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CÂMARA DOS DEPUTADOS NELSON MARCHEZAN DEPUTADO FEDERAL PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO Parecer (síntese) e Substitutivo do Relator, Deputado Federal Nelson Marchezan, , aos PLs. 4.155/98 e 4.173/98, que instituem o Plano Nacional de Educação, aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação Coordenação de Publicações BRASÍLIA-2000

Plano Nacional de Educação

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Plano Nacional de Educação

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  • CMARA DOS DEPUTADOS

    NELSON MARCHEZANDEPUTADO FEDERAL

    PLANO NACIONAL DE EDUCAO

    Parecer (sntese) e Substitutivo do Relator, Deputado Federal Nelson Marchezan, , aos PLs. 4.155/98 e 4.173/98, que instituem o Plano Nacional de Educao, aprovado pela Comisso de Educao, Cultura e Desporto da Cmara dos Deputados.

    Centro de Documentao e InformaoCoordenao de Publicaes

    BRASLIA-2000

  • 2COMISSO DE EDUCAO, CULTURA E DESPORTO EM 5-10-99PRESIDENTA: MARIA ELVIRA (PMDB)

    1 VICE-PRESIDENTA: NICE LOBO (PFL)2 VICE-PRESIDENTA: MARISA SERRANO (PSDB)

    3 VICE-PRESIDENTA: CELCITA PINHEIRO(PFL)

    TITULARES SUPLENTES

    PFLCELCITA PINHEIRO JOEL DE HOLLANDAJOS MELO MAURO FECURYLUIS BARBOSA MOREIRA FERREIRANICE LOBO OSVALDO COELHOZEZ PERRELLA PEDRO FERNANDES1 vaga SANTOS FILHO

    PMDBGASTO VIEIRA ALBERTO MOUROJOO MATOS CLEONNCIO FONSECAMARIA ELVIRA GERMANO RIGOTTONORBERTO TEIXEIRA GLYCON TERRA PINTOOSVALDO BIOLCHI OSMAR SERRAGLIO

    PSDBADEMIR LUCAS BONIFCIO DE ANDRADATILA LIRA DINO FERNANDESFLVIO ARNS FEU ROSAMARISA SERRANO RAIMUNDO GOMES DE MATOSNELSON MARCHEZAN SRGIO REIS

    PTESTHER GROSSI GILMAR MACHADOFERNANDO MARRONI IARA BERNARDIPEDRO WILSON PROFESSOR LUIZINHO

    PPBEURICO MIRANDA JOS LINHARESOLIVEIRA FILHO MRCIO REINALDO MOREIRAJONIVAL LUCAS JUNIOR WAGNER SALUSTIANO

    PTBWALFRIDO MARES GUIA JOS CARLOS MARTINEZ

    PDTEBER SILVA CELSO JACOB

    Bloco PSB, PC do B

    AGNELO QUEIROZ DJALMA PAESEVANDRO MILHOMEN VANESSA GRAZZIOTIN

    Bloco PL, PST, PMN, PSD, PSL

    NILSON PINTO (PSDB) JOO CALDAS

    PPSEDUARDO SEABRA(PTB) FERNANDO GABEIRA(PV)

  • 3SECRETRIA: CARLA RODRIGUES DE MEDEIROS - Telefones: 3187013/7011 E-mail: [email protected]

    AGRADECIMENTOS

    O texto aprovado pelo Plenrio da Cmara dos Deputados aquele aprovado pela Comisso de Educao, Cultura e Desporto. Trata-se de um documento abrangente de toda a educao nacional, da educao infantil ps-graduao, passando pelas diversas modalidades de ensino, numa perspectiva de longo prazo, cuja produo contou com a participao de um grande nmero de entidades governamentais e da sociedade civil, de dirigentes, tcnicos, professores, pesquisadores direta ou indiretamente ligados s questes da educao. A todos eles, expressamos nosso agradecimento, em especial:

    - ao Governo Federal, em especial ao Sr. Ministro da Educao, Paulo Renato Souza, que conduziu um processo participativo na elaborao do Plano Nacional de Educao, enviado como anexo ao PL n 4.173/98, e a seus assessores, especialmente Professora Maria Helena Guimares de Castro, Presidente do INEP, os quais estiveram sempre presentes s audincias pblicas e continuaram disposio para esclarecimentos ao longo dos trabalhos da Relatoria;

    - aos professores e demais trabalhadores da educao e estudantes, participantes do II CONED, que elaboraram as sugestes para o Plano Nacional de Educao apresentado pelo Deputado Ivan Valente e diversos outros deputados e deputadas. Grandes foram as contribuies desse plano na formulao do Substitutivo deste Relator, as quais, estamos seguros, so responsveis por grande parte do que dele consta;

    - Deputada Maria Elvira, Presidente da Comisso de Educao, Cultura e Desporto, que priorizou os debates sobre o Plano Nacional de Educao, apoiando sua realizao no horrio tradicional das reunies ordinrias;

    - s Sras. Deputadas e aos Srs. Deputados da Comisso de Educao, Cultura e Desporto que apresentaram emendas, participaram dos debates com os expositores nas audincias pblicas e fizeram sugestes naquelas ocasies; este agradecimento se estende aos demais Srs. Parlamentares que encaminharam sugestes verbais ou por escrito a este Relator;

    - aos expositores de audincias pblicas: Dep. Ivan Valente, Maria Helena Guimares de Castro, Virginia Zlia Farah, Marlia Leite Washington, Maria Malta Campos, Vital Didonet, Gisela Wajskop, Marilene Ribeiro dos Santos, Maria de Jesus Arajo Ribeiro, Teresa Roserley Neubauer da Silva, Neroaldo Pontes de Azevedo, Yara Prado, Carlos Augusto Abicalil, Murlio Hingel, Iria Brzezinksi, Jos Lus Guimares, Adair Casarin, Ulisses Semeghini, Joo Monlevade, Rosineli Guerreiro Salame, Dagoberto Lima Godoy, Guiomar Namo

  • 4de Mello, frem de Aguiar Maranho, Ruy Berger, talo de Lima Machado, Albertino Ferreira Nascimento Jr., Rubens Diniz, Marcos Antnio Monteiro, Maria Izabel Brunacci, Maria Beatriz Gomes da Silva, Jos Carlos Almeida da Silva, Francisco Csar de S Barreto, Ablio Baeta Neves, Rodolfo Pinto da Luz, Renato de Oliveira, Lia Souza Oliveira, Guy Capdeville, Jos Marcelino de Rezende Pinto, Jonathas Silva, Jorfge Abraho e Castro, kSrgio Haddad, Ivete Campos, Carmen Maria Craidy, Flvio Gonalves da Rocha Castro, Arnaldo Jos Basso, Helosa Helena Silva de Oliveira, Constantino Orsolin, Alceni Guerra, Joo Paulo dos ReisVeloso, Joo Sayad, Ulysses de Oliveira Panisset e Roberto Cludio Frota Bezerra;

    - a todos os que encaminharam estudos, relatrios, sugestes e informaes para subsidiar os debates, as anlises e a elaborao deste documento;

    - aos Consultores Legislativos Helena Heller Domingues de Barros, Helosa Helena de Oliveira Lobo e Paulo de Sena Martins e ao Consultor Especial Vital Didonet, que assessoraram este Relator na anlise minuciosa dos dois planos apresentados, e na elaborao do Substitutivo, sem os quais no seria possvel produzir o trabalho que ora estamos submetendo considerao dos membros da Comisso de Educao, Cultura e Desporto; e igualmente aos Consultores Legislativos Emile Paulus Boudens e Marcos Magro Nardon, que fizeram cuidadosa reviso do texto, bem como equipe da Seo de Edio de Textos;

    - Secretria da Comisso de Educao, Cultura e Desporto, Srta. Carla Rodrigues de Medeiros, que organizou as audincias pblicas, bem como Dra. Odete Piccoli, Diretora do Departamento de Taquigrafia, Reviso e Redao, pela celeridade no envio dos registros taquigrficos das audincias pblicas.

    Enfim, todos os que apresentaram sugestes ou crticas tm mrito no que h de bom neste Plano, estando, evidentemente, isentos de qualquer responsabilidade nas suas eventuais falhas.

    Braslia, julho de 2000.

    Deputado NELSON MARCHEZAN Relator

  • 5SUMRIO

    Apresentao ..................................................................................................

    Introduo .......................................................................................................

    Cmara dos Deputados Substitutivo ao Projeto de Lein 4.155, de 1998....

    Plano Nacional de Educao ...........................................................................

    Lei n 10.172, de 09 de Janeiro de 2001 .........................................................

    Vetos a Lei n4155, de 1998 ..........................................................................

  • 6APRESENTAO

    A aprovao do projeto do Plano Nacional de Educao pela Cmara dos Deputados constitui importante etapa do processo de tramitao de proposta que visa dotar o sistema educacional brasileiro de um conjunto de diretrizes e metas, de forma a orientar e balizar a poltica educacional do Pas para os dez anos seguintes sua aprovao pelo Congresso Nacional e transformao em lei ordinria.

    O substitutivo que apresentei, como Relator dos Projetos de Lei de n 4.155/98, que tem como primeiro signatrio o Deputado Ivan Valente, e de n 4.173/98, do Poder Executivo, resultado de uma cuidadosa anlise destas propostas, assim como das emendas, sugestes e subsdios apresentados por parlamentares e por entidades representativas da sociedade, em especial da rea educacional, todas contribuies da maior importncia, e que foram amplamente debatidas em vrias reunies de audincia pblica realizadas no mbito da Comisso.

    Ao PL n 4.173/98 foram apresentadas 45 emendas, pelos seguintes Parlamentares: Dep. Agnelo Queiroz, Dep. Esther Grossi, Dep. Flvio Arns, Dep. Iara Bernardi, Dep. Marisa Serrano, Dep. Padre Roque, Dep. Pedro Wilson, Dep. Professor Luizinho, 25 das quais foram acatadas integral ou parcialmente. Ao Substitutivo do Relator foram apresentadas 158 emendas, pelos seguintes Parlamentares: Dep. Agnelo Queiroz, Dep. Esther Grossi, Dep. Fernando Marroni, Dep. Professor Luizinho, Dep. Pedro Wilson e Dep. Vanessa Grazziotin. Dessas, 71 foram aprovadas, parcial ou totalmente, sendo uma delas em votao em separado, pela Comisso de Educao, Cultura e Desporto. No plenrio da Cmara dos Deputados foram apresentadas emendas, algumas das quais acatei, e que foram aprovadas.

    O Plano Nacional de Educao, na forma do Substitutivo aprovado pela Comisso, est construdo sobre trs eixos:

    a) a educao como direito da pessoa;b) a educao como fator de desenvolvimento econmico e social e c) a educao como meio de combate pobreza.

    Segundo o PNE, os objetivos gerais da educao nos prximos dez anos so: - a elevao global do nvel de escolaridade da populao,- a melhoria da qualidade do ensino em todos os nveis,

    - a reduo das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e permanncia na educao pblica e

    - a democratizao da gesto do ensino pblico.

  • 7O Plano define os macroobjetivos e as grandes prioridades nacionais para a educao, faz diagnsticos de todos os nveis e modalidades de ensino, da formao de professores e do financiamento e da gesto da educao, define as diretrizes, os objetivos e metas para cada nvel e modalidade de ensino, para a formao dos professores e a valorizao do magistrio e para o financiamento e a gesto do ensino. Inclui, tambm, um captulo sobre o acompanhamento e avaliao do Plano Nacional de Educao. Determina, igualmente, que ele seja amplamente divulgado, para conhecimento de toda a sociedade, de sorte que esta possa acompanhar e controlar sua execuo.

    Creio que o PNE deva ser um instrumento para tornar a educao realmente uma prioridade nacional. Todavia, a sua efetivao depende do esforo integrado e compartilhado entre todas as esferas e agentes do processo educativo, incluindo a Unio, Estados, Municpios, as escolas, os dirigentes escolares, os professores, os alunos, as famlias e a sociedade como um todo. Se cada uma dessas instncias e segmentos fizer a sua parte, com certeza poderemos atingir as diretrizes e metas propostas no PNE, tornando-o uma realidade

    Como disse no incio, uma etapa importante do processo foi vencida, para cujo xito muitos contriburam. O debate continua. Temos plena conscincia de que os objetivos e metas deste Plano somente podero ser alcanados se ele for assumido como um compromisso da sociedade para consigo mesma. Alis, ele foi concebido para ser da sociedade brasileira e no de faces que estejam momentaneamente no poder, embora a responsabilidade maior seja sempre do Poder Pblico. Sua aprovao pelo Congresso Nacional, num contexto de expressiva participao dos diversos segmentos sociais, e o seu posterior acompanhamento e cobrana das metas nele propostas, so fatores decisivos para que a educao produza a grande mudana, no panorama do desenvolvimento, da incluso social, da produo cientfica e tecnolgica e da cidadania do povo brasileiro. Para isso, preciso que todos o conheam. Eis a razo da presente publicao.

    Braslia, julho de 2000.

    NELSON MARCHEZAN RELATOR DO PLANO NACIONAL DE EDUCAO

  • 8INTRODUO

    Depois de ter feito uma profunda e extensa reflexo sobre a educao nacional, seus graves problemas, suas grandes virtudes e os desafios que a nao brasileira tem que enfrentar nos prximos anos para alcanar um nvel de desenvolvimento educacional compatvel com as aspiraes sociais, com as demandas da sociedade do conhecimento, com as exigncias do mundo globalizado, caractersticas do incio do sculo XXI, cumprimos o honroso dever de apresentar nosso Parecer sobre o Plano Nacional de Educao.

    Trabalhamos sobre dois planos apresentados Cmara dos Deputados, sobre emendas de Parlamentares, sugestes verbais e escritas de mais de uma centena de especialistas que vieram apresentar, nas audincias pblicas, anlises da situao educacional do pas, comentrios sobre as propostas de plano e suas experincias na realizao de projetos eficientes, eficazes e transformadores.

    Temos certeza de que, ao final desse trabalho, chegamos a um documento que rene o melhor de todas aquelas contribuies, s quais somamos nossa prpria experincia. Um documento que estabelece objetivos, diretrizes e metas para a educao nacional nos prximos dez anos.

    A idia central que nos motivou no perodo em que nos debruamos sobre as propostas de PNE foi a do compromisso poltico com todos e cada um dos brasileiros - compromisso esse que significa responsabilidade no equacionamento dos problemas educacionais e na abertura de novas perspectivas para os cidados e para o Pas, atravs da educao. No se pode analisar a educao no Brasil de hoje seno no contexto social, poltico e econmico, fundamentalmente porque ela tem a misso de formar o homem para o seu tempo, capaz de criar um futuro cada vez melhor.

    O mais inaceitvel, em nossa sociedade, so a desigualdade e a excluso. Vivemos numa sociedade que esqueceu grande parcela de seus cidados.

    Diante dessa realidade nos perguntamos: O que tem a educao a ver com isso? Que poder tem ela para mudar esse quadro? O que deve conter um plano nacional de educao com durao de dez anos para incluir a todos os brasileiros, de todas as idades, de todos os lugares, numa sociedade justa e fraterna?

    So milhes de pessoas que no tiveram acesso escola. So milhes, ainda e apesar de todos os esforos j realizados, que continuam margem da escola ou, dentro dela, margem da aprendizagem, ou, ainda, aprendendo, mas no sabendo o que fazer com o que aprenderam na escola, por terem sido obrigadas a estudar coisas sem significao para suas vidas.

  • 9A educao est no cerne da excluso social. Em primeiro lugar, porque ela mesma tem sido excludente; em segundo lugar, porque ser excludo da escola significa, por conseqncia, ser excludo da participao social, das oportunidades de emprego, da renda, das condies pessoais e familiares importantes para cuidar de sua sade, alimentao, habitao e at da educao de seus filhos.

    A excluso praticada pelo sistema de ensino se expressa nas seguintes situaes:

    - O analfabetismo apenas o fenmeno mais evidente e doloroso da excluso escolar. Embora tenha regredido significativamente nos ltimos anos, conforme est demonstrado no Diagnstico (item 5.1), era em 1997, ainda, uma chaga social, pois 14,7% da populao brasileira no sabiam ler e escrever. Ser excludo do mundo letrado significa estar fora de grande parte das informaes, do acesso ao conhecimento escrito e, quase fatalmente, do emprego. E hoje se fala em analfabetismo scio-cultural (incapacidade de compreender a sociedade em que se vive) e analfabetismo tecnolgico (dificuldade para operar e interagir com as mquinas e equipamentos complexos).

    - O ensino fundamental obrigatrio deu passos largos no sentido de abrigar todas as crianas de 7 a 14 anos na escola, mas ainda no alcanou cerca de 2,5 milhes delas. Se no forem atingidas de imediato, estaro elas sendo contadas, nos prximos anos, entre os novos analfabetos. A reprovao, durante os oito anos de ensino compulsrio, outra forma de excluso, seja porque induz ao abandono escolar, seja porque exige das crianas mais tempo do que o previsto para aprender os contedos considerados essenciais naquele nvel de ensino. S em 1997, foram reprovadas 3 milhes e 800 mil crianas no ensino fundamental. E h a regresso ao analfabetismo das pessoas que estudam apenas os quatro primeiros anos do ensino escolar.

    - O ensino mdio, visto na seqncia do fundamental, poderia ser considerado altamente inclusivo, pois vem absorvendo os concluintes desse nvel; mas, analisado na perspectiva social, como meio de acesso ao conhecimento de nvel mdio pelos jovens entre 15 e 17 anos, tambm tem caractersticas elitistas. Apenas 30,8% dessa populao esto na escola.

    - Na educao superior, o fenmeno se expressa com mais vigor. No conjunto da Amrica Latina, o Brasil apresenta um dos ndices mais baixos de acesso a esse nvel, mesmo quando se leva em considerao o setor privado. Em relao populao de 18 a 24 anos, a porcentagem de matrculas de 9%, quando na Argentina 40%; na Venezuela, 26; no Chile, 20,6 e na Bolvia, tambm 20,6%.

    Nmeros parte, as escolas que atendem as populaes mais pobres geralmente oferecem um ensino de qualidade inferior e, assim, reforam a excluso social, econmica e poltica.

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    Em segundo lugar, a educao est no centro desse problema porque os que a ela no chegam, ou estudam numa escola de m qualidade e por poucos anos, tero oportunidades mais restritas de insero e participao social, menos possibilidades de emprego, de melhoria da renda e da qualidade de vida. Em outras palavras, de exercerem a cidadania.

    A cidadania deve ser entendida como possibilidade de acesso real, e juridicamente exigvel, ao exerccio efetivo dos direitos bsicos, comuns a todos os integrantes da Nao e ao cumprimento dos deveres correspondentes. A educao escolar tem um papel insubstituvel na formao do cidado e, por isso, essencial tanto como oportunidade de estudo quanto de efetiva construo do conhecimento e da aprendizagem. Frente s profundas e rpidas mudanas que se operam no mundo de hoje, em todos os ambientes, no servem mais habilidades e conhecimentos estticos, mas requer-se o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender, a flexibilidade, a adaptabilidade e a disposio de aprender permanentemente, ao longo da vida. Por isso, a educao no se restringe aos anos escolares e ao ambiente da escola formal. O mundo do trabalho j est a exigir dos trabalhadores qualificao e atualizao permanentes.

    E cidadania significa, tambm, o exerccio do direito ao trabalho. Uma parte da cidadania de um chefe de famlia ter um emprego, um salrio e o poder de atender s suas necessidades e s dos seus.

    A educao o grande processo de incluso.

    Um plano educacional de dez anos suficientemente longo para provocar uma modificao na educao. E, atravs dela, uma mudana no quadro social e econmico, rumo a uma sociedade mais justa, melhor qualidade de vida e de maior presena no panorama internacional. Assim fez o Japo e assim fizeram os Estados Unidos da Amrica do Norte. Citemos brevemente cada um dos casos.

    O Japo fez a primeira reforma educacional em 1872, na dinastia Meiji, introduzindo um sistema educacional primrio democrtico, exigindo seis anos de educao para qualquer criana, sem levar em considerao seu sexo, status social ou meios financeiros. A segunda foi feita aps a Segunda Guerra Mundial, em 1947, estabelecendo a educao compulsria em nove anos. Os japoneses esto, agora, na terceira reforma, sendo o Conselho Nacional sobre Reforma Educacional encarregado da proposio das "reformas relevantes em vrias prticas e polticas do governo com a finalidade de ajudar a construir uma sociedade vital e criativa, preparada para o sculo XXI". (Educao Escolar no Japo, Ishizaka Kazuo, Srie de referncia -5/Cdigo 056031191).

    Assim fizeram os Estados Unidos da Amrica do Norte, aps a crise provocada pelo lanamento do primeiro satlite artificial pela ex-Unio Sovitica. "- O que teria levado a Rssia - perguntaram-se os norte-americanos - a passar frente dos Estados Unidos na explorao e conquista do espao?". A resposta que eles deram foi: a educao. Ela teria preparado os tcnicos e formado os cientistas

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    capazes de investigar as leis da mecnica, da qumica, da fsica, da matemtica, da biologia, da astronomia... e de produzir os materiais e equipamentos necessrios para a viagem espacial. Porque no se chega a um foguete espacial, a um satlite artificial, a uma nave para conduzir homens ao espao e dele retornar com vida e carregados de informaes, sem slido conhecimento em todas aquelas reas. Uma educao de base, estendida a toda a populao e com qualidade, formaria o estofo para o desenvolvimento cientfico e tecnolgico. Como resultante dessa conscincia, os Estados Unidos fizeram um plano para mudar a educao.

    Qual o resultado das tomadas de conscincia e do investimento que aqueles dois pases fizeram em educao? Os efeitos so conhecidos de todos. Mais do que reconhecer e comentar esses fatos, temos que tomar uma deciso semelhante, que corresponda ao nosso caso brasileiro. A dcada da educao dever ser a nossa tomada de posio. Toda a nao, num compromisso das trs esferas de governo, dos poderes legislativo e judicirio e da prpria sociedade civil, estaria empenhada em promover uma educao de qualidade para todos.

    Como instrumento concreto e operacional para cumprir os objetivos da dcada da educao, aqui est o Plano Nacional de Educao. Ele, alis, j deveria ter sido feito h mais de sessenta anos, quando a Constituio de 1934, em seu art. 150, mandava a Unio "fixar o plano nacional de educao, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos comuns e especializados e ordenar e fiscalizar a sua execuo em todo o territrio do Pas". Nossa Constituio Federal de 1988 tambm determina a elaborao do plano nacional de educao, no seu art. 214: "A lei estabelecer o plano nacional de educao, de durao plurianual, visando articulao e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis e integrao das aes do poder pblico...". A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, de 1996, acrescentou orientaes prticas para operacionalizar esse dispositivo constitucional. Em matria de legislao, portanto, estamos solidamente embasados.

    O PNE no tarefa exclusivamente para polticos, administradores e tcnicos. responsabilidade de 165 milhes de brasileiros. S acreditamos que ele v mudar o panorama da educao no Brasil - e o prprio Pas - se houver uma conscincia nacional sobre a importncia da educao para a formao da pessoa e para o desenvolvimento nacional; se houver mobilizao de suas instituies polticas, econmicas, sociais, das organizaes da sociedade civil, dos professores, dos alunos e dos pais. Se houver deciso poltica, em todos os nveis da administrao - e destacamos a importncia do municpio na educao fundamental, para alcanar todos os brasileiros de 7 a 14 anos e colocar-lhes nas mos o conhecimento, os valores e as habilidades para assumirem seus destinos e construrem sua histria, que, no fundo, a histria do Brasil. Finalmente, se houver inverso de recursos financeiros na quantidade necessria e aplicao judiciosa aos objetivos e metas para os quais foram consignados.

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    Gostaria de destacar as seguintes idias que do a tnica do Plano Nacional de Educao, ora apresentado sob a forma de Substitutivo de Relator:

    Ele est montado sobre trs eixos: a) educao como direito, b) educao como motor do desenvolvimento econmico e social e c) educao como meio de combate pobreza e misria. Diferentes teorias e ideologias conflitam na defesa de uma e de outra dessas vises. No entramos no campo da discusso terica nem fazemos restrio a qualquer das trs. Recolhemos dados de estudos, pesquisas e experincias prticas sobre a educao em cada um desses eixos.

    1. Educao como direito. Sendo um direito de toda pessoa, a educao deve ser garantida do nascimento idade adulta porque, sem ela, a pessoa no se completa, no se realiza e no contribui com o desenvolvimento do grupo social. Como corolrio desse direito, dever do Estado garantir a educao desde a etapa infantil at os nveis mais elevados do saber, do conhecimento cientfico e da produo artstica, segundo a capacidade de cada um. E assim est posto no PNE.

    2. Em segundo lugar, ressaltamos o papel da educao no desenvolvimento do Pas. A bibliografia internacional extensa sobre a matria, mostrando com exemplos e nmeros quanto a elevao da instruo, o aumento do nmero de anos de escolaridade, a qualificao profissional, a formao dos quadros universitrios e o investimento em cincia e tecnologia induzem o desenvolvimento econmico dos pases. Diz a CEPAL que "o salto exponencial da incidncia do conhecimento na competitividade faz da educao um motor cada vez mais poderoso de desenvolvimento dos pases" 1

    Os estudos da Secretaria de Assuntos Estratgicos (SAE) para a definio dos cenrios para o Brasil no ano 2020 encontraram a eqidade social e a educao como desejos-sntese da sociedade atual, coletados em entrevistas populao, seminrios com estudiosos, questionrios, etc. A eqidade, nesse estudo, entendida como sntese de igualdade de oportunidades, uma inverso completa das desigualdades sociais de hoje. A educao, - o segundo desejo mais destacado pela sociedade, - evidencia seu efeito na formao do Brasil do futuro, possibilitando a igualdade de oportunidades, o fortalecimento da cidadania, melhorando o nvel e a qualidade do trabalho e a competitividade externa do Pas. A sociedade brasileira acredita no poder da educao e imagina que ela levar o Brasil ao cenrio desejado para o Pas dentro de 20 anos.

    1 (Rol Estratgico de la Educacin Media para el Bienestar y la Equidad, CEPAL, Documento da Stima Conferncia Regional de Ministros da Educao da Amrica Latina e do

    Caribe, Jamaica, maio de 1996).

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    3. Em terceiro lugar, nas diretrizes, objetivos e metas do nosso Substitutivo abrimos espao ao tema da educao como instrumento de combate pobreza e misria. Estes problemas esto na agenda poltica, nos planos governamentais, nas preocupaes da sociedade brasileira. Mais do que nunca se impe ao Brasil reverter o quadro de excluso social, desemprego, pobreza e misria que marginaliza cerca de 60 milhes de pessoas. No podemos prosseguir no sculo XXI com 37% dos brasileiros vivendo em famlias com renda per capita inferior linha de pobreza. Segundo estudos do IPEA sobre a desigualdade no Pas, o ganho mdio dos 10% mais ricos da populao 30 vezes maior do que o dos 40% mais pobres.

    Todas as solues apontadas pelos estudiosos, no Brasil e no plano internacional, incluem a educao como fator decisivo para reduzir a pobreza e a misria. Sabemos que ela no tem o poder mgico de tirar uma famlia desempregada, sem casa ou sem terra, da situao de penria. Mas h suficiente evidncia estatstica de que a educao abre horizontes de emprego, aumenta a produtividade, desenvolve a criatividade, melhora o salrio, orienta a pessoa para cuidar melhor de sua sade, enfim, de que a educao uma chave para uma vida mais digna. A superao da pobreza somente poder acontecer se ocorrer, concomitantemente a medidas econmicas, um macio investimento em educao. A segunda metade deste sculo revela que, em perodos de crise econmica, o investimento que produziu maior retorno sempre foi aquele feito em educao. Os pases da Europa, arrasados pela Segunda Guerra Mundial, investiram pesadamente na educao como estratgia de reconstruo econmica e social. A explicao est no fato de que pessoas com mais instruo e nvel educacional mais elevado tm maior capacidade de inovar e produzir solues.

    A importncia da educao para enfrentar a pobreza est demonstrada em inmeros casos. Permitimo-nos citar apenas um dado, publicado recentemente pela imprensa. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio (PNAD) de 1997, dos brasileiros com mais de 12 anos de escolaridade, 77% tm emprego fixo e bem remunerado, enquanto entre os que permaneceram na escola at 4 anos, apenas 44% tm emprego fixo e remunerado at trs salrios mnimos. O brasileiro com menos escolaridade tem chances cada vez menores de ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Um estudo feito pela Sociedade Cientfica da Escola Nacional de Cincias Estatsticas (Science) mostrou que a desfavelizao dos espaos urbanos brasileiros no ser feita apenas com melhorias fsicas. De algum modo esse tipo de melhoria j foi feita e nem por isso essa comunidade deixou de apresentar situao de extrema carncia. O que preciso, diz o estudo, educao.

    A educao o grande caminho para tratar desigualmente os desiguais, dando condies, pela instrumentalizao do conhecimento, a que os desfavorecidos e excludos venam algumas dificuldades e se insiram na sociedade em condies de viver a cidadania.

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    4. A educao ocupa uma posio central na melhoria das oportunidades da populao e na distribuio de renda. Mas importante assinalar que, colaborando com ela e potencializando suas foras na mudana do quadro da pobreza e das desigualdades, esto as aes das reas de sade, de assistncia e de trabalho. Estamos longe de imaginar ou propor que as escolas sejam centros sociais ou que os professores faam o papel de assistentes sociais. Est claro em nosso Substitutivo, acorde, alis, com a concepo do Governo e das entidades que elaboraram as propostas de Plano Nacional de Educao, de que a funo da escola ensinar; do aluno, aprender e que os professores so profissionais do magistrio. O que visualizamos uma escola integrada com a comunidade, respondendo de forma ampla demanda por um ensino significativo para a vida de seus alunos. Para que ela exera melhor seu papel, importante a articulao com os setores de sade, assistncia e promoo social, trabalho e apoio familiar, sobretudo nas comunidades mais carentes.

    5. Nessa linha, indicamos em nosso Substitutivo algumas metas de ao conjunta ou articulada entre esses setores. Exemplificando, se precisamos encontrar as crianas que esto fora da escola na idade obrigatria, se precisamos passar aos pais informaes simples e fundamentais sobre a educao de seus filhos, por que no juntar a extraordinria ao dos agentes de sade, que esto em toda a parte, visitando todas famlias nas comunidades mais carentes? estranho que se prefira duplicar o nmero de pessoal e, portanto, dos custos, para executar esses servios com outras pessoas, desconsiderando o potencial j existente.

    6. Queremos uma escola para todos. Efetivamente para todos. E isso implica reduzir drasticamente as desigualdades na educao. No admissvel, por exemplo, que o analfabetismo nos morros cariocas seja maior do que o dobro do registrado no restante do municpio do Rio de Janeiro. E que em relao aos anos de estudo tambm haja uma diferena de cinqenta por cento (4,8 anos e 8,7 anos) entre aqueles dois grupos. A pesquisa j citada, feita pela Science, conclui que essa desigualdade educacional que gera renda menor e obriga certas pessoas a morar em favelas. Os diagnsticos por nveis de ensino, constantes do PNE, esto indicando alguns marcos da desigualdade, que precisa ser desfeita.

    7. Um poderoso instrumento de incluso educacional e, portanto, de combate excluso social, so os programas de renda mnima associados freqncia escola. Sua implementao, a partir de 1995, em Campinas (Renda Mnima) e no Distrito Federal (Bolsa-Escola), est sendo grandemente ampliada pelo Programa de Garantia de Renda Mnima associado a aes scio-educativas (PGRM). Regulado pela Lei n 9.533/97, o PGRM se desenvolve com o apoio federal a programas municipais, tendo, por isso, capilaridade em todo o territrio nacional. Os recursos financeiros no provm daqueles vinculados manuteno e desenvolvimento do ensino, sendo, portanto, um aporte adicional ao esforo educacional de dar escola fundamental para todos. Os resultados j observados so, entre outros: a) estmulo universalizao do ensino fundamental; b) combate evaso escolar; c) aumento do rendimento escolar (pelo apoio complementar que o

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    aluno recebe na execuo de suas tarefas escolares, na alimentao, no esporte e por ser condio de continuar recebendo a ajuda financeira); d) combate ao trabalho infantil (em vez de trabalhar para ajudar a famlia, a criana a ajuda financeiramente indo escola).

    Buscamos inspirao, para formular o projeto de lei que deu origem ao PGRM, em nossa experincia como Secretrio de Trabalho e Ao Social do Rio Grande do Sul, quando desenvolvemos um programa de ateno complementar s atividades escolares das crianas carentes, oferecendo-lhes alimentao, espao para fazer seus "deveres de casa", praticar esporte, fazer atividades artsticas. Em convnio com entidades comunitrias, foi possvel atender a um grande nmero de alunos, o que resultou em melhor rendimento escolar e menos crianas na rua.

    Nesse conjunto de aes, merece referncia, tambm, o Programa de Erradicao do Trabalho Infantil, desenvolvido pela Secretaria de Assistncia Social, do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social - que busca o reingresso e permanncia na escola da criana de 7 a 14 anos e a oferta de uma jornada complementar de estudo. Com o Programa Bolsa Escola Cidad, a famlia pode prover suas necessidades bsicas.

    8. Assinalamos, a seguir, alguns pontos que consideramos centrais em cada um dos nveis e modalidades de ensino, bem como sobre a formao do magistrio, o financiamento e a gesto do Plano Nacional de Educao.

    8.1. Na educao infantil, como forma para superar a discriminao entre assistncia e educao, cuidados e desenvolvimento, entre atendimento social e educao, que foram se cristalizando respectivamente na creche e na pr-escola, estamos propondo a unificao da educao das crianas de zero a seis anos num nico segmento. Toda criana tem direito educao a partir do nascimento e esse direito exige, muitas vezes, uma instituio educacional, que se encarrega do seu cuidado e educao, com profissionais qualificados, numa ao complementar e articulada da famlia. Fundamentalmente, trata-se de aproveitar o momento mais fecundo para a formao da inteligncia e a aquisio de certas aprendizagens que, no realizadas nessa idade, obter-se-o mais tarde com maior dificuldade.

    8.2. No ensino fundamental, pretendemos, em cinco anos, universalizar o atendimento escolar e ampli-lo progressivamente para nove anos, obrigatrios. Tambm progressivamente, ser oferecida a escola de tempo integral e as crianas de famlias de menor renda tero, no mnimo, duas refeies, apoio s tarefas escolares, esportes e atividades artsticas, nos moldes do Programa de Garantia de Renda Mnima associado a Aes Scio-Educativas. Os programas de Livro Didtico, de Merenda e de Transporte Escolar sero mantidos e consolidados. As Classes de Alfabetizao deixam de existir pela imediata incorporao das crianas ao ensino fundamental.

  • 16

    8.3. Em relao ao ensino mdio, nossas certezas so reforadas pela afirmao da CEPAL (Doc. citado anteriormente) de que uma educao mdia adequada s necessidades produtivas e sociais, de boa qualidade e que possa ser estendida para a maioria da populao de um pas, crucial para alcanar maiores nveis de produtividade, maior eficincia social, mais oportunidades de acesso aos bens disponveis e participao cultural e poltica. A importncia de completar um curso de ensino mdio, hoje, nos pases da Amrica Latina, est na necessidade de ter pelo menos dez anos de estudo para obter renda suficiente para alcanar padro aceitvel de qualidade de vida. Quem atinge esse nvel tem 90% de probabilidade de no cair na pobreza, diz o documento da CEPAL. O ensino mdio continuar sendo, os prximos anos, o segmento que mais crescer, dada a melhoria de eficincia do ensino fundamental e a demanda social cada vez maior.

    8.4. Quanto educao superior, estamos convencidos de que nenhum pas poder almejar a uma posio de destaque no cenrio internacional sem um sistema de ensino superior de qualidade, que seja acessvel populao de jovens que demonstrem capacidade. Para tanto, preciso diversificar as instituies e reconhecer que h lugar para escolas de nvel superior com diferentes vocaes. No segmento dedicado pesquisa, preciso fortalecer a universidade pblica, promovendo sua autonomia e dotando-a de recursos para desempenhar sua misso. Dela devero ser cobrados a racionalizao da gesto, maior eficincia e resultados altura de suas responsabilidades. imprescindvel, tambm, que as instituies de ensino superior assumam compromisso com os demais nveis de ensino, atuando intensamente na formao de professores de educao bsica.

    A formao do quadros profissionais, cientficos e culturais de nvel superior e a produo cientfica e tecnolgica esto nas mos de nossa universidade, entendida no seu contexto amplo de agncia de ensino, pesquisa e extenso.

    Em sntese, a proposta que endossamos para a educao superior, neste PNE, vai no sentido de:

    - avanar no entendimento e na prtica da autonomia, - alcanar o reconhecimento pblico de seu papel na construo do

    futuro, - receber maiores investimentos diretos do Poder Pblico, alm dos

    incentivos indiretos, em pesquisa e produo tecnolgica,- recuperar e ampliar as condies fsicas (equipamentos, laboratrios

    materiais de estudo e pesquisa), - contar com um quadro de pessoal altamente qualificado e dedicado.

    Um grande problema que se levanta para os pretendentes educao superior a desproporo entre o nmero de candidatos e o de vagas oferecidas. Reconhecidamente o Poder Pblico no tem como expandir suas instituies de ensino superior para atender a toda a demanda. Da porque fundamental a conjugao de esforos com a iniciativa privada, especialmente a que atua em escolas comunitrias, confessionais ou filantrpicas. Enquanto o Poder Pblico no

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    puder instituir um sistema de bolsas de estudo para os estudantes que no tm condies de pagar os encargos educacionais, mas que comprovadamente tenham aptides para os estudos superiores, necessrio que amplie os mecanismos de financiamento, por meio de emprstimos possveis de serem reembolsados. Se no forem adotadas medidas de grande cobertura e real significado social para atender aos mais carentes, a educao superior estar prosseguindo no processo de excluso de talentos, que a Nao no pode prescindir.

    8.5. No que se refere educao de jovens e adultos, temos trs desafios. O maior deles a erradicao do analfabetismo, exigncia para o resgate da dvida social. Para tanto, o PNE atribui obrigaes ao Poder Pblico e convoca a sociedade civil para uma ampla mobilizao. Para que o cidado mais pobre tenha oportunidades de incluso social, com acesso ao emprego e melhoria da qualidade de vida, a educao de jovens e adultos deve abranger formao equivalente s oito sries do ensino fundamental. O segundo desafio o treinamento de imensos contingentes de jovens e adultos, para a insero imediata no trabalho. O terceiro criar oportunidades cada vez mais amplas e enriquecedoras de educao ao longo da vida, ou educao permanente.

    8.6. A Educao Profissional no pode ser concebida como uma modalidade de ensino mdio, mas como educao continuada, que perpassa toda a vida do trabalhador, desde o nvel fundamental, passando pelo mdio e indo at a ps-graduao. Segundo o Ministro da Educao, Paulo Renato Souza, "o objetivo final tem que ser a universalizao do ensino mdio e a construo de um sistema de ensino profissional e profissionalizante extremamente diversificado, flexvel e abundante, para garantir que toda a populao venha a ter ensino mdio completo, possibilidades de acesso profissionalizao nos nveis superior e tcnico" 2 .

    Para isso, fundamental que o Governo Federal continue ajudando financeiramente os Estados na expanso da educao profissional, alm de outras formas de apoio.

    Oportunidades devem ser abertas em todo lugar e para as mais diversificadas demandas, considerando as necessidades dos trabalhadores e a contribuio que essa formao capaz de trazer para seu emprego, produtividade e renda. A demanda por Escolas Tcnicas e Centros Federais de Educao Tecnolgica se manifesta em toda a parte e estes devero atender a uma clientela sedenta por formao profissional.

    O Programa de Expanso da Educao Profissional (PROEP) uma demonstrao de como possvel desenvolver aes integradas da educao com o trabalho, a cincia e a tecnologia, ampliando vagas, diversificando a oferta e

    2 Audincia Pblica na Comisso de Educao, Cultura e Desporto, 18/8/99.

  • 18

    definindo cursos adequados s demandas do mundo do trabalho e s exigncias da moderna tecnologia.

    No se trata apenas de formar cidados para os empregos qualificados que o mercado demanda. So necessrios programas de formao permanente e continuada para os trabalhadores, visando ao seu aperfeioamento, requalificao ou reconverso s novas ocupaes que vo surgindo. Os treinamentos estreitamente ligados ao trabalho, para a adoo de novas tecnologias, so extremamente importantes, de forma especial para os trabalhadores rurais e os que vivem em periferias urbanas. O treinamento da mo-de-obra um atalho para a obteno de um trabalho, para nele ser eficiente nele e melhorarem-se os ganhos dos trabalhadores no-qualificados. Quantidades enormes de pessoas que migram para as cidades sem nenhuma qualificao para os trabalhos urbanos podem ser inseridas mais facilmente se receberem alguma capacitao. A escola formal, tradicional, no se tem dedicado a essa questo, que est no mbito das instituies que se encarregam da qualificao do trabalhador. Mas uma escola atenta para os problemas sociais e demandas de habilitaes, ter um papel indutor e coadjutor nessa tarefa que, no fundo, tambm lhe diz respeito. Merece reconhecimento o esforo que j vem sendo feito para ampliar essas aes. No entanto, ainda um tmido comeo, cuja seqncia e ampliao todos devemos cobrar no s dos rgos educacionais, mas de todos os rgos pblicos e das instituies privadas ligados ao trabalho e qualificao do trabalhador.

    8.7. Na educao distncia, temos que ampliar as oportunidades de educao formal e no-formal, apoiando a erradicao do analfabetismo, ampliando a qualificao para o trabalho e a aquisio da instrumentalidade mnima para o exerccio da cidadania. Essa modalidade de educao ter um papel muito importante na qualificao dos professores que no possuem a formao exigida pela Lei. Cabe assinalar que ainda no foi utilizada a capacidade da educao a distncia para essa importante questo.

    8.8. As pessoas com necessidades educacionais especiais, minimamente contempladas nos sistemas de ensino, devero ser integradas no processo regular e obter um espao muito maior na educao nacional. A escola inclusiva , mais do que um ideal, uma necessidade para que essas pessoas se integrem o mais amplamente possvel na sociedade.

    8.9. A celebrao dos 500 Anos do Descobrimento traz reflexo de todos os brasileiros a situao das sociedades indgenas e da responsabilidade da nao brasileira na oferta de uma educao que atenda s suas necessidades e especificidades, segundo determina a Constituio Brasileira.

    8.10. O captulo da formao dos professores para a educao bsica e valorizao do magistrio mereceu grande ateno de nossa parte, uma vez que de bons professores depender grande parte do xito deste plano. Qualificao e

  • 19

    valorizao devem caminhar juntos e fazer parte dos esforos do Poder Pblico para melhorar a qualidade da educao.

    8.11. Para que as metas, ambiciosas mas necessrias, arrojadas mas factveis, contidas neste plano sejam cumpridas, fundamental arregimentar mais recursos financeiros, conjugados com uma gesto mais eficiente. Aps analisar a destinao de recursos para a educao por outros pases, desenvolvidos e em vias de desenvolvimento e de meditar sobre a proposta do PL n 4.173/98, de 6,5% do PIB e a do PL n 4.155/98, de 10% do PIB, chegamos proposio de 7% do PIB, o que eqivaleria, em valores de hoje, a um acrscimo de 20 bilhes de reais. Hoje o Poder Pblico estaria aplicando em torno de 5% do PIB.

    Consideramos estratgico destinar um valor maior do que se aplica hoje, para recuperarmos o atraso educacional e nos colocarmos no nvel dos pases desenvolvidos. Depois que tivermos alcanado um patamar mais elevado de educao, ou seja,

    - a escola fundamental universalizada com qualidade; - o ensino mdio atendendo a pelo menos 75 ou 80% da populao na

    faixa etria de 15 a 17 anos; - os jovens sendo treinados para o trabalho, de sorte que consigam

    inserir-se produtivamente na economia; - a universidade formando as lideranas para uma nova sociedade e

    produzindo conhecimento e tecnologia; - os professores sendo formados com as especializaes necessrias e

    recebendo salrio correspondente responsabilidade e importncia de sua funo; - uma educao que trate diferentemente os diferentes, dando-lhes

    instrumentos para inserir-se na sociedade; - nossas crianas de zero a seis anos tendo acesso primeira etapa da

    educao bsica; poderemos reduzir o percentual do PIB de 7 para 6 ou at para 5, como

    fizeram os pases que j atingiram um bom nvel de educao para toda sua populao.

    O que estamos recomendando para os prximos dez anos a prioridade para a educao, para que o Brasil d um salto de qualidade. Essa prioridade implica um esforo adicional na alocao de recursos financeiros, o que plenamente justificvel e absolutamente necessrio.

    8.12. Alm dessa elevao de recursos, insistimos na necessidade de racionalizar sua aplicao, evitando desperdcios, superposies e malversaes. Foi uma tnica nas audincias pblicas em que discutimos o Plano Nacional de Educao que em alguns casos gastam-se mal os recursos disponveis. No se trata, apenas, de quantidade, mas tambm de aplicao rigorosa nos objetivos para os quais foram destinados. importante que sejam fortalecidos e aperfeioados os mecanismos de financiamento introduzidos pelo Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio FUNDEF, que promoveu a eqidade atravs da distribuio dos recursos de acordo

  • 20

    com o nmero de alunos, e a transparncia a partir do estabelecimento de contas nicas e especficas e da criao de conselhos de acompanhamento e controle social. A automaticidade de repasses do Fundo permite que se proceda ao planejamento educacional.

    8.13. Os excelentes resultados que o FUNDEF est obtendo no ensino fundamental e os problemas que vm acontecendo no mbito da educao infantil e do ensino mdio, em razo de estas duas etapas no estarem servidas pelo mesmo procedimento, recomendam que se busque uma soluo mais ampla, abarcando o conjunto da educao bsica. Analisamos a proposta de um Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao do Magistrio - FUNDEB. uma grande reivindicao, expressa em vrias oportunidades. O Conselho Nacional de Secretrios de Educao - CONSED, a Unio Nacional de Dirigentes Municipais de Educao - UNDIME, o Conselho Nacional de Educao, o PL n 4.155/98, entre outros, tambm recomendaram o FUNDEB. O Sr. Ministro da Educao tambm concordou, desde que se aumentem os recursos financeiros, para cobrir as necessidades das trs etapas da educao bsica. A criao de um fundo para a educao bsica depender, obviamente, de Emenda Constitucional.

    Como iniciativa imediata e concreta na linha do aumento de recursos e pr-condio para a adoo do FUNDEB, este Relator apresentou sugesto PEC n 175/95, que trata da Reforma Tributria, sugesto esta adotada pela Comisso de Educao, Cultura e Desporto. Entendemos como dever do Congresso Nacional engajar-se nessa causa, encontrando mais recursos para a educao bsica, como tambm para a educao superior.

    8.14. Para uma gesto eficiente, preciso implantar sistemas de informao e avaliao, consolidando instrumentos como o Sistema de Avaliao da Educao Bsica SAEB, o Exame Nacional de Cursos do Ensino Mdio ENEM, que j vem sendo adotado por universidades como parte de seu processo de seleo para ingresso, e o Exame Nacional de Cursos, alm de outros que a experincia venha a indicar.

    Introduzimos no PNE um captulo sobre acompanhamento e avaliao, em que indicamos entidades que devero desempenhar um importante papel nessas reas. Entre elas, no podem faltar as entidades representativas dos professores, dos estudantes e dos pais.

    Alm das entidades, associaes e mecanismos citados, preciso mencionar os Tribunais de Contas da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e, onde houver, dos Municpios, que tm uma grande responsabilidade no controle da aplicao dos recursos da educao.

    9. Os grandes avanos das cincias sobre a aprendizagem humana desde os primeiros anos de vida e os progressos dos meios de comunicao, em especial da telemtica, vm pondo disposio da educao instrumentos capazes de promover de forma inusitada o ensino e a aprendizagem. Trata-se de aproveitar

  • 21

    esses meios, democratizando efetivamente a escola e o conhecimento. Na sociedade do conhecimento, a educao ocupa um lugar cada vez mais necessrio. Toda a populao precisa ter acesso ao conhecimento mais atualizado, pelo menos o de nvel bsico, e formao (tcnica) para o trabalho, como dimenso humana e condio para a conquista de melhor qualidade de vida numa sociedade mais justa e desenvolvida.

    Braslia, dezembro de 1999.

    Deputado NELSON MARCHEZAN Relator

  • 22

    CMARA DOS DEPUTADOS

    PROJETO DE LEI N 4.155 C, DE 1998

    Aprova o Plano Nacional de Educao e d outras providncias.

    O Congresso Nacional decreta :

    Art. 1 Fica aprovado o Plano Nacional de Educao, constante do

    documento anexo, com durao de dez anos.

    Art. 2 A partir da vigncia desta Lei, os Estados, o Distrito Federal e

    os Municpios devero, com base no Plano Nacional de Educao, elaborar planos

    decenais correspondentes.

    Art. 3 A Unio, em articulao com os Estados, o Distrito Federal, os

    Municpios e a sociedade civil, proceder a avaliaes peridicas da

    implementao do Plano Nacional.

    1 O Poder Legislativo, por intermdio das Comisses de

    Educao, Cultura e Desporto da Cmara dos Deputados e da Comisso de

    Educao do Senado Federal, acompanhar a execuo do Plano Nacional de

    Educao.

    2 A primeira avaliao realizar-se- no quarto ano de vigncia

    desta lei, cabendo ao Congresso Nacional aprovar as medidas legais decorrentes,

    com vistas correo de deficincias e distores.

  • 23

    Art. 4 A Unio instituir o Sistema Nacional de Avaliao e

    estabelecer os mecanismos necessrios ao acompanhamento das metas constantes

    do Plano Nacional de Educao.

    Art. 5 Os planos plurianuais da Unio, dos Estados, do Distrito

    Federal e dos Municpios sero elaborados de modo a dar suporte s metas

    constantes do Plano Nacional de Educao e dos respectivos planos decenais.

    Art. 6 Os Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios empenhar-se-o na divulgao deste Plano e da progressiva realizao

    de seus objetivos e metas, para que a sociedade o conhea amplamente e

    acompanhe sua implementao.

    Art. 7 Esta lei entra em vigor na data da sua publicao.

    Sala das Sesses, em 14 de junho de 2000.

    Deputado NELSON MARCHEZAN

    Relator

  • PLANO NACIONAL DE EDUCAO

  • 2NDICE

    I INTRODUO

    Histrico...................................................................................................................................Objetivos e Prioridades...........................................................................................................

    II NVEIS DE ENSINO A EDUCAO BSICA

    1. EDUCAO INFANTIL.............................................................................................................1.1. Diagnstico.........................................................................................................................1.2. Diretrizes............................................................................................................................1.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    2 ENSINO FUNDAMENTAL.......................................................................................................2.1. Diagnstico.........................................................................................................................2.2. Diretrizes............................................................................................................................2.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    3 ENSINO MDIO........................................................................................................................3.1. Diagnstico.........................................................................................................................3.2. Diretrizes............................................................................................................................3.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    B EDUCAO SUPERIOR

    4 EDUCAO SUPERIOR..........................................................................................................4.1. Diagnstico.........................................................................................................................4.2. Diretrizes............................................................................................................................4.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................4.4. Financiamento e Gesto da Educao Superior.................................................................

    III MODALIDADES DE ENSINO

    5 EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS................................................................................5.1. Diagnstico.........................................................................................................................5.2. Diretrizes............................................................................................................................5.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    6 EDUCAO A DISTNCIA E TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS..................................6.1. Diagnstico.........................................................................................................................6.2. Diretrizes............................................................................................................................6.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    7 EDUCAO TECNOLGICA E FORMAO PROFISSIONAL.....................................7.1. Diagnstico.........................................................................................................................7.2. Diretrizes............................................................................................................................7.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    8 EDUCAO ESPECIAL...........................................................................................................8.1. Diagnstico.........................................................................................................................8.2. Diretrizes............................................................................................................................8.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    9 EDUCAO INDGENA..........................................................................................................9.1. Diagnstico.........................................................................................................................9.2. Diretrizes............................................................................................................................

  • 39.3. Objetivos e Metas...............................................................................................................

    IV MAGISTRIO DA EDUCAO BSICA

    10 FORMAO DOS PROFESSORES E VALORIZAO DO MAGISTRIO................10.1. Diagnstico.......................................................................................................................10.2. Diretrizes..........................................................................................................................10.3. Objetivos e Metas.............................................................................................................

    V FINANCIAMENTO E GESTO.......................................................................................................11.1. Diagnstico.......................................................................................................................11.2. Diretrizes..........................................................................................................................11.3. Objetivos e Metas.............................................................................................................

    11.3.1. Financiamento.....................................................................................................11.3.2. Gesto..................................................................................................................

    VI ACOMPANHAMENTO E AVALIAO DO PLANO...................................................................

  • 4NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 (Matrcula, 25/3/98, no ensino fundamental, por faixa etria e localizao)...................

    Tabela 2 (Taxa de escolarizao bruta e lquida - 7 a 14 anos Brasil e Regies 1991 e 1996).......

    Tabela 3 (Ensino mdio matrcula Brasil 1991 e 1998)...............................................................

    Tabela 4 (Ensino mdio taxa de abandono e reprovao 1995 e 1997)........................................

    Tabela 5 (Ensino mdio taxa de distoro idade-srie 1996-1998)...............................................

    Tabela 6 (Educao bsica matrculas Brasil: 1995-2010)...............................................................

    Tabela 7 (Quadro do ensino superior no Brasil 1998)......................................................................

    Tabela 8 (Evoluo da matrcula por dependncia administrativa Brasil 1980-1998)...............

    Tabela 9 (Matrcula por dependncia administrativa Brasil e regies nvel superior/98).........

    Tabela 10 (ndice de crescimento da matrcula por dependncia administrativa Brasil 1988-1998).............................................................................................................................

    Tabela 11 (IFES Participao das despesas com aposentadorias e penses no total de despesascom pessoal e encargos sociais)...........................................................................................

    Tabela 12 (IFES Relao entre despesas com aposentadorias e penses e com outros custeios e capital)...................................................................................................................................

    Tabela 13 (IFES Despesas com investimentos e inverses financeiras)..........................................

    Tabela 14 (Taxas de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais Brasil e regies-1996)..........

    Tabela 15 (Escolarizao da populao 1996)...................................................................................

    Tabela 16 (Populao de 15 anos ou mais de idade por situao de alfabetizao 1997)..............

    Tabela 17 (Mdia de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais por sexo e cor 1996)...........

    Tabela 18 (Habilitaes de nvel mdio com maior nmero de concluintes 1988 e 1996)..............

    Tabela 19 (Funes docentes distribuio nacional por nvel de formao e nveis escolares em que atuam 1998)...........................................................................................................

    Tabela 20 (Ministrio da Educao Despesa por Fonte)..................................................................

    Tabela 21 (Gastos diretos com educao das administraes pblicas 1997).................................

    Tabela 22 (Gastos com educao esferas federativas 1997)..........................................................

    Tabela 23 (Origem das receitas do FUNDEF 1998)..........................................................................

    Tabela 24 (Efeitos financeiros do FUNDEF nos municpios com gasto abaixo do valor mnimo (R$ 315,00) 1998.................................................................................................................

    Tabela 25 (Despesas pblicas em educao, em relao ao PIB 1995)............................................

    Tabela 26 (Programa dinheiro na escola 1995 a 1998 atendimento)...............................................

  • 5I - INTRODUO

    1. HISTRICO

    A instalao da Repblica no Brasil e o surgimento das primeiras idias de um

    plano que tratasse da educao para todo o territrio nacional aconteceram

    simultaneamente. medida que o quadro social, poltico e econmico do incio deste

    sculo se desenhava, a educao comeava a se impor como condio fundamental para o

    desenvolvimento do Pas. Havia grande preocupao com a instruo, nos seus diversos

    nveis e modalidades. Nas duas primeiras dcadas, as vrias reformas educacionais,

    ajudaram no amadurecimento da percepo coletiva da educao como um problema

    nacional.

    Em 1932, um grupo de educadores, 25 homens e mulheres da elite intelectual

    brasileira, lanou um manifesto ao povo e ao governo que ficou conhecido como

    "Manifesto dos Pioneiros da Educao". Propunham a reconstruo educacional, "de

    grande alcance e de vastas propores... um plano com sentido unitrio e de bases

    cientficas...". O documento teve grande repercusso e motivou uma campanha que

    resultou na incluso de um artigo especfico na Constituio Brasileira de 16 de julho de

    1934. O art.150 declarava ser competncia da Unio "fixar o plano nacional de educao,

    compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar

    e fiscalizar a sua execuo, em todo o territrio do Pas". Atribua, em seu art.152,

    competncia precpua ao Conselho Nacional de Educao, organizado na forma da lei, a

    elaborar o plano para ser aprovado pelo Poder Legislativo, sugerindo ao Governo as

    medidas que julgasse necessrias para a melhor soluo dos problemas educacionais bem

    como a distribuio adequada de fundos especiais".

    Todas as constituies posteriores, com exceo da Carta de 37, incorporaram,

    implcita ou explicitamente, a idia de um Plano Nacional de Educao. Havia, subjacente,

    o consenso de que o plano devia ser fixado por lei. A idia prosperou e nunca mais foi

    inteiramente abandonada.

    O primeiro Plano Nacional de Educao surgiu em 1962, elaborado j na

    vigncia da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, Lei n 4.024, de

    1961. Ele no foi proposto na forma de um projeto de lei, mas apenas como uma iniciativa

  • 6do Ministrio da Educao e Cultura, iniciativa essa aprovada pelo ento Conselho

    Federal de Educao. Era basicamente um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a

    serem alcanadas num prazo de oito anos. Em 1965, sofreu uma reviso, quando foram

    introduzidas normas descentralizadoras e estimuladoras da elaborao de planos estaduais.

    Em 1966, uma nova reviso, que se chamou Plano Complementar de Educao, introduziu

    importantes alteraes na distribuio dos recursos federais, beneficiando a implantao

    de ginsios orientados para o trabalho e o atendimento de analfabetos com mais de dez

    anos.

    A idia de uma lei ressurgiu em 1967, novamente proposta pelo Ministrio da

    Educao e Cultura e discutida em quatro Encontros Nacionais de Planejamento, sem que

    a iniciativa chegasse a se concretizar.

    Com a Constituio Federal de 1988, cinqenta anos aps a primeira tentativa

    oficial, ressurgiu a idia de um plano nacional de longo prazo, com fora de lei, capaz de

    conferir estabilidade s iniciativas governamentais na rea de educao. O art. 214

    contempla esta obrigatoriedade.

    Por outro lado, a Lei n 9.394, de 1996 , que "estabelece as Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional", determina nos artigos 9 e 87, respectivamente, que cabe

    Unio, a elaborao do Plano, em colaborao com os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios, e institui a Dcada da Educao. Estabelece ainda, que a Unio encaminhe o

    Plano ao Congresso Nacional, um ano aps a publicao da citada lei, com diretrizes e

    metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declarao Mundial sobre

    Educao para Todos.

    Em 10 de fevereiro de 1998, o Deputado Ivan Valente apresentou no Plenrio

    da Cmara dos Deputados o Projeto de Lei n 4.155, de 1998 que aprova o Plano

    Nacional de Educao. A construo deste plano atendeu aos compromissos assumidos

    pelo Frum Nacional em Defesa da Escola Pblica, desde sua participao nos trabalhos

    da Assemblia Nacional Constituinte, consolidou os trabalhos do I e do II Congresso

    Nacional de Educao - CONED e sistematizou contribuies advindas de diferentes

    segmentos da sociedade civil. Na justificao, destaca o Autor a importncia desse

    documento-referncia que contempla dimenses e problemas sociais, culturais, polticos

    e educacionais brasileiros, embasado nas lutas e proposies daqueles que defendem uma

    sociedade mais justa e igualitria.

  • 7Em 11 de fevereiro de 1998, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional

    a Mensagem 180/98, relativa ao projeto de lei que "Institui o Plano Nacional de

    Educao". Iniciou sua tramitao na Cmara dos Deputados como Projeto de Lei n

    4.173, de 1998, apensado ao PL n 4.155/98, em 13 de maro de 1998. Na Exposio de

    Motivos destaca o Ministro da Educao a concepo do Plano, que teve como eixos

    norteadores, do ponto de vista legal, a Constituio Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional, de 1996, e a Emenda Constitucional n 14, de 1995, que

    instituiu o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

    Valorizao do Magistrio. Considerou ainda realizaes anteriores, principalmente o

    Plano Decenal de Educao para Todos, preparado de acordo com as recomendaes da

    reunio organizada pela UNESCO e realizada em Jomtien, na Tailndia, em 1993. Alm

    deste, os documentos resultantes de ampla mobilizao regional e nacional que foram

    apresentados pelo Brasil nas conferncias da UNESCO constituram subsdios igualmente

    importantes para a preparao do documento. Vrias entidades foram consultadas pelo

    MEC, destacando-se o Conselho Nacional de Secretrios de Educao - CONSED e a

    Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao - UNDIME.

    Os projetos foram distribudos s Comisses de Educao, Cultura e Desporto;

    de Finanas e Tributao; e de Constituio, Justia e de Redao. Na primeira, Relator,

    o Deputado Nelson Marchezan.

    2. OBJETIVOS E PRIORIDADES

    Em sntese, o Plano tem como objetivos:

    . a elevao global do nvel de escolaridade da populao;

    . a melhoria da qualidade do ensino em todos os nveis;

    . a reduo das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e

    permanncia, com sucesso, na educao pblica e

    . democratizao da gesto do ensino pblico, nos estabelecimentos oficiais,

    obedecendo aos princpios da participao dos profissionais da educao na elaborao do

    projeto pedaggico da escola e a participao das comunidades escolar e local em

    conselhos escolares ou eqivalentes.

    Considerando que os recursos financeiros so limitados e que a capacidade

    para responder ao desafio de oferecer uma educao compatvel, na extenso e na

    qualidade, dos pases desenvolvidos precisa ser construda constante e progressivamente,

  • 8so estabelecidas prioridades neste plano, segundo o dever constitucional e as

    necessidades sociais.

    1. Garantia de ensino fundamental obrigatrio de oito anos a todas as

    crianas de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanncia na escola e a

    concluso desse ensino. Essa prioridade inclui o necessrio esforo dos sistemas de

    ensino para que todas obtenham a formao mnima para o exerccio da cidadania e para o

    usufruto do patrimnio cultural da sociedade moderna. O processo pedaggico dever ser

    adequado s necessidades dos alunos e corresponder a um ensino socialmente

    significativo. Prioridade de tempo integral para as crianas das camadas sociais mais

    necessitadas.

    2. Garantia de ensino fundamental a todos os que a ele no tiveram

    acesso na idade prpria ou que no o concluram. A erradicao do analfabetismo faz

    parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetizao de jovens e adultos como ponto de

    partida e parte intrnseca desse nvel de ensino. A alfabetizao dessa populao

    entendida no sentido amplo de domnio dos instrumentos bsicos da cultura letrada, das

    operaes matemticas elementares, da evoluo histrica da sociedade humana, da

    diversidade do espao fsico e poltico mundial e da constituio da sociedade brasileira.

    Envolve, ainda, a formao do cidado responsvel e consciente de seus direitos e deveres.

    3. Ampliao do atendimento nos demais nveis de ensino a educao

    infantil, o ensino mdio e a educao superior. Est prevista a extenso da escolaridade

    obrigatria para crianas de seis anos de idade, quer na educao infantil, quer no ensino

    fundamental, e a gradual extenso do acesso ao ensino mdio para todos os jovens que

    completam o nvel anterior, como tambm para os jovens e adultos que no cursaram os

    nveis de ensino nas idades prprias. Para as demais sries e para os outros nveis, so

    definidas metas de ampliao dos percentuais de atendimento da respectiva faixa etria. A

    ampliao do atendimento, neste plano, significa maior acesso, ou seja, garantia crescente

    de vagas e, simultaneamente, oportunidade de formao que corresponda s necessidades

    das diferentes faixas etrias, assim como, nos nveis mais elevados, s necessidades da

    sociedade, no que se refere a lideranas cientficas e tecnolgicas, artsticas e culturais,

    polticas e intelectuais, empresariais e sindicais, alm das demandas do mercado de

    trabalho. Faz parte dessa prioridade a garantia de oportunidades de educao profissional

    complementar educao bsica, que conduza ao permanente desenvolvimento de

  • 9aptides para a vida produtiva, integrada s diferentes formas de educao, ao trabalho,

    cincia e tecnologia.

    4. Valorizao dos profissionais da educao. Particular ateno dever ser

    dada formao inicial e continuada, em especial dos professores. Faz parte dessa

    valorizao a garantia das condies adequadas de trabalho, entre elas o tempo para estudo

    e preparao das aulas, salrio digno, com piso salarial e carreira de magistrio.

    5. Desenvolvimento de sistemas de informao e de avaliao em todos os

    nveis e modalidades de ensino, inclusive educao profissional, contemplando tambm

    o aperfeioamento dos processos de coleta e difuso dos dados, como instrumentos

    indispensveis para a gesto do sistema educacional e melhoria do ensino.

    Este Plano Nacional de Educao define por conseguinte:

    . as diretrizes para a gesto e o financiamento da educao;

    . as diretrizes e metas para cada nvel e modalidade de ensino e

    . as diretrizes e metas para a formao e valorizao do magistrio e demais

    profissionais da educao, nos prximos dez anos.

    Tratando-se de metas gerais para o conjunto da Nao, ser preciso, como

    desdobramento, adequao s especificidades locais e definio de estratgias adequadas,

    cada circunstncia, elaborao de planos estaduais e municipais.

  • 10

    II NVEIS DE ENSINOA EDUCAO BSICA 1. EDUCAO INFANTIL

    1.1 Diagnstico

    A educao das crianas de zero a seis anos em estabelecimentos especficos

    de educao infantil vem crescendo no mundo inteiro e de forma bastante acelerada, seja

    em decorrncia da necessidade da famlia de contar com uma instituio que se encarregue

    do cuidado e da educao de seus filhos pequenos, principalmente quando os pais

    trabalham fora de casa, seja pelos argumentos advindos das cincias que investigaram o

    processo de desenvolvimento da criana. Se a inteligncia se forma a partir do nascimento

    e se h janelas de oportunidade na infncia quando um determinado estmulo ou

    experincia exerce maior influncia sobre a inteligncia do que em qualquer outra poca

    da vida, descuidar desse perodo significa desperdiar um imenso potencial humano. Ao

    contrrio, atend-la com profissionais especializados capazes de fazer a mediao entre o

    que a criana j conhece e o que pode conhecer significa investir no desenvolvimento

    humano de forma inusitada. Hoje se sabe que h perodos cruciais no desenvolvimento,

    durante os quais o ambiente pode influenciar a maneira como o crebro ativado para

    exercer funes em reas como a matemtica, a linguagem, a msica. Se essas

    oportunidades forem perdidas, ser muito mais difcil obter os mesmos resultados mais

    tarde.

    medida que essa cincia da criana se democratiza, a educao infantil

    ganha prestgio e interessados em investir nela.

    No so apenas argumentos econmicos que tm levado governos, sociedade e

    famlias a investirem na ateno s crianas pequenas. Na base dessa questo est o direito

    ao cuidado e educao a partir do nascimento. A educao elemento constitutivo da

    pessoa e, portanto, deve estar presente desde o momento em que ela nasce, como meio e

    condio de formao, desenvolvimento, integrao social e realizao pessoal. Alm do

    direito da criana, a Constituio Federal estabelece o direito dos trabalhadores, pais e

    responsveis, educao de seus filhos e dependentes de zero a seis anos. Mas o

    argumento social o que mais tem pesado na expresso da demanda e no seu atendimento

    por parte do Poder Pblico. Ele deriva das condies limitantes das famlias trabalhadoras,

    monoparentais, nucleares, das de renda familiar insuficiente para prover os meios

  • 11

    adequados para o cuidado e educao de seus filhos pequenos e da impossibilidade de a

    maioria dos pais adquirirem os conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento da

    criana que a pedagogia oferece. Considerando que esses fatores continuam presentes, e

    at mais agudos nesses anos recentes, de se supor que a educao infantil continuar

    conquistando espao no cenrio educacional brasileiro como uma necessidade social. Isso,

    em parte, determinar a prioridade que as crianas das famlias de baixa renda tero na

    poltica de expanso da educao infantil. No entanto, preciso evitar uma educao

    pobre para crianas pobres e a reduo da qualidade medida que se democratiza o

    acesso.

    No Brasil, a educao das crianas menores de 7 anos tem uma histria de

    cento e cinqenta anos. Seu crescimento, no entanto, deu-se principalmente a partir dos

    anos 70 deste sculo e foi mais acelerado at 1993. Em 1998, estava presente em 5.320

    Municpio, que correspondem a 96,6% do total. A mobilizao de organizaes da

    sociedade civil, decises polticas e programas governamentais tm sido meios eficazes de

    expanso das matrculas e de aumento da conscincia social sobre o direito, a importncia

    e a necessidade da educao infantil.

    preciso analisar separadamente as faixas etrias de 0 a 3 e de 4 a 6 anos,

    porque foram grupos tratados diferentemente, quer nos objetivos, quer por instituies que

    atuaram nesse campo, sejam pblicas ou privadas. A primeira faixa esteve

    predominantemente sob a gide da assistncia social e tinha uma caracterstica mais

    assistencial, como cuidados fsicos, sade, alimentao. Atendia principalmente as

    crianas cujas mes trabalhavam fora de casa. Grande parte era atendida por instituies

    filantrpicas e associaes comunitrias, que recebiam apoio financeiro e, em alguns

    casos, orientao pedaggica de algum rgo pblico, como a antiga LBA. As estatsticas

    informavam sobre os atendimentos conveniados, no havendo um levantamento completo

    de quantas crianas estavam freqentando algum tipo de instituio nessa faixa etria.

    Estimativas precrias indicavam, at alguns anos atrs, um nmero de 1.400.000 crianas

    atendidas na faixa de 0 a 3 anos. A Sinopse Estatstica da Educao Bsica reuniu dados

    de 1998 sobre a creche, indicando um atendimento de 381.804 crianas, em idades que

    variam de menos de 4 a mais de 9 anos. So dados incompletos, mesmo porque s agora

    as creches comeam a registrar-se nos rgos de cadastro educacional. Qualquer nmero,

    no entanto, ser uma quantidade muito pequena diante da magnitude do segmento

    populacional de 0 a 3 anos, constitudo de 12 milhes de crianas.

  • 12

    A maioria dos ambientes no conta com profissionais qualificados, no

    desenvolve programa educacional, no dispe de mobilirio, brinquedos e outros materiais

    pedaggicos adequados. Mas deve-se registrar, tambm, que existem creches de boa

    qualidade, com profissionais com formao e experincia no cuidado e educao de

    crianas, que desenvolvem proposta pedaggica de alta qualidade educacional. Bons

    materiais pedaggicos e uma respeitvel literatura sobre organizao e funcionamento das

    instituies para esse segmento etrio vm sendo produzidos nos ltimos anos no pas.

    Por determinao da LDB, as creches atendero crianas de zero a trs anos,

    ficando a faixa de 4 a 6 para a pr-escola, e devero adotar objetivos educacionais,

    transformando-se em instituies de educao, segundo as diretrizes curriculares nacionais

    emanadas do Conselho Nacional de Educao. Essa determinao segue a melhor

    pedagogia, porque nessa idade, precisamente, que os estmulos educativos tm maior

    poder de influncia sobre a formao da personalidade e o desenvolvimento da criana.

    Trata-se de um tempo que no pode estar descurado ou mal orientado. Esse um dos

    temas importantes para o PNE.

    Para a faixa de 4 a 6 anos, dispomos de dados mais consistentes, coletados

    pelo sistema nacional de estatsticas educacionais. De uma populao de aproximadamente

    9,2 milhes de crianas, 4,3 milhes estavam matriculadas em pr-escolas no ano de 1997,

    eqivalendo a 46,7%. J em 1998, ele caiu para 4,1 milhes e 44%. O atendimento maior

    se d nas idades mais prximas da escolarizao obrigatria, de sorte que a maioria das

    crianas de 6 anos j est na pr-escola.

    A partir de 1993, as matrculas quase estacionaram no patamar de 4,2 milhes,

    certamente no por ter alcanado a satisfao da demanda, uma vez que o dficit de

    atendimento bastante grande. Considerando o aumento do nmero de famlias abaixo do

    nvel de pobreza no Brasil, que vem se verificando nos ltimos anos, conclui-se que h

    uma demanda reprimida ou um no atendimento das necessidades de seus filhos pequenos.

    O Poder Pblico ser cada vez mais instado a atuar nessa rea, o que, alis, dever

    constitucional, determinado pelo art. 208, IV da Constituio Federal.

    Observando a distribuio das matrculas entre as esferas pblicas e a

    iniciativa privada, constata-se uma reduo acentuada no atendimento por parte dos

    Estados, uma pequena reduo na rea particular e um grande aumento na esfera

    municipal. Em 1987, os Estados atendiam 850 mil e, em 1997, somente 600 mil, baixando

  • 13

    sua participao no total de matrculas de 25,9% para 9,6% e as da iniciativa privada, de

    34 para 24%. Em 1998, a retrao foi maior ainda: para 396 mil matrculas. J os

    Municpios passaram, naquele perodo, de 1,3 milho de matrculas para 2,7 milhes,

    aumentado sua parcela, no conjunto, de 39,2% para 66,3%. Esse fenmeno decorre da

    expresso e presso da demanda sobre a esfera de governo (municipal) que est mais

    prximo s famlias e corresponde prioridade constitucional de atuao dos Municpios

    nesse nvel, simultaneamente ao ensino fundamental.

    A distribuio das matrculas, quanto ao gnero, est equilibrada: feminino,

    49,5% e masculino, 50,5%. Esse equilbrio uniforme em todas as regies do Pas.

    Diferentemente de outros pases e at de preocupaes internacionais, em nosso Pas essa

    questo no requer correes.

    Existiam, em 1998, 78.106 pr-escolas, das quais o Nordeste detm quase

    metade (47,5%) e o Sudeste, delas. Em relao a 1987, observa-se o mesmo fenmeno

    que ocorreu com as matrculas: os Estados se retraram, e mais acentuadamente a partir de

    1994, pois em 1993 detinham 31% dos estabelecimentos e, atualmente, somente 8,8%. Os

    Municpios passaram de 47,4% para 65,7% e a iniciativa privada, de 22,7% para 25,4%.

    Em relao ao nmero de alunos por estabelecimento, interessante observar que quase

    metade (45%) atende at 25 alunos, o que caracteriza pequenas unidades pr-escolares de

    uma sala. Com 51 e mais alunos temos apenas 29,4% dos estabelecimentos.

    Das 219 mil funes docentes, 129 mil so municipais; 17 mil, estaduais e

    72,8 mil, particulares. Em torno de 13% dos professores possuem apenas o ensino

    fundamental, completo ou incompleto; 66% so formados em nvel mdio e 20% j tm o

    curso superior. De 1987 para 1998 houve aumento do nmero dos diplomados em nvel

    universitrio trabalhando na educao infantil (de 20 para 44 mil), elevando o percentual

    nessa categoria em relao ao total de professores, o que revela uma progressiva melhoria

    da qualificao docente. Os com ensino mdio completo eram 95 mil em 1987 e em 1998

    j chegavam a 146 mil. Esses dados so alvissareiros, considerando-se que nos primeiros

    anos de vida, dada a maleabilidade da criana s interferncias do meio social,

    especialmente da qualidade das experincias educativas, fundamental que os

    profissionais sejam altamente qualificados. Nvel de formao acadmica, no entanto, no

    significa necessariamente habilidade para educar crianas pequenas. Da porque os cursos

    de formao de magistrio para a educao infantil devem ter uma ateno especial

  • 14

    formao humana, questo de valores e s habilidades especficas para tratar com seres

    to abertos ao mundo e to vidos de explorar e conhecer, como so as crianas.

    Outra questo importante a analisar o nmero de crianas por professor pois,

    nessa faixa etria, as crianas precisam de ateno bastante individualizada em muitas

    circunstncias e requerem mais cuidados dos adultos do que nos nveis subseqentes da

    escolarizao. No setor pblico, a relao de 21,0 por 1 na esfera municipal e de 23,4,

    na estadual, o que um bom nmero para a faixa de 4 a 6 anos. O setor privado baixa a

    mdia nacional para 18,7, pois est com 14 crianas por professor. Esses valores so

    semelhantes em todas as regies.

    Em relao infra-estrutura dos estabelecimentos, relativamente a 1998, h

    que se apontar que 4.153 pr-escolas, que atendem a 69.714 crianas, no tm

    abastecimento de gua, 84% das quais se situam no Nordeste. Essa carncia ocorre para

    menos de 0,5% das crianas atendidas nas regies Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Alm

    disso, 70% dos estabelecimentos no tm parque infantil, estando privadas da rica

    atividade nesses ambientes nada menos que 54% das crianas. possvel que muitos dos

    estabelecimentos sejam anexos a escolas urbanas de ensino fundamental, onde o espao

    externo restrito e tem que ser dividido com muitos outros alunos. Dada a importncia do

    brinquedo livre, criativo e grupal nessa faixa etria, esse problema deve merecer ateno

    especial na dcada da educao, sob pena de termos uma educao infantil

    descaracterizada, pela predominncia da atividade cognoscitiva em sala de aula.

    H que se registrar, tambm, a inexistncia de energia eltrica em 20% dos

    estabelecimentos, ficando 167 mil crianas matriculadas sem possibilidade de acesso aos

    meios mais modernos da informtica como instrumentos ldicos de aprendizagem. Sero

    essas, certamente, pr-escolas da zona rural. Mais grave que 58% das crianas

    freqentam estabelecimento sem sanitrio adequado, sendo 127 mil em estabelecimento

    sem esgoto sanitrio, mais da metade das quais, no Nordeste.

    Finalmente, um diagnstico das necessidades da educao infantil precisa

    assinalar as condies de vida e desenvolvimento das crianas brasileiras. A pobreza, que

    afeta a maioria delas, que retira de suas famlias as possibilidades mais primrias de

    aliment-las e assisti-las, tem que ser enfrentada com polticas abrangentes que envolvam

    a sade, a nutrio, a educao, a moradia, o trabalho e o emprego, a renda e os espaos

    sociais de convivncia, cultura e lazer. Pois todos esses so elementos constitutivos da

  • 15

    vida e do desenvolvimento da criana. O efeito sinergtico de aes na rea da sade,

    nutrio e educao est demonstrado por avaliaes de polticas e programas. Da porque

    a interveno na infncia, atravs de programas de desenvolvimento infantil, que

    englobem aes integradas de educao, sade, nutrio e apoio familiar so vistos como

    um importante instrumento de desenvolvimento econmico e social.

    A Sinopse Estatstica da Educao Bsica/1999 registra um decrscimo de

    cerca de 200 mil matrculas na pr-escola, em 1998, persistindo, embora em nmero

    menor (159 mil), em 1999. Tem-se atribudo essa reduo implantao do FUNDEF, que

    contemplou separadamente o ensino