CONAMA nº 357/2005 e 430/2011.

A título de esclarecimento, o conceito relativo a fixar objetivos de qualidade das águas é

anterior às políticas nacional e estaduais de recursos hídricos. A Portaria nº 13/1976 do

Ministério do Interior e normas estaduais à época procederam ao enquadramento dos corpos

hídricos. No entanto, não havia qualquer previsão legal associada aos enquadramentos

efetuados, a respeito de como atingir os níveis de qualidade fixadas não tendo ocorrido, ao

longo do tempo, iniciativas relevantes com vistas à efetivação desses enquadramentos.

Como fator externo às políticas de águas, mas não menos importante, as mudanças que vêm

ocorrendo no clima tendem não só a se perpetuar, como a se intensificar, provocando efeitos

adversos nos recursos hídricos - escassez e inundações. Essa nova realidade torna indispensável,

mais que nunca, dar a devida atenção à gestão dos recursos hídricos e à qualidade da água,

sobretudo no que se refere à implementação dos instrumentos de gestão legalmente previstos

visando aos usos múltiplos, mas com ênfase no consumo humano e na dessedentação de

animais, por sua natureza prioritária, em tempos de escassez.

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2.4.4.2 Normas Aplicáveis

Na década de 1990, a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº

9.433/1997, e as políticas estaduais, vieram trazer o enquadramento de corpos hídricos em

classes de usos preponderantes para o rol dos instrumentos de gestão das águas, podendo-se

afirmar que o enquadramento consiste na intersecção lógica entre as políticas públicas de

recursos hídricos e do meio ambiente, na medida em que trata especificamente da qualidade

de um recurso ambiental – água, conforme previsto na Política Nacional do Meio Ambiente.

Essa afirmação se reflete nas resoluções que definem os padrões de qualidade e lançamento,

sob a responsabilidade do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – Resoluções

CONAMA nº 357/2005 e 430/2011. A Resolução CONAMA nº 396/2008 dispõe sobre a

classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas. Cabe

lembrar que a Lei nº 9.433/1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos,

remete o estabelecimento das classes de corpos de água à legislação ambiental. Ao Conselho

Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) cabe editar a normas sobre a efetivação do

enquadramento, consubstanciadas na Resolução CNRH nº 91/2008.

A rigor, os corpos hídricos mencionados na citada Portaria nº 13 e dos demais atos estaduais -

Decretos Estaduais paulista nº 10.755/77 e 39.173/94, e por Deliberações do Conselho

Estadual de Recursos Hídricos e Deliberação Normativa Conjunta do Conselho Estadual de

Política Ambiental – COPAM e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH-MG nº 01/

2008, sob o ponto de vista estritamente legal, encontram-se enquadrados.

Segundo apresentado no Diagnóstico, as UGRHIs da bacia do rio Grande da vertente paulista

possuem enquadramento legal, desde 1977, com revisões posteriores em 1994; mais

recentemente, em 2016, a CETESB produziu e disponibilizou a base espacial georreferenciada

do enquadramento aprovado em 1994. A grande maioria dos cursos d’água está enquadrada

em classe 2. Na vertente mineira da bacia, apenas os recursos hídricos da GD 04 estão

enquadrados, em conformidade com a Deliberação Normativa COPAM nº 33/1998. Os rios de

domínio da União da bacia do rio Grande ainda não estão enquadrados de modo específico.

Todavia, a Resolução CONAMA nº 357/2005 dispõe que enquanto não aprovados os

enquadramentos, as águas doces serão consideradas classe 2, o que remete à afirmação de que

todos os corpos hídricos superficiais no País estão enquadrados em uma determinada classe de

uso preponderante, 32

embora isso não necessariamente implique a existência de ações

específicas de efetivação desses enquadramentos.

Ocorre que, ao longo do tempo, manteve-se estático o quadro legal referente aos

enquadramentos fixados para os corpos de água. Mas pouco se avançou na efetivação das

metas relacionadas às classes de usos preponderantes, necessidade urgente na garantia de

manutenção das disponibilidades hídricas para as futuras gerações.

Na maioria das vezes, a situação real dos rios e lagos não corresponde aos padrões de

qualidade legalmente definidos, pois a efetividade do enquadramento de um corpo hídrico

32 Resolução CONAMA nº 357/2005, art. 42.

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demanda uma série de ações para que se alcancem, de forma concreta, as metas de qualidade

estabelecidas, configurando um processo complexo e conflituoso. Nesse cenário, cabe lembrar

que o enquadramento impacta o uso e a ocupação do solo, daí a necessidade de uma ampla

discussão sobre as metas de qualidade pretendidas.

Esse tema tangencia o grande desafio que o País enfrenta no sentido de implementar os

instrumentos de gestão de recursos hídricos, e que não ocorre de forma diferente na bacia

hidrográfica do rio Grande. No caso do enquadramento, a Resolução CNRH nº 91/2008

dispõe sobre procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos de água superficiais e

subterrâneos, embora a norma que define as classes de qualidade das águas superficiais seja a

já citada Resolução CONAMA nº 357/2005, que estabelece o seguinte conceito para

enquadramento: o estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser,

obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com

os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo. De modo análogo, a Resolução

CONAMA nº 396/2008 define enquadramento das águas subterrâneas, considerando aquífero,

conjunto de aquíferos ou porção desses.

A Resolução CNRH nº 91/2008 estabelece que o alcance ou manutenção das condições e dos

padrões de qualidade, determinados pelas classes em que o corpo de água for enquadrado,

deve ser viabilizado por um programa para efetivação do enquadramento, definido pela

Resolução CONAMA nº 357/2005 como o conjunto de medidas ou ações progressivas e

obrigatórias, necessárias ao atendimento das metas intermediárias e final de qualidade de água

estabelecidas para o enquadramento do corpo hídrico.33

Segundo essa norma, o enquadramento de corpos de água corresponde ao estabelecimento de

objetivos de qualidade a serem alcançados através de metas progressivas intermediárias e final

de qualidade de água. E, nos termos da mesma Resolução, o enquadramento expressa metas

finais a serem alcançadas, podendo ser fixadas metas progressivas intermediárias, obrigatórias,

visando a sua efetivação.

Dessas duas definições, complementares, é possível afirmar que o enquadramento de corpos

hídricos em classes de uso preponderante implica o estabelecimento de objetivos de qualidade,

traduzidos em uma meta final. Tais objetivos devem ser atingidos ao longo do tempo, por meio

da fixação de metas progressivas, intermediárias, até a obtenção do nível de qualidade

almejado. Um fator relevante consiste no fato de que as metas intermediárias e final, uma vez

estabelecidas, são obrigatórias. Daí o desafio a ser enfrentado, na medida em que se estabelece

a responsabilidade dos diversos atores pelas ações a serem implementadas.

A questão envolve aspectos técnicos, institucionais, financeiros e de gestão. A proposta de

enquadramento é parte integrante de um Plano de Recursos Hídricos de Bacia Hidrográfica.

Todavia, as decisões finais podem ultrapassar o período de elaboração e aprovação do Plano.

Nesse caso, as discussões levarão em conta as propostas efetuadas, para posterior aprovação.

33 Resolução CONAMA nº 357/2005, art. 2º, XXIX.

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Ainda segundo a Resolução CNRH nº 91/2008, os corpos de água já enquadrados com base na

legislação anterior à publicação desta Resolução deverão ser objeto de adequação aos atuais

procedimentos, especialmente no que se refere à aprovação do respectivo comitê de bacia

hidrográfica, à deliberação do Conselho de Recursos Hídricos competente e ao programa de

efetivação.34

A Lei nº 9.433, ao estabelecer o conteúdo mínimo dos planos, menciona expressamente as

metas de [...] melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis e as medidas a serem

tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o

atendimento das metas previstas. Ou seja, a previsão legal do que fazer já existe em âmbito

nacional.

2.4.4.3 Proposta de Implementação do Enquadramento

Como já mencionado, ainda que a proposta de enquadramento faça parte integrante do Plano

de Bacia Hidrográfica, não há previsão legal de que o acordo sobre o enquadramento dos

corpos hídricos em classes deve estar definido quando da finalização do Plano. Nesse caso, a

proposta de enquadramento será definida após a aprovação daquele instrumento, uma vez

que se entende que o fluxo de decisões sobre o enquadramento não é o mesmo relativo ao

Plano como um todo. Cabe aos gestores de águas, portanto, submeter as propostas de

enquadramento dos corpos de água em classes segundo usos preponderantes, previamente

aprovadas nos respectivos Planos de Bacia Hidrográfica à deliberação do Conselho de Recursos

Hídricos.

A proposta de enquadramento, nos termos da legislação em vigor, constitui um processo

formal, que deve viabilizar o alcance ou a manutenção das condições e dos padrões de

qualidade, determinados pelas classes em que o corpo de água for enquadrado.

As referências básicas para o enquadramento dos corpos de água por meio do estabelecimento

de classes de qualidade são: 1. a bacia hidrográfica como unidade de gestão e 2. os usos

preponderantes mais restritivos.

Esse processo de cunho formal, que tramita no âmbito do Sistema de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, decorre de ampla discussão na própria elaboração da proposta de

enquadramento, que deverá contar com a participação da comunidade da bacia hidrográfica,

por meio da realização de consultas públicas, encontros técnicos, oficinas de trabalho e outros.

Note-se que o dispositivo não menciona apenas os membros do comitê de bacia hidrográfica,

mas todos os atores envolvidos no âmbito da bacia hidrográfica. Nesse processo de governança,

a participação dos municípios é fundamental, em função de sua competência constitucional

para ordenar o uso e a ocupação do solo, que sofre impacto de acordo com o enquadramento

dos corpos de água.

No que se refere, pois, a essa proposta, a Resolução CNRH nº 91/2008 prevê que devem ser

consideradas, de forma integrada e associada, as águas superficiais e subterrâneas. Além disso,

34 Resolução CNRH nº 91/2008, art. 14.

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a norma estabelece que a proposta de enquadramento deverá ser desenvolvida em

conformidade com o Plano de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica, preferencialmente

durante a sua elaboração, porém, podendo se estender por período maior de tempo. E devem

ser estabelecidos os seguintes passos no âmbito do processo: 1. diagnóstico; 2. prognóstico; 3.

propostas de metas relativas às alternativas de enquadramento; 4. programa para efetivação.

O diagnóstico deverá abordar:

Caracterização geral da bacia hidrográfica e do uso e ocupação do solo incluindo a

identificação dos corpos de água superficiais e subterrâneos e suas interconexões

hidráulicas, em escala compatível;

Identificação e localização dos usos e interferências que alterem o regime, a quantidade ou

a qualidade da água existente em um corpo de água, destacando os usos preponderantes;

Identificação, localização e quantificação das cargas das fontes de poluição pontuais e

difusas atuais, oriundas de efluentes domiciliares, industriais, de atividades agropecuárias e

de outras fontes causadoras de degradação dos recursos hídricos superficiais e subterrâneas;

Disponibilidade, demanda e condições de qualidade das águas superficiais e

potencialidade e qualidade natural das águas subterrâneas;

Mapeamento das áreas vulneráveis e suscetíveis a riscos e efeitos de poluição,

contaminação, superexplotação, escassez de água, conflitos de uso, cheias, erosão e

subsidência, entre outros;

Identificação das áreas reguladas por legislação específica;

Arcabouço legal e institucional pertinente;

Políticas, planos e programas locais e regionais existentes, especialmente os planos setoriais,

de desenvolvimento socioeconômico, plurianuais governamentais, diretores dos municípios

e ambientais e os zoneamentos ecológico-econômico, industrial e agrícola;

Caracterização socioeconômica da bacia hidrográfica;

Capacidade de investimento em ações de gestão de recursos hídricos.

No prognóstico deverão ser avaliados os impactos sobre os recursos hídricos superficiais e

subterrâneos advindos da implementação dos planos e programas de desenvolvimento

previstos, considerando a realidade regional com horizontes de curto, médio e longo prazos, e

formuladas projeções consubstanciadas em estudos de simulação dos seguintes itens:

Potencialidade, disponibilidade e demanda de água;

Cargas poluidoras de origem urbana, industrial, agropecuária e de outras fontes causadoras

de alteração, degradação ou contaminação dos recursos hídricos superficiais e

subterrâneos;

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Condições de quantidade e qualidade dos corpos hídricos; e

Usos pretensos de recursos hídricos superficiais e subterrâneos, considerando as

características específicas de cada bacia.

Tanto o diagnóstico como o prognóstico e a proposta de alternativas constituem documentos

técnicos. Sua elaboração compete às agências de águas, às agências de bacia hidrográfica ou às

entidades delegatárias, previstas na Lei nº 10.118/2004. Na falta dessas instituições, exercício

dessa atribuição cabe aos órgãos gestores de recursos hídricos. Uma vez elaborado o

documento, ele é submetido ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica, para discussão e

aprovação e, a partir daí encaminhado ao Conselho Nacional ou Estadual de Recursos Hídricos

para deliberação.

Uma vez que o Conselho tenha homologado a proposta de enquadramento, inicia-se o desafio

de executar as ações relativas ao programa de efetivação do enquadramento, composto por: 1.

ações de gestão e prazos de execução; 2. planos de investimentos; 3. instrumentos de

compromisso.

Segundo a Resolução CNRH nº 91/2008, o programa para efetivação do enquadramento, como

expressão de objetivos e metas articulados ao correspondente plano de bacia hidrográfica,

quando existente, deve conter propostas de ações de gestão e seus prazos de execução, os

planos de investimentos e os instrumentos de compromisso que compreendam cinco tipos de

recomendação:

Em primeiro lugar, as recomendações para os órgãos gestores de recursos hídricos e de

meio ambiente que possam subsidiar a implementação, integração ou adequação de seus

respectivos instrumentos de gestão, de acordo com as metas estabelecidas, especialmente a

outorga de direito de uso de recursos hídricos e o licenciamento ambiental. Um ponto

fundamental, e do qual depende o sucesso do programa para efetivação do

enquadramento, consiste na implementação dos mecanismos de articulação institucional

entre os Comitês de Bacia Hidrográfica e órgãos gestores, com vistas ao cumprimento das

metas intermediárias e final. Sem uma ação coordenada relativa aos licenciamentos

ambientais e às outorgas de direito de uso de recursos hídricos, fica prejudicada a

continuidade do processo.

Em segundo lugar, as recomendações de ações educativas, preventivas e corretivas, de

mobilização social e de gestão, identificando-se os custos e as principais fontes de

financiamento. Duas questões aqui se colocam: 1. a necessidade de articulação dos entes

gestores de recursos hídricos e meio ambiente com os demais órgãos e entidades para

promover a educação e a mobilização social sobre a qualidade das águas; e 2. a obtenção

de recursos que garantam sustentabilidade aos programas.

Em terceiro lugar, as recomendações aos agentes públicos e privados envolvidos, para

viabilizar o alcance das metas e os mecanismos de formalização, indicando as atribuições e

compromissos a serem assumidos. Mais uma vez, trata-se da articulação dos órgãos e

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entidades envolvidos com os recursos hídricos e o meio ambiente, desta vez com os

empreendedores.

Em quarto lugar, as propostas a serem apresentadas aos poderes públicos federal, estadual e

municipal para adequação dos respectivos planos, programas e projetos de

desenvolvimento e dos planos de uso e ocupação do solo às metas estabelecidas na

proposta de enquadramento. Caberá aos órgãos gestores de recursos hídricos e meio

ambiente, além de elaborar as propostas, estabelecer uma articulação institucional ampla

que possa resultar em um acordo acerca do alcance das metas fixadas no enquadramento,

não apenas na elaboração dos planos, mas indo além, em sua implementação conjunta.

Em quinto lugar, os subsídios técnicos e recomendações para a atuação dos comitês de

bacia hidrográfica, que participam em uma parte do processo relativo às propostas de

enquadramento dos corpos hídricos.

No processo de efetivação do enquadramento, além da articulação que envolve os atores,

sobretudo órgãos e gestores, ainda é necessário implementar ou dar continuidade à

implementação dos demais instrumentos de gestão de recursos hídricos, como é o caso da

outorga de direito de uso de recursos hídricos e da cobrança pelo uso da água.

2.4.5 Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos

2.4.5.1 Aspectos Conceituais

A cobrança pelo uso da água consiste no instrumento econômico da política de recursos

hídricos. É econômico em dois sentidos: o primeiro, no que tange ao entendimento da água

como bem de valor econômico, cuja utilização deve ser cobrada; o segundo, relativo ao

financiamento de obras contidas no plano de recursos hídricos.

A cobrança pelo uso de recursos hídricos deverá estar compatibilizada e integrada com os

demais instrumentos da política de recursos hídricos. Disso decorre que, na sua

implementação, outros instrumentos como, por exemplo, a outorga de direito de uso da água e

o plano de recursos hídricos já devem estar implantados ou em processo intensivo de

implementação.

2.4.5.2 Normas Aplicáveis

A cobrança pelo uso de recursos hídricos ainda não foi implantada na Bacias Hidrográfica do

Rio Grande. A Lei nº 9.433/1997 instituiu a cobrança como um dos instrumentos da Política

Nacional Recursos Hídricos com os seguintes objetivos:

Reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real

valor;

Incentivar a racionalização do uso da água;

Obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções

contemplados nos planos de recursos hídricos.

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A Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) nº 48/2005, acrescentou

mais dois objetivos para a cobrança, de cunho voltado às questões ambientais:

Estimular o investimento em despoluição, reuso, proteção e conservação, bem como a

utilização de tecnologias limpas e poupadoras dos recursos hídricos, de acordo com o

enquadramento dos corpos de águas em classes de usos preponderantes; e

Induzir e estimular a conservação, o manejo integrado, a proteção e a recuperação dos

recursos hídricos, com ênfase para as áreas inundáveis e de recarga dos aquíferos,

mananciais e matas ciliares, por meio de compensações e incentivos aos usuários.

Nos corpos hídricos de domínio da União, compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica a

definição dos critérios e valores a serem cobrados e o respectivo encaminhamento para

aprovação do CNRH. Uma vez aprovados nesse Conselho, a cobrança pode ser implementada.

Além disso, a Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) nº 48/2005 fixa

as seguintes condicionantes do início da cobrança em uma bacia hidrográfica:

Proposição das acumulações, derivações, captações e lançamentos considerados

insignificantes ou de pouca expressão pelo respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e sua

aprovação pelo respectivo Conselho de Recursos Hídricos, para os fins previstos no § 1º do

art. 12 da Lei nº 9.433/1997;

Processo de regularização de usos de recursos hídricos sujeitos à outorga na respectiva

bacia, incluindo o cadastramento dos usuários da bacia hidrográfica;

Definição do programa de investimentos no respectivo Plano de Recursos Hídricos,

devidamente aprovado;

Aprovação, pelo competente Conselho de Recursos Hídricos, da proposta de cobrança,

tecnicamente fundamentada, encaminhada pelo respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica

no que se refere à base técnica sobre a qual serão discutidos os valores; o parágrafo único

do art. 6º determina que os órgãos e entidades gestores de recursos hídricos deverão

elaborar estudos técnicos para subsidiar a proposta dos valores a serem cobrados pelo uso

de recursos hídricos, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelo Comitê de

Bacia Hidrográfica ao respectivo Conselho de Recursos Hídricos;

Implantação da respectiva Agência de Bacia Hidrográfica ou da entidade delegatária do

exercício de suas funções.

A Lei nº 13.199/1999 de Minas Gerais determina que a implementação da cobrança seja

precedida de articulação com a União e com os Estados vizinhos, nos casos em que as bacias

hidrográficas sejam de rios de domínio federal por meio da celebração de convênios de

cooperação técnica35. Segundo o Decreto nº 44.046/2005, que regulamenta a cobrança pelo

uso de recursos hídricos de domínio do Estado de Minas Gerais, os parâmetros a serem

35 Lei Estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 53.

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adotados em cada bacia hidrográfica serão definidos a partir de propostas apresentadas pelos

comitês de bacia hidrográfica e aprovadas pelo CERH-MG.36

No estado de São Paulo, a cobrança prevista na Lei nº 7.663/1991 é objeto específico da Lei

nº 12.183/2005, regulamentada pelos Decretos nº 50.667/2006 e nº 55.008/2009, que

estabelecem os critérios de cobrança. O cálculo dos valores deve seguir fórmula paramétrica

fixada nessa legislação, ao contrário do que prevê a norma federal, acerca da cobrança pelo

uso de recursos hídricos de domínio da União, em que o Comitê de Bacia Hidrográfica propõe

os valores de acordo com critérios definidos em deliberação, cabendo ao CNRH aprová-los.

2.4.5.3 Proposta de Implementação da Cobrança

A proposta acerca da implementação da cobrança, no que se refere aos aspectos institucionais,

refere-se à necessidade de equidade (igualdade) em relação aos usuários, isto é, ao equilíbrio

dos valores a serem cobrados de cada setor produtivo nos corpos hídricos de domínio da

União, do estado de São Paulo e do estado de Minas Gerais.

Conforme tratado no PP-04, a implementação da Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos na

Bacia do Rio Grande é um dos objetivos estratégicos em relação aos instrumentos do Plano.

Como já identificado, a situação do processo de implementação da cobrança pelo uso dos

recursos hídricos na vertente paulista se encontra em estágio avançado, pois em São Paulo já

há uma fórmula legalmente definida para que os comitês apenas fixem os pesos. Nos rios de

domínio do estado de Minas Gerais, os comitês de bacias afluentes não iniciaram o processo

de discussão de valores e metodologias visando à implementação da cobrança. Nos rios de

domínio da União, o processo de implementação tampouco foi iniciado.

A seguir, é reproduzida a tela de acompanhamento da implementação da cobrança pelo uso

da água na vertente paulista da bacia do rio Grande, disponível no Sistema de Gerenciamento

de Recursos Hídricos – SIGRH - paulista.

TABELA DE ACOMPANHAMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM

SÃO PAULO37

UGRHI

Aprovação da

proposta de

Cobrança no CBH

Aprovação da

proposta de

cobrança no

CRH

Decreto

Estadual

Ato

Convocatório

INÍCIO

(Emissão dos

Boletos)

01 – Serra da

Mantiqueira

Deliberações CBH-

SM 03, de 31.03.11;

e 11, de 31.08.11

Deliberação CRH

131, de 19.04.11

58.804, de

26.12.2012,

republicado em

28.12.2013

04 - Pardo

Deliberação CBH-

Pardo 16, de

03.12.10

Deliberação CRH

127, de 19.04.11

58.771, de

20.12.2012

36 Decreto nº 44.046/2005, art. 10, parágrafo único.

37 SIGRH. Disponível em: http://www.sigrh.sp.gov.br/cobrancapelousodaagua

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UGRHI

Aprovação da

proposta de

Cobrança no CBH

Aprovação da

proposta de

cobrança no

CRH

Decreto

Estadual

Ato

Convocatório

INÍCIO

(Emissão dos

Boletos)

08 – Sapucaí Mirim /

Grande

Deliberações CBH-

SMG 183, de

02.12.10; 191 ad

referendum, de

19.04.11; e 223 ad

referendum, de

04.12.13

Deliberação CRH

128, de 19.04.11

58.772, de

20.12.2012,

republicado em

14.02.2014 e

15.02.2014

09 – Mogi-Guaçu

Deliberações CBH-

Mogi 110, de

19.11.10; e 143 ad

referendum, de

18.12.13

Deliberação CRH

126, de 19.04.11

58.791, de

21.12.2012,

republicado em

16.01.2014

12 – Baixo Pardo /

Grande

Deliberações CBH-

BPG 111, de

29.11.10; 120, de

28.06.11; e 154, de

25.11.13

Deliberação CRH

129, de 19.04.11

58.813, de

27.12.2012,

republicado em

12.12.2013 e

28.12.2013

15 – Turvo Grande Deliberação CBH-TG

203, de 04.12.12

Deliberação CRH

150, de 30.04.13

61.346, de

06.07.2015

Legenda:

Implementado

Em andamento

Não realizado

Tendo em vista que os processos de definição dos valores não são idênticos, é necessário um

acordo prévio, que seja compatível com a legislação paulista. Isso não significa que haja

qualquer engessamento para um processo de governança, pois é possível utilizar, dentre os

parâmetros fixados na norma paulista, apenas aqueles que se deseja computar no cálculo.

Essa prática de compatibilização já foi efetuada em outras bacias hidrográficas, com a presença

de corpos hídricos de domínios distintos, incluindo os de São Paulo. O ponto relevante

consiste realmente no processo de governança.

2.5 AVALIAÇÃO DA MATRIZ INSTITUCIONAL VIGENTE E PROPOSTAS DE MELHORIAS

2.5.1 Âmbito Federal

Em nível nacional, ressalta-se o protagonismo na gestão integrada de recursos hídricos da

Agência Nacional de Águas (ANA) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

Caberá abordar, além deles, o Comitê Federal da Bacia do Rio Grande.

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2.5.1.1 Agência Nacional de Águas - ANA

À Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal de implementação da Política Nacional

de Recursos Hídricos38

, é atribuída a função de atuar em articulação com órgãos e entidades

públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,

cabendo-lhe, entre outros: 1. supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades

decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos; e 2.

disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a

avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos39

.

2.5.1.2 IBAMA

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) é uma

autarquia federal criada pela Lei nº 7.735/1989 com a finalidade de: 1. exercer o poder de

polícia ambiental; 2. executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às

atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental,

à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle

ambiental, observadas as diretrizes emanadas do Ministério do Meio Ambiente; e 3. executar

as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a legislação ambiental

vigente .

Suas competências no âmbito federal são regulamentadas pelo Decreto nº 8.973, de 24 de

janeiro de 2017, entre as quais destacam-se : 1. proposição e edição de normas e padrões de

qualidade ambiental; 2. avaliação de impactos ambientais; 3. licenciamento ambiental de

atividades, empreendimentos, produtos e processos considerados efetiva ou potencialmente

poluidores, e daqueles capazes de causar degradação ambiental; 4. implementação dos

Cadastros Técnicos Federais de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental e de Atividades

Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais; 5. fiscalização e aplicação

de penalidades administrativas ambientais ou compensatórias pelo não-cumprimento das

medidas necessárias à preservação ou à correção da degradação ambiental, nos termos da

legislação em vigor; 6. disciplinamento, cadastramento, licenciamento, monitoramento e

fiscalização dos usos e dos acessos aos recursos ambientais, florísticos e faunísticos; 7.

elaboração do sistema de informação para a gestão do uso dos recursos faunísticos, pesqueiros

e florestais; 8. elaboração e estabelecimento de critérios, padrões e proposição de normas

ambientais para a gestão do uso dos recursos pesqueiros, faunísticos e florestais.

O licenciamento ambiental, já previsto na Lei nº 6.938/81, atualmente é regulamentada pela

Lei Complementar nº 140/2011, segundo a qual é de competência da União e, portanto, do

IBAMA, promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades, entre outras,

localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados ou localizados ou desenvolvidos em

unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental

(APAs) .

38 Lei nº 9.984, art. 1º.

39 Lei nº 9.984/2000, art. 4º

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Dentro de sua estrutura organizacional, compete à Diretoria de Licenciamento Ambiental

coordenar, controlar e executar as ações referentes ao licenciamento ambiental, nos casos de

competência federal.

2.5.1.3 Conselho Nacional de Recursos Hídricos

A respeito do CNRH, a Lei nº 9.984/2000 estabelece a sua competência para promover a

articulação dos planejamentos nacional, regionais, estaduais de recursos hídricos e formular a

Política Nacional de Recursos Hídricos40

. Esse órgão da Administração Pública tem caráter

consultivo e deliberativo na gestão de recursos hídricos41

.

2.5.1.4 Comitê Federal de Bacia Hidrográfica do Rio Grande (CBH Grande)

A Resolução CNRH nº 5/2000, alterada pelas Resoluções nº 18/2001 e 24/2002, ao tratar dos

Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio dos estados, afluentes de rios de domínio

da União, determina que as ações – decisões e planos, por exemplo – devem ser desenvolvidas

de forma articulada entre União e Estados, observando os critérios e as normas estabelecidas

pelos Conselhos de Recursos Hídricos42

, bem como compatibilizadas com os planos e decisões

referentes a bacia hidrográfica, especialmente quando se tratar de Comitês de sub-bacias43

.

A integração e a articulação entre os órgãos envolvidos na gestão de uma bacia hidrográfica

foram incorporadas no Regimento Interno do Comitê Federal de Bacia Hidrográfica do Rio

Grande (CBH Grande), segundo o qual tem por finalidades44:

Promover a gestão integrada dos recursos hídricos no âmbito de sua competência,

considerando a totalidade da bacia hidrográfica do rio Grande como unidade de

planejamento e gestão, definidas pela Política e Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, fomentando as ações previstas na Lei nº 9.433/1997, nas Políticas

Estaduais correspondentes e em normas complementares supervenientes;

Articular a integração da gestão dos Sistemas Estaduais e Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos e seus respectivos instrumentos de gestão, no âmbito da bacia

hidrográfica do rio Grande;

Apoiar e promover a gestão compartilhada envolvendo as instâncias regionais de recursos

hídricos da bacia hidrográfica do rio Grande, tais como: os comitês de bacia de rios

afluentes ao rio Grande, os consórcios intermunicipais de bacias hidrográficas, as

associações de usuários de recursos hídricos e outras formas de organização afins.

O CBH Grande, em sua competência de elaborar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia

Hidrográfica do Rio Grande, compromete-se a respeitar e integrar as diretrizes emanadas pelo

CNRH e as orientações contidas nos Planos Nacional e Estaduais de Recursos Hídricos,

40 Lei nº 9.984/2000, art. 2º.

41 Decreto nº 4.613/2003, art. 1º.

42 Resolução CNRH nº 5/2000, art. 3º.

43 Resolução CNRH nº 5/2000, art. 6º.

44 Deliberação CBH Grade nº 018/2015, art. 3º

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compatibilizando de forma articulada e integrada, com os planos de recursos hídricos de bacias

hidrográficas afluentes ao rio Grande, quando existentes45.

Nesse sentido, foi criada a Câmara Técnica de Integração (CTI) do CBH Grande46

, com a

finalidade de facilitar o debate e criar consensos par a atuação articulada na Bacia Hidrográfica

do Rio Grande, constituída de:

7 (sete) vagas para o segmento Poder Público, sendo: a. 2 (duas) vagas para o órgão gestor

de recursos hídricos do Estado de São Paulo; b. 1 (uma) vaga para o órgão gestor de

recursos hídricos do Estado de Minas Gerais; c. 1 (uma) vaga para prefeituras do Estado de

São Paulo; d. 2 (duas) vagas para prefeituras do Estado de Minas Gerais; e. 1 (uma) vaga

para a Agência Nacional de Águas.

8 (oito) vagas para o segmento Usuários, sendo: a. 4 (quatro) vagas para o Estado de São

Paulo; b. 4 (quatro) vagas para o Estado de Minas Gerais.

6 (seis) vagas para o segmento Sociedade Civil, sendo: a. 3 (três) vagas para o Estado de São

Paulo; b. 3 (três) vagas para o Estado de Minas Gerais.

Os membros que compõem a Câmara Técnica de Integração (CTI) no mandato de 2016 a

2020 tomaram posse em agosto de 2016, por meio da Deliberação CBH-Grande nº 31/2016.

Entre os órgãos e entidades do segmento poder público, farão parte dessa Câmara Técnica os

representantes da ANA, DAEE, CETESB, IGAM, Prefeitura de Catanduva, Prefeitura de Cambuí

e Prefeitura de Itajubá. Quanto aos representantes do segmento usuário, foram designados:

Sindicato Rural do Vale do Rio Grande – SIRVARIG; Associação Nacional dos Serviços

Municipais de Saneamento – ASSEMAE; Federação das Indústrias do Estado de São Paulo –

FIESP; Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP; Federação das

Indústrias do Estado de Minas - FIEMG - Regional Vale do Rio Grande; Sindicato dos

Produtores Rurais de Cassia; Federação das Indústrias do Estado de Minas - FIEMG - Regional

Sul; Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA. Por fim, como representantes da

sociedade civil: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES; Associação

Paulo Duarte – APD; Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP; Associação Brasileira de

Engenharia Sanitária – ABES; Associação Instituto Rio Santo Antônio - ONG IRIS; e ONG

Planeta Solidário.

Cabe destacar as atribuições da Câmara Técnica de Integração – CTI:

Conduzir o processo de construção da Agenda de Integração para a Gestão das Águas da

Bacia Hidrográfica do Rio Grande e acompanhar, avaliar e propor medidas visando à

implementação das ações estabelecidas;

Propor formas de articulação e integração das ações dos Estados de São Paulo e de Minas

Gerais e da União na implementação das suas competências na gestão das águas na bacia

45 Deliberação CBH Grande nº 018/2015, art. 4º

46 Deliberação CBH Grande nº 013/2014, art. 2º.

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hidrográfica do rio Grande, estimulando o desenvolvimento de projetos que tragam

benefícios para toda a bacia e reforcem a visão de conjunto;

Atuar como fórum de integração dos Comitês Estaduais, órgãos gestores, federal e

estaduais, e demais entidades intervenientes no âmbito da bacia hidrográfica do rio

Grande;

Examinar matérias específicas, de cunho técnico e institucional, para subsidiar a tomada de

decisões do Plenário e da Diretoria Colegiada do CBH-Grande;

Propor normativas relativas aos instrumentos de gestão de recursos hídricos, de forma

integrada e harmonizada, observada a legislação pertinente;

Acompanhar a elaboração e a implementação do Plano Integrado de Recursos Hídricos da

Bacia (PIRH) e dos respectivos Planos de Ação de Recursos Hídricos (PARH) nas bacias

hidrográficas de rios afluentes, sugerindo providências necessárias ao Cumprimento de suas

metas;

Subsidiar a formulação de diretrizes gerais para a cobrança pelo uso da água, prioridades

de uso e alocação de água, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio Grande.

As atribuições acima relacionadas referem-se, especificamente, a uma atuação concreta no

processo de integração da bacia hidrográfica, prevendo-se que essa Câmara Técnica possua

expertise não só para analisar as questões, mas também e principalmente estabelecer propostas

técnicas de cunho bastante estratégico.

É o caso, como por exemplo, de propor formas de articulação e integração das ações dos

estados de São Paulo e de Minas Gerais e da União na implementação das suas competências na

gestão das águas na bacia hidrográfica do rio Grande ou ainda normativas relativas aos

instrumentos de gestão de recursos hídricos, de forma integrada e harmonizada.

Em realidade, trata-se de atribuições pouco compatíveis com uma Câmara Técnica, pois os

temas elencados configuram a base da integração entre União e os estados de Minas Gerais e

São Paulo em pontos bastante nevrálgicos. Uma atuação nessa linha enseja um processo de

governança muito estruturado, para obter, de fato, os resultados pretendidos.

Ainda que esteja prevista a criação de 1. grupos de trabalho temáticos, para tratar de assuntos

específicos e tornar mais ágil e eficaz o desempenho de suas atividades, quando necessário; 2.

o convite a especialistas para prestar informações sobre assuntos de sua competência; 3. o

encaminhamento, quando necessário, de solicitação de manifestação dos órgãos e entidades

integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, sobre assunto de sua

competência; 4. a proposta ao Comitê de indicação de especialistas para compor Grupos de

Acompanhamento que venham a ser instituídos, é necessário fortalecer o modelo adotado.

Para que essa Câmara Técnica possa realmente exercer as atividades a ela atribuídas, será

necessário que os seus membros estejam em contato permanente e direto com os órgãos e

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entidades e efetuem os encaminhamentos com base técnica suficiente para respaldar as

discussões e decisões políticas a serem estabelecidas pelo Comitê.

Atualmente, o Grupo Técnico para acompanhar a elaboração do Plano Integrado de Recursos

Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande (GT-Plano), instituído pela Deliberação CBH-

Grande nº 19/2015 sob responsabilidade da CTI, tem sido ativo no processo de

acompanhamento da elaboração do PIRH-Grande, cabendo a ele a avaliação dos produtos

antes que sejam submetidos à plenária do Comitê. No PP-04, dentro do componente

estratégico de governança, foi estabelecida a meta de desenvolver metodologia para que o

gerenciamento da implementação do PIRH seja feito pelo GT-Plano.

2.5.1.5 Pacto para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio

Grande

O Pacto para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande47

consiste em um Acordo de Cooperação Técnica contendo um Plano de Trabalho anexo, que

visa definir o arranjo institucional e as atribuições compartilhadas, além de garantir o

funcionamento do CBH-Grande.

Nesse documento, os signatários – CBH Grande, Comitês de Bacias Hidrográficas Afluentes,

ANA, estado de São Paulo e estado de Minas Gerais – se comprometem a buscar a atuação

articulada para a harmonização de critérios e procedimentos em toda a bacia hidrográfica do

rio Grande, tais como os instrumentos de cadastro, outorga de direito de uso e fiscalização.

De acordo com o documento, o CBH Grande atuará como um Comitê de Integração, entre as

quatorze Unidades Estaduais de Gestão de Recursos Hídricos (UGHs) existentes na Bacia

Hidrográfica do Rio Grande48

. Entre os instrumentos de gestão aplicáveis a este Comitê de

Integração, consta, com apoio dos acordantes, a elaboração de um Plano Integrado de

Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande.

Os signatários acordam, também, em buscar um modelo de organização que possa atuar como

Agência de Água da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, isto é, que seja compatível com a

legislação nacional e as legislações estaduais correlatas. Além disso, faz parte do Pacto a

universalização da cobrança pelo uso de recursos hídricos em toda bacia, com o

estabelecimento de mecanismos e valores harmônicos49.

O Plano de Trabalho que compõe o Pacto traça metas para a integração da gestão do CBH

Grande, detalhando as diretrizes do Acordo de Cooperação quanto às atividades a serem

realizadas (ex.: criação de grupo de trabalho), ao aporte financeiro (se necessário), ao prazo

para cumprimento e aos responsáveis pela execução das atividades.

De acordo com informações obtidas em 27/06/2017, o Pacto já foi assinado pela ANA, pelo

CBH Grande e pelos Comitês de Bacia Hidrográfica Afluentes.

47 Acordo de Cooperação Técnica nº 09/2016/ANA.

48 Acordo de Cooperação Técnica nº 09/2016/ANA, Cláusula Quarta.

49 Acordo de Cooperação Técnica nº 09/2016/ANA, Cláusula Quarta.

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2.5.2 Âmbito Estadual: São Paulo

No estado de São Paulo, foram analisadas a Política Estadual de Recursos Hídricos, Lei nº

7.663/1991, as Resoluções do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) e os Estatutos,

Deliberações e Atas de Reunião – entre 2012 e 2017 – dos seis Comitês de Bacia Hidrográfica

dos rios afluentes, que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Grande.

2.5.2.1 Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE)

O Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, autarquia estadual, criada pela Lei nº

1.350/1951, com alterações posteriores, é a entidade do Estado de São Paulo responsável pelas

ações relativas ao controle dos recursos hídricos de domínio do estado de São Paulo.

Atualmente, o DAEE se encontra vinculado à Secretaria de Estado de Saneamento e Recursos

Hídricos.

Destacam-se as seguintes atribuições dessa entidade:

Estabelecer a política de utilização dos recursos hídricos, tendo em vista o desenvolvimento

integral das bacias hidrográficas;

Desenvolver a ecologia, promover a defesa do meio-ambiente e executar serviços e obras

de saneamento (Decreto nº 6.997/1975).

Os princípios estabelecidos para a atuação do DAEE consistem em:

As atividades do DAEE orientar-se-ão por uma política visando à máxima eficiência de

atendimento e à redução de custos operacionais;

No exercício de suas atividades, o DAEE terá sempre presente a preocupação fundamental

de disciplinar a utilização dos recursos hídricos e o desenvolvimento regional, dentro de

critérios exclusivamente técnicos e econômicos e de aprimoramento dos serviços;

Outorgar concessões permissões e autorizações para uso ou derivação de águas do domínio

estadual.

A Lei nº 7.663/91 instituiu, no artigo 7º da Disposições Transitórias, as seguintes atribuições ao

DAEE, no âmbito do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SIGRH:

Autorizar a implantação de empreendimentos que demandem o uso de recursos hídricos;

Cadastrar os usuários e outorgar o direito de uso dos recursos hídricos, e aplicar as sanções

previstas nos artigos 11 e 12 da Lei nº 7.663/1991;

Efetuar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, nas bacias em que não tiver sido

implantada a Agência de Água.

A legislação institucional que dispõe sobre o DAEE encontra-se defasada em relação aos

parâmetros de gestão atualmente em vigor, não havendo previsão expressa para estabelecer a

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articulação com outros estados e a União, no âmbito das bacias hidrográficas. Importa

considerar, todavia, que essa lacuna nas normas não exime a entidade de proceder à

articulação necessária, pois tanto a norma geral sobre recursos hídricos, Lei nº 9.433/1997,

como a lei estadual que rege a matéria, Lei nº 7.663/1991, são claras sobre essa matéria.

Cabe verificar como a legislação em vigor dispõe sobre a articulação institucional. A Lei nº

9.433/1997, conforme já mencionado no início deste texto, estabelece, como princípios

norteadores da Política Nacional de Recursos Hídricos que a bacia hidrográfica é a unidade

territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.50

Além disso, a gestão dos recursos hídricos

deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das

comunidades.51

Considerando que a delimitação da bacia hidrográfica deve corresponder à atuação de um

Comitê de Bacia Hidrográfica, tem-se, no caso presente, que a gestão do CBH-Grande

necessariamente deve contar com uma gestão da qual participem o Poder Público, os usuários

e as comunidades. Para tanto, a articulação institucional é condição fundamental para que se

cumpra o dispositivo da norma geral acima mencionado: gestão por bacia hidrográfica.

A Lei nº 7.663/1991, por sua vez, estabelece, como atribuição do Conselho Estadual de

Recursos Hídricos (CRH), entre outras, promover:52

1. a integração entre os componentes do

SIGRH, a articulação com os demais sistemas do Estado em matéria correlata, com o setor

privado e a sociedade civil; e 2. promover a articulação com o Sistema Nacional de

Gerenciamento dos Recursos Hídricos, com os Estados vizinhos e com os Municípios do Estado

de São Paulo. Essas atribuições implicam que todos os membros do CRH participam dessa

articulação. Assim, por força das políticas de recursos hídricos, os órgãos e entidades

governamentais incluem-se nessa articulação, ainda que as respectivas leis de criação não

sejam explícitas quanto a isso. O princípio da legalidade deve ser visto, nesse caso, a luz do

ordenamento jurídico como um todo.

Além disso, como entidade responsável pelas outorgas de direito de uso de recursos hídricos

de domínio do estado de São Paulo, o DAEE é protagonista essencial na implantação do PIRH-

Grande.

No que se refere à cobrança pelo uso de recursos hídricos, uma vez aprovado o início da

cobrança, e na ausência de uma entidade única ou não, que exerça as funções de Agência,

caberá ao DAEE proceder a cobrança pelo uso dos recursos hídricos de domínio estadual.

50 Lei nº 9.433/1997, art. 1º, V.

51 Lei nº 9.433/1997, art. 1º, V.I

52 Lei nº 7.663/1991, art. 27.

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2.5.2.2 Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB)

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB é a entidade do Governo do Estado

responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras

de poluição, com o objetivo de preservar e recuperar a qualidade das águas, do ar e do solo.

A CETESB foi criada pelo Decreto Estadual nº 50.079, de 24 de julho de 1968, como Centro

Tecnológico de Saneamento Básico, pertencente ao Fundo Estadual de Saneamento Básico,

com o objetivo de realizar exames de laboratório e levantamentos e efetuar estudos, ensaios,

pesquisas e treinamento de pessoal no campo da engenharia sanitária. A Lei Estadual nº

118/1973, contudo, constituiu a Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e

de Controle de Poluição das Águas, CETESB, como uma sociedade por ações vinculada à

Secretaria dos Serviços e Obras Públicas.

Por fim, a Lei Estadual nº 13.542/2009 alterou a denominação da CETESB para Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental, constituindo a denominada “Nova CETESB”. A

entidade, assim, passou a ser a executora do Sistema Estadual de Administração da Qualidade

Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos

Recursos Naturais (SEAQUA) e a compor o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (SIGRH).

Essa lei redefiniu, também, as atribuições da CETESB, entre as quais destacam-se: 1. proceder

ao licenciamento ambiental de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como capazes, sob

qualquer forma, de causar degradação ambiental; 2. autorizar a supressão de vegetação e

intervenções em áreas consideradas de Preservação Permanente e demais áreas

ambientalmente protegidas; 3. emitir alvarás e licenças relativas ao uso e ocupação do solo em

áreas de proteção de mananciais; 4. emitir licenças de localização relativas ao zoneamento

industrial metropolitano; 5. fiscalizar e impor penalidades: a) a quem instale ou opere as

atividades de que trata o inciso I deste artigo, sem licença ou autorização ambiental ou

descumpra as exigências e condições nelas impostas; b) a quem cause poluição ou degradação

do meio ambiente; c) aos infratores da legislação sobre o uso e ocupação do solo em áreas de

proteção de mananciais; d) aos infratores da legislação sobre o zoneamento industrial

metropolitano; 6. executar o monitoramento ambiental, em especial da qualidade dos recursos

hídricos superficiais e subterrâneos, do ar e do solo; 7. efetuar exames e análises necessários ao

exercício das atividades de licenciamento, fiscalização e monitoramento ambiental; 8.

desenvolver estudos e pesquisas de interesse de seu campo de atuação; 8. expedir normas

técnicas específicas e suplementares no âmbito de suas atribuições.

Dessa forma, compete à CETESB, no Estado de São Paulo, licenciar a instalação, a construção

ou a ampliação, bem como a operação ou o funcionamento das fontes de poluição, que ficam

sujeitas à prévia autorização, mediante expedição, quando for o caso, de Licença Ambiental

Prévia (LAP), de Licença Ambiental de Instalação (LAI) e/ou de Licença Ambiental de Operação

(LAO). De acordo com o artigo 6º da Lei Estadual nº 997/1976, os órgãos da Administração

direta ou indireta, do Estado e dos Municípios, deverão exigir a apresentação das licenças

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expedidas pela CETESB, antes de aprovarem projetos de ampliação, instalação ou construção

das fontes de poluição, ou de autorizarem a operação ou o funcionamento dessas fontes. Cabe

citar a Resolução Conjunta SMA/SERHS nº 1/2005, que regula o Procedimento para o

Licenciamento Ambiental Integrado às Outorgas de Direito de Uso de Recursos Hídricos.

Para fins de licenciamento ambiental pela CETESB, são consideradas fontes de poluição

relacionadas à gestão de recursos hídricos:

Sistemas de saneamento, a saber:

o Sistemas autônomos públicos ou privados de armazenamento, transferência,

reciclagem, tratamento e disposição final de resíduos sólidos;

o Sistemas autônomos públicos ou privados de armazenamento, afastamento,

tratamento, disposição final e reuso de efluentes líquidos, exceto implantados em

residências unifamiliares;

o Sistemas coletivos de esgotos sanitários: elevatórias; estações de tratamento; emissários

submarinos e subfluviais; e disposição final;

o Estações de tratamento de água;

Serviços de coleta, armazenamento, transporte e disposição final de lodos ou materiais

retidos em unidades de tratamento de água, esgotos ou de resíduos industriais.

Ainda no âmbito dos recursos hídricos, a CETESB, de acordo com o Decreto Estadual nº

32.955/1991, que regulamenta a preservação dos depósitos naturais de águas subterrâneas do

Estado de São Paulo, conforme a Lei nº 6.134/1988, tem a competência prevenir e controlar a

poluição das águas subterrâneas e, para isso, deve manter os serviços indispensáveis. Dessa

forma, caberá à CETESB, ao DAEE e à Secretaria da Saúde, no âmbito das atribuições, fiscalizar

a utilização das águas subterrâneas, para protegê-las contra poluição e evitar efeitos

indesejáveis aos aquíferos e à saúde pública.

Por fim, esse mesmo Decreto determina que no interesse da conservação, proteção e

manutenção do equilíbrio natural das águas subterrâneas, dos serviços de abastecimento de

água, ou por motivos geotécnicos ou geológicos, o DAEE e a CETESB poderão propor ao

Conselho Estadual de Recursos Hídricos a delimitação de áreas destinadas ao seu controle e

restringir a captação e o uso dessas águas.

2.5.2.3 Conselho Estadual de Recursos Hídricos

Em relação ao CRH, não se encontraram, em suas resoluções, dispositivos específicos

abordando o tema da articulação institucional entre comitês. Essa informação é relevante, pois

aponta que esse tema não está incorporado nas discussões no âmbito do colegiado estadual. E

indica, também, a necessidade de incluir na pauta das reuniões do CRH a discussão sobre a

necessidade do exercício da governança e da articulação, tendo em vista que essa é uma

condição básica para a gestão da bacia do rio Grande, que congrega vários comitês estaduais

de ambos os estados.

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2.5.2.4 Comitês de Bacia Hidrográfica

No estado de São Paulo, os Comitês de Bacia Hidrográfica e respectivas UGRHIs foram

definidos na Lei nº 9.034/1994, revogada pela Lei nº 16.337/2016, que confirmou a divisão

hidrográfica do estado de São Paulo anteriormente definida. Fazem parte da bacia do rio

Grande o CBH da Serra da Mantiqueira (UGRHI 01); o CBH do Pardo (UGRHI 04); o CBH do

Sapucaí-Mirim/Grande (UGRHI 08); o CBH do Mogi Guaçu (UGRHI 09); o CBH do Baixo

Pardo / Grande (UGRHI 12) e o CBH do Turvo / Grande (UGRHI 15).

Todos os Estatutos dos Comitês de Bacia Hidrográfica paulistas, dos afluentes do rio Grande,

previram competências relacionadas à articulação com a União, estados e municípios para a

gestão integrada de recursos hídricos, em consonância com as normas federais e estaduais.

Merecem destaque, contudo, as previsões do CBH Serra da Mantiqueira e do CBH do Pardo

que dizem especificamente sobre a articulação com o Estado de Minas Gerais:

Estatuto do CBH da Serra da Mantiqueira:

Artigo 3º - Além do disposto na Legislação Estadual com relação às atribuições dos

Comitês das Bacias Hidrográficas, compete ao CBH-SM: XXII – Participar da

articulação com o Estado de Minas Gerais e com a União, visando a instituição de

mecanismos para integração da gestão dos recursos hídricos.

Estatuto do CBH do Pardo:

Artigo 14 - São atribuições da Secretaria Executiva, além daquelas expressas neste

Estatuto, dar cumprimento às deliberações do CORHI e CRH, conforme a legislação

vigente: IX - participar com o CORHI, na promoção da articulação com os demais

Comitês de Bacias paulistas e mineiros e com a União, para gestão dos Recursos

Hídricos da Bacia Hidrográfica do Pardo.

Esses dispositivos são relevantes, pois deixam explicitado que faz parte integrante da gestão da

bacia do rio Grande e das bacias de seus afluentes a articulação permanente na busca de

mecanismos de gestão compatibilizados.

A respeito do posicionamento dos CBHs paulistas em relação ao Pacto para a Gestão Integrada

dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, houve deliberação e o documento

já foi aprovado pelo CBH Serra da Mantiqueira53

, CBH Pardo54

, CBH Sapucaí Mirim /

Grande55

, CBH Baixo Pardo / Grande56

, CBH Mogi Guaçu57

e CBH Turvo / Grande58

. Apesar da

informação obtida em 05/04/2017 de que todos os CBHs afluentes paulistas haviam aprovado

o Pacto, não foi encontrada Deliberação do CBH Mogi Guaçu a esse respeito no Sistema

Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH).

53 Deliberação CBH-SM nº 09/2016.

54 Deliberação “ad referendum” CBH-Pardo nº 225/2016.

55 Deliberação CBH-SMG nº 256/16.

56 Deliberação CBH-BPG nº 199/2016.

57 Deliberação CBH-MOGI nº 162/2016.

58 Deliberação CBH-TG nº 261/2016.

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Foram analisadas as atas de reunião dos Comitês de Bacia Hidrográfica, com o objetivo de

identificar, nesses documentos, o registro da atuação mais relevante de algum grupo. Porém,

não se identificou qualquer segmento representado nos Comitês com atuação relevante

explicitada nesses documentos.

2.5.3 Âmbito Estadual: Minas Gerais

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e o

Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), assim como o CERH-MG e o IGAM, são

órgãos que integram o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SISEMA) do

Estado de Minas Gerais.

O arcabouço institucional do estado de Minas Gerais, analisado do ponto de vista da gestão

integrada de recursos hídricos, consiste naquele estabelecido na Política Estadual de Recursos

Hídricos, Lei nº 13.199/1999, nas Resoluções do Conselho Estadual de Recursos Hídricos

(CERH), além dos Estatutos, Deliberações e Atas de Reunião – entre 2012 e 2017 – dos oito

Comitês de Bacia Hidrográfica dos rios afluentes, que compõem a bacia hidrográfica do rio

Grande.

2.5.3.1 Instituto Mineiro de Gestão das Águas

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) é uma autarquia estadual de que trata a Lei nº

12.584/1997, com autonomia administrativa e financeira, personalidade jurídica de direito

público, prazo de duração indeterminado, sede e foro na capital do estado de Minas Gerais, e

vincula-se à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD.

Nos termos do Decreto nº 46.636/2014, que estabelece o Regulamento do IGAM, essa

entidade integra, no âmbito estadual e na esfera de sua competência, o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, nos termos da Lei Federal nº 9.433/1997, o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos

Hídricos (SISEMA) e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH-MG),

de que trata a Lei nº 13.199/1999.59

Na execução da política estadual de recursos hídricos e de meio ambiente formulada pela

SEMAD, pelo CERH-MG e pelo COPAM, compete ao IGAM, entre outras atribuições:

Assegurar, para a atual e as futuras gerações, a disponibilidade de água, em padrões de

qualidade adequados aos respectivos usos;

Executar diretrizes relacionadas à gestão das águas no território mineiro e à política estadual

de recursos hídricos;

Programar, coordenar, supervisionar e executar estudos que visem à elaboração e à

aplicação dos instrumentos de gestão das águas e da política estadual de recursos hídricos;

59 Decreto nº 46.636/2014, art. 3º.

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Promover, incentivar, executar, publicar e divulgar estudos, projetos, pesquisas e trabalhos

técnico-científicos de proteção e conservação das águas, visando ao seu consumo racional e

aos usos múltiplos;

Desempenhar, em cooperação com órgãos e entidades encarregados de implementar a

política estadual de recursos hídricos, as funções técnicas e administrativas necessárias à

utilização racional dos recursos hídricos do Estado, objetivando seu aproveitamento

múltiplo;

Incentivar e prestar apoio técnico à criação, à implantação e ao funcionamento de comitês

e agências de bacias hidrográficas, bem como coordenar o processo eleitoral dos comitês

de bacias hidrográficas;

Coordenar a elaboração e a atualização do plano estadual de recursos hídricos e dos planos

diretores de recursos hídricos, bem como articular sua implementação;

Subsidiar o cerh no estabelecimento de critérios e normas gerais sobre outorga,

enquadramento, cobrança e demais instrumentos da política estadual de recursos hídricos;

Gerir o sistema estadual de informações sobre recursos hídricos;

Orientar a elaboração e acompanhar a aprovação e o controle da execução de planos,

estudos, projetos, serviços e obras na área de recursos hídricos, bem como participar de sua

elaboração quando desenvolvidos por instituições conveniadas;

Medir e monitorar a qualidade e a quantidade das águas de forma permanente e contínua.

Cabe destacar, entre as atribuições do IGAM, a de promover a articulação de ações integradas

com os órgãos e entidades outorgantes da União e dos Estados limítrofes a Minas Gerais, para a

gestão de bacias compartilhadas.

Nota-se que as normas aplicáveis à atuação do IGAM estão perfeitamente coadunadas com as

políticas de recursos hídricos, cabendo enfatizar que a articulação com a União e estados

limítrofes, como é o caso de São Paulo, na bacia do rio Grande, encontra-se expressamente

incluída no rol de competências da entidade gestora.

2.5.3.2 SEMAD e Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM

A SEMAD tem por finalidade formular, coordenar, executar e supervisionar as políticas públicas

para conservação preservação e recuperação dos recursos ambientais, visando ao

desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade ambiental do Estado. Entre suas

competências, destacam-se: 1. planejar, executar e coordenar a gestão ambiental de forma

participativa e descentralizada, por meio da regularização ambiental e da aplicação de outros

instrumentos de gestão ambiental; 2. coordenar e exercer o poder de polícia administrativa; 3.

propor, estabelecer e promover a aplicação de normas relativas à conservação, preservação e

recuperação dos recursos ambientais e ao controle das atividades e dos empreendimentos

considerados efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar

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degradação ambiental, em articulação com órgãos e entidades federais, estaduais e municipais;

4. orientar, analisar e decidir sobre processo de licenciamento ambiental e autorização para

intervenção ambiental, ressalvadas as competências do COPAM; 5. decidir sobre processo de

licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos: a) de pequeno porte e grande

potencial poluidor; b) de médio porte e médio potencial poluidor; c) de grande porte e

pequeno potencial poluidor .

Dentro da SEMAD, a Subsecretaria de Regularização Ambiental é responsável pelos processos

de licenciamento ambiental e de autorização para intervenção ambiental de atividades ou

empreendimentos classificados como prioritários , enquanto que as Superintendências

Regionais de Meio Ambiente (Suprams) têm por finalidade gerenciar e executar as atividades

de regularização, fiscalização e controle ambiental na sua respectiva área de abrangência

territorial, cabendo a ela decidir sobre os processos de licenciamento ambiental e de

autorização para intervenção ambiental de atividades ou empreendimentos potencial ou

efetivamente causadores de poluição ou degradação ambiental .

Além da SEMAD, também o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) possui

atribuições relacionadas com o licenciamento ambiental no Estado de Minas Gerais. Este órgão,

que tem por finalidade deliberar sobre diretrizes e políticas e estabelecer normas

regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de caráter operacional para preservação e

conservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, também tem a competência de :

1. aprovar normas relativas ao licenciamento e às autorizações para intervenção

ambiental, inclusive quanto à tipologia de atividades e empreendimentos, considerando

os critérios de localização, porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou do

empreendimento;

2. decidir, por meio de suas câmaras técnicas, sobre processo de licenciamento

ambiental de atividades ou empreendimentos: a) de médio porte e grande potencial

poluidor; b) de grande porte e médio potencial poluidor; c) de grande porte e grande

potencial poluidor; d) nos casos em que houver supressão de vegetação em estágio de

regeneração médio ou avançado, em áreas prioritárias para a conservação da

biodiversidade;

3. decidir sobre processo de licenciamento ambiental não concluído no prazo de que

trata o art. 21, nos termos de regulamento;

4. decidir, em grau de recurso, sobre os processos de licenciamento e intervenção

ambiental, nas hipóteses estabelecidas em decreto.

Assim, cabe às câmaras técnicas do COPAM – Câmara de Atividades Minerárias (CIM); Câmara

de Atividades Industriais (CID); Câmara de Atividades Agrossilvipastoris (CAP); Câmara de

Atividades de Infraestrutura de Transporte, Saneamento e Urbanização (CIF); Câmara de

Atividades de Infraestrutura de Energia (CIE) –, conforme sua área de competência, decidirem

sobre processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de: 1. médio porte e grande

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potencial poluidor; 2. grande porte e médio potencial poluidor; ou 3 grande porte e grande

potencial poluidor .

Dessa forma, portanto, observa-se que no licenciamento ambiental em Minas Gerais a

definição em relação à competência está subordinada à dimensão do empreendimento e ao

seu potencial poluidor. A classificação dos empreendimentos se dá por meio da Deliberação

Normativa Copam nº 74/2004:

Classe 1 - pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor;

Classe 2 - médio porte e pequeno potencial poluidor;

Classe 3 - pequeno porte e grande potencial poluidor ou médio porte e médio potencial

poluidor;

Classe 4 - grande porte e pequeno potencial poluidor;

Classe 5 - grande porte e médio potencial poluidor ou médio porte e grande potencial

poluidor; e

Classe 6 - grande porte e grande potencial poluidor.

Para os empreendimentos classes 1 e 2, considerados de impacto ambiental não significativo, é

obrigatória a obtenção da Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF). Para as demais

classes (3 a 6), o processo de licenciamento ambiental é obrigatório para se obter a

regularização ambiental.

2.5.3.3 Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG)

Da mesma forma que no CRH de São Paulo, não se encontraram, nas resoluções do Conselho

Estadual de Minas Gerais, dispositivos específicos abordando o tema da articulação institucional

entre comitês. Essa informação é relevante, pois aponta que esse tema não está incorporado

nas discussões no âmbito do colegiado estadual. E indica, também, a necessidade de incluir na

pauta das reuniões do CERH a discussão sobre a necessidade do exercício da governança e da

articulação, tendo em vista que essa é uma condição básica para a gestão da Bacia do Rio

Grande, que congrega vários comitês estaduais de ambos os estados.

2.5.3.4 Comitês de Bacia Hidrográfica

No estado de Minas Gerais, são os seguintes os Comitês de Bacia Hidrográfica que compõem a

bacia do rio Grande: Alto Grande (GD 01); Vertentes do Rio Grande (GD 02); Entorno do

Reservatório de Furnas (GD 03); Verde (GD 04); Sapucaí (GD 05); Mogi Guac u/Pardo (GD 06);

Médio Grande (GD 07) e Baixo Grande (GD 08).

Quanto aos Regimentos Internos dos Comitês de Bacia Hidrográfica dos afluentes mineiros,

observa-se que esses atos seguem um padrão, uma vez que todos os Comitês se comprometem

com os fundamentos da Lei Federal nº 9.433/1997 e Lei Estadual nº 13.199/1999, em

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especial, no que se refere à gestão descentralizada e participativa, entre o poder público, os

usuários e a sociedade civil, bem como à necessidade da gestão compartilhada, considerando as

políticas estaduais de recursos hídricos e as competências constitucionais e legais do Sistema

Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos60

.

Entre as competências previstas para os CBHs mineiros, merece destaque a previsão, em todos

eles, do acompanhamento da execução das Políticas Estadual e Nacional de Recursos Hídricos

na sua área de atuação, demonstrando a importância da integração entre as esferas de gestão.

Sete dos Comitês comprometem-se, inclusive, a formular sugestões e oferecer subsídios aos

órgãos e às entidades participantes dos Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O

CBH da GD 06 - Afluentes Mineiros dos Rios Mogi-Guaçú e Pardo se compromete apenas a

acompanhar a Política Estadual de Recursos Hídricos, nada mencionando sobre a Política

Nacional. 61

Seguindo as diretrizes gerais das normas federais e estaduais, os Regimentos Internos previram,

ademais, a necessidade de articular a integração da gestão dos Sistemas Estaduais e Nacional

de Gerenciamento de Recursos Hídricos e seus respectivos instrumentos no âmbito de suas

bacias hidrográficas. Isto é, ao estabelecer aspectos quantitativos e qualitativos dos

instrumentos de gestão de recursos hídricos, tais como outorga, cobrança e enquadramento de

recursos hídricos, os CBHs devem atentar-se à compatibilização destes com os Sistemas

Estaduais e Nacional.

Assim como os CBHs de São Paulo, segundo informações obtidas em 05/04/2017, em Minas

Gerais os Comitês afluentes também aderiram ao Pacto para a Gestão Integrada dos Recursos

Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, comprometendo-se a buscar uma gestão

integrada de recursos hídricos em toda bacia, bem como a harmonização de critérios e

procedimentos.

2.5.4 Propostas de Articulação Institucional

Como preconizado no Inciso I, do art. 38, da Lei n° 9.433/97, o CBH Grande deve “promover

o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades

intervenientes”. Nesse sentido, o CBH-Grande deve ser reconhecido como a principal instância

para realização das articulações institucionais necessárias ao aprimoramento da gestão de

recursos hídricos na bacia do rio Grande, sendo sua diretoria o principal condutor das

negociações técnicas e políticas necessárias, definidas a partir das deliberações de seu plenário.

Para isso, o PIRH-Grande, ouvidos os Comitês Afluentes, desempenha papel central na

definição das estratégias a serem propostas e articulações a serem adotadas junto aos órgãos

gestores de recursos hídricos, comitês de bacias afluentes, usuários de águas e demais

representantes da sociedade civil.

60 Deliberação Normativa CBH Alto Rio Grande nº 01/2017 (Regimento Interno GD1), semelhante ao texto contido nos demais Regimentos

Internos.

61 Regimento Interno do GD 6, Art. 6º - O Comitê tem as seguintes competências em sua área de abrangência: XI

– acompanhar a execução da Política Estadual de Recursos Hídricos na área territorial da Bacia Hidrográfica dos

Afluentes Mineiros dos Rios Mogi-Guaçú e Pardo, formulando sugestões e oferecendo subsídios aos órgãos e às

entidades participantes do SEGRH-MG.

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No que se refere aos órgãos gestores, nota-se que as atribuições legalmente estabelecidas, tanto

da Agência Nacional de Águas, como do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, encontram-se

em consonância com os princípios e diretrizes das políticas de recursos hídricos.

O Decreto nº 46.636/2014, que regulamenta as atividades do IGAM, por exemplo, estabelece

entre as competências do Instituto: promover a articulação de ações integradas com os órgãos e

entidades outorgantes da União e dos Estados limítrofes a Minas Gerais para a gestão de bacias

compartilhadas, estando, pois, perfeitamente adequado às normas de gestão.

Essa situação estabelece, a priori, uma clareza do papel institucional dessas entidades, e a

necessidade de trabalhar em conjunto com os demais atores.

No estado de São Paulo, contudo, existe um descompasso flagrante entre as normas que regem

o Departamento de Águas e Energia Elétrica e a atual realidade da gestão dos recursos hídricos,

sobretudo quando se trata de uma bacia hidrográfica compartilhada com outros estados e a

União.

Essa desatualização legislativa, embora não possa eximir a entidade de atuar de acordo com os

princípios e diretrizes das políticas de recursos hídricos, deixa, por outro lado uma ideia, ainda

que não verdadeira, de que o exercício da governança e as obrigações relacionadas com a

articulação institucional não fazem parte do universo das atribuições do DAEE.

Embora essa questão não diga respeito exclusivamente à bacia hidrográfica do rio Grande, ela

não deixa de interferir negativamente no avanço de uma necessária governança, a ser

estabelecida pelos três entes federativos.

Importante destacar que a Lei nº 9.034/1994, que dispôs sobre o Plano Estadual de Recursos

Hídricos - PERH, para o período 1994 e 1995, e que, embora hoje revogada, vigorava quando

da instalação do CGH-Grande, estabelecia que a implantação dos Comitês das Bacias

Hidrográficas dos rios de domínio federal deverá ser acompanhada de articulações do Governo

do Estado de São Paulo com a União e com os Governos dos Estados limítrofes, tendo em vista

o estabelecimento de convênios, ou mecanismos institucionais de cooperação e intercâmbio,

para a solução de questões de interesse comum, nessas bacias hidrográficas.62

O Pacto, nessa

linha, encontra-se no bojo das articulações a serem realizadas, mas essas não se resumem ao

Pacto, nos termos do dispositivo mencionado. Evidentemente, a assinatura do Pacto demonstra

a boa vontade de avançar na gestão da bacia hidrográfica. Todavia, há temas muito específicos,

típicos da gestão, que podem ser tratados pelos órgãos e entidades competentes, com base na

própria Lei nº 9.433/1997, art. 1º, V e VI.

Nessa linha, a Lei paulista nº 16.337/2016 reitera a divisão hidrográfica do Estado de São Paulo

fixado pela Lei nº 9.034/1994, que compreende 22 (vinte e duas) unidades hidrográficas

denominadas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHIs. E preconiza que

62 Lei nº 9.034/1994, art. 9, § 3º.

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essa divisão servirá de referência para, entre outros, a articulação com a União, com os Estados

vizinhos e com os Municípios para o gerenciamento de recursos hídricos de interesse comum.63

Vale salientar o papel estratégico que órgãos gestores, junto com os comitês de bacia,

desempenham na implementação das políticas de águas, uma vez que possuem competência

direta para sua execução. Propõe-se que a diretoria do CBH-Grande, a partir da aprovação do

PIRH-Grande, se articule com os órgãos gestores de recursos hídricos a fim de estabelecer as

pautas de reuniões tanto do CBH Grande, como dos Comitês afluentes, de São Paulo e de

Minas Gerais, para que se desencadeiem as discussões relacionadas com a implementação do

Plano, principalmente no que diz respeito aos instrumentos de gestão, de forma harmônica,

em toda a bacia.

O objetivo é introduzir, nos próximos passos, a articulação e o exercício da governança, como

mecanismos de busca de soluções para impasses e acordos sobre os temas polêmicos acerca

dos instrumentos de gestão.

2.6 AGÊNCIA DE BACIA HIDROGRÁFICA

O PIRH-Grande recomenda a implantação de uma Agência única para a Bacia Hidrográfica do

Rio Grande; contudo, o formato jurídico-institucional da entidade a ser efetivamente criada

dependerá de decisões a serem tomadas futuramente, mediante articulação entre os órgãos

gestores de recursos hídricos, o CBH-Grande e os CBHs-Bacias Afluentes.

O modelo de Agência única tem fundamento nos seguintes aspectos:

1. Viabilidade jurídica: há que se buscar um modelo jurídico cujas regras de

funcionamento sejam compatíveis com as características da Bacia Hidrográfica do Rio

Grande, que congrega a União, e dois estados, com Administrações Públicas distintas,

no tocante ao domínio das águas. A natureza da entidade deve propiciar o uso de

mecanismos claros de negociação (no momento da criação) e articulação (no seu

funcionamento) entre os atores públicos e privados envolvidos.

2. Viabilidade político-institucional: a entidade deve ser estruturada de modo a

assegurar que o resultado das articulações possa ser implementado efetivamente, com

possibilidades de ajuste às diferenças que se encontram no território.

3. A título de esclarecimento, uma Agência única que venha a gerir os recursos

arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos terá necessariamente contas

distintas e os regimes de aplicação desses recursos devem obedecer às normas do ente

federado detentor do domínio hídrico, assim como os controles internos e externos da

Agência.

63 Lei nº 16.337/2016, art. 7º, III.

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2.6.1 Relação entre Agência e o Comitê

Conceitualmente, a Agência é o braço técnico do Comitê de Bacia Hidrográfica. Muitas vezes,

a Agência formula um determinado estudo para fornecer o necessário embasamento técnico às

decisões do Comitê. Em outros momentos, a Agência atua como Secretaria Executiva do

Comitê. E em outros momentos, suas atribuições são relativas apenas à gestão de recursos

hídricos (sistema de informações, monitoramento, estudos etc.). Todavia, as atribuições não se

confundem.

Para uma visão mais esclarecedora desse tema, cabe detalhar as atribuições da Agência e do

Comitê, indicando algumas intersecções dessas atividades, em que parte delas cabe à Agência

e parte ao Comitê, de modo sempre complementar e nunca conflitante.

Nessa linha, são atribuições de cunho político-administrativo do Comitê: 1. Debater questões

relacionadas a recursos hídricos64

; 2. Arbitrar conflitos entre usos e usuários65

; 3. Articular a

gestão de todos os agentes66

;4. Integrar a gestão com os comitês estaduais.

No que se refere às atribuições técnicas do Comitê, cabe salientar que as mesmas devem ser

embasadas em estudos preliminares, formulados pela Agência. São elas: 1. Aprovar o Plano de

Recursos Hídricos67

, elaborado pela Agência; 2. Propor usos não-outorgáveis68

, com base em

estudos elaborados pela Agência; 3. Definir as prioridades de usos69

;4. Propor áreas sujeitas a

restrição de uso70

; 5. Acompanhar a execução do Plano71

pela Agência72

; 6. Definir metas

quanto aos recursos hídricos (racionalização, qualidade e quantidade)73

, com base em estudos

elaborados pela Agência; 7. Indicar a alternativa de enquadramento, de acordo com estudos

elaborados pela Agência74

; 8. Aprovar o Plano de Aplicação dos Recursos arrecadados com a

cobrança, de acordo com estudos elaborados pela Agência75

; 9. Aprovar a cobrança (valores e

mecanismos), conforme estudos elaborados pela Agência76

.

Por seu turno, no que se refere ao gerenciamento técnico, cabe à Agência: 1. Elaborar e

promover a execução do Plano de Recursos Hídricos, a ser aprovado e ter sua execução

acompanhada pelo Comitê; 2. Manter o balanço hídrico atualizado77

; 3. Manter e atualizar o

cadastro de usuários78

; 4. Promover estudos sobre a gestão dos recursos hídricos79

; 5. Elaborar

64 Lei nº 9.433/1997, art. 38, I.

65 Lei nº 9.433/1997, art. 38, II.

66 Lei nº 9.433/1997, art. 38, I.

67 Lei nº 9.433/1997, art. 38, III.

68 Lei nº 9.433/1997, art. 38, V.

69 Lei nº 9.433/1997, art. 7º, VIII, combinado com o art. 38, III.

70 Lei nº 9.433/1997, art. 7º, X, combinado com o art. 38, III.

71 Lei nº 9.433/1997, art. 38, IV.

72 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X.

73 Lei nº 9.433/1997, art. 7º, IV, combinado com o art. 38, III.

74 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, a.

75 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, c.

76 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, b.

77 Lei nº 9.433/1997, art. 44, I.

78 Lei nº 9.433/1997, art. 44, II.

79 Lei nº 9.433/1997, art. 44, IX.

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os estudos sobre o enquadramento dos corpos hídricos, para embasar as deliberações do

Comitê e encaminhamento aos respectivos Conselhos de Recursos Hídricos – nacional e

estaduais80

; 6. Analisar e emitir pareceres técnicos sobre investimentos; 7. Propor o Plano de

Aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos, para

embasar as deliberações do Comitê sobre esse tema81

; 8. Elaborar estudos sobre a cobrança,

como subsídio às decisões do Comitê sobre a matéria82

.

Compete ainda à Agência, nas funções de secretaria executiva do Comitê de Bacia

Hidrográfica: 1. Apoiar o Comitê quanto ao cumprimento do Regimento Interno; 2. Organizar

internamente o Comitê; 3. Operacionalizar ações para as reuniões.

Além disso, em relação ao modelo institucional de entidades Delegatárias, o Comitê possui

atribuições de interveniente e controlador no contrato de gestão, no que se refere a: 1. Indicar

a entidade de celebrará o Contrato de Gestão com a Agência Nacional de Águas – ANA (e

outros contratantes estaduais), procedimento que, embora não esteja explicitado na legislação

vigente, consiste no procedimento adotado em todas as bacias que possuem entidade

delegatária para o exercício das funções de Agência de Água83

; 2. Manifestar-se previamente

sobre o Contrato de Gestão; 3. Avaliar o cumprimento das metas do Contrato de Gestão; 4.

Aprovar a proposta orçamentária anual.

A Entidade Delegatária submete-se ao conteúdo do contrato de gestão, sob pena de não haver

renovação do mesmo, cabendo, nesse caso, a busca de outra entidade a ser aprovada pelo

Comitê, para receber delegação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Essa relação contratual por si só já define e delimita o universo de atividades da Agência,

ficando claro que se trata de um órgão técnico, cabendo ao comitê a articulação política, ainda

que sobre temas de cunho técnico.

É de se ressaltar que, mesmo nessas questões, de natureza técnica, encaminhadas pela Agência

ao Comitê, para deliberação, é este que tem o poder de decidir. É a decisão política sobre

questões técnicas. Todavia, sem a atuação da Agência, não haveria a informação suficiente

para que os membros do comitê se pronunciassem. Daí a importância de uma Agência na

bacia hidrográfica.

No modelo das Agências de Água, não se evoluiu nas normas que regem a relação Comitê -

Agência, cabendo à lei de criação da entidade, se for essa a alternativa a ser adotada, fixar os

moldes dessa relação institucional, lembrando que a possibilidade de um contrato de gestão

não é descartada. Apenas há que compatibilizar esse instrumento com uma instituição pública,

criada especialmente para esse fim. Dessa forma, haveria que buscar outros critérios de gestão

do contrato, uma vez que não caberia a renovação do mesmo, pois o entendimento, nesse

caso, é que a Agência seria a entidade criada para a finalidade específica.

80 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, a.

81 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, c.

82 Lei nº 9.433/1997, art. 44, X, b e c.

83 Lei nº 10.881/2004, art. 2º, III.

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No modelo das Entidades Delegatárias, essa relação é mais clara na medida em que a Lei nº

10.881/2004 estabelece as cláusulas e condições do contrato de gestão. Cabe lembrar que o

Comitê, embora não previsto na Lei nº 10.881/2004 como parte no contrato de gestão,

participa da celebração dos mesmos, como interveniente. Aliás, essa é a essência da

descentralização: um órgão colegiado de bacia hidrográfica – o Comitê, responsável pelo

estabelecimento do Plano de Recursos Hídricos, deverá definir as metas e os indicadores de

desempenho daquela entidade que escolheu como seu braço executivo.

Além das observações acima efetuadas, cabe ponderar que, além das normas legais em vigor, o

Estatuto da Agência, quando de sua formulação, pode estabelecer com mais detalhes as

relações entre a Agência e o Comitê. Dessa forma, mantendo-se o entendimento de que é o

Comitê quem pautará a atuação da Agência, esse relacionamento há que ser negociado e

estabelecido no Estatuto do modelo jurídico a ser adotado para a Agência do Rio Grande.

É nos atos constitutivos da entidade que poderá ficar estabelecida, por exemplo, a

competência do Comitê para participar do processo de indicação da Diretoria e para aprovar o

planejamento da Agência e a sua execução.

Cabe ainda mencionar, como atribuição da Agência, o gerenciamento administrativo e

financeiro, sob a competência da Agência, conforme segue: 1. Acompanhar a administração

dos recursos da cobrança; 2. Administrar os recursos financeiros recebidos;3. Celebrar

contratos e convênios;4. Elaborar o relatório de gestão e a prestação de contas; 5. Elaborar a

proposta orçamentária anual; 6. Gerir pessoal e compras.

2.6.2 Figuras Jurídicas Passíveis de Constituir Agência

a) Agência de Água

As categorias passíveis de constituir Agência de Água, conforme previsto na Lei nº 9.433/1997,

modelo que, no entanto, ainda não foi criado, são a autarquia, a fundação de direito público e

o consórcio público de direito público.

Ao contrário das Entidades Delegatárias, cujo regime jurídico está fixado na Lei no

10.881/2004, e que não necessitam de lei de criação, com exceção do consórcio público com

personalidade jurídica de direito privado, as Agências de Águas são criadas por leis específicas,

que trarão, em seu conteúdo, o regime jurídico da entidade.

O princípio da legalidade rege as entidades da Administração Pública, na forma do art. 37 da

Constituição Federal. Desde que não fira as Constituições Federal e Estaduais, a lei de criação

de uma entidade Agência de Água embasa o seu funcionamento.

A lei que criar uma Agência na forma de autarquia pode estabelecer várias competências.

Todavia, há outros parâmetros a considerar, além da legalidade: trata-se da possibilidade de

geração de conflito de competência com os órgãos gestores estaduais e outras entidades que já

atuam na bacia hidrográfica. Como exemplos, podem-se citar as atividades relativas ao

monitoramento de recursos hídricos e a construção do cadastro de usuários.

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Tendo em vista que é condição sine qua non para a criação da Agência a negociação, esses

temas devem ser claramente definidos, entre a União e os Estados de São Paulo e Minas

Gerais, de modo que incertezas no tocante às competências dos órgãos gestores e demais

entidades públicas não venham a travar as negociações.

a.1) Autarquia

A autarquia é criada e vincula-se a um único ente federativo: União ou aos Estados, por

intermédio de um órgão público – Ministério ou Secretaria de Estado. Para uma autarquia

federal ou de um Estado constituir-se como Agência de Água, no que se refere aos recursos

hídricos de outro Ente Federado, necessariamente, deverá esse ente editar uma lei

reconhecendo a competência da entidade e autorizando o Poder Público a celebrar convênio

com a mesma. Releva salientar que não há normas gerais estabelecendo regras para essa

possibilidade, o que dificulta uma tentativa nesse sentido, constituindo um fator de insegurança

do modelo jurídico. Em geral, não é prevista a participação da sociedade civil organizada nas

autarquias tradicionais.

Trata-se de alternativa de difícil sustentação, na medida em que, na categoria das Agências de

Água, o consórcio público, regido pelo direito público, nos termos da Lei no 11.107/2005, de

natureza autárquica, possui normas claras que regem seu funcionamento, estabelecendo como

deve ser o relacionamento entre os consorciados – direitos e obrigações – e a participação da

sociedade civil, entre outras condições. Dessa forma, entende-se que ficaria prejudicada a

adoção da autarquia tradicional como entidade passível de ser constituída para a Agência da

Bacia Hidrográfica do Rio Grande.

a.2) Fundação de Direito Público

Para uma fundação pública criada pela União, ou por determinado Estado, tornar-se Agência

de Água da Bacia Hidrográfica, necessariamente, deverá cada um dos demais entes federados,

além daquele que a tiver instituído, editar uma lei reconhecendo a sua competência e

autorizando o Poder Público estadual a celebrar convênio com a mesma. Releva salientar que

não há normas gerais estabelecendo regras para essa possibilidade, o que dificulta qualquer

tentativa nesse sentido. Além disso, não há previsão da participação da sociedade civil nas

fundações públicas.

Trata-se de alternativa de difícil sustentação, na medida em que, na categoria das Agências de

Água, o consórcio público, regido pelo direito público, nos termos da Lei no

11.107/2005, de

natureza autárquica, possui normas claras que regem seu funcionamento, estabelecendo como

deve ser o relacionamento entre os consorciados – direitos e obrigações – e a participação da

sociedade civil, entre outras condições. Dessa forma, entende-se que ficaria prejudicada a

adoção da fundação pública como entidade passível de ser constituída para a Agência da Bacia

Hidrográfica do Rio Grande.

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a.3) Consórcio Público de Direito Público

Ao contrário da autarquia tradicional e da fundação pública, o consórcio público, com

personalidade jurídica de direito público é, por disposição legal, ente da Administração Indireta

de todos os consorciados. A própria lei dos consórcios públicos prevê, ainda, a possibilidade de

uma adesão paulatina à entidade ao longo do tempo, pelos diversos entes da Federação. Isso

permite que os acordos já estabelecidos se formalizem e que as negociações em curso

desenvolvam seu processo, sem emperrar as soluções já encontradas.

O consórcio público é formado, unicamente, por entes políticos federados (no caso, seriam a

União e os Estados de Minas Geris e São Paulo). Todavia, a negociação, entre os consorciados,

nos termos do estatuto da Agência, poderá estabelecer a participação da sociedade civil em

instâncias orgânicas do mesmo, assim como podem ser estabelecidos direitos aos Comitês

sobre a Agência.

Por meio do contrato de rateio, instrumento de gestão financeira do consórcio, a entidade

pode receber recursos dos consorciados, de forma ordenada e rígida, para efetivamente

realizar a gestão na bacia hidrográfica.

Sendo ente de direito público, o consórcio público regido pelo direito público pode receber

delegação por lei da União e dos Estados para executar todas as tarefas relativas à gestão de

recursos hídricos, inclusive o exercício do poder de polícia, desde que previsto no contrato de

consórcio e homologado por legislação específica de cada ente. Todavia, há duas questões a

considerar: 1. o campo de atuação da Agência, independentemente de sua natureza jurídica,

deve ser equivalente ao da sua sustentabilidade financeira; e 2. recomenda-se evitar conflito de

competência com os órgãos gestores (reguladores). Lembre-se de que o consórcio público é

ente da Administração Indireta de cada consorciado, que definirá o âmbito de atuação da

entidade, nos limites de seu território.

O sistema de celebração de protocolo de intenções, que depende de ratificação por lei para

que o contrato vigore, e as regras rígidas sobre os repasses de recursos exigem um

comprometimento muito forte dos governos.

Além disso, o fato de o consórcio público ser constituído unicamente pelos entes políticos –

União e Estados – pode ensejar dúvidas quanto à efetividade da participação da sociedade civil

na própria entidade, basicamente no que se refere ao entendimento da Agência como braço

técnico do Comitê. O sistema de celebração de protocolo de intenções, que depende de

ratificação por lei para que o contrato vigore e as regras rígidas sobre os repasses de recursos

exigem um comprometimento muito forte dos governos.

b) Entidades Delegatárias

A Lei nº 10.881/2004 estabeleceu uma nova relação jurídica entre a Agência Nacional de

Águas (ANA) e as organizações civis de recursos hídricos, relacionadas no art. 47 da Lei nº

9.433/97. A lei estabelece o procedimento político-administrativo para que uma organização

civil de recursos hídricos receba delegação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

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(CNRH), por meio de resolução, para exercer as competências inerentes às Agências de Água,

previstas na Lei nº 9.433/97, salvo a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

A partir da delegação das funções de Agência de Água – exceto efetuar a cobrança pelo uso da

água – a uma Entidade Civil de Recursos Hídricos, pelo Conselho Nacional de Recursos

Hídricos (CNRH), e cumpridas todas as formalidades legais estabelecidas nos arts. 42 e 43 da

Lei nº 9.433/1997, é celebrado o contrato de gestão por prazo determinado com a ANA e a

entidade delegatária, que passa a assumir funções das Agências de Água, relativas à gestão de

recursos hídricos de domínio da União, exceto efetuar a cobrança pelo uso da água.

Esse modelo, todavia, não exclui as Agências de Água. A Lei nº 10.881/2004 dispõe que,

instituída uma Agência de Água, esta assumirá as competências estabelecidas pelos arts. 41 e

44 da Lei nº 9.433/97, encerrando-se, em consequência, o contrato de gestão referente à sua

área de atuação. Nesse caso, a entidade delegatária perde tal condição junto ao Conselho

Nacional de Recursos Hídricos, embora possa continuar atuando como organização civil de

recursos hídricos, da mesma forma como procedia antes de receber a delegação do CNRH.

Os contratos de gestão fixarão atribuições, direitos, responsabilidades e obrigações das partes

signatárias. Embora se trate de um contrato administrativo, seu regime jurídico difere do

modelo clássico, em que a Administração Pública fiscaliza passo a passo a execução do objeto,

efetuando medições a cada etapa ou a cada período. A fiscalização ocorre na aferição do

cumprimento das metas contratualmente fixadas e não a cada atividade executada pela

entidade delegatária.

Tem-se, nos contratos de gestão, uma forma de descentralizar as atividades inerentes ao Poder

Público, transferindo-as ao particular. No contrato de gestão, especifica-se o programa de

trabalho proposto, fixam-se as metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução,

assim como são expressamente previstos os critérios objetivos de avaliação a serem utilizados,

mediante indicadores de desempenho.

A entidade delegatária obriga-se a apresentar à ANA e ao(s) respectivo(s) Comitê(s) de Bacia

Hidrográfica, ao término de cada exercício, relatório sobre a execução do contrato, contendo

comparativo específico das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado de

prestação de contas dos gastos e receitas efetivamente realizados.

No que tange ao controle do contrato de gestão, a ANA, como Poder Público responsável pela

fiscalização do cumprimento das obrigações assumidas, deve constituir comissão de avaliação

que analisará, periodicamente, os resultados alcançados com a execução do contrato de gestão

e encaminhará relatório conclusivo sobre a avaliação procedida, contendo comparativo

específico das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado da prestação de

contas correspondente ao exercício financeiro, à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério

do Meio Ambiente e ao(s) respectivo(s) Comitê(s) de Bacia Hidrográfica.

O sistema adotado é contratual no sentido de que, uma vez delegadas as funções da Agência

de Águas a uma entidade delegatária, há um prazo específico para vigorar essa delegação, que

pode ou não se prorrogar, de acordo com as prestações de contas e eficiência na atuação.

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Dessa forma, o contrato de gestão deve conter o prazo de sua vigência e as condições para sua

suspensão, rescisão e renovação. A rescisão importará a reversão dos bens cujo uso foi

permitido e dos valores entregues à utilização da entidade delegatária, sem prejuízo de outras

sanções cabíveis.

No contrato de gestão deverá ser fixada não apenas a forma de relacionamento da entidade

delegatária com o(s) respectivo(s) Comitê(s) de Bacia Hidrográfica, mas também a forma de

relacionamento e cooperação com as entidades estaduais diretamente relacionadas ao

gerenciamento de recursos hídricos na respectiva bacia hidrográfica.

Um ponto a destacar consiste no fato de que o modelo adotado não privilegia uma instituição

em si, mas um sistema contratual, em que a entidade delegatária – qualificada como tal pelo

Conselho Nacional de Recursos Hídricos – assume a responsabilidade de alcançar as metas

fixadas, prestando contas das atividades desenvolvidas e aplicação de valores.

As categorias de entidades delegatárias, quanto à personalidade jurídica, a serem analisadas

são: 1. fundação de direito privado; 2. consórcio público com personalidade jurídica de direito

privado e a associação civil sem fins lucrativos.

b.1) Fundação de Direito Privado

A fundação de direito privado pode assumir o papel de Entidade Delegatária consoante com a

legislação federal. Apenas a União prevê o modelo da fundação de direito privado em suas

normas, como entidade passível de constituir uma Entidade Delegatária. No Estado de São

Paulo, como será visto esse é o modelo adotado.

b.2) Consórcio Público de Direito Privado

O consórcio público com natureza jurídica de direito privado assemelha- se a uma associação

civil. Há que considerar que o esforço político de instituir um consórcio público com natureza

semelhante à de uma associação civil parece ser desnecessário. Nesse caso, mais interessante é

adotar o modelo das associações civis sem fins lucrativos.

b.3) Associação Civil sem Fins Lucrativos

Com estrutura flexível, o modelo está pronto para a União e para Minas Gerais. Somente as leis

da União e do Estado de Minas Gerais estão aptas a implementar esse modelo da associação

civil sem fins lucrativos.

2.6.3 A Questão Legislativa Vigente

No caso da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, considerando a Agência Única, objetivo que,

segundo a visão do presente Plano, não apenas se coaduna com o ordenamento jurídico

brasileiro, mas que pode oferecer a melhor possibilidade de gestão por bacia hidrográfica, é

necessária uma alteração legislativa, seja pelo estado de São Paulo seja por Minas Gerais. Há

uma questão prévia que se coloca no âmbito legal em que não existe compatibilidade de

normas entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, conforme será verificado adiante.

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A Lei nº 9.433/1997 determina que os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de

recursos hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados

e serão utilizados, também, no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo

dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,

limitando-se essa aplicação a sete e meio por cento do total arrecadado.84

No estado de São Paulo, o § 1 do artigo 2º da Lei nº 12.183, especifica que o produto da

cobrança estará vinculado à bacia hidrográfica em que for arrecadado e a Lei nº 10.020/1998

estabelece que poderão ser despendidos até 10% (dez por cento) dos recursos provenientes da

cobrança pela utilização dos recursos hídricos em despesas de custeio e pessoal da Agência. 85

No estado de Minas Gerais, a Lei nº 13.199/1999 prevê que os valores arrecadados com a

cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados, na bacia hidrográfica em que foram

gerados e serão utilizados, também, no pagamento de despesas de monitoramento dos corpos

de água e custeio dos órgãos e entidades integrantes do SEGRH-MG, na sua fase de

implantação, sendo que a aplicação nessas despesas é limitada a sete e meio por cento do total

arrecadado.86

.

Sob o ponto de vista jurídico, essa entidade deve ter uma natureza jurídica compatível com a

legislação federal e dos estados de Minas Gerais e São Paulo, considerando que a legislação do

estado de São Paulo é restritiva quanto à alternativa de modelo, na medida em que já

estabeleceu a figura de fundação como instituição competente para funcionar como Agência

de Bacia Hidrográfica.

No que se refere ao estado de Minas Gerais, a Constituição Estadual, em seu art. 14, § 5º,

somente permite ao Estado instituir e manter fundação cuja natureza jurídica seja de direito

público, o que não é o caso do modelo institucional de Agência de Bacia prevista na Lei nº

10.020/1998.

Não se tem notícia de estudo no âmbito de MG acerca de uma interpretação do termo

“manter” pois, em verdade, o Estado não manteria a entidade Agência de Bacia: esses recursos

seriam, por força de lei, aplicados no Programa de Investimentos aprovado pelo Comitê de

Bacia Hidrográfica. Esse tema poderá ser retomado, na busca de um fundamento legal que dê

suporte a uma Agência Única. Todavia, ressalta-se a necessidade de um parecer jurídico da

PGE/MG acerca do entendimento e alcance do termo “manter”.

2.6.4 Âmbito Federal

De acordo com a Lei nº 9.433/1997, as Agências de Água integram o Sistema Nacional de

Recursos Hídricos87

e têm por finalidade exercer a função de secretaria executiva dos

respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica88

. A sua criação é autorizada pelo Conselho

84 Lei nº 9.433/1997, art. 22.

85 Lei estadual de São Paulo nº 10.020/1998, art. 8º.

86 Lei estadual de Minas Gerais, nº 13.199/1999, art. 28.

87 Lei nº 9.433/1997, art. 33, V

88 Lei nº 9.433/1997, art. 41.

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Nacional de Recursos Hídricos ou pelos Comitês Estaduais de Recursos Hídricos89

, mediante

solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica, condicionada à prévia existência do

respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica e à viabilidade financeira assegurada

pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação90

.

Constituem competências das Agências de Água, em sua área de atuação, entre outras, manter

balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos e o cadastro de usuários de recursos

hídricos91

. Mediante delegação do outorgante, às Agências cabe cobrar pelo uso de recursos

hídricos, efetuar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança e analisar

e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela

cobrança, encaminhando-os à instituição financeira responsável pela administração dos

mesmos.

Além disso, são atribuições das Agências de Água gerenciar o Sistema de Informações sobre

Recursos Hídricos, assim como promover os estudos necessários para a gestão dos mesmos,

além de elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do Comitê92

.

Compete ainda às Agências propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica: 1. o

enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo

Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio

destes; 2. os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos; 3. o plano de aplicação

dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos e 4. o rateio de custo

das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

A Política Nacional de Recursos Hídricos não estabelece a forma jurídica da Agência de Água.

Todavia, tendo em vista a competência para efetuar a cobrança pelo uso de recursos hídricos,

ainda que por delegação do outorgante, entende-se que a mesma não poderá constituir

entidade de direito privado, na medida em que os recursos decorrentes da cobrança são de

natureza pública e, portanto, só um ente público é competente para arrecadá-lo. No que se

refere às demais competências, não há restrição para o seu exercício por pessoa jurídica de

direito privado.

Apesar disso, vale ressaltar que, embora a entidade de direito privado não possa arrecadar os

recursos da cobrança pela razão apontada, pode atuar em atividades acessórias e de apoio à

cobrança, como a emissão de boletos de cobrança e envio dos mesmos, sempre em nome do

detentor do domínio dos recursos hídricos, mediante, aí sim, delegação do outorgante.

Para disciplinar a relação entre a ANA e as organizações civis de recursos hídricos, foi editada a

Lei nº 10.881/2004, que tem por objetivo estabelecer uma alternativa legal para viabilizar a

relação jurídica entre as duas entidades, relacionadas no art. 47 da Lei nº 9.433/1997, que

pretendiam atuar como Agências de Água, mas que não encontravam no ordenamento jurídico

então em vigor a base legal para essa atuação.

89 Lei nº 9.433/1997, art. § único.

90 Lei nº 9.433/1999, art. 43.

91 Lei nº 9.433/1997, art. 44.

92 Lei nº 9.433/1997, art. 41.

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São organizações civis de recursos hídricos: 1. consórcios e associações intermunicipais de

bacias hidrográficas; 2. associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos

hídricos; 3. organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos

hídricos; 4. organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e

coletivos da sociedade; 5. outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos

Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

Nesse modelo, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH delega a uma entidade civil

com objetivos relacionados com os recursos hídricos, por meio de processo administrativo

próprio, cujo ato final consiste na edição de uma Resolução, as competências inerentes à

atuação de Agência de Água, salvo a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Como já mencionado, a competência para efetuar a cobrança pelo uso de recursos hídricos é

exclusiva das Agências de Bacia criadas com essa finalidade específica ou, na sua ausência, da

Agência Nacional de Águas - ANA, não podendo ser delegada às entidades ora em questão.93

A partir da delegação das funções de Agência de Água a uma entidade civil, é celebrado o

contrato de gestão por prazo determinado com a Agência Nacional de Águas - ANA e a

entidade delegatária, que passa a assumir funções das Agências de Água relativas à gestão de

recursos hídricos de domínio da União, salvo, como já foi dito, para efetuar a cobrança.

Instituída uma Agência de Água, esta assume as competências estabelecidas pelos arts. 41 e 44

da Lei nº 9.433/1997, encerrando-se, em consequência, o contrato de gestão referente à sua

área de atuação.

Nota-se, portanto, que na esfera federal há a possibilidade de diversas entidades atuarem como

Agência de Águas, sejam elas Agências instituídas por decisão do Comitê de Bacia Hidrográfica

com aprovação do CNRH, sejam organizações civis que celebram contrato de gestão com a

ANA e atuem como entidades delegatárias na bacia, mediante indicação do Comitê.

2.6.5 São Paulo

A Política Estadual de Recursos Hídricos de São Paulo, definida na Lei nº 7.663/1991, dispõe

que, nas bacias hidrográficas onde os problemas relacionados aos recursos hídricos assim o

justificarem, por decisão do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e aprovação do Conselho

de Recursos Hídricos, poderá ser criada uma entidade jurídica, com estrutura administrativa e

financeira própria, denominada Agência de Bacia, que exercerá as funções de secretaria

executiva do Comitê de Bacia Hidrográfica. 94

As Agências de Bacias têm sua vinculação ao estado e a organização administrativa, além de

sua personalidade jurídica, disciplinadas na lei que autorizar sua criação, vinculando-se esta ao

início da cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

93 Lei nº 10.881/2004, art. 2º, VI.

94 Lei nº 7.663/1991, art. 29.

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A instituição de uma Agência de Bacia, dirigida aos corpos de água superficiais e subterrâneos

de domínio do estado de São Paulo depende da adesão de, no mínimo, 35% dos municípios

interessados, abrangendo pelo menos 50% da população das bacias.

Entre as atribuições da Agência de Bacia, destacam-se: 1. a elaboração periódica do plano de

bacia hidrográfica; 2. a elaboração de relatórios anuais sobre a “Situação dos Recursos Hídricos

na Bacia Hidrográfica”; 3. o gerenciamento dos recursos financeiros do FEHIDRO pertinentes à

bacia hidrográfica, gerados pela cobrança pelo uso da água e 4. a promoção, na bacia

hidrográfica, da articulação entre os componentes do Sistema Estadual de Gerenciamento de

recursos Hídricos - SIGRH, com os outros sistemas do Estado, o setor produtivo e a sociedade

civil.

A regulamentação específica sobre as Agências de Bacia, no estado de São Paulo, coube à Lei

nº 10.020/1998, limitando a uma única figura jurídica, com o caráter de fundação de direito

privado, denominando-as Fundações Agências de Bacias Hidrográficas. O modelo adotado

pelo estado de São Paulo tem uma lógica diversa em relação ao modelo institucional adotado

para as entidades delegatárias no âmbito federal, pois invoca uma instituição permanente, que

recebe por lei a delegação de competências, não havendo contratualização entre o estado e a

Agência. Evidentemente, isso não significa que não haja a aplicação dos controles, previstos na

lei, como ocorre para qualquer entidade que administre recursos públicos. Apenas não se

estabelecem metas cujo cumprimento condicione a continuidade da Agência.

O Poder Executivo do estado de São Paulo está autorizado por lei a participar da constituição

de agências, de modo que não são necessárias leis autorizativas específicas para sua criação.

Ainda sobre a participação do Poder Executivo, é permitido ao Governo do Estado, por

intermédio de seus representantes permanentes no Conselho Deliberativo da Agência, vetar a

adoção de medidas que contrariem as diretrizes básicas dos planos e programas de gestão de

recursos hídricos do Estado, exercendo, portanto, seu poder de guarda e proteção dos recursos

hídricos.

Nas Agências de Bacia, é assegurada a composição paritária tripartite entre o Estado, os

Municípios e a sociedade civil, com direito a voz e voto de todos os seus membros, da mesma

forma que são constituídos os Comitês de Bacia Hidrográfica e o Conselho Estadual de

Recursos Hídricos – CRH. Não são distribuídos lucros, dividendos ou quaisquer outras

vantagens aos seus instituidores, mantenedores ou dirigentes, empregando-se toda a renda no

cumprimento das finalidades da Agência.

No caso de a União vir a integrar a Agência e a delegar-lhe ou atribuir-lhe competência para

atuar no campo das águas do seu domínio, o número de componentes do Conselho

Deliberativo, da Diretoria e do Conselho Fiscal poderá ser alterado, inclusive quanto aos

membros permanentes.

Nessa ordem de ideais, nada obsta que as Fundações Agências de Bacia, objeto da Lei nº

10.020/1998, recebam delegação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos para assumir

funções de Agência de Água frente aos recursos hídricos de domínio da União. O art. 47 da Lei

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nº 9.433/1997 prevê, em seu inciso V, outras organizações reconhecidas pelo Conselho

Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, o que pode incluir as fundações

de direito privado, como é o caso das Agências de Bacia. Todavia, como será verificado no

item seguinte, a legislação de Minas Gerais não prevê a figura da fundação como passível de

constituir uma Entidade Equiparada.

A partir de sua instituição, fica delegado à Agência o exercício das ações previstas no artigo 4º,

destacando-se: 1. efetuar estudos, participar da gestão de recursos hídricos e elaborar o Plano

de Recursos Hídricos da Bacia, em articulação com órgãos do Estado e Municípios; 2. aplicar

recursos financeiros a fundo perdido; 3. analisar técnica e financeiramente os pedidos de

investimentos de acordo com as prioridades e critérios estabelecidos pelo Comitê de Bacia; 4.

fornecer subsídios à deliberação do Comitê sobre a cobrança pelo uso das águas; 5. administrar

a subconta do FEHIDRO correspondente aos recursos da Bacia; 6. efetuar a cobrança pela

utilização dos recursos hídricos da Bacia de domínio do Estado; 7. gerenciar os recursos

financeiros gerados por cobrança pelo uso da água; 8. elaborar relatórios anuais sobre a

“Situação dos Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas” e 9. prestar apoio administrativo,

técnico e financeiro ao funcionamento do Comitê de Bacia Hidrográfica.

Dessa forma, no estado de São Paulo as Agências de Bacia devem ser, necessariamente,

fundações de direito privado com participação obrigatória do Estado. Essas fundações

apresentam configuração institucional compatível com a lei federal para exercer o papel de

entidade delegatária nas bacias hidrográficas com rios de domínio da União.

2.6.6 Minas Gerais

A Lei nº 13.199/1999, que estabelece a Política Estadual de Recursos Hídricos no Estado de

Minas Gerais, determina que as Agências, quando instituídas pelo estado, mediante

autorização legislativa, tenham personalidade jurídica própria, autonomia financeira e

administrativa e organizem-se segundo quaisquer das formas permitidas pelo Direito

Administrativo, Civil ou Comercial, atendidas as necessidades regionais, locais e multissetoriais.

E dispõe que os respectivos atos constitutivos sejam aprovados por meio de Decreto pelo

Poder Executivo, e sejam inscritos em registro público.

As alternativas propostas por essa lei apontam para cenários que, em função de outras regras

contidas no ordenamento jurídico pátrio, inclusive do próprio estado mineiro, são

incompatíveis com o modelo previsto para Agência. Nessa linha, o caput do artigo 37 reporta-

se a quaisquer das formas permitidas pelo Direito Administrativo, Civil ou Comercial. Seriam,

em tese, admitidas as associações, as autarquias, as sociedades comerciais, as sociedades de

economia mista, as empresas públicas, as fundações de direito público e fundações de direito

privado.

Todavia, o dispositivo menciona que essas entidades sejam instituídas pelo estado, mediante

autorização legislativa, o que reporta à administração pública indireta, cujas figuras admitidas

são apenas as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia mista, as fundações

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públicas e os consórcios públicos. As fundações de direito privado e as associações ficam

excluídas, para o modelo de Agência criado pelo Estado.

Como neste estudo estão sendo consideradas apenas as associações e as fundações, pois trata-

se de figuras já previstas nas normas em estudo, há que descartar a empresa pública e a

sociedade de economia mista, esta última necessariamente sob a forma de sociedade anônima,

em que o lucro é inerente, e, portanto, incompatível com a natureza da Agência, concluindo-

se pela não adoção do modelo.

Restam, como figuras permitidas para serem instituídas pelo estado de Minas Gerais, como

Agência de Bacia, a autarquia, o consórcio público ou a fundação pública, podendo esta

última, em tese, nos termos da legislação federal, adotar a natureza jurídica de direito público

ou de direito privado.

Aqui, outra questão se coloca. A Constituição Estadual de Minas Gerais, em seu art. 14, § 5º,

somente permite ao Estado instituir e manter fundação cuja natureza jurídica seja de direito

público, o que equivale, na prática, a uma autarquia.

Já a fundação de direito privado permite essa flexibilidade. Nesse caso, cabe ressaltar que o

estado de Minas Gerais não criaria nem manteria a fundação de direito privado, mas apenas

repassaria os valores arrecadados pela cobrança para aplicação nos projetos, obras e ações

definidas no Plano de Aplicação aprovado pelo Comitê de Bacia Hidrográfica. Ou seja, não

haveria, por parte do estado, o pagamento do custeio da Agência.

Os consórcios ou as associações intermunicipais de bacias hidrográficas, bem como as

associações regionais e multissetoriais de usuários de recursos hídricos, legalmente constituídos,

podem ser equiparados às Agências de Bacia, por ato do Conselho Estadual de Recursos

Hídricos - CERH-MG, para o exercício de funções, competências e atribuições a elas inerentes,

a partir de propostas fundamentadas dos comitês de bacias hidrográficas competentes. 95

Todavia, esse dispositivo da lei mineira não prevê outro tipo de entidade, como faz a Lei nº

9.433/1997, em âmbito federal.

Para admitir a fundação de direito privado como Entidade Equiparada, seria necessário incluir

um dispositivo no art. 37, § 2º, da Lei mineira, admitindo expressamente a fundação de direito

privado como Entidade Equiparada ou, na forma da lei federal, outras organizações

reconhecidas, no caso, pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

A Lei nº 13.199/1997 determina ainda que a proposta de criação de consórcio ou de

associação intermunicipal de bacia hidrográfica ou de associação regional, local ou multissetorial

de usuários de recursos hídricos dá-se mediante livre iniciativa dos municípios, devidamente

autorizados pelas respectivas Câmaras Municipais, ou mediante livre manifestação de usuários

de recursos hídricos.96

95 Lei estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 37, § 2º.

96 Lei estadual de Minas Gerais nº 13.199/1999, art. 39.

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Nos termos do art. 38 da citada norma, as Agências de Bacia ou as entidades a elas

equiparadas, por ato do CERH-MG, atuam como unidades executivas descentralizadas de

apoio aos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica e respondem pelo seu suporte

administrativo, técnico e financeiro, e pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos, na sua área

de atuação.

A Agência de Bacia Hidrográfica tem a mesma área de atuação de um ou mais comitês de

bacia hidrográfica e sua criação é autorizada pelo CERH-MG mediante solicitação de um ou

mais comitês (art. 44).

O longo rol de competências da Agência de Bacia ou entidades a ela equiparadas em sua área

de atuação está definido no art. 45, e refere-se a: 1. balanço atualizado da disponibilidade

hídrica; 2. cadastro de usos e de usuários e gestão do Sistema de Informações sobre Recursos

Hídricos; 3. Plano Diretor e Projetos Emergenciais de Controle da Quantidade e da Qualidade

dos Recursos Hídricos; 4. monitoramento da quantidade e da qualidade das águas; 5.

relatórios sobre a situação dos recursos hídricos; 6. cobrança; 7. pareceres sobre projetos e

obras a serem financiados com recursos da cobrança; 8. administração financeira dos valores

arrecadados com a cobrança; 9. análise de projetos e obras considerados relevantes para

encaminhamento às instituições responsáveis por seu financiamento, implantação e

implementação; 10. análise de pedidos de financiamento, relacionados com recursos hídricos;

11. proposta do plano de aplicação dos recursos financeiros arrecadados com a cobrança; 12.

gestão dos recursos financeiros gerados pela cobrança por meio de instituição financeira; 13.

proposta de enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, dos valores a serem

cobrados pelo uso de recursos hídricos e do plano de aplicação dos valores arrecadados com a

cobrança; 14. apoio administrativo, técnico e financeiro ao comitê.

O Decreto nº 44.046/2005, alterado pelo Decreto nº 44.945/2008, regulamenta a cobrança

pelo uso de recursos hídricos no estado de Minas Gerais. Nos termos do art. 5º, a cobrança

condiciona-se, entre outros, à instituição de Agência de Bacia Hidrográfica ou entidade a ela

equiparada, na mesma área de atuação de um ou mais comitês de bacia hidrográfica.

Nota-se que tanto a Política Nacional como a Política de Minas Gerais de Recursos Hídricos

permitem dois modelos para as Agências: 1. a Agência propriamente dita, instituída

especificamente para tanto e 2. a adoção de outras entidades de direito privado, existentes ou

a serem criadas especificamente, que recebem delegação do detentor do domínio dos recursos

hídricos, para assumir as funções das Agências. Nesse último caso, a entidade de direito

privado não pode efetuar a cobrança (no sentido de arrecadar) pelo uso de recursos hídricos,

tendo em vista tratar-se de recursos públicos.

Já no estado de São Paulo, o modelo institucional adotado é mais rígido, pois restringe a figura

da Agência de Bacia a uma fundação de direito privado, em que o Poder Executivo Estadual

participa da respectiva constituição.

A compatibilidade jurídica da legislação federal e dos estados de Minas Gerais e São Paulo é

essencial para a constituição de uma Agência de Águas que possa atuar em todo território da

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bacia hidrográfica do rio Grande. O CBH-Grande pode dar início a essas discussões junto aos

órgãos gestões e às administrações públicas de São Paulo, Minas Gerais e União.

2.6.7 Propostas

Na busca de soluções para essa questão, ressalta-se a necessidade de articulação no âmbito do

Comitê, ressaltando-se a imprescindibilidade da participação das sociedade civil e usuários,

com vistas a verificar a percepção que têm sobre a Agência única.

A proposta que se faz é que, num primeiro momento, mediante a criação de um Grupo de

Trabalho, a Diretoria do CBH Grande se articule com a ANA, IGAM e DAEE, de modo a buscar

soluções para a constituição da Agência de Bacia, lembrando que isso implicará gestões junto

aos governos de Estado e às Assembleias Legislativas. O passo seguinte consistiria na criação de

um segundo Grupo de Trabalho, ligado à CTI, e que teria por objetivo discutir os resultados e

as propostas apresentadas previamente, em articulação com Grupo de Trabalho a ser criado

para tratar da implementação da cobrança, visando definir o formato jurídico-institucional da

Agência e aprovar a sua criação.

Cabe aqui citar o caso das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no que se refere aos

aspectos institucionais, embora a situação geográfica da bacia do rio Grande seja muito

diferente do PCJ, em que apenas uma sub-bacia localiza-se no estado de Minas Gerais.

Na instituição da cobrança pelo uso de recursos hídricos, foi celebrado um contrato de gestão

entre o IGAM e o Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ, associação civil sem fins lucrativos,

com base no § 2º do art. 37 da Lei nº 13.199/1999, segundo o qual os consórcios ou as

associações intermunicipais de bacias hidrográficas, bem como as associações regionais e

multissetoriais de usuários de recursos hídricos, legalmente constituídos, podem ser equiparados

às Agências de Bacia, por ato do Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH-MG, para o

exercício de funções, competências e atribuições a elas inerentes, a partir de propostas

fundamentadas dos comitês de bacias hidrográficas competentes.

Com a substituição do Consórcio PCJ pela Fundação PCJ, a relação entre IGAM e a nova

Agência deixou de ter um cunho contratual, situação que permanece até hoje, ou seja: o

IGAM é o gestor, e arrecada os valores, que ficam disponíveis para aplicação no âmbito de

atuação do Comitê PJ (Minas Gerais). Não há repasse para a Agência PCJ.

No caso da bacia do rio Grande, vale ressaltar que, nos termos do Pacto para a Gestão

Integrada dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, os signatários acordam,

também, em buscar um modelo de organização que possa atuar como Agência de Água da

Bacia Hidrográfica do Rio Grande, isto é, que seja compatível com a legislação nacional e as

legislações estaduais correlatas. Além disso, faz parte do Pacto a universalização da cobrança

pelo uso de recursos hídricos em toda bacia, com o estabelecimento de mecanismos e valores

harmônicos97

.

97 Acordo de Cooperação Técnica nº 09/2016/ANA, Cláusula Quarta.

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3. RECOMENDAÇÕES PARA OS SETORES USUÁRIOS E GESTORES

Considera-se fundamental para a implementação do PIRH-Grande, em consonância com suas

finalidades, componentes estratégicos, objetivos e metas de curto, médio e longo prazo, que

haja grande esforço para articular os diversos setores, sobretudo os gestores, que possuem

atribuições a respeito da implementação dos instrumentos de gestão, e os usuários dos recursos

hídricos.

Na esfera estadual as recomendações do PIRH-Grande estão voltadas ao fortalecimento dos

órgãos gestores de recursos hídricos e de suas competências, através da suplementação de

recursos financeiros, meios humanos e materiais necessários ao adequado desenvolvimento de

suas atribuições.

Os governos federal, estaduais e municipais estão desenvolvendo e atualizando uma série de

planos, os quais estão ligados à implementação de políticas públicas em diversas áreas de

atuação, com rebatimentos nos recursos hídricos, no saneamento e meio ambiente.

Recomenda-se que o planejamento realizado pelo poder público considere os objetivos, metas

e prazos estabelecidos pelo PIRH-Grande, para que se consiga integrá-lo efetivamente ao

conjunto de políticas públicas com rebatimentos sobre os seus programas de ações.

Na escala municipal são administrados aspectos de vasta abrangência, muito voltados ao uso e

ocupação do solo, à mobilidade e aos sistemas de transporte, à habitação de interesse social,

ao saneamento e ao manejo das águas pluviais, que interferem sobre os usuários de água na

bacia do rio Grande. Pela falta de atribuições no Sistema de Gerenciamento de Recursos

Hídricos ao importante ente orgânico federativo que é o Município, este não se encontra

representado de forma compatível com sua importância na gestão dos recursos hídricos.

Recomenda-se, portanto, que os poderes públicos municipais sejam representados nas

instâncias do sistema de gerenciamento de recursos hídricos da bacia do rio Grande com

destaque, de maneira a articular suas atribuições administrativas e seu papel no ordenamento

territorial à gestão dos recursos hídricos. O fortalecimento do papel dos municípios passa

necessariamente pela instituição de instâncias gestoras próprias para, posteriormente, se

fazerem representar nos colegiados gestores das respectivas bacias a que pertencem, de forma

qualificada e com capacidade de interferir de forma construtiva e cooperativa.

3.1 A VISÃO DA BACIA DO RIO GRANDE

As recomendações aos setores usuários e aos gestores não podem deixar de considerar as

importantes contribuições advindas das oficinas participativas realizadas em várias cidades da

bacia do rio Grande no ano de 2016.

As oficinas foram organizadas e realizadas pela ANA com apoio do CBH-Grande, dos CBHs-

Bacias Afluentes e dos órgãos gestores de recursos hídricos de Minas Gerais e São Paulo.

Foram aplicadas as metodologias:

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Desenvolvimento e aplicação da Análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e

Ameaças);

Mapeamento ambiental participativo para levantamento dos principais conflitos locais pelo

uso da água; e

Apresentação e debate do Diagnóstico Preliminar da bacia do rio Grande.

As oficinas ocorreram por CBH afluente e em locais por eles definidos, contando-se com a

participação de representantes das Entidades Civis, Usuários de Recursos Hídricos e Poder

Público integrantes desses Comitês e demais interessados no planejamento de recursos hídricos

da bacia do rio Grande.

A partir dos trabalhos desenvolvidos nas oficinas, consolidaram-se, para cada uma delas, suas

principais resultantes nos esquemas apresentados a seguir. Neles, colocam-se as principais

forças e fraquezas nos dois primeiros quadrantes. Nos quadrantes seguintes apresentam-se as

oportunidades e ameaças que tiveram maior destaque com a aplicação da análise. Este

cruzamento permite inferir a opinião dos usuários e dos gestores sobre recomendações a serem

consideradas para a bacia do rio Grande.

As forças que foram mais citadas nas oficinas foram a disponibilidade hídrica e o papel das

universidades na formação de recursos humanos. Fica claro aqui a importância que terão as

ações do PIRH-Grande para garantir aos usuários água suficiente e de boa qualidade. Ao

mesmo tempo, se reconhece que há meios para capacitar atores e gestores com o apoio dos

recursos da academia.

O saneamento básico insuficiente foi apontado com destaque em todas as UGHs mineiras, o

que reforça a necessidade de atuar nos programas de ações do PIRH, em particular, os

Programas para Gestão da Demanda e da Oferta Quantitativa de Recursos Hídricos (Programa

nº 10) e para Controle das Cargas Poluidoras (Programa nº 11). Outras fraquezas relevantes

apontadas foram a falta de instrumentos municipais/fiscalização, falta de sistema de informação

e de monitoramento quali-quantitativo e alta impermeabilização do solo.

As oportunidades ligadas aos aspectos hidroambientais foram as que obtiveram maior menção

pelos participantes das oficinas. Neste contexto citaram-se o pagamento por serviços

ambientais, a proteção de mananciais e também o aproveitamento do potencial turístico

aquático.

Quanto às ameaças, foi muito mencionada a instabilidade política, reflexo da situação

atualmente observada no País, capaz de provocar estagnação no desenvolvimento e piorar as

condições de trabalho e desenvolvimento sustentado. A insuficiência de recursos humanos

qualificados também foi mencionada como ameaça em várias oficinas, o que reforça a

proposta do PIRH-Grande em realizar Programa de Educação para Conservação e Gestão dos

Recursos Hídricos (Programa nº 14).

Os resultados das Oficinas estão ilustrados nas figuras apresentadas a seguir.

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3.2 AVALIAÇÃO DOS USOS SETORIAIS DO SOLO E DOS RECURSOS HÍDRICOS

3.2.1 O Uso e Ocupação do Solo e as Interfaces das Políticas Públicas Municipais com a

Gestão dos Recursos Hídricos na Bacia do Rio Grande

Ao contextualizar o uso e ocupação do solo e as interfaces das políticas públicas municipais

com a gestão dos recursos hídricos na bacia do rio Grande, é preciso lembrar que os

instrumentos de ordenamento e de reestruturação urbana, que devem ser itens obrigatórios do

planejamento municipal, devem ter o objetivo de promover transformações estruturais nas

cidades. Os municípios deverão, para se ajustar aos objetivos, metas e ações do PIRH-Grande,

desenvolver Projetos de Intervenção Urbana para promover o ordenamento e a reestruturação

urbana em áreas subutilizadas e com potencial de transformação, para maior aproveitamento

da terra e o consequente aumento das densidades construtivas e demográficas de forma

sustentável, possibilitar a implantação de novas atividades econômicas, aumentar a oferta de

emprego e do atendimento às necessidades de habitação e de equipamentos sociais para a

população.

Nas áreas contidas nos perímetros dos Projetos de Intervenção Urbana, os municípios poderão

promover, a pedido dos proprietários ou por iniciativa própria, o Reordenamento Urbanístico

Integrado, que trata do processo de reorganização fundiária associado à implantação de

projetos de reconhecido interesse público, no qual os registros imobiliários dos terrenos

afetados poderão ser objeto de unificação para posterior parcelamento, com a implantação do

projeto urbanístico autorizador da medida, regulamentado por lei específica. Esta política

inovadora pode se converter em oportunidade muito interessante para estimular investimentos

imobiliários de forma ordenada e com retorno econômico e financeiro, apropriando-se dos

benefícios auferidos por uma gestão hídrica bem coordenada e que valorize o território

urbano.

Outro aspecto que pode ser muito favorecido pela integração do PIRH-Grande com as

posturas municipais no que se refere ao uso e ocupação do solo é o estabelecimento de polos

estratégicos de desenvolvimento econômico.

Os polos estratégicos de desenvolvimento econômico são setores demarcados nos Projetos de

Intervenção Urbana situados em regiões de baixo nível de emprego e grande concentração

populacional, que apresentam potencial para a implantação de atividades econômicas,

requerendo estímulos e ações planejadas do Poder Público.

Considerando-se também a grande extensão de área rural na bacia do rio Grande, recomenda-

se que os municípios constituam Polos de Desenvolvimento Econômico Rural Sustentável. Tais

polos objetivam promover atividades econômicas e gerar empregos na zona rural, de modo

compatível com a conservação das áreas prestadoras de serviços ambientais.

Para implementar os Polos de Desenvolvimento Econômico Rural Sustentável, deverão ser

promovidas as seguintes ações pelos municípios:

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Fortalecer a assistência técnica e extensão rural através de casas de agricultura ecológicas,

dotando-as de recursos e infraestrutura suficientes;

Apoiar a certificação orgânica dos agricultores familiares, em especial a certificação

participativa;

Estabelecer convênio com o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA)

para promover o recadastramento e a regularização fundiária das propriedades;

Firmar convênios com o Governo Federal, em especial com o Ministério do Meio

Ambiente, e entidades a ele ligadas, em especial ANA e IBAMA, objetivando implantar nos

municípios as políticas e programas federais voltados à agricultura familiar e com emprego

de baixo consumo de água;

Firmar convênios de Assistência Técnica e Extensão Rural com órgãos tais como a

EMBRAPA e a EMATER com objetivo de introduzir boas práticas de manejo do solo e água;

Fortalecer e ampliar a fiscalização ambiental para proteger as nascentes e áreas de

mananciais, o uso e a paisagem rural, integrando e otimizando as ações dos órgãos gestores

estaduais e municipais competentes;

Implementar o instrumento por Pagamento por Serviços Ambientais – PSA – às

propriedades rurais, em especial nas áreas prestadoras de serviços relacionados à produção

de água.

3.2.2 Saneamento e Manejo de Águas Pluviais na Bacia do Rio Grande

O sistema de saneamento ambiental (Figura 3.1) é integrado pelos sistemas de abastecimento

de água, de esgotamento sanitário, de drenagem e de gestão integrada de resíduos sólidos e

composto pelos serviços, equipamentos, infraestruturas e instalações operacionais e processos

para viabilizar:

o abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais, com

seus respectivos instrumentos de macro e micromedição, incluindo os sistemas isolados;

a coleta, o afastamento, o tratamento e a disposição final adequados dos esgotos sanitários,

desde as ligações prediais até o lançamento do efluente final no meio ambiente;

o manejo das águas pluviais, compreendendo desde o transporte, detenção, retenção,

absorção e o escoamento ao planejamento integrado da ocupação dos fundos de vale;

a coleta, inclusive a coleta seletiva, o transporte, o transbordo, o tratamento e a destinação

final dos resíduos domiciliares, da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas, dos

estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, dos processos e instalações

industriais, dos serviços públicos de saneamento básico, serviços de saúde e construção

civil;

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a hierarquia de não geração, redução, reutilização, reciclagem o tratamento dos resíduos

sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos por meio do manejo

diferenciado, da recuperação dos resíduos reutilizáveis e recicláveis e da disposição final

dos rejeitos originários dos domicílios e da varrição e limpeza de logradouros e vias

públicas.

É fundamental que nas UGHs da bacia do rio Grande o saneamento deva obedecer aos

critérios da infraestrutura urbana e rural definidos pelos municípios e órgãos gestores federais e

estaduais, e atender à legislação referente às Unidades de Conservação, em especial seus

planos de manejo.

Figura 3.1 – Sistema de Saneamento Ambiental

Cabe aqui lembrar que os Programas de Ações do PIRH-Grande voltados para a gestão da

demanda e da oferta quantitativa de recursos hídricos e para o controle de cargas poluidoras

incluem a elaboração dos PMSBs para os municípios que ainda não o elaboraram e a

atualização dos PMSBs para os municípios que já possuem os respectivos PMSBs.

O PMSB é um instrumento estratégico de planejamento e de gestão participativa que integra

abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos, drenagem e

manejo das águas pluviais urbanas, e está diretamente relacionado as metas de quantidade e

qualidade dos recursos hídricos apresentados no PIRH-Grande.

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Os PMSBs deverão atender aos objetivos e diretrizes do marco regulatório do saneamento (Lei

Federal no

11.445, de 2007), e conter no mínimo:

Análises sobre a situação atual de todos os componentes do sistema de saneamento

ambiental, avaliando seus impactos nas condições de vida da população e dimensionando

as demandas sociais a partir de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e

socioeconômicos;

Metas de curto, médio e longo prazo para a universalização do acesso aos serviços de

saneamento, para a suficiência dos sistemas de abastecimento de água e de tratamento dos

efluentes dos esgotos coletados, para o manejo das águas pluviais e resíduos sólidos,

admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais

planos setoriais;

Programas, projetos, ações e investimentos necessários para atingir as metas mencionadas

no item anterior de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e planos

setoriais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento;

Ações para emergências e contingências relativas a ocorrências que envolvem os setores de

saneamento;

Mecanismos e procedimentos para o monitoramento e avaliação dos resultados alcançados

com a implementação dos projetos, ações e investimentos programados;

Propostas para garantir a sustentabilidade, eficiência e boa qualidade urbana e ambiental:

No abastecimento de água;

No esgotamento sanitário;

Na limpeza urbana;

No manejo dos resíduos sólidos;

No manejo das águas pluviais;

No controle de vetores.

A Figura 3.2 ilustra os aspectos que integram os PMSBs.

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Figura 3.2 - Componentes do Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB

Cabe também salientar que está recomendada pelo PIRH-Grande (Programa nº 11), no âmbito

do Componente Estratégico “Conservação dos Recursos Hídricos”, a elaboração de um estudo

específico de regionalização para constituição de consórcios públicos regionais na bacia

visando à gestão dos resíduos sólidos.

3.2.3 Macrozoneamento do Território da Bacia do Rio Grande98

Para garantir um desenvolvimento sustentável e equilibrado entre as várias visões existentes na

bacia sobre seu futuro, o PIRH-Grande observa e considera, em sua estratégia de ordenamento

territorial, as seguintes dimensões:

A dimensão social, fundamental para garantir os direitos sociais para todos os cidadãos, em

especial o direito à infraestrutura básica, à moradia, à mobilidade e ao acesso aos

equipamentos sociais;

A dimensão ambiental, fundamental para garantir o necessário equilíbrio entre as áreas

edificadas e os espaços livres e verdes no interior das áreas urbanizadas e entre esta e as

áreas preservadas e protegidas no conjunto da bacia;

A dimensão imobiliária, fundamental para garantir a produção de edificações;

A dimensão econômica e financeira, fundamental para garantir a viabilidade de

implantação dos serviços indispensáveis ao desenvolvimento da bacia.

Recomenda-se que a estratégia territorial vinculada ao PIRH-Grande, na perspectiva de

observar de maneira equilibrada as dimensões definidas anteriormente e, ainda, os princípios,

diretrizes e objetivos dos Projetos de Intervenção Urbana, deva estruturar-se a partir dos

seguintes elementos:

98A proposta aqui apresentada deverá ser compatibilizada com as diretrizes do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do estado de Minas

Gerais, já elaborado, bem como com as diretrizes do ZEE do estado de São Paulo, ora em processo licitatório para futura contratação pelo

Departamento de Estradas de Rodagem – DER/SP.

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Macrozonas e Macroáreas, áreas homogêneas que orientam, ao nível do território, os

objetivos específicos de desenvolvimento urbano e a aplicação dos instrumentos

urbanísticos, ambientais, e de gestão hídrica, destacando-se a Macroárea de Preservação de

Ecossistemas Naturais, em conexão com fundamentos adotados pela Política Nacional de

Meio Ambiente (Lei Federal no

6.938/1981), caracterizada pela existência de sistemas

ambientais cujos elementos ainda conservam suas características naturais.

Na Macroárea de Preservação de Ecossistemas Naturais predominam áreas de remanescentes

florestais naturais e ecossistemas associados com expressiva distribuição espacial e relativo grau

de continuidade e conservação, mantenedoras da biodiversidade e conservação do solo, bem

como várzeas preservadas, cabeceiras de drenagem, nascentes e cursos d´água ainda pouco

impactados por atividades antrópicas e áreas com fragilidades geológico-geotécnicas e de

relevo suscetíveis a processos erosivos, escorregamentos e outros movimentos de massa.

A Macroárea de Preservação de Ecossistemas Naturais integra principalmente a zona rural da

bacia, e seus objetivos específicos são:

Manutenção das condições naturais dos elementos e processos que compõem os sistemas

ambientais;

Preservação dos bens e áreas de interesse histórico e cultural;

Proteção de espécies vegetais e animais especialmente ameaçadas de extinção;

Respeito às fragilidades geológico-geotécnicas e de relevo dos seus terrenos;

Implementação e gestão das unidades de conservação existentes;

Criação de novas unidades de conservação de proteção integral;

Promoção de atividades ligadas à pesquisa, ao ecoturismo e à educação ambiental voltada

para o aproveitamento dos recursos hídricos.

Rede de Estruturação e Transformação da bacia do rio Grande, composta pelos seguintes

elementos estruturadores do território:

Rede hídrica e ambiental constituída pelo conjunto de cursos d’água, cabeceiras,

mananciais e planícies aluviais, de parques urbanos, lineares e naturais, áreas verdes

significativas, áreas protegidas e espaços livres, que constitui o arcabouço ambiental dos

municípios e desempenha funções estratégicas para garantir o equilíbrio e a

sustentabilidade urbanos;

Redes de estruturação locais, que articulam as políticas públicas setoriais no território com o

objetivo de gerar novas centralidades em regiões menos estruturadas, além de qualificar as

existentes;

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Rede estrutural de transportes, definidora dos eixos de estruturação da transformação

urbana, ao longo da qual se propõe concentrar o processo de adensamento demográfico e

urbano e qualificar o espaço público.

A Figura 3.3 ilustra os elementos estruturantes propostos para o Macrozoneamento de

Ocupação do Território da bacia do rio Grande.

Tal Macrozoneamento poderá ser encaminhado mediante articulações do CBH-Grande com as

entidades responsáveis pelos ZEEs dos estados de São Paulo (Departamento de Estradas de

Rodagem – DER) e Minas Gerais (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável), de modo que sejam consideradas as propostas do PIRH-Grande, na linha

específica da conservação dos recursos hídricos.

Figura 3.3 – Elementos Estruturantes do Ordenamento Territorial Propostos para a Bacia do Rio Grande

3.3 PROPOSTA DE AJUSTES E ADEQUAÇÕES NAS POLÍTICAS, PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS

SETORIAIS

3.3.1 Recomendações para a Efetiva Participação dos Setores Usuários nos Colegiados

Gestores e na Futura Agência de Bacia

É inerente a um Comitê de Integração como o CBH-Grande tentar conciliar as diversas

vertentes que interferem na efetiva participação dos usuários nos colegiados gestores. Vale

lembrar ainda que o envolvimento do segmento dos usuários com interesse na gestão dos

recursos hídricos, considerando o quadro histórico a partir de 1997, deu-se pautado pela

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adesão a um pacto descentralizador e integrativo decorrente da Lei 9.433/97, que instituiu a

Política Nacional de Recursos Hídricos. Embora nos comitês de bacias afluentes os entes

governamentais públicos tenham maioria de representantes, tal situação não configura

automaticamente uma situação de controle deliberativo. Está, ao contrário, sempre sujeita a

processos de negociação e tratativas.

Políticas públicas podem ser definidas como o campo de pressões e contrapressões de forças

sociais e políticas em disputa para implantar, conduzir e produzir regulamentação do Estado

sobre questões controversas, polêmicas ou conflitivas. Toda política púbica mobiliza e canaliza

recursos da sociedade para despesas que se tornam itens do orçamento governamental.

O momento que se abre na bacia do rio Grande tem duas características importantes. A

primeira refere-se ao aprimoramento do campo de seleção e aprovação de projetos do

interesse do CBH-Grande, processo esse que deverá ser regido por uma estrutura de programas

de ações apresentada no PP05. A segunda diz respeito ao fortalecimento da capacidade

institucional do CBH-Grande e dos comitês de bacias afluentes. Tal capacidade assume uma

dimensão chave que é o seu caráter para-regulatório compartilhado entre gestores e usuários.

Os comitês passariam a atuar como entidades para-regulatórias porque terão influência sobre a

futura Agência de Bacia, já que ela atuará sobre cobrança, enquadramento, sistemas de

informações, outorga, obras etc. Neste contexto o papel dos usuários se sobressairá e

conquistará dimensão apropriada ao sistema de gestão, produzindo estruturas estáveis de

coordenação e formulação de políticas integradas de recursos hídricos com base no modelo de

gestão por bacia hidrográfica – a partir das quais aumentam as possibilidades de integrar ações

inter-setoriais e intergovernamentais.

3.3.2 Propostas para o Setor da Irrigação e Agropecuária

O crescimento populacional e a melhoria da sua capacidade aquisitiva no País e na bacia do

rio Grande causaram elevadas pressões na base alimentar. Essas pressões, por sua vez,

repercutem sobre o meio ambiente, principalmente nos solos, na cobertura vegetal e, em

especial, nos recursos hídricos.

A necessidade de aumento na produção de alimentos influenciou o incremento da prática da

irrigação na busca pelo atendimento a padrões adequados ao aumento do consumo e da

produtividade. A agricultura irrigada, reconhecidamente o uso de maior consumo de água, tem

sido apresentada como uma alternativa para quebrar o ciclo vicioso da pobreza e da exclusão

social. Bacias como a do rio Grande, que possuem significativa disponibilidade hídrica, solo e

clima favoráveis, têm esses fatores a seu favor para adotar práticas agrícolas sustentáveis, nas

quais se faz recomendável a utilização da agricultura irrigada.

Uma perspectiva existente em todo o País é que a crescente dinâmica do agronegócio induza,

nos próximos anos, o aumento da área irrigada, seja como forma de superação dos problemas

socioeconômicos, seja como forma de aumentar a quantidade, a qualidade e agregar valor no

produto agropecuário.

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Quanto ao desenvolvimento da agricultura irrigada, ainda que a taxa e áreas irrigadas tenha

crescido no Brasil nos últimos anos (MMA/SRH/BID, 2005), observa-se um baixo valor para a

relação área irrigada/área plantada. No entanto, mesmo se verificando uma pequena

porcentagem de área irrigada em comparação com a área plantada, cultivos irrigados

produziram, em 1998, 16% da safra de alimentos e 35% do valor de produção

(MMA/SRH/BID, op. cit.).

Quanto aos métodos de irrigação, observa-se de maneira geral, inclusive na bacia do rio

Grande, uma tendência de aumento da participação daqueles menos dependentes de mão-de-

obra, como é o caso dos sistemas de irrigação localizada, utilizado para culturas permanentes,

e pivô central, utilizado para culturas anuais, em particular para a produção de grãos. Observa-

se também uma tendência de estabilização nos métodos de irrigação por superfície, que

apresentam os maiores valores de consumo específico de água.

Dentre os métodos mais utilizados, o método por aspersão é predominante, representando

78,5%, sendo que 14,8% referem-se aos pivôs centrais e 63,7% representam outros métodos

de aspersão. Já o método de irrigação localizada representa 10,5%.

Os principais cultivos na bacia são cana-de-açúcar (53,7%), milho (13,1%), café (12,9%), soja

(7,4%), laranja (5,6%) e feijão (2,4%), e que ocupam, juntos, aproximadamente 95% de toda a

área da bacia destinada à agricultura.

A bacia do rio Grande tem 40,8% da sua área destinada à pecuária, 26,7% de agricultura

irrigada, 15,5% de outras culturas ou agropecuária, 6,6% de Mata Atlântica, 6,2% de Cerrado,

2,3% de corpos d´água, 1,3% de áreas edificadas e 0,7% de Silvicultura.

Cabe ressaltar que no PIRH-Grande os programas de ações foram concebidos para atender às

metas do Plano, mediante a realização das atividades previstas. Assim, o Programa para

Compatibilização dos Balanços Hídricos Quantitativos (Programa nº 10), atende às seguintes

metas: incentivar o uso racional dos recursos hídricos com relação às demandas de irrigação e

consequente redução dos volumes hídricos utilizados; estudar a regularização de vazões

proporcionada por barramentos para uso da água em irrigação existentes na bacia, avaliar o

potencial de otimização do uso da água e propor metas de redução da demanda, incluindo,

onde aplicável, o reuso da água.

A intensificação do agronegócio, com o incremento da irrigação e o consequente aumento da

demanda de água, destaque importante do Diagnóstico e Prognóstico do PIRH-Grande, não é

o único impacto potencial a ser considerado do ponto de vista da gestão dos recursos hídricos

na bacia. A disposição de resíduos das atividades agrícolas é seguramente uma variável

relevante a ser considerada na proteção da qualidade das águas.

Quanto à degradação da qualidade das águas, ressalta-se o impacto causado pelos rebanhos

em algumas áreas da bacia em decorrência da quantidade de resíduos produzidos, acarretando

poluição difusa com altas cargas de DBO e de fósforo, durante períodos de chuvas. Caso não

se dê de maneira adequada o manejo da pecuária, as condições de infiltração serão alteradas,

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em especial com retirada de vegetação natural e compactação do solo, trazendo impactos

sobre a qualidade e o volume de escoamento das águas.

No PIRH-Grande também foi proposto o Programa para o Controle das Cargas Poluidoras

(Programa nº 11), que inclui a elaboração de um estudo para a redução das cargas poluidoras

na zona rural e apresentação de metas progressivas visando à adequação da qualidade das

águas ao enquadramento dos corpos hídricos, que será posteriormente definido.

3.3.3 Propostas para o Setor de Saneamento

A principal proposta para o setor de saneamento a ser considerada no PIRH-Grande é avançar

mais na universalização da cobertura urbana. Nesse sentido, a Lei nº 11.445/2007, que dispõe

sobre as Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico, estabeleceu como princípio

fundamental para a prestação dos serviços a universalização do acesso (art. 2º, I),

compreendida como a ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios ocupados ao

saneamento básico (art. 3º, III).

Tendo em vista que a população ainda desprovida dos serviços se localiza predominantemente

nas áreas periféricas e de urbanização informal, esse fato determina a adoção de programas

específicos e integrados aos de desenvolvimento urbano. Na área rural da bacia, a cobertura

ainda é incipiente e deve ser tratada com sistemas isolados e com assistência técnica oferecida

pelas concessionárias.

Os sistemas de abastecimento da bacia do rio Grande concentram grande utilização de água

subterrânea, conforme visto no Diagnóstico. O tratamento e a distribuição da água tratada na

bacia são adequados, entretanto, as perdas de água nos sistemas de abastecimento podem

atingir 40% ou mais do volume de água produzido, por isso é fundamental que se invista

fortemente em programas de controle de perdas. Os tipos de controle de perdas envolvem a

fiscalização de ligações irregulares, renovação de ativos, manutenção da micromedição e

pesquisa de vazamentos.

Os serviços de esgotamento sanitário têm presença deficiente na bacia do rio Grande. O índice

de cobertura do serviço nos municípios da bacia é ainda baixo (89,8% de coleta, 47,8% de

tratamento), com algumas exceções, como a cidade de Franca, modelo para o Estado de São

Paulo. Trata-se de uma desconformidade com a norma vigente, pois a Lei Federal nº

11.445/2007, em seu art. 3º, I, b, assim define o serviço de esgotamento sanitário: atividades,

infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final

adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no

meio ambiente.

Considerando que a maior parte dos municípios da bacia não possui PMSB, deve-se atentar à

execução das atividades constituintes dos Programas para Gestão da Demanda e Oferta

Quantitativa de Recursos Hídricos (Programa nº 10) e para o Controle das Cargas Poluidoras

(Programa nº 11) propostos pelo PIRH-Grande, que atendem à Lei nº 11.445/2007, em seu

art. 9º, I, quanto à exigência de elaboração dos PMSBs. Além disso, nesses instrumentos pode

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ser desenvolvido o arranjo institucional local para a implementação das ações objeto do Plano,

assegurado, nesse caso, o controle social, por meio de oficinas e audiências públicas.

Segundo avaliado pelo Diagnóstico e Prognóstico, o lançamento de esgotos domésticos nos

corpos hídricos constitui o principal problema de qualidade das águas na bacia. Observa-se

ainda que, via de regra, a poluição das águas por esgotos não está somente relacionada à

parcela da população sem rede coletora, mas também àquela com rede, incluindo parte

daquela com tratamento, em decorrência de ligações cruzadas ou lançamentos diretos na rede

de drenagem, além das baixas eficiências dos sistemas sanitários, associadas a uma operação

deficiente.

Um dos maiores desafios da gestão dos recursos hídricos são os esforços conjuntos a serem

empreendidos para a recuperação da qualidade das águas, tanto por questões ambientais

quanto de saúde pública e de qualidade de vida. Embora seja uma atribuição do setor de

saneamento, a qualidade dos serviços de abastecimento, de esgotamento sanitário e de

disposição dos resíduos sólidos urbanos tem enorme repercussão na visibilidade política da

área de recursos hídricos. Por essa razão, a bacia do rio Grande deverá usar os instrumentos de

gestão para, de forma articulada com a política setorial de saneamento e saúde, atender aos

fundamentos da Lei das Águas (9.433/97), expressos em seu artigo 1o

, bem como garantir o

primeiro objetivo expresso na mesma Lei (artigo 2o

, I) de “assegurar à atual e às futuras gerações

a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos

usos”.

Essas considerações permitem concluir que o PIRH-Grande constitui um subsídio importante

para que os atores e gestores da bacia possam encontrar alternativas para induzir o tratamento

de esgotos, como forma de recuperação e controle da poluição das águas. É possível que

instrumentos econômicos tenham que ser reforçados e retomados para subsidiar parcialmente

a implementação desses sistemas, a exemplo do Programa Nacional de Despoluição de Bacias

da ANA (Prodes).

3.3.4 Propostas para os Usuários Industriais

Informações precisas sobre a relação água e indústria são de difícil obtenção na bacia do rio

Grande. Tal dificuldade se prende, especialmente, à identificação das tendências de

crescimento econômico regional da indústria em face da disponibilidade hídrica. As

dificuldades de informação também se correlacionam com as limitações dos processos de

outorga pelo uso dos recursos hídricos, que requerem importante evolução, nos moldes

propostos no PP05, consolidados nos Programas para Fortalecimento de Outorga – Critérios

Técnicos e Administrativos.

As demandas por água para o setor industrial têm sido estimadas pelos órgãos gestores de

forma indireta e, em geral estão dispersas, não sistematizadas, não se dispondo de uma

consolidação abrangente na bacia, sendo uma das principais metas em que se recomenda

atuar fortemente.

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Como característica geral, o parque industrial na bacia é bastante diverso, com o maior peso

econômico recaindo sobre as indústrias extrativistas e de base, em especial do setor

sucroalcooleiro. As indústrias de pequeno e médio porte representam a maior parte do parque

industrial. Essas indústrias utilizam em sua maioria, as redes públicas, tanto na captação como

no lançamento de efluentes. Entretanto, as grandes empresas, que adotam em larga maioria a

captação e o lançamento direto nos corpos d’água, fazem uso do maior volume de água

industrial na bacia. Em compensação, evoluíram na implementação em suas unidades

operacionais de sistemas de reuso de água e tratamento de efluentes, ao contrário das

pequenas e médias empresas.

Relativamente aos outros setores, a indústria tem maior facilidade em adequar-se às restrições

quantitativas (outorga de captação de água) e qualitativa (outorga de lançamento de efluentes).

Importante frisar que o PIRH-Grande estabeleceu, no Programa de Compatibilização dos

Balanços Hídricos Quantitativos (Programa nº 10), atividades específicas para atendimento as

seguintes metas do Plano: incentivar o uso racional da água no setor industrial; elaborar estudo

para avaliação do potencial do uso da água nas indústrias da bacia e apresentar proposta de

metas de redução de demanda. Já no o Programa para Controle de Cargas Poluidoras

(Programa nº 11), estabeleceu a elaboração de um estudo para a caracterização e redução das

cargas poluidoras de origem industrial.

3.3.5 Propostas para o Setor Energético

As diretrizes estabelecidas para o setor de energia nos últimos planos plurianuais da União

enfatizaram o incremento sustentável da oferta interna de energia mediante o aumento da

capacidade de geração elétrica.

Ao longo dos anos, o vasto potencial hidrelétrico existente no País e a alta competitividade

econômica foram fatores determinantes para a priorização da construção de usinas

hidrelétricas. No entanto, a partir de 1990, observou-se decréscimo na participação relativa da

energia de origem hidrelétrica em virtude, principalmente, da inclusão do gás natural na matriz

energética, dos incentivos à cogeração e das restrições ambientais. Destacam-se, ainda, a

manutenção de um programa nuclear mínimo e a implantação do gasoduto Brasil-Bolívia. A

hidroeletricidade, entretanto, continua sendo a fonte largamente dominante na bacia do rio

Grande, havendo ainda previsão de implantar muitos novos aproveitamentos, conforme

apresentado no Prognóstico do PIRH-Grande.

Em termos setoriais, destaca-se o consumo de energia elétrica pela indústria, responsável por

cerca de 40% do consumo nacional. O setor residencial, aquele que mais contribuiu para a

racionalização do consumo no período do “apagão” (2001/2002), é o segundo maior

consumidor de energia elétrica do País.

Sob o ponto de vista dos impactos nos usos da água, as usinas hidrelétricas correspondem à

categoria de usos não consuntivos, uma vez que não extraem água dos rios em que se

localizam. Entretanto, as regras operativas e a necessidade de serem disponibilizadas as vazões

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outorgadas às hidrelétricas podem criar restrições aos demais usuários de água, tanto a

montante como a jusante. O potencial remanescente na bacia do rio Grande é relevante. Esse

fato reforça a necessidade de um ambiente de plena articulação institucional na bacia e no

âmbito da implementação do PIRH-Grande, com participação pública consistente e

qualificada.

Sendo a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) coordenado e controlado pelo

Operador Nacional do Sistema (ONS), os agentes geradores seguem as suas determinações. Em

vista disso, o sistema de gerenciamento de recursos hídricos possui um desafio gerencial

voltado para a necessidade de harmonizar os interesses dos diversos usuários da água e as

decisões do ONS, que certamente terão repercussão no regime fluvial e sobre os demais

usuários da água.

A geração de energia hidrelétrica predomina na bacia do rio Grande e permanece muito

significativa nos planos de expansão do setor. Entretanto, para os próximos anos, ao nível

nacional, estima-se uma maior participação da geração termelétrica, motivada pela

disponibilidade de gás natural (combustível consideravelmente mais competitivo do que os

derivados de petróleo) e por incentivos à prática da cogeração e de outras fontes alternativas,

com o objetivo de diversificação da matriz de energia elétrica brasileira. Também se

recomenda a busca de soluções de cunho regional, com a utilização de fontes renováveis de

energia, mediante o aproveitamento econômico de insumos disponíveis e das tecnologias

aplicáveis a partir do aumento da participação da energia elétrica produzida com base

naquelas fontes.

Na bacia do rio Grande atualmente existem 17 Usinas Hidrelétricas em operação. Conforme

relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), está prevista a construção de 77

empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio Grande, sendo eles:

5 UHEs (usinas hidrelétricas) – 4 com eixo disponível e 1 com registro para o estudo de

viabilidade.

57 PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) – 21 com eixo disponível; 25 Projetos Básicos

(PB) com aceite; 3 PBs aprovados; 2 PBs com registro e 6 construções não iniciadas.

15 Centrais Hidrelétricas – 5 com eixo disponível; 2 PBs com aceite; 7 construções não

iniciadas e 1 construção outorgada.

A implantação desses empreendimentos hidrelétricos representa a produção de 816 MW, o

que corresponde a um aumento de 10% da capacidade instalada da bacia. Dos 816 MW,

385 MW correspondem a empreendimentos hidrelétricos com reservatórios que totalizam uma

área inundada de 214 km2

.

A bacia do rio Grande possui atualmente 26 cursos d’água em estudo para novos

aproveitamentos hidrelétricos, sendo eles: Grande; Mogi-Guaçu; Pardo; Sapucaí e Verde.

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Recomenda-se que sejam tomados os devidos cuidados quando da implantação dos

aproveitamentos previstos, tendo em vista, principalmente, a conservação da ictiofauna da

bacia, o que deve integrar os processos de licenciamento ambiental dos empreendimentos, ao

encargo dos órgãos de meio ambiente das instâncias federal e estadual, onde pertinente.

3.3.6 Propostas para os Setores de Pesca, Turismo e Lazer

A despeito do potencial turístico da bacia do rio Grande, associado à sua beleza cênica, aos

lagos dos reservatórios, às características climáticas e rica biodiversidade, este não é um setor

suficientemente estruturado à altura desse potencial, principalmente no que se relaciona com o

turismo externo à bacia. É recomendável que se desenvolva esse setor, pois apresenta uma

larga margem para o seu aproveitamento econômico na bacia, com uma parcela importante

relacionada aos recursos hídricos, portanto podendo ser afetada pela qualidade e quantidade

desse recurso, especialmente quando é desenvolvido em função da proximidade de corpos

d’água e do ambiente natural preservado.

Em virtude da crescente sensibilização da população para as questões ambientais, destacam-se

os potenciais na bacia para crescimento das atividades de turismo ecológico e do turismo da

pesca, recomendando-se também que sejam explorados os nichos do turismo científico e

tecnológico. Foram forças e oportunidades muito mencionadas nas oficinas realizadas no Baixo

Pardo/Grande, Turvo Grande, Sapucaí-Mirim, Serra da Mantiqueira, Rio Sapucaí, Afluentes

Mineiros dos Rios Mogi-Guaçu e Pardo, Alto Rio Grande e Vertentes do Rio Grande, Entorno

do Lago de Furnas e Rio Verde.

Os setores de turismo, pesca e lazer requerem o estabelecimento de políticas que promovam

estas atividades na bacia de maneira sustentável do ponto de vista socioambiental, integrando-

as com as políticas ambiental e de recursos hídricos. Planos e programas de incentivo ao

turismo podem gerar efeitos positivos e negativos sobre os recursos hídricos decorrentes da

intensificação da atividade turística na bacia do rio Grande.

Podem-se destacar como efeitos positivos: o incentivo à coleta e tratamento de águas

residuárias; melhoria na infraestrutura pública (sistemas de drenagem, abastecimento de água,

elaboração de planos de turismo sustentável); criação de áreas protegidas para conservação de

fauna, flora, biodiversidade genética, pontos turísticos, áreas de recarga de aquíferos; criação

de políticas para a valoração de recursos hídricos; e incentivo à educação ambiental e

sensibilização de turistas.

Já os efeitos negativos são: aumento no consumo de recursos hídricos para abastecimento da

população temporária; risco de depleção dos ambientes fluviais e ribeirinhos; contaminação

dos recursos hídricos para a realização de obras públicas; e especulação imobiliária em áreas

de recarga de aquíferos e de proteção de mananciais.

Conforme apresentado no Diagnóstico, a bacia do rio Grande possui um grande potencial

turístico, tanto pelo seu patrimônio histórico, quanto por suas belezas naturais, e consequente

aproveitamento para atividade de ecoturismo, esportes de aventura e pesca recreativa, com

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destaque às atividades desenvolvidas no lago do reservatório de Furnas e entorno. São 88

municípios com atividades de turismo e lazer náutico, e 70 municípios são considerados

estâncias: climáticas, hidrominerais ou turísticas.

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4. ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS INSTITUCIONAIS E ROTEIRO

METODOLÓGICO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PIRH-GRANDE

4.1 ANÁLISE DA ESTRUTURA PROGRAMÁTICA ESTABELECIDA FRENTE À REALIDADE POLÍTICO-

INSTITUCIONAL DA BACIA

A estrutura programática estabelecida foi analisada a partir do exame dos documentos em vigor

relacionados com a atuação dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e comitês de bacia

hidrográfica nos três âmbitos: federal e dos estados de São Paulo e Minas Gerais.

No que se refere aos órgãos gestores, nota-se que as atribuições legalmente estabelecidas, tanto

da Agência Nacional de Águas, como do Instituto Mineiro das Águas, encontram-se em

consonância com os princípios e diretrizes das políticas de recursos hídricos.

Essa situação estabelece, a priori, uma clareza do seu papel institucional quanto à atuação

dessas entidades, e a necessidade de trabalhar em conjunto com os demais atores.

No estado de São Paulo, contudo, existe um descompasso flagrante entre as normas que regem

o Departamento de Águas e Energia Elétrica e a atual realidade da gestão dos recursos hídricos,

sobretudo quando se trata de uma bacia hidrográfica compartilhada com outros estados e a

União.

Essa desatualização legislativa, embora não possa eximir a entidade de atuar de acordo com os

princípios e diretrizes das políticas de recursos hídricos, deixa, por outro lado uma ideia, ainda

que não verdadeira, de que o exercício da governança e as obrigações relacionadas com a

articulação institucional não fazem parte do universo das atribuições do DAEE.

Embora essa questão não diga respeito exclusivamente à bacia hidrográfica do rio Grande, ela

não deixa de interferir negativamente no avanço de uma necessária governança, a ser

estabelecida pelos três entes federativos.

Além disso, de acordo com a legislação em vigor, há incompatibilidades de ordem legal que

impedem a instituição, desde logo, de uma Agência de Bacia única para esses três entes, tal

como exposto no Capítulo 2 deste relatório.

Daí a proposta de que o exercício da articulação institucional seja levado adiante, com uma

pauta voltada às questões que devem ser objeto de discussão, no âmbito da implementação do

Plano.

Cabe salientar o papel estratégico dos órgãos gestores. Uma vez que a eles compete a

implementação das políticas de águas, propõe-se que essas entidades estabeleçam, como

pauta das reuniões tanto do CBH-Grande, como dos Comitês afluentes, as ações que cabem a

cada uma delas, para a completa implementação dos instrumentos de gestão. O objetivo é

introduzir, nos próximos passos, a articulação e o exercício da governança, como mecanismos

de busca de soluções para impasses e acordos sobre os temas polêmicos acerca dos

instrumentos de gestão.

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Isso é necessário na medida em que se verificou, quando da análise dos documentos

relacionados com a atuação dos conselhos estaduais de recursos hídricos e comitês de bacia

hidrográfica, que os temas da governança e da articulação institucional não estão

completamente incorporados na atuação desses colegiados.

Esse tema é estratégico para trazer os setores usuários à discussão em alinhamento com os

órgãos gestores, no sentido de contar com a sua ativa participação, principalmente quando

estiver em curso o processo de implementação da cobrança pelo uso de recursos hídricos na

totalidade da bacia.

4.2 DEFINIÇÃO DE PRÁTICAS E METODOLOGIAS PARA GERENCIAMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO

PIRH-GRANDE

A implementação do Plano de Recursos Hídricos de Bacia Hidrográfica é um desafio, na

medida em que depende da capacidade e vontade de articulação institucional, congregando

não apenas os setores da economia por meio das secretarias ou ministérios que os representam

no CBH-Grande e os setores organizados da sociedade, por exemplo, industrial, agrícola e

organizações ambientais. Daí a importância da atuação, a priori, dos órgãos gestores,

responsáveis pela implementação das políticas de recursos hídricos.

As instâncias participativas – conselhos e comitês de bacias – também cumprem papel

estratégico de controle social para que as ações pactuadas sejam efetivamente implementadas

(ANA, 2013). Nos comitês de bacia hidrográfica, onde todos os setores estão representados,

seus membros precisam estar diretamente envolvidos na implantação do Plano de Bacia, tendo

em vista as necessidades de articulação para realizar as ações definidas nos programas.

Em face do cenário institucional vigente, entende-se ser necessário que os órgãos gestores –

ANA, DAEE e IGAM – tomem a iniciativa de introduzir a questão da implementação do Plano,

enfatizando a importância da articulação institucional e do exercício da governança, no

estabelecimento dos acordos necessários, que culminarão na execução do plano de ações

proposto.

Ou seja, a efetividade do Plano dependerá da capacidade de coordenação das ações das

diversas esferas governamentais e, inclusive, no âmbito de uma mesma esfera, seja ela federal,

estadual e até mesmo municipal (ANA, 2013).

Tanto as instituições das três esferas governamentais que atuam na bacia hidrográfica, quanto

os setores econômicos necessitam estabelecer um sistema de articulação, para que as ações e

programas previstas no Plano de Bacia possam ser factíveis e não encontrem entraves de cunho

institucional em sua realização. Afinal, não basta que o Plano indique o que deve ser feito,

como e quando. É preciso haver acordo entre os atores envolvidos para que haja efetividade e

avanço na gestão.

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4.2.1 Estratégias Institucionais para Implementar o PIRH-Grande

4.2.1.1 Agência de Bacia e Órgãos Gestores Estaduais: Competências Compartilhadas e

Exclusivas para a Implementação do PIRH-Grande

A governança da bacia do rio Grande, segundo proposto neste Plano, segue um processo

evolutivo em direção à criação da Agência da Bacia do Rio Grande. Ao longo deste caminho

algumas competências que eram exclusivas dos órgãos gestores passarão a ser compartilhadas

pelos órgãos colegiados que exercerão, à medida que se qualificarem, um papel de ente para-

regulador, conforme anteriormente exposto. No próximo estágio de articulação institucional se

decidirá sobre a criação da Agência única. A esta altura entende-se como necessário o

fortalecimento do CBH-Grande, para avançar na implementação do Plano, enquanto se

prepara a instituição da Agência.

Com o CBH-Grande fortalecido, o processo de compartilhamento de competências passa a ser

ampliado, cabendo a ele propor normativas referentes aos instrumentos de gestão de recursos

hídricos, de forma integrada e harmonizada, observada a legislação pertinente. Observe-se que

o compartilhamento não se limitará às competências, mas também às responsabilidades e aos

meios operacionais.

Os requisitos indispensáveis para o cumprimento da Resolução CNRH no

48/2005 passarão a

ser missão do CBH-Grande, com o apoio técnico dos órgãos gestores. Dessa forma, deverão ser

deliberados temas tais como os usos insignificantes, avanços necessários para cadastrar os

usuários, diligenciar em sintonia com os gestores e atores a viabilização dos recursos

necessários para o Programa de Investimentos e, finalmente, propor e tramitar até a sua

aprovação, a proposta de cobrança e, finalmente, da Agência de Bacia do Rio Grande.

Aqui cabe lembrar que, ao contrário do que alguns afirmam, este processo rumo à Agência não

enfraquece os órgãos gestores. Ao contrário, para atender aos requisitos normativos, e construir

uma agenda de integração na bacia, o fortalecimento dos órgãos gestores é fundamental, pois

somente assim haverá base sedimentada para assegurar que a futura Agência seja

adequadamente instituída.

Ao se instituir a Agência, os órgãos gestores poderão se dedicar a desempenhar suas

competências exclusivas com maior eficiência. Não custa relembrar a atribuição exclusiva da

ANA de atuar em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cabendo-lhe supervisionar,

controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal

pertinente aos recursos hídricos e disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a

operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos

Hídricos.

Papel similar ao da ANA cumpre exclusivamente aos órgãos gestores estaduais nos rios de seu

domínio. O DAEE e o IGAM terão sempre presentes no exercício de suas atividades a

preocupação de disciplinar a utilização dos recursos hídricos e o desenvolvimento regional.

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4.2.1.2 A Participação Pública e dos Usuários na Gestão dos Recursos Hídricos da Bacia do

Rio Grande

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH, no que diz respeito

ao papel da sociedade civil e usuários, nasceu com uma deficiência conceitual quando colocou

no mesmo conjunto representativo, sob a denominação “sociedade civil organizada” o setor

técnico (universidades, associações técnicas especializadas), os usuários e as entidades

ambientalistas e sindicais. Nesse amálgama misturam-se entes do setor público como

universidades estatais, empresas de economia mista e concessionárias do setor público, como

se fossem representantes sociais. Esta situação resultou que nos comitês, onde se dá a grande

expressão da participação pública no sistema, houve numa primeira fase de intensa

predominância do poder público, sobrepujando a participação dos usuários e da sociedade em

geral.

Aos poucos, as organizações da sociedade civil, superando uma primeira fase de indução para

participação por parte do poder público, começaram a ter um papel mais relevante,

apropriando-se e participando do Sistema.

O fato é que a participação pública ficou muito dispersa e sem ressonância no contexto dos

comitês. Inúmeras reuniões de câmaras técnicas e de plenárias, sem pautas concretas, sem

demandas organizadas por planos de bacia ancorados em fontes viáveis de financiamento, sem

avanços na implementação dos instrumentos de gestão, resultam em frequentes faltas de

quórum e no descrédito de agentes estratégicos, afastados em função da prevalência de

interesses locais e marginais para a bacia. Os comitês federais e os comitês de bacias afluentes,

sem viabilizar aportes significativos nas bacias hidrográficas onde atuam, salvo ações pontuais,

programas de educação ambiental e outras pequenas medidas de cunho corretivo, estão

sempre muito distantes das expectativas requeridas por quadros comprometidos com a

construção de uma agenda de progresso na gestão hídrica brasileira.

É possível antever evoluções na condução de debates sobre o PIRH-Grande, na medida em

que os universos e as referências que orientam os processos decisórios dos diferentes atores

sejam menos distintos e assimétricos: de um lado, preocupações dos usuários pagadores sobre

como internalizar exigências ambientais e de gestão de recursos hídricos em seus custos de

produção; de outro lado, expectativas de alguns dos segmentos da sociedade civil,

notadamente de ONGs que militam na área ambiental, sobre metas e objetivos associados a

condições viáveis de financiamento e nos prazos requeridos.

Outra questão que se rebate na participação pública observada, e que necessita de ajustes, é a

prática brasileira político-administrativa de desconcentrar decisões sem efetivamente

descentralizá-las. Opera-se mediante instâncias regionalizadas, todavia remanescendo os

núcleos decisórios na União ou em governos estaduais. Muitos dos passos locais só podem ser

dados sob o aval de instâncias superiores, quando deveria ser possível avançar em soluções

específicas, sempre que não fossem violados os fundamentos da política de recursos hídricos e

afetados os interesses de terceiros.

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No caso dos recursos hídricos, um dos conceitos fundamentais do SINGREH propostos no

PIRH-Grande para valorizar a participação pública refere-se à participação de instâncias

decisórias locais, com autonomia de atuação em suas respectivas áreas de atribuição, sempre

que problemas possam ter solução na própria bacia hidrográfica em que atuam os comitês e a

futura Agência da Bacia do Rio Grande.

Sob tal entendimento, será também fundamental promover na bacia do rio Grande formas de

inserção real dos municípios nas estratégias de gestão, uma vez que variáveis decisivas se

encontram sob sua competência (legislação de uso e ocupação do solo, titularidade de serviços

de saneamento, intervenções em drenagem, disposição de resíduos sólidos, dentre outras).

Alguns municípios da bacia possuem bastante prática em fomentar instrumentos de

participação pública para subsidiar o seu planejamento estratégico, tais práticas poderiam ser

replicadas em benefício da implementação dos programas de ações do PIRH-Grande.

As prefeituras poderiam, desde que devidamente articuladas com os comitês vinculados às

UGHs às quais estão afetas, induzir a participação pública através da realização de audiências

públicas por ocasião do processo de discussão para licenciar ou autorizar a implantação de

empreendimentos e atividades públicas e privadas que interfiram nos recursos hídricos locais.

Também seria muito inovador dentro do sistema se as prefeituras estimulassem a iniciativa

popular de planos, programas e projetos voltados à melhoria da gestão hídrica, como, por

exemplo, programas do tipo “Córregos Limpos”. Poderiam, na sequência das iniciativas

populares de planos, programas e projetos de recuperação hídrica, propor projetos de lei,

como por exemplo, “Leis de Armazenamento em Lotes Urbanos” para diminuir os impactos da

urbanização na geração de inundações.

Finalmente, as prefeituras, em estreita colaboração com os comitês, promoveriam atividades

periódicas de formação para os munícipes, como cursos, seminários e oficinas, com o objetivo

de ampliar a troca de informação sobre as políticas de gerenciamento de recursos hídricos e de

desenvolvimento urbano, favorecendo o seu contínuo aperfeiçoamento.

A Figura 4.1 ilustra as estratégias recomendadas para a aplicação dos instrumentos de

participação pública, com destaque ao relevante papel a ser exercido pelos usuários na

participação em audiências públicas e na tomada de iniciativas para criar novos planos,

programas e projetos e propor aprimoramento na legislação.

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Figura 4.1 – Instrumentos de Participação Pública

4.2.1.3 Estratégia de Uso Compartilhado dos Recursos Hídricos

A estratégia de uso compartilhado dos recursos hídricos na bacia do rio Grande poderá variar

conforme a situação e as peculiaridades de cada UGH, enfatizando-se, nos comitês de bacias

afluentes segundo as circunstâncias, a inserção dos usuários e de suas associações no processo

de gestão. Alternativamente pode-se trabalhar com maior energia na estratégia de reforço dos

órgãos gestores estaduais, conforme ocorrerem os avanços nos programas de fortalecimento da

outorga e de implantação da cobrança. Também pode ser adotada uma estratégia de uso

compartilhado dando-se prioridade à implementação dos programas do PIRH-Grande

apoiados em sistemas de informações atualizados.

O uso compartilhado das águas também deverá se apoiar em critérios para alocação de água

na bacia, considerando vazões de entrega entre rios de domínio da União e dos estados de

Minas Gerais e São Paulo, em quantidade e qualidade adequadas aos usos múltiplos dos

recursos hídricos.

Qualquer que seja a estratégia de uso compartilhado a ser adotada, ela terá o CBH-Grande e

os comitês de bacias afluentes como pivôs de um processo em que o PIRH-Grande será o elo e

referencial técnico-programático a ser adotado para estabelecer o pacto do uso compartilhado

dos recursos hídricos na bacia.

4.2.2 Metodologia de Controle e Acompanhamento do PIRH-Grande

Para o controle e o acompanhamento da implementação das ações previstas pelo Plano ao

longo do tempo, propõe-se a adoção de um Sistema de Monitoramento do PIRH-Grande, tal

como exposto a seguir.

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4.2.2.1 Conceituação de Sistema de Monitoramento

O primeiro passo para a concepção da forma de acompanhamento e monitoramento do PIRH-

Grande consiste na compreensão do propósito do seu plano de ações: trata-se de conjunto de

ações de curto, médio e longo prazo, ancorado na necessidade de atendimento a objetivos e

metas estabelecidos de acordo com os interesses da gestão integrada e compartilhada dos

recursos hídricos da bacia do rio Grande e pactuados com o CBH Grande.

O processo de gestão compartilhada demanda, por sua vez, planejamento estratégico robusto,

claro e de fácil acompanhamento e monitoramento. Nesse contexto, insere-se o Artigo 13º da

Resolução nº 145/2012 do CNRH, que ao listar o conteúdo mínimo para o Plano de Ação dos

Planos de Bacia Hidrográfica, inclui “indicadores que permitam avaliar o nível de

implementação das ações propostas”.

Compreende-se que os indicadores devem dar suporte à avaliação do cumprimento de cada

uma das metas e objetivos aprovados pelo PIRH-Grande de forma a demonstrar o caminhar

rumo aos objetivos do Plano em sua concepção mais ampla. Da mesma forma, a metodologia

a ser utilizada deve promover a agregação desses indicadores de forma a proporcionar uma

análise global dos níveis de avanço das metas do conjunto do PIRH- Grande.

A operacionalização do PIRH-Grande (cujo fortalecimento e instrumentalização são

evidenciados em diversos dos programas do Plano) passa, assim, pela instituição de um Sistema

de Monitoramento, cuja implantação torna-se parte do processo de gestão da própria bacia

hidrográfica. Afinal, não se atinge um “fim” somente com a delimitação de programas, metas e

ações; a revisão periódica do Plano demanda constante atualização, assim como a

incorporação de fatos não antecipados. O médio prazo de hoje é o curto prazo de amanhã.

Nesse sentido, mais uma vez, se compreende fulcral realizar o acompanhamento do processo

rumo aos objetivos do PIRH-Grande de forma clara e estruturada, sob os preceitos da gestão

integrada e participativa, relevante para a bacia e em respeito aos seus anseios e interesses.

O objetivo de se conceber um Sistema de Monitoramento99

é o de criar um instrumento de

acompanhamento e avaliação sistemática da implementação e operacionalização do PIRH-

Grande. Almeja-se que a ferramenta de monitoramento subsidie os Comitês de Bacia

Hidrográfica e os órgãos gestores, em suas tomadas de decisão, a fim de:

Acompanhar de forma sistematizada o andamento de cada um dos programas, incluindo as

diversas interfaces institucionais que os envolvem;

Endereçar dificuldades que eventualmente se apresentem;

Mensurar o cumprimento dos objetivos e metas propostos;

Indicar necessidades de ajustes que permitam melhorar a estratégia de execução; e

99 Ressalta-se que no escopo da elaboração do PIRH-Grande se tem a concepção do sistema, mas não sua elaboração, geração de insumos e

formatação efetiva do monitoramento e seu banco de dados - tarefa esta que recairá sobre a entidade responsável pela sua implantação.

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Dar suporte ao processo de revisão e repactuação das metas e objetivos do PIRH-Grande.

4.2.2.2 Agregação de Indicadores pelo Gráfico de Objetivos e Meios - GOM

Os indicadores do Plano de Ações estão devidamente definidos e apresentados no Produto

PP05; constam nas fichas dos Programas, que apresentam diversas Atividades prescritas,

dirigidas ao atendimento às metas de cada um dos 18 Programas. Os indicadores foram

concebidos de forma a representar - da melhor forma, abrangência e aderência possível - o

cumprimento das metas e atividades, de modo que mudanças nos indicadores identifiquem as

alterações ocorridas rumo às finalidades do Plano.

Os Programas, por sua vez, foram elaborados justamente para atender aos objetivos do PIRH-

Grande, sendo as atividades integrantes de cada um deles definidas para atender às metas. A

estrutura hierárquica utilizada para formalizar a ligação entre as finalidades de longo prazo do

Plano, seus objetivos, meios, metas e ações é o GOM - Gráfico de Objetivos e Meios, e é justo

nessa estrutura que se deve inserir o acompanhamento e monitoramento do PIRH.

No contexto descrito, tem-se que o conjunto de indicadores que visa mensurar o nível de

avanço e cumprimento de cada uma das metas do PIRH-Grande passa a integrar o Sistema de

Monitoramento de forma hierárquica e agregável. O método que estrutura o GOM, afinal,

advém da teoria dos sistemas e permite relacionar objetivos e metas de forma a se ter uma

leitura tanto top-down como bottom-up.

Dessa forma, o Sistema de Monitoramento proposto organiza a leitura dos indicadores de

forma sistemática em vários níveis: o primeiro deles é a leitura desmembrada de cada

atividade, ou seja, uma leitura de baixo para cima (bottom-up). Os indicadores propostos têm

escala variando a partir do valor nulo para a ausência de atividade executada sobre aquele

tema ao valor unitário quando, da conclusão e atendimento integral das ações necessárias.

Com isso, permite-se, pela agregação dos indicadores, promover a leitura de cima para baixo

(top-down), compreendendo-se, por exemplo, que se três de quatro metas foram cumpridas, o

sucesso de um determinado objetivo foi alcançado em 75%.

A Figura 4.2 apresenta uma imagem ilustrativa da agregação dos indicadores no GOM.

Figura 4.2 - Imagem Ilustrativa da Agregação dos Indicadores no GOM

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Como um ferramental para os Comitês de Bacia na condução da gestão integrada e múltipla

dos recursos hídricos da bacia do rio Grande, o Sistema de Monitoramento deverá apresentar

diferentes níveis de agregação dos indicadores para acompanhamento das diversas atividades,

metas, objetivos e componentes estratégicos, de sorte a permitir análises pertinentes a cada

qual.

Cada meta/atividade deve ter seu indicador acompanhado e deve ter um resultado isolado e

individual de verificação de seu cumprimento. Assim, o indicador que permite o

monitoramento de cada atividade apresentará valor de “zero” a “um”, de acordo com o seu

nível de cumprimento.

Como exemplo, considere-se a atividade 7 do Programa 2: “Realizar cursos de capacitação

sobre as novas metodologias de análise de outorga propostas”. Trata-se de atividade sob

responsabilidade da ANA e envolvimento direto do IGAM e DAEE, sendo os cursos voltados,

principalmente, para os analistas dos órgãos gestores estaduais.

Compreende-se que, como se trata de capacitação sobre novas metodologias de análise de

outorga, a maior quantidade de técnicos envolvidos se faz desejável. Afinal, as novas

metodologias devem permear a estrutura dos órgãos gestores estaduais para que se façam

aplicar. O indicador definido para essa atividade é o ”número de participantes capacitados nos

cursos em cada estado em relação ao número total de técnicos que atuam na análise dos

processos de outorga”. Ter-se-á, com a avaliação do indicador, uma medida relativa de sucesso

no cumprimento da atividade, pois quanto maior o percentual de técnicos que atuam em

processos de outorga que receberam o curso, melhor.

Na hipótese de que o indicador resulte 0,20 (20%), ter-se-ia a necessidade de recondução do

curso para complemento da capacitação dos profissionais dos órgãos gestores, uma vez que o

sucesso foi aquém do necessário. Já situação oposta se verifica caso o indicador resulte por

exemplo, 0,80 (80%); neste caso, o valor próximo ao esperado, que seria de 100% de

atendimento, com o indicador assumindo, assim, a unidade.

Os indicadores que monitoram o cumprimento de cada atividade devem ser avaliados, para

acompanhamento de cada meta. Nesse sentido, há metas com mais de um indicador proposto

para seu acompanhamento. Em situações como essa, cada indicador deve ser monitorado de

forma individual e deve ser realizada a sua agregação simples, visando ao monitoramento da

meta.

Como exemplo, cita-se a meta 8 do Programa 2, que determina: “implementar as novas

metodologias de outorga propostas”. Essa meta apresenta seis indicadores: “metodologia de

outorga revista/implementada em cada estado para cada tipologia de uso (aproveitamentos

hidrelétricos, águas subterrâneas e lançamentos de efluentes)”. São propostos indicadores para

monitorar a implementação de cada uma das três metodologias em cada um dos dois estados.

Nesse caso, o cumprimento isolado de cada um deles mostra 1/6 (0,167 ou 16,7%) do

atendimento à meta. O indicador de acompanhamento da meta é o agregado dos seis

indicadores para cada atividade.

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Os indicadores de monitoramento de cada meta devem ser agregados para o

acompanhamento do avanço de cada Programa e, consequentemente, de cada Objetivo.

Como exemplo, o Programa 2 está voltado ao “Fortalecimento da Outorga – Critérios

Técnicos”, e é desenhado para endereçar o Objetivo 2: “Revisar Critérios Técnicos de Outorga”.

Esse Programa visa atender ao Objetivo em questão, que apresenta 8 metas. Nesse sentido, o

resultado do indicador de monitoramento de cada meta deve ser agregado para o

acompanhamento do Objetivo como um todo. Dessa forma, uma situação em que três

indicadores referentes às metas atingirem cumprimento integral e os cinco restantes valor nulo,

tem-se o valor correspondente a 3/8 (0,375 ou 37,5%) para o indicador de monitoramento do

Objetivo.

O mesmo princípio da agregação deve ser adotado para o monitoramento do Componente

Estratégico. Como exemplo, o componente estratégico “Instrumentos de Gestão dos Recursos

Hídricos” apresenta nove objetivos. Com isso, o resultado do indicador de cumprimento do

Componente deve ser dado pela agregação direta dos nove indicadores referentes aos

objetivos, conforme exemplos dados para as agregações anteriores.

A vantagem de se adotar um sistema de ponderação linear é a decorrente facilidade de realizar

a agregação: basta multiplicar o resultado padronizado entre "zero" e "um" de cada um dos

indicadores por sua ponderação e adicionar os resultados de cada grupo (entre as atividades;

entre as metas; entre os objetivos e, também, entre os componentes; e também, entre esses e

as finalidades de longo prazo do Plano).

Para a agregação descrita, poderia ser necessário ponderar a importância de cada uma das

Atividades dos 18 Programas na composição do todo (notando-se que cada atividade é

monitorada por um indicador ou, em alguns casos específicos, por mais de um). Para efeito de

simplicidade operacional do modelo do Sistema de Monitoramento e melhor compreensão da

sociedade, propõe-se que cada objetivo tenha peso igual. Com isso, a integração é dada da

seguinte forma:

Componente Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos 9 Objetivos = 9 Pontos;

Componente Conservação dos Recursos Hídricos 5 Objetivos = 5 Pontos

Componente Governança 4 Objetivos = 4 Pontos.

Com isso, considerando a situação de 18 Objetivos para o PIRH-Grande, o seu cumprimento

integral seria dado pela obtenção da totalidade dos pontos relacionados aos indicadores

agregados dos Objetivos e Componentes. E, para a obtenção do indicador global de

acompanhamento do PIRH-Grande, propõe-se a normalização do valor de avanço para um

valor máximo de 100%, que pode ser feito por meio de regra de três simples em que 100%

corresponde aos 18 pontos de atendimento integral aos Objetivos e, por consequência, ao

atendimento integral de cada Componente e, finalmente, ao alcance das finalidades maiores

do Plano.

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4.2.2.3 Curva de Avanço - Ações no Tempo

O estabelecimento do Sistema de Monitoramento baseado em indicadores que demonstram o

nível de cumprimento/avanço de suas metas implica a pactuação sobre seus prazos de

cumprimento. Dessa forma, as atividades podem ser alocadas no tempo, de forma a permitir a

construção de curvas de avanço para o PIRH-Grande como um todo.

O Quadro 4.1 ilustra a curva de avanço de uma atividade hipotética, representada na Figura

4.3. Nota-se facilmente, pelo exemplo, que o início da atividade se deu com dois meses de

atraso, embora o status em novembro seja de apenas um mês de atraso, restando apenas a

quarta e última etapa para a finalização da atividade.

QUADRO 4.1 – EXEMPLO DE CURVA DE AVANÇO – ATIVIDADE HIPOTÉTICA

Atividade « A » Prazos pactuados Percentual de cada etapa Curva de avanço ideal

Etapa 1 maio/2018 25% 25%

Etapa 2 julho/2018 25% 50%

Etapa 3 set/2018 25% 75%

Etapa 4 nov/2018 25% 100%

Elaboração ENGECORPS, 2017

Figura 4.3 – Curva de Avanço de uma Atividade Hipotética

A Figura 4.4 ilustra a ponderação linear sugerida no item anterior, para o Componente

Estratégico “Governança”, constituído por 4 Objetivos, cada um deles com suas respectivas

metas, considerando um primeiro caso de cumprimento integral das metas e um segundo caso,

de cumprimento parcial.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Apr-18 May-18 Jun-18 Jul-18 Aug-18 Sep-18 Oct-18 Nov-18 Dec-18

Previsto Executado

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Figura 4.4 - Ponderação Linear Exemplificada para Desagregação do Sistema de Monitoramento com Base na

Estrutura do GOM

No exemplo acima, no caso de cumprimento parcial das metas, o Componente “Governança”

teria sua curva de avanço geral em 75%. Na hipótese de que o avanço dos Componentes 1

(Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos) e 2 (Conservação dos Recursos Hídricos)

tivessem avanços, respectivamente, de 50% e de 85%, a média aritmética dos três valores seria

de 70%, média essa correspondente ao atendimento das finalidades de longo prazo do Plano,

ou seja, do Plano propriamente dito.

4.2.2.4 Atividades de Acompanhamento

A implementação do Sistema de Monitoramento tem como finalidade a verificação

permanente da execução das ações propostas pelo PIRH-Grande. Para tanto, é necessária a

execução das seguintes atividades:

Cálculo periódico e sistemático dos indicadores;

Emissão de relatórios periódicos de acompanhamento; e

Repactuação de objetivos e metas.

Cada uma dessas atividades é a seguir detalhada, incluindo os seus principais responsáveis:

com as responsabilidades principais:

Cálculo periódico e sistemático dos indicadores

O sistema de monitoramento é baseado na coleta e tratamento de informações que darão

subsídio ao cálculo dos indicadores que mensuram os níveis de avanço de cada uma das

atividades descritas no Plano de Ações. Estas atividades detêm um responsável por sua

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execução, que pode coincidir ou não com o agente responsável pelo acompanhamento direto

do PIRH-Grande.

Depois de implantada, a Agência de Bacia será a responsável pela coleta de informações

necessárias ao cálculo sistemático dos indicadores sendo, na sua ausência, atribuição dos

órgãos gestores, mais especificamente da ANA, no caso do PIRH-Grande. Caso seja de

interesse, pode ser feita a contratação de consultoria específica com essa finalidade de coleta

de dados e cálculo dos indicadores.

O responsável pela coleta de dados deve realizar a verificação junto aos executores de cada

uma das ações para obtenção de seu status. Nesse sistema interdependente, torna-se crucial

coletar de forma periódica, preestabelecida e sistemática, as informações para cálculo dos

indicadores.

É importante que a periodicidade de levantamento de dados e cálculo dos indicadores seja a

mesma para todo o PIRH-Grande, sendo proposta de forma semestral para o período dos

primeiros três anos e anual a partir de então.

Emissão de relatórios periódicos de acompanhamento

Os resultados do monitoramento devem ser disponibilizados à sociedade da bacia, em

relatórios periódicos de acompanhamento do PIRH-Grande, emitidos pelo executor do

monitoramento, com a mesma frequência da coleta de dados.

Sugere-se que o relatório de acompanhamento deva conter:

Status de todos os indicadores, cotejando a situação prevista com o realizado até o

momento e com comentários e justificativas dos eventuais atrasos/não cumprimentos;

Resumo das atividades realizadas de acordo com a programação do ente gestor e das

funções de compromisso entre os envolvidos; e

Propostas de repactuação por meio da revisão das metas e prazos de cumprimento, com as

devidas justificativas.

Os relatórios de acompanhamento, compreendidos como mensuradores do progresso da

implantação do PIRH-Grande, deverão ser disponibilizados no portal do CBH-Grande, para

consulta pela sociedade.

Repactuação de objetivos e metas

O Plano de Bacia tem a prerrogativa de ser revisto periodicamente. Dessa forma, a análise de

cada relatório de acompanhamento por parte do CBH-Grande deve levar à repactuação dos

objetivos, metas e seus prazos de cumprimento. É possível que algumas metas não sejam mais

consideradas viáveis ou mesmo não mais sejam relevantes para a bacia. Outro aspecto a ser

verificado é que as metas que tem precedência podem ser excluídas ou revistas em função de

resultados obtidos nas anteriores.

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Como exemplo, a meta 8 do Programa 2 prevê a implementação de novas metodologias de

análise técnica de outorga e tem como precedentes, as metas 5, 6 e 7 que tratam de estudos

para a proposta de revisão das metodologias. No entanto, caso os estudos não sejam aprovados

pelos órgãos gestores ou caso seja verificado que as metodologias atuais não devem sofrer

grandes alterações, é possível que não haja necessidade de um processo formal de

implementação de uma nova metodologia.

4.2.2.5 Painel de Controle

O Sistema de Monitoramento se torna um instrumento de gestão mediante a manutenção da

relação entre os indicadores e seus objetivos, os recursos disponíveis, a facilidade de seu uso e

consulta, a constância de sua execução e também por sua notoriedade. Sob esses preceitos,

propõe-se a elaboração de uma plataforma que apresente os resultados do monitoramento de

forma visual, contemplando a totalidade do Sistema de Monitoramento de forma integrada ao

GOM, segundo exemplo ilustrado na Figura 4.5.

Essa plataforma seria apresentada mediante um Painel de Controle (conceito de dashboard, em

inglês), haja vista as inúmeras possibilidades de agregação e desagregação das informações

existentes. Apenas com a facilidade de manipulação de grandes inter-relações é possível

vislumbrar um sistema integrado que reúna desde o acompanhamento das ações sob ótica

estratégica (os componentes e objetivos estratégicos e os programas que os endereçam) até a

operativa (as etapas de uma atividade).

O Painel de Controle traz as informações atualizadas de todos os indicadores para todos os

horizontes temporais e pode ser detalhado para o curto prazo, caso seja de interesse do

analista.

Uma vez que o painel de controle permite um “zoom” para quaisquer dos níveis de agregação

que se deseje, tem-se uma poderosa ferramenta de acompanhamento da implementação do

PIRH-Grande, possibilitando avaliar o cumprimento de suas metas, dos objetivos de cada

Componente Estratégico e, por fim, o atendimento das finalidades de longo prazo do Plano.

Uma vez que os indicadores estão estabelecidos nas fichas de todos os programas do Plano de

Ações do PIRH, a automatização do Painel de Controle pode ser realizada mediante a

montagem de um sistema em “html”, com acesso e restrições predefinidas, possibilitando

acompanhar o desenvolvimento gradual das ações do PIRH-Grande ao longo do tempo,

mediante a análise do avanço das atividades, à luz do GOM.

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Figura 4.5 - Concepção Estrutural do Painel de Controle

4.3 ESTABELECIMENTO DOS CAMINHOS A SEREM PERCORRIDOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

Propõem-se, a seguir, os elementos constituintes de um roteiro para a implementação do Plano

de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Grande.

4.3.1 Articulação entre os Órgãos Gestores

Será fundamental a discussão entre ANA, IGAM e DAEE, para definir como será introduzida a

questão da articulação institucional, assim como a governança na implementação do Plano, o

que significa, também, a implementação dos demais instrumentos de gestão de recursos

hídricos, tendo em vista a necessária conexão que existe entre todos eles.

Nessa articulação entre os órgãos gestores de recursos hídricos deve estar contido, logo de

início, o processo de decisão acerca da criação de uma Comissão Provisória de Gestão da

Bacia Hidrográfica, e o fortalecimento da Câmara Técnica de Integração, que poderão

trabalhar conjuntamente, para avançar na implementação do Plano, enquanto não se define

com maior clareza a instituição da Agência de Bacia única.

Nesse contexto é importante que o PIRH-Grande passe a integrar a agenda política e

institucional da bacia, e que haja meios apropriados e eficientes para alocação, execução

orçamentária e financiamento dos programas propostos pelo Plano.

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4.3.2 Inserção do PIRH-Grande na Agenda Política e Institucional da Bacia

Há comitês de bacias afluentes mais adiantados na construção de sua própria agenda

governativa e há os que são iniciantes na formulação e desenvolvimento de meios para resolver

os seus problemas.

O que faz os comitês de bacias afluentes se integrarem ao CBH-Grande? Além do fato óbvio de

se integrarem formalmente a um arranjo definido por estatutos e afeto a um regime jurídico de

conselhos, seu funcionamento real, porém, ainda precisa atingir eficácia suficiente na

articulação com o CBH-Grande.

É possível que nem sempre o CBH-Grande possa contar com indicações suficientes e

completas para acompanhar as reuniões regulares para transmitir informações e esclarecer

encaminhamentos locais. De modo geral, no País, as falhas de comunicação regular entre os

comitês têm sido discutidas como uma questão de baixa capacidade coordenativa. Como se

vê, a definição de temas e prioridades por uma agenda técnica é, atualmente, um componente

importante no que diz respeito ao caráter político e governativo do Comitê. Haveria, assim,

uma inter-relação entre agenda técnica (coordenação) e a agenda política (governativa)? O

CBH-Grande ainda não é instância com essas duas dimensões articuladas.

Isso ocorre, sobretudo porque sua dinâmica encontra-se subordinada aos impasses e bloqueios

da agenda política de uma forte tríade de instituições (usuários, órgãos gestores e

concessionários do poder público), cuja dinâmica é comandada pelas respectivas pastas

políticas e suas agências operacionais. Dessa forma, a agenda do CBH-Grande e dos comitês e

bacias afluentes só pode ser entendida como subproduto da dinâmica dessa tríade.

Qualquer potencial de os comitês virem a melhorar sua articulação interna e induzir ações

consorciadas das prefeituras, por exemplo, além de melhorar a integração dos segmentos de

usuários, depende de orientações daquela tríade. Faz parte da capacidade governativa atrair

apoios e estabelecer alianças favoráveis aos seus objetivos, mas igualmente compartilhar

objetivos do segmento dos usuários, da sociedade civil e prefeituras. Ao realizar os objetivos do

campo de atuação de cada um dos atores da tríade, os comitês estarão desempenhando de

fato seu papel de instâncias articuladoras dos objetivos locais.

O PIRH-Grande será o instrumento adequado para auxiliar os comitês e a futura Agência de

Bacia a se transformarem em pivôs dos objetivos gerais estratégicos da bacia, setoriais e

territoriais. Os fundos de recursos hídricos, quando forem alimentados pela cobrança, ao

atuarem como canais de financiamentos para capacitação, estudos e planos, além de algumas

obras e serviços, passarão a operacionalizar muitas das modalidades cruzadas consorciadas

(prefeituras / usuários; usuários / órgãos gestores estaduais; universidades / comitês; prefeituras

/ órgãos gestores; universidades / prefeituras, e outras modalidades).

No caso da política de recursos hídricos, a constituição dos comitês e seu funcionamento na

bacia do rio Grande apontam, à primeira vista, que o seu funcionamento poderá ser objeto de

melhorias substanciais à medida que a sua agenda técnica for representada pelas propostas do

PIRH-Grande.

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4.3.3 Alocação e Execução Orçamentária

A Figura 4.6 consolida esquematicamente como se processará a alocação e execução

orçamentária proposta no PIRH-Grande, discriminado fontes de recursos, com destaque a

repasses da União e estaduais, contribuições de diversas origens, acordos, contratos de

financiamento, receitas da cobrança, rendimentos financeiros de capital investido etc.

Apresenta também esquematicamente a destinação dos recursos auferidos, a serem utilizados

em sistemas de infraestrutura hídrica, execução dos programas do PIRH-Grande, ordenamento

e direcionamento da estruturação urbana, implantação de equipamentos urbanos, espaços

públicos de lazer a áreas verde, proteção, recuperação e valorização de mananciais, criação e

conservação de áreas protegidas.

Os recursos recebidos serão depositados em conta corrente administrada pela futura Agência

da Bacia do Rio Grande, podendo se prever a criação de subcontas rateadas entre as UGHs.

Segundo já exposto no item 2.6, uma Agência única que venha a gerir os recursos arrecadados

com a cobrança pelo uso de recursos hídricos terá necessariamente contas distintas e os

regimes de aplicação desses recursos devem obedecer às normas do ente federado detentor do

domínio hídrico, assim como os controles internos e externos da Agência.

Figura 4.6 – Fundos de Aplicação em Recursos Hídricos na Bacia do Rio Grande

A Figura 4.7, por sua vez, mostra como se dará a articulação do PIRH-Grande com os

instrumentos orçamentários, devendo ser observado o planejamento e incorporar as ações

prioritárias do PIRH-Grande nos orçamentos anual, plurianual associadas às leis de diretrizes

orçamentárias.

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Figura 4.7 – Articulação do PIRH-Grande com os Instrumentos Orçamentários

4.3.4 Financiamento de Programas Contínuos do PIRH-Grande

O PIRH-Grande definiu 18 programas para o atendimento das metas propostas nos horizontes

de curto, médio e longo prazo, sendo que cinco programas são contínuos, e não terminarão

em 2030, último ano do horizonte de longo prazo.

Os cinco programas contínuos são: O programa para a Gestão do Banco de Dados da Bacia do

rio Grande no SNIRH (Programa nº 8), o Programa para a Gestão da Demanda e da Oferta

Quantitativa dos Recursos Hídricos (Programa nº 10); Programa para Controle de Cargas

Poluidoras (Programa nº 11); Programa de Conservação Hidroambiental (Programa nº 13); e

Programa de Educação para Conservação e Gestão dos Recursos Hídricos (Programa nº 14).

O programa para a Gestão do Banco de Dados da Bacia do rio Grande no SNIRH (Programa nº

8) unificará e disponibilizará todos os dados técnicos atualizados em uma única plataforma de

acesso público (Figura 4.8). Essa plataforma manterá permanentemente atualizada o conjunto

de dados e informações da bacia.

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Figura 4.8 – Metas a Serem Alcançadas com a Implementação do Programa para a Gestão do Banco de Dados

da Bacia do rio Grande no SNIRH

O programa para a Gestão da Demanda e da Oferta Quantitativa dos Recursos Hídricos (Figura

4.9) tem um aspecto fundamental no processo de gestão e conservação dos recursos hídricos,

pois trata do uso eficiente da água. Novas tecnologias para redução de consumo e de perdas

vêm sendo desenvolvidas visando aperfeiçoar o aproveitamento dos recursos hídricos. Em um

primeiro momento devem ser priorizadas as bacias/microbacias em que o balanço hídrico

quantitativo apresenta situação conflituosa, e posteriormente o restante da bacia. De uma

forma geral, trata-se de avançar no sentido de reduzir as demandas ou adequá-las às

disponibilidades hídricas quantitativas e executar serviços e obras para a otimização dos usos

(irrigação e indústria) e redução de perdas (sistemas de abastecimento de água) e atingir metas

preestabelecidas para a redução de demandas.

Figura 4.9 – Metas a Serem Alcançadas com a Implementação do Programa para Gestão da Demanda e da

Oferta Quantitativa de Recursos Hídricos

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O programa para Controle das Cargas Poluidoras (Figura 4.10) tem como foco a redução das

cargas poluidoras lançadas diretamente nos rios, com ou sem tratamento. A principal fonte

geradora de poluição na bacia é o lançamento dos esgotos urbanos na rede de drenagem,

juntamente com as fontes de poluição na zona rural. Para a redução do lançamento das cargas

poluidoras nos rios é necessário melhorar o sistema de coleta e tratamento de esgotos

sanitários, que são de responsabilidade dos municípios e concessionários, e é necessária a

elaboração ou atualização dos PMSBs com metas para a redução de poluição sejam elas

estruturais ou não estruturais. Adicionalmente, deve-se apresentar proposta de redução das

cargas poluidoras de origem rural e industrial da bacia. E após a implementação do

enquadramento e/ou reenquadramento executar serviços e obras para o atendimento das

metas progressivas estabelecidas tanto para cargas urbanas quanto para as cargas de origem

rural ou industrial.

Figura 4.10 - Metas a Serem Alcançadas com a Implementação do Programa para Controle das Cargas

Poluidoras

O Programa de Conservação Hidroambiental (Figura 4.11) tem como foco identificar áreas

prioritárias para a implementação de PSAs, e UCs; elaborar projeto-piloto para conservação de

nascentes e áreas de aquíferos; desenvolver e aplicar metodologia de identificação de áreas de

restrição e implantação de equipamentos de monitoramento para a verificação dos resultados

da implementação das ações de conservação ambiental na bacia.

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Figura 4.11 – Metas a Serem Alcançadas com a Implementação do Programa de Conservação Hidroambiental

O Programa de Educação para a Conservação e Gestão dos Recursos Hídricos (Figura 4.12) visa

à elaboração do Plano de Educação para Conservação e Gestão dos Recursos Hídricos;

comunicação das ações definidas no Plano de Educação; a implementação dessas ações e o

monitoramento dos resultados das ações. Para atingir os objetivos do PIRH-Grande será

fundamental a adesão da população da bacia às metas do Plano, mediante a sua contribuição

direta e continuada para implementação de ações de conservação dos recursos hídricos, no

que lhe couber.

Figura 4.12 – Metas a Serem Alcançadas com a Implementação do Programa de Educação para Conservação e

Gestão dos Recursos Hídricos

Apoiar a solução de passivos

ambientais associados

aos recursos hídricos

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Os programas contínuos do PIRH-Grande têm previsão de custo e fontes de recursos

predefinidas até o horizonte de projeto em 2030. A cobrança pelo uso da água da bacia do rio

Grande deverá ser a principal fonte de recursos das atividades contínuas, sendo necessária a

estimativa dos custos requeridos para essas atividades. A nova estimativa de investimentos

deverá ser elaborada pela futura Agência de Bacia do Rio Grande, com base na continuidade

dos programas que serão previstos no âmbito das atualizações periódicas do PIRH-Grande.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANA. Planos de recursos hídricos e enquadramento dos corpos de água / Agência Nacional de

Águas. Brasília: ANA, 2013.

BANCO MUNDIAL. Governance and Development, 1992.

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