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Ano 01 - Nº. 01 - São Luís/MA – Maio de 2011. 1 PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO: UM GUIA PRÁTICO E ILUSTRATIVO Wend Jéssica Moreira Souza 1 Jéssica Francisca Fernandes de Oliveira 1 Roberto Nicolete 1,2 1 Laboratório de Imunotecnologia, Centro Universitário do Maranhão (UniCEUMA) 2 Coordenador do Curso de Farmácia do Instituo Florence de Ensino Superior Resumo A resposta inflamatória está associada a uma série de doenças, como sepse, aterosclerose, alergias, auto-imunidade, câncer, dentre outras. Ainda não se conhece uma terapia efetiva para o controle do processo inflamatório, devido à peculiaridade dos mediadores do Sistema Imune e subtipos celulares envolvidos em cada doença inflamatória. Portanto, há uma clara e evidente necessidade de se buscar novos compostos medicinais, principalmente aqueles derivados de plantas, visando ao alcance de novos alvos terapêuticos. Estes novos compostos devem apresentar eficiente atividade anti-inflamatória e menos efeitos colaterais quando comparados com os corticóides, amplamente utilizados no controle das doenças inflamatórias. Como fonte destes compostos, as plantas com potencial medicinal têm sido amplamente utilizadas para obtenção de moléculas a serem exploradas terapeuticamente. Extratos e óleos de várias espécies mostraram-se eficientes no controle de fungos relacionados a infecções da pele, com ação sobre bactérias patogênicas bucais e sobre uma variedade de bactérias Gram-negativas e positivas. Diante deste cenário, torna-se de grande importância o investimento em coleta, identificação e caracterização de novas plantas como potenciais fármacos a serem empregados na terapia de inúmeras doenças inflamatórias e/ou infecciosas. Com a realização deste guia, buscou-se fazer uma releitura da utilização de algumas plantas

Plantas Medicinais Com Potencial Atividade Anti-Inflamatria Utilizadas Pela Populao

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Ano 01 - Nº. 01 - São Luís/MA – Maio de 2011.

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PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ATIVIDADE

ANTI-INFLAMATÓRIA UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO:

UM GUIA PRÁTICO E ILUSTRATIVO

Wend Jéssica Moreira Souza1

Jéssica Francisca Fernandes de Oliveira1

Roberto Nicolete1,2

1Laboratório de Imunotecnologia, Centro Universitário do Maranhão (UniCEUMA)

2Coordenador do Curso de Farmácia do Instituo Florence de Ensino Superior

Resumo

A resposta inflamatória está associada a uma série de doenças, como sepse,

aterosclerose, alergias, auto-imunidade, câncer, dentre outras. Ainda não se conhece

uma terapia efetiva para o controle do processo inflamatório, devido à peculiaridade

dos mediadores do Sistema Imune e subtipos celulares envolvidos em cada doença

inflamatória. Portanto, há uma clara e evidente necessidade de se buscar novos

compostos medicinais, principalmente aqueles derivados de plantas, visando ao

alcance de novos alvos terapêuticos. Estes novos compostos devem apresentar

eficiente atividade anti-inflamatória e menos efeitos colaterais quando comparados

com os corticóides, amplamente utilizados no controle das doenças inflamatórias.

Como fonte destes compostos, as plantas com potencial medicinal têm sido

amplamente utilizadas para obtenção de moléculas a serem exploradas

terapeuticamente. Extratos e óleos de várias espécies mostraram-se eficientes no

controle de fungos relacionados a infecções da pele, com ação sobre bactérias

patogênicas bucais e sobre uma variedade de bactérias Gram-negativas e positivas.

Diante deste cenário, torna-se de grande importância o investimento em coleta,

identificação e caracterização de novas plantas como potenciais fármacos a serem

empregados na terapia de inúmeras doenças inflamatórias e/ou infecciosas. Com a

realização deste guia, buscou-se fazer uma releitura da utilização de algumas plantas

Ano 01 - Nº. 01 - São Luís/MA – Maio de 2011.

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potencialmente medicinais usadas popularmente como anti-inflamatórias,

descrevendo seu nome científico, o nome popular,a parte usada da planta, além de

seus principais princípios ativos que são responsáveis pela sugerida atividade biológica.

Palavras-chave: plantas medicinais; inflamação; guia de plantas anti-inflamatórias

Abstract

The inflammatory response is associated with a range of diseases, such as sepsis,

atherosclerosis, allergy, autoimmunity, cancer, among others. It is difficult to establish

an effective therapy for the control of inflammatory processes due to the peculiarity of

the mediators from the Immune System and cell subsets involved in each

inflammatory disease. So, there is a clear and obvious need to search for new

medicinal compounds, especially those derived from plants, in order to reach new

therapeutic targets. These new compounds should provide potentially important anti-

inflammatory activity and fewer side effects compared with steroids, widely used in

treating inflammatory diseases. As a source of these compounds, medicinal plants

have been widely used for preparation of molecules to be exploited therapeutically.

Extracts and oils of various species were effective in controlling fungus-related skin

infections, with action on oral pathogenic bacteria and on a variety of Gram-negative

and positive. In this context, it becomes very important to put investments in

collection, identification and characterization of new plants as potential drugs to be

used in the therapy of numerous inflammatory and / or infectious diseases. Through

this guide, we sought to reconsider the use of some medicinal plants used popularly as

an anti-inflammatory, describing their scientific and popular name, the plant part used

and also their main active molecules that are responsible for the suggested anti-

inflammatory activity.

Keywords: medicinal plants; inflammation; guide of anti-inflammatory plants

Ano 01 - Nº. 01 - São Luís/MA – Maio de 2011.

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1. INTRODUÇÃO

As plantas medicinais são frequentemente utilizadas com o intuito de substituir

ou auxiliar as terapias convencionais no tratamento de várias doenças. Entre outros

fatores, a preferência na utilização das plantas medicinais decorre da facilidade de

obtenção e do baixo custo de produção. Porém, sabe-se que as plantas medicinais

apresentam ampla diversidade de metabólitos secundários com diferentes atividades

biológicas (SIMÕES, 2003). O maior problema para sua utilização terapêutica no

tratamento convencional das diversas doenças é a falta de dados científicos que

comprovem a eficácia e a segurança dos medicamentos preparados a partir das

plantas medicinais.

Com relação à resposta inflamatória, esta está associada a uma série de

doenças, como sepse, aterosclerose, alergias, autoimunidade, câncer (ABOU-RAYA

2006), dentre outras. A inflamação é a resposta “potencialmente” protetora dos

tecidos vascularizados, contra um irritante que atua no sentido de bloquear, diluir ou

destruir o agente agressor, o que se traduz por migração celular intensificada através

das vênulas e extravasamento de moléculas séricas, anticorpos, complemento e

proteínas pelos capilares. Estes eventos são controlados pelo aumento do suprimento

sanguíneo, pela vasodilatação e pelo aumento da permeabilidade capilar (CARVALHO,

2002).

Ainda não se conhece uma terapia efetiva para o controle do processo

inflamatório, devido à peculiaridade dos mediadores do Sistema Imune e subtipos

celulares envolvidos em cada doença inflamatória (HENSON, 2005). Portanto, há uma

clara e evidente necessidade de se buscar novos compostos com propriedades

medicinais, principalmente aqueles derivados de plantas, visando ao alcance de novos

alvos terapêuticos. Estes novos compostos devem apresentar relevante atividade anti-

inflamatória e menos efeitos colaterais quando comparados com os corticoides,

amplamente utilizados no controle das doenças inflamatórias. Como fonte destes

compostos, as plantas medicinais têm sido amplamente utilizadas para obtenção de

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compostos para serem exploradas terapeuticamente. Extratos e óleos de várias

espécies mostraram-se eficientes no controle de fungos relacionados a infecções da

pele, com ação sobre bactérias patogênicas bucais e sobre uma variedade de bactérias

Gram-negativas e Gram-positivas (DUARTE, 2005).

Apesar dos efeitos adversos/indesejados relatados na utilização de

fitoterápicos serem menos frequentes do que os observados para as drogas sintéticas,

os testes clínicos atestam que eles existem. Na verdade, há poucos dados na literatura

sobre a eficácia, segurança e qualidade de muitas plantas medicinais e a sua larga

utilização não é suficiente para validá-las eticamente como medicamentos seguros e

eficazes (CALIXTO, 2000). Nesse sentido, é imprescindível que o fitoterápico, para ser

comercializado, esteja registrado no Ministério da Saúde (LAPA et al., 2000). Os

fitoterápicos com maior número de estudos científicos fazem parte de uma lista (Lista

de Registro Simplificado de Fitoterápicos), reconhecida pela ANVISA, e podem ser

obtidos registros sem necessidade de validar suas indicações terapêuticas e segurança

de uso (BRASIL, 2004).

Diante deste cenário, torna-se de grande importância o investimento em

coleta, identificação e caracterização de novas moléculas derivadas de plantas como

potenciais fármacos a serem empregados na terapia de inúmeras doenças

inflamatórias e/ou infecciosas

Com a realização deste guia, buscou-se fazer um ensaio de releitura da

utilização de algumas plantas medicinais usadas popularmente como anti-

inflamatórias, descrevendo seu nome científico, o nome popular, a parte usada da

planta, além dos seus principais princípios ativos que são responsáveis pela sugerida

atividade anti-inflamatória. A seguir são descritas as plantas mais utilizadas para esta

finalidade no estado do Maranhão, de acordo com o uso popular:

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ALFAVACA

Família: Lamiaceae

Nome Científico: Ocimum basilicum L.

Nome Popular: Alfavaca

Princípio ativo: taninos

Parte usada: folhas

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AROEIRA

Família: Anacardiaceae

Nome Científico: Schinus terebinthifolius Raddi

Nome Popular: Aroeira

Princípio ativo: taninos, alcaloides, saponinas, flavanoides

Parte usada: casca

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BABOSA

Família: Liliaceae

Nome Científico: Aloe vera

Nome Popular: Babosa

Princípio ativo: mucilagens, antraquinonas, saponinas e

triterpenoides

Parte usada: seiva das folhas

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CAJU

Família: Anacardiaceae

Nome Científico: Anacardium occidentale L.

Nome Popular: Caju

Princípio ativo: taninos

Parte usada: fruto

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COPAÍBA

Família: Leguminosae

Nome Científico: Copaifera offcinalis L.

Nome Popular: Copaíba

Princípio ativo: sesquiterpenos e diterpenos

Parte usada: Resina

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GENGIBRE

Família: Zingiberaceae

Nome Científico: Zingiber officinale

Nome Popular: Gengibre

Princípio ativo: terpenos, compostos fenólicos e alcaloides

Parte usada: rizoma (raiz)

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GOIABEIRA

Família: Myrtaceae

Nome Científico: Psidium guajava

Nome Popular: Goiabeira

Princípio ativo: taninos, saponinas

Parte usada: folhas novas

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IPÊ-ROXO

Família: Bignoniaceas

Nome Científico: Tabebuia avellanedae

Nome Popular: Ipê-roxo

Princípio ativo: taninos, quinonas, naftoquinona, e flavonoides

Parte usada: casca

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JUCÁ

Família: Leguminosae

Nome Científico: Caesalpinia ferrea

Nome Popular: Jucá, Madeira de Ferro, Pau de Ferro

Princípio ativo: taninos, alcaloides, terpenos , lactonas

Parte usada: vagens

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LARANJEIRA

Família: Rutaceae

Nome Científico: Citrus aurantium

Nome Popular: Laranjeira

Princípio ativo: flavonoides, saponinas

Parte usada: fruto

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MASTRUZ

Família: Chenopodiaceae

Nome Científico: Chenopodium ambrosioides L.

Nome Popular: Mastruz

Princípio ativo: flavonoides e terpenos

Parte usada: Folhas

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MALVA

Família: Malváceae

Nome Científico: Malva sylvestris

Nome Popular: Malva-do-Reino

Princípio ativo: malvidol, pectina, taninos,mucilagens e resinas

Parte usada: folha

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NONI

Família: Rubiaceae

Nome Científico: Morinda citriofolia L.

Nome Popular: Noni

Princípio ativo: alcaloides, antraquinonas, cumarinas,

flavonoides, terpenoides

Parte usada: fruto

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PRÓPOLIS

Família das abelhas produtoras: Apidae

Nome científico das abelhas: Apis mellifera L.; Melipona

fasciculata

Nome popular das abelhas: Abelha; uruçu-cinzenta

Plantas utilizadas pelas abelhas: Clusia nemorosa e Clusia

scrobiculata (própolis vermelha) e Baccharis dracunculifolia D.C

(própolis verde)

Princípios ativos da Própolis: triterpenoides, isoflavonoides,

fenilpropanoides

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Parte da planta usada pelas abelhas: flores, brotos de folhas e

cascas de árvores

QUEBRA-PEDRA

Família: Euphorbiaceae

Nome Científico: Phylanthus niruri L.

Nome Popular: Quebra-pedra

Princípio ativo: flavonoides, taninos, alcaloides, cumarinas,

lignanas e terpenos

Parte usada: folha, raiz

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ROMÃ

Família: Punicaceae

Nome Científico: Punica granatum

Nome Popular: Romã

Princípio ativo: taninos, flavonoides, terpenos

Parte usada: Folhas

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URUCUM

Família: Bixaceae

Nome Científico: Bixa orellana L.

Nome Popular: Urucum

Princípio ativo: taninos

Parte usada: sementes

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Referências Bibliográficas

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CARVALHO, P. T. C. Análise da cicatrização de lesões cutâneas através de espectrofotometria: estudo experimental em ratos diabéticos. Dissertação (Mestrado em Bioengenharia) – Escola de Engenharia de São Carlos/ Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. 2002. CALIXTO, J. B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines for herbal medicines (Phytotherapics). Brazilian Journal of Medical and Biological Research,v. 33, p. 179-189, 2000.

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KASSUYA, Candida Aparecida Leite. Atividade antiinflamatória e antinociceptiva de

extratos e lignanas isolados de Phyllanthus amarus.108p. Tese (Doutorado em Farmacologia) – Curso de Pós-graduação em Farmacologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. LAPA, A. J. et al. Farmacologia e toxicologia de produtos naturais. In: SIMÕES, C.M.O. et al. (Ed). Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2000. p.181-196. RÊGO, T. J. A.; Fitogeografia das plantas medicinais no Maranhão, 3a ed. Ed. UFMA: São Luís, 2008. SAMPAIO, F.C., et al. In vitro antimicrobial activity of Caesalpinia ferrea Martius fruits against oral pathogens. Journal of Ethnopharmacology, 124,289–294,2009 . SIMÕES, C.M.O). Farmacognosia: da planta ao medicamento, 3a. ed. Porto Alegre- RS, Editora da UFSC e UFRGS, 2003.

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