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Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2011-2020 Proposta de PNGR Lisboa, 26 de Maio de 2011

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Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2011-2020

Proposta de PNGR Lisboa, 26 de Maio de 2011

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Equipa de trabalho

Autores:

Coordenação

científica:

Paulo Manuel Cadete Ferrão (Instituto Superior Técnico (IST))

Luísa Pinheiro (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Equipa de trabalho: Paulo Jorge Trigo Ribeiro (Faculdade de Engenharia da Universidade

Católica Portuguesa (UCP))

Samuel Pedro de Oliveira Niza (Instituto Superior Técnico (IST))

Cátia Patrícia Pinto Pimenta Ferreira Rosas Santos (Instituto Superior

Técnico (IST))

Regina Vilão (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Cristina Carrola (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Lucinda Gonçalves (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Ana Sofia Vaz (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Maria José Feliciano (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Márcia Machado (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Paula Simão (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Bárbara Dias (Agência Portuguesa do Ambiente (APA))

Data do Documento:

Revisão:

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Índice

Equipa de trabalho .......................................................................................... i

Índice ........................................................................................................... ii

Índice de Tabelas ......................................................................................... vii

Índice de Figuras ........................................................................................... ix

Nomenclatura ............................................................................................... x

1. Introdução ........................................................................................... 1

1.1 Âmbito e objectivos ........................................................................... 1

1.2 Metodologia e organização do documento ............................................. 5

2. Evolução do quadro conceptual da gestão de resíduos ............................... 7

2.1 Evolução das políticas sobre resíduos ................................................... 7

2.2 Definição de resíduo e gestão de resíduos ........................................... 12

3. Síntese do diagnóstico da situação de referência ...................................... 17

3.1 Enquadramento estratégico e legislativo.............................................. 17

3.2 Modelos de gestão existentes ............................................................. 24

3.3 Padrões de consumo de materiais e de produção e tratamento de resíduos

em Portugal .............................................................................................. 31

3.3.1 Relação entre o consumo de materiais e a produção de resíduos ...... 31

3.3.2 Padrões de consumo de materiais ................................................ 35

3.3.3 Padrões de produção e tratamento de resíduos .............................. 38

4. Síntese da análise de estratégias internacionais ....................................... 47

5. Visão e objectivos estratégicos para a gestão de resíduos (2011-2020) ...... 50

5.1 Articulação do Plano com Políticas implementadas ou em fase de

implementação .......................................................................................... 50

5.2 Visão .............................................................................................. 59

5.3 Análise de Stakeholders e SWOT ........................................................ 60

5.4 Objectivos estratégicos ..................................................................... 64

5.4.1 Identificação dos objectivos ......................................................... 64

5.4.2 Metas a alcançar ........................................................................ 68

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iii

6. Objectivos operacionais e acções ............................................................ 76

6.1 Considerações iniciais ....................................................................... 76

6.2 OP1 - Prevenir a produção de resíduos ................................................ 81

6.2.1 Descrição do objectivo ................................................................ 81

6.2.2 OP1.A1 - Promoção de acordos voluntários com sectores prioritários

no sentido de fomentar a produção mais limpa e a concepção sustentável de

produtos. ............................................................................................... 81

6.2.3 OP1.A2 - Promoção da comunicação/sensibilização para a prevenção

da produção de resíduos .......................................................................... 82

6.2.4 OP1.A3 - Promoção de compras no sector público com critérios de

sustentabilidade que previnam a produção de resíduos e fomentem a

reutilização ............................................................................................ 82

6.2.5 Tendências de evolução a alcançar ............................................... 83

6.3 OP2 - Promover o fecho dos ciclos dos materiais e o aproveitamento da

energia em cascata .................................................................................... 85

6.3.1 Descrição do objectivo ................................................................ 85

6.3.2 OP2.A1 - Estabelecer e implementar um programa de acção para

promover a procura de materiais passíveis de valorização ............................ 86

6.3.3 OP2.A2 - Robustecer os sistemas de gestão de fluxos específicos aos

quais se aplica a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) e avaliação da

aplicação da RAP a fluxos emergentes ....................................................... 88

6.3.4 OP2.A3 - Promover o estabelecimento de simbioses industriais ........ 88

6.3.5 OP2.A4 – Promover o estabelecimento de novas áreas industriais

desenvolvidas com planos de racionalização de materiais e energia e a

reabilitação de áreas industriais existentes ................................................. 88

6.3.6 Tendências de evolução a alcançar ............................................... 89

6.4 OP3 - Consolidar e optimizar a rede de gestão de resíduos .................... 91

6.4.1 Descrição do objectivo ................................................................ 91

6.4.2 OP3.A1 - Incentivar a proximidade da rede de recolha ao utilizador e a

separação selectiva ................................................................................. 92

6.4.3 OP3.A2 - Potenciar sinergias de recolha e tratamento de resíduos

numa lógica de complementaridade .......................................................... 93

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iv

6.4.4 OP3.A3 - Uniformizar as regras de recolha e transporte para todos os

operadores ............................................................................................. 93

6.4.5 OP3.A4 - Promover a auto-suficiência e a competitividade dos

operadores diminuindo a dependência externa ........................................... 94

6.4.6 Tendências de evolução a alcançar ............................................... 94

6.5 OP4 - Gerir e recuperar os passivos ambientais .................................... 96

6.5.1 Descrição do objectivo ................................................................ 96

6.5.2 OP4.A1 - Implementar a estratégia de recuperação dos passivos

ambientais ............................................................................................. 97

6.5.3 OP4.A2 - Promover a monitorização e controlo dos locais pós-

encerramento ......................................................................................... 98

6.5.4 Tendências de evolução a alcançar ............................................... 98

6.6 OP5 - Fomentar a cidadania ambiental e o desempenho dos agentes .... 100

6.6.1 Descrição do objectivo .............................................................. 100

6.6.2 OP5-A1 - Reforçar e apoiar as actividades de

comunicação/sensibilização desenvolvidas pelos operadores de gestão e pelas

entidades gestoras de fluxos específicos .................................................. 101

6.6.3 OP5.A2 - Instituir a atribuição de prémios anuais de desempenho .. 101

6.6.4 OP5.A3 - Fomentar o envolvimento dos cidadãos e dos agentes no

processo de tomada de decisão .............................................................. 102

6.6.5 OP5.A4 – Promover a integração da gestão de resíduos e do uso

sustentável dos recursos nos curricula educativos dos ensinos básicos e

secundário ........................................................................................... 102

6.6.6 Tendências de evolução a alcançar ............................................. 102

6.7 OP6 - Promover a formação e qualificação dos agentes ....................... 104

6.7.1 Descrição do objectivo .............................................................. 104

6.7.2 OP6.A1 - Desenvolver um programa de formação no sentido do

incremento das competências e da qualidade do serviço no sector de actividade

dos resíduos ......................................................................................... 104

6.7.3 OP6.A2 - Promover a implementação de sistemas de gestão

ambiental, de qualidade e de higiene e segurança no trabalho .................... 105

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v

6.7.4 OP6.A3 - Disseminar informação sobre boas práticas em sectores-

chave produtores de resíduos ................................................................. 105

6.7.5 Tendências de evolução a alcançar ............................................. 105

6.8 OP7 - Fomentar o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida 107

6.8.1 Descrição do objectivo .............................................................. 107

6.8.2 OP7.A1 - Promover a integração de sistemas de informação que

garantam maior fiabilidade da informação e suporte aos processos de decisão e

avaliação de tendências ......................................................................... 109

6.8.3 OP7.A2 - Desenvolver e actualizar numa base regular um sistema de

indicadores sobre resíduos e fluxos de materiais e sua disponibilização pública

…………………………………………………………………………………………………………….109

6.8.4 OP7.A3 - Incentivar e apoiar a investigação e desenvolvimento no

sector …………………………………………………………………………………………………………….110

6.8.5 OP7.A4 - Promover e disseminar estudos de caracterização do sector

…………………………………………………………………………………………………………….111

6.8.6 Tendências de evolução a alcançar ............................................. 111

6.9 OP8 - Adequar e agilizar os processos administrativos ........................ 113

6.9.1 OP8.A1 - Optimizar o quadro legal e institucional ......................... 115

6.9.2 OP8.A2 - Desmaterializar actos referentes à monitorização, avaliação e

fiscalização das actividades de gestão de resíduos..................................... 115

6.9.3 OP8.A3 - Reforçar as actividades de âmbito inspectivo e fiscalizador

…………………………………………………………………………………………………………….115

6.9.4 OP8.A4 - Reforçar as auditorias técnico-financeiras a OGR e sistemas

de gestão de resíduos ............................................................................ 116

6.9.5 OP8.A5 - Criação de uma carteira de peritos qualificados para a

certificação de processos ao nível da gestão de resíduos ............................ 116

6.9.6 Tendências de evolução a alcançar ............................................. 116

6.10 OP9 - Adequar e potenciar o uso de instrumentos económicos e financeiros

…………………………………………………………………………………………………………………..118

6.10.1 Descrição do objectivo .............................................................. 118

6.10.2 OP9.A1 - Promover o Mercado Organizado de Resíduos (MOR) ....... 119

6.10.3 OP9.A2 - Potenciar a eficácia da TGR .......................................... 119

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6.10.4 OP9.A3 - Diferenciar as prestações financeiras relativas a Entidades

Gestoras de fluxos de resíduos em função da reciclabilidade, perigosidade e

impactes no ciclo de vida inerentes aos produtos colocados no mercado ...... 120

6.10.5 OP9.A4 - Articular as várias linhas de financiamento no sentido de

optimizar as verbas disponíveis no sector de gestão de resíduos ................. 120

6.10.6 OP9.A5 - Avaliar e promover incentivos à recolha selectiva e

reutilização de produtos ......................................................................... 121

6.10.7 Tendências de evolução a alcançar ............................................. 121

7. Avaliação e revisão do Plano ................................................................ 123

7.1 Avaliação do Plano.......................................................................... 123

7.2 Relatório de avaliação ..................................................................... 123

8. Referências ................................................................................. 124 124

ANEXOS ..................................................................................................... 129

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vii

Índice de Tabelas

Tabela 2.1 – Evolução do enfoque das políticas europeias de gestão de resíduos .. 11

Tabela 3.1 – Principais documentos de natureza estratégica analisados para a

definição de uma política de gestão de resíduos ............................................... 17

Tabela 3.2 – Principais documentos legislativos nacionais e comunitários

relacionados com a gestão de resíduos ............................................................ 21

Tabela 3.3 – Planos de gestão de resíduos desenvolvidos para resíduos sectoriais 23

Tabela 3.4 – Responsabilidade de gestão para cada origem principal e fluxos

específicos de resíduos em Portugal (2009) ..................................................... 25

Tabela 3.5 – Principais sobreposições de conceitos e de estatísticas .................... 27

Tabela 3.6 – Determinantes do sucesso das entidades gestoras. ........................ 29

Tabela 3.7 – Quantitativos de Resíduos Urbanos e equiparados por Operação de

Gestão ........................................................................................................ 38

Tabela 3.8 - Destinos dos Resíduos Não Urbanos em Portugal, por tipo de

tratamento .................................................................................................. 39

Tabela 3.9 - Quantitativos totais de resíduos transferidos de Portugal para

operações de valorização e eliminação…………………………………………………………………….45

Tabela 5.1 - Matriz de Stakeholders …………………………………………………………………………61

Tabela 5.2 - Análise SWOT no contexto da situação actual e em face da visão

proposta (avaliação global)……………………………………………………………………………………….62

Tabela 5.3 - Exemplos de sectores e clusters tecnológicos relevantes para alguns

fluxos específicos de resíduos ………………………………..………………………………………………..66

Tabela 5.4 - Metas estratégicas a alcançar (2011-2020)…………………………………………72

Tabela 5.5 - Estimativa de evolução cenário BaU (2011-2020)………………………………74

Tabela 6.1 - Objectivos Operacionais e Acções do PNGR .................................... 77

Tabela 6.2 – Contributo directo e indirecto dos Objectivos Operacionais para o

cumprimento dos Objectivos Estratégicos ........................................................ 79

Tabela 6.3 Tendências de evolução definidas para as acções do OP1 - “Prevenir a

Produção de Resíduos” .................................................................................. 84

Tabela 6.4 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP2 - “Promover o

fecho dos ciclos dos materiais e o aproveitamento da energia em cascata” .......... 90

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viii

Tabela 6.5 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP3 - “Consolidar

e optimizar a rede de gestão de resíduos” ....................................................... 95

Tabela 6.6 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP4 - “Gerir e

recuperar os passivos ambientais” .................................................................. 99

Tabela 6.7 – Tendências de evolução definidas para as acções do OP5 – “Fomentar

a cidadania ambiental e o desempenho dos agentes” ...................................... 103

Tabela 6.8 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP6 – “Promover

a formação e qualificação dos agentes” ......................................................... 106

Tabela 6.9 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP7 – “Fomentar

o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida” .................................. 112

Tabela 6.10 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP8 – “Adequar

e agilizar os processos administrativos” ......................................................... 117

Tabela 6.11 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP9 – “Adequar

e potenciar o uso de instrumentos económicos e financeiros” ........................... 122

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ix

Índice de Figuras

Figura 1.1 – Níveis de planeamento estratégico no sector de gestão de resíduos ... 3

Figura 1.2 – Estrutura da metodologia seguida para a elaboração do PNGR ........... 6

Figura 2.1 – Dimensões da gestão de resíduos ................................................. 14

Figura 2.2 – Hierarquia de gestão de resíduos .................................................. 15

Figura 3.1 – Relação entre o sistema económico e o ambiente ........................... 32

Figura 3.2 - Balanço de materiais da economia Portuguesa (ano base: 2007)....... 34

Figura 3.3 – Extracção de recursos, Portugal, 1980-2007 .................................. 35

Figura 3.4 – Componente doméstica e importada do consumo de materiais,

Portugal, 1980-2007 ..................................................................................... 36

Figura 3.5 – Evolução do Consumo de materiais per capita em relação ao PIB per

capita, por Estado-membro (UE15), 1980 -2004 .............................................. 37

Figura 3.6 – Produção e destino final de resíduos em Portugal, 2009 ................... 40

Figura 3.7 - Produção de resíduos urbanos na UE e em Portugal (kg/capita)..………41

Figura 3.8 – Produção de resíduos de embalagem na Europa e em Portugal

(kg/capita) .................................................................................................. 42

Figura 3.9 – Resíduos urbanos colocados em aterro (2007). .............................. 43

Figura 3.10 – Reciclagem e valorização de resíduos de embalagens em vários

países europeus (2007) ................................................................................. 43

Figura 3.11 – Destinos para os pneus usados gerados (2008 e 2009). ................ 44

Figura 5.1– Representação esquemática das dissociações inerentes aos objectivos

estratégicos ................................................................................................. 65

Figura 5.2 – Trajectória de cumprimento das diferentes metas estratégicas ......... 75

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x

Nomenclatura

AAE Avaliação Ambiental Estratégica

ACV Avaliação de Ciclo de Vida

AEA Agência Europeia do Ambiente

AIA Avaliação de Impacte Ambiental

ANR Autoridade Nacional de Resíduos

APA Agência Portuguesa do Ambiente

ASAE

CAE

Autoridade de Segurança Alimentar e Económica

Classificação Portuguesa de Actividades Económicas

CAGER Comissão de Acompanhamento da Gestão de Resíduos

CCDR Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

CE Comissão Europeia

CEE Comunidade Económica Europeia

CIM Consumo Interno de Materiais

CIRVER Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos

DGAE

DQR

Direcção-Geral das Actividades Económicas

Directiva-quadro sobre resíduos

DR das RA

EEA

Direcções Regionais das Regiões Autónomas

European Environment Agency

ENDS Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável

ENRUBDA Estratégia Nacional para a Redução dos Resíduos Urbanos Biodegradáveis Destinados aos Aterros

ETAR Estação de Tratamento de Águas Residuais

EWC European Waste Catalog

I&D Investigação e Desenvolvimento

IGAOT Inspecção Geral do Ambiente e Ordenamento do Território

INE Instituto Nacional de Estatística

INR Instituto dos Resíduos

IST Instituto Superior Técnico

IWM Integrated Waste Management

LER Lista Europeia de Resíduos

MAOT Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território

ME Ministério da Educação

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xi

MOR Mercado Organizado de Resíduos

MTD Melhores Técnicas Disponíveis

NACE Nomenclature Générale dês Ctivités Économiques dans les Communautés Européennes

OCDE Organização paara a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OGR Operador de Gestão de Resíduos

ONU Organização das Nações Unidas

OP Objectivos Operacionais

PAA Programa de Acção em matéria de Ambiente

PAYT Pay As You Throw

PCB Polychlorinated biphenyl

PCIP Prevenção e Controlo Integrados da Poluição

PERAGRI Plano Estratégico de Resíduos Agrícolas

PERH Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares

PERSU Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos

PESGRI Plano Estratégico de Gestão dos Resíduos Industriais

PIB Produto Interno Bruto

PIENDS Plano de Implementação da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável

PIRSUE Plano de Intervenção de Resíduos Sólidos Urbanos e Equiparados

PNACE Programa Nacional para o Crescimento e o Emprego

PNAPRI Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais

PNGR Plano Nacional de Gestão de Resíduos

POVT Programa Operacional Temático para a Valorização do Território

QREN Quadro de Referência Estratégica Nacional

RA Resíduos Agrícolas

RAP Responsabilidade Alargada do Produtor

RCD Resíduos de Construção e Demolição

REACH Regulamento relativo ao registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos

REEE Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos

RH Resíduos Hospitalares

RI Resíduos Industriais

RU Resíduos Urbanos

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xii

SEPNA Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana

SGIR Sistema de Gestão de Informação sobre Resíduos

SGPU Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados

SIRAPA Sistema Integrado de Registo da Agência Portuguesa do Ambiente

SMAUT

SPV

Sistema Multimunicipal, Intermunicipal e Autarquia

Sociedade Ponto Verde

SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

TGR Taxa de Gestão de Resíduos

UE União Europeia

VFV Veículos em Fim de Vida

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1

1. Introdução

1.1 Âmbito e objectivos

A opção por um modelo de desenvolvimento assente no pressuposto de recursos

ilimitados, quer ao nível dos recursos naturais, quer da capacidade da Natureza

para absorver e transformar os resíduos e efluentes gerados pela actividade

humana, esteve na génese de alguns problemas ambientais de natureza global,

como é o caso das alterações climáticas.

A intensificação das actividades económicas e as suas consequências - que têm

vindo a verificar-se ao longo de décadas - contribuem hoje para que o esgotamento

dos recursos naturais e da capacidade natural para absorção e processamento dos

resíduos e efluentes sejam questões prementes e presentes, quer ao mais alto nível

da decisão política, quer da sociedade em geral.

Neste contexto, as políticas de ambiente têm vindo a ganhar relevância nas últimas

décadas, sendo hoje em dia indissociáveis de um desenvolvimento social e

económico equilibrado.

No contexto destas políticas, os resíduos têm vindo progressivamente a merecer

especial atenção, sendo, em conjunto com os recursos naturais, uma das 4 áreas

prioritárias da União Europeia (UE), a par das alterações climáticas, natureza e

biodiversidade e saúde e qualidade de vida (Decisão n.º 1600/2002/CE).

Em Portugal, as orientações estratégicas para a gestão de resíduos foram

consagradas em vários planos específicos de gestão de resíduos, sobretudo a partir

de finais da década de 90. Como exemplos mais relevantes contam-se o Plano

Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), o Plano Estratégico de Resíduos

Hospitalares (PERH) e o Plano Estratégico de Gestão dos Resíduos Industriais

(PESGRI).

A gestão sustentável dos resíduos exige, no entanto, a formalização de uma

estratégia orientadora e abrangente que garanta uma política nacional de resíduos,

numa óptica de protecção do ambiente e desenvolvimento do país, com uma

perspectiva sistémica dos diversos aspectos ligados à gestão dos recursos naturais.

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2

A aprovação do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, relativo ao regime

jurídico de gestão de resíduos, constituiu um passo determinante nesta direcção,

estabelecendo, designadamente, que fosse elaborado um Plano Nacional de Gestão

de Resíduos (PNGR).

O Governo delegou na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), enquanto

Autoridade Nacional de Resíduos (ANR), a missão de assegurar a formulação do

referido Plano.

Em conformidade, o PNGR fixa objectivos estratégicos, de âmbito nacional, da

política de gestão de resíduos e as regras orientadoras que assegurem a coerência

dos planos específicos de gestão de resíduos, no sentido da concretização dos

princípios enunciados no título I do Decreto-Lei n.º 178/2006, bem como a

constituição de uma rede integrada e adequada de instalações de valorização e

eliminação de todo o tipo de resíduos, tendo em conta as melhores tecnologias

disponíveis com custos economicamente sustentáveis (n.º 1, do Artigo 14º, do

referido diploma).

Segundo o Decreto-Lei n.º 178/2006, o PNGR é aprovado por Resolução do

Conselho de Ministros, sob proposta do membro do Governo responsável pela área

do ambiente e após audição da Associação Nacional de Municípios Portugueses (n.º

2, do Artigo 14º).

Merece ainda especial menção o facto de o Decreto-Lei n.º 178/2006 estabelecer

que o PNGR deve ser um documento estratégico de carácter macro, o que se

reflecte no seu âmbito, objectivos e disposições, visando orientar a política de

gestão de resíduos para os próximos anos e o desenvolvimento de planos sectoriais

específicos e necessariamente mais aprofundados, que concretizam o referido Plano

em cada área específica de actividade produtora de resíduos (Figura 1.1).

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Figura 1.1 – Níveis de planeamento estratégico no sector de gestão de resíduos

Adicionalmente, a Directiva

2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Consel

que o PNGR (ou qualquer

situação actual da gestão de resíduos na área geográfica em questão, as medidas a

tomar para melhorar de modo ambientalmente correcto a preparação

reutilização, a reciclagem, a

resíduos. Deve incluir também uma avaliação do modo como o Plano irá apoiar a

execução dos objectivos e das disposições da referida Directiva (n.º 2, do Artigo

28º).

Neste contexto, o PNGR deve conter, consoante seja adequado, e tendo em conta a

área geográfica e a cobertura da zona de planeamento, pelo menos os seguintes

elementos:

a) Tipo, quantidade e origem dos resíduos gerados no território, dos resíduos

que podem ser tra

avaliação prospectiva da evolução dos fluxos de resíduos;

b) Sistemas de recolha de resíduos e principais instalações de eliminação e

valorização existentes, designadamente eventuais disposições especi

destinadas aos óleos usados, aos resíduos perigosos ou aos fluxos de

resíduos constantes de legislação comunitária específica;

Níveis de planeamento estratégico no sector de gestão de resíduos

irectiva-Quadro sobre Resíduos (DQR),

2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Novembro

que o PNGR (ou qualquer Plano para os resíduos) deve incluir uma análise da

situação actual da gestão de resíduos na área geográfica em questão, as medidas a

tomar para melhorar de modo ambientalmente correcto a preparação

reutilização, a reciclagem, as outras formas de valorização e a eliminação de

Deve incluir também uma avaliação do modo como o Plano irá apoiar a

execução dos objectivos e das disposições da referida Directiva (n.º 2, do Artigo

contexto, o PNGR deve conter, consoante seja adequado, e tendo em conta a

área geográfica e a cobertura da zona de planeamento, pelo menos os seguintes

Tipo, quantidade e origem dos resíduos gerados no território, dos resíduos

que podem ser transferidos para o território nacional ou a partir deste, e

avaliação prospectiva da evolução dos fluxos de resíduos;

Sistemas de recolha de resíduos e principais instalações de eliminação e

valorização existentes, designadamente eventuais disposições especi

destinadas aos óleos usados, aos resíduos perigosos ou aos fluxos de

resíduos constantes de legislação comunitária específica;

3

Níveis de planeamento estratégico no sector de gestão de resíduos

, Directiva n.º

ho, de 19 de Novembro, determina

resíduos) deve incluir uma análise da

situação actual da gestão de resíduos na área geográfica em questão, as medidas a

tomar para melhorar de modo ambientalmente correcto a preparação para a

valorização e a eliminação de

Deve incluir também uma avaliação do modo como o Plano irá apoiar a

execução dos objectivos e das disposições da referida Directiva (n.º 2, do Artigo

contexto, o PNGR deve conter, consoante seja adequado, e tendo em conta a

área geográfica e a cobertura da zona de planeamento, pelo menos os seguintes

Tipo, quantidade e origem dos resíduos gerados no território, dos resíduos

nsferidos para o território nacional ou a partir deste, e

Sistemas de recolha de resíduos e principais instalações de eliminação e

valorização existentes, designadamente eventuais disposições especiais

destinadas aos óleos usados, aos resíduos perigosos ou aos fluxos de

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4

c) Uma avaliação das necessidades em matéria de novos sistemas de recolha,

de encerramento das instalações de resíduos existentes, de infra-estruturas

suplementares para as instalações de resíduos nos termos do artigo 16.º da

Directiva 2008/98/CE e, se necessário, dos investimentos correspondentes;

d) Informações suficientes sobre os critérios de localização para a identificação

dos locais e a capacidade das futuras instalações de eliminação ou das

principais instalações de valorização, se necessário;

e) Políticas gerais de gestão de resíduos, designadamente tecnologias e

métodos previstos para a gestão de resíduos, ou políticas relativas a outros

resíduos que coloquem problemas de gestão específicos.

(n.º 3 do artigo 28º da Directiva 2008/98/CE)

Os planos de gestão de resíduos podem conter ainda, tendo em conta o nível

geográfico e a cobertura da zona de planeamento, os seguintes elementos:

a) Aspectos organizacionais relacionados com a gestão de resíduos,

designadamente uma descrição da repartição de responsabilidades entre os

agentes públicos e privados que efectuam a gestão de resíduos;

b) Uma avaliação da utilidade e adequação da utilização de instrumentos

económicos e de outros instrumentos para a resolução de vários problemas

relacionados com os resíduos, tendo em conta a necessidade de manter o

bom funcionamento do mercado interno;

c) A realização de campanhas de sensibilização e de informação dirigidas ao

público em geral ou a grupos específicos de consumidores;

d) Uma indicação dos locais de eliminação de resíduos historicamente

contaminados e medidas para a sua reabilitação.

(n.º 4 do artigo 28º da Directiva 2008/98/CE)

Adicionalmente, no âmbito do disposto na Directiva-Quadro de Resíduos, cabe a

Portugal, enquanto Estado-membro da União Europeia, a elaboração de programas

de prevenção de resíduos, podendo os mesmos ser integrados nos planos de gestão

de resíduos ou noutros programas de política ambiental (n.º 1, do Artigo 29º da

Directiva n.º 2008/98/CE).

É neste contexto que surge o presente documento, que tem como objectivo

principal apresentar a visão e os objectivos estratégicos e operacionais que devem

orientar a gestão de resíduos em Portugal nos próximos anos.

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5

1.2 Metodologia e organização do documento

No presente documento, discute-se a evolução das políticas de gestão de resíduos

nos últimos anos, analisam-se os planos e programas nacionais de gestão de

resíduos existentes a nível europeu e sintetiza-se a situação actual do país, no

contexto do enquadramento estratégico, legislativo e tecnológico da gestão de

resíduos e dos resultados já alcançados ao nível da recolha, valorização e

eliminação de resíduos (“onde estamos”).

Este trabalho permite fundamentar a estratégia proposta para o Plano Nacional de

Gestão de Resíduos para o período 2011-2020. Essa estratégia é formulada a

diferentes níveis, sendo o primeiro a “definição da visão e dos objectivos e metas

estratégicas”, o qual traduz as opções de fundo propostas (“Para onde queremos

ir”).

Neste contexto, ficam estabelecidas as referências para a definição de objectivos

operacionais a prosseguir, das acções a concretizar, bem como os agentes a

mobilizar (“como poderemos lá chegar”). Na Figura 1.2 apresenta-se a proposta de

estrutura para o PNGR.

Este documento encontra-se dividido em 8 capítulos, incluindo:

Capítulo 1 – “Introdução”, no qual se apresentam o âmbito, os objectivos e a

organização do presente documento.

Capítulo 2 - “Evolução do quadro conceptual da gestão de resíduos”, no qual se

analisa a evolução das políticas de gestão de resíduos.

Capítulo 3 – “Síntese do diagnóstico da situação de referência”, no qual se

apresenta sucintamente a situação a nível da gestão de resíduos em Portugal,

nomeadamente do quadro referencial que lhe dá sustentação, desde os modelos de

gestão existentes aos resultados alcançados.

Capítulo 4 – “Síntese da análise de estratégias internacionais”, no qual se

apresentam sucintamente as estratégias desenvolvidas por outros países europeus,

no contexto da formalização da sua politica de gestão de resíduos nos respectivos

planos nacionais.

Capítulo 5 – “Visão e objectivos estratégicos para a gestão de resíduos em Portugal

(2011-2020)”, onde se propõe a visão que norteará a politica nacional de resíduos

para os próximos anos, e da qual resultam os objectivos estratégicos e respectivas

metas para o período de vigência do Plano, 2011-2020.

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6

Capítulo 6 – “Objectivos operacionais e acções”, onde se apresentam os objectivos

operacionais que contribuirão para atingir as metas definidas para os objectivos

estratégicos. Adicionalmente são propostas acções concretas e metas específicas

para o cumprimento dos objectivos operacionais.

Capítulo 7 – “Avaliação e revisão do Plano”, onde se aborda a periodicidade de

avaliação e de revisão do Plano e os indicadores envolvidos.

Figura 1.2 – Estrutura da metodologia seguida para a elaboração do PNGR

Objectivos e metas estratégicasPromover a eficiência da utilização de recursos

naturais na economiaReduzir os impactes ambientais associados à

gestão de resíduos

IPrevenir a

produção de resíduos

IIPromover o fecho dos ciclos dos

materiais e o aproveitame

nto da energia em cascata

IIIConsolidar e optimizar a rede de gestão de resíduos

IVGerir e

recuperar os passivos ambientais

VFomentar a cidadania ambiental e

o desempenho dos agentes

VIPromover a formação e qualificação dos agentes

VIIFomentar o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de

vida

VIIIAgilizar os processos

administrativos e reforçar

os mecanismos de controlo

IXAdequar e potenciar a aplicação

dos instrumentos económicos e financeiros

Objectivos operacionais

Acções, metas e responsáveis pela execução

Visão

Evolução das políticas de gestão de resíduos

Diagnóstico da situação actual

Análise de estratégias internacionais

Cap. 2,3 e 4

Cap. 5

Cap. 6

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7

2. Evolução do quadro conceptual da gestão de

resíduos

2.1 Evolução das políticas sobre resíduos

A política de ambiente tem vindo a evoluir nas últimas décadas na Europa e no

Mundo fruto da evolução do referencial técnico-científico correspondente à

interacção entre o homem e o ambiente.

No início do processo de integração europeia, os principais objectivos ambientais

estavam centrados na economia, e os tratados iniciais que cimentaram a União

Europeia (Tratado de Paris e Tratado de Roma) não continham referências

específicas à protecção do ambiente. É disto exemplo, o facto de ter sido apenas

introduzido numa disposição genérica do Tratado de Roma, fundamentalmente

direccionado para assegurar uma competição justa entre países no mercado

comum, um alerta que visava evitar o “dumping ambiental”.

Foi na Cimeira de Paris de 1972 que os Estados-membros da Comunidade Europeia

(CE) salientaram a necessidade de políticas relacionadas com a protecção do

ambiente. Neste contexto, surgiu o 1º Programa de Acção em matéria de Ambiente

(PAA) da Comunidade Europeia (1973-76), que incluiu uma referência aos

princípios da precaução e do poluidor-pagador e salientou a importância da

prevenção dos impactes ambientais na origem e a racionalização da utilização dos

recursos naturais.

Nessa época, os agentes de decisão económica e política, como as indústrias e os

governos, encaravam o ambiente numa perspectiva de “business-as-usual” e os

alvos do melhoramento do desempenho ambiental eram os processos de fabrico

(Ferrão et al., 2008). Para as empresas, as estratégias ambientais eram

fundamentalmente reactivas resultando geralmente na tomada de medidas de

remediação de danos, ao invés de estratégias preventivas.

As primeiras políticas relacionadas com os resíduos tinham, nesta altura, como

grande preocupação a regulação da deposição final dos resíduos e o

desenvolvimento de tecnologias de tratamento de fim de linha para as indústrias

mais poluidoras.

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8

Seja pela consciencialização progressiva sobre os impactes ambientais associados

às actividades humanas em geral, seja pela percepção de que as soluções em

matéria de gestão de resíduos tinham um alcance de curto prazo, a orientação das

políticas europeias de resíduos foi-se consolidando em abordagens mais integradas.

Essa evolução fica bem patente no disposto nos sucessivos PAA, que orientaram as

políticas europeias sobre ambiente.

Durante o 2º e 3º PAA (1977-1986) o conceito de controlo de poluição começou a

dar lugar ao conceito de prevenção da poluição, procurando alterar o foco

programático das políticas sobre resíduos. No entanto, não houve formalização

desta mudança no enquadramento legislativo europeu, continuando as directivas

existentes sobretudo assentes na filosofia de controlo de poluição, com base em

proibições de substâncias e de restrições a processos.

Em 1987, o Acto Único Europeu emendou o Tratado de Roma até aí em vigor,

passando a protecção do ambiente a ser consagrada como objectivo europeu. No

entanto, foi só em 1989, no âmbito do 4º PAA (1987-1992) que se alterou

significativamente o enfoque da política de resíduos, passando do controlo da

poluição para a prevenção da produção de resíduos. Esta abordagem foi então

adoptada como a principal prioridade na Estratégia Comunitária para a Gestão de

Resíduos (SEC(89) 934 final, de 18 de Setembro, revista pelo documento COM(96)

399 final).

O 4º PAA constituiu-se assim como um quadro de transição entre as políticas

definidas na década de 70, concentradas sobretudo nos processos produtivos e no

controlo de poluição, e as políticas surgidas em torno do conceito de

desenvolvimento sustentável, assentes numa visão mais global e integrada. Nesta

fase, começou-se a explorar nomeadamente a possibilidade de recurso a

instrumentos não normativos, como os incentivos económicos (por exemplo, taxas

ambientais) e a produção e disseminação de informação de carácter ambiental.

Houve, no entanto, alguma continuidade no desenvolvimento e aperfeiçoamento da

legislação orientada para os processos produtivos ou tecnologias de fim de linha (de

que a Directiva sobre incineração de 1989 é um exemplo).

Durante os anos 90, a crescente percepção pública dos impactes ambientais

associados à produção e gestão de resíduos conduziu a um sentimento adverso em

relação às soluções normalmente utilizadas para a eliminação de resíduos,

contribuindo para a adopção de novas políticas para reduzir e desviar os resíduos,

antes maioritariamente encaminhados para aterros e lixeiras, para soluções de

prevenção, reutilização, reciclagem e outras formas de valorização.

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9

O 5º PAA (1993-2000) e o Tratado de Maastricht, ambos de 1993, reflectiram as

conclusões da Conferência do Rio, na sequência da qual o desenvolvimento

sustentável se estabeleceu como um objectivo prioritário da União Europeia. Esta

realidade, formalizada na Cimeira de Cardiff em 1998, conduziu a uma visão do

ambiente como uma questão transversal às diversas políticas sectoriais. O quinto

programa de acção apresentava, nesta medida, uma visão integradora das diversas

componentes ambientais e a responsabilidade da gestão de resíduos passou a ter

que ser partilhada por vários agentes, inclusive pelos fabricantes de bens e

produtos. Adoptou-se nesta altura o conceito da Responsabilidade Alargada do

Produtor (RAP), impondo-se aos produtores a responsabilidade pela gestão dos

seus produtos em fim de vida e o cumprimento de determinadas metas e normas

ambientais de recolha, reciclagem e outras formas de valorização. Como exemplo

da aplicação do conceito de RAP pode-se citar a adopção da Directiva sobre

embalagens (Directiva 94/62/CE, de 20 de Setembro), que se constituiu como a

primeira Directiva a nível comunitário a aplicar o conceito, traduzindo-se numa

importante mudança de visão da política de resíduos.

Em consequência desta mudança de enquadramento foram definidos fluxos

prioritários de resíduos, alvo da atenção comunitária devido à sua quantidade e/ou

perigosidade.

A mudança de paradigma nas políticas em matéria de resíduos foi sendo cada vez

mais acentuada, culminando, com o 6º PAA (2002-2010), intitulado “O nosso

futuro, a nossa escolha” (Decisão n.º 1600/2002/CE, de 22 de Julho). A política de

resíduos, até aqui considerada de forma bastante parcelar, deixou de ser estanque

e separada das políticas orientadas para os recursos naturais (entendidos como

entradas no sistema económico). Os resíduos passaram a ser considerados como

saídas do sistema económico, sendo que, desta forma, a gestão de resíduos

constitui parte do ciclo socioeconómico dos materiais devendo integrar a sua gestão

global.

Adicionalmente, ao nível dos instrumentos verificou-se um reforço da noção de que

a formalização das políticas deve ser suportada por outros tipos de instrumentos -

económicos, fiscais, de informação e comunicação, entre outros.

Resumindo, pode-se afirmar que a política de resíduos foi alargando as suas

fronteiras, começando por ser uma política unicamente focada nos processos,

passando para uma política voltada para os processos/produtos e por fim

orientando-se para os sistemas. Em última análise, transformou-se numa política

essencial para o sistema económico, na medida em que contribui activamente para

uma gestão sustentável dos recursos naturais.

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10

Neste contexto, a visão de que os resíduos são apenas substâncias e objectos que

urgem serem eliminados (“lixo”) de modo a reduzir a poluição a si associada,

encontra-se ultrapassada. Um exemplo paradigmático desta evolução é o que

combina fluxos de resíduos, métodos de recolha, tratamento e eliminação, com o

objectivo de alcançar benefícios ambientais, optimização económica e aceitabilidade

social (Coleman et al., 2003), o conceito de Gestão Integrada dos Resíduos

(Integrated Waste Management, IWM).

A nova Directiva-quadro em matéria de resíduos (Directiva n.º 2008/98/CE, de 19

de Novembro) defende o reforço da prevenção dos resíduos, a introdução de uma

abordagem que considere todo o ciclo de vida dos produtos e materiais (e não

apenas a fase de produção de resíduos) e a redução dos impactes ambientais

associados à produção e gestão dos resíduos. A visão, os objectivos estratégicos e

operacionais propostos para o PNGR reflectem esta abordagem holística que é

veículo de sustentabilidade na utilização dos recursos naturais.

Será, no entanto, importante ter em consideração que na Estratégia Temática de

Prevenção e Reciclagem de Resíduos (COM (2005) 666), já era defendido ser

necessário contabilizar todas as fases do ciclo de vida de um recurso, visto

poderem existir compensações negativas entre diferentes fases e as medidas

adoptadas para reduzir o impacte ambiental (nomeadamente a produção de

resíduos) numa das fases poder aumentar o impacte noutra fase. É evidente que é

necessário que a política ambiental assegure a minimização dos impactes

ambientais negativos ao longo de todo o ciclo de vida dos recursos. Aplicando

abordagens centradas no ciclo de vida, as prioridades podem ser identificadas mais

facilmente e as políticas podem ser orientadas de forma mais eficaz, de modo a

permitir um benefício ambiental máximo em relação ao esforço dispendido.

Na Tabela 2.1 encontra-se ilustrada a evolução das políticas europeias relativas à

gestão de resíduos, identificando-se o seu enfoque e o tipo de instrumentos e

ferramentas utilizadas.

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11

Tabela 2.1 – Evolução do enfoque das políticas europeias de gestão de resíduos

Período PAA Tipo de visão e enfoque Tipo de

Instrumentos

Alguns exemplos a

nível nacional

Business-as-usual

Vocacionada para os processos

• Eliminação da poluição • Comando e controlo • Tecnologias de fim de linha

Legislativos

Vocacionada para os processos

• Tecnologias de fim de linha • Controle da poluição • Introdução da importância

da prevenção

Legislativos Lei de bases do

ambiente

Vocacionada para os produtos

• Princípios de hierarquia de gestão

• Responsabilidade alargada do produtor

• Introdução dos princípios de desenvolvimento sustentável

Legislativos

Outros

instrumentos

(ex.

económicos)

Criação do Instituto

dos Resíduos

DL 239/1997

SPV

PERSU I

Vocacionada para os produtos e

uso de recursos

• Uso de recursos (saídas ligadas às entradas e vice versa)

• Formalização do ambiente como política transversal

• Política integrada de produto

Legislativos

Económicos

Fiscais

Informação

PESGRI

PNAPRI

PERH

ENDS 2015

DL 178/2006

Maior enfoque nos sistemas

• Uso de recursos • Maior enfoque na

prevenção e estratégias de consumo mais sustentáveis

• Sinergias entre diversos ciclos de vida

Maior

integração e

sinergias entre

vários tipos de

instrumentos

Programa de

compras

sustentáveis

Princípio da

responsabilidade

pela gestão

PNGR

Princípios

Séc. XXI

Políticas

anteriores

e 1º PAA

6º PAA

Anos 70

Anos 80

Anos 90

Finais

de 90

2º e 3º

PAAs

4º e 5º

PAAs

5º e 6º

PAAs

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12

2.2 Definição de resíduo e gestão de resíduos

A definição de resíduo vem consignada no direito europeu desde 1975, não tendo

sofrido alterações importantes desde então, nomeadamente na recente revisão da

Directiva-quadro, pese embora, algumas dificuldades na aplicação do conceito,

registadas em vários casos no Tribunal de Justiça Europeu.

No entanto, a nova Directiva-quadro, Directiva n.º 2008/98/CE, de 19 de

Novembro, abre outras perspectivas, nomeadamente com o enquadramento da

desclassificação da categoria de resíduo para certos materiais, desde que estes

cumpram certos critérios específicos. Trata-se de um passo importante para agilizar

a reincorporação desses materiais no circuito económico, aumentando a eficiência

da utilização dos recursos naturais.

A nova Directiva-quadro em matéria de resíduos veio clarificar a definição de

resíduo de modo a reforçar a valorização dos resíduos e a sua utilização com vista a

preservar os recursos naturais e a aumentar o valor económico dos resíduos, tendo

sido introduzidos os conceitos de subproduto e de fim do estatuto de resíduo

(“end-of-waste”, em inglês), de forma a aproximar a gestão dos materiais que se

encontram no âmbito desses conceitos, da gestão dos recursos materiais no

sistema económico.

A nível nacional, a definição de resíduo encontra-se estabelecida no Decreto-Lei n.º

178/2006, de 5 de Setembro, que consagra o regime jurídico de gestão de resíduos

em Portugal. Importa referir que se encontram excluídos do conceito de resíduo, os

efluentes gasosos emitidos para a atmosfera e as águas residuais, com excepção

dos resíduos em estado líquido, a biomassa florestal e a biomassa agrícola.

Analisando a definição legal de resíduo a nível nacional podemos reconhecer duas

componentes importantes na mesma. A primeira incide na base da própria

definição, ou seja, no entendimento de que é considerado resíduo qualquer

“substância ou objecto de que o detentor se desfaz, tem a intenção ou a obrigação

de se desfazer”.

A segunda componente diz respeito à classificação dos resíduos, nomeadamente

através da Lista Europeia de Resíduos (LER)1 e das classes i) a xvi) enumeradas no

Decreto-Lei n.º 178/2006.

1 A Lista Europeia de Resíduos referida na definição Portuguesa de resíduo corresponde à classificação de resíduos utilizada actualmente a nível europeu para identificar os resíduos, e encontra-se consagrada no direito nacional na Portaria n.º 209/2004, 3 de Março.

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13

Assim, por um lado, uma determinada substância ou objecto que se enquadre

nestas classificações não constitui automaticamente um resíduo. Apenas se torna

resíduo se o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer

dessa substância ou objecto. No entanto, numa lógica de utilização sustentável dos

recursos, as substâncias ou objectos de que um detentor se pretenda desfazer não

devem igualmente considerar-se um resíduo automaticamente pois podem

constituir um recurso interessante para outra entidade (industrial, por exemplo).

Neste contexto, o conceito de sub-produto presente na nova Directiva-quadro é

importante, de forma a facilitar o aproveitamento destes recursos, desde que se

garanta que esse aproveitamento é realizado em condições adequadas.

A definição de “Gestão de Resíduos” compreende, por seu turno, as actividades

de recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorização e

eliminação de resíduos, bem como às operações de descontaminação de solos,

incluindo a supervisão dessas operações e o acompanhamento dos locais de

eliminação após encerramento (Directiva n.º 2006/12/CE; Decreto-Lei n.º

178/2006).

As componentes relativas à prevenção da produção dos resíduos, às políticas

ambientais, ao quadro normativo existente e à regulação das actividades da gestão

de resíduos, como se ilustra na Figura 2.1., também são parte integrante da Gestão

de Resíduos.

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Figura

Na Figura seguinte apresenta

aplicada enquanto princípio geral da legislação e da política de prevenção e gestã

de resíduos.

O Artigo 4º da Directiva n.º 2008/98/CE

aplicarem a hierarquia dos resíduos deverão incentivar as operações conducentes

aos melhores resultados ambientais globais, em que para tal, pode ser necessário

estabelecer fluxos de resíduos específicos que se afastem da hierarquia caso isso se

justifique pela aplicação do conceito de ciclo de vida aos impact

produção e gestão desses resíduos.

gura 2.1 – Dimensões da gestão de resíduos

Na Figura seguinte apresenta-se a hierarquia de gestão de resíduos que deverá ser

aplicada enquanto princípio geral da legislação e da política de prevenção e gestã

rtigo 4º da Directiva n.º 2008/98/CE, refere que os Estados

aplicarem a hierarquia dos resíduos deverão incentivar as operações conducentes

aos melhores resultados ambientais globais, em que para tal, pode ser necessário

lecer fluxos de resíduos específicos que se afastem da hierarquia caso isso se

justifique pela aplicação do conceito de ciclo de vida aos impact

produção e gestão desses resíduos.

14

se a hierarquia de gestão de resíduos que deverá ser

aplicada enquanto princípio geral da legislação e da política de prevenção e gestão

refere que os Estados-membros ao

aplicarem a hierarquia dos resíduos deverão incentivar as operações conducentes

aos melhores resultados ambientais globais, em que para tal, pode ser necessário

lecer fluxos de resíduos específicos que se afastem da hierarquia caso isso se

justifique pela aplicação do conceito de ciclo de vida aos impactes globais da

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Figura

Além do Princípio da prevenção e

Resíduos, existem outros princípios gerais bastante importantes na gestão dos

resíduos, que pela sua importância estão

5 de Setembro. Um desses princípios é o

que atribui ao produtor a responsabilidade pela gestão dos resíduos (excepção para

resíduos urbanos cuja produção diária não exceda 1100 litros por produtor

passa para os municípios). Em caso de não ser determinado o produtor, o

responsável é o detentor. Quando os resíduos provêm do exterior, são da

responsabilidade de quem os introduziu no território nacional. A responsabilidade

das entidades referidas extingue

operador licenciado ou pela transferência para as entidades gestoras de fluxos

específicos de resíduos.

parte presente no Princípio da equivalência

regime económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos visa a

compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à

comunidade ou dos benefícios que a comunidade lhe faculta.

Figura 2.2 – Hierarquia de gestão de resíduos

revenção e redução, presente na Hierarquia de Gestão de

Resíduos, existem outros princípios gerais bastante importantes na gestão dos

sua importância estão plasmados no Decreto-Lei n.º178/2006 de

5 de Setembro. Um desses princípios é o Princípio da responsabilidade pela gestão

que atribui ao produtor a responsabilidade pela gestão dos resíduos (excepção para

resíduos urbanos cuja produção diária não exceda 1100 litros por produtor

passa para os municípios). Em caso de não ser determinado o produtor, o

responsável é o detentor. Quando os resíduos provêm do exterior, são da

responsabilidade de quem os introduziu no território nacional. A responsabilidade

as extingue-se quando os resíduos são transmitidos a

operador licenciado ou pela transferência para as entidades gestoras de fluxos

O tão conhecido Princípio do Poluidor-Pagador está em

Princípio da equivalência descrito no artigo 10º, que refere que

regime económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos visa a

compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à

comunidade ou dos benefícios que a comunidade lhe faculta.

15

, presente na Hierarquia de Gestão de

Resíduos, existem outros princípios gerais bastante importantes na gestão dos

i n.º178/2006 de

Princípio da responsabilidade pela gestão,

que atribui ao produtor a responsabilidade pela gestão dos resíduos (excepção para

resíduos urbanos cuja produção diária não exceda 1100 litros por produtor, em que

passa para os municípios). Em caso de não ser determinado o produtor, o

responsável é o detentor. Quando os resíduos provêm do exterior, são da

responsabilidade de quem os introduziu no território nacional. A responsabilidade

se quando os resíduos são transmitidos a

operador licenciado ou pela transferência para as entidades gestoras de fluxos

Pagador está em

que refere que o

regime económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos visa a

compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à

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16

O Princípio da auto-suficiência, refere que as operações de gestão de resíduos

devem decorrer preferencialmente em território nacional, reduzindo ao mínimo

possível os movimentos transfronteiriços de resíduos. A movimentação de resíduos

destinada a eliminação noutro Estado, pertencente ou não ao espaço comunitário,

pode ser limitada com fundamento na existência em território nacional de

instalações de gestão adequadas para o efeito.

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17

3. Síntese do diagnóstico da situação de referência

3.1 Enquadramento estratégico e legislativo

A gestão dos resíduos em Portugal deve ter em conta os modelos organizativos

existentes e os resultados alcançados ao nível da sua produção, recolha e

tratamento, mas também os documentos legais e estratégicos (nacionais e

comunitários) que foram publicados na última década.

Na Tabela 3.1 apresentam-se os principais documentos de natureza estratégica que

constituíram o referencial para a definição da actual política de resíduos,

identificando-se as principais linhas estabelecidas nesses documentos que são

relevantes no âmbito do PNGR.

Alguns dos objectivos formulados nestes documentos acabaram por ser vertidos

para a legislação nacional e comunitária.

Tabela 3.1 – Principais documentos de natureza estratégica analisados para a

definição de uma política de gestão de resíduos

Documento Principais linhas estratégicas

6º Programa de

Acção em

Matéria de

Ambiente

(Decisão n.º

1600/2002/CE)

O 6º PAA contextualizou a política de resíduos numa política mais abrangente de

utilização dos recursos, na qual se procuram integrar de uma forma coerente as

questões relacionadas com as entradas de recursos naturais no sistema económico

(consumo de recursos naturais e outros bens ou produtos) e as suas saídas (sob a

forma de resíduos).

Os recursos naturais e resíduos constituem uma das 4 áreas principais das

preocupações ambientais da UE, conjuntamente com as alterações climáticas,

natureza e biodiversidade e saúde e qualidade de vida.

O objectivo principal da UE para a área dos recursos naturais e dos resíduos

consiste em (Decisão n.º 1600/2002/CE):

“…garantir uma maior eficiência na utilização dos recursos e uma

melhor gestão de recursos e resíduos, a fim de assegurar padrões de

produção e de consumo mais sustentáveis, dissociando desse modo a

utilização dos recursos e a produção de resíduos da taxa de

crescimento económico, visando assegurar que o consumo de recursos

renováveis e não renováveis não ultrapasse a capacidade de carga do

ambiente.”

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Documento Principais linhas estratégicas

Estratégia

Nacional para o

Desenvolvimento

Sustentável

2015 (Resolução

de Conselho de

Ministros n.º

109/2007, de 20

de Agosto)

De modo a operacionalizar este desígnio, são definidos sete grandes objectivos de

acção, dos quais se destacam pela pertinência relativamente ao presente Plano:

• Crescimento Sustentado, Competitividade à Escala Global e

Eficiência Energética

• Melhor Ambiente e Valorização do Património

• Uma Administração Pública mais Eficiente e Modernizada

Nova Estratégia

da UE para o

Desenvolvimento

Sustentável

(10917/06/CE)

A nova Estratégia da UE para o DS apresenta como dois dos desafios-chave da

Europa:

• A Produção e Consumo Sustentáveis, sendo o objectivo global

promover padrões de produção e consumo sustentáveis e,

• A conservação e gestão dos recursos naturais, sendo o objectivo

global melhorar a gestão e evitar a sobrexploração dos recursos,

reconhecendo o valor dos serviços prestados pelos ecossistemas

PIP – Política

integrada de

produto

(COM (2001)68)

A PIP visa minimizar a degradação ambiental resultante do fabrico, uso e deposição

dos produtos, através da análise dos produtos ao longo de todas as fases do seu

ciclo de vida, actuando onde é mais efectiva. A PIP procura então:

• Contribuir para enfrentar os desafios ambientais identificados no

âmbito da estratégia de desenvolvimento sustentável.

• Complementar as políticas relativas a produtos já existentes,

criando um enquadramento conceptual mais alargado para o ciclo

de vida que permita considerar as ligações com quaisquer outros

problemas ambientais.

• Reforçar a coordenação e coerência entre instrumentos da política

de produtos existentes e futuros relacionados com o ambiente, de

modo a auxiliar a exploração das sinergias potenciais entre esses

instrumentos e a promover o seu desenvolvimento integrado.

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Documento Principais linhas estratégicas

Estratégia

Temática para a

Utilização

Sustentável dos

Recursos

Naturais (CE,

2005a).

O objectivo geral desta estratégia, cujo horizonte temporal proposto é de 25 anos, visa a

diminuição dos impactes ambientais negativos gerados pela utilização dos

recursos naturais no âmbito de uma economia em crescimento, o que se designa

no documento por dissociação. Em termos práticos significa reduzir o impacte

ambiental da utilização dos recursos à medida que se aumenta a produtividade global dos

recursos na economia europeia. É destacado que, para o caso dos recursos renováveis

isto significa permanecer abaixo do limite de sobreexploração.

Em resumo, a estratégia defende essencialmente a actuação a dois níveis. Por um lado, o

aumento do conhecimento sobre os actuais níveis de exploração de recursos naturais e

consequências associadas e, por outro, o desenvolvimento de planos de acção para a

diminuição destes impactes, ambos aos diferentes níveis de governação, envolvendo os

diferentes actores da sociedade.

Estratégia

Temática em

matéria de

prevenção e

reciclagem de

resíduos

(Comissão

Europeia,

2005b)

Esta estratégia temática baseia-se no pressuposto de que a política de resíduos da UE

pode contribuir para reduzir o impacte ambiental negativo da utilização de recursos.

Os objectivos da estratégia temática, a ser revista em 2010, são de que a UE se torne

uma sociedade da reciclagem, que procure evitar a produção de resíduos e que

utilize os resíduos como um recurso.

Estratégia de

Lisboa

(in PNACE 2005-

2008)

A Estratégia de Lisboa, definida no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia,

em 2000, consagrou uma visão para a primeira década deste século, que visava tornar a

União Europeia na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e

competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico

sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social.

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Documento Principais linhas estratégicas

Nova Directiva-

quadro sobre

resíduos (DQR)

(Directiva n.º

2008/98/CE)

A Directiva define o quadro base da gestão de resíduos na União Europeia. Um aspecto

essencial é o estabelecimento de uma hierarquia de destinos dos resíduos

renovada: prevenção, preparação para reutilização, reciclagem, outras formas

de valorização (por exemplo, valorização energética) e deposição. No entanto,

preconiza uma alteração a esta hierarquia desde que seja provada a aplicação

dos destinos mais favoráveis em termos ambientais, considerando a perspectiva

do ciclo de vida.

Outra novidade prende-se com a determinação das condições a verificar para que

determinadas substâncias ou objectos resultantes de um processo de produção, possam

ser consideradas um subproduto e não um resíduo, bem como o estabelecimento das

condições a satisfazer para que determinados resíduos específicos deixem de ser

resíduos, após terem sido submetidos a uma operação de valorização – fim do estatuto de

resíduo.

A Directiva vem reforçar a responsabilidade alargada do produtor, devendo os Estados-

membros tomar as medidas necessárias para assegurar que qualquer pessoa ou entidade

que na sua actividade profissional, desenvolva, fabrique, processe, trate, venda ou

importe produtos seja responsável pela sua gestão em fim de vida. Os Estados-membros

devem ainda tomar as medidas necessárias para encorajar a concepção de produtos de

forma a reduzir os impactes ambientais e a geração de resíduos no decurso da produção e

da utilização subsequente e para garantir a recolha e valorização dos mesmos.

Prevê ainda um conjunto de critérios que preconiza o fim de estatuto de resíduo.

Convenção sobre

o Movimento

Transfronteiriço

de resíduos

perigosos e sua

eliminação

(Convenção de

Basileia)

(Data de

adopção 22 de

Março de 1989)

A Convenção de Basileia estabelece as normas que devem ser seguidas pelas Partes, no

que diz respeito ao transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e outros

resíduos, de forma a que seja assegurada a segurança ambiental e da saúde

humana, quer em termos de transporte, quer em termos de produção e gestão

destes resíduos, promovendo também a transferência de tecnologia relativa à gestão

segura de resíduos produzidos localmente.

Movimento

Transfronteiriço

de resíduos

destinados à

valorização

(Decisão do

Conselho da

OCDE C (2001)

107)

A aprovação da Decisão do Conselho da OCDE, de 30 de Março de 1992, veio demonstrar

a preocupação da OCDE com a questão do movimento transfronteiriço de resíduos. Esta

decisão veio estipular procedimentos distintos para o controlo específico das

transferências de resíduos destinados a valorização.

A Decisão foi posteriormente alterada, estando presentemente em vigor a Decisão do

Conselho da OCDE C (2001) 107, de 14 de Julho de 2001, que determina qual o controlo

específico a aplicar nas transferências de resíduos destinados a valorização.

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O quadro de legislação comunitária constitui a matriz de referência da gestão de

resíduos a nível europeu, sendo complementado pelas acções desenvolvidas pelos

Estados-membros e pelas autoridades regionais e locais.

Assim, a legislação europeia depois de adoptada é introduzida na legislação

nacional dos vários Estados-membros, os quais podem estabelecer normas e

procedimentos mais restritivos, se assim o entenderem. Este foi o caso da

legislação relativa aos pneus usados em Portugal. Os principais documentos

legislativos nacionais e comunitários relacionados com a gestão de resíduos

encontram-se listados na Tabela 3.2.

O PNGR assumiu a preocupação de articular os seus objectivos com o preconizado

nas políticas e estratégias referidas já implementadas ou em fase de

implementação.

Tabela 3.2 – Principais documentos legislativos nacionais e comunitários

relacionados com a gestão de resíduos

Tipo de legislação

Assunto Documento nacional principal Documento comunitário orientador

Transversal

Regime geral da gestão de resíduos Decreto-Lei n.º 178/2006 Directiva 12/2006/CE

LER Portaria n.º 209/2004 Decisão da Comissão 2000/532/CE

Mercado Organizado de Resíduos Decreto-Lei n.º 210/2009

Transporte interno Portaria n.º 335/97 -

Movimento transfronteiriço Decreto-lei n.º 45/2008 Regulamento 1013/2006

Regional Gestão de Resíduos na R.A. dos Açores

Decreto Legislativo Regional n.º20/2007/A Decreto Legislativo Regional n.º10/2008/A

Operações de gestão

Licenciamento Portaria n.º 1023/2006

Aterros Decreto-Lei n.º 183/2009 Directiva 1999/31/CE

Incineração e co-incineração Decreto-Lei n.º 85/2005 Directiva 2000/76/CE

CIRVER Decreto-Lei n.º 3/2004

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Tipo de legislação Assunto Documento nacional principal

Documento comunitário orientador

Fluxos específicos e resíduos sectoriais

Veículos em Fim de Vida Decreto-Lei n.º 196/2003, alterado pelo 64/2008 Directiva 2000/53/CE

REEE Decreto-Lei n.º 230/2004 Directiva 2002/96/CE

Embalagens Decreto-Lei n.º 366-A/97 Directiva 94/62/CE

Óleos usados Decreto-Lei n.º 153/2003 Directiva 75/439/CEE

Pilhas e acumuladores Decreto-Lei n.º 6/2009 Directiva 2006/66/CE

Óleos alimentares usados Decreto-lei n.º 267/2009 de 29 de Setembro -

Pneus usados Decreto-Lei n.º 111/2001, alterado pelo 43/2004 -

RCD Decreto-Lei n.º 46/2008 -

PCB’s Decreto-Lei n.º 277/99, de 23 de Julho e Decreto-Lei n.º 72/2007 Directiva 96/59/CE

Agrícolas Despacho n.º 25292/04; Despacho n.º 10 977/2003; Despacho n.º 25297/2002

Hospitalares Portaria n.º174/97

Lamas Decreto-Lei n.º276/2009, de 2 de Outubro Directiva 86/278/CE

Outras conexas

PCIP Decreto-Lei n.º 173/2008 Directiva 2008/1/CE

REACH Regulamento (CE) n.º 1907/2006

AIA Decreto-Lei n.º 197/2005 Directiva 97/11/CE

AAE Decreto-Lei n.º 232/2007 Directivas 2001/42/CE e 2003/35/CE

Contra-ordenações ambientais

Lei n.º 50/2006 alterada pela Lei n.º 89/2009 -

Responsabilidade ambiental Decreto-Lei n.º 147/2008 Directiva 2004/35/CE

Ecodesign Directiva 3663/09, 13329/09 ADD 1 REV 1

Fontes de energia renovável Decreto-Lei n.º 225/2007 Directiva 2009/28/CE

Água Lei n.º 58/2005 Directiva 2000/60/CE

Apesar do quadro legislativo ter progredido consideravelmente nos últimos anos em

termos de abrangência e soluções de gestão, ainda não são visíveis todos os seus

efeitos, uma vez que muitas normas e disposições contemplam um período de

adaptação. Na realidade, encontramo-nos ainda num período inicial de aplicação

das medidas relativas a algumas das metas de recolha e reciclagem, estabelecidas

em documentos legais para fluxos específicos de resíduos.

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Por outro lado, a própria União Europeia reconheceu que a legislação comunitária

em matéria de resíduos (que acaba vertida a nível dos vários Estados-membros)

não facultaria o enquadramento geral suficiente para promover a sua prevenção e

reciclagem (Comissão Europeia, 2003a), motivo que levou à evolução para a nova

Directiva-quadro sobre resíduos e de outros instrumentos legislativos recentes (ex.

Directiva sobre Pilhas e acumuladores) ou em reavaliação (ex. Directiva sobre

REEE).

O actual enquadramento, onde são definidos e formalizados os princípios,

objectivos, acções e normas aplicáveis à gestão de resíduos, encontra-se assente

em três grandes categorias: legislação transversal de gestão de resíduos, legislação

referente a operações de gestão de resíduos (infra-estruturas de tratamento) e

legislação referente a fluxos específicos de resíduos.

Para além dos referidos documentos legais, existem outros, que não estando

directamente relacionados com o sector da gestão de resíduos, têm profundas

implicações para este sector, como por exemplo, os Decretos-Lei referentes à

Prevenção e Controlo Integrados da Poluição (PCIP) e à responsabilidade ambiental.

Estas orientações políticas estão ainda consagradas em vários planos estratégicos

sectoriais para resíduos, listados na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Planos de gestão de resíduos desenvolvidos para resíduos sectoriais

Resíduos

sectoriais

Planos de gestão

Resíduos

Urbanos e

equiparados

PERSU (1997)

ENRUBDA (2003)

PIRSUE (2006)

PERSU II (2007)

Estratégia CDR (2009)

PPRU (2009)

Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos

Estratégia Nacional Para a Redução dos Resíduos Urbanos

Biodegradáveis (RUB) Destinados aos Aterros

Plano de Intervenção de Resíduos Sólidos Urbanos e Equiparados

Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (revê o

PERSU, a ENRUBDA e o PIRSUE)

Estratégia para os Combustíveis Derivados de Resíduos

Programa de Prevenção de Resíduos Urbanos

Resíduos

Industriais

PESGRI (1999)

PNAPRI (2000)

PESGRI (2001)

Plano Estratégico de Gestão dos Resíduos Industriais (alterado

pelo PESGRI 2001)

Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais

Plano Estratégico de Gestão dos Resíduos Industriais

Resíduos

Hospitalares

PERH (1999) Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares

Projecto de Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares 2011-

2016

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3.2 Modelos de gestão existentes

A forma como os sistemas de gestão de resíduos estão desenhados em Portugal

deriva das políticas ambientais, tendo em consideração as características dos

resíduos e as tecnologias existentes para a sua recolha, transporte e tratamento.

A gestão de resíduos a nível nacional tem vindo a ser dominada nos últimos anos

por três áreas de intervenção:

• Melhoria das infra-estruturas de recolha e valorização de resíduos urbanos e

equiparados;

• Gestão de resíduos não urbanos como os industriais, e de outras origens

como por exemplo os resíduos hospitalares e agrícolas, especialmente os

perigosos;

• Aplicação do conceito da responsabilidade alargada do produtor (RAP) a

fluxos específicos de resíduos.

A estas preocupações correspondem três modelos de gestão, de acordo com a

responsabilidade que os diferentes agentes assumem na organização dos circuitos

de recolha e no encaminhamento dos resíduos para um destino final adequado,

conforme se ilustra na Tabela 3.4. Estes modelos são genericamente os seguintes:

• O modelo dos resíduos urbanos, cuja gestão é da responsabilidade dos

municípios.

• O modelo dos resíduos industriais ou de outros tipos de resíduos, em que a

responsabilidade da gestão é do produtor/detentor dos resíduos.

• O modelo dos fluxos específicos de resíduos, transversais a todas as origens,

no âmbito da aplicação do conceito RAP, cuja responsabilidade é do produtor

dos bens e encontra-se, na sua maior parte, assente em sistemas colectivos,

ou seja, entidades gestoras, pese embora, não se exclua a possibilidade da

gestão ser assegurada individualmente para vários fluxos de resíduos.

Os modelos de gestão de resíduos não são estanques e relacionam-se entre si pelo

facto de muitos dos agentes serem comuns (ex. sistemas multimunicipais e

intermunicipais de gestão de resíduos). Os sistemas integrados são muito

abrangentes pelo que envolvem a gestão a vários níveis, o que não significa que

passe o modelo de gestão a ser “outro”.

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Tabela 3.4 – Responsabilidade de gestão para cada origem principal e fluxos

específicos de resíduos em Portugal (2009)

Tipologia/Fluxo

especifico de resíduo Responsabilidade

Entidades

Gestoras

Perfil das

entidades

gestoras

Resíduos

sectoriais

Resíduos Urbanos (RU) e

equiparados Municípios

Sistemas

multimunicipais

e

intermunicipais

Públicas

Resíduos Hospitalares

(RH) Municípios/Produtor - -

Resíduos Industriais (RI) Produtor - -

Resíduos Agrícolas (RA) Produtor - -

Fluxos

específicos

de

resíduos e

outros

resíduos

Embalagens e resíduos de

embalagem

RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais) SPV

Privadas,

sem fins

lucrativos

Embalagens de

medicamentos RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais) Valormed

Privadas, sem

fins lucrativos

Embalagens de produtos

fitofarmacêuticos

RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais) Sigeru

Privadas, sem

fins lucrativos

Pneus usados RAP (Entidade gestora) Valorpneu Privadas, sem

fins lucrativos

Pilhas e acumuladores

portáteis e industriais

RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais) Ecopilhas

Privadas, sem

fins lucrativos

Pilhas e acumuladores de

veículos automóveis e

industriais RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais)

Valorcar

Privadas, sem

fins lucrativos Veículos em fim de vida

Resíduos de equipamentos

eléctricos e electrónicos

RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais)

Amb3E, ERP

Portugal

Privadas, sem

fins lucrativos

Óleos minerais usados RAP (Entidade gestora

ou Sistemas Individuais) Sogilub

Privadas, sem

fins lucrativos

Óleos alimentares a) Municípios/Produtor - -

Resíduos de construção e

demolição Municípios/Produtor - -

Equipamentos com PCB Produtor - -

Lamas do tratamento de

águas residuais Produtor - -

Este facto resulta das características dos resíduos (origem, composição, etc.), mas

também, em parte, do enquadramento definido a nível comunitário. Os modelos de

gestão de resíduos existentes estão deste modo organizados assumindo duas

abordagens distintas:

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• Por origem de resíduo (resíduo sectorial, tipologia principal), em que se

englobam no mesmo conceito os resíduos produzidos num dado tipo de

actividade económica. Por exemplo, os resíduos industriais são os resíduos

produzidos pelas actividades com CAE industrial (indústria extractiva,

transformadora e restauração) e pelos resíduos resultantes da produção e

distribuição de electricidade, gás e água. Neste contexto, as tipologias de

resíduos existentes segundo esta abordagem são: Resíduos Industriais,

Resíduos Hospitalares, Resíduos Urbanos e equiparados, Resíduos Agrícolas.

A nível nacional, os resíduos urbanos e equiparados encontram-se sujeitos

ao modelo de gestão dos resíduos urbanos e, os restantes, ao modelo do

produtor/detentor, excepto quando os resíduos provêm de produtos com

legislação específica.

• Por produto (fluxo especifico de resíduos e outros resíduos), em que se

englobam os resíduos provenientes dos mesmos tipos de produtos em fim

de vida, independentemente da origem. Deste modo, as tipologias

consideradas segundo esta abordagem são os Resíduos de Embalagens, os

Óleos Minerais Usados, os Resíduos de Pilhas e Acumuladores, os Pneus

Usados, os Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos e os Veículos

em Fim de Vida, bem como os fluxos de resíduos assentes na

responsabilidade do produtor do resíduo, tais como os Resíduos de

Construção e Demolição, os óleos alimentares usados e os Resíduos

Biodegradáveis. A maior parte destes resíduos encontra-se sujeito ao

princípio da responsabilidade alargada do produtor.

A abordagem diferenciada para os vários resíduos sectoriais/fluxos específicos

provoca alguns constrangimentos a nível da responsabilidade da gestão. Existem

tipologias que se relacionam entre si, como se esquematiza na Tabela 3.5. Uma

fracção das embalagens tem origem doméstica e está integrada no fluxo dos

resíduos urbanos e equiparados e outra fracção tem origem industrial e está

integrada nos resíduos industriais. Outros exemplos são os veículos em fim de vida

e os óleos usados. Parte da massa dos veículos em fim de vida é devida a óleos

usados (óleos de motor, fluidos de travões, entre outros), mas nem todos os óleos

usados são provenientes dos veículos em fim de vida. Alguns resultam da

substituição nos veículos por óleos novos e outros resultam de actividades

industriais.

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Tabela 3.5 – Principais sobreposições de conceitos e de estatísticas

Estatísticas

Conceitos

RU

RI

RA

RH

Embalagens

Lamas

Óleos Usados

Óleos Alim

entares Usados

Equip. PCB’s

Pilhas e Acumuladores

Pneus Usados

RCD

REEE

VFV

RU RI � RA � � RH � Embalagens � � � � Lamas � � � Óleos Usados � Óleos Alimentares Usados � Equip. PCB’s � � Pilhas e Acumuladores � � Pneus Usados RCD � REEE � � � � VFV � � � �

Por outro lado, existem alguns tipos de resíduos que têm características físico-

químicas bastante semelhantes (ex. VFV, REEE, sucata industrial) pelo que as

tecnologias utilizadas para a sua valorização são idênticas. Existe deste modo todo

o interesse em que se verifique uma maior articulação dos diversos modelos de

gestão/entidades responsáveis por cada resíduo sectorial/fluxo específico, de modo

a garantir sinergias na gestão dos resíduos e optimizar os recursos alocados.

Os modelos implementados, sobretudo nos últimos anos, contribuíram para uma

melhoria dos padrões de produção e valorização de resíduos e de uso de recursos,

embora alguns constrangimentos persistam, conforme é analisado neste capítulo.

Por exemplo, a nível nacional, a implementação do conceito da Responsabilidade

Alargada do Produtor (RAP) foi assente em modelos de recolha agregada com

entidades gestoras e resultou, na essência, na melhoria do desempenho das

actividades de gestão de resíduos. O sector tornou-se mais organizado e

monitorizado e melhor conhecido pelos diferentes agentes. Ocorreu, de modo geral,

um aumento da quantidade e qualidade dos resíduos recuperados.

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28

Adicionalmente, as políticas de RAP e as entidades gestoras desenvolvidas no seu

âmbito conduziram a uma diminuição concreta dos impactes ambientais associados

à gestão de fim de vida dos produtos abrangidos2 e, igualmente, de todo o seu ciclo

de vida, como é o caso da gestão de pneus usados (Ferrão et al., 2008). No

entanto, existem ainda muitas oportunidades de melhoria, pelo que a redução do

impacte ambiental associado à gestão de resíduos deve continuar a ser uma

preocupação presente para os próximos anos.

Na Tabela 3.6 apresenta-se uma análise dos determinantes do sucesso das

entidades gestoras de fluxos específicos de resíduos, tendo em conta as

características dos resíduos e dos sistemas integrados e dos resultados alcançados

até à data (adaptado de Ribeiro, 2008).

Apesar dos progressos alcançados, é necessário um aprofundamento das

estratégias/medidas implementadas pelas entidades gestoras, quer a nível das

sinergias de gestão, quer a nível do alargamento e integração da sua actividade a

montante na cadeia de valor. Por exemplo, as entidades gestoras podem

transformar-se em agentes activos de promoção do ecodesign e promoverem a

constituição de valências nacionais em tecnologias de valorização material e

energética.

2 Nomeadamente por evitarem que uma parcela importante de resíduos seja depositada em aterro.

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29

Tabela 3.6 – Determinantes do sucesso das entidades gestoras.

Fluxo Entidade gestora

Determinantes para melhorar a eficácia dos sistemas

Adesão de novos

produtores

Comport. dos consum./

produtores de resíduos

Rede de recolha

Tecnologias de fim de vida

Importância da I&D e da

comunicação e sensibilização

Regulação, monitorização/controlo pelo

Estado Português

Competitiv. do

mercado de fim de vida

Aceitação dos

reciclados

Embalagens SPV ++ +++ +++ + +++ ++ ++ ++

Embalagens de medicamentos

Valormed + +++ ++ + +++ +++ + +

Embalagens de produtos fitofarmacêuticos

Sigeru + +++ ++ ++ +++ ++ ++ +

Pneus usados Valorpneu + + + ++ ++ ++ +++ +++

Óleos usados Sogilub + ++ ++ +++ ++ +++ ++ ++

VFV Valorcar + ++ ++ + ++ +++ + +

REEE Amb3E ++ +++ +++ ++ +++ ++ ++ +

ERP ++ +++ +++ ++ +++ ++ ++ +

Pilhas e acumuladores portáteis

Ecopilhas + +++ ++ ++ +++ ++ ++ +

Notas: Análise realizada tendo em conta as características dos resíduos e dos sistemas integrados actuais e dos resultados alcançados até à data (adaptado de

Ribeiro, 2008).

+++ : muito relevante, ++ : relevante, + : pouco relevante.

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30

Verifica-se também que, nos últimos anos, a estratégia adoptada a nível nacional

esteve sobretudo centrada no “lado da oferta de resíduos” (“waste push policies”),

ou seja, orientada para o estabelecimento de locais de recepção de resíduos,

promoção da sua separação na origem, construção de unidades de tratamento,

valorização e eliminação e estabelecimento de metas legais para a reciclagem de

resíduos e outras formas de valorização (incluindo a valorização energética), entre

outras. As embalagens são um exemplo desta evidência. Tendo em conta sobretudo

a quantidade crescente de resíduos de embalagens produzidos, considerou-se a

nível comunitário que era necessário um enquadramento específico para este fluxo

de resíduos, que se traduz, por exemplo, na existência de metas de reciclagem

globais para resíduos de embalagens, bem como sectoriais para diferentes tipos de

materiais constituintes desses resíduos (papel/cartão, vidro, plástico, metal e

madeira). No entanto, resíduos com características físico-químicas semelhantes não

têm actualmente metas de reciclagem equivalentes (ex. papel de escritório).

Torna-se assim necessário compatibilizar esta lógica com a dimensão “material”,

dado que é esta a determinante ao nível das tecnologias de valorização. Uma

política de resíduos orientada simultaneamente para os materiais, para a origem e

para o produto, poderia funcionar como um incentivo à obtenção de melhores

padrões de gestão de resíduos. A integração desta dimensão, sobretudo tendo em

conta os modelos e as infra-estruturas existentes é um assunto complexo objecto

de investigação/discussão e que se deve aprofundar no futuro sem prejuízo para a

dimensão produto, a qual é fundamental no contexto do ecodesign e da integração

da política de gestão de resíduos a montante (uso de recursos). O modelo actual de

sistema implementado não permite, no entanto, avançar a curto prazo para uma

valorização centrada no “material” sobretudo pelo potencial risco de

desresponsabilização de entidades gestoras/agentes, face, designadamente, à

dificuldade de estabelecer uma contribuição individualizada associada a uma meta

comum. Em acréscimo, no sector de gestão de resíduos ainda actuam bastantes

empresas de pequena dimensão, pouco qualificadas, tanto ao nível dos recursos

humanos como ao nível dos processos e da tecnologia empregue.

Uma das causas deriva do estigma associado aos resíduos que, apesar da evolução

verificada nos últimos anos, ainda são genericamente entendidos como “lixo”, ou

seja, materiais/produtos sem valor sendo a sua gestão pouco valorizada e

considerada como potencial fonte de poluição (Comissão Europeia, 2005a), de

stress e de risco para a saúde humana (Rahardyan, 2004).

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31

A legislação introduzida ao longo do tempo traduziu-se em melhorias relativamente

à situação existente, mas importa reforçar a urgência da “qualificação” do sector

por outros instrumentos que não sejam de “comando e controlo”, nomeadamente,

ao nível da informação e formação, e do estímulo à economia de mercado,

promovendo a apetência pelo resíduo enquanto fonte de matérias-primas.

Neste sentido, o PNGR, deverá dar especial atenção à definição de acções

direccionadas para estas dimensões estratégicas.

3.3 Padrões de consumo de materiais e de produção e

tratamento de resíduos em Portugal

3.3.1 Relação entre o consumo de materiais e a produção de resíduos

Os resíduos são originados pelas inúmeras actividades de produção e consumo que

têm lugar na nossa sociedade. Estas actividades são alimentadas por recursos

naturais (matérias-primas e energia) que entram no ciclo económico

desempenhando uma determinada função ou serviço. Mais cedo ou mais tarde,

caso não sejam reaproveitados, estes recursos retornam ao ambiente mas já sob a

forma de resíduos ou emissões que constituem desperdícios das referidas

actividades.

Existe assim uma relação estreita, apesar de não linear nem directa, entre o

consumo de matérias-primas e a produção de resíduos. Isto porque, a interacção

existente entre os fluxos de entrada na economia (recursos) e os fluxos de saída da

economia (neste caso os resíduos) depende de vários factores, incluindo a estrutura

da economia, a dimensão da população, os padrões de produção e consumo e os

próprios padrões de reutilização e reciclagem, e pode ser desfasada no tempo,

devido aos diferentes períodos de vida útil dos produtos e à utilização que deles se

faz. Esta complexa interacção é frequentemente designada por “Metabolismo da

Economia”, o qual se encontra ilustrado na Figura 3.1.

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32

Figura 3.1 – Relação entre o sistema económico e o ambiente

(Nota: A vermelho tracejado destacam-se as fontes de produção de

resíduos. Os resíduos são uma forma de saída dos materiais da economia,

conjuntamente com as emissões para o ar, a água, os fluxos dissipativos e

as exportações. Os fluxos ocultos são os fluxos de materiais gerados para

tornar disponíveis os materiais com valor económico, não possuindo

qualquer valia económica mas constituindo pressão ambiental – ex.

escombros das minas e pedreiras, erosão ou dragagens)

Neste contexto, os materiais que entram na economia têm diferentes períodos de

vida útil dependendo das características dos materiais e dos produtos em que estão

incorporados. Duas categorias principais de produtos podem distinguir-se neste

âmbito: i) aqueles que possuem curtos períodos de vida (bens não duráveis), e que

se transformam rapidamente em resíduos (em menos de um ano) e ii) aqueles que

possuem um tempo de vida médio longo (bens duráveis), tornando-se resíduos

após um período de tempo superior a um ano. A primeira categoria inclui,

nomeadamente, a generalidade das embalagens e dos alimentos, e a segunda

inclui os edifícios, os veículos ou os equipamentos eléctricos e electrónicos.

Ambiente

Saídas (Exportaç ões)

Stock

Sistema de produç ão

Consumo de bens duráveis

Entradas (extracç ão dom éstica)

Economia

Consumo de bens não duráveis

Res í duos para reutilizar/reciclar

Sa ídas

(materiais descartados)

Entradas (Importações)

Emissões para o ar e água, fluxos dissipativos, emissões para o solo

Fluxo ocultos

Ambiente

Saídas (Exportaç ões)

Stock

Sistema de produç ão

Consumo de bens duráveis

Entradas (extracç ão dom éstica)

Economia

Consumo de bens não duráveis

Res í duos para reutilizar/reciclar

Sa ídas

(materiais descartados)

Entradas (Importações)

Emissões para o ar e água, fluxos dissipativos, emissões para o solo

Fluxo ocultos

Saídas (Exportaç ões)

Stock

Sistema de produç ão

Consumo de bens duráveis

Entradas (extracç ão dom éstica)

Economia

Consumo de bens não duráveis

Res í duos para reutilizar/reciclar

Sa ídas

(materiais descartados)

Entradas (Importações)

Emissões para o ar e água, fluxos dissipativos, emissões para o solo

Fluxos ocultos

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33

No que diz respeito aos bens não duráveis, a quantidade de resíduos produzida está

quase sempre directamente relacionada com as suas vendas. Para os bens duráveis

isto não ocorre imediatamente, na medida em que os produtos permanecem mais

tempo na economia. O nível do seu stock é assim mais elevado e a produção de

resíduos é dependente das vendas no passado.

O tempo médio de vida e a produção de resíduos, por produto e por ano, podem

também mudar devido à dinâmica dos mercados, a qual pode causar

constrangimentos às políticas aplicáveis aos resíduos e às relações entre os agentes

económicos.

Esta associação estreita entre recursos e resíduos apela a uma abordagem da

prevenção e gestão dos resíduos num contexto mais alargado, de gestão de

recursos naturais e das políticas de produção e consumo.

Nesta medida, os problemas relacionados com os resíduos não resultam apenas da

sua produção3 (tendo em conta a definição legal aplicável), mas principalmente do

seu insuficiente reaproveitamento como materiais úteis, quando tecnicamente

possível, e de alguma gestão menos adequada, que pode originar impactes

ambientais significativos (nomeadamente através da mobilização para o meio

natural de substâncias perigosas).

Promover o fecho dos ciclos dos materiais é um aspecto fundamental para garantir

uma gestão de resíduos mais sustentável, direccionando as perdas (materiais e

energéticas) para novas aplicações produtivas reduzindo assim, simultaneamente,

a pressão sobre os recursos naturais e sobre a capacidade da Natureza para

regenerar os resíduos.

A sociedade em geral, e a sociedade Portuguesa em particular, terão ainda um

longo percurso para concretizar este desígnio. A sociedade contemporânea é ainda

profundamente ineficiente na forma como usa os seus recursos materiais, sendo

que actualmente apenas uma fracção muito reduzida dos materiais constituintes

dos produtos em fim de vida é reintroduzida no sistema económico.

3 Apesar de a produção de resíduos poder constituir um sinal importante da eficiência com que a economia utiliza os recursos naturais e produz bens e produtos úteis.

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34

O balanço de materiais de Portugal revela que no ano 2007 cerca de 50% do total

de resíduos produzidos nesse ano4, foram reempregues pelo sistema económico em

aplicações úteis. Os números tornam-se mais significativos quando se compara com

o total de materiais consumidos pelo sistema económico e se verifica que apenas

6% dos recursos consumidos foram valorizados não energeticamente, como pode

ser observado na Figura 3.2.

Figura 3.2 - Balanço de materiais da economia Portuguesa (ano base: 2007)

Fontes: INE, 2010; Niza, 2007; APA,2010,

* Deste valor, cerca de 11% é relativo à valorização de fluxos específicos

Nota: Os valores entre parêntesis referem-se às percentagens em relação ao total de

entradas de materiais.

Nos parágrafos seguintes efectua-se uma descrição mais detalhada dos padrões

actuais de entradas de materiais e de produção e gestão de resíduos.

4 A parcela Resíduos é a soma dos resíduos urbanos e não urbanos, conforme APA (2010ª) e APA (2010b). Nesta parcela não estão incluídos os resíduos industriais que são resultantes das actividades de extracção (CAE 10 a 14, ex. resíduos de pedreiras), que são contabilizados como “fluxos ocultos” em termos de entrada de materiais, e como tal, em termos de saídas. Como referido anteriormente, os fluxos ocultos são os fluxos de materiais gerados para tornar disponíveis os materiais com valor económico, não possuindo qualquer valia económica mas constituindo pressão ambiental (ex. escombros das minas e pedreiras, erosão ou dragagens).

Extracção

Interna de

Materiais

+

Importações

Resíduos

Fluxos Dissipativos

Acréscimos

líquidos ao

stock

material

248 Mt

165 Mt

(67%)

31 Mt (12,5%)

21 Mt (8,5%)

30 Mt (12,1%)

1,03Mt (0,4%)

Exportações

Emissões

para o ar

Entradas Acumulação Saídas

Valorização não energética 15,7* Mt (6%)

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35

3.3.2 Padrões de consumo de materiais

A extracção de recursos em Portugal aumentou continuamente entre 1980 e 2004,

registando aumentos no período pós-adesão à CEE (1986), em meados dos anos 90

e no início do novo século, notando-se um abrandamento entre 2002 e 2005

voltando a crescer a partir de 2006.

Figura 3.3 – Extracção de recursos, Portugal, 1980-2007

Fonte: Com base em EUROSTAT & IFF, 2007, INE 2010.

A extracção total cresceu cerca de 90% entre 1980 e 2007, registando cerca de

190 milhões de toneladas de materiais em 2007.

Segundo um estudo sobre o padrão de consumo de materiais em Portugal (Niza,

2007), a extracção de Biomassa foi a que sofreu um aumento maior em boa parte

daquele período, seguida da extracção de minerais para a indústria e a construção

– ex. areia, argilas, calcário. A extracção de minerais metálicos foi pouco

expressiva relativamente ao total, tendo mesmo diminuído nos últimos anos. A

extracção de combustíveis fósseis foi sempre negligenciável em relação ao total.

O consumo de materiais de Portugal é essencialmente de origem doméstica, mas as

importações registaram um aumento de 65% entre 1980 e 2007, representando

em 2005, mais de 55 milhões de toneladas, cerca de 20% do total de materiais.

0

50

100

150

200

250

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36

Figura 3.4 – Componente doméstica e importada do consumo de materiais,

Portugal, 1980-2007

Fonte: Com base em EUROSTAT & IFF, 2007 e INE, 2010.

Segundo Niza (2007) esse aumento deveu-se ao crescimento quase continuado da

importação de combustíveis desde o início dos anos noventa e às importações de

minerais metálicos e não metálicos no final desse período.

De realçar que, actualmente, do total de materiais consumidos no país,

aproximadamente 80% são recursos não renováveis (combustíveis fósseis e

minerais metálicos e não metálicos), o que significa que o consumo de recursos

renováveis no país (biomassa agrícola, florestal e pescas) se situa abaixo dos 20%.

As exportações representam uma fracção muito pequena dos materiais

processados, apesar de terem aumentado mais de 90% entre 1980 e 2007 (de

cerca de 6 para 30 milhões de toneladas).

Em síntese, na economia Portuguesa, a extracção de materiais dá-se

essencialmente para consumo doméstico, sendo as exportações físicas

relativamente baixas.

Comparando a evolução do consumo de materiais em diferentes países da UE no

período entre 1980 e 2004 (ver Figura 3.5), podem-se identificar essencialmente

três padrões de evolução.

0

50

100

150

200

250

300

Extracção Doméstica Importações

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37

Figura 3.5 – Evolução do Consumo de materiais per capita em relação ao PIB per

capita, por Estado-membro (UE15), 1980 -2004

Um grupo de países em que o crescimento do PIB per capita é acompanhado por

um aumento acentuado do consumo de materiais, como é o caso da economia

Portuguesa, da Espanha e da Grécia e, em menor grau, da Dinamarca, Suécia,

Bélgica/Luxemburgo, Finlândia e Áustria. Outro grupo, em que o padrão de

evolução se caracteriza por um crescimento do rendimento acompanhado por um

crescimento menos rápido do consumo de materiais, como na Holanda, na Irlanda,

no Reino Unido, na Itália e na Finlândia. Finalmente, dois países em que o

crescimento do rendimento é acompanhado por um decréscimo do consumo de

materiais por habitante, a França e a Alemanha.

Portugal apresenta o rendimento per capita mais baixo dos 15 e, ao mesmo tempo,

o valor mais baixo de consumo de materiais por habitante. No entanto, as taxas de

crescimento dos indicadores de consumo de materiais, extracção doméstica e

importações, 56% e 61%, respectivamente, são as maiores da União Europeia,

para o período 1980-2004.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00

Co

nsu

mo

de

mat

eri

ais

pe

r ca

pit

a (t

)

PIB per capita (1000 EURO)

2004

1980

Reino Unido

Itália

UE15

França

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38

3.3.3 Padrões de produção e tratamento de resíduos

As últimas estimativas disponíveis do Eurostat apontam para que na União Europeia

tenham sido produzidos 2652 Mt resíduos, em 2008. Isto significa que a produção

média per capita destes resíduos foi de cerca de 5,3 t/hab.ano na UE. Deste valor,

101 Mt diziam respeito a resíduos perigosos (Eurostat, 2010a). No que respeita a

Portugal, dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do INE apontam para

que no mesmo ano tenham sido produzidos 5,1 Mt de resíduos urbanos e

equiparados a que acrescem 31,6 Mt de resíduos não urbanos, ou seja,

aproximadamente 1,4% de produção de resíduos da UE, o que significa uma

capitação nacional de produção de resíduos abaixo da média europeia, ou seja, 3,4

t/hab.ano.

Relativamente a 2009, os dados existentes para Portugal apontam para um

crescimento da produção de resíduos urbanos e equiparados e um decréscimo da

produção de resíduos não urbanos face a 2006, tendo sido produzidos no nosso

país 5,2 Mt de resíduos urbanos e equiparados e 23,7 Mt de resíduos não urbanos.

A nível dos resíduos urbanos e equiparados, uma parte significativa é eliminada em

aterro, como se demonstra na Tabela 3.7. Em 2009, apenas 38% dos resíduos

urbanos e equiparados foram sujeitos a valorização, sendo que os restantes

resíduos produzidos foram colocados em aterro.

Tabela 3.7 – Quantitativos de Resíduos Urbanos e equiparados por Operação de

Gestão

Ano Aterro

Valorização

Energética

Valorização

Orgânica

Recolha

Selectiva Total

(t) (%) (t) (%) (t) (%) (t) % (t)

2009 3.200.676 62,0 958.883 18,6 418.404 8,1 606.629 11,7 5.184.592

2008 3.372.505 65,5 869.262 16,9 377.175 7,3 535.492 10,4 5.154.434

2007 3.014.311 64,8 825.938 17,8 318.269 6,8 489.703 10,5 4.648.222

2006 3.040.953 65,5 854.578 18,4 298.600 6,4 446.973 9,6 4.641.103

2005 2.838.373 63,5 937.102 21,0 310.433 6,9 384.961 8,6 4.470.869

Fonte: APA (2010).

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39

A nível dos resíduos não urbanos, a situação é um pouco mais favorável, tendo em

conta os últimos dados obtidos pela APA, os quais foram posteriormente objecto de

tratamento estatístico pelo, INE, de acordo com a metodologia descrita no Anexo A.

Em 2009, 49,5% dos resíduos não urbanos produzidos foram valorizados

materialmente ou energeticamente, enquanto que 50,5% foram sujeitos a

eliminação, sobretudo através do recurso ao aterro (ver Tabela 3.8).

Tabela 3.8 - Destinos dos Resíduos Não Urbanos em Portugal, por tipo de

tratamento

Ano

Valorização

Energética

Outras Operações

de Valorização

Eliminação por

deposição no

solo

Outras

operações de

eliminação Total

(t)

(t) (%) (t) (%) (t) (%) (t) (%)

2009 710.438 3,0 10.995.549 46,5 9.905.068 41,9 2.048.821 8,6 23.659.876

2008 569.312 1,8 20.165.159 63,8% 8.106.525 25,7 2.750.731 8,7 31.591.727

2007 581.714 1,9 14.891.764 49,2 11.870.331 39,3 2.896.753 9,6 30.240.562

2006 714.925 2,3 8.298.699* 26,6 10.173.744 32,7 1.323.584* 4,2 31.155.301

2005 1.619.744 5,2 10.722.957* 34,5 11.528.291 37,1 262.501* 0,8 31.096.302

2004 1.620.688 6,6 10.118.861* 41,0 7.904.092 32,0 240.973* 1,0 24.689.088

* Os valores relativos a determinadas operações de valorização e de eliminação, em 2004, 2005 e

2006, não se encontravam disponíveis pelo que a soma das parcelas é inferior ao total de resíduos

correspondente a esses anos.

Fonte: APA/INE (2010).

De realçar que, contrariamente ao padrão de crescimento verificado para os

resíduos urbanos e equiparados, a nível dos resíduos não urbanos verificou-se que

a quantidade de resíduos produzidos diminuiu em 2009 face a anos anteriores (ver

Tabela 3.8 e Anexo B), sendo que uma das razões para este facto poderá estar

associada ao abrandamento económico, que se reflectiu, por exemplo, na

actividade do sector da construção e obras públicas.

Do total de resíduos não urbanos produzidos em Portugal em 2009, a maior parte

são considerados resíduos não perigosos, enquanto 10,1% são considerados como

resíduos perigosos.

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40

Considerando em conjunto o total de resíduos produzidos em Portugal, ou seja, a

soma dos resíduos urbanos e equiparados com os resíduos não urbanos, verifica-se

que foram produzidos 28,8 Mt de resíduos em 2009, sendo que destes, 45,4%

foram depositados em aterro, 7,1% sujeitos a outras operações de eliminação,

5,8% valorizados energeticamente e 41,7% sujeitos a outras operações de

valorização, o que inclui, por exemplo, a reciclagem e a valorização orgânica, ou

seja, neste caso os resíduos voltaram a ser reintroduzidos na economia como

matérias-primas secundárias, evitando o consumo de recursos primários (Figura

3.6).

Figura 3.6 – Produção e destino final de resíduos em Portugal, 2009

Fontes: Com base em dados obtidos pela APA que posteriormente foram

objecto de tratamento estatístico pelo INE, tal como pormenorizado no Anexo

A.

O destino final dos resíduos foi assegurado sobretudo por unidades nacionais de

valorização e eliminação. No anexo C apresenta-se uma lista das unidades

existentes actualmente em território nacional, nomeadamente as unidades de

eliminação e co-incineração. Por outro lado, existem alguns locais que serviram

para eliminação de resíduos, que, devido ao seu grau de contaminação, necessitam

de ser reabilitados. No Anexo D apresenta-se a lista destes locais, bem como as

medidas previstas para a sua descontaminação.

Resíduos

não

urbanos

23,7 Mt

Resíduos

urbanos

5,1 Mt

Valorização energética

1,7 Mt (5,8%)

Valorização material

e outras operações

de valorização

12,0 Mt (41,7%)

Aterro e deposição no solo

13,1 Mt (45,4%)

Produção Destino Final

Outras operações de eliminação 2,0 Mt (7,1%)

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41

Comparando com os seus parceiros europeus, verifica-se que Portugal se encontra

próximo do padrão médio de tratamento de resíduos da União Europeia, que se

situou, em 2008, nos 51,7% de resíduos eliminados em aterro ou por eliminação

em terra ou descarga em aquíferos, 1,8% de resíduos incinerados e 46,5% de

resíduos valorizados (Eurostat 2010a). Em relação à evolução temporal da

produção de resíduos, sem prejuízo da redução verificada em Portugal em 2009 no

que respeita aos resíduos não urbanos, que se depreende conjuntural, o nosso país,

à semelhança da generalidade dos países europeus, não parece estar a conseguir

reduzir a quantidade de resíduos que produz em termos absolutos. Ou seja, o

objectivo da prevenção da geração de resíduos que constitui o primeiro objectivo da

política dos 3 R’s não está a ser conseguido (Comissão Europeia, 2003a; Comissão

Europeia, 2010).

Por exemplo, a evolução temporal da produção de alguns dos resíduos

considerados relevantes, como os resíduos sólidos urbanos (Figura 3.7) ou as

embalagens (Figura 3.8), indicam que nestas categorias a tendência geral foi de

crescimento da produção a nível pan-europeu, mais evidente em alguns países do

que em outros.

Figura 3.7 – Produção de resíduos urbanos na UE e em Portugal (kg/capita)

Fonte: AEA, http://www.eea.europa.eu/, Indicadores – CSI016, Setembro de

2009.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

kg

/ca

pit

a

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

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42

Figura 3.8 – Produção de resíduos de embalagem na Europa e em Portugal

(kg/capita)

Fonte: AEA, http://www.eea.europa.eu/, Indicadores – CSI017, Dezembro de 2009.

Em termos de tratamento de resíduos, verifica-se que o objectivo de promoção do

fecho do ciclo dos materiais com vista a reduzir o impacte ambiental da utilização

dos recursos naturais ainda não se encontra totalmente formalizado e integrado nos

diferentes níveis normativos e processos de tomada de decisão, como reconhecido

pela UE (Comissão Europeia, 2005b), o que se reflecte nos actuais padrões de

recolha e valorização de resíduos, quer a nível europeu, quer a nível nacional.

Por outro lado, verifica-se que Portugal, quando comparado com outros países,

sobretudo países mais desenvolvidos, ainda apresenta níveis de reciclagem e

valorização pouco elevados, sendo exemplos disso novamente os resíduos urbanos

e os resíduos de embalagem (ver por exemplo Figura 3.9, Figura 3.10 e Eurostat

(2010)). Não obstante, a evolução nacional tende neste domínio para a

convergência. De salientar ainda que, os países que apresentam taxas de desvio de

aterro superiores e melhores desempenhos em termos de reciclagem (Alemanha,

Suécia, Holanda,…) são geralmente os que mais recorrem a incineração, em virtude

da política muito restritiva de deposição em aterro (assente designadamente numa

proibição de deposição em aterro ou através da aplicação de taxas de deposição

muito elevadas).

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Figura 3.9 – Resíduos urbanos colocados em aterro (2007).

Fonte: AEA, http://www.eea.europa.eu/, Indicadores – CSI016, Setembro de 2009.

Figura 3.10 – Reciclagem e valorização de resíduos de embalagens em vários

países europeus (2007)

Fonte: Eurostat, Environmental Data Centre on Waste, Packaging waste, Março de

2010.

Nota: Em relação às metas, existe uma derrogação para Portugal. Neste

contexto, a meta de 2008 necessita de ser alcançada pelo nosso país em 2011.

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Existem, no entanto, algumas excepções onde se verifica o contrário, como é o

caso dos pneus usados. Neste tipo de resíduo, Portugal apresenta uma taxa de

recauchutagem que é mais do dobro da média europeia, sendo igualmente dos

países europeus que mais aproveita os materiais constituintes dos pneus usados

para novas aplicações.

Figura 3.11 – Destinos para os pneus usados gerados (2008 e 2009).

Fonte: Valorpneu (2010). Com base em dados de ETRMA relativos a 2008- ELTs

managing companies in Europe.

Nota: Valores do SGPU considerados como representativos do total nacional.

No que respeita aos fluxos específicos de resíduos, tem existido um progresso

assinalável a nível da recolha e valorização destes fluxos, como se pode verificar

pela análise do Anexo B, sobretudo num cenário de diminuição da produção de

alguns dos resíduos face ao abrandamento económico verificado nos últimos anos,

como é o caso dos pneus usados e óleos usados (ver por exemplo Valorpneu

(2010) e Sogilub (2010)). Para este resultado muito contribuiu a implementação do

conceito da responsabilidade alargada do produtor a estes resíduos, formalizado na

constituição de entidades gestoras de resíduos.

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Relativamente ao movimento transfronteiriço de resíduos, apesar do crescimento

contínuo das transferências de Portugal para o exterior entre 2005 e 2008, em

2009 o quantitativo total de resíduos transferidos de Portugal destinados a

operações de valorização e eliminação foi de 62.503 toneladas, tendo havido um

decréscimo de cerca de 68 % em relação a 2008 (Tabela 3.9).

Tabela 3.9 - Quantitativos totais de resíduos transferidos de Portugal para

operações de valorização e eliminação

ANO Valorização (t) Eliminação (t) Total (t)

2005 18.967 94.815 113.782

2006 22.841 98.495 121.336

2007 57.236 117.821 175.057

2008 40.113 154.709 194.822

2009 52.485 10.019 62.504

Fonte: APA (2010d)

Este decréscimo deve-se nomeadamente ao facto, de Portugal já se encontrar

dotado de infra-estruturas que permitem a gestão da maioria dos RIP produzidos a

nível nacional, pelo que a APA, desde 1 de Janeiro de 2009, procede a objecções às

transferências de resíduos de Portugal destinadas a operações de eliminação, caso

os resíduos possam ser submetidos a eliminação nos Centros Integrados de

Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos (CIRVER).

Contudo, durante o ano de 2009, realizaram-se ainda transferências de resíduos

destinadas a eliminação que incluem:

• Transferências autorizadas pela APA antes de 1 de Janeiro de 2009;

• Transferências ao abrigo de processos de notificação, que deram entrada

antes de 1 de Janeiro de 2009, tendo sido autorizados ainda em 2009.

Em sentido contrário, os montantes têm sido relativamente baixos. Em 2009 o

quantitativo total de resíduos transferidos para Portugal destinados a operações de

valorização foi de 1.195 toneladas, não se verificando transferências de resíduos

destinados a operações de eliminação. Os resíduos transferidos dizem respeito a

resíduos combustíveis - combustíveis derivados de resíduos, num total de 12

toneladas, destinados a valorização energética e Outros combustíveis – incluindo

misturas, num total de 1.182 toneladas, destinados a refinação de óleos usados.

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Pelo exposto anteriormente, tendo em conta os progressos verificados nos últimos

anos, fica patente que, apesar de o caminho a percorrer ainda ser longo, Portugal

apresenta capacidade para tendencialmente fechar os seus ciclos de materiais

visando alcançar uma economia tendencialmente circular e com altos níveis de

desempenho no aproveitamento dos recursos materiais. O PNGR constitui-se como

um instrumento fundamental para esse efeito.

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4. Síntese da análise de estratégias internacionais

De acordo com a International Solid Waste Association (ISWA) e a Organização das

Nações Unidas (ONU) (2002), os Estados-membros da União Europeia atingiram,

na generalidade, o grau mais avançado do mundo em termos de gestão dos

resíduos. Para isso muito contribuiu a “Directiva Aterros” (Directiva 1999/31/CE)

que tem conduzido a uma sistemática redução dos materiais depositados em

aterro, em resultado de uma crescente recolha selectiva de materiais e

aproveitamento de energia.

As políticas da União para os resíduos têm sido extremamente importantes nos

resultados globais atingidos mas as políticas nacionais têm determinado em grande

medida os resultados específicos. As opções de gestão de resíduos dependem em

grande medida das instalações, infra-estruturas e estruturas de governação

relativas à gestão dos resíduos.

Num estudo recente, a Agência Europeia do Ambiente (AEA), classificou os países

da União segundo três tipologias, de acordo com as suas estratégias para

prevenção da deposição de resíduos sólidos urbanos e equiparados em aterros e as

percentagens relativas de deposição, valorização de materiais (essencialmente

reciclagem e compostagem) e incineração (EEA, 2007).

O primeiro grupo inclui os países que mantêm elevados níveis de valorização de

materiais e de incineração e níveis relativamente baixos de deposição em aterro.

O segundo grupo diz respeito aos países com taxas elevadas de valorização de

materiais e níveis médios de incineração e de deposição em aterro.

Finalmente, no terceiro grupo de países, os níveis de valorização e de incineração

de materiais são baixos e a dependência da deposição em aterro ainda é

relativamente elevada.

No primeiro grupo estão a Dinamarca, a Suécia, a França, a Bélgica, a Holanda, e o

Luxemburgo, sendo que nos três primeiros casos a valorização energética

ultrapassa a valorização material. Uma característica deste grupo de países é o

facto de diversos instrumentos de política terem sido introduzidos relativamente

cedo, mesmo antes da “Directiva Embalagens” (Directiva 94/62/CE) e da “Directiva

Aterros” terem sido adoptadas. À excepção do Luxemburgo, todos estes países

introduziram taxas ou coimas aplicáveis à deposição de resíduos biodegradáveis.

Estas coimas favoreceram fortemente o recurso à incineração como solução de

prevenção da deposição destes resíduos. A recolha selectiva de resíduos orgânicos

e de papel foi igualmente favorecida.

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O segundo grupo inclui a Áustria, a Finlândia, a Alemanha, a Hungria, a Itália, a

Irlanda e a Espanha. Uma característica geral deste grupo diz respeito ao facto de

diversos instrumentos de política terem sido introduzidos após a adopção da

Directiva Embalagens em 1994 e da Directiva Aterros, em 1999. Os sistemas de

gestão de embalagens em fim de vida foram criados na Alemanha e na Áustria no

início dos anos 90 tendo-se constituído como mecanismos orientadores dos

restantes países Europeus na adopção da Directiva Embalagens. Todos estes

países, à excepção de Espanha, introduziram coimas à deposição. Estas coimas,

particularmente as respeitantes aos resíduos biodegradáveis, traduziram-se na

Áustria e na Alemanha num aumento dos seus níveis de incineração nos últimos

anos. Apesar desta realidade os níveis de reciclagem e de compostagem têm-se

mantido elevados sendo estas taxas de valorização de materiais, actualmente, as

mais altas da Europa.

O terceiro grupo de países inclui essencialmente os novos Estados-membros -

Chipre, República Checa, Estónia, Grécia, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia,

Eslováquia e Eslovénia, em processo de implementação da regulamentação

Europeia, e os Estados-membros aos quais foi concedida uma prorrogação de

prazos de cumprimento das metas da Directiva Aterros, Reino Unido e Grécia, e da

Directiva Embalagens, Portugal (e Grécia também).

Naturalmente, estes agrupamentos propostos pela AEA seguem critérios

subjectivos, residindo a sua diferença particularmente na percentagem de resíduos

que vão para aterro, não assumindo uma posição crítica sobre a percentagem de

resíduos que são incinerados versus a percentagem de resíduos que são reciclados

ou compostados, solução assumida como preferencial em termos ambientais na

hierarquia de destino final dos resíduos. Segundo este critério os países que se

encontram em situação ambientalmente mais favorável são os do segundo grupo.

Como seria de esperar, os Planos de Gestão de Resíduos dos países reflectem, em

grande medida, a sua aposta em diferentes estratégias para a gestão dos resíduos.

Uma breve análise aos planos da Holanda, da Finlândia e da Inglaterra e Escócia

(Reino Unido) permite verificar estas diferentes apostas.O plano Holandês, o mais

antigo e com o horizonte mais próximo (2002-2012) reflecte claramente a aposta

na valorização energética dos resíduos como forma de os desviar do aterro e

garantir uma nova fonte de energia. Esta estratégia está claramente explanada no

seguinte objectivo: “Optimizar o aproveitamento do conteúdo energético dos

resíduos não reutilizáveis, visando contribuir para as políticas em torno das

alterações climáticas.

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Pretende-se que uma maior fracção de resíduos seja utilizada em indústrias com

grandes necessidades energéticas e que o desempenho energético das

incineradoras seja melhorado.”

No Reino Unido, os planos Inglês e Escocês, apesar de apresentarem alguns pontos

em comum (nomeadamente ao preconizarem a dissociação da utilização dos

recursos do crescimento económico), distinguem-se nos objectivos propostos e nas

metas a alcançar. Assim, se o plano Inglês aparenta ser relativamente pouco

inovador e essencialmente orientado para uma lógica pouco preventiva na fonte (a

prevenção é essencialmente focada no fim de vida dos produtos, procurando evitar

a deposição em aterro), o plano Escocês defende, por seu turno, um aumento da

eficiência na utilização dos recursos e, o que se apresenta como realmente inovador

em termos internacionais, uma forte preocupação com a justiça social ao defender

a compensação das injustiças ambientais sofridas por aqueles que têm que viver

com as consequências de uma sociedade de consumo.

Finalmente, o plano Finlandês para 2008-2016, cuja visão é a de uma sociedade

orientada para a reciclagem, reflecte a continuidade da aposta deste país no

aumento da eficiência na utilização dos recursos naturais, designadamente através

da optimização da recolha selectiva e do aumento da reciclagem e da

compostagem.

Os planos Finlandês e Escocês, na sua visão, nos objectivos que defendem e no tipo

de metas avançadas são aqueles que mais se aproximam do que se preconiza no

PNGR aqui proposto.

Uma síntese dos planos referidos anteriormente pode ser consultada no anexo E do

presente documento.

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50

5. Visão e objectivos estratégicos para a gestão de

resíduos (2011-2020)

5.1 Articulação do Plano com Políticas implementadas

ou em fase de implementação

A História evidencia uma tendência para um aumento do consumo dos recursos

naturais, com consequências ambientais e potencial escassez de recursos, muitos

deles finitos e não renováveis.

A preocupação com o consumo de recursos naturais tem vindo a aumentar5,

nomeadamente porque a análise dos fluxos de materiais associados ao

metabolismo das economias evidencia uma grande ineficiência na utilização dos

materiais e energia devido à baixa percentagem de matérias-primas que resultam

em produtos úteis.

Este facto resulta, em grande medida, das práticas subjacentes à fundação da

economia, época em que o homem tinha um impacte relativamente reduzido no

ambiente, tendo-se desenvolvido a ideia de que os sistemas naturais existiam para

servir o homem e tinham uma capacidade ilimitada para satisfazer as suas

necessidades. Durante muito tempo privilegiou-se assim a extracção de novos

materiais em detrimento da sua reutilização e reciclagem.

Relativamente a este aspecto, Portugal apresenta um elevado potencial para retirar

um maior rendimento dos recursos naturais utilizados, quando comparado com

outros países da União Europeia6. Esta realidade aponta para a importância, em

termos económicos e ambientais, de aumentar a produtividade dos recursos

naturais na economia, no quadro de um aumento global da produtividade do país,

assegurando que o aumento de eficiência seja equacionado de uma forma

integrada, ou seja, considerando quer as entradas quer as saídas do sistema.

5 Reflectindo esta preocupação, as Nações Unidas, através da UNEP, lançaram em 2007 o International Panel on the Sustainable Use of Natural Resources (homólogo ao IPCC, mas com uma dimensão menor), com o objectivo de contribuir para o aumento da eficiência do uso de recursos pelas economias num contexto de crescimento e para a redução dos impactes ambientais associados ao crescimento económico numa perspectiva de ciclo de vida (UNEP-DTIE, 2007) (ver igualmente http://www.unep.fr/scp/rpanel/). 6 Veja-se a título de exemplo o relatório Eurostat, 2007. Economy-wide Material Flow Accounts. Resource Productivity EU-15 1990-2004. European Commission. Luxembourg.

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A correlação entre políticas que visam uma utilização sustentável dos recursos e a

prevenção/valorização dos resíduos é um factor decisivo para este fim - a

prevenção da produção de resíduos, a reciclagem e outras formas de valorização

podem mesmo, em última análise, contribuir para a redução da extracção de

matérias-primas. Neste sentido, a gestão de resíduos é parte integrante do ciclo

socioeconómico. Como foi referido anteriormente, este aspecto é reconhecido pela

Comissão Europeia no seu 6º Programa quadro em matéria de ambiente, onde se

determina que as políticas para os resíduos não devem ser restritas e separadas

das políticas orientadas para os recursos naturais (UE, 2002).

Os stocks de materiais (acumulados sob a forma de infra-estruturas como edifícios

ou estradas ou sob a forma de bens duradouros como automóveis ou outros

equipamentos) representam também um desafio já que do ponto de vista da

contabilidade física, a acumulação de matérias em bens duráveis é uma das

principais características das sociedades industrializadas (Giljum et al., 2001). Ora,

o crescimento físico de uma economia está indelevelmente relacionado com a

formação de resíduos no futuro e a utilização e manutenção dos stocks de materiais

também requer habitualmente fluxos de materiais. Na UE, por exemplo, cerca de

60% da entrada anual directa de materiais contribui para aumentar o stock

material da economia (cerca de 10t por cidadão Europeu). Na actualidade, este

crescimento físico está muito proximamente relacionado com o crescimento das

áreas construídas e da procura energética para a manutenção dos edifícios e infra-

estruturas, o que afecta igualmente a capacidade futura para fornecer recursos

renováveis e para a regeneração dos recursos (Moll et al., 2005).

Existe assim uma relação estreita entre o consumo de matérias-primas e a

produção de resíduos. Essa relação, como se analisou anteriormente, não é linear

nem directa, na medida em que a interacção existente entre os fluxos de entrada

na economia (recursos) e os fluxos de saída da economia (neste caso de resíduos)

depende de vários factores, incluindo a estrutura da economia, a dimensão da

população, os padrões de produção e consumo e os próprios padrões de

reutilização e reciclagem, e é desfasada no tempo.

Neste contexto, uma politica de gestão de resíduos deve-se enquadrar numa

política mais ampla, direccionada para o aumento da eficiência da utilização dos

recursos naturais pela economia. Para este fim, existem duas abordagens a

destacar.

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A primeira abordagem subjacente ao novo paradigma determina que a política de

resíduos deve ser parte activa e uma força motriz da alteração dos processos

produtivos e do consumo, a montante, através da prevenção da produção de

resíduos. Esta contribui assim, para uma economia mais eficiente na forma como

usa os seus recursos materiais na produção de bens e serviços úteis.

Adicionalmente, apesar de em certos casos os problemas ambientais não serem

propriamente ao nível da produção de resíduos, mas sim quando estes são

devolvidos ao ambiente, é importante actuar a montante, por uma questão de

precaução. A prevenção da produção de resíduos é portanto um aspecto fulcral a

considerar, encontrando-se no nível hierárquico superior da gestão na Directiva-

quadro sobre resíduos.

A segunda diz respeito ao abandono da lógica linear de produção-consumo,

prevalecente, como se pode constatar no capítulo 3.3, ou seja, à promoção de uma

economia tendencialmente circular, em que os bens e produtos que deixam de ter

utilidade para os consumidores possam ser reintroduzidos na economia.

Neste contexto, assume especial destaque a promoção do fecho dos ciclos de

materiais cujo objectivo é o de direccionar os resíduos e perdas de energia para

novas aplicações produtivas. Esta abordagem visa evitar o consumo de novas

matérias-primas e reduzir a pressão sobre o ambiente sem prejuízo do crescimento

económico7. É o que acontece, a título de exemplo, com a reciclagem de sucata

ferrosa e não ferrosa, processo muito menos intensivo em energia do que a

produção de metais a partir dos seus minérios (um bom exemplo é o do alumínio).

Consequentemente, a quantidade de metais que está actualmente em stock na

economia, em edifícios, infra-estruturas e bens duráveis pode e deve ser vista

como fonte futura de matéria-prima, e não como fonte futura de resíduos, existindo

hoje tecnologia suficientemente desenvolvida para expandir estes exemplos.

7 No entanto, embora o aumento da eco-eficiência constitua uma condição necessária para assegurar a sustentabilidade a nível global, é reconhecidamente insuficiente para este fim (EEA, 1999b). A razão para esta insuficiência prende-se com o facto de o aumento de eco-eficiência poder ser compensado pelo aumento do consumo ou por alterações na estrutura de consumo (Heiskanen et al., 2000). Acontece em muitos casos que, por exemplo, os ganhos de eficiência na produção resultantes das evoluções tecnológicas e da organização do trabalho têm, curiosamente, consequências não desejáveis ao nível do consumo porque ao produzir-se um produto ou serviço mais eficiente (ou de uma forma mais eficiente) o produto ou serviço torna-se mais barato (ou permite maiores poupanças) conduzindo a um aumento da procura – aquilo que se ganha em eficiência em cada unidade de produto ou serviço perde-se em quantidade usada. A este fenómeno denomina-se efeito ricochete (rebound effect).

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Consequentemente, numa perspectiva de ciclo de vida, a gestão do stock físico

como fonte de matérias-primas deve ser prevista nas políticas, já que a gestão dos

resíduos que lhes estão ou virão a estar associados pode induzir benefícios

ambientais significativos, através da recuperação de materiais rejeitados,

incorporando-os em novos produtos ou transformando-os em energia, contribuindo

assim para a redução da utilização de matérias-primas virgens.

A analogia entre o sistema económico e os sistemas naturais traduz-se em vários

princípios que implicam que as preocupações ambientais devam ser uma parte

integrante da concepção de qualquer sistema antropogénico:

• Produtos, processos, serviços e operações podem, em último caso, produzir

resíduos, mas não devem implicar perdas (materiais e energéticas).

• Cada processo, produto, infra-estrutura física e sistema tecnológico deve ser

planeado de modo a poder ser facilmente adaptado, no futuro, a inovações

ambientais.

• Os processos produtivos devem ser desenhados não só para produzir o

produto final especificado, mas também para serem capazes de originar

resíduos que possam ser incorporados no fabrico de outros produtos.

• As indústrias devem minimizar o uso de materiais e energia nos produtos,

processos, serviços e operações e tornar o processo de produção mais eficaz

e eficiente.

• Deve ser dada preferência ao uso de materiais com menor toxicidade.

• As indústrias devem utilizar preferencialmente os materiais reciclados em

detrimento das matérias-primas virgens, mesmo nos casos de materiais

comuns, sempre que isso conduza a uma melhoria ambiental.

• Os processos ou produtos devem ser concebidos de modo a preservar o

valor dos materiais utilizados (ex. facilitar a reciclagem, a separação de

componentes, entre outros) e a originar produtos com utilidade no seu fim

de vida.

• As infra-estruturas ou componentes devem ser desenvolvidas, construídas e

modificadas de modo a manter ou melhorar os habitats locais e a

diversidade de espécies e a minimizar os impactes locais e regionais.

Estes princípios traduzem alguns conceitos fundamentais, como a promoção do

fecho dos ciclos dos materiais, a eficiência energética, a produção mais limpa, a

desmaterialização, a adaptabilidade e o ciclo de vida.

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Associado intimamente ao desígnio do aumento da eficiência e à forma como a

economia utiliza os seus recursos, através de uma gestão de resíduos, encontra-se

o desafio de redução dos impactes ambientais. É importante promover uma

continuada redução do impacte ambiental associado às actividades de gestão de

resíduos, nomeadamente, limitando a perigosidade dos resíduos produzidos

(prevenção qualitativa) pela redução da quantidade de substâncias perigosas

utilizadas nos produtos que dão origem a esses resíduos (através do ecodesign),

limitando o transporte de resíduos e procurando evitar que estes sejam eliminados

ou valorizados longe dos seus locais de produção, desde que existam soluções

adequadas para o efeito (ex. eco-parques industriais), resolvendo o passivo

ambiental existente ou através da inovação tecnológica, com a

introdução/desenvolvimento de tecnologias mais eficientes de tratamento,

valorização e eliminação.

No âmbito de políticas e estratégias já implementadas ou em fase de

implementação são abordadas questões que se prendem com objectivos

prosseguidos neste Plano pelo que o diagnóstico de potenciais pontos em comum e

a articulação ao nível do preconizado nestes traduzir-se-á em benefícios efectivos

no contexto do presente Plano nomeadamente quando da sua implementação e,

designadamente, com a sua monitorização. Assim, procedeu-se a uma breve

análise de como o PNGR se assume na especialidade ou em complementaridade e

como contribui para algumas das orientações políticas e estratégias ambientais

nacionais e europeias relevantes:

Estratégia Temática para a Utilização Sustentável de Recursos Naturais

A Estratégia para a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais é uma das

estratégias temáticas previstas pelo sexto programa de acção em matéria de

ambiente adoptado em 2002, que fixa as orientações para a acção da União

Europeia nos próximos 25 anos, tendo em vista uma utilização mais eficaz e

sustentável dos recursos naturais ao longo de todo o seu ciclo de vida, com o

objectivo de diminuir as pressões sobre o ambiente resultantes da produção e do

consumo destes recursos sem penalizar o desenvolvimento económico.

Algumas políticas como a Política Integrada de Produtos, são complementares desta

abordagem, que passa por melhorar o rendimento dos recursos, reduzir as

pressões ambientais em cada etapa do seu ciclo de vida, que compreende a sua

extracção ou recolha, a sua utilização e a sua eliminação final, e substituir os

recursos demasiado poluentes por outras soluções.

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55

Estas preocupações estão visivelmente patentes no PNGR, através da sua visão e

dos seus Objectivos Estratégicos que potenciam a promoção da eficiência da

utilização dos recursos naturais na economia e a prevenção ou redução dos

impactes adversos decorrentes da produção e gestão de resíduos, e a um nível

mais específico, a gestão e recuperação dos passivos ambientais, o fomento da

cidadania ambiental e do desempenho dos agentes e do conhecimento do sector

numa lógica de ciclo de vida.

Estratégia 2020

Consiste na estratégia de crescimento da União Europeia para a próxima década,

assente numa economia que se pretende “inteligente”, sustentável e inclusiva, com

o objectivo de atingir elevados níveis de emprego, produtividade e coesão social. A

UE estabeleceu objectivos ambiciosos nas áreas do emprego, inovação, educação,

inclusão social e clima/energia, a serem alcançados em 2020 e cada Estado

Membro adoptará as suas metas nacionais para cada uma destas áreas. Alguns dos

conceitos integrantes desta economia baseada num crescimento sustentável como

a “construção de uma economia de baixo carbono que utiliza os recursos de uma

forma eficiente”; a “protecção do ambiente” e o “desenvolvimento de novos

métodos de produção e de tecnologias verdes”, são preconizados no PNGR através

da promoção de padrões de produção e consumo responsáveis, da prevenção da

produção de resíduos e da redução da extracção dos recursos materiais e

energéticos, e do reaproveitamento dos materiais utilizados, reciclados e

valorizados no ciclo de vida dos produtos. Da mesma forma, a prevenção ou

redução dos impactes adversos decorrentes da produção e gestão de resíduos,

através do aumento de eficiência dos processos e tecnologias envolvidas na gestão

de resíduos, numa lógica de ciclo de vida, vai ao encontro dos objectivos desta

estratégia europeia.

Green Economy (GE)

A estratégia de desenvolvimento deve ser pensada no contexto dos desafios

económicos, sociais e ambientais que Portugal defronta. A política comunitária nas

últimas 2 décadas tem determinado a opção por políticas que promovam o

crescimento de uma Green Economy (GE) como componente chave da resposta aos

desafios emergentes impondo um repensar dos modelos de desenvolvimento

assentes num conceito de sustentabilidade.

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56

O caminho para uma Green Economy passa pela reformulação e reorientação de

políticas e investimentos para sectores como as tecnologias mais limpas, as

energias renováveis, a gestão de resíduos, ou uma agricultura e floresta

sustentáveis, tornando-se indispensável a criação de processos de transformação

de estruturas organizacionais e práticas de trabalho na economia e na sociedade, e

de transformação de valores, atitudes e comportamentos individuais, como

consumidores e como cidadãos (e.g. desmaterialização de produtos e serviços,

diminuição do consumo excessivo).

Muitos dos conceitos da Green Economy encontram eco no PNGR, designadamente:

uma economia de baixo carbono avaliada pelo nível de carbono das suas

actividades; uma economia circular em que os resíduos de um processo de

produção/consumo circulam como um novo input no mesmo ou noutro processo

diferente; e uma economia sujeita a princípios ecológicos e que recorre a acções

que contribuem simultaneamente para a economia e para os ecossistemas.

No PNGR é dado ênfase à promoção do fecho dos ciclos dos materiais e ao

aproveitamento da energia em cascata e é promovida a formação e qualificação dos

agentes, através nomeadamente da disseminação de informação sobre boas

práticas em sectores chave produtores de resíduos, o que contribui directamente

para alcançar os objectivos da GE de diminuição do consumo de energia/recursos

por unidade de produção e do nível de poluição e CO2 por PIB. Este Plano ao

preconizar ainda, que se agilizem os processos administrativos e se reforcem os

mecanismos de controlo assim como a adequação e a potenciação da aplicação dos

instrumentos económicos e financeiros, pretende criar condições propícias locais e

nacionais, no sentido de uma economia mais sustentável, assente na:

monitorização, responsabilização, legislação ambiental, taxas e incentivos fiscais,

normas, educação e formação.

Política Integrada de Produtos (PIP)

A Política Integrada de Produtos (PIP) consiste numa integração de políticas e

instrumentos de diversos domínios tendo como principais objectivos reduzir os

impactes ambientais de produtos e serviços ao longo do seu ciclo de vida, utilizando

instrumentos de gestão que actuem quer na produção (desenvolvimento de

produtos, fabricação e distribuição/venda), quer no consumo de produtos (padrões

de consumo, mercados), tendo em vista uma utilização sustentável dos recursos.

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A estratégia desta política integrada baseia-se nas três etapas do processo de

decisão que determinam o impacte ambiental do ciclo de vida dos produtos, ou

seja, na aplicação do princípio do poluidor-pagador quando da fixação dos preços

dos produtos, na escolha informada dos consumidores e na concepção ecológica

dos produtos.

O PNGR ao promover o desenvolvimento de um mercado favorável à

comercialização de produtos mais ecológicos e a informação, responsabilização e

consciencialização ambiental, quer por parte dos cidadãos, quer por parte das

empresas, de forma a minimizar o impacte ambiental dos produtos em todas as

fases do seu ciclo de vida, está através dos seus objectivos e metas a contribuir

para o cumprimento desta política.

Compras Públicas Ecológicas

As Compras Públicas Ecológicas, ou Green Public Procurement (GPP) consiste numa

estratégia de actuação ao nível das aquisições públicas que tem um papel chave na

transição para uma economia europeia mais eficiente do ponto de vista dos

recursos, ajudando a estimular a procura por bens e serviços mais sustentáveis,

constituindo um importante estímulo à eco-inovação. As entidades públicas, sendo

grandes consumidores, podem utilizar o seu poder de compra para adquirir bens e

serviços, com reduzido impacte ambiental ao longo do seu ciclo de vida, quando

comparados com outros bens e serviços com a mesma função primária, que seriam

de outra forma adquiridos, influenciando assim o mercado através das tendências

de produção e consumo. A promoção de compras ecológicas contribui para o

desenvolvimento de tecnologias e produtos verdes, alargando ou criando novos

mercados, fomentando assim, de forma importante, uma produção e um consumo

sustentáveis. Como os bens e serviços “verdes” são definidos em função do ciclo de

vida, as compras públicas ecológicas afectam toda a cadeia de produção-consumo,

estimulando também a utilização de critérios ambientais nas compras do sector

privado.

A Estratégia Nacional para as Compras Públicas Ecológicas estabelecida para o

triénio 2008-2010 adoptou uma abordagem progressiva, definindo critérios

ambientais para os seguintes grupos de produtos prioritários: concepção e

construção de obras públicas; transportes, incluindo equipamentos e serviços de

transporte; energia; equipamentos de escritório, incluindo equipamento

informático, de comunicação e cópia; consumíveis de escritório, incluindo papel;

produtos de higiene e limpeza.

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A nova estratégia a aplicar ao triénio 2011-2013 tem por objectivo promover uma

contínua melhoria ambiental, que, para além do combate às alterações climáticas e

o incremento da eficiência energética, já contemplados na anterior Estratégia,

deverá incluir outros domínios ambientais, como por exemplo uma gestão de

resíduos cada vez mais adequada e eficaz.

A abordagem faz parte integrante da política definida no PNGR que preconiza que

seja fomentado o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida e que haja

efectivamente uma política de prevenção da produção de resíduos, promoção das

compras no sector público com critérios de sustentabilidade que previnam a

produção de resíduos e fomentem a reutilização.

Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC)

O Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) 2006 e Novas Metas

2007 contempla um conjunto de políticas e medidas que visam controlar e reduzir

as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), de modo a respeitar os

compromissos de Portugal no âmbito do Protocolo de Quioto e do Acordo de

Partilha de Responsabilidades no seio da UE, pelos quais Portugal se obrigou a

limitar, entre 2008 e 2012, o aumento das suas emissões de GEE em 27% em

relação ao ano-base 1990. Este programa integra políticas, medidas e instrumentos

constantes de um cenário de referência e um conjunto de medidas adicionais para

diversos sectores de actividade, com impacte no balanço nacional das emissões de

GEE, nomeadamente o sector dos resíduos: MRr1 - Directiva Embalagens, MRr2 -

Directiva Aterros e MRr3 - Directiva PCIP.

O PNGR contribuirá para as orientações do actual PNAC, bem como para o futuro

PNAC pós-2012 (o PNAC 2020), uma vez que cria um quadro de acção que prevê

medidas específicas que permitem pôr em prática a promoção da redução dos

níveis de emissão de GEE, a prevenção da produção de resíduos, bem como a sua

valorização e reutilização, designadamente através da promoção do fecho dos ciclos

dos materiais e do aproveitamento da energia e da consolidação e optimização da

rede de gestão de resíduos.

Plano Nacional de Acção Ambiente e Saúde (PNAAS)

O Plano Nacional de Acção Ambiente e Saúde 2008-2013 (PNAAS), visa melhorar a

eficácia das políticas de prevenção, controlo e redução de riscos para a saúde com

origem em factores ambientais, promovendo a integração do conhecimento e a

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inovação e, desta forma, contribuir também para o desenvolvimento económico e

social do país.

Neste âmbito, também a ausência de tratamento adequado ou o destino indevido

dado a resíduos produzidos ao nível industrial, agrícola, doméstico ou resultantes

da prestação de cuidados de saúde, têm como consequência a contaminação do

solo, do ar e da água, com impactes negativos na saúde das populações.

A concretização do PNAAS permitirá uma abordagem nacional, integrada e global

em matéria de Ambiente e Saúde, promovendo o conhecimento e a sensibilização

também ao nível da gestão de resíduos, no sentido de soluções de maior bem-

estar, num ambiente saudável e sustentado.

O PNGR ao preconizar políticas de prevenção, controlo e redução de riscos para a

saúde com origem nos resíduos, estará a promover o conhecimento sobre esta

matéria, indo ao encontro das orientações definidas no PNAAS. Mais

concretamente, referir que o PNGR concorrerá para os objectivos fixados no PNAAS,

nomeadamente através da prevenção da produção de resíduos, da consolidação e

optimização da rede de gestão de resíduos, da promoção da formação e

qualificação dos actores e da agilização dos processos administrativos, em linha

com os resultados globais expectáveis do PNAAS, nomeadamente a sistematização

e integração de informação dispersa e uma maior sensibilização, consciencialização,

formação e educação dos profissionais e da população em geral.

5.2 Visão

No paradigma actual, a gestão de resíduos (nomeadamente o seu tratamento) é

considerada o fim do ciclo de vida.

A mudança preconizada pelo PNGR, na senda da própria Directiva-quadro dos

resíduos, consubstancia a gestão de resíduos como uma forma de dar continuidade

ao ciclo de vida dos materiais, constituindo um passo essencial para devolver

materiais e energia úteis à economia.

O objectivo é contribuir para uma economia tendencialmente circular mas em que

os bens e produtos que não se adequam aos seus detentores/produtores possam,

tanto quanto for económica e tecnologicamente viável, ser processados pelo

sistema económico com vista a serem incorporados, de novo, nos bens e produtos

de que a sociedade depende para o seu funcionamento.

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Ou seja, contribuir para abandonar o paradigma de uma “sociedade do

desperdício”, e adoptar o paradigma de uma economia tendencialmente circular,

com optimização dos recursos materiais e energéticos. Deste modo, minimiza-se o

consumo de novas matérias-primas e reduz-se a pressão sobre o ambiente. Estes

benefícios ambientais devem ser, no entanto, comprovados através de

metodologias específicas de análise (como a Análise de Ciclo de Vida e/ou a Análise

de Custo-Benefício).

Neste contexto, a visão subjacente ao PNGR é:

Promover uma gestão de resíduos integrada no ciclo de vida dos

produtos, centrada numa economia tendencialmente circular e

que garanta uma maior eficiência na utilização dos recursos

naturais.

5.3 Análise de Stakeholders e SWOT

Tendo em conta a situação de referência é possível identificar alguns dos

constrangimentos existentes à concretização da visão proposta, que são de

natureza vária e envolvem diferentes agentes (“stakeholders”).

Esta análise permite enquadrar a definição dos objectivos estratégicos e

operacionais, assim como das metas e acções a implementar para concretizar a

estratégia proposta.

No que respeita aos agentes, estes podem ter duas naturezas segundo se considera

que têm ou não responsabilidades directas na implementação do Plano. Neste

contexto dividem-se os agentes em internos e externos, sendo que apesar de no

último caso estes não terem responsabilidades directas na sua concretização,

acabam por poder afectar indirectamente o seu sucesso.

Considera-se que o âmbito dos agentes internos, não deve ser limitado às

entidades estatais responsáveis pela implementação e avaliação do Plano, como a

Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas incluir os principais agentes

relacionados com a produção e gestão de resíduos.

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Na Tabela 5.1 apresentam-se os agentes que são relevantes a nível da execução do

PNGR.

Tabela 5.1 – Matriz de Stakeholders

Tipo Stakeholders

Internos

• Entidades da administração central Entidades da administração regional Entidades da administração local Entidades gestoras (EG) de resíduos urbanos e equiparados, fluxos específicos e mercado organizado de resíduos

• Operadores de gestão de resíduos (OGR) • Empresas produtoras de resíduos • Produtores/importadores de bens • Empresas de serviços • Consumidores particulares • Associações empresariais

Externos

• Universidades/Sistema científico nacional • Comunicação social • Entidades comunitárias • Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA)

Considerando a situação de referência actual, na Tabela 5.2 apresenta-se uma

síntese de alguns dos constrangimentos identificados à concretização das opções de

fundo do PNGR, enunciando-se igualmente as oportunidades, numa perspectiva de

análise SWOT (Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades

(Opportunities) e Ameaças (Threats)).

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Tabela 5.2 – Análise SWOT no contexto da situação actual e em face da visão

proposta (avaliação global).

Forças: Fraquezas: • Gestão de resíduos reconhecida como

área importante da política de ambiente

• Situação actual comparativamente com a de há uma década atrás, para a generalidade dos fluxos e tipologias de resíduos

• Organização do mercado por entidades

gestoras de fluxos específicos de resíduos (ex. resíduos de embalagens, REEE, óleos usados)

• Cobertura da rede de recolha de resíduos urbanos e equiparados

• Níveis de recolha e valorização de alguns

resíduos (ex. pneus usados)

• Existência de infra-estrutura de tratamento para os resíduos perigosos

• Redução significativa do impacte ambiental originado pelas actividades de gestão de resíduos nos últimos anos, principalmente fruto do encerramento de lixeiras e da aplicação das normas relativas a aterro e incineração de resíduos

• Redução da emissão de gases com efeito de estufa provenientes das actividades de gestão de resíduos urbanos e equiparados

• Introdução do conceito de subproduto a nível europeu

• Introdução do mercado organizado de resíduos

• Articulação do MOR com os modelos de gestão e agentes existentes, especialmente os fluxos específicos

• Insuficientes níveis de recolha selectiva de resíduos urbanos e equiparados e de outros resíduos gerados pelo consumidor doméstico

• Insuficientes infra-estruturas nacionais de valorização para alguns resíduos (ex. RU, óleos usados, pilhas usadas)

• Atrasos na operacionalização de infra-estruturas de gestão de resíduos urbanos e equiparados

• Deficit tarifário na gestão de resíduos urbanos e equiparados

• Reduzida cultura prospectiva que considere os resíduos como materiais úteis que urge serem valorizados

• Informação ainda insuficiente relacionada com a produção, recolha e tratamento de resíduos

• Reduzida percepção sobre prevenção e reutilização de produtos

• Prevalência na utilização de instrumentos de “comando e controlo” e vocacionados para a “oferta de resíduos”

• Dependência dos padrões de consumo externo

• Qualificação dos operadores de gestão de resíduos e dos seus recursos humanos

• Tipologia do consumo

• Acções de inspecção e fiscalização insuficientes

• Inexistência de especificações sobre níveis de eficiência de tratamento

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Oportunidades: Ameaças • Progressiva consciencialização dos

consumidores em relação ao ambiente

• Concertação e informação disponível a nível europeu

• Crescente procura de matérias-primas alternativas e de materiais reciclados a nível global

• Metas europeias ambiciosas para alguns fluxos (criando condições para a inovação tecnológica em nichos de mercado)

• Contributo das entidades gestoras de fluxos específicos de resíduos no domínio da Prevenção e no sentido de potenciar uma economia mais verde

• Fim do estatuto de resíduo

• Distinção entre resíduo e subproduto

• Politica energética e procura de soluções energéticas alternativas

• Mercado de carbono e o conteúdo de carbono de alguns resíduos

• Situação actual a nível dos fluxos de resíduos emergentes (ex. consumíveis informáticos)

• Potenciais sinergias entre diferentes fluxos de resíduos/materiais no contexto da aplicação da nova Directiva-quadro

• Promoção de novos instrumentos económicos e financeiros

• Potencial evolução dos níveis de consumo como força motriz do aumento da geração de resíduos

• Risco de não cumprimento de metas previstas em algumas directivas europeias

• Proliferação de sistemas de recolha com a consequente confusão criada no consumidor

• Percepção ainda bastante negativa do conceito de “resíduo” junto dos consumidores

• Dependência de mercados globais para os materiais recicláveis e correlação dos referidos materiais com o preço dos combustíveis

As acções a adoptar devem portanto ser vocacionadas para a eliminação ou

redução dos constrangimentos (fraquezas), quando aplicáveis ao resíduo/actividade

em questão, sem prejuízo de as mesmas possibilitarem igualmente manter e

reforçar, se for caso disso, as conquistas alcançadas (forças).

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Por outro lado, a nível dos factores externos, é importante aproveitar as

oportunidades, bem como evitar ou minimizar o efeito das ameaças existentes. Isto

impõe a monitorização periódica da aplicação das acções para debelar os

problemas, mas também a monitorização dos factores externos que podem

influenciar a concretização da visão definida.

5.4 Objectivos estratégicos

5.4.1 Identificação dos objectivos

Pelo exposto anteriormente, a política de gestão de resíduos no período 2011-2020

em Portugal deve estar assente em dois objectivos estratégicos:

1. Promover a eficiência da utilização de recursos naturais na

economia, através da promoção de padrões de produção e consumo

responsáveis, da prevenção da produção de resíduos e da redução da

extracção dos recursos materiais e energéticos, e do reaproveitamento dos

materiais utilizados, reciclados e valorizados no ciclo de vida dos produtos.

2. Prevenir ou reduzir os impactes adversos decorrentes da produção e

gestão de resíduos, através do aumento de eficiência dos processos e

tecnologias envolvidas na gestão de resíduos, numa lógica de ciclo de vida,

evitando-se a transferência de impactes entre fases do ciclo de vida dos

produtos/materiais nomeadamente através da adopção de critérios que

conjuguem a exequibilidade técnica e a viabilidade económica com a

protecção da saúde e do ambiente.

A concretização dos objectivos estratégicos promove o crescimento da actividade

económica e a minimização dos impactes ambientais, conforme esquematizado na

Figura 5.1.

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Figura 5.1– Representação esquemática das dissociações inerentes aos objectivos

estratégicos

Como explanado na introdução desta secção do Plano, o primeiro objectivo está

directamente associado à necessidade de abandonar a lógica linear de produção-

consumo prevalecente através da promoção de uma economia tendencialmente

circular, em que os bens e produtos que deixam de ter utilidade para os

consumidores são reintroduzidos na economia. Nesta estratégia assume especial

destaque a promoção do fecho dos ciclos de materiais direccionando os resíduos e

perdas de energia para novas aplicações produtivas evitando o consumo de novas

matérias-primas e reduzindo a pressão sobre o ambiente.

O segundo objectivo estratégico reflecte as preocupações que subsistem com os

impactes no ambiente e na saúde humana relacionados com os processos e

tecnologias de gestão de resíduos, quer estas sejam de eliminação ou de

valorização8.

Neste contexto é importante promover uma continuada redução do impacte

ambiental associado às actividades de gestão de resíduos (recolha, transporte,

valorização, entre outras), nomeadamente:

• Limitando a perigosidade dos resíduos produzidos (prevenção qualitativa)

pela redução da quantidade de substâncias perigosas utilizadas nos produtos

que dão origem a esses resíduos (através do ecodesign),

8 Por exemplo, patentes a nível europeu nas Directivas Aterros e Incineração (Directiva 1999/31/CE e Directiva 2000/76/CE) e no alargamento a vários produtos do conceito da responsabilidade alargada do produtor, em que uma das preocupações prioritários é a redução do impacte ambiental associado ao fim de vida desses produtos.

Tempo

Impactes ambientais

Actividade económica

Produção de resíduos

Resíduos eliminados

Objectivo estratégico 2

Objectivo estratégico 1

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• Facilitando a reciclagem dos produtos em fim de vida através da aposta na

vertente do ecodesign “Design for Recycling”,

• Limitando o transporte de resíduos e procurando evitar que estes sejam

eliminados ou valorizados longe dos seus locais de produção (desde que

existam soluções adequadas para o efeito),

• Através da inovação tecnológica, com a introdução de tecnologias mais

eficientes de tratamento, valorização e eliminação.

Ou seja, este desafio de reduzir os impactes ambientais resultantes da gestão

inadequada dos resíduos está directamente relacionado com a eficiência de

valorização desses resíduos e assim pode constituir-se como uma força motriz

económica, potenciando o desenvolvimento de tecnologias de ponta no nosso país,

a atracção de investimento directo e a criação e implementação de novas empresas

de base tecnológica. Na Tabela 5.3 exemplificam-se exemplos potenciais de

sectores e clusters tecnológicos relevantes neste contexto, para os vários fluxos

específicos de resíduos.

Tabela 5.3 – Exemplos de sectores e clusters tecnológicos relevantes para alguns

fluxos específicos de resíduos

Fluxo específico Exemplos de sectores e clusters tecnológicos relevantes

Embalagens

- Embaladores e/ou importadores - Processos de separação físico-químicos - Infra-estruturas de recolha selectiva e triagem - Tecnologias de informação e georreferenciação ligadas à optimização dos processos de recolha

VFV

- Indústria automóvel - Processos de desmantelamento e despoluição - Tecnologias de fragmentação - Tecnologias de separação e valorização de resíduos de pós-fragmentação

REEE

- Indústria de componentes eléctricos e electrónicos - Tecnologias de despoluição - Infra-estrutura de recolha selectiva - Tecnologias de fragmentação - Tecnologias de separação e aproveitamento de plásticos e metais nobres

Pneus usados

- Indústria automóvel - Tecnologias de reciclagem - Incorporação de granulado de borracha de pneu em novas aplicações

Óleos usados

- Indústria petrolífera e de lubrificantes - Tecnologias de regeneração - Processos de tratamento - Tecnologias de valorização energética

Pilhas portáteis

- Tecnologias de reciclagem mecânicas

Fonte: Ribeiro (2008).

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Esta minimização de impactes tem de ser pertinente numa lógica de ciclo de vida,

em que a redução de quantidades obtida no fim de vida dos produtos e materiais

signifique uma efectiva redução do impacte ambiental ao longo do ciclo de vida9.

Ou seja, para além da visão centrada nos processos (ex. tecnologias de

valorização), é necessário ter uma visão sistémica, para evitar a transferência de

impactes de uma fase do ciclo de vida para outra. Este aspecto é importante, uma

vez que os impactes ambientais podem ser transferidos de um meio para o outro,

ou de uma parte do sistema industrial para outra, nomeadamente se a legislação

direccionada para determinada componente ambiental não se preocupar com a

transferência do problema.

Actualmente, uma das maiores preocupações ambientais globais é o problema das

alterações climáticas resultante da emissão de gases com efeito de estufa. A

política de gestão de resíduos deve ter em conta este facto, sendo um aspecto a

merecer especial atenção dado que o sector de gestão de resíduos é responsável

por uma fracção importante dos gases com efeito de estufa emitidos a nível

nacional: 10,1% em 2008 (APA, 2010c).

Esta situação pode-se transpor para outros resíduos, numa perspectiva de ciclo de

vida como é o caso, por exemplo, dos metais que são reciclados, evitando

fortemente o consumo de energia na produção de novos produtos metálicos a partir

do minério, ou seja, reduzindo fortemente as emissões de gases com efeito de

estufa.

Por outro lado, existem resíduos que podem ser valorizados energeticamente e com

efeitos úteis a nível do balanço destes gases (ex. resíduos com carbono).

No entanto, não se devem perder de vista outros impactes ambientais, como por

exemplo outras emissões gasosas com efeitos adversos ao nível da saúde humana

(ex. agentes precursores do ozono troposférico) ou degradação dos ecossistemas

(ex. eutrofização, afectação de habitats).

9 Como referido em COM (2005) 666, os principais impactes ambientais de muitos recursos estão frequentemente associados à fase de utilização e não ao fim de vida.

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68

5.4.2 Metas a alcançar

De modo a avaliar o grau de concretização dos objectivos estratégicos do plano são

definidas metas para cada um dos objectivos. Dada a natureza abrangente do Plano

e ao facto de este dever estar em consonância com outras políticas e estratégias,

optou-se por apresentar metas quantitativas a nível macro ao invés de definir

metas mais detalhadas relacionadas com cada tipologia de resíduo, uma vez estas

metas são já alvo de planos e legislação específica, como por exemplo é o caso dos

resíduos urbanos e equiparados. As metas apresentadas estão associadas a

indicadores de desempenho cuja evolução é indirectamente dependente da

concretização dos objectivos operacionais e acções definidas que se apresentam no

capítulo 6.

Neste contexto, as metas para a promoção da eficiência da utilização de recursos

naturais na economia envolvem:

• Dissociar o crescimento económico do consumo de materiais,

indicador medido pelo quociente entre o rendimento nacional (PIB) e o

consumo interno de materiais (CIM).

Esta relação fornece uma medida da produtividade dos recursos no país,

indicando qual o valor económico que se está a obter por cada unidade de

recurso consumida na produção de bens ou serviços para consumo interno.

Trata-se de um indicador que permite avaliar a desmaterialização relativa da

economia, no caso de haver uma tendência crescente do indicador.

O valor de referência, relativo ao último ano para o qual existem dados de

consumo de materiais (2007) é de 0,75 k€ de riqueza gerada/t de materiais

consumidos10. A meta considerada para 2020 pressupõe uma taxa de

crescimento deste indicador em linha com a taxa média anual de

crescimento na Europa no período 2000-2007, que se situou nos 1,67%11, o

que, no caso português, se traduz numa mudança significativa do padrão de

evolução da produtividade de recursos em relação aos valores históricos,

dado que nesse período a produtividade nacional decresceu em média

0,65% ao ano (Eurostat, 2010b). Neste contexto, a meta para 2020 situa-se

nos 0,93 €/t.

10 Medido através do CIM (Consumo Interno de Materiais, em inglês, DMC – Direct Material), com base no PIB de 2007 a preços constantes de 2006. Consumption. Fontes: CIM – Eurostat, Resource productivity, PIB – INE, Contas Nacionais, preços constantes de 2006. 11 EU-15, a preços constantes de 2006. Fontes: CIM – Eurostat, Resource productivity

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• Dissociar o crescimento económico da produção de resíduos,

indicador medido pelo quociente entre a produção de resíduos e o

rendimento nacional (PIB).

Esta relação fornece outro indicador da eficiência com que a economia utiliza

os recursos naturais, na medida em que ao produzir resíduos uma economia

está a desaproveitar materiais que poderiam ter um destino útil. A economia

será tanto mais eficiente quanto menor for este quociente.

Como referido anteriormente, a evolução do indicador é dependente de dois

factores. Por um lado, depende da evolução da quantidade de resíduos

produzidos a nível nacional, ou seja, depende do comportamento do

indicador que serve para avaliar o cumprimento do Objectivo Estratégico 2.1

– redução da produção de resíduos e, por outro, depende da própria

evolução da actividade económica nacional. Tendo em conta estes dois

factores, o valor de referência relativo ao ano de 2009 é de 0,18 t de resíduo

produzido12/k€ de riqueza gerada.

A meta estabelecida para 2020 pressupõe, a nível da produção de resíduos,

o cumprimento do Objectivo Estratégico 2.1 e, a nível do rendimento

nacional, um cenário de crescimento do PIB a curto prazo de acordo com as

perspectivas do Orçamento de Estado para 2011 e, posteriormente, de

acordo com as perspectivas de médio/longo prazo do Fundo Monetário

Internacional para a economia portuguesa (FMI, 2010). Neste contexto, a

meta estabelecida para 2020 é de 0,13 t de resíduo produzido13/k€ de

riqueza gerada.

• Aumentar a integração de resíduos na economia, indicador medido

pelo quociente entre a preparação para reutilização e reciclagem e a

produção de resíduos.

Esta relação fornece uma medida do nível de promoção do fecho dos ciclos

dos materiais no país, aspecto fundamental para garantir uma gestão de

resíduos mais sustentável, direccionando o desperdício de recursos para

novas aplicações produtivas reduzindo assim, simultaneamente, a pressão

12 Fontes: Produção de resíduos – APA/INE (2010), PIB – INE, Contas Nacionais, preços constantes de 2006. 13 Fontes: Produção de resíduos: APA/INE (2010), PIB: 2010-211, Orçamento de Estado de 2011. Para o período 2012-2015 considerou-se uma evolução crescente do PIB até ao valor indicativo de 1,2%, em 2015, valor de crescimento de médio prazo referido no World Economic Outlook - October 2010 - do Fundo Monetário Internacional. Após 2015, considerou-se o valor constante de crescimento de 1,2%.

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sobre os recursos naturais e sobre a capacidade da Natureza para regenerar

os resíduos.

O valor de referência relativo a 2009 é de 41,7%14. A meta estabelecida

para 2020 pressupõe uma trajectória de convergência com alguns países

que apresentaram maiores níveis de valorização de resíduos na Europa em

2006, como por exemplo, a Holanda e a Dinamarca (Eurostat, 2010a),

apontando-se como meta que, em 2020, 70% do total de resíduos

produzidos em Portugal sejam preparados para reutilização e reciclados.15

As metas para a prevenção ou redução dos impactes adversos decorrentes da

produção e gestão de resíduos envolvem:

• Reduzir a produção de resíduos, indicador medido através da

percentagem de redução de resíduos produzidos pelo país face ao ano de

referência do plano.

Este indicador reflecte os impactes ambientais potenciais associados à

gestão de resíduos. Numa lógica preventiva importa limitar o nível da

produção de resíduos, diminuindo as operações necessárias à sua gestão,

que originam elas próprias impactes ambientais (ex. transporte,

armazenamento e operações de valorização e eliminação).

O valor de referência considerado é o valor de produção de resíduos em

2009, que foi de 28,8 Mt16. A meta estabelecida para o horizonte do Plano,

ou seja, 2020, pressupõe uma diminuição absoluta de 20% da quantidade

de resíduos produzidos no nosso país face a 2009, alicerçada em acções de

prevenção de resíduos, quer a nível dos resíduos urbanos e equiparados,

quer a nível dos resíduos não urbanos17.

14 Fonte: APA/INE (2010). 15 Esta meta, sendo ambiciosa, encontra-se no entanto em linha com a meta de preparação para reutilização, reciclagem e outras formas de recuperação material para os resíduos de construção e demolição constante da Directiva-Quadro sobre Resíduos (DQR) (70% em 2020) e meta do PERSU II para os resíduos urbanos (em 2016, 56% para o cenário moderado e 66% para o cenário optimista, perspectivas das entradas). 16 Fonte: APA/INE (2010). 17 No caso dos resíduos urbanos, as acções de prevenção encontram-se enquadradas em detalhe no Plano de Prevenção de Resíduos Urbanos (Despacho n.º 3227/2010 do MAOT), onde o cenário de evolução “moderado” aponta para uma redução da capitação diária de 10% para 2016 face ao ano de 2007, sendo que essa meta significa uma redução de 13,2% face ao ano de 2009, tendo em conta os dados de produção reais medidos para esse ano, o que está em linha com a meta intercalar do PNGR para o ano de 2016.

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71

• Reduzir a quantidade de resíduos eliminados, indicador medido através

da percentagem de redução de resíduos eliminados face ao ano de

referência do plano.

As operações de eliminação encontram-se no último lugar da hierarquia de

gestão de resíduos definida pela UE, dado que, à partida, geram

consideravelmente mais impactes ambientais que as operações de

valorização. Apesar de a nível micro (produtos/materiais) ser necessário

avaliar, numa lógica de ciclo de vida, que tal efectivamente ocorre, a nível

macro e face aos actuais padrões de produção e gestão de resíduos em

Portugal, uma política de gestão de resíduos necessita de considerar a

redução da quantidade de resíduos eliminados como um desígnio a alcançar.

Como referido anteriormente, a evolução do indicador é dependente de dois

factores. Por um lado, depende da evolução da quantidade de resíduos

produzidos a nível nacional, ou seja, depende do comportamento do

indicador que serve para avaliar o cumprimento do Objectivo Estratégico 2.1

e, por outro, depende da taxa de integração de resíduos na economia, ou

seja, depende do comportamento do indicador que serve para avaliar o

cumprimento do Objectivo Estratégico 1.318. Tendo em conta estes dois

factores, o valor de referência para Portugal relativo a 2009 é de 15,2 Mt de

resíduos eliminados19.

A meta estabelecida para 2020 considera o cenário de cumprimento dos

Objectivos 2.1 e 1.3, mais o contributo da valorização energética, sendo que

tal significa uma redução em 62% na quantidade de resíduos eliminados

face a 2009.

Reduzir a emissão de gases com efeito de estufa do sector dos

resíduos, medido através da quantidade de CO2 equivalente emitido pelas

operações de gestão de resíduos.

Constituindo a gestão de resíduos um dos sectores mais relevante a nível

nacional para a emissão destes gases, uma política de gestão de resíduos

deve ter em conta este facto, visando reduzir a libertação de gases com

efeito de estufa para a atmosfera.

18 Ao que acresce o contributo da valorização energética. 19 Fonte: APA/INE (2010).

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72

A meta estabelecida para o sector de gestão de resíduos pelo Comité

Executivo da Comissão para as Alterações Climáticas é de 5,68 Mt de CO2 eq.,

em 2020, o que traduz uma redução face às emissões estimadas para 2010,

que ascendem a 6,15 Mt de CO2 eq. (CECAC, 2009).

Tendo por base as metas estabelecidas para o horizonte do plano, ou seja, o ano de

2020, definiram-se metas intercalares para 2013 e 2016 que reflectem um cenário

de evolução dos indicadores de realização à medida que as diversas acções do

plano vão sendo concretizadas.

Deste modo, as metas intercalares para 2013 e 2016 e para o horizonte temporal

do plano, em 2020, bem como os indicadores de realização são apresentados na

Tabela 5.4.

Tabela 5.4 - Metas estratégicas a alcançar (2011-2020)

Objectivo estratégico 1 - Promover a eficiência da utilização de recursos naturais na economia

Meta estratégica Indicador de realização Valor de referência

Meta 2013

Meta 2016

Meta 2020

1. Dissociar o crescimento económico do consumo de materiais

PIB a preços constantes20/CIM (k€/t) 0,75

(ano 2007) 0,83 0,87 0,93

2. Dissociar o crescimento económico da produção de resíduos

Produção de resíduos/ PIB a preços constantes21 (t/k€)

0,18 0,17 0,15 0,13

3. Aumentar a integração de resíduos na economia

(Preparação para reutilização + Reciclagem)/(Produção de resíduos)

(%) 41,7% 45,0% 55,0% 70,0%

Objectivo estratégico 2 - Prevenir ou reduzir os impactes adversos decorrentes da produção e gestão de resíduos

Meta estratégica Indicador de realização Valor de referência

Meta 2013

Meta 2016

Meta 2020

1. Reduzir a produção de resíduos

Produção de resíduos (2009 = índice 100)

100

(28,8 Mt) 95,0 87,0 80,0

2. Reduzir a quantidade de resíduos eliminados

Eliminação de resíduos (2009 = índice 100)

100

(15,2 Mt) 90,41 66,24 38,07

3. Reduzir a emissão de gases com efeito de estufa do sector de resíduos

Mt CO2eq. emitidos para atmosfera pelo sector de gestão de resíduos

7,69 (ano 2007)

6,01 5,87 5,68

Fontes: Com base em APA/INE (2010), Eurostat (2010), Resource productivity, INE (2010), Contas

nacionais e FMI (2010), World Economic Outlook - October 2010.

20 Ano base 2006, preços constantes. 21 Ano base 2006, preços constantes.

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73

As metas apresentadas são ambiciosas face à actual situação de referência e à sua

evolução previsível caso se mantenham os padrões de consumo de materiais,

produção, valorização e eliminação de resíduos e emissão de gases com efeito de

estufa per capita.

Por exemplo, a meta de dissociação do crescimento económico do consumo de

materiais implica um esforço significativo de desmaterialização da economia,

estimada em cerca de 12% em 10 anos com base no cenário de crescimento da

economia para os próximos anos, não sendo suficiente portanto uma

desmaterialização relativa da economia portuguesa, onde o consumo de materiais

aumenta a níveis inferiores da criação de riqueza.

Por outro lado, a meta de redução da quantidade de resíduos eliminados depende

não só do sucesso alcançado a nível da prevenção da produção de resíduos, mas

igualmente do incremento significativo da quantidade de resíduos que é

reintroduzida na economia sob a forma de materiais ou energia.

Tendo em conta as metas apresentadas anteriormente, nas figuras seguintes

apresentam-se trajectórias de cumprimento das metas até ao horizonte do PNGR

(2020), considerando um incremento nos resultados alcançados à medida que o

plano vai sendo executado. Para efeitos comparativos, nas figuras apresenta-se

igualmente a evolução dos vários indicadores de realização segundo um cenário,

denominado Business as Usual (BaU), onde os valores de referência per capita dos

vários indicadores se mantêm constantes, apenas considerando-se um cenário de

evolução para a população portuguesa22 e para o crescimento económico23. Para

melhor identificação do cenário BaU, apresenta-se igualmente a Tabela 5.5, onde

se apresentam os valores estimados para este cenário nos horizontes temporais de

avaliação de metas, ou seja, 2013, 2016 e 2020.

22 INE - Projecções da população residente 2009-2060. 23 Considerando as taxas de crescimento para 2010 e 2011 referidas no Orçamento de Estado de 2011. Para o período 2012-2015 considerou-se uma evolução crescente do PIB até ao valor indicativo de 1,2%, em 2015, valor de crescimento de médio prazo referido no World Economic Outlook - October 2010 - do Fundo Monetário Internacional. Após 2015, considerou-se o valor constante de crescimento de 1,2%.

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74

Tabela 5.5– Estimativa de evolução cenário BaU (2011-2020)

Objectivo estratégico 1 - Promover a eficiência da utilização de recursos naturais na economia

Meta estratégica Indicador de realização Valor de referência

Estimativa

2013 2016 2020

1. Dissociar o crescimento económico do consumo de materiais

PIB a preços constantes24/CIM (k€/t)

0,75

(ano 2007) 0,75 0,77 0,80

2. Dissociar o crescimento económico da produção de resíduos

Produção de resíduos/ PIB a preços constantes25 (t/k€)

0,18 0,17 0,17 0,16

3. Aumentar a integração de resíduos na economia

(Preparação para reutilização + Reciclagem)/(Produção de

resíduos) (%) 41,7% 41,7% 41,7% 41,7%

Objectivo estratégico 2 - Prevenir ou reduzir os impactes adversos decorrentes da produção e gestão de resíduos

Meta estratégica Indicador de realização Valor de referência

Estimativa

2013 2016 2020

1. Reduzir a produção de resíduos

Produção de resíduos (2009 = índice 100)

100

(28,8 Mt) 100,7 101,2 101,8

2. Reduzir a quantidade de resíduos eliminados

Eliminação de resíduos (2009 = índice 100)

100

(15,2 Mt) 100,7 101,2 101,8

3. Reduzir a emissão de gases com efeito de estufa do sector de resíduos

Mt CO2eq. emitidos para atmosfera pelo sector de gestão de resíduos

7,69 (ano 2007)

6,19 6,22 6,25

Fontes: Com base em APA (2010), Eurostat (2010), Resource productivity, INE (2010), Contas nacionais

e FMI (2010), World Economic Outlook - October 2010.

24 Ano base 2006, preços constantes. 25 Ano base 2006, preços constantes.

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75

Figura 5.2 – Trajectória de cumprimento das diferentes metas estratégicas

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

PIB/DMC (k€/t)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 1.1 - Dissociar o crescimento económico do consumo

de materiais

Cenário BaU trajectória de cumprimento

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Produção de resíduos/PIB (t/k€)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 1.2 - Dissociar o crescimento económico da produção

de resíduos

Cenário BaU Trajectória de cumprimento

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

(Preparação para reutilização +

Reciclagem)/(Produção de resíduos)

(%)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 1.3 - Aumentar a integração de resíduos na economia

Cenário BaU Trajectória de cumprimento

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020Resíduos eliminados (M

t 2009 = índice 100)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 2.2 - Reduzir a quantidade de resíduos eliminados

Cenário BaU Trajectória de cumprimento

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Produção de resíduos (M

t 2009 = índice 100)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 2.1 - Reduzir a produção de resíduos

Cenário BaU Trajectória de cumprimento

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

CO2eq. emitidas para atm

osfera pelo sector

de gestão de resíduos (M

t)

Comparação entre o cenário BaU e o cenário de cumprimento da Meta OE 2.3 - Reduzir a emissão de gases com efeito de estufa

do sector de resíduos

Cenário BaU Trajectória de cumprimento

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76

6. Objectivos operacionais e acções

6.1 Considerações iniciais

Nos capítulos 2 a 5 efectuou-se uma reflexão sobre onde estamos e para onde

queremos ir a nível da política nacional de gestão de resíduos.

Neste contexto, traçou-se a evolução das políticas de gestão de resíduos nos

últimos anos, fruto do entendimento da relação entre o homem e o seu meio

envolvente, analisaram-se planos e programas nacionais de gestão de resíduos

existentes a nível europeu e caracterizou-se a situação actual no nosso país em

termos de enquadramento estratégico, legislativo e tecnológico da gestão de

resíduos e os resultados já alcançados ao nível da recolha e tratamento (“onde

estamos”).

Esta análise permitiu enquadrar a visão proposta para a política nacional de gestão

de resíduos para o período 2011-2020, assim como os objectivos estratégicos que

traduzem as opções de fundo propostas (“Para onde queremos ir”).

Tendo estabelecido essas opções de fundo, importa agora proceder à sua

concretização (“Como poderemos lá chegar”).

Neste aspecto, dada a natureza estratégica do PNGR e a existência de planos e

programas mais específicos26 num nível hierárquico inferior, como seja o PERSU II,

o PESGRI ou o PERH, a arquitectura do PNGR apresenta um modelo em que a

concretização da visão e dos objectivos estratégicos definidos assenta em 9

Objectivos Operacionais (OP) que são alcançados através da concretização de

Acções definidas para cada um, conforme identificado na Tabela 6.1.

26 As orientações propostas para o período 2011-2020, e os novos desenvolvimentos legislativos

nacionais e comunitários (ex. nova directiva-quadro sobre resíduos), obrigarão à adequação/revisão das

estratégias sectoriais para os resíduos consagradas em vários destes planos.

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77

Tabela 6.1 - Objectivos Operacionais e Acções do PNGR

Objectivo Operacional Acções

OP1 Prevenir a produção de resíduos

OP1.A1 - Promoção de acordos voluntários com sectores prioritários no sentido de fomentar a produção mais limpa e a concepção sustentável de produtos

OP1.A2 - Promoção da comunicação/sensibilização para a prevenção da produção de resíduos

OP1.A3 - Promoção de compras no sector público com critérios de sustentabilidade que previnam a produção de resíduos e fomentem a reutilização

OP2

Promover o fecho dos ciclos dos materiais e o aproveitamento da energia em cascata

OP2.A1 - Estabelecer e implementar um programa de acção para promover a procura de materiais passíveis de valorização

OP2.A2 - Robustecer os sistemas de gestão de fluxos específicos aos quais se aplica a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP), numa óptica de criação de sinergias e avaliação da aplicação da RAP a fluxos emergentes

OP2.A3 - Promover o estabelecimento de simbioses industriais

OP2.A4 – Promover o estabelecimento de novas áreas industriais desenvolvidas com planos de racionalização de materiais e energia e a reabilitação de áreas industriais existentes

OP3 Consolidar e optimizar a rede de gestão de resíduos

OP3.A1 - Incentivar a proximidade da rede de recolha ao utilizador e a separação selectiva

OP3.A2 - Potenciar sinergias de recolha e tratamento de resíduos numa lógica de complementaridade

OP3.A3 - Uniformizar as regras de recolha e transporte para todos os operadores

OP3.A4 - Promover a auto-suficiência e a competitividade dos operadores diminuindo a dependência externa

OP4 Gerir e recuperar os passivos ambientais

OP4.A1 - Implementar a estratégia de recuperação dos passivos ambientais

OP4.A2 - Promover a monitorização e controlo dos locais pós-encerramento

OP5

Fomentar a cidadania ambiental e o desempenho dos agentes

OP5-A1 - Reforçar e apoiar as actividades de comunicação/sensibilização desenvolvidas pelos operadores de gestão e pelas entidades gestoras de fluxos específicos

OP5.A2 - Instituir a atribuição de prémios anuais de desempenho

OP5.A3 - Fomentar o envolvimento dos cidadãos e dos agentes no processo de tomada de decisão

OP5.A4 – Promover a integração da gestão de resíduos e do uso sustentável dos recursos nos curricula educativos dos ensinos básicos e secundário

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78

Objectivo Operacional Acções

OP6 Promover a formação e qualificação dos agentes

OP6.A1 - Desenvolver um programa de formação no sentido do incremento das competências e da qualidade do serviço no sector de actividade dos resíduos

OP6.A2 - Promover a implementação de sistemas de gestão ambiental, de qualidade e de higiene e segurança no trabalho

OP6.A3 - Disseminar informação sobre boas práticas em sectores-chave produtores de resíduos

OP7

Fomentar o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida

OP7.A1 - Promover a integração de sistemas de informação que garantam maior fiabilidade da informação e suporte aos processos de decisão e avaliação de tendências

OP7.A2 - Desenvolver e actualizar numa base regular um sistema de indicadores sobre resíduos e fluxos de materiais e sua disponibilização pública

OP7.A3 - Incentivar e apoiar a investigação e desenvolvimento no sector

OP7.A4 - Promover e disseminar estudos de caracterização do sector

OP8

Agilizar os processos administrativos e reforçar os mecanismos de controlo

OP8.A1 - Optimizar o quadro legal e institucional

OP8.A2 - Desmaterializar actos referentes à monitorização, avaliação e fiscalização das actividades de gestão de resíduos

OP8.A3 - Reforçar as actividades de âmbito inspectivo e fiscalizador

OP8.A4 - Reforçar as auditorias técnico-financeiras a OGR e sistemas de gestão de resíduos

OP8.A5 - Criação de uma carteira de peritos qualificados para a certificação de processos ao nível da gestão de resíduos

OP9

Adequar e potenciar a aplicação dos instrumentos económicos e financeiros

OP9.A1 - Promover o Mercado Organizado de Resíduos (MOR)

OP9.A2 - Potenciar a eficácia da TGR

OP9.A3 - Diferenciar as prestações financeiras relativas a Entidades Gestoras de fluxos de resíduos em função da reciclabilidade, perigosidade e impactes no ciclo de vida inerentes aos produtos colocados no mercado

OP9.A4 - Articular as várias linhas de financiamento no sentido de optimizar as verbas disponíveis no sector de gestão de resíduos

OP9.A5 - Avaliar e promover incentivos à recolha selectiva e reutilização de produtos

Estes Objectivos Operacionais concorrem para o cumprimento dos Objectivos

Estratégicos e suas metas, referidas no Capítulo 5, sendo que o seu contributo é

realizado de forma diferenciada, como se mostra na Tabela 6.2.

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79

Tabela 6.2 – Contributo directo e indirecto dos Objectivos Operacionais para o

cumprimento dos Objectivos Estratégicos

Objectivos Estratégicos

e Metas

Objectivos

Operacionais

OE 1- Promover a eficiência da utilização de recursos naturais na economia

OE 2 - Prevenir ou reduzir os impactes adversos decorrentes da produção e

gestão de resíduos

Meta OE 1.1

Meta OE 1.2

Meta OE 1.3

Meta OE 2.1

Meta OE 2.2

Meta OE 2.3

OP1 Prevenir a produção de resíduos

- �� - �� �� ��

OP2 Promover o fecho dos ciclos dos materiais e o aproveitamento da energia em cascata

�� �� �� �� �� ��

OP3 Consolidar e optimizar a rede de gestão de resíduos

� � � � �� �

OP4 Gerir e recuperar os passivos ambientais

- � - �� �� �

OP5 Fomentar a cidadania ambiental e o desempenho dos agentes

� � � � � -

OP6 Promover a formação e qualificação dos agentes

- �� � � � �

OP7 Fomentar o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida

� �� �� � �� ��

OP8 Agilizar os processos administrativos e reforçar os mecanismos de controlo

- � � � � -

OP9 Adequar e potenciar a aplicação dos instrumentos económicos e financeiros

� �� � � � �

Legenda: - contribui indirectamente; � contribui;�� contribui significativamente

Para cada Objectivo Operacional é apresentada, nos parágrafos seguintes, a sua

motivação e as acções a desenvolver, indicando-se para cada acção, o indicador de

realização associado, as tendências de evolução que se propõem alcançar ao longo

do horizonte temporal do Plano, bem como os principais responsáveis ou

intervenientes na sua implementação e a classificação da acção preconizada

(Informativa; Legislativa; Formativa; Planeamento; Económico-financeira;

Controlo; ou Gestão).

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80

Ao contrário dos Objectivos Estratégicos, os Objectivos Operacionais têm

associadas tendências de evolução, que não correspondem a metas quantitativas.

Como referido anteriormente, isto deve-se ao facto de o PNGR ser um plano

abrangente, obrigando a uma consonância com outras políticas e estratégias

sectoriais. A avaliação destas tendências de evolução contribuirá para a

monitorização das metas estratégicas do Plano.

As acções relativas a cada Objectivo Operacional serão evidenciadas nos Planos

sectoriais em que tenham pertinência e associadas a metas quantitativas

específicas, que deverão ser avaliadas ao longo do horizonte temporal de cada

Plano. Desta forma, será possível avaliar a contribuição destas acções para a

concretização das metas estratégicas definidas no PNGR.

De referir que esteve presente na formulação das acções, a necessidade de alterar

o enfoque das políticas sectoriais de resíduos em Portugal, de políticas centradas na

“oferta de resíduos” (“waste push”) para políticas centradas na “procura de

resíduos” (“waste pull”) e no privilégio de factores intangíveis de competitividade,

como seja a qualificação dos diversos agentes, quer sejam entidades estatais ou

privadas.

No que respeita à mudança de enfoque para políticas centradas na “procura de

resíduos”, tal significa incentivar a incorporação de materiais provenientes dos

resíduos em novos produtos e a utilização de combustíveis derivados de resíduos,

sem prejuízo de manter ou reforçar, quando entendido necessário ou adequado, as

acções definidas anteriormente, algumas das quais estabelecidas a nível europeu.

Privilegiar factores intangíveis de competitividade significa promover o salto

qualitativo a nível da gestão de resíduos, através do aumento da formação no

sector e da alteração dos procedimentos e responsabilidades dos vários agentes e

da sua relação com as entidades estatais.

Page 94: Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2011-2020 · Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2011-2020 Proposta de PNGR Lisboa, 26 de Maio de 201 1

81

6.2 OP1 - Prevenir a produção de resíduos

6.2.1 Descrição do objectivo

Um dos princípios orientadores da gestão de resíduos, referenciado no Decreto-Lei

n.º 178/2006 é reduzir, e sempre que possível evitar, a produção de resíduos,

tanto a nível quantitativo, como a nível qualitativo, diminuindo a sua perigosidade

para a saúde humana e para o ambiente.

A prevenção da produção dos resíduos implica a sua redução na fonte e,

consequentemente, a eliminação ou redução da necessidade de reciclar, incinerar

ou depositar em aterro, mas também a redução da perigosidade dos resíduos

produzidos. Neste contexto, é importante promover o aumento do tempo de vida

dos produtos, a redução da quantidade de materiais utilizados para o seu fabrico e

embalamento e a redução dos componentes perigosos utilizados. Ou seja, alterar a

concepção, fabrico, aquisição, utilização e reutilização dos produtos e materiais,

reduzindo o seu volume ou perigosidade antes de se tornarem resíduos.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

6.2.2 OP1.A1 - Promoção de acordos voluntários com sectores prioritários

no sentido de fomentar a produção mais limpa e a concepção

sustentável de produtos

Com esta acção pretende-se actuar a montante da cadeia de valor, apoiando a

concepção de produtos mais sustentáveis, através da adopção da concepção

ecológica (ecodesign) na indústria nacional, apostando na extensão do período de

vida de alguns produtos, na modularidade, no desenho para o desmantelamento e

para a reparação/reutilização. Nesta medida será necessário nomeadamente criar

mecanismos de apoio à aplicação do Decreto-Lei n.º 26/2009 de 27 de Janeiro,

referente aos requisitos de concepção ecológica dos produtos consumidores de

energia. Outras medidas passam, por exemplo, pela diferenciação dos ecovalores

pagos às entidades gestoras consoante o nível de ecodesign dos produtos ou pelo

reforço das medidas políticas em matéria de utilização de substâncias químicas (ex.

REACH).

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Entende-se dever ainda fomentar-se junto dos produtores de bens e serviços a

utilização de metodologias técnico-científicas direccionadas para o ciclo de vida,

como a Avaliação do Ciclo de Vida e a Análise Custo-Benefício, ou o cálculo de

indicadores de pressão ambiental (ex. "Pegada do Carbono" ou a “Energia

incorporada nos materiais”). A este nível deve ainda promover-se a utilização da

contabilidade ambiental, para avaliação de medidas adoptadas na prevenção de

resíduos.

6.2.3 OP1.A2 - Promoção da comunicação/sensibilização para a prevenção

da produção de resíduos

Pretende-se promover a comunicação/sensibilização para a prevenção da produção

de resíduos, designadamente através da realização de campanhas de disseminação

de informação sobre boas práticas na utilização de produtos, do incentivo à

utilização de rotulagem ambiental dos produtos (ex. "selo do carbono", rótulo

ecológico) e da divulgação de redes que se dediquem à reparação e reutilização de

equipamentos/produtos.

Ao nível das empresas deve apoiar-se a criação de plataformas de informação sobre

boas práticas geradoras de eco-eficiência, incluindo as técnicas de prevenção de

resíduos.

Orientado para os produtores e os consumidores em geral deve fomentar-se a

elaboração de um catálogo electrónico de produtos reutilizáveis e produtos

fabricados com materiais reciclados (actualizado numa base regular), conjugando-o

com certificados de qualidade desses produtos.

6.2.4 OP1.A3 - Promoção de compras no sector público com critérios de

sustentabilidade que previnam a produção de resíduos e fomentem a

reutilização

A Estratégia Nacional de Compras Públicas Ecológicas 2008-2010 está a ser objecto

de revisão, considerando o seu horizonte de vigência. A presente acção insere-se

nesse objectivo, pretendendo-se que os critérios relacionados com a gestão de

resíduos e uso de recursos sejam reavaliados, nomeadamente de forma a

promover-se compras, obras públicas e contratos de prestação de serviços, no

sector público, com critérios de sustentabilidade que previnam a produção de

resíduos e fomentem a reutilização e a utilização de materiais reciclados nos

produtos finais.

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83

6.2.5 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.3 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

De referir que apesar de a prevenção de resíduos se encontrar no nível mais

elevado da hierarquia de resíduos, não deve ser entendida como um princípio de

gestão de resíduos por si só, mas sim como parte integrante de uma política de

ambiente mais alargada, ao nível da utilização sustentável dos recursos naturais e

do consumo sustentável, dado que grande parte das acções para a sua

concretização se situam neste contexto mais abrangente. Assim, por exemplo, uma

correcta e justa aplicação do princípio do poluidor-pagador pode servir de incentivo

a uma prevenção da produção de resíduos. Nesta medida, tal como refere a nova

directiva quadro resíduos, é conveniente que os custos sejam distribuídos de modo

a reflectir os custos ambientais reais decorrentes da geração e gestão de resíduos

(vide Objectivo Operacional “Adequar e potenciar o uso de instrumentos

económicos e financeiros”).

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Tabela 6.3 Tendências de evolução definidas para as acções do OP1 - “Prevenir a Produção de Resíduos”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Promover acordos voluntários com sectores prioritários no

sentido de fomentar a produção mais limpa e a concepção

sustentável de produtos

Nº de sectores abrangidos

Planeamento APA, Associações

empresariais, DGAE

2. Promover a comunicação/sensibilização para a prevenção da

produção de resíduos

Nº de Campanhas de

sensibilização e informação

realizadas

Informativa/

Formativa

APA, Associações

empresariais, OGR

3. Promover compras no sector público com critérios de

sustentabilidade que previnam a produção de resíduos e

fomentem a reutilização

Introdução de critérios de

prevenção de resíduos no

âmbito da Estratégia de

Compras Públicas em

revisão

Legislativa APA, ANCP,

% de compras públicas que

incluem critérios de

prevenção

Planeamento/

Gestão

APA, entidades da

Administração Central,

Regional e Local, Sector

Empresarial do Estado

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6.3 OP2 - Promover o fecho dos ciclos dos materiais e o

aproveitamento da energia em cascata

6.3.1 Descrição do objectivo

A promoção do fecho dos ciclos de materiais e o aproveitamento da energia em

cascata visam direccionar os resíduos e as perdas de energia para novas aplicações

produtivas. Esta abordagem procura evitar o consumo de novas matérias-primas e

energia, contribuindo para a conservação dos recursos, e o desviar dos fluxos

residuais do seu percurso habitual, contribuindo igualmente para reduzir a pressão

sobre o ambiente.

É perceptível o progressivo entendimento, por parte dos cidadãos e das empresas,

de que a deposição dos resíduos, mesmo que em quantidades pouco significativas

em termos de volume, não é um destino desejável e que a evolução, num contexto

de sustentabilidade, deve passar por obter um maior valor económico por unidade

de recurso (material e/ou energético) consumido.

A evolução, a nível industrial, associada à investigação e desenvolvimento têm

demonstrado, quer a nível nacional, quer internacional, a existência de uma série

de classes de materiais que apresentam um grande potencial para integrar este

aproveitamento cíclico e que consubstanciam um benefício ambiental e económico

associado ao fecho de ciclos. Caso paradigmático desta abordagem são as redes de

simbioses industriais em que se estabelecem relações entre empresas de sectores

distintos numa abordagem colectiva à aquisição de vantagens competitivas, que

envolvem a transacção de materiais (resíduos), energia, água e/ou sub-produtos

(concretizadas nomeadamente através do desenvolvimento de eco-parques

industriais, como o Eco-Parque do Relvão na Chamusca). Outro nicho de

oportunidade está associado à quantidade de materiais que existe actualmente em

stock na economia, em edifícios, infra-estruturas e bens duráveis que pode e deve

ser vista como fonte futura de materiais, e não como fonte futura de resíduos.

Adicionalmente, alguns tipos de resíduos para os quais não existem, ou não sejam

viáveis ou desejáveis, soluções de prevenção e reciclagem (quer de um ponto de

vista ambiental, quer económico), podem constituir-se como uma fonte de energia

importante e que urge aproveitar.

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As medidas associadas a este objectivo devem ir no sentido de ultrapassar as

barreiras infra-estruturais, organizacionais e legais existentes potenciando o

entendimento entre os agentes da cadeia de valor no sentido de retirar maior valor

por unidade de material e energia consumidos, conservando os recursos e

reduzindo a pressão ambiental.

Realça-se a este nível que a nova Directiva Quadro relativa à gestão dos resíduos

pode vir a contribuir muito positivamente para este objectivo nomeadamente ao

prever e definir o “Fim do Estatuto de Resíduo” e o estatuto de “Subproduto”. A

inclusão desta nomenclatura e a sua regulamentação visam precisamente contribuir

para o fecho dos ciclos dos materiais sendo fundamental desenvolver o mecanismo

e os procedimentos necessários para definir os critérios específicos para a

atribuição dos referidos estatutos aos materiais residuais.

Outro documento legal que pode contribuir muito positivamente para este fim é o

Decreto-Lei n.º 210/2009 de 3 de Setembro que estabelece o regime de

constituição, gestão e funcionamento do mercado organizado de resíduos, MOR.

Trata-se de um instrumento económico de índole voluntária que visa facilitar e

promover as trocas comerciais de diversos tipos de resíduos, bem como potenciar a

sua valorização e reintrodução no circuito económico com vista a diminuir a procura

de matérias-primas e promover as simbioses industriais.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

6.3.2 OP2.A1 - Estabelecer e implementar um programa de acção para

promover a procura de materiais passíveis de valorização

Esta acção deve incluir, em primeira instância, o estabelecimento de metas, normas

e regras para a incorporação de materiais reciclados em produtos (ex. materiais de

construção reciclados, em obras públicas). Esta regulamentação deve garantir a

qualidade dos reciclados como forma de melhor os promover, sendo que se deve

privilegiar as medidas do lado da procura.

Por exemplo, deve estimular-se a certificação dos produtos reciclados, promover-se

os sistemas de incentivo à utilização de reciclados e fomentar o uso de rótulos

ecológicos, sensibilizando o consumidor para o seu significado e incentivando-o ao

consumo de produtos com incorporação de reciclados.

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De entre as fileiras prioritários a abordar podem citar-se os bio-resíduos, os

plásticos, o vidro, o papel e o cartão, os metais e a madeira, o composto e as lamas

de ETAR.

Neste último caso, das lamas de ETAR, deve-se potenciar o seu uso na agricultura

para correcção de solos, através da criação de incentivos económicos e de

informação. Esta medida deve ser acompanhada da disseminação de informação

sobre as vantagens da utilização de lamas naquele sector. De modo análogo, deve-

se privilegiar o escoamento do Composto, tendo como destino os sectores agrícola

e doméstico, ou a manutenção de espaços verdes.

A prossecução da Estratégia para os Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR)

contribui claramente para este Objectivo Operacional, ao promover a valorização

energética das fracções de refugo das unidades de triagem, de tratamento

mecânico e de tratamento mecânico e biológico de Resíduos Urbanos, com eventual

mistura com fracções de outros tipos de resíduos não perigosos de origens não

urbanas. A sua utilização poderá ser realizada em unidades dedicadas de

incineração ou em regime de co-incineração. Os sectores mais aptos à utilização de

CDR serão o sector da gestão de resíduos e os sectores do cimento, de pasta e

papel, e eventualmente o termoeléctrico.

Por outro lado, actuando do lado da oferta, a regulamentação deve ser

acompanhada do estabelecimento de normas de eficiência que determinem quais as

indústrias que podem ser consideradas recicladores e valorizadores energéticos.

Complementarmente, é importante assumir a promoção de uma recolha selectiva

que garanta padrões de qualidade e quantidade que permitam a viabilidade da

valorização dos materiais. Um dos incentivos para este fim, é o estabelecimento da

proibição da deposição em aterro de resíduos passíveis de valorização, em

condições técnicas e económicas viáveis, como por exemplo a de deposição em

aterro de bio-resíduos não tratados de acordo com a COM (2010)235 final.

Outro aspecto que pode ser considerado é a criação de um centro de competências,

responsável pela implementação/monitorização do programa, que pode envolver a

administração central e o sistema científico português, que para além da referida

atribuição deve ser dedicado à desmaterialização, consumo sustentável e promoção

da eficiência do uso dos materiais na economia nacional.

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6.3.3 OP2.A2 - Robustecer os sistemas de gestão de fluxos específicos aos

quais se aplica a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP),

numa óptica de criação de sinergias e avaliação da aplicação da RAP

a fluxos emergentes

Esta acção passa por estabelecer as estratégias e os objectivos de gestão para

fluxos emergentes ou outros resíduos (ex. consumíveis informáticos).

Complementarmente, deve analisar-se a exequibilidade da extensão da

responsabilidade alargada do produtor (RAP) já que se trata de um conceito que

tem revelado mais-valias significativas na gestão de resíduos, seja através da

criação de novas entidades gestoras ou do alargamento do âmbito das existentes.

Por outro lado, deve-se promover o aumento da interacção entre os valorizadores

de produtos como parte integrante do circuito de gestão do resíduo, e

consequentemente ao abrigo da legislação RAP (Responsabilidade Alargada do

Produtor) e fabricantes ou importadores desses mesmos produtos.

6.3.4 OP2.A3 - Promover o estabelecimento de simbioses industriais

A promoção do estabelecimento de simbioses industriais passa por incrementar o

número de indústrias que utilizam resíduos (e energia) nos seus processos de

produção que foram produzidos por outras indústrias ou produtores. O MOR é um

instrumento por excelência para esse efeito, sendo que no entanto deve ser

complementado com outras medidas como por exemplo a disponibilização de

informação sobre possíveis simbioses, a disponibilização de informação

georreferenciada sobre os locais e tipologias dos resíduos produzidos, a

identificação de casos de sucesso sectoriais, entre outras.

6.3.5 OP2.A4 – Promover o estabelecimento de novas áreas industriais

desenvolvidas com planos de racionalização de materiais e energia e a

reabilitação de áreas industriais existentes

Esta acção contempla o apoio à constituição de “eco-parques” industriais onde os

resíduos, subprodutos e energia gerados possam ser utilizados localmente por

outras indústrias nos seus processos, desde que garantido o respeito das condições

ambientais e de saúde humana.

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Por outro lado, deve actuar-se ao nível das zonas industriais existentes,

promovendo, por exemplo, a adopção de planos que prevejam o fecho de ciclo de

materiais e o aproveitamento da energia em cascata, por parte das entidades

promotoras de parques industriais.

Para implementar esta acção poder-se-ão desenvolver várias medidas, como por

exemplo, o desenvolvimento de documentos-guia que facilitem essa transformação,

o desenvolvimento de acções de formação dos recursos humanos das empresas

situadas nos parques industriais, incluindo dos seus gestores, e o estabelecimento

de um rótulo “eco-parque” que permita servir como um elemento de diferenciação

competitiva entre as áreas industriais.

Por exemplo, ao nível dos referidos eco-parques, que deverão obedecer a certos

requisitos para ter essa atribuição, um dos aspectos a acautelar deverá ser o das

empresas que queiram integrar essas áreas industriais, deverem elaborar planos

“resíduos zero”, identificando a montante o destino dos resíduos que produzirão,

com privilégio dos operadores locais, evitando a sua eliminação.

6.3.6 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.4 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.4 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP2 - “Promover o fecho dos ciclos dos materiais e o aproveitamento da

energia em cascata”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável (eis)

1. Estabelecer e implementar um programa de acção para

promover a procura de materiais alvo de valorização

Grau de implementação de

um programa de acção para

os materiais alvo de

valorização

Planeamento APA Promover o fim de estatuto

de resíduo para

determinados materiais, com

elevados níveis de qualidade

% de materiais sujeitos a

valorização certificados

2. Robustecer os sistemas de gestão de fluxos específicos

aos quais se aplica a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP), numa óptica de criação de sinergias e avaliação da aplicação da RAP a fluxos emergentes

Novos fluxos abrangidos pela

RAP

Gestão/Legislativo APA

2. Promover o estabelecimento de simbioses industriais

Quantitativos de resíduos

transaccionados

Planeamento/

Gestão

APA, Empresas

produtores de resíduos,

entidades gestoras da

plataforma MOR

3. Promover o estabelecimento de novas áreas industriais

desenvolvidas com planos de racionalização de materiais e

energia e a reabilitação de áreas industriais existentes

Nº de “eco-parques” criados Planeamento/

Gestão

DGAE, Municípios,

Associações

empresariais, Empresas

promotoras de parques

industriais

Nº de parques industriais

reabilitados

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6.4 OP3 - Consolidar e optimizar a rede de gestão de

resíduos

6.4.1 Descrição do objectivo

Conforme o princípio da auto-suficiência da gestão de resíduos preconizado pelo

Decreto-Lei n.º 178/2006, as operações de gestão de resíduos devem ocorrer

preferencialmente em território nacional, reduzindo ao mínimo possível os

movimentos transfronteiriços de resíduos.

Para a concretização deste objectivo é necessário consolidar e optimizar a rede

nacional de gestão de resíduos, actuando em dois níveis infra-estruturais

interligados entre si, i.e., ao nível da rede de recolha e de sistemas de valorização e

de eliminação de resíduos.

Assim, num primeiro nível, é necessário incrementar a rede de recolha e promover

o seu funcionamento em condições ambientais adequadas, dando preferência à

recolha selectiva e à qualidade dos resíduos com vista à sua valorização.

Num segundo nível, importa, em alguns casos, aumentar a capacidade instalada

para a valorização dos resíduos, que se revela actualmente insuficiente.

A implementação de novas soluções de valorização pressupõe investimentos

avultados e elevados custos de operação, para os quais deve ser tido em conta o

efeito de escala associado. Salienta-se que devem ser considerados os factores

geográficos e de mercado face ao contexto europeu, bem como a organização dos

sistemas de gestão de resíduos por vezes bastante fragmentada e com dimensões

díspares, e ainda o facto de determinadas tecnologias de gestão de resíduos

requererem, para garantir a sua rentabilidade, quantitativos de produção de

resíduos superiores à produção nacional.

Um princípio a garantir neste objectivo é o do poluidor-pagador sendo o produtor e

o detentor dos resíduos os responsáveis por assegurar a sua gestão (incluindo os

custos de tratamento) garantindo a protecção do ambiente e da saúde humana.

Adicionalmente, deve aplicar-se o princípio da equivalência, ou seja, o regime

económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos deve visar apenas a

compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à

comunidade ou dos benefícios que a comunidade lhe faculta. Uma via importante

para reduzir estes custos e/ou melhorar a eficiência dos processos existentes passa

por conceder um maior apoio à realização de actividades de investigação e

desenvolvimento.

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Uma das formas utilizadas para incrementar, a nível ambiental e económico, o

sistema de recolha e valorização de resíduos é a aplicação do conceito da

responsabilidade alargada do produtor formalizado na implementação de entidades

gestoras de resíduos, que deve ser reforçado e alargado na perspectiva da procura

de sinergias. A progressiva adopção de uma política de gestão de resíduos

orientada para as fileiras de materiais (plásticos, metais, vidro, madeira, entre

outros) em detrimento dos fluxos de produtos (ex. automóveis, equipamentos

eléctricos e electrónicos) através, nomeadamente da promoção de sinergias entre

entidades gestoras de resíduos e entre operadores de gestão pode constituir um

passo importante para este objectivo, potenciando a noção de que mais que um

resíduo, um produto em fim de vida é uma potencial fonte de materiais.

Complementarmente, e nos termos do previsto no Regulamento (CE) n.º

1013/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de Junho, devem ser

limitadas as transferências de resíduos destinados a valorização que não respeitem

os objectivos preconizados no presente Plano.

Neste contexto, as acções propostas no PNGR para o cumprimento destes

objectivos são:

6.4.2 OP3.A1 - Incentivar a proximidade da rede de recolha ao utilizador e

a separação selectiva

Esta acção passa por reforçar a avaliação das necessidades de alargamento e de

aproximação da rede de recolha aos consumidores particulares e actuar junto dos

municípios e operadores de gestão no sentido de garantirem níveis eficazes de

proximidade, equacionando-se a hipótese de recolha porta-a-porta em situações

específicas, de que os bio-resíduos são um exemplo.

Assumindo que o Estado deve ter um papel exemplar, deve estabelecer-se a

obrigatoriedade de separação selectiva de resíduos na administração pública e

empresas com capitais públicos.

O estabelecimento de incentivos para a recolha de determinados resíduos deve

também ser considerado. Um exemplo paradigmático é a necessidade de reforçar o

incentivo à entrega de resíduos de embalagens de medicamentos e de

medicamentos fora de prazo nas farmácias, assim como a sua separação nos locais

de produção e adequado encaminhamento para valorização.

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Por outro lado, é essencial, para este fim, conceber e implementar sistemas de

recolha selectiva para fluxos específicos e emergentes, nas situações que o

justifiquem. A título de exemplo, pode ser equacionado o estabelecimento de redes

de recolha diferenciadas de óleos minerais usados consoante a sua origem e

qualidade. Actualmente já são incluídos nas licenças requisitos associados à

definição da rede de recolha, a qual deverá assegurar a cobertura de todo o

território nacional, tendo em conta critérios de densidade populacional e de

acessibilidade.

6.4.3 OP3.A2 - Potenciar sinergias de recolha e tratamento de resíduos

numa lógica de complementaridade

Esta acção passa por estudar possíveis sinergias e efeitos de escala entre entidades

de gestão de resíduos ao nível da gestão e valorização de resíduos, potenciando

sinergias entre diferentes redes de recolha e no tratamento destes. Poderá ser

equacionada a existência de sinergias entre a rede de recolha selectiva porta-a-

porta e por ecopontos, sempre que após uma avaliação específica, tal se verifique

viável. Todas as operações que integram o ciclo de gestão de resíduos devem

contribuir para a preservação dos recursos naturais (solo, água, biodiversidade e

património natural). Neste sentido os sistemas de recolha e tratamento devem

promover a qualificação das suas infraestruturas e a optimização da sua gestão

através da adopção de melhores processos e tecnologias de tratamento de

resíduos, visando o uso sustentável dos recursos naturais. Devem igualmente

assegurar que a localização de novas instalações associadas à gestão de resíduos

não ocorra em zonas de elevada importância ecológica e não interfira com as

opções estratégicas delineadas nos intrumentos de gestão territorial em vigor.

6.4.4 OP3.A3 - Uniformizar as regras de recolha e transporte para todos

os operadores

No sentido de tornar as operações de recolha, transporte e amostragem no país

mais transparentes e eficientes, é necessário legislar no sentido de criar regras de

actividade uniformes para todos os operadores, pertencentes ou não a um sistema

integrado de gestão de resíduos.

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6.4.5 OP3.A4 - Promover a auto-suficiência e a competitividade dos

operadores diminuindo a dependência externa

Esta acção envolve promover a auto-suficiência nacional em matéria de valorização

e eliminação de resíduos, limitando desse modo a exportação de resíduos perigosos

e não perigosos, desde que exista no país capacidade instalada suficiente, a custos

equiparados. Tal deve ser realizado de acordo com os princípios do mercado único

europeu e legislação nacional e internacional em vigor, pelo que a promoção da

auto-suficiência deve ser realizada através do aumento de competitividade dos

operadores, garantindo melhores condições no mercado nacional.

Tal passa, por exemplo, pelo incentivo a que as infra-estruturas de gestão de

resíduos sejam operadas de acordo com as melhores técnicas disponíveis, quer

estejam estas no âmbito do PCIP ou não. Adicionalmente, deve apoiar-se o

estabelecimento de novas unidades de valorização de resíduos para os quais o país

seja deficitário, potenciar a utilização das plataformas logísticas para a optimização

dos circuitos associados à recolha, armazenamento e transporte de resíduos,

estimular a produção de energia descentralizada (eólica, solar, biomassa) em

instalações de operadores de gestão de resíduos, introduzir uma linha de apoio à

modernização tecnológica de operadores com vista à obtenção de materiais

reciclados e combustíveis alternativos com maior qualidade, melhorar os

mecanismos de prevenção de acidentes e minimizar as consequências no ambiente

e saúde humana, fomentar a utilização de combustíveis alternativos nas frotas de

transporte de resíduos e fomentar a utilização de sistemas de optimização de rotas,

de modo que a recolha de resíduos se torne mais eficiente e com menores impactes

ambientais (emissões atmosféricas).

6.4.6 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.5 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.5 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP3 - “Consolidar e optimizar a rede de gestão de resíduos”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Incentivar a proximidade da rede de recolha ao utilizador e a

separação selectiva

Capitação por

consumidor/produtor de

resíduos

Planeamento/

Gestão Municípios, EG

2. Potenciar sinergias de recolha e tratamento de resíduos numa

lógica de complementaridade

Nº de sinergias

estabelecidas/Nº de sinergias

potenciais identificadas

Gestão Municípios, EG, OGR

3. Uniformizar as regras de recolha e transporte para todos os

operadores

Estabelecimento de normas e

regras comuns para

operadores de recolha e

transporte

Legislativa APA

% de adesão das empresas à

plataforma eGAR

4. Promover a auto-suficiência e a competitividade dos

operadores diminuindo a dependência externa

% dos resíduos produzidos

em Portugal que são

exportados

Planeamento/

Gestão EG, OGR, APA

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6.5 OP4 - Gerir e recuperar os passivos ambientais

6.5.1 Descrição do objectivo

A degradação do solo tem um impacte directo na qualidade da água e do ar, na

biodiversidade e nas alterações climáticas, estando igualmente na origem de riscos

para a saúde pública. Neste sentido foi desenvolvida a Estratégia Temática de

Protecção do Solo (COM (2006)231 final, de 22 de Setembro) que assenta em

quatro pilares fundamentais: a adopção de legislação-quadro com o objectivo

principal de proteger e garantir uma utilização sustentável do solo, a integração da

protecção do solo na elaboração e aplicação de políticas nacionais e comunitárias, o

preenchimento das actuais lacunas do conhecimento em determinadas áreas da

protecção do solo através de investigação apoiada por programas de investigação

comunitários e nacionais e por último a sensibilização do público para a

necessidade de proteger o solo.

Sendo o solo um exemplo da necessidade de pensar a nível global e agir a nível

local uma Directiva-quadro apresenta-se como um meio para melhor garantir uma

abordagem global da protecção do solo, respeitando simultaneamente o princípio

da subsidiariedade. A proposta de Directiva-quadro para a protecção do solo,

actualmente em discussão, pretende ao nível da contaminação do solo que sejam

identificadas na UE zonas de risco com base em elementos comuns.

Em Portugal existem situações de contaminação de solos, dispersas ao longo do

seu território, embora geograficamente limitadas, em consequência de actividades

industriais e urbanas, que entraram em declínio ou foram abandonadas, pelo que

nem sempre é possível responsabilizar entidades pela sua recuperação à luz do

princípio do poluidor pagador. Tais situações representam um passivo ambiental

muito importante, estando na origem de riscos para a saúde pública e para os

ecossistemas.

A resolução de tais passivos constitui um pressuposto para a valorização económica

das respectivas regiões, onde, em muitos casos, as actividades que estão na sua

origem foram as principais fontes de emprego. A “requalificação das áreas visadas”

promove a “valorização do território e das cidades” não só ambientalmente como

do ponto de vista económico, ao garantir ganhos ambientais face à diminuição dos

riscos e ao contribuir positivamente para a manutenção da biodiversidade e

proporcionando melhores condições para o uso futuro do solo.

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A operação de descontaminação de solos e a monitorização dos locais de deposição

após o encerramento das respectivas instalações encontra-se estabelecido no artigo

2º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, que estabelece o regime geral

da gestão de resíduos, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva

2006/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril, e a Directiva

91/689/CEE do Conselho, de 12 de Dezembro. A alínea b) do artigo 24º estabelece

ainda que as entidades licenciadora para as operações de descontaminação dos

solos são a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e as

Direcções Regionais dos Açores e da Madeira territorialmente competentes.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

6.5.2 OP4.A1 - Implementar a estratégia de recuperação dos passivos

ambientais

É essencial, como ponto de partida para este objectivo, actualizar o documento

orientador para os solos contaminados, incluindo a recuperação dos passivos

ambientais, - nomeadamente aqueles onde existe deposição de resíduos - e sua

reabilitação. Nesse contexto, para além do aspecto legislativo, deverá ser tida em

conta a elaboração de guias e normas técnicas para a descontaminação de solos.

Dado o impacte directo que a degradação dos solos tem na qualidade da água e na

biodiversidade, este tipo de reabilitação deve ter em conta a protecção dos recursos

hídricos e a recuperação da biodiversidade.

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98

6.5.3 OP4.A2 - Promover a monitorização e controlo dos locais pós-

encerramento

Esta acção visa incrementar a monitorização e controlo dos locais de deposição de

resíduos, sejam urbanos e equiparados ou não urbanos, estabelecendo-se

programas de monitorização que permitam avaliar um conjunto de temas

ambientais relevantes, nomeadamente a qualidade dos recursos hídricos

superficiais e sub-superficiais, a produção de biogás e lixiviados e a existência de

assentamentos. Adicionalmente, para a concretização da referida acção deverão ser

considerados outros aspectos, nomeadamente o estabelecimento da

obrigatoriedade dos planos de gestão dos sistemas multimunicipais e

intermunicipais preverem medidas de estabilização dos aterros no seu fim-de-vida

(“aterro sustentáveis”), quando necessário, e de estimarem a quantidade de

materiais úteis que a longo prazo podem ser extraídos do aterro (mineração de

aterros), o estudo do potencial de mineração de lixeiras de RU e equiparados

encerradas e o fomento do aproveitamento dos materiais de escombreiras na

recuperação paisagística de pedreiras.

6.5.4 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.6 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.6 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP4 - “Gerir e recuperar os passivos ambientais”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Implementar e consolidar a estratégia de recuperação dos

passivos ambientais

Nº de situações de passivo

ambiental recuperadas/Nº de

situações de passivo

ambiental identificadas

Gestão/Controlo

APA; Municípios;

Empresas responsáveis

pelo passivo ambiental

2. Promover a monitorização e controlo dos locais pós-

encerramento

Nº de actividades de

monitorização e controlo

realizadas

Gestão/Controlo

APA; Municípios;

Empresas responsáveis

pelo passivo ambiental

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100

6.6 OP5 - Fomentar a cidadania ambiental e o

desempenho dos agentes

6.6.1 Descrição do objectivo

De acordo com o princípio da responsabilidade do cidadão (Decreto-Lei n.º

178/2006), os cidadãos devem contribuir para a prossecução dos princípios e

objectivos da política nacional de gestão de resíduos, adoptando comportamentos

de carácter preventivo em matéria de produção de resíduos, bem como práticas

que facilitem a respectiva reutilização, reciclagem e outras formas de valorização.

Deste modo, no sentido de fomentar a cidadania ambiental deve, por exemplo,

actuar-se ao nível da prevenção da produção de resíduos. Por outro lado, tendo em

conta a situação de referência relativa a algumas tipologias/fluxos específicos de

resíduos (capítulo 3), como por exemplo, as embalagens de medicamentos ou as

pilhas e acumuladores portáteis, existe uma grande margem de progressão para o

aumento das taxas de recolha selectiva com vista à valorização desses resíduos,

sendo que, esse aumento dos quantitativos (e “qualidade” dos resíduos) depende

em grande parte do correcto encaminhamento dos resíduos para os sistemas de

recolha adequados. Acresce ainda referir que nas licenças das entidades gestoras

responsáveis por sistemas integrados, estão previstas obrigações para o

desenvolvimento de acções de sensibilização/comunicação direccionadas para os

cidadãos e consumidores em geral, cuja implementação têm vindo a contribuir para

o envolvimento de todos os intervenientes.

Igualmente importante é a aposta na adopção por parte dos cidadãos de padrões

de consumo mais sustentáveis, por exemplo através da opção preferencial por

produtos manufacturados com materiais reciclados. Neste último aspecto, é

necessário aumentar o conhecimento e melhorar a percepção dos produtos

fabricados com materiais reciclados, que são ainda encarados como produtos pouco

nobres e destinados a aplicações menores. Será assim fundamental definir medidas

que permitam mudar o paradigma para o “thinking positive about waste”.

A cidadania ambiental reflecte-se não só ao nível dos comportamentos individuais,

por exemplo no comportamento do consumidor doméstico, mas igualmente ao nível

do comportamento que os cidadãos têm enquanto parte integrante de uma

organização colectiva, quer de natureza privada, quer de natureza pública, pelo que

importará igualmente actuar a este nível.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

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6.6.2 OP5-A1 - Reforçar e apoiar as actividades de

comunicação/sensibilização desenvolvidas pelos operadores de

gestão e pelas entidades gestoras de fluxos específicos

O reforço das actividades de comunicação/sensibilização desenvolvidas pelos

operadores de gestão envolve o apoio por parte do estado a projectos submetidos

por sujeitos passivos no âmbito da parcela da TGR consignada para esse efeito e

ainda por outros eventuais apoios do Estado nesta área e o cumprimento das

obrigações estabelecidas pelas licenças das entidades gestoras e operadores de

gestão de resíduos. Entre os aspectos importantes a explorar, pode salientar-se por

exemplo, as actividades direccionadas para o consumidor comum ou para outros

públicos-alvo, em que se aborde o conceito do consumo sustentável, da “economia

circular” e do “valor” dos resíduos e a articulação e procura de sinergias das

campanhas de comunicação desenvolvidas por várias entidades.

6.6.3 OP5.A2 - Instituir a atribuição de prémios anuais de desempenho

A instituição da atribuição de prémios anuais de desempenho visa dar

reconhecimento aos agentes com bom desempenho ao nível da gestão de resíduos

e, ao mesmo tempo, difundir os casos de sucesso por entidades congéneres. Entre

as entidades alvo contam-se as Empresas, os Municípios, os OGR, as Entidades

públicas e as Escolas. No que respeita por exemplo aos OGR a avaliação do

desempenho pode ser estabelecida com base nas auditorias de auto-controlo

efectuadas.

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6.6.4 OP5.A3 - Fomentar o envolvimento dos cidadãos e dos agentes no

processo de tomada de decisão

O fomento do envolvimento dos cidadãos e dos agentes no processo de tomada de

decisão visa aumentar a participação destes nos processos de tomada de decisão,

quer seja no âmbito do procedimento da avaliação ambiental estratégica (AAE),

quer em outros casos em que não sendo obrigatória a participação pública, se

considere vantajoso esse envolvimento, como seja a nível das actividades de

monitorização e controlo de operações de gestão de resíduos. Entre as medidas que

podem ser adoptadas, salientam-se, por exemplo, a criação de uma plataforma de

consulta pública, a realização de inquéritos aos cidadãos e a realização de

workshops sobre vários temas relacionados com a gestão de resíduos e o uso

sustentável de recursos, como sejam a transposição de directivas e normas

europeias para o direito português ou a preparação e divulgação de exposições

itinerantes.

6.6.5 OP5.A4 – Promover a integração da gestão de resíduos e do uso

sustentável dos recursos nos curricula educativos dos ensinos

básicos e secundário

Esta acção envolve a articulação entre o MAOT e o ME com vista a incluir de forma

integrada nos programas curriculares dos alunos do ensino básico e secundário, os

conceitos relacionados com a prevenção e a gestão adequada dos resíduos e o uso

sustentável dos recursos naturais, o ciclo de vida dos materiais e produtos, entre

outros aspectos.

6.6.6 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.7 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização

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Tabela 6.7 – Tendências de evolução definidas para as acções do OP5 – “Fomentar a cidadania ambiental e o desempenho dos agentes”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Reforçar e apoiar as actividades de comunicação/sensibilização desenvolvidas pelos operadores de gestão e pelas entidades gestoras de fluxos específicos

% de financiamento afecta a campanhas de comunicação e sensibilização

Informativa APA e EG (resíduos

urbanos e equiparados e fluxos específicos)

2. Instituir a atribuição de prémios anuais de desempenho

Nº de prémios de desempenho instituídos

Informativa APA

% de adesão das empresas a candidaturas para atribuição de prémios

de desempenho

% de OGR com relatórios de auditorias sem

desconformidades legais

3. Fomentar o envolvimento dos cidadãos e dos agentes no processo de tomada de decisão

Nº de actividades de envolvimento dos

cidadãos e dos agentes realizadas

Informativa

APA, CCDR, DR das RA, EG (resíduos

urbanos e equiparados)

4. Promover a integração da gestão de resíduos e do uso sustentável dos recursos nos curricula educativos dos ensinos básicos e secundário

Protocolo entre o MAOT e o ME

Formativa MAOT e ME

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6.7 OP6 - Promover a formação e qualificação dos

agentes

6.7.1 Descrição do objectivo

As políticas comunitárias e nacionais sobre resíduos aplicadas nos últimos anos

traduziram-se numa melhoria em termos ambientais. No entanto, importa reforçar

as medidas desenvolvidas, nomeadamente ao nível da formação e qualificação do

sector, promovendo a “apetência” pelo resíduo enquanto fonte de matérias-primas

secundárias e energia.

A formação e qualificação dos diversos agentes, sejam entidades públicas ou

privadas, passa por promover o salto qualitativo ao nível ambiental, económico e

social.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

6.7.2 OP6.A1 - Desenvolver um programa de formação no sentido do

incremento das competências e da qualidade do serviço no sector de

actividade dos resíduos

Esta acção visa a formação de dirigentes, quadros técnicos e outros colaboradores,

sendo que este é um aspecto chave para que alguns dos riscos e impactes

ambientais e sobre a saúde humana resultantes da gestão de resíduos possam ser

minimizados com o aumento das competências dos recursos humanos que intervêm

nessa gestão. Tal pode envolver acções de formação e qualificação profissional para

os recursos humanos dos OGR, dando-se prioridade a resíduos chave, como por

exemplo os resíduos de construção e demolição, a qualificação dos transportadores

de resíduos perigosos e não perigosos e do mercado de componentes usados e

reutilização de equipamentos e o estabelecimento de níveis de qualificação dos

responsáveis técnicos dos OGR. Por forma a dinamizar o mercado e evitar a

sobrecarga dos recursos humanos da administração central e regional, as acções de

formação e a qualificação dos recursos poderão ser ministradas por peritos

qualificados para esse efeito, no quadro dos requisitos estabelecidos pelas

entidades públicas.

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6.7.3 OP6.A2 - Promover a implementação de sistemas de gestão

ambiental, de qualidade e de higiene e segurança no trabalho

A promoção da implementação de sistemas de gestão ambiental, de qualidade e de

higiene e segurança no trabalho é outro aspecto importante, dadas as

especificidades do sector. Tal pode ser realizado, por exemplo, através do incentivo

à certificação dos operadores de gestão de resíduos urbanos e equiparados e não

urbanos, do reforço da certificação das entidades gestoras de fluxos específicos de

resíduos disseminando-se os efeitos ao longo da cadeia de valor e da certificação

de entidades públicas da administração central e regional relacionadas com

resíduos, facultando orientações e liderando pelo exemplo.

6.7.4 OP6.A3 - Disseminar informação sobre boas práticas em sectores-

chave produtores de resíduos

Esta acção encontra-se relacionada com a elaboração de guias técnicos para

orientar as entidades produtoras de resíduos na gestão dos mesmos. Dado o vasto

acervo, em termos de legislação, regulamentos e normas existentes a nível de

gestão de resíduos importa simplificar e clarificar os variados aspectos associados a

esta actividade, disseminando essa informação de forma gratuita sobretudo com

base em tecnologias de informação existentes, nomeadamente os sites da APA, das

entidades gestoras de sistemas integrados e das associações empresariais

relevantes.

6.7.5 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.8 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.8 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP6 – “Promover a formação e qualificação dos agentes”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Desenvolver um programa de formação no sentido do

incremento das competências e da qualidade do serviço no

sector de actividade dos resíduos

Elaboração do programa de

formação e respectiva

implementação progressiva

identificando sectores

prioritários de actuação

Formativa APA

2. Promover a implementação de sistemas de gestão ambiental,

de qualidade e de higiene e segurança no trabalho

Sistemas de gestão

ambiental, de qualidade e de

higiene e segurança no

trabalho implementados em

OGR e EG

Gestão

OGR, EG (resíduos

urbanos e equiparados e

fluxos específicos)

3. Disseminar informação sobre boas práticas em sectores-chave

produtores de resíduos

Guias de boas práticas

elaborados em áreas

prioritárias de actuação

Informativa APA, Associações

empresariais

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6.8 OP7 - Fomentar o conhecimento do sector numa

lógica de ciclo de vida

6.8.1 Descrição do objectivo

De acordo com a nova Directiva-quadro a seguinte hierarquia deve ser aplicada

prioritariamente na definição de políticas para a gestão de resíduos: prevenção e

redução; preparação para reutilização; reciclagem; outras formas de valorização,

incluindo a valorização energética e eliminação. Na aplicação da hierarquia de

gestão de resíduos devem, no entanto, prevalecer as opções que conduzem a um

menor impacte ambiental global, sendo que isto pode significar para casos

específicos uma alteração da hierarquia referida, desde que justificada numa

perspectiva de ciclo de vida.

A gestão de resíduos tem de ser considerada numa lógica de ciclo de vida, em que

a valorização dos produtos em fim de vida signifique uma efectiva redução do

impacte ambiental e na saúde humana ao longo do ciclo de vida27. Por exemplo,

materiais mais leves não são necessariamente mais “amigos” do ambiente do que

materiais mais pesados, produtos mais leves podem ter períodos de vida mais

curtos, alargar o tempo de vida útil de um material ou produto pode conduzir a

atrasos na modernização dos equipamentos e a aumentos do consumo de energia e

o aumento da eficiência da utilização dos materiais através da reutilização ou

reciclagem pode ter efeitos secundários indesejáveis resultantes da utilização extra

de transporte, de energia e levar ao aumento de emissões para a natureza.

Para além da visão centrada nos processos (ex. tecnologias de valorização), é

necessário ter uma visão sistémica, para evitar a transferência de impactes de uma

fase do ciclo de vida para outra. Este aspecto é importante, uma vez que os

impactes ambientais podem ser transferidos de um meio para o outro, ou de uma

parte do sistema industrial para outra (ex. passar da produção de emissões gasosas

para a deposição de lamas no solo).

27 Como referido na Estratégia Temática de Prevenção e Reciclagem de Resíduos, os principais impactes ambientais de muitos recursos estão frequentemente ligados à fase de utilização e não ao fim de vida.

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Assim, os benefícios ambientais e económicos resultantes do desenvolvimento de

iniciativas no âmbito do apontado anteriormente têm, em cada caso, quer a nível

do reaproveitamento dos resíduos, quer a nível das medidas de prevenção da

produção de resíduos, que ser comprovados, nomeadamente através de

metodologias como a Análise de Ciclo de Vida e/ou a Análise de Custo/Benefício, de

forma a verificar se se traduzem, com racionalidade económica, numa efectiva

diminuição de impacte ambiental no ciclo de vida dos materiais e produtos, no

contexto específico em que se inserem. A Portaria n.º 1127/2009 de 1 de Outubro

que regula a aplicação do produto da taxa de gestão de resíduos prevê o apoio ao

desenvolvimento de estudos e projectos que visem aumentar o conhecimento do

sector contribuindo para o cumprimento dos objectivos nacionais em matéria de

gestão de resíduos.

O alargamento do âmbito da política de resíduos para um contexto de uso eficiente

de recursos, não implica necessariamente descurar preocupações antigas.

Subsistem preocupações com os impactes no ambiente e na saúde humana

relacionados com os processos e tecnologias de gestão de resíduos, quer estas

sejam de eliminação ou de valorização28.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

28 Por exemplo, patentes, a nível europeu, na aplicação das Directivas Aterros e Incineração (Directiva n.º 1999/31/CE e Directiva n.º 2000/76/CE) e no alargamento a vários produtos do conceito da responsabilidade alargada do produtor, cuja preocupação prioritária consiste na redução do impacte ambiental associado ao fim de vida desses produtos.

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6.8.2 OP7.A1 - Promover a integração de sistemas de informação que

garantam maior fiabilidade da informação e suporte aos processos

de decisão e avaliação de tendências

A promoção da integração de sistemas de informação que garantam maior

fiabilidade da informação e suporte aos processos de decisão e avaliação de

tendências é um aspecto chave para aumentar o conhecimento do sector,

constituindo o Sistema Integrado de Registo de Resíduos da Agência Portuguesa do

Ambiente (SIRAPA) a ferramenta pivô por excelência para o efeito. Neste sentido, o

SIRAPA deverá ser consolidado e desenvolvido, integrando novas valências, como

por exemplo a georreferenciação da produção/destino dos resíduos, relatórios de

monitorização dos aterros, Movimento Transfronteiriço de Resíduos, Lista de

operadores de Resíduos e Caracterização das Infra-estruturas. Por outro lado, o

SIRAPA deve-se constituir cada vez mais como uma ferramenta direccionada para o

público em termos de relatórios, fornecendo estatísticas relevantes e actuando

como base de dados e de estudos orientados para o ciclo de vida dos produtos.

6.8.3 OP7.A2 - Desenvolver e actualizar numa base regular um sistema de

indicadores sobre resíduos e fluxos de materiais e sua

disponibilização pública

O desenvolvimento e actualização numa base regular de um sistema de indicadores

sobre resíduos e fluxos de materiais e sua disponibilização pública é igualmente

uma acção a desenvolver, de modo a permitir seguir a evolução dos principais

indicadores relacionados com o sector, inclusive os indicadores associados às metas

do presente Plano e de outros Planos específicos, e a comparação entre sistemas,

por exemplo dos sistemas integrados de gestão de fluxos específicos e de resíduos

urbanos e equiparados.

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6.8.4 OP7.A3 - Incentivar e apoiar a investigação e desenvolvimento no

sector

Por forma a aumentar o conhecimento do sector é necessário igualmente incentivar

e apoiar a I&D por este desenvolvida. Desta forma, utilizando os recursos obtidos

pela TGR, poder-se-á apoiar as actividades de investigação e desenvolvimento dos

sujeitos passivos da TGR, como por exemplo, o desenvolvimento de projectos

científicos relacionados com o aumento do conhecimento ao nível do ecodesign de

produtos e sua implementação prática, utilização sustentável de produtos e

inovação tecnológica das infra-estruturas de valorização de resíduos, o

desenvolvimento de projectos-piloto centrados por exemplo no desvio de fracções

perigosas e na recolha selectiva, a realização de workshops periódicos para

apresentação dos projectos de I&D desenvolvidos pelas entidades gestoras de

fluxos específicos de resíduos e a elaboração de estudos de avaliação de ciclo de

vida dos sistemas de gestão de resíduos urbanos e equiparados e de fluxos

específicos de resíduos. Um aspecto que deve ser explorado é a procura de

sinergias entre várias entidades que lidam com resíduos com características

semelhantes ou complementares, como sejam os REEE, as pilhas e acumuladores,

os VFV, os óleos usados e os pneus usados. Por outro lado e no âmbito das

entidades gestoras de fluxos específicos de resíduos, encontram-se definidos

requisitos mínimos de investimento em I&D nas respectivas licenças, havendo para

esse efeito lugar à fixação de montantes mínimos anuais a serem dispendidos no

apoio a projectos que concorram no sentido da melhoria da gestão dos fluxos

específicos. Também a Administração deverá contribuir directamente promovendo

parcerias e projectos de apoio perspectivando o desenvolvimento e inovação.

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6.8.5 OP7.A4 - Promover e disseminar estudos de caracterização do sector

Para além de incentivar a I&D pelas entidades do sector, a própria administração

central e regional tem o dever de promover ela própria estudos de caracterização

do sector para apoio ao seu processo de tomada de decisão e de elaboração de

normas técnicas. Como exemplo de medidas que podem ser adoptadas contam-se

os estudos de avaliação do potencial de produção de resíduos chave e suas

possibilidades de valorização, de que os RCD são um exemplo, a obrigatoriedade da

avaliação ambiental de sistemas, tecnologias e processos com vista à definição de

metas de recolha e valorização específicas e a avaliação custo/beneficio das

estratégias seguidas pelo estado e EG de resíduos urbanos e equiparados e fluxos

específicos de resíduos, a definição e implementação de normas técnicas e

Melhores Técnicas Disponíveis (MTD) para gestão de resíduos no sector e a análise

da viabilidade de apostar numa política de gestão de resíduos mais centrada na

fileira (materiais) ao invés de no produto, como actualmente.

6.8.6 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.9 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.9 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP7 – “Fomentar o conhecimento do sector numa lógica de ciclo de vida”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Promover a integração de sistemas de informação que

garantam maior fiabilidade da informação e suporte aos

processos de decisão e avaliação de tendências

Desenvolvimento do SIRAPA

Informativa APA

2. Desenvolver e actualizar numa base regular um sistema de

indicadores sobre resíduos e fluxos de materiais e sua

disponibilização pública

Relatório disponibilizado

numa base regular

Informativa APA

3. Incentivar e apoiar as actividades de investigação e

desenvolvimento dos sujeitos passivos da TGR

Nº de iniciativas de I&D

apoiados

Económica-

financeira

APA, EG (RU e fluxos

específicos), OGR

4. Promover e disseminar estudos de caracterização do sector Estudos de caracterização do

sector elaborados

Informativa APA

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6.9 OP8 - Adequar e agilizar os processos

administrativos

A optimização do quadro legal e institucional, prosseguindo o trabalho que tem

vindo a ser desenvolvido, é um factor decisivo para a gestão integrada de resíduos,

importando melhorar a sua eficácia e permitir modelos administrativos céleres

associados a sistemas de regulação fortes. Isto passa, designadamente, por

simplificar e modernizar a legislação em vigor através da redução da carga

administrativa existente, pela resolução de sobreposições entre diferentes

documentos legislativos e através da clarificação de conceitos e definições (ex.

definição de critérios relativos à perda do estatuto de resíduo).

A gestão da informação sobre resíduos, fiável e com qualidade, apesar de poder

acarretar uma elevada quantidade de informação a tratar, pode diminuir

consideravelmente o esforço administrativo requerido aos agentes envolvidos.

Nesta medida, é determinante a prossecução da aposta no desenvolvimento de

meios informáticos de relação entre os agentes associados à gestão de resíduos e o

Estado (como seja o Sistema Integrado de Registo da Agência Portuguesa do

Ambiente, SIRAPA). Dada a relativa juventude deste tipo de instrumentos,

naturalmente surgirão algumas necessidades de alteração dos procedimentos de

modo a diminuir o esforço administrativo e tornar o seu acesso e utilização mais

fácil e eficaz (evitando a replicação da informação requerida, estabelecendo um

equilíbrio entre as necessidades de informação e a quantidade de dados requerida,

entre outros aspectos).

Apesar do esforço desenvolvido nesse sentido, a regulação e fiscalização do

mercado de gestão de resíduos são ainda insuficientes. Na generalidade dos fluxos

de resíduos funciona a lei do mercado, não existindo um regulador próprio, estando

no entanto os operadores enquadrados por normas e procedimentos específicos

relacionados sobretudo pela necessidade de licenciamento (quer de operadores de

gestão de resíduos não urbanos, quer de entidades de gestão de fluxos específicos

de resíduos) e normas de qualidade ambiental (ex. limites de emissões pela co-

incineração de resíduos). No caso dos resíduos urbanos e equiparados, a regulação

é realizada pela ERSAR, cujo papel e competências importa potenciar para melhorar

o desempenho ambiental e económico das entidades gestoras de resíduos urbanos

e equiparados.

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Por outro lado, o papel de fiscalização por parte do Estado Português é fundamental

para assegurar que as operações de gestão de resíduos são realizadas de acordo

com o enquadramento existente e de uma forma ambientalmente adequada. Por

exemplo, em alguns fluxos de resíduos, o mercado informal justifica a dificuldade

de obtenção de resíduos por algumas unidades legais e que a sua gestão seja

realizada em condições ambientais não adequadas, sendo que neste aspecto é

necessário melhorar a fiscalização e penalizar os infractores.

Neste contexto, torna-se imprescindível que os organismos da Administração com

atribuições e competências na área da gestão de resíduos, como a Inspecção-Geral

do Ambiente e Ordenamento do Território (IGAOT), o Serviço de Protecção da

Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (SEPNA) como entidades

de fiscalização, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), as Comissões de

Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), como entidades competentes de

licenciamento, acompanhamento e de monitorização e as Direcções Regionais das

Regiões Autónomas, detenham meios e disponham de recursos suficientes para

desempenhar as suas funções.

Com vista a aumentar a responsabilidade e a pro-actividade dos agentes

pertinentes em matéria de gestão de resíduos, devem-se estabelecer novas

práticas que conduzam a que estes sejam responsabilizados de forma efectiva pela

veracidade das suas alegações e pelo cumprimento da lei. Neste contexto, a acção

das entidades com responsabilidades de supervisão do sector é aliviada da

avaliação detalhada de todos os aspectos de alegação dos agentes, sendo que as

penalizações por incumprimento deverão ser desincentivadoras da infracção.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

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6.9.1 OP8.A1 - Optimizar o quadro legal e institucional

Esta acção passa por adequar os planos específicos para a gestão de resíduos e por

simplificar e modernizar a legislação em vigor. Como exemplos de medidas a

desenvolver salientam-se a revisão do PESGRI e a futura preparação do PERAGRI,

a definição de uma estratégia para o composto, a elaboração de um programa para

o uso sustentável dos materiais, a elaboração de legislação nacional e de normas

técnicas relativas à descontaminação de solos, a revisão do regime jurídico de

gestão de resíduos e a adequação dos diplomas relacionados com fluxos específicos

de resíduos, como sejam o das embalagens e resíduos de embalagens, a

actualização das normas relativas ao transporte de resíduos, a análise da

viabilidade da proibição da deposição em aterro de resíduos passíveis de serem

valorizados em condições técnicas e económicas adequadas, a definição de critérios

para a diferenciação subproduto/ resíduo e para a atribuição do "fim do estatuto de

resíduo".

6.9.2 OP8.A2 - Desmaterializar actos referentes à monitorização,

avaliação e fiscalização das actividades de gestão de resíduos

A desmaterialização de actos referentes à monitorização, avaliação e fiscalização

das actividades de gestão de resíduos visa simplificar e desburocratizar a interacção

entre as entidades do sector e a administração central e regional, podendo-se

aplicar por exemplo ao nível do licenciamento, fiscalização e auditorias, transporte

de resíduos, elaboração de pareceres, entre outros.

6.9.3 OP8.A3 - Reforçar as actividades de âmbito inspectivo e fiscalizador

As actividades de âmbito inspectivo e fiscalizador são fundamentais para que os

agentes de mercado cumpram a legislação e as normas técnicas em vigor, cujo

objectivo principal é a protecção do ambiente e da saúde humana. Nesse sentido

estas actividades devem ser reforçadas, potenciando-se igualmente sinergias entre

os órgãos de fiscalização e de inspecção, outros organismos do estado e as

entidades gestoras de sistemas de gestão de resíduos.

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6.9.4 OP8.A4 - Reforçar as auditorias técnico-financeiras a OGR e sistemas

de gestão de resíduos

Esta acção visa contribuir para o desempenho destas entidades29, disponibilizando

os resultados das auditorias realizadas ao público, desde que não contenham

informação sensível do ponto de vista administrativo, económico e comercial.

Nomeadamente ao nível dos SMAUT, realça-se a importância da determinação dos

custeios respectivos associados a cada actividade, bem como a indicação de

medidas para a redução desses custos. Tal poderá passar, por exemplo, pelo

reforço dos meios envolvidos nas actividades de auditoria, seja através dos meios

próprios da administração, seja através do recurso a peritos qualificados para o

efeito e pela atribuição de mais competências e flexibilidade de gestão às entidades

gestoras de resíduos ao mesmo tempo que se reforçam os mecanismos de

regulação e de penalização dessas entidades.

6.9.5 OP8.A5 - Criação de uma carteira de peritos qualificados para a

certificação de processos ao nível da gestão de resíduos

A criação de uma carteira de peritos qualificados para a certificação de processos

ao nível da gestão de resíduos tem como objectivo o desburocratizar de processos

da administração central e regional, sem prejuízo das suas competências, o que

pode passar, por exemplo, pelo desenvolvimento de um sistema análogo ao do

Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos

Edifícios.

6.9.6 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.10 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

29Desempenho ambiental no caso dos OGR e desempenho ambiental e económico no caso dos sistemas de gestão de resíduos urbanos e de fluxos específicos de resíduos.

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Tabela 6.10 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP8 – “Adequar e agilizar os processos administrativos”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Optimizar o quadro legal e institucional Diplomas e estratégias revistos ou

elaborados

Legislativo/

Planeamento APA

2. Desmaterializar actos referentes à monitorização,

avaliação e fiscalização das actividades de gestão de

resíduos

% de desmaterialização dos actos

relacionados com a gestão de resíduos face

ao universo passível de desmaterialização

Gestão APA, CCDR, DR das RA,

IGAOT, ASAE, ERSAR

3. Reforçar as actividades de âmbito inspectivo e

fiscalizador

% de inspecções e fiscalizações realizadas

face ao universo de fiscalização

Controlo IGAOT, SEPNA, ASAE

4. Reforçar as auditorias técnico-financeiras a OGR e

sistemas de gestão de resíduos

% de auditorias realizadas face ao universo

de operadores

Controlo ERSAR, APA

5. Criação de uma carteira de peritos qualificados para a

certificação de processos a nível da gestão de

resíduos

Carteira de peritos estabelecida

Controlo APA

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6.10 OP9 - Adequar e potenciar o uso de instrumentos

económicos e financeiros

6.10.1 Descrição do objectivo

Nos últimos anos assistiu-se a um incremento dos instrumentos económico-

financeiros, de que são exemplo os ecovalores introduzidos no contexto da

aplicação da responsabilidade alargada do produtor e, com a publicação do

Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, a taxa de gestão de resíduos,

consolidando a observância do princípio do poluidor-pagador.

Efectivamente, o Decreto-Lei n.º 178/2006, veio estabelecer, no seu artigo 58º, o

regime económico e financeiro da gestão dos resíduos, introduzindo a taxa de

gestão de resíduos, que incide sobre as entidades gestoras de sistemas de gestão

de fluxos específicos de resíduos, individuais ou colectivos, de centros integrados

de recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos (CIRVER), de

instalações de incineração e co-incineração de resíduos e de aterros.

A introdução deste regime económico-financeiro que contempla ainda outras

vertentes, tem como princípios fundamentais, compensar os custos administrativos

de acompanhamento das actividades referenciadas e estimular o cumprimento dos

objectivos nacionais em matéria de política de resíduos. A pretensão da sua

aplicação relaciona-se com o facto de uma gestão eficiente dos resíduos, ter de

passar pela consciencialização por parte dos utilizadores e ou produtores, dos

custos ambientais que lhes estão associados, o que contribuirá para a concretização

de objectivos a nível nacional e comunitário, em matéria de gestão de resíduos,

através da aplicação da hierarquia de resíduos.

Assim, deve constituir-se como objectivo principal, adequar e potenciar o uso de

instrumentos económicos e financeiros a nível da gestão de resíduos, centrados no

favorecimento da incorporação de materiais secundários em novos produtos ou na

utilização de combustíveis alternativos, através, por exemplo, do incremento

progressivo das taxas relacionadas com a eliminação de resíduos com alto potencial

técnico de valorização, na diferenciação de ecovalores consoante o comportamento

ambiental dos produtos, numa lógica de ciclo de vida, e na promoção de linhas de

crédito bonificadas para projectos e actividades inovadoras de prevenção e

valorização de resíduos.

É de realçar igualmente a importância da promoção do mercado organizado de

resíduos, cujo objectivo se centra na troca comercial de resíduos permitindo a sua

reintrodução no circuito económico.

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No entanto, considera-se que a política nacional de gestão de resíduos, assim como

a de outros países da União Europeia, é realizada ainda em grande medida à custa

de mecanismos de comando e controlo (ex. legislação, proibições, obrigações).

Estando o mercado altamente regulamentado, é importante reforçar e consolidar

outro tipo de mecanismos, sendo a este nível os instrumentos económicos e

financeiros fundamentais para estimular a economia de mercado e promover a

apetência pelo resíduo enquanto fonte de matérias-primas secundárias e de

energia.

Neste contexto, as acções propostas no presente Plano para o cumprimento destes

objectivos são:

6.10.2 OP9.A1 - Promover o Mercado Organizado de Resíduos (MOR)

O Mercado Organizado de Resíduos (MOR) constitui um instrumento importante

para fomentar a troca e a valorização de resíduos e promover simbioses industriais

e o aumento da produtividade dos recursos materiais. Nesse sentido, é necessário

promover a sua implementação, simplificando a troca directa de resíduos entre

indústrias, desde que garantida a protecção do ambiente e da saúde pública.

6.10.3 OP9.A2 - Potenciar a eficácia da TGR

Como se tem revelado em outros países, a taxa de gestão de resíduos é um

instrumento que pode resultar em grandes ganhos ao nível, por exemplo, do desvio

de fracções para aterro. No entanto, o seu efeito depende fortemente das condições

de mercado, pelo que para ser um instrumento efectivo necessita de ser avaliada

periodicamente por forma a se adequar à dinâmica própria do mercado e ainda aos

objectivos e metas estabelecidas, pelo que a sua revisão deve incluir a análise da

necessidade de alargamento do seu âmbito e de que forma as receitas obtidas por

essa via podem ser aplicadas novamente no sector.

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6.10.4 OP9.A3 - Diferenciar as prestações financeiras relativas a Entidades

Gestoras de fluxos de resíduos em função da reciclabilidade,

perigosidade e impactes no ciclo de vida inerentes aos produtos

colocados no mercado

Entre os objectivos da aplicação do conceito da responsabilidade alargada do

produtor, formalizada em Portugal sobretudo através da criação dos sistemas

integrados de gestão de resíduos e constituição de entidades que os gerem, é o

desvio de resíduos das operações de eliminação para as operações de valorização e

a promoção do ecodesign, reduzindo a perigosidade dos produtos e dos inerentes

impactes ambientais. Neste contexto, a diferenciação ao nível das prestações

financeiras a aplicar aos produtos colocados no mercado pese embora já estar

actualmente referenciada ao nível de algumas licenças de entidades gestoras,

poderá contudo fazer-se um reforço ao nível da sua implementação,

nomeadamente, com inclusão do potencial de reciclabilidade desse produto.

Dado que grande parte dos sistemas nacionais caminha para a maturidade, estando

já consolidadas grande parte das condições de base que permitem o alcançar das

metas de recolha e valorização, como sejam as redes de recolha, transporte e

valorização e os processos de gestão, importa fomentar a actuação das entidades

gestoras a outros níveis. Nesse sentido, considera-se que a diferenciação das

prestações financeiras dos produtores sujeitos à responsabilidade alargada do

produtor poderá constituir um instrumento útil para o incentivo do ecodesign de

produtos.

6.10.5 OP9.A4 - Articular as várias linhas de financiamento no sentido de

optimizar as verbas disponíveis no sector de gestão de resíduos

Com esta acção pretende-se articular as várias linhas de financiamento que existem

ou serão desenvolvidas no futuro, para que possam ser aproveitadas de forma

articulada, por exemplo, para várias fases de um mesmo projecto. Como fontes de

financiamento referem-se o POR/QREN, POVT/QREN, a TGR e o LIFE+ Informação e

Comunicação.

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6.10.6 OP9.A5 - Avaliar e promover incentivos à recolha selectiva e

reutilização de produtos

Para além da TGR, que visa desincentivar práticas consideradas menos adequadas,

deve-se igualmente actuar pela positiva, incentivando-se a recolha selectiva com

vista à valorização dos resíduos e a reutilização de produtos. Tal pode ser realizado

por exemplo, através de descontos por devoluções de produtos em fim de vida que

podem ser reutilizados ou valorizados, ou pela redução das tarifas pagas pelos

consumidores que efectuam a recolha selectiva dos resíduos urbanos e equiparados

(através de sistema PAYT).

6.10.7 Tendências de evolução a alcançar

Tendo em consideração o referido anteriormente, na Tabela 6.11 apresentam-se as

tendências de evolução definidas para cada acção, identificando-se igualmente a

sua tipologia e os responsáveis pela sua concretização.

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Tabela 6.11 - Tendências de evolução definidas para as acções do OP9 – “Adequar e potenciar o uso de instrumentos económicos e

financeiros”

Acções Indicador de realização

Tendência de evolução

Tipologia de acção

Responsável(eis)

1. Promover o Mercado Organizado de Resíduos (MOR) % de quota de mercado do

MOR

Económico-

financeiro

APA, Entidades gestoras

no âmbito do MOR

2. Potenciar a eficácia da TGR Reavaliação periódica da TGR

aplicada

Económico-

financeiro APA

3. Diferenciar as prestações financeiras relativas a Entidades

Gestoras de fluxos de resíduos em função da reciclabilidade,

perigosidade e impactes no ciclo de vida inerentes aos

produtos colocados no mercado

% de entidades gestoras com

diferenciação de ecovalores

Económico-

financeiro EG (fluxos específicos)

4. Avaliar e promover incentivos à recolha selectiva e

reutilização de produtos

Regulação e implementação

de incentivos à recolha

selectiva e à reutilização de

produtos

Económico-

financeiro

EG (urbanos e

equiparados), EG (fluxos

específicos), MFAP

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7. Avaliação e revisão do Plano

7.1 Avaliação do Plano

A avaliação da implementação do PNGR tem como objectivo principal analisar a

necessidade da correcção/reformulação das metas/acções, por forma a que seja

possível alcançar a visão subjacente ao mesmo e cumprir os seus objectivos

estratégicos, ou seja, promover a eficiência da utilização de recursos naturais na

economia e prevenir e reduzir os impactes adversos decorrentes da produção e

gestão de resíduos.

A avaliação da implementação do Plano deve ser realizada, em 2013 e 2016,

avaliando-se não só os indicadores relativos às metas estratégicas definidas, mas

igualmente os indicadores de realização das acções estabelecidas para cada

objectivo operacional.

7.2 Relatório de avaliação

A avaliação efectuada será formalizada num relatório público, onde se efectua a

análise da implementação do PNGR e que inclui, para além dos indicadores

referidos anteriormente, uma avaliação global da implementação do Plano e do

cumprimento dos seus objectivos e a identificação de eventuais necessidades de

correcção/reformulação da estratégia definida.

A responsabilidade da elaboração do relatório de avaliação é da APA, sendo que o

relatório deve ser discutido e aprovado no âmbito da CAGER, através de um grupo

de trabalho criado especificamente para o efeito.

No final do período de vigência do Plano deverá ser elaborado um relatório de

avaliação final, com um nível de detalhe superior aos relatórios de avaliação

intercalares, por forma a constituir-se como um instrumento que fundamente a

definição da nova estratégica para o sector.

A revisão do Plano (PNGR 2021 – 20XX) deverá ser iniciada com um ano de

antecedência relativamente ao término do actual PNGR, garantindo-se o seu

desenvolvimento conjugado com a Avaliação Final do PNGR 2011-2020, e dela

beneficiando.

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128

Sogilub (2008). Relatório & Contas 2007. Sogilub, Lisboa.

Symonds (1999). Construction and demolition waste management practices, and

their economic impacts. Report to DGXI, European Commission. UK: The

Symonds Group Ltd.

Valorfito (2008). Evolução da Valorfito. Portugal. Disponível em www.valorfito.com

Valormed (2008). Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e

Medicamentos – Relatório de Actividades 2007. Sociedade Gestora de Resíduos

de Embalagens e Medicamentos, Lda, Miraflores.

Valorpneu (2008). Relatório Anual & Contas 2007. Valorpneu, Lisboa.

YMPÄRISTÖMINISTERIÖ (2008). Kohti kierrätysyhteiskuntaa - Valtakunnallinen

jätesuunnitelma vuoteen 2016, disponivel em http://www.environment.fi/

download.asp?contentid=91466&lan=fi, consultado em Novembro de 2009.

Yuan, Z., Bi, J. e Y. Moriguichi (2006). The circular economy: A new development

strategy in China. Journal of Industrial Ecology 10 (1–2), 4–8.

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Anexos

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ANEXO A - DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA ADOPTADA PELO INE PARA O TRATAMENTO ESTATÍSTICO DE RESÍDUOS

A produção de resíduos não urbanos em Portugal foi calculada nos anos de 2004 e

2005 com base nos Mapas de Registo de Resíduos (MRRI) em papel e nos anos de

2006, 2007, 2008 e 2009: assumindo a informação de base registada no Mapa

Integrado de Registo de Resíduos (MIRR) preenchido no SIRER (ano 2006) ou no

SIRAPA (anos 2007, 2008 e 2009), os quais foram posteriormente objecto de

tratamento estatístico pelo, INE, utilizando uma metodologia para a construção dos

agregados: definição do universo das unidades legais abrangidas contendo 10 ou

mais trabalhadores de acordo com o Ficheiro de Unidades Estatísticas, sendo o total

extrapolado em função da estratificação de acordo com a actividade económica,

localização geográfica e número de trabalhadores, considerando os dados

registados por aquelas sempre que disponíveis, ou utilizando um coeficiente de

extrapolação para as que não responderam através do preenchimento do

MIRR/MRRI.

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ANEXO B - DADOS ADICIONAIS DE PRODUÇÃO E VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS

Resíduos gerados por actividades económicas (NACE 2.0)

X: Valor não disponível

Nota: a produção de resíduos gerados corresponde aos resíduos encaminhados para operadores de

gestão de resíduos

Item Actividade económica

(NACE 2.0)

2004 2005 2006 2007 2008 2009

1 [01+02] Agricultura e Florestas

676.099 710.898 195.053 130.157 153.974 228.178

2 [03] Pesca e Aquicultura 17.946 21.053 14.330 3.406 5.542 4.707

3 [05 a 09] Indústrias Extractivas

4.761.300 4.967.649 3.563.161 3.952.877 1.890.121 5.691.482

4 [10 a 12] Alimentares, Bebidas e Tabaco

1.051.463 1.084.647 1.035.840 1.292.641 821.786 1.101.341

5 [13 a 15] Têxteis e Peles 1.884.591 1.944.302 1.935.687 1.339.544 1.290.732 763.736 6 [16] Madeira e Cortiça 1.457.045 1.837.299 896.147 842.768 669.083 635.940

7 [17 + 18] Pasta, Papel, Cartão e Impressão

1.616.335 1.541.809 1.123.929 824.441 845.036 330.907

8 [19] Petrolíferas 60.749 18.974 25.027 41.323 17.751 13.203

9 [20 a 22] Químicas, Borrachas e Plásticos

284.747 341.024 346.239 392.675 306.095 264.271

10 [23] Minerais não Metálicos

2.550.300 2.461.403 3.438.363 4.383.120 1.354.141 1.014.776

11 [24 + 25] Metalúrgicas de Base e outros Produtos Metálicos

699.872 803.484 1.839.415 860.173 1.696.128 931.555

12 [26 a 30] Equipamento Eléctrico, Electrónico e de transporte

384.600 395.805 937.885 808.286 898.668 520.649

13 [31 a 33] Mobiliário e outras Indústrias

133.557 131.491 203.116 400.266 1.104.018 505.437

14 [35] Energia 814.633 1.021.110 461.951 108.592 255.035 268.277

15 [36 a 39, excepto 38] Distribuição de Água e Saneamento

X X X 604.672 473.168 570.200

16 [38] Gestão de Resíduos 1.451.793 1.048.145 1.154.130 1.021.152 1.352.706 866.023

17 [41 a 43] Construção 2.625.930 5.212.520 3.607.232 5.674.248 8.148.290 3.152.098

18 [45 a 99, except 46.77] Comércio e Serviços

4.202.446 7.381.603 10.351.899 6.215.533 9.781.459 6.445.352

19 [46.77] Comércio por Grosso de Desperdícios e Sucatas

15.683 173.088 25.898 1.344.688 527.991 351.744

Total Geral 24.689.088 31.096.302 31.155.301 30.240.562 31.591.727 23.659.876

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Resíduos gerados por categoria de resíduos baseado no Regulamento Estatístico

dos Resíduos (Regulamento CE nº 2150/2002), de acordo com EWCStat 3.0

Categoria de resíduos

(EWCStat 3.0) Perigosidade 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Resíduos de compostos

químicos

NP

P

38.172

218.306

38.772

195.589

73.144

2.511.584

9.173

1.202.672

35.593

1.623.380

896

704.802

Resíduos de reacções

químicas

NP

P

188.457

32.790

143.980

61.091

305.136

180.133

527.263

182.039

373.184

153.274

627.692

94.843

Outros resíduos

químicos

NP

P

1.673.513

321.087

2.281.212

456.419

1.394.781

1.377.579

594.918

365.517

393.695

755.592

294.310

432.533

Resíduos de prestação

de cuidados de saúde e

biológicos

NP

P

16.492

8

48

13.519

42.602

199.025

8.228

108.509

43.022

45.201

11.978

114.451

Resíduos metálicos NP

P

�59.378

100

1.139.923

421

3.235.572

13

3.636.908

540

3.881.268

149

1.984.381

642

Resíduos de vidro NP

P

296.323

5

335.104

151

475.742

311

259.373

133

962.041

16

270.358

49

Resíduos de papel e

cartão

NP

709.462

936.564

2.380.198

2.486.848 2.013.160 1.217.133

Resíduos de borracha NP

94.276

95.594

1.066.006

310.435 1.103.557 153.413

Resíduos de plásticos NP

234.411

322.601

996.092

379.968 586.724 431.380

Resíduos de madeira NP

P

2.660.406

918

2.854.691

40.358

1.167.737

64.428

1.100.503

76.438

1.960.262

79.347

584.107

224.060

Resíduos têxteis NP 963.633 963.608 476.161 761.896 778.806 293.003

Resíduos contendo PCB P 269 135 140 342 11.507 8.114

Equipamento for a de

uso

NP

P

44.132

52.862

135.581

82.369

185.740

246.707

157.194

166.307

127.715

323.024

227.250

477.785

Resíduos de origem

animal e de origem

vegetal

NP

2.939.163 3.281.334 1.183.166 1.245.325 1.207.561 1.116.849

Resíduos mistos comuns NP

P

1.357.374

1.603

1.319.151

934

3.207.398

4.123

2.401.931

1.894

7.427.542

1.570

3.656.562

4.654

Lamas comuns NP 777.543 1.209.410 891.672 1.281.466 775.812 831.634

Resíduos minerais NP

P

9.645.952

1.581.020

13.325.466

1.758.862

8.009.306

1.476.440

12.147.652

825.108

6.470.616

457.126

9.549.696

345.893

Resíduos solidificados,

estabilizados ou

vitrificados

NP

P

140.321

41.112

91.812

11.604

2.032

2.332

753

1.242

981

2

1.297

165

Total de resíduos não

perigosos

NP

22.439.008

28.474.849

25.092.487

27.309.824 28.141.539 21.251.939

Total de resíduos

perigosos P 2.250.080 2.621.452 6.062.815 2.930.741 3.450.188 2.407.937

Total Geral 24.689.088 31.096.302 31.155.302 30.240.565 31.591.727 23.659.876

P: Resíduos perigosos; NP: resíduos não perigosos

Nota: a produção de resíduos gerados corresponde aos resíduos encaminhados para operadores de gestão de resíduos

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Materiais geridos e recuperados no âmbito da acção das entidades gestoras de

fluxos específicos (Unidade: Toneladas)

Entidades e materiais/resíduos recuperados 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total de materiais de fluxos específicos recolhidos /recuperados (t)

76.681 845.712 1.106.801 1.202.615 1.425.884 1.595.731

SPV+VALORFITO+VALORMED (a)

Resíduos de embalagens para reciclagem X 663.002 890.560 967.465 1.088.187 1.253.076

Resíduos de embalagens para valorização energética X 99.276 77.366 45.294 90.439 104.143

AMB3E+ERP Portugal (a)

Resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos recolhidos ⁄⁄ ⁄⁄ 4.216 25.851 41.231 45.179

Reutilização como aparelhos completos

⁄⁄ ⁄⁄ - 29 168 1

Reutilização e reciclagem de materiais e substâncias

⁄⁄ ⁄⁄ 10.612 12.362 35.241 38.106

Valorização total ⁄⁄ ⁄⁄ 10.612 12.557 35.463 38.856

ECOLUB/SOGILUB (a)

Óleos lubrificantes recolhidos ⁄⁄ ⁄⁄ 28.722 32.091 31.695 29.578

Óleos lubrificantes usados para regeneração ⁄⁄ ⁄⁄ 3.396 9.647 10.444 8.603

Óleos lubrificantes usados para reciclagem

⁄⁄ ⁄⁄ 13.120 16.559 17.809 18.475

Óleos lubrificantes usados para valorização energética

⁄⁄ ⁄⁄ 7.145 3.031 - -

ECOPILHAS (a)

Pilhas e acumuladores usados recolhidos X 426 423 478 479 497

Pilhas e acumuladores usados para reciclagem X 426 423 478 479 497

VALORPNEU (b)

Total de pneus usados gerados recolhidos pelo SGPU 76.681 77.829 88.582 92.321 96.210 89.575

Pneus usados para recauchutagem 20.538 19.808 23.304 25.421 22.317 18.907

Pneus usados para reutilização 1.588 1.623 989 400 2.057 751

Pneus usados para reciclagem 33.470 38.641 42.496 46.603 48.332 48.039

Pneus usados para valorização energética 16.554 16.166 21.793 22.897 23.504 21.878

Pneus usados para aterro 4.531 1.591 - - - -

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Entidades e materiais/resíduos recuperados

2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total de materiais de fluxos específicos recolhidos /recuperados (t)

76.681 845.712 1.106.801 1.202.615 1.425.884 1.595.731

VALORCAR (c)

Massa total de veículos em fim de vida processados

⁄⁄ 5.180 16.933 39.114 77.642 73.682

Total de materiais enviados para reciclagem

⁄⁄ 4.190 13.935 31.971 62.743 62.698

Materiais desmantelados para reciclagem ⁄⁄ 305 1.523 3.300 5.831 8.689

Metais fragmentados para reciclagem ⁄⁄ 3.885 12.412 28.671 56.912 54.009

Total de materiais enviados para valorização energética ⁄⁄ 168 654 1.569 5.101 2.014

Materiais desmantelados para valorização energética

⁄⁄ 43 30 346 642 807

Outros Fragmentos para valorização energética

⁄⁄ 125 624 1.224 4.459 1.207

(a) Dados disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente; (b) Dados disponibilizados pela Agência Portuguesa

do Ambiente e pela própria entidade gestora em portal na internet; (c) Dados disponibilizados pela entidade gestora em

portal na internet

X – Valor não disponível; // - Não aplicável

*Os quantitativos de reciclagem têm em conta também o que é reutilizado, visto que a Directiva nº. 2000/53/CE, de 18

de Setembro estabelece metas conjuntas para a reutilização e reciclagem.

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ANEXO C - DADOS RELATIVOS ÀS INFRA-ESTRUTURAS ACTUAIS PARA OPERAÇÕES DE GESTÃO DE RESÍDUOS

Unidades de eliminação de resíduos

Tipologia Capacidade de projecto

(t)

Capacidade disponível total (t)

referente a 2009

Localização da Instalação

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

679.126 67.315 Lugar do Arraial, São Pedro da Torre; 4930-521 Valença

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.778.609 636.193

Aterro Sanitário do Vale do Lima e Baixo Cávado, Apartado 11; 4936-908 Vila Nova de Anha

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

1.654.351 161.014 Rua do Aterro, Estrada Naciona 103 Km 51, Ferreiros, Póvoa de Lanhoso, 4711-908 BRAGA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.004.000 642.120

Rua de Sto. André - Estrada Municipal 556 - Santa Cristina do Couto, 4780-222 SANTO TIRSO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

600.000 118.905 Lugar de Crestins - Apartado 3102 Crestins, 4471-907 MAIA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 480.000 414.710

Serra da Boneca Rio Mau, 4575-001 ALPENDURADA E MATOS

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 420.000 218.400

Serra dos Campelos Lustosa, 4620-130 LOUSADA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 2.300.000 31.906

Aterro Sanitário de Vila Nova de Gaia e Santa Maria da Feira - Rua Conde Barão; 4415-103 Sermonde

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

1.082.105 642.120 Lugar da Quinta, 5460-013 BOTICAS

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

Nogueira, 5000-657 VILA REAL

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 447.691 725.412

Lugar de Urjais, Cachão, Apartado 168, 5370-565 MIRANDELA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.452.000 934.585

Apartado 27; 4890-176 Celorico de Basto

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

513.481 382.413 Apartado 124 Bigorne, 5100-330 BIGORNE

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

1.385.800 1.246.562 Aterro Sanitário de Leiria, Quinta do Banco, 2416-902 LEIRIA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

2.583.827 473.696 Zona Industrial de Taboeira Cacia, 3800-055, Aveiro

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.959.043 520.415

Alto da Serra - Taveiro, 3000-001, Coimbra

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

867.660 127.753 Rua da Soporcel, Carvalhais, Mata da Leirosa, Costa de Lavos Lavos, 3090-458 LAVOS

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

1.981.380 520.648 Vale da Margunda, Borralhal, 3465-013 Barreiro de Besteiros

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 2.107.040 1.596.848

Estrada de Peroviseu - Quinta das Areias - Apartado 1064, 6230-022 ALCARIA FUNDÃO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 680.476 307.199

Monte de S.Martinho, EN 18-8, Castelo Branco

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.960.000 2.522.902 EN 361-1, Vilar; 2550-078 Cadaval

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

604.245 219.703 Estrada Nacional 114 ,Raposa, 2080-701 RAPOSA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

880.000 343.232 Rua Ferro de Engomar, Eco-Parque do Relvão, 2140-671 CARREGUEIRA

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Tipologia Capacidade de projecto

(t)

Capacidade disponível total (t)

referente a 2009

Localização da Instalação

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

4.269.491 971.882

Plataforma Ribeirinha da CP – Estação de Mercadorias da Bobadela Apartado 2103, 2696-801 S. João da Talha

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

3.964.321 1.445.280 Aterro Sanitário de Palmela, Estrada Luís de Camões, Apartado 117, 2861-909 Moita

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 4.994.910 1.797.457

Pinhal Alto dos Carrascos Amora, 2840-001 ALDEIA DE PAIO PIRES

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

330.000 17.920 Casal da Coelheira, Concavada, Abrantes

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

749.780 344.152 Estrada das Alcáçovas, EN 380,Km 89,9, 7000-175 ÉVORA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

672.034 87.039 Monte Novo dos Modernos Apartado 20, 7565-000 ERMIDAS-SADO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 264.320 182.395 Largo do Almeida, 1; 7940-114 Cuba

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 1.196.000 949.074

Herdade das Marrãs, 7480-011 ALCÓRREGO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 631.216 510.167

Herdade do Montinho, Apartado 6272, Sta. Clara do Louredo, 7801-903 Beja

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana

4.369.621 0 Chão Frio - Porto de Lagos, 8500-010 PORTIMÃO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Urbana 4.759.600 816.867

Vale Maria Dias Cortelha - Salir, 8100-010 LOULÉ

Origem urbana - Soma capacidades de projecto 53.622.127

Fonte: APA, Dezembro 2009.

Tipologia Capacidade de projecto

(t)

Capacidade disponível total (t)

referente a 2009

Localização da Instalação

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial

1.775.800 179.416 Lugar das Pedras Negras, Apartado 40 - Fradelos V.N.Famalicão, 4760-909 LOURO

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial 694.000 142.949

Rua da Serra de Campelos, Nº 975; 4620-868 Lousada

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial

305.597 124373 Quinta do Banco; Apartado 772; 2416 - 905 Leiria

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial

650.000 276.690 Vedulho de Baixo, E.N. 18, Km 8,3, 6000 Castelo Branco

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial 558.300 162.094

ECOPARQUE DO RELVÃO - Rua Ferro de Engomar - Arripiado, 2140-671 CARREGUEIRA

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial 750.000 78.694

Lugar Porto dos Touros - Ota, 2580-244 Alenquer

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial

1.641.250 841.250 Parque Industrial SAPEC Bay – Mitrena; Apartado 283; 2901-901 Setúbal

Aterro para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial 885.857 148.096

Herdade do Montinho, Santa Clara do Louredo, Apartado 61; 7800-901 Beja

Aterro para Resíduos Industriais de Sectores Específicos: Aterro para RNP da Indústria dos Curtumes

CASAL PENHORES APARTADO, 76 -

LAGAR DO FREIXO, 2384-909 ALCANENA

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Tipologia Capacidade de projecto

(t)

Capacidade disponível total (t)

referente a 2009

Localização da Instalação

Aterro para Resíduos Industriais de Sectores Específicos: Aterro para Lamas da Indústria dos Curtumes

Lugar do Freixo, Apartado 76

2384-909 Alcanena

Aterro para Resíduos Industriais de Sectores Específicos: Indústria do calçado

Sendim, apartado 252, Lugar de Francoim 4610-746 Sendim

Aterro para Resíduos Perigosos 278.101 Eco Parque do Relvão, Rua Pinhal do

Duque, 2140-671 Carregueira

Aterro para Resíduos Perigosos 900.000 Eco Parque do Relvão, Rua Cabeço do Seixo, 2140-671 Carregueira

Fonte: APA, Dezembro de 2009.

Resumo das unidades existentes

Instalações existentes a nível Nacional:

No Continente:

• 34 Aterros de Resíduos Sólidos Urbanos

• 7 Aterros para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem Industrial

• 3 Aterros para Resíduos Industriais de Sectores Específicos

Existem ainda as seguintes instalações privadas:

o 8 Aterros para Resíduos não Perigosos de estabelecimentos Industriais

o 2 Aterros para Resíduos Perigosos

o 6 Aterros para Resíduos Inertes destinados à recuperação paisagística de pedreiras

o 2 Aterros de Resíduos Inertes

Nas Regiões Autónomas:

• R.A. Açores: 2 Aterros de Resíduos Inertes

• R.A.Madeira: 2 aterros de resíduos não perigosos (2ª fase B do aterro da Meia Serra e aterro do

CPRS Porto Santo)

2 aterros de inertes

Instalações previstas a curto/médio prazo:

No Continente:

• Estão previstos 2 aterros de RSU para a ERSUC, em Coimbra e Aveiro:

o Aveiro: Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos de Aveiro/Aterro Sanitário

de Confinamento Técnico; Morada: Vale da Fontinha – Quinta do Monte, Eirol;

Capacidade instalada de 2.034.976 t

o Coimbra: Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos de Coimbra/Aterro

Sanitário de Confinamento Técnico; Morada: Rio Frios, Vil de Matos, Coimbra;

Capacidade instalada de 1.219.397 t.

• Está prevista a construção de 2 aterros para Resíduos não Perigosos (RNP) de Origem

Industrial, que já têm Licença Ambiental, com as seguintes características:

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o Centro Integrado de tratamento de Resíduos Industriais de Santo André, Localização:

Cerca da Água, Rua dos Cravos, Apartado 64, 7500-999 Vila Nova de Santo André,

Capacidade de Projecto: 163.116 t

o Aterro de Resíduos Não Perigosos da RECIVALONGO, Localização: Avenida 25 de Abril,

n.º 469, Loja 13, Lugar de Vilar, 4440 - Valongo, Capacidade de Projecto: 759.500 t

• Foi objecto de parecer a Proposta de Definição de Âmbito (PDA) do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) o Centro Integrado de Valorização e Tratamento de Resíduos Hospitalares e

Industriais (CIVTRHI).

O CIVTRHI prevê, de acordo com o projecto submetido à APA em sede de PDA, as seguintes

unidades:

o Uma unidade de incineração de resíduos hospitalares, industriais e outros,

dimensionada para 11.200 t/ano, com produção de energia eléctrica e tratamento

adequado dos gases de combustão;

o Uma unidade de tratamento de resíduos hospitalares por desinfecção por microondas

com trituração integrada;

o Uma unidade de triagem de resíduos (embalagens de medicamentos e medicamentos

fora de uso, entre outros) - após a pesagem e controlo, as fracções recicláveis serão

triadas, sendo separadas as que se destinam a incineração.

Nas Regiões Autónomas

• R.A. Açores: 3 Aterros de Resíduos Inertes

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Instalações de co-incineração em cimenteiras

Operador Instalação Actividade licenciada Licença vigente Capacidade/Quantidade autorizadas a recepcionar

Morada

CIMPOR - Indústria de

Cimentos, S.A.

Centro de Produção de Souselas

Co-incineração de resíduos perigosos

LE n.º 2/2008/DOGR, de 24 de Janeiro de

2008

--> Páginas 3 e 6 foram posteriormente rectificadas

A Licença foi emitida para uma capacidade instalada de 10 t/h, num limite de 45.000 t/ano.

Apartado 11

3021-801 Souselas

Centro de Produção de Alhandra

Co-incineração de resíduos não perigosos

(1) LE n.º 6/2007/DOGR, de 18 de Dezembro de 2007

(1) A Licença foi emitida para uma capacidade instalada de 5 t/h, num limite 30.000 t/ano para valorização energética ao nível do queimador principal do forno 7 e 5 t/h para a valorização energética ao nível do pré-calcinador do forno 7 num limite de 560.000 t/ano.

Praceta António Teófilo Araújo Rato

2610-124 Alhandra

(2) LE n.º 7/2008/DOGR, de 4 de

Março de 2008

(2) A Licença foi emitida para uma capacidade instalada de 5 t/h ao nível do queimador principal do forno 6, num limite 110.000 t/ano.

Centro de Produção de Loulé

Co-incineração de CDR

Alvará de Licença n.º 16/2009, de 27 de

Novembro, emitido pela CCDR Algarve

A instalação encontra-se autorizada a recepcionar 43.800 t/ano de CDR (Código LER 191210).

Cerro da Cabeça Alta Apartado 45

8100-994 Loulé

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Operador Instalação Actividade licenciada Licença vigente Capacidade/Quantidade autorizadas

a recepcionar Morada

CMP - Cimentos Maceira e Pataias,

S.A.

Fábrica Maceira-Liz Co-incineração de resíduos não perigosos

LE n.º 12/2009/DOGR, de 2 de Setembro

A Licença foi emitida para uma capacidade instalada de 7,5 t/h no Forno 5 e para uma capacidade de igual valor no Forno 6.

Fábrica Maceira-Liz

2405-019 Maceira Liz

Fábrica Cibra-Pataias

Co-incineração de resíduos não perigosos

LE n.º 3/2007/INR, de 23 de Abril de 2007

A capacidade licenciada para a instalação de co-incineração é de 140.000 t/ano.

Fábrica Cibra-Pataias

2445-011 Pataias

SECIL - Companhia Geral de Cal e Cimento,

S.A.

Fábrica SECIL-Outão Co-incineração de resíduos perigosos e

não perigosos

LE n.º 10/2006/INR, de 27 de Outubro de

2006 (*)

Outão - Apartado 71 Outão

2901-864 Setúbal

(*)

Tipologia de Resíduos Perigosidade Quantidade (t/ano)

Papel/cartão

Não perigoso

30.000

Plástico e borracha 30.000

Têxteis 10.000

Resíduos de tecidos animais (farinhas de carne e osso)

100.000

Resíduos de tecidos animais (gorduras animais) 1.200

Resíduos de tecidos vegetais (biomassa vegetal) 5.500

Outros 100.000

Lamas oleosas

Perigoso

40.000

58.000 Resíduos oleosos 12.000

Resíduos de solventes 6.000

Os quantitativos das tipologias de resíduos perigosos referidos poderão ser ultrapassados individualmente, não podendo, no entanto, o

seu quantitativo global ultrapassar o somatório indicado, ou seja 58.000 t/ano.

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ANEXO D - LOCAIS DE ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS HISTORICAMENTE CONTAMINADOS E MEDIDAS PARA A SUA REABILITAÇÃO

As áreas contaminadas, dependendo do tipo de contaminantes, representam um

risco potencial para a saúde pública, para a diversidade ecológica dos ecossistemas

naturais e para a contaminação dos aquíferos, sendo igualmente factor de

desvalorização socio-económica da região onde se inserem. Destas situações

destacam-se, pela sua especificidade, as referentes às minas abandonadas e as

referentes aos solos contaminados, das quais se distinguem em particular as

correspondentes à antiga zona industrial de Estarreja, aos terrenos da antiga

Siderurgia Nacional no Seixal e da antiga zona industrial do Barreiro, ao complexo

de Sines e à área dos Curtumes de Alcanena.

Caracterização dos locais considerados prioritários

• Complexo Químico de Estarreja – As actividades industriais desenvolvidas durante décadas (anos 30 do século XX) nesta área produziram grandes quantidades de resíduos, em especial de pirite e lamas contendo teores elevados de mercúrio.

• Siderurgia Nacional – Laborou entre 1961 e 2001 tendo produzido um volume de 1 400 mil toneladas de resíduos encontrando-se ainda cerca de 21 mil toneladas de resíduos em solos. Os resíduos são constituídos por poeiras e lamas metálicas de ferro, zinco e manganês na sua forma elementar e oxidada, sílica e alumina, carbono orgânico, amianto, borras de nafta, enxofre e óxidos de cálcio. A sua classificação segundo a Lista Europeia de Resíduos (LER) é: inertes, 84%; não perigosos, 11%; perigosos, 5%. Estes resíduos estão depositados em terrenos da SNES e Urbindústria, em armazéns, e na Lagoa da Palmeira (considerados perigosos), numa área total de 696 025 m2.

• Quimiparque (antiga CUF) – Começou a operar em 1908 e resultante das diversas actividades industriais aí processadas, encontram-se no parque industrial do Barreiro da Quimigal, segundo valores do ex-Instituto de Resíduos (INR) de 2003, mais de 52 mil toneladas de resíduos perigosos, nomeadamente lamas provenientes de metalurgias de zinco.

• Área de Sines – O passivo existente nesta área está identificado e eleva-se a cerca de 265 mil toneladas de lamas oleosas resultantes das várias indústrias do pólo industrial de Sines e de outras, depositadas em 12 bacias, das quais oito entraram em funcionamento nos princípios dos anos 80. As lamas oleosas, depositadas entre 1982 e 2002, constituem o volume mais importante de resíduos (mais de 250 mil toneladas).

• Área industrial de Alcanena – Desde os anos 70 assistiu-se, nesta área, à concentração de mais de 100 empresas da indústria dos curtumes. Dispõe de um sistema de tratamento de águas residuais iniciado na década de 80 e é composto pela colecta e tratamento de águas residuais, industriais e urbanas bem como um aterro para raspas azuis e um outro aterro para lamas inertizadas da ETAR.

Como resultado da industrialização ocorrida na área e dos tratamentos incipientes de que eram dotadas essas indústrias gerou-se um passivo ambiental constituído por lamas não inertizadas confinadas numa infra-estrutura (já encerrada) que, não configurando um aterro, não é mais que um depósito de lamas em anaerobiose. Nesse local estão confinados cerca de 50 000 m3 de resíduos perigosos com elevado teor em crómio.

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No respeitante às áreas mineiras abandonadas, as situações mais críticas situam-se na região Norte, com particular enfoque para o noroeste, na região Centro, com destaque para os distritos do interior e na região do Alentejo, constituindo grau prioritário a recuperação ambiental das antigas áreas mineiras de urânio degradadas.

No referente à recuperação ambiental de áreas mineiras degradadas, são claros os objectivos referidos no Decreto-Lei n.º 198-A/2001, de 6 de Julho, que estabelece o regime jurídico da concessão do exercício da actividade de recuperação ambiental das áreas mineiras degradadas à EXMIN – Companhia de Indústria e Serviços Mineiros e Ambientais, S.A., cujo capital social é detido na totalidade pela EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro.

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ANEXO E - SÍNTESE DE PLANOS INTERNACIONAIS

Síntese do plano de gestão de resíduos da Holanda, 2002-2012

País Título de documento

Horizonte temporal Visão Objectivos Metas

Holanda “National Waste Management Plan (LAP)”

2002-2012 Limitar a produção de resíduos e limitar a pressão ambiental através da gestão dos resíduos que são todavia produzidos

• Encorajar a prevenção dos resíduos, garantindo que a dissociação relativa entre o PIB e a produção total de resíduos no período entre 1985-2000 seja reforçada.

• Encorajar a valorização dos resíduos, particularmente através da separação na fonte e da triagem após recolha. Pretende-se garantir a reutilização e a reciclagem bem como a utilização como combustível.

• Optimizar o aproveitamento do conteúdo energético dos resíduos não reutilizáveis, visando contribuir para as políticas em torno das alterações climáticas. Pretende-se que uma maior fracção de resíduos seja utilizada em indústrias com grandes necessidades energéticas e que o desempenho energético das incineradoras seja melhorado.

• Limitar a quantidade de resíduos a depor em aterro. A deposição de resíduos combustíveis deve terminar em cinco anos.

• Atingir um papel determinante na Europa, promovendo o funcionamento das forças de mercado e encorajando a inovação e na prevenção e na gestão dos resíduos.

• Limitar o crescimento da produção de resíduos em 16% entre 2000 e 2012 assumindo uma previsão de crescimento económico de 38% (de 57 milhões de toneladas em 2000 para 66 milhões de toneladas em 2012)

• Aumentar o nível de valorização de resíduos de 77% em 2000 para mais de 83% em 2012.

• Limitar a quantidade de resíduos a depor a um máximo de 9,5 milhões de toneladas em 2012. Isto compreende 2 milhões de toneladas depostos em aterro, 5,1 milhões de toneladas de resíduos perigosos incinerados como método de deposição, 0,1 milhões de toneladas de resíduos perigosos em fornos rotativos e incineradores e 2,3 milhões de toneladas de lamas.

A deposição em aterro de resíduos combustíveis deve terminar em cinco anos.

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Síntese do plano de gestão de resíduos da Finlândia, 2008-2016

País Título de documento

Horizonte temporal Visão Objectivos Metas

Finlândia “Kohti kierrätysyhteiskuntaa - Valtakunnallinen jätesuunnitelma vuoteen 2016

[Towards a recycling society - National waste plan until 2016]”

2008-2016 Uma sociedade para a reciclagem

• Aumentar a eficiência da produção e consumo de materiais;

• Promover a reciclagem;

• Diminuir os químicos tóxicos nos resíduos;

• Reduzir os efeitos danosos no clima resultantes da gestão de resíduos;

• Reduzir os riscos para a saúde e para o ambiente resultantes da gestão dos resíduos;

• Desenvolver e clarificar a gestão de resíduos;

• Aumentar o know-how associado à gestão de resíduos;

• Gerir de modo seguro a transferência de resíduos.

Metas principais: 1. Estabilizar o volume de produção resíduos

sólidos urbanos ao nível a que estava no início de 2000. Após essa estabilização, o volume de produção deve decrescer a partir de 2016;

2. Atingir um nível de reciclagem de 50% dos RU. Da fracção restante, valorizar energeticamente cerca de 30% e garantir que serão depostos em aterro apenas cerca de 20% ou menos dos RU produzidos;

Metas adicionais:

• Valorizar a totalidade do estrume resultante das actividades agrícolas.

• Garantir o tratamento de cerca de 90% das águas residuais destas áreas em estações de tratamento e 10% em produção de biogás nas instalações agrícolas;

• itorias técnicoos RCD reciclando materiais ou através de valorização energética;

• Substituir 5% dos agregados naturais usados na construção por resíduos industriais e de mineração;

• Valorizar 100% das águas residuais domésticas;

• Promover acordos voluntários sectoriais para a eficiência na utilização dos materiais que estabeleçam metas para a prevenção e reciclagem.

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Síntese do plano de gestão de resíduos da Inglaterra, 2007-2020

País Título de documento

Horizonte temporal Visão Objectivos Metas

Inglaterra “Waste Strategy for England 2007”

2007-2020 Responsabilidade do produtor e do consumidor – todos os actores da sociedade têm que partilhar responsabilidades na gestão de resíduos

• Dissociar o crescimento económico da produção de resíduos (de todos os sectores) e colocar maior ênfase na prevenção e reutilização;

• Atingir e exceder as metas da Directiva Aterros para os resíduos urbanos biodegradáveis em 2010, 2013 e 2020;

• Aumentar a fracção de resíduos não urbanos desviados da deposição em aterro e assegurar uma melhor integração do tratamento de resíduos urbanos e não urbanos;

• Assegurar o investimento em infra-estruturas essenciais para desviar os resíduos da deposição e para a gestão de resíduos perigosos; e,

• Garantir o maior benefício ambiental desse investimento através do aumento da reciclagem e da valorização energética dos resíduos remanescentes através de um mix de tecnologias.

• Redução anual líquida das emissões de gases de efeito de estufa, resultantes da gestão dos resíduos, em pelo menos 9,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente, em comparação com o valor de 2006 (equivalente à retirada de circulação de cerca de 3 milhões de automóveis)

• Reduzir a quantidade de resíduos domésticos não reutilizados, reciclados ou compostados de 22,2 milhões de toneladas em 2000 para 15,8 milhões de toneladas (29%) em 2010 e para 12,2 milhões de toneladas em 2020 – redução de 45%. Este decréscimo equivale a uma diminuição de cerca de 50% por habitante (de 450kg/hab em 200 para 225kg/hab em 2020);

• Reciclagem e compostagem de resíduos domésticos – pelo menos 40% em 2010, 45% em 2015 e 50% em 2020; e

• Valorização de resíduos urbanos – 53% em 2010, 67% em 2015 e 75% em 2020;

• Decréscimo da deposição em aterro de resíduos comerciais e industriais em 20% até 2010 por comparação com os valores de 2004;

• Até 2012, diminuir para metade a quantidade de RCD que são depostos em aterro através da redução, reutilização reciclagem.

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Síntese do plano de gestão de resíduos da Escócia, 2003-2020

País Título de documento

Horizonte temporal Visão Objectivos Metas

Escócia “National Waste Plan 2003”

2003-2020 Dissociar a utilização dos recursos do crescimento económico

• Minimizar o impacte dos resíduos no ambiente, localmente e globalmente;

• Aumentar a eficiência da utilização dos recursos;

• Compensar as injustiças ambientais sofridas por aqueles que têm que viver com as consequências de uma sociedade de consumo

• Garantir uma abrangência de recolha selectiva para mais de 90% das habitações em 2020;

• Cessar o crescimento da produção de resíduos urbanos em 2010;

• Atingir um nível de reciclagem e de compostagem de 25% em 2006 e 55% em 2020 (35% de reciclagem e 20% de compostagem)

• Valorizar energeticamente 14% dos resíduos urbanos;

• Reduzir a deposição em aterro dos resíduos urbanos de 90% para 30%;

• Apoiar as empresas relativamente a estratégias de minimização de resíduos; e

• Desenvolver mercados de materiais reciclados tornando a reciclagem mais viável e reduzindo os seus custos.