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PLANTAR coleç o ã - infoteca.cnptia.embrapa.br · Fesd = Floresta Estacional Semidecidual; FODat = Floresta Ombrófila Densa atlântica; FODam = Floresta Ombrófila Densa amazônica;

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Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa FlorestasMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Embrapa Informação TecnológicaBrasília, DF

2008

A CULTURA DO NIM

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Coleção Plantar, 61

Produção editorial: Embrapa Informação TecnológicaCoordenação editorial: Fernando do Amaral Pereira

Mayara Rosa CarneiroLucilene Maria de Andrade

Supervisão editorial: Wesley José da RochaRevisão de texto: Corina Barra SoaresProjeto gráfico da coleção: Textonovo Editora e Serviços Editoriais Ltda.Editoração eletrônica: Mário César Moura de AguiarArte-final da capa: Mário César Moura de AguiarIlustração da capa: Álvaro Evandro X. Nunes

1a edição1a impressão (2008): 2.000 exemplares

Todos os direitos reservadosA reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou emparte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no. 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

© Embrapa 2008

A cultura do nim / Embrapa Florestas; [editores técnicos, Edinelson JoséMaciel Neves e Antonio Aparecido Carpanezzi]. – Brasília, DF : EmbrapaInformação Tecnológica, 2008.97 p. : il. – (Coleção Plantar, 61).

ISBN 978-85-7383-441-3

1. Azadirachta indica. 2. Extração. 3. Inseticida de origem vegetal.4. Neem. 5. Óleo vegetal. 6. Plantio. I. Embrapa Florestas. II. Coleção.

CDD 633.989

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AutoresEdinelson José Maciel NevesEngenheiro florestal, D. Sc. em Silvicultura,pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, [email protected]

Antonio Aparecido CarpanezziEngenheiro florestal, D. Sc. em Ecologia Florestal,pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, [email protected]

Paulo Afonso VianaEngenheiro agrônomo, Ph. D. em Entomologia,pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, [email protected]

Editores TécnicosEdinelson José Maciel NevesEngenheiro florestal, D. Sc. em Silvicultura,pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, [email protected]

Antonio Aparecido CarpanezziEngenheiro florestal, D. Sc. em Ecologia Florestal,pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, [email protected]

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Paulo Eduardo de Aquino RibeiroQuímico, M. Sc. em Química,analista da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, [email protected]

Hélio Teixeira PratesQuímico, Ph. D. em Química,pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, [email protected]

Roberto Antonio MalimpenceEngenheiro agrônomo, B. Sc. em Fitotecnia,proprietário da Empresa Baraúna Ltda., Catanduva, [email protected]

Alexandre Muzy BittencourtEngenheiro florestal, M. Sc. em Economia Florestal,doutorando da Universidade Federal do Paraná, Curitiba,PR, bolsista do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq)[email protected]

Anadalvo Juazeiro dos SantosEngenheiro florestal, Ph. D. em Economia Florestal,professor da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, [email protected]

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Apresentação

Em formato de bolso, ilustrados e escritos emlinguagem objetiva, didática e simples, os títulos daColeção Plantar têm por público-alvo produtores rurais,estudantes, sitiantes, chacareiros, donas de casa edemais interessados em resultados de pesquisa obtidos,testados e validados pela Embrapa.

Cada título desta coleção enfoca aspectos básicosrelacionados ao cultivo de, por exemplo, hortaliça,fruteira, planta medicinal, planta oleaginosa, condimentoe especiaria.

Editada pela Embrapa Informação Tecnológica,em parceria com as demais Unidades de Pesquisada Empresa, esta coleção integra a linha editorialTransferência de Tecnologia, cujo principal objetivo épreencher lacunas de informação técnico-científicaagropecuária direcionada ao pequeno produtor rural e,com isso, contribuir para o aumento da produção dealimentos de melhor qualidade, bem como para a geraçãode mais renda e mais emprego para os brasileiros.

Fernando do Amaral PereiraGerente-Geral

Embrapa Informação Tecnológica

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Sumário

Introdução................................................. 9Características Gerais ............................. 11Clima ....................................................... 20Solo......................................................... 22Propagação ............................................. 25Produção de Mudas ............................... 26Escolha de Área para Plantio .................. 30Preparo de Área ...................................... 33Plantio ..................................................... 35Tratos Culturais....................................... 58Pragas que Atacam o Nim ...................... 59Controle de Pragas comProdutos do Nim .................................... 61Coleta de Sementes paraProdução de Óleo ................................... 75Produção Industrial do ÓleoBruto do Nim .......................................... 84Rentabilidade Econômica ....................... 90

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Introdução

As menções mais antigas sobre a árvo-re conhecida como nim (Azadirachta indi-ca A. Juss) datam de 4.500 anos atrás.No Brasil, o nim foi introduzido há cerca de20 anos, e a maior parte das plantações, hoje,não tem mais que 10 anos. Seu cultivo emnosso país desenvolveu-se à margem depesquisa e de orientação técnica sólidas, esob forte influência do mercado e da propa-ganda comercial. Como conseqüência, asinformações técnicas, quando disponíveis,são muitas vezes desencontradas e carentesde aperfeiçoamento. Até mesmo alguns as-suntos básicos sobre o nim precisam serdeterminados com rigor, como o rendimen-to de frutos e o de madeira segundo seu usofinal (como lenha ou serraria). Somente deposse de conhecimentos firmemente basea-dos na pesquisa será possível fazer do cul-

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tivo do nim um empreendimento comerciale econômico seguro.

Em clima e solos adequados, o nim éuma árvore de cultivo muito fácil. Seu pon-to mais atraente está na copa das árvores,em qualquer escala de produção. Na propri-edade rural, qualquer que seja seu tamanhoou nível econômico, os frutos e as folhasde nim têm inúmeras aplicações, na lavourae na pecuária, como substituto de produtossintéticos, como certos inseticidas e vermí-fugos. Os frutos de nim são comercializá-veis, por se prestarem à produção de umóleo que compõe produtos industriais des-tinados a vários usos agropecuários, veteri-nários, cosméticos e medicinais. Como pro-dutor de madeira, no Brasil, o nim poderáter muito valor comercial em regiões de cli-ma seco, com regime de chuvas abaixo de900 mm/ano, adaptando-se até mesmo às

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áreas mais secas do Nordeste. Para regiõesúmidas, há espécies adequadas à produçãode madeira, como eucaliptos, pinheiros, teca,entre outros.

Este trabalho resultou, principalmente,da experiência e da observação do nim emcampo ou na indústria, durante vários anos,em diferentes pontos do País. Informaçõesde literatura foram usadas de modo secun-dário, e sempre com cautela, para esclarecerpontos duvidosos advindos da observaçãodireta. O cultivo do nim ainda é incipiente,aos olhos da ciência florestal; portanto, de-verá ser aperfeiçoado com a geração de no-vas tecnologias.

Características Gerais

No Brasil, a árvore do nim, quandosolteira, apresenta copa densa, frondosa, deformato arredondado ou oval, podendo atin-

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gir diâmetro superior a 12 m (Fig. 1). Nor-malmente, a árvore alcança entre 12 m e 20 mde altura e diâmetro à altura do peito (DAP)de no máximo 40 cm. Seu tronco é curto,bifurcando-se entre 2 m e 3 m de altura dochão (em espaçamentos apertados, o cauleé maior). A casca é de cor cinza-escuro efissurada, com 1 cm de espessura; o cernedas árvores maduras produz madeira de coravermelhada, lembrando a do mogno.

A árvore de nim é perenifólia, com ga-lhos bastante ramificados e folhas em abun-dância (Fig. 1). No período de seca, ocor-rem, simultaneamente, a queda e a brotaçãode folhas, de forma que as árvores nuncaficam desnudas. As folhas são do tipo im-paripenadas, de coloração verde-escura, econtêm várias substâncias com proprieda-des biocidas, sendo a principal delas a aza-diractina. Suas flores (Fig. 2) são pequenas,brancas, pentâmeras, hermafroditas, reuni-

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Fig. 1. Árvore isolada de nim com 20 anos de idade, plantadano Iapar, em Londrina, PR.

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das em inflorescências densas, que exalamcheiro parecido com o de mel, o que atraiabelhas e outros insetos. Os frutos são dotipo drupa, com comprimento de 1,5 cm a2,0 cm e sabor doce, com semente única(Fig. 3 e 4). A polpa do fruto serve de ali-mento para muitas aves selvagens. Os fru-tos são verde-claros inicialmente e, quandomaduros, apresentam cor amarelada. O nú-

Fig. 2. Ramos com flores.

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Semente seca com casca

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Fig. 3. Ramos com frutos imaturos.

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Fig. 4. Sementes secas no campo.

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evesSemente seca com casca

Semente comcasca quebrada

Semente única (amêndoa)

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mero de sementes secas por quilograma éde aproximadamente 3 mil. O sistema radi-cular da árvore (Fig. 5) é formado por umaraiz pivotante longa, que lhe permite absor-ver água e nutrientes de grandes profundi-dades e por raízes laterais. Em plantações,o nim regenera-se naturalmente pelas semen-tes e, às vezes, também por brotação de raiz.

Fig. 5. Sistema radicular do nim em solo arenoso no Cerrado.

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Observações feitas em campo revelamque as árvores de nim apresentam, ao mes-mo tempo, flores e frutos em diferentes es-tágios de desenvolvimento e maturação.As épocas de floração e frutificação variamconforme o clima (temperatura e chuva) ondea espécie é cultivada. De maneira geral, asprimeiras florações ocorrem, com intensida-de crescente, a partir dos 18 meses de ida-de, estabilizando-se a produção de frutosentre 8 e 12 anos pós-plantio. Normalmente,no ciclo de 12 meses, ocorrem duas flora-ções e duas frutificações, sempre prolonga-das. A ocorrência de chuvas muito fortesdurante a primavera prejudica a floração, porderrubar as flores.

A Tabela 1 apresenta a época de flora-ção e frutificação das árvores de nim culti-vadas em diversos municípios, em váriasregiões fitogeográficas do Brasil.

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Clima

O nim suporta seca e temperaturas al-tas, mas é muito sensível ao frio. No Brasil,seja qual for o objetivo do plantio, são inap-tas para o cultivo do nim todas as áreas ondea temperatura média anual é inferior a 20 ºC.Quando o objetivo for apenas a produçãode folhas, locais com temperatura média anu-al de 20 ºC a 21 ºC podem propiciar resulta-dos satisfatórios, desde que a temperaturamédia do mês mais frio seja 16,0 ºC. Qual-quer que seja o objetivo, são consideradasboas e ótimas, para o cultivo do nim, áreasonde a temperatura média anual situa-se de21 ºC a 23 ºC e 23 ºC, respectivamente.

O nim pode ser cultivado em locais comdistintos regimes de chuvas. Há plantaçõescom sucesso, para a produção de frutos,desde a região de Petrolina, PE/Juazeiro, BA,com precipitação média de 600 mm/ano e

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7 meses de seca, até o oeste do Estado deSão Paulo, com precipitações de 1.200 mma 1.400 mm e um período de 3 meses a 4meses com pouca chuva. Deve-se lembrarque, em todo o mundo, o nim é uma plantaparticularmente valiosa para cultivo emregiões tropicais subúmidas e semi-áridas.No nordeste do Pará, onde o volume de chu-vas é superior a 2.000 mm/ano e não ocorredéficit hídrico, as plantações de nim cres-cem bem, mas não há informações segurassobre produção de frutos, que é a finalidademais nobre do nim.

As regiões Sudeste, Centro-Oeste,Nordeste e parte do Norte são as que dis-põem de áreas com condições climáticasmais adequadas ao cultivo do nim, tanto paraa produção de folhas quanto a de frutos/sementes e madeira.

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Para a produção de madeira, o nim éindicado principalmente para locais sobregime de chuvas médias inferiores a900 mm/ano, quando sua produtividade com-pete com outras espécies mais conhecidas,como os eucaliptos; quanto mais seco for oclima, mais valioso será o nim.

Nos locais mais quentes e secos, a es-pécie apresenta boa produção de sementespara a extração de óleo.

Solo

No Brasil, os solos mais apropriadosao cultivo do nim são aqueles que apresen-tam pH entre 5,5 e 7,0, com baixos teoresde alumínio trocável, elevados teores de ba-ses trocáveis e saturação de bases > 50 %.Esses solos são encontrados naturalmenteapenas na Região Nordeste do Brasil. Para

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cultivar o nim em solos ácidos (pH < 5,5), énecessária a correção da acidez com cala-gem ou gessagem, visto que essa espécie éexigente em cálcio e fósforo e beneficia-sede pH alto em todo o perfil explorável dosolo.

As características físicas do solo po-dem ser mais limitantes ao cultivo do que asquímicas. A espécie suporta longo períodode seca, mas não tolera solos encharcados.Ela não é tão exigente quanto a solos pro-fundos, mas requer solos permanentementedrenados ou bem drenados. Este é o casode Timbaúba, PE (Fig. 6). Ali, o nim é culti-vado com sucesso em solos muito rasos epedregosos, em relevo plano ou declivoso(encostas de morros), sem encharcamento,sob chuvas mal distribuídas e muito variá-veis entre os anos (totais de 550 mm/ano a1.200 mm/ano). Por outro lado, plantações

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estabelecidas na região central do Estado deTocantins (Fig. 7), em solo profundo comrelevo plano, sob chuvas estacionais quesuperam 1.800 mm/ano, apresentam árvo-res com desenvolvimento comprometidopelo encharcamento do solo em alguns me-ses do ano.

Fig. 6. Plantações de nim com desenvolvimento bom, em so-los rasos sem problemas de encharcamento – Timbaúba, PE.

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Propagação

O nim propaga-se via semente e, tam-bém, vegetativamente, por processos artifi-ciais, como estaquia e cultura de tecidos.A propagação por sementes colocadas di-retamente nos recipientes é o método maisusado. As sementes devem ser postas para

Fig. 7. Plantações de nim com desenvolvimento ruim, em so-los profundos com problemas de encharcamento – Brejinhode Nazaré, TO.

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germinar logo após a colheita, pois são re-calcitrantes, suportando pouca perda de umi-dade. Como ainda não há nenhum melhora-mento genético do nim no Brasil, o produ-tor de mudas deve procurar obter ou coletarsementes de árvores vigorosas e que apre-sentem elevada produção de frutos.

As sementes do nim não necessitam detratamento específico para sua germinação;basta remover a polpa do fruto. A taxa degerminação alcança até 90 % para sementessemeadas no período de duas semanas de-pois da colheita.

Produção de Mudas

Dependendo da temperatura do local,a germinação inicia de 4 a 10 dias após asemeadura e estende-se por um mês. A se-meadura pode ser feita diretamente em sa-cos de plástico de polietileno, no tamanho

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de 6 cm x 14 cm quando cheios (diâmetro xaltura), distribuídos em canteiro (Fig. 8).Como substrato, pode ser usada uma mis-tura de três partes de solo de textura médiapara uma parte de matéria orgânica bem cur-tida. A semeadura pode ser feita, também,em tubetes cônicos com 5,1 cm de diâme-tro e 13,3 cm de comprimento (Fig. 9), oque equivale a 180 cm3 de substrato. A pro-dução de mudas em tubetes exige substra-tos específicos e um regime de adubaçãorefinado, estabelecido em bases técnicas.

Fig. 8. Mudas de nim produzidas em sacos de plástico depolietileno.

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Quando em sacos de plástico, as mu-das devem ser produzidas em viveiro a céuaberto, e irrigadas pelo menos uma vez ao

Fig. 9. Mudas de nim produzidas em tubetes.

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dia. Em regiões extremamente quentes, asmudas podem ser produzidas em viveiroscom sombrite ou outro tipo de cobertura queamenize o excesso de calor. A permanênciano viveiro até o plantio em campo, com al-tura de 20 cm, pode variar de 45 a 100 dias.A qualidade da muda que vai ao campo édeterminante para o sucesso da plantação.Há casos comprovados de áreas extensasde nim que fracassaram no campo, por contada má formação do sistema radicular dasmudas. Em viveiro, as mudas de nim po-dem permanecer vivas e crescer bastante emsacos de plástico pequenos, mas suas raí-zes são prejudicadas; tais mudas devem serdescartadas ou, mediante orientação técni-ca, devem ser podadas na copa e na raiz etransformadas em mudas de toco.

A área ideal para se instalar um viveiroé aquela com boa disponibilidade de água,

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circulação de ar satisfatória e solo com boadrenagem e levemente inclinado, para evitarproblemas de encharcamento por ocasiãodas regas. O viveiro deve ser cercado portelas ou cercas, para evitar perdas de mudasprovocadas por ataque de animais.

Em qualquer caso, antes do plantio, asmudas devem passar por um período deadaptação às condições do campo, perma-necendo pelo menos 15 dias em local aber-to, arejado e com boa incidência de luz. Esseprocedimento contribuirá para se obter umbaixo índice de mortalidade de plantas e,conseqüentemente, o replantio será menor.

Escolha de Área para Plantio

É indispensável que os solos para plan-tio sejam permanentemente drenados. Nasregiões fitogeográficas de florestas e do Cer-rado, os solos devem ser profundos, sem

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compactação nem camadas de impedimen-to e, preferencialmente, arenosos: o ideal éque o teor de areia seja acima de 50 %, po-dendo ser superior a 90 %. Para isso, nes-sas regiões fitogeográficas, os solos maisadequados são os de relevo plano ou sua-vemente ondulado (Fig. 10). Na Caatinga,as condições adequadas de drenagem po-dem ser obtidas em solos rasos e pedrego-sos, situados em encostas de morros(Fig. 11) ou em relevo plano fora de depres-sões do terreno. Quanto aos aspectos quí-micos, o melhor comportamento do nim dá-se, sem dúvida, em solos de fertilidade mé-dia ou alta, com pH neutro ou pouco ácido.

Solos que apresentem encharcamento,mesmo que subsuperficial ou temporário,comprometem o crescimento das árvoresplantadas, tanto em altura quanto emdiâmetro.

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Fig. 11. Plantio de nim em área declivosa.

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Fig. 10. Plantio de nim em área plana.

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Preparo de Área

O preparo de área depende da topo-grafia e das características físicas do solo.Como norma, solos de topografia plana asuave ondulada devem ser preparados como uso de aração e gradagem; já os solosmuito arenosos dispensam aração. Em ter-renos declivosos ou pedregosos, com ferti-lidade natural elevada, o preparo de área deverestringir-se à marcação de linhas de plantioe à abertura das covas; isto é feito, por exem-plo, na Zona da Mata pernambucana, em ter-renos considerados inaptos para o cultivoda cana-de-açúcar.

É recomendável que, no decorrer do pre-paro da área, amostras de solo sejam coleta-das na forma de X, em duas diagonais cortan-do o terreno, da camada de 0 cm a 20 cm e de20 cm a 40 cm de profundidade. Os resulta-dos dessas amostras devem ser interpreta-dos por um profissional da área agronômica

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ou florestal. Caso seja necessária, a cala-gem deve ser feita pelo menos 30 dias an-tes do plantio. É recomendável o uso decalcário dolomítico, porque permite o for-necimento de cálcio e magnésio ao solo.O calcário deve ser distribuído de manei-ra uniforme na área de plantio após a ara-ção e incorporado com a gradagem. Casoseja necessário o uso de fertilizantes mi-nerais, principalmente de nitrogênio, fós-foro e potássio, as quantidades definidasdevem ser misturadas e aplicadas na cova,durante o plantio. As covas podem ser fei-tas com as dimensões de 20 cm de lado e20 cm de profundidade.

Em solos extremamente arenosos,como Neossolos Quartzarênicos (areiasquartzozas) com menos de 5 % de argila,recomendam-se o cultivo e a incorpora-ção de adubação verde nas ruas, para au-mentar a capacidade de retenção de água.

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Plantio

O nim adapta-se a diversos sistemassilviculturais, os quais fornecem produtos eserviços variados. No Brasil, ele vem sendoempregado principalmente em plantios ho-mogêneos, para a produção de frutos/se-mentes (maior demanda) e folhas.

Seja qual for a finalidade, o nim deveser plantado a pleno sol, no início do perío-do das chuvas e do ano agrícola, estando aterra molhada. Na época do plantio, deve-sedistribuir as mudas no campo, junto às co-vas, cuidando para plantá-las sem demora,para evitar o ressecamento do torrão e omurchamento das folhas. No ato do plantio,após a retirada do saco de plástico ou dotubete, o torrão com a muda deve ser colo-cado no interior da cova e, em seguida, deve-se preencher, com terra, os espaços vaziosda cova, de modo que o torrão não fique

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exposto e que a parte basal do caule fiqueno mesmo nível do solo. Aos 30 dias apóso plantio, deve-se percorrer a área plantadapara fazer o levantamento do número demudas mortas e o replantio.

Quando houver previsão de estiagempós-plantio, recomenda-se aplicar hidrogel,um polímero absorvente de água à base deacrilamida, colocando-o junto à raiz da mudadurante o plantio. Sua função é reter a águada chuva ou da irrigação e liberá-la aos pou-cos, garantindo a umidade do solo. O usode hidrogel garante sobrevivência alta e re-duz consideravelmente a necessidade de ir-rigação pós-plantio.

Arborização de ruas e componentede sistemas agroflorestais

Em cidades do Nordeste brasileiro, o nimvem sendo plantado na arborização de ruas

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Fig. 12. Nim plantado como arborização de rua, emVermelho, PE.

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(Fig. 12). Neste caso, o espaçamento usadoentre plantas pode variar de 8 m a 10 m.

Como componente de sistemas agro-florestais, a espécie é fornecedora de nutri-entes às plantas mediante deposição e de-composição de suas folhas caídas no soloe é fonte de renda aos pequenos e médios

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Fig. 13. Nim irrigado como quebra-vento de vinhedo, em Ju-azeiro, BA.

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agricultores, mediante a venda de frutos/se-mentes e, no futuro, de madeira para lenha/carvão. Por isso, a espécie pode ser usadacomo quebra-vento (Fig. 13), em consórciocom café (Fig. 14), bananeira (Fig. 15) e cul-turas anuais (Fig. 16), entre outras modali-dades.

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Fig. 14. Nim consorciado com café, em Glória de Dourados,MS.

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Fig. 15. Nim consorciado com bananeira, em Glória de Doura-dos, MS.

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Fig. 16. Nim em SAF, como cultivos anuais, em Glória deDourados, MS.

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Como quebra-vento de cultivos agrí-colas, as árvores de nim podem ser instala-das em linhas simples e/ou duplas. Em li-nhas simples, o espaçamento entre plantaspode variar de 1 m a 3 m. Caso seja planta-do em linhas duplas, o espaçamento podevariar de 2,5 m a 3,0 m entre linhas por 1 m a3 m na linha. O solo na linha de plantio deveser mantido limpo para facilitar a colheita de

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Fig. 17. Renque de nim para a delimitação da propriedaderural, em Urupês, SP.

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frutos. Renques para delimitação da propri-edade rural (Fig. 17) constituem uma práticaagroflorestal similar ao quebra-vento, tam-bém permitindo produção de frutos.

Produção de folhas

As folhas do nim são úteis no meio ru-ral. Entre outros usos, depois de secas, elaspodem ser trituradas e usadas como vermífu-

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go para o gado bovino ou moídas para pre-parar extratos aquosos ou alcoólicos, apli-cados contra pragas no campo e em grãosarmazenados. Em geral, as folhas são umproduto secundário de plantios destinadosa outros fins; sua obtenção é fácil, já que asárvores têm copa frondosa e rebrotam bem.

No Brasil, praticamente não existemplantios destinados exclusivamente à produ-ção de folhas, mas merece destaque umaplantação em São João de Pirabas, no litoraldo Pará, onde são cultivados 160 mil pés denim, no espaçamento de 1,5 m x 1 m (rua xlinha), o que significa densidade de 6.666plantas/ha (Fig. 18). Esse espaçamento foideterminado com base em plantações co-merciais modernas para a produção de fo-lhas de erva-mate (Ilex paraguariensis).O espaçamento não permite que a manuten-ção das ruas seja feita de forma mecanizada

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e traz, esporadicamente, problemas fitossa-nitários, decorrentes da elevada umidade quese forma próximo ao chão. Por conseguin-te, é recomendável que plantios desse tipotenham espaçamento mais largo, como2 m x 1,5 m.

Nesta plantação, que visa, como foidito, a máxima produção de folhas, o mane-

Fig. 18. Plantio de nim para a produção de folhas, sob espa-çamento de 1,5 m x 1 m.

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jo é por talhadia intensiva, ou seja, os troncosdas árvores, ainda jovens, são cortadosentre 30 cm e 50 cm do solo (Fig. 19).A coleta de folhas das rebrotações do cauledecepado é feita duas a quatro vezes por ano.Em virtude das práticas empregadas, as plan-tas de nim mantêm-se baixas (uns 2 m de al-tura) e nunca atingem a fase de floração/fruti-ficação. A vida útil duma plantação, nesse sis-tema de cultivo, ainda é desconhecida.

Fig. 19. Rebrotação de caules decepados de árvores jovensde nim.

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Produção de frutose sementes em plantios puros

A produção de frutos e sementes é oobjetivo mais nobre do cultivo de nim, e tor-na a copa o compartimento principal da plan-ta. A árvore, portanto, precisa ser tratada pri-oritariamente como frutífera, e não como ma-deireira. O conjunto de práticas de cultivode uma árvore produtora de frutos segueprincípios próprios, que devem ser estabe-lecidos tecnicamente para cada espécie. To-davia, para o nim, não há pesquisas consis-tentes de campo, e as plantações comerci-ais são, geralmente, orientadas ou conduzi-das sem se ater às particularidades da espé-cie. Em conseqüência, as plantações atuaisde nim apresentam vários pontos a seremmelhorados, a começar pelo espaçamento.São comuns casos em que ele não é apro-priado nem à produção de madeira nem à

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produção de frutos (exemplo: 4 m x 4 m, nointerior paulista ou no Cerrado).

A experiência de campo revela dois sis-temas de plantio mais adequados à produçãode frutos de nim em talhões: espaçamentosquadrados e espaçamentos fortemente retan-gulares. Ambos têm, como ponto comum, ainsolação intensa das copas, condição essen-cial à produção de frutos. Como pressupos-to, deve-se considerar que, comumente, ascopas das árvores de nim são largas, altas,de crescimento intenso e com acentuada ca-pacidade de rebrotar no período pós-corte.Esse conjunto de características inviabiliza aformação e a manutenção de copas peque-nas mediante o uso de podas.

As árvores de nim exigem, sempre,muita luz. Isso, em talhões para produçãode frutos, significa que cada árvore precisade crescimento livre, com insolação por to-

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dos os lados, ou seja, espaçamento amplo equadrado: a mesma distância entre linhas edentro da linha. O crescimento das copasdo nim é muito afetado pelo clima, pelo soloe pela intensidade de cultivo; quanto maisfavorável for esse conjunto, maior deverá sera superfície deixada para cada árvore.

Assim, com base em observações decampo, recomenda-se, para talhões bemcuidados:

• No âmbito da Floresta EstacionalSemidecidual, espaçamentos que va-riem de 7 m x 7 m a 9 m x 9 m.

• No Cerrado, de 6 m x 6 m ou de7 m x 7 m.

• Para plantios estabelecidos na Caa-tinga, de 5 m x 5 m ou de 6 m x 6 m.

• Na transição Zona da Mata/Caatin-

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ga, em solos de alta fertilidade, o es-paçamento pode ser de 6 m x 6 m oude 7 m x 7 m.

• Na Amazônia, e em sua transiçãopara o Cerrado, de 8 m x 8 m ou de9 m x 9 m.

Atualmente, os espaçamentos maisempregados em talhões são do tipo retan-gular fraco e com distâncias menores que aideal, o que causa fechamento prematuro dascopas (Fig. 20) e não elimina o crescimentoapical, indesejável para a produção de fru-tos (Fig. 21).

No Brasil, embora as árvores de nimsejam comumente bifurcadas e esgalhadas,a dominância apical (crescimento no senti-do vertical) do tronco e dos galhos é forte(Fig. 21 e 22). Por isso, para a produção defrutos e sementes em plantios com espaça-

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mento quadrado ou retangular, o tronco e osgalhos devem ser podados (decepados) paraa formação de copa larga. A decepa do tron-co deve ser realizada a cerca de 3 m do solo,no momento em que a altura total da árvore forem torno de 5 m. A decepa, todavia, não resol-ve o problema de crescimento apical quandoo espaçamento é inadequado (Fig. 21).

Fig. 20. Plantio para frutos, evidenciando fechamento dascopas (7 m x 5 m, 7 anos, em Catanduva, SP).

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Fig. 21. Plantio para frutos, mostrando crescimento apical dotronco (7 m x 5 m, 7 anos, em Catanduva, SP).

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Fig. 22. Copa de árvore de nim no nordeste do Pará, mostran-do vigor do crescimento apical.

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A adoção de renques ou espaçamentoacentuadamente retangular maximiza a inso-lação lateral das copas e fundamenta-se nofato de que o fechamento lateral das copasna linha é compensado pela altura de cadacopa, muito maior e mais expostas ao sol(Fig. 23) que no espaçamento quadrado.

Fig. 23. Renque com nim em estrada, aos 6 anos, em Ibirá, SP.

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Nos talhões com disposição fortemen-te retangular, o espaçamento dentro da linhapode variar, mas recomenda-se que seja emtorno de 30 % da distância usada entre li-nhas. Para espaçamento entre linhas ou ren-ques, recomendam-se as seguintes distânci-as mínimas:

• Na Floresta Estacional Semidecidu-al, de 9 m a 11 m.

• No Cerrado, 8 m.

• Para plantios estabelecidos na Caa-tinga, 7 m.

• Em locais situados na transição Zonada Mata/Caatinga, em solos de altafertilidade, 8 m.

• Na Amazônia, e em sua transição parao Cerrado, 10 m.

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De certo modo, o espaçamento retan-gular forte equivale a uma repetição de ren-ques individualizados, bem separados entresi. Esse sistema apresenta várias vantagenssobre o espaçamento quadrado, a saber:

• Nos renques, as copas fecham rapi-damente na faixa de cada linha, favo-recendo a colheita tradicional, feitapor catação no chão.

• As ruas, mais largas, aumentam apossibilidade de praticar cultivosagrícolas.

• Há mais possibilidade de conciliar asproduções de frutos com as de ma-deira, pois a decepa do tronco não énecessária e, quanto à produção defrutos, a retirada de uma árvore é ra-pidamente compensada pela expan-são lateral das copas das árvores vi-zinhas.

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As primeiras florações ocorrem a par-

tir dos 18 meses de idade, e a produção de

frutos estabiliza-se entre 8 e 12 anos de ida-

de. Normalmente, são feitas duas colheitas

de frutos por ano; a maior ocorre no final/

início de cada ano. Em média, nos plantios

brasileiros considerados bons, a produtivi-

dade anual de sementes secas com casca,

com teor de umidade de 11 %, adequado

para moagem, é estimada em 5 kg por árvo-

re/ano, ou 1.250 kg/ha. É preciso fazer de-

terminações acuradas da produtividade em

diferentes regiões, para orientar tecnicamen-

te as atividades de cultivo. O ideal é que cada

produtor saiba com certeza quanto produz

cada hectare de seu talhão de nim, procedi-

mento este comum para outras culturas,

como soja, milho e feijão.

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Produção de madeira

Conhecimentos sobre o cultivo do nim,tendo como finalidade principal a produçãode biomassa lenhosa, são praticamente ine-xistentes no Brasil, em virtude de suas plan-tações serem dirigidas aos produtos da copa.As informações a seguir são baseadas emobservações de campo feitas nas regiõesSudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

O espaçamento vai depender do climae do solo da área e do tipo de manejo a seradotado. Para madeira, são recomendadosentre 7 m²/planta e 12 m²/planta, como3 m x 2,3 m a 4 m x 4m (ruas x linhas) ou1.428 mudas/ha a 625 mudas/ha, respectiva-mente. Em solos de boa fertilidade do oestepaulista, o incremento médio anual do nimem plantios densos, próprios da finalidademadeireira, não passa de 20 m³/ha aos 6 anosde idade.

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Árvores de nim não perdem os galhosde forma natural. Portanto, para a formaçãode uma madeira limpa, sem nós, torna-senecessária a poda ou a desrama artificial, istoé, a eliminação dos ramos laterais, em geralentre 8 meses e o terceiro ano pós-plantio,até que a árvore atinja pelo menos 6 m dealtura do tronco. Quando bem conduzida, adesrama permite a formação de um troncolivre de galhos, que produzirá madeira ser-rada de boa qualidade. A desrama artificialdo nim, tal como a do cinamomo ou da san-ta-bárbara (Melia azedarach), comumenteé feita à mão, sem ferramentas, eliminando-se os ramos bem jovens que se formam nasaxilas das folhas que saem dos caules. Esseprocedimento de desrama, embora simples,é pouco conhecido e freqüentemente prati-cado de modo incorreto, ou seja, retirandotambém as folhas, o que prejudica o cresci-mento da árvore. O desbaste deve ser feito

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segundo a evolução da área basal. No oestepaulista, para espaçamento inicial de9 m²/planta, estima-se que a primeira inter-venção deva ocorrer em torno de 6 anos.O ciclo de corte, para produção de madeirapara serraria ou laminação, é estimado em10 a 15 anos.

A madeira do nim, se produzida ade-quadamente, pode servir à fabricação demóveis, como acontece com as árvores dafamília das meliáceas (cedro, canjarana,mogno, andiroba, cinamomo). Todavia,como as plantações brasileiras de nim sãoorientadas para produtos da copa, os tron-cos são curtos, geralmente abaixo de 2 m(Fig. 21) e com nós, de modo que o nimserve apenas para a produção de lenha. Paraisso, suas qualidades são razoáveis: amos-tras de árvores de 50 meses, produzidas noCerrado, revelaram densidade básica de0,57 g/cm³, poder calorífico de 4.090 kcal/kg,

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carbono fixo de 81,8 % e rendimento emcarvão de 38,2 %.

Tratos Culturais

Nos primeiros anos após o plantio, ocultivo do nim exige cuidados especiais, paramanter a área livre de plantas invasoras e ocontrole do ataque de formigas-cortadeiras.Além disso, deve-se estar atento ao fato deque, em qualquer estágio de desenvolvimen-to, o nim é sensível à competição com gra-míneas.

Em áreas onde há ocorrência de tem-peraturas altas e regime intenso de chuvas, ocrescimento de plantas daninhas é extrema-mente rápido, principalmente nas estaçõesda primavera e do verão. Nessas áreas, éconveniente que o produtor proceda à roça-gem de forma mecanizada. Essa opção pode

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significar redução de custo e da mão-de-obrautilizada. Em plantios sob solos arenosos,os resíduos vegetais produzidos pela roça-gem podem ser utilizados em torno da plantae também nas ruas do plantio. Esse proce-dimento, além de promover a incorporaçãoao solo dos nutrientes existentes no materialroçado, ajuda a manter a sua umidade.

Pragas que Atacam o Nim

Vários insetos têm sido observados ali-mentando-se do nim, porém causando da-nos em nível muito baixo, não sendo, então,considerados pragas. Como exceção, ata-ques de formigas-cortadeiras Acromyrmexspp. e saúvas (Atta spp.) causam desfolha-mento das árvores, podendo eliminar plan-tas jovens e causar danos severos a plantasadultas (Fig. 24 e 25). O controle mais efici-ente é feito com o uso de formicida granula-

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do ou em pó, continuamente. Quando nãocontroladas, as formigas-cortadeiras limitamo sucesso dos cultivos, principalmente nafase inicial. Cumpre observar que as saúvascortam muito as folhas, carregam-nas paraos ninhos e depois as devolvem para a su-perfície, o que parece revelar ação tóxicado nim.

Fig. 24. Sauveiro no pé de árvore de nim.

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Controle de Pragascom Produtos do Nim

Para o controle de pragas nas culturasde interesse econômico, geralmente são uti-lizadas várias aplicações de inseticidas sin-téticos, elevando o custo de produção e cau-sando riscos de intoxicação e de contami-nação ambiental. Como alternativa a esses

Fig. 25. Devolução de folhas de nim para a superfície, feitapor formigas-cortadeiras.

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inseticidas, destacam-se os inseticidas natu-rais, que podem ser preparados na própriapropriedade e utilizados principalmente porpequenos produtores rurais, contribuindopara reduzir os custos de produção, os ris-cos e a dependência de inseticidas manufa-turados. Entre esses inseticidas naturais, aplanta do nim tem mostrado acentuada ativi-dade inseticida para cerca de 200 espéciesde pragas. É importante ressaltar que váriosresultados foram obtidos em laboratório,necessitando de estudos adicionais para usoprático no controle de pragas no campo.

O nim contém pelo menos 35 produ-tos biologicamente ativos. A azadiractina é oprincipal composto produzido pelo nim comreconhecida atividade inseticida, sendo osfrutos a sua principal fonte, além da casca edas folhas. A maioria dos resultados que uti-lizaram o nim para o controle de pragas foiobtida com produtos oriundos da moagem

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das folhas ou da extração de óleo das se-mentes. Tem sido demonstrado que peque-nas quantidades de azadiractina reduzem aalimentação, retardam a mudança de “pele”do inseto (ecdise), causam a mortalidade delarvas e pupas e esterilizam os adultos.

O uso do extrato foliar

Os efeitos dos extratos de plantas denim nas várias espécies de insetos são difí-ceis de pontuar por causa da complexidadedos seus compostos e das diversas variáveisenvolvidas no processo – como modo deaplicação, modo de ação, dosagem, formu-lações, manuseio, armazenamento, extratosfeitos de diversas partes da árvore, condiçõesambientais e diversidade de insetos –, dificul-tando a comparação entre os resultados.

A extração do inseticida natural da plan-ta geralmente é feita macerando-se folhas ou

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sementes, e deixando-as, em seguida, demolho em água, álcool ou outros solventes.A técnica mais simples e a mais empregadaé a extração em água. Consiste em esmagarou moer a semente ou as folhas de nim, co-locar o macerado em água, coar em tecidofino e coletar o extrato. Esse extrato podeser utilizado em pulverização para o contro-le de pragas, sem qualquer modificação.

O emprego do extrato aquoso de folhasapresenta certas vantagens em comparaçãoao óleo extraído das sementes. Os principaisentraves para o uso das sementes é que, emalgumas regiões do País, a produção de se-mentes é pequena, e o processo para a extra-ção do óleo demanda prensa e processos es-peciais, dificultando a sua utilização na pro-priedade. O uso de folhas no preparo do ex-trato apresenta, porém, a vantagem de suaprodução ser abundante nas condições bra-sileiras e de o extrato ser de fácil preparo, o

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que viabiliza sua utilização, principalmente empequenas propriedades rurais.

A Embrapa Milho e Sorgo, estabelecidaem Sete Lagoas, MG, desenvolveu, com su-cesso, um método para o uso do extrato aquo-so de folhas de nim para o controle da lagar-ta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), con-siderada a principal praga do milho, no Bra-sil. O extrato de folhas de nim reduz a alimen-tação e o desenvolvimento, e posteriormentecausa a morte da lagarta. A ação inseticidaocorre pela ingestão de folhas de milho trata-das com o extrato. O extrato aplicado sobrea lagarta pouco contribui para a sua mortali-dade. Portanto, a uniformidade da pulveriza-ção, tendo em vista uma melhor deposiçãodo extrato sobre a área foliar do milho, é fa-tor preponderante para aumentar a eficiênciado controle da praga.

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As folhas de nim para o preparo doextrato são coletadas juntamente com os ta-los, e colocadas à sombra, em uma fina ca-mada, para secagem ao ar, por um períodoaproximado de 10 dias (a depender da tem-peratura), até ficarem desidratadas e quebra-diças. Em seguida, deve-se separar as fo-lhas do talo, visando ao uso exclusivo dasfolhas. Com o auxílio de um moinho, as fo-lhas são moídas para a obtenção do pó queserá utilizado no preparo do extrato.

Estudos realizados pela Embrapa Mi-lho e Sorgo, em Sete Lagoas, MG, mostra-ram que o teor de azadiractina nas folhas denim de árvores desse município varia de acor-do com a época do ano. A concentração deazadiractina foi maior entre março e abril,logo após o final do período chuvoso daregião, quando as folhas apresentam consi-derável vigor; a concentração decresce acen-tuadamente no período de baixa precipita-ção pluviométrica (de junho a setembro).

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Mediante a análise de dados meteorológicosdo mesmo período do estudo, verificou-seque existe uma relação inversa entre o teorde azadiractina na folha e o déficit hídricodo solo (Fig. 26). Cabe salientar que a aza-diractina não deve ser a única substância res-ponsável pelo efeito inseticida verificado doextrato da folha de nim, porém não se co-nhece o efeito da época da coleta das folhassobre os seus outros componentes.

Quanto à armazenagem das folhas apósa secagem, verificou-se que o acondiciona-mento com exposição à luz do sol degrada

Fig. 26. Correlação entre a concentração de azadiractina nafolha de nim e o déficit hídrico.

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significativamente o princípio ativo. Reco-menda-se, portanto, que o armazenamentodas folhas secas, para posterior preparaçãoda calda, seja feito necessariamente à som-bra, e preferencialmente em geladeira oufreezer, obtendo-se, nessas condições, umaconservação satisfatória do princípio ativopor até 2 meses.

Para o preparo do extrato com vista aocontrole da lagarta-do-cartucho-do-milho,colocam-se 150 g do pó de folha de nim(Fig. 27) por litro de água. Ao misturar o póna água, deve-se mexer bem para homoge-neizar a mistura, e, em seguida, deixar emrepouso por 24 horas. Recomenda-se nãoencher o recipiente até a borda, pois, com ahidratação do pó, o volume vai aumentar epoderá transbordar. Após esse período, coaro extrato, utilizando um tecido de algodãoou organdi, para evitar o depósito de resí-duos na calda; caso contrário, os bicos dopulverizador poderão ficar entupidos.

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Fig. 27. Pó de folha de nim utilizado no prepa-ro de extrato aquoso.

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Para melhorar a distribuição e aderên-cia do extrato pulverizado nas folhas do mi-lho, recomenda-se adicionar um espalhanteadesivo (30 mL/100 L da calda) ou mesmoutilizar óleo de soja comercial (352 mL/100 Lda calda). O melhor resultado na aplicaçãoé obtido com pulverizador costal equi-pado com uma barra curva com três bicos(Fig. 28). Essa barra é composta de um bicocentral, dirigindo o jato para a região central

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(cartucho) da planta, e de dois bicos lateraisparalelos ao colmo da planta, possibilitandomelhor distribuição do extrato nas folhas domilho. Deve-se utilizar bicos do tipo leque;o de maior vazão (80.04) fica localizado nocentro, enquanto os bicos de menor vazão(80.01) são instalados nas laterais da barra.A pressão utilizada no pulverizador é de40 lb/pol2.

Fig. 28. Barra tríplice utilizada para pulverizar o extrato de nim.

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De maneira geral, o controle é mais efi-ciente para lagartas mais novas. Deve-se fa-zer três aplicações da calda, com intervalode 2 dias entre as aplicações. Essa quantida-de de aplicações é necessária para protegeros novos tecidos foliares, que vão surgindoao longo do crescimento da planta, tecidosestes que também precisam estar protegidospelo extrato para resistirem ao ataque da la-garta.

É importante salientar que, para o usodo nim para outras espécies e/ou grupos deinsetos, é necessário que se determinem pelomenos a dose e o método de aplicação paraa praga considerada, pois a eficiência decontrole deve variar. Em outras palavras, nãoé possível fazer a mesma indicação para ocontrole de um besouro e de uma lagarta.Para cada caso, são necessárias pesquisas eprocedimentos diferentes, levando em con-

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sideração as características da praga. A não-observância desse requerimento pode levarao insucesso na utilização do nim para ocontrole de pragas.

Outro aspecto a considerar é que osinseticidas vegetais, como outros produtosnaturais, apresentam uma persistência limi-tada em condições de campo. A temperatu-ra, a luz ultravioleta, o pH nas partes dasplantas tratadas, a chuva e outros fatoresambientais influenciam a ação dos produtosà base do nim. Dessa maneira, o efeito resi-dual desses produtos são restritos a poucosdias, normalmente entre 5 e 7 dias, sendonecessário repetir a aplicação algumas ve-zes durante o ciclo da cultura.

O efeito do nim sobre outros organis-mos que não são alvo desta pesquisa aindanão é totalmente conhecido. Entretanto, temsido aceito que existe uma larga margem de

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segurança para o uso do nim, tanto para ousuário quanto para o consumidor.

O uso da torta de nim

O óleo do nim, que é composto porum coquetel de substâncias, é obtido a par-tir das sementes. Ele tem, como princípiosativos, estruturas aromáticas complexas, quepodem reduzir a possibilidade de tolerânciaou do desenvolvimento de resistência nosinsetos. Seu uso apresenta como vantagenso fato de ser biodegradável, ter seu poderde ação rapidamente degradado sob o efei-to da luz, ser pouco tóxico para mamíferose potencialmente compatível com os inimi-gos naturais de muitos insetos-praga.

Depois da extração do óleo, o resíduodas sementes prensadas é chamado de “tor-ta do nim” (Fig. 29), que é rica em azadirac-tina. Ela pode ser usada como repelente de

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Fig. 29. Torta de nim obtida da prensagem de sementes.

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algumas pragas agrícolas e como adubo or-gânico em diferentes sistemas de cultivo.

Quando usada como adubo orgânico,a torta reduz a população de nematóides dosolo, uma das principais pragas que atacamas plantas. Os nematóides sugam líquidosdas raízes a tal ponto que elas se tornamincapazes de suprir a planta com nutrientes.

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As plantas ficam com uma aparência doen-tia, param de crescer e podem eventualmen-te vir a morrer.

Coleta de Sementes paraProdução de Óleo

O óleo puro de nim é aquele obtido damoagem de sementes, sem adição de qual-quer outro material ou de substância quími-ca. No Brasil, são produzidos vários tiposde óleo puro de nim: bruto, para uso cos-mético e para uso medicinal. O óleo bruto éproduzido em maior escala e destina-se prin-cipalmente à agropecuária. Cada tipo de óleopuro requer uma coleta específica. O óleopara fins medicinais é feito dos frutos cole-tados na árvore; para fins cosméticos, a co-leta é feita em lona estendida no chão; a co-leta para o óleo bruto é feita comumente nochão de terra, e eventualmente em lona es-

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tendida no chão, sob as árvores. Neste ca-pítulo, será descrita a coleta para a produ-ção de óleo bruto segundo a modalidademais comum, isto é, no chão de terra.

No Brasil, ocorrem, comumente, duassafras, porque há duas floradas significati-vas, prolongadas, no período de um ano.Normalmente, os frutos tornam-se maduros(aptos para a coleta) a partir de 75 dias doaparecimento das flores (antese), quando elesapresentam cor amarelada. Em conseqüên-cia, as árvores de nim apresentam, ao mes-mo tempo, flores e frutos em diferentes es-tágios de desenvolvimento. Os frutos ma-duros permanecem pouco tempo na árvore,e logo caem. Portanto, caso não sejam cole-tados, os frutos ficam expostos no chãodurante muitos meses. A pequena amêndoanão se decompõe com facilidade, permane-cendo íntegra, embora murcha. As coletas

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podem ser feitas a cada quinzena, a cadamês ou mais espaçadamente, dependendode fatores locais, como disponibilidade demão-de-obra e o próprio ritmo da frutifica-ção. Como exemplo, no oeste paulista, amaioria dos sitiantes faz duas ou três coletaspor ano; e, numa empresa verticalizada doNordeste, são feitas de seis a oito coletaspor ano. Os primeiros frutos surgem a partirdos 18 meses de idade; porém, a primeiracolheita economicamente viável se dará apartir do terceiro ano pós-plantio.

Em uma propriedade não verticalizada,isto é, cuja produção será vendida para fora,os procedimentos básicos são os descritosa seguir. A coleta dos frutos caídos no solo(Fig. 30 e 31) assemelha-se muito com a fei-ta nos cafezais. A primeira etapa da coletapropriamente dita consiste no rastelamento(Fig. 32), que amontoa frutos, folhas e umpouco de terra ou pedras (Fig. 33). Depois,

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Fig. 30. Frutos de nim em chão limpo, por causa de coletasfreqüentes.

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Fig. 31. Frutos de nim no chão, em área com coletas espaça-das.

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Fig. 32. Material rastelado à frente e frutos limpos na lona,em renques para quebra-ventos.

Fig. 33. Material rastelado, com frutos, a ser peneirado.

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é necessário o uso de peneira (Fig. 34) paraseparar as sementes das folhas e da terraque estão misturadas. Em seguida, as semen-tes devem ser lavadas rapidamente e seca-das à sombra, em local ventilado, por 2 a 3dias. Após a secagem, as sementes devemser acondicionadas em sacos que permitama aeração (Fig. 35), os quais devem ser man-tidos em ambiente fresco e seco. Geralmen-te, a produção obtida é vendida para empre-sas que trabalham com o processamento deóleo ou para intermediários.

Fig. 34. Peneiramento de frutos e sementes denim para retirar as impurezas.

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Em propriedades economicamente bemestruturadas, o preparo do solo pré-coletapode ser feito com lonas estendidas no chão,para facilitar o rastelamento e a separaçãodos frutos (Fig. 36 e 37).

Em propriedades verticalizadas (isto é,que produzem da semente ao óleo), as fases

Fig. 35. Sementes de nim ensacadas.

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são praticamente as mesmas; todavia, naentrada da indústria, faz-se uso de equipa-mentos e máquinas especiais (Fig. 38), o queresulta em sementes com menos impurezas(Fig. 39).

Fig. 36. Coleta de sementes de nim com o uso de lonas.

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Fig. 37. Detalhe do material de nim rastelado sobre lona.

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Fig. 38. Máquina para a separação de impurezas existentesem sementes de nim destinadas à moagem.

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Produção Industrialdo Óleo Bruto do Nim

Por óleo bruto de nim entende-se o óleopuro, produzido apenas da moagem de se-mentes. Após emulsionado, ele é destinadoprincipalmente a finalidades agropecuárias.O processo de extração do óleo bruto denim inicia-se na propriedade rural, onde oprodutor colhe os frutos caídos no chão eos transporta até a indústria processadora.

Fig. 39. Sementes de nim pré-moagem, após uso de máquinaspara limpeza e despolpamento.

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O processo descrito a seguir reflete a práti-ca de uma indústria situada em Catanduva,SP, mas há diferenças de procedimento en-tre empresas.

Preparação

O material que chega à indústria pro-cessadora de óleo de nim consiste em se-mentes colhidas e um pouco de restos decascas dos frutos. No pátio da indústria, omaterial é, inicialmente, lavado com jatod’água e submetido ao processo de seca-gem natural (Fig. 40).

Fig. 40. Sementes de nim em secagem ao sol.

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Fig. 41. Descascador decafé usado para descascarsementes de nim.

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Após a secagem, as sementes são se-paradas da sua casca, com o uso de des-cascadores de café (Fig. 41). Em seguida,as amêndoas e suas cascas são misturadasna proporção 7:3 em peso e encaminhadaspara o processo de prensagem. Essa mistu-

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ra (amêndoas e suas cascas) é feita para fa-cilitar a prensagem e causar menor desgasteao cesto da prensa.

Extração de óleobruto e produção de torta

O óleo é obtido a partir da prensagemda mistura de sementes (amêndoas) de nime suas cascas. Existem vários tipos de pren-sa, com diferentes capacidades de produ-ção. A prensa com rosca helicoidal da in-dústria de Catanduva, SP (Fig. 42) tem ca-pacidade para esmagar de 50 kg/hora a70 kg/hora da mistura de amêndoa + casca,extraindo daí de 16 L a 18 L de óleo e de37 kg a 42 kg de torta. Após a prensagem, oóleo produzido (Fig. 43) passa por um fil-tro-prensa (Fig. 44) para aumentar seu graude pureza; em seguida, é depositado em to-néis (Fig. 45) para decantação. Esse tipo deóleo não tem mercado; por isso, depois de

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Fig. 42. Prensa usada para extração de óleo de nim em indús-tria em Catanduva, SP.

Fig. 43. Óleo de nim saído da prensagem.

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Fig. 44. Filtro-prensa usado para melhorar o grau de purezado óleo de nim.

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Fig. 45. Óleo de nim em processo de decantação.

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produzido, ele é emulsificado e, posterior-mente, comercializado. A indústria vende esseóleo emulsificado ao preço de R$ 35,00 porlitro (base: junho de 2008). A torta, subpro-duto da prensagem, muito rico em azadirac-tina, é vendida principalmente para floricul-tores e agricultores orgânicos, ao preço deR$ 8,00/kg (base: junho de 2008). Ela é usa-da simultaneamente como adubo e defensi-vo orgânico.

RentabilidadeEconômica

Estudo sobre a rentabilidade econômi-ca do cultivo de nim e de sua cadeia produ-tiva, realizado em 2006, no oeste do Estadoda Bahia (região de Barreiras) e no noroestedo Estado de São Paulo (região de Catan-duva), concluiu que:

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• Nas duas regiões analisadas, os cus-tos referentes à mão-de-obra e à ad-ministração foram os mais represen-tativos na composição do custo to-tal da atividade.

• Considerando uma taxa mínima deatratividade de 12 % ao ano, os plan-tios de nim para as duas regiões es-tudadas, em todos os cenários pro-postos, foram considerados viáveisna análise econômica.

• A região oeste da Bahia foi a que apre-sentou os melhores resultados econô-micos, principalmente em razão domenor custo da terra, da maior pro-dutividade e da condução da espécie,utilizando todo o seu potencial pro-dutivo (folhas, frutos e madeira).

• Os cenários que propuseram a com-pra da terra nas duas regiões estuda-

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das apresentaram os menores retor-nos econômicos. No oeste baiano, aredução no retorno do investimento,quando comparada ao cenário em quenão se remunera a terra, foi pequena.Sabendo-se que a terra dificilmentesofrerá depreciação e sendo o valordesta relativamente baixo, pode-seadquirir a terra sem que isso alteresignificativamente o retorno do inves-timento. Essa linha de pensamentonão se aplica à região noroeste de SãoPaulo, uma vez que, nos cenários pro-postos, a variação da TIR foi consi-derável.

• A análise de sensibilidade com basenos preços reais do quilo do fruto,nos últimos 4 anos, mostrou que re-duções nos preços do fruto, que é oprincipal componente das receitas da

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cultura, podem tornar o investimentona cultura do nim pouco atrativo emcurto prazo, tanto na região noroestede São Paulo quanto na região oesteda Bahia, quando comparados àTMA de 12 % ao ano, utilizada nasanálises.

• A análise de sensibilidade com basenos custos de produção mostrou queo cultivo de nim na região noroestede São Paulo apresenta-se bastantesensível a variações nos custos to-tais de produção. Na região oeste daBahia, essa sensibilidade é menor.

• A cadeia produtiva do nim apresen-ta-se, de forma geral, bastante sim-plificada, principalmente na região deBarreiras, BA, não se verificando apresença de atacadistas e da indús-

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tria do processamento secundário,importantes intermediários.

• A maior parte da agregação de valorna cadeia produtiva do nim, assimcomo na maioria das cadeias produ-tivas de produtos florestais não-ma-deiráveis, é apropriada pelos interme-diários; neste caso, representadospelas indústrias de processamentoprimário, as quais agregam mais va-lor ao produto, que chega a obter omaior markup de comercialização dacadeia produtiva. Os demais compo-nentes da cadeia são: produtores ru-rais, atacadistas, indústria do proces-samento secundário, varejistas e con-sumidor final.

• Quanto ao mercado de produtos àbase de nim, constatou-se que se di-vide basicamente em três grandes ni-

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chos: de produtos agrícolas (defensi-vos orgânicos), de produtos para apecuária (vermífugo) e de cosméticose produtos para a saúde humana.

• O mercado de produtos à base denim pode ser considerado, com res-salvas, como concentrado e com in-dícios de estrutura oligopolizada. Asindústrias de processamento primá-rio do óleo de nim oferecem uma de-terminada quantidade de produtos,que não é suficiente para atender àdemanda, alcançando, assim, preçosmaiores por seus produtos. Entretan-to, parte da margem de comercializa-ção não tem sido repassada aos de-mais segmentos da cadeia produtiva,principalmente aos produtores rurais.

• Em virtude da entrada de novos pro-dutores motivados pelo potencial da

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espécie, constatou-se que os níveisde preços de mercado do fruto denim, nos últimos 4 anos, vêm dimi-nuindo. Entretanto, ao contrário des-sa possível tendência de aumento daoferta de frutos, verificou-se, na re-gião de Catanduva, SP, oferta insufi-ciente, indicando a necessidade daentrada de novos produtores e/ou daampliação dos cultivos.

• Apesar de o mercado atual para pro-dutos à base de nim no Brasil confi-gurar-se incipiente, há um potencialde crescimento para a atividade, hajavista o crescente mercado para pro-dutos orgânicos, no qual se insere onim, como defensivo orgânico con-tra pragas e doenças.

• À medida que mais estudos sobretécnicas de manejo, tratos silvicultu-

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rais e técnicas de exploração foremrealizados, e que novos produtos àbase de nim, e não apenas aquelespara uso agropecuário, forem ofere-cidos pelo mercado, a tendência seráde crescente interesse de produtorespela cultura e, conseqüentemente, deprodução de nim em maior escala.

• De maneira geral, a produção do nimnas regiões estudadas apresenta-secomo uma boa alternativa ao proprie-tário rural, por gerar renda e propiciara diversificação do uso e a conserva-ção do solo na propriedade rural.

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Coleção Plantar

Títulos Lançados

A cultura do alhoAs culturas da ervilha e da lentilhaA cultura da mandioquinha-salsa

O cultivo de hortaliçasA cultura do tomateiro (para mesa)

A cultura do pêssegoA cultura do morangoA cultura do aspargoA cultura da ameixeiraA cultura do chuchu

A cultura da maçãA cultura do urucum

A cultura da castanha-do-brasilA cultura do cupuaçuA cultura da pupunha

A cultura do açaíA cultura da goiaba

A cultura do mangostãoA cultura do guaraná

A cultura da batata-doceA cultura da graviolaA cultura do dendêA cultura do caju

A cultura da amora-preta (2ª edição)

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A cultura do mamão (2ª edição)A cultura do limão-taiti (2ª edição)

A cultura da acerola (2ª edição)A cultura da batata

A cultura da cenouraA cultura da cebolaA cultura do sapoti

A cultura do coqueiro: mudasA cultura do coco

A cultura do abacaxi (2ª edição)A cultura do gergelim

A cultura do maracujá (3ª edição)Propagação do abacaxizeiro (2ª edição)

A cultura da manga (2ª edição)Produção de mudas de manga (2ª edição)A cultura da pimenta-do-reino (2ª edição)

A cultura da banana (3ª edição)A cultura da melancia (2ª edição)

A cultura da pêraA cultura do milho-verde

A cultura do melão (2ª edição)

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O papel utilizado nesta publicação foi produzido conformea certificação da Bureau Veritas Quality International (BVQI) de Manejo Florestal.

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